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Terapia Comportamental e Cognitivo comportamental Práticas Clínicas

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/ erapia Comportamental e 
Cognitivo-comportamental
Práticas uínicas
Organizadores
Cristiano Nabuco de Abreu
Psicólogo, Mestre em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo 
(PUC-SP) - Doutor em Psicologia Clínica pela Universidade do Minho (UM), 
Portugal - Coordenador da Equipe de Psicologia do Ambulatório de Bulimia e 
Transtornos Alimentares (AMBULIM) do Instituto de Psiquiatria do Hospital 
das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo —
Núcleo de Psicoterapia Cognitiva de São Paulo (NPCSP).
Hélio José Guiihardi
Psicólogo, Mestre em Psicologia Experimental pela Universidade de São Paulo 
(U SP) - Professor Colaborador do Departamento de Psicologia da Universidade 
Federal de São Carlos (IJFSCar) e Professor Convidado das Faculdades Salesianas 
de Vitória (ES) - Instituto de Análise de Comportamento (IAC) e Instituto de 
Terapia por Contingências de Reforçamento (TCR) de Campinas (SP).
ROCA
Copyright © 2004 da I a Edição pela Editora Roca Lida.
ISBN: 85-7241-526-2
Xenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, guardada pelo sistema 
“retrievaT ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, seja este 
eletrônico, mecânico, de fotocópia, de gravação, ou outros, sem prévia autoriza­
ção escrita da Editora.
5
Capa (Jardins de Monet, em Giverny, França)
Hélio José Guilhardi
Quarta-capa (Jardins de Monet, em Giverny, França)
Cíntia Guilhardi
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ.
M251
Terapia comportamental e cogniti vo-comporrarnental — Prá­
ticas clínicas
/ organizadores Cristiano Xabuco de Abreu, Hélio José 
Guilhardi. — Sào Paulo : Roca. 200-1
Inclui bibliografia
ISBN 85-~24l-526-2
1. Terapia cognitiva. 2. Terapia do comportamento. 3-
Cognição. -4. Comportamento humano. 5. Psicoterapia. 6. Psi­
cologia clínica. L Abreu. Cristiano Xabuco de. II. Guilhardi. 
Hélio José.
04-1066. CDD 616.8914
CDU 615.851
2004
Todos os direitos para a língua portuguesa são reservados pela
EDITORA ROCA LTDA.
Rua Dr. Cesário Mota Jr., 73 
CEP 01221-020 - São Paulo - SP 
TeL: (11) 3331-4478— Fax: (11) 3331-8653 
E-mail: vendas@editoraroca.com.br - www. editor ar oca. com .br
Impresso no Brasil
Agradeço às colegas Noreen Campbell de Aguirre
e Maria Eloisa Bonavita Soares pelo 
trabalho realizado na elaboração da 
Parte I - Terapia Comportamental.
H élio José G uilhardi
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Prefácio
Quando Watson, em 1913, lançou seu manifesto beha­
viorista, provavelmente não tinha idéia que seu movimen­
to e sua proposta para a Psicologia, como ciência natural, 
fosse florescer tanto quanto aconteceu.
De fato, depois de muitos experimentos realizados por 
ele e por seus orientandos, o movimento behaviorista se 
subdividiu muito e hoje temos um grande número de pro­
postas de entendimento e de trabalho percebendo o com­
portamento como matéria de estudo.
Particularmente, a área de aplicação genericamente 
denominada de Terapia Comportamental e Cognitiva, de­
senvolve muito conhecimento, tendo sua história contada 
por vários autores. A versão mais comum dela é que a Tera­
pia Comportamental e Cognitiva originou-se no movimento 
filosófico denominado “neobehaviorismo”. Por essa 
razão, autores como Watson (apontado como o fundador do 
movimento behaviorista), Tolman e Hull (iniciadores 
do behaviorismo mediacional) e Skinner (proponente do 
behaviorismo radical) são considerados os precursores 
de toda e qualquer terapia que possua o adjetivo “compor­
tamental” em seu nome (Costa, 2002),
Com o tempo, parte da vertente cognitivista da Terapia 
Comportamental também passou a se interessar pela com­
preensão da construção de significados pelos indivíduos, 
debruçando -se sobre o estudo dos esquemas emocionais 
que orientaram essa construção (Abreu e Roso, 2003), for­
mando assim, a vertente cognitivo-construtivista da tera­
pia. Das estruturalistas às funcionalistas, das mecanicistas 
às contextualistas, das dualistas às monistas, uma gama de 
terapias comportamentais pode ser encontrada na litera­
tura (Dougher e Hayes, 1999).
Obviamente, as várias vertentes foram criando técnicas 
para lidar com as queixas e problemas humanos. Especial­
mente em terapias -e/ou de terapias - do comportamento
roram encontrados vinte e oito termos de referência à Terapia Comportamental 
na literatura produzida no Brasil entre 1970 e 2001 (Nolasco, 2001). Esse dado 
mostra a multiplicidade e a riqueza da produção da área e, decorrente disso, as 
diversas formas de abordagem do comportamento.
tste livro é um reflexo desse trabalho múltiplo. Seu propósito é organizar cia* 
ramente as técnicas disponíveis para a árdua e imensa tarefa de diminuir o sofri­
mento humano. Os esforços conjuntos de Cristiano Nabuco de Abreu e Hélio José 
Guilhardi foram coroados de êxito. Este Manual Prático de Técnicas em Terapia 
comportamental, Cognitivo-comportamental e Cognitivo-construtivista organi­
za, o elenco atualizado de técnicas de forma simples e objetiva, sem perder de vis­
ta a seriedade e a pro tundid ade das origens e dos pressupostos de cada uma delas.
Os artigos foram escritos por experts das terapias analítico-comportamental, 
cognitivo-comportamentai, cognitivo-construtivista. Neles, pode-se encontrar a 
tradição da abordagem científica do comportamento, cada qual contribuindo e 
discutindo para que as aplicações necessárias na clínica psicológica sejam bem 
enfrentadas. Isso possibilita maior tranqüilidade para o especialista que passará a 
ter uni arsenal de procedimentos clínicos para a capacitação do exercício de sua 
atividade profissional.
No entanto, cabem aqui três alertas ao leitor mais desavisado. A multiplicidade 
de técnicas também gera vasta compreensão do comportamento humano e das suas 
determinações. Como foi apontado, a origem das técnicas oferece entendimento 
bastante particular e diverso entre as várias abordagens do comportamento aqui 
discutidas. A organização do livro que classifica as técnicas em Comportamentais, 
Cognitivas e Cognitivo-construtivistas, demonstra essa diversidade. É uma classifi­
cação cuidadosa, criteriosa e (re) conhecedora da multiplicidade.
Um segundo alerta deve ser feito: o objetivo deste livro não é comparar as 
técnicas entre si. Não foi à toa que os organizadores, na sua Introdução, obser­
vam “um fracasso generalizado na pesquisa para demonstrar, consistentemen­
te, um enfoque soberano sobre os demais”. Isso aponta quão infrutíferas seriam 
as comparações.
Por outro lado, este livro não prega um ecletismo teórico. Nesse ponto cabe o 
terceiro alerta. Uma posição bastante parcimoniosa para o leitor seria revelar to­
das as técnicas disponíveis. Cada uma delas pode ser útil em algum momento da 
atuação do profissional de qualquer abordagem teórica, sem ferir o modelo subja­
cente à sua forma de trabalho. Entretanto, sua análise, escolha e utilização devem 
ser pautadas na tundamentação teórica da abordagem assumida pelos terapeutas. 
O conhecimento das técnicas nunca substituirá a análise de cada profissional so­
bre o caso atendido.
Feitos os três alertas, resta ao leitor inclinar-se sobre o estudo detalhado de 
cada capítulo. Asseguro-lhe que sairá desse estudo como um terapeuta mais bem 
formado, seguro e criativo em seus atendimentos.
Roberto A lves B anaco 
Professor no Programa de Estudos Pós-graduados em. 
Psicologia Experimental: Análise do Comportamento 
Professor Titular do Departamento de Métodos e Técnicas em 
Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
XE V * e.-ac a Comporta
mental e Cognitivo-comportamentai ~ Práticas Clínicas
t.7- ■■i - .'^ t - - ^ - :^ ^ j i ‘ jT V 7 rf “ . i -t-n “ .TJn-.-.Ii:.-,^ - r. ■ M : . ^ k . ^ , ^ 1- - .- ,^ -■ ji^T .- J ^ : i g £ 3 g Í .v^i w -. 1^ ( :M Í H ^ n a S l i t ^ í r ^ T Í J c ^ :d 4 ü irE t.T ry ■:,-*Wj P i ^ j : - i r- . :rH.n,r'=j.'7,J.cr - : i ^ W i f i d T i ^ - T a T - r _ - - t . ^ c S S í m w ; W . ' - V — '.-■‘■ t i t . L(a,$£56
Introdução
Nós temos presenciado, como clínicos, o esforço evi­
dente de muitas escolas de terapia no sentido de auxiliar 
seus clientes na buscar da tão desejada mudança psicoló­
gica. Todavia, em muitos momentos, a realidade prática faz 
certos limites tradicionais de nossa praxe serem severamente 
revistos. Em função disso, tem. ocorrido um forte movimen­
to de diferentes escolas da terapia para o desenvolvimento 
de perspectivas mais integrativas. No entanto, existe o fra­
casso generalizado na pesquisa para demonstrar, de ma­
neira consistente, um enfoque soberano sobre os demais. 
Felizmente, esse resultado encontra-se em sintonia com o 
momento cultural atual, chamado de pós-modernidade, 
que, dentre outras coisas, possui uma concepção relativista 
da realidade, a qual rejeita, sadiamente, premissas dog­
máticas a respeito de qualquer tipo de ideologia.
Com freqüência, vemos teóricos de determinadas es­
colas se esquecendo desse momento histórico, ainda pro­
clamando-se mais eficazes. Somos contrários a tal tipo de 
preocupação: é impossível avaliar, comparativamente, pro­
postas terapêuticas que diferem entre si quanto a pressu­
postos conceituais, estratégias de ação clínica e critérios de 
avaliação do progresso do cliente. Parece-nos mais saudá­
vel cada escola, ou abordagem terapêutica, se avaliar a par­
tir de seus próprios referenciais teóricos e práticos e, assim, 
se rever. Cada proposta deve surgir de uma avaliação crítica 
de seu próprio dinamismo das atuações prática e científica. 
Todas as abordagens se desenvolvem e buscam sistemati­
zar melhor os dados que obtêm dentro de um referencial 
teórico coerente e, parcimoniosamente, abrangente. Os 
dados são mais importantes que os desejos e as teorias. A 
teoria deve ser revista e ampliada para incorporar as evi­
dências dos dados e esses nunca poderão ser distorcidos, a 
fim de se preservar a teoria. As abordagens comportamen­
tais e cognitivas são praticadas por teóricos, pesquisadores
XVI ■ Terapia Comportamental e Cognitivo-comportamental - Práticas Clinicas
e clínicos que compartilham dessa postura e, como resultado, pode-se dizer que
as Terapias Comportamental e Cognitivo-comportamental revelam transformações
graduais, sistemáticas que as tomam um empreendimento científico e terapêutico 
em desenvolvimento. Defendemos esse dinamismo evolutivo. Queremos o entendi­
mento mais preciso de cada tradição e de sua contribuição à Psicologia por inteiro.
Neste livro não pretendemos apresentar preceitos verdadeiros dessa ou da­
quela teoria, evitamos, ao máximo, qualquer postura dogmática de oposição ou 
d i comparação. Simplesmente, temos o objetivo de ampliar o entendimento de 
vauas» técnicas da t radição comportamental e cognitiva e, assim, fornecer deta- 
es minuciosos para que nossas história e prática sejam mais bem compreendi­
as. s capítulos seguintes resultam do trabalho de vários profissionais na
descrição de suas práticas clínicas. Esperamos que este resultado possa ser, de 
alguma maneira, fecundo.
C ristiano N abuco de A breu
H élio José G uilhardi
t:- K«rt f f Hj >LtrG i? !W P Yi-i“ : S!*iiHEY:'.i‘JrI>iMiJni itta H-.^ïr'j^.^.liTifVi'M rape 's : H P£RB^f^3#&74&^tjr£ft =(■ Jfh± lïlii^ ÔjTtf■3f»iF lATatCiASi^f?.^ -ü u *= ^ 7 ï^ tc iiY tIl^ ^ h ^ ,^ > iii^^7 .b ttr '-l^ iÈ ll=tll=i~^ 1,iï-3ïiJiiiét1'ÎWÇtïr’J:-arr- S?tcíil^.=ii!AiH ijta t^ im M ^ p f*m 3 n r= ^ ifa'^m'i'rSt'PÏJi iTTT>ewip.ta ,^tJ=1.-S=>i,=>:'! L- n iitaAíiTili™ituí=iivrjHi7i w î& r t f f i^ ÿ w
/>índice
Pa rte I
Terapia Comportamental...................... 1
C apítu lo 1
Terapia por Contingências de 
Reforça mento........................
H élio J o sé G uilhardi
3
C apítu lo 2
Reforçamento Positivo: Princípio,
Aplicação e Efeitos Desejáveis............................ 41
M a r ia B eatriz B a rbo sa P inho M a d i
C a pítu lo 3
Reforçamento Negativo na Prática Clínica: 
Aplicações e Implicações...................................... 55
M a ly D elitti
Cá ss ia R oberta da C unha Th o m a z
C a pítu lo 4
Punição Positiva............................................................ 61
R oberto A lves Ba n ac o
C apítu lo 5
Punição Negativa......................................................... 72
Patric ia P iazzon Q ueiroz
C apítu lo 6
Imitação............................................................................ 102
Priscila R . D erd yk 
S ilvia S . G ro berm an
XVIII ■ Terapia Comportamental e Cognitivo-comportamentaI - Práticas C/7nicas
C apítu lo 7
Esvanecimento
L ilian M ed eiro s
C apítu lo 8
Modelagem......................
J a íd e A parecida G o m es R eg ra
.... 121
C apítu lo 9
Extinção e Terapia................................................................................................ 144
Fá t im a C ristina d e S ouza C onte 
J o celain e M artin s da S ilveira
C apítu lo 10
Instruções e Auto-instruções: Contribuições da Pesquisa Básica...... 152
JOSELE A bREU-RoDRIGUES
E lisa Ta v a res S a n a bio -H ec k
C a pítu lo 11
Dessensibilização Sistemática ao Vivo.......................................................... 169
D enis R o berto Z a m ig n a n i
C a pítu lo 12
Dessensibilização Sistemática por Imagens................................................ 177
M á rc ia da R . P itta F erraz
C apítu lo 13
Condicionamento Respondente: Algumas Implicações 
para o Desenvolvimento de Tolerância,
Síndrome de Abstinência e Overdose...................................................... 186
M arcelo F rota B envenuti
C apítulo 14
Manejo de Comportamentos Clinicamente Relevantes........................ 194
M a r ia Z ila h da S ilva B ran dão 
J o celain e M artin s da S ilveira
C apítu lo 15
Ensaio Comportamental.................................................................................... 205
Vera R egina L ig n elu O tero
C a p ít u lo 16
Emparelhamento com Modelo
J úlio C. de R o se
215
índice ■ XiX
C apítu lo 17
Reversão de Hábito.............................................................................................. 226
L u c M a rc e l A dhem ar Vandenberghe 
C a pítu lo 18
Encadeamento de Trás para Frente................................................................231
M a ria M a rth a C osta Hübner 
C a pítu lo 19
Técnica Implosiva................................................................................................. 234
R egina C hristina W ielen skaí
C apítu lo 2 0
f
Princípio de Premack...........................................................................................238
La ér o a A breu Vasco n celo s 
L incoln da S ilva G im en es
C apítu lo 21
Economia de Fichas............................................................................................. 251
L u c M a rc e l A dhem ar Vandenberghe 
C a pítu lo 2 2
Autocontrole: Pesquisa e Aplicação.............................................................. 259
JOSELE A bREU-RoDRIGUES
M a rc e lo Em ílio B e ck e rt 
Parte II
Terapia Cognitivo-comportamental.................................275
C a pítu lo 2 3
Introdução às Terapias Cognitivas..................................................................277
C ristia n o N abuco de A b reu 
C a pítu lo 2 4
Conceituação Cognitiva.................................................................................... 286
B ernard Ra n g é
C apítulo 25
Rotulação das Distorções Cognitivas
M a r ia C ristina Triguero V elo z T eixeira
300
XX ■ Terapia Comportamental e Cognitivo-comportamental - Práticas Clínicas
C apítu lo 2 6
Diálogo Socrático..................................................................................................311
M a r ia Cristin a O . S . M iya za k i
C a pítu lo 2 7
Flecha Descendente..............................................................................................320
EROY A parecida da S ilva
C a pítu lo 2 8
Questionando Rótulos, Atribuições e Significados..................................330
Helene Sh inohara 
C apítu lo 2 9
Descatastrofização................................................................................................336
M a riâ n g e la G en til Savoia 
C apítu lo 3 0
Treino de Resolução de Problemas.................................................................344
L/liana Seg er Ja co b 
C apítu lo 31
Paradoxo.................................................................................................................. 352
D ébora P a sto re B a ss itt 
C apítu lo 3 2
Imaginação Dirigida..............................................................................................365
E lian e d e O . Falco n e
C apítu lo 3 3 •
Questionando Crenças Irracionais..................................................................371
Ir ism a r R eis d e O liveira 
M elan ie O g u ari Pereira
C apítu lo 3 4
Técnica da Cadeira Vazia....................................................................................383
R aphael Ca n g elu F ilho
índice * XX!
C a pítu lo 3 6
Agenda..................................................................................................................... 398
M a r ia d e Fá t im a G a spa r Va sq u es
C a pítu lo 3 7
Treinamento em Auto-instruções...................................................................405
S érg io L uiz E . S a n to s
M a rc o A ntônio S . A lvaren ga
¥
C a pítu lo 3 8
Entrevista Motivacional..........................................................................................414
R oberta Pa y á 
N elian a B uzi F ig lie
Parte III
Terapia Cognitivo-construtivista....................................... 435
C apítulo 3 9
Introdução às Terapias Construtivistas........................................................ 437
H enrique A lvaren ga da S ilva 
Ca rlo s E duardo R eche
C a pítu lo 4 0
Técnica da Escada................................................................................................ 442
M ireia C . R o so 
C apítu lo 41
Técnica do Espelho.............................................................................................. 449
Leon ardo R Fraim an 
C apítu lo 4 2
Técnica da Moviola: Método de Auto-observação
no Construtivismo Pós-racionalista............................................................. 459
A ugusto Z a g m u t t Cah bar
índice Remissivo......................................................................................................475
Parte
L T O S » ' • ' '■■■■ - r - r J :-v.- - ;•= ■-* L - ï - ' . ~ r^ .v . ,14 n .IV rJ . ;Í1 - - - . T H . - J i - -H LL1- - S j ; j TJ,-. ,- v, j ,-.-. - ■.- --J^ r-V .v . : r-.Ti L i - i T - - : t í j & ■ l - ^ t . - , & ^ : T l. - ^ £ . _ - j . - . - , . , . . . . , J - , . £ ÿ ^ ^ ■ - , . - ^ ^ ^ - - . . , rj . : L t : : z ^ - : T. j Jd I □ : - - j= . r^ - : - J.-.J - : - =- : - \ - - - V r . - ( = t :
Terapia Comportamental
C A P Í T U L O
Terapia por Contingências 
de Reforçamento
, H é lio J osé G u ilh a rd i1
'i
i
f
\ A Terapia Comportamental é um processo que en­
} volve a aplicação de procedimentos ou técnicas com-
j portamentais específicos, utilizados com o objetivo de
| alterar exemplos particulares dos com portam entos
{ da queixa apresentada pelo cliente ou por pessoas rele-
j vantes do ambiente social em que ele está inserido,
j Envolve, sim, tal prática, mas não se limita a ela. Essa
\ advertência inicial é necessária para que o leitor dos ca-
j pítulos que se seguem não se sinta atraído pela noção
I de que cada técnica descrita é um exemplo de Terapia
; Comportamental ou uma maneira de lidar com uma
{ queixa. Certas perguntas, freqüentemente formuladas
j pelos estudantes e profissionais principiantes: “Você
j pode sugerir um texto que me ensine a tratar um caso
j de depressão?” ou “O que eu tenho que fazer para tra-
; tar uma fobia?” são inapropriadas e parecem buscar
j respostas que, aparentemente, estariam nos capítulos
{ sobre as técnicas. A impropriedade de tais questões
j deve ficar plenamente esclarecida até o final do pre-
i sente capítulo.
1 Terapia por Contingências de Reforçamento - Instituto de Análise de 
Comportamento e Instituto de Terapia por Contingências de Refor­
çamento (Campinas/SP).
4 ■ Terapia Comportamental
Ferster (1972)2 argumentou que os problemas comportamentais detectados 
no cliente que busca a terapia são muito mais abrangentes que a queixa específica 
e restrita trazida por ele:
“O desconforto que traz o paciente para a terapia vem, predom inantem en­
te, de comportamentos não verbais. Em outras palavras, ele perm anece em 
casa em vez de ir ao trabalho ou ele não fa la com as pessoas quando as vê.
Isso sugere que a efetividade e a adequacidade geral do repertório operante 
do paciente são uma dimensão mais importante de seu problem a, do que 
fob ias ou medos específicos” (pág. 4).
Ferster destacou que o terapeuta deve lidar com o repertório geral de com­
portamentos do cliente - tal é a ênfase relevante e fundamental - e não atentar, 
prioritariamente, para a queixa específica apresentada por ele. Respondeu, de 
certa maneira, a uma crítica que, com certa insistência, se tem feito à Terapia 
Comportamental: ela está voltada apenas para problemas isolados, como fobia, 
gagueira, birra etc. Uma observação clínica freqüente revela que pessoas quei­
xosas de “fobias de elevador”, raramente tiveram qualquer experiência desagra­
dável ou ameaçadora com elevadores; por outro lado, muitas outras que tiveram 
alguma ocorrência desse tipo, não apresentam nenhuma reação “fóbica” com 
elevadores. A resposta para as diferentes reações deve ser buscada no reper­
tório global de comportamentos de umas e de outras. O terapeuta, antes de 
propor qualquer ação terapêutica, deve ficar sob controle dos excessosy dos 
déficits e das reservas com portam entais do cliente, não sob controle exclusivo 
da queixa. Ferster (1972) prosseguiu:
“f/m repertório operante, fortem ente reforçado positivamente, tem mais 
chances de incluir com portam entos que podem term inar os estímulos 
aversivos do que comportamentos que podem vir a ser perturbados por eles. 
Inversamente, é difícil imaginar como a dessensibilização de uma classe par­
ticular de desempenhos poderia trazer muitos benefícios num repertório cuja 
freqüência geral de comportamentos é baixa , por exemplo, e que não detec­
ta características importantes dos am bientes reforçadores que estão poten­
cialmente disponíveis... Há um extremo em que o repertório geral é muito 
lim itado e um outro extremo no qual a fob ia é de importância trivial no 
contexto do repertório total do paciente. Assim, com portam ental e clinica­
mente, uma fob ia não é tanto uma form a de comportamento, mas mais 
propriam ente uma mudança numa parte substancial do repertório total da 
pessoa” (págs. 4-5).
2 As citações freqüentes e extensas de B. F. Skinner e de seus seguidores têm dupla finalidade: familia­
rizar os não iniciados com os textos originais; mostrar, de maneira abrangente, o potencial dos 
escritos de tais autores para a atuação em áreas distintas como clínica, educação e planejamento 
da sociedade. Agradeço
as psicólogas Lilian Medeiros, Maria Eloisa Bonavita Soares, Maria Rita J. 
Martini Del Guerra, Noreen Campbell de Aguirre, Patrícia Piazzon Queiroz e Tatiana Lussari pelas 
criteriosas sugestões durante a elaboração do capítulo.
Leidy
Realce
Leidy
Realce
Terapia por Contingências de Reforçamento ■ 5
Considere como exemplo uma pessoa com repertório social limitado, ou seja, para 
quem a presença do outro funciona como estímulo pré-aversivo (“Dele podem vir 
críticas, reprovações etc., em relação aos meus comportamentos... e isso tudo me faz 
muito mal”). Ela apresenta baixa freqüência de comportamentos de falar com pes­
soas, não defende as próprias opiniões com argumentos claros e insistentes, tem 
dificuldades para discordar do outro e assim por diante. O repertório geral de fuga- 
esquiva de contingências coercitivas sociais e de acesso a reforçadores positivos 
sociais que a pessoa apresenta são, enfim, restritos e deficientes. Acrescente-se, ainda 
mais, que o desempenho profissional dela é também limitado: cumpre as tarefas 
de trabalho com dificuldades, possui poucas iniciativas e não consegue hierarquizar 
as obrigações mais urgentes que lhe são solicitadas. Na primeira sessão, a cliente rela­
tou que estava procurando ajuda terapêutica por causa de “fobia de elevador" (o 
terapeuta depois constatou que o elevador dá a ela acesso ao escritório em que traba­
lha), porque tem tido crescentes dificuldades para sair de casa: “O simples fato de en­
trar no carro me causa tamanha ansiedade que, às vezes, sinto meus braços 
amortecidos e tenho dificuldades para mudar as marchas... Acho que vou parar de 
dirigir”; e relatou, ainda, que nenhum ansiolítico ou antidepressivo funcionava. Fica 
iaro que, embora a cliente se queixe de problemas específicos (fobias e ansiedade),1
I
exi
L-i.
aoe ao terapeuta ampliar o alcance da investigação, abrangendo o repertório mais 
enso de comportamentos da cliente, bem como as relações desse repertório com 
os eventos reforçadores e punitivos disponíveis no ambiente. O exemplo é didático 
para ilustrar que a investigação e a intervenção do terapeuta devem voltar-se para as 
ificuldades sociais e profissionais (e, possivelmente, outras a serem detectadas). Qual- 
iuer técnica, voltada de início para as fobias, resultará em fracasso e não trará benefí­
cio para as dificuldades significativas e fundamentais da cliente. Os comportamentos 
íobicos e os estados corporais associados (ansiedade) compõem um repertório de 
fuga-esquiva das contingências presentes nos contextos social e profissional por falta 
de repertório adequado p a ia lidar com essas relações. Se não houver uma intervenção 
terapêutica bem-sucedida, é muito provável que os comportamentos de fuga-esqui­
va se fortaleçam e se ampliem (a cliente irá se tornar mais fóbica e, portanto, se sen­
tindo e se declarando “cada vez pior”), até o ponto de ela evitar o contato com os 
componentes aversivos do ambiente fora de casa: não porque a cliente os removeu 
ou aprendeu a lidar com eles, mas porque se afastou da situação (pede demissão, 
deixa de sair de casa, pára de dirigir etc.). Ao se livrar daquelas conseqüências aversivas, 
ela acabará entrando em contato com outras conseqüências aversivas. A ênfase do 
terapeuta precisa voltar-se à ampliação dos repertórios deficitários e não aos com­
portamentos de fuga-esquiva que ela vem apresentando. Ferster (1972) continuou:
“A habilidade do paciente para reagir, sensível e diferencialmente, ao seu 
próprio comportamento pode prover uma importante ponte com seu am ­
biente natural A pessoa que pode reagii; diferencial e especificamente, àquela 
parte do seu ambiente natural que a perturba está um passo adiante para 
atuar sobre ele e livrar-se da disrupção” (pág. 5).
A pessoa pode ficar sob controle do próprio comportamento e dos estados 
r orporais, sem atentar para os aspectos do ambiente externo a ela, que produzem
6 * Terapia Comportamental
esses comportamentos e estados. Dessa maneira, freqüência aumentada de 
batimentos cardíacos, dores na nuca, zumbido no ouvido, sensação de “estra­
nheza” no corpo etc., podem controlar a pessoa e funcionar como estímulos 
discriminativos para verbalizações do tipo: “Vou ter um ataque cardíaco”; “Vou 
ter um derrame”; “Devo ter um tumor”...; e também para comportamentos de ir 
ao médico, medir pressão, entre outros, de forma exagerada. Por outro lado, “Não 
consigo fazer nada; só quero dormir”; “Estou com meu trabalho acumulado e sem 
ânimo para enfrentá-lo”; “Não tenho vontade de sair com meus amigos” são 
verbalizações sob controle da baixa freqüência de comportamentos que, prova­
velmente, foram mais fortes no passado. Invariavelmente, seguem-se explicações: 
“Devo estar deprimido”; “Estou estressado”; “Perdi a motivação”; etc. No exemplo 
citado, a cliente fica sob controle de comportamentos e estados corporais e atri­
bui à “fobia” a explicação do que está ocorrendo com ela. Em todas as situações 
apontadas, a pessoa não relaciona os estados corporais com a atuação de contin­
gências coercitivas, as quais produzem comportamentos operantes de fuga-es- 
quiva e, ao mesmo tempo, eliciam reações respondentes. Os respondentes são 
sentidos e priorizados (exercem mais controle) e, para a pessoa, tornam-se sinto­
mas com função pré-aversiva, os quais anunciam desfechos aversivos (morte sú­
bita, câncer etc.). Da mesma maneira, a freqüência reduzida dos operantes não é 
causada por depressão nem por estresse, mas por contingências de reforçamento 
com redução importante da quantidade e da qualidade dos reforçadores positi­
vos, aumento exagerado na razão de respostas por reforço, introdução de contro­
le aversivo ou outras ações. Quando a pessoa não fica sob o controle dos eventos 
ambientais que compõem as variáveis controladoras das mudanças compor­
tamentais e os estados corporais sentidos, o terapeuta terá que ensiná-la a identi­
ficar e descrever as relações funcionais entre os comportamentos e as variáveis 
ambientais que os determinam. Em seguida, deve capacitá-la para alterar as rela­
ções na direção que lhe for mais apropriada. Na citação seguinte, Ferster (1972) 
enfocou a relevância da interação ativa da pessoa com o ambiente, propondo o com­
portamento discriminativo como pré-requisito para a atuação bem-sucedida:
“Comportamentalmente, um estímulo aversivo pode desmantelar um reper­
tório inteiro ou pode aumentar a freqüência (por meio do reforçamento ne­
gativo) de algum desempenho que o elim ine... Por outro lado, parece possível 
que um repertório discriminativo (acurada percepção do ambiente funcio­
nal) seja um pré-requisito necessário para ação efetiva. Sem controle diferen­
cial pelos elementos aversivos do meio (sem notar elementos do ambiente), só 
pode haver uma reação emocional difusa ou um afastamento da situação 
total. A delicada interação com o ambiente total - evitando ou escapando de 
elementos aversivos e, ao mesmo tempo, agindo sobre os elementos positivos - 
há de requerer, certamente, um repertório discriminativo abrangente" (pág. 5).
O que foi dito sobre fobia representa um exemplo da análise a ser feita diante de 
qualquer queixa específica trazida pelo cliente. Por isso, o processo terapêutico jamais 
se restringe ao emprego de técnicas específicas para manejar problemas específicos.
Para se entender a natureza do processo da terapia, há necessidade de especificar 
vários aspectos que caracterizam a Terapia Comportamental. Em primeiro lugar, é
Terapia por Contingências de Reforçamento ■ 7
importante salientar que não há unanimidade, mesmo entre os que se denominam 
terapeutas comportamentais, quanto à definição de Terapia Comportamental, 
quanto às práticas clínicas empregadas com o cliente, quanto ao referencial 
conceituai adotado, quanto aos dados de pesquisa utilizados, quanto à metodologia 
de pesquisa adotada, quanto ao objeto
fundamental de estudo, isso somente para 
citar as divergências mais relevantes. Diante dessa realidade da prática clínica, pare­
ce oportuno adotar um termo que substitua a denominação Terapia Comportamental 
por outro, Terapia por Contingências de Reforçamento, que se espera seja mais des­
critivo do envolvimento conceituai, experimental e aplicado dos terapeutas e me­
nos envolto em equívocos e impropriedades. Saliente-se, porém, que mais do que 
uma nova terminologia, a Terapia por Contingências é uma forma de compreender 
e lidar com o comportamento humano, essencialmente comprometida com:
1. Arcabouço teórico-filosófico específico: o Behaviorismo Radical (Skinner, 
1953, 1957, 1968, 1969,1971, 1974, 1978, 1987, 1989, 1999);
2. Ação metodológica para investigar e analisar os fenômenos comportamentais: 
a ciência do comportamento (JEAB, 1958 e seguintes; JABA, 1968 e seguintes; 
TAVB, 1984 e seguintes; Skinner, 1938; Keller e Schoenfeld, 1950; Ferster e 
Skinner, 1957; Sidman, 1960; Ferster, CulbertsoneBoren, 1968; Catania, 1998);
3. Utilização de procedimentos de intervenção terapêutica “tecnologicamente”
descritos e “conceitualmente” sistemáticos (Baer, Wolf e Risley, 1968), deri­
vados da ciência do comportamento;
4. Linguagem para descrever os fenômenos interacionais entre terapeuta (pes­
quisador) e cliente (sujeito), alicerçada na proposta de análise do comporta­
mento verbal de Skinner (1957).
A Terapia por Contingências abrange um conjunto de interações compor­
tamentais que ocorrem em diferentes contextos, nos quais uma pessoa com a função 
de agente de mudança comportamental (terapeuta), influencia os comportamen­
tos de outra pessoa (cliente) que solicitou, da primeira, ajuda para alterar compor­
tamentos e sentimentos aversivos e cuja mudança está incapacitada de fazer por si 
mesma. As palavras de Skinner (1967/1953)3 esclarecem o que mobiliza a pessoa 
para procurar terapia:
“Os subprodutos (ou produtos colaterais) do controle que incapacitam o 
indivíduo ou são perigosos, seja para o indivíduo, seja para os outros, cons­
tituem o cam po da psicoterapia” (pág. 204).
E também esclarecem a função última do terapeuta:
“A terapia consiste, não em levar o paciente a descobrir a solução para o seu 
problema, mas em m udar o seu paciente, de tal modo, que seja capaz de 
descobri-la” (pág. 216).
A primeira data refere-se ao texto consultado; a segunda, à publicação original.
Ter a p ia Co mp o rta mental
A Terapia por Contingências é diferenciada de outras propostas terapêuticas 
pela maneira como o terapeuta atua (os procedimentos que utiliza) e pelo com ­
promisso conceituai e experimental que ele adota na sua prática. Duas frases de 
Skinner (1999/1972a) parecem apropriadas para esclarecer o argumento:
“A concepção de comportamento humano que emerge de uma análise expe­
rimental explica a característica ím par da m odificação de comportamento, 
qual seja: ela é diretamente comprometida com tomada de decisão e controle. 
Quando especificamos as metas... podemos ir diretamen te ao delineamento 
das contingências relevantes. A análise experimental do comportamento é 
mais que mensuração. Ela é mais que teste de hipóteses. Ela é um ataque 
empírico sobre as variáveis manipuláveis das quais o comportamento é fu n ­
ção” (pág. 327).
“A teoria que acom panha uma análise experimental é especialmente útil 
para justificar a, prática porque a m odificação de comportamento, freqüen­
temente, significa uma am pla mudança na maneira pela qual lidamos com 
pessoas. E am pla não apenas no objetivo (atuando em áreas tão diversas
como educação, psicoterapia., economia e governo), mas também em n
à própria natureza das pessoas, já que estados da mente, sentimentos e ou 
tros atributos do hom em interior, que figuram em explicações tradicionais 
do comportamento humano, são rejeitados em favor de circunstâncias an ­
tecedentes nas histórias genética e individual da pessoa. A história genética 
está no momento além do controle, mas a história ambiental, passada e pre­
sente, pode ser suplementada e mudada, isso é o que éfeito numa tecnologia 
comportamental genuína. M odificação de comportamento é m odificação 
de am biente, embora isso não seja am plam ente reconhecido” (pág. 326).
Todos os comportamentos emitidos pelo terapeuta estão sob o controle dos 
seguintes conjuntos de determinantes:
1. Comportamentos verbais e não verbais emitidos pelo cliente e por pessoas 
significativas do ambiente social dele;
2. Conjunto de procedimentos, metodologia de pesquisa, dados compor­
tamentais e conceitos produzidos pela Ciência do Comportamento (Análise
Aplicada e Análise Experimental do Comportamento) e pelo Behaviorismo 
Radical;
3. Repertório comportamental pessoal, profissional e científico do terapeuta
produzido pela sua história de contingências, enquanto pessoa e enquanto 
profissional.
Ferster (1972) assim se referiu aos temas sistematizados nos três itens anteriores:
“Para alguns, a terapia... é um produto da interação (1) momento a m o­
mento entre eles (terapeuta e cliente). Experiência passada, (3), experiência 
transmitida por outros (3) e teoria (2) provêem uma estrutura que oferece à 
terapia alguma direção, enquanto a qualidade experiencial (3) e o foco pri-
Terapia por Contingências de Reforça mento ■ 9
mário sobre o com portam ento (1) do paciente individual, constantemente, 
adaptam e redirecionam a teoria (2) e a experiência passada (3) sobre as 
quais o tratamento se fundam enta. A teoria (2) sugere o que deve ser procu­
rado, mas quando ela deixa de ser útil, o terapeuta experiente (3) volta-se 
para suas observações do comportamento (1) do paciente e para sua pró­
pria experiência (3)... Ao prestar mais atenção às observações com por­
tamentais (1) do que à teoria (2), a Análise do Comportamento (2) pode 
descobrir tipos de conduta (2) que são objetivos úteis para procedimentos 
de m odificação com portam ental (2 )”
“As mudanças no com portam ento (1) do paciente podem reforçar (2) o com ­
portam ento (1) do terapeuta, mesmo quando os procedimentos que ele está 
usando são intuitivos (3)... O resultado (1) não é conhecido previamente 
(2), cada atividade (2) é determ inada pelos resultados (1) da anterior e o 
paciente ensina ao terapeuta o que é efetivo (2). As aproxim ações sucessivas
(2) - m odelagem - do comportamento (1) do terapeuta, geradas pelas mu­
danças no comportamento (1) do paciente têm potencial para a Análise do
Comportamento (2) porque muitos desses fenôm enos (1,2) e procedim en­
tos (2), ao que parece, não podem ser descobertos de nenhum a outra m a­
neira (2). Independentemente de como os fenôm enos (1,2) e métodos (2) são 
descobertos pela primeira vez, no entanto, eles podem se tornar objetivos (2) 
e comunicáveis (2)}} (págs. 1 -2).4
A Terapia por Contingências se define por algumas características fundamen­
tais e inalienáveis. Serão discutidas as mais relevantes (no presente capítulo, ape­
nas três delas).
0 OBJETO DE ESTUDO E DE INTERESSE DO 
TERAPEUTA É O COMPORTAMENTO HUMANO
Nesse aspecto, a Terapia por Contingências apresenta uma posição radical ao 
se interessar, exclusivamente, por comportamentos. Para estudar o comportamento, 
o terapeuta trabalha, de fato, com as contingências de reforçamento passíveis de 
identificação e manejo. De acordo com Matos (1997):
“...o behaviorista radical não trabalha propriamente com o comportamento, 
ele estuda e trabalha com contingências comportamentais, isto é, com o com ­
portar-se dentro de contextos" (pág. 46). E, um pouco m ais... “se tem dito, 
meio ironicamente, que a prática do psicólogo operante se restringe à an áli­
se do operante, isto é, de relações 'se... então...' De fato, se ‘com portam ento’ 
é uma categoria funcional de análise} se é um termo teórico, uma concep­
ção do behaviorista radical, ‘contingência’ é a operação
em pírica equiva­
Esses números são do autor do capítulo. Indicam os controles, apontados no parágrafo anterior, 
sob os quais estão os comportamentos do terapeuta.
10 ■ Terapia Comportamental
lente usada pelo analista de comportamento. Acontece que, sendo o orga­
nismo o loca l o ponto de confluência desses movimentos-e-efeitos, ele tam ­
bém é parte das contingências, e, assim, na verdade (se assumirmos o que se 
tem dito acerca de nós), seria m elhor completarmos ‘a prática do analista de 
comportamento é estudar contingências em seu efeito cumulativo sobre o 
desempenho dos organismos’” (pág. 52).
A unidade de análise do analista de comportamento envolve, portanto, uma 
situação antecedente (a relação entre a resposta e os estímulos que a antecedem 
e que estavam presentes na ocasião em que ela foi conseqüenciada), a resposta e a 
conseqüência (a relação entre a resposta e os estímulos produzidos por ela e que 
a influenciam).
O comportamento é um conceito interacional: fala-se de comportamento 
como a interação recíproca entre o organismo e o ambiente e, como tal, ele é um 
conceito interacional inferido e não observado diretamente. Todo comportamento 
operante é produto de um processo que implica a interação entre o indivíduo e 
o ambiente. A partir de tal interação, am bos se modificam; até mesmo o am­
biente da pessoa vai sendo construído. Para Skinner (1999/1953): “O comporta­
mento de um organismo não é uma coisa fácil para ser descrita. Ele não é um 
objeto que pode ser paralisado para inspeção. Comportamento é um processo, 
uma mudança contínua” (pág. 101).
As ações observadas do organismo não são comportamento, pois falta a elas o 
status de evento relacional, enquanto processo: “Watson, ao limitar o comporta­
mento, como objeto de estudo da psicologia, ao observável como atividade do 
organismo, eliminou a interação como processo e circunscreveu seu domínio 
empírico ao dos movimentos. Assim, deu origem ao surgimento de duas formas 
de dualismo epistêmico: o behaviorismo metafísico e o behaviorismo metodo­
lógico” (Ribes, 1982, pág. 24). Somente após a demonstração das relações funcio­
nais entre as ações e os contextos ambientais antecedentes e conseqüentes, 
pode-se falar em comportamento (melhor seria falar em contingências de 
reforçamento). Ribes (1982) escreveu:
Postulamos a existência de um nível psicológico no conhecimento científico 
da realidade, independente, porém complementar, do biológico (e do social) 
que se fundam enta em um duplo critério. Por um lado, a especificidade do 
nível de organ ização dos eventos; por outro, a especificidade de sua 
historicidade. Como resultado, o psicológico se dá em um nível organizacional 
que inter-relaciona o biológico e o social, porém não se reduz a nenhum deles. 
O comportamento como interação do organismo total com seu ambiente (fí­
sico, biológico e/ou social) modificável (mutável) em e por transcurso de sua 
história individual é o psicológico. Sua especificidade histórica o distingue do 
biológico, que se plasm a na filogenia (história evolucionária da espécie; que 
se contrapõe à ontogenia, que é desenvolvimento do indivíduo desde a fecun­
dação até a idade adulta) e do social, constituído a partir do coletivo. O com ­
portamento não é movimento nem mudança interna isolada, é movimento e 
m udança interna co-participantes de uma interação. O com portam ento
é interação" (pág. 23).
Terapia por Contingências de Reforçamento ■ 11
A visão do comportamento como interação faz justiça aos efeitos recíprocos 
do ambiente e do organismo. O que caracteriza o comportamento operante é a 
sensibilidade que possui aos efeitos que ele próprio produz no ambiente. Ele ori­
gina alterações no ambiente e é modificado por essas mudanças. Segundo 
Micheletto e Sério (1993):
“Aqui começa a se esboçar a noção de homem como relação. O homem constrói 
o mundo a sua volta, agindo sobre ele e} ao fazê-lo, está tam bém se cons­
truindo. Não se absolutiza nem o homem, nem o mundo; nenhum dos ele­
mentos da relação tem autonomia. Supera-se, com isto, a concepção de que 
os fenôm enos tenham uma existência por si mesmos e a noção de uma na­
tureza, hum ana ou não, estática, já dada. A própria relação não é estática, 
não supõe meras adições ou subtrações, não supõe uma causalidade m ecâ­
nica. A cada relação obtém-se, como produto, um am biente e um hom em 
diferentes. Dizer que, como produto desta relação, se tem um hom em dife­
rente a cada nova relação significa que este homem, a cada relação, se altera 
em sua totalidade” (pág. 14).
O instrumento de que o homem dispõe para alterar o próprio mundo e a si 
mesmo, produzindo ou reorganizando contingências de reforçamento, é o seu 
próprio comportamento operante. O instrumento que o terapeuta tem para alte­
rar os comportamentos do cliente, produzindo ou reorganizando contingências 
de reforçamento que afetarão o cliente, é o seu próprio comportamento. Com por­
tamento é, portanto, nosso instrumento de poder. Poder para transformar; poder 
para se transformar. Segundo Micheletto e Sério (1993):
“Skinner caracteriza o comportamento que com põe a relação operante como 
aquele que produz conseqüências... A importância desta caracterização está 
no termo produzir; ele indica que o comportamento é indispensável porque 
ele é que produzirá aquilo que passará a fazer parte de seus determinantes. 
Dito de outra maneira, a conseqüência depende do comportamento e o de­
termina ” (pág. 13)... “É a característica de ‘produtor’que o com portam ento 
tem, quando inserido numa relação operante, que permite a Skinner afir­
mar: ‘O mundo em que nós vivemos é am plam ente uma criação das pes­
soas'ou “O operante é essencialmente o exercício do poder: ele tem um efeito 
sobre o am biente" ou “Os homens agem sobre o mundo, m odificam -no e, 
por sua vez, são m odificados pelas conseqüências de sua ação” (pág. 14).
O terapeuta interessa-se também pelos sentimentos da pessoa. “Os terapeutas 
preocupam-se tanto com o que as pessoas fazem, quanto com o que elas sentem” 
Skinner, 1995,1989, pág. 103). “Uma reformulação behaviorista não ignora os sen­
timentos; ela meramente muda a ênfase: do sentimento para aquilo que é senti­
do. Uma pessoa responde ao mundo físico ao seu redor e, com um conjunto 
: ertamente diferente de nervos, ao mundo não menos físico dentro da sua pele. O 
jue ela sente é seu próprio corpo e entre as coisas que ela sente está seu próprio 
:omportamento, enquanto ele foi afetado por suas conseqüências” (Skinner, 1999,
12 ■ Terapia Comportamental
1972b, pág. 330). A posição de Skinner sobre os sentimentos apresenta, pelo me­
nos, dois importantes avanços em relação às concepções tradicionais, anteriores 
a ele, sobre a natureza e a função dos sentimentos. Em primeiro lugar, sentimento 
é um fenômeno físico, é manifestação do organismo. Rompe-se, assim, a concep­
ção dualista que postula a dicotomia entre sentimento (de natureza mental) e com- 
portamento-ação (de natureza corporal). Em segundo lugar, o sentimento deixa 
de ser a causa dos comportamentos, aquele evento que antecede e produz as ações 
humanas, e passa a ser entendido como um evento causado, colateral, simultâ­
neo, indissociável do comportamento. De evento explicativo, passa a ser evento a 
ser explicado; de variável independente, passa a ser variável dependente. E, um 
pouco além, é melhor conceber o conjunto comportamento e sentimento como 
um processo indissociável, produzido por e fazendo parte das contingências de 
reforçamento. Skinner (1995,1989) assim se expressou:
“A posição behaviorista é: volte aos eventos am bientais antecedentes para 
explicar o que alguém faz e, ao mesmo tempo, o que essa pessoa sente en­
quanto faz alguma coisa. Para cada estado sentido e designado pelo nome 
de um sentimento, presumivelmente existe um evento am biental anterior do 
qual esse
estado é produto. A Terapia Comportamental se interessa mais 
pelo evento antecedente do que pelo sentimento” (pág. 103).
Uma evidência experimental (existem inúmeras) de que nem os sentimentos 
nem as emoções são causas do comportamento foi oferecida por Azrin (1959) num 
estudo realizado com pombos. O comportamento de bicar do sujeito experimen­
tal era mantido num esquema FR (cada pombo, tinha um valor próprio da razão 
que variou de 10 a 50), mantido por reforçamento positivo. Após o desempenho 
no esquema FR mostrar estabilidade, o procedimento envolveu uma contingên­
cia de punição em que cada resposta de bicar era seguida por um choque elétrico 
cuja intensidade foi introduzida de forma crescente desde 1 até 120 volts. A mu­
dança de uma intensidade para a seguinte (mais intensa) dependia do desempe­
nho do pombo: a intensidade da punição era mantida até que o padrão e o número 
total de respostas não mostrassem qualquer tendência discernível por sessões su­
cessivas. Segue-se a descrição que o autor fez da observação de um pombo man­
tido em FR 25 durante punição severa (convém lembrar que o sujeito recebia 25 
choques e um reforço na condição experimental):
“A observação visual direta dos sujeitos na presente investigação revela uma 
visão bastante dram ática durante punição severa (80,100 e 120 volts). Im e­
diatam ente após o reforçamento, o pom bo usualmente se afasta com pleta­
mente da área do disco de resposta. Quando o sujeito finalm ente retorna 
até o disco e executa a prim eira resposta, a punição produz agitação e movi­
mentos frenéticos e violentos das asas. A violência da reação física a esta 
prim eira punição dá a impressão que nenhuma outra resposta voltará a ser 
em itida por algum tempo. No entanto, o sujeito executa as 24 respostas res­
tantes numa sucessão extremamente rápida, mesmo quando o efeito físico
Terapia por Contingências de Reforçamento * 13
da punição parece tornar difícil a manutenção de uma postura ereta, ou até 
de se manter respondendo” (pág. 304).
O resultado do experimento e as conclusões foram sumarizados assim:
“O efeito da punição no desem penho em razão fixa é aum entar a duração 
das pausas após reforçamento. Não ocorre redução na taxa local (observa­
ção do autor do capítulo: taxa local é definida pela relação entre número de 
respostas em itidas por unidade de tempo, determ inada para um período 
curto, particularmente quando ela é relativamente constante durante aquele 
tempo) de respostas, quase independente da severidade da punição. Qual­
quer redução no número total de respostas é, portanto, atribuída a um 
aum ento nas pausas e não a qualquer decréscimo na taxa de respostas que 
vem prevalecendo.
Esta redução de respostas é m aior no momento da introdução inicial ou no 
aumento da punição. Ocorre uma recuperação progressiva após exposição 
continuada, a qu a l virtualmente, se com pleta nas intensidades m oderadas 
de punição que tinham, inicialmente, reduzido m arcadam ente as respos­
tas... Com intensidades mais altas, quase intoleráveis fisiologicamente, a 
recuperação do efeito inicial da punição é apenas parcial” (págs. 304-305).
Os resultados desse experimento mostraram, de maneira inconteste, que o 
sujeito experimental ficou sob controle das contingências de reforçamento ma­
nejadas: reforçamento positivo intermitente em esquema de razão fixa e punição 
positiva, tendo choque elétrico como evento aversivo, contingente a todas as res­
postas emitidas. A maneira como foi introduzida a intensidade do choque numa 
hierarquia progressiva - do menor valor para o maior - parece ser uma variável 
crítica, não avaliada experimentalmente (o que ocorreria se as intensidades maio­
res de choque fossem apresentadas inicialmente?). O tamanho da razão de 
reforçamento foi avaliado (FR 10 a FR 50), revelando que os parâmetros da razão 
não alteraram os padrões de respostas dos sujeitos experimentais. A expectativa 
de que os sentimentos (ou emoções) de medo (do choque), de ansiedade (produ­
zida por uma situação aversiva conhecida inescapável, não contingente à respos­
ta), ou quaisquer outros sentimentos, possam ter função causal se esvai com esse 
estudo. Não são os sentimentos que produzem ou causam comportamento; o com­
portamento é determinado pelas contingências (tanto quanto é o sentimento - 
ou melhor, o “sentir” - o é). E, no estudo relatado, o comportamento analisado é 
um operante livre em itido, não uma resposta reflexa eliciada: o pombo em ite a 
bicada que produz choque (sempre) e alimento (ocasionalmente). A demonstra­
ção do papel das contingências se torna, portanto, enfática: não é o estado corporal 
sentido que produz o comportamento; são as contingências de reforçamento.
Um pombo “masoquista”! Chamá-lo de “masoquista” (ou, no caso de uma pes­
soa, chamá-la de “deprimida” ou “estressada”) é a mesma coisa que lhe dar um 
apelido, uma vez que não acrescenta nenhuma informação sobre as variáveis que 
controlam os comportamentos. Pode ser tentador buscar explicações para o com­
p ortamento em dinamismos psíquicos internos (masoquismo seria um exemplo).
14 ■ Terapia Comportamental
Quando, porém, se tem acesso aos processos comportamentais que produzem 
determinados padrões de comportamento, a necessidade de buscar uma explica­
ção inventada ou mágica desaparece. A explicação está no nível das variáveis que 
podem ser manejadas para produzir o comportamento e das variáveis que permi­
tem prever a ocorrência (ou não ocorrência) do comportamento, está nas contin­
gências de reforçamento. O pombo não é masoquista; ele é (se preferir uma palavra 
afetiva) “vítima” das contingências ambientais a que foi exposto. Mais precisa­
mente, ele é parte ativa das contingências em operação, produzindo conseqüên­
cias e sendo afetado por elas. O desempenho final é o produto de tal interação 
entre o organismo e o ambiente (experimental).
Os sentimentos são, mais uma vez, manifestações do organismo e não entida­
des abstratas de outra natureza que não a corporal. A compreensão dos sentimen­
tos só é possível pela análise das interações entre organismo e o ambiente e a 
detecção das contingências em operação. Assim, por exemplo, o sentimento de 
prazer começa a ser entendido a partir da análise dos estados corporais produzi­
dos por contingências de reforçamento positivo. Em seguida, pelo papel desem­
penhado pela comunidade verbal da pessoa que, por meio de contingências de 
reforçamento sociais, ensina-lhe a identificar os estados corporais e a dar-lhes 
nomes arbitrários, porém convencionados, dentro da comunidade. Assim, senti­
mentos envolvem manifestações corporais respondentes e operantes produzidas 
por contingências de reforçamento. Veja-se Skinner (1995,1989):
“Os terapeutas comportamentais atribuem o que é feito a dois tipos de conse­
qüências seletivas: comportamento inato à seleção natural e comportamento 
aprendido ao reforçamento operante. Um exemplo específico é usualmente 
um produto conjunto de ambas. Existe, por exemplo, um lado operante na 
emoção. O medo não é só uma resposta das glândulas e dos músculos lisos, 
mas também uma probabilidade reduzida de movimento em direção ao ob­
jeto temido e uma alta probabilidade de afastamento dele. O lado operante 
da raiva é uma probabilidade m aior de causar dano a alguém e uma menor 
probabilidade de ser agradável Enquanto o estado corporal resultante de con­
dicionamento respondente é usualmente cham ado de sentimento, o estado 
resultante do condicionamento operante, observado pela introspecção, geral­
mente é cham ado de estado da mente” (págs. 103-104).
Há vantagens em substituir o substantivo “sentimento” pelo verbo “sentir”. 
“Usamos o verbo 'sentir' para descrever nosso contato com esses dois tipos de 
estimulação” - (os sistemas interoceptivo e proprioceptivo) (Skinner, 1993, 1974, 
pág. 23). Com tal afirmação, Skinner definitivamente
coloca o sentir no âmbito 
dos eventos do organismo: “Os estados corpóreos que são sentidos ou observados 
merecem reconhecimento, mas a ênfase deve ser dada às condições ambientais a 
que estão ligados e deve-se insistir que são as condições e não os sentimentos que 
nos habilitam a explicar o comportamento” (Skinner, 1993,1974, pág. 207). Pode- 
se concluir, então, que as contingências de reforçamento produzem simultanea­
mente duas classes de comportamentos: operantes e respondentes. Não há 
necessidade de - mais precisamente, é um equívoco conceituai - falar-se em com­
portamento e sentimento. Tudo é comportamento.
Terapia por Contingências de Reforçamento ■ 15
Quando um paciente procura o médico, esse pede a ele para descrever as do­
res, os estados orgânicos. Surgem dificuldades, já que as descrições são, em geral, 
pouco precisas. “A dificuldade não advém de o paciente não estar sendo estimulado 
de forma perfeitamente clara, mas sim de ele nunca ter estado exposto a condi­
ções de instrução em que aprendesse a descrever adequadamente os estímulos” 
íSkinner, 1993, 1974, pág. 26). Estudos de pesquisa básica com animais parecem 
confirmar que os estados corporais têm função de estímulo controlador de com­
portamento, mesmo que o organismo não tenha ciência de tal relação de controle 
;falta, aos organismos infra-humanos, o comportamento verbal). Assim, Hoffman 
e Fleshier (1965) introduziram a punição positiva na supressão condicionada (no 
paradigma original de supressão condicionada, um estímulo-sinal (luz) sinaliza a 
apresentação de um estímulo aversivo (choque) inevitável, não contingente à res­
posta, enquanto opera um esquema de reforçamento intermitente mantido por 
reforçamento positivo). Ou seja, os autores usaram um procedimento experimental 
que investigava uma variação no paradigma de supressão condicionada: num 
delineamento de emparelhamento {yoked, dois sujeitos são submetidos às mes­
mas condições experimentais, exceto uma, que é a variável experimental sendo 
investigada), as bicadas de um pombo produziam choque para si mesmo (pu­
nição positiva) e também para um outro pombo do par que estava num outro 
equipamento experimental (choque livre). Para os dois membros do par, periodi­
camente era apresentado um estímulo-sinal (som), enquanto estava operando um 
mesmo esquema VI com alimento. Para o sujeito que era punido após o som estar 
presente por dois minutos, a primeira bicada produzia simultaneamente um cho­
que elétrico, enquanto o som era desligado. O outro membro do par, no mesmo 
momento, também recebia o choque e o som era igualmente desligado. Portanto, 
os dois membros do par recebiam exatamente a mesma distribuição de choques 
e de som, mas, para o pombo da.condição de punição, a apresentação do choque 
era contingente à emissão da bicada durante a porção terminal do som, enquanto, 
para o outro pombo da condição de emparelhamento, a apresentação do choque 
era independente do comportamento que estava sendo emitido. As diferenças 
entre os desempenhos típicos dos dois pombos, quando os procedimentos reve­
laram seu controle, foi evidente. Para o sujeito controle, tão logo o som era intro­
duzido, se iniciava um curto período de aceleração negativa, o que reduzia 
rapidamente a freqüência de bicadas para um nível baixo, e que assim permane­
cia até o término do som. O sujeito que era punido apresentava pausas maiores, 
porém no início da apresentação do som raramente ocorriam mudanças na fre­
qüência de respostas; as pausas surgiam na porção final do som (mais próximas 
da resposta punida). Veja a explicação de Hoffman (1969) para as diferenças entre 
os dois sujeitos experimentais:
“Embora as explicações destas diferenças tenham que ser, no momento, um 
tanto especulativas, o trabalho sugeriu que a inclusão de uma contingência 
específica resposta-choque no paradigm a de supressão serviu para m odifi­
c a ra influência do estímulo-sinal (som). Em particular, ela (contingência 
punitiva) pareceu estabelecer uma situação na qual a condição necessá­
ria para ocorrer a supressão era que o sujeito estivesse respondendo na
16 ■ Terapia Comportamental
presença do estímulo-sinal. Assim, para os sujeitos punidos, a introdução 
do estímulo-sinal não fo i comumente acom panhada por uma m udança 
na freqüência de resposta* Mais precisamente, estes sujeitos tipicamente res­
ponderam durante o segmento inicial do estímulo-sinal e, então, abrupta­
mente mostraram uma parada com pleta de bicar Foi como se o estímulo, 
que ganhou controle sobre a reação em ocional do sujeito, consistisse de um 
composto no qual um elemento fo i estim ulação provida pelo estímulo-si­
nal e o outro elemento fo i estimulação provida pela informação proprio- 
ceptiva originada do comportamento de bicar o disco. Quando um dos 
elementos do composto estava faltando, com o ocorria durante os intervalos 
entre sons (quando o som estava ausente) e durante os primeiros segundos 
do som (quando a estimulação proprioceptiva das bicadas ao disco durante 
o som estava ausente), não ocorria supressão” (págs. 199e200).5
O aspecto que se deseja enfatizar com essa pesquisa é que seus autores suge­
rem que o comportamento do pombo punido ficou sob o controle da estimulação 
proprioceptiva (debaixo da pele) na parte final da presença do som. O pombo fi­
cou sob o controle da estimulação corporal produzida pela relação de contingên­
cia existente entre a resposta e a conseqüência aversiva por ela produzida e não 
pela apresentação do choque. O pombo controle também recebia o choque em 
condição idêntica, apenas não havia uma relação de contingência entre o bicar 
e o choque. Seu desempenho (redução na freqüência de resposta durante o som) 
ficou exclusivamente sob controle do estímulo exteroceptivo. É oportuno para­
frasear Skinner (1993,1974, pág. 188): Os sujeitos infra-humanos se comportam 
de forma consciente no sentido de estarem sob o controle de estímulos 
(exteroceptivos, no exemplo do pombo controle; exteroceptivos e proprioceptivos, 
no caso do pombo punido): ouvem som (os dois pombos experimentais) e sen­
tem o próprio corpo (apenas o pombo punido), no sentido de responderem, apro­
priadamente, cada um de acordo com a condição experimental a que foi
submetido; todavia, nenhuma contingência verbal os torna conscientes do som, 
no sentido de ouvir que estão ouvindo, ou do corpo, no sentido de sentir o que 
estão sentindo.
Com a afirmação de Skinner sobre o papel das contingências verbais, anun­
ciam-se os problemas que a comunidade tem para ensinar os seus membros a 
emitirem respostas discriminativas verbais sob o controle de eventos orgânicos 
debaixo da pele. Tais eventos, por serem inacessíveis à observação direta da co­
munidade, faz com que ela tenha dificuldades para reforçar diferencialmente
respostas sob o controle desses estímulos corporais.
“Há diferença entre sentimentos e relatos acerca daquilo que se sente. Pode­
mos tomar o sentimento (seria m elhor dizer o sentir) com o simples resposta 
a estímulos (orgânicos internos), mas seu relato é o produto das contingên­
cias verbais especiais, organizadas por uma comunidade. Há uma diferen-
5 Grifos do autor do capítulo
Terapia por Contingências de Reforçamento ■ 17
ça sem elhante entre o com portam ento e o relato do comportamento ou das 
suas causas (conseqüências). Ao organizar as condições em que uma pessoa 
descreve o mundo público ou privado onde vive, um a com unidade gera 
aquela form a muito especial de comportamento cham ada conhecimento. 
Responder a um estômago vazio ingerindo com ida (comportamento sob 
controle de estímulos corporais internos advindos do estômago) é uma coi­
sa; é outra, porém, saber que se está com fom e (comportamento verbal que 
descreve um estado corporal sob controle de tal estado e m odelado pelas 
contingências geradas pela com unidade verbal). Caminhar sobre um terre­
no acidentado (comportamento m odelado pelas conseqüências advindas 
das irregularidades do piso) é uma coisa; é outra, porém, saber que se está 
fazendo isso (comportamento verbal que descreve uma form a de andar em 
um tipo específico de terreno sob o controle do próprio com portam ento e do 
terreno e m odelado por contingências geradas pela com unidade verbal)”6 
(Skinner; 1993,1974, pág. 30).
Os paradigmas a seguir (Quadros 1.1 a 1.3) podem esclarecer, esquemati­
camente, o que foi exposto.
Na contingência A, a comunidade verbal não é parte das contingências em 
operação, e o comportamento operante emitido foi resultado, exclusivamente, das
Q uad ro 1.1 - Contingência A - Comportamento operante "pegar a bola 
debaixo da árvore"
j Antecedentes Resposta não verbal Conseqüências
! 1. SD externos:
i
\ Bola de futebol perdida
\ está debaixo de uma árvore
i 2. SD internos:
(a) Estímulos
| proprioceptivos produ­
zidos por andar até
• a árvorei
(b) Estímulos 
proprioceptivos e 
interoceptivos desper­
tados pela descoberta 
de um evento
: reforçador positivo
(a boia)
3. Respostas encobertas (por
exemplo, "São 11 horas.
Tenho que ir para casa.")
- Andar até a árvore e apa­
nhar a bola (comporta­
mento operante)
- Outras respostas (não reie- 
vantes para a presente 
discussão)
- Segurar a bola, brincar 
com ela etc., bem como 
eventos corporais internos: 
estimulação proprioceptiva 
e interoceptiva com fun­
ção reforçadora positiva, 
adquirida por associação 
com outros reforçadores 
positivos
Os parênteses foram colocados pelo autor do capítulo
18 ■ Terapia Comportamental
Quadro 1.2 - Contingência B - Comportamento verbal discriminativo que 
descreve o próprio comportamento "fui pegar a bola"
Antecedentes Resposta verbal Conseqüências
1. Os três elos da tríplice con­
tingência apresentados na 
contingência A (o SD inter­
no a exerce maior controle 
que o b em função da 
questão 2 a seguir)
2. As questões:
(a) "0 que você fez?"
(b) "0 que você está 
fazendo?"
(c)"Onde você está indo?"
(a) "Fui pegar a bola."
(b) "Estou pegando a bola."
(c) "Até a árvore... pegar 
a bola."
(comportamentos verbais 
de descrição do próprio 
comportamento operante)
- Reforço diferencia! social 
generalizado contingente 
à descrição do comporta­
mento, provido pela pes­
soa que fez a pergunta
Quadro 1.3 - Contingência C - Comportamento verbal discriminativo que 
descreve o próprio sentimento "senti-me contente"
Antecedentes Resposta verbal Conseqüências
1. Os três elos da tríplice con­
tingência apresentados na 
contingência A (o SD inter­
no b exerce maior controle 
que o a em função da 
questão 2 a seguir)
2. A questão: "0 que você 
sentiu quando, finalmente, 
encontrou a bola?"
"Uma emoção forte, meu co­
ração disparou. Senti-me 
contente."
(comportamento verbal de 
descrição do estado corporal)
- Reforço diferencial social 
generalizado contingente 
à descrição do sentimento, 
provido pela pessoa que 
fez a pergunta
f f i i ' +
1 , ■ .
inter-relações entre a criança que apanhou a bola e aspectos específicos do ambiente 
físico natural. (Excluiu-se da análise, para fins didáticos, o papel da história de
contingências a qual o garoto foi exposto, embora se reconheça que tal história 
também é fator determinante e participante das interações. Suponha, por exem­
plo que, na história de contingências dessa criança, “perder a bola” fosse ocasião 
para chorar até que uma outra pessoa a devolvesse. O produto comportamental 
observado no exemplo seria outro.)
Na contingência B, a comunidade verbal tem papel decisivo. São as questões 
postas pela comunidade (“O que você está fazendo?” por exemplo) que colocam
o comportamento do ouvinte, de descrever o que está fazendo, sob o controle das 
inter-relações entre antecedentes - respostas - conseqüentes (note que, no es­
quema da contingência B, o item 1 dos antecedentes é exatamente a tríplice con­
tingência de A). A pergunta, porém, destaca um item específico da contingência 
total: o SD interno a é mais crítico que b, provavelmente, porque fazer envolve 
estímulos originados na musculatura esquelética e nas articulações. Produz-se,
Terapia por Contingências de Reforçamento ■ 19
desta forma, o comportamento verbal de relatar o aspecto da tríplice contingência 
que ficou sob controle do SD verbal do falante. No caso, o SD verbal, “O que você 
está fazendo?”, controlou o comportamento verbal que foi emitido: “Estou pegan­
do a bola”. Dentre todos os aspectos da tríplice contingência, a questão enfocou o 
operante fazer, o aspecto enfatizado que exerce controle máximo sobre o com­
portamento verbal. Se a questão fosse “Onde está a bola?” o enfoque seria no ou­
tro aspecto da contingência e a resposta verbal, que ficaria sob o controle da nova 
questão, poderia ser “Debaixo da árvore.” Se o SD verbal fosse outro (por exemplo, 
“Por que você vai pegar a bola e não larga ela lá?”), seria, necessariamente, evoca­
do outro comportamento verbal do ouvinte, sob controle de outros aspectos da 
contingência (não identificáveis no exemplo apresentado no paradigma B). Nesse 
caso, o esquema da contingência B precisaria ser ampliado para incluir elemen­
tos da história de reforçamento da pessoa. Aquilo que ocorreu no passado, 
quando ela perdeu uma bola ou outro objeto, é determinante da classe de com­
portamento “procurar a bola até achá-la”, “não ir procurar a bola”, “desistir antes de 
achá-la” etc. Assim, por exemplo, “Meu pai me punha de castigo, me chamava 
de irresponsável... quando eu perdia alguma coisa” é uma classe de contingências da 
história de vida que torna importante procurar a bola até achá-la. Finalmente, 
deve-se esclarecer que o comportamento de descrição do próprio comportamento 
não ficou apenas sob controle da pergunta provinda de um membro da comuni­
dade verbal, mas por todo o conjunto de contingências. A pergunta destaca, do 
conjunto, sob o controle de qual particularidade dos componentes da contin­
gência, a resposta verbal, se for emitida, será reforçada.
Na contingência C, a comunidade verbal também tem papel fundamental. A 
questão proposta “O que você sentiu... ?” coloca o comportamento verbal do ouvinte 
sob o controle de todos os componentes descritos na contingência A (no esquema 
de contingência C, o item 1 dos antecedentes é exatamente a tríplice contingência de 
À). A pergunta, porém, destaca um item específico da contingência total: o SD in­
terno b é mais crítico que a , provavelmente porque sentir envolve estímulos pro­
venientes, principalmente, dos eventos corporais internos, estímulos próprio e 
interoceptivos, gerados pelo contato com a bola perdida. Produz-se, dessa forma, o 
comportamento verbal de relatar o aspecto da tríplice contingência que ficou sob 
controle do SD verbal do falante. No caso, o SD verbal, “O que você sentiu?”, colocou 
sob controle o comportamento verbal que foi emitido: “Senti-me contente.” A ques­
tão enfocou o operante “sentir”, dentre todos os aspectos da tríplice contingência, 
sendo enfatizado por exercer controle máximo sobre o comportamento verbal. En­
tão, a pessoa emite uma verbalização, tipicamente categorizada com o nome de um 
sentimento, no caso, “contente”. Mas ela poderia nomear outro sentimento, por 
exemplo, “Senti-me aliviado.” A diferença entre sentir um estado corporal (nomea­
do “contente”) e outro (nomeado “aliviado”) deve ser buscada na história de contin­
gências de cada indivíduo: “alívio” seria um termo mais provável se, na história de 
contingências da pessoa, o comportamento de perder um objeto fosse, usualmente, 
Dunido. Assim, ao achar o objeto, ela estaria se esquivando da punição prevista: o 
:omportamento seria reforçado negativamente e o estado corporal sentido poderia 
ser chamado de “alívio”. Cada contingência produz um estado corporal correspon­
dente e a pessoa responde aos componentes da contingência, ao estado corporal e 
aos controles da comunidade verbal.
Leidy
Realce
20 ■ Terapia Comportamental
Skinner (1999/1954) fez uma importante observação sobre o papel do auto­
conhecimento, refutando claramente que lhe caiba um possível papel causal:
“O ponto importante não é que o indivíduo, freqüentemente, fo i incapaz de 
descrever aspectos importantes do seu próprio comportamento ou de iden­
tificar relações causais importantes, m as sim que sua hab ilidade para 
descrevê-los fo i irrelevante para a ocorrência do comportamento ou para a 
eficácia das causas. Começamos por atribuir o comportamento do indiví­
duo a eventos em sua história genética e am biental Depois notamos que, 
por causa de certas práticas culturaisf o indivíduo pode vir a descrever a l­
guns daqueles comportamentos e algumas daquelas relações causais. Pode­
mos dizer que ele está consciente das partes que é capaz de descrever e 
inconsciente do resto. Mas, o ato de autodescrição, tanto quanto o de auto- 
observação, não desem penha nenhum papel na determ inação da ação. Ele 
é sobreposto ao com portam ento... estar cônscio da causa, não tem nada a 
ver com eficácia causal” (pág. 293).
Desmistifica-se, dessa forma, uma concepção basilar da Psicologia, na qual 
a conscientização tem, por si mesma, poder de causar ou modificar comporta­
mentos. A conscientização, enquanto conhecimento, permite à pessoa identifi­
car ou descrever os determinantes, as relações funcionais dos comportamentos, 
mas, com isto, a conscientização não se materializa em causa. Finalmente, a 
”conscientização” (ou seja, a auto-observação e a autodescrição) tem um papel 
relevante no processo terapêutico, pois, embora não cause comportamento, pode 
nos levar às causas, ou seja, colocar o terapeuta e o cliente sob o controle dos 
determinantes dos comportamentos relevantes.
Os eventos corporais “debaixo da pele” são tão reais quanto os eventos corpo­
rais “fora da pele” e, essencialmente, da mesma natureza. O que os diferencia é o 
acesso que o observador tem a cada uma das duas classes de eventos: a primeira só é 
acessível ao próprio indivíduo que se comporta; a segunda é também acessível a ou­
tros observadores. Por outro lado, é oportuno nesse ponto ressaltar com Matos (1997):
“A expressão'mundo externo'não se refere ao que reside fora da pele do orga­
nismo e sim (por necessidade conceituai de uma postura analítica) ao que 
não é a própria ação. Para o ‘behaviorista radical' ‘ambiente* é o conjunto de 
condições ou circunstâncias que afetam o comportar-se, não importando se 
estas condições estão dentro ou fora da pele. É importante entender que, para 
Skinner, o am biente é externo ã ação, não ao organismo" (pág. 47).
Desta maneira, a citação de Ferster (1972) complementa as palavras citadas 
anteriormente:
“É útil distinguir entre duas partes do ambiente do paciente que controlam 
suas descrições verbais: (a) o repertório dentro da pele do paciente; (b) suas 
descrições verbais dos fatores ambientais que estão produzindo a reação in­
terna, predominantemente privada. Essa última, requerendo uma análise
Terapia por Contingências de Reforçamento ■ 21
funcional do desempenho, é controlada por elementos particulares do ambiente 
(usualmente externos) é, obviamente, uma condição necessária para uma 
pessoa viver com sucesso. Além de que, a habilidade para notar mudanças no 
seu próprio estado interno parece ser um começo importante, talvez necessá­
rio, na direção da pessoa observar essa relação funcional Tais comportamen­
tos de observação - os tatos sob o controle de eventos privados - são eventos 
naturais cujo reforçamento contínuo não depende das circunstâncias arbi­
trárias ou especiais da situação terapêutica1" (págs. 5-6).
No mesmo texto, Ferster (1972) enfatiza em uma nota a importância de dis- 
::nguir entre tato puro e impuro, quando se lida com eventos privados:
“Controle pelo estímulo e não pelo reforço dá ao tato sua objetividade, sua 
utilidade para com unicação e seu uso com um por diferentes m embros da 
com unidade, sob am pla gam a de circunstâncias. Em termos coloquiais, 
um tato 'descreve'algum evento. No presente caso, o evento que o tato ‘des­
creve' está debaixo da pele da pessoa, portanto, é privado . É útil fa la r do 
tato com o desem penho verbal controlado por algum estímulo em vez de 
‘descrever’ o estímulo, porque o prim eiro uso aponta para o procedim ento 
exato que estabelece o com portam ento, enquanto que o segundo uso é 
mentalista (pág. 6). Um tato impuro é um desem penho verbal cujo con­
trole é com partilhado pelo estímulo que lhe dá a deixa fprompU e um 
reforçador relevante para o estado atual de privação do falante. Se o tato 
fosse puro, sua form a seria controlada, exclusivamente, pelo estímulo an ­
tecedente, excluindo-se qualquer reforçador relevante para o estado atual 
de privação do fa lan te” (pág. 11).
Desse modo, quando as descrições que o cliente faz de seus estados privados 
sào conseqüenciadas de forma arbitrária pelo terapeuta, os desempenhos verbais 
io cliente são observações em um sentido limitado, já que, por serem tatos im­
puros, ou seja, reforçados pelo terapeuta (reforço arbitrário), em vez serem 
ronseqüenciados por reforçadores generalizados naturais, não estão sob o con- 
role exclusivo dos eventos que descrevem, mas foram, de certa forma, modelados 
arbitrariamente) pelo terapeuta.
A discussão do presente subtítulo corresponde, com as alterações e amplia- 
:ões apresentadas, à primeira dimensão característica da Análise Aplicada do 
lomportamento, nominalmente com portam ental conforme apontada por Baer, 
’ Vblf e Risley (1968).
\ TERAPIA POR CONTINGÊNCIAS É MONISTA
O conceito de "mente”, abstração imaterial e interna, capacitada a causar todo 
: jmportamento e sentimento humano, é absolutamente estranho à Terapia por
I jntingências. Essa nega, essencialmente, o dualismo (cartesiano) e seus pressu- 
r ostos fundamentais, os quais, nas palavras de Ribes (1982), se caracterizam por:
22 ■ Terapia Comportamental
“(a) o mental é concebido com o o causal interno;
(b) a interação dos homens com o seu meio é redutível à ação m ecânica, 
passiva e reflexa;
(c) o mental, enquanto substância primária, independente do material, obe­
dece a leis próprias.
Como tal, a proposta dualista elim ina a interação com o meio como objeto 
de estudo e analisa as ações produzidas com o ato m ediado de uma ‘m áqui­
na’ ou de uma mente interna ou, inclusive, de sua interação” (págs. 22-23).
A citação anterior fornece elementos para destacar a diferença fundamental 
entre o Behaviorismo Radical (monista) e o Behaviorismo Cognitivo (dualista). 
Conclui-se, então, que, enquanto a Terapia Cognitivo-comportamental encontra 
lugar dentro da terminologia mais abrangente da Terapia Comportamental, ela, 
de modo algum, é conciliável com a Terapia por Contingências (solidamente 
alicerçada no Behaviorismo Radical). No Behaviorismo Cognitivo-comportamental 
e nas suas várias versões, o nível explicativo é deslocado para o interior do orga­
nismo ou é substituído por enunciados lógicos que têm a função de mediar a na­
tureza empírica dos fenômenos a serem explicados. Ora a explicação aparece na 
forma de reducionismo mecanicista no qual se estabelece a identidade entre a 
mente e o cérebro, definindo-se a mente como a ação do cérebro. (Essa postura 
epistemológica justifica, por exemplo, a ação terapêutica de empregar medicação 
para “curar” problemas psicológicos ou de atribuir ao estresse - estado corporal - 
a função de causa de perturbações comportamentais.) Ora a explicação surge na 
forma de mimetismo monista (já que tudo de que se fala é comportamento, cria- 
se a impressão de se tratar um monismo comportamental), no qual comporta­
mento (geralmente privado) causa comportamento

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