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A indissociabilidade entre o Projeto Ético-Politico e o projeto profissional do Serviço Social

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Universidade Federal de Ouro Preto
Instituto de Ciências Sociais Aplicadas – ICSA
Departamento de Serviço Social – DESSO
Disciplina: Processos de Trabalho
Docente: Dr. Roberto Coelho 
Discente: Izabela Fernandes Resende 
Atividade: Fomentando o debate
1) A indissociabilidade entre Projetos Profissionais e Projetos Societários supõe, nas palavras de Iamamoto, impregnar o projeto profissional da “grande política”. Como se expressa no cotidiano profissional essa dimensão política? 
	Segundo Iamamoto (2017), a indissociabilidade corresponde ao fato do projeto profissional ir além da defesa dos interesses da categoria profissional, não sendo voltado somente pra legitimação da profissão no mercado de trabalho. Ultrapassa, pois está relacionado a um projeto que abarca toda a sociedade, sendo “histórico e dotado de caráter ético-político” (IAMAMOTO, 2017, p. 227), possuidor de um caráter universal a partir do qual são assumidos os interesses da coletividade “ou da “grande política”, como momento de afirmação da teleologia e da liberdade na práxis social.” (IAMAMOTO, 2017, p. 223)
 	A autora retoma a categoria política em Gramsci e apoia-se em Coutinho (1989) para elucidar a indissociabilidade entre esses dois projetos. Nesse sentido, elucida que a política transcende a relação entre governantes e governados, sendo o momento que permite ao homens ultrapassarem “os determinismos econômicos que os constitui, incorporando-os e transformando-os em meios de sua liberdade, em investimentos voltados para criar uma nova forma ético-política da vida em sociedade” (Coutinho, 1989 apud Iamamoto, 2017, p. ). 
	Em linhas gerais, Iamamoto (2017) infere que é no momento da política, tida como processo que desencadeia a formação de um sujeito histórico fruto de uma construção coletiva, que se manifesta a indissociabilidade entre Projeto Profissional e Projeto Político. Ademais, a atuação do corpo profissional está condicionada por dilemas universais e, à medida que absorve absorve as demandas da sociedade civil inscritas no rol das desigualdades oriundas de uma má distribuição das riquezas socialmente produzidas, este profissional chamado a dar respostas no sentido da concretização dos direitos e da democracia. 
2) Tendo como horizonte de análise o Código de Ética de 1993, em termos de resultado, qual a diferença fundamental de uma prática profissional sob a metodologia positivista conservadora e a proposição do Serviço Social crítico? 
	Os Códigos de Ética, assim como as produções acadêmicas, o processo de formação e a atuação profissional, representam o resultado das bases teórico-metodológicas que regem a profissão em determinado tempo histórico, bem como a dinâmica da realidade social, histórica e política postas, e com o Serviço Social não é diferente. O processo de construção e consolidação da profissão no Brasil foi – e ainda é - marcado por mudanças, desde a formação até a atuação profissional, que foram possíveis “quando a profissão aproximou-se de 3 diferentes vertentes teóricas, quais sejam: positivismo, fenomenologia, marxismo, estas posteriores ao neotomismo, cujos princípios mostravam os primeiros distanciamento da doutrina cristã predominante” (LIMA e COSTA, 2016, p.2-3).
	À luz de Piana (2006), o Assistente Social é o profissional que estabelece estratégias de ação que visem a inclusão, integração social e efetivação da participação da classe trabalhadora na sociedade, uma vez que isso é possível através de um estudo e análise da dinâmica da realidade em consonância com o compromisso ético profissional. Embora sob influência positivista conservadora já houvesse uma análise dos fatos em sua exteriodade/aparência e na relação entre eles, não havia o estudo da essência deles, visto que o positivismo defende que a realidade é regida pela natureza, por leis constantes (LIMA E COSTA, 2016, p.5). 
	Acompanhando um movimento de transformações políticas, sociais e históricas no contexto latino americano que se rebateram diretamente sobre a profissão – movimento de Reconceituação – parte do corpo profissional brasileiro começou a trabalhar no sentido de um aperfeiçoamento teórico buscando uma maneira mais eficiente de responder às novas expressões da Questão Social que estavam postas na realidade dinâmica da sociedade – Renovação e Intenção de Ruptura - , e a vertente marxista de leitura crítica da totalidade da realidade foi a que melhor conseguiu responder às especificidades e foi a responsável por superar a leitura metodológica de cunho positivista conservador. 
	A partir dessa nova leitura da realidade pela profissão, o perfil da atuação profissional também se transformou, conforme pontua Piana (2009) 
No processo de ruptura com o conservadorismo, o Serviço Social passou a tratar o campo das políticas sociais, não mais no campo relacional demanda da população carente e oferta do sistema capitalista, mas acima de tudo como meio de acesso aos direitos sociais e à defesa da democracia. Dessa forma, não se trata apenas de operacionalizar as políticas sociais, embora importante, mas faz-se necessário conhecer as contradições da sociedade capitalista, da questão social e suas expressões que desafiam cotidianamente os assistentes sociais, pensar as políticas sociais como respostas a situações indignas de vida da população pobre e com isso compreender a mediação que as políticas sociais representam no processo de trabalho do profissional, ao deparar-se com as demandas da população. (PIANA, 2009, p. 86) 
	Tendo como horizonte o Código de Ética de 1993 e buscando-se identificar qual a diferença fundamental de uma prática profissional sob a metodologia positivista conservadora e a proposição do Serviço Social crítico, primeiramente, é importante ressaltar que ele representa uma atualização do Código anterior, datado de 1986. 
A revisão do texto de 1986 processou-se em dois níveis. Reafirmando os seus valores fundantes - a liberdade e a justiça social -, articulou-os a partir da exigência democrática: a democracia é tomada como valor ético-político central, na medida em que é o único padrão de organização político-social capaz de assegurar a explicitação dos valores essenciais da liberdade e da eqüidade. É ela, ademais, que favorece a ultrapassagem das limitações reais que a ordem burguesa impõe ao desenvolvimento pleno da cidadania, dos direitos e garantias individuais e sociais e das tendências à autonomia e à autogestão social. Em segundo lugar, cuidou-se de precisar a normatização do exercício profissional de modo a permitir que aqueles valores sejam retraduzidos no relacionamento entre assistentes sociais, instituições/organizações e população, preservando-se os direitos e deveres profissionais, a qualidade dos serviços e a responsabilidade diante do usuário. (CÓDIGO DE ÉTICA, 1996)
	Para se compreender os avanços que esse documento representa, é preciso fazer uma leitura panorâmica e conjunta da realidade política e social daquele momento histórico e do precedente a ele, aliando-as à vertente teórica marxista - leitura crítica de uma totalidade da realidade do ser social - assumida como fundamental pela profissão. Ademais, embora o nascimento da profissão tenha se dado a partir das demandas do modo de produção capitalista e que o profissional seja demandado/contratado pela burguesia e pelo Estado para responder às mais diversas expressões da Questão Social, a partir do Código de Ética de 1993 fica reafirmada a opção dessa profissão em defesa dos direitos de uma classe específica, aquela que tem seu trabalho expropriado indevidamente pela outra classe. 
De fato, construía-se um projeto profissional que, vinculado a um projeto social radicalmente democrático, redimensionava a inserção do Serviço Social na vida brasileira, compromissando-o com os interesses históricos da massa da população trabalhadora. O amadurecimento deste projeto profissional, mais as alterações ocorrentes na sociedade brasileira (com destaque para a ordenação jurídica consagrada na Constituição de 1988), passoua exigir uma melhor explicitação do sentido imanente do Código de 1986. Tratava-se de objetivar com mais rigor as implicações dos princípios conquistados e plasmados naquele documento, tanto para fundar mais adequadamente os seus parâmetros éticos quanto para permitir uma melhor instrumentalização deles na prática cotidiana do exercício profissional. (CÓDIGO DE ÉTICA, 1993)
	De forma sintética, o Código de Ética de 1993 “determinou a eleição de novos valores e consequentemente deu novo caráter às ações profissionais e legitimidade à categoria dos Assistentes Sociais.” (PEREIRA, 2016). Ou seja, remete a um avanço no que tange a postura e prática profissional, ao conhecimento consciente da sua existência enquanto profissional assalariado, e claro, da realidade onde o usuário está inserido: as políticas sociais, as novas expressões da questão social, efervescência de diferentes agentes sociais e políticos com caráter de resistência ao regime ditatorial que assolava o país e os direitos sociais, políticos e civis há cerca de duas décadas; ascensão de movimentos pró democracia organizados pelos mais diversos grupos sociais, que culminam na retomada à democracia, simbolizada e afirmada no campo da norma jurídica por meio da Constituição Cidadã, conforme ficou conhecida a Constituição Federal de 1989. 
3) Quais os rebatimentos para o Serviço Social de um Código de Ética com princípios radicalmente humanistas nos dias de hoje? (possíveis articulações com o filme “O menino e o mundo”) 
	Dotado de sensibilidade, o filme traz a história de um menino que embora nascido numa aldeia, acaba descobrindo um novo mundo quando, acometido por uma saudade grandiosa, se lança na estrada atrás do pai, que se afastou do seio familiar atrás de alguma oportunidade de emprego. Esse novo mundo é uma complexa teia de relações entre homens e máquinas, composto por desigualdades sociais próprias da sociedade capitalista. O menino vê e cresce sentindo na pele os desconfortos e as mazelas das condições de vida – produção e auto reprodução - de uma pessoa pertencente a classe trabalhadora. Sendo assim o filme desperta, no público em geral, de forma sensível mas ainda assim crítica, reflexões sobre o complexo campo das relações sociais, onde estão imersos todos os seres sociais, envolvidos em relações de violência, exploração e que atingem além das relações de trabalho, as relações interpessoais e a saúde dos indivíduos.
	Buscando traçar um diálogo entre a mensagem transmitida na animação e os rebatimentos do Código de Ética do Serviço Social e da atuação do profissional que responde a esse Código, se tivermos por princípios humanistas aqueles que colocam o ser humano como figura de principal importância na sociedade, então esses princípios são extremamente necessários quando consideramos a atual conjuntura do modo de produção capitalista. Conjuntura essa de intensa e extrema violência sobre todas as esferas de vida e reprodução do ser social, se rebatendo diretamente sobre os direitos sociais dessa classe. Como parte de um processo histórico constitutivo da sociedade brasileira, que recebe influências e interferências diretas dos os países de capitalismo central, Netto (1996) indica que esse movimento do “capitalismo tardio” tem início na década de 1970 quando, a partir de uma grave crise que dessa vez não era cíclica e sim estrutural, o capital percebe a necessidade de se reestruturar através principalmente da reorganização do mercado produtivo, visando a retomada nas taxas de lucro. 
	Fazendo uma breve contextualização teórica a respeito do papel das artes no processo de análise e discussão da dinâmica da realidade através da contribuição na formação da consciência, Santos debruçado sobre a obra lukatiana sobre a Estética, indica que “cada reflexo (artístico ou científico) está carregado de ponderações materiais e temáticas, impressos pelo espaço temporal de sua consumação.” (SANTOS, 2017). De forma análoga e em termos gerais, a partir da obra “O menino e o mundo” como plano de fundo e considerando a subjetividade de cada expectador, infere-se que essa animação é capaz de aproximar criticamente o público da realidade, fomentando reflexões sobre esta. 
	Já no que diz respeito à atuação profissional em si, estão colocados dois desafios principais: promover uma interpretação da contemporaneidade brasileira, e latino americana, que seja capaz de abarcar o reconhecimento das classes e seguimentos sociais que saturam a sociedade civil e o Estado, e a leitura de processos de trabalho nos quais se inscreve o profissional Assistente Social, com finalidade de estabelecer uma base realista de análise. Sem essas duas prerrogativas, corre-se o risco de reproduzir um discurso radicalmente não humanista. 
Referências Bibliográficas:
 
IAMAMOTO, M. V. O projeto profissional. In: Serviço Social em tempo de Capital Fetiche – capital financeiro, trabalho e questão social. 8ª edição. Cortez, 2017. p. 223-224. 
LIMA, N. G. H; COSTA, H. A. C. Serviço Social e a teoria da complexidade: uma relação possível?. In: 80 anos de Serviço Social – tendências e desafios. 4º Simpósio Mineiro de Assistentes Sociais. Belo Horizonte, 2016. Disponível em: <http://cress-mg.org.br/hotsites/Upload/Pics/9f/9f1e3707-d5e6-4321-b6ce-b8f991383a19.pdf>. Acesso em: 25 abr. 2019
NETTO, J. P. Transformações societárias e Serviço Social – notas para uma análise prospectiva da profissão no Brasil. In: Serviço Social & Sociedade. Cortez, nº 50. Abril, 1996. P. 90-92
PEREIRA, J. A. C. Um resgate sobre o significado dos princípios expressos nos Códigos de Ética Profissional do Serviço Social de 1986 e 1993. In: 80 anos de Serviço Social – tendências e desafios. 4º Simpósio Mineiro de Assistentes Sociais. Belo Horizonte, 2016. Disponível em: <http://cress-mg.org.br/hotsites/Upload/Pics/87/87f95ecf-6e61-4563-bc1d-7cfc1e2cc595.pdf>. Acesso em: 25 abr. 2019
PIANA, M. C. A construção do perfil do assistente social no cenário educacional. São Paulo: Editora UNESP; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2009. 233 p. ISBN 978-85-7983-038-9. Disponível em: <http://books.scielo.org/id/vwc8g/pdf/piana-9788579830389-04.pdf>. Acesso em 25 abr. 2019
SANTOS, Deribaldo. Trabalho, cotidiano e arte: uma síntese embasada na Estética de Georg Lukács. Estud. av.,  São Paulo ,  v. 31, n. 89, p. 341-359,  Abril  2017. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142017000100341>. Acesso em 25 abr. 2019

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