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Curso: Tecnologia em Segurança Pública e Social Disciplina: Território e Segurança Publica Atividade: Atividade Avaliativa 2 – AD2 Aluno (a): Caroline Barboza Matricula:16113150020 Polo: CGR 1. Introdução Robert Sack (1986) define territorialidade como sendo “a tentativa de um indivíduo ou grupo de afetar, influenciar ou controlar pessoas, fenômenos e relações, pela delimitação e defesa do controle sobre uma área geográfica” (p.19). Esta área, ele define como “território”. Corrobora com esta definição a do também geógrafo Marcelo Lopes de Souza (1995), para quem o território define-se por “um espaço definido e delimitado por e a partir de relações de poder” (p.96). O que é a milícia? Segurança, tráfico e milícia no Rio de Janeiro / organização, Justiça Global. - Rio de Janeiro : Fundação Heinrich Böll, (2008, p. 21) explica que ’’ Trata-se de grupos compostos principalmente por homens liga dos às forças de segurança do Estado, reformados e na ativa, provenientes das polícias civil, militar, do corpo de bombeiros e, em casos mais esporádicos, das forças armadas. Apoiados em um discurso fortemente moralista centrado na promessa de ordem e paz, estes grupos dominam e exploram áreas antes controladas pelo tráfico de drogas. Ao ocupar uma comunidade, as milícias “eliminam” o tráfico de drogas no varejo, mas passam a explorar as demais atividades ilegais existentes no território. Desta forma, tudo aquilo que era gerenciado pela rede do tráfico de drogas - exceto o comércio ilícito das drogas no varejo – passa às mãos do novo grupo. Além disso, as milícias introduziram uma prática que não era utilizada pelo tráfico: a cobrança de ‘mensalidades’ por domicílio para remunerar a segurança privada.’’ Já Zaluar & Conceição (2007) afirmam no seu artigo que o termo milícia refere-se a ‘’ policiais e ex-policiais (principalmente militares), bombeiros e agentes penitenciários, todos com treinamento militar e pertencentes a instituições do Estado. Eles tomam para si a função de proteger e dar “segurança” em vizinhanças supostamente ameaçadas por traficantes. Segundo as autoras, estes grupos de ex- policiais constituem o mesmo fenômeno conhecido como grupo de extermínio nas décadas de 1960, 1970 e 1980 na Baixada Fluminense e na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro. A novidade das milícias estaria apenas na ampliação dos negócios com a “venda” de produtos e serviços. Tal característica das milícias do Rio de Janeiro também esteve presente no início das máfias italiana e norte americana.’’ Já para CANO (2012, p.15) define e afirma ‘’que o conceito de milícia pode ser resumido pela confluência de cinco traços centrais: 1. Domínio territorial e populacional de áreas reduzidas por parte de grupos armados irregulares. 2. Coação, em alguma medida, contra os moradores e os comerciantes. 3. Motivação de lucro individual como elemento central, para além das justificativas retóricas oferecidas. 4. Discurso de legitimação relativo à libertação do tráfico e à instauração de uma ordem protetora. Diferentemente do tráfico, por exemplo, que se impõe simplesmente pela violência (ver Machado da Silva, 2004), as milícias pretendiam se apresentar como uma alternativa positiva. 5. Participação pública de agentes armados do Estado em posições de comando.’’ 2. Desenvolvimento e conclusão A concepção histórica de milícia no Brasil é muito antiga. Tínhamos a chamada milícia civil, instituída muito antes de Marques de Pombal. Ao longo do período colonial e imperial já existiam forças milicianas civis que, auxiliavam o Estado quando eram solicitadas para funções complementares por exemplo na manutenção da ordem pública. Essas forças foram utilizadas como instrumentos de defesa quando o Exército era pouco consolidado. Essas forças, eram auxiliares do Exército, inicialmente as Ordenanças, os Corpos de Auxiliares e também posteriormente, a chamada Guarda Nacional. Só depois da abdicação de Dom Pedro I que essas forças forma extintas e os corpos de auxiliares funcionaram como Milícias propriamente ditas por serem de fundamental importância para que o Estado mantivesse seu controle na época. Ocorre que com o passar do tempo, o que para o Estado era um sistema eficaz de controle, perdeu sua forca e se tornou o que conhecemos hoje por uma forca paramilitar que busca, independente do Estado estabelecer seu controle e suas medidas de leis e ordem, por todo Rio de Janeiro. Nesse sentido, esses grupos organizados, muitas vezes formados por ex servidores do Estado que possuem certa capacitação, visam exercer um controle territorial na medida em que as forças governamentais não se fazem presente ou, como ocorre no RJ, agem com displicência em certas áreas do Estado. Obviamente, aonde o Estado não se faz presente, algum outro tipo de domínio ira se inserir, seja do tráfico ou as milícias, onde ambas se esquadram como organizações criminosas. Notoriamente, essa disputa por território e pelo controle das áreas foi crescendo e se tornando o que hoje entendemos estar fora de controle. As milícias atualmente, exercem um poder paralelo onde estabelecem regras de convivência, impõem suas leis de forma coercitiva e a cada dia buscam dominar áreas aonde o tráfico de drogas impera. Essa disputa de espaço com o tráfico de drogas não é porque são bons ou porque buscam apaziguar um local dominado por eles, mas para tomar para si o controle e impor suas regras e toda a obtenção de lucro ficar retida nas mãos da milícia, mesmo pensamento que o trafico possui. Porquanto, a sociedade permanece no meio de uma guerra travada por duas ( duas porque retiro daqui o Estado que não se mete nessa disputa, ou se mete veladamente) organizações sem a chance de se manifestar legalmente e obter dessa manifestação realmente a garantia de segurança que o Estado deveria dar a todos. A forma de intervenção desses dois grupos se baseia na coerção, no medo e na imposição de regras e caso algum outro grupo seja contrário a qualquer uma dessas normas impostas, obviamente recebe o julgamento também estabelecido por eles. No que tange a sociedade que vive em suas adjacências, essas sofrem com cobranças acerca de todo os bens e devem adquirir sempre sues produtos de fontes certas e delimitadas, tudo isso para que o capital continue dentro desse grupo. Diante do exposto, vemos que a atuação das milícias se pauta da coercibilidade em todos os aspectos, tanto no controle territorial estabelecendo limites até mesmo para os moradores, quanto social e, além disso, impõem cobranças acerca de bens e serviços, que não são fornecidos pelo Estado se aproveitando assim da ausência deste, para o exercício da ilicitude de todas as formas. Entretanto, infelizmente, ao contrário do que houve após a abdicação de Dom Pedro I na qual elas forma extintas e transformadas na Guarda Municipal, atualmente, não temos a menor possibilidade que isso aconteça. 3. Referências Bibliográficas SACK, Robert David. Territorialidade humana: teoria e história. Cambridge: Cambridge University Press, 1986. _____. Significado de territorialidade. In: DIAS, L. C., FERRARI, M. Territorialidades humanas e redes sociais. Florianópolis: Insular, 2011 SOUZA, Marcelo Lopes de (1994)."O subdesenvolvimento das teorias do desenvolvimento."Princípios,n.235,pp.27-33. CANO, Ignácio, DUARTE, Thais (Coordenadores). No Sapatinho: A Evolução das Milícias no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Fundação Heinrich Boll, 2012. ZALUAR, Alba; CONCEIÇÃO , Isabel Siqueira. (2007) “Favela sob o controle das milíciasno Rio de Janeiro: que paz?”,São Paulo em Perspectiva, v. 21, n. 2, p. 89-101, jul./dez. MISSE, Michel. (2011) “Crime organizado e crime comum no Rio de Janeiro: diferenças e afinidades.” Revista Sociologia e Política, Curitiba, v. 19, n. 40, p. 13-25, out. 2011. ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO RIO DE JANEIRO , Relatório Final da Comissão Parlamentar de Inquérito Destinada a investigar a Ação de Milícias no Âmbito do Estado do Rio de Janeiro, 2018. G1 GLOBO. Franquia do Crime vitimas das milícias sofrem com extorsões e violência no RJ. Disponível em: < https://g1.globo.com/rj/rio-de- janeiro/noticia/franquia-do-crime-vitimas-das-milicias-sofrem-com-extorsoes-e- violencia-no-rj.ghtml/>Acesso em 05 de Maio de 2018. G1 GLOBO. Mapa das milícias do Rio de Janeiro. Disponível em: http://especiais.g1.globo.com/rio-de-janeiro/2018/mapa-das-milicias-do-rio-de- janeiro/>Acesso em 05 de Maio de 2018. G1 GLOBO. Franquia do crime. Disponível em: < http://especiais.g1.globo.com/rio-de-janeiro/2018/franquia-do-crime/>Acesso em 05 de Maio de 2018. O GLOBO. Eles passam a vender até terrenos que são da União, diz sociólogo sobre atuação de milícias no RJ. Disponível em: < https://oglobo.globo.com/rio/eles- passaram-vender-ate-terrenos-que-sao-da-uniao-diz-sociologo-sobre-atuacao-de- milicias-no-rio-22570941/>Acesso em 05 de Maio de 2018. EXAME. Milícia tem poder maior que o trafico no RJ. Disponível em: https://exame.abril.com.br/brasil/alves-da-ufrj-milicia-tem-poder-maior-que-o-trafico- no-rj/>Acesso em 05 de Maio de 2018.
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