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Bacharelado em Cie ncia Polí tica | Tutoria Bacharelado em Relaço es Internacionais | Tutoria 1 Antropologia – estudo dirigido Material de disciplina RIBEIRO, Alessandra Stremel Pesce. Teoria e Prática em Antropologia. Curitiba: InterSaberes, 2016 Videoaulas 1 a 6 Rotas de Aprendizagem 1 a 6 Neste breve resumo, destacamos a importa ncia para seus estudos de alguns temas diretamente relacionados ao contexto trabalhado nesta disciplina. Os temas sugeridos abrangem o conteu do programa tico da sua disciplina nesta fase e lhe proporcionara o maior fixaça o de tais assuntos, consequentemente, melhor preparo para o sistema avaliativo adotado pelo Grupo Uninter. Esse e apenas um material complementar, que juntamente com a Rota de Aprendizagem completa (livro-base, videoaulas e material vinculado) das aulas compo em o referencial teo rico que ira embasar o seu aprendizado. Utilize-os da melhor maneira possí vel. Bons estudos! Bacharelado em Cie ncia Polí tica | Tutoria Bacharelado em Relaço es Internacionais | Tutoria 2 Atença o! Esse material e para uso exclusivo dos estudantes da Uninter, e na o deve ser publicado ou compartilhado em redes sociais, reposito rios de textos acade micos ou grupos de mensagens. O seu compartilhamento infringe as polí ticas do Centro Universita rio UNINTER e poderá implicar em sanções disciplinares, com possibilidade de desligamento do quadro de alunos do Centro Universita rio, bem como responder ações judiciais no âmbito cível e criminal. Bacharelado em Cie ncia Polí tica | Tutoria Bacharelado em Relaço es Internacionais | Tutoria 3 Sumário Tema: Natureza e Cultura e a definiça o do ser humano sob o ponto de vista antropolo gico ............................................... 4 Tema: O conceito de cultura, a etnografia e o me todo antropolo gico ............................................................................................. 7 Tema: Etnocentrismo e evolucionismo e eugenia .................................................................................................................................... 9 Tema: A questa o racial e o problema nacional: origem e superaça o da ideia de raça ........................................................... 11 Tema: Etnologia indí gena e povos origina rios das ame ricas ............................................................................................................ 12 Tema: A cultura e seus adjetivos (popular, erudita, de massa ou nacional) .............................................................................. 14 Bacharelado em Cie ncia Polí tica | Tutoria Bacharelado em Relaço es Internacionais | Tutoria 4 Tema: Natureza e Cultura e a definição do ser humano sob o ponto de vista antropológico O debate em torno da universalidade da espe cie humana se colocou como uma questa o filoso fica. Como pensar a unidade da espe cie humana em meio a diversidade? Essa questa o foi o centro do humanismo france s do qual Rousseau foi um dos fundadores. Segundo Le vi-Strauss (1993), a unidade da espe cie seria possí vel graças a existe ncia de uma mesma capacidade logica em ordenar e classificar o mundo, ainda que varie a maneira de se fazer isso. Para Le vi-Strauss o humanismo consiste em perceber as diferenças considerando-se as suas propriedades, o que exige distanciamento dos valores do observador. Com os preceitos humanista e possí vel ultrapassar o plano biolo gico, relacionado, por exemplo, a ideia de raça. Os conceitos de homem permitiram que autores como Le vi-Strauss saí sse do plano fí sico e se concentrasse em aspectos lo gicos que tornam possí vel a esperança humana. Refere ncia: RIBEIRO, Alessandra Stremel Pesce. Teoria e Pra tica em Antropologia. Curitiba: InterSaberes, 2016, p.36. --- Mesmo reconhecendo a interdepende ncia entre os planos da natureza e da cultura, Levi-Strauss considerava que o aparato conceitual da cultura permitiria organizar o plano da natureza. Segundo o antropo logo, sa o os processos lo gicos de classificaça o do mundo que da o forma e coere ncia a realidade. Para Le vi-Strauss o que transformaria o homem em um ser social – isto e , quando ele escapa a s determinaço es impostas pela natureza – seria a criaça o de um universo de regras. Refere ncia: RIBEIRO, Alessandra Stremel Pesce. Teoria e Prática em Antropologia. Curitiba: InterSaberes, 2016, p.65. --- Dumont foi um antropo logo france s que propo s uma interpretaça o da ideologia moderna de modo comparativo, partindo do seu oposto, a hierarquia – alia s, e importante esclarecer que para Dumont, a noça o de ideologia se reporta a um conjunto de ideias e valores. Em sua obra, o estudo da sociedade indiana mostrou ser uma importante ferramenta, pois permitiu um distanciamento do Ocidente, para olhar de modo analí tico aquilo que antes era natural. Em sua obra, o estudo da sociedade indiana mostrou ser uma importante ferramenta, pois permitiu um distanciamento do Ocidente, para olhar de modo mais analí tico aquilo que antes era natural. Dumont estabelece dois modelos sociais e ideolo gicos distintos: o modelo hiera rquico (predominante em sociedades tradicionais) e o modelo individualista (modelo historicamente construí do no Ocidente). Refere ncia: RIBEIRO, Alessandra Stremel Pesce. Teoria e Pra tica em Antropologia. Curitiba: InterSaberes, 2016, p. 165. --- No determinismo geogra fico, entende-se que a sociedade e determinada pelas caracterí sticas do ambiente ou pelas condiço es clima ticas. O homem seria um produto do ambiente, subordinado a s limitaço es impostas por ele. Segundo o geografo alema o Friedrich Ratzel (1844 Bacharelado em Cie ncia Polí tica | Tutoria Bacharelado em Relaço es Internacionais | Tutoria 5 - 1904), um dos precursores dessa ideia, o ambiente influencia o progresso pois o acesso ou na o a recursos e determinante para o desenvolvimento. As relaço es entre homem e ambiente sa o complexas, uma vez que o homem na o se curva a s imposiço es do meio ambiente, mesmo que na o possa controla-la. Os homens da o sentido a suas experie ncias e imprimem as suas marcas na paisagem. Para esse ponto e importante retomar a crí tica da ideia de que o clima determina o ní vel de desenvolvimento de determinadas regio es, como por exemplo, a ideia que se consolidou que regio es frias sa o mais desenvolvidas do que regio es quentes, uma vez que as pessoas nas regio es de clima temperados seriam mais engajadas no trabalho. Todavia, os estudos demonstraram que o subdesenvolvimento das ex-colo nias na Ame rica Latina era mais causado pelos modelos econo micos herdados da colonizaça o do que com o clima. Dessa forma, pode-se perceber que o clima e as condiço es geogra ficas te m pouca relaça o com a pobreza ou com a riqueza de uma regia o, mas com as bases econo micas de cada lugar. Enta o, o determinismo geogra fico marginaliza questo es como: constituiça o histo rica, percepço es de desenvolvimento, interaço es estabelecidas ao longo da histo ria. Refere ncia: RIBEIRO, Alessandra Stremel Pesce. Teoria e Prática em Antropologia. Curitiba: InterSaberes, 2016, pp. 29, adaptado. --- “Outra ideia presente no senso comum e a de que o comportamento humano e influenciado por va rios aspectos, tais como os instintos, o clima, ou o meio ambiente. Veremos que, no caso da espe cie humana, essa e uma questa o muito mais complexa”. STREMMEL, A. Teoria e Pra tica em Antropologia. Curitiba: Intersaberes, 2016. No determinismo geogra fico, entende-se que a sociedadee determinada pelas caracterí sticas do ambiente ou pelas condiço es clima ticas. O homem seria um produto do ambiente, subordinado a s limitaço es impostas por ele. Segundo o geo grafo alema o Friedrich Ratzel (1844-2904), um dos precursores dessa ideia, o ambiente influencia o progresso, (vi) pois o acesso ou na o a recursos e determinante para o desenvolvimento. STREMMEL, A. Teoria e Pra tica em Antropologia. Curitiba: Intersaberes, 2016, p. 26. --- Ao tratarmos dos determinismos, chegamos a conclusa o de que o homem, longe de ser determinado por seus instintos, pelo clima ou pela localizaça o geogra fica, tem a cultura como um importante elemento do seu comportamento. A ascensa o do conceito de cultura permitiu descartar as concepço es naturalizadas sobre o homem e colocar em debate reflexo es de outra ordem. A antropologia reconhece o homem como um ser social, dependente do conví vio com outros indiví duos para o seu desenvolvimento. Essa depende ncia em relaça o ao conví vio e a aquisiça o da cultura decorre do fato de que, na espe cie humana, as evoluço es fí sica e cultural ocorreram simultaneamente, influenciando-se mutuamente. A capacidade de aprendizado humana seria, portanto, mais uma necessidade (de um corpo que precisa ser ensinado) do que uma qualidade. Dessa forma, a natureza humana e vista como plural, pois e moldada e determinada pelas diferentes culturas de diferentes grupos sociais. Refere ncia: RIBEIRO, Bacharelado em Cie ncia Polí tica | Tutoria Bacharelado em Relaço es Internacionais | Tutoria 6 Alessandra Stremel Pesce. Teoria e Prática em Antropologia. Curitiba: InterSaberes, 2016, pp. 30, adaptado. --- Com efeito, se em lugar de apenas vermos os suicí dios como acontecimentos particulares, isolados uns dos outros e que demandam ser examinados cada um separadamente, no s considera ssemos o conjunto dos suicí dios cometidos numa sociedade dada, durante uma unidade de tempo dada, constata-se que o total assim obtido na o e uma simples soma de unidades independentes”. TEIXEIRA, Ricardo Rodrigues. Tre s fo rmulas para compreender "O suicí dio" de Durkheim. Interface (Botucatu), Botucatu , v. 6, n. 11, p. 143-152, Ago. 2002, 149. Em termos gerais, Durkheim ele analisou o suicí dio como um ato aparentemente individual pode ter influe ncias do meio social. Segundo o autor, todas as sociedades apresentam explicaço es diferentes ao ato de o indiví duo po r fim a sua vida de modo consciente. Devido a sua generalidade, o suicí dio foi interpretado pelo socio logo como um fato social passí vel de classificaça o: altruí sta, egoí sta, ano mico. Ao estudar taxas de suicí dio, Durkheim relacionou o ato a diferentes ní veis de integraça o social. Mas, em esse ncia, e possí vel dizer que, para Durkheim, quanto maior for a integraça o social, ou seja, quanto mais fortes forem os ví nculos do indiví duo, menor sera o as chances de suicí dio. Ao trabalhar com esse tema, podemos dizer que uma das maiores contribuiço es de Durkheim para o pensamento sociolo gico foi demonstrar como as esferas individuais e sociais na o podem ser dissociadas. Refere ncia: RIBEIRO, Alessandra Stremel Pesce. Teoria e Prática em Antropologia. Curitiba: InterSaberes, 2016, pp. 25, adaptado. --- “Le vi-Strauss afirma que a proibiça o do incesto deve ser vista como o avesso universal e negativo de uma regra de reciprocidade positiva que exige a troca das mulheres nos sistemas de aliança matrimonial. Essa perspectiva renovava a abordagem dos feno menos de parentesco, abandonando o ponto de vista da sociologia dos modos de filiaça o [...] Ela os substituí a por uma teoria geral da aliança” DESCOLA, Philippe. Claude Le vi-Strauss, uma apresentaça o. Estudos Avançados. Sa o Paulo, v. 23, n. 67, p. 148-160, 2009, p.150. Em As estruturas elementares do parentesco, Le vi-Strauss [...] argumentou que a passagem da natureza para a cultura ocorre no estabelecimento da primeira regra: a proibiça o do incesto, o que consiste em interditar o ato sexual com algumas pessoas (mulheres) de acordo com a relaça o de parentesco entre elas. A importa ncia de tal proibiça o, para Le vi-Strauss, e emblema tica, por forçar o estabelecimento de relaço es (alianças) fora das fronteiras do grupo. As trocas entre grupos, sendo a troca matrimonial a mais poderosa, revelam semelhança com a linguagem, pois ambas sa o tidas como processos comunicativos. Refere ncia: RIBEIRO, Alessandra Stremel Pesce. Teoria e Prática em Antropologia. Curitiba: InterSaberes, 2016, p. 35, adaptado. --- Bacharelado em Cie ncia Polí tica | Tutoria Bacharelado em Relaço es Internacionais | Tutoria 7 Os estudos sobre a noça o de pessoa ve m possibilitar que se apreenda o modo como cada sociedade concebe a infa ncia e tambe m o “ser pleno” em que ela se desenvolve, permitindo que se veja do interior de cada sociedade analisada o modo como este e definido. COHEN , Clarice, Crescendo como um Xikrin: uma ana lise da infa ncia e do desenvolvimento infantil entre os Kayapo -Xikrin do Bacaja Revista de Antropologia, Sa o Paulo, USP, v. 43, n 2, 195-222, 2000, p. 197. O ethos pode ser definido como sendo os aspectos morais e os valores com os quais um povo leva a sua vida e esta intimamente ligado a visa o de mundo de tal povo, ou seja, a forma como as pessoas da o sentido a realidade ao redor. O ethos de um povo e o tom, o cara ter e a qualidade de sua vida, seu estilo moral e este tico, sua disposiça o e a atitude subjacente em relaça o a ele mesmo e a visa o e a seu mundo que a vida reflete. A visa o de mundo que esse povo tem e o quadro que elabora das coisas como elas sa o na simples realidade, seu conceito de natureza, de si mesmo e da sociedade. Refere ncia: RIBEIRO, Alessandra Stremel Pesce. Teoria e Prática em Antropologia. Curitiba: InterSaberes, 2016, p. 163, adaptado. --- No se culo XIX, o criminalista italiano Cesare Lambroso (1835-1909) difundiu a ideia de que era possí vel identificar tende ncias criminosas com base em caracterí sticas fí sicas. De modo geral o biocriminalismo conduziu polí ticas de perseguiça o a todos aqueles grupos que eram marginalizados”. STREMMEL, A. Teoria e Pra tica em Antropologia. Curitiba: Intersaberes, 2016. O pensamento de Cesare Lambroso expressa o determinismo de cara ter biolo gico, em que o comportamento humano seria governado por instintos ou por caracterí sticas fí sicas e gene ticas. Ale m disso, Lambroso expressa tambe m a ideologia racial tí pica do se culo XIX, em que diferenças fí sicas entre as raças eram usadas como justificativa para a perseguiça o de grupos marginalizados. STREMMEL, A. Teoria e Pra tica em Antropologia. Curitiba: Intersaberes, 2016, p. 29-30. Tema: O conceito de cultura, a etnografia e o método antropológico Diferentemente de Tylor, o antropo logo alema o Franz Boas (1858-1942), radicado nos Estados Unidos, enfatizou os elementos internos da cultura e e considerado o primeiro antropo logo a desenvolver uma observaça o direta e prolongada em uma sociedade, experie ncia que pautou seus posicionamentos teo ricos. As culturas deveriam ser entendidas com base em seus princí pios e relaço es internas ja que Fran Boas possui uma visa o sistema de cultura, na qual cada cultura e considerada como sendo u nica e constituí da por uma se rie de elementos que a tornam coerente. Para o culturalismo de autores como Boas, cada cultura e u nica e constituí da por se rie de elementos que a tornam coerente. Na o faria sentido, portanto, falar em culturais mais ou menos evoluí das. Nota-se tambe m uma visa o siste mica de cultura, que a enxerga como passí vel de ser compreendida pelas relaço es internas entre os seus diferentes elementos. Boas mostrava-se cauteloso,por isso, com comparaço es entre diferentes culturas, dado o cara ter singular de cada uma delas. A Escola de Padra o e Personalidade, fundada pelos discí pulos do culturalismo de Franz Boas, procurava compreender os ví nculos existentes entre os indiví duos e suas respectivas culturas. Procuravam, assim, estabelecer as relaço es profundas entre a cultura e a psique, ao analisar como as instituiço es sociais, como o sistema de ensino, produzem Bacharelado em Cie ncia Polí tica | Tutoria Bacharelado em Relaço es Internacionais | Tutoria 8 tipos distintos de personalidade. Refere ncia: RIBEIRO, Alessandra Stremel Pesce. Teoria e Prática em Antropologia. Curitiba: InterSaberes, 2016, p. 39. --- “O conhecimento antropolo gico resulta de um singular processo de construça o de pensamento que na o se gesta nem antes, nem depois, mas no meio [...] Assistimos, assim, a explicitaça o de uma premissa importante para a produça o do conhecimento antropolo gico, a de que na o ha situaço es [...] sem sujeito, seja o do antropo logo, seja o do ‘nativo’, ambos munidos de intencionalidades e de intelige ncias”. (ROCHA & ECKERT, 2009, p.10). O me todo etnogra fico e importante porque e necessa rio que haja uma imersa o do antropo logo no universo que esta sendo estudado, para que seja possí vel conhece -lo e compreende -lo. O processo de desvendar a vida social na o e uma tarefa fa cil, uma vez que a mesma possui mu ltiplas camadas. Desse modo, cabe ao antropo logo desvendar as mu ltiplas camadas, para enta o atingir a totalidade da vida social. Para que esse objetivo seja atingido ele precisa realizar uma imersa o na sociedade estudada e vivenciar o dia a dia. Assim, a etnografia permite que o antropo logo presencie o cotidiano do ambiente estudado, para ale m dos atos simbo licos e dos momentos solenes, e compreenda de forma mais aprofundada a cultura analisada. Refere ncia: RIBEIRO, Alessandra Stremel Pesce. Teoria e Pra tica em Antropologia. Curitiba: InterSaberes, 2016, pp. 79 e 80, adaptado. --- Ao tratar da etimologia da palavra cultura, Denys Cuche (1999) demonstrou como, na França do final do se culo XVIII, a cultura passou a ser tratada como um ‘estado de espí rito’. As pessoas que cultivavam as artes e as letras tinham cultura; as demais, na o. Ja na Alemanha, como nos revelou Cuche (1999), a mesma palavra assumiu outros sentidos, muito mais relacionados ao ‘espí rito de um povo’, ou seja, a expresso es tidas como genuí nas e aute nticas. Ao contra rio do que diz o senso comum, em antropologia, o termo cultura e utilizado para designar a maneira como todos os indiví duos e grupos da o significado a s suas pra ticas e a realidade que os rodeia; dessa forma, na o faz sentido falar que alguns grupos possuem cultura, enquanto outros na o a possuiriam (como no uso france s mostrado na citaça o). O uso alema o do termo, ao relacionar cultura a um povo ou grupo, aproxima-se, portanto, mais do uso antropolo gico da expressa o. Refere ncia: RIBEIRO, Alessandra Stremel Pesce. Teoria e Pra tica em Antropologia. Curitiba: InterSaberes, 2016, p. 20. --- “Eu estudo uma expressa o econo mica: o aviamento na regia o amazo nica. O aviamento e dí vida: mercadorias adiantadas a prazo pelo patra o em troca do pagamento em produtos. Para entender o aviamento, devo ir ale m das trocas econo micas, preciso prestar atença o no parentesco, nos laços de amizade, na ordem polí tica, e ate mesmo nas relaço es que as pessoas mante m com a floresta”. Como se ve , o que determinava a antropologia na o e tanto o seu objeto de estudo, mas, sim, um certo me todo, uma abordagem que se pretende totalizante. A Bacharelado em Cie ncia Polí tica | Tutoria Bacharelado em Relaço es Internacionais | Tutoria 9 antropologia passou a ser definida na o pelo objeto, mas por sua perspectiva. Refere ncia: RIBEIRO, Alessandra Stremel Pesce. Teoria e Pra tica em Antropologia. Curitiba: InterSaberes, 2016, p. 97. Tema: Etnocentrismo e evolucionismo e eugenia "[...]a cultura e a lente pela qual vemos o mundo, o que inclui uma percepça o determinada sobre outros povos, sociedades ou mesmo grupos que nos sa o pro ximos. Ao nos depararmos com outros modos de vida ou com outras atitudes, isso nos provoca certo estranhamento. Esse olhar que classifica outros grupos ou sociedades com base nos valores da sociedade do observador e denominado etnocentrismo. Os europeus se utilizavam do etnocentrismo para caracterizar outras sociedades como inferiores, classificando-os, sobretudo, como paga os ou infie is por na o compartilharem dos valores crista os europeus. Assim, categorias eram criadas e diviso es estabelecidas. Como exemplo, pode ser citada a concepça o de Said de que o Oriente e uma invença o europeia, por meio de textos polí ticos e litera rios que caracterizavam de forma pejorativa os povos a rabes. A ideia de oriente homogeneizou esses povos e os transformou em polí ticas de expansa o e domí nio colonial. O mesmo aconteceu com os povos indí genas. O termo í ndio foi forjado quando pelos espanho is para se referir aos povos nativos das Ame ricas. O indí gena e caracterizado como inge nuo e na o conhecedor do mundo teolo gico, por isso passí vel de catequizaça o. Refere ncia: RIBEIRO, Alessandra Stremel Pesce. Teoria e Pra tica em Antropologia. Curitiba: InterSaberes, 2016, pp. 69-70, adaptado. --- As teorias evolucionistas, embora tenham tido o me rito de consolidar a ideia de unidade lo gica da espe cie, na o se descolaram daquele olhar etnoce ntrico, de acordo com o qual o modelo de sociedade superior e o que se vivencia no dia a dia. Outro problema do evolucionismo era o me todo pautado na histo ria conjectural. Conforme esse me todo, as relaço es estabelecidas para a passagem de um esta gio a outro de desenvolvimento eram, muitas vezes, arbitra rias, e os fatos, manipulados. Nesse caso, havia um esquema pronto sobre os esta gios de desenvolvimento, os quais deveriam ser mantidos, independentemente dos fatos apresentados. Como pode ser observado no livro base da disciplina os esta gios entendidos como o 'caminho' para o desenvolvimento pelos evolucionistas eram o esta gio primitivo, depois o esta gio da barba rie e por fim o esta gio da civilizaça o, sendo que a civilizaça o se referia ao modo de vida presente na sociedade europeia (ocidental). Refere ncia: RIBEIRO, Alessandra Stremel Pesce. Teoria e Prática em Antropologia. Curitiba: InterSaberes, 2016, pp 77-78. --- Feno menos com caracterí sticas semelhantes a globalizaça o na o sa o novos a experie ncia humana. Trocas comerciais entre diferentes sociedades parecem sempre ter existido, na o apenas no mundo ocidental. Arqueo logos te m fortes indí cios, por exemplo, de que a Ame rica do Sul, antes da chegada de portugueses e espanho is, era interligada em diferentes pontos, supondo-se que diferentes sociedades indí genas mantinham trocas entre si e com o Impe rio Bacharelado em Cie ncia Polí tica | Tutoria Bacharelado em Relaço es Internacionais | Tutoria 10 Inca. No ocidente, entretanto, a expansa o territorial permitiu consolidar um sistema econo mico mundial. A globalizaça o pode ser entendida como feno menos predominantes econo micos e como uma conseque ncia da expansa o e da consolidaça o do mercado internacional e da difusa o de tecnologias. Refere ncia: RIBEIRO, Alessandra Stremel Pesce. Teoria e Pra tica em Antropologia. Curitiba: InterSaberes, 2016, pp. 188-189. --- No se culo XIX, o criminalista italiano Cesare Lombroso (1835-1909) difundiu a ideia de que era possí vel identificar tende ncias criminosas com base em caracterí sticas fí sicas. Sua teoria foi tomada como verdade cientí fica efoi difundida em va rios paí ses. De modo geral, o biocriminalismo conduziu polí ticas de perseguiça o a todos aqueles grupos que eram marginalizados: negros, judeus, imigrantes, etc. Na Alemanha pre -nazista (antes da ascensa o do Terceiro Reich), esse foi um dos crite rios utilizados para justificar a prisa o de “pessoas desviantes”: judeus, ciganos, homossexuais, etc. (...) No Brasil, as ideologias raciais foram utilizadas para sustentar a ideia de desigualdades de capacidades entre brancos, í ndios e negros. Uma de suas vertentes postulava a tese de que os negros apresentavam maior propensa o a deme ncia e tende ncias criminosas. A eugenia se refere a ideia de que e possí vel o melhoramento da espe cie humana por meio de escolhas pautadas na biologia. Essa ideia tambe m ganhou espaço ao lado do biocriminalismo. Francis Galton (1822-1911) foi um dos precursores dessa teoria, que rapidamente ganhou apoio de instituiço es de filantropia e chegou a ser difundida como polí tica de Estado. Geralmente as teorias euge nicas sa o associadas a Alemanha nazista, mas foi nos Estados Unidos que, ainda no iní cio do se culo XX, essas teorias foram consolidadas como polí tica da de Estado. Uma das pra ticas implantadas foi a esterilizaça o, muito utilizada nos Estados Unidos em criminosos. Acreditava-se que propenso es criminosas podiam ser transmitidas de pais para filhos. Refere ncia: RIBEIRO, Alessandra Stremel Pesce. Teoria e Prática em Antropologia. Curitiba: InterSaberes, 2016, p. 30, adaptado. --- “Estava eu na comunidade e perguntei ao seu Domingos se ele fazia um paneiro em miniatura pra mim. Prontamente, ele perguntou o que, afinal, eu faria com um paneiro daquele tamanho. Vou enfeitar minha casa, disse. Ele riu, dizendo: esse povo da cidade e esquisito. Tambe m pudera, o paneiro e um cesto de palha utilizado para carregar mandioca, quem o usaria como adorno? So algue m que nunca trabalhou na roça...” “Ao nos depararmos com outros modos de vida, ou com outras atitudes, isso nos provoca certo estranhamento. Esse olhar que classifica outros grupos ou sociedades a partir dos valores da sociedade do observador e denominado etnocentrismo [...] Ao relativizar o que estamos vendo, na o procuramos justificar o que outros grupos esta o fazendo, mas, sim, entender por que esta o se comportando daquela maneira. Em outras palavras, procuramos por um sentido, pois entendemos que ha lo gica e coere ncia nas aço es daqueles grupos que a no s sa o diferentes” (livro-base, p.69, 73). Bacharelado em Cie ncia Polí tica | Tutoria Bacharelado em Relaço es Internacionais | Tutoria 11 Tema: A questão racial e o problema nacional: origem e superação da ideia de raça "Atualmente, principalmente com o advento das cotas raciais, o racismo passou a ser discutido no Brasil, mas nem sempre foi assim. Em um passado na o ta o distante, imperava a ideia de que o racismo na o era uma marca brasileira e que o conví vio das tre s raças formadoras do Brasil era harmonioso. Havia a ideia de que o povo brasileiro seria visto como acolhedor, capaz de receber todos os grupos e etnias que aqui convivem em plena integraça o". Gilberto Freyre em seu livro Casa Grande e Senzala contribui para a construça o do mito da democracia racial brasileira, a partir do qual se compreende que o Brasil e formado pelos elementos culturais de tre s raças: í ndios, negros e brancos. O mito das tre s raças diz que a formaça o do povo brasileiro se deu em torno de tre s supostas raças fundadoras, considerando elementos de ordem biolo gica e depois culturais. Essa ideia transmite a impressa o de que esses povos se encontram se encontraram de forma natural e que o resultado foi bene fico para todos. Todavia, esse mito esconde os processos desiguais que resultaram na subordinaça o de outros povos em uma estrutura colonial hierarquizada e desigual. Refere ncia: RIBEIRO, Alessandra Stremel Pesce. Teoria e Prática em Antropologia. Curitiba: InterSaberes, 2016, p.142-144. --- “E claro que podemos ter uma democracia racial no Brasil. Mas ela, conforme sabemos, tera que estar fundada primeiro numa positividade jurí dica que assegure a todos os brasileiros o direito ba sico de toda igualdade: o direito de ser igual perante a lei! Enquanto isso na o for descoberto, ficamos sempre usando a nossa mulataria e os nossos mestiços como modo de falar de um processo social marcado pela desigualdade, como se tudo pudesse ser transcrito no plano biolo gico e do racial. Na o se pode negar o mito. Mas que se pode indicar e que o mito e precisamente isso: uma forma su til de esconder uma sociedade que ainda na o se sabe hierarquizada e dividida entre mu ltiplas possibilidades de classificaça o”. (DaMATTA, 1984, pp 27-28). Segundo DaMatta o maior problema do tria ngulo das tre s raças e que, ao pensarmos o Brasil como formado por brancos, negros, í ndios, a visa o crí tica e histo rica da formaça o da sociedade brasileira na o e analisada. Essa e uma raza o pela qual se discutir a questa o racial no Brasil e ta o dolorosa. Isso porque, diferentemente do que ocorre na sociedade norte-americana, onde ao reconhecer as diferenças raciais abre a possibilidade para que os diferentes sejam reconhecidos como iguais perante a lei, no Brasil a estrutura na o apenas reconhece a ideia de mestiçagem, mas nela se sustenta. Assim, no Brasil a segregaça o esta presente nas lo gicas cotidianas. Refere ncia: RIBEIRO, Alessandra Stremel Pesce. Teoria e Pra tica em Antropologia. Curitiba: InterSaberes, 2016, pp. 146-148, adaptado. --- "Os trabalhos de Hugo Bethlem (1939), Rui Alencar Nogueira (1947) e Theobaldo Costa Jamunda (1968) ¾ jovens oficiais do Exe rcito em 1939 ¾ representam bem o nacionalismo dos militares responsa veis pela execuça o da campanha de nacionalizaça o no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Parana . Nogueira e Bethlem falam dos imperativos do abrasileiramento e expo em seu estranhamento diante de uma realidade diversa do Brasil tradicional, numa Bacharelado em Cie ncia Polí tica | Tutoria Bacharelado em Relaço es Internacionais | Tutoria 12 condenaça o radical ao que consideram ser um comportamento antipatrio tico, sobretudo por parte dos brasileiros de origem alema . O texto de Jamunda tenta resgatar, de forma laudato ria, a aça o do interventor em Santa Catarina durante o Estado Novo ¾ Nereu Ramos ¾ que cumpriu a risca as determinaço es da campanha, baixando decretos que normatizaram a intervença o nas escolas, associaço es e outras instituiço es demarcadoras de pertencimento e tnico e cerceando as aspiraço es polí ticas de algumas lideranças expressivas das regio es "desnacionalizadas". Nele o autor expo e sua opinia o sobre a campanha, que ajudou a implantar acantonado num dos municí pios do Vale do Itajaí . Nos tre s autores, o Vale do Itajaí (contí guo a a rea de influe ncia de outro municí pio surgido no contexto da imigraça o alema ¾ Joinville, no noroeste do estado) aparece como paradigma da influe ncia estrangeira no paí s por sua vinculaça o a colonizaça o alema ." Fonte: SEYFERTH,Giralda. A assimilaça o dos imigrantes como questa o nacional. Mana vol.3 n.1 Rio de Janeiro Apr. 1997, pa gina da citaça o: 98. Disponí vel em: <http://www.scielo.br/pdf/mana/v3n1/2457.pdf>. "A outra face da moeda de Era Vargas foi a campanha de nacionalizaça o, (i) voltada aos imigrantes europeus e a seus descendentes. (ii) O fluxo de imigraça o intensa, desde o final do se culo XIX, nas Regio es Sudeste e Sul do paí s, passou a representar uma ameaça aos projetos de integraça o da identidade nacional. Eram va rios os motivos, como a manutença o da lí ngua materna, ensinada nas escolas, e a existe ncia de clubes especí ficos para os imigrantes, os quais, vale ainda observar,tinham uma vida social relativamente fechada nas colo nias a s quais pertenciam. A institucionalizaça o do projeto de nacionalizaça o para os imigrantes tinha como objetivos integra -los a sociedade nacional, transformando-os em "verdadeiros brasileiros". Um dos principais alvos da campanha de nacionalizaça o era a proibiça o do uso da lí ngua materna nas esferas pu blicas e privadas. A repressa o polí tica da nacionalizaça o na o era igual para todos os grupos e tnicos que imigraram para o Brasil, havendo diferenciaça o na gradaça o do tratamento concedido a esses grupos, sobretudo a partir do crite rio da lí ngua. Refere ncia: RIBEIRO, Alessandra Stremel Pesce. Teoria e Pra tica em Antropologia. Curitiba: Intersaberes, 2016. (pag. 149, adaptado). Tema: Etnologia indígena e povos originários das américas Os estudos de etnologia indí gena passaram por va rias transformaço es, que compreenderam o uso de diferentes ferramentas conceituais. Ale m disso, vimos que algumas abordagens coexistem e encerram diferenças entre si. Destacam-se assim, as abordagens contatualistas e americanistas. A abordagem contatualista se interessa em observar o encontro entre duas ou mais sociedades, assim o olhar se desloca para a fronteira entre os povos. Essa abordagem se preocupa com a extensa o das fronteiras nacionais. Utilizam conceitos que permitem entender contextos de choque e de mudança cultural. Os conceitos mais utilizados por esses autores sa o: aculturaça o, fricça o cientí fica e transfiguraça o e tnica. Procede-se a abordagem histo rica das relaço es de contato para compreender o campo de disputas entre povos indí genas e Estado. Expresso es culturais sa o importantes para esse tipo de abordagem. A abordagem americanista concentra-se em analisar os aspectos internos de uma sociedade, como organizaça o social, parentescos e mitos. Privilegia-se estudos de grupos com baixa interaça o com a sociedade abrangente, assim da o centralidade a ideia de 'pureza'. Em um segundo momento, ao abordar as transformaço es de contato, enfatiza o modo pelo qual o contato e entendido e absorvido por formas de pensamento local. Refere ncia: RIBEIRO, Alessandra Stremel Pesce. Teoria e Pra tica em Antropologia. Curitiba: InterSaberes, 2016, p.109, adaptado. Bacharelado em Cie ncia Polí tica | Tutoria Bacharelado em Relaço es Internacionais | Tutoria 13 --- A constituiça o reconheceu o direito de posse dos povos origina rios aos territo rios tradicionalmente ocupados, criando instrumentos legais para a polí tica de demarcaça o de terras. Vale destacar que, apesar de caber ao antropo logo o laudo final, reconhecendo a etnicidade indí gena, o crite rio principal e a autodeterminaça o, o qual consiste na construça o de uma identidade coletiva que apresenta elementos de diferenciaça o em relaça o a sociedade nacional". Para a construça o de uma identidade coletiva – processo de autodeterminaça o – e importante que existam laços de pertencimento entre os membros grupo, fortemente associados a relaço es de vizinhança, de consanguinidade (parentesco) e tambe m a relaço es de alianças (casamentos). Ale m da vinculaça o com o territo rio, e importante que haja a vinculaça o cultural e significados simbo licos. Ou seja, determinados lugares devem possuir significado simbo lico ou mesmo ritualí stico dando sentido a organizaça o do grupo. Refere ncia: RIBEIRO, Alessandra Stremel Pesce. Teoria e Pra tica em Antropologia. Curitiba: InterSaberes, 2016, p.204. --- “[...] a chegada dos europeus a s Ame ricas proporcionou grandes mudanças. Ja observamos que, na visa o medieval, ate enta o predominante, havia uma ideia de que o mundo era limitado pelos oceanos – na o foi a toa que as terras ale m-mar foram chamadas de Novo Mundo. O novo continente (e todas as coisas que havia nele) despertou curiosidade e perplexidade aos olhos europeus, que sentiram um choque quando encontraram os povos que viviam nas Ame ricas. Desse modo, o encontro causou um estranhamento nos europeus com relaça o aos costumes e ha bitos dos povos americanos. Ainda, que esses povos na o fossem os monstros esperados, eram muito diferentes da civilizaça o europeia. Isso pode ser observado no seguinte trecho de Ame rico Vespu cio "Tomam tantas mulheres quantas querem, e o filho se junta com a ma e, e o irma o com a irma , e o primo com a prima, e o caminhante com a que encontra. Basta vontade de matrimoniarem [...] ale m disso na o possuem templos nem leis”. Outro ponto que pode ser destacado foi o choque provocado pelo canibalismo de algumas sociedades. Os europeus consideraram os povos origina rios foram considerados ba rbaros em raza o desses comportamentos. Refere ncia: RIBEIRO, Alessandra Stremel Pesce. Teoria e Pra tica em Antropologia. Curitiba: InterSaberes, 2016, pp. 66-68, adaptado. --- No senso comum, ha uma ideia de imobilidade das sociedades indí genas na histo ria colonial, como se, para existirem e serem reconhecidas, elas devessem permanecer como eram antes da chegada dos europeus. Assim, e muito comum ouvirmos, durante os trabalhos de campo que realizamos, argumentos como: 'Aqui na o tem mais í ndio, esta o todos civilizados'; 'Aqui na o tem mais í ndio bravo, foram todos pacificados'. Tais colocaço es revelam pontos de vista que reproduzem a polí tica colonial brasileira. Sempre houve grande intolera ncia em relaça o ao indí gena, e por muito tempo foi polí tica do Estado colonial suprimir manifestaço es e costumes Bacharelado em Cie ncia Polí tica | Tutoria Bacharelado em Relaço es Internacionais | Tutoria 14 indigenistas. Surgiram grandes projetos de aldeamentos e a fundaça o de misso es religiosas (na o apenas as jesuí ticas), nas quais os grupos eram impelidos – para na o dizer forçados – a viver segundo os moldes dos “brancos”. Todas essas questo es na o apenas deslocaram va rios grupos de seus territo rios originais, mas levaram geraço es inteiras a negar sua ancestralidade. [...] o í ndio aldeado, o í ndio que foi ‘misturado’, que os missiona rios e bandeirantes descreveram, na o pode ser culpado de ter perdido suas refere ncias territoriais originais. Refere ncia: RIBEIRO, Alessandra Stremel Pesce. Teoria e Pra tica em Antropologia. Curitiba: InterSaberes, 2016, pp. 201-203, adaptado. --- Nenhum í ndio vira civilizado, o que ha e que um povo indí gena, mantendo sua indianidade, vai morrendo e, ao lado dele, surge um nu cleo humano que cresce a custa dele e que cresce contra ele, que e o nu cleo civilizado. Enta o, assim como na o ha conversa o, na o ha assimilaça o. O que ha e uma integraça o inevita vel. Se o í ndio e cada vez mais cercado de um contexto civilizado ou comercializado, se ele pro prio se converte em ma o de obra, se ele pro prio tem que produzir mercadoria, e claro que ele tem uma integraça o cada vez maior com a sociedade nacional. Mas esta integraça o na o quebra nele a identidade, que e como a do judeu, como a do cigano. Ele mante m a sua identidade como indí gena. Apesar de transformados os costumes, apesar de mudar o modo de se vestir. Apesar de todas essas mudanças, ele permanece indí gena.” Entrevista com Darcy Ribeiro. Disponí vel em http://www.casadobruxo.com.br/ilustres/darcy_entre.htm Acesso em 30.nov.2018. Como vimos nessa entrevista, a integraça o entre indí genas e na o indí genas passa pelo processo de aculturaça o. A noça o de aculturaça o trazia dois problemas fundamentais: 1) na o contemplava as questo es de conflito e dominaça o; 2) ao enfocar as mudanças culturais no interior da cultura, parecia normal ou evidente que as sociedades tidas como mais primitivas perdessem determinados traços para adotar outros Refere ncia: RIBEIRO, Alessandra Stremel Pesce. Teoria e Pra tica em Antropologia.Curitiba: InterSaberes, 2016, p. 106, adaptado. Tema: A cultura e seus adjetivos (popular, erudita, de massa ou nacional) A abordagem da histo ria da Europa e importante para apontar elementos importantes que contribuí ram para o surgimento e para as transformaço es da antropologia. Quanto ao termo popular, tambe m na o e diferente: tem origem na sociedade europeia, entre o fim da idade me dia e o iní cio da idade moderna. No perí odo de formaça o dos Estados Nacionais a sociedade possuí a uma estrutura hiera rquica, formada pelas classes clero, aristocracia e plebeus. A classe dominante era o clero, que controlava va rios mecanismos de dominaça o. O rei era coroado apenas mediante a autorizaça o da igreja com relaça o ao seu direito divino de governar. Da mesma forma, o sistema tributa rio respondia a hierarquia social e, nesse caso, os camponeses eram os mais penalizados. A terra na o pertencia a eles, mas aos nobres, a quem pagavam tributos e entregavam parte da produça o. Assim como na economia e na polí tica, o conhecimento formal estava inscrito nas classes mais altas: clero e alta aristocracia. Os camponeses, em geral, na o eram alfabetizados. Assim como ocorria na polí tica e na economia, o conhecimento formal (escrito) estava nas ma os de poucas pessoas. Vale destacar que, nessa Bacharelado em Cie ncia Polí tica | Tutoria Bacharelado em Relaço es Internacionais | Tutoria 15 e poca, a maioria da populaça o era constituí da por pessoas na o letradas. O acesso aos textos escritos, tanto filoso ficos quanto litera rios, era restrito, concentrado em poder do clero e da alta aristocracia. Tratava-se de uma forma de controle. Ale m disso, esse movimento dava iní cio a dissociaça o entre cultura erudita e cultura popular. Refere ncia: RIBEIRO, Alessandra Stremel Pesce. Teoria e Prática em Antropologia. Curitiba: InterSaberes, 2016, p.133, adaptado. --- A cultura nacional passou a ser um elemento para evocar a brasilidade, mas de qual cultura estamos falando, dada a diversidade de manifestaço es existentes no paí s? Poucos elementos foram alçados ao patamar de sí mbolos nacionais. Paralelamente a essa perspectiva, havia tambe m os movimentos regionalistas, que se voltavam que nunca existiu apenas uma, mas mu ltiplas identidades. O romance regionalista valorizava caracterí sticas locais, construindo personagens que sintetizavam modos de viver especí ficos. Podem ser citados como exemplos as obras o Tempo e o Vento de E rico Verí ssimo ou Gabriela, cravo e canela de Jorge Amado. Os temas retratados eram o modo de ser gau cho e as mu ltiplas faces das sociedades. Como exemplo, Verí ssimo tratava de questo es como o coronelismo, a religiosidade, os valores da burguesia baiana e de tipos populares. Refere ncia: RIBEIRO, Alessandra Stremel Pesce. Teoria e Prática em Antropologia. Curitiba: InterSaberes, 2016, p.141-142, adaptado. --- A relaça o entre o trabalho e o acesso ao voto facilitado pelo empregador enfatiza a importa ncia que a polí tica sempre teve para o meio rural. O polí tico, geralmente tambe m patra o e empresa rio, e quem ainda hoje, faz a mediaça o entre a pessoa e os serviços pu blicos (os quais teoricamente sa o direitos universais dos cidada os). Va rios autores se dedicaram a essa questa o para mostrar como a polí tica se constituiu como algo personalizado e hiera rquico. As relaço es pessoais ainda esta o muito presentes na polí tica, sobretudo no interior do paí s. Para os trabalhadores do interior as relaço es pessoais na o sa o mal vistas. Tanto que na o e estranho trocar votos por pequenos favores polí ticos ou econo micos. Os trabalhadores na o enxergam isso pela o tica de 'venda' de votos, mas sim como uma ajuda mu tua. O polí tico ou comerciante tem acesso a locais que o trabalhador na o possui e acaba atuando como um mediador entre a pessoa e o Estado. Um exemplo e o caso das comunidades ribeirinhas do Amazonas (margens do Rio Japura ), onde existem comerciantes locais chamados de regato es. Esses comerciantes possuem grande influe ncia polí tica sobre os seus fregueses em e poca de eleiço es. Refere ncia: RIBEIRO, Alessandra Stremel Pesce. Teoria e Prática em Antropologia. Curitiba: InterSaberes, 2016, pp. 171-172. --- Na o podemos negar que a difusa o dos meios de comunicaça o e a penetraça o de modelos hegemo nicos promoveram transformaço es nas identidades (nacionais e locais). Precisamos nos perguntar quais sa o os impactos e as implicaço es dessas influe ncias globais e qual e o alcance delas. Falamos, em especial, da cultura de massa, que, na o raramente, e tratada como um Bacharelado em Cie ncia Polí tica | Tutoria Bacharelado em Relaço es Internacionais | Tutoria 16 elemento de alienaça o e aniquilaça o de manifestaço es locais. A cultura de massa e fomentada pela grande mí dia e possui um cara ter mais fragmentado. Ela opera com base na novidade e com o propo sito de promover constantemente novas tende ncias e estimular o consumo. Refere ncia: RIBEIRO, Alessandra Stremel Pesce. Teoria e Pra tica em Antropologia. Curitiba: InterSaberes, 2016, p. 195. --- “O funk se consolidou como ge nero ouvido por jovens da periferia de cidades por todo o Brasil, do Rio de Janeiro ao Recife. Ao lado dos ge neros conhecidos como “gospel”, ligados a s igrejas evange licas e opostos em termos de mensagem, o funk e para onde tendem a migrar adolescentes com interesse em fazer mu sica hoje na periferia. Cantado em portugue s, o funk frequentemente se tornou um canal para se relatar as dificuldades da vida na comunidade. Em meio a denu ncia, entretanto, o tom raramente soa resignado ou melanco lico. Muito mais comum nas letras e o orgulho da favela, da sua pote ncia criativa e capacidade de animaça o”. (Rocha, 2017). O funk deve ser considerado uma expressa o cultural porque envolve valores e identidades de determinado grupo social (pa g. 22). Assim, o ritmo produz um sentimento de identidade e de pertencimento do jovem da periferia, uma vez que e responsa vel por denunciar as viole ncias e injustiças e por traduzir experie ncias cotidianas (pa g. 23). Assim, o funk possui a capacidade de criar uma expressa o da identidade e da realidade vivida na periferia, tanto que mesmo com a proliferaça o dos equipamentos mí dia e crescente difusa o do ge nero, ele ainda continua a representar as contradiço es dos subu rbios (pa g. 199). Refere ncia: RIBEIRO, Alessandra Stremel Pesce. Teoria e Pra tica em Antropologia. Curitiba: InterSaberes, 2016, adaptado. --- “O po s-colonialismo surgiu tambe m como uma exige ncia de lugar para a fala, de uma preocupaça o de fazer valer a voz dos indiví duos de fora do primeiro mundo. Uma luta por representaça o e por espaços nos lugares centrais da academia. Nesta exige ncia da fala, alguns intelectuais, mais ligados a alguns paí ses especí ficos [...] passaram a falar [...] em nome de todos que viviam uma “situaça o po s-colonial” Apo s esta avaliaça o, caso queira ler o texto integralmente, ele esta disponí vel em: http://www.teoriaepesquisa.ufscar.br/index.php/tp/article/viewFile/71/61. Acesso em 01 de fevereiro de 2017. “Na periferia, os autores nativos apresentaram como caracterí stica o comprometimento de questo es associadas ao desenvolvimento e a s desigualdades, estas u ltimas quase sempre herança do regime colonial”. (livro-base, p.100) --- No senso comum, classifica-se uma apresentaça o de bale como um evento culto por excele ncia. De saí da, o lugar onde o espeta culo e realizado ajuda para essa classificaça o: o teatro. Tomemos outro tipo de espeta culo que o senso comum pode classificar como o oposto de um bale : o baile funk. Fala-se que o funk ‘na o tem cultura’ ou e ‘musicalmentepobre’. No senso comum, associa- Bacharelado em Cie ncia Polí tica | Tutoria Bacharelado em Relaço es Internacionais | Tutoria 17 se o termo “cultura” a “cultura erudita”, a quela ligada a espaços de poder e distinça o social como o teatro e o bale , por exemplo. O uso antropolo gico, contudo, refere-se a toda manifestaça o ou pra tica que expresse os valores e a identidade de um dado grupo, como e o caso do baile funk, como expressa o cultural dos jovens negros e pobres no Brasil. Refere ncia: RIBEIRO, Alessandra Stremel Pesce. Teoria e Pra tica em Antropologia. Curitiba: InterSaberes, 2016, p. 22 adaptado. --- Em um primeiro momento, o samba teria sido perseguido pelas elites como ba rbaro e incivilizado, para em seguida transformar-se no sí mbolo nacional que conhecemos hoje [...] o samba foi um fator de grande destaque na identificaça o de "o que e ser brasileiro". GOMES, Tiago de Melo. O Miste rio do Samba. Revista Brasileira de Histo ria, Sa o Paulo , v. 21, n. 42, p. 525-530, 2001, p. 42. Esses elementos, ao se transformarem em sí mbolos nacionais, foram, em termos, dissociados de suas origens e contextos locais e, portanto, o seu poder de expressar a identidade de um grupo foi enfraquecido. Refere ncia: RIBEIRO, Alessandra Stremel Pesce. Teoria e Pra tica em Antropologia. Curitiba: InterSaberes, 2016, p. 149 adaptado. --- “O mundo e dos que “sa o algue m”. “Ser algue m” e ter capital relacional, especialmente nestes tempos da indu stria das celebridades. Ser famoso mobiliza pessoas, e a pessoa passa a ser protegida. E “ser ningue m” e ser individualizado, e ser (e estar) so . Daí , no nosso Paí s, o tal do “jeitinho” e um rito autorita rio de distinça o, praticado por gente de todas as classes e categorias” Cla udio Loetz, Antropo logo explica o jeitinho brasileiro, disponí vel em http://anoticia.clicrbs.com.br/sc/economia/negocios/noticia/2014/05/antropologo-explica- o-jeitinho-brasileiro-4514118.html Acesso em 30.nov.2018. O jeitinho e a carteirada sa o duas formas opostas de navegaça o social em uma sociedade que se pretende individualista e impessoal, mas que, contraditoriamente, esta pautada em relaço es pessoais. Enquanto a primeira tem como objetivo estabelecer uma relaça o pessoal, de proximidade entre pessoas; ja a segunda trata de criar uma separaça o, enfatizando uma diferença de status. Refere ncia: RIBEIRO, Alessandra Stremel Pesce. Teoria e Pra tica em Antropologia. Curitiba: InterSaberes, 2016, pp. 173-175 adaptado.
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