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ESTUDO_DIRIGIDO_antropologia

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Bacharelado em Cie ncia Polí tica | Tutoria 
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Antropologia – estudo dirigido 
 
 
Material de disciplina 
RIBEIRO, Alessandra Stremel Pesce. Teoria e Prática em Antropologia. Curitiba: InterSaberes, 2016 
Videoaulas 1 a 6 
Rotas de Aprendizagem 1 a 6 
 
Neste breve resumo, destacamos a importa ncia para seus estudos de alguns temas diretamente relacionados ao 
contexto trabalhado nesta disciplina. Os temas sugeridos abrangem o conteu do programa tico da sua disciplina 
nesta fase e lhe proporcionara o maior fixaça o de tais assuntos, consequentemente, melhor preparo para o sistema 
avaliativo adotado pelo Grupo Uninter. Esse e apenas um material complementar, que juntamente com a Rota de 
Aprendizagem completa (livro-base, videoaulas e material vinculado) das aulas compo em o referencial teo rico que 
ira embasar o seu aprendizado. Utilize-os da melhor maneira possí vel. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
 
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seu compartilhamento infringe as polí ticas do Centro Universita rio UNINTER e poderá 
implicar em sanções disciplinares, com possibilidade de desligamento do quadro de alunos 
do Centro Universita rio, bem como responder ações judiciais no âmbito cível e criminal. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Sumário 
 
 
Tema: Natureza e Cultura e a definiça o do ser humano sob o ponto de vista antropolo gico ............................................... 4 
Tema: O conceito de cultura, a etnografia e o me todo antropolo gico ............................................................................................. 7 
Tema: Etnocentrismo e evolucionismo e eugenia .................................................................................................................................... 9 
Tema: A questa o racial e o problema nacional: origem e superaça o da ideia de raça ........................................................... 11 
Tema: Etnologia indí gena e povos origina rios das ame ricas ............................................................................................................ 12 
Tema: A cultura e seus adjetivos (popular, erudita, de massa ou nacional) .............................................................................. 14 
 
 
 
 
 
 
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Tema: Natureza e Cultura e a definição do ser humano sob o ponto de vista antropológico 
O debate em torno da universalidade da espe cie humana se colocou como uma questa o 
filoso fica. Como pensar a unidade da espe cie humana em meio a diversidade? Essa questa o foi 
o centro do humanismo france s do qual Rousseau foi um dos fundadores. Segundo Le vi-Strauss 
(1993), a unidade da espe cie seria possí vel graças a existe ncia de uma mesma capacidade logica 
em ordenar e classificar o mundo, ainda que varie a maneira de se fazer isso. Para Le vi-Strauss 
o humanismo consiste em perceber as diferenças considerando-se as suas propriedades, o que 
exige distanciamento dos valores do observador. Com os preceitos humanista e possí vel 
ultrapassar o plano biolo gico, relacionado, por exemplo, a ideia de raça. Os conceitos de homem 
permitiram que autores como Le vi-Strauss saí sse do plano fí sico e se concentrasse em aspectos 
lo gicos que tornam possí vel a esperança humana. Refere ncia: RIBEIRO, Alessandra Stremel 
Pesce. Teoria e Pra tica em Antropologia. Curitiba: InterSaberes, 2016, p.36. 
 
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Mesmo reconhecendo a interdepende ncia entre os planos da natureza e da cultura, Levi-Strauss 
considerava que o aparato conceitual da cultura permitiria organizar o plano da natureza. 
Segundo o antropo logo, sa o os processos lo gicos de classificaça o do mundo que da o forma e 
coere ncia a realidade. Para Le vi-Strauss o que transformaria o homem em um ser social – isto 
e , quando ele escapa a s determinaço es impostas pela natureza – seria a criaça o de um universo 
de regras. Refere ncia: RIBEIRO, Alessandra Stremel Pesce. Teoria e Prática em Antropologia. 
Curitiba: InterSaberes, 2016, p.65. 
 
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Dumont foi um antropo logo france s que propo s uma interpretaça o da ideologia moderna de 
modo comparativo, partindo do seu oposto, a hierarquia – alia s, e importante esclarecer que 
para Dumont, a noça o de ideologia se reporta a um conjunto de ideias e valores. Em sua obra, o 
estudo da sociedade indiana mostrou ser uma importante ferramenta, pois permitiu um 
distanciamento do Ocidente, para olhar de modo analí tico aquilo que antes era natural. Em sua 
obra, o estudo da sociedade indiana mostrou ser uma importante ferramenta, pois permitiu um 
distanciamento do Ocidente, para olhar de modo mais analí tico aquilo que antes era natural. 
Dumont estabelece dois modelos sociais e ideolo gicos distintos: o modelo hiera rquico 
(predominante em sociedades tradicionais) e o modelo individualista (modelo historicamente 
construí do no Ocidente). Refere ncia: RIBEIRO, Alessandra Stremel Pesce. Teoria e Pra tica em 
Antropologia. Curitiba: InterSaberes, 2016, p. 165. 
 
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No determinismo geogra fico, entende-se que a sociedade e determinada pelas caracterí sticas 
do ambiente ou pelas condiço es clima ticas. O homem seria um produto do ambiente, 
subordinado a s limitaço es impostas por ele. Segundo o geografo alema o Friedrich Ratzel (1844 
 
 
 
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- 1904), um dos precursores dessa ideia, o ambiente influencia o progresso pois o acesso ou na 
o a recursos e determinante para o desenvolvimento. As relaço es entre homem e ambiente sa o 
complexas, uma vez que o homem na o se curva a s imposiço es do meio ambiente, mesmo que 
na o possa controla-la. Os homens da o sentido a suas experie ncias e imprimem as suas marcas 
na paisagem. Para esse ponto e importante retomar a crí tica da ideia de que o clima determina 
o ní vel de desenvolvimento de determinadas regio es, como por exemplo, a ideia que se 
consolidou que regio es frias sa o mais desenvolvidas do que regio es quentes, uma vez que as 
pessoas nas regio es de clima temperados seriam mais engajadas no trabalho. Todavia, os 
estudos demonstraram que o subdesenvolvimento das ex-colo nias na Ame rica Latina era mais 
causado pelos modelos econo micos herdados da colonizaça o do que com o clima. Dessa forma, 
pode-se perceber que o clima e as condiço es geogra ficas te m pouca relaça o com a pobreza ou 
com a riqueza de uma regia o, mas com as bases econo micas de cada lugar. Enta o, o 
determinismo geogra fico marginaliza questo es como: constituiça o histo rica, percepço es de 
desenvolvimento, interaço es estabelecidas ao longo da histo ria. Refere ncia: RIBEIRO, 
Alessandra Stremel Pesce. Teoria e Prática em Antropologia. Curitiba: InterSaberes, 2016, pp. 
29, adaptado. 
 
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“Outra ideia presente no senso comum e a de que o comportamento humano e influenciado por 
va rios aspectos, tais como os instintos, o clima, ou o meio ambiente. Veremos que, no caso da 
espe cie humana, essa e uma questa o muito mais complexa”. STREMMEL, A. Teoria e Pra tica em 
Antropologia. Curitiba: Intersaberes, 2016. No determinismo geogra fico, entende-se que a 
sociedadee determinada pelas caracterí sticas do ambiente ou pelas condiço es clima ticas. O 
homem seria um produto do ambiente, subordinado a s limitaço es impostas por ele. Segundo o 
geo grafo alema o Friedrich Ratzel (1844-2904), um dos precursores dessa ideia, o ambiente 
influencia o progresso, (vi) pois o acesso ou na o a recursos e determinante para o 
desenvolvimento. STREMMEL, A. Teoria e Pra tica em Antropologia. Curitiba: Intersaberes, 
2016, p. 26. 
 
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Ao tratarmos dos determinismos, chegamos a conclusa o de que o homem, longe de ser 
determinado por seus instintos, pelo clima ou pela localizaça o geogra fica, tem a cultura como 
um importante elemento do seu comportamento. A ascensa o do conceito de cultura permitiu 
descartar as concepço es naturalizadas sobre o homem e colocar em debate reflexo es de outra 
ordem. A antropologia reconhece o homem como um ser social, dependente do conví vio com 
outros indiví duos para o seu desenvolvimento. Essa depende ncia em relaça o ao conví vio e a 
aquisiça o da cultura decorre do fato de que, na espe cie humana, as evoluço es fí sica e cultural 
ocorreram simultaneamente, influenciando-se mutuamente. A capacidade de aprendizado 
humana seria, portanto, mais uma necessidade (de um corpo que precisa ser ensinado) do que 
uma qualidade. Dessa forma, a natureza humana e vista como plural, pois e moldada e 
determinada pelas diferentes culturas de diferentes grupos sociais. Refere ncia: RIBEIRO, 
 
 
 
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Alessandra Stremel Pesce. Teoria e Prática em Antropologia. Curitiba: InterSaberes, 2016, pp. 
30, adaptado. 
 
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Com efeito, se em lugar de apenas vermos os suicí dios como acontecimentos particulares, 
isolados uns dos outros e que demandam ser examinados cada um separadamente, no s 
considera ssemos o conjunto dos suicí dios cometidos numa sociedade dada, durante uma 
unidade de tempo dada, constata-se que o total assim obtido na o e uma simples soma de 
unidades independentes”. TEIXEIRA, Ricardo Rodrigues. Tre s fo rmulas para compreender "O 
suicí dio" de Durkheim. Interface (Botucatu), Botucatu , v. 6, n. 11, p. 143-152, Ago. 2002, 149. 
Em termos gerais, Durkheim ele analisou o suicí dio como um ato aparentemente individual 
pode ter influe ncias do meio social. Segundo o autor, todas as sociedades apresentam 
explicaço es diferentes ao ato de o indiví duo po r fim a sua vida de modo consciente. Devido a 
sua generalidade, o suicí dio foi interpretado pelo socio logo como um fato social passí vel de 
classificaça o: altruí sta, egoí sta, ano mico. Ao estudar taxas de suicí dio, Durkheim relacionou o 
ato a diferentes ní veis de integraça o social. Mas, em esse ncia, e possí vel dizer que, para 
Durkheim, quanto maior for a integraça o social, ou seja, quanto mais fortes forem os ví nculos 
do indiví duo, menor sera o as chances de suicí dio. Ao trabalhar com esse tema, podemos dizer 
que uma das maiores contribuiço es de Durkheim para o pensamento sociolo gico foi demonstrar 
como as esferas individuais e sociais na o podem ser dissociadas. Refere ncia: RIBEIRO, 
Alessandra Stremel Pesce. Teoria e Prática em Antropologia. Curitiba: InterSaberes, 2016, pp. 
25, adaptado. 
 
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“Le vi-Strauss afirma que a proibiça o do incesto deve ser vista como o avesso universal e 
negativo de uma regra de reciprocidade positiva que exige a troca das mulheres nos sistemas 
de aliança matrimonial. Essa perspectiva renovava a abordagem dos feno menos de parentesco, 
abandonando o ponto de vista da sociologia dos modos de filiaça o [...] Ela os substituí a por uma 
teoria geral da aliança” DESCOLA, Philippe. Claude Le vi-Strauss, uma apresentaça o. Estudos 
Avançados. Sa o Paulo, v. 23, n. 67, p. 148-160, 2009, p.150. Em As estruturas elementares do 
parentesco, Le vi-Strauss [...] argumentou que a passagem da natureza para a cultura ocorre no 
estabelecimento da primeira regra: a proibiça o do incesto, o que consiste em interditar o ato 
sexual com algumas pessoas (mulheres) de acordo com a relaça o de parentesco entre elas. A 
importa ncia de tal proibiça o, para Le vi-Strauss, e emblema tica, por forçar o estabelecimento de 
relaço es (alianças) fora das fronteiras do grupo. As trocas entre grupos, sendo a troca 
matrimonial a mais poderosa, revelam semelhança com a linguagem, pois ambas sa o tidas como 
processos comunicativos. Refere ncia: RIBEIRO, Alessandra Stremel Pesce. Teoria e Prática em 
Antropologia. Curitiba: InterSaberes, 2016, p. 35, adaptado. 
 
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Os estudos sobre a noça o de pessoa ve m possibilitar que se apreenda o modo como cada 
sociedade concebe a infa ncia e tambe m o “ser pleno” em que ela se desenvolve, permitindo que 
se veja do interior de cada sociedade analisada o modo como este e definido. COHEN , Clarice, 
Crescendo como um Xikrin: uma ana lise da infa ncia e do desenvolvimento infantil entre os 
Kayapo -Xikrin do Bacaja Revista de Antropologia, Sa o Paulo, USP, v. 43, n 2, 195-222, 2000, p. 
197. O ethos pode ser definido como sendo os aspectos morais e os valores com os quais um 
povo leva a sua vida e esta intimamente ligado a visa o de mundo de tal povo, ou seja, a forma 
como as pessoas da o sentido a realidade ao redor. O ethos de um povo e o tom, o cara ter e a 
qualidade de sua vida, seu estilo moral e este tico, sua disposiça o e a atitude subjacente em 
relaça o a ele mesmo e a visa o e a seu mundo que a vida reflete. A visa o de mundo que esse povo 
tem e o quadro que elabora das coisas como elas sa o na simples realidade, seu conceito de 
natureza, de si mesmo e da sociedade. Refere ncia: RIBEIRO, Alessandra Stremel Pesce. Teoria e 
Prática em Antropologia. Curitiba: InterSaberes, 2016, p. 163, adaptado. 
 
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No se culo XIX, o criminalista italiano Cesare Lambroso (1835-1909) difundiu a ideia de que era 
possí vel identificar tende ncias criminosas com base em caracterí sticas fí sicas. De modo geral o 
biocriminalismo conduziu polí ticas de perseguiça o a todos aqueles grupos que eram 
marginalizados”. STREMMEL, A. Teoria e Pra tica em Antropologia. Curitiba: Intersaberes, 2016. 
O pensamento de Cesare Lambroso expressa o determinismo de cara ter biolo gico, em que o 
comportamento humano seria governado por instintos ou por caracterí sticas fí sicas e gene ticas. 
Ale m disso, Lambroso expressa tambe m a ideologia racial tí pica do se culo XIX, em que 
diferenças fí sicas entre as raças eram usadas como justificativa para a perseguiça o de grupos 
marginalizados. STREMMEL, A. Teoria e Pra tica em Antropologia. Curitiba: Intersaberes, 2016, 
p. 29-30. 
 
Tema: O conceito de cultura, a etnografia e o método antropológico 
Diferentemente de Tylor, o antropo logo alema o Franz Boas (1858-1942), radicado nos Estados 
Unidos, enfatizou os elementos internos da cultura e e considerado o primeiro antropo logo a 
desenvolver uma observaça o direta e prolongada em uma sociedade, experie ncia que pautou 
seus posicionamentos teo ricos. As culturas deveriam ser entendidas com base em seus 
princí pios e relaço es internas ja que Fran Boas possui uma visa o sistema de cultura, na qual 
cada cultura e considerada como sendo u nica e constituí da por uma se rie de elementos que a 
tornam coerente. Para o culturalismo de autores como Boas, cada cultura e u nica e constituí da 
por se rie de elementos que a tornam coerente. Na o faria sentido, portanto, falar em culturais 
mais ou menos evoluí das. Nota-se tambe m uma visa o siste mica de cultura, que a enxerga como 
passí vel de ser compreendida pelas relaço es internas entre os seus diferentes elementos. Boas 
mostrava-se cauteloso,por isso, com comparaço es entre diferentes culturas, dado o cara ter 
singular de cada uma delas. A Escola de Padra o e Personalidade, fundada pelos discí pulos do 
culturalismo de Franz Boas, procurava compreender os ví nculos existentes entre os indiví duos 
e suas respectivas culturas. Procuravam, assim, estabelecer as relaço es profundas entre a 
cultura e a psique, ao analisar como as instituiço es sociais, como o sistema de ensino, produzem 
 
 
 
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tipos distintos de personalidade. Refere ncia: RIBEIRO, Alessandra Stremel Pesce. Teoria e 
Prática em Antropologia. Curitiba: InterSaberes, 2016, p. 39. 
 
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“O conhecimento antropolo gico resulta de um singular processo de construça o de pensamento 
que na o se gesta nem antes, nem depois, mas no meio [...] Assistimos, assim, a explicitaça o de 
uma premissa importante para a produça o do conhecimento antropolo gico, a de que na o ha 
situaço es [...] sem sujeito, seja o do antropo logo, seja o do ‘nativo’, ambos munidos de 
intencionalidades e de intelige ncias”. (ROCHA & ECKERT, 2009, p.10). O me todo etnogra fico e 
importante porque e necessa rio que haja uma imersa o do antropo logo no universo que esta 
sendo estudado, para que seja possí vel conhece -lo e compreende -lo. O processo de desvendar 
a vida social na o e uma tarefa fa cil, uma vez que a mesma possui mu ltiplas camadas. Desse 
modo, cabe ao antropo logo desvendar as mu ltiplas camadas, para enta o atingir a totalidade da 
vida social. Para que esse objetivo seja atingido ele precisa realizar uma imersa o na sociedade 
estudada e vivenciar o dia a dia. Assim, a etnografia permite que o antropo logo presencie o 
cotidiano do ambiente estudado, para ale m dos atos simbo licos e dos momentos solenes, e 
compreenda de forma mais aprofundada a cultura analisada. Refere ncia: RIBEIRO, Alessandra 
Stremel Pesce. Teoria e Pra tica em Antropologia. Curitiba: InterSaberes, 2016, pp. 79 e 80, 
adaptado. 
 
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Ao tratar da etimologia da palavra cultura, Denys Cuche (1999) demonstrou como, na França 
do final do se culo XVIII, a cultura passou a ser tratada como um ‘estado de espí rito’. As pessoas 
que cultivavam as artes e as letras tinham cultura; as demais, na o. Ja na Alemanha, como nos 
revelou Cuche (1999), a mesma palavra assumiu outros sentidos, muito mais relacionados ao 
‘espí rito de um povo’, ou seja, a expresso es tidas como genuí nas e aute nticas. Ao contra rio do 
que diz o senso comum, em antropologia, o termo cultura e utilizado para designar a maneira 
como todos os indiví duos e grupos da o significado a s suas pra ticas e a realidade que os rodeia; 
dessa forma, na o faz sentido falar que alguns grupos possuem cultura, enquanto outros na o a 
possuiriam (como no uso france s mostrado na citaça o). O uso alema o do termo, ao relacionar 
cultura a um povo ou grupo, aproxima-se, portanto, mais do uso antropolo gico da expressa o. 
Refere ncia: RIBEIRO, Alessandra Stremel Pesce. Teoria e Pra tica em Antropologia. Curitiba: 
InterSaberes, 2016, p. 20. 
 
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“Eu estudo uma expressa o econo mica: o aviamento na regia o amazo nica. O aviamento e dí vida: 
mercadorias adiantadas a prazo pelo patra o em troca do pagamento em produtos. Para 
entender o aviamento, devo ir ale m das trocas econo micas, preciso prestar atença o no 
parentesco, nos laços de amizade, na ordem polí tica, e ate mesmo nas relaço es que as pessoas 
mante m com a floresta”. Como se ve , o que determinava a antropologia na o e tanto o seu objeto 
de estudo, mas, sim, um certo me todo, uma abordagem que se pretende totalizante. A 
 
 
 
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antropologia passou a ser definida na o pelo objeto, mas por sua perspectiva. Refere ncia: 
RIBEIRO, Alessandra Stremel Pesce. Teoria e Pra tica em Antropologia. Curitiba: InterSaberes, 
2016, p. 97. 
 
Tema: Etnocentrismo e evolucionismo e eugenia 
"[...]a cultura e a lente pela qual vemos o mundo, o que inclui uma percepça o determinada sobre 
outros povos, sociedades ou mesmo grupos que nos sa o pro ximos. Ao nos depararmos com 
outros modos de vida ou com outras atitudes, isso nos provoca certo estranhamento. Esse olhar 
que classifica outros grupos ou sociedades com base nos valores da sociedade do observador e 
denominado etnocentrismo. Os europeus se utilizavam do etnocentrismo para caracterizar 
outras sociedades como inferiores, classificando-os, sobretudo, como paga os ou infie is por na o 
compartilharem dos valores crista os europeus. Assim, categorias eram criadas e diviso es 
estabelecidas. Como exemplo, pode ser citada a concepça o de Said de que o Oriente e uma 
invença o europeia, por meio de textos polí ticos e litera rios que caracterizavam de forma 
pejorativa os povos a rabes. A ideia de oriente homogeneizou esses povos e os transformou em 
polí ticas de expansa o e domí nio colonial. O mesmo aconteceu com os povos indí genas. O termo 
í ndio foi forjado quando pelos espanho is para se referir aos povos nativos das Ame ricas. O 
indí gena e caracterizado como inge nuo e na o conhecedor do mundo teolo gico, por isso passí vel 
de catequizaça o. Refere ncia: RIBEIRO, Alessandra Stremel Pesce. Teoria e Pra tica em 
Antropologia. Curitiba: InterSaberes, 2016, pp. 69-70, adaptado. 
 
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As teorias evolucionistas, embora tenham tido o me rito de consolidar a ideia de unidade lo gica 
da espe cie, na o se descolaram daquele olhar etnoce ntrico, de acordo com o qual o modelo de 
sociedade superior e o que se vivencia no dia a dia. Outro problema do evolucionismo era o 
me todo pautado na histo ria conjectural. Conforme esse me todo, as relaço es estabelecidas para 
a passagem de um esta gio a outro de desenvolvimento eram, muitas vezes, arbitra rias, e os 
fatos, manipulados. Nesse caso, havia um esquema pronto sobre os esta gios de 
desenvolvimento, os quais deveriam ser mantidos, independentemente dos fatos apresentados. 
Como pode ser observado no livro base da disciplina os esta gios entendidos como o 'caminho' 
para o desenvolvimento pelos evolucionistas eram o esta gio primitivo, depois o esta gio da 
barba rie e por fim o esta gio da civilizaça o, sendo que a civilizaça o se referia ao modo de vida 
presente na sociedade europeia (ocidental). Refere ncia: RIBEIRO, Alessandra Stremel Pesce. 
Teoria e Prática em Antropologia. Curitiba: InterSaberes, 2016, pp 77-78. 
 
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Feno menos com caracterí sticas semelhantes a globalizaça o na o sa o novos a experie ncia 
humana. Trocas comerciais entre diferentes sociedades parecem sempre ter existido, na o 
apenas no mundo ocidental. Arqueo logos te m fortes indí cios, por exemplo, de que a Ame rica 
do Sul, antes da chegada de portugueses e espanho is, era interligada em diferentes pontos, 
supondo-se que diferentes sociedades indí genas mantinham trocas entre si e com o Impe rio 
 
 
 
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Inca. No ocidente, entretanto, a expansa o territorial permitiu consolidar um sistema econo mico 
mundial. A globalizaça o pode ser entendida como feno menos predominantes econo micos e 
como uma conseque ncia da expansa o e da consolidaça o do mercado internacional e da difusa o 
de tecnologias. Refere ncia: RIBEIRO, Alessandra Stremel Pesce. Teoria e Pra tica em 
Antropologia. Curitiba: InterSaberes, 2016, pp. 188-189. 
 
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No se culo XIX, o criminalista italiano Cesare Lombroso (1835-1909) difundiu a ideia de que era 
possí vel identificar tende ncias criminosas com base em caracterí sticas fí sicas. Sua teoria foi 
tomada como verdade cientí fica efoi difundida em va rios paí ses. De modo geral, o 
biocriminalismo conduziu polí ticas de perseguiça o a todos aqueles grupos que eram 
marginalizados: negros, judeus, imigrantes, etc. Na Alemanha pre -nazista (antes da ascensa o do 
Terceiro Reich), esse foi um dos crite rios utilizados para justificar a prisa o de “pessoas 
desviantes”: judeus, ciganos, homossexuais, etc. (...) No Brasil, as ideologias raciais foram 
utilizadas para sustentar a ideia de desigualdades de capacidades entre brancos, í ndios e 
negros. Uma de suas vertentes postulava a tese de que os negros apresentavam maior propensa 
o a deme ncia e tende ncias criminosas. A eugenia se refere a ideia de que e possí vel o 
melhoramento da espe cie humana por meio de escolhas pautadas na biologia. Essa ideia 
tambe m ganhou espaço ao lado do biocriminalismo. Francis Galton (1822-1911) foi um dos 
precursores dessa teoria, que rapidamente ganhou apoio de instituiço es de filantropia e chegou 
a ser difundida como polí tica de Estado. Geralmente as teorias euge nicas sa o associadas a 
Alemanha nazista, mas foi nos Estados Unidos que, ainda no iní cio do se culo XX, essas teorias 
foram consolidadas como polí tica da de Estado. Uma das pra ticas implantadas foi a 
esterilizaça o, muito utilizada nos Estados Unidos em criminosos. Acreditava-se que propenso 
es criminosas podiam ser transmitidas de pais para filhos. Refere ncia: RIBEIRO, Alessandra 
Stremel Pesce. Teoria e Prática em Antropologia. Curitiba: InterSaberes, 2016, p. 30, adaptado. 
 
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“Estava eu na comunidade e perguntei ao seu Domingos se ele fazia um paneiro em miniatura 
pra mim. Prontamente, ele perguntou o que, afinal, eu faria com um paneiro daquele tamanho. 
Vou enfeitar minha casa, disse. Ele riu, dizendo: esse povo da cidade e esquisito. Tambe m 
pudera, o paneiro e um cesto de palha utilizado para carregar mandioca, quem o usaria como 
adorno? So algue m que nunca trabalhou na roça...” “Ao nos depararmos com outros modos de 
vida, ou com outras atitudes, isso nos provoca certo estranhamento. Esse olhar que classifica 
outros grupos ou sociedades a partir dos valores da sociedade do observador e denominado 
etnocentrismo [...] Ao relativizar o que estamos vendo, na o procuramos justificar o que outros 
grupos esta o fazendo, mas, sim, entender por que esta o se comportando daquela maneira. Em 
outras palavras, procuramos por um sentido, pois entendemos que ha lo gica e coere ncia nas 
aço es daqueles grupos que a no s sa o diferentes” (livro-base, p.69, 73). 
 
 
 
 
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Tema: A questão racial e o problema nacional: origem e superação da ideia de raça 
"Atualmente, principalmente com o advento das cotas raciais, o racismo passou a ser discutido 
no Brasil, mas nem sempre foi assim. Em um passado na o ta o distante, imperava a ideia de que 
o racismo na o era uma marca brasileira e que o conví vio das tre s raças formadoras do Brasil era 
harmonioso. Havia a ideia de que o povo brasileiro seria visto como acolhedor, capaz de receber 
todos os grupos e etnias que aqui convivem em plena integraça o". Gilberto Freyre em seu livro 
Casa Grande e Senzala contribui para a construça o do mito da democracia racial brasileira, a 
partir do qual se compreende que o Brasil e formado pelos elementos culturais de tre s raças: 
í ndios, negros e brancos. O mito das tre s raças diz que a formaça o do povo brasileiro se deu em 
torno de tre s supostas raças fundadoras, considerando elementos de ordem biolo gica e depois 
culturais. Essa ideia transmite a impressa o de que esses povos se encontram se encontraram de 
forma natural e que o resultado foi bene fico para todos. Todavia, esse mito esconde os processos 
desiguais que resultaram na subordinaça o de outros povos em uma estrutura colonial 
hierarquizada e desigual. Refere ncia: RIBEIRO, Alessandra Stremel Pesce. Teoria e Prática em 
Antropologia. Curitiba: InterSaberes, 2016, p.142-144. 
 
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“E claro que podemos ter uma democracia racial no Brasil. Mas ela, conforme sabemos, tera que 
estar fundada primeiro numa positividade jurí dica que assegure a todos os brasileiros o direito 
ba sico de toda igualdade: o direito de ser igual perante a lei! Enquanto isso na o for descoberto, 
ficamos sempre usando a nossa mulataria e os nossos mestiços como modo de falar de um 
processo social marcado pela desigualdade, como se tudo pudesse ser transcrito no plano 
biolo gico e do racial. Na o se pode negar o mito. Mas que se pode indicar e que o mito e 
precisamente isso: uma forma su til de esconder uma sociedade que ainda na o se sabe 
hierarquizada e dividida entre mu ltiplas possibilidades de classificaça o”. (DaMATTA, 1984, pp 
27-28). Segundo DaMatta o maior problema do tria ngulo das tre s raças e que, ao pensarmos o 
Brasil como formado por brancos, negros, í ndios, a visa o crí tica e histo rica da formaça o da 
sociedade brasileira na o e analisada. Essa e uma raza o pela qual se discutir a questa o racial no 
Brasil e ta o dolorosa. Isso porque, diferentemente do que ocorre na sociedade norte-americana, 
onde ao reconhecer as diferenças raciais abre a possibilidade para que os diferentes sejam 
reconhecidos como iguais perante a lei, no Brasil a estrutura na o apenas reconhece a ideia de 
mestiçagem, mas nela se sustenta. Assim, no Brasil a segregaça o esta presente nas lo gicas 
cotidianas. Refere ncia: RIBEIRO, Alessandra Stremel Pesce. Teoria e Pra tica em Antropologia. 
Curitiba: InterSaberes, 2016, pp. 146-148, adaptado. 
 
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"Os trabalhos de Hugo Bethlem (1939), Rui Alencar Nogueira (1947) e Theobaldo Costa 
Jamunda (1968) ¾ jovens oficiais do Exe rcito em 1939 ¾ representam bem o nacionalismo dos 
militares responsa veis pela execuça o da campanha de nacionalizaça o no Rio Grande do Sul, 
Santa Catarina e Parana . Nogueira e Bethlem falam dos imperativos do abrasileiramento e 
expo em seu estranhamento diante de uma realidade diversa do Brasil tradicional, numa 
 
 
 
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condenaça o radical ao que consideram ser um comportamento antipatrio tico, sobretudo por 
parte dos brasileiros de origem alema . O texto de Jamunda tenta resgatar, de forma laudato ria, 
a aça o do interventor em Santa Catarina durante o Estado Novo ¾ Nereu Ramos ¾ que cumpriu 
a risca as determinaço es da campanha, baixando decretos que normatizaram a intervença o nas 
escolas, associaço es e outras instituiço es demarcadoras de pertencimento e tnico e cerceando 
as aspiraço es polí ticas de algumas lideranças expressivas das regio es "desnacionalizadas". Nele 
o autor expo e sua opinia o sobre a campanha, que ajudou a implantar acantonado num dos 
municí pios do Vale do Itajaí . Nos tre s autores, o Vale do Itajaí (contí guo a a rea de influe ncia de 
outro municí pio surgido no contexto da imigraça o alema ¾ Joinville, no noroeste do estado) 
aparece como paradigma da influe ncia estrangeira no paí s por sua vinculaça o a colonizaça o 
alema ." Fonte: SEYFERTH,Giralda. A assimilaça o dos imigrantes como questa o nacional. Mana 
vol.3 n.1 Rio de Janeiro Apr. 1997, pa gina da citaça o: 98. Disponí vel em: 
<http://www.scielo.br/pdf/mana/v3n1/2457.pdf>. "A outra face da moeda de Era Vargas foi a 
campanha de nacionalizaça o, (i) voltada aos imigrantes europeus e a seus descendentes. (ii) O 
fluxo de imigraça o intensa, desde o final do se culo XIX, nas Regio es Sudeste e Sul do paí s, passou 
a representar uma ameaça aos projetos de integraça o da identidade nacional. Eram va rios os 
motivos, como a manutença o da lí ngua materna, ensinada nas escolas, e a existe ncia de clubes 
especí ficos para os imigrantes, os quais, vale ainda observar,tinham uma vida social 
relativamente fechada nas colo nias a s quais pertenciam. A institucionalizaça o do projeto de 
nacionalizaça o para os imigrantes tinha como objetivos integra -los a sociedade nacional, 
transformando-os em "verdadeiros brasileiros". Um dos principais alvos da campanha de 
nacionalizaça o era a proibiça o do uso da lí ngua materna nas esferas pu blicas e privadas. A 
repressa o polí tica da nacionalizaça o na o era igual para todos os grupos e tnicos que imigraram 
para o Brasil, havendo diferenciaça o na gradaça o do tratamento concedido a esses grupos, 
sobretudo a partir do crite rio da lí ngua. Refere ncia: RIBEIRO, Alessandra Stremel Pesce. Teoria 
e Pra tica em Antropologia. Curitiba: Intersaberes, 2016. (pag. 149, adaptado). 
 
Tema: Etnologia indígena e povos originários das américas 
Os estudos de etnologia indí gena passaram por va rias transformaço es, que compreenderam o 
uso de diferentes ferramentas conceituais. Ale m disso, vimos que algumas abordagens 
coexistem e encerram diferenças entre si. Destacam-se assim, as abordagens contatualistas e 
americanistas. A abordagem contatualista se interessa em observar o encontro entre duas ou 
mais sociedades, assim o olhar se desloca para a fronteira entre os povos. Essa abordagem se 
preocupa com a extensa o das fronteiras nacionais. Utilizam conceitos que permitem entender 
contextos de choque e de mudança cultural. Os conceitos mais utilizados por esses autores sa o: 
aculturaça o, fricça o cientí fica e transfiguraça o e tnica. Procede-se a abordagem histo rica das 
relaço es de contato para compreender o campo de disputas entre povos indí genas e Estado. 
Expresso es culturais sa o importantes para esse tipo de abordagem. A abordagem americanista 
concentra-se em analisar os aspectos internos de uma sociedade, como organizaça o social, 
parentescos e mitos. Privilegia-se estudos de grupos com baixa interaça o com a sociedade 
abrangente, assim da o centralidade a ideia de 'pureza'. Em um segundo momento, ao abordar 
as transformaço es de contato, enfatiza o modo pelo qual o contato e entendido e absorvido por 
formas de pensamento local. Refere ncia: RIBEIRO, Alessandra Stremel Pesce. Teoria e Pra tica 
em Antropologia. Curitiba: InterSaberes, 2016, p.109, adaptado. 
 
 
 
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A constituiça o reconheceu o direito de posse dos povos origina rios aos territo rios 
tradicionalmente ocupados, criando instrumentos legais para a polí tica de demarcaça o de 
terras. Vale destacar que, apesar de caber ao antropo logo o laudo final, reconhecendo a 
etnicidade indí gena, o crite rio principal e a autodeterminaça o, o qual consiste na construça o de 
uma identidade coletiva que apresenta elementos de diferenciaça o em relaça o a sociedade 
nacional". Para a construça o de uma identidade coletiva – processo de autodeterminaça o – e 
importante que existam laços de pertencimento entre os membros grupo, fortemente 
associados a relaço es de vizinhança, de consanguinidade (parentesco) e tambe m a relaço es de 
alianças (casamentos). Ale m da vinculaça o com o territo rio, e importante que haja a vinculaça o 
cultural e significados simbo licos. Ou seja, determinados lugares devem possuir significado 
simbo lico ou mesmo ritualí stico dando sentido a organizaça o do grupo. Refere ncia: RIBEIRO, 
Alessandra Stremel Pesce. Teoria e Pra tica em Antropologia. Curitiba: InterSaberes, 2016, 
p.204. 
 
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“[...] a chegada dos europeus a s Ame ricas proporcionou grandes mudanças. Ja observamos que, 
na visa o medieval, ate enta o predominante, havia uma ideia de que o mundo era limitado pelos 
oceanos – na o foi a toa que as terras ale m-mar foram chamadas de Novo Mundo. O novo 
continente (e todas as coisas que havia nele) despertou curiosidade e perplexidade aos olhos 
europeus, que sentiram um choque quando encontraram os povos que viviam nas Ame ricas. 
Desse modo, o encontro causou um estranhamento nos europeus com relaça o aos costumes e 
ha bitos dos povos americanos. Ainda, que esses povos na o fossem os monstros esperados, eram 
muito diferentes da civilizaça o europeia. Isso pode ser observado no seguinte trecho de Ame rico 
Vespu cio "Tomam tantas mulheres quantas querem, e o filho se junta com a ma e, e o irma o com 
a irma , e o primo com a prima, e o caminhante com a que encontra. Basta vontade de 
matrimoniarem [...] ale m disso na o possuem templos nem leis”. Outro ponto que pode ser 
destacado foi o choque provocado pelo canibalismo de algumas sociedades. Os europeus 
consideraram os povos origina rios foram considerados ba rbaros em raza o desses 
comportamentos. Refere ncia: RIBEIRO, Alessandra Stremel Pesce. Teoria e Pra tica em 
Antropologia. Curitiba: InterSaberes, 2016, pp. 66-68, adaptado. 
 
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No senso comum, ha uma ideia de imobilidade das sociedades indí genas na histo ria colonial, 
como se, para existirem e serem reconhecidas, elas devessem permanecer como eram antes da 
chegada dos europeus. Assim, e muito comum ouvirmos, durante os trabalhos de campo que 
realizamos, argumentos como: 'Aqui na o tem mais í ndio, esta o todos civilizados'; 'Aqui na o tem 
mais í ndio bravo, foram todos pacificados'. Tais colocaço es revelam pontos de vista que 
reproduzem a polí tica colonial brasileira. Sempre houve grande intolera ncia em relaça o ao 
indí gena, e por muito tempo foi polí tica do Estado colonial suprimir manifestaço es e costumes 
 
 
 
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indigenistas. Surgiram grandes projetos de aldeamentos e a fundaça o de misso es religiosas (na o 
apenas as jesuí ticas), nas quais os grupos eram impelidos – para na o dizer forçados – a viver 
segundo os moldes dos “brancos”. Todas essas questo es na o apenas deslocaram va rios grupos 
de seus territo rios originais, mas levaram geraço es inteiras a negar sua ancestralidade. [...] o 
í ndio aldeado, o í ndio que foi ‘misturado’, que os missiona rios e bandeirantes descreveram, na o 
pode ser culpado de ter perdido suas refere ncias territoriais originais. Refere ncia: RIBEIRO, 
Alessandra Stremel Pesce. Teoria e Pra tica em Antropologia. Curitiba: InterSaberes, 2016, pp. 
201-203, adaptado. 
 
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Nenhum í ndio vira civilizado, o que ha e que um povo indí gena, mantendo sua indianidade, vai 
morrendo e, ao lado dele, surge um nu cleo humano que cresce a custa dele e que cresce contra 
ele, que e o nu cleo civilizado. Enta o, assim como na o ha conversa o, na o ha assimilaça o. O que 
ha e uma integraça o inevita vel. Se o í ndio e cada vez mais cercado de um contexto civilizado ou 
comercializado, se ele pro prio se converte em ma o de obra, se ele pro prio tem que produzir 
mercadoria, e claro que ele tem uma integraça o cada vez maior com a sociedade nacional. Mas 
esta integraça o na o quebra nele a identidade, que e como a do judeu, como a do cigano. Ele 
mante m a sua identidade como indí gena. Apesar de transformados os costumes, apesar de 
mudar o modo de se vestir. Apesar de todas essas mudanças, ele permanece indí gena.” 
Entrevista com Darcy Ribeiro. Disponí vel em 
http://www.casadobruxo.com.br/ilustres/darcy_entre.htm Acesso em 30.nov.2018. Como 
vimos nessa entrevista, a integraça o entre indí genas e na o indí genas passa pelo processo de 
aculturaça o. A noça o de aculturaça o trazia dois problemas fundamentais: 1) na o contemplava 
as questo es de conflito e dominaça o; 2) ao enfocar as mudanças culturais no interior da cultura, 
parecia normal ou evidente que as sociedades tidas como mais primitivas perdessem 
determinados traços para adotar outros Refere ncia: RIBEIRO, Alessandra Stremel Pesce. Teoria 
e Pra tica em Antropologia.Curitiba: InterSaberes, 2016, p. 106, adaptado. 
 
Tema: A cultura e seus adjetivos (popular, erudita, de massa ou nacional) 
A abordagem da histo ria da Europa e importante para apontar elementos importantes que 
contribuí ram para o surgimento e para as transformaço es da antropologia. Quanto ao termo 
popular, tambe m na o e diferente: tem origem na sociedade europeia, entre o fim da idade me 
dia e o iní cio da idade moderna. No perí odo de formaça o dos Estados Nacionais a sociedade 
possuí a uma estrutura hiera rquica, formada pelas classes clero, aristocracia e plebeus. A classe 
dominante era o clero, que controlava va rios mecanismos de dominaça o. O rei era coroado 
apenas mediante a autorizaça o da igreja com relaça o ao seu direito divino de governar. Da 
mesma forma, o sistema tributa rio respondia a hierarquia social e, nesse caso, os camponeses 
eram os mais penalizados. A terra na o pertencia a eles, mas aos nobres, a quem pagavam 
tributos e entregavam parte da produça o. Assim como na economia e na polí tica, o 
conhecimento formal estava inscrito nas classes mais altas: clero e alta aristocracia. Os 
camponeses, em geral, na o eram alfabetizados. Assim como ocorria na polí tica e na economia, 
o conhecimento formal (escrito) estava nas ma os de poucas pessoas. Vale destacar que, nessa 
 
 
 
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e poca, a maioria da populaça o era constituí da por pessoas na o letradas. O acesso aos textos 
escritos, tanto filoso ficos quanto litera rios, era restrito, concentrado em poder do clero e da alta 
aristocracia. Tratava-se de uma forma de controle. Ale m disso, esse movimento dava iní cio a 
dissociaça o entre cultura erudita e cultura popular. Refere ncia: RIBEIRO, Alessandra Stremel 
Pesce. Teoria e Prática em Antropologia. Curitiba: InterSaberes, 2016, p.133, adaptado. 
 
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A cultura nacional passou a ser um elemento para evocar a brasilidade, mas de qual cultura 
estamos falando, dada a diversidade de manifestaço es existentes no paí s? Poucos elementos 
foram alçados ao patamar de sí mbolos nacionais. Paralelamente a essa perspectiva, havia 
tambe m os movimentos regionalistas, que se voltavam que nunca existiu apenas uma, mas 
mu ltiplas identidades. O romance regionalista valorizava caracterí sticas locais, construindo 
personagens que sintetizavam modos de viver especí ficos. Podem ser citados como exemplos 
as obras o Tempo e o Vento de E rico Verí ssimo ou Gabriela, cravo e canela de Jorge Amado. Os 
temas retratados eram o modo de ser gau cho e as mu ltiplas faces das sociedades. Como 
exemplo, Verí ssimo tratava de questo es como o coronelismo, a religiosidade, os valores da 
burguesia baiana e de tipos populares. Refere ncia: RIBEIRO, Alessandra Stremel Pesce. Teoria e 
Prática em Antropologia. Curitiba: InterSaberes, 2016, p.141-142, adaptado. 
 
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A relaça o entre o trabalho e o acesso ao voto facilitado pelo empregador enfatiza a importa ncia 
que a polí tica sempre teve para o meio rural. O polí tico, geralmente tambe m patra o e 
empresa rio, e quem ainda hoje, faz a mediaça o entre a pessoa e os serviços pu blicos (os quais 
teoricamente sa o direitos universais dos cidada os). Va rios autores se dedicaram a essa questa o 
para mostrar como a polí tica se constituiu como algo personalizado e hiera rquico. As relaço es 
pessoais ainda esta o muito presentes na polí tica, sobretudo no interior do paí s. Para os 
trabalhadores do interior as relaço es pessoais na o sa o mal vistas. Tanto que na o e estranho 
trocar votos por pequenos favores polí ticos ou econo micos. Os trabalhadores na o enxergam isso 
pela o tica de 'venda' de votos, mas sim como uma ajuda mu tua. O polí tico ou comerciante tem 
acesso a locais que o trabalhador na o possui e acaba atuando como um mediador entre a pessoa 
e o Estado. Um exemplo e o caso das comunidades ribeirinhas do Amazonas (margens do Rio 
Japura ), onde existem comerciantes locais chamados de regato es. Esses comerciantes possuem 
grande influe ncia polí tica sobre os seus fregueses em e poca de eleiço es. Refere ncia: RIBEIRO, 
Alessandra Stremel Pesce. Teoria e Prática em Antropologia. Curitiba: InterSaberes, 2016, pp. 
171-172. 
 
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Na o podemos negar que a difusa o dos meios de comunicaça o e a penetraça o de modelos 
hegemo nicos promoveram transformaço es nas identidades (nacionais e locais). Precisamos nos 
perguntar quais sa o os impactos e as implicaço es dessas influe ncias globais e qual e o alcance 
delas. Falamos, em especial, da cultura de massa, que, na o raramente, e tratada como um 
 
 
 
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elemento de alienaça o e aniquilaça o de manifestaço es locais. A cultura de massa e fomentada 
pela grande mí dia e possui um cara ter mais fragmentado. Ela opera com base na novidade e 
com o propo sito de promover constantemente novas tende ncias e estimular o consumo. 
Refere ncia: RIBEIRO, Alessandra Stremel Pesce. Teoria e Pra tica em Antropologia. Curitiba: 
InterSaberes, 2016, p. 195. 
 
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“O funk se consolidou como ge nero ouvido por jovens da periferia de cidades por todo o Brasil, 
do Rio de Janeiro ao Recife. Ao lado dos ge neros conhecidos como “gospel”, ligados a s igrejas 
evange licas e opostos em termos de mensagem, o funk e para onde tendem a migrar 
adolescentes com interesse em fazer mu sica hoje na periferia. Cantado em portugue s, o funk 
frequentemente se tornou um canal para se relatar as dificuldades da vida na comunidade. Em 
meio a denu ncia, entretanto, o tom raramente soa resignado ou melanco lico. Muito mais comum 
nas letras e o orgulho da favela, da sua pote ncia criativa e capacidade de animaça o”. (Rocha, 
2017). O funk deve ser considerado uma expressa o cultural porque envolve valores e 
identidades de determinado grupo social (pa g. 22). Assim, o ritmo produz um sentimento de 
identidade e de pertencimento do jovem da periferia, uma vez que e responsa vel por denunciar 
as viole ncias e injustiças e por traduzir experie ncias cotidianas (pa g. 23). Assim, o funk possui 
a capacidade de criar uma expressa o da identidade e da realidade vivida na periferia, tanto que 
mesmo com a proliferaça o dos equipamentos mí dia e crescente difusa o do ge nero, ele ainda 
continua a representar as contradiço es dos subu rbios (pa g. 199). Refere ncia: RIBEIRO, 
Alessandra Stremel Pesce. Teoria e Pra tica em Antropologia. Curitiba: InterSaberes, 2016, 
adaptado. 
 
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“O po s-colonialismo surgiu tambe m como uma exige ncia de lugar para a fala, de uma 
preocupaça o de fazer valer a voz dos indiví duos de fora do primeiro mundo. Uma luta por 
representaça o e por espaços nos lugares centrais da academia. Nesta exige ncia da fala, alguns 
intelectuais, mais ligados a alguns paí ses especí ficos [...] passaram a falar [...] em nome de todos 
que viviam uma “situaça o po s-colonial” Apo s esta avaliaça o, caso queira ler o texto 
integralmente, ele esta disponí vel em: 
http://www.teoriaepesquisa.ufscar.br/index.php/tp/article/viewFile/71/61. Acesso em 01 de 
fevereiro de 2017. “Na periferia, os autores nativos apresentaram como caracterí stica o 
comprometimento de questo es associadas ao desenvolvimento e a s desigualdades, estas 
u ltimas quase sempre herança do regime colonial”. (livro-base, p.100) 
 
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No senso comum, classifica-se uma apresentaça o de bale como um evento culto por excele ncia. 
De saí da, o lugar onde o espeta culo e realizado ajuda para essa classificaça o: o teatro. Tomemos 
outro tipo de espeta culo que o senso comum pode classificar como o oposto de um bale : o baile 
funk. Fala-se que o funk ‘na o tem cultura’ ou e ‘musicalmentepobre’. No senso comum, associa-
 
 
 
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se o termo “cultura” a “cultura erudita”, a quela ligada a espaços de poder e distinça o social como 
o teatro e o bale , por exemplo. O uso antropolo gico, contudo, refere-se a toda manifestaça o ou 
pra tica que expresse os valores e a identidade de um dado grupo, como e o caso do baile funk, 
como expressa o cultural dos jovens negros e pobres no Brasil. Refere ncia: RIBEIRO, Alessandra 
Stremel Pesce. Teoria e Pra tica em Antropologia. Curitiba: InterSaberes, 2016, p. 22 adaptado. 
 
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Em um primeiro momento, o samba teria sido perseguido pelas elites como ba rbaro e 
incivilizado, para em seguida transformar-se no sí mbolo nacional que conhecemos hoje [...] o 
samba foi um fator de grande destaque na identificaça o de "o que e ser brasileiro". GOMES, 
Tiago de Melo. O Miste rio do Samba. Revista Brasileira de Histo ria, Sa o Paulo , v. 21, n. 42, p. 
525-530, 2001, p. 42. Esses elementos, ao se transformarem em sí mbolos nacionais, foram, 
em termos, dissociados de suas origens e contextos locais e, portanto, o seu poder de expressar 
a identidade de um grupo foi enfraquecido. Refere ncia: RIBEIRO, Alessandra Stremel Pesce. 
Teoria e Pra tica em Antropologia. Curitiba: InterSaberes, 2016, p. 149 adaptado. 
 
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“O mundo e dos que “sa o algue m”. “Ser algue m” e ter capital relacional, especialmente nestes 
tempos da indu stria das celebridades. Ser famoso mobiliza pessoas, e a pessoa passa a ser 
protegida. E “ser ningue m” e ser individualizado, e ser (e estar) so . Daí , no nosso Paí s, o tal do 
“jeitinho” e um rito autorita rio de distinça o, praticado por gente de todas as classes e 
categorias” Cla udio Loetz, Antropo logo explica o jeitinho brasileiro, disponí vel em 
http://anoticia.clicrbs.com.br/sc/economia/negocios/noticia/2014/05/antropologo-explica-
o-jeitinho-brasileiro-4514118.html Acesso em 30.nov.2018. O jeitinho e a carteirada sa o duas 
formas opostas de navegaça o social em uma sociedade que se pretende individualista e 
impessoal, mas que, contraditoriamente, esta pautada em relaço es pessoais. Enquanto a 
primeira tem como objetivo estabelecer uma relaça o pessoal, de proximidade entre pessoas; ja 
a segunda trata de criar uma separaça o, enfatizando uma diferença de status. Refere ncia: 
RIBEIRO, Alessandra Stremel Pesce. Teoria e Pra tica em Antropologia. Curitiba: InterSaberes, 
2016, pp. 173-175 adaptado.

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