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Capacidade Tributária

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INTRODUÇÃO 
 
O presente trabalho, buscar analisar o recurso de Nº 70076692060, julgado 
pelo Tribunal de justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS), o qual foi interposto pela 
COOPERATIVA ARROZEIRA EXTREMO SUL LTDA, em face do INSTITUTO 
RIOGRANDENSE DO ARROZ, para tanto, serão estudados os artigos de lei utilizados 
pela agravante, agravada e pelo TJ-RS. 
Também, será analisado o entendimento doutrinário sobre os conceitos 
abordados no referido recurso. 
O Agravado, IRGA (Instituto Rio Grandense do Arroz), foi criado e oficializado pelo 
Decreto Lei n.º 20, de 20 de junho de 1940, e institucionalizado pela Lei n.º 533, de 31 de 
dezembro de 1948, logo, trata-se de uma entidade pública, como autarquia e independência 
administrativa, financeira e orçamentária, subordinada ao Governo do Estado do Rio Grande 
do Sul, por intermédio da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Agronegócio. 
A Cooperativa agravante, em seu favor, alegou constituição de nulidade ao auto 
de lançamento da taxa de cooperação, uma vez que esta não demostrou a forma que 
utilizou para realização do cálculo monetário, buscou ainda, demostrar que os 
servidores do IRGA não possuíam competência para realizarem lançamentos dos 
tributos. 
A agravante, postulou ainda, a concessão de efeito suspensivo ao recurso e, 
ao final, o seu provimento, a fim de que seja julgada procedente a exceção de pré-
executividade. 
 
BREVE CONCEITO DE CAPACIDADE TRIBUTÁRIA ATIVA 
 
 Para melhor compreensão do tema proposto para estudo do referido julgado, 
qual seja, a Capacidade Tributária Ativa, é importante compreender que a 
Competência Tributária não é sinônimo da Capacidade tributária. Pois, Enquanto a 
Competência busca instituir tributos a competência busca fiscalizar e arrecadar os 
tributos já estabelecidos. 
A Constituição Federal em seu Art. 18, em consonância com o Art. 7º do Código 
Tributário Nacional, estabelecem que a Competência para criar tributos é indelegável, 
porém, a Capacidade para fiscalizar e arrecadar estes tributos pode ser delegada. 
Logo, a Capacidade Tributária Ativa, esta relacionada como aptidão delegada 
para que pessoas jurídicas de direito público, possam fiscalizar e arrecadar tributos. 
Contudo, com fulcro no parágrafo 3º do Art. 7º do supracitado diploma legal, esta 
delegação só poderá ocorrer se for em favor de outra pessoa de direito público, 
podendo ainda, ser revogada a qualquer tempo por ato unilateral do ente que a 
delegou. 
 Nesse sentido, assim dispõe o Art. 7º e §3º do Código Tributário Nacional, 
 
Art. 7º. A competência tributária é indelegável, salvo atribuição das funções 
de arrecadar ou fiscalizar tributos, ou de executar leis, serviços, atos ou 
decisões administrativas em matéria tributária, conferida por uma pessoa 
jurídica de direito pública a outra […]. 
§ 3º. Não constitui delegação de competência o cometimento, a pessoas de 
direito privado, do encargo ou da função de arrecadar tributos. 
 
 Além da função de delegada para arrecadar e fiscalizar, também é conferido a 
pessoa jurídica de direito público, os privilégios e garantias processuais. 
 
COMPETÊNCIAS DO IRGA 
 
 Foi sustentado pelo agravante o disposto no Art. 146, inciso III, alínea b, da CF, 
o qual menciona, que somente a lei complementar poderá “estabelecer normas gerais 
em matéria de legislação tributária, especialmente sobre obrigação, lançamento, 
crédito, prescrição, e decadência tributários”. 
 Dessa forma, segundo a cooperativa, o texto que permite ao IRGA ter 
competência para fiscalizar e arrecadar tributos, foi tacitamente revogado pela LC nº 
13.452/2010. 
 O Instituto agravado (IRGA), possui competência definida no art. 4º da Lei 
13.697/11, a qual corresponde à arrecadação e fiscalização de taxas no artigo 
previsto. 
 Em confronto a alegação do agravante, é conferido ao agravado a legitimidade 
ativa para a cobrança da taxa de cooperação sobre qual dispõe a legitimidade no Art. 
4º da lei 13.697/11, estando prevista, ainda, como se observa no Art. 20 do mesmo 
diploma, 
 
Art. 20 - A Taxa de Cooperação e Defesa da Orizicultura – Taxa CDO − de 
que trata a Lei n.º 5.645, de 24 de setembro de 1968, é fixada de acordo com 
o disposto na Lei n.º 8.504, de 31 de dezembro de 1987, incidente sobre 
sacos de 50 quilos de arroz e é devida ao IRGA, tendo por fato gerador a 
utilização efetiva ou potencial dos serviços específicos e divisíveis que a 
Autarquia presta ou põe à disposição dos produtores de arroz do Estado. 
(Redação dada pela Lei n.º 13.697/11). 
 
 Ressalta-se ainda conforme disposto no Art. 6º do Decreto Estadual n. 
19.604/69, “[…] a fiscalização desta taxa será feita pelo IRGA, por intermédio de seus 
funcionários, devidamente credenciados […]”. 
 Observa-se que, a lei complementar estadual n. 13.452/10, não revogou o 
Decreto Estadual n. 19.604/69, conquanto disponha em seu artigo 12, 
 
Art. 12 – Compete privativamente ao Agente Fiscal do Tesouro do Estado o 
exercício da ação fiscal relativa aos tributos de competência do Estado e das 
demais prerrogativas e atribuições nesta Lei Orgânica. 
 
 Nesse sentido, o Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, já 
pacificou entendimento no que tange a competência do IRGA, conforme julgado que 
segue, 
 
AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO TRIBUTÁRIO. IPTU EMBARGOS À 
EXECUÇÃO. NULIDADE DA CDA. INOCORRÊNCIA. (...). AUTO DE 
LANÇAMENTO. COMPETÊNCIA. IRGA: Embora o Estado do Rio Grande do 
Sul tenha competência para instituir a Taxa de Cooperação e Defesa da 
Orizicultura - Taxa CDO, não a tem para a arrecadação, cuja titularidade, por 
definição legal, pertence ao Instituto Riograndense do Arroz - IRGA, nos 
termos da Lei Estadual nº 5.645/68. O artigo 6º, do Decreto Estadual nº 
19.604/69, prevê, ainda, que a arrecadação e fiscalização será feita por 
intermédio de funcionários com poderes idênticos aos atribuídos a inspetores 
e fiscais do ICMS, não havendo, portanto qualquer nulidade do auto de 
lançamento pelo fato de ter sido lavrado por servidor do IRGA. (...). 
RECURSO DESPROVIDO. UNÂNIME. (Agravo de Instrumento 
Nº 70066820564, Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: 
João Barcelos de Souza Junior, Julgado em 24/02/2016). 
 
Com fulcro no agravo de instrumento julgado em citado, o Estado do Rio 
Grande do Sul, usufrui da competência de instituição da taxa CDO, bem como, possui 
competência para fiscalizar e arrecadar tributos, conforme disposto no art. 4º da Lei 
13.697/11. 
 
 
 
 
CERTIDÕES DE DÍVIDA ATIVA 
 
 A cooperativa agravante, alega que as certidões de dívida ativa são nulas, uma 
vez que, embora não atende as exigências expressas no Art. 2º, § 5º, II, IV e § 6º da 
Lei 6.830/80, o que também segue disposto de forma semelhante no II do Art. 202º do 
Código Tributário Nacional (CTN). 
 
Art. 2º (…) § 5º – O termo de inscrição de Dívida Ativa deverá conter: 
II – O valor originário da dívida, bem como o termo inicial e a forma de calcular 
os juros de mora e demais encargos previstos em lei ou contrato; 
IV – A indicação, se for o caso, de estar a dívida sujeita à atualização 
monetária, bem como o respectivo fundamento legal e o termo inicial para o 
cálculo; 
[...] § 6º – A certidão de Dívida Ativa conterá os mesmos elementos do Termo 
de Inscrição e será autenticada pela autoridade competente. 
 
O texto de lei supracitado, já foi abordado pela doutrina e segundo Sabbag, 
conceitua-se como Certidão de Dívida Ativa, o documento que certifica a inscrição do 
débito em dívida ativa. (Sabbag, 2017) 
 Ainda, segundo o autor, 
 
O dispositivo é claro: mostra a necessidade de se evidenciarem o valor 
originário da dívida e a indicação dos elementos necessários para o cálculodo tributo, em sua evolução no tempo. A maior celeuma se dá quanto a esta 
“maneira” de calcular os juros. (Sabbag, pag. 1347, 2017,) 
 
 Contextualizando o entendimento doutrinário, o Art. 203 do CTN, dispõe que a 
omissão de algum dos requisitos do Art. 202, acarretará à nulidade da inscrição na 
Dívida Ativa. 
 Logo, segundo a cooperativa, a falta de apresentação de demonstrativos da 
forma como foi calculada a correção monetária, torna o ato ilícito, razão pela qual, o 
recurso deveria ser provido pelo egrégio Tribunal. 
Embora a agravante tenha se fundado em argumentos legais que são 
recepcionados pela doutrina, este não foi o entendimento do relator do recurso, tendo 
em vista que de acordo com o desembargador Miguel Ângelo da Silva, a certidão foi 
apresentada e preencheu todos os requisitos exigidos, logo, a mesma, goza de 
presunção de certeza, liquidez e exigibilidade, cumprindo assim, a exigência disposta 
no Art. 204 do Código Tributário Nacional. 
Menciona-se ainda, que foram atendidas as demais exigências, além da qual 
foi alegada pelo agravante, bem como o nome do devedor, endereço, natureza do 
crédito, data de inscrição da dívida e a quantia devida. 
 Feito a ressalva de que embora não conste a forma de cálculo dos juros de 
mora, isto não acarretará em nulidade tão somente. 
 
TRIBUTÁRIO – EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL – ICMS – CERTIDÃO 
DE DÍVIDA ATIVA – REQUISITOS FORMAIS (ARTS. 202 E 203 DO CTN E 
ART. 2º , § 5º, DA LEF) – OMISSÕES E CONTRADIÇÃO: INEXISTÊNCIA – 
FUNDAMENTAÇÃO DEFICIENTE: SÚMULA 284/STF – AUSÊNCIA DE 
PREQUESTIONAMENTO: SÚMULA 282/STF. 
[...] 
6. Os requisitos formais da CDA visam dotar o devedor dos meios 
necessários a identificar o débito e, assim, poder impugná-lo. 
7. Não se exige cumprimento de formalidade, sem demonstrar o prejuízo que 
ocorreu pela preterição da forma. Princípio da instrumentalidade dos atos. 
8. A omissão na CDA, quanto à indicação da forma de cálculo dos juros de 
mora, não leva à nulidade do título,se tais informações constam de processo 
administrativo juntado aos autos da execução, sendo, portanto, do 
conhecimento do devedor. Além disso, tal informação decorre da legislação 
pertinente, indicada na CDA. 
9. Recurso especial conhecido em parte e, nessa parte, não provido. 
(REsp 891.137/RS, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, 
julgado em 15/04/2008, DJe 29/04/2008). 
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Embora os argumentos da agravante tenham se fundado em dispositivos 
legais, e a doutrina tenha um pensamento que recepciona tais fundamentos, este não 
foi o entendimento dos desembargadores da Vigésima Segunda Câmara Cível, visto 
que tanto no pedido de nulidade das certidões de dívida ativa que embasam o 
processo executivo, quanto no pedido de nulidade do lançamento tributário feito por 
servidor do IRGA, os desembargadores entenderam que as exigências destacadas 
pelo agravante não devem ser suportadas. 
Dessa forma, por unanimidade dos votos, os julgadores do Tribunal de Justiça 
do Estado do Rio Grande do Sul, decidiram em negar provimento ao recurso 
interposto. 
Tendo em vista que o egrégio Tribunal, já tem entendimento pacificado a 
respeito dos temas abordados pela agravante. 
 
REFERÊNCIAS 
 
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 
Brasília, DF, 1988. 
 
BRASIL, Lei Nº 5.172, de 25 de outubro de 1966. Código Tributário Nacional. 
Brasília, DF, 1966. 
 
BRASIL, Lei N.º 13.697, de 05 de abril de 2011. Estatutos Do Instituto Rio 
Grandense Do Arroz. Rio Grande do Sul, 2011. 
 
BRASIL, Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 
70076692060, oitava câmara Vigésima Segunda Câmara Cível. Relator: des. Miguel 
ângelo da silva. Julgado em 31 de jul. 2018. 
 
SABBAG, Eduardo. Manual de Direito Tributário. 9ª ed. São Paulo: Saraiva 2017.

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