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CAPÍTULO 1
Origens da História Cultural
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
 3 Identificar os debates que forjaram o desenvolvimento da história cultural. 
 3 Definir o significado dos conceitos de cultura popular, tradição e cultura e sua relação 
com o processo de construção do conhecimento histórico. 
 3 Analisar a aplicação dos termos de “cultura popular” e “tradição” em reflexões sobre 
o seu cotidiano. 
 3 Debater o significado da “cultura” no saber historiográfico e sua aplicação 
no ambiente escolar, com o intuito de valorizar os saberes dos alunos. 
10
 História Cultural
10
11
 Origens da História Cultural
11
 Capítulo 1 
COntextualizaçãO
A história cultural é entendida muitas vezes como uma ramificação do 
estudo da História. No entanto, ela engloba uma grande variedade de temas 
e métodos, não existindo um consenso entre os historiadores sobre os seus 
limites e suas fronteiras. Como afirma o historiador britânico Peter Burke, definir 
a história cultural é “como tentar prender uma nuvem em uma rede de caçar 
borboletas” (BURKE, 2000, p. 233.). A história cultural não deve ser vista como 
mais uma entre as diversas disciplinas históricas especializadas. O cultural 
constitui um campo multidisciplinar capaz de articular temas e questões mais 
ou menos dispersos pelas disciplinas especializadas. Há os que definem a 
história cultural como algo que pode estar relacionado entre o econômico, o 
mental e o social. Dessa forma, a história cultural não deve ser vista como 
uma denominação ou campo da história, mas percebida como constituinte de 
diversas dimensões do saber historiográfico.
Apresentaremos neste capítulo uma linha de desenvolvimento dos debates 
que definiram, em termos gerais, os campos de atuação da história cultural. 
Apesar das dificuldades, podemos enfrentar o problema de caracterizar o 
estudo da cultura na História e ampliar nossas ferramentas pedagógicas para 
a transmissão de um conhecimento histórico que seja amplo e plural. 
Nosso primeiro passo nesse caminho será o de definir os conceitos básicos 
que envolvem o estudo da cultura na História. Os problemas encontrados 
pelos historiadores para delimitar a história cultural estão, principalmente, na 
amplitude do atual conceito de “cultura” adotado pela historiografia. Contudo, 
para traçar linhas gerais dos estudos que englobam a história cultural se torna 
necessário observar a historicidade dos conceitos adotados por ela, como 
“cultura”, “tradição” e “popular”. 
 
a HistOriCidade dO COnCeitO de Cultura
A grande dificuldade de definir a história cultural deriva das diversas 
denominações dadas ao termo “cultura”. Muitas vezes não conseguimos 
ter precisão no significado dessa palavra aparentemente tão simples. 
Habitualmente no senso comum a palavra cultura está associada à ideia 
de educação formal ou conhecimento, a atividade intelectual de um 
indivíduo. “Aquela pessoa tem cultura”, ou seja, aquela pessoa teve uma 
boa formação educacional.
 
A história cultural não 
deve ser vista como 
uma denominação 
ou campo da história, 
mas percebida 
como constituinte de 
diversas dimensões do 
saber historiográfico.
12
 História Cultural
12
Segundo Alfredo Bosi, a palavra “Cultura” deriva do verbo 
latino colo, que significa ocupar a terra, cultivar o campo. O 
vocábulo cultus, de onde vem cultura, está associado ao campo 
já ocupado e plantado por gerações de lavradores. (BOSI, 
1992, p. 11 – 16.) A partir do século XVIII, com a revolução 
iluminista, começou a se configurar a ideia moderna de cultura, 
e esta passa a designar o “estado do espírito cultivado pela 
instrução, estado do indivíduo que tem cultura”. Dessa forma, 
“cultura” se opunha a “natureza” e se aproximava da ideia de 
“progresso” e “civilização”. Somente com o desenvolvimento 
das ciências sociais no século XIX e XX é que “cultura” começa 
a ser empregada como o conjunto de práticas e símbolos de 
determinada sociedade. (CUCHE, 2002, p. 18 – 19).
Como vimos na definição de Alfredo Bosi, originalmente cultura estava 
relacionada à ação de cultivar o campo, ou seja, da atividade agrícola. Se 
prestarmos atenção à historicidade do significado de cultura, podemos 
perceber que essas mudanças são frutos das crenças correntes em 
determinado tempo histórico. As palavras têm história. Dessa forma, ao 
estudar o desenvolvimento da história cultural, notamos que a noção de 
cultura responde a certos problemas e reflexões de determinada sociedade 
em determinado tempo histórico. Assim, para entender as origens da 
história cultural é necessário observar o contexto em que se forma e o 
significado assumido pela palavra “cultura”. 
Atualmente existem ideias diferentes sobre o que constitui a “cultura”. A 
ampliação do interesse dado pelos historiadores a essa temática diversificou 
as noções e suas aplicações no entendimento das práticas sociais. 
No século XIX, período de “surgimento” da história cultural, o termo 
referia-se a arte, literatura ou manifestações da ciência e da filosofia. Hoje, no 
entanto, influenciados pelos estudos antropológicos, os historiadores utilizam 
o termo de forma mais ampla, associando-o a qualquer manifestação social. 
Poderíamos perceber também a utilização de duas visões gerais sobre 
cultura que distinguem os princípios da história cultural dos novos debates 
historiográficos. Nas origens da história cultural o conceito de “cultura” 
carregava um forte teor etnocentrista que relacionava a cultura à ideia 
de civilização. Nessa visão, a cultura apresentava-se como algo unitário, 
ou seja, a civilização referia-se ao modelo europeu Ocidental. De outra 
forma, com a aproximação da história aos estudos antropológicos, houve o 
Para entender as 
origens da história 
cultural é necessário 
observar o contexto 
em que se forma e o 
significado assumido 
pela palavra “cultura”. 
13
 Origens da História Cultural
13
 Capítulo 1 
desenvolvimento de uma noção mais ampla do conceito. As “culturas” eram 
pensadas agora no plural.
A noção difundida nos círculos intelectuais europeus em fins do século 
XVIII e primeira metade do século XIX estiveram intimamente ligadas à 
concepção adotada pelos primeiros historiadores culturais. Durante o 
movimento iluminista francês, no século XVIII, a palavra “cultura” ganha um 
sentido figurado. Ela vinha normalmente acompanhada de adjetivos como 
“cultura das letras”, do “espírito”, das “artes” e das “ciências”. 
A partir desse momento o significado se afasta da ideia de “ação de cultivar 
o intelecto” e se aproxima da noção moderna de “estado do intelecto cultivado”, 
ou seja, do “indivíduo que tem cultura”. A disseminação dessa concepção 
através da Europa Ocidental se insere no contexto do surgimento da ideia de 
progresso, evolução, educação e razão. Cultura, escrita no singular, reflete a 
ideologia do iluminismo.
Na França a palavra se aproximou da ideia de civilização, entendida 
como o refinamento dos costumes que retira a humanidade da ignorância 
e da irracionalidade. No entanto, a civilização não se estende a todos os 
povos da humanidade. Existem sociedades mais avançadas, que podem ser 
consideradas “civilizadas”, e outros povos, “selvagens”, em estágios inferiores 
de desenvolvimento cultural. 
Ainda no século XVIII, nos territórios que virão a configurar o Estado 
alemão, a palavra Kultur assumiu uma denominação bastante similar à 
adotada na França. No entanto, na Alemanha, no decorrer dos séculos XVIII e 
XIX, a “cultura – civilização” perdeu sua conotação aristocrática e se converteu 
em símbolo de distinção das diferenças nacionais. A “cultura” se aproxima da 
noção de “nação”. Segundo Cuche:
O conceito francêscontinua marcado pela ideia de unidade 
do gênero humano. Entre os séculos XVIII e XIX na França, 
há uma continuidade do pensamento universalista. A 
cultura, no sentido coletivo, é antes de tudo a “cultura da 
humanidade”. Apesar da influência alemã, a ideia de unidade 
suplanta a consciência da diversidade: além das diferenças 
que se pode observar entre a “cultura alemã” e a “cultura 
francesa”, há a unidade da “cultura humana”. [...] No século 
XX, a rivalidade dos nacionalismos francês e alemão e 
seu enfrentamento brutal na guerra de 1914 – 1918 vão 
exacerbar o debate ideológico entre as duas concepções 
de cultura. As palavras tornam-se slogans utilizados como 
armas. [...] O debate franco-alemão do século XVIII ao 
século XIX é arquetípico das duas concepções de cultura, 
uma particularista, a outra universalista, que estão na base 
das duas maneiras de definir o conceito de cultura nas 
ciências sociais contemporâneas (CUCHE, 2002, p. 30).
14
 História Cultural
14
Através do debate franco-alemão em torno do conceito de cultura podemos 
observar que a definição e a utilização de determinada noção possui uma 
forte conexão com a conjuntura histórica. É importante destacar essa relação 
para compreendermos as concepções adotadas pela historiografia durante o 
desenvolvimento da história cultural.
Destacamos que durante um primeiro momento de surgimento da 
problemática cultural no estudo da história, o conceito de cultura traz uma 
forte carga ideológica que distingue as civilizações de cultura avançadas, das 
culturas primitivas em estágios inferiores de cultura. 
A ciência que estuda a cultura, a antropologia, desenvolveu no século 
XIX teorias para embasar o estudo das sociedades humanas. As primeiras 
correntes antropológicas, qualificadas de evolucionistas, observavam que o 
homem possuía uma unidade bio-psicológica, que o faz responder igualmente 
aos mesmos desafios. A diferença é explicada através de um eixo temporal, 
ou seja, através de estágios de evolução da cultura. A cultura é uma só, a 
do homem civilizado do século XIX. O restante eram estágios inferiores de 
civilização. Para os evolucionistas, assim como para os primeiros historiadores 
culturais, a “cultura” está associada ao progresso e ao desenvolvimento 
tecnológico. Devemos observar que essas ideias se vinculam ao momento do 
expansionismo e colonialismo europeu na África e Ásia do século XIX.
 
Inserido nesse contexto está o etnólogo inglês Edward Tylor, que, em 
1871, disse sobre a cultura: “tomado em seu amplo sentido etnográfico, é 
este todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, 
costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem 
como membro de uma sociedade” (TYLOR, 1975, p. 29). Na definição de 
Tylor, cultura assumia uma dimensão ampla de todas as possibilidades de 
realizações humanas, fossem elas materiais ou mentais.
O texto completo de Edward Tylor (1832 – 1917), em 
espanhol, pode ser baixando na página virtual da Universidade 
de Guadalajara do México – TYLOR, Edward. B. La ciencia de 
la cultura. In: Kahn, J. S. (Comp.), El concepto de cultura. 
Barcelona: Anagrama, 1975. (p. 29-46). Disponível em: <http://
mail.udgvirtual.udg.mx/biblioteca/handle/20050101/890?mode=si
mple>. Acesso em: 30 abr. 2009. 
15
 Origens da História Cultural
15
 Capítulo 1 
Em fins do século XIX, uma das primeiras críticas aos métodos 
evolucionistas de análise da cultura veio do alemão Franz Boas (1858 – 1942). 
Para Boas, o método comparativo adotado por Tylor pecava na tentativa de 
estabelecer leis de evolução histórica da cultura. Segundo ele, “o objetivo de 
nossa investigação é descobrir processos pelos quais certos estágios culturais 
se desenvolveram. Os costumes e as crenças, em si mesmos, não constituem 
a finalidade última da pesquisa. Queremos saber as razões pelas quais tais 
costumes e crenças existem – em outras palavras, desejamos descobrir a 
história de seu desenvolvimento” (BOAS, 2004, p. 33).
No entanto, a aproximação entre a antropologia e a história só ocorreu, 
mais intimamente, a partir da década de 1960, com a influência mais direta de 
antropólogos como Bronislaw Malinowiski, Marcel Mauss, Claude Levi-Strauss 
e Cliffort Geerts, para referir-nos somente aos mais destacados. A “nova 
história cultural” surgida dessa aproximação revisitou os historiadores culturais 
“clássicos” para abandonar as concepções reducionistas de “cultura”.
Embora busquemos algumas definições a respeito do conceito de cultura, 
não é nosso objetivo engessá-la num significado fechado, colocando-a a 
como uma categoria de análise histórica imutável. Considerando que para 
a história os conceitos são elásticos e podem se transformar de acordo 
com a conjuntura da qual fazem parte, não nos interessa tanto definir com 
exatidão o conceito de cultura, mas sim compreender as diferentes formas 
pelas quais foi apropriado e as implicações sociais em decorrência disso. 
Ou ainda compreender de que maneira os contextos sociais possibilitaram 
a mudança da concepção de cultura em nossa sociedade. Afinal, o conceito 
ou a categoria de análise estão diretamente relacionados às demandas de 
um tempo histórico, você não acha?
Para saber mais sobre as categorias de análise da história, ver: 
THOMPSON, Edward Palmer. A miséria da Teoria ou um 
planetário de erros. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.
16
 História Cultural
16
Atividade de Estudos: 
Caro pós-graduando,
Algumas das atividades propostas ao longo dos capítulos 
deste caderno deverão ser realizadas por você, com a possibilidade 
de serem aplicadas, em sala de aula, aos seus alunos. Ao fazer a 
atividade o professor poderá analisar as dificuldades práticas de 
sua aplicabilidade e, se necessário, implementar alterações ou 
reconstruí-la, tendo como base o objetivo de proporcionar uma 
compreensão menos teórica do tema discutido.
Nessa direção, propomos:
1) __________________________________________________
Elabore um texto discutindo o conceito de cultura a partir do 
tema: “O (des)encontro entre indígenas e europeus no Brasil no 
século XVI”. Escreva a partir de dois enfoques diferentes, um 
deles aproximando o conceito de cultura da ideia de civilidade, o 
outro, da perspectiva da cultura constituída a partir de diferentes 
manifestações sociais.
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17
 Origens da História Cultural
17
 Capítulo 1 
a História Cultural “ClássiCa”
É importante notar que o desenvolvimento da história cultural foi 
influenciado em grande medida pelos debates que ocorriam em outras 
ciências, como a antropologia e a sociologia. O termo “cultura” começou a ser 
empregado no estudo da história a partir do século XIX. Nesse momento, o 
termo carregava ainda uma noção pejorativa de povos em estágios “inferiores” 
de desenvolvimento.No século XIX, a historiografia entendia cultura como as expressões da 
arte, da literatura e das ideias filosóficas. Assim, os primeiros historiadores 
culturais viam nas culturas grega e romana a evolução de uma expressão 
artística e filosófica “superiores” a outros povos da antiguidade.
Na história da história cultural, Burke aponta que o período entre 1800 e 
1950 é uma fase que pode ser chamada de “clássica”. Nesse contexto, dois 
autores se destacam: o historiador suíço Jacob Burckhardt, que escreveu 
A cultura do Renascimento na Itália (1860); e o historiador holandês Johan 
Huizinga, com O declínio da Idade Média (1919). Para esses autores, a 
preocupação central da história cultural residia em estabelecer um retrato de 
uma época através do estudo de diferentes manifestações artísticas.
Burckhardt elaborou uma história da cultura em que a obra de arte 
ocupava lugar essencial no seio dos diferentes componentes da civilização. 
Para ele, a civilização é considerada como um todo que se encontra dividido 
em elementos ou, como denomina ele, “potências”. Em sua principal obra, A 
cultura do Renascimento na Itália (1860), Burckhardt “descreveu o que chamou 
de individualismo, competitividade, autoconsciência e modernidade na arte, na 
filosofia e até na política da Itália renascentista” (BURKE, 2008, p. 18.). 
Para saber mais sobre as contribuições de Jacob Burckhardt 
para a história da cultura, leia: 
FERNADES, Cássio da Silva. Jacob Burckhardt e a preparação 
para a cultura do Renascimento na Itália. In: Fênix - Revista de 
História e Estudos Culturais. Uberlândia, Vol. 3, Ano III, no. 
3, Jul/ago/set – 2006. Disponível em: <www.revistafenix.pro.br/
PDF8/ARTIGO2-Cassioda.Silva.Fernandes.pdf>. Acesso em: 20 
mai. 2009. 
É importante notar que 
o desenvolvimento 
da história cultural 
foi influenciado em 
grande medida pelos 
debates que ocorriam 
em outras ciências, 
como a antropologia e 
a sociologia. O termo 
“cultura” começou a 
ser empregado no 
estudo da história a 
partir do século XIX.
18
 História Cultural
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FERNADES, Cássio da Silva. As contribuições de Jacob 
Burckhardt ao Manual de História da Arte de Franz Kugler (1848). 
Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 25, nº 49, p. 99-124 
– 2005. Disponível em: <www.scielo.br/pdf/rbh/v25n49/a06v2549.
pdf>. Acesso em: 20 mai. 2009. 
Para melhor compreendermos as idéias de Burckhardt, podemos retomar 
suas Reflexões sobre a História, em que ele aponta para o estudo das “três 
potências” que compõem a civilização: o Estado, a religião e a cultura. Nesse 
contexto, cultura, para Burckhardt, incluía 
todas as congregações, artes, técnica, expressões literárias 
e ciências. Ela constitui o mundo de tudo o que é dinâmico, 
livre, não sendo necessariamente universal e nunca impondo 
pela força a sua aceitação. [...] Chamamos de cultura a soma 
total de criações espontâneas do espírito.
Dessa forma, a cultura se contrapunha a um estado de barbárie em que 
viviam determinadas sociedades. Ela constituía:
O processo pelo qual se transformava as ações espontâneas 
e instintivas de uma determinada raça num conhecimento 
inteligente, conduzindo-a, no seu verdadeiro e mais elevado 
estágio, à ciência e particularmente à filosofia e à reflexão 
pura. Sua forma global externa, porém relacionada com o 
Estado e a Religião, constitui a sociedade em seu sentido 
mais amplo. (BURCKHARDT, 1961, p. 62 – 63.)
Burckhardt utilizou a ideia de “cultura” superior para diferenciar estágios 
de desenvolvimento das ideias filosóficas. Em suas preocupações estavam 
temas como a cultura grega, o pensamento cristão medieval e o renascimento 
italiano, mostrando uma preocupação de traçar uma linha evolutiva do 
pensamento dito “universal”. Como afirma ele: 
ao considerarmos agora a cultura do século XIX como uma 
cultura universal, verificamos que ela possui as tradições 
de todos os tempos e culturas, do mesmo modo que a 
literatura do nosso tempo é uma literatura eminentemente 
cosmopolita, universal. (BURCKHARDT, 1961, p. 73).
Já em princípios do século XX, outro historiador assumiu um papel de 
destaque no que se refere à história cultural. Johan Huizinga estudou sobre a 
Índia antiga, a França medieval e a cultura holandesa do renascimento, tendo, 
em alguns aspectos, proximidades e divergências com Jacob Burckhardt. 
Em 1929, em ensaio intitulado A tarefa da história cultural, “retratava que o 
principal objetivo do historiador cultural era de retratar padrões de cultura, em 
19
 Origens da História Cultural
19
 Capítulo 1 
outras palavras, descrever os pensamentos e sentimentos característicos de 
uma época e suas expressões ou incorporações nas obras de literatura e arte” 
(BURKE, 2008, p. 19).
Sua principal obra, O declínio da Idade Média, trazia no original um 
subtítulo que expressava sua concepção de cultura: um estudo sobre as 
formas de vida, pensamento e arte na França e na Holanda no século XIV e 
XV. De forma geral, o livro tratava do simbolismo e ritualização da arte em fins 
do período medieval.
Está claro que, dado o desenvolvimento que o estudo da cultura havia 
assumido nas primeiras décadas do século XX, as concepções de Huizinga 
se aproximavam mais da noção plural adotada na antropologia. Em 1938, ele 
publicou um livro intitulado Homo Ludens: o jogo como elemento da cultura, no 
qual afirma que “o jogo é fato mais antigo que a cultura, pois esta, mesmo em 
suas definições menos rigorosas, pressupõe sempre a sociedade humana”. E 
mais adiante prossegue:
O fato de apontarmos a presença de um elemento lúdico na 
cultura não quer dizer que atribuamos aos jogos um lugar 
de primeiro plano, entre as diversas atividades da vida 
civilizada. [...] Não queremos dizer que o jogo se transforma 
em cultura, e sim que em suas faces mais primitivas da 
cultura possuí um caráter lúdico. (HUIZINGA, 1993, p. 53.)
Nessa obra, Huizinga utiliza os estudos dos antropólogos Marcel Mauss e 
Bronislaw Malinowiski, trazendo uma reflexão sobre “cultura” através de suas 
dimensões simbólicas. No entanto, persistem as distinções entre o que ele 
qualifica de “a vida civilizada” e as “faces mais primitivas da cultura”. 
 
Para saber mais sobre Huizinga, leia:
PAULA, João Antônio. Para lembrar Huizinga: 1872 – 1945. 
In: Nova Economia: revista do departamento de economia da 
UFMG. Belo Horizonte: n. 15 (1) janeiro-abril de 2005. p. 141-
148. Disponível em: <www.face.ufmg.br/novaeconomia/sumarios/
v15n1/150106.pdf>. Acesso em: 30 abr. 2009.
 
 
20
 História Cultural
20
Atividade de Estudos: 
1) Caro(a) pós-graduando(a), reflita sobre as origens da História 
Cultural e desenvolva uma síntese da concepção de “cultura” 
para Jacob Burkhardt e Johann Huizinga:
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a Cultura POPular e a invençãO da tradiçãO
Apesar de trilharemcaminhos distintos, uma ideia que acompanhou 
o desenvolvimento da história cultural foi o conceito de cultura popular. 
Segundo Burke,
 
a idéia de “cultura popular” ou Volkskultur se originou 
no mesmo lugar e momento que a “história cultural”: na 
Alemanha do final do século XVIII. Canções e contos 
populares, danças, rituais, artes e ofício foram descobertos 
pelos intelectuais de classe média. (BURKE, 2008, 29.). 
No entanto, esse conceito foi abandonado pelos historiadores pelo menos 
até a década de 1960, sendo utilizado somente por folcloristas e antropólogos.
21
 Origens da História Cultural
21
 Capítulo 1 
Uma dos primeiros estudos historiográficos que tiveram uma preocupação 
mais direta com a ideia de cultura popular foi a obra do historiador inglês 
Edward Thompson, A formação da classe operária inglesa (1963). Neste livro, 
Thompson analisa a formação de uma consciência de “classe” através da 
continuidade de certas “tradições populares” do século XVIII. O impacto da 
obra de Thompson se estendeu para além das fronteiras da Grã-Bretanha, 
levando-o a ser considerado como uma das principais referências da história 
das classes populares.
Outra obra que teve grande impacto sobre os historiadores foi A cultura 
popular na Idade Média e no Renascimento (1965), do teórico cultural russo 
Mikhail Bakthin. Analisando a literatura do escritor francês François Rebelais 
e outras “fontes populares”, o autor propõe desvendar a “cultura popular” 
cômica europeia em fins do período medieval. Em conceitos como o de 
“carnavalização”, Bakthin aborda as interações e transgressões dos limites 
entre a “cultura da elite” e as “culturas do povo”. Seguindo a mesma linha, 
Peter Burke escreveu, em 1978, A cultura popular na Idade Moderna. Ao 
abordar “o problema do ‘popular’”, Burke prefere utilizar o conceito no plural 
em virtude de sua heterogeneidade ou “substituí-la por “a cultura das classes 
populares”” (BURKE, 1989, p. 17). 
Para ambos os autores, existe uma ambiguidade que divide de forma 
fluída a “cultura popular” da “cultura da elite”. Apesar das precauções dos 
autores Bakthin e Burke em qualificar a “cultura popular” como heterogênea, 
suas visões são criticadas por Roger Chartier.
[...] Peter Burke assim descreve os dois movimentos que 
desenraizam a cultura popular tradicional: de um lado, o 
esforço sistemático das elites e particularmente dos cleros 
protestantes e católicos, “para mudar as atitudes e valores 
do resto da população” e “para suprimir, ou ao menos 
purificar, vários elementos da cultura tradicional”; de outro, 
o abandono, pelas classes superiores, de uma cultura até 
então comum a todos. O resultado é claro: “Em 1500, a 
cultura popular era a cultura de todo mundo; uma segunda 
cultura para os instruídos e a única para os demais”. 
 
Existem várias razões para só se retomar com mais 
prudência essa periodização e esse diagnóstico que 
concluem pela desqualificação da cultura popular ou pelo 
seu desaparecimento. (CHARTIER, 1995, p. 181.)
Para Chartier, o conceito de “cultura popular” é uma categoria erudita, 
que ora é qualificada como um sistema simbólico e autônomo, funcionando 
de maneira alheia à cultura letrada, ora é percebida em sua dependência e 
carência em relação à cultura das elites. Essas distinções têm sido utilizadas 
por historiadores para criar modelos cronológicos, tal como Peter Burke, para 
Duas teses sobre a 
cultura popular: uma 
que estabelece sua 
marginalidade ante a 
cultura letrada; outra 
que lhe concede uma 
imagem mítica, quase 
que de oposição à 
cultura dominante. 
Essas visões podem, 
às vezes, estar 
presentes em uma 
mesma análise, ou 
obra historiográfica.
22
 História Cultural
22
uma suposta idade do ouro da cultura popular. Assim, teríamos duas teses 
sobre a cultura popular: uma que estabelece sua marginalidade ante a cultura 
letrada; outra que lhe concede uma imagem mítica, quase que de oposição à 
cultura dominante. Essas visões podem, às vezes, estar presentes em uma 
mesma análise, ou obra historiográfica.
Para saber mais sobre o conceito de “cultura popular”, leia:
CHARTIER, Roger. Cultura Popular: revisitando um conceito 
historiográfico. In: Estudos Históricos. Rio de Janeiro. v. 8, n. 
16, 1995, p. 179-192. Disponível em: <www.cpdoc.fgv.br/revista/
arq/172.pdf>. Acesso em: 22 mai. 2009.
Um dos problemas que derivam dessas distinções entre a cultura popular 
e da elite é o estabelecimento de um limite entre elas. O que é povo? Em 
geral, como nos alerta Burke, é designar o popular por aquilo que não é a elite, 
ou seja, o emprego de uma “categoria residual” que em muitos casos enrijece 
esses termos e perde a abrangência das manifestações culturais. Em estudos 
historiográficos mais recentes esses termos são já utilizados de forma mais 
ampla e plural.
Através dessas duas diferentes concepções de cultura popular podemos 
observar diferentes formas de compreender a transmissão da “tradição”. Tal 
como afirma Martha Abreu, a variedade de concepções dadas ao conceito 
de “cultura popular”, quase sempre imbuídas de juízos de valor, idealizações, 
homogeneizações e disputas teóricas e políticas, equivale, para alguns, ao 
“folclore” (folk, em inglês, significa pessoas, povo) entendido como o conjunto 
das “tradições culturais”. O estudo da “cultura” se vincula à ideia da “tradição”, 
entendida como conhecimentos e habilidades transmitidas de geração para 
geração. A “cultura” unitária dos princípios da história cultural pode conter 
diversas manifestações da “tradição”. (ABREU, 2003, p. 83). 
Dessa forma, assim como observado na análise de Edward Thompson 
sobre as classes populares inglesas, a “tradição” é um elemento constituinte 
da cultura popular. A ideia da tradição esteve presente, mesmo que de forma 
indireta, nas reflexões dos historiadores culturais “clássicos” e persistiu nas 
análises de muitos historiadores que se seguiram a eles. A ideia essencial 
na história positivista era a noção de tradição e seu oposto complementar de 
“recepção” (como legado, herança). Esta concepção de tradição acarretava o 
problema de determinação do padrão cultural que persiste e do que se inova. 
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 Origens da História Cultural
23
 Capítulo 1 
Assim, como na discussão acerca da circularidade entre a “cultura popular” e 
a “cultura da elite”, torna-se difícil diferenciar aquilo que é “tradicional” do que 
é uma “inovação”. 
Seguindo essa linha, a ideia de tradição sofreu uma crítica mais enfática 
de Eric Hobsbawn e Terence Ranger, com A Invenção da tradição. A adoção 
do termo “invenção” vinha com o intuito de demonstrar que as tradições 
eram deliberadamente construídas e formalmente institucionalizadas. Uma 
característica inerente à tradição é que, embasada no passado real ou forjado, 
ela é invariável, fixa. Para os autores:
Por “tradição inventada” entende-se um conjunto de práticas, 
normalmente reguladas por regras tácita ou abertamente 
aceitas; tais práticas, de natureza ritual ou simbólica, 
visam inculcar certos valores e normas de comportamento 
através da repetição, o que implica, automaticamente, 
uma continuidade em relação ao passado. (HOBSBAWN; 
RANGER, 1997, p. 9).
 
Peter Burke defende o estudo da tradição, mas alerta que deve ser 
redefinida, levando em consideração a teoria da recepção cultural, a 
adaptação e o reconhecimento. Dessa forma, o questionamento dos conceitos 
amplamente utilizados em nosso cotidiano nos serve para perceber as 
invenções intencionais ou não do que se entende como “cultura”. A cultura 
legitimada normalmente recebe o crivo de “tradição” como aquilo que deve ser 
preservado e transmitido.
Atividades de Estudos: 
Sobre os assuntos desenvolvidos neste tópico responda:
1) Qual foi a polêmica estabelecida peloshistoriadores Peter Burke 
e Roger Chartier sobre a ideia de “cultura popular”?
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 História Cultural
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2) Como a noção de “tradição” foi vista pelos historiadores da cultura?
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a História Cultural e sua aPliCaçãO
nO ambiente esCOlar
O ofício do historiador é uma atividade eminentemente política. Em sua 
atividade de pesquisa ou na transmissão do conhecimento em sala de aula 
o historiador reconstrói a vida coletiva, estabelece conexões entre o passado 
e o presente e busca compreender os processos de desenvolvimento das 
sociedades humanas. Através da eleição consciente ou inconsciente de 
determinados conteúdos e métodos de compreensão do conhecimento 
histórico estamos agindo politicamente.
Há muitas décadas que o ensino da História se pautou na exaltação 
dos grandes personagens históricos, em geral, os heróis nacionais. A visão 
positivista de uma verdade formada no encadeamento cronológico dos fatos 
históricos era a forma de transmitir o conhecimento. Segundo os defensores 
dessa ideia, existiria uma noção de evolução dos acontecimentos que só pode 
ser entendida através da ordenação cronológica do conteúdo. Essa forma 
de ensinar a história provocou um distanciamento com a realidade do aluno, 
causando desinteresse e incompreensão por parte destes. Ela impede os 
educandos de perceber semelhanças e diferenças, permanências e rupturas 
dos processos históricos.
A partir das últimas décadas, no entanto, observou-se uma transformação 
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 Origens da História Cultural
25
 Capítulo 1 
nas metodologias da pesquisa histórica e consequentemente no ensino da 
história. Mais recentemente ainda, pela percepção da ineficácia e limitação do 
método tradicional, novas perspectivas educacionais foram adotadas. A adoção 
de materiais didático-pedagógicos alinhados a essas novas perspectivas 
inseriu o trabalho com diferentes fontes e documentos históricos (imagens, 
documentos escritos, objetos, etc.) relativos aos conteúdos propostos. Além 
disso, a multiplicação e a fragmentação das pesquisas históricas provocaram 
uma diversificação, tornando mais complexo o ensino da História.
A diluição das fronteiras entre os campos de interpretação histórica 
(economia, sociedade, cultura) tornou imprescindível a utilização de 
ferramentas interdisciplinares. Frente a esses enormes e complexos desafios 
o historiador se encontrou desabilitado e despreparado para trabalhar essas 
novas perspectivas. A utilização dos conceitos é feita, muitas vezes, nos livros 
e pelos professores, sem nenhum critério. Tradição, mentalidades, cultura e 
representação são concepções amplamente difundidas nos livros didáticos, 
mas como devemos trabalhar esses conceitos em sala de aula? 
O desenvolvimento da história cultural proporcionou uma ampliação das 
reflexões sobre a nossa realidade imediata e a possibilidade de utilização de 
novas ferramentas que aproximem o universo do aluno da compreensão dos 
processos históricos. Para tanto, partimos da perspectiva da história como 
interpretação, possibilitando ao aluno contato com as várias construções 
existentes em torno dos processos históricos, sem desconsiderar sua própria 
realidade. Com uma proposta metodológica baseada nos acontecimentos 
do dia a dia, abordando temas como saúde, moradia, sexualidade, relações 
interétnicas, ou seja, a vida cotidiana, é possível mostrar que a história é feita 
por todos os homens e em todos os momentos de sua vida. Através da vida 
das pessoas comuns ou de grupos é possível compreender algumas situações 
vividas pela sociedade (até mesmo relacionadas à economia e à política). 
Ao lembrarmos nossos alunos de que somos sujeitos históricos, reforçamos 
a ideia de que a história não se constrói somente a partir dos grandes feitos 
e grandes homens, fatos e datas, mas sim do cotidiano das pessoas comuns 
como nós. Pessoas que se vestiam, moravam, relacionavam-se umas com as 
outras... Compreender como isso acontecia em diferentes grupos sociais nos 
permite fazer comparações e aproximações com nossa realidade atual.
A lei de diretrizes e bases para a educação nacional, elaborada em 1996, 
trata de questões acerca da utilização de debates sobre a cultura na educação 
fundamental e média. Vejamos o que diz a lei:
O desenvolvimento 
da história cultural 
proporcionou 
uma ampliação 
das reflexões 
sobre a nossa 
realidade imediata 
e a possibilidade 
de utilização de 
novas ferramentas 
que aproximem o 
universo do aluno da 
compreensão dos 
processos históricos.
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 História Cultural
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LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL
Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996.
Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.
Art. 1º. A educação abrange os processos formativos que se 
desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, 
no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos 
movimentos sociais e organizações da sociedade civil e 
nas manifestações culturais. [...]
Art. 26º. Os currículos do ensino fundamental e médio devem ter 
uma base nacional comum, a ser complementada, em 
cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por 
uma parte diversificada, exigida pelas características 
regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia 
e da clientela. [...]
§ 4º. O ensino da História do Brasil levará em conta as contribuições 
das diferentes culturas e etnias para a formação do povo 
brasileiro, especialmente das matrizes indígena, africana e 
europeia. [...]
Brasília, 20 de dezembro de 1996.
As perspectivas educacionais da lei preveem a adoção de um ensino 
diversificado e que leve em consideração a variedade da vida social. Como 
no parágrafo 4o do artigo 26, a História do Brasil deve levar “em conta a 
contribuição de diferentes culturas e etnias [...] especialmente das matrizes 
indígenas, africana e europeia” (BRASIL, 1996). Dessa definição podemos 
observar que a noção adotada de cultura leva em consideração a existência 
de diferentes grupos. No entanto, ela é reducionista quando delimita e 
enrijece as culturas e etnias em “indígena”, “africana” e “europeia”. Dessa 
forma, podemos perceber as limitações acerca da noção de cultura nas leis e 
diretrizes da educação nacional, bem como nos livros didáticos utilizados nas 
escolas brasileiras.
Ainda que se tenha avançado nas discussões acerca da diversidade 
cultural em nossopaís, e a legislação vigente é um exemplo disso, é necessário 
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 Origens da História Cultural
27
 Capítulo 1 
um olhar mais atento para os estereótipos criados em torno de determinados 
grupos. Na intenção de firmar uma identidade a fim de conquistar um espaço, 
esquecemos que uma mesma etnia contempla diferenças em termos culturais, 
relacionadas ao seu tempo e contexto. Trata-se de analisar determinados 
aspectos culturais a partir de especificidades decorrentes da história do 
indivíduo. As pessoas se apropriam e absorvem a cultura de modo diferente, 
resultando em múltiplas experiências de vida.
A disciplina de história é fundamental para trabalhar a questão da 
diversidade cultural na escola, partindo do pressuposto de que devemos 
questionar certas concepções tradicionais que privilegiavam alguns povos em 
detrimento de outros. Possibilitar ao aluno a percepção de que sua história de 
vida, seu cotidiano, seus hábitos e seus costumes são tão importantes quanto 
o de qualquer outra pessoa em qualquer tempo e espaço é nosso trabalho. 
Partindo disso, damos um grande passo em direção a uma história composta 
por sujeitos conscientes de sua atuação e participação social.
Você já parou para pensar no quanto os conteúdos presentes nos livros 
didáticos apontam para uma mudança cultural no modo de vida das populações 
indígenas, a partir do contato com os europeus? O contrário também ocorre?
Para nos auxiliar nessa reflexão recorremos a um conceito 
elaborado pela antropologia, o de aculturação. Esse termo foi 
criado aproximadamente em 1880 por J. W. Powell, antropólogo 
americano, e era utilizado para denominar “a transformação dos 
modos de vida e de pensamento dos imigrantes ao contato com a 
sociedade americana”. Ainda que estudos mais recentes procurem 
imprimir um caráter dinâmico a esse conceito, a expressão por 
vezes é utilizada no senso comum de modo negativo, ressaltando a 
ideia de uma perda irreparável. Ou seja, no contato de dois grupos 
com culturas diferentes, uma prevalece sobre a outra e para o 
indivíduo ou sociedade aculturada há uma conversão à outra cultura.
Na história do Brasil, de modo específico, esse termo foi 
utilizado em favor da cultura europeia, desconsiderando o fato 
de que através do contato com os indígenas o modo de vida dos 
portugueses também se transformou. Utilizamos aqui a concepção 
de Serge Gruzinski, quando, em sua obra “O pensamento mestiço”, 
destaca que do encontro de duas culturas diferentes surge uma 
terceira cultura, que é resultado da mestiçagem. Nem mesmo a 
violência com a qual foram tratadas as populações indígenas seria 
capaz de anular seus traços culturais.
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 História Cultural
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Sobre aculturação, leia a obra de: CUCHE, Denys. A noção 
de cultura nas ciências sociais. 2a ed. Bauru: EDUSC, 2002.
Sobre “O pensamento mestiço”, leia a obra de: GRUZINSKI, 
Serge. O pensamento mestiço. São Paulo: Companhia das 
Letras, 2001. 
É importante lembrar que, embora nos utilizemos dos termos índios ou 
indígenas, há que se considerar que essa foi uma denominação dada pelos 
europeus a esses povos e deve ser questionada. Essas populações são 
compostas por diferentes grupos étnicos. São eles: Guarani, Kaigang, Xokleng, 
Caiapó, Carajá, Tupinambá, Ianomâmi, Pataxó, etc.
Uma das grandes contribuições do ensino de história focado na concepção 
cultural é procurar compreender o outro a partir do seu tempo e do seu 
contexto. Embora seja difícil nos desprendermos de nosso modo de pensar 
e agir hoje, é necessário tentarmos nos colocar no lugar do outro, isentos 
de julgamentos ou valores de nosso tempo. Para Ruth Benedict, “a cultura 
é como uma lente através da qual o homem vê o mundo” (LARAIA, 1999, 
p. 69) e não é incomum estranharmos o que desconhecemos. Problemático é 
quando nos utilizamos como parâmetro, acreditando que nosso modo de vida 
é mais correto e natural, sem a compreensão de que, para o outro, o mesmo 
outro sou eu. 
Atividades de Estudos: 
Para trabalhar a concepção de estranhamento, propomos a 
seguinte atividade (esta é uma sugestão de atividade que pode ser 
feita em sala de aula com seus alunos):
• Dividir os alunos em duplas.
• Pedir que se identifiquem como seres de outro planeta, que 
desconhecem a existência dos humanos – portanto o aluno terá 
a sua frente algo que nuca viu.
• Solicitar que as duplas se olhem atentamente, prestando atenção 
em cada detalhe do outro.
• Descrever por escrito o que viu, na condição de que é algo 
desconhecido.
• Socializar e discutir sobre o que foi realizado, como os alunos se 
sentiram ao serem descritos e ao descreverem o outro. 
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 Origens da História Cultural
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 Capítulo 1 
Para finalizar este capítulo, propomos uma atividade de leitura de 
imagens que possibilitem pensar um pouco mais sobre o conceito 
de cultura. Analise atentamente essas imagens e responda às 
questões que seguem:
Figura 1 - Primeira Missa no Brasil de Victor Meirelles
 
Fonte: Disponível em: <www.moderna.com.br/.../datas/
images/indio1.jpg>. Acesso em: 18 out. 2009.
 
Figura 2 - Theodoro De Bry. Hans Staden assiste à preparação 
do corpo. Ameriacae Tertia Pars, gravura 1592.
Fonte: Disponível em: <www.scielo.br/img/revistas/his/
v25n2/01f4.gif>. Acesso em: 18 out. 2009.
1) Descreva detalhadamente o que você vê em cada uma das 
imagens.
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2) Quais símbolos são utilizados pelo artista para identificar um 
personagem do outro?
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3) Qual era a visão dos europeus sobre o “novo mundo” a partir do 
que as imagens representam?
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4) De qual concepção de cultura essas representações se aproximam?
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algumas COnsiderações
Sendo a história a disciplina que estuda o processo, interessa-nos mais 
procurar identificar os caminhos que nos levam a determinadas concepções 
atuais do que sejam cultura e história cultural. Considerando a amplitude dos 
temas discutidos ao longo desse capítulo, nosso objetivo não é atingir uma 
verdade acerca dos conceitos e muito menos acomodar você, pós-graduando, 
com uma explicação reducionista de algo que é amplo e complexo.
Na esteira desse raciocínio, procuramos apresentar análises de diferentes 
autores, considerando o tempo e espaço em que construíram suas teorias, 
possibilitando uma reflexão sobre as transformações pelas quais passou e tem 
passado o conceito de cultura sem, no entanto, esgotar suas possibilidades de 
abordagem.
Para a história cultural o fato deixa de ser ofoco central de análise, 
considerando que o político também está no âmbito do cotidiano, a partir do 
questionamento sobre as transformações da sociedade, o funcionamento da 
31
 Origens da História Cultural
31
 Capítulo 1 
família, o papel da disciplina e das mulheres, o significado dos fatos, gestos e 
sentimentos. A busca por novas perspectivas para a História abriu também um 
campo mais amplo para a interdisciplinaridade. O diálogo com outras áreas do 
conhecimento, como a antropologia, por exemplo, favoreceu a ampliação das 
áreas de investigação histórica. A partir dessas novas perspectivas há uma 
reorientação do enfoque histórico, contrapondo a linearidade, a abordagem 
universalizante e uma história baseada no estudo das elites. 
 
 
referênCias
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 História Cultural
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