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84 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Unidade II Unidade II 5 A REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E AS NOVAS MODALIDADES DE SUBORDINAÇÃO DO TRABALHO Como já informado, com o grande crescimento da industrialização e a formação das cidades, as pessoas que moravam em regiões rurais ou não industrializadas vinham para esses centros em busca de oportunidade de trabalho, visando ao melhoramento de sua qualidade de vida e de sua família. As cidades não tinham estrutura para recebê-los, e as indústrias não tinham vagas de emprego para todos, pontos que intensificavam o número de desempregados e os problemas sociais, inquietações/ movimentos populares, de forma que a burguesia e o Estado se sentiram ameaçados pela sociedade que presenciava tais injustiças sociais. O Estado, em resposta a essa realidade, atuava de forma paliativa, caritativa, conjuntamente com a Igreja Católica, com o objetivo de “acalmar as inquietações” dos trabalhadores, sem ações eficientes, efetivas e eficazes. O Serviço Social surge dessa benemerência e dessa caridade atrelada às instituições religiosas, representadas, principalmente, pela Igreja Católica, cujas atuações eram de caráter assistencialista, sem embasamento teórico e metodológico, sem reflexão crítica sobre as possibilidades interventivas. Assim, as ações supriam os interesses da Igreja, do Estado e da burguesia. Tal meio de colocar em prática a profissão foi denso desde seu surgimento formal (década de 1930) até o movimento de reconceituação (década de 1960), podendo ser caracterizado como a “esquerda profissional”, pois um grupo de técnicos sociais começou a questionar as intervenções dos assistentes sociais, e, assim, iniciou-se uma crítica à profissão. O movimento foi de suma importância para que a categoria profissional se distanciasse das ações caritativas sem o empoderamento técnico, apropriada de embasamentos teórico-metodológicos, com senso crítico. O assistente social tem como foco de sua intervenção os reflexos da questão social, pois, com o conflito existente entre capital e trabalho, intensificam-se as problemáticas sociais. Atualmente ainda vivenciamos o movimento de reconceituação, pois é preciso, de forma contínua, acompanhar as transformações societárias e, com isso, reconsiderar e repensar a profissão com a mesma dinamicidade que ocorre na sociedade. Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, a possibilidade do trabalho do assistente social não só ganhou embasamento, mas também os mínimos sociais foram reconhecidos pelo Estado como direitos sociais, incluindo a moradia: 85 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Serviço Social em equipe multidiSciplinar Art. 6º – São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição (BRASIL, 1988). Nessa perspectiva de garantia de direitos, o Estado responde às demandas sociais com as políticas sociais, campo de atuação do assistente social que realiza a mediação de interesses de tais atores: Estado, sociedade e mercado. Nesse sentido, trazer para o campo das práticas as legislações é pensar na totalidade existente no cotidiano do indivíduo. Por esse motivo, utilizamos o item seguinte para representar as legislações, como a construção e as ideologias no território, pois não há uma consonância entre as áreas e as necessidades. A fragmentação do espaço urbano, o contínuo crescimento e adensamento da periferia e o aprofundamento da segregação e exclusão socioterritorial são as principais características do processo de urbanização brasileiro. Esse processo possui íntima relação com o mercado imobiliário formal e informal, cuja dinâmica privatiza a renda fundiária gerada coletivamente e ocasiona a formação de núcleos que não se articulam com a malha urbana existente, produzindo enormes áreas vazias no interior do espaço urbano (BRASIL, 2004, p. 20). Os interesses humanos são diversos, pois somos únicos e com construções diferenciadas; porém, como técnicos, temos de entender para quem trabalhamos e o que queremos com nossas intervenções. As cidades não dispõem de áreas suficientemente capazes para atender à demanda de acordo com as necessidades dos sujeitos. Nesse sentido, como forma de proteção, os sujeitos vulnerabilizados, por exemplo, utilizam áreas inapropriadas para a manutenção da vida, não podendo ser entendidos como oportunistas, mas como pessoas que não tiveram acesso aos itens essenciais para sua vida. Os limites estruturais do mercado de moradias para oferta de habitações em número suficiente, com qualidade e localização adequadas, sob os aspectos ambiental e social, combinados com a ausência de políticas públicas que tenham como objetivo ampliar o acesso à terra urbanizada, têm levado um contingente expressivo da população brasileira a viver em assentamentos precários marcados pela inadequação de suas habitações e pela irregularidade no acesso à terra, comprometendo a qualidade de vida da população e provocando a degradação ambiental e territorial de parte substantiva das cidades (BRASIL, 2004, p. 21). Pensar na efetivação dos direitos é refletir as diferenças cotidianas e as necessidades individuais, ou seja, a “legal, real e ideal”, como diz Vera Telles (2006), pois a primeira indica os interesses do Estado, que, por vezes, possui legislações desconexas com a realidade, ou seja, onde se vive, a necessidade dos sujeitos; e nós, técnicos, temos o entendimento da cidade que seria ideal, com habitações de acordo 86 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Unidade II com as características do cidadão, respeitando-o em sua totalidade, com moradias horizontalizadas, próximas aos serviços públicos e privados. O assistente social, com sua formação, tem conhecimento técnico e crítico para compreender o indivíduo, a localidade onde mora e para onde será inserido, se necessário, de forma singular, utilizando desses saberes para minimizar os traumas e rompimentos de sua história, preparando-o para a transformação de sua vida social. 5.1 Reestruturação do capital, fragmentação do trabalho e Serviço Social Em abril de 1993, foi realizado, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), o fórum de debates “O uno e o múltiplo nas relações entre as áreas do saber”, em que foi adotada metodologia favorável ao exercício crítico da reflexão, caminhando para níveis operacionais. Os temas foram debatidos por filósofos, historiadores, psicólogos, assistentes sociais e educadores, permitindo um debate transdisciplinar. Unidade e multiplicidade confrontam-se historicamente em um campo tensional e, dentro das diferentes áreas do conhecimento, assiste-se à multiplicação de perspectivas e ao confronto de abordagens. Um mesmo fenômeno pode ser compreendido com metodologias variadas quando abordado por particulares formas de integração de informações/conhecimento de várias áreas distintas. Importante e também desafiadora é a manutenção das significações originárias, não no sentido da perspectiva da unidade integral ou na simples somatória, mas sim no sentido transcodificado. Monismo epistemológico é aqui compreendido por uma unidade do conhecimento humano, ou seja, todo conhecimento humano deve pautar-se por um mesmo modelo. Alguns pensadores, filósofos e cientistas insistem no monismo. Outros, ao contrário, preferem crer que cada área do conhecimento humano, tendo um objeto próprio, uma metodologiaprópria, não pode transferir a metodologia de um campo para o outro, dando o nome de pluralismo epistemológico. Vejamos dois pensadores representativos de cada corrente: • Descartes, como representante do monismo epistemológico: deve-se ter um mesmo tipo de certeza, a do tipo matemático, a demonstração que não deixa dúvida. • Aristóteles, como representante do pluralismo epistemológico: tem-se a segmentação do conhecimento e a não transferência de metodologias propugnada, cada segmento tendo um grau de certeza que lhe é próprio. Atualmente, as tendências globalizantes parecem esconder certo desrespeito às especificidades de áreas do saber; o conhecimento humano se constrói e se manifesta em um coeficiente de poder que atravessa a sociedade, em razão de representações valorativas. A atividade do conhecer é, ao mesmo tempo, qualificada para a superação do enviesamento ideológico que ela traz em si, quer pela crítica, quer pela denúncia, tornando-se arma contra o poder. 87 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Serviço Social em equipe multidiSciplinar Nessa complexidade, o saber só pode exercer-se interdisciplinarmente, e o conhecimento só adquire sentido no cenário culturalmente mais amplo. A unidade e a multiplicidade compõem um movimento único, sendo a multiplicidade desterritorializante, e a unidade, conservação; o sentido que a relação uno/múltiplo nas áreas do saber e do poder toma é determinada pelas relações que sustentam certa forma de vida e sobrevivência humana. Geralmente, o tema pós-moderno é visto sob o estigma do irracionalismo, que está intensamente presente no mundo contemporâneo, em comportamentos, em práticas de vivências sociais ou em práticas políticas. Esse irracionalismo tem até interferência no saber, mas não significa irracionalidade da ciência. Ela hoje trabalha também com referências externas à tradição científica, por exemplo, provenientes da tradição oriental do taoismo. Nada disso implica irracionalismo, e, em tal sentido, a ciência nunca é irracional. A questão contemporânea em relação à multiplicidade pode ser assim entendida: em termos conceituais, o múltiplo não significa simplesmente multiplicação indefinida; a multiplicidade irá valorizar o que se passa “entre” o que se elabora, não na continuidade e totalidade (isto é, de acordo com um ponto de vista), mas “transversalmente”, na associação de signos heteróclitos, o que não implica simples elogio da fragmentação, uma vez que esta pode postular uma realidade que já existe (e se apresenta fragmentariamente) ou um conjunto que ainda virá a existir, retirando a violência dos fragmentos e suas relações diferentes e impossíveis de serem reduzidas à unidade. Unidade e multiplicidade são, assim, componentes de um único movimento que procura dar conta das coisas no momento presente – e para isso não há uma linguagem adequada. No campo educacional, apesar das experimentações e iniciativas teóricas e técnicas de organização de sistemas, ainda é mantida acentuada distância entre discursos modernizantes e práticas modernizadoras. Continua valendo o pressuposto de que a educação objetiva a realização de um programa que reunifique a experiência por exigência do dever, da formação e necessidade do cumprimento de objetivos e produção de ações, com o mínimo de consenso. Os educadores sabem que hoje a prática pedagógica exige a coexistência de múltiplas referências teóricas. Assim, é impossível ignorar as transformações. Foi criada, na civilização ocidental, uma oposição entre o uno e o múltiplo. O movimento da identidade, no decorrer da vida, é constituído pela combinação de igualdade e de diferença em relação a si e aos outros. Sempre estamos recompondo as identidades. O embate entre ter condições de agir como unidade na multidisciplinaridade redunda na exclusão do diverso ou nessa multidisciplinaridade, que redunda na aceitação das diferenças. Atualmente, há um movimento para reconhecer essa multidisciplinaridade entre os homens, mas também há um movimento para recompor a uniformização. A meta é o reconhecimento e a incorporação das diferenças sociais e o estímulo de uma nova forma de troca entre os saberes socialmente construídos e transformados. 88 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Unidade II A ação profissional é perpassada e regulada pelos instituídos sociais, que acabam homogeneizando o que é heterogêneo, sem crítica e sem a liberdade das alternativas que poderiam ser possíveis. No âmbito do Serviço Social, da Filosofia, da História, da Antropologia e em outros domínios das ciências sociais, uma questão que vem preocupando é o uno e o múltiplo nas áreas do saber. Procura-se, em seus espaços específicos de atuação, discutir e formular modos de lidar com a complexidade e a pluralidade do social, questionando abordagens generalizantes e homogeneizadoras. Essas abordagens tendem a ignorar e desqualificar as diferenças e tensões que permeiam o fazer-se social como anomalias ou disfunções a serem extirpadas, controladas ou superadas, pois trazem em seu bojo noções de ciências objetivas, de teoria perfeita, totalizada com estatuto de verdade. Nos vínculos da história entre saber e regimes de poder, podemos exemplificar as práticas jurídicas e judiciárias, as quais são definidoras de modos de determinação da verdade e modelares em relação a outras esferas da ação humana, dos saberes à política e à ação no dia a dia. No debate pós-moderno, quanto à questão da unidade e da multiplicidade, considera-se que o múltiplo não é só a justaposição de elementos, pois é preciso considerar as relações desses elementos. O conhecimento é resultante de uma tensão de forças múltiplas e heterogêneas de uma práxis em perspectiva não consensual e não totalizante. Na realidade brasileira, significativas mudanças sociais e políticas, nesses últimos vinte ou trinta anos, forjaram lutas diferenciadas e multidirecionadas em várias dimensões do social, adquirindo visibilidade política, com a emergência de novos sujeitos populares na cena histórica. Criaram-se, assim, novos espaços políticos; emergiram práticas disciplinadoras e ideias homogeneizadoras do social no mundo capitalista, no que diz respeito à construção de uma organização social de natureza produtiva, ou seja, para o trabalho, e, no plano social, a quanto se desenvolve uma forma de sociabilidade política capaz de destruir a ideia de ação coletiva que determine o curso da sociedade. Nessas sociedades capitalistas, esse mecanismo engendra-se apoiado em práticas e discursos técnicos, profissionais, da mídia e dos políticos; promove a construção de um imaginário coletivo na mesma medida e com igual interesse em um projeto social e político para todos os cidadãos, com o discurso do avanço para o progresso. O destaque da sociedade e o poder político são expressões dessas articulações e facilitam a representação do Estado como universalidade, tomando para si o papel regulador dos conflitos e ordenador do espaço social por meio da lei e da prestação dos serviços públicos. O Estado, em sua complexidade, centraliza e personifica, nesse processo, as funções decisórias da nação, não podendo aparecer como sociais ou coletivas, mas tão somente como privadas. O “povo”, nesse panorama, apresenta-se sob uma concepção neutra, envolvendo, ao mesmo tempo, indiferenciadamente, todos os cidadãos, com seus mais variados interesses, mas destituídos de poder diante de um Estado que assume, em suas mãos, os destinos da nação. Outra dimensão desse mecanismo é a concepção de sujeito individual, com uma identidade singular e privada do “eu” produzido por saberes que se engendram ese articulam nessas sociedades. Em sua constituição, esse sujeito traz duas marcas: 89 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Serviço Social em equipe multidiSciplinar • a individualização como o centro do qual partem as ações livres e responsáveis; • o sujeito como consciência individual soberana da qual irradiam ideias e representações postas como objetos domináveis pelo intelecto. Como oposição a essa concepção de sujeito individual, Marilena Chauí (1980) refere-se aos movimentos sociais como novos sujeitos. Esses movimentos são considerados como expressão de indivíduos que passam a definir-se e a reconhecer-se mutuamente como sujeitos que aparecem como reposição do conceito de reabertura do espaço político retraído pela sociedade capitalista. Os sujeitos como individuais acabam por ser desresponsabilizados de sua importância no encaminhamento da vida pública e da orientação dos destinos sociais, deixando essa responsabilidade unicamente para o Estado. Nós, como trabalhadores intelectuais, preocupamo-nos com a construção de caminhos mais democráticos, não sendo possível desprezar propostas de democratização que nasçam do próprio conhecimento, incorporando sujeitos sociais que anteriormente foram excluídos das explicações históricas. Também não devemos perder de vista as condições históricas em que os saberes se forjaram, além do seu significado político de emergir e sua propagação como saber. Devemos seguir na direção de um novo direito, de uma forma de sociabilidade que incorpore a ação coletiva. O conhecimento histórico deve ser pensado e trabalhado como um saber em permanente construção e articulado às próprias transformações da sociedade, mediadas por interesses e valores. A partir do momento em que valorizamos a especialização, acabamos por favorecer métodos, categorias e critérios determinados e a prejudicar explicações de mecanismos mais amplos, confinando-nos aos limites da especialização. Abrindo espaços para uma investigação nas áreas do conhecimento, para o reconhecimento e a incorporação das diferenças sociais, estimulamos um novo tipo de diálogo entre as áreas, para construir os caminhos da investigação em colaboração mútua. Vamos dialogar sobre critérios e referenciais de análise em torno de temáticas de interesse comum. Assim, iremos formulando esses referenciais em conjunto, a despeito da variedade de objetivos que são únicos para cada área. Por isso, trata-se de um aprendizado que exige tolerância, respeito e flexibilidade. A ruptura com o princípio da permanência que, em nossas instituições, produz práticas sociais reprodutoras do já produzido, é necessária para se falar em identidade atualmente. É fundamental um olhar crítico e rigoroso para o real, o estimular da nossa consciência crítica de modo que lance as raízes da possibilidade de construção de práticas sociais múltiplas, plurais, capacitadas a contribuir efetivamente para que se produza o novo. Porém, a tradição brasileira é de uma sociedade fundada na autocracia, que estratifica saberes, concedendo a prática a partir da ausência de movimento imanente do real, do princípio da permanência. 90 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Unidade II A influência positivista nas origens da universidade brasileira orienta-se, há muito tempo, por formulações que reduzem o próprio exercício do saber à transmissão de conhecimento acumulado. Temos a possibilidade de investir no impulso inaugural do novo quando nos dispomos a viver sob o signo da contradição, a cada momento aprendendo algo novo, considerando que a vida se constrói a cada dia. Precisamos construir identidade que evidencie quão fecunda é a relação entre as áreas do saber para as práticas sociais brasileiras, em uma época marcada pelo agravamento da questão social. Consolidar, fortalecer uma nova prática social exige que aprendamos a visualizá-la a partir de uma perspectiva histórica e a reconhecê-la como: • expressão do saber, uma vez que toda prática social é teoria sendo movimentada, saberes sendo articulados, construção coletiva em busca de objetivos determinados socialmente e estabelecidos através da história; • prática educativa, uma vez que toda prática social concebida na perspectiva que temos enfatizado é realmente uma prática educativa. É, assim, prática do encontro, da possibilidade do diálogo, da construção partilhada. A instituição é criada para permitir a operacionalização de políticas sociais direcionadas aos cidadãos; assim, é um espaço mais do usuário do que do profissional, pois a razão de ser da instituição é o usuário. Uma exigência fundamental relacionada à concepção de saber como espaço do múltiplo é como promover o estabelecimento de uma nova relação entre profissionais, considerando que nossas formações devem nos proporcionar os fundamentos para a construção do saber coletivo. É também das diferenças das profissões que podem surgir possibilidades para trabalharmos em prol de causas comuns. Em toda prática profissional, sempre há caminhos críticos, e as vias de superação somente são encontradas por aqueles que as procuram pacientemente e corajosamente. A diferenciação entre conhecimento e pensamento se dá desta forma, segundo Marilena Chauí (1980, p. 26): [...] o conhecimento é a apropriação intelectual de certo campo de objetos materiais ou ideias como dados, isto é, como fatos ou como ideias. O pensamento não se apropria de nada – é um trabalho de reflexão que se esforça para elevar uma experiência (não importando qual seja) à sua inteligibilidade, acolhendo a experiência como indeterminada, como não saber (e não como ignorância) que pede para ser determinado e pensado, isto é, compreendido. Para que o trabalho do pensamento se realize é preciso que a experiência fale de si para poder voltar-se sobre si mesma e compreender-se. O conhecimento tende a cristalizar-se no discurso sobre; o pensamento se esforça para evitar essa tentação apaziguadora [...]. 91 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Serviço Social em equipe multidiSciplinar A esfera do saber amplia-se na perspectiva do risco, da criatividade, diversa do âmbito estrito do conhecimento, que é configurado como um exercício mais intelectual e formal. Consequentemente, essas características trazem dinamismo, fortalecimento na busca por experiência, pesquisa, prática com disposição para descoberta, empreendimento de um aprendizado e elaboração de conhecimentos. O que nos mantém em constante procura é a vivacidade do saber, pois esse abarca o conhecimento, porque o propicia e conduz, mas não cabe dentro dele. Há algum tempo, o Serviço Social vem alimentando uma preocupação com o conhecimento. Na composição e organização de mestrado e doutorado na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (na época do fórum de debates tratado no livro que serve como referência para este texto), destacava-se como uma de suas linhas de pesquisa a “construção do conhecimento em Serviço Social”. Procurando a direção para constituir um novo conhecimento, essas linhas de pesquisa indicavam a intenção de rever o Serviço Social do ponto de vista: • das fontes de conhecimento de que se alimenta; • das possibilidades de sistematização dos conhecimentos produzidos pela pesquisa e pela prática profissional. Como dizem as organizadoras de “O uno e o múltiplo nas relações entre as áreas do saber”, o Serviço Social é uma profissão que tem por atraente uma prática – social, educativa, política – de enfrentamento da “questão social”, principalmenteno que tange às interfaces pobreza/riqueza e às recorrências do progressivo empobrecimento da população (MARTINELLI; ON; MUCHAIL, 1995). A partir dessa definição clara e precisa, podemos compreender que a atuação do Serviço Social é também concretizada nas relações da esfera microssocial, e não somente na esfera macrossocial, ou seja, conjuntural, estrutural, havendo o confronto com o binômio solidariedade e barbárie no plano macrossocial. No cotidiano, a profissão é confrontada com as carências e necessidades fundamentais do homem; ainda assim, o Serviço Social não assume o desafio de constituir-se em uma profissão produtora de conhecimentos, mesmo que se leve em conta a dimensão da especificidade de sua proposta profissional. Podemos considerar que a profissão tem condições de produzir conhecimentos, argumentando que as práticas por ela desenvolvidas caracterizam-se por certo modo de apropriação e aplicação dos conhecimentos das ciências a formas peculiares de ação profissional e de atuação na realidade social – apropriação, aplicação, ação e intervenção – capazes, por sua vez, de possibilitar a produção de “outros” ou de “novos conhecimentos” (MARTINELLI; ON; MUCHAIL, 1995). A prática do Serviço Social revela o modo único pelo qual compreende e pretende alterar uma determinada realidade, lidando com as situações-limite que envolvem problemas sociais, mesmo sendo uma profissão de natureza interventiva. Um modo inédito de exteriorizar e sistematizar conhecimentos já 92 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Unidade II elaborados pode ser a apropriação e a transformação de conhecimentos subjacentes ao agir profissional. A prática neles fundamentada, ao mesmo tempo, propicia a elaboração de outros conhecimentos. A articulação dos conhecimentos que buscamos na Sociologia, nas Ciências Políticas e Econômicas, na Psicologia, na Filosofia e em outras faz-se necessária no intuito de criarmos metodologias de trabalho mais evidentes e capazes de trazer à luz a produção da prática profissional desenvolvida por nós. O Serviço Social é uma profissão de prática, e sua intermediação com as “ciências puras” permite a construção de conhecimentos para as chamadas “ciências aplicadas”. Assim, contribui efetivamente para o avanço das formas de abordagens práticas do real, e a originalidade do conhecimento construído está na maneira pela qual articula o conhecimento, transformando tal articulação em mediações para que se possa agir especificamente. Também contribui para que se construam coletivamente os conhecimentos no interior do conjunto das ciências sociais, demarcando a legitimidade de sua configuração profissional. Conforme Etges, (1993, p. 79), em seu livro Produção de Conhecimento e Interdisciplinaridade, “a interdisciplinaridade é o princípio da máxima exploração das potencialidades de cada ciência, da compreensão e exploração de seus limites, mas, acima de tudo, é o princípio da diversidade e da criatividade”. Serviço Social é uma área de atuação interdisciplinar por excelência, uma vez que articula os diversos conhecimentos de modo específico, próprio, em um movimento crítico entre prática-teoria e teoria- prática. A interação com outras áreas é primordial para abrir-se à interlocução diferenciada com outros. A interdisciplinaridade o enriquece. Para compreendermos essa interdisciplinaridade como postura profissional, temos de aprender a conviver com as diferenças, com o múltiplo; buscar amadurecimento profissional que se reverta em um novo saber ético e social. 5.2 Os serviços na contemporaneidade: o trabalho nos espaços ocupacionais É recorrente na contemporaneidade o trabalho em equipe de diversos segmentos profissionais, portanto utilizaremos este espaço para tratarmos de trabalho multidisciplinar, sendo necessário abordar alguns conceitos, como: multidisciplinaridade, interdisciplinaridade, transdisciplinaridade e pluridisciplinaridade. O trabalho interdisciplinar, entre qualquer área e em qualquer estrutura de trabalho, seja no serviço público, em organizações governamentais ou não governamentais, ou em empresas, deve sempre buscar atingir objetivos comuns: a qualidade no atendimento, a eficácia das ações, a finalidade do tipo de trabalho que nos propomos a desenvolver, independentemente de sua formação. Como define o filósofo brasileiro Hilton Japiassu, [...] os termos multi e pluridisciplinaridade pressupõem uma atitude de justaposição de conteúdos de disciplinas heterogêneas ou a integração 93 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Serviço Social em equipe multidiSciplinar de conteúdos numa mesma disciplina, atingindo-se, quanto muito, o nível de integração de métodos, teorias e conhecimentos. Quando nos situarmos no nível da multidisciplinaridade, a solução de um problema exige informações tomadas de empréstimo a duas ou mais especialidades sem que as disciplinas levadas a contribuir para aquelas que a utilizam sejam modificadas ou enriquecidas. Estuda-se um objeto de estudo sob vários ângulos, mas sem que tenha havido antes um acordo prévio sobre os métodos a seguir e os conceitos a serem utilizados. No nível pluridisciplinar o agrupamento das disciplinas se faz entre aquelas que possuem algumas relações entre si, visando à construção de um sistema de um só nível e com objetivos distintos, embora excluindo toda coordenação. No sistema multidisciplinar uma gama de disciplinas é proposta simultaneamente para estudar um objeto sem que apareçam as relações entre elas. No sistema pluridisciplinar justapõem-se disciplinas situadas no mesmo nível hierárquico de modo que se estabeleçam relações entre elas. Em relação à interdisciplinaridade tem-se uma relação de reciprocidade, de mutualidade, em regime de copropriedade que possibilita um diálogo mais fecundo entre os vários campos do saber. A exigência interdisciplinar impõe a cada disciplina que transcenda sua especialidade, formando consciência de seus próprios limites para acolher as contribuições de outras disciplinas. A interdisciplinaridade provoca trocas generalizadas de informações e de críticas, amplia a formação geral e questiona a acomodação dos pressupostos implícitos em cada área, fortalecendo o trabalho em equipe. Em vez de disciplinas fragmentadas, a interdisciplinaridade postula a construção de interconexões, apresentando-se como arma eficaz contra a pulverização do saber. Em relação à transdisciplinaridade, termo cunhado por Piaget, se prevê uma etapa superior que eliminaria, dentro de um sistema total, as fronteiras entre as disciplinas. O movimento pós-moderno se utiliza do paradigma transdisciplinar. (JAPIASSU, 1976). O tema da interdisciplinaridade apresenta nos textos publicados nos últimos anos as seguintes linhas centrais do debate: • as bases fisiológicas e epistemológicas da prática interdisciplinar para as ciências em geral e para as ciências sociais em particular; 94 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Unidade II • a interdisciplinaridade como proposta de organização do ensino e da pesquisa em Serviço Social; • as práticas interdisciplinares em campos específicos de atuação do Serviço Social; • as bases filosófico-políticas do pluralismo como exigência de uma abordagem democrática à práxis científica e profissional. Nas relações interdisciplinares, é necessário impedir que interesses de múltiplas associações sigam no sentido da fragmentação corporativa ou particularista por meio do conflito entre a necessidade de uma vontade coletiva(ou segundo a abordagem gramsciana, de projetos com vocação hegemônica) e a conservação dessa multiplicidade, diversidade e pluralismo de sujeitos. As ciências são sempre aproximativas, não esgotam o real para o próprio desenvolvimento de nossa posição e, de modo geral, da ciência, precisamos da postura pluralista, com abertura para o diferente, respeito pela posição alheia. Essa posição nos leva a ficarmos atentos aos nossos próprios erros e limites, além de nos fornecer sugestões. Com base na diversidade, a formação de vontades e saberes coletivos – os quais possuem diferenciados níveis de consenso e convenção – requerem uma unidade interna dinâmica. Os projetos hegemônicos e o conhecimento científico em ciências sociais implicam essa formação. Os valores e concepções de mundo atravessam a produção de verdades nas ciências sociais e são objetivados a serem compartilhados intersubjetivamente por conjuntos de pessoas. Empenhar-se para elaborar uma consciência coletiva e considerar o ponto de vista do outro implica, muitas vezes, a conciliação com o ponto de vista contrário e, neste sentido, não se trata de ecletismo no mau sentido da palavra. Na área de saúde mental, por exemplo, visualizamos campos de saber envolvidos na teorização e nas novas práticas. Entre outras, podemos nos lembrar das seguintes disciplinas: • Filosofia e Epistemologia; • Psiquiatria; • Psicologia; • Psicanálise; • Sociologia; • o campo da saúde pública; • o campo das ciências políticas e institucionais. 95 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Serviço Social em equipe multidiSciplinar Lembrete Recorreremos ao entendimento de Segre e Ferraz (1997, p. 542): “Saúde é um estado de razoável harmonia entre o sujeito e a sua própria realidade”. A partir de diferentes classificações indicadas por Jupiassu (1976), podemos assim entender os conceitos e os níveis de prática interdisciplinar: Quadro 1 Prática interdisciplinar Conceito Níveis Multidisciplinaridade Conjunto de disciplinas a serem trabalhadas simultaneamente, sem que as relações existentes entre elas apareçam. É um tipo de sistema de um só nível, com objetivos comuns, mas sem nenhuma cooperação. Pluridisciplinaridade Associação de disciplinas para uma realização comum, mas sem modificar a visão das coisas ou das situações e os próprios métodos de cada disciplina. É um tipo de sistema de um só nível, objetivos múltiplos; com cooperação, mas sem coordenação. Interdisciplinaridade auxiliar Quando uma disciplina recorre ao emprego de metodologias de pesquisas próprias ou originais de outras áreas do conhecimento. É um tipo de sistema de dois níveis que admite um nível de integração ao menos teórico. Interdisciplinaridade Interação de duas ou mais disciplinas que pode ir da simples comunicação de ideias à integração mútua dos conceitos da epistemologia, da terminologia, dos procedimentos. É um tipo de sistema de dois níveis e objetivos múltiplos; tendência à horizontalização das relações de poder. Transdisciplinaridade Coordenação de todas as disciplinas sobre a base de uma axiomática; implica, além da cooperação entre as várias disciplinas, um entendimento que as organiza e ultrapassa. É um tipo de sistema de níveis e objetivos múltiplos; tendência à horizontalização das relações de poder. Em termos de profissões e campos de conhecimentos envolvidos, têm-se também profissões e áreas do saber que constituem “recombinações” de uma ou mais disciplinas. O Serviço Social é um desses casos, assim como a Enfermagem, a Terapia Ocupacional, a Educação Física, a Fonoaudiologia. Essas áreas integram equipes multiprofissionais de saúde mental. A integração buscada hoje, na área da saúde mental, está centralizada, sobretudo, no objetivo histórico de revisão dos paradigmas que reduziram e aprisionaram a loucura como objeto de um saber exclusivamente médico e de superação de formas assistenciais que apenas segregam, no sistema público de saúde, desrespeitando, assim, a cidadania do doente mental. O Serviço Social, assim como outras profissões e áreas do saber, constitui-se em recombinações de uma ou mais disciplinas, no que se refere a profissões e campos aplicados de conhecimento. Os 96 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Unidade II conflitos socioinstitucionais entre os saberes se dão diretamente na prática assistencial em instituições e organizações corporativas, em que esses saberes estão sedimentados. Precisamos ter clareza de que a proposta de interdisciplinaridade reconhece de forma dialética a necessidade de diferentes olhares para um mesmo objeto, ao constatar a complexidade dos fenômenos e a busca de uma integração que não interfira diretamente na autonomia e na criatividade interna de cada disciplina integrante, não podendo, assim, prescindir da especialização. Na atual conjuntura, os pactos sociais e científicos passam a ser internacionalizados, por meio da criação de blocos regionais de nações e da própria globalização. Assim, há a necessidade também de uma razão comunicativa e de um diálogo que sustentem a convivência humana e a gestão democrática no plano nacional e internacional. Não significa necessariamente uma imposição de um saber totalitário, quando se ampliam e integram em um campo de saber as diversas disciplinas em ciências sociais. Pelo contrário, estimula a visão do todo, uma abertura por meio do conhecimento mais ampliado, com suas especificidades mantidas. Para compreendermos os conflitos e processos de poder nas práticas interdisciplinares, devemos considerar quatro elementos básicos: • processo de inserção histórica na divisão social e técnica do trabalho e da constituição dos saberes como estratégia de poder; • mandato social sobre um campo específico; • institucionalização de organizações corporativas; • cultura profissional. Cada profissão tem a sua história, o seu mandato social, suas organizações por meio de conselhos, sindicatos, associações e uma cultura conforme a sociedade em que se insere, por meio de valores culturais, identidades sociais, preferências. As barreiras impostas – no que diz respeito à troca de saberes – às práticas interprofissionais colaborativas e flexíveis se dão pelo fato de a interdisciplinaridade conviver, na prática profissional, com um conjunto de estratégias de saber/poder, de competição e de processos institucionais e socioculturais muito fortes. As propostas de prática interdisciplinar precisam ser concebidas e analisadas com a devida consideração das estruturas históricas e institucionais. É fundamental, para uma análise crítica das práticas interdisciplinares, uma compreensão mais específica das identidades profissionais e da dinâmica da cultura. 97 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Serviço Social em equipe multidiSciplinar As identidades construídas pelas categorias e grupos profissionais, assim como outras formas de identidade social, dão segurança e status por meio do estabelecimento dos padrões de competência e da organização dos dispositivos de ação. Como condições para que os profissionais se engajem em práticas interdisciplinares, é preciso que haja adesão às propostas de mudança de suas identidades convencionais. As condições de emprego, como um mínimo de reciprocidade quanto a salários dignos, condições de trabalho compatíveis e jornada de trabalho que evite o multiemprego, são fatores que influenciam o compromissocom o trabalho e o investimento em treinamento e supervisão. As estruturas históricas e instituições extremamente poderosas e complexas devem ser levadas em consideração na análise das propostas de prática interdisciplinar, pois possuem uma dinâmica própria que pode tender a uma resistência quanto aos processos de mudança técnica, social e política. Podem-se levar em consideração algumas sugestões para o desenvolvimento de propostas no trabalho multidisciplinar, conforme segue: • estimular a discussão de legislações profissionais em geral e do sistema ou área específicos de trabalho, assim como dos estatutos desses serviços, no intuito de descobrir brechas que permitam melhor distribuição de responsabilidades legais pela assistência entre diversos profissionais, o que possibilitaria, assim, a flexibilização dos mandatos sociais; • seleção de profissionais, recrutamento dos que se identificam politicamente com projeto assistencial inovador, que possuam flexibilidade e competência para o desenvolvimento do trabalho de acordo com a prática proposta; • criar, entre os trabalhadores da equipe, uma vontade política que seja a mais consensual possível em torno de um projeto teórico, político e assistencial que contemple novas perspectivas e experiências concretas. Um projeto político-assistencial que seja fundamental para a criação de balizas mais gerais de orientação e avaliação, em termos profissionais, que esteja acima das veleidades e particularidades das categorias ou subgrupos profissionais; • estimular a negociação constante nas relações institucionais do serviço, uma estrutura democrática, mecanismos de discussão e decisão horizontais, sem privilégios corporativos, o que não significa, de modo algum, democratismo ou complacência generalizada, tornando, assim, difícil a prestação de contas e a cobrança dos deveres de cada um; • criação de dispositivos grupais e institucionais, possibilitando aos profissionais que reconheçam suas fragilidades, limites de sua abordagem, troca de experiências. A supervisão pode ter uma função importante na implementação da democratização das equipes e da interdisciplinaridade; • em relação à estrutura institucional, é importante a criação e a negociação de dispositivos de defesa e autonomia relativas dentro do serviço, no que diz respeito a cobranças corporativas, administrativas e institucionais conservadoras que venham de fora, propiciando, assim, um clima 98 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Unidade II de maior segurança interna para a ousadia e experimentação de novos dispositivos técnicos, assistenciais e éticos; • reconhecer a importância da conexão de ensino e pesquisa aos novos serviços; • constituir um processo mais coletivo no estabelecimento de metodologias, técnicas e abordagens; • ouvir os usuários e, quando for o caso, os familiares destes, prevendo mecanismos de escuta e participação ativa. No cotidiano institucional ou empresarial, os profissionais de diferentes áreas enfrentam relações cuja qualidade interfere no alcance dos resultados, pois são culturas profissionais diversas objetivando propósitos comuns. Os profissionais de Serviço Social nas empresas estão inseridos em equipes interdisciplinares e/ou multidisciplinares. Conforme citado, nos projetos desenvolvidos pelos assistentes sociais, o trabalho interdisciplinar é feito em uma abordagem preventiva, diminuindo o enfoque da abordagem individual, gerando crescimento tanto profissional quanto em relação aos resultados para os usuários ou funcionários atendidos. Em uma pesquisa, um dos profissionais de Serviço Social empregado de uma empresa de economia mista relatou que as ações, antes, eram mais voltadas para possíveis resoluções de problemas. Atualmente, há um novo campo de ação para a área, em educação continuada, desenvolvimento de pessoas, equipe interdisciplinar, inserção nos recursos para trabalhar a qualidade de vida, autogestão, desenvolvimento e empregabilidade. Podemos constatar que as empresas, atualmente, adotam princípios com fortes traços de cooperação, harmonia, confiança e comprometimento; possibilitam e abrem espaço para um trabalho em equipe com abordagem interdisciplinar. Em nossa profissão é muito importante o investimento no aperfeiçoamento, para estarmos aptos a trabalhar com novas situações colocadas em nosso cotidiano profissional. Assim, investindo na nossa qualificação profissional, poderemos preservar nossos espaços de atuação e legitimar nossa prática profissional. Em um mesmo ambiente de trabalho, a multidisciplinaridade, mesmo não sendo uma prática caracterizada pelo intercâmbio, pode ser expressa pela pacificidade. Quanto à interdisciplinaridade, esta necessariamente implica uma relação de sujeitos: reciprocidade, discussão, trocas entre especialistas das profissões envolvidas no contexto, respeito pela visão de mundo do outro, ampliação da consciência crítica do conjunto. Para um bom trabalho interdisciplinar, devemos procurar sempre aprender a escutar o outro. O ato de escutar e respeitar o outro leva ao mútuo enriquecimento e é determinante para que o profissional se torne hábil no enfrentamento das questões a serem analisadas conjuntamente por diferentes profissionais. 99 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Serviço Social em equipe multidiSciplinar Precisamos ter consciência da realidade das instituições e empresas que tendem a cobrar especificidade e valorizar os profissionais por isso e podemos contribuir para uma ação interdisciplinar diante das diferentes situações de maneira efetiva e competente. A formação em Serviço Social permite uma visão ampla no enfrentamento do genérico, e, considerando que diferentes profissionais estão presentes nas relações de trabalho, é de se esperar diversidade de relações diante de várias situações. Cabe o reconhecimento de que a interdisciplinaridade determina a cada disciplina a tarefa de transcender sua especialidade e acolher contribuições de outras disciplinas. 6 REESTRUTURAÇÃO NOS BANcOS E AÇÃO DO SERVIÇO SOcIAL Como previamente analisado por nós, a natureza humana tem passado por diferentes e intensificadas transformações (biológicas e sociais), as quais afetam de maneira direta ou indireta as seguintes áreas: • desenvolvimento; • território; • psicologia; • física; • cultural; • ambiental; • entre outras. No entanto, essas ações não acontecem de maneira isolada, e ao entendermos sob esta ótica, ou seja, ao acatarmos que fatores externos influenciam as características do ser humano e sua socialização (relações sociais), temos de ficar atentos às mudanças, sobretudo, às estruturais. Como exemplo, temos, nos primórdios, a população indígena, que age para promover o bem coletivo e a proteção de todos os que fazem parte do grupo instituído, mas, no decorrer da historicidade humana, os interesses individuais não atingem o objetivo coletivo. O homem tem a capacidade de transformar conscientemente objetos para satisfazer seus desejos (pessoais ou não) e intensifica cada vez mais a necessidade de transformar-se. Esse desejo é potencializado pelo mercado de consumo, já que o valor do homem está no que ele tem, e não no que ele é. Ao refletir que variações ocorridas foram necessárias para gerar condições de sobrevivência, foi preciso “ajustar” a necessidade do capital à sociedade, sendo isso conotado como medida protetiva de sua espécie. Por que isso é possível? Pelo fato de o ser humano possuir a capacidade teleológica, ou seja, de prever, planejar seus objetivos, a ação, e caracterizá-la antes de acontecer, provocando uma ação “refletida” e não imediatista.Infelizmente, porém, tal prática caiu em desuso por diversos profissionais. 100 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Unidade II Indo ao encontro do mundo dos desejos, Dupas (2001, p. 29) coloca que “as ideias apresentam anseios humanos e exercem um poder decisivo na história”. Idealizamos aquilo que queremos possuir de maneira concreta e, possivelmente, abstrata. Tal modo de agir, e até mesmo de pensar, pode estar associado à globalização. A globalização foi-se preparando nesses dois processos anteriores por meio de uma intensificação das dependências recíprocas (BECK, 1998), do crescimento e da aceleração de redes econômicas e culturais que operam em escala mundial e sobre uma base mundial. Mas foram necessários os satélites e o desenvolvimento de sistemas de informação, manufatura e processamento de bens com recursos eletrônicos, o transporte aéreo, os trens de alta velocidade e os serviços distribuídos em nível planetário para que se construísse um mercado mundial, onde o dinheiro e a produção de bens e mensagens se desterritorializassem, as fronteiras geográficas se tornassem porosas e as alfândegas fossem muitas vezes inoperantes. Ocorre nesse momento uma interação mais complexa e interdependente entre focos dispersos de produção, circulação e consumo [...]. Longe de mim sugerir um determinismo tecnológico; quero apenas demonstrar o papel facilitador da tecnologia. Na verdade os novos fluxos comunicacionais informatizados geraram processos globais ao se associarem a grandes concentrações de capitais industriais e financeiros, com a flexibilização e eliminação de restrições e controles nacionais que limitavam as transações internacionais (CANCLINI, 2007, p. 42). A globalização não aconteceu (e não acontece) isoladamente ou temporariamente, e sim como um fenômeno que só foi possível com a tecnologia, a comunicabilidade e a interdependência dos países, sob a ótica do acúmulo da riqueza, da concentração do poder e da economia. A globalização influenciou os povos em diversos aspectos, por exemplo: • político; • cultural; • educacional; • de saúde; • familiar; • de trabalho; • de meios de produção; • entre outros. 101 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Serviço Social em equipe multidiSciplinar Além disso, a globalização, sucintamente, é a interação global (de diversos países), sendo marcada pelas características de quebra de fronteiras, unificação econômica e influência do capitalismo, que gera a acentuação das desigualdades em diferentes campos, avanços da tecnologia e pesquisas. É preciso perguntar: se a globalização existe, provavelmente beneficie alguém, mas quem? Alguns estudiosos economistas defendem que os grandes beneficiários dela sejam: • países desenvolvidos, com grandes economias de exportação, mercado interno e presença mundial cada vez maior, ou seja, influentes mundialmente. Também trouxe alguns aspectos positivos para a sociedade, como: • a internet, permitindo maior facilitação na comunicabilidade com pessoas de qualquer parte do mundo, assim, aproximando os povos e as famílias; • novos estudos em diversas áreas, promovendo a discussão de assuntos de interesse coletivo; • melhoramento do transporte. Contudo, por estar associada ao capitalismo, a globalização acentua o crescimento desigual da sociedade, pois nem todos têm o mesmo acesso; o que diferencia é o poder de compra e o real interesse no processo. Para satisfazer o mercado, é proposta a quebra de fronteiras da economia na globalização que, por sua vez, intensifica o comércio internacional, potencializando a mudança dos hábitos de consumo de quase todos os povos do mundo, e, por consequência, o governo começa a rever suas políticas econômicas. Ao mesmo tempo, isso influencia as instituições bancárias que se internacionalizam e buscam a hegemonia do mercado consumidor, com o intuito do aumento do lucro, quando todas as transações financeiras passam a ser feitas com a mediação dos bancos; por exemplo, grande parte das organizações solicita ao empregado que tenha conta em determinado banco para pagamento do salário e outros benefícios; com isso, o colaborador, em muitos casos, precisa recolher taxas sobre as transações realizadas. Quando abordamos trocas de hábitos de consumo, falamos, por exemplo, de veículos automotores, criados como meio de transporte mais rápido e individualizado para o consumidor e que, atualmente, são considerados como artigo de luxo, com acessórios para atrair maior número de consumidores, que, por vezes, preferem comprar um determinado modelo por conta destes, perfazendo a ideia de trocar na mesma medida em que o mercado faz outro lançamento de modelo. Com esse mercado consumidor, os países não se limitam ao mercado interno, pois podem exportar produtos para outros países, bem como comprar tecnologias que não fabricam, uma constatação admitida até na China. Há pouco tempo, este país era o maior exemplo de economia fechada, e hoje é campeão de captação de investimentos estrangeiros, de olho em um mercado de 1 bilhão de consumidores exacerbados; por características peculiares e nem sempre elogiáveis, pode lançar produtos com grande 102 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Unidade II poder de competição no mercado externo. Tal expansão visa ao aumento do lucro, que é o que move a arena dos mercados. A guerra é cada vez mais econômica, e o campo de batalha é o mercado mundial altamente globalizado. A invasão atual se dá instantaneamente on-line, via redes mundiais de computadores. Segundo alguns cientistas políticos, a globalização é o movimento sobre o qual se constrói o processo de ampliação da hegemonia econômica, política e cultural ocidental das nações. Os interesses nela colocam o aumento da lucratividade e da expansão do mercado consumidor em primeiro plano, e somente depois se articula o pensamento coletivo, ou seja, a influência negativa que este estabelece na população que não faz parte do empresariado. Por haver interesses de cunho econômico, as articulações societárias também são influenciadas por tais preceitos, não permitindo uma participação consciente, autônoma, reflexiva e desprendida de interesses individuais do ser humano no interior das suas sociedades, pois estes são vistos como consumidores e possíveis geradores de lucro, e não como cidadãos, sujeitos de direitos, com necessidades. Com tal perspectiva de sobreposição do interesse individual sobre o coletivo, a economia no melhoramento de questões sociais fere diretamente os direitos legalmente instituídos em um Estado Democrático de Direito, provocando a diminuição de suas ações, direcionando-as de acordo com o interesse do capital/mercado, intensificando a exclusão social de maneira geral, bem como seus reflexos. Diante de tudo o que discutimos neste item, ainda é possível reconstruir e organizar uma sociedade com cidadania plena e participativa? Ao nos respaldarmos na Constituição Federal de 1988 para esta reflexão, nos deparamos com os fundamentos do país: Art. 1º – A República Federativa do Brasil, [...] constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I – a soberania; II – a cidadania; III – a dignidade da pessoa humana; IV – os valores sociais do trabalho e da livre-iniciativa; V – o pluralismo político. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição (BRASIL, 1988). Constitucionalmente o artigo citado colocaa soberania do Estado, ou seja, poucos (representantes) pensando por muitos; talvez não seja a melhor forma de democracia. Tal lei posta também o trabalho como valor social, entretanto com livre-iniciativa, denotando visão capitalista. 103 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Serviço Social em equipe multidiSciplinar Art. 3º – Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I – construir uma sociedade livre, justa e solidária; II – garantir o desenvolvimento nacional; III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (BRASIL, 1988). O bojo do artigo 3º é composto por objetivos que levam a entender que o foco de atuação é a igualdade, mas indiretamente também coloca a questão industrial quando fala sobre o desenvolvimento. Art. 4º – A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: I – independência nacional; II – prevalência dos direitos humanos; III – autodeterminação dos povos; IV – não intervenção; V – igualdade entre os Estados; VI – defesa da paz; VII – solução pacífica dos conflitos; VIII – repúdio ao terrorismo e ao racismo; IX – cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; X – concessão de asilo político. Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações (BRASIL, 1988). No artigo 4º, há uma contradição ao discursar “independência nacional” com o modelo econômico vigente, visto que não existe esse preceito, pois, como vimos no decorrer deste livro-texto, vivemos sob a dependência, principalmente, mercantil. Art. 5º – Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. [...] (BRASIL, 1988). No artigo 5º, é posto claramente que somos iguais perante a lei, independentemente de características, mas será que é isso é respeitado na prática? Como técnicos, compactuamos com a igualdade ou com a desigualdade no cotidiano profissional? Estabelece também a inviolabilidade da propriedade, favorecendo 104 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Unidade II os grandes latifundiários (donos de grandes áreas); estes fazem parte dos nossos representantes, logo precisam proteger os interesses pessoais. “Art. 6o – São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição” (BRASIL, 1988). O artigo 6º é um dos mais interessantes para nossos estudos, pois afirma como direito dez áreas, cabendo uma reflexão: se é direito, de quem é o dever de sua promoção? A Constituição colocará para cada item suas formas de efetivação. Os artigos 7º, 8º, 9º, 10 e 11 colocam as questões direcionadas aos trabalhadores. O artigo 14 direciona a área política e, neste, vemos um retrocesso quanto à cidadania, à autonomia e à liberdade, ao colocar a obrigatoriedade do voto aos maiores de 18 anos não igualando os analfabetos e maiores de 70 anos na condição de representantes do povo, pois o voto dessa população é facultativo, bem como o dos que têm entre 16 e 18 anos. No artigo 144, são postas questões de segurança, bem como seus representantes e respctivas responsabilidades. Art. 144 – A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: I – polícia federal; II – polícia rodoviária federal; III – polícia ferroviária federal; IV – polícias civis; V – polícias militares e corpos de bombeiros militares (BRASIL, 1988). É um direito de todos ter acesso a serviços que levem à segurança pública, bem como dever do Estado a prestação destes serviços; entretanto, a sociedade também é responsabilizada na sua dinâmica. No artigo 193, temos: “a ordem social tem como base o primado do trabalho, e como objetivo o bem-estar e a justiça sociais”. Aqui evidenciamos a responsabilidade que é posta ao trabalho, mas e quanto às pessoas que não o possuem? O artigo 194 dispõe que a “seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social”. Então a seguridade, que tem seu tripé formado por saúde, previdência e assistência social, mais uma vez discursa como direito e não explicita de quem é o dever da promoção. O parágrafo único complementa: 105 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Serviço Social em equipe multidiSciplinar Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade social, com base nos seguintes objetivos: I – universalidade da cobertura e do atendimento; II – uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais; III – seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços; IV – irredutibilidade do valor dos benefícios; V – equidade na forma de participação no custeio; VI – diversidade da base de financiamento (BRASIL, 1988). Vamos direcionar as observações ao inciso III, que estabelece “seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços”, ou seja, os benefícios e serviços não são para todos. No artigo 196, temos no texto que “a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantida mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” (BRASIL, 1988). Inova quando dispõe o aspecto de proteção (prevenção) como um dever do Estado e não coloca condições de uso. O artigo 201 traz em seu bojo a previdência social, que tem como beneficiários somente os contribuintes, ou seja, não é para todos, “será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados os critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei”. Nos artigos 203 e 204, temos a direção para a assistência social: Art. 203 – A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos: I – a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; II – o amparo às crianças e aos adolescentes carentes; III – a promoção da integração ao mercado de trabalho; IV – a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; V – a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei. Art. 204 – As ações governamentais na área da assistência social serão realizadas com recursos do orçamento da seguridade social, previstos no art. 195, além de outras fontes, e organizadas com base nas seguintes diretrizes: 106 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia/V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Unidade II I – descentralização político-administrativa, cabendo a coordenação e as normas gerais à esfera federal e a coordenação e a execução dos respectivos programas às esferas estadual e municipal, bem como a entidades beneficentes e de assistência social; II – participação da população, por meio de organizações representativas, na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis. Parágrafo único. É facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular a programa de apoio à inclusão e promoção social até cinco décimos por cento de sua receita tributária líquida, vedada a aplicação desses recursos no pagamento de: I – despesas com pessoal e encargos sociais; II – serviço da dívida; III – qualquer outra despesa corrente não vinculada diretamente aos investimentos ou ações apoiados (BRASIL, 1988). Como observamos, é colocada como direito de todos a quem dela precisar, mas por qual motivo “selecionar” os beneficiários de uma lei que deveria ser para todos? É o que acontece costumeiramente, visto que, como muitos programas e serviços, selecionam muitos que precisam, mas não se “enquadram” no perfil dos atendidos, permeando o não acesso. Do artigo 205 ao 214, temos o assunto atrelado à educação; no 215 e no 216 à cultura; e no artigo 217, ao desporto. Art. 205 – A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. [...] Art. 215 – O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais. [...] Art. 217 – É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não formais, como direito de cada um, observados: I – a autonomia das entidades desportivas dirigentes e associações, quanto à sua organização e funcionamento; 107 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Serviço Social em equipe multidiSciplinar II – a destinação de recursos públicos para a promoção prioritária do desporto educacional e, em casos específicos, para a do desporto de alto rendimento; III – o tratamento diferenciado para o desporto profissional e o não profissional; IV – a proteção e o incentivo às manifestações desportivas de criação nacional (BRASIL, 1988). A educação é colocada como direito de todos e dever do Estado e da família, responsabilizando, mais uma vez, o cidadão. A inclusão não depende somente de ter vaga na organização escolar. Quanto ao acesso à cultura, é de responsabilidade do Estado sua garantia, entretanto é necessária a promoção do interesse pela cultura, pois não temos esse hábito; já em se tratando do esporte, é direito singular sua prática, e dever do Estado sua fomentação. Voltando à questão da globalização, temos de entender que ela trouxe a política neoliberal e, com isso, a redução de despesas públicas que seriam destinadas a setores como saúde, assistência e previdência social; a flexibilização de direitos trabalhistas; desemprego estrutural; aumento da desigualdade; reflexos da exclusão social; e a grande intensificação da diferença entre as camadas sociais; além da privatização de instituições bancárias. Ao ser imposta a lógica competitiva das relações mercantis (bancos), visando à ascensão produtiva e econômica dos detentores do meio de produção, por consequência, temos também uma sociedade competitiva, ou seja, que não consegue ver o outro como igual, e sim como adversário, alimentando o desejo de destruição. Observação O neoliberalismo é um conjunto de ideias que defende um mercado livre e global, em oposição ao keynesianismo. Os neoliberais enfatizavam a abertura da economia com a liberação financeira e comercial. Diante do problema exposto quanto à formação da cidadania plena e autônoma em um ambiente globalizado, faz-se necessária uma prática complexa e não superficial direcionada aos princípios fundamentais estabelecidos em nosso Código de Ética de 1993. Essa nova arquitetura do Estado-nação que, segundo Tostes (2004, p. 57), é “uma estratégia de institucionalização de identidade de uma certa coletividade”, tem sido influenciada e moldada por outra consequência vinda do crescimento tecnológico da modernidade globalizada, ou seja, a falta de parâmetros conceituais para explicar os acontecimentos vivenciados no presente, pois os significados de clássicos conceitos, como liberdade, igualdade, soberania, entre outros, já não é mais algo absoluto ou estático; antes, foram relativizados em uma época de insegurança e incerteza permanentes. Somos “lançados em um vasto mar aberto, sem cartas de navegação e com todas as boias de sinalização submersas e mal visíveis” (BAUMAN, 1999, p. 93). 108 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Unidade II Os que apoiam a globalização na relação mercantil a associam diretamente com o progresso (termo amplo e diferenciado, dependendo do sujeito), mas cabe uma pergunta: o que é exatamente progresso? Numa visão capitalista, é o mercado gerando produtos para o consumo, não preocupado com os reflexos da questão social, e sim com o empoderamento dos meios de produção e crescimento do lucro, prática bastante difundida entre os bancos. Mas como pensar em progresso na medida em que, para muitos, lhes são comprometidos a dignidade, a cidadania, a identidade, as relações e o próprio ser humano? Lembre-se de que uma nação justa em todos os aspectos se faz de estruturas bem-solidificadas, seja no social, no econômico, na saúde, na educação, na segurança, no lazer e na cidadania, que, juntos, formam o que chamamos de vida plena, porém em conjunto com a população. Podemos fazer uma analogia dos interesses bancários, do empresariado em relação ao território, pois, de acordo com o texto “O Dinheiro e o Território”, a “geograficidade se impõe como condição histórica [...] a partir do conhecimento do que é o território” (SANTOS, 2007, p. 13), ou seja, “a geograficidade, como essência define a relação do ser-no-mundo e não do ser-no-espaço” (HOLZER, 1997, p. 80). Desta forma, este conceito atrela-se à construção histórica da qual o indivíduo é acometido, na medida em que se relaciona com o mundo, a partir de um território que se trata do “lugar em que desembocam todas as ações, todas as paixões, todos os poderes, todas as forças, todas as fraquezas, isto é, onde a história do homem plenamente se realiza a partir das manifestações da sua existência” (SANTOS, 2007, p. 13). Na medida em que o indivíduo verifica a possibilidade de obter rendimentos com a comercialização do excesso produzido, surge, em seu cotidiano, o dinheiro e uma contradição: “o dinheiro, que tudo busca desmanchar, e o território, que mostra que há coisas que não se podem desmanchar” (SANTOS, 2007, p. 13). O território não é apenas o conjunto dos sistemas naturais e de sistemas de coisas superpostas. [...] tem que ser entendido como o território usado, não o território em si. O território usado é o chão mais a identidade (SANTOS, 2007, p. 14). Para Sack (1983), território é a área geográfica em que um indivíduo ou grupo influencia objetos, pessoas e relacionamentos existentes, ou seja, com o intuito de controlá-la, sendo uma categoria de análise. Completando o direcionamento de Milton Santos, dessa forma, trata-se de um território utilizado, o qual possui uma identidade que é “o sentimento de pertencer àquilo quenos pertence [...]. Assim, é o território que ajuda a fabricar a nação, para que a nação depois o afeiçoe” (SANTOS, 2007, p. 14). Nesse momento, o dinheiro aparece em decorrência de uma vida econômica tornada complexa, quando o simples escambo já não basta, e, ao longo do tempo, 109 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Serviço Social em equipe multidiSciplinar acaba se impondo como um equivalente geral de todas as coisas que existem e são, ou serão, ou poderão ser, objeto de comércio. Desse modo, o dinheiro pretende ser a medida do valor que é, desse modo, atribuído ao trabalho e aos seus resultados (SANTOS, 2007, p. 14). Milton Santos (2007, p. 14-5) faz um apontamento interessante na medida em que “num primeiro momento há um dinheiro local, expressivo de contextos geográficos limitados e de um horizonte comercial limitado. Era o tempo de um mundo cuja compartimentação produzia alvéolos que seriam quase autocontidos”, ou seja, tinha rotatividade local, pois o território era influenciado somente pelos resquícios do saber do sítio, porque então as técnicas eram de alguma forma herdeiras da natureza circundante ou um prolongamento do corpo. Elas eram ao mesmo tempo o resultado desse afeiçoamento do corpo à natureza e desse comando da natureza sobre a história possível, de tal maneira que a tecnicidade, a partir dos objetos fabricados além do corpo, era limitada (SANTOS, 2007, p. 15). Pode-se visualizar que “a vida material de algum modo se impunha sobre o resto da vida social” (SANTOS, 2007, p. 15), e nessa influência a terra começa a ganhar valor comercial, pois “o valor de cada pedaço de chão lhe era atribuído pelo próprio uso desse pedaço de chão [...], o território assim delineado rege o dinheiro; o território era usado por uma sociedade localizada, assim como o dinheiro” (SANTOS, 2007, p. 15). Na medida em que a comercialização foi crescendo, houve paralelamente “a interdependência crescente entre sociedades, com a produção de um número maior de objetos e de um número maior de valores a trocar, a complexificação do dinheiro, com o alargamento do seu uso e da sua eficácia” (SANTOS, 2007, p. 15). Entretanto, era preciso determinada segurança nessas trocas e, nesse momento, o “dinheiro começa sua trajetória como informação e como regulador” (SANTOS, 2007, p. 15). Cria-se o Estado territorial, o território nacional, o Estado nacional, que passam a reger o dinheiro. [...] É evidente que o dinheiro nacional sofre modulações internacionais. [...] Mais profundamente a partir da presença forte do Estado, esse dinheiro é representativo das relações então profundas entre Estado territorial, território nacional, Estado nacional, nação. Era um dinheiro relativamente domesticado, o que era feito dentro dos territórios (SANTOS, 2007, p. 16). Com a facilitação da troca de informações entre pessoas e empresas, as relações “permitem que as mais diversas técnicas se comuniquem” (SANTOS, 2007, p. 17) e, nesse ponto, causa dependência e distância cada vez mais aos indivíduos, pois as relações ficam intermediadas por aparelhos tecnológicos, quais sejam, televisão, telefone, internet, entre outros. Essas técnicas da informação que, afinal, a partir do planeta, produzem um mundo (e é por isso que se fala de globalização), e que nos levam à ilusão 110 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Unidade II da velocidade como matriz de tudo, como necessidade indispensável e que certamente criam uma fluidez potencial transformada nessa fluidez efetiva a serviço de capitais globalizados, de tal modo que o dinheiro aparece como fluido dos fluidos, o elemento que imprime velocidade aos outros elementos da história. No entanto, se o dinheiro que comanda é dinheiro global, o território ainda resiste. [...] Em outras palavras, o território também pode ser definido nas suas desigualdades a partir da ideia de que a existência do dinheiro no território não se dá da mesma forma. [...] Mas, sobretudo, o comando se dá a partir do dinheiro global (SANTOS, 2007, p. 17). Logo, “o dinheiro aumenta sua indispensabilidade e invade os mais numerosos aspectos da vida econômica e social [...]. O dinheiro é, cada vez mais, um dado essencial para o uso do território” (SANTOS, 2005, p. 99). Mas quem sustenta esse dinheiro? [...] é sustentado por operações da ordem da infraestrutura. É um dinheiro sustentado por um sistema ideológico. Esse dinheiro global é o equivalente geral dele próprio. E por isso ele funciona de forma autônoma e a partir de normas (SANTOS, 2007, p. 17). Ainda de acordo com Santos (2007, p. 18), vivemos em uma era de ditaduras, pois “a ditadura do dinheiro não seria possível sem a ditadura da informação”. No texto solicitado para análise, o autor faz uma comparação do momento contemporâneo com o da década de 1980, pois “há 25 anos, empolgava-nos a assimilação da diferença entre o veraz e o não verdadeiro, entre a aparência e a existência, entre o ideológico e o real” (SANTOS, 2007, p. 18). Atualmente a globalização promove [...] um mercado avassalador, dito global, é apresentado como capaz de homogeneizar o planeta quando, na verdade, as diferenças locais são aprofundadas. Há uma busca de uniformidade, ao serviço dos atores hegemônicos, mas o mundo se torna menos unido, tornando mais distante o sonho de uma cidadania verdadeiramente universal. Enquanto isso, o culto ao consumo é estimulado (SANTOS, 2005, p. 19). As empresas buscam maior mercado consumidor e assumem a lógica da competitividade; para isso, adotam medidas que têm como resultado seu crescimento e adotam o sistema de fusões (produção material e de informação). “Essas fusões reduzem o número de atores globais e, ao mesmo tempo, a partir da noção de competitividade, conduzem as empresas a disputarem o menor espaço, a menor fatia do mercado” (SANTOS, 2007, p. 18). Mas o Estado não pode ser a inteligência que as empresas precisam, pois [...] essas lógicas individuais necessitam de uma inteligência geral, e essa inteligência geral não pode ser confiada aos Estados, porque estes podem 111 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Serviço Social em equipe multidiSciplinar decidir atender aos reclames das populações. Então, são esses governos globais, representados pelo Fundo Monetário Internacional, pelo Banco Mundial, pelos bancos internacionais regionais, como o BID, pelo consenso de Washington, pelas Universidades centrais produtoras de ideias de globalização e pelas universidades subalternas que aceitam reproduzi-las (SANTOS, 2007, p. 19). Dessa forma, é preciso entender que o conteúdo do território é diferente de outros momentos da história, principalmente, com a globalização nas mais diferentes áreas, “seja o conteúdo demográfico, o econômico, o fiscal, o financeiro, o político” (SANTOS, 2007, p. 20). Essa instabilidade é visualizada nos territórios e na sociedade e os compõe, pois [...] a presença das empresas globais no território é um fator de desorganização, de desagregação, já que elas impõem cegamente uma multidão de nexos que são do interesse próprio, enquanto ao resto do ambiente nexos que refletem as suas necessidades individualistas, particularistas. Por isso, o território brasileiro se tornou ingovernável. E como o território é o lugar de todos os homens, de todas as empresas e de todas as instituições, o país também se tornou ingovernável, como nação, como Estado e como município (SANTOS, 2007, p. 20-1). Para reflexão, vale finalizar com a observação de que[...] outro dado que resiste a essa ação cega do dinheiro é a cidadania. No caso do Brasil isso é grave, porque o fato de que jamais tivemos cidadãos faz com que a fluidez dessas forças de desorganização se estabeleça com a rapidez com que se instala (SANTOS, 2007, p. 21). Nesse sentido, podemos associar as instituições bancárias com meios direcionados à superexploração, pois é com os juros que o dinheiro ganha maior rentabilidade, ou seja, com a venda dos serviços já está associado o lucro do banco; porém, com os juros pelo não pagamento, por exemplo, é triplicado seu lucro. A esse sistema chamamos superexploração, por explorar o indivíduo sob vários aspectos em uma mesma situação, fazendo que o sujeito fique cada vez mais dependente dessas organizações que empregam maior número de pessoas no setor financeiro. Por tal motivo é que se coloca o valor do dinheiro à nossa realidade, em razão das nossas necessidades cotidianas estarem envolvidas em questões mercantis, de compra e venda de diversos segmentos, incluindo a força de trabalho. Esse movimento causa a interdependência dos envolvidos, já que algumas empresas produtivas, por inúmeros motivos, também se utilizam dos serviços de empréstimos bancários para resolverem situações emergenciais; porém, se não planejado, causará a dependência direta do contratante, que, além de pagar pelo serviço prestado, pagará os juros do serviço. Já que diversos bancos 112 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Unidade II vendem tais empréstimos pelo valor da parcela, e não pelo valor do juro final que o consumidor pagará, essa real dependência é o que gera a lucratividade das instituições bancárias. Veremos os lucros bancários em 2010, de acordo com dados informativos do Dieese, comparando as instituições em relação ao ano anterior, ou seja, 2009. Para tanto, verificamos que todas tiveram taxa de crescimento. 14.000 12.000 10.000 8.000 6.000 4.000 2.000 0 Em R$ milhões 2010 2009 BB 2010 2009 CEF 2010 2009 Bradesco 2010 2009 Itaú 2010 2009 Santander 2010 2009 HSBC 11.703 10.148 3.764 3.803 3.007 1.806 1.082 670 10.022 8.012 13.323 10.067 Figura 1 – Lucros bancários em 2010 Como é perceptível, todas as redes bancárias tiveram crescimento em maior ou menor proporção, e temos de ter clareza de que a exploração gera lucratividade aos que possuem os meios de produção de itens palpáveis ou não. 7 O SERVIÇO SOcIAL E A SAúDE DO TRABALHADOR NAS ORgANIzAÇõES PúBLIcAS E PRIVADAS Neste tópico, trataremos sobre a participação dos assistentes sociais nos conselhos de saúde, tendo em vista serem espaços de participação de vários segmentos – consequentemente, espaços em que ocorrem consensos e discordâncias para atingir objetivos comuns a serem deliberados. Não significa, porém, que em relação à multidisciplinaridade seja somente um espaço de trabalho e de debates entre diferentes profissionais, mas oportunidade de diálogo com os usuários dos serviços públicos de saúde. As classes trabalhadoras, nos anos 1980, conseguiram, por meio de suas organizações e reivindicações, significativas vitórias nos âmbitos social e político, porém não no âmbito econômico. A ruptura com a ditadura militar (1964-1985), com conquistas em diversas áreas, não alterou as questões relativas ao latifúndio – não houve grandes conquistas em relação à questão agrária e ao grande capital –, principalmente, quanto ao capital bancário. Dois projetos societários nas eleições presidenciais de 1989 disputaram o poder: democracia de massas versus democracia restrita. A primeira previa a ampla participação social com a conjugação 113 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Serviço Social em equipe multidiSciplinar das instituições parlamentares, e os sistemas partidários com uma rede de organizações de base. Já a segunda restringia os direitos sociais e políticos por meio da concepção de Estado mínimo, ou seja, a redução de suas ações e responsabilidades. Com a vitória do projeto de democracia restrita, ocorre a acirrada crítica às conquistas sociais da Constituição Federal de 1988, principalmente, quanto à concepção de seguridade social. O Estado passa a assumir a agenda das reformas de cunho neoliberal, a defesa do processo de privatização e o entendimento do cidadão consumidor. Quanto ao processo de privatização, destaca-se a mercantilização da saúde e da previdência social, juntamente com a ampliação do assistencialismo: a reforma da previdência, a defesa do Sistema Único de Saúde (SUS) para os pobres e a refilantropização da assistência social. Na saúde, rompe-se com a integralidade por meio de dois subsistemas – um de entrada e controle, construído pelo atendimento básico, de responsabilidade do Estado (pois esse tipo de atendimento não é de interesse do setor privado), e outro de referência ambulatorial e especializada, de maior complexidade – a serem transformados em organizações sociais (OS). A universalização preconizada na Constituição Federal de 1988 é excludente, pois ocorre o estímulo ao seguro privado de saúde, um pacote mínimo para o SUS atender aos pobres, ele o projeto de reforma sanitária construído na década de 1980 é barrado pelo projeto privativista. Os movimentos sociais na década de 1990 são institucionalizados, e a agenda desses movimentos passa a ser elaborada a partir da agenda governamental, diferentemente do que ocorria na década anterior, quando os movimentos populares eram articulados aos trabalhadores das áreas e formulavam suas agendas apresentando proposições. O mercado de trabalho combina a configuração de desproletarização do trabalho industrial fabril com uma subproletarização, pois ocorrem a desespecialização e a desqualificação do subproletariado moderno e uma tendência à qualificação e à intelectualização dos trabalhadores centrais, fragmentando a classe trabalhadora. Ocorre, nesse período, uma queda nos índices de sindicalização, bem como uma dificuldade de organização entre os trabalhadores, tornando, assim, mais difícil tecer alianças entre os segmentos centrais, os precarizados e os subcontratados, enfraquecendo a resistência à reestruturação produtiva. Na área da saúde, o movimento sanitário está recuado, e algumas conferências e plenárias nacionais que defendem a reforma sanitária ainda mantêm resistência. O Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes) e a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), como entidades participantes do movimento sanitário, não conseguem articular propostas nacionais em defesa da reforma sanitária, restringindo a agenda de lutas quanto à implementação do SUS, o qual não engloba as proposições da reforma sanitária em sua totalidade, com destaque para a intersetorialidade e a necessidade de reformas sociais mais amplas. 114 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Unidade II Com a fragilização dos movimentos sociais, uma estratégia para o fortalecimento da esfera pública são os conselhos de políticas sociais, os quais têm o questionamento da cultura política da crise gerada pelo grande capital como um dos objetivos. Para o processo de democratização da sociedade, é importante a constituição de espaços públicos, destacando-se os conselhos de políticas sociais e de direitos, inscritos na Constituição Federal de 1988 e inseridos no princípio da “participação popular”. A Constituição Federal de 1988 incorporou uma agenda universalista de direitos e proteção social e enfatizou a participaçãoda sociedade na gestão pública de forma compartilhada. Enfatizou ainda a noção de cidadania ativa, em que o cidadão, além de exercer direitos, cumpre deveres e goza de liberdade em relação ao Estado. Na década de 1990, ocorreram avanços da categoria profissional, como a promulgação do Novo Código de Ética do Assistente Social, em 1993, e da nova Lei de Regulamentação da Profissão (Lei nº 8.662/93); o processo de construção da assistência social como política pública; e a aprovação das diretrizes curriculares para os cursos de graduação de Serviço Social, em 1996. Na mesma década, no aspecto acadêmico, várias publicações, principalmente dos cursos de pós-graduação, aprofundaram as reflexões iniciadas na década anterior, consolidando a pesquisa e a pós-graduação em Serviço Social. No entanto, todos esses avanços pouco alteraram o cotidiano dos assistentes sociais na sua intervenção socioprofissional em relação à vertente de ruptura, e, na época, o maior campo de trabalho do Serviço Social era na área da saúde. Diante do contexto de globalização – além do discurso do projeto neoliberal no País e da defesa de Estado mínimo –, o Serviço Social buscava garantir a defesa estratégica do Sistema Único de Saúde (SUS). Nos oito primeiros anos da década de 1990, foram defendidas sete teses de doutorado na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e 82 dissertações de mestrado a respeito da temática Saúde. O I Encontro Nacional de Saúde e Serviço Social, sob a promoção do conjunto CFESS/CRESS, em maio de 1994, teve como principais temáticas abordadas: • “O Estado brasileiro e as políticas públicas como direito de cidadania”; • “SUS – impasses e perspectivas”; • “Política de recursos humanos e o assistente social como trabalhador de saúde”. Observação CRESS: Conselho Regional de Serviço Social. CFESS: Conselho Federal de Serviço Social. 115 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Serviço Social em equipe multidiSciplinar O I Encontro de Serviço Social na esfera da seguridade social no Brasil, em julho de 1997, com a promoção do conjunto CFESS/CRESS, teve a apresentação de trabalhos dividida em duas partes: • gestão e controle social, financiamento e orçamento, programas interdisciplinares e projetos comunitários; • saúde, previdência e assistência social. O I Simpósio de Serviço Social e Saúde, em junho de 1997, em São Paulo, foi organizado pelas equipes de Serviço Social dos hospitais e/ou das unidades da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade de Campinas (Unicamp), sob o tema: “Globalização e sistema de saúde”. O II Simpósio, também em São Paulo, em 1998, abordou o tema “Novas demandas sociais: posicionamento das instituições e do Serviço Social”. Foram realizadas três edições do Congresso de Serviço Social na Oncologia, na década de 1990: em 1995 e 1997, em Vitória-ES; e em 1999, em Fortaleza-CE. É necessário esclarecer que o Serviço Social na saúde tinha diferentes requisições, conforme cada projeto apresentado, como segue: • Projeto Privativista: — seleção socioeconômica dos usuários, com vistas à exclusão; — ação fiscalizadora aos usuários dos planos de saúde; — assistencialismo por meio da ideologia do favor; — predomínio de práticas individuais, atividades burocráticas e gerenciamento das unidades na direção da redução de gastos; — “Inovações gerenciais” articuladas às técnicas de autoajuda, que objetivassem a redução da oferta de serviços e benefícios públicos. • Projeto da Reforma Sanitária: — construção de um novo modelo de gestão; — articulação ensino-pesquisa-assistência; — busca de democratização do acesso às unidades e aos serviços de saúde; — atendimento humanizado; — estratégias de interação da instituição de saúde com a comunidade; 116 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Unidade II — interdisciplinaridade; — ênfase nas abordagens grupais; — acesso democrático às informações; — estímulo à participação cidadã. O debate do Serviço Social na saúde, nos anos 1990, estava expresso em dois veículos: a revista Serviço Social e Sociedade e os cadernos de comunicações dos Congressos Brasileiros de Assistentes Sociais (CBAS). O projeto ético-político da profissão, após o Congresso de 1979, o congresso da virada, como seu marco inicial, caracteriza-se por uma perspectiva de ruptura com o Serviço Social tradicional e com valores vinculados a um projeto de sociedade compromissado com a democracia, a liberdade e a justiça social. O Código de Ética dos Assistentes Sociais, de 1993, a Lei de Regulamentação da Profissão (Lei nº 8662/93) e as Diretrizes Curriculares do Ensino de Serviço Social, de 1996, delineiam e expressam concretamente o projeto ético-político do Serviço Social nesse período, e é nos conselhos que o profissional pode potencializar a participação popular na conquista de seus deveres. Esses espaços públicos devem ser espaços em que se possam expressar as diferenças e representá- las em uma possível negociação, em que circulam valores e formam-se opiniões, proporcionando a redefinição das relações entre Estado e sociedade civil. A constituição de espaços públicos implica a incorporação da sociedade civil na formulação, implementação e gestão da política, mas não a diminuição do papel do Estado. A articulação pode permitir o predomínio da vontade geral e a conservação do pluralismo. A intervenção do assistente social nos conselhos deve ocorrer para desmistificar os reais interesses das classes populares, articulando-os com os interesses coletivos. O Serviço Social na área de saúde e em outras áreas deve ter sua atuação fundamentada nos princípios da justiça social, da democracia e da igualdade, e nos princípios ético-políticos profissionais. Como mecanismos de controle social, ressaltam-se duas tendências centrais acerca dos conselhos de saúde: • considerar que os conselhos estabelecem, de fato, um canal de comunicação com a sociedade; • considerar que há um obstáculo maior para o avanço da reforma democrática do Estado na saúde, na atual conjuntura. A reforma se consubstancia na proposta do SUS, o que tensiona mais ainda o espaço dos conselhos. 117 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Serviço Social em equipe multidiSciplinar É necessário que se tenha consciência das adversidades postas pela realidade, enfrentando o desafio da transformação desses espaços, enfatizando seu potencial democratizante. Assim, é importante que o profissional de Serviço Social contribua para o exercício do controle social na saúde, assim como no processo de democratização do Estado e da sociedade, na conjuntura atual. Ao serem inseridos na área da saúde, os assistentes sociais tiveram de buscar novos conhecimentos teóricos para fortalecer sua prática, pois o setor tem se constituído ao longo da história como uma área com grande demanda, tendo, até os anos 1980, uma atuação com aspecto moral e higienista. O Serviço Social no Brasil teve seu marco na saúde pública a partir dos trabalhos realizados na comunidade por meio de práticas educativas, orientando e informando sobre a higiene das pessoas, incentivando o controle das doenças infantis, o saneamento básico etc., pois os que se encontravam na condição de trabalhadores estavam em extrema miserabilidade e desprovidos de acesso a tais conhecimentos. De acordo com Bravo (2009), a partir da década de 1980, em meio ao período da Ditadura Militar (1964-1985), a mobilização política e a fragilização econômica, ocorre um movimento nasaúde coletiva e também no Serviço Social, com debates teóricos, trazendo algumas temáticas para discussão, como o papel do Estado e as políticas sociais, tendo como base o marxismo. É relevante destacar que desde meados da década anterior o movimento sanitário vinha passando pelo processo de construção, tendo como marco a 8ª Conferência Nacional da Saúde, realizada em 1986. O Sistema de Seguridade Social é formado “[...] a partir da fixação do conjunto de necessidades que são considerados como básicos em uma sociedade” (SPOSATI, 1997 apud BORSATO, 2005, p. 7), que na sociedade brasileira se restringem aos direitos referentes à saúde, à assistência social e à previdência social. Apenas com relação à saúde pode-se considerar juridicamente que seja garantida a proteção integral, como direito de todos e dever do Estado, sendo a previdência contributiva e a assistência social não contributiva, mas voltada a quem dela precisar, ou seja, aos que estão em situação de pobreza. A partir da concepção da seguridade social, criou-se a necessidade de iniciar debates com fundamentação teórico-metodológica de como o assistente social se relaciona com esses conjuntos de ações públicas, “porque é no tripé das políticas setoriais, previdência social, assistência social e saúde que o Serviço Social faz a maior parte de suas intervenções” (BORSATO, 2005, p. 11). Bravo (1999) e Matos (2001) afirmam que, como parte integrante da seguridade social, a saúde teve avanços significativos a partir da elaboração da Constituição Federal de 1988, principalmente com a regularização do SUS logo após, em 1990. Como o assistente social trabalha na perspectiva da efetivação dos direitos, da justiça e da equidade social, com o objetivo de minimizar as desigualdades sociais e econômicas existentes na sociedade capitalista, é preciso que o técnico entenda que: [...] a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de 118 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Unidade II outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação (BRASIL, 1988, p. 45). A tarefa do Estado perante a saúde pública é garantir à população o acesso aos serviços, à construção e à elaboração de políticas públicas que melhorem as condições de vida, fatores determinantes na avaliação da situação de saúde dos sujeitos. O trabalho do assistente social começa a ser impactado na nova configuração da política de saúde em diversas dimensões: condição de trabalho, formação profissional, influências teóricas, ampliação de demandas e relações com outros profissionais. No entanto, o Serviço Social deparou-se com a disputa entre o projeto da reforma sanitária e o projeto privatista,9 que exigem, segundo Bravo e Matos (2006), demandas diferentes para o Serviço Social. Enquanto o projeto privatista exige: [...] seleção socioeconômica dos usuários, atuação psicossocial por meio de aconselhamento, ação fiscalizatória aos usuários dos planos de saúde, assistencialismo através da ideologia do favor e predomínio de abordagens individuais (CFESS, 2010, p. 26). A reforma sanitária exige: [...] busca de democratização do acesso às unidades e aos serviços de saúde, atendimento humanizado, estratégias de interação da instituição de saúde com a realidade, interdisciplinaridade, ênfase nas abordagens grupais, acesso democrático às informações e estímulo à participação cidadã (CFESS, 2010, p. 26). Esse conflito entre a reforma sanitária e o projeto privatista, defendido pelo neoliberalismo, tem impedido que o SUS se consolide de acordo com os seus princípios, dificultando, assim, o trabalho do assistente social e modificando a necessidade dos usuários. Matos (2003) e Bravo (2004) reiteram que se o profissional quer ter como seu direcionamento o projeto ético-político profissional e formular estratégias para efetivação do direito social à saúde, deve ter suas ações associadas ao projeto da reforma sanitária. O Serviço Social, com a transformação interna e na área da saúde, preocupou-se com o possível distanciamento dos profissionais do foco interventivo e, por buscarem especializações em áreas específicas da saúde, passam a exercer outras atividades (direção de unidade de saúde, controle dos dados epidemiológicos, entre outros), e não as de um assistente social. No que se refere à saúde, percebe-se que cabe ao Serviço Social ação articulada com outros segmentos profissionais existentes, formulando estratégias que possam reforçar ou criar experiências nos serviços de saúde que efetivem tal direito social, com o projeto de reforma sanitária (MATOS, 2003; 9 [...] é o projeto de saúde articulado ao mercado que se pauta pela política de ajuste e na descentralização com isenção de responsabilidades do poder central. 119 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Serviço Social em equipe multidiSciplinar BRAVO, 2004). Para a intervenção, é preciso saber a concepção dos termos saúde, integralidade,10 intersetorialidade,11 participação social12 e interdisciplinaridade13 (MIOTO, 2006). Nas últimas décadas, foi intensificada a atenção para a saúde do trabalhador, em virtude da precarização das condições de trabalho, exigindo, assim, que o assistente social desenvolva ações de atendimento para o acesso a ações previdenciárias e trabalhistas – tanto aos direitos quanto ao tratamento. O assistente social, para realizar uma atuação de forma competente e crítica na área da saúde, deve, entre outras ações, articular com movimentos sociais de usuários em favor da efetivação do Sistema Único de Saúde (SUS), buscando sempre atuar em equipe e apoiar a intersetorialidade, fortalecendo, assim, a articulação entre as políticas da seguridade social. É importante o profissional ter conhecimento das condições de vida dos usuários e do que influencia o processo saúde-doença, a fim de garantir o acesso desses usuários aos serviços de saúde e à rede de serviços socioassistenciais. Para tanto, é necessário abolir as ações fragmentadas no atendimento e buscar a abertura de espaços para a participação da população e dos trabalhadores da saúde nas tomadas de decisões, potencializando os usuários a fiscalizarem e participarem da formação e gestão das políticas públicas (CFESS, 2010, p. 30). O trabalho do assistente social na saúde deve ter como eixo central a busca criativa e incessante da incorporação dos conhecimentos e das novas requisições à profissão, articulados aos princípios dos projetos da reforma sanitária e ético- políticos do Serviço Social. É sempre na referência a estes dois projetos que se poderá ter a compreensão se o profissional está de fato dando respostas qualificadas às necessidades apresentadas pelos usuários (BRAVO, 2009, p. 213). A atuação do profissional de Serviço Social na área da saúde deve ser pautada pelos princípios da reforma sanitária, que tem como proposta principal a universalização das políticas sociais e a garantia dos direitos sociais; e pelo projeto ético-político do Serviço Social, que explicita as atribuições da categoria profissional e os limites da sua ação. 10 Segundo a LOS (Lei Orgânica da Saúde), a integralidade de assistência é “[...] entendida como conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema” (BRASIL, 1990). 11 Segundo Inojosa (2002, p. 14), a intersetorialidade é a “articulação de saberes e experiências com vistas ao planejamento, para a realização e a avaliaçãode políticas, programas e projetos, com o objetivo de alcançar resultados sinérgicos em situações complexas”. 12 Para Bordenave (1983), a participação social “[...] deve ser envolvida por vários processos participatórios, ou seja, atividades organizadas dos grupos com o objetivo de expressar necessidades ou demandas, defender interesses comuns, alcançar determinados objetivos econômicos, sociais ou políticos, ou influir de maneira direta nos poderes públicos”. 13 “[...] Penso a interdisciplinaridade, inicialmente, como postura profissional que permite se pôr a transitar o ‘espaço da diferença’ com sentido de busca, de desenvolvimento da pluralidade de ângulos que um determinado objeto investigado é capaz de proporcionar, que uma determinada realidade é capaz de gerar, que diferentes formas de abordar o real podem trazer” (RODRIGUES, 1998, p. 156). 120 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Unidade II O assistente social, como um profissional atuante na área da saúde, realiza sua intervenção baseada em quatro eixos de ação: “[...] ações de atendimento direto aos usuários; ações de mobilização, participação e controle social; ações de investigação, planejamento e gestão; ações de assessoria, qualificação e formação profissional” (CFESS, 2010, p. 14). Ao tratarmos sobre o atendimento direto ao usuário, é possível identificar, em diversas formas, a atuação dos assistentes sociais na área da saúde, desde o nível básico até em situações que exijam ações de média e alta complexidade, chamadas de proteção especial (CFESS, 2010, p. 41). As ações realizadas quanto ao atendimento direto ao usuário se dividem em três eixos: • ações socioassistenciais: segundo Costa (2000), constituem as principais demandas aos profissionais de Serviço Social na atualidade, sendo sua inserção na saúde mediada pelas condições históricas de formação da saúde pública no Brasil, pois, com a implementação do SUS, exigiram-se novas formas de organização do trabalho nesse setor; • ações de articulação com a equipe de saúde: baseadas na interdisciplinaridade como perspectiva da atuação profissional, em que serão desenvolvidas ações em conjunto, sem que se diluam as particularidades de cada categoria profissional; • ações socioeducativas: levarão o usuário à reflexão e ao acesso às informações, para que ele construa seu próprio entendimento da realidade, e são feitas por meio de atendimento individual ou grupal, abrangendo a família ou toda a comunidade. O assistente social deve ter claros os embasamentos teóricos e éticos que nortearão sua prática, baseado nas diretrizes teórico-metodológicas e no princípio ético-político, a fim de garantir aos usuários o acesso aos direitos de forma eficiente e eficaz. O profissional precisa ter clareza de suas atribuições e competências para estabelecer prioridades de ações e estratégias, a partir de demandas apresentadas pelos usuários, de dados epidemiológicos e da disponibilidade da equipe de saúde para ações conjuntas (CFESS, 2010, p. 43). Alguns instrumentais que são usados na área da saúde, como a avaliação socioeconômica e visitas domiciliares, não devem servir para restringir os usuários de acessar os serviços – nem como forma de fiscalização –, mas como meio de promoção da compreensão mais ampla da realidade dos usuários e da extensão do acesso aos direitos sociais por parte desse assistido. Não faz parte da atuação do assistente social a realização de terapias individuais, em grupo ou familiares. Segundo Iamamoto (2002), essas ações terapêuticas não estão presentes nas legislações que direcionam e regulamentam a prática profissional.14 14 A respeito disso, visando à orientação da categoria profissional, o Conjunto CFESS/CRESS aprovou a elaboração de resolução “definindo que os exercícios de terapia não são atribuições do assistente social” (Relatório do 37º Encontro Nacional CFESS/ CRESS, 2008). 121 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Serviço Social em equipe multidiSciplinar O técnico deve agir com o objetivo de potencializar a orientação social, alargar os acessos dos sujeitos e da coletividade aos direitos sociais. De acordo com o documento elaborado pelo CFESS, em 2010, “Parâmetros para a Atuação de Assistentes Sociais na Saúde”, as principais ações a serem desenvolvidas pelos profissionais no âmbito sanitário são: • orientar e realizar encaminhamentos, a fim de democratizar as informações a respeito dos direitos sociais dos usuários; • realizar a construção de um perfil socioeconômico dos usuários, dando ênfase aos fatores que refletem diretamente as condições de saúde, proporcionado, assim, subsídios para a atuação de outros profissionais; • facilitar o acesso aos usuários no que tange aos direitos no âmbito da seguridade social; realizar visitas domiciliares, desde que o profissional julgue necessário, sem invadir a privacidade do usuário, deixando bem clara a finalidade da ação; • realizar visitas institucionais, mobilizando a rede de serviços, quando necessário, para garantir o direito do usuário; • fortalecer os vínculos familiares com a intenção de que o sujeito e a família participem dos processos que envolvem a saúde, como prevenção e cura; • criar protocolos e rotinas de ação, a fim de sistematizar a rotina profissional; • produzir estratégias de intervenções a partir de informações dos prontuários dos usuários, respeitando o sigilo das informações; • realizar estudos socioeconômicos dos sujeitos e de sua família, subsidiando a construção de laudos e pareceres sociais, que visem à garantia dos direitos e ao acesso dos usuários aos serviços de saúde. Quanto às ações de articulação com a equipe de saúde, Iamamoto (2002, p. 41) afirma que: [...] é necessário desmistificar a ideia de que a equipe, ao desenvolver ações coordenadas, cria uma identidade entre seus participantes, que leva à diluição de suas particularidades profissionais. [...] as diferenças de especializações que permitem atribuir unidade à equipe, enriquecendo-a e, ao mesmo tempo, preservando aquelas diferenças. Assim, o assistente social, quando participa de uma equipe na saúde, possui olhar diferente daquele dos outros profissionais, como médicos e enfermeiros, interpretando as condições de saúde do usuário e encaminhando suas ações de forma particular, em virtude da sua formação acadêmica. O assistente social torna-se um mediador dos conflitos presenciados pelos sujeitos nessa realidade, ou seja, é uma ponte para o acesso aos direitos e informações diversas que visem ao acolhimento, 122 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Unidade II possibilitando maior respeito no processo saúde-doença, viabilizando explicar a totalidade que envolve o sujeito. Em razão da falta de conhecimento sobre as reais atribuições do assistente social (por parte dos empregadores e gerentes), algumas ações são exigidas do técnico cuja prática não é de sua atribuição e/ou competência, como: marcação de consultas, exames e solicitação de autorização para estes; verificação de disponibilidade de serviços de ambulância; identificar vagas em outras unidades, no caso de transferência hospitalar; pesar e medir crianças e gestantes; convocar e comunicar o responsável sobre altas e óbitos; emitir comprovante de comparecimento na unidade de atendimento realizado por outros profissionais; “montagem de processo e preenchimento de formulários para viabilização de tratamento fora de domicílio (TFD)15”; viabilização de medicamentos de componentes especializados efornecimento de equipamentos (órteses, próteses e meios auxiliares de locomoção), bem como a dispensa destes, conforme orientações do Conselho Federal de Serviço Social (2010). Essas ações não são consideradas atribuições dos assistentes sociais, pois têm características técnico-administrativas ou necessitam de uma formação específica não aplicada ao Serviço Social. Há grande dificuldade, por parte dos demais profissionais, de compreender as atribuições dos assistentes sociais, o que deve estimular a realização de discussões entre eles para esclarecimento do papel de cada técnico no plano de trabalho. Constituído como eixo principal da atuação do assistente social na saúde, as ações socioeducativas devem proporcionar aos usuários uma visão crítica, que os levem a refletir sobre sua realidade e estimular a participação na elaboração de estratégias coletivas, como afirma Bower e Werner (1987, p. 12): [...] a consciência crítica não é necessária somente para o desenvolvimento da comunidade, mas devia ser o objetivo principal do desenvolvimento. Só quando as pessoas compreendem as causas de seu sofrimento e reconhecem a própria capacidade de ação construtiva, podem ocorrer mudanças significativas. Algumas atividades destacam-se na prática das ações socioeducativas, dentre elas, a sensibilização dos usuários sobre os direitos sociais e princípios do SUS; coletividade por meio de grupos socioeducativos; promoção de campanhas de prevenção, democratização das informações com debates entre usuários do mesmo território, com atividades nas salas de espera ou por meio de cartilhas, vídeos, cartazes etc.; incentivo à participação do controle dos serviços prestados; realização de atividades em grupo com usuários e familiares, com temas de seus respectivos interesses. Nesse sentido, os assistentes sociais trabalham para conduzir tanto os usuários quanto seus familiares, trabalhadores de saúde e movimentos sociais, a participarem de espaços de controle social, 15 O TFD foi regulamentado pelo Ministério da Saúde, pela Portaria nº 55, de 24 de fevereiro de 1999. Trata-se de um dispositivo que garante o acesso de usuários de um município e/ou estado da Federação a serviços de saúde de outro município e/ou estado, cuja responsabilidade é do gestor do SUS. 123 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Serviço Social em equipe multidiSciplinar como conselhos, conferências, fóruns, despertando na população a identidade de um sujeito político que pode e deve lutar por suas reivindicações. O eixo de investigação, planejamento e gestão tem exigido dos profissionais embasamentos em pesquisas e estudos que vêm mostrar a realidade dos usuários e dos trabalhadores, no intuito de realizar ações que visem à melhoria dos serviços e a formulação de políticas públicas, incentivando a intersetorialidade, entendendo, assim, a saúde como componente da seguridade social, reforçando que as ações devem ser realizadas de modo integrado. Outro tema que permeia a atuação dos assistentes sociais é a humanização, cujos profissionais são solicitados para atuarem sobre essa temática, que ganha força no final da década de 1990 e início dos anos 2000, sendo legitimada na 11ª Conferência Nacional de Saúde, em 2000. Nesta conferência, foi criado um programa nacional que logo se transformou em política nacional, que objetiva criar uma nova forma de atendimento “[...] pautada na centralidade dos sujeitos, na construção coletiva do SUS” (CFESS, 2010, p. 52). Assim, a “[...] Política Nacional de Humanização não pode estar dissociada dos fundamentos centrais da política de saúde e a garantia dos princípios do SUS” (CFESS, 2010, p. 52). Saiba mais Para maiores reflexões críticas sobre humanização: RIOS, I. C. Caminhos da humanização na saúde: prática e reflexão. São Paulo: Áurea, 2009. No que se refere à humanização, algumas atividades exercidas pelos assistentes sociais ganham notoriedade, entre elas, prestar atendimento aos usuários e seus familiares, em sua inserção na unidade de saúde e em todo o tempo em que ele estiver passando pelo processo de atendimento. Em caso de óbitos também, realizar o atendimento juntamente com a equipe, cabendo ao assistente social esclarecer a respeito de todos os benefícios e direitos garantidos nessas condições, como os referentes à previdência social ou, por exemplo, sepultamento gratuito, traslado etc. Além de notificar junto à equipe multiprofissional em caso de constatação ou suspeita de violência, às autoridades competentes, verificando os encaminhamentos necessários. Considerado como um profissional da saúde, o assistente social exerce seu trabalho nesse espaço de atuação em constante contradição, pois historicamente é exigido que ele cumpra funções que não são referentes à sua atribuição profissional. 8 A INSERÇÃO DO SERVIÇO SOcIAL cOMO ESPEcIALIzAÇÃO DO TRABALHO cOLETIVO DO ASSISTENTE SOcIAL A partir de agora, será iniciado um trabalho com base no livro Serviço Social e Interdisciplinaridade: dos Fundamentos Filosóficos à Prática Interdisciplinar no Ensino, pesquisa e extensão, sob a organização de Jeanete L. Martins de Sá (2002). 124 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Unidade II Para abordarmos interdisciplinaridade, utilizaremos muito o termo “epistemologia”. Por esse motivo, e considerando a importância de sabermos quais posições surgem diante desse termo, esclarecemos que epistemologia ou teoria do conhecimento é o estudo ou tratado do conhecimento da ciência, a crítica, o estudo filosófico da origem, da natureza e dos limites do conhecimento. Pode ser remetida a Platão, ao tratar o conhecimento como crença verdadeira e justificada. Seu desafio é responder o que é e como alcançamos o conhecimento. Duas posições surgem diante dessas questões. A empirista diz que o conhecimento deve ser fundamentado na experiência, no que for apreendido pelos sentidos. Temos Berkeley, Locke e Hume como defensores dessa posição racionalista, que prega que a fonte do conhecimento encontra-se na razão, e não na experiência. Leibniz e Descartes também são defensores dessa posição. O termo epistemologia vem do grego episteme, que significa “ciência”; e logia, que significa “estudo”. Portanto, epistemologia pode ser definida etimologicamente como “o estudo da ciência”. Já a interdisciplinaridade diz respeito a uma tentativa de unidade do saber, e esta é, em sua origem, propriamente epistemológica; a atividade da consciência é guiada por essa unidade, pois consideramos prioridade a naturalidade da expressão “interdisciplinaridade do conhecimento”. A intimidade da consciência, com a prática, foi obscurecendo no constituir-se da complexidade da experiência psíquica e social do desdobramento da experiência histórica dos homens, perdendo sua unidade e apresentando-se como saber diversificado, guiando, assim, para a variada multiplicidade dos objetos da experiência. A consciência passa a pressupor a multiplicidade e a distinção do real: quanto mais ela deixa de ser subjetiva, mas será vivenciada rumo à pretensão de uma reflexão pura. O universo se transforma em pluralismo, considerando a pluralidade dos caminhos do pensar, produzindo multiplicidade dos aspectos do real, levando também o sujeito a separar-se cada vez mais do objeto. A compreensão e a explicação do mundo, que aparece com multidisciplinaridade desordenada e confusa, necessitam de ordenação, que se dará pela unificação. Essa exigência de unidade expressa-se pela busca de uma gênese atribuível a um princípio constitutivo. Baseando-se tanto na inspiração de Platão como na de Aristóteles, a metafísica clássica depõe a favor daunidade do conhecer e também da unidade do ser. A unidade do real se dá por meio da unidade da natureza para a ciência. Essa unidade é constituída por meio de rigoroso encadeamento de relações causais e constantes entre os fenômenos. Os cientistas foram levados a uma fragmentação do saber, pelo predomínio hegemônico de uma metodologia positivista. O positivismo apresenta, como alguns princípios, a prática em submeter um fato à experimentação, em condições de controle e tendência à generalização, não existindo relação entre sujeito e objeto. Os vários aspectos de manifestação do real são levados à autonomização pelo saber da ciência positivista. Essa metodologia positivista afirmava a especialidade, prevalecendo sobre a busca do sistema do universo e a sistematicidade do método. Assim, o maior responsável pela fragmentação do saber, na contemporaneidade, é o positivismo, sendo, assim, um obstáculo para a interdisciplinaridade, 125 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Serviço Social em equipe multidiSciplinar particularmente nas marcas presentes no aspecto epistemológico. No âmbito das ciências humanas, a proposta das unificações ficou comprometida. A interdisciplinaridade não significa um saber genérico, nem a substituição das especialidades por generalidades, mas sim a busca por uma ciência unificada, uma concepção unitária, evitando uma concepção fragmentada do saber científico. O positivismo, inegavelmente, teve uma valiosa contribuição ao denunciar e superar a generalidade da construção do saber metafísico (contrário ao pensamento racional, que se baseia em fatos comprovados). Porém, do outro lado, hoje, debita-se a ele o ônus da fragmentação do saber. Fragmentação esta que se relaciona com um processo de divisão social do trabalho, com consequências na alocação do poder político entre as classes sociais, que têm se manifestado contraditórias quanto às intenções de fazer da ciência um instrumento de libertação dos homens, preconizado no projeto iluminista, que associava o ideal do conhecimento crítico à tarefa do melhoramento do Estado e da sociedade e apresentava como lema: “O homem ter coragem para fazer uso de sua própria razão”. A crítica epistemológica ao positivismo é necessariamente política, e não somente em relação aos critérios técnicos e éticos. Assim, temos a necessidade de reavaliar o papel das ciências e do saber em suas relações com o poder. Em relação à prática da intervenção social, à prática pedagógica ou à prática da pesquisa, uma visão interdisciplinar é igualmente exigida, tanto no âmbito da teoria como no da prática. O homem é uma unidade que nunca pode ser apreendida em uma abordagem mediante uma acumulação de visões parciais, mas sim sintetizadora. A prática de uma dialética entre as partes e o todo fornece elementos para a construção de um conhecimento da totalidade. A interdisciplinaridade pode efetivar-se a partir da diluição das fronteiras das especialidades, da abertura de espaços para a intervenção técnica. Particularmente, na área das ciências humanas, existe um esforço presente também na esfera da pesquisa, não como submissão das várias ciências a uma única metodologia, mas como compreensão e valorização das contribuições, enfoques e perspectivas das outras. Também há a necessidade de uma postura interdisciplinar nas práticas de intervenção social, considerando uma concepção articulada, tendo de levar em conta a complementaridade de todos os elementos envolvidos. Toda ação social necessita da contribuição múltipla de várias ciências, pressupondo colaboração dos especialistas de várias áreas. Na esfera do ensino, a educação é o exemplo mais evidente da necessidade de uma abordagem interdisciplinar, tanto como objeto de conhecimento e pesquisa quanto como espaço de intervenção sociocultural. Uma perspectiva interdisciplinar não elimina as diferenças, mas as reconhece, bem como suas especificidades, sabendo que elas se complementam, contraditória e dialeticamente, constituindo um processo de concorrência solidária de várias disciplinas. 126 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Unidade II No plano operacional, a interdisciplinaridade implica o estabelecimento de mecanismos e estratégias que efetivam esse diálogo no trabalho científico, na prática da pesquisa, do ensino e da prestação de serviços. Uma atitude interdisciplinar exige a superação da afirmação de incompatibilidade entre ciência e filosofia, mesmo porque, hoje, enquanto as ciências se dedicam à abrangência que seu método lhes permite, a filosofia se expande em todas as direções, procurando constituir o sentido dessa realidade. 8.1 As estratégias profissionais A política brasileira de desenvolvimento científico e tecnológico, desde 1973, por meio dos Planos Básicos de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (PBDCT), destaca como elementos de fundamental importância para o desenvolvimento nacional a formação e o aperfeiçoamento de recursos humanos. As atividades de pesquisa como fontes de inovações tecnológicas em um determinado setor são destacadas em um processo global e integrado de desenvolvimento científico. A criação dos primeiros cursos de mestrado iniciou-se na década de 1950, e a implantação oficial da pós-graduação stricto sensu em Serviço Social nas Pontifícias Universidades Católicas (PUCs) do Rio de Janeiro e de São Paulo, em 1972. Para esclarecer, os cursos stricto sensu objetivam a produção de dissertações e teses que formulem ou comprovem teorias novas para o entendimento de fatos e suas relações; e os cursos lato sensu aplicam teorias existentes em problemas novos. As pretensões básicas, em relação à formação de recursos humanos, dos Planos de Desenvolvimento Científico e Tecnológico são: • atingir um nível de competência nacional para propor soluções e realizar projetos; • crescente capacitação científica; • maior autonomia tecnológica; • voltar-se política e estrategicamente para a solução dos problemas que resultem na ação social adequada à melhoria das condições de vida da população. Por meio dos resultados da pós-graduação, consta que o mesmo projeto que procura atender às demandas do sistema capitalista liberal burguês permite a formação de intelectuais críticos no que diz respeito a esse sistema. Especificamente em relação ao Serviço Social, essa contradição é explícita, sendo um dos desafios o estabelecimento da relação entre o nível lógico e o político-ideológico da formação profissional. Os objetivos pretendidos na organização curricular de um curso de pós-graduação implicam a revisão do conceito de ciência e a busca de modelos alternativos de prática educativa. As políticas educacionais são estabelecidas pelo Estado para atender aos interesses dominantes. No entanto, precisamos reconhecer a contradição desse processo e trabalhá-la com competência e estratégia. Frequentemente, os cursos de pós-graduação adotam uma postura conservadora quanto à maneira de tratar e refletir a sociedade, porém adotam também uma atitude muito crítica em relação a essa mesma sociedade. 127 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Serviço Social em equipe multidiSciplinar O mesmo acontece nos cursos de graduação e na universidade em geral; os cursos lato sensu apresentam um agravante, que é a questão da especialização, a qual se soma ao elenco de fatores então característicos da formação profissional pós-graduada: • organização dos programas por disciplinas relativamente autônomas; • individualismo nas pesquisas e escolha aleatóriade temas; • falta de núcleos básicos ou linhas explícitas de investigação; • distância do curso como um todo e das pesquisas com os problemas sociais concretos; • consideração da pesquisa apenas como atividade complementar aos cursos. O I Plano Nacional de Pós-Graduação, em 1974, explicitou a política de pós-graduação no Brasil de forma prioritariamente voltada ao aperfeiçoamento de docentes do ensino superior. A pós-graduação brasileira teve influência de duas correntes universitárias: a europeia, que foi adotada pela Universidade de São Paulo; e a norte-americana, introduzida na Universidade Federal de Viçosa (MG), no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), de São José dos Campos/SP, e na Universidade Federal do Rio de Janeiro. O modelo que prevaleceu foi o norte-americano. Na década de 1930, a Universidade de São Paulo, por meio da Faculdade de Educação, Ciências e Letras, destacou-se, pois procurava uma organização de ensino voltada para a pesquisa pura e os estudos nos domínios das Ciências e das Letras, sem visar ao interesse profissional imediato. Um dos momentos mais avançados na história do ensino superior no Brasil corresponde à experiência da Universidade de São Paulo (USP), que buscava, a partir de um núcleo básico fornecido pela filosofia, a integração de disciplinas e a especialização, propugnadas por uma unidade orgânica do ensino universitário. Considera-se como avanço, principalmente, em termos de coerência entre a proposta e a ação. A seção de Educação da Universidade de São Paulo continuou a desenvolver pesquisas sob a influência europeia, mesmo se transformando, a partir de 1930, progressivamente, em escola normal superior. O processo educativo sofreu uma reconversão no âmbito das novas relações sociais, com o franco desenvolvimento do processo de industrialização, mediado pelo Estado, quando as exigências básicas dos ramos industriais eram a qualificação e diversificação da força de trabalho. O Estado precisava investir nesse sentido, enquanto o ensino superior continuava sendo privilégio de uma minoria restrita. Os ideais defendidos pela corrente escolanovista, fundamentada na matriz liberal, eram: individualismo, liberdade de iniciativa, solidariedade e igualdade. Tanto para a educação como para os demais setores da política social, a importação de técnicas fundamentadas no ideário liberal, na verdade, corresponde à força indutora da modernização imposta pelo capitalismo mundial. 128 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Unidade II Lembrete [...] as políticas sociais fazem parte de um conjunto de iniciativas públicas, com o objetivo de realizar, fora da esfera privada, o acesso a bens, serviços e renda. Seus objetivos são amplos e complexos [...] (JACCOUD, 2007, p. 3). A crise mundial de 1929, que afetou a economia cafeeira, com o deslocamento de capitais para o setor produtivo, abriu a oportunidade de investimentos industriais no Brasil. As reformas institucionais que se sucederam com vistas à expansão capitalista, a começar pelas constituições de 1934 e 1937, pretendiam adequar as relações de produção ao contexto – condições e tendências – das forças produtivas ou às condições de formação e desenvolvimento do capitalismo industrial brasileiro. Assim, a racionalidade própria do sistema capitalista passou a atingir a organização social. Na reorganização da economia brasileira, com a abertura de frentes novas de investimento substituto, o capital estrangeiro, com o fim da Segunda Guerra Mundial, teve amplas repercussões sociais. A influência dos Estados Unidos no Brasil ocorreu a partir de 1942, de forma intensiva, nos setores rural, educacional e industrial, e um dos meios de garantir a veiculação da ideologia e interesses norte-americanos foi a preparação de especialistas brasileiros nos Estados Unidos, repercutindo de forma marcante no ensino, na pesquisa e na pós-graduação. Por meio do quadro de docentes e pessoal técnico, os estudos de pós-graduação passaram a fazer parte da planificação do Estado, no sentido de dar respaldo ao mercado de trabalho. Era necessário agir em relação à defasagem qualitativa na especialização de recursos humanos imprescindíveis à indústria brasileira, que se via obrigada a buscá-los no exterior. O Parecer nº 977/65, do Conselho Federal de Educação, elaborado pelo professor Newton Sucupira, atribui, em relação ao stricto sensu, o objetivo da formação de pesquisadores para o trabalho científico; de professores para o magistério universitário; e de profissionais de alto nível para os diferentes setores do desenvolvimento nacional. Quanto ao lato sensu, o objetivo refere-se, por meio de cursos menos sistemáticos, à formação de aperfeiçoamento e especialização restrita. As conclusões da parte conceitual e de aplicação, ao referendar o Parecer 977/65, por meio do Estatuto do Magistério Superior, da pós-graduação e da definição da caracterização do mestrado e do doutorado, fazem referências: • ao aprofundamento da formação graduada e à obtenção de grau acadêmico; • aos níveis de formação pós-graduada – mestrado e doutorado –, com a respectiva finalidade; • à área do doutorado e à qualificação do mestrado; 129 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Serviço Social em equipe multidiSciplinar • à duração e à estrutura dos cursos, à área de concentração, às exigências didático-pedagógicas, aos tipos de trabalhos, à exigência de dissertação ou tese; • aos requisitos para matrícula, seleção, número de alunos, regime de tempo; • aos requisitos para registro, com exigências: disponibilidade de recursos financeiros, instalações, equipamentos, laboratórios, bibliotecas e outros requisitos necessários a um satisfatório desenvolvimento dos cursos. O Plano Nacional de Pós-Graduação (PNPG), de 1975, estabeleceu as funções para o ensino pós-graduado: • formação de professores para o magistério universitário; • formação de pesquisadores para o trabalho científico; • preparação de profissionais de nível elevado. Pretendia-se, assim, transformar as universidades em verdadeiros centros de atividades criativas permanentes por meio da inter-relação das três funções. O Plano Nacional de Pós-Graduação procurava: • definir a política governamental em nível da pós-graduação, como instrumento de correção das insuficiências de recursos humanos; • aprimorar o pessoal docente; • contribuir para o aceleramento da melhoria qualitativa do setor profissionalizante; • propulsionar o desenvolvimento socioeconômico autossustentado e autogerado; • integrar o Ministério de Educação e Cultura com os demais órgãos governamentais financiadores e com as instituições públicas e privadas de ensino superior e de pesquisa. As principais diretrizes estabelecidas no I Plano Nacional de Pós-Graduação são: • a institucionalização do sistema de pós-graduação; • a elevação dos padrões de desempenho; • o planejamento da expansão. O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico recebeu, segundo o diretor de fomento, José Duarte de Araújo, “uma função política de maior relevância como órgão de planejamento e coordenação do esforço nacional em busca do desenvolvimento científico e tecnológico [...]”. 130 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Unidade II Em relação à política de recursos humanos para a pesquisa, houve um aumento significativo no número de bolsas de mestrado e, em particular, nas de doutorado, entre 1976 e 1980. Ciências sociais, porém, não era tradicionalmente uma área prioritáriadentro do CNPq. Apenas pelo afastamento das fontes estrangeiras de financiamento, passou a receber um apoio que se tornou crescente. O III Plano Básico de Desenvolvimento Científico e Tecnológico tem a característica de representar diretrizes políticas definidas participativamente, que servirão como orientação para as ações dos setores público e privado. O III PBDCT reforça a importância da Ciência e da Tecnologia, considerando que “a capacidade do País em superar as suas dificuldades internas e as oscilações da economia internacional será tanto maior quanto maior for o domínio nacional do conhecimento científico e tecnológico, sobretudo em áreas estratégicas”. A ciência e a tecnologia continuaram se impondo, mesmo com a pior fase do crescimento econômico brasileiro, no Pós-Guerra, entre 1962 e 1967. Em razão do processo econômico, os cursos técnicos são privilegiados, mas os de Ciências Sociais e da área da educação mostram-se importantes do ponto de vista estratégico e vêm conquistando maiores espaços. Pode-se compreender, por meio da análise da pós-graduação, como parte da política social na área da educação, o Programa Nacional de Pós-Graduação como uma das estratégias utilizadas pelo Estado, voltada para o desenvolvimento econômico. Em relação à pós-graduação em Serviço Social, há uma variável peculiar à profissão, conforme abordado no texto sobre ética, o projeto profissional, que, com o movimento de reconceituação, acentuou a característica de contradição do Serviço Social. Conforme anteriormente citado, a pós-graduação em Serviço Social foi implantada no Brasil em 1972, pelas PUCs do Rio de Janeiro e de São Paulo; ganhou novo vigor com os cursos lato sensu ou de especialização, na década de 1980, e, conforme levantamento da antiga Abess, hoje Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS), de 1980 a 1986, organizaram-se 13 cursos em várias universidades brasileiras. Os cursos lato sensu são o formato que vem atendendo mais efetivamente à qualificação docente e profissional, uma vez que procuram considerar as demandas regionais e locais, o que resulta em mais velocidade e em economia financeira em comparação ao mestrado. As principais inquietações que foram colocadas durante o planejamento e o desenvolvimento do curso de pós-graduação lato sensu sobre “Trabalhos Comunitários e Interdisciplinaridade”, promovido pela Faculdade de Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUCCamp), nos períodos de 1985-1986 e 1987-1988, foram: • como se expressa, em nível do projeto de curso, a pretendida qualificação docente e profissional que contraditoriamente busca atender, de um lado, ao êxito de uma política de pesquisa científica e tecnológica, assim como à expansão do ensino superior, e, de outro, à função política crítica em nível radical à situação conjuntural? 131 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Serviço Social em equipe multidiSciplinar • com que base epistemológica vêm sendo organizados os currículos de pós-graduação em Serviço Social para responder a esses desafios? A interdisciplinaridade passou a ser um dos eixos fundamentais do curso, no sentido de proposta e de organização, considerando ser estratégia sugerida para o rompimento com os limites impostos às disciplinas pela racionalidade. A ciência constitui-se, em qualquer empreendimento técnico-cultural, em força produtiva extremamente eficaz na sociedade capitalista. A racionalidade veiculada pela ciência no plano social não é de tipo global e totalizante; não é capaz de fornecer métodos para gerir a sociedade no plano político. Repensar a ciência em uma nova dimensão significa estabelecer um vínculo entre o processo de produção científica e as necessidades sociais. A adoção de um modelo alternativo de currículo, em termos de organização curricular, é uma estratégia assentada em um desenho modular integrativo que permite: • a integração docência-investigação-serviço, provocando, assim, o rompimento com o isolamento clássico escola-sociedade; • a organização de módulos como unidades inter-relacionadas; • a abordagem interdisciplinar progressiva da realidade histórico-estrutural, em que teoria e prática se vinculam dialeticamente, possibilitando a integração do conhecimento; • a análise histórica e crítica da prática profissional concreta, de forma que fiquem explicitadas as práticas decadentes, dominantes e emergentes; • a configuração dos objetos de transformação a partir da análise da prática profissional. O diferencial do curso Trabalhos Comunitários e Interdisciplinaridade em relação aos demais cursos de pós-graduação é o fato de destacar-se estrategicamente por sua organicidade e apresentar uma dinâmica integrativa diferente. Pretende-se formar o pós-graduando tendo a expectativa de que ele seja capaz de: • compreender a importância e a necessidade atuais do rompimento dos limites impostos pela especialização científica, criando, assim, uma relação de reciprocidade e mutualidade entre disciplinas que sejam correspondentes a uma atuação social efetiva em uma realidade que muda; • substituir a compreensão fragmentada por uma que seja unitária por parte do ser humano e da sociedade; • ir além da dicotomia ensino-pesquisa, gerando, assim, a oportunidade de analisar, sob a ótica interdisciplinar, uma experiência de trabalho comunitário. 132 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Unidade II Os objetivos do curso são: • complementar a formação dos profissionais de Serviço Social ou especialidades nas quais a atuação em comunidade exija conhecimentos abordados no curso; • gerar condições para a realização de estudos e pesquisas em Serviço Social ou em nível interdisciplinar que levem a reflexões aprofundadas sobre o significado do trabalho comunitário na conjuntura brasileira atual; • gerar oportunidades de compreensão dos trabalhos comunitários como um processo integrado, cujos objetivos gerais sejam alcançados pelas diversas profissões inerentes ao contexto, especificando o papel de cada uma delas no conjunto; • subsidiar o curso de graduação por meio de constante intercâmbio e da difusão de informações científicas; • incentivar a publicação de pesquisas e periódicos; • promover a divulgação e transferência, de forma efetiva, dos resultados das pesquisas para a comunidade. A investigação progressiva de núcleos temáticos resulta em um trabalho de conclusão, incluindo, além de análises bibliográficas e documentais, a análise de uma experiência interdisciplinar em comunidade ou com a população. A maioria das pesquisas realizadas a partir da análise da prática profissional interdisciplinar desencadeou um processo caracterizado por: • revisão da postura profissional no que diz respeito à interdisciplinaridade, não apenas da parte dos pesquisadores, mas também dos profissionais eventualmente abordados; • interesse, valorização e comprometimento gradativo dos pesquisadores em relação às ações interdisciplinares em nível institucional e nos trabalhos comunitários, de forma que alguns grupos sigam atuando nos locais de pesquisa após o término do curso. A qualidade dos trabalhos apresentados e esses resultados, de importância inquestionável para a prática profissional, tanto em relação à postura profissional diante do desenvolvimento do trabalho interdisciplinar quanto ao comprometimento com esse trabalho, representam uma conquista para a unidade de ensino em relação ao seu projeto pedagógico, confirmando a importância de um currículo integrativo. 133 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia- D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Serviço Social em equipe multidiSciplinar 8.2 O instrumental técnico-operativo e o produto do seu trabalho Agora trataremos de maneira direcionada do campo de intervenção do Serviço Social, sendo de fundamental importância sua associação com as demais disciplinas, principalmente as específicas, visto que abordaremos assuntos da profissão como um todo, pois [...] a configuração do campo do Serviço Social, bem como sua desconstrução e reconstrução, é um dos aspectos essenciais não só para entendermos e recriarmos o agir do assistente social, mas também para situarmos a particularidade do Serviço Social como área de conhecimento e de intervenção no contexto histórico-cultural e sociopolítico da atualidade (KARSCH, 2005, p. 79). Reforçar a ideia de que precisamos entender a profissão como um todo é um instrumento para termos olhar crítico e o mais totalitário possível em relação à demanda apresentada e às ações desenvolvidas pela categoria profissional, pois as ações que são realizadas atualmente (início do século XXI) são resultados da construção, desconstrução e reconstrução da profissão, que começa com influência europeia e norte-americana. A história do Serviço Social revela-nos que, como campo de intervenção, é socialmente constituído e legalmente sancionado desde o início do século XX. Isto não significa, porém, uma relação evolutiva e de continuidade no exercício da prática e na construção do conhecimento. Muito pelo contrário, a teoria e a prática do Serviço Social têm sido marcadas por uma relação de diversidade e de rupturas geradoras de polêmicas e enriquecedoras de debates. São efetivamente muito diversos os paradigmas e as matrizes teóricas que têm influenciado os pensamentos e as práticas dos assistentes sociais (KARSCH, 2005, p. 80-1). A profissão é legalmente instituída como interventiva, e constantemente há grupos que repensam sua teoria e prática para que seja possível seguir o movimento transformador da sociedade; dessa maneira, o assistente social precisa ter como outro instrumental para sua intervenção a qualificação profissional, a qual é estabelecida no Código de Ética profissional em seu artigo 2º: o profissional terá “(i) liberdade na realização de seus estudos e pesquisas, resguardados os direitos de participação de indivíduos ou grupos envolvidos em seus trabalhos”. Saiba mais Para mais detalhes sobre a profissão leia: IAMAMOTO, M. V. O Serviço Social na contemporaneidade: trabalho e formação profissional. 11. ed. São Paulo: Cortez, 2011. 134 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Unidade II Quando nos remetemos ao entendimento do significado da palavra intervenção, temos “1 Ato ou efeito de intervir. 2 Med Operação. 3 Intercessão, mediação [...]” (MICHAELIS, 2009), ou seja, realizar uma ação que venha a interceder quanto a um determinado objeto, que geralmente está envolvido com um sujeito, assim, [...] no momento em que esses sujeitos entram no campo do Serviço Social encontram-se, regra geral, numa situação-limite, de grande dificuldade, ou numa situação de ruptura ou de quase ruptura com suas referências, sua “trajetória de vida” e seu “patrimônio simbólico” (cf. FALEIROS, 1996 e 1997). Encontram-se numa situação de instabilidade e fragilidade nas esferas biológica, psicológica e social, ou seja, tornaram-se particularmente vulneráveis em vários domínios que atingem aspectos essenciais da vida. É preciso não esquecer, contudo, que os destinatários do ato do assistente social representam a categoria de procura das instituições, assim como dos produtos e serviços que elas oferecem, podendo constituir, em determinadas condições políticas e sociais, sujeitos coletivos capazes de alterar a correlação de forças dentro do campo (KARSCH, 2005, p. 108). Então, ao planejarmos nossas ações, devemos refletir a respeito desses sujeitos e dos motivos que os levaram a procurar o Serviço Social. Para tanto, é fundamental reconhecer o processo histórico a que esse indivíduo foi acometido, sendo de grande valia tal entendimento na intervenção e outro instrumental válido, quando bem-aplicado. Os que procuram o Serviço Social podem fazer parte de um grupo com algumas características em comum, e estas potencializam ações coletivas, já que é possível trabalhar nesse aspecto, ou seja, visão pertencente a um grupo que, por sua vez, é fortalecido em relação à individualização do ato. Ao planejarmos ações interventivas, é preciso a tentativa prévia da promoção de resposta às seguintes perguntas: • Quem é o/a sujeito? • Qual sua história de vida? • Em qual (ou quais) grupo(s) está(ao) inserido/a(s)? • Qual o objeto (problema) na visão do indivíduo? • Quais fatores influenciam esse objeto? • Quais os respaldos legais a serem utilizados na situação apresentada? Não se limite a tentar responder a essas perguntas somente em sua futura intervenção, mas em todas que auxiliem no reconhecimento do sujeito como ser social, sua identidade e realidade. É a partir dessas descobertas, referentes ao objeto e ao indivíduo, que começamos a traçar estratégias de intervenção e 135 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Serviço Social em equipe multidiSciplinar interação, bem como a elencar quais instrumentais são pertinentes, direcionando-as à situação, ou seja, singularizando-a, porque é interessante a identificação da posição do sujeito no objeto apresentado, já que [...] as propriedades que os elementos transportam e que também derivam das posições que ocupam “no campo social envolvente exterior e no campo político” [...], contaminam, mas também se deixam contaminar pelas propriedades adquiridas/possíveis após a entrada desses sujeitos no campo de intervenção (KARSCH, 2005, p. 108). Nessa reflexão, conseguimos observar que os interessados pela ação do assistente social ocupam determinadas posições tanto no âmbito social quanto na política. Mas que posições são essas? [...] em geral, os destinatários da intervenção do assistente social ocupam posições social e politicamente dominadas/subalternizadas no exterior, propriedade que transportam para o interior do campo. Acontece que a posição de dominado ou de “subalternizado” [...], induzida por mecanismos estruturais, tende a ser perpetuada no campo, e não subvertida (KARSCH, 2005, p. 109). Os conflitos cotidianos estão interligados às questões macro, ou seja, em nível que foge da área do sujeito, por exemplo: o modo capitalista de produção e o neoliberalismo já apresentado em outro momento, que afetam diferentes aspectos no dia a dia. As ações baseadas meramente no “achismo”, benemerentes e imediatistas, são condutas atreladas ao senso comum, com atitudes pouco técnicas e que provocam um retrocesso na legitimação da vida profissional que foi construída ao longo do tempo, assim, [...] a recorrência à teoria não pode existir sem a necessidade da intervenção prática, ou seja, o assistente social precisa investir em seu preparo teórico- -prático para estimular uma relação crítico-criadora com a realidade e com as demandas inicialmente apontadas por ela. Sem isso, [...] a profissão e o profissional reforçarão a subalternidade tradicionalmente atribuída e muitas vezes incorporada e reproduzida por assistentes sociais [...], estimulando a extinção de postos de trabalho, a não criação de novos espaços para a atuação profissional ou ainda o simples cumprimento de tarefas rotineiras sem qualquer diálogo sério e propositivo com as demandas impostas pela sociedade de mercado (MENDES, 2004, p. 372). Ter ações críticas etécnicas só será possível com embasamento teórico condizente com esses preceitos, começando pela interpretação da realidade apresentada ao profissional, pois de nada valerá se este não tiver claro seu público. Por tal motivo, nos momentos anteriores, reforçou-se a necessidade de saber identificar a construção da situação-problema e, após esse processo, embasar com teorias para fortalecer as práticas, a fim de que sejam, de fato, interventivas. 136 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Unidade II Para que isso seja possível, o assistente social precisa reconhecer quais serão os instrumentais utilizados nessa etapa de seu trabalho, pois nem todos são pertinentes às demandas apresentadas. A construção de uma profissão está atrelada aos membros que a compõem; assim, os profissionais que não sabem o que é ser assistente social, nem mesmo as devidas reflexões que precisam ser tomadas para tais práticas, potencializam sua descaracterização técnica, fazendo com que se crie a ideia de pessoas apenas bondosas, caridosas. No Serviço Social, igualmente, as experiências dos anos 1960 levaram a novos tipos de tarefas e à necessidade de novas formas de práticas e, portanto, à busca de novos conhecimentos. A rápida expansão e diversificação dos programas de bem-estar aumentaram a demanda de planejadores e administradores competentes, bem como, em todos os níveis, de profissionais com especializações diferentes. Os programas de ação em novas comunidades requerem conhecimentos precisos e técnicos diferentes dos que eram necessários nas organizações comunitárias tradicionais dos primeiros anos. Finalmente, a nova preocupação de atingir amplos alvos de justiça social e de reformas sociais alargaram os parâmetros da prática do Serviço Social, neles abrangendo as técnicas de planejamento, desenvolvimento e análise da política e programação. [...] os profissionais [...] foram obrigados a avaliar condições sociais mais extensas antes de iniciarem intervenções e dominarem ou criarem novos modelos de prática, de maior aplicabilidade e eficiência do que os aplicados no passado (KAHN, 1984, p. 117). Com Kahn (1984), conseguimos afirmar que a realidade societária é palco para que os profissionais transformem suas práticas de acordo com esta, bem como as características do grupo que se quer trabalhar. Faustini (1995, p. 43-4) nos coloca o caráter educativo da intervenção profissional ao dizer que [...] exprime um processo intimamente imbricado ao mundo histórico- cultural que é o produto da práxis humana, bem como a produz. Logo, este, encontra-se em íntima relação com a dimensão política da prática profissional, com o compromisso social e a consciência na direção social de nosso fazer. Esta direção não é dada, a priori, pela profissão, mas sim pelas relações estabelecidas entre os agentes profissionais e os indivíduos sociais nos movimentos históricos das demandas sociais. “Na ação que provoca uma reflexão que se volta a ela, o trabalhador social irá detectando o caráter preponderante da mudança ou estabilidade, na realidade social na qual se encontra. Irá percebendo as forças que a realidade social está tendo com a mudança e aquelas que estão com a permanência.” (FREIRE, 1991, p. 48). 137 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Serviço Social em equipe multidiSciplinar Voltamos, aqui, à questão teórico-prática – o projeto de ação que nossa consciência idealiza não pode ser descolado do processo, do método, de seu “para que”. A essa dimensão educativa que circunscreve a prática profissional está imbricado o componente político da relação entre os homens em sociedade. Por isso, ter consciência da dimensão educativa da prática assume uma fundamental importância. Esta dimensão se estabelece a partir de uma relação entre indivíduos que têm por trás uma vivência de classe. Esta vivência, contudo, pode contribuir para a indução de um mascaramento das formas de dominação, e não necessariamente para sua transcendência. A intervenção profissional nos possibilita ver que a ação profissional é política, contendo intencionalidades que devem estar bem claras para os técnicos, uma vez que podem corrompê-la, ou seja, é preciso analisar na prática tais ações e compreender se estão obtendo os resultados esperados, principalmente, para o público a que se destinam. Não há como dizer quais serão suas intervenções, pois são de diversas ordens, mas é preciso que se promova o entendimento das contradições existentes, no objeto apresentado, como também que se reconheça a historicidade que o envolve, ou seja, as correlações de forças e interesses, territorialidade, enfim, trazer o maior número de informações para que se consiga ter subsídios para planejar as ações, o que só conseguimos ao adotar instrumentais técnicos para tais interpretações e realizações. O que se reivindica hoje é que a pesquisa se afirme como uma dimensão integrante do exercício profissional, visto ser uma condição para se formular respostas capazes de impulsionar a formulação de propostas profissionais que tenham efetividade e permitam atribuir materialidade aos princípios ético-políticos norteadores do projeto profissional. Ora, para isso, é necessário um cuidadoso conhecimento das situações ou fenômenos sociais que são objeto de trabalho do assistente social (IAMAMOTO, 2004, p. 56). Outro ponto a ser destacado é em relação às intervenções e aos instrumentais utilizados no trabalho em equipe, em que se torna crucial, para a execução de qualquer ação, a compreensão do que é equipe. Trabalhar com outras pessoas não é uma tarefa fácil, visto que deve ser respeitada a singularidade do outro, que dispõe de fatores externos que influenciam sua maneira de interpretar as diversas situações; logo, é preciso entender que as pessoas pensam e agem de maneiras diferentes. Quando se tem o diálogo, ou seja, espaço para que duas pessoas ou mais troquem experiências por meio da fala e da escuta, dá-se outro instrumental para o assistente social, mas é preciso que haja um policiamento entre os membros, para não se envolverem em questões pessoais. O diálogo deve ser um espaço que respeite a opinião do outro e vice-versa, tornando possível a transformação e o consenso, local que deve, entre outras ações: 138 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Unidade II • interagir com os membros; • enaltecer as qualidades; • aproximar as pessoas; • respeitar o pensamento divergente; • trazer pessoas introspectivas à participação; • deixar claro que não existe certo e errado, no sentido de bom e ruim; • preservar efetivamente a comunicação entre os participantes; Se não houver essa compreensão das questões que envolvem a intervenção e os quereres entre os envolvidos, esse diálogo se tornará palco para as divergências de opiniões e poderão [...] ocasionar animosidades e discussões que, muitas vezes, descambam para o terreno puramente pessoal. Nesses casos, a conversa acaba gerando um bate-boca improdutivo, que só pode ser contornado se os profissionais tiverem como meta estabelecer acordos, tendo como guia os objetivos da empresa (SENAC, 2005, p. 43). Para a existência de uma equipe na prática, é preciso uma série de conquistas que podem parecer difíceis ou desnecessárias, porém são aspectos que colaboram para o trabalho nessa vertente. Discutir exclusivamente ideias: um bom profissional busca ideias e discute ideias; evita questões pessoais no trabalho em equipe e considera apenas propostas concretas. Buscar umdiálogo competente: os argumentos devem sempre ser apresentados de maneira clara, para que possam ser entendidos e discutidos pelas partes. Não temer o conflito: o bom profissional deve saber lidar com os conflitos e administrá-los com firmeza e habilidade. Os conflitos acabam sempre acontecendo e isso é saudável, desde que se saiba tirar deles o melhor proveito para o sucesso da negociação. Conflitos não significam desavenças, mas diferentes pontos de vista. Saber ceder: fazer concessões em nome do grupo [...] (SENAC, 2005, p. 43). Não é possível refletir sobre a instrumentalidade do Serviço Social e reduzir a profissão apenas a uma especialidade técnica; sobretudo, faz-se necessário pensar em diferentes formas para a construção da 139 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Serviço Social em equipe multidiSciplinar prática profissional, para que seja viável a identificação da realidade como ela acontece em si, ou seja, “tomar um banho de realidade”, segundo Iamamoto (2004). Guerra (2004) acrescenta sobre a utilização de meios para facilitar a interpretação das demandas que a nós são apresentadas: [...] a clara definição do “para que” da profissão, possível desde que iluminada por uma racionalidade (como forma de ser e pensar) que seja dialética e crítica, conectada à capacidade de responder eficazmente às demandas sociais, se constituirão na condição necessária, talvez não suficiente, à manutenção da profissão. Aqui se coloca a necessidade de dominar um repertório de técnicas, legada do desenvolvimento das ciências sociais, fruto das pesquisas e do avanço tecnológico e patrimônio das profissões sociais (e não exclusividade de uma categoria profissional), mas também um conjunto de estratégias e táticas desenvolvidas, criadas e recriadas no processo histórico, no movimento da realidade (GUERRA, 2004, p. 115-6). Em outras palavras, não podemos adotar instrumentais padronizados, pois ao técnico é posta a constante renovação destes, em razão das emergentes demandas ou dos reflexos da questão social diferenciados, como desenvolvimentos contínuos e pertinentes à realidade. Foi dito que a instrumentalidade é uma propriedade e/ou capacidade que a profissão vai adquirindo na medida em que concretiza objetivos. Ela possibilita que os profissionais objetivem sua intencionalidade em respostas profissionais. É por meio desta capacidade, adquirida no exercício profissional, que os assistentes sociais modificam, transformam, alteram as condições objetivas e subjetivas e as relações interpessoais e sociais existentes num determinado nível da realidade social: no nível do cotidiano. Ao alterarem o cotidiano profissional e o cotidiano das classes sociais que demandam a sua intervenção, modificando as condições, os meios e os instrumentos existentes, e os convertendo em condições, meios e instrumentos para o alcance dos objetivos profissionais, os assistentes sociais estão dando instrumentalidade às suas ações. Na medida em que os profissionais utilizam, criam, se adequam às condições existentes, transformando- as em meios/instrumentos para a objetivação das intencionalidades, suas ações são portadoras de instrumentalidade. Deste modo, a instrumentalidade é tanto condição necessária de todo trabalho social quanto categoria constitutiva, um modo de ser, de todo trabalho (GUERRA, 2000). 140 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Unidade II Segundo Martinelli e Koumrouyan (1994), definem-se por instrumental os mecanismos facilitadores para a intervenção profissional. Com esse objetivo, o instrumento torna-se um facilitador nessa interlocução de teoria e prática, interdependente de conhecimento, habilidade, ação e técnica no uso do instrumento. Com o intuito de ilustrar alguns dos diferentes instrumentais que podem ser utilizados no cotidiano do assistente social, destacam-se os seguintes: • folha de produção diária ou diário de campo: refere-se a uma folha na qual o técnico deverá anotar todas as demandas atendidas em determinado dia e horário, bem como as atividades realizadas. Instrumento importante para controlar as ações e não remeter apenas à memória quando for necessário lembrar-se de algum caso específico, por exemplo. [...] o profissional está em constante transformação, em constante aprendizagem e aperfeiçoamento. Contudo ele precisa se reconhecer no trabalho – identificar onde residem suas dificuldades – e localizar os limites e as possibilidades de trabalho. [...] Trata-se de anotações livres do profissional, individuais, em que o mesmo sistematiza suas atividades e suas reflexões sobre o cotidiano do seu trabalho. O diário de campo é importante porque o assistente social, na medida em que vai refletindo sobre o processo, pode perceber onde houve avanços, recuos, melhorias na qualidade dos serviços, aperfeiçoamento nas intervenções realizadas, além de ser um instrumento bastante interessante para a realização de futuras pesquisas. Ele é de extrema utilidade nos processos de análise institucional, o que é fundamental para localizar qualquer proposta de inserção interventiva do Serviço Social (SOUZA, 2008). • Visita domiciliar: não é uma atribuição exclusiva do assistente social; trata-se de uma maneira que o profissional tem para conhecer a realidade do sujeito, possibilitando a esse profissional analisar as condições cotidianas. Porém, é preciso que esteja preparado para os imprevistos, bem como proporcione liberdade ao dono da casa que se recusar a atender, sendo o direito deste. Para tanto, é preciso construir certa confiabilidade com o indivíduo. Não há consenso referente à duração, todavia é preciso sensibilidade técnica para evidenciar o esgotamento do sujeito nas orientações, entre outros; por tal motivo, deve ser uma ação sistematizada e planejada, com uma finalidade predefinida. [...] tem como principal objetivo conhecer as condições e modos de vida da população usuária em sua realidade cotidiana, ou seja, no local onde ela estabelece suas relações do dia a dia: em seu domicílio. A visita domiciliar é um instrumento que, ao final, aproxima a instituição que está atendendo ao usuário de sua realidade, via assistente social. 141 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Serviço Social em equipe multidiSciplinar Assim, as instituições devem garantir as condições para que a visita domiciliar seja realizada (transporte, por exemplo). [...] A residência é o espaço privado da família que lá vive. Ter essa dimensão é fundamental para que o assistente social rompa com uma postura autoritária, controladora e fiscalizadora. Porém é de suma importância que o profissional que realiza a visita tenha competência teórica para saber identificar que as condições de moradia não estão descoladas das condições de vida de uma comunidade onde a casa se localiza, e que, por sua vez, não estão separadas do contexto social e histórico (SOUZA, 2008). • Entrevista: utilizada para levantamento de informações pertinentes ao caso posto ao técnico, pode ser utilizada como mecanismo para compreender a dinâmica da realidade do indivíduo, como também pode proporcionar a troca de conhecimento entre os envolvidos (técnico e sujeito, por exemplo). Neste instrumento, o entrevistado não pode ser um sujeito passivo. A entrevista nada mais é do que um diálogo, um processo de comunicação direta entre o assistente social e um usuário (entrevista individual), ou mais de um (entrevista grupal). Contudo o que diferencia a entrevista de um diálogo comumé o fato de existir um entrevistador e um entrevistado, isto é, o assistente social ocupa um papel diferente – e, sob determinado ponto de vista, desigual – do papel do usuário. [...] Ambos os sujeitos (assistente social e usuário) possuem objetivos com a realização da entrevista – objetivos esses necessariamente diferentes. Mas o papel de entrevistador que cabe ao assistente social coloca-lhe a tarefa de conduzir o diálogo, de direcionar para os objetivos que se pretendem alcançar. Nem sempre é possível conciliar os objetivos do usuário e os do assistente social (e alcançar essa conciliação não é uma regra). Entretanto estabelece-se uma relação de poder entre esses dois sujeitos – relação essa em que o assistente social aparece em uma posição hierarquicamente superior. Mas, se defendemos a democracia e o respeito à diversidade como valores éticos fundamentais da nossa profissão, o momento da entrevista é um espaço [em] que o usuário pode exprimir suas ideias [...]. Importante ressaltar que, por ser um observador participante, o assistente social também emite suas opiniões, valores, a partir dos conhecimentos que já possui. Desse modo, entrevistar é mais do que apenas “conversar”: requer um rigoroso conhecimento teórico-metodológico (Silva, 1995), a fim de possibilitar um planejamento sério da entrevista, bem como a busca por alcançar os objetivos estabelecidos para sua realização (SOUZA, 2008). 142 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Unidade II • Observação: associada ao olhar sensível, pois o profissional deve estar atento aos detalhes que fazem parte da realidade estudada, para ser possível uma compreensão ampliada da situação. Observar é muito mais do que ver ou olhar. Observar é estar atento, é direcionar o olhar, é saber para onde se olha (Cruz Neto, 2004). Na definição clássica, a observação é o uso dos sentidos humanos (visão, audição, tato, olfato e paladar) para o conhecimento da realidade. Mas não um uso ingênuo dos sentidos, e sim um uso que tem como objetivo produzir um conhecimento sobre a realidade – tem-se um objetivo a alcançar. Porém, o assistente social, ao estabelecer uma interação face a face, estabelece uma relação social com outro(s) ser(es) humano(s), que possui(em) expectativas quanto às intervenções que serão realizadas pelo profissional. Assim, além de observador, o profissional também é observado. E ainda: na medida em que o assistente social realiza intervenções, ele participa diretamente do processo de conhecimento acerca da realidade que está sendo investigada. Por isso não se trata de uma observação fria, ou, como querem alguns, “neutra”, em que o profissional pensa estar em uma posição de não envolvimento com a situação. Por isso, trata-se de uma observação participante – o profissional, além de observar, interage com o outro e participa ativamente do processo de observação (SOUZA, 2008). • Acompanhamento: ações com o objetivo de continuidade. Para sua realização, importante serem criados vínculos entre profissional e sujeito; modo que permite ao técnico orientar a pessoa ou família para diferentes intervenções mediante a identificação das necessidades apresentadas. • Relatório: texto que contém toda abstração do assistente social diante da sua percepção da realidade ou do caso; mecanismo para registro técnico capaz de subsidiar decisões. • Encaminhamento: instrumental utilizado após a realização da interpretação da realidade, ou seja, o profissional já tem bem-definida a problemática e possíveis parceiros para o enfrentamento da expressão da questão social apresentada, sendo primordial o assistente social saber a rede socioassistencial disponibilizada e ter certeza de que o encaminhamento chegará aos cuidados a quem se destina. • Cadastro: registro de informações, de assistidos e outros, que permite armazenar e transmitir dados adquiridos. É possível criar um banco de dados e, posteriormente, informações sobre os atendimentos, principais demandas etc. O Livro de Registro é um instrumento bastante utilizado, sobretudo em locais onde circula um grande número de profissionais. Trata-se de um livro onde são anotadas as atividades realizadas, telefonemas recebidos, questões 143 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Serviço Social em equipe multidiSciplinar pendentes, atendimentos realizados, dentre outras questões, de modo que toda a equipe tenha acesso ao que está sendo desenvolvido (SOUZA, 2008). O assistente social deve ter clareza de que os instrumentais são ferramentas facilitadoras para a identificação das relações cotidianas utilizadas como mecanismos de interação entre profissional, sujeito e meio. Não devem conduzir para o cerceamento dos direitos ao sujeito, pois essa prática estaria em desacordo com os preceitos éticos: a- desempenhar suas atividades profissionais, com eficiência e responsabilidade, observando a legislação em vigor; [...] c- abster-se, no exercício da profissão, de práticas que caracterizem a censura, o cerceamento da liberdade, o policiamento dos comportamentos, denunciando sua ocorrência aos órgãos competentes (CFESS, 2012). No Código de Ética também é especificada uma série de atribuições inerentes ao assistente social, passíveis de reflexão, pois, se não houver o entendimento e a obrigatoriedade destas, o técnico não reconhecerá seus valores intelectuais: • coordenar, elaborar, executar, supervisionar e avaliar estudos, pesquisas, planos, programas e projetos na área de Serviço Social; • planejar, organizar e administrar programas e projetos em unidade de Serviço Social; • realizar vistorias, perícias técnicas, laudos periciais, informações e pareceres sobre a matéria; • coordenar seminários, encontros, congressos e eventos assemelhados; • orientar a equipe multidisciplinar para entendimento da função social do trabalho; • fiscalizar o exercício profissional por meio dos conselhos federal e regionais; • dirigir serviços técnicos em entidades públicas ou privadas. Como se pôde perceber, tudo o que diz respeito à matéria de Serviço Social deve ser executado por pessoa formada em curso de bacharelado em Serviço Social, bem como conter seu registro profissional ativo. É cobrada constantemente a liderança desse profissional, em razão da responsabilidade que lhe é depositada, o trabalho em equipe, pois constantemente trabalhamos com a rede de serviços disponibilizada pelos munícipes, e, com isso, há contato direto com outros profissionais; devemos manter o hábito da reflexão teórica para alicerçar a prática. 144 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Unidade II Resumo Nesta unidade, tratamos da reestruturação produtiva e das novas modalidades de subordinação do trabalho, ou seja, com novas tecnologias, os meios de produção são reconfigurados, tendo como resultado reflexos da questão social diferenciados, pois o emprego formal, cada vez mais, perde espaço para o informal, em virtude da diminuição das relações entre empresa e trabalhador. Com novas modalidades para obtenção de lucro, os capitalistas, analisando ações que possibilitem tal acúmulo em detrimento da exploração dos trabalhadores, estão cada vez menos dependentes destes, visto que, com maior intensidade, é promovido maior desenvolvimento do maquinário, reduzindo o número de empregados. Para pensar no acesso de pessoas que de alguma forma se encontram em vulnerabilidade, o assistente social precisa utilizar mecanismos para tal objetivo, como a participação da sociedade civilnos conselhos, por tratar-se de local apropriado para se repensar as políticas públicas, possibilitando voz aos sujeitos e sendo instância deliberativa e permanente para a construção e a discussão das ações governamentais. Foi possível compreender a amplitude do trabalho do assistente social na contemporaneidade, pois, por termos uma formação generalista, o técnico pode atuar em diversas áreas e com diferentes profissionais, sobretudo, para completar as ações contra os reflexos da questão social, pois não cabe apenas ao assistente social seu enfrentamento. Refletimos paralelamente sobre a reestruturação dos meios de aquisição de lucro, tendo como exemplo as instituições bancárias, juntamente com a influência do dinheiro no cotidiano da sociedade, sobretudo, no território das camadas mais populares. Demonstrou-se que o assistente social precisa trabalhar na área da saúde, em instituição pública ou privada, entendendo qual a sua função nesse segmento de trabalho, a fim de não ferir o Código de Ética nem realizar ações que fogem de sua competência técnica. O contexto atual desafia os assistentes sociais a se qualificarem para acompanhar, atualizar e explicar as particularidades da questão social. Esses profissionais estão diretamente ligados às questões da saúde pública, da criança e do adolescente, do idoso, da violência, da habitação, da educação 145 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Serviço Social em equipe multidiSciplinar etc., acompanhando as diferentes maneiras pelas quais essas questões se manifestam na sociedade. O projeto neoliberal reage contra a social-democracia para aumentar a economia capitalista e, como consequência, faz crescer o desemprego e a desigualdade social. Além de causar o encolhimento dos espaços públicos e o alargamento dos espaços privados, onde o Estado é instrumento econômico privado da classe dominante. Com a privatização do Estado, ou seja, a desnacionalização da economia, o desemprego estrutural, a desproteção social, a concentração de riqueza etc., os direitos sociais são mínimos, e é nesse contexto que o projeto ético-político do Serviço Social se posiciona, para combater o neoliberalismo, buscando preservar, efetivar e garantir os direitos sociais. Para que isso seja possível, discutimos sobre os instrumentos que podem ser utilizados pelo assistente social para conseguir fazer com clareza e facilidade a aplicabilidade técnica, não desqualificando o caráter interventivo da profissão. Exercícios Questão 1. Segundo Japiassu (1976), a prática interdisciplinar pode ser classificada em multidisciplinar, pluridisciplinar, interdisciplinar, interdisciplinar-auxiliar e transdisciplinar. Considere as afirmativas apresentadas a seguir. I. Na prática multidisciplinar, um trabalho comum é realizado graças a uma associação de disciplinas. No entanto, não são evidenciadas as relações estabelecidas entre essas disciplinas. II. Na prática pluridisciplinar, um trabalho comum é realizado graças a uma associação de disciplinas, sem que haja alterações na concepção que cada uma dessas disciplinas tem das situações ou nos métodos de cada uma delas. III. Na prática interdisciplinar, há interação de duas ou mais disciplinas, e essa interação pode ocorrer em diversos níveis – desde o nível de uma simples comunicação de ideias até o de conceitos, terminologias e procedimentos. IV. Na prática interdisciplinar-auxiliar, uma disciplina utiliza métodos de pesquisa próprios e adota métodos pertencentes a outras áreas do conhecimento. V. Na prática transdisciplinar, diversas disciplinas articulam-se e cooperam mutuamente entre si, apoiadas em um entendimento da realidade que ultrapassa suas fronteiras. 146 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Unidade II Está correto o afirmado em: A) I, II e III. B) I, III e IV. C) I, II e V. D) I e V. E) I, II, III, IV e V. Resposta correta: alternativa E. Análise das afirmativas I. Afirmativa correta. Justificativa: a multidisciplinaridade resulta de uma associação de disciplinas, sem que sejam evidenciadas as relações estabelecidas entre elas. II. Afirmativa correta. Justificativa: a pluridisciplinaridade ocorre quando as disciplinas se associam sem perder seus perfis: elas não sofrem alterações, apesar de atuarem conjuntamente. III. Afirmativa correta. Justificativa: a interdisciplinaridade ocorre quando as disciplinas se associam e, em virtude dessa associação, podem sofrer alterações em diversos níveis. IV. Afirmativa correta. Justificativa: a interdisciplinaridade-auxiliar ocorre quando as disciplinas não abandonam os próprios métodos, mas associam a eles outros métodos, advindos de outras disciplinas. V. Afirmativa correta. Justificativa: a transdisciplinaridade ocorre quando a cooperação entre disciplinas articuladas fundamenta-se em uma compreensão de realidade que, embora ultrapasse as fronteiras de cada uma das disciplinas envolvidas, é compartilhada por todas. Questão 2. Segundo Japiassu (1976), a prática interdisciplinar pode ser classificada em multidisciplinar, pluridisciplinar, interdisciplinar, interdisciplinar-auxiliar e transdisciplinar. Quanto aos níveis de interação das disciplinas, podemos afirmar que: 147 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 Serviço Social em equipe multidiSciplinar I. A prática multidisciplinar é um sistema de trabalho de um único nível: embora perseguindo objetivos comuns, nesse tipo de prática as disciplinas não cooperam entre si. II. A prática pluridisciplinar é um sistema de trabalho de um único nível: embora as diversas disciplinas persigam objetivos múltiplos, fazem isso de modo cooperativo, porém sem coordenação. III. A prática interdisciplinar-auxiliar é um sistema de trabalho de dois níveis, pois admite um nível de integração, ainda que seja apenas teórico. IV. A prática interdisciplinar, sistema de trabalho de dois níveis e objetivos múltiplos, tende à horizontalização das relações de poder. V. A prática transdisciplinar é um sistema de trabalho de níveis e objetivos múltiplos e tende à horizontalização das relações de poder. Está correto o afirmado em: A) I e II. B) I e III. C) I, II, III, IV e V. D) II e IV. E) III e V. Resolução desta questão na plataforma. 148 SS OC - R ev isã o: Vi rg in ia /V al er ia - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 3/ 02 /1 4 RefeRêNCIAs ABREO, A. C. S.; RIBEIRO, R. M. O fazer profissional do assistente social de empresas em Londrina. Serviço Social em Revista. v. 6. n. 1. jul./dez. 2003. Disponível em: <http://www.uel.br/revistas/ ssrevista/c_v6n1_carol.htm>. Acesso em: 29 out. 2011. ABREU, Y. V.; BARBOSA, A. D. Estudo do índice de exclusão social no Brasil: caso Tocantins. Madri, 2009. Disponível em: <http://www.eumed.net/libros/2009a/487/>. Acesso em: 16 out. 2013. AGGIO, A.; BARBOSA, A. S.; COELHO, H. M. F. Política e sociedade no Brasil (1930-1964). São Paulo: Annablume, 2002. ALENCAR, F.; RAMALHO, L. C.; TOLEDO, M. V. História da sociedade brasileira. 13. ed. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1996. ALMEIDA, M. I. R. Manual de planejamento estratégico. São Paulo: Atlas, 2001. BALERA, W. A contribuição social sobre o lucro. 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