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2019.1 
 
 
DIREITO DAS 
OBRIGAÇÕES 
Material de Apoio 
Prof. Me. Luiz Eduardo Lapolli Conti 
 
SUMÁRIO 
 
 
Parte I – Teoria geral das obrigações .................................................................... 6 
1 A noção jurídica de obrigação ....................................................................... 7 
2 Localização do direito das obrigações no âmbito do direito civil ................... 9 
3 Distinção entre direito das obrigações e direitos reais ................................. 10 
4 Fontes das obrigações ................................................................................. 17 
5 Conceito de obrigação ................................................................................. 20 
6 Estrutura da relação obrigacional ............................................................... 21 
6.1 Elemento subjetivo: os sujeitos da relação obrigacional ...................... 22 
6.2 Elemento objetivo: a prestação ........................................................... 23 
6.3 Elemento abstrato: o vínculo jurídico ................................................. 26 
6.3.1 Obrigações naturais .......................................................................... 28 
8 Princípios do direito obrigacional ............................................................... 33 
8.1 A autonomia da vontade ..................................................................... 33 
8.2 A boa-fé objetiva ................................................................................. 35 
8.2.1 A tríplice função da boa-fé objetiva .................................................. 39 
8.2.2 A obrigação como processo ............................................................... 44 
8.3 Os princípios do equilíbrio contratual e função social do contrato ........... 45 
Parte II – Classificação básica das obrigações .................................................... 47 
1 Introdução .................................................................................................. 48 
2 Obrigação de dar ......................................................................................... 48 
2.1 Obrigação de dar coisa certa .................................................................... 49 
2.1.1 Responsabilidade pela perda ou deterioração ................................... 51 
2.2 Obrigação de dar coisa incerta ................................................................. 53 
2.3 Obrigações pecuniárias ............................................................................. 54 
3 Obrigação de fazer ...................................................................................... 56 
3.1 Inadimplemento das obrigações de fazer ............................................. 58 
3 
 
 
 
4 Obrigação de não fazer ................................................................................ 60 
4.1 Inadimplemento da obrigação de não fazer ......................................... 61 
Parte III – Classificação especial das obrigações ................................................ 63 
1 Introdução .................................................................................................. 64 
2 Classificação especial quanto ao elemento objetivo (prestação) ................... 64 
2.1 Obrigações alternativas ....................................................................... 64 
2.2 Obrigações facultativas ....................................................................... 68 
2.3 Obrigações cumulativas ....................................................................... 68 
2.4 Obrigações líquidas e ilíquidas ............................................................. 69 
2.5 Obrigações divisíveis e indivisíveis ...................................................... 69 
3 Classificação especial quanto ao elemento subjetivo (Sujeitos) .................... 72 
3.1 Obrigações solidárias ........................................................................... 72 
3.2 Obrigações fracionárias ........................................................................ 78 
3.3 Obrigações conjuntas ........................................................................... 78 
3.4 Obrigações disjuntivas ......................................................................... 79 
4. Outras modalidades de obrigações.............................................................. 79 
4.1. Obrigações de meio, de resultado e de garantia ................................... 79 
4.2 Obrigações principais e acessórias ........................................................ 81 
4.3 Obrigações puras e simples, condicionais, a termo e modais ................. 82 
Parte IV – Da transmissão das obrigações .......................................................... 83 
1 Introdução .................................................................................................. 84 
2 Cessão de crédito ......................................................................................... 84 
2.1 Conceito e espécies ............................................................................... 84 
2.2 Formas de cessão de crédito e vedações ............................................... 85 
2.3 Notificação do devedor e responsabilidade do cedente ......................... 87 
3 Assunção de dívida ..................................................................................... 88 
3.1 Conceito e requisitos ............................................................................ 88 
4 
 
 
 
3.2 Espécies e meios de defesa do terceiro .................................................. 89 
4 Cessão de contrato 90Pparte V – Do adimplemento e extinção das obrigações
 ...................................................................................................................... 93 
1 Do pagamento direto .................................................................................. 94 
1.1 Natureza jurídica do pagamento ......................................................... 95 
1.2 Princípios do pagamento ..................................................................... 98 
1.3Condições subjetivas do pagamento ................................................... 101 
1.4 Condições objetivas do pagamento .................................................... 107 
2 Formas especiais de pagamento ................................................................ 111 
2.1 Do pagamento em consignação.......................................................... 111 
2.2 Do pagamento com sub-rogação ........................................................ 117 
2.3 Da imputação do pagamento ............................................................. 121 
2.4 Da dação em pagamento ................................................................... 124 
2.5 Da novação ....................................................................................... 128 
2.6 Da compensação ................................................................................ 132 
2.7 Da confusão ....................................................................................... 136 
2.8 Da remissão ....................................................................................... 137 
Parte VI – Do inadimplemento das obrigações ................................................. 142 
1 Introdução ................................................................................................ 143 
1.1 Violação positiva do contrato ............................................................ 143 
2 Inadimplemento absoluto ......................................................................... 146 
2.1 Inadimplemento culposo da obrigação .............................................. 146 
2.2 Inadimplementofortuito da obrigação .............................................. 147 
3 Da mora .................................................................................................... 149 
3.1 Conceito ............................................................................................ 149 
3.2 Mora e inadimplemento absoluto ...................................................... 150 
3.3 Espécies de mora ............................................................................... 151 
5 
 
 
 
3.4 Purgação e cessação da mora ............................................................. 156 
Parte VII – Dos Efeitos do Inadimplemento ............................................... 157 
1 Das perdas e danos .................................................................................... 158 
1.1 Conceito ............................................................................................. 158 
1.2 Dano emergente e lucro cessante ....................................................... 158 
1.3 Obrigação de pagamento em dinheiro ................................................ 160 
2 Dos juros ................................................................................................... 161 
2.1 Conceito ............................................................................................. 161 
2.2 Espécies de juros ................................................................................ 163 
3 Da cláusula penal ...................................................................................... 165 
3.1 Conceito ............................................................................................. 165 
3.2 Espécies de cláusula penal ................................................................. 166 
3.3 Valor da cláusula penal ...................................................................... 168 
4 Das arras ou sinal ...................................................................................... 172 
4.1 Conceito ............................................................................................. 172 
4.2 Espécies de arras ................................................................................ 172 
4.3 Funções das arras .............................................................................. 174 
parte viii – Do enriquecimento sem causa e pagamento indevido ..................... 176 
1 Introdução ................................................................................................ 177 
2 Enriquecimento sem causa ........................................................................ 177 
2.1 Ação de in Rem Verso ........................................................................ 179 
3 Pagamento indevido ................................................................................. 180 
3.1 Delineamentos gerais da repetição ..................................................... 182 
referências bibliográficas .................................................................................. 185 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PARTE I – TEORIA GERAL DAS OBRIGAÇÕES 
1 A noção jurídica de obrigação 
 
A vida em sociedade exige que os indivíduos estabeleçam 
relações de cooperação entre si. Dessas relações decorrem obrigações de 
todo tipo. Não por acaso, o vocábulo deriva do latim obligatio, que 
“contém uma ideia de vinculação, de liame de cerceamento da 
liberdade de ação”1. Neste sentido, Almeida Costa lembra que “utiliza-
se a palavra obrigação para designar de modo indiscriminado todos os 
deveres e ônus de natureza jurídica ou extrajurídica”2. 
Assim, em uma acepção amplíssima, pode-se definir obrigação 
como “dever cujo desrespeito implica sanções, a qual reflete algo da 
essência das próprias sociedades humana”3. A natureza dessas sanções 
vai permitir distinguir entre duas espécies de obrigações: 
a) A obrigação como dever social: Todo indivíduo possui a 
obrigação (moral) de socorrer os necessitados ou ainda a obrigação (de 
trato social) de se comportar segundo as regras de decoro e boa 
educação. Os cristãos, por exemplo, possuem a obrigação (religiosa) de 
receber a comunhão e de recolher o dízimo. Entretanto, é de se 
considerar que essas obrigações não vinculam as pessoas juridicamente, 
ou seja, não as sujeitam a sanções jurídicas (embora resultem em outras 
espécies de sanção, as vezes de consciência, como nas obrigações 
religiosas, outras vezes sanções sociais impostas de forma não 
organizada pelo próprio grupo social)4. 
 
1 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. Atualização de 
Guilherme Calmon Nogueira da Gama. 27. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015, pp. 
3-4. Segundo Zimmermann, o “substantivo ‘obligatio’ remonta a Cícero. Quanto 
ao significado literal do termo, sua raiz ‘lig-’ indica que algo ou alguém está 
vinculado, do mesmo modo que nós estamos todos “vinculados” (a Deus) em 
virtude de nossa ‘re-ligio’”. (The law of obligations: Roman foundations of the 
civilian tradition. Oxford: Oxford University, 1996, p. 1 [Tradução nossa]). 
2 ALMEIDA COSTA, Mário Júlio de. Direito das obrigações. 7. ed. Coimbra: 
Almedina, 1998, p. 53. 
3 NORONHA, Fernando. Direito das obrigações. 4. ed. rev. e atual. São Paulo: 
Saraiva, 2013, p. 24. 
4 Deste modo, se há um acordo de vontades quando é aceito um convite para 
jantar, não existe propriamente um contrato, suscetível de responsabilizar aquele 
que convidou, caso este tenha desrespeitado o compromisso. Outrossim, não há que 
se cogitar que a carona corresponda a um contrato de transporte gratuito, nos 
termos do que preconiza art. 736 do Código Civil (“Não se subordina às normas do 
contrato de transporte o feito gratuitamente, por amizade ou cortesia”). 
8 
 
 
 
b) A obrigação como dever jurídico: Quando a sanção é imposta 
coercitivamente por poderes instituídos pela própria sociedade, ou seja, 
pelo Estado, tem-se a obrigação como dever jurídico 5 . Assim, por 
exemplo, existe uma obrigação (jurídica) que corresponde ao serviço 
militar para todo brasileiro. Seu descumprimento suscita, entre outras 
sanções, a suspensão dos direitos políticos, na forma do art. 15, IV, da 
Constituição da República Federativa do Brasil. 
Dentre esses deveres jurídicos, de forma mais restrita, encontra-
se o objeto da disciplina de Direito das Obrigações. Ao contrário dos 
deveres jurídicos em sentido amplo, as obrigações que aqui serão 
estudadas não são deveres que recaem, indistintamente, sobre os 
membros de uma coletividade, mas sobre pessoas determinadas, que se 
se relacionam juridicamente 6 . Daí porque também são chamadas 
também de direitos pessoais7. 
O Direito das Obrigações, que está compreendido no Livro I da 
Parte Especial do Código Civil, abrange essencialmente três matérias: 
(1) as obrigações negociais, ou seja, as relações de intercâmbio de bens 
entre sujeitos ou a prestação de serviços8; (2) a responsabilidade civil, 
que trata da reparação de danos; e (3) o enriquecimento sem causa, que 
abrange o pagamento indevido e sua restituição ao seu respectivo 
 
5 Nesse sentido, é importante relembrar o magistério de Kelsen: “As sanções 
estatuídas por uma ordem jurídica são - diferentemente das sanções transcendentes 
- sanções socialmente imanentes e - diversamente daquelas, que consistem na 
simples aprovação ou desaprovação - socialmente organizadas. [..]Dizer que o 
Direito é uma ordem coativa significa que as suas normas estatuem atos de coação 
atribuíveis à comunidade jurídica” (Teoria pura do direito. Tradução de João 
Baptista Machado. 6. ed. Martins Fontes, 1998, pp. 23-4). 
6 Daí o alerta de Pontes de Miranda: “Temos, portanto, de tratar das ‘obrigações’,em sentido restrito, sem apagarmos o que também é obrigação e não está no Direito 
das Obrigações. Temos de ver que, do outro lado, ou logo após, estão obrigações que 
não cabem no terreno que exploramos: basta que o sujeito passivo delas seja total, 
‘todos’, e não só ‘alguém’” (Direito das obrigações, obrigações e suas espécies, 
fontes e espécies das obrigações. Atualizado por Nelson Nery Jr. e Rosa Maria 
de Andrade Nery. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2012, p. 55). 
7 Vide nota abaixo. 
8 Essas relações, lembra Noronha (Direito das obrigações, op. cit., p. 28), não se 
restringem ao Direito das Obrigações, sendo disciplinadas em outras matérias 
“especiais” como, por exemplo, o Direito do Consumidor e o Direito do Trabalho. 
9 
 
 
 
titular. Essa disciplina é a “base, não somente do Direito Civil, [...] mas 
de todo direito”, como apontou Josserand9. 
 
2 Localização do direito das obrigações no âmbito do direito civil 
 
A relação jurídica obrigacional não é integrada por qualquer 
espécie de direito subjetivo; somente aqueles direitos com conteúdo 
econômico, passíveis de circulação jurídica, poderão participar de 
relações obrigacionais. Descartam-se, assim, os direitos de 
personalidade, assim entendidos como a “parte do direito privado que 
cuida da proteção jurídica de objetos de direito que pertencem à 
natureza do homem”10. Neste ramo do direito privado encontramos a 
proteção ao nome e prenome, à honra, à intimidade e a vida privada, 
por exemplo. 
Embora tenham conteúdo patrimonial, essas relações 
obrigacionais não podem ser confundidas com os direitos reais, uma vez 
que possuem uma natureza essencialmente pessoal. Quando dois 
sujeitos celebram um contrato, no qual um passa a ser credor do outro, 
o direito pessoal exercitável contra o devedor consiste em uma prestação e 
não em uma pretensão de natureza real no crédito formado11. O credor 
não tem poderes de proprietário em relação à coisa ou à atividade objeto da 
 
9 Segundo o autor francês: “Esta teoria [do Direito das Obrigações] está na base, 
não somente do Direito Civil, como as pessoas e grupos que estão no centro das 
inumeráveis relações obrigacionais, mas de todo direito: o direito comercial, o direito 
administrativo, o direito internacional, privado ou público, são baseados em 
relações obrigacionais que eles tendem a adaptar aos mais diversos interesses, mais 
ou menos especializados, e não é exagero afirmar que o conceito de obrigação 
constitui a armadura e o substratum do direito e mesmo, de um modo mais geral, 
de todas as ciências sociais” (JOSSERAND, Louis. Cours de droit civil positif 
français: conforme aux programmes officiels des facultés de droit mis au courant des 
lois, des décrets-lois, de la jurisprudence et de la doctrine. 3. ed. Paris: Sirey, 1939, pp. 
3-4 [Tradução nossa]). 
10 NERY JÚNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código Civil 
anotado e legislação extravagante. 2. ed. rev. e ampl. São Paulo: Revista dos 
Tribunais, 2003, p. 157. 
11 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de 
direito civil, volume 2: obrigações. 13. ed., rev., atual. e ampl. São Paulo: 
Saraiva, 2012, p. 44. 
10 
 
 
 
prestação. O cumprimento da prestação (atividade do devedor) e não a 
coisa em si (o dinheiro, o imóvel, etc.) constitui o objeto imediato da 
obrigação. 
Assim, é possível identificar no interior dos direitos patrimoniais 
duas subespécies de direitos: os direitos reais, que são estudados pelo 
Direito das Coisas, e os direitos pessoais, que integram o Direito das 
Obrigações12. Importa distinguir, em tópico específico, esses dois ramos 
do direito a fim de delimitar com precisão as características específicas 
do direito obrigacional. 
 
3 Distinção entre direito das obrigações e direitos reais 
 
A distinção entre direitos reais e direitos obrigacionais (ou 
pessoais) remonta suas bases à tradição romanista, que enxergava a 
dicotomia ação real – ação pessoal “basicamente em razão da 
oponibilidade perante terceiros e o caráter erga omnes da primeira, que 
inexistia nas ações pessoais” 13 . Daí porque Lafayette Rodrigues 
Pereira lecionava que “direito real é aquele que afeta a coisa direta e 
imediatamente, sob todos ou sob certos aspectos, e a segue em poder de 
quem quer que a detenha. O direito pessoal é o direito contra 
determinada pessoa”14. 
 
12 Beviláqua é um crítico dessa denominação: “Nosso patrimônio contém duas 
categorias de direitos, os reais e os obrigacionais, ou de crédito. Estes últimos são 
também chamados pessoas, porém esta expressão não merece as preferências que 
se lhe tem dado, pois é de sobremodo equívoca. Visivelmente, aplica-se, com 
propriedade, aos direitos das pessoas, as quais, nos códigos modernos, formam uma 
classe a parte; e é de grande inconveniência, para a doutrina, que os termos técnicos 
se prestem a mais de uma significação. Só diante da inexistência de uma outra 
expressão é tolerável essa inópia idiomática. Mas a expressão – direitos pessoais – 
ainda admite outros sentidos. Aplicam-na mesmo para designar certos direitos 
reais, como o de usufruto. É nociva essa elasticidade ou, antes, essa inconsistência 
de expressão ao esclarecimento da ciência, parece-me indubitável” (Direito das 
obrigações. 5. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1940, p. 21). 
13 SILVA, Roberta Mauro e. Relações reais e relações obrigacionais: proposta para 
uma nova delimitação de suas fronteiras. In TEPEDINO, Gustavo (Coord.). 
Obrigações: estudos na perspectiva civil-constitucional. Rio de Janeiro: 
Renovar, 2005, p. 74. 
14Apud GOMES, Orlando. Introdução ao direito civil. 10. ed. Rio de Janeiro: 
Forense, 1993, p. 120. 
11 
 
 
 
A partir da diferenciação entre direitos pessoais e direitos reais, 
pode-se alcançar os traços específicos que caracterizam a obrigação 
civil. As principais diferenças são as seguintes: 
a) Quanto ao objeto: Os direitos reais conferem ao seu titular um 
poder direto e imediato sobre uma coisa (a faculdade de usar, gozar e 
dispor da coisa, conforme o art. 1.128 do Código Civil), enquanto que 
os direitos pessoais têm por objeto o direito a uma prestação, ou seja, 
uma ação ou omissão (dare, facere ou non facere) que pode ser exigida 
de outrem, pressupondo sempre “a existência e cooperação de dois 
sujeitos”15. 
b) Quanto ao modo de aquisição: Os direitos reais se adquirem 
pela tradição (art. 1.226 do Código Civil), quando se tratar de coisas 
móveis, ou pelo registro, quando se tratar de coisas imóveis (art. 1.227 
do Código Civil)16. Os direitos pessoais, por sua vez, são adquiridos por 
contrato (mas não exclusivamente, como será visto no tópico que 
tratará das fontes das obrigações). 
Deste modo, é possível afirmar que, como regra, não se adquire 
propriedade por contrato: o direito pessoal pode gerar um jus ad rem 
(direito à coisa), mas não um jus in re (direito sobre a coisa), que só se 
adquire com a tradição ou registro17. Por isso, no Digesto encontramos 
 
15 ALMEIDA COSTA, Direito das obrigações, op. cit., pp. 108-9. Em 
importante lição, Betti afirma que “nas relações de direito real, se resolve um 
problema de ‘atribuição’ de bens, e, nas obrigacionais, um problema de 
‘cooperação’ ou, na hipótese de responsabilidade aquiliana, de ‘reparação’. [...] 
Num caso, trata-se de atribuir bens a algum associado e de, correlativamente, 
excluí-los de outros: há, portanto, uma relação de atribuição e respectiva exclusão; 
no outro, trata-se de resolver um problema de cooperação no caso de relações 
jurídicas que têm por fonte um contrato, ou de compensar as consequências lesivas 
de um ato ilícito” (Teoria geral das obrigações. Campinas: Bookseller, 2005, pp.30-1). 
16 Existem outras formas de aquisição de direitos reais, como a usucapião (art. 
1.238 do Código Civil), a acessão (art. 1.248 do Código Civil), a ocupação (art. 1263 
do Código Civil) e o achado de tesouro (art. 1.264 do Código Civil). 
17 Trata-se de uma opção do legislador brasileiro, que preferiu seguir a tradição 
romana da duplicidade formal (contrato mais tradição, quando se tratar de coisas 
móveis, ou contrato mais transferência, em caso de imóveis). Em outros 
ordenamentos jurídicos, como, por exemplo, o francês, adotou-se o sistema da 
unidade formal, em que basta o contrato para gerar o direito real (nesse sentido, 
12 
 
 
 
a seguinte passagem: “A essência da obrigação não consiste em nos 
tornar proprietários ou em nos fazer adquirir servidão, mas em obrigar 
alguém a nos dar, fazer ou prestar alguma coisa”18. 
c) Quanto à origem: Os direitos reais estão sujeitos ao princípio 
da tipicidade ou legalidade, de modo que se tratam de direitos que têm 
por origem a lei (no Brasil, os direitos reais estão fixados no art. 1.225 
do Código Civil)19. No caso dos direitos pessoais, vigora o princípio da 
liberdade contratual (art. 425 do Código Civil), que permite que os 
indivíduos criem relações obrigacionais diversas daquelas previstas em 
lei20 (os contratos inominados ou atípicos21). 
 
dispõe o art. 1.138 do Código Civil francês: “A obrigação de entregar coisa se 
aperfeiçoa pelo consentimento das partes contratantes”). 
18 “Obligationum substantia non in eo consistit, ut aliquod corpus nostrum aut 
servitutem nostram faciat, sed ut alium nobis obstringat ad dandum aliquid vel 
faciendum vel praestandum”. Essa é a definição de obrigação proposta por Paulo no 
Digesto (Livro LXIV, 7, 3). Cf. ZIMMERMANN, The law of obligations, op. cit., 
p. 6. 
19 Por exemplo, a Medida Provisória nº 759/2016 (convertida posteriormente na 
Lei nº 13.465/2017) que acrescentou o inciso XIII ao art. 1.225 e criou o “direito 
real de laje”, definido no art. 1.510-A, que visa regularizar uma situação comum 
na maior parte das cidades brasileiras. Mais recentemente, a Lei n° 13.777/2018, 
alterou o Código Civil instituindo o regime da multipropriedade, ou seja, “o regime 
de condomínio em que cada um dos proprietários de um mesmo imóvel é titular de 
uma fração de tempo, à qual corresponde a faculdade de uso e gozo, com 
exclusividade, da totalidade do imóvel, a ser exercida pelos proprietários de forma 
alternada” (art. 1.358-C do Código Civil). É interessante observar que antes da 
inovação legislativa, o Superior Tribunal de Justiça admitiu o caráter de direito 
real da multipropriedade mesmo que ela não integrasse o rol do art. 1.225 do Código 
Civil (REsp 1.546.165/SP; rel. p/ o acórdão Min. João Otávio de Noronha; julgado 
em 26.4.2016). 
20 Aqui, cabe lembrar a lição de Beviláqua (Direito das obrigações, op. cit., p. 
23): “Os direitos reais não são numerosos, concretizam-se em figuras pouco 
variadas, que as legislações, com efeito, taxativamente indicam. Ao contrário, os 
atos, os fatos e as abstenções que os homens se podem prometer diversificam de 
modo considerável, segundo o arbítrio, as necessidades e as circunstâncias 
ocasionais, oferecendo um número indeterminado de nuances irredutíveis, muitas 
vezes, às fórmulas gerais preestabelecidas”. 
21 O contrato de arrendamento mercantil, ou leasing, surgiu inicialmente como um 
contrato atípico, sendo que somente em 1974 foi tornado típico pela Lei nº 6.099, 
que visava regular os aspectos tributários da transação. Atualmente, são exemplos 
13 
 
 
 
d) Quanto à eficácia: Os direitos reais são absolutos, isto é, são 
oponíveis a terceiros, de modo que são oponíveis contra todos (eficácia 
erga omnes). Os direitos pessoais, por outro lado, são relativos, ou seja, 
geram efeitos apenas entre os contratantes, não atingindo terceiros 
(eficácia inter partes). Assim, em relação a terceiros, o direito pessoal 
não beneficia nem prejudica22. 
Porque o direito real é um direito absoluto, que possui eficácia 
erga omnes, dele decorre o direito de sequela, ou seja, o direito de 
reivindicar a coisa de “quem quer que injustamente a possua ou 
detenha” (art. 1.228, parte final, do Código Civil). Os direitos pessoais 
não possuem esse atributo, de forma que, se alguém vender a mesma 
coisa móvel para duas pessoas, o proprietário será aquele a quem a 
coisa foi entregue. Ao outro credor, resta o direito de exigir uma 
indenização pecuniária do vendedor, em razão do descumprimento do 
contrato23. 
e) Quanto à extensão no tempo: Os direitos reais são perpétuos ou 
permanentes, na medida em que a inação do titular não o faz perder o 
direito (não há prescrição de direito real). Os direitos pessoais, no 
entanto, são transitórios, extinguindo-se tão logo haja o adimplemento, 
estando, inclusive, sujeitos à prescrição24. 
 
de contratos atípicos os contratos de publicidade, cessão de clientela, hospedagem 
e de faturização ou factoring. 
22 NORONHA, Direito das obrigações, op. cit., p. 309. 
23 Outro atributo decorrente da eficácia erga omnes dos direitos reais é o direito de 
preferência, “que consiste no poder atribuído ao titular de afastar todos os direitos 
incompatíveis com o seu, que posteriormente se tenham constituído sobre a mesma 
coisa” (VARELA, João de Matos Antunes. Direito das obrigações. Rio de 
Janeiro: Forense, 1977, v. 1, pp. 34-5). Assim, se em um mesmo imóvel se tiverem 
constituído duas ou mais hipotecas (art. 14.76 do Código Civil), o titular da 
primeira terá o direito de ser pago com preferência, não só em relação aos credor 
quirografários (os que não possuem garantia real paro o pagamento do seu crédito), 
mas também em relação aos titulares das hipotecas posteriormente constituídas 
sobre o imóvel. 
24 Noronha (Direito das obrigações, op. cit., p. 314) adverte, porém, que existem 
direitos reais de curta duração, como o usufruto (art. 1.410 do Código Civil), e 
relações obrigacionais de longa duração, como o contrato de trabalho e o de locação 
de imóvel. 
14 
 
 
 
É de se referir que existem alguns pontos de contato entre os 
direitos obrigacionais e os direitos reais, que obscurecem essa 
diferenciação 25 . É o caso dos direitos reais de garantia, como a 
hipoteca, o penhor e a anticrese (além da alienação fiduciária, que 
Noronha classifica de supergarantia26), que só são concebíveis como de 
acessórios de obrigações, cujo adimplemento têm por função garantir27. 
Outro tipo de obrigação híbrida é a obrigação propter rem. 
Também denominada obrigação ob rem ou ambulatória, são o que San 
Tiago Dantas chamou de “um artifício técnico, ou antes, uma 
transação entre dois tipos extremos do direito real e do pessoal, com o 
fim de qualificar certas figuras ambíguas que tinham tanto de um como 
de outro”28. Justamente em função disso, existe profunda controvérsia 
sobre a sua natureza jurídica. 
Autores como Gierke atribuem maior destaque para o aspecto 
real da relação, que pode ser observado em sua ambulatoriedade29. Há 
aqueles, no entanto, que apontam “que, consistindo a prestação num 
facere, não se quadra à natureza do direito real”30. Todavia, a tendência 
dos autores tem sido, ensina Serpa Lopes, considerar tais obrigações 
 
25 Desta forma, algumas vezes, a obrigação tem por escopo justamente adquirir a 
propriedade ou outro direito real, como no caso do contrato de compra e venda. 
Em outras, os direitos reais atuam como acessórios dos direitos obrigacionais, 
visando conferir segurança a estes (caso das garantias reais do penhor e da 
hipoteca, por exemplo). 
26 Direito das obrigações, op. cit., p. 317. 
27 Cf., nesse sentido, DANTAS, Francisco Clementino San Tiago. Programa dedireito civil III: direito das coisas. Rev. do texto e anotações de José Gomes de 
Bezerra Câmara. Atualização de Laerson Mauro. Rio de Janeiro: Editora Rio, 
1981, p. 18. 
28 O conflito de vizinhança e sua composição. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 
1972, p. 244. 
29 Segundo Ricardo Pereira Lira (Elementos de direito urbanístico. Rio de 
Janeiro: Renovar, 1997, p. 189): Não será preciso lembrar que existem obrigações 
que não resultam de uma avença entre pessoas, podendo o vínculo decorrer do fato 
de alguém ser titular de um direito real. O titular desse direito real pode mudar, 
mas a obrigação acompanha a coisa. A titularidade do direito real define o sujeito 
passivo da obrigação. Por força dessa razão, esse tipo de obrigação se denomina 
ambulatória, proter rem, ou também obrigação real”. 
30 GOMES, Orlando. Obrigações. 15. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2000, p. 22. 
15 
 
 
 
como espécies autônomas, um grupo intermediário entre o direito 
pessoal e real31. 
Em síntese, podemos conceituar a obrigação propter rem como 
aquela que possui uma prestação imposta ao titular de determinado 
direito real, pelo simples fato de assumir tal condição32. Serpa Lopes 
identifica como suas características: a vinculação a um direito real, do 
qual irá decorrer (ambulat cum domino); a autonomia, ainda que sejam 
acessórias e vinculadas e, por fim, a tipicidade, pelo fato de decorrerem 
de um direito real33. 
Exemplo típico de obrigação proter rem é a contribuição devida 
ao condomínio edilício (art. 1.345 do Código Civil)34-35. Caso semelhante 
ocorre na responsabilidade de reparar o dano ambiental, que será 
transmitida para o eventual novo proprietário36. No mesmo sentido, 
 
31 SERPA LOPES, Miguel Maria de. Curso de direito civil, vol. II. Rio de 
Janeiro: Forense, 1966, p. 57. 
32 Na definição de Silvio Rodrigues (Direito civil: parte geral das obrigações. 29. ed. 
São Paulo: Saraiva, 1999, p. 99), “a obrigação propter rem é aquela em que o 
devedor, por ser titular de um direito sobre a coisa, fica sujeito a uma determinada 
prestação que, por conseguinte, não derivou da manifestação expressa ou tácita de 
sua vontade”. 
33 SERPA LOPES, Curso de direito civil, op. cit., p. 57. 
34 O Superior Tribunal de Justiça, entretanto, já firmou posição no sentido de que 
apenas aquelas despesas constituídas após a constituição regular do condomínio, 
por meio do registro da convenção no cartório de registro de imóveis, caracterizam-
se como obrigações proter rem. Antes disso, a convenção obriga apenas os seus 
participantes, não podendo atingir terceiro adquirente. (REsp 1.731.128/RJ; rel. 
Min. Nancy Andrighi; julgado em 27.11.2018). 
35 Convém indicar, entretanto, que, ao contrário do que pregam alguns 
doutrinadores, obrigações derivadas de contratos de fornecimento de água ou 
energia elétrica não são obrigações propter rem, mas sim obrigações pessoais: "A 
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é no sentido de que a obrigação de 
pagar pelo serviço prestado pela agravante - fornecimento de água - é destituída 
da natureza jurídica de obrigação propter rem, pois não se vincula à titularidade do 
bem, mas ao sujeito que manifesta vontade de receber os serviços" (AgRg no Ag 
1.323.564/SP, rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe 2.2.2011). 
36 A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é pacífica em reconhecer que 
"a responsabilidade civil pela reparação dos danos ambientais adere à propriedade, 
como obrigação propter rem, sendo possível cobrar também do atual proprietário 
condutas derivadas de danos provocados pelos proprietários antigos" (REsp 
16 
 
 
 
pode-se afirmar que constituem obrigações propter rem determinados 
tributos como o IPTU37 e o IPVA, bem como o pagamento de multas 
de trânsito38. 
Por fim, tem-se a obrigação com eficácia real39. Como foi dito 
anteriormente, uma das características dos direitos pessoais reside no 
fato de eles possuírem eficácia inter partes. No entanto, é possível de 
dotar uma obrigação de oponibilidade em relação a terceiros, quando 
houver anotação preventiva no registro imobiliário, como nos casos da 
 
1622512/RJ; rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma; julgado em 22.9.2016, 
DJe 11.10.2016). 
37 Segundo o Superior Tribunal de Justiça, os “impostos incidentes sobre o 
patrimônio (Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural - ITR e Imposto sobre 
a Propriedade Predial e Territorial Urbana - IPTU) decorrem de relação jurídica 
tributária instaurada com a ocorrência de fato imponível encartado, 
exclusivamente, na titularidade de direito real, razão pela qual consubstanciam 
obrigações propter rem, impondo-se sua assunção a todos aqueles que sucederem ao 
titular do imóvel. Consequentemente, a obrigação tributária, quanto ao IPTU e ao 
ITR, acompanha o imóvel em todas as suas mutações subjetivas, ainda que se 
refira a fatos imponíveis anteriores à alteração da titularidade do imóvel [...]. 
(REsp 1073846/SP, rel. Min. Luiz Fux, Primeira Seção, julgado em 25.11.2009). 
38 COMPRA E VENDA DE VEÍCULO - EXISTÊNCIA DE DÉBITO 
PRETÉRITO DE IPVA E MULTAS - PRETENSÃO DO ADQUIRIENTE DE 
OBRIGAR O ALIENANTE A PAGAR DIRETAMENTE AO FISCO O 
REFERIDO DÉBITO- IMPOSSIBILIDADE - OBRIGAÇÕES PROPTER 
REM -DEVER DE PAGAMENTO DO ADQUIRENTE DO BEM, 
RESSALVADO SEU DIREITO DE REGRESSO CONTRA O ALIENANTE. 
São propter rem as obrigações de pagamento de multas de trânsito e IPVA, ou seja, 
originam-se do fato de ser o devedor titular de um direito real sobre a coisa, razão 
pela qual cumpria ao adquirente do veículo a responsabilidade pelo adimplemento 
delas perante seus respectivos credores (fisco estadual ou municipal). Sendo assim, 
não tem ele o direito de exigir que terceiro cumpra obrigação que lhe compete, ou 
seja, não pode obrigar a ré a pagar à fazenda pública. É claro que teria o direito ao 
devido ressarcimento, a ser regressivamente exercido contra a ré, alienante do 
veículo, considerado o disposto no art. 502 do CÓDIGO CIVIL. Mas, se nada pagou 
ao credor das multas, nada pode reclamar da ré em restituição. APELAÇÃO 
PROVIDA. (TJSP, Ap. Civ. 9179340722005826, rel. Des. Andrade Neto, julgado 
em 30.05.2011) 
39 Segundo lição de Maria Helena Diniz (Curso de direito civil brasileiro – 
Teoria geral das obrigações. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 17), a “obrigação 
terá eficácia real quando, sem perder seu caráter de direito a uma prestação, se 
transmite e é oponível a terceiro que adquira direito a determinado bem”. 
17 
 
 
 
promessa de compra e venda (art. 1.417 do Código Civil) e a cláusula 
de vigência em caso de alienação na locação predial (art. 576 do Código 
Civil e art. 8º da Lei nº 8.245/1991). 
 
4 Fontes das obrigações 
 
Segundo lição de Antunes Varela, “diz-se fonte da obrigação o 
facto jurídico de onde nasce o vínculo obrigacional”40. O estudo destas 
fontes remonta ao direito romano, sendo a primeira referência 
atribuída ao jurista Gaio, que nas Institutas (3, 8) as dividia em duas 
categorias fundamentais: ex contractu e ex delictu41. Mais tarde, nas 
Institutas de Justiniano, apareceram, ao lado das tradicionais, as quasi 
ex contractu e as quasiex delictu42. A essas quatro categorias, o Code Civil 
napoleônico (1804), por influência de Pothier, acrescentou a lei43. 
Essa classificação clássica não foi seguida pelo ordenamento 
jurídico pátrio44. Na realidade, o atual Código Civil, assim como o 
 
40 VARELA, João de Matos Antunes. Das obrigações em geral. 9. ed. Coimbra: 
Almedina, 1996, v. 1, p. 203. 
41 “Nunc transeamus ad obligationes, quarun summa divisio in duas species 
deducitur: Omnis enim obligatio vel ex contractu nassitur ex delicto”. Importa 
salientar, entretanto,que os juristas romanos tinham uma acepção distinta, em 
relação à doutrina moderna, do significado de contrato; ele designava muito mais 
o vínculo que une credor e devedor (o estado que este ficava perante aquele) do que 
o ato de vontade de onde a situação procede, abrangendo não apenas o acordo das 
partes, como também todo fato voluntário lícito do qual provém obrigações. Cf. 
VARELA, Das obrigações em geral, op. cit., p. 204. 
42 COUTO E SILVA, Clóvis do. A obrigação como processo. Reimpressão. Rio 
de Janeiro: Editora FGV, 2006, p. 71. Segundo o texto de Justiniano: “sequens 
divisio in quattuor species diducitur: aut enim ex contractu sunt aut quase ex contractu, 
aut ex maleficio aut ex quasi ex maleficio” (3, 13, 2). 
43 VENOSA, Silvio Savio. Direito civil: teoria geral das obrigações. 4. ed. São 
Paulo: Atlas, 2004, p. 71. Importa acrescentar, entretanto, que houve uma 
significativa modificação legislativa no Code Civil francês em outubro de 2016 em 
que o legislador abandou a referência às fontes tradicionais do Direito Romano e 
adotou a teoria germânica dos fatos jurídicos. 
44 Teixeira de Freitas, no seu Esboço de 1860, por exemplo, optou por apresentar 
como fontes das obrigações os fatos, atos lícitos e ilícitos. Cf., FREITAS, Augusto 
Teixeira de. Esboço do Código Civil. Brasília: Ministério da Justiça, 1983, p. 
206. 
18 
 
 
 
anterior, não contém dispositivo específico a respeito das fontes das 
obrigações. A tarefa, portanto, ficou a cargo exclusivo da doutrina que, 
de forma geral, tende a apontar que as obrigações sempre têm por fonte 
a lei. Orlando Gomes, entretanto, trata de distinguir as situações em 
que a lei atua como fonte imediata ou mediata das obrigações45. 
A lei será fonte imediata das obrigações quando elas decorrem 
direta e imediatamente dela, como no caso da prestação de alimentos 
(art. 1.696 do Código Civil). Em outros casos, a lei apenas dá respaldo 
aos fatos ou atos jurídicos, de modo que eles possam gerar os efeitos 
obrigacionais, ocasião em que ela atuará como fonte mediata das 
obrigações. Aqui os elementos que despontam como causadores 
imediatos do vínculo são a vontade humana (por atos bilaterais ou 
unilaterais) e o ato ilícito46. 
Entre as fontes mediatas, a que possui maior relevância, por sua 
larga aplicação prática, é o contrato, que constitui a fonte negocial por 
excelência do direito das obrigações. Não obstante, há outros atos 
jurídicos lícitos que, ainda que unilaterais, são fonte das obrigações, 
como, por exemplo, o testamento e a promessa de recompensa 
(declarações unilaterais de vontade). 
Por fim, não há como negar que também os atos ilícitos 
constituem fontes mediatas das obrigações. Assim, quando o sujeito 
conduz um automóvel em excesso de velocidade e atropela um 
transeunte, concretiza o comando normativo previsto no art. 186 do 
Código Civil, ficando, portanto, pessoalmente vinculado à indenização 
do dano causado à vítima (art. 927 do Código Civil)47. 
Mais modernamente, a partir da lição do professor Clóvis do 
Couto e Silva, acrescentou-se uma nova fonte das obrigações: os atos-
fatos. Segundo o doutrinador gaúcho, citando Pontes de Miranda, atos-
fatos “são atos que entram no mundo jurídico como fatos”48. Essa 
inclusão permite explicar os contratos que não derivam de um 
 
45 GOMES, Obrigações, op. cit., p. 31. 
46 RODRIGUES, Direito civil, op. cit., p. 10. 
47 Entre os atos ilícitos podemos incluir ainda o abuso de direito (art. 187 do Código 
Civil) e o enriquecimento sem causa (art. 884 do Código Civil). 
48 COUTO E SILVA, A obrigação como processo, op. cit., p. 75. 
19 
 
 
 
elemento volitivo 49 , como, por exemplo, os contratos de serviços 
públicos. 
Couto e Silva aponta duas espécies de ato-fato: os atos 
existenciais e o contato social. Os atos existenciais são aqueles 
necessários à manutenção da vida, ao atendimento das necessidades 
básicas do indivíduo. É o caso do menor que adquire bens comestíveis 
em uma lanchonete; realizado dentro de moldes normais e adequados, 
ninguém pensará em anular esse ato, sob alegação de incapacidade50. 
Mas é na sociologia que Clóvis do Couto e Silva vai buscar seu 
conceito mais importante: o contato social. Inicialmente, ela foi 
relegada exclusivamente à responsabilidade pré-negocial ou 
extracontratual; Couto Silva, entretanto, sugere sua aplicação como 
fattispecie comum aos negócios jurídicos e aos atos ilícitos com o intuito 
de sistematizar as várias fontes de relação obrigacional51. 
Para o autor, viver em sociedade implica ter contatos sociais 
variados. O contrato nada mais é do que uma espécie de contato social, 
qualificado pela vontade. Para que uma obrigação exista é preciso que 
uma pessoa entre em contato com outra, seja por atos lícitos, negociais 
ou não-negociais, ou por atos ilícitos. Esse contato irradia outros 
deveres, que não aqueles previstos na lei ou no contrato. 
Desta feita, Couto e Silva concede maior amplitude a categoria. 
Passa-se a considerar a vida em sociedade, em si mesma, como uma 
forma de contato social, a mais remota das formas possíveis. E este 
alargamento da categoria é, de fato, necessário, na medida em que se 
pretenda vê-la vinculada a hipóteses de responsabilidade civil em que 
as partes jamais tenham tido, nem antes, nem no momento da 
ocorrência do fato lesivo, qualquer contato físico ou psíquico, tal como 
pode ser o caso, por exemplo, do responsável pelos danos provocados 
pela queda de objetos de uma casa (art. 1.529 do Código Civil), ou do 
fabricante responsável por fato do produto (art. 12 do Código de Defesa 
do Consumidor). 
 
49 Essas novas fontes do direito obrigacional estão ligadas à crise da autonomia de 
vontade na modernidade. Essa crise será estudada mais adiante. 
50 COUTO E SILVA, A obrigação como processo, op. cit., p. 78. 
51MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé objetiva no direito privado: sistema e 
tópica no processo obrigacional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p. 
401. 
20 
 
 
 
 
5 Conceito de obrigação 
 
Ao contrário de outros ramos do direito civil, como, por 
exemplo, o direito de família, que são mais afeitos às mutações sociais, 
o direito das obrigações é um tanto refratário a mudanças radicais. Por 
esta razão, a definição jurídica de obrigação se manteve mais ou menos 
inalterada desde as Institutas de Justiniano: “Obligatio est juris 
vinculum, quo necessitate adstringimur alicujus solvendae rei, secudum 
nostrae civitatis jura”52 (Liv. III, § 13, pr.). 
A grande transformação que o direito das obrigações vai sofrer é 
no que diz respeito à garantia oferecida ao credor: no direito romano, o 
devedor respondia com o próprio corpo (ou com os seus restos mortais) 
pelo adimplemento da dívida53. Aos poucos, no entanto, essa prática 
foi abandonada, prevalecendo quase que exclusivamente a 
responsabilização patrimonial, e não pessoal, do devedor54. 
Desta feita, razão assiste, pois, à Washington de Barros 
Monteiro, que conceituou obrigação como “a relação jurídica, de 
caráter transitório, estabelecida entre devedor e credor, cujo objeto 
consiste numa prestação pessoal econômica, positiva ou negativa, 
devida pelo primeiro ao segundo, garantindo-lhe o adimplemento 
através do seu patrimônio”55. 
Essa relação jurídica une duas ou mais pessoas (daí porque é um 
direito pessoal), em que uma das partes (o devedor) deve agir no sentido 
 
52 “Obrigação é o vínculo jurídico pelo qual somos constrangidos a pagar alguma 
coisa a alguém, segundo o direito de nossa cidade” [tradução livre]. 
53 “O obligatius era aquele que, com sua própria pessoa, garantia o pagamento da 
dívida, podendo ser tanto o devedor como um fiador. A execução,no caso de 
inadimplemento, era pessoal, realizando-se pela manus injectio, em virtude da qual 
o credor podia vender o devedor como escravo, ou utilizar diretamente a sua força 
de trabalho”. WALD, Arnoldo. Obrigações e contratos. 17. ed. rev., ampl. e 
atual. com colaboração do Desembargador e Professor Semy Glanz. São Paulo: 
Saraiva, 2006, p. 6. 
54 Importa salientar que ainda existem resquícios dessa prática no direito moderno, 
em especial na execução de alimentos, conforme o art. 528, § 3º, do Código de 
Processo Civil. 
55 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil. São Paulo: 
Saraiva, 2007, p. 8. 
21 
 
 
 
de satisfazer o interesse da outra (o credor). A essa atividade exercida 
pelo devedor dá-se o nome de prestação. As formas que essa prestação 
pode assumir são bem diversas e ensejarão as diferentes classificações 
das obrigações. 
A obrigação terá um cunho pecuniário, na medida em que seu 
objeto sempre será um valor de natureza econômica. A prestação “deve 
ser suscetível de transformar-se num valor econômico que o sujeito 
ativo exige do sujeito passivo”56. Se a obrigação não contiver esse 
conteúdo econômico ela não será estudada pelo direito das obrigações, 
ainda que seja jurídica 57 . A propósito, no Direito de Família 
encontram-se diversas obrigações sem conteúdo patrimonial (como o 
dever de afeto)58. 
Outro aspecto que deve ser ressaltado no conceito é a 
transitoriedade. A obrigação nasce e se desenvolve em direção “à 
satisfação dos interesses do credor”59, ou seja, ao seu adimplemento. 
Uma vez cumprida, a obrigação, extingue-se e o vínculo desaparece. 
Não pode existir obrigação perpétua, até porque “isso corresponderia 
à ideia de servidão humana”60. Assim, “por mais longas que sejam as 
obrigações, um dia elas se extinguirão”61. 
 
6 Estrutura da relação obrigacional 
 
Do conceito exposto acima, percebe-se que a obrigação se 
estrutura pelo vínculo entre dois sujeitos, para que um deles satisfaça, 
em proveito do outro, determinada prestação. Daí porque a doutrina 
afirma que a obrigação pode ser decomposta em três elementos: um 
elemento subjetivo (os sujeitos), um elemento objetivo (a prestação) e 
 
56 WALD, Obrigações e contratos, op. cit., p. 5. 
57 Neste sentido, cf. VENOSA, Silvio Savio. Direito civil: teoria geral das 
obrigações. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004, p. 26. 
58 Existe, entretanto, uma corrente jurisprudencial que tem admitido a 
possibilidade de se buscar em juízo indenização em razão do abandono afetivo. 
59 COUTO E SILVA, A obrigação como processo, op. cit., p. 17. 
60 GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, Novo curso de direito civil, op. cit., p. 
49. 
61 VENOSA, Direito civil, op. cit., p. 26. 
22 
 
 
 
um elemento abstrato (o vínculo jurídico). Analisemos separadamente 
cada um desses elementos fundamentais. 
 
6.1 Elemento subjetivo: os sujeitos da relação obrigacional 
 
Toda relação obrigacional possui dois sujeitos: o credor (sujeito 
ativo) e o devedor (sujeito passivo). Melhor seria dizer que existem 
duas posições, uma vez que pode acontecer de, em uma mesma relação 
obrigacional, ter-se vários credores ou vários devedores. O credor é 
aquele a quem a obrigação beneficia, quem tem o direito de exigir o 
cumprimento da prestação. O devedor, por outro lado, é aquele que 
possui o dever de cumpri-la. 
Qualquer pessoa, natural ou jurídica, desde que possua 
capacidade (art. 104, I, do Código Civil) pode ocupar os polos da 
obrigação. É possível, inclusive, que os sujeitos possam ser entes 
despersonalizados, como os condomínios edilícios, a massa falida e a 
sociedade de fato. Não é necessário que os sujeitos sejam determinados 
no momento em que a obrigação se constitui, mas devem, ao menos, 
ser determináveis, ou seja, deve ser possível determina-lo até o 
adimplemento. 
São exemplos de obrigações com sujeitos ativos de termináveis 
a promessa de recompensa (art. 854 do Código Civil) e o título ao 
portador (no caso da lei brasileira, o cheque no valor de até R$ 100,00). 
A indeterminação do devedor é menos comum; um exemplo seria a 
obrigação propter rem62. 
Conforme leciona Tartuce, “na atualidade, dificilmente alguém 
assume a posição isolada de credor ou devedor em uma relação 
obrigacional” 63 (como ocorre no contrato de doação – art. 538 do 
Código Civil). O mais comum é as partes serem, ao mesmo tempo, 
credoras e devedoras entre si, sendo que a prestação de uma das partes 
é causa da prestação da outra. É o que se denomina sinalagma (é o caso 
do contrato de compra e venda – art. 481 do Código Civil). 
 
62 DANTAS, Francisco Celestino San Tiago. Programa de direito civil II: os 
contratos. Rev. do texto e anotações de José Gomes de Bezerra Câmara. 
Atualização de Laerson Mauro. Rio de Janeiro: Editora Rio, 1982. 
63 TARTUCE, Flávio. Direito das obrigações e responsabilidade civil. 10. ed. 
rev. atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2015, p. 7. 
23 
 
 
 
 
6.2 Elemento objetivo: a prestação 
 
A obrigação tem por finalidade a satisfação de um interesse do 
credor e é por meio da prestação que esse interesse é satisfeito. A 
prestação é a conduta, ou seja, “a ação ou omissão a que o devedor fica 
adstrito e o credor tem o direito de exigir”64. Deste modo, o objeto da 
obrigação será sempre a prestação. Por outro lado, a prestação 
também tem seu objeto, que pode ser descrito como o resultado da 
conduta. 
Assim, a prestação é o objeto imediato (próximo, direto) da 
obrigação. Todavia, existe também um objeto mediato (distante, 
indireto), que nada mais é do que o objeto material ou imaterial sob o 
qual incide a prestação. 
O primeiro, o objeto imediato, é a atividade devida; o segundo, 
o mediato, é a própria coisa. Por exemplo, na obrigação de pintar um 
quadro (obrigação de fazer), a prestação, ou objeto imediato, é o ato de 
pintar. O objeto imediato, por sua vez, nada mais é do que a própria 
tela, que consubstancia a ação realizada. 
 
 
 
A maior parte da doutrina se posiciona no sentido de que, ainda 
que o interesse na prestação seja apenas moral, ele deve ser suscetível 
de valorização econômica. Assim, temos que a valoração econômica 
pode ser direta, quando a prestação debitória tem valor econômico por 
si mesma, ou indireta, quando os interessados fixaram um equivalente 
pecuniário65. 
 
64 VARELA, Direito das obrigações, op. cit., p. 70. 
65 NORONHA, Direito das obrigações, op. cit., p. 62. 
24 
 
 
 
 Todavia, uma vertente mais moderna da doutrina não exige a 
patrimonialidade como requisito de validade da obrigação. Para esses 
autores, a necessidade de valoração econômica decorria do antigo 
Direito Romano que determinava que toda condenação por 
inadimplemento deveria consistir no pagamento de quantia em 
dinheiro. Modernamente, com a tutela específica, admite-se que basta 
que a prestação consista em um interesse digno de tutela jurídica66. 
Em consonância com os demais negócios jurídicos, a prestação 
deve ser lícita, possível e determinável (arts. 104, II, e 166, II, ambos do 
Código Civil). 
A licitude é a “conformidade do comportamento prometido com 
a lei, a ordem pública e os bons costumes”67 . Dessa forma, é ilícito 
contratar assassinos, compra e venda de entorpecentes ou elaborar 
contrato para a manutenção de relações sexuais68-69. 
 
66 NORONHA, Direito das obrigações, op. cit., p. 62. O exemplo geralmente 
citado é o do cidadão que doa imóvel ao Município, sob a condição de que naquele 
imóvel deve ser instalado um parque público com o nome do doador. Ora, quem 
exerce tal liberalidade não visa nenhum tipo de vantagempecuniária; mesmo 
assim, não se pode dizer que o caráter da obrigação esteja desnaturado. 
67 VARELA, Das obrigações em geral, op. cit, p. 804. 
68 Os Tribunais brasileiros têm reiterados julgados no sentido de declarar a 
nulidade de contratos de promessa de compra e venda de imóveis situados em 
loteamentos que não tenha sido aprovado pelos órgãos competentes. É que a Lei 
nº 6.766/1979 considera crime dar início, mesmo que apenas por meio de venda ou 
promessa de compra e venda, a loteamento ou desmembramento do solo para fins 
urbanos, sem autorização do órgão público competente (art. 50, I, e parágrafo 
único, I). Neste sentido, colhe-se a seguinte ementa, da lavra do Tribunal de 
Justiça de Santa Catarina: “DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL - 
OBRIGAÇÕES - CONTRATOS - COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA DE 
IMÓVEL - AÇÃO DE RESCISÃO CONTRATUAL - IMPROCEDÊNCIA NO 
JUÍZO A QUO – [...] LOTEAMENTO CLANDESTINO - AUSÊNCIA DE 
REGISTRO - OBJETO ILÍCITO - CONTRATO NULO - ART. 145, II, DO 
CÓDIGO CIVIL/1916 - RETORNO AO STATU QUO ANTE - PROCEDÊNCIA 
PARCIAL DO PEDIDO - APELO PROVIDO EM PARTE. [...]A venda de 
imóvel situado em loteamento clandestino, sem registro, enseja pedido de rescisão 
contratual pelo adquirente, pois caracteriza negócio jurídico nulo por ilicitude de 
objeto”. (TJSC, Apelação Cível n. 2006.019287-5, de Pomerode, rel. Des. Monteiro 
Rocha, j. 08-05-2008). 
69 Existem algumas decisões da Justiça do Trabalho que não reconhecem a 
existência de vínculo empregatício entre garotas de programa e casas de 
25 
 
 
 
A prestação também deverá ser física e juridicamente possível. 
A prestação é fisicamente impossível quando é irrealizável segundo as 
leis físicas ou naturais. É o caso do contrato em que uma das partes se 
compromete a pavimentar o solo da lua. 
A impossibilidade jurídica, por sua vez, confunde-se com a 
ilicitude, mas dessa difere, consoante lição de Orlando Gomes, por ser 
simplesmente não admitida em lei, enquanto que a segunda, além de 
não permitida, constitui ato punível70. Assim, será ilícita a prestação 
que consista na venda de um pacote de notas falsas, sendo impossível 
juridicamente a alienação do Fórum romano71. 
Por fim, o objeto deverá ser também determinado ou 
determinável. A obrigação determinada é aquela já especificada, certa, 
 
prostituição ante a ilicitude do objeto: “VÍNCULO EMPREGATÍCIO – 
INEXISTÊNCIA – ART. 82 DO CÓDIGO CIVIL – CASA DE PROSTITUIÇÃO 
– O art. 82 do Código Civil menciona que: ‘A validade do ato jurídico requer agente 
capaz, objeto lícito e forma prescrita ou não defesa em lei’. Em sendo a liceidade 
do objeto elemento essencial a validade da relação empregatícia, impossível o seu 
reconhecimento, quando ausente tal requisito. Se existe alguma alegação de 
hipocrisia, esta deve ser dirigida não a Justiça do Trabalho, mas sim ao legislador, 
que relaciona como figura penal típica (art. 229 do Código Penal) a manutenção de 
casa de prostituição, por conta própria ou de terceiro, não importando a finalidade 
lucrativa ou a mediação do proprietário ou de gerente. Ademais, a doutrina e a 
jurisprudência trilham sábio caminho ao reconhecer a impossibilidade de vínculo 
empregatício em casos que tais, eis que jamais poderá ser aceita a hipótese de 
prestação de trabalho subordinado em atividades de prostituição. O empregador, 
utilizando-se da mão-de-obra, seria sempre um rufião, auferindo lucros diretos pelo 
exercício do comércio carnal, o que criaria situações absolutamente insólitas, 
agravando em muito as condições já deprimentes às quais muitas mulheres se 
sujeitam, não raro por falta de opções no mercado de trabalho, nem se diga que 
deveria haver proteção somente para as "empregadas", eis que, para todo direito, 
há uma obrigação correspondente, não sendo possível imputar um dever 
simultaneamente legal e ilícito à parte adversa, ou seja, tal relação de trabalho 
estaria inexoravelmente validada pela Justiça Obreira. Deve o Ministério Público 
ser oficiado dos fatos narrados, eis que, caso contrário, estar-se-ia cometendo a 
omissão de comunicação de crime prevista na Lei de Contravenções Penais, art. 66, 
inc. I”. (TRT-9, RO 7.393, rel. Des. Lauremi Camaroski, j. em 10.06.1994) 
70 GOMES, Obrigações, op. cit., p. 43. 
71 Podemos citar ainda entre os objetos juridicamente impossíveis a negociação de 
herança de pessoa viva (art. 426 do Código Civil), de bem público (art. 100 do 
Código Civil) e daqueles gravados com cláusula de inalienabilidade. 
26 
 
 
 
individualizada: Mévio se obriga a transferir um automóvel, marca X, 
com número de chassi e de licença declinados. A determinável, por sua 
vez, será aquela em que a identificação é relegada para o momento do 
cumprimento, como é o caso das obrigações genéricas (art. 243 do 
Código Civil)72. 
 
6.3 Elemento abstrato: o vínculo jurídico 
 
Conforme foi dito anteriormente, a obrigação só pode ser 
devidamente compreendida se a considerarmos como uma relação 
pessoal – originada por um fato jurídico (fonte) – pela qual fica o 
devedor obrigado (vinculado) a cumprir uma prestação patrimonial de 
interesse do credor. O vínculo jurídico é, na lição de Azevedo, “o liame 
que liga os sujeitos, possibilitando ao credor exigir uma conduta do 
devedor”73. 
Tradicionalmente, esse vínculo era concebido de uma 
perspectiva estática e unitária. A obrigação é, sobretudo, um vínculo 
estritamente pessoal, consistindo no direito a uma ação humana; “um 
vínculo jurídico que constringe uma parte a fazer algo em favor de 
outra”74. Essa visão, no entanto, foi bastante criticada porque conferia 
um excesso de poder ao credor, caracterizando uma relação de 
subordinação75 , e também porque não diferenciava o cumprimento 
voluntário da execução forçada76. 
 
72 Cumpre salientar, conforme indica o próprio art. 243 do Código Civil, que nas 
obrigações genéricas devem estar indicados, ao menos, o gênero e a quantidade da 
coisa incerta, sendo que, no momento do cumprimento da obrigação, o credor ou o 
devedor deverá especificar a prestação, individualizando-a. 
73 AZEVEDO, Álvaro Villaça. Teoria geral das obrigações e responsabilidade 
civil. 8. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009, p. 109. 
74 MARTINS-COSTA, A boa-fé objetiva, op. cit., p. 385. Savigny aduz que a 
obrigação “consiste em uma dominação sobre uma pessoa; não, contudo, sobre 
uma pessoa por inteiro (o que implicaria na absorção da própria personalidade), 
mas sobre os atos isolados, considerado como uma restrição à sua liberdade e um 
assujeitamento à nossa vontade” (Le droit des obligactions. Trad. par C. 
Gérardin et P. Jozon. Paris: A. Durand, 1863, p. 16 [Tradução nossa]). 
75 VARELA, Direito das obrigações, op. cit., p. 95. 
76 SERPA LOPES, Curso de direito civil, op. cit., p. 11. 
27 
 
 
 
Com base no antigo direito germânico, Bekker e Brinz, 
começaram a decompor a obrigação em dois momentos distintos – a 
Schuld, ou débito, e a Haftung, responsabilidade77, ou ainda sujeição 
ou garantia. Quando constituída a obrigação, o devedor restaria 
induzido ao deve der efetuar determinada prestação. Esse dever, 
entretanto, por si só, não permitiria ao credor exigir, coativamente, a 
sua execução. Esta pertenceria ao campo da Haftung, pela qual a 
pessoa do devedor ou de terceiro ficam sujeitos à agressão patrimonial 
do credor, em caso de inadimplemento78. 
Conforme leciona Gierke, “Schuld, em um sentido muito mais 
estrito e técnico, é a dívida autônoma, quer dizer, uma relação 
existente em si mesma e que tem por conteúdo um dever legal”79. A 
responsabilidade (Haftung) consiste, por sua vez, na “submissão ao 
poder de intervenção daquele a quem não se presta o que deve ser 
prestado” 80 . A teoria dualista tem, portanto, o mérito de “deixar 
marcado quea intervenção do credor não se dirigia à pessoa do 
devedor, mas contra uma coisa – o objeto da responsabilidade”81. 
Esses dois elementos (Schuld e Haftung) vêm, como regra, 
sempre juntos na relação obrigacional. Desta forma, pode-se afirmar 
que, na maioria das vezes, “quem deve, também responde” (“Wer 
schuldet, haftet auch”). Para comprovar, temos os casos de exceção à 
regra geral, em situações em que ora falta um, ora falta outro 
 
77 Apesar de no português falado ser comum ouvir “o Schuld” e “o Haftung”, 
convém considerar que, em alemão, ambas as palavras são femininas. Aliás, a 
etimologia das palavras é interessante. Haft, em alemão, significa “prisão”; Haften 
pode ser traduzido como “estar preso”. Schuld, por sua vez, traduz-se tanto como 
dívida, débito, quanto como culpa, o que garante um interessante comentário de 
Nietzsche na Genealogia da moral, em que associa o nascimento de uma consciência 
de dever moral do direito contratual primitivo. 
78 MARTINS-COSTA, Judith. Comentários ao novo Código Civil, volume I: 
do direito das obrigações, do adimplemento e da extinção das obrigações. 
Rio de Janeiro: Forense, 2005, p. 23. 
79Apud MARTINS-COSTA, Comentários ao novo Código Civil, op. cit., p. 21. 
80 MARTINS-COSTA, Comentários ao novo Código Civil, op. cit., p. 22. 
81 MARTINS-COSTA, Comentários ao novo Código Civil, op. cit., p. 23. Tal 
teoria foi expressamente adotada pelo art. 113 do Código Tributário Nacional, mas 
não foi aprofundada pela doutrina brasileira no campo do direito privado. 
28 
 
 
 
elemento82. Assim, nas obrigações naturais83 existe o débito, mas não 
há responsabilidade. Nos contratos de fiança, ao contrário, existe a 
responsabilidade, mas não o débito84. 
Ora, ainda que, inegavelmente, tal teoria trazia um acréscimo 
considerável à teoria geral das obrigações, é também verdade que ela 
ainda concebe credor e devedor “em oposição, estando no seu núcleo o 
binômio poder/dever: todo o poder [...] com o credor, todo o dever com 
o devedor”85. 
 
6.3.1 Obrigações naturais 
 
Conforme dito anteriormente, a relação obrigacional se assenta 
em um vínculo provido de sanção, denominada de responsabilidade 
(Haftung). Se a obrigação não for cumprida conforme estipulado, a 
responsabilidade permite que o credor se valha do patrimônio do 
devedor para sua satisfação. Se ela for adimplida espontaneamente, a 
responsabilidade “funciona apenas espiritualmente, como pressão 
psíquica sobre o devedor”86. 
As obrigações dotadas desses dois elementos constitutivos são 
denominadas perfeitas ou civis. No entanto, cabe indagar, com Caio 
Mário da Silva Pereira: “quid iuris se faltar este poder de garantia? Que 
acontecerá se houver duplo sujeito, se houver objeto, mas faltar a 
responsabilidade do devedor?”87 Para responder essa questão, criou-se 
uma categoria especial de obrigação denominada de obrigações 
naturais ou, mais modernamente, obrigações imperfeitas. 
No Direito Romano, a obligatio naturalis era aquela fundada no 
jus gentium e não reprovada pelo jus civile88. Distinguia-se da obligatio 
civilis principalmente porque era de destituída de actio, de modo que 
ao credor não assistia meios jurídicos de compelir o devedor ao 
 
82 VENOSA, Direito civil, op. cit., p. 43. 
83 Que serão estudadas a seguir. 
84 O contrato de fiança, quando decorrente de locação, admite, inclusive, a penhora 
do bem de família, conforme previsão do art. 3°, VII, da Lei 8.009/1990. 
85 MARTINS-COSTA, A boa-fé objetiva, op. cit., p. 388. 
86 VENOSA, Direito civil, op. cit., p. 47. 
87PEREIRA, Instituições de direito civil, op. cit., p. 28. 
88 MONTEIRO, Curso de direito civil, op. cit., p. 206. 
29 
 
 
 
cumprimento da prestação. Todavia, facultava-lhe uma exceptio pela 
qual repelia qualquer pretensão de devolução do pagamento feito 
espontaneamente pelo devedor89. 
A obrigação natural dava origem, portanto, à solutio retenti, que 
assegurava a conservação da coisa recebida, como se se tratasse de 
prestação normal de uma obrigação civil. Desta forma, as obrigações 
naturais não eram simples deveres morais, mas sim um vínculo para o 
qual o direito não concede sanção para obrigar o pagamento. “Era o 
chamado vinculum aequitas e não num vínculo de Direito”90; o “meio 
do caminho entre a moral e o direito”91. É mais do que um dever moral 
e menos do que uma obrigação civil. 
O Direito Moderno guardou da obligatio naturalis romana apenas 
ao fato de que ambas não possuem ação, ainda que por motivos 
diversos92. Hodiernamente, a obrigação natural, ou imperfeita, como 
preferem os civilistas germânicos93, reduz seus efeitos à solutio retentio, 
não mantendo as causas que lhe popularizaram no direito pretoriano94. 
 
89 PEREIRA, Instituições de direito civil, op. cit., p. 29; GOMES, Obrigações, 
op. cit., p. 81. 
90 VENOSA, Direito civil, op. cit., p. 49. 
91 PEREIRA, Instituições de direito civil, op. cit., p. 28. 
92 Uma importante distinção consiste no fato de que no Direito Romano a 
obrigação natural podia ser compensada, novada ou afiançada (cf. MONTEIRO, 
Curso de direito civil, op. cit., p. 208), o que não ocorre no Direito Moderno 
(GOMES, Obrigações, op. cit., p. 82). 
93 É a expressão utilizada também por Clóvis do Couto e Silva (A obrigação como 
processo, op. cit., p. 87). 
94 Washington de Barros Monteiro (Curso de direito civil, op. cit., p. 207) aduz: 
“Dez casos de obrigações naturais eram conhecidos e apontados no direito romano, 
dos quais, segundo CALOGERO GANGI, sete certos e três duvidosos. 
Enumeram-se os primeiros da seguinte forma: 1) as obrigações dos escravos (entre 
si, com o patrão ou com estranho). O estado de escravidão subtraia-lhes a 
capacidade jurídica; 2) as obrigações entre pessoas vinculadas pela relação de 
pátrio poder (entre o pater e filius, ou entre dois filii sujeitos à mesma potesta); 3) 
as obrigações daqueles que sofreram capitis deminutio (como as que resultavam da 
adoção e da ad-rogação); 4) as obrigações assumidas pelo tutelado sem audiência 
do tutor; 5) o mútuo contraído pelo filius familiae, em contrário às prescrições do 
senatus consulto macedoniano, introduzindo in odium creditoris; 6) as obrigações 
extintas pela aplicação ao credor do jus iniquum, impetrado pelo devedor; 7) as 
obrigações extintas pela litis contestatio. 
30 
 
 
 
Por isso, reduziu-se a sua importância e sua ocorrência não é das mais 
frequente. 
Segundo Maria Helena Diniz, a obrigação natural é “aquela em 
que o credor não pode exigir odo devedor uma certa prestação, embora, 
em caso de seu adimplemento espontâneo ou voluntário, possa retê-la 
a título de pagamento e não de liberalidade”95. Difere do dever de 
consciência (dar esmola, por exemplo) pelo seu fundamento; enquanto 
este se assenta num impulso de solidariedade humana, a obrigação 
natural pressupõe a existência de um débito anterior inexigível96. 
Podem ser apontados dois efeitos das obrigações naturais. O 
primeiro efeito, negativo, consiste na ausência do direito de ação do 
credor para exigir seu adimplemento; falta-lhe “a característica mais 
eficaz do vínculo, [...] isto é, a ação direta destinada a obter-lhe a 
execução”97 . O segundo efeito, positivo, é a denegação da repetitio 
indebiti ao devedor que a realizou, tornando válido e irretratável o seu 
pagamento98. 
Mesmo o erro quanto à incoercibilidade da dívida não importa em 
repetição, sendo irrelevante o fato do devedor ter realizado a prestação 
na convicção de que podia ser compelido a pagar. Mas o pagamento 
deve ser realizado por agente capaz, sem que seja realizado nenhum 
tipo de coação ou vício quanto ao consentimento que importe em uma 
falsa percepção da realidade, casosem que a repetição será cabível. 
A execução parcial da obrigação natural não autoriza o credor a 
reclamar o pagamento do restante. Obrigação natural não se 
transforma em civil pelo fato de ter havido pagamento parcelado ou 
amortização parcial. O cumprimento parcelado implica apenas 
reconhecimento também parcial da obrigação99. Consequentemente, o 
 
Os duvidosos, por sua vez, eram estes: 1) a obrigação extinta por sentença injusta 
ou exarada à mingua de prova; 2) a obrigação extinta pela prescrição liberatória; 
3) finalmente, a obrigação que emergia de um nudus pactu”. 
95 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro – Teoria geral das 
obrigações. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 56. 
96 PEREIRA, Instituições de direito civil, op. cit., p. 21. 
97 MONTEIRO, Curso de direito civil, op. cit., p. 212. 
98 DINIZ, Curso de direito civil brasileiro, op. cit., p. 57, 
99 MONTEIRO, Curso de direito civil, op. cit., p. 214. 
31 
 
 
 
resíduo não pode ser exigido pelo credor e o montante pago não permite 
repetição. 
A lei não minudencia os casos em que nos deparamos com 
obrigações naturais, estando os mesmos esparsos na legislação. O 
Código Civil refere-se a elas em dois dispositivos: o art. 882, pelo qual 
não se pode repetir o que se pagou para solver dívida prescrita ou 
cumprir obrigação judicialmente inexigível; e art. 564, III, segundo o 
qual não se revogam por ingratidão as doações que forem feitas em 
cumprimento de obrigação natural. 
Os casos de obrigações naturais típicas no diploma civil 
brasileiro são, portanto, dois: a) as dívidas prescritas (art. 882) e b) a 
dívida de jogo (art. 814). 
As dívidas prescritas são o caso mais eloquente. Em sua origem, 
são obrigações civis que, por força do fenômeno legal da prescrição, são 
inexigíveis judicialmente pelo credor; tornam-se, pois, obrigações 
naturais 100 . Evitando qualquer dúvida, o legislador manifesta 
expressamente o seu entendimento no referido art. 882, no qual opera 
uma equiparação entre dívida prescrita e obrigação natural: “Não se 
pode repetir o que se pagou para solver dívida prescrita, ou cumprir 
obrigação judicialmente inexigível”101. 
 
100 Neste sentido, colhe-se da jurisprudência: PROCESSUAL CIVIL APELAÇÃO 
CÍVEL - AÇÃO DE COBRANÇA DE SEGURO OBRIGATÓRIO - DPVAT - 
SINISTRO OCORRIDO EM 21/01/1988 - AÇÃO AJUIZADA EM 18/04/2009 - 
PRAZO VINTENÁRIO - ART 2028 CÓDIGO CIVIL/02 C/C ART 177 CÓDIGO 
CIVIL/16 - PRESCRIÇÃO CONFIGURADA - PAGAMENTO DA 
SEGURADORA - OBRIGAÇÃO NATURAL - INEXIGIBILIDADE - 
RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. 
- Aplicação do prazo prescricional de vinte anos, conforme Código Civil de 1916, 
regra de transição do art. 2028 CÓDIGO CIVIL/02. 
- Dívida prescrita é considerada obrigação natural, portanto é inexigível, 
considerando mera benevolência da seguradora seu pagamento. 
- Apelo conhecido e desprovido. (TJ-AM; APL 20110036731 AM 2011.003673-1, 
rel. Des. Aristóteles Lima Thury, j. em 12.03.2012) 
101 A exceção é a dívida tributária prescrita, que permite repetição, consoante 
entendimento pacificado do STJ: CIVIL E TRIBUTÁRIO. PARCELAMENTO 
DE CRÉDITO TRIBUTÁRIO PRESCRITO. IMPOSSIBILIDADE. CRÉDITO 
EXTINTO NA FORMA DO ART. 156, V, DO CTN. PRECEDENTES. 
1. Consoante decidido por esta Turma, ao julgar o REsp 1.210.340/RS (Rel. Min. 
Mauro Campbell Marques, DJe de 10.11.2010), a prescrição civil pode ser 
32 
 
 
 
O outro caso previsto no Código Civil é a dívida de jogo. O art. 
814 determina que “as dívidas de jogo ou de aposta não obrigam a 
pagamento; mas não se pode recobrar a quantia, que voluntariamente se 
pagou, salvo se foi ganha por dolo, ou se o perdedor é menor ou 
interdito”. Assim, a dívida resultante da perda do jogo, seja ele lícito 
ou ilícito, constitui obrigação natural, de modo que o credor não dispõe 
de ação para exigir seu pagamento. 
 
renunciada, após sua consumação, visto que ela apenas extingue a pretensão para 
o exercício do direito de ação, nos termos dos arts. 189 e 191 do Código Civil de 
2002, diferentemente do que ocorre na prescrição tributária, a qual, em razão do 
comando normativo do art. 156, V, do CTN, extingue o próprio crédito tributário, 
e não apenas a pretensão para a busca de tutela jurisdicional. Em que pese o fato 
de que a confissão espontânea de dívida seguida do pedido de parcelamento 
representar um ato inequívoco de reconhecimento do débito, interrompendo, 
assim, o curso da prescrição tributária, nos termos do art. 174, IV, do CTN, tal 
interrupção somente ocorrerá se o lapso prescricional estiver em curso por ocasião 
do reconhecimento da dívida, não havendo que se falar em renascimento da 
obrigação já extinta ex lege pelo comando do art. 156, V, do CTN. Precedentes 
citados. 
2. Recurso especial não provido”. (REsp 1335609/SE, Rel. Ministro MAURO 
CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 16/08/2012, DJe 
22/08/2012) 
PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC. 
NÃO OCORRÊNCIA. PARCELAMENTO DE CRÉDITO TRIBUTÁRIO 
PRESCRITO. IMPOSSIBILIDADE. CRÉDITO EXTINTO NA FORMA DO 
ART. 156, V, DO CTN. PRECEDENTES. 
[…] 2. A prescrição civil pode ser renunciada, após sua consumação, visto que ela 
apenas extingue a pretensão para o exercício do direito de ação, nos termos dos 
arts. 189 e 191 do Código Civil de 2002, diferentemente do que ocorre na prescrição 
tributária, a qual, em razão do comando normativo do art. 156, V, do CTN, 
extingue o próprio crédito tributário, e não apenas a pretensão para a busca de 
tutela jurisdicional. 
3. Em que pese o fato de que a confissão espontânea de dívida seguida do pedido 
de parcelamento representar um ato inequívoco de reconhecimento do débito, 
interrompendo, assim, o curso da prescrição tributária, nos termos do art. 174, IV, 
do CTN, tal interrupção somente ocorrerá se o lapso prescricional estiver em curso 
por ocasião do reconhecimento da dívida, não havendo que se falar em 
renascimento da obrigação já extinta ex lege pelo comando do art. 156, V, do CTN. 
4. Recurso especial não provido. (REsp 1210340/RS, Rel. Ministro MAURO 
CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 26/10/2010, DJe 
10/11/2010) 
33 
 
 
 
É certo que o devedor não pode ser obrigado ao pagamento, mas 
se ele voluntariamente pagou, não dispõe de meios para resgatar o que 
foi pago (art. 883 do Código Civil), exceto se não tiver existido livre 
consentimento do perdedor 102 . Existem, entretanto, jogos 
regulamentados por lei, como, por exemplo, o turfe e as loterias. Esses 
jogos, por serem autorizados no ordenamento jurídico, geram 
obrigações civis, permitindo a cobrança judicial da recompensa (art. 
814, §2°, segunda parte, do Código Civil). 
 
8 Princípios do direito obrigacional 
 
8.1 A autonomia da vontade 
 
O Direito Privado repousa sob o credo da autonomia da 
vontade. Trata-se de um instituto cuja origem não remonta o Direito 
Romano clássico, mas antes ao Iluminismo, em especial na filosofia de 
Immanuel Kant103. A crença no individualismo deu amplo “relevo a 
autonomia dos particulares, sendo-lhes deferida quase totalmente a 
 
102 Os Tribunais pátrios rejeitam a liquidação de cheque (ordem de pagamento à 
vista) que tenha como objeto o pagamento de dívida de jogo. Neste sentido, é o 
posicionamento do TJSC: APELAÇÃO CÍVEL. MONITÓRIA. EMBARGOS. 
CHEQUE PRESCRITO. DÍVIDA DE JOGO. COBRANÇA. DESCABIMENTO. 
EXEGESE DO ART. 1477, CÓDIGO CIVIL/1916. JOGO DO BINGO. 
MATÉRIA AFETA À COMPETÊNCIA PRIVATIVA DA UNIÃO. 1. "Para o 
Código Civil é irrelevante ser a dívida oriunda de jogo lícito ou ilícito. Em qualquer 
um dos casos não há obrigatoriedade de pagamento. Visou o legislador, com isso,

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