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MODULO 1 - Introdução 1. Em que consistem a saúde e a segurança no trabalho? A saúde e a segurança no trabalho consistem numa disciplina de âmbito alargado, que envolve muitas áreas de especialização. Num sentido mais abrangente, deverá ter os seguintes objetivos: ♦ A promoção e a manutenção dos mais elevados níveis de bem-estar físico, mental e social dos trabalhadores de todos os sectores de atividade.; ♦ A prevenção para os trabalhadores de efeitos adversos para a saúde decorrentes das suas condições de trabalho; ♦ A proteção dos trabalhadores no seu emprego perante os riscos resultantes de condições prejudiciais à saúde; ♦ A colocação e a manutenção de trabalhadores num ambiente de trabalho ajustado às suas necessidades físicas e mentais; ♦ A adaptação do trabalho ao homem. Por outras palavras, a saúde e a segurança no trabalho englobam o bem-estar social, mental e físico dos trabalhadores, ou seja, da “pessoa no seu todo”. Para serem bem sucedidas, as medidas de saúde e de segurança no trabalho, exigem a colaboração e a participação tanto de empregadores como dos trabalhadores nos programas de saúde e segurança, obrigando a equacionar questões relacionadas com a medicina do trabalho, a higiene no trabalho, a toxicologia, a educação, a formação, a engenharia de segurança, a ergonomia, a psicologia, etc. As questões relacionadas com a saúde no trabalho têm sido objeto de menor atenção do que as questões relacionadas com a segurança no trabalho, porque as primeiras são geralmente mais difíceis quer na sua identificação,, na dificuldade da elaboração do seu diagnóstico, e no estabelecimento da relação de causa a efeito . No entanto, quando abordamos o tema da saúde, abordamos igualmente o da segurança, pois um ambiente saudável é, por definição, também um local de trabalho seguro. No entanto, o inverso pode não ser verdade – um local de trabalho considerado seguro não é necessariamente um local de trabalho saudável. O importante é frisar que as questões da saúde e da segurança devem ser identificadas em todos os locais de trabalho. De modo geral, a definição de saúde e de segurança no trabalho engloba quer a saúde quer a segurança, nos seus contextos mais alargados. 2. Condições de trabalho deficientes afetam a saúde e a segurança do trabalhador Qualquer tipo de condição de trabalho deficiente tem como consequência o poder afetar a saúde e a segurança de um trabalhador. As condições de trabalho perigosas ou prejudiciais à saúde não se limitam às fábricas – podem ser encontradas em qualquer local, quer o local de trabalho se situe no interior ou no exterior. Para muitos trabalhadores, como os trabalhadores agrícolas ou mineiros, o local de trabalho situa-se no “exterior”, podendo representar diversos perigos para a saúde e segurança. As condições deficientes podem igualmente afetar o ambiente onde os trabalhadores vivem, uma vez que os ambientes de trabalho e de vida são muitas vezes o mesmo para diversos trabalhadores. Tal significa que os perigos consequência de condições de trabalho não seguras e saudáveis, podem ter consequências graves para os trabalhadores, para as suas famílias e para outras pessoas da comunidade, bem como para o ambiente físico que envolve o local de trabalho. Um exemplo clássico consiste na utilização de pesticidas no trabalho agrícola. Os trabalhadores podem ser expostos a produtos químicos tóxicos através das diversas formas incorretas de aplicação dos pesticidas:, podem inalar os produtos químicos durante e após a sua aplicação, esses produtos podem ser absorvidos através da pele, e os trabalhadores podem inclusivamente ingeri-los, caso comam, bebam ou fumem, sem lavar previamente as mãos, ou caso ingiram água contaminada . As famílias dos trabalhadores podem, também, ser expostas por diversas formas: inalar os pesticidas que se mantenham no ar, podem ingerir água contaminada, ou ser expostas a resíduos existentes no vestuário do trabalhador. Para além dos trabalhadores e das suas famílias os que residem na comunidade poderão ser igualmente expostos pela mesma via . Quando os produtos químicos são absorvidos pelo solo ou filtrados para os lençóis de água subterrâneos, os efeitos nocivos provocados no ambiente natural podem tornar-se permanentes. Generalizando: os esforços na saúde e segurança no trabalho devem ter como objetivo prevenir os acidentes e as doenças profissionais e, ao mesmo tempo, reconhecer a ligação entre a saúde e a segurança do trabalhador, o local de trabalho, e o seu ambiente exterior. 3. Por que razão a saúde e a segurança no trabalho são importantes? O trabalho desempenha um papel fulcral nas vidas das pessoas, considerando que a maioria dos trabalhadores passa pelo menos oito horas por dia no local de trabalho, quer seja numa plantação, num escritório, numa fábrica, etc. Desta forma, os ambientes laborais devem ser seguros e saudáveis. Mas na verdade, não é essa a situação para muitos trabalhadores. Todos os dias, trabalhadores de todo o mundo expostos a múltiplos riscos para a saúde, tais como: poeiras; gases; ruído; vibrações; temperaturas extremas. Infelizmente, alguns empregadores assumem poucas responsabilidades relativamente à proteção da saúde e da segurança dos seus trabalhadores. De facto, os empregadores, em algumas situações nem sequer têm conhecimento de que têm responsabilidades, muitas vezes, legal, de proteger os trabalhadores. Como resultado dos perigos e da falta dessa responsabilização com a saúde e segurança dos trabalhadores,( que deverá ser entendida como uma prioridade), os acidentes e as doenças profissionais são frequentes em todo o mundo. 4. Custos dos acidentes/doenças ocupacionais Os acidentes ou as doenças profissionais acarretam custos muito elevados, podendo provocar múltiplos efeitos graves, diretos ou indiretos, nas vidas dos trabalhadores e das suas famílias. Para os trabalhadores, alguns dos custos diretos de um acidente ou de uma doença, são: a dor e o sofrimento provocado pelo acidente ou doença; a perda de rendimentos; a possível perda de um emprego; os custos com os cuidados de saúde. Foram feitas estimativas no sentido de calcular os custos indiretos de um acidente ou de uma doença, concluindo-se que podem ser quatro a dez vezes superiores em relação aos custos diretos, ou até mais. Uma doença ou um acidente de trabalho podem representar grandes custos indiretos aos trabalhadores, que são muitas vezes difíceis de quantificar. Um dos custos indiretos mais óbvios consiste no sofrimento humano provocado ao próprio, às famílias dos trabalhadores, que não pode ser compensado com dinheiro. Os custos relacionados com doenças ou acidentes de trabalho para os empregadores estimam-se igualmente como sendo avultados. Para uma pequena empresa, o custo de um acidente poderá constituir um desastre financeiro. Para os empregadores, alguns dos custos diretos são: Remunerações de trabalho não realizado; Despesas médicas e indemnizações; Reparação ou substituição de máquinas ou de equipamento danificado; Redução ou paragem temporária de produção; Acréscimo de despesas de formação e de custos administrativos; Possível redução na qualidade de trabalho; Efeitos negativos na motivação dos outros trabalhadores. Para os empregadores, alguns dos custos indiretos são: A necessidade de substituição do trabalhador acidentado/doente; A formação e o tempo de adaptação necessária para um novo trabalhador; O período de tempo até que um novo trabalhadortenha o mesmo nível de produção do trabalhador anterior; O tempo dedicado às investigações necessárias, à execução de relatórios e ao preenchimento de formulários; O facto de os acidentes afetarem muitas vezes os colegas de trabalho, preocupando-os, influenciando negativamente as relações de trabalho; O possível enfraquecimento e deterioração das relações com os fornecedores, clientes e entidades públicas face às deficientes condições de saúde e segurança no local de trabalho. A nível geral, os custos da maioria dos acidentes ou das doenças profissionais para os trabalhadores, para as suas famílias e empregadores, são extremamente elevados. Numa escala nacional, os custos aproximados dos acidentes e das doenças profissionais podem ser tão elevados como três a quatro por cento do produto interno bruto de um país. Na realidade, ninguém sabe realmente quais os custos totais dos acidentes ou das doenças profissionais, porque estes representam uma multiplicidade de custos indiretos, que são muitas vezes difíceis de quantificar, para além dos custos diretos mais evidentes e quantificáveis. 5. Programas de saúde e de segurança Por todos os motivos acima referidos, é vital que os empregadores, os trabalhadores e os sindicatos ponham um forte investimento e envolvimento nas questões de saúde e na segurança, e que: Os riscos no local de trabalho sejam controlados – sempre que possível, na origem; Sejam mantidos todos os registos de qualquer exposição, durante muitos anos; Os trabalhadores e os empregadores estejam informados sobre os riscos de saúde e de segurança no local de trabalho; Exista uma comissão para a saúde e segurança, ativo e eficaz, que inclua os trabalhadores e os órgãos de gestão; Os esforços para a melhoria da saúde e a segurança do trabalhador sejam contínuos. Programas eficazes de saúde e segurança no local de trabalho podem ajudar a salvar as vidas dos trabalhadores, através da eliminação ou redução dos riscos e das suas consequências. Os programas de saúde e segurança têm igualmente efeitos positivos, quer no estado de espírito, quer na produtividade do trabalhador, constituindo benefícios importantes. Ao mesmo tempo, um programa eficaz poderá poupar imenso dinheiro aos empregadores. 6. Segurança do Trabalho no Brasil O Brasil, na década de 70, em função do grande número de acidentes estabeleceu um modelo de segurança e saúde no trabalho que, apesar de várias adaptações, ainda está em vogo até os dias atuais. Dentre suas características está o uso de todo um arcabouço legal e regulamentar que, a partir de 1978, passou a ser representado principalmente pelo Capítulo V da CLT e pelas Normas Regulamentadoras – NR’s. O modelo baseia-se, também, na utilização de profissionais especializados em segurança e saúde, tanto de nível médio como de nível superior. Esses profissionais seriam o instrumento de adequação dos ambientes laborais às necessidades do ser humano, através de técnicas de engenharia de segurança, higiene e medicina do trabalho, sustentadas pela legislação vigente e por uma estrutura de fiscalização de cumprimento das normas. Esses profissionais podem formar serviços especializados em segurança e saúde nas empresas, assim como serem contratados para prestar serviços de assessoria. 7. As estatísticas oficiais de acidentes de trabalho como indicativo do grave quadro social A partir de 1970, a Previdência Social publica as estatísticas de acidentes de trabalho no Brasil, que servem de fonte para avaliação das condições de trabalho no País, ainda que a subnotificação coloque em dúvida a completa autenticidade dos números. A tabela 1 apresenta as estatísticas oficiais dos acidentes de trabalho e doenças profissionais de 1970 ao ano 2011. A divulgação da estatística indicou um quadro de acidentes de trabalho preocupante, tendo em vista que, por exemplo, em 1970, ocorreram 1.220.111 acidentes para uma força produtiva de 7.284.022, o que significa uma relação percentual de 16,7%. E esta percentagem permaneceu absurdamente alta nos primeiros anos de divulgação das estatísticas, variando de 14,7 a 18,5%, entre 1970 e 1975. A partir de 1976, o Governo Federal publicou a Lei 6.367, que determinou que os 15 primeiros dias após o acidente fossem pagos pelo empregador. Além disso, eliminou o pagamento de pecúlio por pequenas perdas, sem repercussão sobre a atividade profissional. Segundo Rocha e Nunes (In: Rocha,1993), essa lei teve motivação econômica, já que a maior parte dos acidentes era com poucos dias de afastamento e cerca de 80% dos pecúlios pagos eram de acidentes de pequena repercussão. A consequência disto foi uma subnotificação ainda maior, resultando em relações percentuais entre número de acidentes e força de trabalho cada vez menores. De 1976 a 1981, as relações percentuais variaram progressivamente de 11,7% a 6,6%. Aquino (1996), analisando os dados oficiais da Previdência Social revela que ao comparar-se a evolução das estatísticas entre 1981 e 1994, conclui-se que a relação entre número de acidentes por número de trabalhadores reduziu 75%, enquanto que a relação entre número de mortes e número de trabalhadores cresceu aproximadamente 1.500%. O fato de não se ter no número de óbitos a mesma redução gradativa observada no número de acidentes, talvez seja a prova definitiva de que houve um mascaramento das estatísticas. Estudos de Heinrich, Bird e Fletcher (apud De Cicco, Fantazzini, 1993:3-10) mostram uma relação entre número de acidentes leves, graves e mortes, que não correspondem às relações percentuais indicadas nas estatísticas da Previdência Social. Outro indício da subnotificação do acidente do trabalho é no comparativo com as estatísticas de outros Países, conforme mostra a tabela 2. A primeira incoerência do comparativo dos dados da tabela é quanto ao número de 359,2 acidentes por 100.000 trabalhadores. Reportando-se ao Anexo I, ao dividir-se o número de acidentes pelo número de trabalhadores para o ano de 2000, obter-se-ia a relação de 1.311,5 acid./100000 trab. A distorção ocorreu porque o Brasil informou à OIT um total de 348.178 acidentes e 90.786.000 trabalhadores, o que inclui os segurados da Previdência Social e os que atuam na informalidade (mais de 60% da População Economicamente Ativa). Se para o trabalhador que possui relação formal de trabalho já é difícil garantir a emissão das CAT’s, nos acidentes de trabalho, pode-se dizer que para o trabalho informal isto não faz parte da realidade. Mesmo que o Brasil comunicasse à OIT os números de acidentes e de trabalhadores que indicam a relação de 1.311,5 acid./100.000 trab., ainda haveria incoerência se comparado às relações de 2.087,6 para a Itália, 2.725,8 para a Alemanha e 2.087,6 para a Espanha. Partindo-se do princípio que estes Países têm estruturas governamentais e sindicais muito mais eficazes, o descrédito pelos números apresentados pelo Brasil fica evidente. Ainda quanto à informalidade no trabalho, Waldvogel (In: Carvalho Neto, 2001) estudou 3.646 casos de acidentes fatais no Estado de São Paulo, no período entre 1997 e 1999. Do total de mortes, 1647 casos, ou seja, 45,2% do total referiu-se a trabalhadores não contribuintes do INSS, funcionários públicos, trabalhadores contribuintes sem dependentes aptos a requerer os benefícios ou com dependentes aptos, mas residentes em outro estado brasileiro. Fazendo-se uma extrapolação para todos os tipos de acidentes, poder-se-ia duplicar os casos indicados pelas estatísticas oficiais da Previdência Social.Em outro estudo, Mendes (apud Lucca e Fávero, 1994), levando em conta a grande massa trabalhadora da informalidade, estimou para o ano de 1996, o número total de 3 milhões de acidentes. Outra questão importante na subnotificação dos acidentes de trabalho é a estabilidade no emprego. Lucca e Fávero (1994:12) alertam que “para evitar a estabilidade no emprego, algumas empresas tem evitado a abertura da Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT). Assim procedendo, a empresa prejudica o trabalhador e contribui para o sub-registro oficial dos acidentes de trabalho”. 8. O contexto histórico da segurança e saúde no trabalho A Evolução Histórica da SST Na história da segurança do trabalho são encontrados indicativos muito antigos da preocupação quanto a preservação da vida dos trabalhadores. Hipócrates (460-357 AC) e Plínio, o Velho (23-79 DC), indicaram nos seus trabalhos a ocorrência de doenças pulmonares em mineiros. No ano de 1556, Georg Bauer publicou o livro “Re De Metallica”, onde estuda as doenças e acidentes de trabalho relacionados à mineração e fundição de ouro e prata. O autor discute em especial a inalação de poeiras, causadora da “asma dos mineiros” que, pelos sintomas descritos, deve tratar-se de silicose. Em 1567, Aureolus Theophrastur Bembastur von Hohenheim apresentou primeira monografia relacionando trabalho com doença. (Nogueira In: FUNDACENTRO, 1981:9). Em 1700, na Itália, o médico Bernardino Ramazzini, considerado o “Pai da Medicina do Trabalho”, publicou o livro “De Morbis Artificium Diatriba”. A obra descreve com bastante profundidade as doenças relacionadas à cerca de cinquenta profissões, tais como mineiros, químicos, oleiros, ferreiros, cloaqueiros, salineiros, joalheiros, pedreiros, entre outros. A Revolução Industrial significou a mudança vertiginosa na história da humanidade, onde os meios de produção, até então dispersos e baseados na cooperação individual, passaram a concentrar-se em grandes fábricas, ocasionando profundas transformações sociais e econômicas. A revolução industrial se deu em diferentes épocas nos diversos países civilizados. Na Inglaterra, que foi o país pioneiro, a revolução industrial surgiu com toda a intensidade no século XVIII; na Alemanha e USA, começou por volta do ano de 1820 e na Rússia, por volta de 1890. Em 1770, o operário inglês Hargreaves, inventou a primeira máquina de fiar, em que uma pessoa efetuava o trabalho de oito, movendo uma manivela de oito fusos. Em 1785, Edmund Cartwright inventou um tear movimentado por uma lançadeira automática. Este tear, movido por propulsão hidráulica, fazia com que cada operário realizasse o trabalho de duzentos homens, possibilitando inclusive converter fio em pano. As máquinas a vapor foram utilizadas inicialmente na indústria inglesa de tecidos de algodão, quando James Watt, em 1769, patenteou a primeira máquina a vapor com boa aplicação prática. A substituição da propulsão hidráulica pela máquina a vapor mudou profundamente o quadro industrial, pois não houve mais a necessidade da instalação das fábricas próximos aos cursos d’água, podendo instalar-se nas grandes cidades, onde a mão de obra estava disponível em abundância. Antes do advento das máquinas de tecelagem, os artesãos eram os donos de seus próprios negócios, com uma produção apenas o suficiente para atender suas necessidades. Como os artesões não tinham condições de adquirir as novas máquinas, tampouco de competir com elas em condições de igualdade, o meio de produção artesanal foi substituído pelo meio industrial ficando o artesão como massa de mão-de-obra disponível para trabalhar nas fábricas. A necessidade de mão de obra para a indústria, aliada ao fato de haver desemprego no meio rural, estabeleceu um fluxo migratório do campo para as cidades em proporção até então nunca vista. Este fluxo migratório não se dava apenas para a indústria, mas também para sua estrutura de sustentação. As máquinas a vapor usavam carvão para seu acionamento, o que aumentou também o número de minas de carvão nos diversos países. Segundo Nascimento (1997:9), no ano de 1900, havia cinco milhões de trabalhadores nas minas, assim distribuídos: 900.000 na Grã- Bretanha, 500.000 na Alemanha e EUA, 300.000 na França, 230.000 na Rússia e Áustria-Hungria, 160.000 na Bélgica e Índia, 120.000 no Japão e 100.000 no Sul da África. O trabalho em condições degradantes que era desempenhado pelos mineiros contribuiu para criar na categoria uma consciência das condições desumanas a que eles eram submetidos. Era comum a ocorrência de incêndios, explosões, intoxicação por gases, inundações e desmoronamento, ocasião em que muitos trabalhadores ficavam sepultados nas galerias. Também eram comuns as doenças ocupacionais, tais como tuberculose, anemia e asma. A improvisação das fábricas e a mão-de-obra constituída principalmente por crianças e mulheres resultaram em problemas ocupacionais extremamente sérios. Os acidentes de trabalho eram numerosos, provocados por máquinas sem qualquer proteção, movidas por correias expostas, e as mortes, principalmente de crianças eram muito frequentes (Nogueira In: FUNDACENTRO, 1981:10). Não havia nenhuma regulamentação quanto às condições do trabalho e do ambiente industrial, tampouco em relação à duração da jornada de trabalho. Apesar da jornada excessiva de trabalho não poder ser atribuído ao nascimento da grande indústria, pois na era verificada na atividade artesanal, esta condição foi potencializada. A partir de 1792, com a invenção do lampião a gás, houve uma tendência de aumento da jornada de trabalho, haja visto a possibilidade de uso de iluminação artificial, ainda que precária. Na metade do século XIX na França, trabalhava-se 12 horas nas províncias e 11 horas em Paris, podendo variar conforme o tipo de atividade. A categoria dos mineiros passava 12 horas diárias no fundo da mina, com 10 horas de trabalho efetivo. Havia jornadas de 15 horas nas fábricas de alfinetes. Nas tecelagens trabalhava-se 15 horas se o trabalho era a domicílio e 12 horas na própria fábrica (Nascimento, 1997:14) O trabalho das crianças nas fábricas durante a revolução industrial indica uma condição vexatória, abaixo de qualquer padrão de dignidade. Na Inglaterra, os menores eram oferecidos às indústrias em troca de alimentação. Eram comuns os intermediários que buscavam as crianças para trabalhar nas fábricas, estabelecendo inclusive contratos onde o industrial deveria aceitar, no lote de menores, “os idiotas”, na proporção de uma para cada grupo de vinte. Além do comércio de crianças, eram comuns também os maus tratos com os menores, que eram açoitados se trabalhavam de forma imprópria e em ritmo lento. Um industrial da época entendia que “não havia nenhum ser humano com mais de quatro anos que não podia ganhar a vida trabalhando” (Nascimento, 1997:11). Em função das más condições de trabalho, o parlamento inglês criou uma comissão de inquérito que foi responsável pela criação,em 1802, da primeira lei de proteção aos trabalhadores, a “Lei de Saúde e Moral dos Aprendizes”, que estabelecia o limite de 12 horas de trabalho diário, proibia o trabalho noturno, obrigava os empregadores ventilar as fábricas lavar suas paredes duas vezes por ano. Esta lei, complementada em 1819, não teve a eficiência esperada devido a oposição dos empregadores (Nogueira In: FUNDACENTRO, 1981:10- 11). Outra comissão de inquérito avaliou as condições de trabalho das fábricas e elaborou, em 1831, um relatório que concluía: “Diante desta comissão desfilou longa procissão de trabalhadores – homens e mulheres, meninose meninas. Abobalhados, doentes, deformados, degradados de sua qualidade humana, cada um deles era clara evidência de uma vida arruinada, um quadro vivo da crueldade do homem para com o homem, uma impiedosa condenação daqueles legisladores que quando em suas mãos detinham poder imenso, abandonaram os fracos a capacidade dos fortes”. (Santos apud Ribeiro Filho, 1997:13). As condições em que as crianças eram submetidas no trabalho nas fábricas ficam evidenciadas na transcrição de depoimento dado pelos pais de duas crianças operárias: “1. Pergunta: A que horas vão as meninas à fábrica? Resposta: Durante seis semanas, foram às três horas da manhã e voltaram as dez horas da noite. 2. Pergunta: Quais os intervalos concedidos, durante as dezenove horas, para descansar ou comer? Resposta: Quinze minutos para o desjejum, meia hora para o almoço e quinze minutos para beber. 3. Pergunta: Tinha muita dificuldade para despertar suas filhas? Resposta: Sim, a princípio tínhamos que sacudi-las para despertá-las e se levantarem, cem como vestirem-se antes de ir ao trabalho. 4. Pergunta: Quanto tempo dormiam? Resposta: Nunca se deitavam antes das 11horas, depois de lhes dar algo para comer e, então, minha mulher passava toda a noite em vigília ante o temor de não despertá-las na hora certa. 5. Pergunta: A que horas eram despertadas? Resposta: Geralmente minha mulher e eu nos levantávamos às duas horas da manhã para vesti-las. 6. Pergunta: Então, somente tinham quatro horas de repouso? Resposta: Escassamente quatro. 7. Pergunta: Quanto tempo durou esta situação? Resposta: Umas seis semanas. 8. Pergunta: Trabalhavam desde as seis horas da manhã até às oito e meia da noite? Resposta: Sim, é isso. 9. Pergunta: As menores estavam cansadas com este regime? Resposta: Sim, muito. Mais de uma vez ficaram adormecidas com a boca aberta. Era preciso sacudi-las para que comessem. 10. Pergunta: Suas filhas sofreram acidentes? Resposta: Sim, a maior, a primeira vez que foi trabalhar, prendeu o dedo numa engrenagem e esteve cinco semanas no hospital de Leeds. 11 Pergunta: Receber salário durante este tempo? Resposta: Não, desde o momento do acidente cessou o salário. 12 Pergunta: Suas filhas foram remuneradas? Sim, ambas. 13 Pergunta: Qual era o salário em semana normal? Resposta: Três shillings por semana cada uma. 14. Pergunta: E quando faziam horas suplementares? Resposta: Três shilings e sete pence e meio”. (Fohlen apud Nascimento, 1997:11 e 12). A partir do relatório elaborado pela comissão, foi instituída na Inglaterra, em 1833, a “Lei das Fábricas” (Factory Act), que foi a primeira lei realmente eficiente no campo da segurança e saúde no trabalho. A lei, aplicada à indústria têxtil, proibia o trabalho noturno para os menores de 18 anos, restringindo sua carga horária para 12 horas diárias e 69 semanais. Para menores entre 9 e 13 anos, a jornada de trabalho diária passou a ser de 9 horas. A idade mínima para o trabalho era de 9 anos, sendo necessário um médico atestar que o desenvolvimento físico da criança correspondia à sua idade cronológica. As fábricas precisavam ter ainda escolas freqüentadas por todos os trabalhadores menores de 13 anos. A partir da lei das fábricas, outros avanços ficaram evidenciados nas relações de trabalho na Inglaterra, tais como a lei de 1844, que instituiu a jornada de trabalho de 10 horas diárias para mulheres, leis de 1850 e 1853, estabelecendo jornada de trabalho dos homens em 12 horas diárias e lei de1842, que proibiu o trabalho de mulheres, menores em subsolo e lei de 1867 que reconheceu e determinou providências para prevenção das doenças provocadas por condições de trabalho, exigiu instalação de proteção nas máquinas e proibia realização de refeições em locais que tivessem a presença de agentes químicos agressivos. Com a expansão da indústria no restante da Europa e com a experiência já vivida na Inglaterra, os demais países foram estabelecendo e aprimorando legislações próprias de proteção ao trabalhador. Na França, em 1813, ficou proibido o trabalho de menores em minas, em 1841 foi proibido o trabalho de menores de 8 anos e fixada jornada diária de 8 horas para menores de 12 anos, e de 12 horas para menores com idade entre 12 e 16 anos. Em 1848 foi estabelecida como jornada máxima de trabalho diária de 12 horas. Na Escócia os trabalhadores eram comprados e vendidos com os filhos, com os quais eram estabelecidos contratos verbais de longo prazo, inclusive vitalícios, situação degradante que só foi eliminada a partir do surgimento de legislação própria nos anos de 1774 e 1799. Na Alemanha, no ano de 1839, foi proibido o trabalho de menores de 9 anos e restringida a jornada diária dos menores de 16 anos para 10 horas. Em 1853, estabeleceu-se a idade mínima do menor operário para 12 anos e limitada a jornada diária de trabalho dos menores de 14 anos para 6 horas. Em 1869, a legislação dispôs: “todo o empregador é obrigado a fornecer e a manter, à sua própria custa, todos os aparelhos necessários ao trabalho, tendo em vista a sua natureza, em particular, do ramo da indústria a que sirvam, e o local de trabalho em ordem a fim de proteger os operários, tanto quanto possível, contra riscos de vida e de saúde” (Nascimento, 1997:34). A Bélgica regulamentou a segurança e saúde industrial em 1810, a Rússia a partir de 1839, a Dinamarca em 1873, a Suíça em 1877 e os EUA a partir de 1877, através do Estado de Massachussetts (Santos, 1997:15). Segurança e Saúde no Brasil No Brasil Colonial, os escravos trabalhavam até 18 horas por dia, estando os proprietários no direito de aplicar castigos para garantir uma melhor produtividade e submissão ao trabalho. Esta situação tornava a mão de obra escrava quase que descartável, já que em 1730 a vida útil de um escravo jovem era de apenas 12 anos. A partir do século XIX, com as limitações impostas ao tráfego, os proprietários esboçaram alguma preocupação com a saúde dos escravos, tentando garantir um tempo maior de espoliação da força de trabalho de suas “propriedades”. No período da república velha, de 1889 até 1930, o Brasil caracterizou-se por uma economia voltada a exportação de produtos do campo. O Governo entendia que a regulamentação das relações de trabalho era prejudicial, tese que foi reafirmada pela Constituição de 1891 (Rocha, Nunes In: Rocha, 1993: 85). Apesar da estrutura oligárquica rural de comando da nação, no Brasil eram encontradas nas cidades inúmeras oficinas, manufaturas de vestiários, móveis, tintas, fundições, etc. A mão de obra era predominantemente estrangeira, resultado da onda migratória da época. As condições de trabalho eram degradantes, encontrando-se muitas situações ocorridas na Inglaterra durante a revolução industrial, a partir de 1760. Dean (Apud Rocha, 1993:89), relata: “Os acidentes se amiudavam porque os trabalhadores cansados, que trabalhavam, às vezes, além do horário sem aumento de salário ou trabalhavam aos domingos, eram multados por indolência ou erros cometidos, se fossem adultos, ou surrados, se fossem crianças. Em 1917, uma pessoa que visitou uma fábrica na Mooca, na Capital, ouviu operários de doze a treze anos de idade, da turma da noite, que se queixavam de ser freqüentemente espancados e mostraram, como prova do que diziam, as equimoses e ferimentos que traziam”. Nos primeiros anos da República, ocorreram alguns movimentos grevistas que, apesar de dispersos, foram se avolumando em termos de freqüência e intensidade. De 1901 a 1914 foram registradas 129 greves, sendo 91 em São Paulo e 38 em outras cidades (Rocha, Nunes In: Rocha, 1993:90). No ano de 1917,uma greve de enorme repercussão foi deflagrada em São Paulo, conforme descrição de Nascimento (1997:44): “Iniciou-se no Cotonifício Rodolfo Crepi, no bairro da Mooca, quando os operários protestaram contra os salários e pararam o serviço. A fábrica fechou por um tempo indeterminado. Os trabalhadores pretendiam 20% de aumento e tentaram acordo com a empresa, não o conseguindo. Diante disso, no dia 29 fizeram comício no centro da cidade. Aos 2000 grevistas juntaram-se, em solidariedade, 1000 trabalhadores das fábricas Jafet, que também passaram a reivindicar 20% de aumento de salários; em 11 de julho, o número de grevistas de várias empresas era de 15.000; no dia 12, de 20.000; os bondes, a luz, o comércio e as indústrias de São Paulo ficaram paralisados. O movimento estendeu-se às empresas do interior, e ao todo treze cidades foram atingidas. Os jornalistas resolveram intermediar. No dia 15 de julho um acordo foi aceito para aumento de 20% dos salários, com a garantia de que nenhum empregado seria despedido em razão da greve, e o governo pôs em liberdade os operários presos, com a condição de que todos voltassem ao serviço, reconhecendo o direito de reunião quando exercido dentro da lei e respeitando a ordem pública, além de se comprometer a providenciar o cumprimento de disposições legais sobre trabalho de menores nas fábricas, de carestia de vida e de proteção do trabalhador”. Nos primeiros anos da República foram caracterizados por três fatores importantes na mudança da visão prevencionista por parte do governo: Os movimentos grevistas incluíram na sua pauta de reivindicações as questões relativas a melhoria das condições e do meio ambiente de trabalho; O fluxo migratório proveniente da Europa trouxe toda uma experiência de luta visando a dignidade no trabalho; Havia um movimento internacional de mudança no plano ideológico, a partir da revolução soviética. Esses fatores foram decisivos na formação de um quadro favorável para o estabelecimento de uma maior intervenção por parte do governo e legisladores na relação capital e trabalho. Dessa forma, a Lei 3724 de 15/01/19, se firmou como a primeira lei sobre indenização por acidentes de trabalho, sendo regulamentada pelo Decreto número 13.498, de 12/03/19. Esta lei limitava-se ao setor ferroviário e reconhecia somente os elementos que caracterizavam diretamente o acidente de trabalho. Em função do momento histórico, foi criada a previdência social, através da Lei 4682, de 29/01/23 – conhecida como Lei Eloy Chaves, que criou a Caixa de Aposentadoria e Pensões para uma empresa de estrada de ferro. A partir de 1930, com a ascensão de Getúlio Vargas ao poder, houve um acelerado desenvolvimento industrial, substituindo as importações, facilitado principalmente pela grande depressão de 1929, que colocou em xeque o modelo agrário vigente. A era Vargas caracterizou-se por profunda reestruturação da ordem jurídica trabalhista, estando muitas das propostas da época em vigor até os dias atuais. O Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio foi criado por meio do Decreto 19.433, de 26/11/1930. Em 1932 foram criadas as Inspetorias do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, transformadas, no ano de 1940, em Delegacias Regionais do Trabalho. O Decreto número 24.367, de 10/07/1934, que substituiu a lei 3724 de 1919, instituiu o depósito obrigatório para garantia da indenização, simplificou o processo e aumentou o valor da indenização em caso de morte do acidentado, entendendo a doença profissional também como acidente de trabalho indenizável, em complementação à legislação anterior. Com o Decreto foram incluídos os industriários, trabalhadores agrícolas, comerciários e domésticos, sempre até determinado valor de remuneração. Por outro lado, foram excluídas várias outras categorias, tendo em vista o valor de seus vencimentos, tais como os autônomos, consultores técnicos, empregados em pequenos estabelecimentos industriais e comerciais sob o regime familiar. O adicional de insalubridade foi instituído a partir do Decreto-lei número 399, de 30/04/1938, estabelecendo seu valor em 10, 20 e 40% do salário mínimo para graus de insalubridade mínimo, médio e máximo, respectivamente, conforme quadro de atividades elaborado posteriormente. A Consolidação das Leis do Trabalho – CLT – foi criada pelo Decreto número 5.452, de 01/05/1943, e reuniu a legislação relacionada com a organização sindical, previdência social, justiça e segurança do trabalho. A CLT , no seu Capitulo V – Da Segurança e da Medicina do Trabalho, dispõe sobre diversos temas, tais como a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes – CIPA, máquinas e equipamentos, caldeiras, insalubridade, medicina do trabalho, higiene industrial, entre outros. Esta legislação foi alterada em 1977 e serviu como base para as atuais Normas Regulamentadoras. O Decreto 7036, de 10/11/1944 definiu como acidente de trabalho não só o acidente típico, mas também a concausa4, entendendo que todo evento que tivesse alguma relação de causa e efeito, ainda que não fosse o único responsável pela morte, perda ou redução da capacidade de trabalho, configuraria acidente de trabalho. Abrangeu ainda a prevenção de acidentes e a assistência, indenização e reabilitação do acidentado. Na década de 50, o governo atendeu às pressões políticas dos empregados da Petrobrás e concedeu através da Lei 2.573, de 15/08/55, o adicional de periculosidade aos trabalhadores que prestassem serviço em contato permanente com inflamáveis, correspondente a 30% do valor do salário (Rocha, Nunes In: Rocha, 1993:113). Através do Decreto Legislativo numero 24, de 29/05/1956, o Brasil ratificou a Convenção número 81, da Organização Internacional do Trabalho que estabelece que seus membros devam manter sistema de inspeção do trabalho. O Decreto-Lei número 229, de 28/02/1967, modificou a Capítulo V da Consolidação das Leis do Trabalho em vários itens, destacando-se a exigência que as empresas mantivessem “Serviços Especializados em Segurança e em Higiene do Trabalho”. A Lei 5.316, de 14/09/1967 determinou que o seguro acidente de trabalho somente pudesse ser feito com a Previdência Social, tornando o seguro obrigatório um monopólio estatal, fato que permanece inalterado até os dias atuais. A Portaria n.º 3237, de 17 de julho de 1972, que fazia parte do "Plano de Valorização do Trabalhador" do Governo Federal, e posteriormente sua substituta, a Portaria número 3460 de 31/12/1975, tornaram obrigatória a existência de serviços de medicina do trabalho e engenharia de segurança do trabalho em todas as empresas com um ou mais trabalhadores. A partir da divulgação das estatísticas oficiais e da comprovação da gravidade da situação, o Governo Federal intercedeu mais decisivamente nas questões de segurança e saúde do trabalhador. Através da Portaria 3.237, de 17/07/1972, que regulamentou o Artigo 1646 da CLT, tornou obrigatória a existência do Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho – SESMT - nas empresas. A Lei 6.514, de 22/12/1977, alterou o Capítulo V, Título II da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, relativo à Segurança e Medicina do Trabalho, legislação válida até os dias atuais. Esta lei foi regulamentada através da Portaria 3.214 de 08/06/1978, que significou o grande salto qualitativo nas ações prevencionistas, estimulando uma atuação mais eficaz por parte das empresas, sindicatos, Ministério do Trabalho, entre outros. Na década de 90 várias Normas Regulamentadoras foram revisadas, atendendo nova filosofia de necessidade de gestão da segurança e saúde ocupacional,principalmente com a NR 7 – PCMSO – Programa de Controle Médico e Saúde Ocupacional, NR 9 – PPRA – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais, NR 18 – Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Industria da Construção, com o PCMAT – Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção. MODULO 2 - Conceitos e Legislação 1. Preceitos legais em segurança e saúde no trabalho Constituição Federal A Constituição Brasileira estabelece, em diversos itens, o direito do trabalhador de desenvolver suas atividades profissionais em um ambiente seguro e saudável, com garantia de que, ao final de sua vida laboral, não esteja com sequelas decorrentes do trabalho. TÍTULO II - DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS CAPÍTULO II - DOS DIREITOS SOCIAIS Art. 6o São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 26, de 2000) Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança; XXIII - adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei; .................................. XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa; .................................. XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998) ATO DAS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS TRANSITÓRIAS Art. 10º Até que seja promulgada a lei complementar a que se refere o art. 7º, I, da Constituição : ......................... II - fica vedada a dispensa arbitrária ou sem justa causa: a) do empregado eleito para cargo de direção de comissões internas de prevenção de acidentes, desde o registro de sua candidatura até um ano após o final de seu mandato; A Consolidação das Leis do Trabalho e as Normas Regulamentadoras Em 1º de maio de 1943, através do Decreto 5.452, foi estabelecida a Consolidação das Leis do Trabalho – CLT. No ano de 1977, através da Lei 6.514, foi alterado o Capítulo V da Consolidação das Leis do Trabalho, no seu Título II, relativo à Segurança e Medicina do Trabalho. Os artigos da Consolidação das Leis do Trabalho (artigos 154 a 201) foram regulamentados através da Portaria 3.214 de 08/06/1978, com a criação das Normas Regulamentadoras. Desde 1978, diversas normas foram alteradas e outras inseridas, de forma que hoje são estabelecidas as seguintes Normas Regulamentadoras: NR1 - Disposições Gerais: Estabelece o campo de aplicação de todas as Normas Regulamentadoras de Segurança e Medicina do Trabalho do Trabalho Urbano, bem como os direitos e obrigações do Governo, dos empregadores e dos trabalhadores no tocante a este tema específico. NR2 - Inspeção Prévia: Estabelece as condições para apresentação da declaração de instalações, de um estabelecimento novo, ao órgão regional do Ministério do Trabalho e Emprego, para solicitar sua aprovação e a expedição do Certificado de Aprovação de Instalações - CAI, assegurando que o novo estabelecimento poderá iniciar suas atividades livre de riscos de acidentes e/ou de doenças do trabalho. NR3 - Embargo ou Interdição: Estabelece as condições para a interdição de estabelecimento, setor de serviço, máquina ou equipamento, ou embargo de obra, indicando, com a brevidade que a ocorrência exigir, as providências que deverão ser adotadas para prevenção de acidentes do trabalho e doenças profissionais. NR4 - Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho: Estabelece os requisitos para constituir o Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho com a finalidade de promover a saúde e proteger a integridade do trabalhador no local de trabalho. NR5 - Comissão Interna de Prevenção de Acidentes - CIPA: Estabelece a obrigatoriedade das empresas públicas e privadas organizarem e manterem em funcionamento, por estabelecimento, uma comissão constituída exclusivamente por empregados com o objetivo de prevenir infortúnios laborais, através da apresentação de sugestões e recomendações ao empregador para que melhore as condições de trabalho, eliminando as possíveis causas de acidentes do trabalho e doenças ocupacionais. NR6 - Equipamentos de Proteção Individual - EPI: Estabelece e define os tipos de EPI's a que as empresas estão obrigadas a fornecer a seus empregados, sempre que as condições de trabalho o exigirem, a fim de resguardar a saúde e a integridade física dos trabalhadores. NR7 - Programas de Controle Médico de Saúde Ocupacional: Estabelece a obrigatoriedade de elaboração e implementação, por parte de todos os empregadores e instituições que admitam trabalhadores como empregados, do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional - PCMSO, com o objetivo de promoção e preservação da saúde do conjunto dos seus trabalhadores. NR8 - Edificações: Dispõe sobre os requisitos técnicos mínimos que devem ser observados nas edificações para garantir segurança e conforto aos que nelas trabalham. NR9 - Programas de Prevenção de Riscos Ambientais: Estabelece a obrigatoriedade de elaboração e implementação, por parte de todos os empregadores e instituições que admitam trabalhadores como empregados, do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais - PPRA, visando à preservação da saúde e da integridade física dos trabalhadores, através da antecipação, reconhecimento, avaliação e consequente controle da ocorrência de riscos ambientais existentes ou que venham a existir no ambiente de trabalho, tendo em consideração a proteção do meio ambiente e dos recursos naturais. NR10 - Instalações e Serviços em Eletricidade: Fixa as condições mínimas exigíveis para garantir a segurança dos empregados que trabalham em instalações elétricas, em suas diversas etapas, incluindo projeto, execução, operação, manutenção, reforma e ampliação e, ainda, a segurança de usuários e terceiros. NR11 - Transporte, Movimentação, Armazenagem e Manuseio de Materiais: Estabelece os requisitos de segurança a serem observados nos locais de trabalho, no que se refere ao transporte, à movimentação, à armazenagem e ao manuseio de materiais, tanto de forma mecânica quanto manual, objetivando a prevenção de infortúnios laborais. NR12 - Máquinas e Equipamentos: Estabelece as medidas prevencionistas de segurança e higiene do trabalho a serem adotadas pelas empresas em relação à instalação, operação e manutenção de máquinas e equipamentos, visando à prevenção de acidentes do trabalho. NR13 - Caldeiras e Vasos de Pressão: Estabelece todos os requisitos técnicos-legais relativos à instalação, operação e manutenção de caldeiras e vasos de pressão, de modo a se prevenir a ocorrência de acidentes do trabalho. NR14 - Fornos: Estabelece as recomendações técnicos-legais pertinentes à construção, operação e manutenção de fornos industriais nos ambientes de trabalho. NR15 - Atividades e Operações Insalubres: Descreve as atividades, operações e agentesinsalubres, inclusive seus limites de tolerância, definindo, assim, as situações que, quando vivenciadas nos ambientes de trabalho pelos trabalhadores, ensejam a caracterização do exercício insalubre, e também os meios de proteger os trabalhadores de tais exposições nocivas à sua saúde. NR16 - Atividades e Operações Perigosas: Regulamenta as atividades e as operações legalmente consideradas perigosas, estipulando as recomendações prevencionistas correspondentes. NR17 - Ergonomia: Visa estabelecer parâmetros que permitam a adaptaçào das condições de trabalho às condições psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente. NR18 - Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção: Estabelece diretrizes de ordem administrativa, de planejamento de organização, que objetivem a implementação de medidas de controle e sistemas preventivos de segurança nos processos, nas condições e no meio ambiente de trabalho na industria da construção civil. NR19 - Explosivos: Estabelece as disposições regulamentadoras acerca do depósito, manuseio e transporte de explosivos, objetivando a proteção da saúde e integridade física dos trabalhadores em seus ambientes de trabalho. NR20 - Líquidos Combustíveis e Inflamáveis: Estabelece as disposições regulamentares acerca do armazenamento, manuseio e transporte de líquidos combustíveis e inflamáveis, objetivando a proteção da saúde e a integridade física dos trabalhadores m seus ambientes de trabalho. NR21 - Trabalho a Céu Aberto: Tipifica as medidas prevencionistas relacionadas com a prevenção de acidentes nas atividades desenvolvidas a céu aberto, tais como, em minas ao ar livre e em pedreiras. NR 22 - Segurança e Saúde Ocupacional na Mineração: Estabelece métodos de segurança a serem observados pelas empresas que desemvolvam trabalhos subterrâneos de modo a proporcionar a seus empregados satisfatórias condições de Segurança e Medicina do Trabalho. NR23 - Proteção Contra Incêndios: Estabelece as medidas de proteção contra Incêndios, estabelece as medidas de proteção contra incêndio que devem dispor os locais de trabalho, visando à prevenção da saúde e da integridade física dos trabalhadores. NR24 - Condições Sanitárias e de Conforto nos Locais de Trabalho: Disciplina os preceitos de higiene e de conforto a serem observados nos locais de trabalho, especialmente no que se refere a: banheiros, vestiários, refeitórios, cozinhas, alojamentos e água potável, visando a higiene dos locais de trabalho e a proteção à saúde dos trabalhadores. NR25 - Resíduos Industriais: Estabelece as medidas preventivas a serem observadas, pelas empresas, no destino final a ser dado aos resíduos industriais resultantes dos ambientes de trabalho de modo a proteger a saúde e a integridade física dos trabalhadores. NR26 - Sinalização de Segurança: Estabelece a padronização das cores a serem utilizadas como sinalização de segurança nos ambientes de trabalho, de modo a proteger a saúde e a integridade física dos trabalhadores. NR27 - Registro Profissional do Técnico de Segurança do Trabalho no Ministério do Trabalho: Estabelece os requisitos a serem satisfeitos pelo profissional que desejar exercer as funções de técnico de segurança do trabalho, em especial no que diz respeito ao seu registro profissional como tal, junto ao Ministério do Trabalho. (Revogada pela Portaria GM 262, de 29/05/2008); NR28 - Fiscalização e Penalidades: Estabelece os procedimentos a serem adotados pela fiscalização trabalhista de Segurança e Medicina do Trabalho, tanto no que diz respeito à concessão de prazos às empresas para no que diz respeito à concessão de prazos às empresas para a correção das irregularidades técnicas, como também, no que concerne ao procedimento de autuação por infração às Normas Regulamentadoras de Segurança e Medicina do Trabalho. NR29 - Norma Regulamentadora de Segurança e Saúde no Trabalho Portuário: Tem por objetivo Regular a proteção obrigatória contra acidentes e doenças profissionais, facilitar os primeiro socorros a acidentados e alcançar as melhores condições possíveis de segurança e saúde aos trabalhadores portuários. As disposições contidas nesta NR aplicam-se aos trabalhadores portuários em operações tanto a bordo como em terra, assim como aos demais trabalhadores que exerçam atividades nos portos organizados e instalações portuárias de uso privativo e retroportuárias, situadas dentro ou fora da área do porto organizado. NR30 - Norma Regulamentadora de Segurança e Saúde no Trabalho Aquaviário: Aplica-se aos trabalhadores de toda embarcação comercial utilizada no transporte de mercadorias ou de passageiros, na navegação marítima de longo curso, na cabotagem, na navegação interior, no serviço de reboque em alto-mar, bem como em plataformas marítimas e fluviais, quando em deslocamento, e embarcações de apoio marítimo e portuário. A observância desta Norma Regulamentadora não desobriga as empresas do cumprimento de outras disposições legais com relação à matéria e outras oriundas de convenções, acordos e contratos coletivos de trabalho. NR 31 - Norma Regulamentadora de Segurança e Saúde no Trabalho na Agricultura, Pecuária, Silvicultura, Exploração Florestal e Aqüicultura: Estabelece os preceitos a serem observados na organização e no ambiente de trabalho, de forma a tornar compatível o planejamento e o desenvolvimento das atividades da agricultura, pecuária, silvicultura, exploração florestal e aqüicultura com a segurança e saúde e meio ambiente do trabalho. NR 32 - Segurança e Saúde no Trabalho em Serviços de Saúde: Estabelece as diretrizes básicas para a implementação de medidas de proteção à segurança e à saúde dos trabalhadores dos serviços de saúde, bem como daqueles que exercem atividades de promoção e assistência à saúde em geral. NR-33 Segurança e Saúde nos Trabalhos em Espaços Confinados: Estabelece os requisitos mínimos para identificação de espaços confinados e o reconhecimento, avaliação, monitoramento e controle dos riscos existentes, de forma a garantir permanentemente a segurança e saúde dos trabalhadores que interagem direta ou indiretamente nestes espaços. NR-34 Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção e Reparação Naval: estabelece os requisitos mínimos e as medidas de proteção à segurança, à saúde e ao meio ambiente de trabalho nas atividades da indústria de construção e reparação naval. NR 35 Trabalho em Altura: estabelece os requisitos mínimos e as medidas de proteção para o trabalho em altura, envolvendo o planejamento, a organização e a execução, de forma a garantir a segurança e a saúde dos trabalhadores envolvidos direta ou indiretamente com esta atividade. NR 36 Segurança e Saúde no Trabalho em Empresas de Abate e Processamento de Carnes e Derivados: estabelece os requisitos mínimos para a avaliação, controle e monitoramento dos riscos existentes nas atividades desenvolvidas na indústria de abate e processamento de carnes e derivados destinados ao consumo humano, de forma a garantir permanentemente a segurança, a saúde e a qualidade de vida no trabalho. Legislação Previdenciária A Previdência Social, através da Lei 8.213 de 24 de julho de 1991 e regulamentada pelo Decreto nº 611, de 21 de julho de 1992 – Plano de Benefícios da Previdência Social e as várias Instruções Normativas presta assistência aos segurados nasquestões relativas à segurança e saúde do trabalhador. Em relação ao acidente de trabalho, a Previdência Social prevê a seguinte regulamentação: Conceito: Art. 19. Acidente do trabalho é aquele que ocorre pelo exercício do trabalho, a serviço da empresa, ou, ainda, pelo serviço de trabalho de segurados especiais provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte, a perda ou redução da capacidade para o trabalho, permanente ou temporária. A legislação brasileira também considera como acidente do trabalho: a) a doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalhador peculiar a determinada atividade e constante na relação organizada pelo Ministério da Previdência Social; b) a doença do trabalho, assim entendida aquela desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relaciona diretamente, desde que constante da relação da Previdência Social; c) em caso excepcional, constatando-se que a doença não prevista na relação da Previdência Social resultou de condições especiais em que o trabalho é executado e com ele se relaciona diretamente. Não serão consideradas como doença do trabalho: a) a doença degenerativa; (exemplo Artrite, Alzheimer e Parkinson, Osteoporose) b) a inerente ao grupo etário; ( velhice) c) a que não produz capacidade laborativa; d) a doença endêmica (Leptospirose, Leishmaniose, Dengue), salvo comprovação de que resultou de exposição ou contato direto, determinado pela natureza do trabalho. Equiparam-se ao acidente do trabalho: a) o acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa única, haja contribuído diretamente para a morte, para a perda ou redução da capacidade para o trabalho, ou produzido lesão que exija atenção médica para a recuperação; b) o acidente sofrido pelo empregado no local e no horário do trabalho, em consequência de: Ato de sabotagem ou de terrorismo praticado por terceiros ou companheiro de trabalho; ofensa física intencional, inclusive de terceiro, por motivo de disputa relacionada com o trabalho Ato de imprudência, de negligência ou de imperícia de terceiro, ou de companheiro de trabalho Ato de pessoa privada do uso da razão; desabamento, inundação ou incêndio e outros casos fortuitos decorrentes de força maior; c) A doença proveniente da contaminação acidental do empregado no exercício de sua atividade; c) o acidente sofrido, ainda que fora do local e do horário de trabalho: Na execução de ordem ou na realização de serviço sob a autoridade da empresa; na prestação espontânea de qualquer serviço à empresa, para lhe evitar prejuízo ou proporcionar proveito; Em viagem a serviço da empresa, inclusive para estudo, quando financiada por essa, dentro de seus planos para melhorar a capacitação de mão-de-obra, independentemente do meio de locomoção utilizado, inclusive veículo de propriedade do empregado; No percurso da residência para o local de trabalho ou deste para aquela, qualquer que seja o meio de locomoção, inclusive veículo de propriedade do empregado. Durante o aviso prévio de iniciativa da empresa no período da redução da jornada. nos períodos destinados à refeição ou ao descanso, ou por ocasião de satisfação de outras necessidades fisiológicas, no local de trabalho ou durante este, o empregado será considerado a serviço da empresa. O Regime Geral da Previdência Social compreende as seguintes prestações, devidas em razão de eventos decorrentes de acidente do trabalho, expressas em benefícios e serviços: a) Aposentadoria por invalidez Devida ao segurado que, estando ou não em gozo do auxílio-doença, for considerado incapaz e insusceptível de reabilitação para o exercício de atividade que lhe garanta a subsistência e será paga enquanto permanecer nessa condição. Concluindo a perícia médica inicial pela existência de incapacidade total e definitiva para o trabalho, a aposentadoria por invalidez, quando decorrente de acidente do trabalho, será concedida a partir da data em que o auxílio-doença deveria ter início. b) Auxílio-doença Será devido ao segurado que ficar incapacitado para o trabalho ou para a sua atividade habitual por mais de 15 dias consecutivos, contados a partir do dia seguinte ao do acidente do trabalho. No caso de acidente do trabalho, corresponderá a 92% do salário de contribuição vigente no dia do acidente. Somente cessará após a perícia médica e a reabilitação profissional, quando o empregado retomar às suas atividades. c) Auxílio-acidente Benefício mensal e vitalício será concedido ao segurado quando, após a consolidação das lesões decorrentes do acidente do trabalho, resultar sequela que implique: Redução da capacidade laborativa que exija maior esforço ou necessidade de adaptação para exercer a mesma atividade, independentemente de reabilitação profissional. Nesse caso, corresponderá a 30% do salário de contribuição do acidentado, vigente no dia do acidente. Redução da capacidade laborativa que impeça, por si só, o desempenho da atividade que exercia à época do acidente, porém não de outra, do mesmo nível de complexidade após a reabilitação profissional. O acidentado fará jus a um percentual de 40% do salário de contribuição, vigente no dia do acidente; Redução da capacidade laborativa que impeça, por si só, o desempenho da atividade que exercia à época do acidente, porém não o de outra, de nível inferior de complexidade, após a reabilitação profissional. O percentual correspondente é de 60% do salário de contribuição do acidentado, vigente na data do acidente. d) Pensão por morte Será devida ao conjunto de dependentes do segurado que falecer. O valor mensal da pensão será 100% do salário de benefício ou salário de contribuição vigente no dia do acidente, o que for mais vantajoso, por morte decorrente de acidente do trabalho. Havendo mais de um pensionista, será rateada entre todos, em partes iguais. e) Pecúlio por morte Será devido aos dependentes de segurado falecido em decorrência de acidente do trabalho. O pecúlio consistirá em um pagamento único de 150% do limite máximo do salário de contribuição; f) Pecúlio por invalidez Será devido ao segurado em caso de invalidez decorrente de acidente do trabalho. Corresponderá a 75% do limite máximo do salário de contribuição. g) Serviço social Sempre que necessitar, nos casos de acidente do trabalho, para auxiliar na utilização de seus benefícios, os segurados poderão contar com profissionais altamente especializados, facilitando-se o acesso aos mesmos. h) Reabilitação profissional A habilitação e a reabilitação profissional e social deverão proporcionar ao beneficiário incapacitado parcial ou totalmente para o trabalho os meios para a (re) educação e (re) adaptação profissional e social indicados para participar do mercado de trabalho e do meio em que vive. A reabilitação profissional compreende: O fornecimento de aparelho de prótese, órtese e instrumentos de auxílio para locomoção quando a perda ou redução da capacidade funcional puder ser atenuada por seu uso e dos equipamentos necessários à habilitação social e profissional; Reparação ou substituição dos aparelhos mencionados anteriormente, desgastados pelo uso normal ou por ocorrência estranha à vontade do beneficiário; O transporte do acidentado do trabalho, quando necessário. Será concedido, no caso de habilitação e reabilitação profissional, auxílio para tratamento ou exame fora do domicílio do beneficiário, conformedispuser o regulamento um pagamento único de 150% do limite máximo do salário de contribuição; A Comunicação de Acidentes de Trabalho – CAT é um instrumento de extrema importância, não só para a garantia dos diretos dos trabalhadores enquanto segurados, mas também como instrumento de avaliação do número de acidentes no País, incentivando estratégias e políticas públicas de prevenção de acidentes do trabalho e doenças profissionais. O QUE É CAT? A Comunicação de Acidente de Trabalho - CAT é um formulário que deve ser preenchido para: Que o acidente seja legalmente reconhecido pelo INSS; Que o trabalhador receba o auxílio-acidente, se for o caso, bem como os benefícios que gerar esse acidente; Que os serviços de saúde tenham informações sobre os acidentes e doenças e possam direcionar ações para redução de acidentes de trabalho e doenças profissionais ou do trabalho; O conhecimento dos serviços de fiscalização, que vão desencadear uma ação de investigação para que acidentes semelhantes ou nas mesmas condições não se repitam. QUANDO DEVE SER PREENCHIDA A CAT? em todos os casos de acidentes de trabalho (mesmo com menos de 15 dias de afastamento, sem afastamento do trabalho e nos acidentes de trajeto); em todos os casos de doença ocupacional profissional ou do trabalho; em todos os casos de suspeita de doença profissional ou do trabalho. QUEM DEVE PREENCHER A CAT? O Setor de Pessoal da empresa é o responsável pelo preenchimento da CAT. Na falta de comunicação por parte da empresa, a mesma poderá ser feita pelo próprio acidentado, seus dependentes, pela entidade sindical competente, pelo médico que o assistiu ou qualquer autoridade pública; A falta de comunicação por parte da empresa não a exime de responsabilidade da multa aplicada ao caso, conforme a lei. Os sindicatos e as entidades representativas das categorias poderão acompanhar a cobrança das multas que serão aplicadas pelo INSS. 2. O papel dos profissionais em segurança e saúde no trabalho Os profissionais responsáveis pela implantação das medidas de controle necessárias à eliminação, neutralização ou redução dos riscos nos ambientes de trabalho, segundo a Norma Regulamentadora nº 04, são os seguintes: Engenheiro de Segurança do Trabalho: engenheiro ou arquiteto portador de certificado de conclusão de curso de especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho, em nível de pós-graduação; Médico do Trabalho: médico portador de certificado de conclusão de curso de especialização em Medicina do Trabalho, em nível de pós- graduação, ou portador de certificado de residência médica em área de concentração em saúde do trabalhador ou denominação equivalente, reconhecida pela Comissão Nacional de Residência Médica, do Ministério da Educação, ambos ministrados por universidade ou faculdade que mantenha curso de graduação em Medicina; Enfermeiro do Trabalho: enfermeiro portador de certificado de conclusão de curso de especialização em Enfermagem do Trabalho, em nível de pós-graduação, ministrado por universidade ou faculdade que mantenha curso de graduação em enfermagem; Técnico de Segurança do Trabalho: técnico portador de comprovação de registro profissional expedido pelo Ministério do Trabalho. Auxiliar de Enfermagem do Trabalho: auxiliar de enfermagem ou técnico de enfermagem portador de certificado de conclusão de curso de qualificação de auxiliar de enfermagem do trabalho, ministrado por instituição especializada reconhecida e autorizado pelo Ministério da Educação. Além desses profissionais, poderíamos citar uma série de outros profissionais que trabalham na área, tais como os Psicólogos do Trabalho, Sociólogos do Trabalho, Ergonomistas e Higienistas. Segundo, ainda, a Norma Regulamentadora nº 04, os Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho tem as seguintes atribuições: aplicar os conhecimentos de engenharia de segurança e de medicina do trabalho ao ambiente de trabalho e a todos os seus componentes, inclusive máquinas e equipamentos, de modo a reduzir até eliminar os riscos ali existentes à saúde do trabalhador; determinar, quando esgotados todos os meios conhecidos para a eliminação do risco e este persistir, mesmo reduzido, a utilização, pelo trabalhador, de Equipamentos de Proteção Individual-EPI, de acordo com o que determina a NR 6, desde que a concentração, a intensidade ou característica do agente assim o exija; colaborar, quando solicitado, nos projetos e na implantação de novas instalações físicas e tecnológicas da empresa, exercendo a competência disposta na alínea "a"; responsabilizar-se tecnicamente, pela orientação quanto ao cumprimento do disposto nas NR aplicáveis às atividades executadas pela empresa e/ou seus estabelecimentos; manter permanente relacionamento com a CIPA, valendo-se ao máximo de suas observações, além de apoiá-la, treiná-la e atendê-la, conforme dispõe a NR 5; promover a realização de atividades de conscientização, educação e orientação dos trabalhadores para a prevenção de acidentes do trabalho e doenças ocupacionais, tanto através de campanhas quanto de programas de duração permanente; esclarecer e conscientizar os empregadores sobre acidentes do trabalho e doenças ocupacionais, estimulando-os em favor da prevenção; analisar e registrar em documento(s) específico(s) todos os acidentes ocorridos na empresa ou estabelecimento, com ou sem vítima, e todos os casos de doença ocupacional, descrevendo a história e as características do acidente e/ou da doença ocupacional, os fatores ambientais, as características do agente e as condições do(s) indivíduo(s) portador(es) de doença ocupacional ou acidentado(s); registrar mensalmente os dados atualizados de acidentes do trabalho, doenças ocupacionais e agentes de insalubridade, preenchendo, no mínimo, os quesitos descritos nos modelos de mapas constantes nos Quadros III, IV, V e VI, devendo a empresa encaminhar um mapa contendo avaliação anual dos mesmos dados à Secretaria de Segurança e Medicina do Trabalho até o dia 31 de janeiro, através do órgão regional do MTb; manter os registros de que tratam as alíneas "h" e "i" na sede dos Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho ou facilmente alcançáveis a partir da mesma, sendo de livre escolha da empresa o método de arquivamento e recuperação, desde que sejam asseguradas condições de acesso aos registros e entendimento de seu conteúdo, devendo ser guardados somente os mapas anuais dos dados correspondentes às alíneas "h" e "i" por um período não- inferior a 5 (cinco) anos; as atividades dos profissionais integrantes dos Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho são essencialmente prevencionistas, embora não seja vedado o atendimento de emergência, quando se tornar necessário. Entretanto, a elaboração de planos de controle de efeitos de catástrofes, de disponibilidade de meios que visem ao combate a incêndios e ao salvamento e de imediata atenção à vítima deste ou de qualquer outro tipo de acidente estão incluídos em suas atividades. Segurança do Trabalho: Supervisionar, coordenar e orientar tecnicamente os serviços de Engenharia de Segurança do Trabalho; Estudar as condições de segurança dos locais de trabalho e das instalações e equipamentos, com vistas especialmente aos problemas de controle de risco, controle de poluição, higiene do trabalho, ergonomia, proteção contra incêndio e saneamento; Planejar e desenvolvera implantação de técnicas relativas a gerenciamento e controle de riscos; Vistoriar, avaliar, realizar perícias, arbitrar, emitir parecer, laudos técnicos e indicar medidas de controle sobre grau de exposição a agentes agressivos de riscos físicos, químicos e biológicos, tais como poluentes atmosféricos, ruídos, calor, radiação em geral e pressões anormais, caracterizando as atividades, as operações e os locais insalubres e perigosos; Analisar riscos, acidentes e falhas, investigando causas, propondo medidas preventivas e corretivas e orientando trabalhos estatísticos, inclusive com respeito a custo; Propor políticas, programas, normas e regulamentos de Segurança do Trabalho, zelando pela sua observância; Elaborar projetos de sistemas de segurança e assessorar a elaboração de projetos de obras, instalação e equipamentos, opinando do ponto de vista da Engenharia de Segurança; Estudar instalações, máquinas e equipamentos, identificando seus pontos de risco e projetando dispositivos de segurança; Projetar sistemas de proteção contra incêndios, coordenar atividades de combate a incêndio e de salvamento e elaborar planos para emergência e catástrofes; Inspecionar locais de trabalho no que se relaciona com a segurança do Trabalho, delimitando áreas de periculosidade; Especificar, controlar e fiscalizar sistemas de proteção coletiva e equipamentos de segurança, inclusive os de proteção individual e os de proteção contra incêndio, assegurando-se de sua qualidade e eficiência; Opinar e participar da especificação para aquisição de substâncias e equipamentos cuja manipulação, armazenamento, transporte ou funcionamento possam apresentar riscos, acompanhando o controle do recebimento e da expedição; Elaborar planos destinados a criar e desenvolver a prevenção de acidentes, promovendo a instalação de comissões e assessorando-lhes o funcionamento; Orientar o treinamento específico de Segurança do Trabalho e assessorar a elaboração de programas de treinamento geral, no que diz respeito à Segurança do Trabalho; Acompanhar a execução de obras e serviços decorrentes da adoção de medidas de segurança, quando a complexidade dos trabalhos a executar assim o exigir; Colaborar na fixação de requisitos de aptidão para o exercício de funções, apontando os riscos decorrentes desses exercícios; Propor medidas preventivas no campo da Segurança do Trabalho, em face do conhecimento da natureza e gravidade das lesões provenientes do acidente de trabalho, incluídas as doenças do trabalho; Informar aos trabalhadores e à comunidade, diretamente ou por meio de seus representantes, as condições que possam trazer danos a sua integridade e as medidas que eliminam ou atenuam estes riscos e que deverão ser tomadas. 3. Reflexões sobre a gestão através da culpa É comum encontrar-se na literatura a definição das causas de acidentes de trabalho como sendo atos e condições inseguras. Esta concepção, bastante difundida na década de 70, reduz a avaliação dos acidentes a uma visão extremamente simplista, servindo muitas vezes como forma de culpar o próprio acidentado, justificando a ausência de segurança ou mesmo a ineficácia dos profissionais e serviços de SST. A concepção da culpa nos acidentes de trabalho, que normalmente recai sobre o trabalhador, acusando-o de cometer o propalado “ato inseguro”, está profundamente fixada na nossa cultura organizacional. Assunção e Lima (In: Mendes, 2003) identificam a atribuição de culpa ao trabalhador como forma de interpretação dos acidentes e doenças ocupacionais, desprezando seus mecanismos de auto regulação no trabalho: [...] a abordagem dos fenômenos de saúde relacionados ao trabalho continua assentada sobre a idéia de uma passividade dos trabalhadores face às condições de trabalho inseguras ou aos fatores de risco. Esta abordagem simplificada traz como conseqüência uma avaliação superficial das questões de segurança e saúde. Para Garrigou (1999): As práticas de prevenção de riscos e de formação são baseadas no fornecimento/aquisição de comportamentos individuais de segurança... Desta forma, os aspectos ligados à organização do trabalho, as decisões administrativas, as interações entre operadores e a coordenação entre atividades diferentes são negligenciadas nestas abordagens. A expressão “ato inseguro” e toda a sua filosofia de direcionamento da culpa do acidente de trabalho para o trabalhador, tem sido constantemente repudiada por inúmeros profissionais e entidades, principalmente a FUNDACENTRO; todavia, há que se concordar que ela ainda se faz presente no cotidiano prevencionista. Em nossa experiência profissional já presenciamos inúmeros profissionais, em diversas regiões de Santa Catarina, principalmente os recém formados, utilizarem-se do ato inseguro para explicar a falta de segurança. Estes profissionais estão aprendendo a tratar tudo como ato inseguro na própria escola, ensinados por professores que não se atualizaram, que lecionam a partir de publicações das décadas de 70 e 80, nas quais a expressão era comumente utilizada. É comum os empresários justificarem o treinamento para os trabalhadores com o argumento de que “estamos investindo em treinamento, com o propósito de conscientizar o trabalhador para o cumprimento das normas de segurança”, que em tradução pode ser entendido como: vou treiná-lo para que não cometa atos inseguros (Oliveira, 1999:10). Garcia (In: Kiefer et. al., 2001:93-94), explicitando a questão do uso dos agrotóxicos, caracteriza o que chama de “enfoque simplista” usado por instituições e profissionais que atuam na área: Esse enfoque simplista e maniqueísta reduz a complexa questão que envolve os agrotóxicos a uma dicotomia: o problema é o “uso inadequado” e a solução é a “educação”, no caso entendida como “treinamentos”... Ao caracterizar essa complexa questão que envolve o uso de agrotóxicos e suas consequências danosas como basicamente um “problema de educação”, reduzindo-a a não observação dos “cuidados” recomendados, transferindo-se ao aplicador, seja ele o próprio produtor rural ou o trabalhador, praticamente toda a responsabilidade pela contaminação ambiental e dos alimentos e por sua própria intoxicação provocada pelos agrotóxicos. Por conta dessas questões, é importante que os futuros Engenheiros de Segurança do Trabalho tenham em mente que a caracterização simplista do acidente de trabalho não contribui para a melhoria das condições de segurança e saúde, mas sim reduz sua capacidade de compreender a multicausalidade dos infortúnios laborais. 4. Glosário de termos em segurança e saúde no trabalho Equipamento de Proteção Coletiva (EPC): dispositivo técnico que tem como função proteger a saúde e a integridade física de todos os trabalhadores no ambiente laboral a partir do controle do risco na própria fonte Equipamento de Proteção Individual (EPI): dispositivo de uso individual que tem o fim de proteger a integridade física do trabalhador Perigo: é uma ou mais condições de uma variável com potencial necessário para causar danos Risco: expressa a exposição relativa a um perigo, o que favorece a sua materialização em danos. Riscos físicos: diversas formas de energia a que possam estar expostos os trabalhadores, tais como: ruído, vibrações, pressões anormais, temperaturas extremas, radiações ionizantes, radiações ionizantes, bemcomo o infra-som e o ultra-som; Riscos Químicos: oriundos de agentes químicos, substâncias, compostos ou produtos que possam penetrar no organismo pela via respiratória, nas formas de poeiras, fumos, névoas, neblinas,
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