Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE MINAS GERAIS DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO TCC II Análise Comparativa da Tenacidade de Soldas pelo Processo GMAW para Dois Tempos Distintos de Tratamento Térmico Pós Soldagem Autor: Arthur Dumbá Ferreira Gomes Orientador: Prof. Ivanilza Felizardo, Dra. Novembro de 2018 - Belo Horizonte 2 CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE MINAS GERAIS DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA Análise Comparativa da Tenacidade de Soldas pelo Processo GMAW para Dois Tempos Distintos de Tratamento Térmico Pós Soldagem Monografia apresentada por Arthur Dumbá Ferreira Gomes ao Curso de Engenharia Mecânica do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais – CEFET MG, e submetida à aprovação de uma banca examinadora constituída pelos membros: Professora Orientadora: Ivanilza Felizardo Departamento de Engenharia Mecânica – CEFET MG Etiene Pereira de Andrade Mestrando em Processos de Fabricação - DEMEC - UFMG Luiz Antônio Callegari Engenheiro Mecânico da empresa KOT Engenharia. Novembro de 2018 - Belo Horizonte 3 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus, o criador de todas as coisas, por mostrar-me o caminho da engenharia e abençoar-me com seu amor infinito durante todos os dias da minha trajetória. Aos meus ídolos eternos, meus pais Valdeir e Maria Regina, obrigado pelo amor incondicional e pelo exemplo de vida e perseverança. O que fizeram por mim para que eu pudesse usufruir de uma educação de qualidade jamais será esquecido. Aos meus avós, que ensinaram-me valores importantes e contribuíram com minha educação. À minha querida namorada Anna, pela compreensão da minha ausência por vários momentos, pelas palavras carinhosas e incentivos que fizeram-me acreditar cada vez mais no meu futuro como engenheiro e pelas risadas em tempos de estresse. Essa vitória é nossa! Aos meus amigos e familiares pela força e incentivo. À minha orientadora pela atenção, suporte, correções e incentivo. Aos amigos Diógenes e Marcelo que se prontificaram a ajudar na usinagem dos corpos de prova. À empresa ESAB pelo suporte com os testes realizados e usinagem das amostras. E a todos que direta ou indiretamente fizeram parte da minha formação, o meu muito obrigado. 4 RESUMO As propriedades mecânicas das juntas soldadas possuem relação direta com sua integridade. Quando solicitadas, a tenacidade propicia o comportamento dúctil necessário para a união suportar os carregamentos presentes, evitando falhas estruturais que podem resultar em catástrofes. O tratamento térmico de alívio de tensões é empregado corriqueiramente na indústria devido à redução, a limites aceitáveis, das tensões provocadas pelas operações de soldagem, trazendo como benefício o aumento da ductilidade e tenacidade do metal de solda. O presente trabalho tem como objetivo investigar a influência do tempo de tratamento térmico pós-soldagem na tenacidade de soldas GMAW (Gas metal Arc Welding). As soldas foram realizadas em chanfros “V” de chapas de aço-carbono ASTM A36, com abertura de raiz de 13 mm, na posição plana, utilizando a técnica puxando para preenchimento de chanfro por múltiplos passes. Os consumíveis utilizados foram o arame eletrodo AWS ER70S-6,com 1,2 mm de diâmetro, e o gás de proteção CORGON 20 - 80 Ar/20CO2. A influência do tratamento térmico pós-soldagem para alívio de tensões sobre a tenacidade do metal de solda foi avaliada em duas condições distintas: condição A, 620 °C por 10,5 horas, e condição B, 620 °C por 1 hora. Ensaios mecânicos, como tração e Charpy, foram utilizados para caracterização mecânica do metal de solda e análise qualitativa dos corpos de prova nas condições “como soldado” e após tratamento térmico. Os resultados mostraram que a condição de tratamento térmico A apresentou maior valor médio de tenacidade em relação à condição de tratamento térmico B, na qual cerca de 57,25 % a mais de energia foi absorvida até a fratura. Foi possível a realização do ensaio de tração, para obtenção das propriedades mecânicas do material de solda, somente para a condição B de tratamento térmico. O trabalho mostrou que há relação da tenacidade ao impacto do metal de solda com o tempo de patamar do tratamento térmico, sendo maior o ganho de tenacidade para maiores tempos de patamar. Por meio da comparação dos valores obtidos no teste de tração com os valores estabelecidos pela norma AWS ASME II-Parte C, para o arame utilizado, na condição “como soldado”, foi possível verificar melhorias das propriedades mecânicas para a condição B de tratamento térmico. Palavras-chave: GMAW, tenacidade, ensaio Charpy, ensaio de tração, alívio de tensões. 5 ABSTRACT The mechanical properties of welded joints are directly related to its integrity. When working under critical conditions, toughness will provide the ductile behavior required for the joint to withstand the stresses present, avoiding structural failures that can result in catastrophes. The stress relief heat treatment is commonly applied in industry processes due to the fact that the stresses caused by welding processes are reduced to acceptable limits and benefits, such as the increase in ductility and impact toughness of the weld material can be achieved when stress relief is used. The main purpose of this work is to identify the influence of post-weld heat treatment time in the toughness of welds performed by Gas Metal Arc Welding process using a robot. The welds were performed in single V-groove butt joints of ASTM A36 carbon steel plates, root opening 13 mm, in flat position, using the pulling technique. The consumables used were the AWS ER70S-6 electrode wire, with 1,2 mm diameter, and the CORGON 20-80 Ar / 20CO2 shielding gas. The influence of the post-weld heat treatment for stress relief on the toughness of the weld metal was evaluated under two different conditions: condition A, 620 ° C for 10,5 hours, and condition B, 620 ° C for 1 hour. Mechanical tests such as tensile test and Charpy impact test were used for mechanical characterization of the weld metal and for a qualitative analysis of specimens in "as welded" and “post-weld” condition. The results showed that the heat treatment under condition A presented a higher average value of impact toughness in relation to the condition B, in which about 57.25% more energy was absorbed until the fracture. The tensile test to obtain the mechanical properties of the weld material was only able to be performed for the heat treatment condition B. It was showed that there is a relation of the weld metal’s impact toughness with heat treatment time, where greater values of toughness can be achieved with longer heat treatment times. By comparing the values obtained in the tensile test with the values established by AWS ASME II-Part C, for the wire used, under "as welded" condition, it was possible to verify improvements of the mechanical properties under condition B of post weld heat treatment . Keywords: GMAW, impact toughness, tensile test, post weld heat treatment 6 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 8 2. OBJETIVOS ................................................................................................... 11 Objetivos Gerais .............................................................................................11 Objetivos Específicos ..................................................................................... 11 3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................... 12 Fundamentos do processo de soldagem GMAW ............................................ 12 Modo de transferência metálica ...................................................................... 15 Equipamentos da soldagem GMAW .............................................................. 18 Consumíveis .................................................................................................... 20 Vantagens e desvantagens do processo GMAW ............................................ 21 Variáveis do processo ..................................................................................... 22 3.6.1. Corrente de soldagem ............................................................................... 23 3.6.2. Comprimento do eletrodo ou Stickout ...................................................... 24 3.6.3. Velocidade de soldagem ........................................................................... 26 3.6.4. Tensão de soldagem (Tensão do arco elétrico) ......................................... 27 Aporte térmico ................................................................................................ 29 GMAW robotizado e novas tendências .......................................................... 30 Tenacidade ...................................................................................................... 33 Tenacidade em juntas soldadas ................................................................... 35 Ensaio de tenacidade ao impacto ................................................................ 36 Ensaio de Tração ......................................................................................... 39 Tratamento térmico pós-soldagem e influência na tenacidade da solda ..... 40 4. METODOLOGIA ............................................................................................... 42 Metal de base .................................................................................................. 42 Consumíveis .................................................................................................... 43 7 Equipamento de soldagem .............................................................................. 44 Planejamento experimental ............................................................................. 45 4.4.1. Preparação das chapas para soldagem ...................................................... 45 4.4.2. Procedimento de soldagem ....................................................................... 47 4.4.3. Ensaio de impacto Charpy ....................................................................... 49 4.4.4. Ensaio de tração ........................................................................................ 52 4.4.5. Tratamento térmico pós-soldagem ........................................................... 54 5. RESULTADOS E DISCUSSÕES ...................................................................... 57 Soldagem das chapas ...................................................................................... 57 Obtenção dos corpos de prova ........................................................................ 59 Tratamento térmico pós-soldagem .................................................................. 61 Ensaio Charpy ................................................................................................. 62 Ensaio de tração .............................................................................................. 64 6. CONCLUSÃO .................................................................................................... 66 7. SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS .............................................. 67 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................... 68 8 1. INTRODUÇÃO Dá-se o nome de soldagem ao processo de união entre duas partes metálicas, no qual uma fonte de calor é utilizada, com ou sem aplicação de pressão. Já a solda é a resultante desse processo (WAINER et al 2014). MARQUES et al (2009) ressalta que é possível soldar materiais que não sejam metálicos e que o processo em si pode ocorrer sem fusão. O desenvolvimento dos processos de soldagem foi impulsionado pela II Guerra Mundial, com a fabricação de navios e aviões soldados, embora o arco elétrico tenha sido desenvolvido somente no século XIX. Na Figura 01 apresenta-se a evolução cronológica dos processos de soldagem. Figura 01 - Evolução dos processos de soldagem ao longo do tempo. Fonte: Adaptado de Wainer et al 2014. Os processos de soldagem possuem vasta aplicação em diversos setores da indústria. São utilizados para fabricar produtos e estruturas metálicas, aviões e veículos espaciais, navios, locomotivas, veículos ferroviários e rodoviários, pontes, prédios, oleodutos, gasodutos, plataformas marítimas, reatores nucleares e periféricos, trocadores de calor, utilidades domésticas, componentes eletrônicos, dentre outros. 9 É evidente a importância da soldagem para a indústria e a sociedade como um todo. Primeiro devido à sua importância econômica, uma vez que sua vasta utilização se dá devido aos processos de soldagem reduzirem custos de produção e fabricação; segundo, devido à confiabilidade que a mesma deve garantir. A solda, ao falhar, gera prejuízos financeiros e pode colocar a vida de terceiros em risco. A indústria atual, principalmente a Metalmecânica, tem como premissa a busca por maior produtividade aliada ao menor custo de fabricação. Na área de soldagem, destacam-se os processos GMAW (Gás Metal Arc Welding) e FCAW (Flux Cored Arc Welding). Barbedo (2001) apud Moreira (2008) explica que a grande utilização dos processos GMAW e FCAW acontece devido ao seu contínuo desenvolvimento, qualidade, custo e flexibilidade, sendo os mesmos também, adequados à mecanização e robotização. As soldas são regiões críticas de uma estrutura devido à contração e expansão dos materiais envolvidos, nucleação e propagação de trincas em razão da concentração de defeitos tais como: falta de fusão, vazios e segregação. Além disso, juntas soldadas apresentam microestrutura heterogênea, e alterações estruturais (como o aumento do tamanho de grão em relação ao metal de base), o que tende a reduzir a tenacidade do material. Estruturas soldadas também podem apresentar tensões residuais de tração elevadas na região da solda, que associadas às solicitações externas da estrutura podem levar a fratura frágil. Nesse sentido, as propriedades mecânicas das soldas são extremamente relevantes para que sua integridade possa ser garantida. Propriedades como a tenacidade, por exemplo, podem definir de maneira direta se a solda falhará ou não. A tenacidade é uma propriedade do metal requerida quando há a necessidade de comportamento dúctil quando se trabalha sob condições críticas. Garante-se que uma trinca, por exemplo, não seja capaz de propagar rapidamente de maneira instável e leve o material a falhar sob baixos níveis de tensão (fratura frágil). Uma solda com baixa tenacidade é suscetível a sofrer fraturas catastróficas com crescimento da trinca predominantemente instável e deformação plástica mínima, sendo baixo o nível necessário de energia requerida. A indústria utiliza de várias técnicas para melhoria das propriedades mecânicas das soldas. Dentre elas, o procedimento mais difundido e utilizado é o tratamento térmicopós soldagem para alívio de tensões. Além de reduzir as tensões prejudiciais à solda, formadas durante o processo, é capaz de propiciar melhoria das condições metalúrgicas, levando ao aumento de ductilidade e redução de dureza. 10 O alívio de tensões é importância para a fabricação de uma vasta gama de componentes na indústria, principalmente os constituídos de chapas de grande espessura. Nesses, durante a soldagem, os gradientes térmicos são maiores e resultam em níveis de tensões residuais elevados, colocando em risco a integridade do componente. Pode-se perceber então que a tenacidade é uma propriedade de alta relevância a ser considerada na fabricação de componentes soldados, principalmente estruturas que necessitam manter sua integridade em temperaturas negativas. Um estudo nesta área de atuação é de indiscutível importância para vários setores da indústria. Neste contexto, o presente trabalho tem como objetivo estudar a influência dos tempos de tratamento térmico de alívio de tensões, comercialmente utilizados, na tenacidade das soldas. 11 2. OBJETIVOS Objetivos Gerais O presente trabalho tem como objetivo geral avaliar, por meio de ensaios mecânicos , o efeito do tratamento térmico pós-soldagem, comercialmente utilizados, na tenacidade ao impacto de soldas obtidas pelo processo GMAW robotizado em múltiplos passes de solda. Objetivos Específicos • Realizar uma revisão bibliográfica, abordando os conceitos fundamentais da soldagem GMAW, bem como seus equipamentos, principais parâmetros de controle e estado da arte em GMAW robotizado. • Estabelecer parâmetros para soldagem de aços ASTM A36 pelo processo MIG/MAG; • Verificar a tenacidade ao impacto e resistência mecânica de soldas comercialmente utilizadas. • Avaliar de maneira quantitativa as propriedades mecânicas da junta soldada do ASTM A36 submetidas a condições distintas de tratamento térmico pós-soldagem de alívio de tensões (620 °C por 1h e 620 °C por 10,5 h ); • Realizar ensaios mecânicos - ensaio de impacto Charpy-V e ensaio de tração – para verificação da influência do tempo de patamar na tenacidade do metal de solda. 12 3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Fundamentos do processo de soldagem GMAW A soldagem a arco elétrico com proteção gasosa (GMAW - Gas Metal Arc Welding), também nomeada por soldagem MIG/MAG (MIG - Metal Inert Gas e MAG – Metal Active Gas), utiliza o calor gerado pelo arco elétrico estabelecido entre o eletrodo metálico maciço nu (arame solido), consumível e continuamente alimentado, e o metal de base (peça de trabalho) para garantir a união de peças metálicas. O processo incorpora a proteção para a poça de soldagem e arco elétrico contra contaminações advindas do meio externo (atmosfera) pelo fluxo de um gás de proteção - geralmente os gases utilizados são inertes (MIG), como argônio e hélio, ou ativo (MAG), tais como CO2 e O2 ou mistura desses com argônio - fornecidos por uma fonte externa (MARQUES et al, 2009). Na Figura 02, ilustra-se o processo de forma esquemática. Figura 02 - Ilustração da soldagem MIG/MAG. Fonte: ESAB Segundo Felizardo et al (2006), o processo GMAW de soldagem pode ser operado tanto pelo método manual, no qual alimenta-se de forma automática o arame eletrodo por um alimentador motorizado, sendo o soldador o responsável pelo deslocamento da tocha de 13 soldagem ao longo da junta a ser soldada, quanto pelo método automático. Nesse caso, a soldagem pode ser realizada com ou sem a utilização de robôs, sendo que todos os parâmetros de soldagem são executados e controlados por sistemas eletrônicos. A combinação entre fonte de energia e unidade de alimentação do arame mais utilizada para que a autorregulação do comprimento do arco elétrico, inerente ao processo GMAW, seja atingida é a utilização de uma fonte de tensão constante – capaz de propiciar uma curva de tensão x corrente quase plana (Figura 03) – e unidade de alimentação de eletrodo de velocidade também constante (AWS HANDBOOK, 2004; BRACARENSE,2013). Figura 03 - Curvas Características de fontes de tensão constante. Fonte: LAB SEND (UFMG). Quando a combinação mais frequente é utilizada, ou seja, tensão e velocidade de alimentação do arame constantes, a mudança da posição da tocha (no sentido de afastamento ou aproximação da tocha e peça de trabalho) acarreta na mudança da corrente de soldagem devido à alteração da extensão do arame eletrodo. Tem-se que quando a distância entre a tocha e a peça de trabalho é instantaneamente aumentada, o tamanho do arco, estabelecido pelo ajuste da tensão na máquina de soldagem, por consequência, se torna momentaneamente maior, o que implica na redução da corrente de soldagem, devido ao ligeiro aumento da tensão do arco, fazendo com que, nesse instante, a taxa de fusão do eletrodo diminua. 14 Porém, como a alimentação do arame eletrodo é contínua, o comprimento do arco elétrico é diminuído e a corrente aumentada até que a taxa fusão do arame seja igual a taxa de alimentação do mesmo, autorregulando o comprimento do arco elétrico durante a soldagem, este efeito é apresentado na Figura 04 (AWS HANDBOOK, 2004). Figura 04 - Regulagem automática do comprimento do arco elétrico no processo GMAW. Fonte: AWS adaptado (2018). A Soldagem MIG/MAG pode ser utilizada em uma vasta gama de materiais de diversas espessuras, tantos materiais ferrosos quanto não ferrosos. Possui ainda aplicações variadas como: recobrimento de superfícies metálicas, recuperação de peças, fabricação e manutenção de equipamentos, entre outros (MARQUES et al, 2009). 15 Modo de transferência metálica O modo de transferência metálica refere-se à maneira pela qual o metal de adição do eletrodo é transferido para a poça de fusão, sendo um fator de elevada importância no processo GMAW por afetar características como: nível de respingos, estabilidade do arco, quantidade de gases absorvidos pelo metal fundido e possibilidade de aplicação em diferentes posições de soldagem (MARQUES et al, 2009). A transferência metálica é dependente do gás de proteção, intensidade e tipo da corrente de soldagem aplicada, comprimento, composição química e diâmetro do arame eletrodo (BARBEDO, 2011 apud CAMPUS, 2005). Segundo MARQUES, MONDENESI e BRACARENSE (2009) há quatro formas básicas de transferência de metal de adição do eletrodo para a peça : curto-circuito, globular, por “spray” e controlada, as quais serão apresentadas a seguir. Transferência por curto-circuito: o metal de adição é transferido para poça de fusão durante uma série de curtos-circuitos ocasionados pelo contato do metal fundido na ponta do eletrodo consumível com a poça de fusão. Sendo assim, não há transferência de metal através do arco elétrico. A transferência por curto circuito propicia a união de metais utilizando-se das menores faixas de corrente de soldagem e diâmetros de eletrodo associados ao processo GMAW. É possível soldar materiais de pequenas espessuras e em diversas posições, uma vez que a poça de fusão gerada é pequena e de rápido resfriamento (AWS HANDBOOK, 2004; BARBEDO, 2011 apud QUITES, 2002). Na Figura 05 está apresentado a transferência por curto-circuito. Figura 05 - Transferência por curto-circuito. Fonte: Marques et al (2013). 16 Transferência Globular: envolve a queda de gotas de metal de adição fundido (gostas geralmente com diâmetros maiores que o diâmetro do eletrodo) através do arco elétrico, sob ação principal daforça gravitacional, o que limita a sua utilização na posição plana de soldagem. A transferência globular ocorre a valores intermediários de corrente e tensões, maiores que os utilizados no modo por curto-circuito (AWS HANDBOOK, 2004; BARBETO, 2011 apud QUITES,2002). Na Figura 06 está apresentado o modo de transferência globular. Figura 06 - Transferência globular Fonte: Marques et al (2013). Transferência Spray: A transferência spray ocorre quando minúsculas gotas em número bastante elevado do arame eletrodo fundido são depositadas pelo arco elétrico devido à ação de forças magnéticas sobre as gotas – capazes de sobreporem à ação da força gravitacional – atuantes nas direções radiais e axiais. Para que o modo de transferência spray ocorra é necessária a utilização de corrente contínua, polaridade inversa e nível de corrente acima de uma faixa estreita de valores, chamada de corrente de transição, na qual abaixo, ocorre o modo de transferência globular e, acima, ocorre a mudança brusca para o modo de transferência spray (AWS HANDBOOK, 2004; MARQUES et al, 2009). O modo de transferência em questão somente ocorre para determinados gases ou misturas de gases. Apresenta arco elétrico estável e a ocorrência de respingos é praticamente eliminada. Além disso, propicia a obtenção de um cordão de solda suave e regular. Ao utilizar- se argônio em porcentagem rica como gás de proteção (pelo menos 80%) é possível a obtenção do modo de transferência spray muito estável e livre de respingos (AWS HANDBOOK, 2004; MARQUES et al 2009). Devido aos altos níveis de corrente necessários para que o modo de transferência spray ocorra, a soldagem de chapas finas é inviabilizada e a soldagem nas posições verticais e sobre 17 cabeça são dificultadas devido à propensão à ocorrência de escorrimentos a partir da poça de fusão, que se torna grande e de difícil controle (AWS HANDBOOK,2004; MARQUES et al, 2009). Na Figura 07 está apresentado o modo de transferência por spray. Figura 07 - Transferência por spray. Fonte: Marques et al (2013). Transferência pulsada: Tipo de transferência metálica com características próximas às da transferência globular. Porém, de maneira mais uniforme e estável, alcançada pela pulsação de corrente de soldagem em dois patamares diferentes, um inferior à corrente de transição e um superior à esta (MARQUES et al 2009). Fortes (2005) explica que o metal é transferido para a peça durante a aplicação da corrente de pico (acima da corrente de transição) garantindo que a região que fomenta a estabilidade do arco na soldagem em spray seja atingida. O período de baixa corrente é responsável por manter o arco elétrico ativo e reduzir a corrente média. O modo de transferência por corrente pulsada é possível pela utilização de fontes eletrônicas de soldagem que permitem a introdução de perturbações controladas na corrente de soldagem. Dessa forma, pela transferência controlada de metal de adição é possível a obtenção das características desejáveis da transferência spray a níveis mais baixos de corrente, possibilitando a soldagem de chapas finas ou em qualquer posição de soldagem, (MARQUES et al 2009). Na Figura 08 está apresentado o modo de transferência por corrente pulsada. 18 Figura 08 - Transferência pulsada Fonte: Marques et al (2013). Equipamentos da soldagem GMAW MARQUES et al (2009) cita como equipamentos básicos do processo GMAW: fonte de energia, alimentador de arame, tocha de soldagem e uma fonte de gás de proteção, além de cabos e mangueiras como apresentado na Figura 09. Figura 09 - Componentes da máquina de solda e instalações para soldagem manual. Fonte: ESAB (2018). a) Cabo de solda (negativo) b) Refrigeração da tocha(água) c) Gás de proteção 19 d) Gatilho da tocha e) Água de refrigeração para a tocha f) Conduíte do arame g) Gás de proteção vindo do cilindro h) Saída de água de refrigeração i) Entrada de água de refrigeração j) Entrada de 42 V (CA) k) Cabo de solda (positivo) l) Conexão para a fonte primária (220/380/440 V) Fonte de energia: é responsável por fornecer a corrente de soldagem ao processo MIG/MAG. Mais comumente, utiliza-se de uma fonte de energia que propicie uma curva característica de tensão constante para, junto com um alimentador de arame, manter o comprimento do arco constante. As fontes de energia convencionais são geralmente do tipo transformador, devido à utilização de corrente contínua aplicada no processo GMAW, e possui ajuste de tensão de saída numa faixa de aproximadamente 18V a 50V com alimentação trifásica. Alimentador de Arame: contempla o motor de alimentação de arame de corrente contínua e o conjunto de roletes de alimentação. Possui como função a alimentação de arame consumível à tocha de soldagem, fornecendo velocidade de alimentação constante e ajustável em uma ampla faixa. Devido às características da fonte e do processo, ao ajustar-se a velocidade de alimentação do arame, ajusta-se a corrente de soldagem fornecida pela máquina. Tocha de soldagem: é composta basicamente por um punho, responsável por sustentar um bico de contato para energização do arame, de um bocal para orientação de gás de proteção e de um gatilho de acionamento do sistema. Possui como função principal o direcionamento da alimentação de arame, do fluxo de corrente elétrica e do gás de proteção para a poça de fusão. As tochas GMAW podem ser refrigeradas a água ou pelo próprio gás de proteção, dependendo da sua capacidade e fator de trabalho. Quanto ao seu formato, a tocha de soldagem pode ser do tipo reta, curva ou do tipo “pescoço de ganso” dependendo da aplicação. Fonte de gás: geralmente, a fonte de gás para proteção da poça de fusão consiste de um cilindro do gás ou mistura de gases a serem utilizados, além de reguladores de pressão e vazão. Pode-se utilizar também instalações centralizadas para armazenamento e distribuição de gases em locais que possuam grande número de equipamentos. 20 Consumíveis Os principais consumíveis utilizados, segundo Marques et al (2009) são: arame e gás de proteção. Os arames mais comumente utilizados são feitos de aço cobreado. A camada de cobre é importante para a proteção do arame contra a corrosão e para a melhoria do contato elétrico entre o próprio arame e o bico de contato da tocha de soldagem. O arame a ser utilizado em uma dada aplicação é selecionado em termos da composição química do metal de base, do gás de proteção e da composição química e propriedades mecânicas desejadas para solda (MARQUES et al 2009). Na Tabela 01 estão relacionados as especificações AWS para arames empregados no processo GMAW. Tabela 01 - Especificação AWS para materiais de adição empregados no processo GMAW. Especificações Materiais AWS – A 5.7 – XX Cobre e suas ligas AWS – A 5.9 – XX Aço Inox e aço com alto Cr AWS – A 5.10 – XX Alumínio e suas ligas AWS – A 5.14 – XX Níquel e suas ligas AWS – A 5.16 – XX Titânio e suas ligas AWS – A 5.18 – XX Aço Carbono AWS – A 5.19 – XX Magnésio e suas ligas AWS – A 5.20 – XX Aço baixa liga Fonte: própo autor. Os critérios estabelecidos para a classificação dos metais de adição de aços ao carbono para soldagem por arco elétrico com proteção gasosa são estabelecidos segundo especificações AWS A 5.18 E A 5.28. Esta especificação classifica os arames sólido com base em suas composições químicas e nas propriedades mecânicas do metal de solda na condição “Como soldado” (SCHIO, 2013). 21 A classificação, a título de ilustração, segundo especificação AWS de um aramesólido é representada na Figura 10 com respectivo significado: Figura 10 - Classificação dos arames de acordo com a AWS A 5.18 e A 5.28. Fonte: Marques et al 2009 adaptado. Vantagens e desvantagens do processo GMAW O processo GMAW tem sido vastamente utilizado e vem substituindo o processo SMAW (Shielded Metal Arc Welding), também conhecido por soldagem com eletrodo revestido, por ser um processo eficiente e que pode ser utilizado para soldar todos os metais e suas ligas comercialmente utilizados, incluindo aço carbono, aço baixa liga de alta resistência, aço inoxidável, alumínio, cobre, titânio e ligas de níquel. De acordo com Marques et al (2009), o processo GMAW apresenta como principais vantagem sobre o processo de soldagem com eletrodo revestido: alta taxa de deposição e alto fator de ocupação do soldador; versatilidade em relação ao tipo de material soldado e espessuras aplicáveis; não utilização de fluxo de soldagem – o que elimina operações de remoção e limpeza de escória, além de eliminar o risco de inclusão de escória na soldagem em vários passes. Além disso, podem ser acrescentados as seguintes vantagens ao processo GMAW: aplicável em todas as posições; a velocidade de soldagem é maior que a velocidade obtida no processo SMAW devido à alimentação contínua do arame e a taxa de deposição é maior; soldas longas são realizadas sem paradas intermediarias; é um processo com baixo teor de hidrogênio, 22 sendo uma boa opção para a soldagem de materiais suscetíveis à fragilização por hidrogênio; o soldador pode ser facilmente habilitado a soldar em todas as posições (AWS HANDBOOK, 2004). Segundo Marques et al (2009), a principal limitação do processo GMAW se encontra na sensibilidade à variação dos parâmetros elétricos de operação do arco de soldagem, que possuem influência direta na qualidade do cordão de solda. Para se obter determinada característica para o cordão de solda há a necessidade de um ajuste rigoroso de parâmetros interdependentes que possuem influência direta no resultado final, o que dificulta a definição dos mesmos. O maior custo de equipamento, com maior necessidade de manutenção e menor diversidade de consumíveis são limitações deste processo. WAINER et al (2004) acrescenta ainda como limitações do processo GMAW: a soldagem deve ser protegida de correntes de ar; o equipamento é mais complexo e menos portátil do que o equipamento do processo SMAW; devido à necessidade da pistola de soldagem ficar próximo do metal de base a ser soldado (entre 10 mm e 19 mm segundo dados da AWS) a operação é dificultada em locais de difíceis acessos e, por último, o processo resulta em altos níveis de radiação e calor, o que acarreta na resistência do operador quanto ao mesmo. Variáveis do processo Segundo Fontes (2003), os quatro parâmetros de soldagem mais importantes são: corrente, extensão do eletrodo, tensão do arco elétrico e velocidade de soldagem. Além disso, segundo Bracarense (2013), variáveis como polaridade, orientação do eletrodo, posição da junta, diâmetro dos eletrodos e composição do gás de proteção e fluxo de saída são de suma importância ao processo. BRACARENSE (2013) ressalta ainda que os valores considerados ótimos de cada variável variam de acordo com o tipo de metal base, composição do eletrodo, posição de soldagem e pela qualidade requerida à solda. Além disso, as variáveis não são por completo independentes, uma vez que mudanças feitas em um parâmetro requerem mudanças em outros, o que acarreta a dificuldade de definição dos mesmos. 23 3.6.1. Corrente de soldagem A corrente de soldagem afeta de forma direta a geometria do cordão de solda, em especial a penetração e a taxa de deposição do metal de adição, além do modo de transferência metálica. Sua definição é relacionada à espessura da peça de trabalho, diâmetro do eletrodo e características desejadas ao cordão de solda. A escolha correta da corrente de soldagem é, então, de suma importância para a execução da solda. Observa-se um comportamento não-linear da variação da corrente de soldagem com o a velocidade de alimentação do arame ou taxa de fusão do arame. Para efeito de análise, considerando-se todas as outras variáveis constantes, quando a velocidade de alimentação do arame é alterada, a corrente de soldagem varia na mesma direção – variação direta: um aumento na velocidade de alimentação do arame acarreta em aumento da corrente de soldagem e vice- versa. A relação de queima do arame AWS ER70S-3 – relação entre a corrente de soldagem e a velocidade de alimentação do arame – para diferentes diâmetros é representada na Figura 11 (FONTES, 2005). Figura 11 - Relação Velocidade de alimentação do arame x corrente de soldagem Fonte: ESAB Percebe-se a variação direta da corrente de soldagem com o aumento da velocidade de alimentação do arame, como citado anteriormente. Percebe-se também que há um comportamento quase linear das curvas de queima a baixos níveis de corrente para os diferentes diâmetros do arame. Entretanto, ao aumentar-se progressivamente a corrente de soldagem, 24 constata-se que a curva de queima passa a possuir um comportamento não-linear, mais acentuado quanto menor o diâmetro do arame (FONTES, 2005). Esse comportamento é atribuído ao efeito Joule ocorrido na extensão do eletrodo que provoca o aquecimento resistivo do mesmo quando a velocidade de alimentação, e consequentemente, a corrente de soldagem são aumentadas (AWS HANDBOOK, 2004). Extrai-se ainda das curvas de queima apresentadas na Figura 11 que ao se fixar a velocidade de alimentação do arame eletrodo, o aumento do diâmetro do eletrodo demanda aumento da corrente. A relação entre a velocidade de alimentação do arame e corrente de soldagem possui ainda influência da composição química do mesmo, uma vez que a temperatura de fusão e resistência elétrica do eletrodo variam de material para material. FONTES (2005), pela Figura 12, demonstra a variação direta da corrente de soldagem com a penetração da solda. Aumentando-se ou diminuindo-se a corrente de soldagem, aumenta- se ou diminui-se a penetração do cordão de solda. Figura 12 - Efeito da corrente de soldagem na penetração da solda – aço carbono, curto-circuito, Ar – 25% CO2. Fonte: (Fontes,2005). 3.6.2. Comprimento do eletrodo ou Stickout O comprimento do eletrodo ou “Stickout” é definido como a distância entre a extremidade do bico de contato e a extremidade do arame eletrodo. Devido à dificuldade de 25 medir-se o stickout, da maneira definida acima, é comum medir-se o stickout como sendo a distância da extremidade do bico de contato à peça. (FISCHER, 2011 apud BRACARENSE, 2007). Figura 13 - Distância do bico de contato à peça. Fonte: (Fischer, 2011) Há uma relação direta entre o comprimento do eletrodo e sua resistência elétrica, o que afeta a geometria e penetração do cordão de solda. Havendo aumento na extensão do eletrodo, há um aumento da resistência elétrica do mesmo que promoverá seu aquecimento por efeito Joule resultando em um pequeno aumento, momentâneo, da taxa de fusão do arame eletrodo. Por sua vez, há redução da tensão entre a ponta do eletrodo e a peça de trabalho, devido ao aumento da resistência elétrica do eletrodo, acarretando na diminuição da corrente de soldagem, pela máquina de soldagem, reduzindo a taxa de fusão do eletrodo e o comprimento do arco elétrico (AWS HANDBOOK,2004; FORTES,2003). Trabalhando-se com grandes extensões de eletrodo é provável obter-se como resultado um cordão de solda com baixa penetração e geometria desfavoráveldevido ao excesso de depósito de material de solda com baixo calor do arco. Adicionalmente, tem-se formação de um arco elétrico instável ao trabalhar-se com distâncias bico de contato-peça maiores (FORTES, 2005). Na Figura 14 está apresentado a influência do stickout no cordão de solda. 26 Figura 14 - Influência do stickout no cordão de solda. Fonte: (Júnior,2003). O comprimento de eletrodo desejável geralmente varia entre 6 mm a 13 mm para transferência por curto-circuito e de 13 mm a 25 mm para transferência globular e spray (AWS HANDBOOK,2004). 3.6.3. Velocidade de soldagem A velocidade de soldagem é definida como a taxa linear na qual o arco se move ao longo da junta a ser soldada. É o tempo de percurso do arco ao longo da peça de trabalho (AWS HANDBOOK,2004). Quando não controlada, a velocidade de soldagem pode resultar em defeitos como mordedura, por exemplo. Há um valor intermediário de velocidade no qual a penetração da solda é máxima. Mantendo-se as outras variáveis constantes para efeito de análise, ao diminuir-se a velocidade de soldagem aumenta-se a deposição do material fundido por unidade de comprimento. Isso ocorre até que, a partir de um ponto, o arco elétrico passa a possuir maior influência sobre a poça de fusão do que no metal de base, levando à redução da penetração efetiva da solda (AWS HANDBOOK,2004). Ao aumentar-se a velocidade de soldagem, aumenta-se (no primeiro momento), a energia térmica por unidade de comprimento de solda transferida do arco elétrico para o metal de base, devido à ação direta do arco no metal de base. Com posteriores acréscimos da velocidade de soldagem, menor quantidade de energia térmica por comprimento de solda é direcionada para o metal de base. Sendo assim, a taxa de fusão do metal de base primeiro aumenta com o aumento 27 da velocidade de soldagem e depois diminui com o contínuo aumento da velocidade, acarretando na deposição insuficiente de metal de adição ao longo do caminho fundido pelo arco elétrico, aumentando as chances de ocorrência de defeitos de soldagem como mordedura (AWS HANDBOOK,2004). 3.6.4. Tensão de soldagem (Tensão do arco elétrico) Os termos tensão do arco e comprimento do arco elétrico são utilizados como sinônimos em soldagem – por existir relação entre a tensão do arco e o comprimento do mesmo - embora possuam definições físicas distintas (BRACARENSE,2013). O comprimento do arco elétrico é a variável crítica do processo MIG/MAG a ser cuidadosamente controlada. Porém, mesmo sendo o comprimento do arco elétrico a variável de interesse do processo, especifica-se a tensão do arco nos procedimentos de soldagem por ser mais facilmente monitorada (AWS HANDBOOK,2004). A variação da tensão ao longo do arco é dividida em três regiões principais: zona de queda catódica; coluna de plasma e zona de queda anódica. Na Figura 15 apresenta-se as regiões principais do arco elétrico. Figura 15 - Distribuição esquemática de potencial em um arco e suas regiões: (a) Zona de Queda Catódica, (b) Coluna do Arco e (c) Zona de Queda Anódica. Fonte: LAB SEND (UFMG). 28 A tensão no arco, para um dado valor de corrente, pode ser obtida pela reta em função de la dada pela Equação 1 (como representado na Figura 15): 𝑉 = 𝑈𝑎 + 𝐸. 𝑙𝑎 + 𝑈𝑐 Segundo Bracarense (2013), a tensão do arco elétrico relaciona-se, além do comprimento do arco, com outras variáveis do processo como: composição e dimensão do eletrodo, gás de proteção, técnica de soldagem, extensão do eletrodo, comprimento dos cabos de soldagem – uma vez que a tensão de soldagem pode ser medida na máquina de soldagem. Contudo, mantendo-se todas as outras variáveis constantes, há relação direta entre a tensão do arco e o comprimento do mesmo. Na Figura 16, está apresentado o efeito da tensão de soldagem na penetração da solda. O efeito da tensão de soldagem é similar aos efeitos da velocidade de soldagem citados anteriormente. Há um aumento progressivo da penetração da solda com aumento da tensão de soldagem, até que se atinja um valor que promova penetração máxima da solda onde a partir dele, a penetração diminui com o contínuo aumento da tensão de soldagem. O fato é explicado pela estabilidade do arco, que no caso da Figura 16, possui valor ótimo de 24V, e garante o arco mais estável. A instabilidade do arco reduz a penetração da solda. Para a Figura 16, a maior penetração da solda foi obtida para tensão de 24 V, uma tensão maior ou menor reduz a penetração do cordão de solda (FONTES, 2005). Figura 16 - Efeito da tensão de soldagem na penetração da solda. Fonte: ESAB. 29 Partindo de um valor de tensão de arco, há tendência de achatamento do cordão de solda e aumento da largura da zona fundida com o aumento da tensão de soldagem. Valores excessivamente altos de tensão de arco podem levar ao surgimento de porosidade, respingos e mordedura. Quando o contrário ocorre, ao reduzir-se a tensão de soldagem, tem-se a formação de um cordão de solda estreito com coroa alta e elevada penetração. Quando tensões muito baixas são atingidas, pode haver contato do eletrodo com a poça de fusão, podendo o eletrodo solidificar-se na falta de uma corrente por curto-circuito. Vale ressaltar, a necessidade da realização de testes para alcance da tensão do arco que produza características adequadas para o arco elétrico e cordão de solda, uma vez que a tensão de arco ótima depende de vários fatores como: material a ser soldado, modo de transferência, espessura do metal, tipo de junta, posição de soldagem, tamanho e composição do eletrodo e tipo de solda (AWS HANDBOOK, 2004) Aporte térmico O aporte térmico corresponde á quantidade de calor adicionada a um material por unidade de comprimento linear. É usualmente representado em soldagem pela letra “E” cuja unidade usual é dado em kJ/mm (INFOSOLDA, 2018). Na soldagem por arco elétrico o valor de E, em kJ/mm, é dado pela Equação 2: 𝐸 = 𝜂. 𝑉. 𝐼 𝑣 Onde : • η é a eficiência de transferência; • V é a tensão em Volts, I é a corrente elétrica em Ampères; • ν é a velocidade linear de soldagem, em mm/s. O calor gerado no arco elétrico, por ser a principal fonte de energia do processos de soldagem por fusão, influencia o resultado final de uma junta soldada. A boa qualidade da união irá depender da quantidade e intensidade correta de energia aplicada aos processos de soldagem. O aporte térmico afeta diretamente as transformações metalúrgicas que ocorrem na solda, bem como governa os fenômenos mecânicos que ocorrem no material, em consequência 30 dos ciclos térmicos impostos ao material devido às temperaturas nos quais os mesmos são submetidos. O aporte térmico irá, então, influenciar as propriedades mecânicas finais das juntas soldadas. GMAW robotizado e novas tendências A soldagem robotizada é definida pela AWS (American Welding Society) como: “Soldagem com equipamento (robô, manipulador, etc.) que executa operações de soldagem, após programação, sem ajuste ou controle por parte do operador de solda”. A aplicação de robôs na soldagem vem crescendo rapidamente na indústria moderna de produção por automação. Especialmente, os processos GMAW e FCAW tem sido, segundo Marques et al 2009, os procedimentos de soldagem que apresentaram maior crescimento, em termos de utilização em robôs pela indústria, nos últimos anos, em escala mundial. Estes processos, devido às suas vantagens de aplicação, tornam-se, dentre os demais processos de soldagem a arco elétrico, os mais adequados à soldagem robotizada.Os Robôs na soldagem vêm sendo utilizados em uma vasta gama de aplicações industriais e seu uso é justificado pelos seguintes fatores: • Melhoria das condições de trabalho do ser humano, devido a eliminação de atividades de risco e insalubres de seu contato direto; • Diminuição de custos dos produtos fabricados por reduzir o número de pessoas envolvidas na produção, aumentar a produtividade (maior produção por quantidade de tempo) e melhorar a utilização de matéria-prima (redução de perdas, aumento de precisão e otimização do processo); • Realização de atividades pelo robô julgadas impossíveis de serem controladas manualmente ou intelectualmente pelo ser humano, como coordenar movimentos complexos e atividades muito rápidas. Na Figura 17 está apresentado a ilustração de um conjunto constituído por um manipulador mecânico e um painel de controle de um robô. De maneira geral, um manipulador é constituído de uma estrutura formada por seções rígidas, os elos, ligadas entre si por articulações, as juntas, propiciando ao sistema realizar movimentos diversos. Já o painel de controle, constitui a unidade de controle do robô responsável por gerenciar e monitorar os 31 parâmetros operacionais requeridos para realizar as tarefas do robô via CLP (Controlador Lógico Programável). De forma geral, estão presentes nos robôs: atuadores, sensores, efetuadores entre outros (FERREIRA, 2014). Figura 17 - Conjunto constituído por um manipulador mecânico e um painel de controle de um robô Fonte: TUSSET et al 2008. Vários trabalhos têm sido realizados com o objetivo de comprovar, via métodos comparativos, o melhor desempenho de uma solda realizada por robô frente a uma solda realizada por um soldador habilitado. Tusset et al 2008 realizou um estudo comparativo entre soldas MIG robotizada e MIG manual, com soldador qualificado segundo a Norma AWS D1.1, utilizando-se da análise de variância para peças preparadas com e sem chanfro, sendo capaz de verificar, por ensaios mecânicos, que os corpos de provas soldados por uma célula robotizada apresentam forças de ruptura mais elevadas, além de uma Zona Termicamente Afetada (ZTA) de menor dimensão em relação ao processo de soldagem MIG manual. Schio (2013), em seu trabalho de conclusão de curso, realizou uma análise comparativa entre soldagem manual e robotizada GMAW de 108 amostras de aço SAE 1020 soldadas com arame AWS ER70-S6, conforme especificação AWS A5.18 (2001), chegando à conclusão de que a solda realizada por robô é mais resistente e mais uniforme que a solda manual, passando a diferença da carga máxima de ruptura da ordem de 1000 Newtons. 32 Novos estudos sobre GMAW robotizado vem sendo desenvolvidos no sentido de melhorar o tempo de setup dos robôs e permitir mecanismos que propiciam o auto ajuste do estado da peça de trabalho, durante o processo de soldagem, permitindo assim, acomodar mudanças devido a distorções causadas pela distribuição desigual de calor, variabilidade do vão e bordas escalonadas. Nesse sentido, Xu et al (2017) apresentou um sistema robótico para o processo GMAW “ self-guided ”, baseado em um sensor de visão, sendo o robô capaz de verificar a natureza da soldagem em tempo real (Figura 18 e Figura 19). Foram realizados experimentos no qual a peça de trabalho foi aleatoriamente afastada cinco vezes durante o processo de soldagem utilizando o método de sensoriamento, onde o robô foi capaz de reajustar o ponto de contato do centro da costura com erro de 0.45 mm para mais ou para menos, fato que, segundo o próprio autor, vai de encontro aos requisitos necessários para a automação com a utilização de robôs na soldagem. Figura 18 - Sistema robótico para soldagem GMAW “ self-guided ”. Fonte : Xu et al 2017. 33 Figura 19 - Imagens dos testes realizados por Xu et al 2017 para verificação da precisão da soldagm GMAW “ self-guided ”. Fonte : Xu et al 2017. Tenacidade Chiaverini (1986, p.112) define tenacidade da seguinte forma: “A tenacidade corresponde à capacidade de o material deformar-se plasticamente e absorver energia antes da fratura.”. Já Callister (2007, p.111), define tenacidade como: “A tenacidade é uma medida da habilidade de um material em absorver energia até a sua fratura.” Callister (2007) explica que na presença de um entalhe (concentrador de tensão) e para condições de carregamento dinâmico (elevada taxa de deformação), a tenacidade ao impacto é medida pelo uso de um ensaio de impacto. Já a tenacidade à fratura, indicada pela resistência do material a fraturar em termos da propagação de uma trinca presente no mesmo, utiliza-se dos conceitos da mecânica da fratura para sua caracterização. Ainda segundo CALLISTER (2007), em situações em que haja pequenas taxas de deformação, estáticas, pode-se determinar a tenacidade de um metal a partir dos resultados de um ensaio de tração, no qual a área sob a curva tensão x deformação até o ponto de fratura representa a tenacidade. A unidade utilizada para tenacidade possui dimensão de energia por unidade de volume do material, mesma unidade para a propriedade mecânica resiliência. 34 Para que um material seja considerado tenaz, deve ser tanto resistente (em termos mecânicos) quanto dúctil. Sendo que matérias dúcteis apresentam maiores valores de tenacidade que os matérias frágeis. Dessa forma, embora matérias frágeis apresentem valores maiores para limite de escoamento e limite de resistência a tração, os mesmos são menos tenazes que os matérias dúcteis, em virtude da sua falta de ductilidade. Esse fato, pode ser observado pela comparação das áreas ABC e AB’C’ da Figura 20. Figura 20 – Comportamento tensão x deformação para matérias frágeis e materiais dúcteis carregados até fratura. Fonte : Callister (2007), adaptado. Uma série de fatores influenciam a tenacidade de um aço, como por exemplo: microestrutura, temperatura de operação, velocidade de deformação, estado de tensão dentre outros. Um material pouco tenaz é suscetível a sofrer fraturas instáveis com um grau de deformação plástica, visível, baixo - fratura frágil - podendo ocorrer de maneira inesperada e instantânea para níveis de tensão relativamente baixos, a valores inferiores ao limite de escoamento do material. A tenacidade se torna um fator importante a ser considerado na fabricação de uma vasta gama de estruturas e materiais soldados, principalmente estruturas que necessitam manter sua integridade a baixas temperaturas. Sendo assim, a compreensão dos fatores controladores da tenacidade, que se relacionam com as demais propriedades mecânicas e metalúrgicas da solda, na estrutura do metal de solda 35 se faz necessária, uma vez que a integridade das juntas soldadas possui relação com esta propriedade. Tenacidade em juntas soldadas Estruturas soldadas estão presentes em uma vasta gama de aplicações em engenharia. Soldas são utilizadas em tubos, vasos de pressão, plataformas de petróleos etc. As soldas são regiões críticas de uma estrutura, no que diz respeito à nucleação e propagação de trincas, devido à concentração de defeitos tais como: falta de fusão, vazios e segregação. Além disso, juntas soldadas apresentam uma microestrutura altamente heterogênea. Silva (1998) apud Hadley e Dawes (1996), explica que há um contratempo nos ensaios de caracterização da tenacidade à fratura devido à ocorrência de tensões residuais presentes na junta como soldada. Há tendência de influência no crescimento da pré-trinca, levando-o também a ser desigual. As tensões residuais presentes em soldas tambémafetam a tenacidade do material ao ponto de causar a necessidade da utilização de técnicas de alívios de tensões anteriormente à realização dos ensaios em soldas. Silva (1998), ressalta ainda que não há normas para os ensaios de tenacidade à fratura que referenciam os problemas específicos com os ensaios de juntas soldadas, sendo o know- how destes conhecimentos específicos, de laboratórios de pesquisa e parte das industrias atuantes nesta área. A tenacidade à fratura das soldas pode ser afetada por diversos fatores tais como: processo de soldagem e consumíveis utilizados, espessura da junta, temperatura de interpasse, aporte térmico, configuração da junta, tratamento térmico pós soldagem, dentre outros. Sendo assim, a principal atenção requerida para os ensaios de tenacidade à fratura em juntas soldadas é a aproximação da representatividade da estrutura de interesse. Nesse sentido, deve-se aproximar ao máximo a espessura do corpo de prova da espessura da chapa. Devido à heterogeneidade microestrutural das soldas, sua tenacidade pode variar notavelmente a curtas distâncias. Desta forma, localizar corretamente o entalhe e a pré-trinca é de suma importância para os testes. No geral, procura-se determinar a tenacidade à fratura das regiões mais frágeis da solda, que varia de material para material de acordo com a microestrutura formada, tamanho de grão 36 e região intercrítica da ZTA (Zona afetada termicamente pelo calor). A identificação das regiões de baixa tenacidade da solda pode ser feita com auxílio de ensaios de microdureza, uma vez que alta dureza, geralmente, relaciona-se com comportamento frágil (SILVA,1998). Ensaio de tenacidade ao impacto O ensaio de impacto é um ensaio dinâmico para análise de materiais capaz de fornecer a energia necessária para a fratura de uma amostra padronizada. Há basicamente duas formas de ensaios de impacto, o Charpy e o Izod, sendo o último pouco comumente utilizado nos dias de hoje. Ambos os ensaios seguem a padronização de normas como a ASTM E23 e AWS ASME II – parte C entre outras (COSTA, 2014 apud GARCIA et al 2013). Os corpos de prova para o ensaio Charpy são os mais comumente utilizados para avaliação da tenacidade ao impacto de materiais por serem de fácil usinagem, econômicos e por apresentarem uma análise simples e rápida dos resultados. Possuem seção transversal quadrada ou retangular no qual um entalhe é usinado. Compreendem três subtipos (A,B,C) de acordo com a forma do entalhe (Figura 21). O entalhe a ser usinado deve obedecer às tolerâncias dimensionais estabelecidas nas normas para que a reprodutibilidade dos testes realizados seja garantida, uma vez que variações dimensionais do entalhe afetam diretamente os resultados. Dos três tipos de entalhes apresentados o tipo C é o mais severo por apresentar maior área de entalhe. 37 Figura 21 - Corpos de prova de impacto, conforme a norma ASTM E23. (a) corpo de prova do ensaio Charpy e (b) localização do corpo de prova no ensaio Charpy e (c) Izod. Fonte: Apostila SENAI (2018). O ensaio de impacto Charpy tem como princípio de operação a liberação de um martelo pendular de uma posição conhecida (altura H). Em seguida, o martelo é solto e colide com o corpo de prova posto a uma altura h, levando-o ao seu rompimento na região do entalhe. A energia absorvida (EA), pela amostra após o impacto poder ser calculada multiplicando-se a diferença de altura (H-h) pelo peso do martelo (W)(Figura 22). A medição da energia absorvida no impacto é feita por meio do cursor que acompanha o martelo em todo seu curso até seu retorno, indicando a diferença de energia entre o estado inicial e final (COSTA, 2014). Fortes (2013) salienta que após o ensaio, além da energia absorvida, pode-se medir a expansão lateral (em mm) e a aparência da fratura (em %). Além disso, é inerente aos ensaios de impacto Charpy a dispersão de resultados. Por isso, um resultado de ensaio Charpy é considerado normalmente como a média de três ensaios executados à uma mesma temperatura ou, em alguns casos, realiza-se cinco ensaios a uma mesma temperatura, despreza-se os valores máximos e mínimos e toma-se como resultado a média dos três valores intermediários. Tanto Costa (2014) quanto Callister (2007) salientam ainda que os resultados gerados no ensaio de impacto fornecem apenas uma indicação qualitativa da tenacidade, sendo válidos 38 apenas para comparar materiais entre si ou com valores determinados em uma especificação. Os resultados gerados pelo ensaio Charpy – valores absolutos - possuem pouca utilidade para fins de projeto. Os resultados obtidos para tenacidade ao impacto não são completamente iguais aos resultados obtidos por ensaios de tenacidade à fratura. Porém, há uma tendência de aproximação assim como da temperatura de transição. A diferença entre ensaio de tenacidade ao impacto e tenacidade à fratura consiste no fato de que os corpos de prova Charpy não são capazes de reproduzirem o estado tri axial das tensões nem deformação da ponta da trinca. Além disso, não há garantia de crescimento da trinca sobre a região de interesse devido ao grande raio do entalhe dos corpos de prova. Para medidas quantitativas mais precisas recomenda-se utilizar ensaios de tenacidade à fratura, tais como CTOD e integral-J (DIAZ, 2016). Figura 22 - Representação esquemática de um equipamento utilizado para ensaio Charpy. Fonte: COSTA, 2014. 39 Ensaio de Tração O ensaio de tração é padronizado conforme a norma ASTM E8/E8M. Segundo CALLISTER (2007), esse teste consiste em deformar um corpo de prova padronizado, geralmente até a sua fratura, mediante a aplicação de um carregamento de tração acrescido de maneira gradativa e aplicado de forma uniaxial ao longo do eixo principal do corpo de prova (eixo de maior comprimento). O corpo de prova mais comumente empregado nos ensaios de tração possuem seção reta circular (AWS HANDBOOK, 2004). Porém, há a possibilidade da utilização de corpos de prova retangulares. Na Figura 23 está apresentado o corpo de prova padrão para ensaios de tração com seção reta retangular e circular. Figura 23 - Corpo de prova padrão para ensaios de tração com seção reta retangular e circular. Fonte: ASTM E8/E8M. A máquina utilizada nos ensaios de tração (Figura 24) é projetada para provocar o alongamento dos corpos de prova a uma taxa constante, além de medir de maneira contínua e simultânea, por meios de uma célula de carga, a carga instantânea aplicada e os alongamentos resultantes, por extensômetria. Os resultados do ensaio de tração são obtidos por um registrador 40 gráfico, ou computador, apresentando como resultado a relação carga ou força em função do alongamento. O ensaio de tração é amplamente utilizado na engenharia para avaliação das propriedades mecânicas dos materiais, sendo possível obter por meio deste ensaio o limite de resistência a tração e de escoamento, módulo de elasticidade, ductilidade ( entre outros). Figura 24 – Máquina para ensaio de tração. Fonte: edisciplinas.usp.br.(2018). Tratamento térmico pós-soldagem e influência na tenacidade da solda O tratamento térmico em metais é um conjunto de operações envolvendo aquecimento, tempo de permanência em determinadas temperaturas e resfriamento sob condições controladas. Têm-se o objetivo de melhorar as propriedades do material ou conferir-lhe características pré- determinadas (INFOSOLDA, 2018). Os principais tipos de tratamento térmico associados a soldagem são: recozimento; normalização; revenimento;solubilização; têmpera, pré-aquecimento; pós-aquecimento e alívio de tensões. Para os aços, o tratamento térmico de alívio de tensões é o mais empregado. Consiste no aquecimento abaixo da temperatura crítica de transformação, permanência por um dado período de tempo (geralmente proporcional ´à espessura do material) e resfriamento lento 41 posterior. Como efeito, as tensões prejudiciais provocadas pelas operações de soldagem são reduzidas a um limite mínimo e aceitável, levando a benefícios como : aumento de ductilidade, redução da dureza e melhorias das condições metalúrgicas da zona afetada pelo calor. O alivio de tensões depende fundamentalmente da temperatura e do tempo de permanência nessa temperatura (INFOSOLDA, 2018). Monteiro (2014), apud Jorge et al (2007), explica que o tratamento térmico pós soldagem contribui positivamente para a tenacidade de juntas soldadas, fato justificado pela ação combinada do alívio de tensões e revenimento da martensita. No trabalho de Couto et al (2014), o tratamento térmico pós soldagem provocou uma eventual redução da tenacidade dos metais de solda de aços de alta resistência devido à precipitação de carbetos em contornos de grão de austenita, mesmo havendo a decomposição dos constituintes A-M e revenimento da microestrutura. O fato, segundo Monteiro (2014), evidencia a importância da composição química do consumível utilizado, sendo o teor de Manganês – além de seu balanço com o teor de níquel – governante dos valores de resistência mecânica e tenacidade das soldas. 42 4. METODOLOGIA A seguir, é apresentado a metodologia aplicada neste trabalho, bem como os ensaios propostos, materiais e equipamentos utilizados. Metal de base Como o objetivo do trabalho é verificar a tenacidade ao impacto e resistência mecânica de soldas comercialmente utilizadas , foram utilizadas duas chapas de aço carbono ASTM A36 com as dimensões de 3/4” (19mm) de espessura, 250 mm de largura e 250 mm de comprimento, as quais foram bipartidas para realização da soldagem. A utilização do ASTM A36 pela indústria é justificada pelo fato do mesmo ser um aço de boa conformabilidade e excelente soldabilidade. O ASTM A36 é mais comumente aplicado no campo estrutural sendo utilizado em pontes, estrutura de equipamentos, edifícios, plataformas etc. Nas Tabela 02 e Tabela 03 estão apresentados, respectivamente, a composição química e as propriedades mecânicas do aço ASTM A36, estabelecidas em norma. Tabela 02 - Composição química (% em peso ) do aço ASTM-A36. Composição Química (%) C máximo 0,28 Mn 0,60-0,90 P máximo 0,04 S máximo 0,05 Si máximo 0,04 Cu mínimo 0,2 Fonte: Adaptado da norma ASTM A 36 (2008). Tabela 03 - Propriedades mecânica do aço ASTM-A36. Propriedades Mecânicas Limite de escoamento (Le) 250MPa Limite de ruptura (Lr) (400-550) MPa Alongamento 23% Fonte: Adaptado da norma ASTM A 36 (2008). 43 Consumíveis O arame-eletrodo utilizado foi o arame sólido OK AristoRod 12.50 S, correspondente a classificação AWS ER70S-6, com diâmetro de 1,2 mm, não cobreado, de baixo teor de carbono. O mesmo, é indicado para soldagens mecanizadas e robotizadas, destinando-se a soldagem de aços não ligados, para o campo da construção em geral, fabricação Naval e Offshore e na indústria automotiva (ESAB, 2018). Na Tabela 04 está apresentado a composição química do arame. Tabela 04 - Composição química (% em peso) do arame AWS ER70S-6. Composição Química (%) C Mn Si P S Ni Cr Mo V Cu Ti Zr Al 0,06 a 0,15 1,40 a 1.85 0,80 a 1,15 0,025 0,035 0,15 0,15 0,15 0,03 0,50 - - - Fonte: AWS ASME II – parte C. O gás de proteção utilizado foi o dióxido de carbono em argônio (CORGON 20 - 80 Ar/20CO2 ), Figura 25,como indicado pelo catálogo do fabricante do arame eletrodo. Na Tabela 05 estão apresentados as propriedades típicas de tensão para condição como soldado do ER70S- 6. Figura 25 - Cilindro do gás de proteção utilizado. Fonte: próprio autor. 44 Tabela 05 - Propriedades mecânicas do AWS ER70S-6 na condição como soldado. Alongamento Gás de proteção Limite de escoamento Resistência a tração 28% EM 80Ar/20CO2 370 Mpa 540 Mpa Fonte: ESAB, 2018. Equipamento de soldagem Para a realização deste trabalho, utilizou-se célula de soldagem robotizada da marca comercial Panasonic, modelo TM-1400WIII, Figura 26. O equipamento constitui-se, basicamente, de manipulador (robótico), fonte de soldagem, controlador programável, cabeçote alimentador de arame, tocha de soldagem refrigerada e unidade de refrigeração . O manipulador possui 6 eixos articulados e conta com sistema WeldNavigation que permite fácil parametrização de soldagem. Figura 26 - Robô de solda Panasonic TM-1400WIII utilizado para soldagem. Fonte: Panasonic, modicado pelo autor. 45 Planejamento experimental Na Figura 27 está apresentado, de maneira esquemática, as etapas e procedimentos práticos realizados para o desenvolvimento do trabalho. Fonte: Próprio autor. 4.4.1. Preparação das chapas para soldagem Para a etapa de preparação das chapas de aço ASTM A36 objetivando o procedimento de soldagem, foi necessário realizar o corte das mesmas (bipartição), com o auxílio de uma serra de fita (marca Diplomat) de forma a obter-se 4 chapas de dimensões 250x125x19 mm, Figura 28. Figura 27 - Fluxograma do desenvolvimento do planejamento experimental. 46 Na sequência, com o auxílio de uma máquina fresado (Figura 29), usinou-se os chanfros em V, necessários para soldagem em múltiplos passes e obtenção dos corpos de prova. Figura 28 - Caracterização geométrica do chanfro realizado. Fonte: Próprio autor. Após a usinagem do chanfro, as chapas de ASTM A36 foram jateadas à areia nas regiões a receberem as soldas, procedimento necessário para promover a remoção de óxidos. Visto a abertura de raiz de 13 mm (estabelecida na norma AWS ASME II – parte C), foi necessário a utilização de cobrejunta. Optou-se por utilizar uma chapa base metálica como cobre junta. Foi utilizado chapas de mesma composição química das chapas teste. As chapas base também foram jateadas para eliminação de impurezas. Os equipamentos utilizados para usinar, limpar e cortar as peças de trabalho são apresentados na Figura 29. 47 Figura 29 - Máquina fresadora utilizada (A), Jateadora de areia (B) e serra de fita (C). Fonte: Próprio autor. 4.4.2. Procedimento de soldagem Testes preliminares foram realizados para definição dos parâmetros de soldagem. Buscou-se para promover cordões de solda com aspectos visuais padrões, evitando-se ao máximo a ocorrência de defeitos nas soldas. Vale ressaltar que os parâmetros de soldagem foram determinados dentro das faixas especificadas pelo fabricante do arame-eletrodo (corrente, tensão, velocidade de soldagem , stickout e velocidade de alimentação do arame). A soldagem realizada foi do tipo robotizada para preenchimento de chanfro com múltiplos passes de solda. A mesma foi efetuada na posição plana, utilizando-se da técnica puxando, com a tocha levemente inclinada em relação a parede do chanfro. Os parâmetros de soldagem utilizados em cada camada de solda depositada foram selecionados e ajustados a cada cordão depositado, de acordo com a necessidade no momento da execução das soldas. Para a soldagem das peças de estudo, as mesmas foram fixadas sobre a mesa metálica, por meio de grampos tipo “C”. A fixação foi necessáriapara amenizar os efeitos das distorções sobre as chapas. 48 Na Figura 30 apresenta-se o posicionamento e fixação das chapas bem como o sentido de deposição dos cordões de solda. Figura 30 - Fixação do primeiro par chapas e sentido de soldagem. Fonte: Próprio autor. Conforme será apresentado posteriormente, para o primeiro para par de chapas foram necessários 17 cordões de solda para preenchimento do chanfro. Todos os cordões foram depositados no mesmo sentido apresentado na Figura 30. Com o término de cordão depositado, realizava-se inspeção visual e limpeza da chapa com escova de aço. Para a soldagem do segundo par de chapas, buscou-se reproduzir os procedimentos executados na soldagem do primeiro par de chapas. Foram utilizados as mesmas sequencias de movimentos do robô, parâmetros de soldagem, disposição dos cordões para preenchimento do chanfro e posição de fixação das chapas sobre a mesa metálica. Foram depositados 16 cordões de solda conforme será apresentado posteriormente. Na Figura 31, está apresentado o segundo par de chapas sobre a mesa metálica. 49 Figura 31 - Fixação do segundo par de chapas. Fonte: Próprio autor. 4.4.3. Ensaio de impacto Charpy Foram extraídos das chapas soldadas, no sentido transversal ao material de solda, como exposto na Figura 32, um total de 8 corpos de prova para ensaio de Charpy-V. As amostras foram obtidas por meio da utilização de métodos convencionais de usinagem, como apresentado na Figura 33, baseando-se na norma AWS B4.0:2007 para a caracterização geométrica dos mesmos. Na Figura 34 apresentam-se as dimensões dos corpos de prova de Charpy utilizados no trabalho. 50 Figura 32 – Disposição dos corpos de prova extraídos das chapas. Fonte : Próprio autor. Figura 33 – Etapas de usinagem dos corpos de prova. As figura apresentam o desbaste da chapa teste (1 e 2) e início do acabamento (30). Fonte: próprio autor. 51 Figura 34 – Dimensões dos corpos de prova para ensaio de Charpy. Fonte: Modificado da AWS B4.0:2007. O ensaio de tenacidade ao impacto foi realizado no laboratório de ensaios mecânicos da empresa ESAB, por meio de máquina de impacto universal para teste Charpy, marca Losenhausenwerk. Foram efetuados 8 ensaios para 3 condições - corpos de prova na condição como soldado (2 ensaios); tratados termicamente por 1h (3 ensaios) e tratados termicamente por 10,5 horas (3 ensaios). Para todas as condições mediu-se a tenacidade das amostras a -30 °C. O resfriamento do corpo de prova foi obtido por meio de mistura de álcool e gelo seco, técnica que permite alcançar temperaturas de até 60 °C negativos. O tempo máximo para romper o corpo de prova após o resfriamento foi de 5 segundos. Na Figura 35 está apresentada a máquina utilizada para ensaio de Charpy e a técnica para resfriamento dos corpos de prova sendo aplicada. 52 Figura 35 – Máquina de Charpy do laboratório de ensaios mecânicos da ESAB (A) e resfriamento dos corpos de prova (B). Fonte : próprio autor. 4.4.4. Ensaio de tração Utilizou-se para a confecção dos corpos de prova referentes ao ensaio de tração duas normas: a ASTM E8/E8M e AWS B4.0: 2007. Os mesmos foram retirados longitudinalmente ao material de solda, como apresentado pela Figura 32 , sendo, portanto, constituídos em suas totalidades por material de solda, uma vez que o ensaio de tração foi utilizado para verificar as propriedades mecânicas do material de solda. Os corpos de prova usinados do primeiro par de chapas foram de seção reta retangular, conforme estabelecido na norma ASTM E8/E8M. A caracterização geométrica dos corpos de prova retangulares é apresentada na Figura 36. 53 Figura 36 - Dimensões dos corpos de prova retangular para ensaio de tração. Fonte: ASTM E8/E8M , modificado (2018). O corpo de prova extraído do segundo par de chapas foi de secção cilíndrica conforme estabelecido pela a AWS B4.0: 2007. As dimensões apresentadas pela Figura 37 correspondem às de um corpo de prova reduzido estabelecido em norma. Figura 37 – Dimensões do corpo de prova cilíndrico utilizado para o ensaio e tração. Fonte : AWS B4.0: 2007, modificado (2018). O ensaio de tração foi realizado no laboratório de ensaios mecânicos da empresa Esab. A máquina utilizada para o ensaio de tração foi da marca Losenhausenwerk, equipada com sistema de aquisição de dados. Na Figura 38 apresenta-se a máquina universal para ensaio de tração utilizada no trabalho. 54 Figura 38 – Máquina para ensaio de tração. Fonte: Próprio autor. 4.4.5. Tratamento térmico pós-soldagem Para o tratamento térmico pós-soldagem dos corpos de prova foi utilizado forno da marca Jung do tipo mufla. O qual, pode alcançar temperaturas de até 1000 °C e é equipado com programador de temperatura J300, digital, com sistema PID – proporcional integral derivativo. Na Figura 39 está apresentado o forno utilizado para o tratamento térmico dos corpos de prova, bem como suas especificações técnicas. O forno utilizado permite programar até 9 segmentos (rampas e/ou patamares): a temperatura que o forno deve atingir (set point), em quanto tempo deve chegar nesta temperatura (rampa) e o tempo em que ele deve permanecer na mesma (patamar). 55 Figura 39 – Forno Jung tipo mufla e especificações técnicas. Fonte : Próprio autor e site JUNG (2018). Realizou-se tratamento térmico pós-soldagem em 6 seis corpos de prova para teste Charpy e 2 corpos de prova para ensaio de tração, objetivando o alívio de tensões. Foram realizados dois tipos de tratamento térmicos: a) Condição A – aquecimento a 620 °C por 10,5 hora (primeiro par de chapas); b) Condição B – aquecimento a 620 °C por 1 horas (segundo par de chapas). Na condição A, os corpos de prova (3 para teste de Charpy e 1 para tração), foram submetidos a uma temperatura de 620 °C por 10,5 horas, aquecidos à taxa de 9 °C/min. A temperatura inicial foi de 30 °C. O resfriamento ocorreu de forma lenta e uniforme até a temperatura ambiente com o forno desligado e a chaminé aberta. Na Figura 40 está apresentado de forma esquemática a condição A analisada. 56 Figura 40 – Parâmetro para tratamento térmico dos corpos de provas extraídos do primeiro par de chapas. Fonte : ESAB adaptado (2018). Para a condição B de tratamento térmico, os corpos de prova (3 para teste de Charpy e 1 para tração) adotou-se temperatura 620 °C, 1 hora de tempo de patamar e taxa de aquecimento de 9 °C/m. A temperatura inicial do tratamento térmico foi de 24 °C e, para o resfriamento, adotou-se o mesmo procedimento adotado na condição A. Na Figura 41 apresenta-se, de forma esquemática, a condição B de tratamento térmico analisada. Figura 41 – Parâmetro para tratamento térmico dos corpos de provas extraídos do segundo par de chapas. Fonte : ESAB adaptado (2018). 57 5. RESULTADOS E DISCUSSÕES Soldagem das chapas Na Figura 42 são apresentadas as duas chapas de teste soldadas . Figura 42 – Resultado do procedimento de soldagem para o primeiro par de chapas (A) e segundo par de chapas (B). Fonte : próprio autor. Destaca-se que os cordões de solda depositados apresentaram aspecto visuais padrões sem ocorrência de defeitos aparentes. Ao final da soldagem, as chapas apresentaram-se levemente distorcidas, o que não representou um problema para extração dos corpos de prova. O posicionamento
Compartilhar