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SEMIOLOGIA DO SISTEMA URINÁRIO 1 ANATOMIA E FISIOLOGIA A principal função dos rins é manter o volume e a composição química dos líquidos do organismo dentro de limites adequados ao funcionamento das células. Por essa razão, diz-se que a função dos rins é manter a ho- meostasia, a constância do meio interno. Os rins também participam eficientemente da ex- creção de fármacos e de seus metabólitos; paralelamente, eles secretam hormônios que participam na regulação da he- modinâmica renal e sistêmica na produção de glóbulos vermelhos, na regulação de cálcio, fósforo e no metabo- lismo ósseo. Os ureteres são condutos que levam a urina dos rins à bexiga. A bexiga é um órgão muscular arredondado, localizado na pelve, que serve de depósito temporário para a urina, continuamente for- mada pelos rins. Quando a urina ultrapassa os limites fisiológicos da capacidade de armazenamento da bexiga, é eliminada através da uretra. 1.1 RINS São órgãos glandulares, com o formato de fei- jão, com a parte convexa voltada para fora e a côncava, chamada hilo renal, para a linha mediana. Localizam-se de cada lado da coluna vertebral, no espaço retroperito- neal, justapostos à fáscia que reveste a parede abdomi- nal posterior. O rim do adulto mede aproximadamente 11 cm de comprimento, 3 cm de espessura e 5 cm de largura, 2 | SEMIOLOGIA DO SISTEMA URINÁRIO ocupando, longitudinalmente, o espaço entre a 12ª vértebra torácica e a 3ª lombar; o direito ocupa uma posição cerca de 1,5 cm mais baixa que o esquerdo. Irrigação arterial: artérias renais, origi- nadas da aorta. Drenagem venosa: veias renais, que de- sembocam na cava inferior. Inervação: plexo renal, que consiste em fibras simpáticas e parassimpáticas. Porção mais externa: córtex renal. Porção interna: medula renal. Os dois rins têm em torno de 2.400.000 unidades funcionais, chamadas néfrons, cada néfron compõem-se de glomérulo, túbulos contorcidos, alça de Henle e tubo coletor. Fluxo 4X maior que nas coronárias. Fluxo sanguíneo renal: 1.200 ml/min. Ultrafiltrado processado pelos túbulos renais: 180 l/dia. 1.2 URETERES, BEXIGA E URETRA A bexiga é um órgão muscular oco, formando cavidade virtual, situada no assoalho pél- vico e que se continua com a uretra. A localização da bexiga na primeira infância é abdominal, assumindo progressivamente localização pélvica à medida que a criança se desenvolve. O as- soalho pélvico lhe serve de suporte. A parede da bexiga é formada por uma rede entrelaçada de tecido muscular, cujas fibras se orientam para formar o colo vesical. Este se constitui das fibras musculares que ultrapassam o orifício vesical e continuam na uretra. Na base da bexiga, encon- tra-se o músculo trigonal, que exerce importante papel no esvaziamento vesical. O interior da bexiga é revestido por epitélio de tipo transicional, desprovido de glândulas mucosas. A uretra constitui o conduto para eliminação da urina. No homem, serve também para ejaculação e eliminação de secreções prostáticas. SEMIOLOGIA | 3 1.3 FISIOLOGIA RENAL Os rins exercem inúmeras funções. A principal delas é manter o volume e a composição química dos líquidos corporais dentro de limites adequados à função celular. A parada súbita da função renal coloca o indivíduo em perigo de morte, pois logo é prejudicado o funciona- mento das funções de diversos outros órgãos e sistemas (coração, sistema nervoso, pulmões etc.) Os rins também apresentam funções endócrinas e, deste modo, participam de outros mecanismos essenciais de manutenção da vida. Assim, atuam no controle da pressão arterial pela produção da renina, que irá induzir a síntese da angiotensina II, um potente agente vaso- constritor e importante estímulo para a secreção de aldosterona e para desencadear o mecanismo da sede. O tecido renal é o principal local para a síntese da eritropoetina, hormônio que regula a produção de hemácias pela medula óssea. Aldosterona: estimula a absorção de sódio e secreção de íons potássio e hidrogênio pelo néfron distal, resultando em reabsorção de água e em regeneração de bicarbonato para a manu- tenção acidobásica, respectivamente. Hormônio antidiurético (ADH): promove a expressão de aquaporinas, canais de água, na membrana luminal do tubo coletor, possibilitando a absorção passiva de água Hormônio paratireoidiano (PTH): atua no túbulo proximal, ampliando a síntese intrace- lular do AMP-cíclico e, deste modo, aumentando a absorção de cálcio e de magnésio e inibindo a absorção de fos- fato e de bicarbonato. 4 | SEMIOLOGIA DO SISTEMA URINÁRIO 2 EXAME CLÍNICO 2.1 ANAMNESE Ficar atento às manifestações, as quais a maioria dos pacientes não relaciona com lesão renal, porém acontecem nas afecções nas quais este órgão vai sendo lesado insidiosamente até surgir grave deterioração renal. Surgem astenia, náuseas, vômitos, anorexia, anemia e irritabi- lidade neuromuscular. Em contrapartida, sintomas como dor lombar (alterações na coluna), poliúria (hipergli- cemia) e hematúria (distúrbio de coagulação), são atribuídos aos rins pelos pacientes como de- corrência de lesão renal. 2.2 SINAIS E SINTOMAS As manifestações das doenças do sistema urinário incluem alterações da micção e do volume, alterações da cor da urina, dor, edema, febre e calafrios. 2.2.1 Alterações da Micção e do Volume Urinário Em condições normais ® 700 a 2.000 ml/dia. Capacidade normal da bexiga ® 400 a 600 ml. • As alterações do volume compreendem a oligúria, a anúria e a poliúria; • Enquanto a disúria, a urgência, a polaciúria, a hesitação, a noctúria, a retenção urinária, a incontinência e a piúria compreendem as alterações da micção. Oligúria ® diurese inferior de 400 ml/dia ou < 20ml/h Excreção de um volume de urina inferior às necessidades de excreção de solutos. Geralmente decorre de redução do fluxo sanguíneo renal (desidratação, hemorragia, in- suficiência cardíaca) ou por lesões renais (glomerulonefrite aguda, necrose tubular aguda). Anúria ® v. urinário < 100ml/24h Pode ocorrer na obstrução bilateral das artérias renais ou dos ureteres, na necrose corti- cal bilateral e insuficiência renal aguda (IRA) grave. SEMIOLOGIA | 5 Poliúria ® v. urinário > 2.500 ml/dia Pode ser por diurese osmótica, decorrente da excreção de um volume aumentado de solutos, determinando maior excreção de água (diabetes mellitus descompensada), ou por inca- pacidade de concentração urinária (diabetes insípido, hipopotassemia). Disúria Micção associada a sensação de dor. Ocorre na cistite, prostatite, uretrite, traumatismo geniturinário, irritantes uretrais e reação alérgica. Urgência Necessidade súbita e imperiosa de urinar. Polaciúria ® freq. miccional sem do v. urinário. Sintomas provocados por redução da capacidade da bexiga, dor à distensão vesical ou por comprometimento da uretra posterior. Decorrem de várias causas, tais como infecção, cál- culo, obstrução, alterações neurológicas e em várias condições psicológicas e fisiológicas, prin- cipalmente o frio e a ansiedade. Hesitação Dificuldade para iniciar a micção, paciente precisa fazer esforço maior. Geralmente obs- trução do trato de saída da bexiga. Nictúria ou Noctúria Necessidade de esvaziar a bexiga durante a noite, pelo menos mais de uma vez. Reflete a perda da capacidade de concentrar a urina, como ocorre na fase inicial a insu- ficiência renal crônica, também na insuficiência cardíaca e hepática, que retêm líquido durante o dia e quando deitam ele volta a circulação. Incontinência urinária Eliminaçãoinvoluntária de urina. Normal em crianças de até 1,5 anos, também ocorre na bexiga neurogênica, nas cistites etc. Incontinência paradoxal: a hipertrofia prostática impede a passagem de urina até que o acúmulo de líquido aumente a pressão intravesical o suficiente para vencer a resistência inter- posta pela uretra prostática. 6 | SEMIOLOGIA DO SISTEMA URINÁRIO 2.2.2 Alterações da Cor e Aspecto da Urina A urina normal é transparente e tem uma tonalidade que varia do amarelo-claro ao ama- relo-escuro, conforme esteja diluída ou concentrada. As principais alterações da cor e aspecto da urina são a ocorrência de urina avermelhada (hematúria, hemoglobinúria, mioglobinúria e porfirinúria) e urina turva, outra condição em que a cor da urina se altera. 2.2.2.1 Urina Avermelhada Hematúria: sangue na urina. Pequena quantidade de sangue tinge a urina de marrom-escuro (cor de "Coca-Cola'') quando o pH é ácido. Na urina alcalina, a hemoglobina conserva sua cor vermelha viva por mais tempo. É importante determinar se a hematúria é total, inicial ou terminal. Urina uniformemente tingida de sangue (hematúria total) indica que a origem do san- gramento é renal ou ureteral, ou, então, das paredes da bexiga, acima do colo vesical. Sangramento originário do colo vesical, próstata ou uretra posterior ocasiona hematúria inicial ou terminal. Hematúria inicial, entretanto, é mais comumente associada a lesões situadas entre a ure- tra distal e o colo vesical. Se o local do sangramento for anterior ao esfíncter vesical, pode manchar a roupa íntima, independentemente da micção. Já a hematúria terminal está associada mais comumente a lesões do trígono vesical. Os sintomas que acompanham a hematúria são importantes para o diagnóstico de sua causa. Exemplos: hematúria com febre, calafrios e disúria sugerem infecção urinária, enquanto a ocorrência de cólica renal sugere litíase urinária. Hemoglobinúria é a ocorrência de hemoglobina livre na urina, condição que acompanha as crises de hemólise intravascular (malária, leptospirose, transfusão incompatível, icterícia he- molítica). Mioglobinúria decorre da destruição muscular maciça por traumatismos e queimaduras, e após exercícios intensos e demorados como maratonas e nas crises convulsivas. Porfirinúria é consequência da eliminação de porfirinas ou de seus precursores, os quais produzem coloração vermelho-vinhosa da urina, algumas horas depois da micção. Convém lembrar que a beterraba e alguns medicamentos podem tingir a urina de vermelho. SEMIOLOGIA | 7 2.2.2.2 Urina Turva Sendo uma solução supersaturada, algumas horas após emitida e guardada em um vaso, a urina pode apresentar precipitação de diversos tipos de cristais (cristalúria), sendo mais fre- quentes os de ácido úrico, oxalato de cálcio e uratos amorfos, quando a urina é ácida, e, quando a urina for alcalina, carbonatos e fosfatos de cálcio. Este tipo de urina turva pode predispor a urolitíase. Urina turva, formando depósito esbranquiçado e quase sempre com odor desagradável, está associada à infecção urinária, seja cistite, pielonefrite, abscesso renal, perirrenal, uretral ou prostático. Piúria ocorre quando há quantidade anormal de leucócitos na urina, que pode conferir aspecto turvo a esta. Com frequência, os pacientes apresentam piúria e disúria simultaneamente. Uma causa rara de urina turva é a obstrução de ductos linfáticos. Neste caso, a linfa, ao ser drenada para a pelve renal, origina quilúria, assumindo a urina uma coloração esbranquiçada e opalescente. Dentre as causas de quilúria encontram-se a filariose, a tuberculose e as neopla- sias. Causas de hematúria 8 | SEMIOLOGIA DO SISTEMA URINÁRIO 2.2.2.3 Urina com Aumento da Espuma Decorre da eliminação aumentada de proteínas na urina, presente em glomerulonefrites, nefropatia diabética, nefrites intersticiais. A hiperfosfatúria também pode determinar essa alte- ração. Entretanto, mais comumente, é causada por urina muito concentrada associada a um fluxo rápido do jato urinário. 2.2.2.4 Dor Dor lombar e no flanco O parênquima renal é insensível, não ocasionando dor. Contudo, a distensão da cápsula renal dá origem a tal dor, que é per- cebida na região lombar e no flanco, por ser comum a inervação com esta parte do tronco. A dor é descrita como uma sensação pro- funda, pesada, de intensidade variável, fixa e persistente, que piora com a posição ereta e se agrava no fim do dia. Geralmente, não se as- socia a náuseas e/ou a vômitos. Cólica renal ou nefrética Esta denominação é dada a um tipo especial de dor decorrente de obstrução do trato urinário, com dilatação súbita da pelve renal ou do ureter, que se acompanha de contrações da musculatura lisa dessas estruturas. A dor da cólica renal costuma começar no ângulo costovertebral, acometer a região lombar e flanco, irradiando-se para a fossa ilíaca e região inguinal, alcançando o testículo e o pênis, no homem, e o grande lábio, na mulher. A dor é tipicamente em cólica, com fases de espasmos dolorosos que podem durar vários minutos, seguindo-se de alívio, geralmente incompleto. O desaparecimento súbito da dor, ocasionado pela resolução natural da obstrução, é importante no diagnóstico diferencial. Dor renal localizada e cólica ureteral. A dor de origem renal pode ficar restrita à área de projeção dos rins (região lombar), ou seguir o trajeto ureteral alcançando o pênis e o testículo, no caso do homem, ou o grande lábio, no caso da mulher. SEMIOLOGIA | 9 Dor hipogástrica ou dor vesical É a dor originada no corpo da bexiga que geralmente é percebida na região suprapúbica. Quando ela decorre de irritação envolvendo a região do trígono e do colo vesical, a dor irradia- se para a uretra e meato externo, podendo ser relatada como uma sensação de queimor. A retenção urinária completa aguda acompanha-se de dor intensa na região suprapúbica e intenso desejo de urinar. 2.3 EXAME FÍSICO 2.3.1 Exame dos Rins Deve começar pela inspeção do abdome, dos flancos e das costas, com o paciente sen- tado. Em seguida, fazer palpação e a compressão dos ângulos costovertebrais. Posteriormente, efetua-se a punho-percussão (Sinal de Giordano). Por fim, realizar ausculta abdominal. Rins facilmente palpáveis denotam, em geral, aumento de volume (hidronefrose, neoplasia ou cistos) ou pelo fato de serem anormalmente móveis (ptose renal), ou, ainda, por estarem deslocados por neoplasias retroperitoneais. Em geral, o aumento de ambos os rins decorre de doença policística ou de hidronefrose bilateral. 2.3.2 Exame dos Ureteres Pela palpação profunda da parede abdominal anterior, é possível determinar dois pontos dolorosos quando existe infecção ou obstrução dos ureteres. O superior fica na parte média dos quadrantes superiores direito e esquerdo, e o inferior, nas fossas ilíacas direita e esquerda, pró- ximos à região suprapúbica. A reação dolorosa à palpação profunda destes chamados "pontos ureterais" tem significado diagnóstico, especialmente quando são identificados outros dados sugestivos de comprometimento do trato urinário alto. 2.3.3 Exame da Bexiga A bexiga vazia não é palpável, porém pode haver hipersensibilidade na área suprapúbica ao se fazer a palpação. Retenção urinária aguda ou crônica, levando à distensão vesical, pode ser percebida por inspeção, palpação e percussão da região suprapúbica. Se houver retenção 10 | SEMIOLOGIA DO SISTEMA URINÁRIO urinária, observam-se reação dolorosa intensa e ocorrência de um abaulamentono hipogástrio. A palpação, observa-se massa lisa e firme na linha média (globo vesical). Em mulheres, o es- vaziamento vesical por cateterismo poderá ser necessário para o diagnóstico diferencial com cisto do ovário. 3 EXAMES COMPLEMENTARES • Exame simples (EQU, Parcial); • Exame quantitativo (Addis/ câmara de Neubauer); • Proteinúria: Normal < 100mg/24h; • Função renal: - Ureia (18 a 45mg/dL) - Creatinina (0,6 a 1,2mg/dl) • Exame bacteriológico de Urina: Urocultura, leucócitos e bactérias no exame microscó- pico (contaminação). 3.1 EXAME COMUM DE URINA (EQU) Exame físico: • Cor: amarelo claro, amarelo citrino, amarelo âmbar e vermelha. • Aspecto: límpida, ligeiramente turva, turva, aspecto sanguinolento. • Densidade: Rim tem capacidade de concentrar até 4X o volume dos solutos do plasma. Normal entre 1016 e 1020. Exame químico: • pH varia entre 4,5 a 7,0 (> 7 nas infecções). • Proteínas considera-se anormal acima de 15mg/dL (<20mg/dL: negativo ou vestí- gios) - + 21 a 100mg/dL - ++ 101 a 300mg/dL - +++ 301 a 1000mg/dL - ++++ acima de 1001mg/dL • Glicose (glicosúria): Glicemia acima de 180mg/dl. • Bilirrubina. • Urobilinogênio: derivado incolor da bilirrubina. Não aparece nas icterícias obstruti- vas. SEMIOLOGIA | 11 • Corpos cetônicos: distúrbio no metabolismo dos carboidratos. Descompensação grave em diabéticos. • Sangue: tumor renal ou de bexiga, nefrolitase, nefrites, glomerulonefrite, cistite he- morrágica. • Nitrito: Significa infecção. Bactérias Gram negativas reduzem nitratos em nitrito. • Leucócitos. 3.2 AVALIAÇÃO DO SEDIMENTO URINÁRIO • Hemácias: até 2/campo. • Leucócitos: até 3/campo (infecções). • Células epiteliais: numerosas nas mulheres. • Bactérias e fungos (contaminação). • Cristais: ácido úrico, oxalato de cálcio, de fosfato. Raramente de cistina. • Cilindros: corpos proteicos, forma do local onde se formam. 3.3 CILINDROS • Hialinos: Proteína de Tamm Hossfal normal até 2 por campo • Granulosos: restos celulares degenerados (doença tubular ou glomerular). • Céreos: Hialinos e granulosos. Doença renal crônica, necrose tubular aguda e na glo- merulonefrite aguda com oligúria. • Cilindros de células epiteliais: prevalentes na fase diurética da IRA. • Hemáticos: glomerulonefrite em atividade ou necrose tubular aguda. • Leucocitários: Infecção ou inflamação do néfron. • De ácido úrico, cálcio e uratos amorfos são normais. 3.4 OUTROS • Ultrassonografia • Urografia excretora, Pielografia ascendente • TC • Ressonância • Cintilografia • Biópsia renal • Endoscopia (citoscópio, ureteroscópio) • Angiografia 12 | SEMIOLOGIA DO SISTEMA URINÁRIO 4 DOENÇAS DOS RINS E DAS VIAS URINÁRIAS 4.1 SÍNDROME NEFRÍTICA Decorrente de processo inflamatório do capilar glomerular. Clinicamente se caracteriza por hematúria, edema e hipertensão arterial. Glomerulonefrite aguda Caracteriza-se pelo aparecimento súbito de urina escura, hipertensão arterial, edema (es- pecialmente periorbitário pela manhã) e azotemia (elevação dos níveis de compostos nitrogê- nio). As causas de glomerulonefrite aguda incluem infecções bacterianas (estreptococcias, endocardite bacteriana), deposição de imunocomplexos (lúpus eritematoso disseminado e ne- fropatia por IgA) e anticorpos circulantes que lesam a membrana basal glomerular (síndrome de Goodpasture). Ao realizar a avaliação de um paciente com síndrome nefrítica aguda, devem ser feitos exames sorológicos especiais que podem orientar quanto à etiologia da doença e ao tratamento, tais como níveis de complemento, anticorpos antinucleares (ANA), crioglobulinas, IgA, anti- corpos anticitoplasma de neutrófilos (ANCA), anticorpos antimembrana basal glomerular (anti- GBM), título de antiestreptolisina O (ASLO), fator nefrítico C3 e marcadores virais de hepatite. Glomerulonefrite Rapidamente Progressiva (GNRP) É uma síndrome clínica caracterizada por perda rápida da função renal (dias a semanas), geralmente acompanhada de oligúria ou anúria e alterações urinárias características de glome- rulonefrite (hematúria, cilindros hemáticos e proteinúria). Azotemia grave. Náuseas, vômitos, letargia, encefalopatia, pericardite e dispneia. Glomerulonefrite Crônica É a via final comum de todas as glomerulopatias que evoluem para cronicidade e insu- ficiência renal terminal. Do ponto de vista clínico, a glomerulonefrite crônica manifesta-se de modo insidioso, o paciente não se queixa, e a doença é descoberta em exames de rotina em pacientes com hipertensão arterial ou que relatam apenas edema discreto. Apresentam-se com elevação nos níveis séricos de ureia e creatinina, alterações do sedimento urinário com protei- núria e/ou hematúria. Mais raramente, manifesta -se com quadro de síndrome nefrótica típica, SEMIOLOGIA | 13 com edema generalizado e diminuição da função renal. Em alguns casos, predominam os sinais de uremia. 4.2 SÍNDROME NEFRÓTICA A síndrome nefrótica consiste na associação das seguintes manifestações: proteinúria (superior a 3,5g/24h), hipoalbuminemia (albumina sérica inferior a 3,5 g/dl) e edema. Altera- ções da permeabilidade da membrana basal glomerular são responsáveis pela perda de pro- teínas na urina, fator determinante das manifestações clínicas da síndrome nefrótica. Habitual- mente, quando a proteinúria é superior a 3,5 g/24 h, a excreção urinária de albumina ultrapassa a capacidade do fígado de sintetizar essa proteína, ocasionando hipoalbuminemia. Idiopática ou primária: Doença primária dos rins. Secundária a uma doença sistêmica: diabetes, amiloidose, vasculites, neoplasias, pré- eclâmpsia, HIV, doenças parasitárias, hepatite viral. Categorias e mecanismos fisiopatológicos das glomerulonefrites. GN = glomerulonefrite; anti-MBG = anti mem- brana basal glomerular; ANCA = anticorpos anticitoplasma de neutrófilos; LES = lúpus eritematoso sistêmico; MB = membrana basal; GNMP = glomerulonefrite membranoproliferativa 14 | SEMIOLOGIA DO SISTEMA URINÁRIO 4.3 INSUFICIÊNCIA RENAL AGUDA Insuficiência renal aguda (IRA) ou lesão renal aguda (LRA) tem sido tradicionalmente definida como uma síndrome. Caracterizada pelo rápido declínio da taxa de filtração glomerular (TFG), resultando em acúmulo no sangue de produtos do metabolismo nitrogenado, como a ureia e a creatinina, e incapacidade de manter o equilíbrio hidroeletrolítico e acidobásico, acompanhada ou não de redução da diurese. Dentre as causas, destacam-se os distúrbios que levam à redução da perfusão renal (trau- mas, sangramentos, grandes cirurgias, queimaduras, desidratação), à utilização de substâncias nefrotóxicas ou à participação associada destes e de outros fatores que lesam os rins. Substâncias nefrotóxicas: AINES, IECA, contrastes radiológicos. 4.4 INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA Perda progressiva irreversível da função renal, causada por diabetes hipertensão arterial, glomerulonefrites, uripatia obstrutiva etc. Sintomas • Fraqueza, adinamia, fadiga fácil (Anemia) • Prurido, edema e pele facilmente escoriavel • Anorexia, náuseas e vômitos (Azotemia) • Dispneia progressiva, Noctúria • Dor retroesternal (Pericardite) • Dor, dormência e cãibras nas pernas • Impotência e perda da libido • Irritabilidade e incapacidade de concentração Sinais • Aparência debilitada • Palidez, equimose e edema • Presença de estertores e derrame pulmonar • Hipertensão • Atrito pericárdico e sinais de car- diomegalia • Sonolência, estupor, até coma • Asterix, mioclonia e neuropatiaperiférica SEMIOLOGIA | 15 4.5 INFECÇÃO URINÁRIA O termo pielonefrite aguda indica infecção bacteriana do trato urinário alto (rins e pelve renal), ocasionando síndrome clínica caracterizada por febre alta de aparecimento súbito, cala- frios e dor no flanco. O termo pielonefrite crônica é utilizado para caracterizar ataques recor- rentes de infecção, geralmente associados a decréscimos da função renal. As infecções do trato urinário baixo (cistite, uretrite, prostatite) caracterizam-se por disúria, polaciúria e urgência. Cistite e pielonefrite aguda podem ocorrer conjuntamente. A infecção urinária pode ser recor- rente por recidiva ou reinfecção. Pielonefrite aguda Caracteriza-se pela invasão bacteriana aguda do rim e da pelve renal (geralmente Es- cherichia coli) e costuma ser unilateral. O aparecimento da infecção pode estar associado à ocorrência de algum tipo de obstrução do trato urinário, como hipertrofia prostática em homens, e obstrução ureteral pelo útero gravídico em mulheres. Cálculos, neoplasias e malformações anatômicas também predispõem a infecção. A pielonefrite caracteriza-se pelo aparecimento súbito de febre (39 a 40°C), calafrios, náuseas e vômitos; prostração, taquicardia e hipotensão arterial podem ocorrer. Muitos pacien- tes apresentam dor em um ou em ambos os flancos, com irradiação para a fossa ilíaca e região suprapúbica. Pode haver disúria, polaciúria, urgência e eliminação de urina turva, denotando a presença de cistite associada. Dor e contração muscular no ângulo costovertebral e região lom- bar costumam ocorrer ao exame físico. Dentre os dados laboratoriais, destaca-se, ao exame de urina, a presença de piócitos, cilindros leucocitários e bactérias. • Sintomas: Febre (39 a 40°C), calafrios, náuseas e vômitos, prostração, taquicar- dia, hipotensão, dor. Giordano positivo. Pielonefrite crônica A pielonefrite crônica surge geralmente após um episódio inicial de pielonefrite aguda ou cistite, principalmente associada a obstrução urinária, presença de cálculo, hipertrofia pros- tática, bexiga neurogênica e refluxo vesicouretral. • Lesões fibróticas levam a redução do tecido renal funcionante; • Sintomas relacionados ao aparelho urinário podem estar presentes ou não; • Sintomas gerais ou sintomas relacionados a uremia; • Hipertensão pode ser o achado dominante; 16 | SEMIOLOGIA DO SISTEMA URINÁRIO Cistite e uretrite Infecção urinária restrita à bexiga e/ou uretra, caracterizada por polaciúria, disúria, ur- gência e piúria. A cistite provoca desconforto e sensação dolorosa na região suprapúbica. Cistite: • Polaciúria, Disúria, Urgência. • Estrangúria (emissão lenta e dolorosa da urina). • Desconforto e sensação dolorosa em região suprapúbica. • Desejo de urinar mesmo com bexiga vazia. • Urina turva e com odor desagradável. • Sedimento: piócitos, hemácias, células epiteliais e bactérias. Uretrite: • Polaciúria, Disúria, Urgência e Piúria. • Queimor intenso ou dor durante a micção • Corrimento uretral purulento entre as micções Prostatite Caracteriza-se por dor na região sacra e perineal, que é acompanhada de desconforto retal e testicular; piúria e hematúria costumam ocorrer. A prostatite bacteriana aguda produz manifestações sistêmicas de bacteriemia com febre alta e calafrios, acompanhando-se de disúria e polaciúria. O toque retal acompanha-se de dor intensa, devido ao aumento de volume da glândula, o que toma a cápsula tensa. Na prostatite bacteriana crônica, o paciente pode ser assintomático, com próstata de ta- manho normal e indolor ao toque retal. 4.6 LITÍASE URINÁRIA Chama-se de litíase urinária a formação de concreções calculosas nos rins e vias uriná- rias. Os seguintes elementos são importantes na avaliação de um paciente com litíase urinária: 1) História clínica com ênfase em hábitos alimentares, medicamentos em uso, história familiar de doenças do sistema urinário, cólica renal, hematúria; 2) Exame de urina: hematúria e cristalúria; 3) Ultrassonografia: localização, tamanho e dimensões do cálculo, que tornam possível o conhecimento da composição química e adoção de medidas de prevenção ou de terapêutica; SEMIOLOGIA | 17 4) Avaliação de alterações metabólicas capazes de provocar litíase recorrente. Para avaliação mais rigorosa, deve-se incluir a excreção de 24 h de cálcio, oxalato, ácido úrico, sódio, creatinina, citrato, cistina, pH urinário, equilíbrio acidobásico, eletrólitos (plasma). • 90% sais de cálcio. • 10% ácido úrico, cistina, estruvita; Diagnóstico: • Hábitos alimentares • Medicamentos em uso • História familiar: cólica renal, hematúria • Exame de urina: hematúria e cristalúria • US: localização, dimensões, obstrução urinária • Análise cristalográfica Fatores de risco: mais comum nos homens; dietas ricas em purina; maior ocorrência no verão. 4.7 NEOPLASIAS Adenoma renal é a neoplasia benigna mais comum. Em geral, é assintomática. As principais neoplasias malignas dos rins são o adenocarcinoma, que incide quase que exclusivamente em adultos, e o nefroblastoma, que ocorre em crianças. O adenocarcinoma renal, carcinoma de células renais ou carcinoma tubular renal é a neoplasia maligna mais frequente, correspondendo a cerca de 80% das neoplasias malignas dos rins. 18 | SEMIOLOGIA DO SISTEMA URINÁRIO 4.8 DOENÇA CÍSTICA DOS RINS Os cistos renais simples são lesões renais benignas, ocorrendo em aproximadamente 25% da população. Distinguem-se 2 tipos de rins policísticos: o mais co- mum ocorre em adultos, por herança autossômica dominante de grande penetrância; o tipo infantil é muito raro, tratando-se de herança autossômica recessiva, sendo habitualmente fatal no primeiro ano de vida. À medida que a doença evolui e os néfrons são compri- midos pelos cistos, ocorre deterioração da função renal, e as ma- nifestações de insuficiência renal crônica passam a dominar o quadro clínico. O diagnóstico é feito por ultrassonografia e to- mografia computadorizada. SEMIOLOGIA | 19 REFERÊNCIAS HALL, J. E. Guyton & Hall: Tratado de Fisiologia Médica. 12a ed. Rio de Janeiro: Else- vier, 2011. PORTO, C. C. Semiologia Médica. 7ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.
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