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AULA 5 FONTES DE FINANCIAMENTO DE LONGO PRAZO Prof. João Antônio Salvador de Souza 02 CONVERSA INICIAL Uma das tarefas referentes à questão de financiamentos e investimentos é fazer escolhas sobre como a empresa capitalizará recursos. Para isso, existe um planejamento financeiro que a entidade deve trabalhar de forma a garantir recursos para o investimento dos projetos. Porém, na introdução de fontes de financiamento, entra a figura dos sócios e investidores. Estes escolhem colocar seus recursos em determinado negócio, a fim de ter um retorno em forma de dividendos ou de itens que tragam valor para eles. Esta aula abordará a análise das opções de distribuir dividendos, realizar a incorporação de juros sobre o capital próprio, ou, ainda, realizar em determinado momento a recompra de ações. São essas três formas de remuneração que incorporam valores monetários à empresa e permitem esperar por um retorno em termos de lucros e, também, de valor atribuído à imagem da entidade. Sobre os dividendos, a empresa, ao se deparar com o capital, principalmente de investidores do mercado acionário, coloca como indicativo a política de distribuição de dividendos como forma de melhor sinalizar aos acionistas o seu compromisso com retornos financeiros. Há evidências empíricas sobre o caso contextualizada por meio de estudo sobre determinadas teorias. Embasando a política de dividendos, existem teorias que falam sobre o comportamento dos acionistas diante de informações apresentadas sobre a política de dividendos: teoria da sinalização, teoria da relevância dos dividendos e teoria residual. Porém, além dos dividendos, a empresa pode escolher remunerar os acionistas por meio dos juros sobre o capital próprio, que têm o seu diferencial à medida que otimiza os impactos tributários tanto para a empresa quanto para o investidor. Isso também é uma forma de estar remunerando os acionistas a fim de dar um retorno para eles. Além de tal escolha, a empresa também pode estar realizando a recompra de ações a fim de aportar para os investidores recursos de caixa. Um ponto positivo sobre tal ação está no fato de que o acionista pode escolher ou não vender as suas ações, visto que é apenas uma opção. Além do mais, na visão da empresa, a recompra de ações serve como uma forma de realizar uma mudança na estrutura de capital, principalmente caso a empresa tenha o interesse de realizar capitalizações por outras fontes como empréstimos, debêntures ou até mesmo incorporação de valores por parte dos sócios da entidade. 03 No mais, existem características específicas a serem estudadas sobre a forma de melhor remunerar os investidores, que é o destaque desta aula. Importante tal abordagem, para que seja do conhecimento de que essa forma de remuneração impacta diretamente na forma como a empresa realiza seus investimentos e financiamentos com vista a ter fluxos futuros de caixa positivos e condizentes com o seu planejamento financeiro. CONTEXTUALIZANDO As fontes de financiamento em longo prazo colocam para a gestão algumas obrigações sobre ações a fim de dar retorno aos investidores. Uma delas vem a ser a questão de como os investidores serão remunerados diante dos lucros auferidos em determinado período. Dessa forma, esta aula conta com as seguintes perguntas: o que é uma política de dividendos? Quais os pontos positivos em realizar a distribuição de dividendos? Para que servem os juros sobre o capital próprio? A empresa pode escolher remunerar os investidores de outra forma que não seja por meio de dividendos? Qual a vantagem em realizar a recompra de ações? Diante das perguntas, o objetivo primordial é mostrar que as decisões sobre dividendos e outras formas de remuneração devem fazer parte das decisões sobre as fontes de financiamento da entidade. TEMA 1 – POLÍTICA DE DIVIDENDOS Durante a consecução das atividades da empresa, existem algumas decisões relacionadas aos resultados obtidos em um determinado período no qual devem ser discutidas. Uma delas é referente ao que fazer no lucro. Primeiramente, deve-se ter em mente que, no balanço patrimonial das organizações, está presente o patrimônio líquido. No patrimônio líquido, estão dispostas contas que representam a situação do resultado que pertence aos sócios, como observado na estrutura a seguir. Quadro 1 – Patrimônio líquido Patrimônio líquido Capital social Reservas de capital Ajuste de avaliação patrimonial Reservas de lucro Ações em tesouraria Prejuízo acumulado 04 A estrutura para a constituição do patrimônio líquido vem disposta na Lei n. 11.638/2007, a qual fez alterações na Lei n. 6.404/1976, que dispõe sobre, entre outras informações, aquelas relacionadas à apresentação das demonstrações financeiras das sociedades por ações. A conta de capital social vem a ser o valor integralizado quando do início das atividades e que pertencem aos sócios. Essa integralização pode ser tanto de cunho financeiro quanto se dar por meio de bens. O que mudará nessa integralização será que os valores referentes a recursos financeiros serão direcionados ás contas de caixa e banco. Caso seja convertido em bens, aí será integrada à conta de imobilizado. A reserva de capital vem a ser aqueles valores resultantes diretamente da participação dos acionistas. Ou seja, esses valores não resultam da atividade realizada diretamente com os ativos da entidade. Já a conta de ajuste de avaliação patrimonial está relacionada com valores positivos ou negativos na situação dos ativos e passivos advindos devido a processos de fusão, cisão e incorporação. Já a reserva de lucros vem a ser a distribuição dos lucros relativos à atividade-fim da empresa e que podem ser convertidos nas contas que a integram, sendo as seguintes: Reserva legal; Reservas estatutárias; Reserva para expansão ou investimento; Reserva por incentivos fiscais; Reserva de lucros a realizar. Por fim, ainda poderão ser encontradas as contas de prejuízos acumulados, com a constituição de resultados negativos, que permanecerão com seu saldo negativo até ser totalmente absorvido pela reserva de lucros, e a conta de ações em tesouraria, que são os títulos da própria empresa comprados no mercado, sendo que, futuramente, poderão ser vendidos. Essas duas últimas contas são redutoras. A constituição das reservas está baseada em normas específicas e contextualizadas também em documentos como o estatuto da entidade. Cabe a cada exercício a resolução de como será realizada a integralização dos lucros, sendo que essa resolução deve estar de acordo com o planejamento estratégico e os objetivos de investimento e financiamentos, principalmente quando se fala de reserva de lucros. 05 Importa entender que o lucro pode ser projetado para a constituição das contas de reservas de lucro. Entretanto, também pode ser destinado à sua distribuição entre investidores e sócios. Dessa forma, a empresa trabalha em seu contexto com decisões acerca dos dividendos, sendo esses valores avaliados dentro de uma política adequada aos padrões da entidade e decidida pelos seus gestores. Para Assaf Neto (2014, p. 575: Sob o ponto de vista da empresa, o pagamento de dividendos reduz a liquidez de caixa e limita, ainda, a sua capacidade em promover novos investimentos. A reposição de lucros distribuídos por recursos de longo prazo apresenta um custo elevado no Brasil, além da dificuldade presente no mercado financeiro nacional em disponibilizar fundos de maior maturidade para financiar os investimentos da empresa. Logo, a distribuição de dividendos tem o seuimpacto sobre questões relativas também à estrutura de caixa, fazendo com que esse seja um limitante no momento da escolha de qual política a empresa deverá seguir. Essa complexidade aumenta para aquelas empresas que tem capital negociado juntamente com o mercado acionário, uma vez que as decisões sobre a distribuição de dividendos deverão atender a outras partes interessadas que criam expectativas sobre o desenvolvimento do negócio investido. De forma geral, a empresa deve se ater à porcentagem que poderá ser distribuída àqueles que têm direito, sem que haja comprometimento negativo com as demais decisões sobre financiamento da entidade. Para isso, o gestor pode contar com o payout: Payout = Dividendos distribuídos Lucro líquido do exercício Esse indicador denota que, quanto maior for o resultado, menor será a destinação dos lucros para a reversão de atividades direcionadas ao financiamento da entidade. Do contrário, indicará que a entidade prioriza a reversão de lucros em reservas. O melhor a se fazer em relação a tal política vem a ser determinar um ponto ótimo em que exista tanto recursos sendo reinvestidos na empresa quanto recursos distribuídos aos interessados. Além do mais, a entidade deve trabalhar com retornos para os investidores, uma vez que, caso seja destacado que futuramente poderá haver maiores lucros com a constituição da reserva de lucros naquele momento em vez de sua distribuição, os acionistas podem compactuar em realizar os dividendos futuramente. 06 TEMA 2 – DIVIDENDOS A escolha sobre os dividendos deve ser baseada na questão, também, da maximização do retorno aos acionistas, visto que, à medida que determinados investidores colocam o seu capital na empresa, o esperado é que se tenham retornos positivos e que a empresa venha a crescer integrando valor ao negócio. Dessa forma, os dividendos podem ter características tanto positivas quanto negativas para a entidade. Ou seja, à medida que a empresa necessite escolher a sua política para a questão dos dividendos, ela deve conhecer quais aspectos podem influenciá-la para suportar as necessidades dos investidores. 2.1 Aspectos relevantes sobre a distribuição de dividendos Quando um investidor procura um negócio para investir, ele pode, em um primeiro momento, identificar junto as suas demonstrações financeiras, se a empresa costuma realizar distribuição de dividendos. Da mesma forma, o investidor pode identificar se a empresa ao longo do tempo vem apresentando retornos positivos e oscilações referente aos valores reportados aos acionistas. Dessa forma, percebe-se um aspecto positivo em se distribuir lucros à medida que isso é sinalizado ao mercado. Esse tipo de ação também é discutido pela teoria da sinalização, na qual Assaf Neto (2014, p. 581) identifica que: É importante destacar que a política de dividendos pode transmitir informações aos investidores de mercado: Teoria da Sinalização. O raciocínio básico é que, ao elevarem o volume de dividendos distribuídos, as empresas assumem implicitamente um compromisso com seus acionistas em manterem esses fluxos de pagamentos no longo prazo. Esse acréscimo na distribuição de dividendos revela, ainda, uma maior capacidade de geração de caixa das empresas no longo prazo, motivando os investidores a reavaliarem suas projeções de resultados e o valor de mercado das ações. Complementando o aspecto tratado de que uma política de dividendos traz uma imagem positiva para o investidor (Padoveze, 2010, p. 189), a distribuição pode significar: uma necessidade da empresa para manter nela mesma os investimentos já efetuados pelos seus acionistas e investidores; ponto fundamental para os planos estratégicos, objetivando a continuidade da empresa; é a informação mais importante para os acionistas e investidores, para comparação com seus custos de oportunidade. Dessa forma, percebe-se que a política de distribuir dividendos está atrelada principalmente àquelas empresas que precisam ser financiadas com 07 capital advindo de ações, ou seja, devido à negociação no mercado acionário, a empresa tende a manter uma cultura de proceder a distribuição de dividendos para que os investidores possam aportar ali os seus recursos e ter satisfação com valores advindos de lucros distribuídos. É uma forma que o acionista tem de analisar os retornos futuros sobre a empresa, identificando que, uma vez apresentada uma constância em relação à distribuição, o risco para o investidor tenderá a ser menor. 2.2 Aspectos sobre a irrelevância para a distribuição de dividendos Quanto à questão de que uma política de dividendos é um fator importante para avaliação dos investidores, no que se refere a suas escolhas de colocar ou não capital em determinada empresa, Modigliane e Muller (MM), em seu trabalho seminal de 1958, são contrários a tal entendimento, uma vez que, para eles, o que define a opinião do acionista está na análise puramente dos fluxos futuros de caixa que aquela entidade pode vir a ter. De acordo com Assaf Neto (2014, p. 579): Para MM, o valor da empresa no mercado eficiente independe da política de dividendos adotada, sendo os investidores indiferentes à sua distribuição ou retenção. O valor da empresa é função da qualidade de seus investimentos, do retorno esperado em comparação ao custo de capital. Em outras palavras, pela capacidade das decisões financeiras em gerar valor econômico. Nesse cenário, o colocado está na condição de que independentemente da política adotada para a distribuição de dividendos, a empresa não tem alteração no seu patrimônio líquido e nos seus fluxos futuros de caixa, dependendo exclusivamente da atividade desenvolvida nos negócios. Porém, vale apontar que o trabalho dos autores coloca as suas discussões em um contexto em que as empresas são livres de impostos, as informações são colocadas ao mercado em sua totalidade; ainda, não existem conflitos de agência e, como consequência, custos de agência. Outro ponto colocado como desvantagem está na questão de que a distribuição elevada de dividendos cria desvantagens para os investidores, uma vez que a tributação será de maior impacto para eles quando comparada com a tributação sobre os ganhos de capital (Damodaram, 2007). 08 TEMA 3 – TEORIAS SOBRE DIVIDENDOS No universo das finanças, existem três teorias, as mais comuns, que tratam dos dividendos, intituladas teoria da sinalização, teoria da relevância dos dividendos e teoria residual. 3.1 Teoria da sinalização Esta teoria discute o fato de que as empresas sinalizam sobre o seu desempenho futuro. Apresentando uma política de dividendos ao mercado, a empresa propõe que os custos ali investidos poderão trazer retornos futuros. Ou seja, o mercado entende que distribuir dividendos e ter uma política para isso representa um ponto positivo sobre expectativas futuras positivas da empresa. Essa teoria está diretamente ligada à questão sobre assimetria informacional, em que existem aqueles que utilizam as informações a fim de absorver seus interesses particulares em detrimento de outras partes interessadas. Na Figura 1, a seguir, está apresentada como deverá ser essa relação de informação e receptor. Figura 1 – Relação entre informação e receptor Na Figura 1 há um desenho claro de como a teoria em questão trata a forma de colocar as informações, a fim de que o receptor realize as suas interpretações e reflita no preço das ações a sua visão positiva ou negativa atrelada a tal negócio. No caso das pesquisas sobre a informação relacionadas à política de dividendos, as evidências são deque, quanto maior o pagamento deles, maior as chances de aumento no preço das ações, ocorrendo o contrário com a divulgação de menores dividendos a serem pagos (Assaf Neto, 2014). Remetente escolhe qual informação será apresentada e como Receptor escolhe como deve realizar a interpretação de tais informações 09 3.2 Teoria da relevância dos dividendos Nesta teoria, o foco está em estabelecer que é mais importante que o acionista tenha um recurso advindo de dividendos a receber no presente do que ter expectativas futuras de retornos sem entrada. Logo, o investidor avesso ao risco identifica que é melhor ter ações de empresas com dividendos certos para aquele período do que somente expectativas futuras de retornos dos fluxos de caixa. Isso se deve porque os dividendos acabam sendo uma forma de oferecer menores riscos aos investidores. Porém, tal teoria desconsidera atributos importantes sobre fluxos futuros de caixa que são baseados, por exemplo, em políticas de investimentos para projetos de crescimento. 3.3 Teoria residual Para esta teoria, os dividendos devem ser pagos após a identificação do excesso de lucro em determinado período. Ou seja, primeiro devem ser cobertos todos os gastos, os projetos de investimento ali compactuados e as expectativas quanto a projetos futuros. Com isso, a empresa garantirá a maximização da riqueza dos acionistas por meio dos seus gastos de capital. Ao final de tal análise, deve ser distribuído apenas o lucro que foi identificado como excedente. TEMA 4 – JUROS SOBRE O CAPITAL PRÓPRIO Outra opção para que a empresa coloque aos seus acionistas alguma parcela de capital vem a ser o que se denomina de juros sobre o capital próprio (JSCP). Esse tipo de dedutibilidade veio a ser empregada a partir de 1995 por meio da Lei n. 9.249/1995: Art. 9. A pessoa jurídica poderá deduzir, para efeitos da apuração do lucro real, os juros pagos ou creditados individualizadamente a titular, sócios ou acionistas, a título de remuneração do capital próprio, calculados sobre as contas do patrimônio líquido e limitados à variação, pro rata dia, da Taxa de Juros de Longo Prazo – TJLP. A TJLP dispõe de algumas regras que devem ser seguidas em relação à porcentagem que deverá ser usada para fins de cálculo. Sobre o patrimônio líquido, a empresa poderá ter um valor máximo e não poderá exceder 50% do 010 lucro líquido antes do Imposto de Renda e dos referidos juros ou 50% do lucro acumulado de exercícios anteriores. Deve-se excluir do saldo do patrimônio líquido a reserva de reavaliações caso a empresa venha a ter. Essa opção de cálculo de JSCP pode ser entendida como uma forma de realizar distribuição de dividendos suportando aquilo colocado como o mínimo conceituado na Lei das Sociedade Anônimas. Uma vantagem em se ter essa forma de capitalizar os resultados com os sócios está no fato de que esses juros entrarão no computo do resultado do exercício como despesas, deixando a obrigação de pagamento de tributo para o acionista. Logo, se a empresa resolver distribuir 100,00 de dividendo ao final de um período ou realizar o desconto de JSCP também de 100,00 para os acionistas, isso indicará que, nessa última opção, o acionista de fato receberá 85,00 (considerando uma taxa de 15% de IR, o resultado será 100,00 x (1 – 0,15)= 85,00). 4.1 Forma de cálculo Para entender melhor esses tipos de dedução, observe o exemplo a seguir relativo à sua contabilização. Uma empresa apresentou os resultados no balanço patrimonial referente ao patrimônio líquido conforme a Tabela 1 a seguir. Tabela 1 – Balanço patrimonial Ano 01 Ano 02 Patrimônio líquido 143.000,00 Patrimônio líquido 165.000,00 No ano 1, houve um lucro de 13.000,00, e no ano 02, o lucro foi de 17.000,00. Já na demonstração do resultado do exercício (DRE), os resultados auferidos no ano 02 foram na ordem disposto na Tabela 2 a seguir. Tabela 2 – DRE ano 02 Receitas 350.000,00 (–) Despesas operacionais 310.000,00 = Lucro antes dos JSCP 40.000,00 011 Para os cálculos de dedução dos JSCP, a empresa deve considerar os limites legais, que são: Taxa de Juros de Longo Prazo = 15% x patrimônio líquido = 15% x 143.000,00 = 21.450,00; 50% do lucro antes dos Juros Sobre o Capital Próprio = 50% x 40.000,00 = 20.000,00; 50% sobre os lucros acumulados = 50% x 13.000,00 = 6.500,00. Logo, a escolha será aquele referente à opção de 50% do lucro antes dos Juros sobre o Capital Próprio. Contabilizando na DRE, e considerando uma taxa de 34% de Imposto de Renda e Contribuição Social, tem-se o disposto na Tabela 3 a seguir. Tabela 3 – DRE ano 02 Com juros Sem juros Receitas 350.000,00 350.000,00 (–) Despesas operacionais 310.000,00 310.000,00 = Lucro antes dos JSCP 40.000,00 40.000,00 (–) Despesa de Juros sobre o Capital Próprio 20.000,00 (–) Provisão IR e CSSL 6.800,00 13.600,00 Lucro antes da Reversão JSCP 13.200,00 26.400,00 Reversão JCSP 20.000,00 Lucro do período 33.200,00 26.400,00 Logo, percebe-se certa economia para a empresa em relação à questão tributária. Deve-se atentar à norma que trata do Ajuste a Valor Presente (AVP), uma vez que os valores devem ser alocados de acordo com o valor do dinheiro no tempo. Logo, na reversão dos Juros Sobre o Capital Próprio, é importante que se observe a AVP. Para os beneficiários, os resultados são conforme a Tabela 4 a seguir. Tabela 4 – Resultado para os beneficiários Com juros Sem juros Distribuição dos JSCP 20.000,00 (–) IR fonte dos beneficiários (15%) (3.000,00) Dividendos sobre lucros 13.200,00 26.400,00 Dividendos totais 30.200,00 26.400,00 012 Para os acionistas, haverá um valor maior distribuído quando da inserção dos Juros sobre o Capital Próprio. Em relação à carga tributária, caso a empresa opte por apenas distribuir sem a participação dos JSCP, incorrerá em uma carga tributária total de 13.600,00. Com o uso dos JSCP, haverá uma carga tributária total de 9.800,00 (6.800,00 +3.000,00). Isso indica que houve uma economia de 27,94%, aproximadamente. TEMA 5 – RECOMPRA DE AÇÕES As empresas podem assumir compromisso com os acionistas em relação à sua remuneração, por meio da distribuição de lucros provindos de dividendos ou, então, por meio de recompra de ações. Ou seja, conforme Brealey, Myers e Allen (2013, p. 361), “em vez de pagarem um dividendo aos seus acionistas, as empresas podem utilizar os fundos para recomprar ações. As ações readquiridas podem ser mantidas em carteira e revendidas quando a organização precisar de fundos.” Deve-se frisar que, ao recomprar as ações, a empresa não está sinalizando aos acionistas que aquilo indicará maiores lucros no futuro para a empresa. As entidades podem estar realizando a recompra de ações pelo fato de ter um acúmulo de dinheiro ou por estarem interessados em trocar seus débitos com capital próprio, por exemplo. Quanto ao dinheiro em excesso, a empresa pode estar escolhendo tal compra em detrimento do uso desses recursos para fins de investimentos futuros. Caso este que os investidores devem estar analisando quando do anúncio da recompra dos títulos pela empresa (Brealey; Myers; Allen, 2013). 5.1 Evidências sobre fatores positivos para efetuar a recompra de ações De forma geral, existem algumas evidências para subsidiar a recompra de ações. Os fatores positivos que podem estar associados a tal fato são: Pode ocorrer o caso de a gestão está fazendo tal recompra com um valor superior ao negociado, uma vez que acreditam que suas ações estejam subavaliadas e, a partirde então, os investidores passam a acreditar que o negócio tem maior valor; Recompra de ações com prêmio geralmente estão acompanhadas de um aumento médio no preço das ações; 013 Para o acionista, a escolha pela recompra ou não depende apenas da sua abertura para isso. Se a empresa realizar dividendos, o acionista passa a não ter escolha em receber; A recompra pode estar associada à posição da empresa em reestruturar o seu capital. Essas são algumas características destacadas para indicar que a recompra de ações está associada tanto aos interesses da gestão quanto aos interesses dos investidores. Entretanto, Brigham e Ehrhardt (2016) destacam que existem fatores negativos para a escolha da recompra de ações. Um deles é que os acionistas podem estar mais interessados em receber dividendos do que o processo de recompra. Sobre o preço das ações, o interesse por dividendos pode afetar de forma melhor do que a ação de recompra das ações por parte dos investidores. Para os acionistas, caso eles não tenham todas as informações sobre as expectativas futuras da empresa e sobre as implicações com tal recompra, esse tipo de procedimento pode significar para a empresa ações judiciais. No mais, a empresa pode vir a recomprar as ações por um valor elevado, não significando que aqueles que vão adquiri-las futuramente incorrerão no mesmo valor. Na Figura 2 estão os diversos fatores acerca da recompra das ações: Figura 2 – Fatores relacionados à recompra de ações De forma geral, a recompra é um mecanismo que apresenta ao investidor a opção de fazer caixa ou postergar tal caixa, caso não esteja necessitando Recompra de ações Opção para o acionista quanto a recurso de caixa Reestruturação do capital Fatores associados à subavaliação da ação 014 naquele momento. Para a empresa, é uma forma de remunerar seus investidores, contudo, ao não ter uma política de distribuição de dividendos, pode ser que não atraia de maneira positiva investidores, transparecendo esse fato na liquidez das ações. Para aquela empresa que quer refazer sua estrutura de capital, passa a ser uma forma de melhor executar tal fato. Sobre esse tópico, discorre Assaf Neto (2014, p. 209): Uma empresa, com excesso de participação de recursos próprios no financiamento de suas atividades, pode adotar a estratégia de levantar novas dívidas e devolver parte dos recursos dos acionistas, através do mecanismo de recompra de suas próprias ações. Nessa alternativa, a sociedade recompra suas próprias ações em bolsa de valores, e depois as cancela, reduzindo o volume físico emitido. Essa redução do volume físico faz com que a empresa venha a desprender um maior lucro por ação, acarretando para o investidor uma vantagem com essa prática. Faz com que o investidor possa vir a ter uma maior parcela do capital da entidade. Por último, deve-se levar em consideração as informações privilegiadas dos gestores nas entidades, que podem ser indícios de comportamentos oportunistas, apesar de haver mecanismos como o colocado pela CVM, que indica que a empresa pode recomprar até 10% das suas ações em um determinado ano. FINALIZANDO Retomando o estudo aqui abordado, foram colocadas questões sobre como as empresas trabalham a fim de realizar a distribuição de dividendos, a remuneração de Juros Sobre o Capital Próprio e a recompra de ações. As empresas precisam apresentar para os donos do capital como serão as suas remunerações, a fim de dar uma sinalização de qual retorno poderá ser auferido com o negócio. São tipos de aporte de caixa para os investidores e devem estar alinhados às ações de investimento das empresas, uma vez que, se a escolha da entidade for a de reter recursos de investidores para seus projetos de expansão, os gestores devem apresentar aos acionistas expectativas futuras, e isso demanda custos contratuais, por exemplo, a distribuição de dividendos. A distribuição de dividendos é a opção que remunera o investidor de forma periódica e as empresas tendem a divulgar tal forma de remuneração a fim de sinalizar ao mercado suas expectativas futuras sobre o negócio. Já os juros sobre o capital próprio colocam a empresa e o investidor em uma condição favorável em 015 relação à base de provisão de tributos. Por último, a recompra de ações é realizada com objetivos específicos e possui vantagens tanto para investidores quanto para a própria empresa. No mais, as empresas devem realizar análises detalhadas, principalmente relacionadas a questões tributárias e de estruturas de capital, que interferem na escolha da fonte de financiamento. 016 REFERÊNCIAS ASSAF NETO, A. Finanças corporativas e valor. 7 ed. São Paulo: Atlas, 2014. BREALEY, R. A.; MYERS, S. C.; ALLEN, F. Princípios de finanças corporativa. 10. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013. BRIGHAM, E. F.; EHRHARDT, M. C. Administração financeira: teoria e prática. 3. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2016. DAMODARAM, A. Finanças corporativas: teoria e prática. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2007. MODIGLIANI, F.; MILLER, M. The cost of capital, corporation finance and the theory of investment. 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