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ROTEIRO ÚNICO - FUNDAMENTOS DA ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURIDICA - 2019 2- FARESI

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Profª. Emanuelle Moreira 
FUNDAMENTOS DA ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 
 
1 
 
RROOTTEEIIRROO DDEE AAUULLAASS 
 
 
FFUUNNDDAAMMEENNTTOOSS DDAA 
AANNTTRROOPPOOLLOOGGIIAA EE 
SSOOCCIIOOLLOOGGIIAA JJUURRÍÍDDIICCAA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CONCEIÇÃO DO COITÉ/BA 
2019.2 
Profª. Emanuelle Moreira 
FUNDAMENTOS DA ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 
 
2 
 
 
FUNDAMENTOS DA ANTROPOLOGIA E 
SOCIOLOGIA JURÍDICA 
 
Obs: Este material trata-se de Roteiro de Aulas (Material de Apoio), visando majorar o 
aproveitamento do aluno na disciplina, pelo que deve ser acompanhado pela 
participação das respectivas aulas em sala para uma melhor compreensão. 
 
CONSIDERAÇÕES INICIAIS – APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA 
- O que é Antropologia? E Sociologia Jurídica? – Para que servem? 
 - O que elas acrescentam na minha vida profissional? 
 - A Antropologia e a Sociologia Jurídica são 02 (duas) ciências sociais e humanas que 
foram reunidas com o intuito de compor a disciplina Fundamentos da Antropologia e 
Sociologia Jurídica. 
- O principal objetivo desta disciplina é alicerçar sua base acerca do conhecimento 
sobre cultura, das interações sociais, das relações sociais e dos fatos sociais. 
- Isto porque a Antropologia dedica-se ao estudo do homem enquanto possuidor de 
uma cultura, de uma crença, de uma simbologia e a Sociologia, campo que parece 
ainda maior, se dedica ao homem em suas interações sociais. 
- Ambas possuem a finalidade de desenvolver um senso científico, capaz de tornar o 
estudante de Direito atento aos problemas que envolvem a função social da carreira 
que escolheram. 
- A ruptura com o senso comum passa a ser a ordem do dia e o engajamento científico 
torna-se imperativo. Isso porque sua visão de mundo não é ou não deve ser a mesma. 
- O estudante de Direito, por sua vez, não pode opinar simplesmente por opinar. Suas 
opiniões devem estar embasadas, seu discurso deve ter algo de substancial, sua fala 
deve estar a mais lapidada possível e suas práticas, essas sim, devem ser as mais 
corretas. 
Profª. Emanuelle Moreira 
FUNDAMENTOS DA ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 
 
3 
 
- Você pode se perguntar: mas, o que a Antropologia e a Sociologia Jurídica têm a ver 
com isso? E a resposta é imediata: TUDO. 
- A Antropologia e a Sociologia Jurídica como ciências que estudam o homem na 
sociedade ou como parte da organização societal, trazem em seus respectivos bojos, 
não apenas o objetivo de estudar o homem, mas, também de ajudá-los a viver e 
conviver melhor. 
- Alguns podem até discordar, mas, não devem, pois tanto a Antropologia quanto a 
Sociologia Jurídica se instituíram ciências com o propósito de intervir para melhorar a 
vida em sociedade. 
- Afinal, do que adiantariam pesquisa sobre a violência doméstica, sobre o menor 
abandonado, sobre a família, etc., se não fosse para implementar melhorias no 
fenômeno social estudado, buscar solucionar problemas? 
- Comecemos por esclarecer alguns pontos que se revelam muito importante para a 
compreensão da nossa realidade e consequentemente dos conhecimentos 
antropológicos e sociológicos. 
- O primeiro ponto refere-se ao que torna o homem diferente dos outros animais, ou 
seja, a reflexão, o pensamento. 
- Em outras palavras o homem crítico, aquele que não se contenta com a naturalização 
dos fatos, aquele que exerce o estranhamento para com os acontecimentos. 
- Por vezes somos levados a “aceitar as coisas como elas são”, como elas se 
apresentam, sem questionar e sem concebê-la como certa ou errada. 
- Um exemplo disso é a economia. No nosso dia a dia parece que o preço do feijão, do 
arroz, do pão, da gasolina ou mesmo da passagem de ônibus sobem sem o 
conhecimento do cidadão e por livre vontade dos nossos gestores maiores. 
- E como “aparentemente” não depende de nós, acabamos por reclamar, esbravejar, 
mas, de imediato, nos contentamos com aquilo e até mesmo achamos comum que 
aquilo aconteça. Não é verdade? 
– O que nos leva a esse comportamento é a plena consciência de que “não podemos 
fazer nada” a esse respeito. 
Profª. Emanuelle Moreira 
FUNDAMENTOS DA ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 
 
4 
 
- Assim sendo, preferimos as explicações baseadas no senso comum do que ter o 
trabalho de teorizar sobre os fatos. 
- No entanto, agora você é um estudante de Direito. E consequentemente terá que ter 
a noção exata da função social da carreira que escolheu. E rever seus 
posicionamentos, suas opiniões é sua obrigação. 
- E para isso os conceitos e os fundamentos antropológicas e sociológicas lhe serão 
muito úteis para compreender, interpretar, analisar e por vezes até resolver problemas 
sociais que estão no nosso cotidiano e que, assim como a economia, passa por nós de 
forma naturalizada. 
- Tal postura é o que torna o homem em um cidadão critico é o que o habilita ao pleno 
exercício da cidadania, considerada aqui como a participação dos homens nas 
decisões de temas que envolvem a sociedade e que necessariamente prima pela 
melhoria de vida dos outros homens. 
- Um outro ponto importante para a compreensão da realidade a partir da Antropologia 
e da Sociologia Jurídica está relacionado, por incrível que parece, ao nosso 
vocabulário, a nossa linguagem. 
- Isto porque as ciências sociais, ao longo de suas histórias, receberam a contribuição 
de vários teóricos e pesquisadores que, ao estudarem determinados fenômenos, 
conceberam conceitos e noções que tornam mais rica a nossa linguagem e a nossa 
compreensão da realidade. 
- Você consegue mensurar a importância do conhecimento que será aqui produzido 
para pensar a formulação e a aplicação do direito? 
- Para te preparar para este grande desafio, pedimos que reflita sobre a questão 
proposta a seguir: PONTES DE MIRANDA, grande jurista alagoano morto em 1979, certa 
feita proclamou: “QUEM SÓ DIREITO SABE, NEM DIREITO SABE”. 
- Como essa frase repercute para você? 
- As novas demandas sociais impõem para os futuros profissionais do direito, a 
necessidade de uma leitura crítico-reflexiva acerca da dinâmica da vida em 
sociedade, que não está limitada a um emaranhado de normas jurídicas e suas 
sistematizações. 
Profª. Emanuelle Moreira 
FUNDAMENTOS DA ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 
 
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- Como é possível interpretar a realidade do sistema prisional brasileiro ou o número 
cada vez maior de jovens da periferia dos grandes centros urbanos mortos em ações 
policiais, sem pensar na seletividade advinda do racismo institucional arraigado em 
nossa cultura? 
- Ou, de que modo analisar os elevados índices de violência doméstica e familiar 
contra as mulheres e as reivindicações por parte dos movimentos feministas para a 
criação de leis específicas que pautem o enfrentamento desta grave violação de 
direitos humanos, senão a partir de um resgate histórico, capaz de revelar a lentidão 
com a qual o Estado sempre tratou tais situações? 
- Com isso, queremos dizer que, a melhor compreensão dos fenômenos jurídicos nos 
coloca diante da necessidade de um olhar para as nossas condições históricas e 
sociais. 
- Portanto, a Antropologia em sua busca constante por compreender a alteridade 
humana e a Sociologia, ao produzir conhecimento acerca da dinâmica das relações 
sociais, e acabam por assumir um papel fundamental para a ciência do Direito, 
constituindo-se em componentes curriculares zetéticos (investigativos), indispensáveis 
para a sua formação acadêmica e profissional. 
- Comecemos então pela definição de Antropologia. 
 
1. DEFINIÇÃO DE ANTROPOLOGIA 
- Antropologia, em sentido etimológico, significa o estudo do homem. 
- Na perspectiva dacultura ou da evolução humana, antropologia é uma ciência que 
se interessa por ideias, valores, símbolos, normas, costumes, crenças, invenções, 
ambiente etc., portanto, encontra-se associada a outras ciências (direito, sociologia, 
política, história, geografia, linguística), daí as dificuldades em relação à determinação 
de seu objeto de estudo. 
- Os antropólogos, de modo geral, entendem que a antropologia visa conhecer o 
homem inteiro, o homem em sua totalidade, isto é, em todas as sociedades e em todos 
os grupos humanos. 
- Esse entendimento confere à antropologia um TRÍPLICE ASPECTO: 
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A) DE CIÊNCIA SOCIAL: na medida em que procura conhecer o homem como indivíduo 
integrante de sociedades, comunidades e grupos organizados; 
B) DE CIÊNCIA HUMANA: quando procura conhecer o homem através de sua história, 
suas crenças, sua arte, seus usos e costumes, sua magia, sua linguagem etc.; 
C) DE CIÊNCIA NATURAL: quando procura conhecer o homem por meio de sua 
evolução, seu patrimônio genético, seus caracteres anatômicos e fisiológicos. 
 
2. CONCEITO ANTROPOLÓGICO DE CULTURA. 
- O conceito de cultura é um dos mais debatidos na antropologia e a sua utilização 
está longe de um consenso. 
- Definir CULTURA não é uma tarefa das mais fáceis, haja vista ser um termo com grande 
variedade de sentidos e abordagens. 
- Recorre-se com frequência às metáforas para explicar o que é a cultura e a sua 
densidade. Uma das mais interessantes imagens elaboradas a este respeito é a da 
cultura como um iceberg! Tal como um iceberg, aquilo que vemos da cultura é 
somente a sua superfície, sendo por vezes difícil imaginar e conceber o que se oculta 
por abaixo da linha de água. 
- Podemos dizer que por CULTURA se entende o modo particular da existência humana, 
sendo o que distingue o ser humano dos demais animais. 
- Quando, em Antropologia, a palavra CULTURA é utilizada, quer se referir ao modo 
como os indivíduos pensam e se comportam com base em códigos ou lógicas 
simbólicas muitas vezes inconscientes. 
- Por ser considerada o que distingue os seres humanos dos demais animais, o binômio 
natureza x cultura emerge como uma das mais significativas oposições no quadro do 
pensamento das Ciências Sociais. 
- Uma vez que a noção de cultura na acepção antropológica enseja a separação da 
cultura da natureza. 
- Nesta oposição, os seres humanos são vistos como seres culturais, enquanto os demais 
animais são considerados seres naturais. 
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- Tendo definido cultura, outra preocupação bastante evidente entre os antropólogos 
foi a de estabelecer a sua origem, ou seja, fixar o momento em que os seres humanos 
apartaram-se da natureza, fazendo surgir o mundo social. 
-- Já na perspectiva NORMATIVA, a cultura é ideais, valores, ou regras para viver. 
ORIGEM DA CULTURA: Nas palavras de LARAIA (2005): “como o homem adquiriu este 
processo extra-somático que o diferenciou de todos os animais e lhe deu um lugar 
privilegiado na vida terrestre?” 
- LARAIA (2005) destaca 02 (duas) CORRENTES principais, quais sejam: 
 A) Por um lado, LÉVI-STRAUSS defendeu que a cultura surgiu no momento em que a 
primeira norma foi convencionada pelos homens. Na visão de LARAIA, esta teria sido a 
LEI DE PROIBIÇÃO DO INCESTO, um comportamento até então comum às sociedades 
humanas. 
B) Por outro lado, LESLIE WHITE sustentou que a transição da natureza para a cultura se 
deu no momento em que o cérebro humano foi capaz de gerar SÍMBOLOS (significados 
arbitrariamente consignados que são compartilhados por uma sociedade). 
 
3. FUNÇÃO E OBJETO DE ESTUDO DA ANTROPOLOGIA JURÍDICA. 
- Qual função a Antropologia Jurídica exerce e qual o seu objeto de estudo? 
- Antes de adentrar neste debate, pedimos que você reflita sobre a situação o narrada 
a seguir: 
Em 2005, o caso das crianças Sumawani e Ignani, ambas do povo Zuruaha 
(Amazonas), ganhou grande repercussão a nível nacional, aquecendo o debate 
sobre o infanticídio indígena. Sumawani nasceu intersexo e Ignani com paralisia 
cerebral. Por conta disso, pela tradição Zuruaha, elas deveriam ser deixadas na 
floresta para morrer. As mães das crianças chegaram a abandoná-las, mas elas 
foram salvas por suas avós. Para você, o bem maior a ser tutelado é a vida ou a 
preservação da cultura indígena? 
- Então, feita esta reflexão, vamos explanar propriamente dito sobre a FUNÇÃO E 
OBJETO de estudo da Antropologia Jurídica. 
- Vale lembrar que, o Direito se ocupa fundamentalmente com o ser humano, buscando 
regular e equacionar os conflitos advindos de suas relações em sociedade. Ao passo 
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que a Antropologia, a partir dos instrumentos interpretativos que desenvolveu, propõe 
uma melhor compreensão do ser humano e da cultura em que se insere. 
- FUNÇÃO DA ANTROPOLOGIA JURÍDICA: Tendo essas aproximações em vista, a 
antropologia jurídica se consolida como a área responsável por comparar e analisar as 
instituições do direito e as múltiplas concepções de justiça alimentadas pelas diferentes 
culturas, valendo- se do seu método por excelência – o trabalho de campo. 
- OBJETO DA ANTROPOLOGIA JURÍDICA: Destaque-se, contudo, que a Antropologia 
Jurídica NÃO se ocupa exclusivamente do estudo do direito de sociedades simples. Na 
DÉCADA DE 1960, a Antropologia Jurídica passa a se interessar também pelo estudo das 
sociedades complexas, auxiliando no preparo e alerta da sociedade para “aceitar as 
evoluções jurídicas que estão em curso e que apontam para um direito mais maleável, 
punições flexíveis, transações ou mediações em vez de julgamentos, regras que mais 
formam modelos do que prescrevem ordens.” (ASSIS E KUMPEL, 2011). 
- EXEMPLO: Justiça Restaurativa. 
 
4. PLURALISMO JURÍDICO OU POLICENTRISMO JURÍDICO. 
- Você sabe o que significa pluralismo jurídico? 
- Comumente se observa a identificação do Direito como algo que emana de uma 
instituição legalmente instituída – o Estado -, dentro de uma tradição que se 
convencionou chamar de monismo ou centralismo jurídico. 
- Conforme BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS, “o Estado moderno se assenta no 
pressuposto de que o direito opera segunda uma única escala, a escala do Estado.” 
- Entretanto, nas últimas décadas, tem sido cada vez mais aceita a tese de que o 
Estado não dispõe do monopólio da formulação das leis, fazendo crescer, entre 
antropólogos e sociólogos do Direito, uma preocupação com outras formas de 
regulamentação da vida em sociedade. 
- Existem inúmeras concepções acerca da definição do que chamamos de 
PLURALISMO ou POLICENTRISMO JURÍDICO, vejamos algumas delas: 
(i) a “teoria que sustenta a coexistência de vários sistemas jurídicos no seio de uma 
mesma sociedade” (SABADELL, 2010). 
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FUNDAMENTOS DA ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 
 
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(ii) Contrário: de monismo, centralizador, monopólio, oficial do Estado. 
(ii) Diversas formas de direito convivendo no mesmo espaço e mesmo tempo. 
(iv) Normas jurídicas diferentes, na mesma sociedade, regulando a mesma situação. 
(v) É a negação de que o Estado seja a fonte única e exclusiva de todo direito. 
(vi) Produção de outras formas de regulamentação, geradas por instâncias, corpos 
intermediários ou organizações sociais providas de certo grau de autonomia e 
identidade própria. 
- Neste sentido, para que haja PLURALISMO JURÍDICO, faz-se necessária a existência 
simultânea de duas ou mais normas aplicáveis ao mesmo caso concreto, advindas de 
fontesdistintas do sistema a qual pertencem. 
-Em regra, apenas uma norma será aplicada. 
- Também, assegura que boa parte do direito não estatal somente aparece por conta 
da omissão do Estado quando da distribuição da Justiça. 
- IPC.: Você consegue identificar alguma situação presente na sociedade brasileira que 
pode configurar pluralismo jurídico? 
- O EXEMPLO DE PLURALISMO JURÍDICO que o autor SANTOS investiga é o dado pelas 
associações de moradores de favelas do Rio de Janeiro. 
- No RIO DE JANEIRO, as associações de moradores de favelas passaram a assumir 
funções nem sempre previstas diretamente nos seus estatutos, como, por exemplo, a de 
arbitrar conflitos entre vizinhos. 
- A associação de moradores transformou-se, assim, gradualmente num fórum jurídico, à 
volta do qual se foi desenvolvendo uma prática e um discurso jurídico, que possibilitou o 
surgimento de um direito novo: o DIREITO DA FAVELA. 
- Esse é um direito paralelo não oficial, cobrindo uma interação jurídica muito intensa à 
margem do sistema jurídico estatal. 
- O modelo jurídico da favela representa o traço de um movimento que parece ser 
mais amplo. Esse movimento ou tendência é detectável por múltiplos sinais, e os mais 
importantes são os que dizem respeito à criação, em certas áreas do controle social, de 
uma administração jurídica e judiciária paralela ou alternativa à administração estatal. 
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- A administração paralela, segundo SANTOS (1988), recupera ou reativa, em novos 
moldes, estruturas administrativas de tipo popular ou participativo há muito 
abandonadas ou marginalizadas. 
- Assim, em áreas como segurança, defesa do consumidor, relações entre vizinhos, 
questões de família, pequenos delitos criam-se tribunais sociais, comunitários ou de 
bairros presididos por juízes leigos, eleitos ou designados pelas organizações sociais, e 
em que a representação das partes por advogados não é necessária. 
- O processamento das questões é informal e oral e, por vezes, nem sequer a sentença 
é reduzida a escrito. 
- Esse modelo “marginal” tem inspirado reformas no âmbito do direito estatal, 
principalmente, com os tribunais de pequenas causas e a aplicação das denominadas 
penas alternativas. 
- Apesar de toda a sua precariedade, o direito da favela representa a prática de uma 
legalidade alternativa e, como tal, um exercício alternativo de poder político, ainda 
que embrionário. 
- Não é um direito revolucionário, nem tem lugar numa fase revolucionária de luta de 
classes. Mas, de qualquer modo, representa uma tentativa para neutralizar os efeitos da 
aplicação do direito capitalista de propriedade no seio da favela e, portanto, no 
domínio habitacional da reprodução social. 
- E porque se centra à volta de uma organização eleita pela comunidade, o direito da 
favela representa, também por essa razão, a alternativa de uma administração 
democrática da justiça (SANTOS, 1988). 
JUSTIÇA ESTATAL X JUSTIÇA COMUNITÁRIA 
- No domínio da antropologia jurídica, os autores costumam utilizar o método 
comparativo. 
- Assim, quando se compara o direito das sociedades simples com o direito das 
sociedades complexas, geralmente apontam que: 
A) As SOCIEDADES SIMPLES dispõem de um direito cujo processo é flexível, sem 
demarcação nítida da matéria relevante, e a reconciliação das partes tem primazia 
sobre tudo o mais na resolução dos litígios; 
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FUNDAMENTOS DA ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 
 
11 
 
B) As SOCIEDADES COMPLEXAS dispõem de um direito formalista, dotado de um 
processo inflexível, e as decisões são baseadas na aplicação das leis sem qualquer 
preocupação com a reconciliação das partes. 
- SANTOS, ao comparar o direito da favela com o direito estatal, verifica que o direito 
estatal, por ser mais institucionalizado, com maior poder coercitivo e com discurso 
jurídico de menor espaço retórico, é concomitantemente mais profissionalizado, mais 
formalista e legalista, mais elitista e autoritário. 
- Enfatiza que a práxis do direito estatal é revelada pela articulação de três 
componentes estruturais básicos: a retórica, a burocracia e a violência, típicos da 
sociedade capitalista. 
- Paralelamente ao modelo tradicional de administração tecnocrática da justiça, 
SANTOS reconhece a possibilidade de modelos alternativos de administração da justiça, 
que a torne, em geral, mais rápida, mais barata e mais acessível. 
- Nesse sentido cita a JUSTIÇA COMUNITÁRIA, que pressupõe a mediação ou 
conciliação através de instâncias e instituições que sejam descentralizadas e informais e 
que possam substituir ou complementar o modelo tradicional. 
- Essas reformas possibilitariam a construção de um direito novo, de um modelo jurídico 
capaz de limitar e restringir o espaço da dominação da burocracia (domínio da 
hierarquia normativa) e da violência (ordenação da legitimidade sob coação) e de 
promover a expansão da retórica como processo dialógico de negociação e de 
participação. 
- O DIREITO DA FAVELA, como visto, favorece a emergência de um modelo jurídico 
dominado pela retórica, portanto, permite atingir formas de superar a crise do 
paradigma tradicional do direito. 
- Tal direito faz uso de um modelo decisório de mediação, que, ao contrário do modelo 
de adjudicação, maximiza o potencial de persuasão para a adesão à decisão. 
- Segundo SANTOS (1988), quanto mais elevado é o nível de institucionalização da 
função jurídica menor tende a ser o espaço retórico do discurso jurídico, e vice-versa; 
quanto mais poderosos são os instrumentos de coerção ao serviço da produção jurídica 
menor tende a ser o espaço retórico do discurso jurídico e vice-versa. 
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12 
 
- Conforme foi destacado, a antropologia, nos seus primeiros momentos, interessa-se 
pelo estudo das sociedades ditas primitivas, especialmente pelo seu processo 
evolucionário. Essas sociedades, apesar de apresentar um baixo nível de 
institucionalização, despertou o interesse dos teóricos do direito. 
- INDICAÇÃO DE FILME: Assista ao documentário Notícias de uma Guerra Particular, 
produzido em 1999 pelo cineasta João Moreira Salles e pela produtora Kátia Lund. O 
documentário está disponível no YouTube. Durante a audiência, tente perceber como 
opera, na prática, a teoria do pluralismo jurídico. Link para acesso: 
<https://youtu.be/EAMIhC0klRo>. 
 
5. DIREITO E RELAÇÕES DE GÊNERO. 
- Essas 02 categorias se entrecruzam com a classe social, assim como, outros 
marcadores (idade/geração, orientação sexual, religião etc.), gerando experiências 
múltiplas e modos de vida particulares. 
- Neste primeiro momento, nosso olhar se voltará para as questões de gênero e as suas 
conexões com o direito. 
- E por que precisamos falar sobre isso? 
- O Brasil teve uma ligeira redução no número de mulheres assassinadas em 2018. Mas, ainda 
assim, os registros de feminicídio cresceram em um ano. 
- É o que mostra um levantamento feito pelo G1 com base nos dados oficiais dos 26 estados e 
do Distrito Federal. 
 - Fonte: https://g1.globo.com/monitor-da-violencia/noticia/2019/03/08/cai-o-no-de-
mulheres-vitimas-de-homicidio-mas-registros-de-feminicidio-crescem-no-brasil.ghtml). 
- São 4.254 homicídios dolosos de mulheres, uma redução de 6,7% em relação a 2017, 
quando foram registrados 4.558 assassinatos – a queda é menor, porém, que a 
registrada se forem contabilizados também os homens. 
- Houve ainda um aumento no número de registros de feminicídio, ou seja, de casos em 
que mulheres foram mortas em crimes de ódio motivados pelacondição de gênero. - 
Foram 1.173 no ano passado, ante 1.047 em 2017. 
- O novo levantamento revela que: 
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FUNDAMENTOS DA ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 
 
13 
 
- O Brasil teve 4.254 homicídios dolosos de mulheres em 2018 (uma 
redução de 6,7% em relação ao ano anterior) 
- Do total, 1.173 são feminicídios (número maior que o registrado em 
2017). 
- Oito estados registram um aumento no número de homicídios de 
mulheres; 16 contabilizam mais vítimas de feminicídio em 2018. 
- Roraima é o que tem o maior índice de homicídios contra mulheres: 10 a 
cada 100 mil mulheres. 
- Acre é o estado com a maior taxa de feminicídios: 3,2 a cada 100 mil. 
- No ESTADO DA BAHIA: o número de feminicídios (homicídio praticado contra a mulher por 
ela ser mulher) registrados na Bahia cresceu nos primeiros quatro meses deste ano, em relação 
ao mesmo período de 2018. De acordo com a Secretaria da Segurança Pública da Bahia 
(SSP-BA), em 2019, foram 10 casos a mais que os ocorridos entre janeiro e abril do ano 
passado. 
- A LGBTIQfobia (LGBTI - lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, intersex e queer - 
termo usado para designar pessoas que não seguem o padrão da heterossexualidade 
ou do binarismo de gênero) também produz e reproduz violências e vidas 
precarizadas. O Brasil é o País que mais mata travestis e pessoas transexuais. 
- Segundo dados do GRUPO GAY DA BAHIA, em 2018 os LGBT+ sofreram 320 homicídios, 
totalizando 76% dos casos de violência computados. Já os suicídios foram 100, 
totalizando 24% dos dados. Em relação ao ano de 2017 observou-se uma pequena 
redução no número de mortes. 
- Segundo os dados, a cada 20 horas um LGBT é morto ou comete suicídio no Brasil. Os 
números colocam o Brasil como recordista no ranking de países que mais mata LGBTs 
no mundo. O relatório citou ainda que, segundo dados internacionais, no Brasil são 
mortos mais LGBTs do que em países onde existem pena de morte para homossexuais 
como na África e Oriente Médio. 
-Fonte: https://revistaladoa.com.br/2019/01/brasil/grupo-gay-da-bahia-publica-relatorio-
sobre-mortes-por-lgbtfobia-em-2018/ 
- Essas são apenas algumas situações para ilustrar o quanto gênero é uma categoria 
fundamental para a análise de nossas relações sociais. 
Profª. Emanuelle Moreira 
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14 
 
- Aqui, frise-se, referimo-nos a GÊNERO como conceito cunhado no âmbito dos estudos 
feministas, que adquire um significado específico, bem distante dos usos variados feitos 
no discurso do senso comum. 
- No final da década de 1980, muitas teóricas feministas passaram a utilizar o termo 
gênero para designar a organização social da relação entre os sexos, rejeitando o 
determinismo biológico com o qual a questão costumava a ser tratada. 
- Segundo SCOTT (1995), gênero pode ser entendido como uma categoria analítica que 
reconhece as diferenças existentes entre homens e mulheres como socialmente 
construídas e firmadas a partir de relações de poder. 
- Nos anos seguintes, o conceito de gênero ganha ampla repercussão nos estudos 
acadêmicos, porém, em nosso cotidiano, ainda é bastante comum perceber indivíduos 
fazendo confusão entre termos como sexo, identidade de gênero e orientação sexual. 
- VOCÊ SABERIA DIFERENCIÁ-LOS? 
- Por SEXO, entendemos os marcadores biológicos que definem os machos e as fêmeas 
da espécie humana. 
- Já a IDENTIDADE DE GÊNERO é a maneira como o sujeito se enxerga ou seja, o gênero 
que se identifica identifica e se apresenta como fazendo parte. 
- Por fim, a ORIENTAÇÃO SEXUAL indica pelo que você sente atração, mostra para que 
lado a sua sexualidade está orientada. Diz respeito a inclinação da pessoa na esfera 
afetiva, amorosa e sexual, e dizer, por qual gênero ela se sente atraída. 
 
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15 
 
- Feitas as distinções, uma nova pergunta poderia ser lançada: POR QUE ESSA 
COMPREENSÃO É IMPORTANTE PARA O DIREITO? 
- SABADELL (2010) aponta que os estudos feministas identificaram problemas de 02 
(duas) ordens: “primeiro, a existência de normas que discriminam a mulher (direito 
“masculino”). Segundo, a aplicação das normas de forma que discrimina as mulheres.” 
- REFLEXÃO: Pesquise por disposições contidas ou que já figuraram no ordenamento 
jurídico brasileiro que, na sua opinião, poderiam configurar uma violação de direitos da 
mulher, bem como, por decisões que promoveram a discriminação das mulheres. Em 
seguida, socialize seus achados com os demais colegas e reflitam coletivamente. 
- Passemos agora ao estudo da raça. 
 
6. RAÇA, RACISMO E SISTEMA DE JUSTIÇA. 
- Os estudos antropológicos também guardam um lugar especial para a discussão 
sobre RAÇA. 
- RAÇA HUMANA NO DECORRER DOS SÉCULOS: 
 SÉCULO XVIII: - Na questão da raça humana, sobretudo no decorrer 
do século XVIII, a cor da pele, ou seja, a concentração de melanina 
apresentada nos organismos dos sujeitos, foi o elemento utilizado para 
promover a distinção. 
- A raça humana teria então restado dividida em 03 (três) raças até hoje 
presentes no imaginário social: A) branca, B) negra e C) amarela. 
 SÉCULO XIX: outros critérios morfológicos passaram a ser associados a 
cor da pele para a definição da raça a que uma pessoa pertencia - o 
formato do nariz e dos lábios, o ângulo facial, a forma do crânio, etc. 
(MUNANGA, 2004). 
 SÉCULO XX: os avanços no campo da genética humana invalidaram 
cientificamente o conceito de raça, passando-se a defesa de que as 
variações encontradas nos organismos humanos não eram suficientes 
para sustentar a tese de uma pluralidade racial. 
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16 
 
- Veja no QUADRO a seguir um resumo dos critérios utilizados para promover a 
classificação racial, segundo MUNANGA (2004): 
 
 
 
- No entanto, se do ponto de vista da Biologia a classificação dos seres humanos em 
diferentes raças é algo que não mais se sustenta, do ponto de vista social, sua 
existência não apenas persiste como também é plenamente utilizada para gerar um 
sistema deliberado de supremacia branca, arraigado em nossas instituições sociais. 
- Esse sistema foi denominado de RACISMO e consiste na “doutrina segundo a qual 
todas as manifestações culturais, históricas e sociais do homem e os seus valores 
dependem da raça”. 
- Segundo SCHUCMAN (2010), pensando a realidade brasileira, tem-se que o racismo se 
desenvolveu de uma maneira bastante peculiar, dentre outros aspectos, por substituir a 
noção de raças pela de cor e aparência física no imaginário coletivo. 
- O racismo cotidianamente praticado no Brasil, além da discriminação e 
estigmatização de parcela da sociedade, cria uma série de violações de direitos, 
inclusive com a lentidão do Estado e de seus agentes. 
- Logo a seguir, vamos expor 02 (dois) EXEMPLOS que servem bem para ilustrar a 
estigmatização e violação de direitos da população negra no País. 
- O PRIMEIRO EXEMPLO dialoga com o conceito de sujeição criminal proposto por MISSE 
(2014), que se refere “a um processo social pelo qual se dissemina uma expectativa 
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17 
 
negativa sobre indivíduos e grupos, fazendo-os crer que essa expectativa não só e 
verdadeira como constitui parte integrante de sua subjetividade”. 
- Neste sentido, ocorre um PROCESSO DE INCRIMINAÇÃO antes mesmo do cometimento 
do delito, em que o suspeito por excelência e o indivíduo negro, geralmente associado 
a ideia de desordem. 
- O SEGUNDO EXEMPLO diz respeito a SELETIVIDADEobservada no sistema de justiça 
criminal, no qual os negros são tratados como alvos preferenciais das agências de 
controle social, quer seja na maior representação da população carcerária, quer seja 
nos índices de vitimização experimentados sobretudo pelos jovens negros das periferias 
dos grandes centros urbanos em ações policiais. 
- Vejamos algumas legislações sobre a discriminação racial no Brasil: 
A Constituição Federal de 1988, no seu art. 5° inciso XLII, determina que “a prática do 
racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito de reclusão nos termos da 
lei”. 
Art. 3° Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: (…). 
 IV Promover o bem estar de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, 
idade e quaisquer outras formas de discriminação. 
Art. 5° – Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, 
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do 
direito à vida, a liberdade, a igualdade, a segurança e a prosperidade…(…). 
XLI A lei punirá a qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades 
fundamentais. 
Art. 4° – A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais 
pelos seguintes princípios: 
II – prevalência dos direitos humanos; 
VIII – repudio ao terrorismo e ao racismo; 
Art. 7°- 
XXX – proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de 
admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil; 
Art. 215. § 1°- O Estado protegera as manifestações das culturas populares, indígenas 
e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório 
nacional. 
Art. 216. § 5° – Ficam tombados todos os documentos e os sítios detentores de 
reminiscências históricas dos antigos quilombos. 
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18 
 
- QUAIS SITUAÇÕES VOCÊ CONSEGUE LEMBRAR EM QUE É POSSÍVEL PENSAR O RACISMO 
EM RELAÇÃO AO SISTEMA DE JUSTIÇA BRASILEIRO? 
 
7. A CONTRIBUIÇÃO DOS CLÁSSICOS NA SOCIOLOGIA. 
- É de suma importância, que também conhecimento sobre as contribuições de Karl 
Marx, Émile Durkheim e Max Weber para a sociologia jurídica. 
- Inicialmente, precisamos saber o conceito da palavra “clássico”. Um clássico é aquele 
autor que não tem apenas valor histórico, mas, cuja obra pode ser lida e relida diversas 
vezes, fazendo-nos descobrir aspectos que não foram percebidos antes, e que pode ser 
sempre “atualizado”, isto é, pode ser lido a partir de questões e problemas do mundo 
atual. 
- De modo que, Karl Marx, Émile Durkheim e Max Weber são considerados clássicos 
desta disciplina, grandes pensadores da época, que dedicaram-se a explicar a 
dinâmica das relações sociais. 
- Iniciemos nosso estudo sobre os clássicos da Sociologia por Karl Marx. 
 
7.1. KARL MARX 
 
 INTRODUÇÃO 
- Os pensamentos de Karl Marx são resultantes de contexto sócio-político determinado. 
- É uma resposta aos problemas da sociedade burguesa e uma proposta de 
intervenção que tem como centro a classe operária. 
- Pretende um modo novo de ver a sociedade burguesa: compreendê-la para suprimi-
la. 
- Isso porque a Revolução Industrial ocasionou crise social que atingiu níveis 
gigantescos. 
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19 
 
- A permuta do homem pela máquina, maior produção/maior desempregados; 
concorrência das fábricas/artesãos faliam. 
- Trabalho operário: exercício mecânico (não exigia técnica nem raciocínio)/utilização 
das mulheres e crianças (extremamente vantajosa e barata). 
- As péssimas condições de trabalho desencadeavam a enorme mortalidade infantil e 
desnutrição. 
- Além disso, ao se processar a divisão de trabalho, separavam-se aqueles que pensam, 
daqueles que agem, criando as especialidades. 
- Neste contexto, nasce o modelo teórico de Marx para compreender a sociedade. 
 MODELO TEÓRICO DE MARX 
- Marx junto à colaboração essencial de Engels, produziu um julgamento do 
Capitalismo jamais visto. 
- Com o “Manifesto Comunista” (1848), conclamou todos os trabalhadores, 
independente de suas nacionalidades, à união contra o Capitalismo (sendo que o 
processo de sindicalização tomou grande impulso a partir daí). 
- Marx propõe, por meio do MATERIALISMO HISTÓRICO, que os homens não são meros 
seres contemplativos do mundo, não são apenas produto do meio, mas, são produtos 
da História; 
- A sociedade, o Estado e o Direito não surgem de decretos divinos, mas, dependem da 
ação concreta dos homens na História. 
- Além disso, afirma que o modo de produção capitalista é sustentado por inúmeras 
contradições, essencialmente verificadas no plano das classes sociais (capital/trabalho, 
campo/cidade). 
- A burguesia como classe detentora dos meios de produção e, portanto, dominante; e 
o proletariado, que tem como única riqueza o seu trabalho, tendo que o vender para 
sobreviver. 
- K. Marx então, propõe um MODELO TEÓRICO SOCIAL, dividindo o esqueleto social em 
02(duas) partes: a INFRA-ESTRUTURA e a SUPERESTRUTURA, utilizando-se de metáforas 
advinda da construção civil. 
 
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- E que revela que a INFRA-ESTRUTURA está afastada das percepções sensoriais (sentidos 
humanos) do homem, como: olfato, tato, paladar e audição. 
- E, de outro lado, ilustra que os componentes da SUPERESTRUTURA, isto é, a política, 
ideologia e o Direito, são captáveis pelos sentidos humanos. 
- Na INFRAESTRUTURA ou BASE MATERIAL ou BASE ECONÔMICA, segundo Marx, 
desenvolvem-se todas as relações de produção através das forças produtivas, isto é, as 
ferramentas pelas quais irá se obter produtividade: força de trabalho + tecnologia + 
terras + conhecimento. 
- As relações sociais de produção, por sua vez, significam as interações entre indivíduos 
ou deste com a natureza, ocorridas na INFRAESTRUTURA. 
- Sobre a INFRAESTRUTURA levantar-se-ia a SUPERESTRUTURA, que reproduziria a 
dominação estabelecida na infraestrutura e seria composta por 02 (duas) categorias: 
jurídico-política e ideológica. 
1) JURÍDICO-POLÍTICA (Estado, leis, justiça): tem por função mediar as relações materiais 
e tem como expressões máximas: o Direito e a Burocracia. 
- O Direito como demonstração da luta de classes, sendo a lei vista como a 
consagração da ideologia burguesa. 
- A Burocracia, como um corpo de funcionários orientados a perpetuar as condições 
vividas na infraestrutura. 
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21 
 
2) IDEOLÓGICA (ideias, costumes): na qual seriam construídos valores, ideias e 
representações que afirmariam as diferenças entre as classes sociais. 
- As classes sociais constituem a base de todo o pensamento de K. Marx. Elas são 
determinadas pela posição que um grupo de indivíduos possui nas relações sociais de 
produção. 
- Essa posição seria determinada pela propriedade ou não de bens. O grupo que os 
possuíssem seria a classe dominante e os que não os detivessem, a classe dominada. 
- As relações entre essas classes nascem na Infraestrutura, sendo afirmadas, mantidas e 
reproduzidas pela esfera Superestrutural. 
- Vale frisar, que Marx considera que as relações econômicas determinam o corpo 
Superestrutural. 
 O ESTADO NA VISÃO DE MARX 
- Marx expõe uma nova concepção, segunda a qual o Estado não funciona como 
curador social, que tem como função obter o bem comum da sociedade. 
- Rompeu com o pensamento liberal, que analisava o Estado como um arranjo 
contratual entre os indivíduos, a fim de garantir a ordem,a propriedade e os direitos 
civis, sendo o representante de todos os setores da sociedade. 
- Segundo Marx, o Estado é um instrumento de manutenção da ordem dominante e 
representa dos interesses dessa classe. 
- Para que essa dominação seja aceita pacificamente por toda a sociedade, o Estado 
age em nome do “interesse geral” e das “leis”. 
- Classes sociais dominantes: impõem seus interesses não apenas através do Estado, 
mas, nos códigos de leis, igreja, jornais, educação, meios de comunicação, 
propagandas, que vão ajudando a sedimentar a sua ideologia. 
- K. Marx: Estado não é imposição divina aos homens, nem é resultado de contrato 
social, mas, é a maneira pela qual a classe dominante de determinada época garante 
seus interesses e dominação sobre o todo social; 
- O Estado não deveria ser o repressor do proletariado e sim, repressor da burguesia. 
- As forças produtivas do modo de produção capitalista deveriam ser desenvolvidas ao 
máximo, até que as contradições entre as classes tornarem-se insuportáveis. 
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22 
 
- Nesse momento, o povo chegaria ao poder e as decisões seriam tomadas pela massa 
popular. 
- Dentre as decisões, estaria a socialização das propriedades, enquanto o Estado e 
consequentemente o Direito (já que este é produto daquele) iriam perdendo as suas 
funções até se extinguirem completamente. 
- O Estado e Direito passariam a serem desnecessários, numa sociedade onde na qual 
todas as pessoas estariam numa mesma situação diante da base material, não 
existiriam mais classes sociais, então não haveria mais necessidade de algo que 
regulasse as contradições existentes entre elas, ensejando assim, a igualdade social. 
O DIREITO NA OBSERVAÇÃO DE MARX 
 
 
- Para Marx, o Direito pressupõe Estado, que surge somente quando há uma sociedade 
politicamente organizada, com órgãos capazes de estabelecer regras e impor o seu 
cumprimento. 
- Isso significa que o Direito apenas confirma e fortalece as relações sociais, aplicando 
regras a situações preexistentes. 
- Marx observou que o Direito desenvolvido na sociedade capitalista estabelece normas 
universais e uniformes para sujeitos desiguais, perpetuando assim, as diferenças sociais, 
baseadas na exploração do trabalho das classes populares pelos detentores do 
capitalismo. 
- Na visão de Marx, o Direito NÃO exprime ideais abstratos como a igualdade, 
liberdade, justiça, ordem e segurança. 
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23 
 
- O Direito corresponde às relações econômicas que predominam na sociedade. 
- A sociedade encontra-se dividida em classes, desenvolvendo-se um processo de 
dominação e de repressão das classes inferiores por parte das classes privilegiadas, que 
detêm o poder. 
- O Direito reflete esta realidade social, por exemplo: as normas relativas ao direito da 
propriedade protegem de um modo geral, os interesses das classes sociais mais 
abastadas. Nessa perspectiva, o direito aparece como um instrumento ideológico e 
político de dominação da classe dominante. 
- Em outras palavras, o direito constitui um meio de reprodução do sistema econômico 
capitalista, fundado na exploração da força de trabalho pelos detentores dos meios de 
produção. 
- Em síntese, para Marx, não existe um direito sem Estado, nem um Estado sem direito. 
- O direito criado e aplicado pelos aparelhos do Estado, cumpre uma determinada 
função social: é um instrumento de reprodução da desigualdade social, apesar de ser 
utilizado algumas vezes, pelos dominados como uma arma contra a classe dominante. 
CONCLUSÃO 
- Postulado básico de Marx é o chamado determinismo econômico, segundo o qual, o 
fator econômico é determinante na estrutura do desenvolvimento da sociedade. 
- As relações de trabalho, segundo Marx, podem produzir miséria e exploração ao invés 
de “progresso”. 
 
7.2. ÉMILE DURKHEIM 
 
 FATO SOCIAL E DURKHEIM 
- Segundo Durkheim, os fatos sociais são “coisas” (eventos, acontecimentos) que 
ocorrem no cotidiano e que de certa forma nos influenciam a pensar, nos comportar de 
acordo com as regras sociais. 
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- Em palavras mais simples, os fatos sociais “são maneiras de agir, pensar e sentir 
exteriores ao indivíduo e dotadas de poder coercitivo” e que exercem influência sobre 
os indivíduos. Agimos e reagimos segundo as regras ditadas pelo social. 
- Com esta definição de fato social como “coisa”, Durkheim dá ao fato social 03 (três) 
CARACTERÍSTICAS: 
A) EXTERIORIDADE: o fato social é EXTERIOR ao indivíduo. Isso quer dizer que as normas, 
os valores, as regras impostas aos indivíduos são preexistentes a ele. O fato social existe 
antes do nascimento do indivíduo e atua sobre ele independente de sua vontade. As 
maneiras de agir, pensar e sentir são exteriores às pessoas, pois as precedem, 
transcendem (ultrapassa, excede) e a elas sobrevivem. 
- O EXEMPLO mais banal disso é que quando nascemos já encontramos todas as 
normas, regras de socialização que devemos seguir. 
- Quer ver só? : Ao atingirmos certa idade devemos cumprir alguns direitos para com o 
Estado, que é anterior e independente de nossa existência, como votar ou justificar o 
voto, realizar o alistamento militar para cidadãos do sexo masculino. 
B) COERCITIVIDADE: A segunda é que ele é COERCITIVO (coerção), isto é, exercem 
sobre nós uma força (social) repressiva que nos obrigar a agir de acordo com as regras 
estabelecidas pela sociedade. Ou seja, as normas de conduta ou de pensamento são 
além de exteriores ao indivíduo, dotadas de poder coercitivo, porque se impõem, 
independente de suas vontades. 
- A força coercitiva aparece, assim que tentamos opor resistência à mesma. EXEMPLO: 
Se não formos votar ou justificar o voto em uma eleição, a coação se fará sentir através 
de sanções legais de que lança mão a sociedade para nos punir, pois ficamos 
impedidos de assumir cargos públicos. 
- EXEMPLOS de fatos sociais: o direito (as regras jurídicas e morais), os dogmas religiosos, 
os sistemas financeiros, a educação, entre outros. 
- Para Durkheim, o DIREITO é o fato social mais coercitivo. 
- Para ele, o direito projetaria no psiquismo dos agentes sociais um temor, um medo e 
um receio muito mais incisivo, decisivo. 
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25 
 
C) GENERALIDADE: A terceira característica do fato social é sua GENERALIDADE (geral, 
difundido socialmente). Os fatos sociais são tomados coletivamente, abarca o 
comportamento de praticamente todos os indivíduos. Todos se acham envolvidos e se 
identificam com os mesmos comportamentos, crenças, costumes ou valores. 
EXEMPLO: Família  Família Igreja/Estado Divórcio. 
- Portanto, fato social é o comportamento imposto por meio da educação, segundo 
valores preexistentes e que determinam o comportamento geral de uma comunidade. 
 CONCEITOS FUNDAMENTAIS DA TEORIA SOCIOLÓGICA DE E. DURKHEIM 
- Na leitura sociológica de Durkheim, a modernidade era caracterizada pela divisão DO 
TRABALHO SOCIAL e pela ESPECIALIZAÇÃO DAS FUNÇÕES. 
- Com a introdução da máquina a vapor no processo de produção, acentuou-se a 
diferenciação social em virtude do surgimento de variadas esferas de atividades sociais 
e econômicas, o que desencadeou novos tipos de relações entre os indivíduos. 
- Em sua obra “A DIVISÃO DO TRABALHO SOCIAL”, Durkheim enuncia 02 (DOIS) 
PRINCÍPIOS BÁSICOS: CONSCIÊNCIA COLETIVA E SOLIDARIEDADE 
(MECÂNICA/ORGÂNICA). 
- Vamos avançar para outro conceito de Durkheim, o conceitode CONSCIÊNCIA 
COLETIVA. 
- Para ele, essa CONSCIÊNCIA “é um conjunto das crenças e sentimentos comuns à 
média dos membros de uma mesma sociedade”. 
- Cada sociedade estabelece um padrão de comportamento que corresponde à 
CONSCIÊNCIA COLETIVA (ou consciência COMUM), que nada mais é que os laços que 
criamos no social. 
- Diferentemente de como é mobilizada no senso comum, quando é entendida como 
ajuda carismática, o conceito de solidariedade em Durkheim pressupõe dar 
importância ao agente social e reconhecer seu trabalho como importante para o 
grupo. Há 02 (DOIS) TIPOS DE SOLIDARIEDADE: 1) MECÂNICA E 2) ORGÂNICA. 
- 1) SOLIDARIEDADE MECÂNICA OU POR SEMELHANÇA: típicas das sociedades pré-
capitalistas (primitiva/antiga) e pode ser chamada também de solidariedade por 
semelhança. Os indivíduos se identificavam pelos laços familiares e religiosos e pelas 
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26 
 
tradições e costumes, permanecendo, em regra, independentes e autônomos no que 
diz respeito a divisão do trabalho social, de modo que a consciência coletiva exercia 
um forte poder de coerção sobre os indivíduos. 
- Os valores sociais decorrem da tradição e da religião e o grupo organiza-se como uma 
verdadeira comunidade, fundamentada em relações de parentesco e na preservação 
da propriedade coletiva. 
- Pode ser encontrada nas sociedades, onde os indivíduos estão envolvidos num sistema 
de autoprodução – grupos vivem isolados – em que há poucas mudanças. 
- A solidariedade mecânica fundamenta-se na semelhança dos membros da sociedade, 
ou seja, na uniformidade de comportamento. 
- Qualquer alteração no social, como um crime, por exemplo, é punida e o indivíduo, no 
caso, não tem como fugir dessa punição. 
- A PUNIÇÃO é vista como exemplo para todo o social. 
- Quem não respeita as regras é considerado agressor da ordem social. 
- O roubo, não é por exemplo, considerado como agressão a um particular, mas, como 
uma violação dos princípios fundamentais da comunidade. 
- O agressor, portanto, é considerado um inimigo público e será submetido a uma 
punição imediata e forte. 
- Agressor  agressor da ordem social, dos princípios fundamentais da comunidade  
considerado como inimigo público  punição imediata e forte; 
- O Direito exprime e fortalece esta consciência e garante a estabilidade social, através 
da aplicação de sanções. 
- O Direito aqui é visto como repressivo. A punição é que dá a força do social, da 
coesão social. 
- O outro tipo de solidariedade é a ORGÂNICA. 
- 2) SOLIDARIEDADE ORGÂNICA OU POR DESSEMELHANÇA: Chamada também de 
sociedade por dessemelhança e encontra-se nas sociedades modernas. 
- Observada nas sociedades capitalistas, a rápida divisão social do trabalho tornou os 
indivíduos interdependentes e tal interdependência é apontada como responsável por 
garantir a coesão social. 
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27 
 
- Trata-se de uma sociedade complexa, fundamentada na DIVISÃO DO TRABALHO, 
segundo o PRINCÍPIO DA ESPECIALIZAÇÃO, um tipo de sociedade diferenciada. 
- O indivíduo não se vincula diretamente a valores sociais, não está submetido a liames 
tradicionais, obrigações religiosas ou “comunitárias”. 
- A solidariedade cria-se através de redes de relacionamento entre indivíduos e grupos, 
onde cada um deve respeitar as obrigações assumidas por contrato, gerando entre os 
homens uma consciência de direitos e deveres. 
- O próprio indivíduo se autopolicia, porque sabe que se não atuar de uma determinada 
forma (estudar, trabalhar, ganhar salário, investir) não poderá sobreviver nesta 
propriedade privada, na concorrência e intercâmbio de valores equivalentes. 
- É como se a sociedade fosse um CORPO HUMANO e cada grupo de indivíduos 
desempenhasse uma função específica tal como os órgãos do corpo humano. 
- Nessas sociedades podemos visualizar o individuo como ente distinto do corpo social. 
Nessas sociedades o direito possui uma dimensão muito mais restitutiva do que 
repressiva. O descumprimento de obrigações contratuais cria uma responsabilidade de 
tipo patrimonial (e não penal). 
- Nessas sociedades o direito possui uma dimensão muito mais restitutiva do que 
repressiva. 
- O descumprimento de obrigações contratuais cria uma responsabilidade de tipo 
patrimonial (e não penal). 
- O DIREITO, portanto, tem um papel regulador da ordem social e o Estado é quem 
intermediaria as ações entre os indivíduos. 
- Essa solidariedade, exprime o direito: civil, empresarial, administrativo e constitucional, 
fazendo-se acompanhar de SANÇÕES RESTITUTIVAS (reparação de danos: DIREITO 
RESTITUTIVO). 
- Prevalece nas sociedades orgânicas o direito social, entendido como o direito não 
penal. 
- A intenção é de manter o indivíduo na sociedade. Cada um desempenha uma função 
específica, relevante para o funcionamento do corpo social. 
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- A sanção jurídica deve privilegiar o indivíduo, substituir a sanção pessoal para a sanção 
patrimonial. 
- Segundo Durkheim, a passagem de uma forma de solidariedade para outra se faz pela 
DIVISÃO DO TRABALHO. 
- Podemos ESQUEMATIZAR a ANÁLISE de E. Durkheim sobre as formas de solidariedade 
social e suas consequências para o direito da seguinte forma: 
 
 
 A ANOMIA DE E. DURKHEIM (anomia = AUSÊNCIA DE NORMAS) 
- Para E. Durkheim, o que faz com que a sociedade exista é a coesão social, que é 
estabelecida pelas normas sociais, que se encontram expressas nas leis jurídicas, 
costumes, etc. 
- Cada sociedade, da mais simples a mais complexa, estabelece normas que fazem 
com que os indivíduos interajam entre si, segundo valores aceitos ou não socialmente e 
essa interação expressa um tipo de solidariedade. 
- Nas sociedades primitivas, essa solidariedade é mecânica, isto é, os valores sociais 
predominam fortemente sobre os indivíduos. 
- Nas sociedades mais complexas, a solidariedade é orgânica, como se a sociedade 
fosse um corpo e os grupos sociais fossem seus órgãos, gerando uma interdependência 
entre as partes e o todo. 
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- Quando há uma quebra das regras sociais há uma desestabilização social (exemplo: 
crise de embates sociais, guerras), gerando um ESTADO DE ANOMIA. 
- No estado de anomia, os laços de solidariedade tornam-se enfraquecidos. 
 -E. Durkheim conclui que a anomia é AUSÊNCIA DE NORMAS para regular as relações 
sociais, ensejando a desestabilização social. 
- Porém, este estado tende a ser passageiro, caso contrário a sociedade se dissolveria. 
- Segundo Durkheim, este estado de anomia é em grande medida originado pelas 
intensas transformações que ocorreram nas sociedades modernas e que não 
forneceram novos valores para colocar no lugar daqueles que por elas foram destruídos. 
- Em suma, E. Durkheim com o conceito de anomia procura sintetizar a ideia de que o 
progresso constitui uma ameaça às estruturas éticas e sociais. 
 
7.3. MAX WEBER 
 
 
 RACIONALIZAÇÃO DO MUNDO 
- Para Weber, o oposto da razão é a magia e ao ocorrer o processo de racionalização 
na sociedade, a magia perde espaço. 
- O processo de racionalização foi caracterizado, no pensamento de Weber, pela 
eliminação da magia como meio de salvação. 
- A perda de poder do discurso religioso e o estabelecimento da ciência, causou o 
chamado desencantamento do mundo. 
- Um EXEMPLO disso, eram as oferendas a Deus para colheitas produtivas. 
- Com o crescente uso da razão já se pode calcular previamente as condiçõesclimáticas e a qualidade do solo e prever se a colheita será boa ou não. 
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30 
 
- De modo que o homem parou de usar a magia, a religião para obter sucesso no 
trabalho. 
- O homem passa a maior parte do tempo realizando atividades, buscando os efeitos 
esperados (racionais) e não pautados em seus valores, tradições e afetividades. 
- Isso não significou a extinção das religiões ou o fim da influência que elas exercem 
sobre as pessoas. A religião apenas deixa de ser o fundamento da ordem social e 
política. 
- Para Weber, “o processo histórico-religioso de desencantamento e o mundo 
racionalizado, no qual a organização capitalista e a organização burocrática do 
Estado eram as maiores expressões, tinham também o seu lado problemático.” (SELL, 
2015, p. 136). 
- A substituição da religião pela razão promovia uma perda de sentido da vida, uma 
vez que era a visão religiosa que conferia aos homens uma resposta acerca da 
finalidade da existência. 
- Ademais, promovia a perda da liberdade, pois embora livre das forças divinas, o 
homem acabara escravo de sua própria racionalidade. 
 TIPOS DE DIREITO (04) 
-Max Weber concluiu que a criação do DIREITO nas sociedades modernas responde a 
uma dinâmica de racionalização, que vai do material ao formal. 
- Weber DIFERENCIOU 04 TIPOS DE DIREITO, a saber: 
A) DIREITO IRRACIONAL MATERIAL: aquelas decisões determinadas pela avaliação do 
caso concreto e em valores e particulares baseados em avaliações éticas, sentimentais 
ou políticas. Em vez de aplicar ou referir-se as normas gerais. 
- Caracterizado pelo desejo de justiça interior e subjetivo (provém da vontade de 
alguém), 
- EXEMPLO: Famoso julgamento de Salomão (02 mães e um filho). 
B) DIREITO IRRACIONAL FORMAL: aquelas decisões que se deixam guiar por normas que 
escapam à razão, baseadas pelo emprego de meios mágicos. 
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- A decisão não é controlada pela razão, valendo-se para o veredicto do apelo a 
ordálios (consistia em submeter à prova do fogo ou da água o acusado, que, se dela 
saísse salvo, era em geral declarado inocente), oráculos, etc. 
- EXEMPLO: Consultas a oráculos. 
- Regras não contestadas e tomadas como verdades absolutas, mesmo que beirem o 
absurdo. 
C) DIREITO RACIONAL MATERIAL: quando são aplicadas as normas gerais (legislação). 
- Existe a lei, mas, o caso é analisado principalmente de acordo com outros 
semelhantes, procurando resolver os casos de maneira justa. 
- Os fatos influem nas decisões jurídicas. 
D) DIREITO RACIONAL FORMAL: A lei e o julgamento são estabelecidos unicamente com 
base em conceitos jurídicos abstratos. 
- Mais alto grau de racionalização. 
- Direito Sistematizado. 
- Conceitos jurídicos concretos; 
- Crimes tem suas punições previamente estabelecidas. 
 
8. FUNÇÃO E OBJETO DE ESTUDO DA SOCIOLOGIA JURÍDICA. 
- Enquanto a Sociologia se ocupa em pensar a vida em sociedade a partir de seus 
aspectos culturais, econômicos, religiosos etc., o direito busca fixar e sistematizar as 
regras indispensáveis para garantir o equilíbrio social. 
- Sendo assim, a Sociologia não tardou em se especializar, criando um ramo próprio que 
tivesse o direito como objeto de estudo: a Sociologia Jurídica. 
- A sociologia jurídica examina a influência dos fatores sociais sobre o direito e as 
incidências deste último na sociedade, ou seja, os elementos de interdependência 
entre o social e o jurídico, realizando uma leitura externa do sistema jurídico. (SABADELL, 
2010, p. 61). 
- Pensando este conceito, SABADELL (2010) explica que a sociologia jurídica se ocupa, 
fundamentalmente, do exame das causas e dos efeitos sociais das normas jurídicas, 
numa investida para responder a 03 (TRÊS) QUESTÕES PRINCIPAIS: 
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1) Por que se criar uma norma ou um sistema jurídico? 
2) Quais as consequências advindas do direito na vida social? 
3) Quais as causas sociais que estão por trás da “decadência” do direito? 
- Em outras palavras, poderíamos dizer que a sociologia jurídica pretende investigar a 
CRIAÇÃO, A APLICAÇÃO E A DECADÊNCIA DO DIREITO. 
- A sociologia jurídica NÃO se preocupa com o fenômeno jurídico em si, mas, com o 
que o antecede e com o que o sucede. 
- O fenômeno jurídico é OBJETO DE ESTUDO da própria ciência do Direito. 
- E vale uma última informação: ao realizar a pesquisa, o sociólogo do direito NÃO se 
propõe a realizar um julgamento, seja no sentido de valor ou mesmo no sentido da 
legalidade. O objetivo do sociólogo do direito será sempre o de compreender o 
fenômeno investigado, relatando como os indivíduos percebem e reagem a ele. 
 
9. SOCIOLOGIA DA APLICAÇÃO DO DIREITO. 
- SABADELL afirma que a lei nunca se auto-aplica. A sua aplicação depende das 
pessoas que possuem competência para isso. 
- São aqueles que detém conhecimentos jurídicos (advogados, promotores, juízes, etc.) 
os chamados “OPERADORES DO DIREITO” que são responsáveis por essa função. 
- No entanto, a aplicação da lei nunca segue, de forma única, as previsões legais. 
Cada um dá ao texto um “sentido” que nem sempre corresponde aquele que foi dado 
pelo legislador ou mesmo por outro jurista. 
- Além do que, a aplicação não exclui os erros ou interesses pessoais. 
- Além disso, a postura dos cidadãos diante do sistema jurídico é fundamental para a 
sua aplicação. 
- A sociologia jurídica tem interesse pela atuação dos operadores do direito e pelas 
opiniões da população sobre o direito. 
- Tudo isso para conhecer melhor a vida jurídica real e os problemas que acarretam a 
aplicação prática do direito. 
 
 
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9.1 OPERADORES DO DIREITO. 
- A formação em um curso de bacharelado em Direito oferece uma gama de opções 
profissionais para os seus concluintes, isso porque a aplicação das normas depende da 
atuação de agentes com conhecimentos técnicos e jurídicos. 
- Vamos conhecer um pouco mais sobre alguns dos operadores do direito? 
MAGISTRATURA: no ordenamento jurídico brasileiro, apenas o Estado é legitimado 
para dizer o direito e assim o faz, em regra, por intermédio dos/as juízes/as. 
- Conforme SABADELL (2010), “os juízes não somente são encarregados da aplicação 
do direito, mas, também possuem a competência de dizer a „última palavra‟ sobre um 
conflito jurídico”, pondo fim a questão com uma decisão transitada em julgado. 
- A INVESTIDURA no cargo se da através de concurso público de provas e títulos e, para 
garantir a atuação dessa categoria com isenção, a Constituição de 1988 consagra um 
sistema de prerrogativas que vai desde uma alta remuneração (o teto salarial dos 
servidores públicos e o subsídio dos ministros do STF) até elementos caracterizadores de 
independência pessoal e profissional, tudo isso com a finalidade de evitar pressões e 
produzir decisões “neutras”. 
Os juízes gozam das seguintes garantias, que visam assegurar a independência dos 
magistrados: vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de subsídio. 
1) VITALICIEDADE: que, no primeiro grau, só será adquirida após 02 anos de exercício, 
dependendo a perda do cargo, nesse período, de deliberação do tribunal a que o juiz 
estiver vinculado e, nos demais casos, de sentença judicial transitada em julgado, ou 
seja, aquela decisão a que não cabe mais recurso. 
2) INAMOVIBILIDADE: visa à garantia de que não haja troca de juiz para prejudicar ou 
beneficiar alguma das partes em determinado julgamento. O juiz nãopode ser 
removido ou promovido a não ser com o seu consentimento, salvo na hipótese de 
motivo de interesse público (art. 93, VIII, da CF). 
3) IRREDUTIBILIDADE DE SUBSÍDIO: o juiz não pode ter sus vencimentos reduzidos, 
ressalvado o disposto nos arts. 37, X e XI, 39, §4º, 150, II 153, III, § 2º, I, todos da CF. 
- Ademais, o exercício da magistratura pressupõe a observância de alguns PRINCÍPIOS 
FUNDAMENTAIS, vejamos: 
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- PRINCÍPIO DA INÉRCIA, pelo qual o juiz não deve atuar caso não seja previamente 
provocado por quem de direito. 
- PRINCÍPIO DA INDECLINABILIDADE da função de julgar, pois, aos juízes, competem 
apreciar todas as demandas que lhes são apresentadas, ofertando respostas 
adequadas e em consonância com o texto constitucional e das normas 
infraconstitucionais. 
- Além da atuação para o equacionamento de conflitos e controvérsias, aos 
magistrados compete também a missão de efetivar os direitos e garantias fundamentais 
encartados em nossa ordem jurídica. 
OS MEMBROS DO MINISTÉRIO PÚBLICO: de acordo com a redação constitucional, “o 
Ministério Público é uma instituição permanente, essencial a função jurisdicional do 
Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos 
interesses sociais e individuais indisponíveis” (ART. 127, CF). 
- Dotado de independência funcional e autonomia administrativa e financeira, seus 
membros, os promotores e os procuradores de justiça, atuam nas mais diversas áreas do 
direito como verdadeiros fiscais da lei, visando garantir os pressupostos fundamentais 
do Estado Democrático de Direito. 
- Cumpre destacar que o Ministério Público NÃO pertence a nenhum dos 03 (três) 
poderes constituídos do Estado (Executivo, Legislativo e Judiciário). 
- Sua posição constitucional é de plena independência, de modo que não pode ser 
extinto nem ter as suas atribuições repassadas para outras instituições. 
- Suas funções institucionais estão previstas no artigo 129 da Constituição Brasileira de 
1988, vejamos: 
Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: 
I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei; 
II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de 
relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição, 
promovendo as medidas necessárias a sua garantia; 
(...) 
V - defender judicialmente os direitos e interesses das populações 
indígenas; 
(...) 
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VIII - requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito 
policial, indicados os fundamentos jurídicos de suas manifestações 
processuais; 
IX - exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que 
compatíveis com sua finalidade, sendo-lhe vedada a representação 
judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas. 
§ 1º - A legitimação do Ministério Público para as ações civis previstas 
neste artigo não impede a de terceiros, nas mesmas hipóteses, segundo o 
disposto nesta Constituição e na lei. 
- Como fiscal da lei, o Promotor de Justiça deve ser livre para direcionar sua atividade a 
partir das convicções advindas do conjunto probatório e das normas jurídicas previstas 
em nosso ordenamento. 
- A INVESTIDURA NO CARGO se dá, como acontece com os magistrados, por meio de 
concurso publico de provas e títulos, exigindo-se o grau de bacharel em Direito e, no 
mínimo, três anos de experiência na atividade jurídica. 
- A Constituição Federal também prevê para esses profissionais um sistema de garantias 
com VITALICIEDADE, INAMOVIBILIDADE E IRREDUTIBILIDADE DE SUBSÍDIOS, mas, 
igualmente prevê uma série de VEDAÇÕES, como: o recebimento de honorários, 
percentagens ou custas processuais; exercício da advocacia e atividade político-
partidária; participação em sociedades comerciais etc. 
- Percebemos, então, que o Ministério Público é uma instituição extremamente 
relevante para a democracia e o Estado de Direito, capaz de minimizar as dificuldades 
de acesso à justiça e fazer valer os direitos e garantias fundamentais dos/as 
cidadãos/as. 
ADVOCACIA: aos advogados, compete a função de falar em nome dos 
representados, defendendo os seus interesses. 
- Porém, como adverte BARSALINI (2012,), “a advocacia não se limita somente a defesa 
de um interesse privado. Trata-se de função que compõe a própria justiça, necessária 
ao equilíbrio de forças internas do Poder Judiciário.” 
- A CF assevera em seu art. 133: 
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Art. 133. O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo 
inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos 
limites da lei. 
- Assim, podemos dizer que, no exercício de suas funções, o advogado não somente 
contribui na postulação da decisão final, buscando convencer o julgador de seus 
argumentos, 
- O exercício da advocacia é carregado de um forte valor social. 
- Por intermédio de suas práticas, o advogado é capaz de movimentar a máquina 
estatal e, prioritariamente, as instituições que compõem o sistema de justiça, a fim de 
equacionar os conflitos e satisfazer direitos e garantias fundamentais, possibilitando a 
distribuição da justiça e a busca por uma cidadania plena. 
- Para inscrever-se como advogado, algumas condições são necessárias. Elas estão 
expostas no artigo 8º DO ESTATUTO DA ADVOCACIA E DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO 
BRASIL, vejamos: 
Art. 8º Para inscrição como advogado é necessário: 
I - capacidade civil; 
II - diploma ou certidão de graduação em direito, obtido em instituição 
de ensino oficialmente autorizada e credenciada; 
III - título de eleitor e quitação do serviço militar, se brasileiro; 
IV - aprovação em Exame de Ordem; 
V - não exercer atividade incompatível com a advocacia; 
VI - idoneidade moral; 
VII - prestar compromisso perante o conselho. 
- Nem todo bacharel em direito é advogado. É a inscrição na Ordem dos Advogados 
do Brasil (OAB) o ato constitutivo da condição de advogado. 
- Nos últimos anos, o Brasil vem experimentando um aumento significativo de 
faculdades de direito e, via de consequência, na quantidade de advogados/as 
lançados ao mercado. 
- Muitas são as dificuldades enfrentadas ao exercício da profissão, sobretudo, as 
mazelas do sistema de justiça, da qual a morosidade parece ser a mais evidente, além 
do avanço tecnológico, que exige cada vez mais um profissional flexível, com visão 
interdisciplinar, capaz de se adaptar a diferentes contextos de trabalho e culturas. 
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POLÍCIA: embora a formação em direito não seja uma exigência a todos os cargos 
das Polícias, SABADELL apresenta os policiais das várias corporações como um grupo 
numeroso de operadores do direito. 
- Segundo SABADELL, “a polícia participa de forma decisiva na aplicação do direito, 
enquanto corpo organizado que se encarrega do controle social nos seus aspectos 
mais “fortes” (repressivos).” 
- Para SABADELL é a polícia a responsável por realizar a primeira seleção dos casos que 
devem ingressar no sistema de justiça, fazendo com que o modo e a direção da 
aplicação do direito, bem como, o seu grau de eficácia, principalmente na área penal, 
dependa de sua atuação. 
- Conforme o artigo 144 da Constituição Federal Brasileira de 1988, segurança pública é 
dever do Estado e direito e responsabilidade de todos, vejamos: 
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade 
de todos, é exercidapara a preservação da ordem pública e da 
incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: 
I - polícia federal; 
II - polícia rodoviária federal; 
III - polícia ferroviária federal; 
IV - polícias civis; 
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares. 
(..) 
§ 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, 
incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia 
judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares. 
§ 5º Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da 
ordem pública; aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições 
definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil. 
 
- SABADELL (2010) chama atenção, ainda, para as condições de trabalho das 
corporações policiais, marcadas por grandes perigos, vulnerabilidades e, muitas vezes, 
por conflitos éticos que podem desencadear casos de corrupção e violência ilegal. 
INDICAÇÃO DE FILME: Assista ao filme “Justiça”, um documentário de Maria Augusta 
Ramos, disponível no YouTube. Enquanto assiste, busque observar como se comportam 
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os operadores do direito e refletir sobre as dificuldades encontradas pelos cidadãos 
para acessar as instituições que compõem o sistema de justiça. Anote suas percepções 
em seu caderno e discuta com seus colegas em sala de aula. Link para acesso: 
<https://youtu.be/qUWZHNWcj7U>. 
 
9.2 ACESSO À JUSTIÇA. 
- O acesso à justiça é considerado por muitos estudiosos como um pressuposto 
fundamental para a concretização dos direitos e garantias fundamentais. 
- Neste sentido, CAPPELLETTI E GARTH (2002) sustentam que “sem dúvida, uma premissa 
básica será a de que a justiça social, tal como desejada por nossas sociedades 
modernas, pressupõe o acesso efetivo.” 
- Definir o direito de acesso à justiça não é algo fácil. 
- Embora seja bastante útil para se pensar em 02 (duas) finalidades básicas do sistema 
jurídico, quais sejam: 
(1) Ser o sistema por meio do qual as pessoas podem reivindicar seus direitos; 
(2) Equacionar os litígios sob a “proteção” do Estado. (CAPPELLETTI; GARTH). 
- É comum perceber a DISTINÇÃO ENTRE 02 (DOIS) CONCEITOS: A) ACESSO FORMAL À 
JUSTIÇA, B) ACESSO EFETIVO À JUSTIÇA. 
A) ACESSO FORMAL À JUSTIÇA: pressupõe o reconhecimento dos direitos pelo Estado (e, 
no caso especifico, do direito de acesso à justiça) através da sua formalização em leis. 
É a possibilidade legal de acionar o Poder Judiciário. 
B) ACESSO EFETIVO À JUSTIÇA: diz respeito a existência de mecanismos e estratégias 
para transformar o acesso formal em acesso real a justiça. Possibilidade real de pedir 
proteção judiciária. 
- No ordenamento jurídico brasileiro, o direito formal de acesso à justiça aparece 
consignado na própria Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º, vejamos alguns 
incisos constitucionais neste sentido: 
(...) 
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou 
ameaça a direito; 
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 LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido 
processo legal; 
 LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados 
em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios 
e recursos a ela inerentes; 
- Buscando facilitar o seu entendimento acerca desses dois conceitos, atente-se para o 
EXEMPLO seguinte: 
A legislação brasileira garante a todas as mulheres o direito humano a uma vida sem 
violência, possibilitando o acesso formal a justiça em casos de violação. Contudo, 
ainda que tenha passado por vários episódios de violência, muitas mulheres não 
acionam o sistema de justiça por diversos motivos, que vão desde a descrença nas 
instituições até o medo de sofrer novas represálias. Ou seja, mesmo garantido em lei 
(acesso formal), nem sempre há a possibilidade real de se pedir a proteção judiciária 
(acesso efetivo). Por tal razão, a Lei 11.340/2006 – Lei Maria da Penha criou uma série 
de medidas e estratégias no intuito de reforçar o direito de acesso à justiça para as 
mulheres em situação de violência doméstica e familiar. 
- É de se destacar também que nem todos os cidadãos gozam de igualdade de 
oportunidades no que diz respeito ao acesso às instituições que compõem o sistema de 
justiça. 
- SABADELL (2010) divide em 04 (quatro) CATEGORIAS as BARREIRAS DE ACESSO EFETIVO 
à justiça. São elas: econômicas, sociais, pessoais e jurídicas. 
A) BARREIRAS ECONÔMICAS: dentre as quais se destacam os altos custos do processo. 
B) BARREIRAS SOCIAIS: desconfiança no sistema de justiça; medo de ruptura de 
relações sociais e de sofrer represálias. 
C) BARREIRAS PESSOAIS: ligadas a falta de informações sobre direitos de proteção 
judiciária e sobre as possibilidades de assistência judicial gratuita; inferioridade cultural, 
que pode dificultar a comunicação com juízes e advogados. 
D) BARREIRAS JURÍDICAS: duração excessiva do processo; incerteza em relação ao 
resultado; distância geográfica do tribunal; numero limitado de juízes e promotores; 
incompetência profissional e psicológica de advogados. 
- Diante dessas barreiras, uma série de medidas vem sendo adotadas pelos Estados, a 
fim de resolver o problema de acesso desigual às instituições judiciais. 
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- Dentre as tentativas de reforma, as principais são a criação de procedimentos 
alternativos para a solução de conflitos; o aumento do número de juízes e de tribunais; 
e planos de convênio de proteção jurídica: 
[...] oferecidos por seguradoras particulares, sindicatos, grandes empresas e 
associações de consumidores. Os interessados pagam um determinado prêmio e a 
seguradora lhes proporciona serviços jurídicos, por meio de advogados conveniados 
ou de sistemas de “livre escolha”. (SABADELL, 2010). 
- NA PRÁTICA, COMO O PROFISSIONAL DO DIREITO PODE CONTRIBUIR EFETIVAMENTE 
PARA A MINIMIZAÇÃO DAS DESIGUALDADES SOCIAIS E AMPLIAÇÃO DO ACESSO À 
JUSTIÇA NO BRASIL? 
 
10. ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL E DIREITO. 
- Vamos tratar agora da relação entre o Direito e uma das mais significativas categorias 
analíticas das Ciências Sociais – a CLASSE SOCIAL. 
- Isto porque, a classe social nos possibilita refletir acerca da desigualdade, produtora 
de profundas transformações no que diz respeito não apenas à distribuição de bens 
materiais, como também de bens culturais, oportunidade de acesso a serviços e 
recursos tecnológicos, etc. 
- SABADELL (2010) refere-se a uma ABORDAGEM OBJETIVA e uma ABORDAGEM 
SUBJETIVA da classe social: 
1) ABORDAGEM OBJETIVA: aquela que adota um critério objetivo para a sua definição, 
materializado na posição do indivíduo na estrutura de produção, sem importar o modo 
como ele pensa e age em relação a isso. 
2) ABORDAGEM SUBJETIVA: leva em consideração um critério subjetivo, 
consubstanciado na ideia de “consciência de classe”. 
- No entanto, a própria SABADELL, destaca que, no campo da Sociologia, os 
pesquisadores tendem a adotar com maior frequência a perspectiva objetiva. 
 
11. DESIGUALDADE, MOBILIDADE E A PERSPECTIVA DA SOCIOLOGIA JURÍDICA. 
- Todas as sociedades se encontram socialmente divididas em grupos superpostos ou 
hierarquizados, deixando evidente uma desigualdade social. 
Profª. Emanuelle Moreira 
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 “Os indivíduos são distribuídos em diferentes grupos (camadas ou estratos sociais), 
que apresentam uma relativa estabilidade e ocupam uma posição

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