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Profª. Emanuelle Moreira FUNDAMENTOS DA ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 1 RROOTTEEIIRROO DDEE AAUULLAASS FFUUNNDDAAMMEENNTTOOSS DDAA AANNTTRROOPPOOLLOOGGIIAA EE SSOOCCIIOOLLOOGGIIAA JJUURRÍÍDDIICCAA CONCEIÇÃO DO COITÉ/BA 2019.2 Profª. Emanuelle Moreira FUNDAMENTOS DA ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 2 FUNDAMENTOS DA ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA Obs: Este material trata-se de Roteiro de Aulas (Material de Apoio), visando majorar o aproveitamento do aluno na disciplina, pelo que deve ser acompanhado pela participação das respectivas aulas em sala para uma melhor compreensão. CONSIDERAÇÕES INICIAIS – APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA - O que é Antropologia? E Sociologia Jurídica? – Para que servem? - O que elas acrescentam na minha vida profissional? - A Antropologia e a Sociologia Jurídica são 02 (duas) ciências sociais e humanas que foram reunidas com o intuito de compor a disciplina Fundamentos da Antropologia e Sociologia Jurídica. - O principal objetivo desta disciplina é alicerçar sua base acerca do conhecimento sobre cultura, das interações sociais, das relações sociais e dos fatos sociais. - Isto porque a Antropologia dedica-se ao estudo do homem enquanto possuidor de uma cultura, de uma crença, de uma simbologia e a Sociologia, campo que parece ainda maior, se dedica ao homem em suas interações sociais. - Ambas possuem a finalidade de desenvolver um senso científico, capaz de tornar o estudante de Direito atento aos problemas que envolvem a função social da carreira que escolheram. - A ruptura com o senso comum passa a ser a ordem do dia e o engajamento científico torna-se imperativo. Isso porque sua visão de mundo não é ou não deve ser a mesma. - O estudante de Direito, por sua vez, não pode opinar simplesmente por opinar. Suas opiniões devem estar embasadas, seu discurso deve ter algo de substancial, sua fala deve estar a mais lapidada possível e suas práticas, essas sim, devem ser as mais corretas. Profª. Emanuelle Moreira FUNDAMENTOS DA ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 3 - Você pode se perguntar: mas, o que a Antropologia e a Sociologia Jurídica têm a ver com isso? E a resposta é imediata: TUDO. - A Antropologia e a Sociologia Jurídica como ciências que estudam o homem na sociedade ou como parte da organização societal, trazem em seus respectivos bojos, não apenas o objetivo de estudar o homem, mas, também de ajudá-los a viver e conviver melhor. - Alguns podem até discordar, mas, não devem, pois tanto a Antropologia quanto a Sociologia Jurídica se instituíram ciências com o propósito de intervir para melhorar a vida em sociedade. - Afinal, do que adiantariam pesquisa sobre a violência doméstica, sobre o menor abandonado, sobre a família, etc., se não fosse para implementar melhorias no fenômeno social estudado, buscar solucionar problemas? - Comecemos por esclarecer alguns pontos que se revelam muito importante para a compreensão da nossa realidade e consequentemente dos conhecimentos antropológicos e sociológicos. - O primeiro ponto refere-se ao que torna o homem diferente dos outros animais, ou seja, a reflexão, o pensamento. - Em outras palavras o homem crítico, aquele que não se contenta com a naturalização dos fatos, aquele que exerce o estranhamento para com os acontecimentos. - Por vezes somos levados a “aceitar as coisas como elas são”, como elas se apresentam, sem questionar e sem concebê-la como certa ou errada. - Um exemplo disso é a economia. No nosso dia a dia parece que o preço do feijão, do arroz, do pão, da gasolina ou mesmo da passagem de ônibus sobem sem o conhecimento do cidadão e por livre vontade dos nossos gestores maiores. - E como “aparentemente” não depende de nós, acabamos por reclamar, esbravejar, mas, de imediato, nos contentamos com aquilo e até mesmo achamos comum que aquilo aconteça. Não é verdade? – O que nos leva a esse comportamento é a plena consciência de que “não podemos fazer nada” a esse respeito. Profª. Emanuelle Moreira FUNDAMENTOS DA ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 4 - Assim sendo, preferimos as explicações baseadas no senso comum do que ter o trabalho de teorizar sobre os fatos. - No entanto, agora você é um estudante de Direito. E consequentemente terá que ter a noção exata da função social da carreira que escolheu. E rever seus posicionamentos, suas opiniões é sua obrigação. - E para isso os conceitos e os fundamentos antropológicas e sociológicas lhe serão muito úteis para compreender, interpretar, analisar e por vezes até resolver problemas sociais que estão no nosso cotidiano e que, assim como a economia, passa por nós de forma naturalizada. - Tal postura é o que torna o homem em um cidadão critico é o que o habilita ao pleno exercício da cidadania, considerada aqui como a participação dos homens nas decisões de temas que envolvem a sociedade e que necessariamente prima pela melhoria de vida dos outros homens. - Um outro ponto importante para a compreensão da realidade a partir da Antropologia e da Sociologia Jurídica está relacionado, por incrível que parece, ao nosso vocabulário, a nossa linguagem. - Isto porque as ciências sociais, ao longo de suas histórias, receberam a contribuição de vários teóricos e pesquisadores que, ao estudarem determinados fenômenos, conceberam conceitos e noções que tornam mais rica a nossa linguagem e a nossa compreensão da realidade. - Você consegue mensurar a importância do conhecimento que será aqui produzido para pensar a formulação e a aplicação do direito? - Para te preparar para este grande desafio, pedimos que reflita sobre a questão proposta a seguir: PONTES DE MIRANDA, grande jurista alagoano morto em 1979, certa feita proclamou: “QUEM SÓ DIREITO SABE, NEM DIREITO SABE”. - Como essa frase repercute para você? - As novas demandas sociais impõem para os futuros profissionais do direito, a necessidade de uma leitura crítico-reflexiva acerca da dinâmica da vida em sociedade, que não está limitada a um emaranhado de normas jurídicas e suas sistematizações. Profª. Emanuelle Moreira FUNDAMENTOS DA ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 5 - Como é possível interpretar a realidade do sistema prisional brasileiro ou o número cada vez maior de jovens da periferia dos grandes centros urbanos mortos em ações policiais, sem pensar na seletividade advinda do racismo institucional arraigado em nossa cultura? - Ou, de que modo analisar os elevados índices de violência doméstica e familiar contra as mulheres e as reivindicações por parte dos movimentos feministas para a criação de leis específicas que pautem o enfrentamento desta grave violação de direitos humanos, senão a partir de um resgate histórico, capaz de revelar a lentidão com a qual o Estado sempre tratou tais situações? - Com isso, queremos dizer que, a melhor compreensão dos fenômenos jurídicos nos coloca diante da necessidade de um olhar para as nossas condições históricas e sociais. - Portanto, a Antropologia em sua busca constante por compreender a alteridade humana e a Sociologia, ao produzir conhecimento acerca da dinâmica das relações sociais, e acabam por assumir um papel fundamental para a ciência do Direito, constituindo-se em componentes curriculares zetéticos (investigativos), indispensáveis para a sua formação acadêmica e profissional. - Comecemos então pela definição de Antropologia. 1. DEFINIÇÃO DE ANTROPOLOGIA - Antropologia, em sentido etimológico, significa o estudo do homem. - Na perspectiva dacultura ou da evolução humana, antropologia é uma ciência que se interessa por ideias, valores, símbolos, normas, costumes, crenças, invenções, ambiente etc., portanto, encontra-se associada a outras ciências (direito, sociologia, política, história, geografia, linguística), daí as dificuldades em relação à determinação de seu objeto de estudo. - Os antropólogos, de modo geral, entendem que a antropologia visa conhecer o homem inteiro, o homem em sua totalidade, isto é, em todas as sociedades e em todos os grupos humanos. - Esse entendimento confere à antropologia um TRÍPLICE ASPECTO: Profª. Emanuelle Moreira FUNDAMENTOS DA ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 6 A) DE CIÊNCIA SOCIAL: na medida em que procura conhecer o homem como indivíduo integrante de sociedades, comunidades e grupos organizados; B) DE CIÊNCIA HUMANA: quando procura conhecer o homem através de sua história, suas crenças, sua arte, seus usos e costumes, sua magia, sua linguagem etc.; C) DE CIÊNCIA NATURAL: quando procura conhecer o homem por meio de sua evolução, seu patrimônio genético, seus caracteres anatômicos e fisiológicos. 2. CONCEITO ANTROPOLÓGICO DE CULTURA. - O conceito de cultura é um dos mais debatidos na antropologia e a sua utilização está longe de um consenso. - Definir CULTURA não é uma tarefa das mais fáceis, haja vista ser um termo com grande variedade de sentidos e abordagens. - Recorre-se com frequência às metáforas para explicar o que é a cultura e a sua densidade. Uma das mais interessantes imagens elaboradas a este respeito é a da cultura como um iceberg! Tal como um iceberg, aquilo que vemos da cultura é somente a sua superfície, sendo por vezes difícil imaginar e conceber o que se oculta por abaixo da linha de água. - Podemos dizer que por CULTURA se entende o modo particular da existência humana, sendo o que distingue o ser humano dos demais animais. - Quando, em Antropologia, a palavra CULTURA é utilizada, quer se referir ao modo como os indivíduos pensam e se comportam com base em códigos ou lógicas simbólicas muitas vezes inconscientes. - Por ser considerada o que distingue os seres humanos dos demais animais, o binômio natureza x cultura emerge como uma das mais significativas oposições no quadro do pensamento das Ciências Sociais. - Uma vez que a noção de cultura na acepção antropológica enseja a separação da cultura da natureza. - Nesta oposição, os seres humanos são vistos como seres culturais, enquanto os demais animais são considerados seres naturais. Profª. Emanuelle Moreira FUNDAMENTOS DA ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 7 - Tendo definido cultura, outra preocupação bastante evidente entre os antropólogos foi a de estabelecer a sua origem, ou seja, fixar o momento em que os seres humanos apartaram-se da natureza, fazendo surgir o mundo social. -- Já na perspectiva NORMATIVA, a cultura é ideais, valores, ou regras para viver. ORIGEM DA CULTURA: Nas palavras de LARAIA (2005): “como o homem adquiriu este processo extra-somático que o diferenciou de todos os animais e lhe deu um lugar privilegiado na vida terrestre?” - LARAIA (2005) destaca 02 (duas) CORRENTES principais, quais sejam: A) Por um lado, LÉVI-STRAUSS defendeu que a cultura surgiu no momento em que a primeira norma foi convencionada pelos homens. Na visão de LARAIA, esta teria sido a LEI DE PROIBIÇÃO DO INCESTO, um comportamento até então comum às sociedades humanas. B) Por outro lado, LESLIE WHITE sustentou que a transição da natureza para a cultura se deu no momento em que o cérebro humano foi capaz de gerar SÍMBOLOS (significados arbitrariamente consignados que são compartilhados por uma sociedade). 3. FUNÇÃO E OBJETO DE ESTUDO DA ANTROPOLOGIA JURÍDICA. - Qual função a Antropologia Jurídica exerce e qual o seu objeto de estudo? - Antes de adentrar neste debate, pedimos que você reflita sobre a situação o narrada a seguir: Em 2005, o caso das crianças Sumawani e Ignani, ambas do povo Zuruaha (Amazonas), ganhou grande repercussão a nível nacional, aquecendo o debate sobre o infanticídio indígena. Sumawani nasceu intersexo e Ignani com paralisia cerebral. Por conta disso, pela tradição Zuruaha, elas deveriam ser deixadas na floresta para morrer. As mães das crianças chegaram a abandoná-las, mas elas foram salvas por suas avós. Para você, o bem maior a ser tutelado é a vida ou a preservação da cultura indígena? - Então, feita esta reflexão, vamos explanar propriamente dito sobre a FUNÇÃO E OBJETO de estudo da Antropologia Jurídica. - Vale lembrar que, o Direito se ocupa fundamentalmente com o ser humano, buscando regular e equacionar os conflitos advindos de suas relações em sociedade. Ao passo Profª. Emanuelle Moreira FUNDAMENTOS DA ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 8 que a Antropologia, a partir dos instrumentos interpretativos que desenvolveu, propõe uma melhor compreensão do ser humano e da cultura em que se insere. - FUNÇÃO DA ANTROPOLOGIA JURÍDICA: Tendo essas aproximações em vista, a antropologia jurídica se consolida como a área responsável por comparar e analisar as instituições do direito e as múltiplas concepções de justiça alimentadas pelas diferentes culturas, valendo- se do seu método por excelência – o trabalho de campo. - OBJETO DA ANTROPOLOGIA JURÍDICA: Destaque-se, contudo, que a Antropologia Jurídica NÃO se ocupa exclusivamente do estudo do direito de sociedades simples. Na DÉCADA DE 1960, a Antropologia Jurídica passa a se interessar também pelo estudo das sociedades complexas, auxiliando no preparo e alerta da sociedade para “aceitar as evoluções jurídicas que estão em curso e que apontam para um direito mais maleável, punições flexíveis, transações ou mediações em vez de julgamentos, regras que mais formam modelos do que prescrevem ordens.” (ASSIS E KUMPEL, 2011). - EXEMPLO: Justiça Restaurativa. 4. PLURALISMO JURÍDICO OU POLICENTRISMO JURÍDICO. - Você sabe o que significa pluralismo jurídico? - Comumente se observa a identificação do Direito como algo que emana de uma instituição legalmente instituída – o Estado -, dentro de uma tradição que se convencionou chamar de monismo ou centralismo jurídico. - Conforme BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS, “o Estado moderno se assenta no pressuposto de que o direito opera segunda uma única escala, a escala do Estado.” - Entretanto, nas últimas décadas, tem sido cada vez mais aceita a tese de que o Estado não dispõe do monopólio da formulação das leis, fazendo crescer, entre antropólogos e sociólogos do Direito, uma preocupação com outras formas de regulamentação da vida em sociedade. - Existem inúmeras concepções acerca da definição do que chamamos de PLURALISMO ou POLICENTRISMO JURÍDICO, vejamos algumas delas: (i) a “teoria que sustenta a coexistência de vários sistemas jurídicos no seio de uma mesma sociedade” (SABADELL, 2010). Profª. Emanuelle Moreira FUNDAMENTOS DA ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 9 (ii) Contrário: de monismo, centralizador, monopólio, oficial do Estado. (ii) Diversas formas de direito convivendo no mesmo espaço e mesmo tempo. (iv) Normas jurídicas diferentes, na mesma sociedade, regulando a mesma situação. (v) É a negação de que o Estado seja a fonte única e exclusiva de todo direito. (vi) Produção de outras formas de regulamentação, geradas por instâncias, corpos intermediários ou organizações sociais providas de certo grau de autonomia e identidade própria. - Neste sentido, para que haja PLURALISMO JURÍDICO, faz-se necessária a existência simultânea de duas ou mais normas aplicáveis ao mesmo caso concreto, advindas de fontesdistintas do sistema a qual pertencem. -Em regra, apenas uma norma será aplicada. - Também, assegura que boa parte do direito não estatal somente aparece por conta da omissão do Estado quando da distribuição da Justiça. - IPC.: Você consegue identificar alguma situação presente na sociedade brasileira que pode configurar pluralismo jurídico? - O EXEMPLO DE PLURALISMO JURÍDICO que o autor SANTOS investiga é o dado pelas associações de moradores de favelas do Rio de Janeiro. - No RIO DE JANEIRO, as associações de moradores de favelas passaram a assumir funções nem sempre previstas diretamente nos seus estatutos, como, por exemplo, a de arbitrar conflitos entre vizinhos. - A associação de moradores transformou-se, assim, gradualmente num fórum jurídico, à volta do qual se foi desenvolvendo uma prática e um discurso jurídico, que possibilitou o surgimento de um direito novo: o DIREITO DA FAVELA. - Esse é um direito paralelo não oficial, cobrindo uma interação jurídica muito intensa à margem do sistema jurídico estatal. - O modelo jurídico da favela representa o traço de um movimento que parece ser mais amplo. Esse movimento ou tendência é detectável por múltiplos sinais, e os mais importantes são os que dizem respeito à criação, em certas áreas do controle social, de uma administração jurídica e judiciária paralela ou alternativa à administração estatal. Profª. Emanuelle Moreira FUNDAMENTOS DA ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 10 - A administração paralela, segundo SANTOS (1988), recupera ou reativa, em novos moldes, estruturas administrativas de tipo popular ou participativo há muito abandonadas ou marginalizadas. - Assim, em áreas como segurança, defesa do consumidor, relações entre vizinhos, questões de família, pequenos delitos criam-se tribunais sociais, comunitários ou de bairros presididos por juízes leigos, eleitos ou designados pelas organizações sociais, e em que a representação das partes por advogados não é necessária. - O processamento das questões é informal e oral e, por vezes, nem sequer a sentença é reduzida a escrito. - Esse modelo “marginal” tem inspirado reformas no âmbito do direito estatal, principalmente, com os tribunais de pequenas causas e a aplicação das denominadas penas alternativas. - Apesar de toda a sua precariedade, o direito da favela representa a prática de uma legalidade alternativa e, como tal, um exercício alternativo de poder político, ainda que embrionário. - Não é um direito revolucionário, nem tem lugar numa fase revolucionária de luta de classes. Mas, de qualquer modo, representa uma tentativa para neutralizar os efeitos da aplicação do direito capitalista de propriedade no seio da favela e, portanto, no domínio habitacional da reprodução social. - E porque se centra à volta de uma organização eleita pela comunidade, o direito da favela representa, também por essa razão, a alternativa de uma administração democrática da justiça (SANTOS, 1988). JUSTIÇA ESTATAL X JUSTIÇA COMUNITÁRIA - No domínio da antropologia jurídica, os autores costumam utilizar o método comparativo. - Assim, quando se compara o direito das sociedades simples com o direito das sociedades complexas, geralmente apontam que: A) As SOCIEDADES SIMPLES dispõem de um direito cujo processo é flexível, sem demarcação nítida da matéria relevante, e a reconciliação das partes tem primazia sobre tudo o mais na resolução dos litígios; Profª. Emanuelle Moreira FUNDAMENTOS DA ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 11 B) As SOCIEDADES COMPLEXAS dispõem de um direito formalista, dotado de um processo inflexível, e as decisões são baseadas na aplicação das leis sem qualquer preocupação com a reconciliação das partes. - SANTOS, ao comparar o direito da favela com o direito estatal, verifica que o direito estatal, por ser mais institucionalizado, com maior poder coercitivo e com discurso jurídico de menor espaço retórico, é concomitantemente mais profissionalizado, mais formalista e legalista, mais elitista e autoritário. - Enfatiza que a práxis do direito estatal é revelada pela articulação de três componentes estruturais básicos: a retórica, a burocracia e a violência, típicos da sociedade capitalista. - Paralelamente ao modelo tradicional de administração tecnocrática da justiça, SANTOS reconhece a possibilidade de modelos alternativos de administração da justiça, que a torne, em geral, mais rápida, mais barata e mais acessível. - Nesse sentido cita a JUSTIÇA COMUNITÁRIA, que pressupõe a mediação ou conciliação através de instâncias e instituições que sejam descentralizadas e informais e que possam substituir ou complementar o modelo tradicional. - Essas reformas possibilitariam a construção de um direito novo, de um modelo jurídico capaz de limitar e restringir o espaço da dominação da burocracia (domínio da hierarquia normativa) e da violência (ordenação da legitimidade sob coação) e de promover a expansão da retórica como processo dialógico de negociação e de participação. - O DIREITO DA FAVELA, como visto, favorece a emergência de um modelo jurídico dominado pela retórica, portanto, permite atingir formas de superar a crise do paradigma tradicional do direito. - Tal direito faz uso de um modelo decisório de mediação, que, ao contrário do modelo de adjudicação, maximiza o potencial de persuasão para a adesão à decisão. - Segundo SANTOS (1988), quanto mais elevado é o nível de institucionalização da função jurídica menor tende a ser o espaço retórico do discurso jurídico, e vice-versa; quanto mais poderosos são os instrumentos de coerção ao serviço da produção jurídica menor tende a ser o espaço retórico do discurso jurídico e vice-versa. Profª. Emanuelle Moreira FUNDAMENTOS DA ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 12 - Conforme foi destacado, a antropologia, nos seus primeiros momentos, interessa-se pelo estudo das sociedades ditas primitivas, especialmente pelo seu processo evolucionário. Essas sociedades, apesar de apresentar um baixo nível de institucionalização, despertou o interesse dos teóricos do direito. - INDICAÇÃO DE FILME: Assista ao documentário Notícias de uma Guerra Particular, produzido em 1999 pelo cineasta João Moreira Salles e pela produtora Kátia Lund. O documentário está disponível no YouTube. Durante a audiência, tente perceber como opera, na prática, a teoria do pluralismo jurídico. Link para acesso: <https://youtu.be/EAMIhC0klRo>. 5. DIREITO E RELAÇÕES DE GÊNERO. - Essas 02 categorias se entrecruzam com a classe social, assim como, outros marcadores (idade/geração, orientação sexual, religião etc.), gerando experiências múltiplas e modos de vida particulares. - Neste primeiro momento, nosso olhar se voltará para as questões de gênero e as suas conexões com o direito. - E por que precisamos falar sobre isso? - O Brasil teve uma ligeira redução no número de mulheres assassinadas em 2018. Mas, ainda assim, os registros de feminicídio cresceram em um ano. - É o que mostra um levantamento feito pelo G1 com base nos dados oficiais dos 26 estados e do Distrito Federal. - Fonte: https://g1.globo.com/monitor-da-violencia/noticia/2019/03/08/cai-o-no-de- mulheres-vitimas-de-homicidio-mas-registros-de-feminicidio-crescem-no-brasil.ghtml). - São 4.254 homicídios dolosos de mulheres, uma redução de 6,7% em relação a 2017, quando foram registrados 4.558 assassinatos – a queda é menor, porém, que a registrada se forem contabilizados também os homens. - Houve ainda um aumento no número de registros de feminicídio, ou seja, de casos em que mulheres foram mortas em crimes de ódio motivados pelacondição de gênero. - Foram 1.173 no ano passado, ante 1.047 em 2017. - O novo levantamento revela que: Profª. Emanuelle Moreira FUNDAMENTOS DA ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 13 - O Brasil teve 4.254 homicídios dolosos de mulheres em 2018 (uma redução de 6,7% em relação ao ano anterior) - Do total, 1.173 são feminicídios (número maior que o registrado em 2017). - Oito estados registram um aumento no número de homicídios de mulheres; 16 contabilizam mais vítimas de feminicídio em 2018. - Roraima é o que tem o maior índice de homicídios contra mulheres: 10 a cada 100 mil mulheres. - Acre é o estado com a maior taxa de feminicídios: 3,2 a cada 100 mil. - No ESTADO DA BAHIA: o número de feminicídios (homicídio praticado contra a mulher por ela ser mulher) registrados na Bahia cresceu nos primeiros quatro meses deste ano, em relação ao mesmo período de 2018. De acordo com a Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP-BA), em 2019, foram 10 casos a mais que os ocorridos entre janeiro e abril do ano passado. - A LGBTIQfobia (LGBTI - lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, intersex e queer - termo usado para designar pessoas que não seguem o padrão da heterossexualidade ou do binarismo de gênero) também produz e reproduz violências e vidas precarizadas. O Brasil é o País que mais mata travestis e pessoas transexuais. - Segundo dados do GRUPO GAY DA BAHIA, em 2018 os LGBT+ sofreram 320 homicídios, totalizando 76% dos casos de violência computados. Já os suicídios foram 100, totalizando 24% dos dados. Em relação ao ano de 2017 observou-se uma pequena redução no número de mortes. - Segundo os dados, a cada 20 horas um LGBT é morto ou comete suicídio no Brasil. Os números colocam o Brasil como recordista no ranking de países que mais mata LGBTs no mundo. O relatório citou ainda que, segundo dados internacionais, no Brasil são mortos mais LGBTs do que em países onde existem pena de morte para homossexuais como na África e Oriente Médio. -Fonte: https://revistaladoa.com.br/2019/01/brasil/grupo-gay-da-bahia-publica-relatorio- sobre-mortes-por-lgbtfobia-em-2018/ - Essas são apenas algumas situações para ilustrar o quanto gênero é uma categoria fundamental para a análise de nossas relações sociais. Profª. Emanuelle Moreira FUNDAMENTOS DA ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 14 - Aqui, frise-se, referimo-nos a GÊNERO como conceito cunhado no âmbito dos estudos feministas, que adquire um significado específico, bem distante dos usos variados feitos no discurso do senso comum. - No final da década de 1980, muitas teóricas feministas passaram a utilizar o termo gênero para designar a organização social da relação entre os sexos, rejeitando o determinismo biológico com o qual a questão costumava a ser tratada. - Segundo SCOTT (1995), gênero pode ser entendido como uma categoria analítica que reconhece as diferenças existentes entre homens e mulheres como socialmente construídas e firmadas a partir de relações de poder. - Nos anos seguintes, o conceito de gênero ganha ampla repercussão nos estudos acadêmicos, porém, em nosso cotidiano, ainda é bastante comum perceber indivíduos fazendo confusão entre termos como sexo, identidade de gênero e orientação sexual. - VOCÊ SABERIA DIFERENCIÁ-LOS? - Por SEXO, entendemos os marcadores biológicos que definem os machos e as fêmeas da espécie humana. - Já a IDENTIDADE DE GÊNERO é a maneira como o sujeito se enxerga ou seja, o gênero que se identifica identifica e se apresenta como fazendo parte. - Por fim, a ORIENTAÇÃO SEXUAL indica pelo que você sente atração, mostra para que lado a sua sexualidade está orientada. Diz respeito a inclinação da pessoa na esfera afetiva, amorosa e sexual, e dizer, por qual gênero ela se sente atraída. Profª. Emanuelle Moreira FUNDAMENTOS DA ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 15 - Feitas as distinções, uma nova pergunta poderia ser lançada: POR QUE ESSA COMPREENSÃO É IMPORTANTE PARA O DIREITO? - SABADELL (2010) aponta que os estudos feministas identificaram problemas de 02 (duas) ordens: “primeiro, a existência de normas que discriminam a mulher (direito “masculino”). Segundo, a aplicação das normas de forma que discrimina as mulheres.” - REFLEXÃO: Pesquise por disposições contidas ou que já figuraram no ordenamento jurídico brasileiro que, na sua opinião, poderiam configurar uma violação de direitos da mulher, bem como, por decisões que promoveram a discriminação das mulheres. Em seguida, socialize seus achados com os demais colegas e reflitam coletivamente. - Passemos agora ao estudo da raça. 6. RAÇA, RACISMO E SISTEMA DE JUSTIÇA. - Os estudos antropológicos também guardam um lugar especial para a discussão sobre RAÇA. - RAÇA HUMANA NO DECORRER DOS SÉCULOS: SÉCULO XVIII: - Na questão da raça humana, sobretudo no decorrer do século XVIII, a cor da pele, ou seja, a concentração de melanina apresentada nos organismos dos sujeitos, foi o elemento utilizado para promover a distinção. - A raça humana teria então restado dividida em 03 (três) raças até hoje presentes no imaginário social: A) branca, B) negra e C) amarela. SÉCULO XIX: outros critérios morfológicos passaram a ser associados a cor da pele para a definição da raça a que uma pessoa pertencia - o formato do nariz e dos lábios, o ângulo facial, a forma do crânio, etc. (MUNANGA, 2004). SÉCULO XX: os avanços no campo da genética humana invalidaram cientificamente o conceito de raça, passando-se a defesa de que as variações encontradas nos organismos humanos não eram suficientes para sustentar a tese de uma pluralidade racial. Profª. Emanuelle Moreira FUNDAMENTOS DA ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 16 - Veja no QUADRO a seguir um resumo dos critérios utilizados para promover a classificação racial, segundo MUNANGA (2004): - No entanto, se do ponto de vista da Biologia a classificação dos seres humanos em diferentes raças é algo que não mais se sustenta, do ponto de vista social, sua existência não apenas persiste como também é plenamente utilizada para gerar um sistema deliberado de supremacia branca, arraigado em nossas instituições sociais. - Esse sistema foi denominado de RACISMO e consiste na “doutrina segundo a qual todas as manifestações culturais, históricas e sociais do homem e os seus valores dependem da raça”. - Segundo SCHUCMAN (2010), pensando a realidade brasileira, tem-se que o racismo se desenvolveu de uma maneira bastante peculiar, dentre outros aspectos, por substituir a noção de raças pela de cor e aparência física no imaginário coletivo. - O racismo cotidianamente praticado no Brasil, além da discriminação e estigmatização de parcela da sociedade, cria uma série de violações de direitos, inclusive com a lentidão do Estado e de seus agentes. - Logo a seguir, vamos expor 02 (dois) EXEMPLOS que servem bem para ilustrar a estigmatização e violação de direitos da população negra no País. - O PRIMEIRO EXEMPLO dialoga com o conceito de sujeição criminal proposto por MISSE (2014), que se refere “a um processo social pelo qual se dissemina uma expectativa Profª. Emanuelle Moreira FUNDAMENTOS DA ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 17 negativa sobre indivíduos e grupos, fazendo-os crer que essa expectativa não só e verdadeira como constitui parte integrante de sua subjetividade”. - Neste sentido, ocorre um PROCESSO DE INCRIMINAÇÃO antes mesmo do cometimento do delito, em que o suspeito por excelência e o indivíduo negro, geralmente associado a ideia de desordem. - O SEGUNDO EXEMPLO diz respeito a SELETIVIDADEobservada no sistema de justiça criminal, no qual os negros são tratados como alvos preferenciais das agências de controle social, quer seja na maior representação da população carcerária, quer seja nos índices de vitimização experimentados sobretudo pelos jovens negros das periferias dos grandes centros urbanos em ações policiais. - Vejamos algumas legislações sobre a discriminação racial no Brasil: A Constituição Federal de 1988, no seu art. 5° inciso XLII, determina que “a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito de reclusão nos termos da lei”. Art. 3° Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: (…). IV Promover o bem estar de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Art. 5° – Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, a liberdade, a igualdade, a segurança e a prosperidade…(…). XLI A lei punirá a qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais. Art. 4° – A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: II – prevalência dos direitos humanos; VIII – repudio ao terrorismo e ao racismo; Art. 7°- XXX – proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil; Art. 215. § 1°- O Estado protegera as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional. Art. 216. § 5° – Ficam tombados todos os documentos e os sítios detentores de reminiscências históricas dos antigos quilombos. Profª. Emanuelle Moreira FUNDAMENTOS DA ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 18 - QUAIS SITUAÇÕES VOCÊ CONSEGUE LEMBRAR EM QUE É POSSÍVEL PENSAR O RACISMO EM RELAÇÃO AO SISTEMA DE JUSTIÇA BRASILEIRO? 7. A CONTRIBUIÇÃO DOS CLÁSSICOS NA SOCIOLOGIA. - É de suma importância, que também conhecimento sobre as contribuições de Karl Marx, Émile Durkheim e Max Weber para a sociologia jurídica. - Inicialmente, precisamos saber o conceito da palavra “clássico”. Um clássico é aquele autor que não tem apenas valor histórico, mas, cuja obra pode ser lida e relida diversas vezes, fazendo-nos descobrir aspectos que não foram percebidos antes, e que pode ser sempre “atualizado”, isto é, pode ser lido a partir de questões e problemas do mundo atual. - De modo que, Karl Marx, Émile Durkheim e Max Weber são considerados clássicos desta disciplina, grandes pensadores da época, que dedicaram-se a explicar a dinâmica das relações sociais. - Iniciemos nosso estudo sobre os clássicos da Sociologia por Karl Marx. 7.1. KARL MARX INTRODUÇÃO - Os pensamentos de Karl Marx são resultantes de contexto sócio-político determinado. - É uma resposta aos problemas da sociedade burguesa e uma proposta de intervenção que tem como centro a classe operária. - Pretende um modo novo de ver a sociedade burguesa: compreendê-la para suprimi- la. - Isso porque a Revolução Industrial ocasionou crise social que atingiu níveis gigantescos. Profª. Emanuelle Moreira FUNDAMENTOS DA ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 19 - A permuta do homem pela máquina, maior produção/maior desempregados; concorrência das fábricas/artesãos faliam. - Trabalho operário: exercício mecânico (não exigia técnica nem raciocínio)/utilização das mulheres e crianças (extremamente vantajosa e barata). - As péssimas condições de trabalho desencadeavam a enorme mortalidade infantil e desnutrição. - Além disso, ao se processar a divisão de trabalho, separavam-se aqueles que pensam, daqueles que agem, criando as especialidades. - Neste contexto, nasce o modelo teórico de Marx para compreender a sociedade. MODELO TEÓRICO DE MARX - Marx junto à colaboração essencial de Engels, produziu um julgamento do Capitalismo jamais visto. - Com o “Manifesto Comunista” (1848), conclamou todos os trabalhadores, independente de suas nacionalidades, à união contra o Capitalismo (sendo que o processo de sindicalização tomou grande impulso a partir daí). - Marx propõe, por meio do MATERIALISMO HISTÓRICO, que os homens não são meros seres contemplativos do mundo, não são apenas produto do meio, mas, são produtos da História; - A sociedade, o Estado e o Direito não surgem de decretos divinos, mas, dependem da ação concreta dos homens na História. - Além disso, afirma que o modo de produção capitalista é sustentado por inúmeras contradições, essencialmente verificadas no plano das classes sociais (capital/trabalho, campo/cidade). - A burguesia como classe detentora dos meios de produção e, portanto, dominante; e o proletariado, que tem como única riqueza o seu trabalho, tendo que o vender para sobreviver. - K. Marx então, propõe um MODELO TEÓRICO SOCIAL, dividindo o esqueleto social em 02(duas) partes: a INFRA-ESTRUTURA e a SUPERESTRUTURA, utilizando-se de metáforas advinda da construção civil. Profª. Emanuelle Moreira FUNDAMENTOS DA ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 20 - E que revela que a INFRA-ESTRUTURA está afastada das percepções sensoriais (sentidos humanos) do homem, como: olfato, tato, paladar e audição. - E, de outro lado, ilustra que os componentes da SUPERESTRUTURA, isto é, a política, ideologia e o Direito, são captáveis pelos sentidos humanos. - Na INFRAESTRUTURA ou BASE MATERIAL ou BASE ECONÔMICA, segundo Marx, desenvolvem-se todas as relações de produção através das forças produtivas, isto é, as ferramentas pelas quais irá se obter produtividade: força de trabalho + tecnologia + terras + conhecimento. - As relações sociais de produção, por sua vez, significam as interações entre indivíduos ou deste com a natureza, ocorridas na INFRAESTRUTURA. - Sobre a INFRAESTRUTURA levantar-se-ia a SUPERESTRUTURA, que reproduziria a dominação estabelecida na infraestrutura e seria composta por 02 (duas) categorias: jurídico-política e ideológica. 1) JURÍDICO-POLÍTICA (Estado, leis, justiça): tem por função mediar as relações materiais e tem como expressões máximas: o Direito e a Burocracia. - O Direito como demonstração da luta de classes, sendo a lei vista como a consagração da ideologia burguesa. - A Burocracia, como um corpo de funcionários orientados a perpetuar as condições vividas na infraestrutura. Profª. Emanuelle Moreira FUNDAMENTOS DA ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 21 2) IDEOLÓGICA (ideias, costumes): na qual seriam construídos valores, ideias e representações que afirmariam as diferenças entre as classes sociais. - As classes sociais constituem a base de todo o pensamento de K. Marx. Elas são determinadas pela posição que um grupo de indivíduos possui nas relações sociais de produção. - Essa posição seria determinada pela propriedade ou não de bens. O grupo que os possuíssem seria a classe dominante e os que não os detivessem, a classe dominada. - As relações entre essas classes nascem na Infraestrutura, sendo afirmadas, mantidas e reproduzidas pela esfera Superestrutural. - Vale frisar, que Marx considera que as relações econômicas determinam o corpo Superestrutural. O ESTADO NA VISÃO DE MARX - Marx expõe uma nova concepção, segunda a qual o Estado não funciona como curador social, que tem como função obter o bem comum da sociedade. - Rompeu com o pensamento liberal, que analisava o Estado como um arranjo contratual entre os indivíduos, a fim de garantir a ordem,a propriedade e os direitos civis, sendo o representante de todos os setores da sociedade. - Segundo Marx, o Estado é um instrumento de manutenção da ordem dominante e representa dos interesses dessa classe. - Para que essa dominação seja aceita pacificamente por toda a sociedade, o Estado age em nome do “interesse geral” e das “leis”. - Classes sociais dominantes: impõem seus interesses não apenas através do Estado, mas, nos códigos de leis, igreja, jornais, educação, meios de comunicação, propagandas, que vão ajudando a sedimentar a sua ideologia. - K. Marx: Estado não é imposição divina aos homens, nem é resultado de contrato social, mas, é a maneira pela qual a classe dominante de determinada época garante seus interesses e dominação sobre o todo social; - O Estado não deveria ser o repressor do proletariado e sim, repressor da burguesia. - As forças produtivas do modo de produção capitalista deveriam ser desenvolvidas ao máximo, até que as contradições entre as classes tornarem-se insuportáveis. Profª. Emanuelle Moreira FUNDAMENTOS DA ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 22 - Nesse momento, o povo chegaria ao poder e as decisões seriam tomadas pela massa popular. - Dentre as decisões, estaria a socialização das propriedades, enquanto o Estado e consequentemente o Direito (já que este é produto daquele) iriam perdendo as suas funções até se extinguirem completamente. - O Estado e Direito passariam a serem desnecessários, numa sociedade onde na qual todas as pessoas estariam numa mesma situação diante da base material, não existiriam mais classes sociais, então não haveria mais necessidade de algo que regulasse as contradições existentes entre elas, ensejando assim, a igualdade social. O DIREITO NA OBSERVAÇÃO DE MARX - Para Marx, o Direito pressupõe Estado, que surge somente quando há uma sociedade politicamente organizada, com órgãos capazes de estabelecer regras e impor o seu cumprimento. - Isso significa que o Direito apenas confirma e fortalece as relações sociais, aplicando regras a situações preexistentes. - Marx observou que o Direito desenvolvido na sociedade capitalista estabelece normas universais e uniformes para sujeitos desiguais, perpetuando assim, as diferenças sociais, baseadas na exploração do trabalho das classes populares pelos detentores do capitalismo. - Na visão de Marx, o Direito NÃO exprime ideais abstratos como a igualdade, liberdade, justiça, ordem e segurança. Profª. Emanuelle Moreira FUNDAMENTOS DA ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 23 - O Direito corresponde às relações econômicas que predominam na sociedade. - A sociedade encontra-se dividida em classes, desenvolvendo-se um processo de dominação e de repressão das classes inferiores por parte das classes privilegiadas, que detêm o poder. - O Direito reflete esta realidade social, por exemplo: as normas relativas ao direito da propriedade protegem de um modo geral, os interesses das classes sociais mais abastadas. Nessa perspectiva, o direito aparece como um instrumento ideológico e político de dominação da classe dominante. - Em outras palavras, o direito constitui um meio de reprodução do sistema econômico capitalista, fundado na exploração da força de trabalho pelos detentores dos meios de produção. - Em síntese, para Marx, não existe um direito sem Estado, nem um Estado sem direito. - O direito criado e aplicado pelos aparelhos do Estado, cumpre uma determinada função social: é um instrumento de reprodução da desigualdade social, apesar de ser utilizado algumas vezes, pelos dominados como uma arma contra a classe dominante. CONCLUSÃO - Postulado básico de Marx é o chamado determinismo econômico, segundo o qual, o fator econômico é determinante na estrutura do desenvolvimento da sociedade. - As relações de trabalho, segundo Marx, podem produzir miséria e exploração ao invés de “progresso”. 7.2. ÉMILE DURKHEIM FATO SOCIAL E DURKHEIM - Segundo Durkheim, os fatos sociais são “coisas” (eventos, acontecimentos) que ocorrem no cotidiano e que de certa forma nos influenciam a pensar, nos comportar de acordo com as regras sociais. Profª. Emanuelle Moreira FUNDAMENTOS DA ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 24 - Em palavras mais simples, os fatos sociais “são maneiras de agir, pensar e sentir exteriores ao indivíduo e dotadas de poder coercitivo” e que exercem influência sobre os indivíduos. Agimos e reagimos segundo as regras ditadas pelo social. - Com esta definição de fato social como “coisa”, Durkheim dá ao fato social 03 (três) CARACTERÍSTICAS: A) EXTERIORIDADE: o fato social é EXTERIOR ao indivíduo. Isso quer dizer que as normas, os valores, as regras impostas aos indivíduos são preexistentes a ele. O fato social existe antes do nascimento do indivíduo e atua sobre ele independente de sua vontade. As maneiras de agir, pensar e sentir são exteriores às pessoas, pois as precedem, transcendem (ultrapassa, excede) e a elas sobrevivem. - O EXEMPLO mais banal disso é que quando nascemos já encontramos todas as normas, regras de socialização que devemos seguir. - Quer ver só? : Ao atingirmos certa idade devemos cumprir alguns direitos para com o Estado, que é anterior e independente de nossa existência, como votar ou justificar o voto, realizar o alistamento militar para cidadãos do sexo masculino. B) COERCITIVIDADE: A segunda é que ele é COERCITIVO (coerção), isto é, exercem sobre nós uma força (social) repressiva que nos obrigar a agir de acordo com as regras estabelecidas pela sociedade. Ou seja, as normas de conduta ou de pensamento são além de exteriores ao indivíduo, dotadas de poder coercitivo, porque se impõem, independente de suas vontades. - A força coercitiva aparece, assim que tentamos opor resistência à mesma. EXEMPLO: Se não formos votar ou justificar o voto em uma eleição, a coação se fará sentir através de sanções legais de que lança mão a sociedade para nos punir, pois ficamos impedidos de assumir cargos públicos. - EXEMPLOS de fatos sociais: o direito (as regras jurídicas e morais), os dogmas religiosos, os sistemas financeiros, a educação, entre outros. - Para Durkheim, o DIREITO é o fato social mais coercitivo. - Para ele, o direito projetaria no psiquismo dos agentes sociais um temor, um medo e um receio muito mais incisivo, decisivo. Profª. Emanuelle Moreira FUNDAMENTOS DA ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 25 C) GENERALIDADE: A terceira característica do fato social é sua GENERALIDADE (geral, difundido socialmente). Os fatos sociais são tomados coletivamente, abarca o comportamento de praticamente todos os indivíduos. Todos se acham envolvidos e se identificam com os mesmos comportamentos, crenças, costumes ou valores. EXEMPLO: Família Família Igreja/Estado Divórcio. - Portanto, fato social é o comportamento imposto por meio da educação, segundo valores preexistentes e que determinam o comportamento geral de uma comunidade. CONCEITOS FUNDAMENTAIS DA TEORIA SOCIOLÓGICA DE E. DURKHEIM - Na leitura sociológica de Durkheim, a modernidade era caracterizada pela divisão DO TRABALHO SOCIAL e pela ESPECIALIZAÇÃO DAS FUNÇÕES. - Com a introdução da máquina a vapor no processo de produção, acentuou-se a diferenciação social em virtude do surgimento de variadas esferas de atividades sociais e econômicas, o que desencadeou novos tipos de relações entre os indivíduos. - Em sua obra “A DIVISÃO DO TRABALHO SOCIAL”, Durkheim enuncia 02 (DOIS) PRINCÍPIOS BÁSICOS: CONSCIÊNCIA COLETIVA E SOLIDARIEDADE (MECÂNICA/ORGÂNICA). - Vamos avançar para outro conceito de Durkheim, o conceitode CONSCIÊNCIA COLETIVA. - Para ele, essa CONSCIÊNCIA “é um conjunto das crenças e sentimentos comuns à média dos membros de uma mesma sociedade”. - Cada sociedade estabelece um padrão de comportamento que corresponde à CONSCIÊNCIA COLETIVA (ou consciência COMUM), que nada mais é que os laços que criamos no social. - Diferentemente de como é mobilizada no senso comum, quando é entendida como ajuda carismática, o conceito de solidariedade em Durkheim pressupõe dar importância ao agente social e reconhecer seu trabalho como importante para o grupo. Há 02 (DOIS) TIPOS DE SOLIDARIEDADE: 1) MECÂNICA E 2) ORGÂNICA. - 1) SOLIDARIEDADE MECÂNICA OU POR SEMELHANÇA: típicas das sociedades pré- capitalistas (primitiva/antiga) e pode ser chamada também de solidariedade por semelhança. Os indivíduos se identificavam pelos laços familiares e religiosos e pelas Profª. Emanuelle Moreira FUNDAMENTOS DA ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 26 tradições e costumes, permanecendo, em regra, independentes e autônomos no que diz respeito a divisão do trabalho social, de modo que a consciência coletiva exercia um forte poder de coerção sobre os indivíduos. - Os valores sociais decorrem da tradição e da religião e o grupo organiza-se como uma verdadeira comunidade, fundamentada em relações de parentesco e na preservação da propriedade coletiva. - Pode ser encontrada nas sociedades, onde os indivíduos estão envolvidos num sistema de autoprodução – grupos vivem isolados – em que há poucas mudanças. - A solidariedade mecânica fundamenta-se na semelhança dos membros da sociedade, ou seja, na uniformidade de comportamento. - Qualquer alteração no social, como um crime, por exemplo, é punida e o indivíduo, no caso, não tem como fugir dessa punição. - A PUNIÇÃO é vista como exemplo para todo o social. - Quem não respeita as regras é considerado agressor da ordem social. - O roubo, não é por exemplo, considerado como agressão a um particular, mas, como uma violação dos princípios fundamentais da comunidade. - O agressor, portanto, é considerado um inimigo público e será submetido a uma punição imediata e forte. - Agressor agressor da ordem social, dos princípios fundamentais da comunidade considerado como inimigo público punição imediata e forte; - O Direito exprime e fortalece esta consciência e garante a estabilidade social, através da aplicação de sanções. - O Direito aqui é visto como repressivo. A punição é que dá a força do social, da coesão social. - O outro tipo de solidariedade é a ORGÂNICA. - 2) SOLIDARIEDADE ORGÂNICA OU POR DESSEMELHANÇA: Chamada também de sociedade por dessemelhança e encontra-se nas sociedades modernas. - Observada nas sociedades capitalistas, a rápida divisão social do trabalho tornou os indivíduos interdependentes e tal interdependência é apontada como responsável por garantir a coesão social. Profª. Emanuelle Moreira FUNDAMENTOS DA ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 27 - Trata-se de uma sociedade complexa, fundamentada na DIVISÃO DO TRABALHO, segundo o PRINCÍPIO DA ESPECIALIZAÇÃO, um tipo de sociedade diferenciada. - O indivíduo não se vincula diretamente a valores sociais, não está submetido a liames tradicionais, obrigações religiosas ou “comunitárias”. - A solidariedade cria-se através de redes de relacionamento entre indivíduos e grupos, onde cada um deve respeitar as obrigações assumidas por contrato, gerando entre os homens uma consciência de direitos e deveres. - O próprio indivíduo se autopolicia, porque sabe que se não atuar de uma determinada forma (estudar, trabalhar, ganhar salário, investir) não poderá sobreviver nesta propriedade privada, na concorrência e intercâmbio de valores equivalentes. - É como se a sociedade fosse um CORPO HUMANO e cada grupo de indivíduos desempenhasse uma função específica tal como os órgãos do corpo humano. - Nessas sociedades podemos visualizar o individuo como ente distinto do corpo social. Nessas sociedades o direito possui uma dimensão muito mais restitutiva do que repressiva. O descumprimento de obrigações contratuais cria uma responsabilidade de tipo patrimonial (e não penal). - Nessas sociedades o direito possui uma dimensão muito mais restitutiva do que repressiva. - O descumprimento de obrigações contratuais cria uma responsabilidade de tipo patrimonial (e não penal). - O DIREITO, portanto, tem um papel regulador da ordem social e o Estado é quem intermediaria as ações entre os indivíduos. - Essa solidariedade, exprime o direito: civil, empresarial, administrativo e constitucional, fazendo-se acompanhar de SANÇÕES RESTITUTIVAS (reparação de danos: DIREITO RESTITUTIVO). - Prevalece nas sociedades orgânicas o direito social, entendido como o direito não penal. - A intenção é de manter o indivíduo na sociedade. Cada um desempenha uma função específica, relevante para o funcionamento do corpo social. Profª. Emanuelle Moreira FUNDAMENTOS DA ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 28 - A sanção jurídica deve privilegiar o indivíduo, substituir a sanção pessoal para a sanção patrimonial. - Segundo Durkheim, a passagem de uma forma de solidariedade para outra se faz pela DIVISÃO DO TRABALHO. - Podemos ESQUEMATIZAR a ANÁLISE de E. Durkheim sobre as formas de solidariedade social e suas consequências para o direito da seguinte forma: A ANOMIA DE E. DURKHEIM (anomia = AUSÊNCIA DE NORMAS) - Para E. Durkheim, o que faz com que a sociedade exista é a coesão social, que é estabelecida pelas normas sociais, que se encontram expressas nas leis jurídicas, costumes, etc. - Cada sociedade, da mais simples a mais complexa, estabelece normas que fazem com que os indivíduos interajam entre si, segundo valores aceitos ou não socialmente e essa interação expressa um tipo de solidariedade. - Nas sociedades primitivas, essa solidariedade é mecânica, isto é, os valores sociais predominam fortemente sobre os indivíduos. - Nas sociedades mais complexas, a solidariedade é orgânica, como se a sociedade fosse um corpo e os grupos sociais fossem seus órgãos, gerando uma interdependência entre as partes e o todo. Profª. Emanuelle Moreira FUNDAMENTOS DA ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 29 - Quando há uma quebra das regras sociais há uma desestabilização social (exemplo: crise de embates sociais, guerras), gerando um ESTADO DE ANOMIA. - No estado de anomia, os laços de solidariedade tornam-se enfraquecidos. -E. Durkheim conclui que a anomia é AUSÊNCIA DE NORMAS para regular as relações sociais, ensejando a desestabilização social. - Porém, este estado tende a ser passageiro, caso contrário a sociedade se dissolveria. - Segundo Durkheim, este estado de anomia é em grande medida originado pelas intensas transformações que ocorreram nas sociedades modernas e que não forneceram novos valores para colocar no lugar daqueles que por elas foram destruídos. - Em suma, E. Durkheim com o conceito de anomia procura sintetizar a ideia de que o progresso constitui uma ameaça às estruturas éticas e sociais. 7.3. MAX WEBER RACIONALIZAÇÃO DO MUNDO - Para Weber, o oposto da razão é a magia e ao ocorrer o processo de racionalização na sociedade, a magia perde espaço. - O processo de racionalização foi caracterizado, no pensamento de Weber, pela eliminação da magia como meio de salvação. - A perda de poder do discurso religioso e o estabelecimento da ciência, causou o chamado desencantamento do mundo. - Um EXEMPLO disso, eram as oferendas a Deus para colheitas produtivas. - Com o crescente uso da razão já se pode calcular previamente as condiçõesclimáticas e a qualidade do solo e prever se a colheita será boa ou não. Profª. Emanuelle Moreira FUNDAMENTOS DA ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 30 - De modo que o homem parou de usar a magia, a religião para obter sucesso no trabalho. - O homem passa a maior parte do tempo realizando atividades, buscando os efeitos esperados (racionais) e não pautados em seus valores, tradições e afetividades. - Isso não significou a extinção das religiões ou o fim da influência que elas exercem sobre as pessoas. A religião apenas deixa de ser o fundamento da ordem social e política. - Para Weber, “o processo histórico-religioso de desencantamento e o mundo racionalizado, no qual a organização capitalista e a organização burocrática do Estado eram as maiores expressões, tinham também o seu lado problemático.” (SELL, 2015, p. 136). - A substituição da religião pela razão promovia uma perda de sentido da vida, uma vez que era a visão religiosa que conferia aos homens uma resposta acerca da finalidade da existência. - Ademais, promovia a perda da liberdade, pois embora livre das forças divinas, o homem acabara escravo de sua própria racionalidade. TIPOS DE DIREITO (04) -Max Weber concluiu que a criação do DIREITO nas sociedades modernas responde a uma dinâmica de racionalização, que vai do material ao formal. - Weber DIFERENCIOU 04 TIPOS DE DIREITO, a saber: A) DIREITO IRRACIONAL MATERIAL: aquelas decisões determinadas pela avaliação do caso concreto e em valores e particulares baseados em avaliações éticas, sentimentais ou políticas. Em vez de aplicar ou referir-se as normas gerais. - Caracterizado pelo desejo de justiça interior e subjetivo (provém da vontade de alguém), - EXEMPLO: Famoso julgamento de Salomão (02 mães e um filho). B) DIREITO IRRACIONAL FORMAL: aquelas decisões que se deixam guiar por normas que escapam à razão, baseadas pelo emprego de meios mágicos. Profª. Emanuelle Moreira FUNDAMENTOS DA ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 31 - A decisão não é controlada pela razão, valendo-se para o veredicto do apelo a ordálios (consistia em submeter à prova do fogo ou da água o acusado, que, se dela saísse salvo, era em geral declarado inocente), oráculos, etc. - EXEMPLO: Consultas a oráculos. - Regras não contestadas e tomadas como verdades absolutas, mesmo que beirem o absurdo. C) DIREITO RACIONAL MATERIAL: quando são aplicadas as normas gerais (legislação). - Existe a lei, mas, o caso é analisado principalmente de acordo com outros semelhantes, procurando resolver os casos de maneira justa. - Os fatos influem nas decisões jurídicas. D) DIREITO RACIONAL FORMAL: A lei e o julgamento são estabelecidos unicamente com base em conceitos jurídicos abstratos. - Mais alto grau de racionalização. - Direito Sistematizado. - Conceitos jurídicos concretos; - Crimes tem suas punições previamente estabelecidas. 8. FUNÇÃO E OBJETO DE ESTUDO DA SOCIOLOGIA JURÍDICA. - Enquanto a Sociologia se ocupa em pensar a vida em sociedade a partir de seus aspectos culturais, econômicos, religiosos etc., o direito busca fixar e sistematizar as regras indispensáveis para garantir o equilíbrio social. - Sendo assim, a Sociologia não tardou em se especializar, criando um ramo próprio que tivesse o direito como objeto de estudo: a Sociologia Jurídica. - A sociologia jurídica examina a influência dos fatores sociais sobre o direito e as incidências deste último na sociedade, ou seja, os elementos de interdependência entre o social e o jurídico, realizando uma leitura externa do sistema jurídico. (SABADELL, 2010, p. 61). - Pensando este conceito, SABADELL (2010) explica que a sociologia jurídica se ocupa, fundamentalmente, do exame das causas e dos efeitos sociais das normas jurídicas, numa investida para responder a 03 (TRÊS) QUESTÕES PRINCIPAIS: Profª. Emanuelle Moreira FUNDAMENTOS DA ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 32 1) Por que se criar uma norma ou um sistema jurídico? 2) Quais as consequências advindas do direito na vida social? 3) Quais as causas sociais que estão por trás da “decadência” do direito? - Em outras palavras, poderíamos dizer que a sociologia jurídica pretende investigar a CRIAÇÃO, A APLICAÇÃO E A DECADÊNCIA DO DIREITO. - A sociologia jurídica NÃO se preocupa com o fenômeno jurídico em si, mas, com o que o antecede e com o que o sucede. - O fenômeno jurídico é OBJETO DE ESTUDO da própria ciência do Direito. - E vale uma última informação: ao realizar a pesquisa, o sociólogo do direito NÃO se propõe a realizar um julgamento, seja no sentido de valor ou mesmo no sentido da legalidade. O objetivo do sociólogo do direito será sempre o de compreender o fenômeno investigado, relatando como os indivíduos percebem e reagem a ele. 9. SOCIOLOGIA DA APLICAÇÃO DO DIREITO. - SABADELL afirma que a lei nunca se auto-aplica. A sua aplicação depende das pessoas que possuem competência para isso. - São aqueles que detém conhecimentos jurídicos (advogados, promotores, juízes, etc.) os chamados “OPERADORES DO DIREITO” que são responsáveis por essa função. - No entanto, a aplicação da lei nunca segue, de forma única, as previsões legais. Cada um dá ao texto um “sentido” que nem sempre corresponde aquele que foi dado pelo legislador ou mesmo por outro jurista. - Além do que, a aplicação não exclui os erros ou interesses pessoais. - Além disso, a postura dos cidadãos diante do sistema jurídico é fundamental para a sua aplicação. - A sociologia jurídica tem interesse pela atuação dos operadores do direito e pelas opiniões da população sobre o direito. - Tudo isso para conhecer melhor a vida jurídica real e os problemas que acarretam a aplicação prática do direito. Profª. Emanuelle Moreira FUNDAMENTOS DA ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 33 9.1 OPERADORES DO DIREITO. - A formação em um curso de bacharelado em Direito oferece uma gama de opções profissionais para os seus concluintes, isso porque a aplicação das normas depende da atuação de agentes com conhecimentos técnicos e jurídicos. - Vamos conhecer um pouco mais sobre alguns dos operadores do direito? MAGISTRATURA: no ordenamento jurídico brasileiro, apenas o Estado é legitimado para dizer o direito e assim o faz, em regra, por intermédio dos/as juízes/as. - Conforme SABADELL (2010), “os juízes não somente são encarregados da aplicação do direito, mas, também possuem a competência de dizer a „última palavra‟ sobre um conflito jurídico”, pondo fim a questão com uma decisão transitada em julgado. - A INVESTIDURA no cargo se da através de concurso público de provas e títulos e, para garantir a atuação dessa categoria com isenção, a Constituição de 1988 consagra um sistema de prerrogativas que vai desde uma alta remuneração (o teto salarial dos servidores públicos e o subsídio dos ministros do STF) até elementos caracterizadores de independência pessoal e profissional, tudo isso com a finalidade de evitar pressões e produzir decisões “neutras”. Os juízes gozam das seguintes garantias, que visam assegurar a independência dos magistrados: vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de subsídio. 1) VITALICIEDADE: que, no primeiro grau, só será adquirida após 02 anos de exercício, dependendo a perda do cargo, nesse período, de deliberação do tribunal a que o juiz estiver vinculado e, nos demais casos, de sentença judicial transitada em julgado, ou seja, aquela decisão a que não cabe mais recurso. 2) INAMOVIBILIDADE: visa à garantia de que não haja troca de juiz para prejudicar ou beneficiar alguma das partes em determinado julgamento. O juiz nãopode ser removido ou promovido a não ser com o seu consentimento, salvo na hipótese de motivo de interesse público (art. 93, VIII, da CF). 3) IRREDUTIBILIDADE DE SUBSÍDIO: o juiz não pode ter sus vencimentos reduzidos, ressalvado o disposto nos arts. 37, X e XI, 39, §4º, 150, II 153, III, § 2º, I, todos da CF. - Ademais, o exercício da magistratura pressupõe a observância de alguns PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS, vejamos: Profª. Emanuelle Moreira FUNDAMENTOS DA ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 34 - PRINCÍPIO DA INÉRCIA, pelo qual o juiz não deve atuar caso não seja previamente provocado por quem de direito. - PRINCÍPIO DA INDECLINABILIDADE da função de julgar, pois, aos juízes, competem apreciar todas as demandas que lhes são apresentadas, ofertando respostas adequadas e em consonância com o texto constitucional e das normas infraconstitucionais. - Além da atuação para o equacionamento de conflitos e controvérsias, aos magistrados compete também a missão de efetivar os direitos e garantias fundamentais encartados em nossa ordem jurídica. OS MEMBROS DO MINISTÉRIO PÚBLICO: de acordo com a redação constitucional, “o Ministério Público é uma instituição permanente, essencial a função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis” (ART. 127, CF). - Dotado de independência funcional e autonomia administrativa e financeira, seus membros, os promotores e os procuradores de justiça, atuam nas mais diversas áreas do direito como verdadeiros fiscais da lei, visando garantir os pressupostos fundamentais do Estado Democrático de Direito. - Cumpre destacar que o Ministério Público NÃO pertence a nenhum dos 03 (três) poderes constituídos do Estado (Executivo, Legislativo e Judiciário). - Sua posição constitucional é de plena independência, de modo que não pode ser extinto nem ter as suas atribuições repassadas para outras instituições. - Suas funções institucionais estão previstas no artigo 129 da Constituição Brasileira de 1988, vejamos: Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei; II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua garantia; (...) V - defender judicialmente os direitos e interesses das populações indígenas; (...) Profª. Emanuelle Moreira FUNDAMENTOS DA ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 35 VIII - requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial, indicados os fundamentos jurídicos de suas manifestações processuais; IX - exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que compatíveis com sua finalidade, sendo-lhe vedada a representação judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas. § 1º - A legitimação do Ministério Público para as ações civis previstas neste artigo não impede a de terceiros, nas mesmas hipóteses, segundo o disposto nesta Constituição e na lei. - Como fiscal da lei, o Promotor de Justiça deve ser livre para direcionar sua atividade a partir das convicções advindas do conjunto probatório e das normas jurídicas previstas em nosso ordenamento. - A INVESTIDURA NO CARGO se dá, como acontece com os magistrados, por meio de concurso publico de provas e títulos, exigindo-se o grau de bacharel em Direito e, no mínimo, três anos de experiência na atividade jurídica. - A Constituição Federal também prevê para esses profissionais um sistema de garantias com VITALICIEDADE, INAMOVIBILIDADE E IRREDUTIBILIDADE DE SUBSÍDIOS, mas, igualmente prevê uma série de VEDAÇÕES, como: o recebimento de honorários, percentagens ou custas processuais; exercício da advocacia e atividade político- partidária; participação em sociedades comerciais etc. - Percebemos, então, que o Ministério Público é uma instituição extremamente relevante para a democracia e o Estado de Direito, capaz de minimizar as dificuldades de acesso à justiça e fazer valer os direitos e garantias fundamentais dos/as cidadãos/as. ADVOCACIA: aos advogados, compete a função de falar em nome dos representados, defendendo os seus interesses. - Porém, como adverte BARSALINI (2012,), “a advocacia não se limita somente a defesa de um interesse privado. Trata-se de função que compõe a própria justiça, necessária ao equilíbrio de forças internas do Poder Judiciário.” - A CF assevera em seu art. 133: Profª. Emanuelle Moreira FUNDAMENTOS DA ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 36 Art. 133. O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei. - Assim, podemos dizer que, no exercício de suas funções, o advogado não somente contribui na postulação da decisão final, buscando convencer o julgador de seus argumentos, - O exercício da advocacia é carregado de um forte valor social. - Por intermédio de suas práticas, o advogado é capaz de movimentar a máquina estatal e, prioritariamente, as instituições que compõem o sistema de justiça, a fim de equacionar os conflitos e satisfazer direitos e garantias fundamentais, possibilitando a distribuição da justiça e a busca por uma cidadania plena. - Para inscrever-se como advogado, algumas condições são necessárias. Elas estão expostas no artigo 8º DO ESTATUTO DA ADVOCACIA E DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL, vejamos: Art. 8º Para inscrição como advogado é necessário: I - capacidade civil; II - diploma ou certidão de graduação em direito, obtido em instituição de ensino oficialmente autorizada e credenciada; III - título de eleitor e quitação do serviço militar, se brasileiro; IV - aprovação em Exame de Ordem; V - não exercer atividade incompatível com a advocacia; VI - idoneidade moral; VII - prestar compromisso perante o conselho. - Nem todo bacharel em direito é advogado. É a inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) o ato constitutivo da condição de advogado. - Nos últimos anos, o Brasil vem experimentando um aumento significativo de faculdades de direito e, via de consequência, na quantidade de advogados/as lançados ao mercado. - Muitas são as dificuldades enfrentadas ao exercício da profissão, sobretudo, as mazelas do sistema de justiça, da qual a morosidade parece ser a mais evidente, além do avanço tecnológico, que exige cada vez mais um profissional flexível, com visão interdisciplinar, capaz de se adaptar a diferentes contextos de trabalho e culturas. Profª. Emanuelle Moreira FUNDAMENTOS DA ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 37 POLÍCIA: embora a formação em direito não seja uma exigência a todos os cargos das Polícias, SABADELL apresenta os policiais das várias corporações como um grupo numeroso de operadores do direito. - Segundo SABADELL, “a polícia participa de forma decisiva na aplicação do direito, enquanto corpo organizado que se encarrega do controle social nos seus aspectos mais “fortes” (repressivos).” - Para SABADELL é a polícia a responsável por realizar a primeira seleção dos casos que devem ingressar no sistema de justiça, fazendo com que o modo e a direção da aplicação do direito, bem como, o seu grau de eficácia, principalmente na área penal, dependa de sua atuação. - Conforme o artigo 144 da Constituição Federal Brasileira de 1988, segurança pública é dever do Estado e direito e responsabilidade de todos, vejamos: Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercidapara a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: I - polícia federal; II - polícia rodoviária federal; III - polícia ferroviária federal; IV - polícias civis; V - polícias militares e corpos de bombeiros militares. (..) § 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares. § 5º Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública; aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil. - SABADELL (2010) chama atenção, ainda, para as condições de trabalho das corporações policiais, marcadas por grandes perigos, vulnerabilidades e, muitas vezes, por conflitos éticos que podem desencadear casos de corrupção e violência ilegal. INDICAÇÃO DE FILME: Assista ao filme “Justiça”, um documentário de Maria Augusta Ramos, disponível no YouTube. Enquanto assiste, busque observar como se comportam Profª. Emanuelle Moreira FUNDAMENTOS DA ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 38 os operadores do direito e refletir sobre as dificuldades encontradas pelos cidadãos para acessar as instituições que compõem o sistema de justiça. Anote suas percepções em seu caderno e discuta com seus colegas em sala de aula. Link para acesso: <https://youtu.be/qUWZHNWcj7U>. 9.2 ACESSO À JUSTIÇA. - O acesso à justiça é considerado por muitos estudiosos como um pressuposto fundamental para a concretização dos direitos e garantias fundamentais. - Neste sentido, CAPPELLETTI E GARTH (2002) sustentam que “sem dúvida, uma premissa básica será a de que a justiça social, tal como desejada por nossas sociedades modernas, pressupõe o acesso efetivo.” - Definir o direito de acesso à justiça não é algo fácil. - Embora seja bastante útil para se pensar em 02 (duas) finalidades básicas do sistema jurídico, quais sejam: (1) Ser o sistema por meio do qual as pessoas podem reivindicar seus direitos; (2) Equacionar os litígios sob a “proteção” do Estado. (CAPPELLETTI; GARTH). - É comum perceber a DISTINÇÃO ENTRE 02 (DOIS) CONCEITOS: A) ACESSO FORMAL À JUSTIÇA, B) ACESSO EFETIVO À JUSTIÇA. A) ACESSO FORMAL À JUSTIÇA: pressupõe o reconhecimento dos direitos pelo Estado (e, no caso especifico, do direito de acesso à justiça) através da sua formalização em leis. É a possibilidade legal de acionar o Poder Judiciário. B) ACESSO EFETIVO À JUSTIÇA: diz respeito a existência de mecanismos e estratégias para transformar o acesso formal em acesso real a justiça. Possibilidade real de pedir proteção judiciária. - No ordenamento jurídico brasileiro, o direito formal de acesso à justiça aparece consignado na própria Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º, vejamos alguns incisos constitucionais neste sentido: (...) XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito; Profª. Emanuelle Moreira FUNDAMENTOS DA ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 39 LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal; LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; - Buscando facilitar o seu entendimento acerca desses dois conceitos, atente-se para o EXEMPLO seguinte: A legislação brasileira garante a todas as mulheres o direito humano a uma vida sem violência, possibilitando o acesso formal a justiça em casos de violação. Contudo, ainda que tenha passado por vários episódios de violência, muitas mulheres não acionam o sistema de justiça por diversos motivos, que vão desde a descrença nas instituições até o medo de sofrer novas represálias. Ou seja, mesmo garantido em lei (acesso formal), nem sempre há a possibilidade real de se pedir a proteção judiciária (acesso efetivo). Por tal razão, a Lei 11.340/2006 – Lei Maria da Penha criou uma série de medidas e estratégias no intuito de reforçar o direito de acesso à justiça para as mulheres em situação de violência doméstica e familiar. - É de se destacar também que nem todos os cidadãos gozam de igualdade de oportunidades no que diz respeito ao acesso às instituições que compõem o sistema de justiça. - SABADELL (2010) divide em 04 (quatro) CATEGORIAS as BARREIRAS DE ACESSO EFETIVO à justiça. São elas: econômicas, sociais, pessoais e jurídicas. A) BARREIRAS ECONÔMICAS: dentre as quais se destacam os altos custos do processo. B) BARREIRAS SOCIAIS: desconfiança no sistema de justiça; medo de ruptura de relações sociais e de sofrer represálias. C) BARREIRAS PESSOAIS: ligadas a falta de informações sobre direitos de proteção judiciária e sobre as possibilidades de assistência judicial gratuita; inferioridade cultural, que pode dificultar a comunicação com juízes e advogados. D) BARREIRAS JURÍDICAS: duração excessiva do processo; incerteza em relação ao resultado; distância geográfica do tribunal; numero limitado de juízes e promotores; incompetência profissional e psicológica de advogados. - Diante dessas barreiras, uma série de medidas vem sendo adotadas pelos Estados, a fim de resolver o problema de acesso desigual às instituições judiciais. Profª. Emanuelle Moreira FUNDAMENTOS DA ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 40 - Dentre as tentativas de reforma, as principais são a criação de procedimentos alternativos para a solução de conflitos; o aumento do número de juízes e de tribunais; e planos de convênio de proteção jurídica: [...] oferecidos por seguradoras particulares, sindicatos, grandes empresas e associações de consumidores. Os interessados pagam um determinado prêmio e a seguradora lhes proporciona serviços jurídicos, por meio de advogados conveniados ou de sistemas de “livre escolha”. (SABADELL, 2010). - NA PRÁTICA, COMO O PROFISSIONAL DO DIREITO PODE CONTRIBUIR EFETIVAMENTE PARA A MINIMIZAÇÃO DAS DESIGUALDADES SOCIAIS E AMPLIAÇÃO DO ACESSO À JUSTIÇA NO BRASIL? 10. ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL E DIREITO. - Vamos tratar agora da relação entre o Direito e uma das mais significativas categorias analíticas das Ciências Sociais – a CLASSE SOCIAL. - Isto porque, a classe social nos possibilita refletir acerca da desigualdade, produtora de profundas transformações no que diz respeito não apenas à distribuição de bens materiais, como também de bens culturais, oportunidade de acesso a serviços e recursos tecnológicos, etc. - SABADELL (2010) refere-se a uma ABORDAGEM OBJETIVA e uma ABORDAGEM SUBJETIVA da classe social: 1) ABORDAGEM OBJETIVA: aquela que adota um critério objetivo para a sua definição, materializado na posição do indivíduo na estrutura de produção, sem importar o modo como ele pensa e age em relação a isso. 2) ABORDAGEM SUBJETIVA: leva em consideração um critério subjetivo, consubstanciado na ideia de “consciência de classe”. - No entanto, a própria SABADELL, destaca que, no campo da Sociologia, os pesquisadores tendem a adotar com maior frequência a perspectiva objetiva. 11. DESIGUALDADE, MOBILIDADE E A PERSPECTIVA DA SOCIOLOGIA JURÍDICA. - Todas as sociedades se encontram socialmente divididas em grupos superpostos ou hierarquizados, deixando evidente uma desigualdade social. Profª. Emanuelle Moreira FUNDAMENTOS DA ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA JURÍDICA 41 “Os indivíduos são distribuídos em diferentes grupos (camadas ou estratos sociais), que apresentam uma relativa estabilidade e ocupam uma posição
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