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Aula 12 Vigas-Parede e Consolos Prof. Vinicius Borges de Moura Aquino Introdução Vigas-Parede são encontradas nos reservatórios superiores e inferiores dos edifícios; As paredes laterais funcionam como vigas-paredes; Também são encontradas em fachadas de edifícios, por isso são chamas de vigas-parede. Os limites de esbeltez são: Vigas biapoiadas: l/h < 2,0 Vigas de dois vão: l/h < 2,5; Vigas contínuas com mais de dois vãos: l/h < 3,0. Os consolos são vigas curtas em balanço com l/h <= 1 No caso de vigas-parede, não se aplica a hipótese das seções planas de Navier-Bernoulli, devido às grandes distorções sofridas pela estruturas; Devido a isso, as deformações normais εx não apresentam uma variação linear ao longo da altura da viga; Com isso, mesmo para um material elástico, as tensões não variam linearmente ao longo da peça; Desta forma, as vigas-parede devem ser analisadas como um problema bidimensional de tensões; Soluções analíticas são encontradas utilizando a função de tensões de Airy; Soluções numéricas são encontradas com o auxílio do Método dos Elementos Finitos, considerando a natureza não linear do material e a fissuração; Tensões em vigas-parede Os esforços solicitantes são calculados da mesma maneira como é feito para vigas esbeltas; O ponto de aplicação do carregamento e o tipo de apoio tem grande influência sobre as tensões Na figura abaixo indica-se a distribuição de tensões normais σx no meio do vão de uma viga-parede com relação l/h = 1 Como se observa, não há variação linear das tensões; Quando a relação l/h < 1, o braço de alavanca permanece menor do que o indicado na figura, mas momento resistente continua constante; Portanto, somente a parte inferior da parede, com altura l colabora na resistência; Assim, é usual definir uma altura efetiva he para viga parede: he <= l ou h Na próxima figura, apresenta-se as variações das tensões para diferentes relações l/h Para relações acima de 2, o comportamento se aproxima do comportamento de vigas esbeltas (Tensão linear ao longo da altura da viga); Observa-se que a tensão máxima de tração é maior que a tensão máxima em vigas (σ0 = 6M/bh²) com a relação l/h < 2; Isso influenciará na armadura mínima. Critério de Dimensionamento das Vigas- Parede de Concreto Armado Os ensaios realizados em vigas-parede indicam os seguintes modos de ruptura: Escoamento da armadura longitudinal do banzo tracionado; Esmagamento do concreto nas diagonais comprimidas próximas aos apoios; Ruptura da armadura de suspensão para cargas penduradas O dimensionamento deve observar esses possíveis tipos de ruína, podendo utilizar métodos elásticos, não lineares ou modelos biela-tirante; Cálculo da armadura do banzo tracionado A área da armadura longitudinal de tração, As, é obtida com o emprego da expressão: As = Md/(Z*fyd) Onde Md é o valor de cálculo do momento fletor, determinado como vigas esbeltas, Z o braço de alavanca e fyd a tensão de escoamento de projeto do aço; Para o braço de alavanca, tem-se os seguintes valores: Viga-Parede biapoiada Z = 0,15h(3+l/h), se 1 < l/h <2; Z = 0,6l, se l/h <= 1 Viga-Parede de dois vãos Z = 0,10h(2,5+2l/h), se 1 < l/h <2,5; Z = 0,45l, se l/h <= 1 Viga-parede contínua com mais de dois vãos Para os vãos extremos e para os primeiros apoios intermediários, adotam-se os valores dados para vigas-parede de dois vãos. Para demais vãos e apoios, tem-se: Z = 0,15h(2+l/h), se 1 < l/h <3; Z = 0,45l, se l/h <= 1 Em vigas de um só vão, a armadura do banzo deve ser distribuída em uma altura de o,15*he a 0,20*he, conforme indicado na figura Esta armadura deve ser levada ao apoio sem escalonamento e deve ser ancorada na zona do apoio para uma força Rsd >= 0,8*As*fyd. No caso de apoios curtos, a ancoragem é feita por ganchos fechados deitados ou por placas de ancoragem. Não devem ser usados ganchos no plano vertical para reduzir o risco de fissuração Para vigas-parede contínuas, deve-se dispor a armadura do banzo inferior corrida ao longo de todo o comprimento da parede; Se houver necessidade, essa armadura pode ser emendada por traspasse em cima dos apoios intermediários; A ancoragem de extremidade e a distribuição da armadura na zona tracionada são feitas como para vigas-parede de um só vão; A armadura sobre os apoios intermediários deve ser distribuída nas faixas indicadas abaixo: Pelo menos metade dessa armadura deve ser prolongada por todo o comprimento da parede; A outra metade pode ser interrompida a uma distância de 0,4he das faces dos apoios intermediários A armadura negativa é distribuída apenas em uma faixa de altura 0,8he. Na faixa superior com 0,2he, coloca-se a fração 0,5(l/he – 1) >= 0,25 da armadura calculada e o restante é distribuído na faixa de 0,6*he; Na faixa superior restante, quando h > l, coloca-se uma malha com barra horizontais Como a distribuição de tensão não é linear ao longo da seção, não podemos utilizar a equação do momento de fissuração (Mr = bh²*fct/6), pois o momento de fissuração será menor que Mr Para vigas-parede, pode-se escreve-se: Mr = k1*bh²*fct/6 Com k1 determinado numericamente por Método dos Elementos Finitos (MEF); Adotando a expressão do braço de alavanca para viga- parede biapoiada, pode-se reescrever a equação para As,min: As,min = (β*(fct/fyd)*bh β = k1/(0,9*(3 + k2) sendo 1 < k2 = l/h < 2 Na tabela abaixo apresenta-se os resultados obtidos com MEF para vigas-parede biapoiadas com carga uniformemente distribuídas na face inferior: Armadura Mínima para Vigas-Parede k2 = l/h k1 β λ = β/0,20 2,0 0,91 0,20 1,00 1,5 0,73 0,18 0,90 1,25 0,57 0,15 0,75 1,0 0,38 0,11 0,55 As,minVP = λ As,min,VE As,minVP = armadura mínima das vigas-parede As,min,VE = armadura mínima das vigas esbeltas Armadura de suspensão Se a viga-parede for solicitada por uma carga de cálculo pd distribuída uniformemente ao longo do vão l e aplicada na face inferior, deve-se empregar uma armadura de suspensão formada por estribos verticais; A área de aço de suspensão é As = pd/fyd No caso de cargas concentradas elevadas, como ocorre em uma parede apoiada indiretamente, podem-se empregar estribos verticais ou uma combinação de estribos com barras dobradas. Neste caso, as barras devem ter uma inclinação entre 50° e 60° em relação à horizontal; A área das barras dobradas é calculada com a expressão: As = Fd/(2*sen α*fyd) onde Fd <= 0,6*Fd é a parcela da força a ser levantada pelas barras dobradas e α é o ângulo de inclinação dessas barras O restante da parede deve ter uma armadura de pele em malha, em ambas as faces, com espaçamentos não maiores que duas vezes a espessura da parede nem que 30 cm; A taxa geométrica deve ser no mínimo igual a 0,10% em cada face. Verificação das tensões de compressão nos apoios Como já foi salientado, o cálculo das vigas-parede de concreto também pode ser feito usando a analogia biela-tirante; A reação de apoio de cálculo é Rd = pd*l/2, onde pd é carga de projeto distribuída; Da imagem abaixo pode-se escrever a equação de equilíbrio: Rsd*Z = Rd*l/4 Do modelo da figura anterior, deve-se verificar o esmagamento do concreto: Na fig. anterior, c representa a largura do apoio e d’ é a distância do centroidedas armadura do banzo tracionado até a face inferior da viga- parede. A altura do nó do apoio é u = 2d’; As dimensões c1 e c2 são dadas por: c1 = c + u*cotg θ c2 = (c + u*cotg θ) sen θ A tensão σd no apoio é: σd = Rd/bc com Rd o valor de cálculo para a reação e b a largura da viga-parede; A tensão σ2d na biela inclinada: σd = Fc/(b*c2) Pode-se reescrever σ2d como: σ2d = Rd/(b*c2*senθ) As tensões σd e σ2d devem ser limitadas para evitar esmagamento do concreto. Para levar em conta a redução de resistência do concreto em função das tensões de tração transversais, com possibilidade de fissuração do concreto, deve-se considerar um valor reduzido para a resistência do concreto. Deve-se garantir que: σd <= fcdr e σ2d <= fcdr com fcdr igual a: fcdr = 0,60*(1-fck/250)*fcd = 0,60*αv*fcd Nos apoios internos das vigas-parede contínuas, as bielas de compressão produzem um estado de compressão biaxial; Neste caso, basta garantir que: σd <= 0,85*fcd Exemplo Pg. 125 – Araújo – v.4 Consolo Curtos São vigas curtas em balanço, com o,5*d <= a <= d, sendo dimensionados através do método de treliça; As cargas de cálculo Pd e Hd são transmitidas ao pilar através de uma biela comprimida, com a força Fc e de um tirante, com a força Rsd; Os resultados teóricos e experimentais indicam que a região à direita da biela de compressão fica isenta de tensões, não contribuindo para a resistência do consolo; Assim, a forma mais econômica de um consolo submetido a uma carga concentrada é a da forma indicada na figura abaixo, tendo altura útil sob o ponto de aplicação da carga de no mínimo d/2; Por razões de facilidade executiva, é usual adotar consolo retangular com altura útil d constante Em todo o comprimento a, as tensões de tração são praticamente constantes, indicando que o esforço Rsd permanece com o mesmo valor, desde o ponto de aplicação até a seção de engastamento; As forças no tirante, Rsd, e na biela comprimida, Fc, são obtidas fazendo o equilíbrio de momentos em relação aos pontos A e B da fig. anterior; Equilíbrio de momentos em relação a B: Rsd*Z = Pd*a = Hd*(Z + e) Resultado a força no tirante: Rsd = Pd*a/Z + Hd*(1 + e/Z) A área de aço necessário no tirante: As = Rsd/fyd , cm² Equilíbrio de momento em A: Fc*senθ *a = Pd*a + Hd*e De onde resulta a força de compressão na biela: Fc = (1/senθ)*(Pd + Hd*e/a) De acordo com a figura anterior, a inclinação da biela é dada por: tgθ = (d-d’)/(a+c/2) com c é a largura do aparelho de apoio. As dimensões c1 e c2 indicadas são: c1 = c + u*cotg θ c2 = (c + u*cotg θ) sen θ com u = 2d’ A dimensão Z para uso na equação do tirante é: Z = d – c2/(2*cosθ) = a*tgθ A tensão σd no apoio é: σd = Pd/(b*c) onde b é a largura do consolo A tensão σ2d no na biela inclinada é: σd = Fc/(b*c2) = Pd,ef/(b*c2*senθ) Pd,ef = Pd + Hd*e/a Deve-se garantir que: σd <= fcdr e σ2d <= fcdr com fcdr igual a: fcdr = 0,60*(1-fck/250)*fcd = 0,60*αv*fcd A armadura do tirante pode ser distribuída em várias camadas a partir do bordo inferior. Essa armadura indicada como N1; Essa armadura deve ser ancorada em laço no lado da carga. De maneira alternativa, pode-se soldar uma barra transversal de igual diâmetro à armadura do tirante, após a região da carga; A ancoragem da armadura do tirante é garantida pelo comprimento de ancoragem lb; A posição e as dimensões do aparelho de apoio devem ser adotadas de forma a permitir que o tirante abrace a biela; Os estribos verticais N3 servem para enrijecer a estrutura; Os estribos horizontais N2 aumentam a capacidade resistente das bielas de compressão, quando dispostos com pequeno espaçamento e servem para garantir uma ruína mais dúctil. Este estribos devem ter área maior ou igual à metade da área da armadura do tirante; Quando o consolo é carregado indiretamente, a carga deve ser levantada através da armadura de suspensão, formada por estribos verticais; Esse estribos devem ser distribuídos apenas na zona de cruzamento do consolo com a viga que transmite a carga; Se a carga for grande, convém o emprego de barras inclinadas; Na figura a seguir, indica-se um consolo servindo de apoio para uma viga e o modelo de cálculo: Conforme observa-se na figura, até 60% da reação da viga sejam levantados para a parte superior do consolo por meio da armadura de suspensão; Assim, a armadura de suspensão pode ser dimensionada para uma força igual a 0,6*Pd; A armadura do tirante do consolo deve ser dimensionada para uma carga vertical de 0,6*Pd, com o emprego das equações para consolos curtos; Além disso, considera-se ainda que 60% da reação de apoio sejam aplicados na parte inferior, sendo absorvido por uma armadura inclinada; A área da armadura inclinada será: As,i = Rsd2/fyd Segue abaixo o detalhamento da armadura: Dentes Gerber São prolongamentos que se projetam nas extremidades de vigas, com o objetivo de apoiá-las em consolos criados nas faces do pilar ou em outros apoios; Usualmente, o console e o dente Gerber têm altura um pouco menor que a metade da altura da viga; As mesmas limitações para consolos são válidas para os dentes Gerber; Possuem comportamento estrutural semelhante ao consolo, podendo ser empregado o modelo de cálculo apresentado anteriormente; Principais diferenças: Geralmente, a biela do dente Gerber é mais inclinada, pois ela deve se apoiar na armadura de suspensão dentro da viga; A armadura principal do dente Gerber deve penetrar na viga, procurando ancoragem nas bielas de cisalhamento na viga; A armadura de suspensão deve ser calculada para a força total Pd Para cálculo da armadura principal do tirante e para a verificação da compressão na biela, empregam-se as mesmas expressões deduzidas para os consolos; O ângulo de inclinação θ da biela deve ser obtido conformidade com a fig. anterior; A armadura de suspensão deve ser, preferencialmente, constituída por estribos colocados na altura completa da viga e concentrados na sua extremidade; A armadura principal do tirante deve ser ancorada a partir do seu cruzamento com a primeira biela de cisalhamento da viga, na sua altura completa; A armadura de flexão inferior da viga deve ser bem ancorada no trecho em que se coloca a armadura de suspensão; Se esse trecho não for suficientemente grande, a ancoragem pode ser feita por meio de barras transversais soldadas. Exemplo – Pg. 137- Araújo. Bibliografia ARAÚJO, J.M. Curso de Concreto Armado. v. 4. Rio Grande: Dunas, 2014.
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