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Direito trabalhista (pós-reforma) EXTINÇÃO 1 Sumário Introdução ............................................................................................................................. 2 Objetivo ................................................................................................................................. 2 1. Extinção do contrato de trabalho ............................................................................... 2 1.1. Dispensa sem justa causa..................................................................................... 3 1.2. Dispensa por justa causa ...................................................................................... 3 1.3. Pedido de Desligamento ...................................................................................... 6 1.4. Rescisão indireta ................................................................................................... 6 1.5. Culpa Recíproca .................................................................................................... 7 1.6. Demissão por Acordo ............................................................................................ 7 Exercícios ............................................................................................................................... 7 Gabarito ................................................................................................................................. 8 Resumo .................................................................................................................................. 9 2 Introdução Agora que você já conhece os casos de suspensão e interrupção do contrato de trabalho (se ainda não viu, as apostilas já estão disponíveis), vamos acompanhar agora o assunto da extinção do contrato de trabalho e verificar quando poderá ocorrer e suas consequências. A partir de agora você acompanhará as possibilidades e algumas consequências da extinção do contrato de trabalho. O dia a dia nos faz utilizar expressões e termos muitas vezes incorretos. Então, com a finalidade de passar a forma técnica, vamos convencionar a usar a forma correta? Pois bem, demissão é punição. Dessa forma, quando a extinção se der sem justa causa (você verá as modalidades a seguir) estamos falando de demissão. Qualquer outra forma será a rescisão ou o desligamento. Diante disso, ”não existe” pedido de demissão. Afinal, quem vai solicitar ao outro uma punição? Objetivo • Entender quando ocorrerá a extinção do contrato de trabalho e suas consequências. 1. Extinção do contrato de trabalho Com o conhecimento acumulado dos dois temas próximos a esse, a interrupção e suspensão (não deixe de ver as apostilas), chegamos ao fim. Não ao fim do curso, tampouco da matéria, mas ao fim do contrato de trabalho. A partir desse momento, vamos entender a extinção do contrato de trabalho. Para melhorar o entendimento sobre a extinção, leia os artigos: 479, 480 e 481 da CLT • que trata da extinção do contrato de trabalho por prazo determinado 482 da CLT • que trata das possibilidades de justa causa 483 da CLT • que trata da rescisão indireta 484 da CLT • que trata da culpa recíproca 3 1.1. Dispensa sem justa causa O empregador tem o que chamamos de “direito potestativo”, que se trata de um direito que uma pessoa tem de poder impor a outra, sem que a segunda, necessariamente queira. Um exemplo, seria o direito de se divorciar, um cônjuge pode se divorciar, independente da vontade do outro. Outro exemplo é o direito de demitir, o empregador tem o direito potestativo de demitir o empregado. “Ah, mas fui demitido por quê? Porque eu quis.” Nesses casos, a demissão se dá por vontade do empregador e terá o empregado todas as verbas devidas como direito de haver, lembrando que isso inclui o aviso prévio proporcional ao tempo de serviço. 1.2. Dispensa por justa causa Nos casos elencados no artigo 482 da CLT, que veremos logo adiante, a demissão se dará em razão de fato gerado pelo empregado, ou seja, uma atitude do empregado (ou uma repetição delas), gera o direito ao empregador de que esse seja dispensado, desobrigando o empregador do pagamento das verbas a qual o trabalhador teria direito na dispensa sem justa causa. Para a justa causa, o empregador deverá desligar o empregado imediatamente após tomar conhecimento do fato gerador. São causas de demissão por justa causa: a) Ato de improbidade – Improbidade é um termo que está em voga. Ao ligar a TV em qualquer telejornal, você ouvirá esse termo, que nada mais é que desonestidade. b) Incontinência de conduta ou mau procedimento – A incontinência é definida como um desvio comportamental do empregado, mas que possui como pano de fundo, a sexualidade. Entram nessa definição os atos obscenos, condutas libertinas e a pornografia (uso ou distribuição). O mau procedimento, por sua vez, se caracteriza pela tradução mesmo do termo, ou seja, o contrário do bom procedimento. Dessa forma, mau procedimento é aquela atitude desrespeitosa, incorreta, do trabalhador com as regras, sejam do contrato de trabalho, sejam do ambiente interno. O mau procedimento nada guarda de relação com questões de sexualidade. A confusão entre os termos se dá pelo fato de dividirem a mesma alínea do artigo, mas não confunda. Há sexualidade envolvida? Incontinência de conduta. Há desrespeito às normas sem sexualidade envolvida? Mau procedimento. 4 c) Negociação habitual – A negociação habitual guarda relação direta com a concorrência e pode ensejar “justa causa”. Quando o trabalhador, sem autorização expressa ou verbal do empregador, exerce atividade concorrente, explorando mesma área de atuação do patrão, ou ainda, exerça atividade que não seja concorrente, mas prejudique suas funções na empresa, estará configurada a negociação habitual. d) Condenação criminal – Nos casos de condenação criminal, transitada em julgado, que é aquela onde não mais cabe recurso, em que a execução da pena não estiver suspensa, caberá a demissão por justa causa. e) Desídia – Normalmente a desídia única nada acarreta. Para que tenha um impacto, necessita de uma sucessão de comportamentos desidiosos que gerará a justa causa. Mas nada impede que apenas um ato de desídia não possa caracterizar uma justa causa. Tudo dependerá do impacto na empresa. Então, o que é desídia? Desídia é o desleixo, falta de atenção, negligência. Vejamos um exemplo: Cleomir, sempre cumpridor de suas obrigações na empresa PSSD Ltda, no dia de ontem, chegou atrasado 20 minutos, não gerando prejuízos ao empregador. É o primeiro atraso de Cleomir, ao longo dos mais de 7 anos na empresa. Configura-se a desídia? Não. Um fato isolado que nada alterou para empresa, não houve danos. Agora, Cleomir, diretor de negócios da empresa PSSD Ltda, no dia de ontem, data da reunião para fechamento de um negócio de 6 bilhões, o maior da empresa e fundamental para permanência da firma no mercado mundial, não ouviu seu despertador tocar, se atrasou por 20 minutos, perdendo a reunião. Cleomir era o responsável direto pela reunião e negociação, considerando ser o único que domina o idioma bengali. A reunião foi cancelada, da mesma forma o negócio. Bom, nesse caso a desídia de Cleomir foi impactante, ou seja, está configurada a desídia. Mais uma vez. Cleomir, assistente administrativo da PSSD Ltda faltou pela 5 vezes mês retrasado.O dono da empresa, mês passado, tomou conhecimento e nada fez. Ontem, chamou Cleomir e disse que, por desídia, ele estaria sendo demitido por justa causa. Está correto? Não. Como já dito, todas as justas causas deverão ser apresentadas imediatamente para serem consideradas como causa de demissão. f) Embriaguez habitual ou em serviço – Quando não estou em serviço, faço o que quiser. Bem, já percebemos que não é bem isso. Com o advento das redes sociais, as pessoas, cada vez mais, expõem suas vidas. Pois bem, caso a embriaguez habitual seja um fator que prejudique a empresa, poderá configurar justa causa, ainda que não esteja em horário de trabalho. Já em serviço não há dúvidas, uma vez identificada, é fato ensejador de justa causa. 5 g) Violação de segredo – Muitas vezes a questão de segredos empresariais já constam em contrato, mas ainda que não, a revelação de segredo empresarial, ainda que a amigos, sem impacto direto (ao sentir do empregado) poderá ser causador de justa causa. h) Ato de indisciplina ou insubordinação – Todo empregado é subordinado quando está em uma relação de emprego. Tantos atos de insubordinação como de indisciplina poderão causar justa causa. Assim como na desídia, o caso concreto será capaz de dizer se a justa causa se configura ou não. Vamos ver um exemplo? Bira percebeu que todos na empresa usam boné branco. Bira sempre muito supersticioso, não gosta da cor, prefere boné preto. Bira nunca foi informado da necessidade do uso do boné branco e aparece com o boné preto. Não temos insubordinação aqui. No entanto, no mês seguinte, o patrão de Bira informa a todas que a partir do mês seguinte, todos aqueles que forem trabalhar na câmara fria da empresa (uma empresa frigorífica) deverão estar fazendo uso de botas plásticas as quais a empresa fornecerá. No primeiro dia em que a determinação valerá, Bira, primeiro a entrar na câmara fria, está de sapato social. Nesse caso, a insubordinação poderá levar à punição do empregador por falta de EPI (equipamento de proteção individual) e a insubordinação restou configurada. i) Abandono do emprego – Faltas sequenciais, injustificadas, por mais de 30 dias, faz-se presumir abandono de emprego. Mas, caso o trabalhador antes desse prazo, demonstre que não mais retornará ao trabalho, poderá se configurar o abandono antes do período definido. EXEMPLO Bosco trabalha em Tupaciguara/MG, para uma empresa de grãos, todos acompanham seu cotidiano pelas redes sociais. Acontece que Bosco faltou pelo 4º dia seguido essa semana. Preocupado com seu funcionário, Batista busca informações e chega ao perfil de Bosco em uma rede social. Ao acessar, percebe que Bosco já compartilhou fotos trabalhando em uma empresa de grãos, mas em Campo Novo do Parecis/MT. Neste caso, está clara a não intenção de retorno à empresa de Batista, configurando-se então, antes do prazo de 30 dias, o abandono do emprego. 6 j) Ato lesivo – Gestos ou palavras que atentem à moral, boa fama, ensejarão a justa causa. Na mesma ordem, agressões físicas no ambiente de trabalho. k) jogos de azar – a prática identificada de jogos de azar poderá causar justa causa. Lembrando que esse tipo de jogo é aquele que o êxito ou fracasso, dependerá exclusivamente da sorte ou falta dela. l) Atos contra a segurança nacional – Qualquer ato identificado como possível lesão à segurança nacional, está aqui enquadrado. Esse ponto é amplo, o que deixam as possibilidades inúmeras. m) Falta de habilitação – Se, por conduta dolosa, o empregado perder a habilitação para executar seu trabalho, estará configurada a demissão por justa causa. Um motorista de máquinas pesadas perde a CNH por excesso de pontos, por exemplo. 1.3. Pedido de Desligamento Aqui o empregado não quer mais trabalhar e decide, por si só, sair da empresa. Nesse caso, é importante perceber que o empregado, obrigatoriamente, deverá “pagar” ao empregador, aviso prévio. Seja trabalhando, seja tendo descontado de seus direitos a receber. 1.4. Rescisão indireta Aqui, para entendimento rápido e claro, pensemos em justa causa para o empregador. Ou seja, na rescisão indireta, alguma atitude elencada na legislação, foi promovida pelo empregador, fazendo com que ao empregado recaia o direito de “demiti-lo”, recebendo ainda todas as verbas inerentes à cessação do contrato de trabalho. A ver as condições para essa situação, segundo o art. 483 da CLT: O empregado poderá considerar rescindido o contrato e pleitear a devida indenização quando: a) forem exigidos serviços superiores às suas forças, defesos por lei, contrários aos bons costumes, ou alheios ao contrato; b) for tratado pelo empregador ou por seus superiores hierárquicos com rigor excessivo; c) correr perigo manifesto de mal considerável; d) não cumprir o empregador as obrigações do contrato; 7 e) praticar o empregador ou seus prepostos, contra ele ou pessoas de sua família, ato lesivo da honra e boa fama; f) o empregador ou seus prepostos ofenderem-no fisicamente, salvo em caso de legítima defesa, própria ou de outrem; g) o empregador reduzir o seu trabalho, sendo este por peça ou tarefa, de forma a afetar sensivelmente a importância dos salários Sendo pelo trabalhador, identificado qualquer caso dos referidos acima, estaremos diante da possibilidade de rescisão indireta. Lembrando sempre que nesse caso de rescisão, caberá ao trabalhador provar sua alegação. 1.5. Culpa Recíproca Contemplada no art. 484 da CLT a culpa recíproca. Identificando-se que ambos, empregado e empregador, tem responsabilidades na rescisão de contrato, com atitude grave a tal ponto de ser necessária a ruptura da relação, ao trabalhador recairá o direito às verbas, no entanto, com relação à multa, essa será reduzida à 50%. 1.6. Demissão por Acordo Inovação da reforma trabalhista, a demissão por acordo é aquela em que as partes definem que é melhor o desligamento e ao trabalhador recairá o direito às verbas trabalhistas com alguma redução, afinal, estamos tratando de um acordo e isso pressupõe que haverá cessão de ambos os lados. A multa será reduzida pela metade, será percebido também pela metade o aviso prévio e o saldo do FGTS poderá ser retirados em até 80%. Exercícios 1. (CESPE/2010 – MPU) De acordo com o disposto na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), a recusa do trabalhador ao uso do EPI fornecido pela empresa é considerada infração que pode ensejar dispensa por justa causa. ( ) Certo ( ) Errado 8 2. (CESPE/2015 – Telebrás) Um empregado, enquanto cumpria aviso prévio, agrediu fisicamente um colega de trabalho dentro da empresa, durante o expediente, em decorrência de uma discussão a respeito de futebol. Nessa situação, o empregado não terá direito às verbas rescisórias de caráter indenizatório. ( ) Certo ( ) Errado 3. (FCC/2014 – TRT 16ª – Analista) Mário, empregado da empresa “Z” Ltda. completou quarenta anos e resolveu comemorar seu aniversário no refeitório da empresa, durante seu intervalo intrajornada, tendo em vista a autorização expressa de seu empregador. Durante a comemoração, Mario embriagou-se, tendo retornado ao serviço totalmente alcoolizado e ainda consumindo bebida alcoólica, causando diversos problemas dentro do estabelecimento em razão do seu estado de embriaguez. Neste caso, de acordo com a Consolidação das Leis do Trabalho, a empresa “Z” Ltda. a) poderá rescindir o contrato de trabalho de Mário por justa causa pela embriaguez em serviço. b) não poderá rescindir o contratode trabalho de Mário por justa causa, uma vez que o referido diploma legal apenas permite a rescisão quando a embriaguez é habitual. c) somente poderá rescindir o contrato de trabalho de Mário se ele cometer uma das faltas tipificadas no referido diploma legal, uma vez que a embriaguez não é causa autorizadora da rescisão do contrato de trabalho por justa causa. d) somente poderia rescindir o contrato de trabalho de Mário se não houvesse autorizado a comemoração dentro do estabelecimento. e) deverá obrigatoriamente instaurar inquérito para apuração da falta grave, sendo autorizado apenas a suspensão de Mário durante a tramitação do inquérito. Gabarito 1. Assertiva está correta. Como vimos, a recusa na utilização de EPI será sim considerada falta grave, sendo ensejadora de justa causa. 9 2. Assertiva está correta. Ainda que em cumprimento de aviso prévio, há a possibilidade de justa causa, uma vez que neste período o trabalhador ainda está vinculado à empresa. 3. Ainda que a festa de comemoração tenha sido autorizada, portar-se embriagado no trabalho é causa de demissão por justo motivo, em razão disso o empregado poderá assim proceder. Lembrando que a demissão deverá ocorrer imediatamente quando o empregado tome conhecimento do fato. Portanto, resposta correta, alternativa A. Resumo Um assunto extenso e cheio de possibilidades. A extinção do contrato de trabalho é assim. Aqui vimos as principais causas da extinção do trabalho e algumas de suas consequências. Mais uma vez eu venho lembrar que essa apostila será mais aproveitada se acompanhada em conjunto às apostilas de suspensão e de interrupção do contrato de trabalho. A extinção de um contrato de trabalho poderá ocorrer por justa causa, sem justa causa, a pedido do trabalhador, por rescisão indireta, por culpa recíproca e, por fim, por um acordo. Vimos então como ocorre cada uma dessas modalidades e, especialmente, quais direitos acompanharam o trabalhador e cada uma delas. Não seria interessante repetir todas as causas de demissão por justa causa aqui, por exemplo. Portanto, é interessante sempre fazer a leitura da legislação. Usar a CLT enquanto acompanha as apostilas é fundamental. Pensando nas outras modalidades, lembre-se que o empregado ou empregador podem rescindir a qualquer tempo o contrato de trabalho, para tal, deverão arcar com responsabilidades entre eles, especialmente no que se refere ao aviso prévio. Em caso de ambas as partes serem responsáveis pela extinção do contrato de trabalho, por justo motivo, as partes dividirão as responsabilidades. Estamos diante da culpa recíproca. Caso o empregador tenha uma conduta de forma tão grave capaz de ser ensejador de uma rescisão de contrato, o trabalhador poderá pleitear a rescisão de forma indireta. 10 E com a reforma trabalhista, chegamos à possibilidade de extinção do contrato de trabalho por acordo. Nessa modalidade o trabalhador perceberá parcialmente as verbas rescisórias. 11 Referências bibliográficas BRASIL. Decreto-Lei n. 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm>. Acesso em: 20 mar. 2019.
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