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Apostila Completa Tecnologia dos Materiais II

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INSTITUTO FEDERAL DO SUL DE MINAS 
CURSO TÉCNICO MECÂNICO 
 
 
 
 
Tecnologia 
dos 
Materiais II 
 
 
 
 
 
Ano 2018 
 
 
APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA 
 
Prezado estudante, 
 
O curso Técnico em Mecânica não só prepara o técnico para as atividades da área da Mecânica, como 
também permite o desenvolvimento de atividades de consultoria para profissionais autônomos. 
O conteúdo da disciplina de Tecnologia dos Materiais II foi elaborado de forma simples, para facilitar 
seu aprendizado. 
A apostila aborda os mais diversos tipos de materiais, os processos de obtenção, suas propriedades e 
muito mais. O conhecimento sobre materiais é de grande importância, uma vez que utilizamos o 
conhecimento para, fabricação de componentes novos, manutenção de equipamentos etc. 
Os conteúdos serão abordados a partir da apostila apresentada, buscando unir os conceitos e exercícios 
para a aplicação no dia-a-dia, apontando uma linha de bate-papo que possibilite a montagem dos 
conhecimentos. 
Nesse sentido esperamos relacionar o conhecimento obtido nas atividades executadas em cada tópico e 
nas atividades práticas adquiridas ao decorrer do curso. 
Na área de materiais existem inúmeras possibilidades de aplicação no mercado de trabalho, que só serão 
possíveis com a sua dedicação ao aprendizado, acredite em você e em seus sonhos! 
 
Você sabia? 
 
O automóvel Volkswagen Up é o primeiro automóvel feito no Brasil a obter a maior nota de segurança 
em organizações internacionais de segurança veicular (5 estrelas no Latin NCAP). O Vw Up tem 75% de 
seu peso composto por aços especiais, que possuem diferentes graus de resistência, além da resistência 
maior estes aços possibilitaram uma redução de aproximadamente15 quilos no chassi do veiculo, trata-se 
da aplicação do material correto no local certo. Em sua estrutura combinam-se aços de ultra-alta resistência, 
alta resistência, média resistência. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO 1 – Tratamentos Térmicos e Superficiais 
Neste capítulo veremos uma síntese dos principais tratamentos térmicos e tratamentos superficiais 
aplicados em materiais metálicos ferrosos. O procedimento utilizado na execução destes tratamentos pode 
ser relativamente simples, mas o entendimento do que está ocorrendo durante o tratamento é extremamente 
complexo necessitando de uma boa fundamentação teórica em materiais além do uso de algumas 
ferramentas para o sucesso na realização destas tarefas. Até o momento, foram abortados temas isolados 
referente aos materiais metálicos ferrosos, como sua constituição, microestruturas, fases, estruturas 
cristalinas e o modo como ocorre a deformação plástica nos materiais. Além disso, aprendemos a utilizar 
algumas ferramentas básicas como os diagramas de fase e as curvas TTT. Neste momento, será necessário 
que o aluno faça a articulação destes conhecimentos para aplicá-los em algo prático, como os tratamentos 
térmicos (e posteriormente os ensaios mecânicos). 
 
1.1 Considerações iniciais com relação aos tratamentos térmicos 
 
Como primeira consideração, convém ressaltar que existe uma diferença importante entre tratamento 
térmico e processo de fabricação. O processo de fabricação tem como objetivo principal, produzir um objeto 
conferindo-lhe uma forma. O tratamento térmico tem como objetivo principal alterar as propriedades 
mecânicas de uma determinada peça. Assim sendo, os tratamentos térmicos estão relacionados à 
modificação das propriedades mecânicas dos materiais sem alterar (ou sem alterar consideravelmente) sua 
forma e composição química. Esta modificação é obtida, na maior parte das vezes, através da alteração da 
microestrutura dos materiais. Logo, quando se faz um tratamento térmico, tem se em mente alterar 
propriedades mecânicas, sendo que a modificação da microestrutura é somente um meio para se conseguir 
tal objetivo. Muitas vezes, pode-se obter a modificação da propriedade mecânica alterando-se a 
microestrutura com modificação na composição química (da superfície). Obviamente, não se trata de um 
tratamento térmico, pois há alteração da composição química. Estes tratamentos são então chamados de 
tratamentos termoquímicos e são aplicados principalmente para modificar a região superficial de um 
componente metálico. 
Voltando aos tratamentos térmicos, podemos defini-lo da seguinte maneira: 
Tratamento térmico é um ciclo de aquecimento e resfriamento controlado com o objetivo de 
alterar as propriedades mecânicas de um objeto sem mudar sua forma e composição química. 
Em geral, num tratamento térmico, quando se faz a modificação da microestrutura a fim de se melhorar 
uma propriedade mecânica é comum ocorrer perda de outra(s) propriedade(s). Assim sendo, os tratamentos 
térmicos devem ser criteriosamente selecionados a fim de se ponderar as características obtidas numa 
determinada peça. 
 Algumas propriedades comumente modificadas num tratamento térmico são: 
• Redução de tensões internas residuais; 
 • Aumento ou redução de dureza; 
• Aumento da resistência mecânica; 
• Aumento da ductilidade; 
• Aumento da tenacidade; 
Outras propriedades tecnológicas, como usinabilidade, conformabilidade, resistência ao desgaste, entre 
outras, podem ser melhoradas com a modificação destas propriedades. 
Além disso, é interessante mencionar que os tratamentos térmicos podem ocorrer também sem a 
intenção do usuário. Alguns destes tratamentos podem ser consequência de um processo de fabricação, 
como por exemplo, uma soldagem. Querendo ou não, a região em torno do cordão de solda sofrerá um 
tratamento térmico e o conhecimento adequado de como isso pode ocorrer é crucial para a produção de 
componentes isentos de defeitos, ou com relação às medidas a serem adotadas para minimizar os efeitos 
negativos destes. 
 
1.2 Parâmetros de controle de um tratamento térmico 
 
Para se realizar o tratamento térmico devemos considerar que este é obtido através de um aquecimento 
e resfriamento controlado, ou seja, através da realização de um ciclo térmico. O ciclo térmico diz respeito 
às temperaturas em que o componente será submetido durante um determinado tempo (temperatura em 
função do tempo). Logo, um ciclo térmico pode ser montado num gráfico onde no eixo “Y” teremos a 
temperatura (T em ºC), enquanto que no eixo “X” teremos o tempo (t). A Figura 1 mostra um exemplo de 
ciclo térmico bastante simples, onde temos somente um patamar. É possível termos várias rampas e vários 
patamar num único ciclo térmico. 
 
 
Figura 1 – Esquema mostrando um ciclo térmico simples. 
Para se fazer um tratamento térmico é necessário construir um ciclo térmico e para se fazer um ciclo 
térmico como o da Figura 1 temos que “montar”, no mínimo, as três partes que compõem o mesmo: rampa 
de aquecimento, patamar e rampa de resfriamento. 
 Para se obter a rampa de aquecimento deve-se levar em consideração a temperatura inicial (geralmente 
a temperatura ambiente). Deste ponto em diante o objeto a ser tratado irá aquecer até atingir uma 
determinada temperatura (temperatura de patamar). Este aquecimento levará um num determinado tempo 
(t1). A combinação destes corresponde à taxa de aquecimento (dada em ºC/s, por exemplo). Em geral, a 
inclinação desta rampa, está limitada à taxa de aquecimento máxima do forno. Quanto maior a potência do 
forno maior será a taxa de aquecimento possível. 
 Nos tratamentos térmicos, a taxa de aquecimento afetará na taxa de transformação e dissolução dos 
constituintes que compõem os aços (dissolução de carbonetos, da cementita, transformação de ferrita em 
austenita, entre outros). Em geral as taxas de aquecimento não devem ser muito altas, pois alémdos fatores 
de transformação e dissolução de constituintes, o material pode apresentar algum tipo de defeito, como 
empenamentos ou fissuras, em virtude da expansão térmica do componente e da geometria do mesmo. No 
entanto, estes problemas são menos importantes que àqueles observados na rampa de resfriamento. 
No ciclo térmico, a região correspondente ao patamar caracteriza-se pela manutenção da temperatura 
por um determinado tempo. Logo, para se obter o mesmo é necessário escolher uma temperatura (chamada 
de temperatura de patamar) e deixar o componente nesta temperatura por um determinado tempo (chamado 
de tempo de patamar). Em muitos tratamentos térmicos esta pode ser a parte do ciclo térmico mais 
importante. A temperatura de patamar está relacionada principalmente às transformações de fases que se 
deseja. Logo, a escolha da temperatura desejada é comumente obtida com o auxílio de um diagrama de 
fase. A temperatura de patamar está relacionada à termodinâmica (a reação irá ocorrer ou não). Por outro 
lado, o tempo de patamar está relacionado ao tempo em que a transformação irá ocorrer na temperatura 
escolhida (na cinética da reação). Neste caso, o diagrama de fase não nos fornece esta informação. O tempo 
de patamar é geralmente caracterizado pelo tipo de tratamento que se deseja fazer, ou é obtido consultando 
diagramas de transformação isotérmica. 
 Os tratamentos térmicos são comumente classificados em tratamentos subcríticos, intercríticos ou 
realizados acima da zona crítica. Vale lembrar que a zona crítica diz respeito a faixa de temperatura onde, 
dentro desta faixa, teremos o equilíbrio termodiâmico entre ferrita e austenita. Para os aços carbono esta 
zona é determinada, no diagrama de fases Fe-C, entre as linhas A1 e A3 para os aços hipoeutetóides e entre 
as linhas A1 e Acm para os hipereutetóites. Por exemplo, num tratamento térmico subcrítico de um aço 
carbono não há transformação de ferrita em austenita e vice-versa. 
A rampa de resfriamento, assim como a de aquecimento é caracterizada pela forma como a temperatura 
evolui no tempo, ou seja, o tempo que a temperatura leva para cair até a temperatura desejada. No entanto, 
neste caso, é considerada a taxa de resfriamento (em ºC/s) a partir da temperatura de patamar. Nos 
tratamentos térmicos dos aços, esta etapa é considerada a mais importante, pois produz o maior tipo de 
modificação das propriedades mecânicas. Como vimos no capítulo anterior, diferentes velocidades de 
resfriamento a partir do material austenitizado produz microestruturas diferentes. Estas microestruturas 
modificam drasticamente a facilidade da movimentação das discordâncias, resultando numa considerável 
modificação do comportamento mecânico dos materiais. 
A taxa de resfriamento é normalmente escolhida com base em curvas de resfriamento. Nesta apostila, 
por simplicidade, foram mostradas somente curvas TTT, mas existem outras, até mais adequadas que estas. 
As curvas TTT são na verdade curvas de transformação isotérmicas e a princípio não deveriam ser aplicadas 
diretamente para o resfriamento. No entanto, pode-se usá-las como uma ferramenta de orientação para se 
ter uma idéia da ordem de grandeza da velocidade de resfriamento. Uma ferramenta mais adequada para 
este fim seriam as curvas CCT (transformação em resfriamento contínuo - em inglês, continuous-cooling-
transformation). Assim sendo, caso haja a necessidade de um controle mais rigoroso do conhecimento da 
microestrutura obtida com relação à velocidade de resfriamento as curva CCT deverão ser consultadas. 
Além destes três parâmetros comentados, que implicam diretamente na construção do ciclo térmico, há 
ainda um quarto parâmetro não menos importante: a atmosfera de tratamento. A atmosfera (ou o meio15) 
em que é realizado o tratamento é extremamente importante, pois diz respeito ao modo como ocorre a troca 
de calor entre o meio e a peça. Além disso, é importante conhecer (ou controlar) a atmosfera pois a mesma 
deve estar em equilíbrio termodiâmico com a superfície da peça, caso contrário haverá também troca de 
massa além da troca de calor. Por exemplo, um aço carbono quando aquecido ao ar pode oxidar formado 
uma inconeniente “casca de óxido”. Além disso, nestas condições o aço pode “perder” carbono na 
superfície, pois este se liga com o oxigênio do ar formando CO e/ou CO2. Nesta situação ocorrerá o que 
chamamos de descarbonetação. Caso esta ultima situação seja realizada na presença de carvão, por 
exemplo, existe a possibilidade de não se perder carbono, ou dependendo da situação, até mesmo carbonetar 
a superfície da peça, pois a queima do carvão produz CO e CO2 mantendo um equilíbrio entre a superfície 
da peça e o meio. A escolha da atmosfera é realizada geralmente seguindo-se recomendações específicas 
para cada tratamento. No entanto, o controle mais adequado (quando o tratamento é realizado com 
atmosfera controlada) pode ser realizado utilizando-se um diagrama específico para verificar o equilíbrio 
entre composição química da peça e da atmosfera. O diagrama comumente utilizado é o diagrama de 
Ellingham 
 
1.3 Tratamentos térmicos típicos aplicados aos aços 
Os tratamentos térmicos aplicados aos aços têm a grosso modo dois objetivos principais: aumentar 
dureza ou diminuir dureza. No entanto, os objetivos específicos definem o tipo de tratamento térmico a ser 
utilizado. Nesta apostila vamos mencionar os tratamentos mais importantes, que podem ser agrupados em 
3 grandes grupos: 
 • Recozimentos; 
• Normalização; 
• Têmperas; 
Em geral, os recozimentos têm o objetivo principal de reduzir a dureza do material, as têmperas têm 
objetivo de aumentar a dureza enquanto que a normalização visa melhorar a tenacidade dos aços. 
Os recozimentos podem ser divididos em vários tipos dependendo do seu objetivo específico, como: 
recozimento pleno, recozimento para alívio de tensões, para recristalização, de esferoidização, para 
homogeneização, entre outros. As têmperas possuem também suas variações: têmpera direta, sub-zero, 
austêmpera e martêmpera. Já a normalização não possui variações específicas. 
Como já comentamos, um dos parâmetros que caracterizam os tratamentos térmicos é a temperatura de 
patamar. A Figura 2 mostra a temperatura de patamar recomentada para os tratamentos térmicos mais 
comuns realizados em aços ao carbono. 
 
Figura 2 – Faixas de temperatura de patamar típica para alguns tratamentos térmicos realizados em 
aços carbono sobrepostas ao diagrama Fe-C (modificado de CALLISTER, 2002). 
 
Pode-se notar que alguns tratamentos exigem a total austenitização do aço (tratamento acima da zona 
crítica), como é o caso da normalização e das têmperas. Outros tratamentos admitem o aquecimento na 
zona intercrítica (entre as linhas A1 e Acm), dependendo da composição química do aço. Outros 
tratamentos devem ser realizados logo abaixo da zona crítica ou consideravelmente abaixo desta, como é o 
caso da esferoidização ou recozimento para alívio de tensões, respectivamente. Veremos, na sequência, 
uma descrição mais detalhada de alguns destes tratamentos térmicos. 
 1.4 Recozimento pleno 
Os recozimentos em geral têm como propósito principal reduzir a dureza (ou aumentar ductilidade). 
Geralmente, com a microestrutura formada neste tratamento teremos maior facilidade na execução de um 
subsequente processo de fabricação, como a usinagem ou conformação mecânica. O termo recozimento 
quando não acompanhado de um prefixo indica sua natureza geral, ou seja, simplesmente reduzir dureza. 
O recozimento pleno tem como objetivos principais reduzir dureza e aumentar a ductilidade dos aços. 
Especificamente, no recozimento pleno, este objetivo é conseguido com a renovação da microestrutura. 
Para que isto ocorraé necessário austenitizar o aço dissolvendo os carbonetos (cementita e, eventualmente 
outros carbonetos). A partir daí, com o resfriamento, tem-se a obtenção de uma nova microestrutura, que 
no caso, deve levar a uma baixa dureza e boa ductilidade do material tratado. Como há austenitização e 
dissolução de carbonetos, a microestrutura que o material terá após o tratamento será independente da 
microestrutura antes do referido tratamento. Por exemplo, uma peça temperada e outra normalizada com 
mesma composição química possuem microestruturas diferentes. Se for realizado o recozimento pleno em 
ambas as peças (em condições idênticas) as peças terão propriedades mecânicas similares, pois terão a 
mesma microestrutura, não importando qual a sua microestrutura antes do tratamento. 
 Nos aços, para que se tenha baixa dureza e boa ductilidade a microestrutura deve possuir poucas 
barreiras para movimentação das discordâncias. Uma microestrutura “grosseira” nos fornece esta situação. 
Para os aços ao carbono, uma microestrutura grosseira significa grãos grandes e perlita grosseira (ou seja, 
placas alternadas de ferrita e cementita com espessura relativamente grande). Assim sendo, o recozimento 
pleno deve seguir um ciclo térmico que permita obter este tipo de microestrutura para o aço. A Figura 3 
mostra esquematicamente o ciclo térmico do recozimento pleno de um aço baixo carbono. 
 
Figura 3 – Esquema de um ciclo térmico para o recozimento pleno de um aço baixo carbono 
 
A perlita se forma no resfriamento a partir do aço austenitizado. Logo, deve-se aquecer o aço acima da 
zona crítica ou na zona intercrítica. Conforme mostrado na Figura 4.2, os aços hipoeutetóides devem ser 
aquecidos acima da zona crítica. Recomendase aquecer aproximadamente 50 ºC acima da temperatura 
prevista no diagrama de fase (50 ºC acima da linha A3). Um aquecimento excessivo poderia produzir efeitos 
colaterais indesejados, como forte descarboentação e oxidação além de crescimento excessivo dos grãos 
austeníticos. Os aços hipereutetóides não são totalmente austenitizados (Figura 4.2), pois a cementita 
proeutetóide (nos cotornos de grão) levam muito tempo para se dissolver. A dissolução desta cementita não 
produz efeitos consideráveis na dureza ou ductilidade do material após o tratamento. A dissolução da 
perlita, no entanto, é que possui efeito significativo. Este tempo excessivo para dissolução de tais carbonetos 
levaria aos efeitos colaterais já citados. O tempo de patamar deve ser o mínimo necessário para que ocorra 
a austenitização do material e dissolução da cementita (da perlita). 
Vale a pena frisar que a escolha da temperatura de patamar depende da composição química do aço. 
Quando se trabalha com aços comuns ao carbono esta temperatura pode ser obtida diretamente do diagrama 
de fase Fe-C. Para os aços ligados, a temperatura de patamar, é obtida consultando-se literatura específica. 
O resfriamento deve ser tal que tenhamos a formação de grãos grandes e perlita grosseira. As curvas 
TTT destes aços (Figura 4) sugerem que o resfriamento seja muito lento para que tenhamos esta 
microestrutura. 
 
Figura 4 – Curva TTT de um aço eutetóide mostrando o resfriamento para se obter perlita grosseira e 
ao lado a micrografia da respectiva microestrutura (modificado de BRANDT e WARNER, 2005). 
Na prática, para recozimento pleno de aços carbono, esta velocidade de resfriamento é conseguida 
desligando-se o forno deixando a peça resfriar dentro dele. 
O recozimento pode ser ainda empregado para regularizar a estrutura bruta de fusão, modificar 
propriedades elétricas, remover gases dissolvidos na estrutura cristalina, e eliminar o efeito de quaisquer 
tratamentos térmicos que a peça tenha sido submetida anteriormente (como têmpera ou normalização). 
 
 
1.5 Recozimento para alívio de tensões 
 
Como o próprio nome do tratamento sugere, este tem o objetivo específico de reduzir o nível de tensões 
internas dos materiais. Quando os aços são usinados, soldados ou deformados plasticamente, tensões 
internas surgem no material em virtude de deformações plásticas localizadas geradas diretamente pelo 
processo ou pela expansão térmica gerada por eles. Estas tensões internas podem limitar a resistência 
mecânica do material, ou durante uma operação de um processo de fabricação posterior a peça pode sofrer 
deformações importantes que podem comprometer todo o processo. Assim sendo, muitas vezes, é 
necessário reduzir as tensões internas destes materiais. 
 Este tratamento térmico é um tratamento subcrítico, ou seja, realizado abaixo da zona crítica (abaixo 
da linha A1), conforme mostrado na Figura 5. 
 
Figura 5 – Esquema de um ciclo térmico para o recozimento para alívio de tensões de um aço baixo 
carbono. 
Para aços ao carbono e aços baixa liga as temperaturas típicas de tratamento giram em torno de 550 a 
650 ºC. Para aços alta liga estas temperaturas aumentam, e é comum realizar este tratamento a 
aproximadamente 600-750ºC. Neste tratamento não ocorrem transformações de fase, porém, a 
recristalização pode eventualmente ocorrer, dependendo no nível de deformação plástica sofrida pelo 
material (encruamento). O tempo de permanência é relativamente longo. É comum o tempo de patamar 
girar em torno de 1 a 2 horas. Porém em alguns casos os tempos podem ser maiores (da ordem de 24 h). 
Uma vez que a temperatura de patamar não é muito alta, os efeitos colaterais como oxidação e 
descarbonetação são menos evidentes. O resfriamento é lento, porém pode ser realizado ao ar calmo sem 
grandes danos para a peça. Dos tratamentos térmicos aqui discutidos, este é o único que não apresenta 
alteração da microestrutura. Note que haverá modificação das propriedades mecânicas, pois as tensões 
internas modificam algumas destas propriedades. 
 
1.6 Recozimento para recristalização 
 
Este tratamento é realizado para corrigir a morfologia dos grãos de metais deformados plasticamente. 
Quando um metal é conformado a frio (deformado plasticamente a frio) sua dureza aumenta, pois com a 
movimentação de discordâncias outras são formadas, ocorrendo o aumento da densidade de discordâncias. 
Como as próprias discordâncias são barreiras para a movimentação de outras discordâncias, tem-se o 
aumento da dureza (decréscimo de ductilidade). Este efeito é conhecido na mecânica como endurecimento 
por deformação plástica ou comumente chamado de encruamento. Além disso, quando a peça é deformada 
plasticamente, a sua microestrutura tende a acompanhar a direção da deformação. Assim, se uma peça for 
“achatada”, seus grãos irão adquirir também uma morfologia “achatada”, conforme mostra a Figura 6. 
 
Figura 6 – Microestrutura de um aço antes e após a conformação mecânica. Neste caso a força foi 
aplicada na direção vertical, logo a peça, assim como os grãos, foram “achatados”. 
Estes grãos encruados (ou seja, com maior densidade de discordâncias) possuem energia acumulada. 
Como a natureza tende a permanecer numa situação de baixa energia, o estado encruado não é uma situação 
“confortável” para o material. Este só não retorna ao seu estado menos energético (não encruado), ou seja, 
com menor densidade de discordâncias, pois os átomos não têm mobilidade para fazer isto. Quando este 
material encruado é aquecido (geralmente acima de 600 ºC para os aços) a estrutura cristalina adquire 
mobilidade suficiente para recuperar o nível de discordâncias original. No entanto, as discordâncias não 
somem simplesmente por “mágica”. O caminho que a natureza encontrou para reduzir a quantidade de 
discordâncias é nuclear um novo grão com densidade de discordâncias menor dentro do grão encruado. 
Estes núcleos crescem e renovam a microestrutura formando uma microestrutura, agora com grão 
equiaxiais.A Figura 7, mostra a evolução de uma microestrutura encruada quando submetida ao 
recozimento por recristalização, assim como o seu efeito nas propriedades mecânicas. 
 
Figura 7 – Evolução da microestrutura e das propriedades mecânicas com o recozimento de 
recristalização (adaptado de CALLISTER, 2002). 
É interessante ressaltar que é necessário que o material esteja encruado para que a recristalização ocorra. 
A temperatura de patamar necessária para a recristalização depende do grau de encruamento do material. 
Em geral, quanto maior o seu grau de encruamento menor é a temperatura de patamar necessária para 
recristaliar. Isto ocorre porque o material mais encruado possui mais energia acumulada na forma de 
defeitos cristalinos, necessitando de menor energia (energia térmica) para iniciar o processo de 
recristalização. 
Note também que apesar de um novo grão ter nucleado e crescido alterando a microestrutura, não houve 
transformação de fase. No aço, o grão de ferrita não encruado irá nuclear dentro da ferrita encruada! Logo, 
neste tratamento não há transformação de fase. Isto implica em dizer que podemos renovar a microestrutura 
sem aquecer demasiadamente a liga. Porém, é necessário deformá-la plasticamente antes do tratamento. 
O tempo de patamar necessário para a completa recristalização varia de 30 a 60 minutos (para aços a 
uma temperatura de 650 ºC). O ciclo térmico deste tratamento pode ser idêntico ao ciclo do recozimento 
para alívio de tensões (Figura 5). Vale a pena lembrar que apesar do recozimento para alívio de tensões e o 
recozimento de recristalização terem ciclos térmicos praticamente idênticos, o objetivo dos tratamentos são 
diferentes, assim como o seu resultado. Como sabemos o tratamento térmico não é caracterizado pelo ciclo 
térmico somente. O que vale é o seu objetivo. 
Logo, o objetivo principal do recozimento para recristalização diminuir dureza e aumentar a ductilidade 
de materiais endurecidos por deformação plástica. Isto é feito através da nucleação de grãos recistalizados 
a partir de grãos encruados. 
 
 
 
1.8 Recozimento de Esferoidização 
 
O recozimento de esferoidização, ou também conhecido como tratamento de coalescimento, visa 
diminuir a dureza e aumentar a ductilidade de aços com alto percentual de carbono. Em geral, a 
microestrutura de aços com elevado teor de carbono é composta por uma quantidade significativa de 
carbonetos. No caso do aço carbono, estes carbonetos são basicamente carbonetos de ferro, ou seja, a 
cementita (Fe3C). Já vimos que, dependendo da quantidade de carbono no aço, podemos ter cementita na 
forma de placas que dispostas de forma alternada com a ferrita forma as ilhas de perlita. Caso o aço (aço 
carbono) tenha %C maior que 0,77% a cementita também se precipitará no contorno de grão (cementita 
proeutetóide). 
Quando se deseja diminuir dureza ou aumentar a ductilidade destes aços, o recozimento pleno pode não 
atender às expectativas. Isto porque teremos como resultado do tratamento térmico uma microestrutura de 
perlita grosseira (e cementita no contorno de grão). Porém como há grande quantidade de perlita o aço 
ainda se comportará com relativa baixa ductilidade. 
O recozimento para esferoidização transforma as placas de cementita (presentes na perlita) em esferas. 
Como resultado há maior continuidade da ferrita, o que facilita a movimentação de discordâncias. Esta 
transformação é conseguida levando-se em consideração que a forma esférica de um precipitado é a mais 
estável. A cementita se forma normalmente como placas, pois a dinâmica da transformação induz a esta 
morfologia. No entanto, se houver possibilidade de difusão do carbono e tempo para que isto ocorra as 
placas de cementita se transformarão em precipitados esféricos. A Figura 8 a seguir mostra a transformação 
das placas de cementita em cementita esferoidal (Figura 8a), assim como uma micrografia (Figura 8b) da 
microestrutura resultante (esferoidita). 
 
 
Figura 8 – a) Representação esquemática da transformação de uma placa de cementita em precipitados 
esféricos durante o recozimento de esferoidização (TOTTEN, 2007) e b) microestrutura correspondente à 
esferoidização (CALLISTER, 2002). 
Para que este fenômeno ocorra é necessário ocorrer a difusão de carbono. Para facilitar a difusão do 
carbono, convém aquecer o aço a uma temperatura maior possível mantendo-a o máximo possível. Na 
prática, o ciclo térmico do recozimento para esferoidização é realizado de maneira a se ter a temperatura de 
patamar imediatamente abaixo da temperatura crítica mandendo-a por várias horas (dezenas de horas). A 
Figura 9 mostra um desenho esquemático do ciclo térmico de um recozimento para esfeoidização. 
 
Figura 9 – Esquema de um ciclo térmico para recozimento de esferoidização de um aço carbono. 
1.9 Normalização 
A normalização é um tratamento térmico similar ao recozimento pleno. A diferença principal para o 
tratamento de recozimento pleno é, além de seus objetivos, a forma de resfriamento, que é realizado mais 
rapidamente. 
De maneira um pouco diferente que os demais tratamentos térmicos, este tratamento tem seus objetivos 
focados mais na microestrutura que nas propriedades mecânicas. Como seu próprio nome sugere, ele é um 
tratamento usado para “normalizar”, ou seja, uniformizar. Neste caso, uniformizar a microestrutura. Claro 
que fazendo isso tem-se também a alteração de propriedades mecânicas. Com a normalização tem-se o 
refino de microestrutura. Este pode ser utilizado para remover a microestrutura grosseira de peças metálicas 
provenientes do processo de fundição. Este tratamento pode ser aplicado com o mesmo propósito em peças 
provenientes do processo de conformação mecânica como a laminação e forjamento. O fato de se refinar a 
microestrutura faz com que os carbonetos tornem-se menos volumosos facilitando sua dissolução em um 
tratamento térmico. Por este motivo, a normalização é também aplicada como tratamento prévio à têmpera 
e revenido. 
 Nos aços carbono a microestrutura refinada produzida é constituída por grãos pequenos de ferrita e 
perlita refinada, ou seja, placas alternadas de ferrita e cementita com espessura mínima. Esta microestrutura 
leva a um aumento da dureza e resistência mecânica (quando comparado ao estado recozido), pois há maior 
quantidade de barreiras para movimentação de discordâncias sem, no entanto, reduzir significativamente 
sua plasticidade. Este efeito leva a um aumento de tenacidade. Assim, a normalização tem como objetivo 
focado nas propriedades mecânicas aumentar a tenacidade dos materiais metálicos. A microestrutura obtida 
na normalização é conseguida fazendo-se a austenitização do aço. Isto implica dizer que, assim como no 
recozimento pleno, a microestrutura é renovada. O resultado do tratamento não depende (ou depende 
pouco) da microestrutura presente antes do tratamento. 
O ciclo térmico da normalização consiste no aquecimento do aço acima da zona crítica 
(aproximadamente 50 ºC acima da linha A3 ou Acm para aços hipoeutetóides e hipereutetóides, 
respectivamente). O tempo de patamar deve ser suficiente para total dissolução dos carbonetos e total 
austenitização do aço. A rampa de resfriamento é obtida fazendo-se um resfriamento moderado. A Figura 
10 mostra um desenho esquemático do ciclo térmico da normalização. 
 
Figura 10 – Esquema de um ciclo térmico para a normalização de um aço carbono. 
 
Este deve ser tal que se tenha a formação de perlita refinada. Para isso, deve-se realizar o arrefecimento 
da peça de maneira moderada. A taxa de resfriamento necessária para se ter a microestrutura desejada pode 
ser estimada observando-se o diagrama TTT do aço a ser tratado. A Figura 11 mostra a curva de 
resfriamento deum tratamento de normalização sobreposta a uma curva TTT de um aço ABNT 1080. Ao 
lado desta curva é mostrada a microestrutura de um aço ABNT 1045 obtida a partir de um tratamento de 
normalização. 
 
 
Figura 11 – Curva TTT de um aço ABNT 1080 mostrando o resfriamento para se obter microestrutura 
refinada e ao lado a micrografia de um aço ABNT 1045. Nos aços carbono este resfriamento moderado é 
geralmente obtido retirando-se a peça do forno deixando-a resfriar em ar calmo. 
 
1.10 Têmpera direta 
 
Antes de explanar sobre o tratamento de têmpera direta especificamente, é interessante esclarecer alguns 
conceitos que estão presentes em praticamente todas as variações dos tratamentos de têmpera. 
O tratamento térmico de têmpera possui como objetivos principais o aumento de dureza e de resistência 
mecânica. Este aumento de dureza é conseguido através da modificação drástica da microestrutura do aço. 
Na maioria das variações da têmpera, a microestrutura obtida é a martensita. Em alguns casos é possível 
atingir este objetivo com a microestrutura bainítica. 
A martensita é obtida aquecendo-se o aço acima da zona crítica e resfriando rápido o suficiente para 
não cruzar o cotovelo da curva TTT. Apesar da curva TTT indicar a taxa de resfriamento necessária para 
formar tal microestrutura, ela não fornece informações a respeito do que ocorre no interior do material para 
que esta microestrutura se forme. 
Para que a martensita se forme é necessário que o aço tenha uma quantidade de carbono mínima na sua 
composição. Os aços carbono comum, em condições normais, a temperatura ambiente, apresentam as 
seguintes fases: ferrita e cementita (Estas fases podem estar distribuídas na forma de placas alternadas de 
ferrita e cementita (a perlita). A cementita é um composto químico formado por átomos de ferro e carbono 
na proporção 3:1, respectivamente (Fe3C). A ferrita é uma fase de composta por átomos de Ferro com 
estrutura cristalina CCC (cúbico de corpo centrado). No entanto, esta fase admite certa quantidade de 
carbono dissolvido (esta quantidade depende da temperatura). Na temperatura ambiente, a ferrita (Fe-α - 
CCC) consegue dissolver no até 0,008% de carbono. Ou seja, quase nada!!!. Assim sendo, um aço ABNT 
1045 terá aproximadamente 0,45% de carbono na sua composição. Destes 0,45%C somente 0,008% estarão 
dissolvidos na ferrita. Os demais 0,442% estarão precipitados, na forma de cementita (Fe3C). Ao aumentar 
a temperatura, a distância média entre os átomos de ferro na estrutura cristalina aumenta, e a esta se torna 
mais “folgada” permitindo dissolver uma quantidade sensivelmente maior de carbono. A quantidade 
máxima de carbono que a ferrita (Fe-α) consegue dissolver é a 727 ºC, dissolvendo aproximadamente 0,022 
%C (três vezes mais que a temperatura ambiente). No entanto, isto ainda é muito pouco. Nesta situação, o 
aço ABNT 1045 terá ainda 0,428 %C precipitado na forma de cementita. 
Acima de 727ºC, a ferrita começa a se transformar em austenita. A austenita (Fe-γ) é a fase do ferro 
com estrutura cristalina CFC (cúbico de face centrada). Apesar de mais compacta, a austenita possui 
interstícios maiores que a ferrita, permitindo a acomodação dos átomos de carbono. Em conseqüência disso, 
a austenita permite dissolver uma quantidade bem maior de carbono que a ferrita. A 727ºC a austenita 
permite dissolver 0,77% de carbono (35x mais que a ferrita na mesma temperatura). Assim sendo, um aço 
ABNT 1045 (com aproximadamente 0,45%C) com fase austenítica terá todo o seu carbono dissolvido (e 
neste caso, sobraria “lugar” para mais carbono ainda). Desta maneira, ao aquecer o aço ABNT 1045 a uma 
temperatura acima da zona crítica (total austenitização), a cementita precipitada irá se “desfazer” e o 
carbono que fazia parte da sua composição irá se dissolver na austenita. Logo, teremos uma única fase: a 
austenita (Fe-γ), como previsto no diagrama de fases Fe-C. Vale lembrar que é necessário algum tempo 
para que isto ocorra, porém, na prática isto não corresponde a um tempo muito longo. Em geral, poucos 
minutos são suficientes para a dissolução do carbono na austenita. 
Se este aço com fase austenítica (CFC) com grande quantidade de carbono dissolvido for resfriado 
lentamente, a fase austenítica se transformará na fase ferrítica (CCC). Como esta ultima fase não permite 
acomodar tal quantidade de carbono este é expulso e a sua precipitação ocorrerá como cementita (Fe3C) na 
forma de placas entre regiões ferríticas (Figura 12). 
 
Figura 12 – Formação da perlita (placas alternadas de ferrita e cementita) a partir do resfriamento 
lento da austenita de um aço carbono (em escala micrométrica). 
No entanto, se o resfriamento for realizado rápido o suficiente para que o carbono não consiga “escapar” 
da estrutura cristalina, o mesmo não precipitará. Então, para onde irá o carbono, se não há tempo para 
“escapar” e a fase ferrítica não tem espaço para acomodálo dissolvido? O que ocorre é que a estrutura 
“tenta” se tornar CCC, mas como há carbono nos interstícios a estrutura acaba se tornando uma estrutura 
CCC “distorcida”. Esta estrutura é conhecida como TCC (tetragonal de corpo centrado). Esta estrutura 
possui rede cristalina muito (muito mesmo!) tensionada e distorcida. A presença desta estrutura cristalina 
sob forte tensão (e distorção) dificulta em muito a movimentação de discordâncias, levando a um 
significativo aumento de dureza e resistência mecânica. Por outro lado, a tenacidade do material cai 
drasticamente. O esquema da transformação de fases (estruturas cristalinas) para formação da martensita 
(estrutura TCC) é mostrado na Figura 13, a seguir. 
 
 
 
Figura 13 – Esquema da estrutura cristalina do ferro durante a tranformação CFC para CCC com 
carbono dissolvido para a obtenção de estrutura TCC correspondente à martensita. 
 
A microestrutura correspondente a esta estrutura cristalina é conhecida como martensita. A martensita 
nada mais é que uma solução supersaturada de carbono, uma vez que esta poderia ser encarada como ferrita 
com quantidade de carbono dissolvido muito acima do seu limite de solubilidade 
A dureza da martensita depende da quantidade de carbono presente na composição química do aço. 
Obviamente, quanto maior a quantidade de carbono aprisionada, maior a distorção causada pelo mesmo 
quando temperado. No entanto, a dependência da dureza com a quantidade de carbono não é proporcional. 
A Figura 14 mostra a variação da dureza de um aço com a quantidade de carbono após o tratamento de 
têmpera. 
Esta variação ocorre basicamente por dois fatores. Quando o percentual de carbono é muito pequeno, 
não se obtém uma microestrutura totalmente martensítica. Haverá sempre uma mistura de martensita e 
ferrita, por mais rápido que seja o resfriamento. Logo, a dureza requerida num tratamento de têmpera não 
será obtida. Normalmente o teor de carbono mínimo necessário para formar 100% de martensita é 
aproximadamente 0,35 %C. Logo, aços baixo carbono (%C<0,35) não são temperáveis. Acima deste valor, 
a dureza da martensita aumenta, pois uma maior quantidade de carbono dissolvido na martensita provoca 
maior tensão interna (distorção na rede cristalina) com conseqüente aumento de dureza. Este aumento de 
dureza com o teor de carbono é siginificativo de 0,35 até 0,6 %C. Acima deste valor há uma saturação na 
capacidade de distorcer a rede cristalina com o aumento do teor de carbono, sendo assim, o efeito do 
aumento de carbono não é tão significativo. 
 
Figura 14 – Variação da dureza da martensita com o percentual de carbono presente no aço (modificado 
de CALLISTER, 2002). 
Na martensita, como o carbono produz uma forte distorção na rede cristalina, o nível de tensão interna 
é muito elevado. Se estas tensõesinternas superarem o limite de escoamento do material este poderá 
“empenar”. Em casos extremos, se o nível de tensões internas superarem o limite de resistência do material 
este poderá se romper (formar trincas ou fissuras). Neste caso, convém, após a têmpera, efetuar um 
tratamento que reduz este nível de tensão interna. Este tratamento é conhecido como revenimento (ou 
revenido) e será discutido em uma seção específica após a explanação dos tratamentos de têmpera. 
 As variações do processo de têmpera estão relacionadas à forma de se obter a martensita, ou 
eventualmente a bainita17. Os diferentes modos de se obter estas microestruturas estão diretamente 
relacionados com o modo como o material é resfriado. Uma das variações mais simples é conhecida como 
têmpera direta. Ela é assim chamada, pois o resfriamento é realizado de forma contínua a partir da 
temperatura de austenitização (temperatura de patamar) até a temperatura ambiente. 
O ciclo térmico da têmpera direta consiste no aquecimento do aço acima da zona crítica 
(aproximadamente 50 ºC acima da linha A3 ou Acm para aços carbono hipoeutetóides e hipereutetóides, 
respectivamente). O tempo de patamar deve ser suficiente para total dissolução dos carbonetos e total 
austenitização do aço. A rampa de resfriamento é obtida fazendo-se um resfriamento rápido. A Figura 15 
mostra um desenho esquemático do ciclo térmico da têmpera direta. 
 
 Figura 15 – Esquema de um ciclo térmico para a têmpera direta de um aço carbono. 
 
Na tempera direta, o resfriamento deve ser rápido o suficiente para não permitir a precipitação de 
cementita (Fe3C). A velocidade de resfriamento na têmpera direta está relacionada à composição química 
do material. Os elementos de liga podem influenciar na facilidade ou dificuldade da precipitação de 
carbonetos. Alguns elementos químicos fazem com que ocorra um retardamento na precipitação. Isto faz 
com que se consiga temperar aços utilizando velocidades de resfriamentos menores. 
O diagrama TTT nos fornece uma idéia da velocidade de resfriamento necessária para a têmpera de uma 
liga. O importante é resfriar de modo a evitar o cruzamento da linha de resfriamento com o cotovelo da 
curva TTT da referida liga. 
A Figura 16 mostra a curva de resfriamento de um tratamento de têmpera direta sobreposta a uma curva 
TTT de um aço ABNT 1080. Ao lado desta curva é mostrada a microestrutura de um aço ABNT 1045 
obtida a partir de um tratamento de normalização. 
 
Figura 16 – Curva TTT de um aço ABNT 1080 mostrando o resfriamento para se obter a martensita 
num tratamento de têmpera direta e ao lado a micrografia da martensita obtida. 
Pode-se notar que, diferentemente das curvas mostradas até então, é apresentada duas curvas de 
resfriamento: uma referente à superfície e outra ao núcleo. Isto porque como este resfriamento é obtido com 
alta taxa de resfriamento a diferença de velocidade de resfriamento da superfície em contato com o meio 
arrefecedor e o núcleo relativamente longe do meio de resfriamento é mais evidente (conforme já explicado 
no capítulo 3). Assim sendo, na têmpera direta, normalmente a superfície e o núcleo transformam em 
tempos diferentes. Como a transformação de fase está associada à variação de volume, existe a formação 
de tensões internas provenientes desta variação. Num tempo “x” a superfície já transformou e mudou de 
volume, enquanto isso o núcleo ainda está quente e não transformou para martensita permanecendo com 
seu volume original. Quando finalmente o núcleo transforma, tensões internas já foram geradas em virtude 
desta variação de volume do material. É comum chamar estas tensões de tensões térmicas. Logo, a peça 
temperada possui dois tipos de tensões internas: a) tensão interna intrínseca da martensita e b) tensão interna 
de origem térmica. Dependendo do nível de tensão interna a peça poderá se deformar ou até mesmo trincar. 
Em peças de pequena espessura este efeito é menos importante, pois a diferença de temperatura da 
superfície e do núcleo é menor. Aços com maior temperabilidade (cotovelo da curva mais à direta) também 
têm este problema minimizado, pois a taxa de resfriamento necessária para formar martensita no núcleo 
será menor. Com taxa de resfriamento menor, a diferença entre as curvas de resfriamento da superfície e 
do núcleo serão menores, tornando o aço menos suscetível à empenamentos ou tricamentos durante o 
tratamento de têmpera direta. 
As tensões internas intrínscecas da martensita podem ser reduzidas com o revenimento já as tensões 
internas de origem térmica não se consegue evitar na têmpera direta. Logo temos que conviver com esta 
situação se for usar este tipo de tratamento térmico. Outro tipo de tratamento de têmpera poderá ser utilizado 
caso se deseje evitar as tensões de origem térmica. 
A têmpera direta pode ser realizada em vários meios de resfriamento, dependendo da necessidade, ou 
seja, quão rápido deverá ser o resfriamento para que se consiga “vencer” o cotovelo da curva TTT do 
referido aço. 
Existem diversos meios de resfriamento, os mais comuns são: água, salmoura, óleo e ar. Cada meio de 
resfriamento tem capacidade de extrair mais ou menos calor do aço que é mergulhado neste. Destes, em 
ordem decrescente de severidade temos: salmoura, água, óleo e ar. Além disso, a taxa de resfriamento 
também depende da circulação do meio. Podemos ter o meio de resfriamento calmo ou sob agitação (leve, 
forte ou violenta). Quanto maior a agitação do meio maior a taxa de remoção de calor, ou seja, maior a 
severidade do meio. Existe um índice de severidade (H) do meio de têmpera. Quanto maior o valor de H 
maior a severidade do resfriamento do meio. A tabela 1 mostra este índice para alguns meios sob diferentes 
condições de agitação. 
Tabela 1 – Índice de severidade do meio de têmpera (H) para vários meios. 
Agitação do meio Ar Óleo Água Salmoura 
Sem circulação 0,02 0,25 – 0,30 0,9 – 1,0 2 
Circulação suave - 0,30 – 0,35 1,0 – 1,1 2,0 – 2,2 
Circulação moderada - 0,35 – 0,40 1,2 – 1,3 - 
Circulação moderada-forte - 0,4 – 0,5 1,4 – 1,5 - 
Circulação forte 0,05 0,5 – 0,8 1,6 – 2,0 - 
Circulação violenta - 0,8 – 1,1 4 5 
 
 
Semana 2 
 Estruturas cristalinas 
 Introdução 
O Ferro é o principal constituinte de uma das ligas mais importantes da engenharia: o aço. 
Os aços são empregados nos mais variados componentes. Fica difícil imaginar um equipamento 
que não possua uma peça de aço em sua constituição. O Ferro é um metal alotrópico, isto é, ele 
apresenta mais de uma estrutura cristalina em função da temperatura. Quando solidifica a 
1538ºC, o Ferro assume organização interna conforme uma estrutura cúbica de corpo centrado, 
a fase (delta). Continuando o resfriamento, ocorre uma mudança de fase na temperatura de 
1394°C com os átomos de Ferro sofrendo um rearranjo para uma estrutura cúbica de faces 
centradas, a fase (gama). 
Na temperatura de 912°C ocorre um novo rearranjo cristalino e o Ferro volta a apresentar 
uma estrutura cúbica de corpo centrado, a fase (alfa). Abaixo da temperatura de 768°C o Ferro 
passa a apresentar um comportamento magnético, no entanto, apresentar qualquer mudança 
da estrutura cristalina. Todas estas transformações alotrópicas ocorrem com liberação de calor 
no resfriamento (reações exotérmicas) e com absorção de calor no aquecimento (reações 
endotérmicas), com cada uma delas envolvendo certa quantidade de energia. A existência 
destas transformações faz com que os aços se apresentem como uma classe de materiais 
extremamente versáteis atendendo a um grande espectro de propriedades mecânicas. 
Estruturas Cristalinas 
 Reticulado Cristalino 
Todos os metais, incluindo-se neste caso o Ferro puro, possuem o que se convenciona 
chamar deestrutura cristalina. Para que possamos entender do que se trata vamos considerar 
uma rede de pontos que se prolonga infinitamente nas três direções do espaço como mostrado 
na figura 2.1. 
 
 
2. 1 - Representação de uma rede de pontos que serve para o estudo das estruturas 
cristalinas (Guy) 
Se todas as retas que formam a rede estiverem regularmente espaçadas em cada uma 
das direções, os pontos de intersecção estarão também regularmente espaçados e neste caso 
fica caracterizada uma rede espacial de pontos. Observando-se a figura 2.1 vemos que a 
geometria da rede espacial fica perfeitamente caracterizada se utilizarmos três vetores para 
defini-la. Assim, se tomarmos por base o comprimento dos três vetores com sendo a, b, e c e se 
tomarmos o ângulo entre estes mesmos vetores como sendo,  e  teremos o que se 
convenciona chamar de constantes de rede. Estas constantes nos permitem definir exatamente 
como os pontos se distribuem no espaço, pois, se repetirmos o comprimento de um vetor, por 
exemplo, a segundo a direção dada por , encontraremos uma nova intersecção, ou seja, um 
outro ponto de rede. Similarmente se combinarmos a distância b com o ângulo  e a distância c 
com o ângulo  encontraremos pontos a cada repetição. 
 Devemos entender, ainda, que em um enfoque puramente geométrico, tanto as 
distâncias quanto os ângulos podem ter o mesmo valor ou serem diferentes entre si, o que nos 
permitiria uma série de combinações. Indo um pouco adiante, poderíamos associar a esta rede 
espacial uma série de átomos distribuídos regularmente pelo espaço, não necessariamente 
localizados nos pontos de intersecção, mas respeitando a regularidade determinada pelas 
distâncias e pelos vetores. Desta forma teríamos caracterizada uma estrutura cristalina, que 
nada mais é do que uma rede de pontos regularmente espaçados com uma distribuição regular 
dos átomos. 
Muitos materiais possuem uma distribuição característica e regular dos seus átomos 
sendo chamados então de materiais cristalinos. Como existe esta regularidade, uma estrutura 
cristalina de um material não precisa ser representada por todos os seus átomos, mas apenas 
por um conjunto de átomos que possam definir a sua distribuição no espaço. Este conjunto de 
átomos deve ser escolhido de tal forma que uma vez repetidas as suas posições nas três direções 
do espaço tenhamos a representação de toda a estrutura cristalina do material. A esta pequena 
porção do reticulado cristalino que tem a propriedade de representar todo o cristal chamamos 
célula unitária. Uma célula unitária será sempre associada uma figura geométrica (as distâncias 
a, b e c e os vetores (,  e ) e a distribuição característica dos átomos. 
No estudo das estruturas cristalinas são utilizadas apenas sete figuras geométricas, 
caracterizando sete sistemas cristalinos e estes produzem um total de apenas quatorze 
distribuições características dos átomos, produzindo quatorze estruturas cristalinas. Embora 
alguns materiais possam apresentar distribuições mais complexas, apenas estas quatorze 
células unitárias são suficientes para permitir o estudo dos materiais cristalinos. Dentre os 
sistemas, os que mais interessam para o estudo dos tratamentos térmicos são: o sistema cúbico 
e o sistema tetragonal. As células unitárias da estrutura cúbica de corpo centrado (CCC), cúbica 
de faces centradas (CFC) e estrutura tetragonal de corpo centrado (TCC) podem ser vistas na 
figura 2.2. 
 
2.2 - Representação esquemática das células unitárias da estrutura cúbica de corpo 
centrado, cúbica de faces centradas e estrutura tetragonal de corpo centrado (Guy). 
 
Por uma questão de simplicidade os átomos em um reticulado cristalino são 
representados como esferas perfeitas, mas isto não implica em diferenças muito grandes em 
relação ao caso real. Uma representação deste tipo está apresentada na figura 2.3, 
respectivamente para a estrutura cúbica de corpo centrado e estrutura cúbica de faces 
centradas 
 
2.3 - Representação do modelo de esferas da estrutura cúbica de corpo centrado e 
também da estrutura cúbica de faces centradas (Avner). 
 Se olharmos mais atentamente para estas figuras, podemos retirar outros valores que 
são úteis para comparação entre as várias estruturas. Os parâmetros característicos mais 
utilizados são as medidas características dos vetores, chamado parâmetro de rede, o número de 
átomos por célula unitária, o número de vizinhos que cada átomo possui (átomos que distam 
entre si dois raios atômicos), chamado número de coordenação e a relação entre o volume 
ocupado pelos átomos e o volume da célula unitária, chamado de fator de empacotamento. 
 Estrutura Cúbica de Corpo Centrado 
A estrutura cúbica de corpo centrado é uma estrutura que possui os seguintes parâmetros 
geométricos: a=b=c e ===90°. Estes valores fazem com que a célula unitária seja 
caracterizada pela figura um cubo. Além disso, os átomos estão localizados nos vértices e no 
centro da célula, como pode ser visto nas figuras 2.2 e 2.3. Deve-se observar que no caso de 
átomos posicionados nos vértices tem apenas um oitavo do seu volume ocupando espaço na 
célula unitária. Neste caso o parâmetro de rede, representado pelo lado do cubo, vale 4R/√3, o 
número de átomos por célula unitária é 2 (um átomo correspondendo à soma dos oito oitavos 
dos átomos dos vértices e mais o átomo localizado no centro da célula), número de coordenação 
de 8 e um fator de empacotamento de 0,68, onde R é o raio atômico. Deve ser lembrado que, 
embora estes parâmetros tenham sido retirados da célula unitária, eles são válidos para toda a 
estrutura cristalina. Isto significa que independente da célula unitária escolhida e do átomo 
tomado como referência devemos encontrar sempre os mesmos valores. 
 Tabela 2.1 - Classificação das estruturas cristalinas dentro dos sistemas cristalinos. 
 
Estrutura Cúbica de Faces Centradas 
A estrutura cúbica de faces centradas possui os mesmos parâmetros geométricos que a 
estrutura cúbica de corpo centrado, porém, a distribuição dos átomos é um pouco diferente. 
Neste caso existem átomos localizados nos vértices e no centro de cada uma das faces do cubo, 
conforme as figuras 2.2 e 2.3. Isto faz com que os átomos das faces tenham apenas metade do 
seu volume ocupando espaço na célula unitária. O parâmetro de rede vale 4R/√2, o número de 
átomos por célula unitária é 4 (um átomo correspondendo à soma dos oito oitavos dos átomos 
dos vértices e mais três átomos correspondentes aos átomos localizados nas faces), número de 
coordenação de 12 e um fator de empacotamento de 0,74. 
 Comparando-se o fator de empacotamento das duas estruturas pode-se ver que a 
estrutura CFC é mais compacta do que a estrutura CCC, isto é, os seus átomos ocupam de 
maneira mais eficiente o espaço. Se considerarmos o mesmo raio atômico, pode-se dizer que os 
átomos organizados segundo uma estrutura CFC ocuparão menor volume, o que conduzirá a 
uma maior densidade. 
Interstícios 
 Em qualquer estrutura cristalina o fator de empacotamento é sempre menor do que um, 
isto é, os átomos não ocupam todo o espaço disponível na célula unitária. Este fato implica em 
que existam espaços vazios entre os átomos da estrutura. Estes espaços vazios recebem o nome 
de interstícios, e exercem um papel muito importante nos tratamentos térmicos dos aços. 
Normalmente existem vários interstícios em uma estrutura cristalina e quanto menor o fator de 
empacotamento maior é o volume destinado aos interstícios, embora o tamanho de cada um 
dependa do raio atômico e da estrutura cristalina. 
 Deste modo uma estrutura CFC possui interstícios maiores do que uma estrutura CCC, 
embora o seu fator de empacotamento seja maior. Aprincipal consequência disto é que, quando 
se tiver uma solução em que os átomos do soluto se colocam em posições intersticiais, como é 
o caso da liga Ferro-Carbono, a estrutura que tiver os maiores interstícios apresentará uma 
maior solubilidade do que aquela que possui interstícios menores. Nas figuras 2.4 e 2.5 estão 
representados os interstícios das células CCC e CFC. 
 Um interstício sempre é denominado pela figura poliédrica formada pelos átomos que 
estão em volta do espaço vazio e desta forma vamos encontrar interstícios tetraédricos e 
interstícios octaédricos. Tanto a estrutura CCC quanto a estrutura CFC possuem estes 
interstícios, no entanto estes são maiores na estrutura CFC. 
 
Figura 2.4 – Interstícios octaédricos (a) e interstícios tetraédricos (b) e uma estrutura 
cúbica de corpo centrado (Leslie) 
 
 Figura 2.5 – Interstícios octaédricos (a) e interstícios tetraédricos (b) em uma estrutura 
de faces centradas (Leslie). 
 Índices de Miller 
A disposição característica dos átomos na estrutura cristalina de um material faz com que 
existam direções e planos característicos para cada estrutura. Estas direções e planos tornam-
se importantes pelo fato de influírem no comportamento do material como é o caso da 
deformação. Sempre que tivermos deformação está se dará segundo determinadas direções e 
planos particulares para cada estrutura. Isto se deve principalmente ao fato de que existe uma 
maior densidade de átomos em determinadas direções gerando planos de escorregamento 
quando ocorre deformação plástica. 
 Para a determinação exata das direções e planos foi criada uma notação apropriada que 
é chamada Índices de Miller. Nas figuras 2.6 e 2.7 são mostradas direções e planos 
característicos para as estruturas CCC e CFC. Os índices de uma direção estão relacionados com 
as coordenadas de um ponto com relação à origem do sistema de eixos. Assim, a direção [100] 
corresponde a um vetor paralelo ao eixo x, enquanto que a direção [010] corresponde a um 
vetor paralelo ao eixo y. No caso dos planos, os índices correspondem ao inverso do valor das 
intersecções do plano com os eixos. Deste modo um plano (100) corresponde a um plano 
paralelo aos eixos y e z enquanto que um plano (010) corresponde a um plano paralelo aos eixos 
x e z. 
 
Figura 2.6 – Direções cristalinas em uma estrutura cúbica (Van Vlack) 
 
Figura 2.7 – Planos cristalinos em uma estrutura cúbica (Avner) 
Defeitos na Estrutura Cristalina 
 Embora até aqui tenhamos representado uma estrutura cristalina como uma rede de 
pontos que se distribui regularmente pelo espaço com átomos a ela associados e também 
regularmente distribuídos, isto não acontece nos materiais cristalinos reais. Todos os materiais 
cristalinos possuem defeitos os quais podem influir decisivamente em suas propriedades. 
Abaixo relacionaremos alguns dos principais defeitos para que se tenha ideia de como os 
mesmos se apresentam no reticulado cristalino. 
Lacunas 
Este defeito é caracterizado pela ausência de um átomo em uma posição que deveria ser 
ocupada na estrutura cristalina. Isto gera uma deficiência de ligações entre os átomos fazendo 
com que os mesmos tendam a se aproximar, o que provoca uma distorção na rede e produz um 
acúmulo de energia naquele ponto. Na figura 2.8 representamos este defeito. 
 
 
Figura 2.8 – Representação dos defeitos de lacuna, defeito auto-intersticial e defeito de 
impureza intersticial (Guy) 
Defeitos Intersticiais 
Caracteriza-se pela presença de um átomo em um interstício da estrutura cristalina. Neste 
caso o átomo pode ser do próprio elemento que forma a estrutura, sendo chamado de defeito 
auto-intersticial, ou por um átomo estranho, chamado defeito de impureza intersticial. Pelo fato 
dos interstícios em uma estrutura serem pequenos com relação aos átomos que abrigam, um 
defeito intersticial produz uma distorção e um acúmulo de energia muito maior do que uma 
lacuna. A figura 2.8 representa estes dois defeitos. 
Discordâncias 
Uma discordância é um defeito planar que envolve o posicionamento de uma série de 
átomos. O caso mais comum deste tipo de defeito é o que é chamado de discordância em cunha, 
o qual é mostrado na figura 2.9. Neste caso uma discordância em cunha pode ser vista como um 
plano extra de átomos, produzindo um efeito de cunha no reticulado. Por envolver um grande 
número de átomos uma discordância envolve um acúmulo de energia muito maior do que um 
defeito de lacuna ou intersticial. As discordâncias exercem um papel muito importante na 
deformação plástica pois são elas que permitem o escorregamento de planos cristalinos que 
produzem a deformação. Se a discordância estiver livre para se deslocar pelo reticulado 
cristalino a deformação se produz facilmente, ao passo que se existirem defeitos como os 
intersticiais ou a presença de precipitados, o deslocamento será dificultado restringindo a 
deformação. Isto irá se refletir em um aumento do limite de escoamento do metal. 
 
Figura 2.9 – Representação de uma discordância em cunha (Guy) 
Contorno de Grão 
 Em um material real, não temos uma estrutura cristalina com uma única orientação. Se 
observarmos a orientação da estrutura de um material, veremos que ela é subdividida em um 
grande número de zonas, cada uma delas com uma orientação diferente, isto é, cada uma das 
zonas forma um cristal independente. A estes cristais que possuem uma orientação particular 
chamamos de grãos. Na figura 2.10 temos uma representação da disposição dos átomos no 
interior dos grãos. Todos os grãos de uma mesma fase do material possuem a mesma estrutura 
cristalina, diferindo somente na orientação. 
A consequência desta orientação diferente é na fronteira entre os grãos existe uma zona 
de transição entre duas orientações e, por isso, os átomos que fazem parte desta fronteira estão 
mal organizados e com um nível mais alto de energia. A esta região chamamos de contorno de 
grão. O contorno de grão exerce um papel importante nas transformações de fase, onde a maior 
energia dos átomos favorece a nucleação e na deformação plástica, onde tem a função de 
restringir o movimento das discordâncias. 
 
 Figura 2.10 – Representação da distribuição dos átomos em um material policristalino 
(Van Vlack) 
 
 
Estrutura do Ferro Puro 
 Alotropia 
Alotropia é a propriedade que tem certos materiais de mudarem de estrutura cristalina 
dependendo da temperatura em que estiverem. O Ferro puro possui esta propriedade, podendo 
ter os seus átomos organizados em uma estrutura CCC ou em uma estrutura CFC. Desde a 
temperatura ambiente até 912°C o Ferro apresenta uma estrutura cristalina CCC e nestas 
condições é chamado de Ferro . De 912°C até 1394°C apresenta estrutura CFC e é chamado de 
Ferro . 
Finalmente de 1394°C até o ponto de fusão à 1538°C volta a apresentar estrutura CCC, 
sendo chamado de Ferro . Estas alterações na estrutura cristalina produzem uma série de 
implicações tanto nas transformações do Ferro puro quanto nas ligas de Ferro. Por exemplo, 
anteriormente foi citado que a estrutura CCC tem um fator de empacotamento de 0,68 
enquanto que uma estrutura CFC tem um fator de empacotamento de 0,74. Quando o Ferro 
passa de CCC para CFC à 912°C, esta diferença no fator de empacotamento provoca uma 
redução no volume e um aumento na densidade, figura 2.11. 
 
Figura 2.11 – Representação das transformações do Ferro puro no aquecimento e 
resfriamento. 
 
 Solução do Carbono no Ferro 
A aplicação mais importante de transformação alotrópica do Ferro se encontra nas ligas 
Ferro-Carbono. O Carbono forma uma solução sólida intersticial com o Ferro, isto é, os átomos 
de Carbono se colocam nos interstícios da estruturacristalina do Ferro. A consequência prática 
deste tipo de solução é que teremos uma liga de baixo custo e com possibilidades de uma grande 
variação nas propriedades dependendo do teor de Carbono e do tratamento térmico utilizado. 
Nas figuras 2.4 e 2.5 mostramos os interstícios tetraédricos e octaédricos que ocorrem 
nas estruturas CCC e CFC. Estes interstícios variam de tamanho de acordo com a estrutura, os 
interstícios da estrutura CCC são menores do que os da estrutura CFC. Isto significa que de 
acordo com o tamanho do interstício teremos um menor ou maior espaço disponível para que 
um átomo de uma solução intersticial venha se colocar naquela posição. Como os átomos que 
entram em solução são sempre maiores do que os interstícios, cada átomo intersticial produzirá 
uma quantidade de distorção do reticulado cristalino e quanto menor for o interstício maior será 
a distorção. 
No caso da estrutura CCC os raios atômicos máximos possíveis para que não haja distorção 
correspondem a 0,29R para os interstícios tetraédricos e 0,15R para os interstícios octaédricos, 
onde R é o raio atômico do átomo que forma a estrutura. Na estrutura CFC estes valores 
correspondem a 0,23R para os interstícios tetraédricos e 0,41R para os interstícios octaédricos. 
No caso da liga Ferro-Carbono estes valores correspondem a 0,36 angstrons e 0,19 
angstrons para a estrutura CCC, onde o raio atômico do Ferro é 1,24 angstrons, e 0,29 angstrons 
e 0,52 angstrons para a estrutura CFC, onde o raio atômico do Ferro é 1,27 angstrons. Como o 
raio atômico do Carbono é de aproximadamente 0,77 angstrons é fácil notar que em qualquer 
situação teremos uma distorção do reticulado sempre que um átomo de Carbono se colocar em 
um interstício. Nas figuras 2.12 e 2.13 podemos ver uma representação desta situação. Quando 
forma-se a solução Ferro-Carbono, os átomos de Carbono se alojam nos interstícios octaédricos, 
pois estes propiciam uma melhor acomodação, o que implica em uma menor energia de 
distorção. Do acima exposto pode-se entender facilmente que deverá haver uma menor 
solubilidade do Carbono no Ferro  do que no Ferro . No caso do Ferro  a solubilidade máxima 
do Carbono é de aproximadamente 0,025% em peso ou 0,1% em número de átomos, na 
temperatura de 723ºC, enquanto que no Ferro  a solubilidade máxima é de 2,1% em peso ou 
9% em número de átomos, na temperatura de 1148ºC. 
 
Figura 2.12 – Relação entre o tamanho do átomo de Carbono e o interstício octaédrico 
em uma estrutura CCC (Van Vlack) 
 
 Figura 2.13 – Relação entre o tamanho do átomo de Carbono e o interstício octaédrico 
em uma estrutura CFC (Van Vlack). 
 Diagrama Ferro-Carbono 
As ligas Ferro-Carbono ainda hoje representam os materiais de maior utilização prática. 
Isto se deve ao fato de que estas ligas podem apresentar uma grande variação nas suas 
propriedades pela simples variação na quantidade de Carbono e ainda possibilitam que se tenha 
uma gama maior de propriedades se consideramos a possibilidade de deformação plástica e os 
tratamentos térmicos. A base para que este material tenha estas características está 
principalmente atrelado ao fato de que o Ferro puro apresenta transformação alotrópica e que 
o Carbono forma uma solução sólida intersticial com o Ferro. Isto conduz a uma série de 
possibilidades de transformações, cada uma com suas microestruturas típicas, resultando na 
grande variação das propriedades. As transformações em uma liga Ferro-Carbono são 
influenciadas, basicamente, pela temperatura e pelo teor de Carbono. Se considerarmos apenas 
estes dois fatores, poderemos montar um mapa das transformações que irão ocorrer, o qual 
será chamado de diagrama de equilíbrio termodinâmico ou diagrama de fases. 
 Na figura 2.14 podemos ver o diagrama de equilíbrio Ferro-Carbono. Nesta 
representação, podemos ver as fases presentes para cada temperatura e composição, e também 
os pontos que são fundamentais para a compreensão das transformações. Em primeiro lugar 
deve ser observado que o diagrama vai somente até 6,69% de Carbono. Isto se deve ao fato de 
que as ligas acima deste teor não possuem qualquer importância comercial. Em segundo lugar, 
deve ficar claro que as ligas comerciais não são constituídas apenas por Ferro e Carbono, mas 
podem ter em sua composição outros elementos de liga além de pequenas quantidades de 
impurezas que são inerentes ao processo de obtenção do material. Assim sendo, o diagrama 
apresentado na figura 2.14 não representa fielmente o que sucede na prática, mas como 
pequenas quantidades de outros elementos não produzem grandes alterações, podemos utilizá-
lo como base para o nosso estudo. 
O diagrama Ferro-Carbono utilizado na prática, na realidade é um falso diagrama de 
equilíbrio, isto é, ele representa o equilíbrio metaestável entre Ferro e um Carboneto de Ferro 
chamado Cementita que tem fórmula estequiométrica Fe3C. O fato é que a forma mais estável 
da liga Ferro Carbono seria Ferro e Grafita, mas como a grafita pode levar até mesmo anos para 
se formar, o diagrama estável não possui aplicação prática. A figura 2.14 apresenta o diagrama 
metaestável Ferro-Cementita. Em um diagrama de equilíbrio, as fases são sempre representadas 
por letras gregas, mas no caso das ligas Ferro-Carbono estas fases além de serem identificadas 
por letras gregas também receberam um nome. Desta forma teremos as fases denominadas 
ferrita, austenita e cementita, que podem ou não estar presentes na microestrutura do material, 
dependendo do teor de Carbono e da temperatura. Observando-se o diagrama nota-se que este 
apresenta vários pontos que merecem ser destacados. 
O primeiro deles é o que corresponde a uma composição de 2,11% de Carbono a 1148°C. 
Este ponto representa uma fronteira entre as ligas Ferro-Carbono que são caracterizadas como 
AÇOS e as ligas que são caracterizadas como Ferros Fundidos. Assim, aço é uma liga com menos 
de 2,11% de Carbono e Ferro Fundido é uma liga com mais 2,11% de Carbono. A escolha deste 
ponto deve-se ao fato de que, quando resfriamos um aço desde o estado líquido, este sempre 
passará por uma faixa de temperaturas em que a sua microestrutura será composta de uma 
única fase chamada Austenita, o que não acontece para os Ferros fundidos que possuem teores 
de Carbono acima deste valor. 
 
Figura 2.14 – Diagrama de Equilíbrio Ferro-Carbono 
 A austenita também chamada fase , é uma fase derivada do Ferro  que, como se sabe, 
é formado por uma estrutura cúbica de faces centradas. Quando combinarmos o Ferro com o 
Carbono forma-se uma solução sólida intersticial em que é mantida a estrutura cristalina original 
do Ferro . 
Para temperaturas inferiores, o fato de o Ferro  passar para Ferro  produz o 
aparecimento de uma nova fase chamada fase  ou Ferrita. A ferrita também é uma solução 
sólida intersticial de Ferro e Carbono e, a exemplo da fase , é mantida a estrutura cristalina 
cúbica de corpo centrado do Ferro . 
Devido ao fato de que as duas fases citadas acima possuem diferenças em sua estrutura 
cristalina, existe também uma grande diferença de solubilidade do Carbono entre elas. Como 
visto anteriormente, os interstícios da estrutura CFC são maiores do que os interstícios da 
estrutura CCC. Isto conduz a uma solubilidade do Carbono que pode chegar a 2,11% 
(aproximadamente 9% em átomos) na temperatura de 1148ºC para a austenita e somente 
0,025% (aproximadamente 0,1% em átomos) a 723ºC para a ferrita. 
 Conforme o diagrama de fases, a solubilidade do Carbono não é fixa para estas fases, 
podendo variar com a temperatura. Desta maneira a austenita e a ferrita só apresentarão a sua 
solubilidade máxima nas temperaturas indicadas acima, variando tanto para temperaturas 
superiorescomo para temperaturas inferiores. Além disso, o Carbono é um elemento 
estabilizador das austenita, e como podemos ver no diagrama, quando tivermos Ferro puro a 
temperatura mínima em que a austenita é estável é de 912°C mas a medida em que o teor de 
Carbono cresce esta temperatura vai diminuindo até que, para 0,77% de Carbono chegamos ao 
mínimo de 723°C. A partir daí a temperatura aumenta novamente até atingirmos o máximo de 
2,11% para 1148ºC. A ferrita é estável até 912ºC na ausência de Carbono e, à medida que 
aumenta o teor neste elemento, a temperatura diminui até que se atinja a solubilidade máxima 
de 0,025% a 723ºC. Abaixo desta temperatura a solubilidade diminui novamente chegando 
praticamente a zero na temperatura ambiente. 
Como existe um limite de solubilidade do Carbono tanto na austenita quanto na ferrita, o 
excesso de Carbono poderá propiciar a formação de uma terceira fase que é chamada de 
Cementita e que possui estrutura cristalina ortorrômbica, ainda em solução sólida intersticial 
com 6,69% de Carbono. Isto acontece para teores de Carbono maiores do que 0,77% acima de 
723ºC e abaixo de 1148ºC e, para teores maiores que 0,025% abaixo de 723ºC. Desta maneira, 
teremos no diagrama regiões em que o aço é monofásico e regiões em que é bifásico. As regiões 
monofásicas podem ser formadas por ferrita e austenita, enquanto as bifásicas por ferrita e 
cementita e austenita e cementita. Um ponto importante a ser observado é o ponto eutetóide, 
com 0,77% de Carbono a 723ºC. Neste ponto, temos a existência das três fases mencionadas 
acima, ou seja, a ferrita, a austenita e a cementita. A partir deste ponto observamos a 
transformação da austenita em ferrita e cementita. 
 
Tratamento Térmico dos Aços 
 
Introdução 
Há muitos séculos atrás o homem descobriu que com aquecimento e resfriamento 
podia modificar as propriedades mecânicas de um aço, isto é, torná-los mais duro, mais 
mole, mais maleável, etc. 
Mais tarde, descobriu também que a rapidez com que o aço era resfriado e a 
quantidade de carbono que possuía influíam decisivamente nessas modificações. 
O processo de aquecer e resfriar um aço, visando modificar as suas propriedades, 
denomina-se TRATAMENTO TÉRMICO. 
 
Um tratamento térmico é feito em três fases distintas: 
1 - aquecimento 
2 - manutenção da temperatura 
3 - resfriamento 
 
Tipos de tratamentos térmicos 
Existem duas classes de tratamentos térmicos: 
1 - Os tratamentos que por simples aquecimento e resfriamento, modificam as propriedades 
de toda a massa do aço, tais como: 
a - Têmpera 
b - Revenimento 
c - Recozimento 
2 - Os tratamentos que modificam as propriedades somente numa fina camada superficial 
da peça. Esses tratamentos térmicos nos quais a peça é aquecida juntamente com produtos 
químicos e posteriormente resfriado são: 
a - Cementação 
b - Nitretação 
Têmpera 
É o tratamento térmico aplicado aos aços com porcentagem igual ou maior do que 0,4% de 
carbono. 
O efeito principal da têmpera num aço é o aumento de dureza. 
Fases da têmpera 
 1ª Fase: 
– Aquecimento – A peça é aquecida em forno ou forja, até uma temperatura recomendada. 
(Por volta de 800ºC para os aços ao carbono). 
 
2ª Fase: 
– Manutenção da temperatura – Atingida a temperatura desejada esta deve ser 
mantida por algum tempo afim de uniformizar o aquecimento em toda a peça. 
 
3ª Fase: 
– Resfriamento – A peça uniformemente aquecida na temperatura desejada é 
resfriada em água, óleo ou jato de ar. 
 
Efeitos da Têmpera 
1 - Aumento considerável da dureza do aço. 
2 - Aumento da fragilidade em virtude do aumento de dureza. (O aço torna-se muito 
quebradiço). 
Reduz-se a fragilidade de um aço temperado com um outro tratamento térmico 
denominado revenimento. 
Observações: 
1 - A temperatura de aquecimento e o meio de resfriamento são dados em tabelas: 
 
MATERIAL A 
TEMPERAR 
TÊMPERA 
Temperatura 
de pre 
aquecimento 
Temperatura 
de têmpera 
cor do 
material na 
temperatura 
Resfriar 
em 
AÇO 1.040 A 1.050 500 ºC 830 ºC Vermelho Água 
AÇO 1.060 A 1.080 500 ºC 790ºC 
Vermelho 
escuro 
Água e 
Óleo 
AÇO 1.090 500 ºC 775ºC 
Vermelho 
cereja Óleo 
AÇO PRATA 550 ºC 800ºC 
Vermelho 
escuro Óleo 
AÇO P/ MOLAS 600 ºC 875ºC Vermelho claro Óleo 
AÇO RAPIDO 550ºC a 900ºC 1300ºC Branco Óleo 
 
2 - O controle da temperatura durante o aquecimento, nos fornos, é feito por 
aparelhos denominados pirômetros. 
Nas forjas o mecânico identifica a temperatura pela cor do material aquecido. 
3 - De início o aquecimento deve ser lento, (pré-aquecimento), afim de não provocar 
defeitos na peça. 
4 - A manutenção da temperatura varia de acordo com a forma da peça; o tempo 
nesta fase não deve ser além do necessário. 
 
Revenimento 
 
É o tratamento térmico que se faz nos aços já temperados, com a finalidade de 
diminuir a sua fragilidade, isto é, torná-lo menos quebradiço. 
O revenimento é feito aquecendo-se a peça temperada até uma certa temperatura 
resfriando-a em seguida. As temperaturas de revenimento são encontradas em tabelas 
e para os aços ao carbono variam entre 210ºC e 320ºC. 
 
Fases do Revenimento 
1ª Fase: 
– Aquecimento – Feito geralmente em fornos controlando-se a temperatura com 
pirômetro. 
Nos pequenos trabalhos o aquecimento pode ser feito apoiando-se a peça polida, 
em um bloco de aço aquecido ao rubro. 
 
O forte calor que desprende do bloco, aquece lentamente a peça, produzindo nesta 
uma coloração que varia à medida que a temperatura aumenta. Essas cores, que 
possibilitam identificar a temperatura da peça, são denominadas cores de revenimento. 
Tabela de cores de revenimento dos aços ao carbono. 
Amarelo claro 
210ºC 
Castanho 
avermelhado 270ºC 
Amarelo palha 220ºC Violeta 280ºC 
Amarelo 230ºC Azul escuro 290ºC 
Amarelo escuro 240ºC Azul marinho 300ºC 
Amarelo ouro 250ºC Azul claro 310ºC 
Castanho claro 260º Azul acizentado 320º 
 
2ª Fase: 
– Manutenção da Temperatura – Possível quando o aquecimento é feito em fornos. 
3ª Fase: 
– Resfriamento – O resfriamento da peça pode ser: 
– Lento – deixando-a esfriar naturalmente. 
– Rápido – mergulhando-a em água ou óleo. 
 
 
Efeitos do revenimento 
Diminui um pouco a dureza da peça temperada, porém aumenta consideravelmente 
a sua resistência aos choques. 
Geralmente, toda peça temperada passa por um revenimento, sendo até comum 
dizer-se “peça temperada” ao invés de “peça temperada e revenida”. 
 
Recozimento 
 
O recozimento é o tratamento térmico que tem por finalidade eliminar a dureza de 
uma peça temperada ou normalizar materiais com tensões internas resultantes do 
forjamento, da laminação, trefilação etc. 
 
Tipos de recozimento 
1 - Recozimento para eliminar a dureza de uma peça temperada. 
 
2 - Recozimento para normalizar a estrutura de um material. 
 
Fazes do recozimento 
1ª Fase: 
Aquecimento – A peça é aquecida a uma temperatura que varia de acordo com o 
material a ser recozido. (Entre 500ºC e 900ºC). 
A escolha da temperatura de recozimento é feita mediante consulta a uma tabela. 
Exemplo de tabela: 
Material 
Temp. de 
recozimento 
Aço 1040 - 1050 800ºC 
Aço 1060 - 1080 785ºC 
Aço 1090 770ºC 
Aço rápido 900ºC 
 
2ª Fase: 
Manutenção da temperatura – A peça deve permanecer aquecida por algum tempo 
na temperatura recomendada para que as modificações atinjam toda a massa da 
mesma. 
 
3ª Fase: 
Resfriamento – O resfriamento deve ser feito lentamente, tanto mais lento quanto 
maior for a porcentagem de carbono do aço. 
No resfriamento para recozimento adotam-se os seguintes processos: 
1 - Exposição da peça aquecida ao ar livre. (Processo pouco usado).

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