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AVALIAÇÃO AMBIENTAL ESTRATÉGICA M in istro d e E sta d o d o M eio A m b ien te S ecre tÆrio d e Q u a lid a d e A m b ien ta l n o s A sse n ta m en to s H u m a n o s - S Q A E q u ip e d o P ro jeto In stru m en to s d e G es tª o - P R O G E S T ˆ O Jo sØ C arlo s C arv a lh o E d u ard o S a le s N o v ae s Ia ra Vero ca i A n a E liza b e th F e rn an d es I lm a d as G ra as d e S o u sa Jo rg e B rito B a tis ta L ia M arc ia S ilv a H o ra M a rie K a ly v a M a rilia Va lle d o s R e is N e lso n A m ara l N u n an E u s tÆq u io D ire to ra d o P ro g ra m a Avaliação Ambiental Estratégica Ministério do Meio Ambiente-MMA Centro de Informação e Documentação Luís Eduardo Magalhães - CID Ambiental Esplanada dos Ministérios - Bloco B - térreo 70068-900 - Brasília, DF Tel: 5561 317-1235 Fax: 5561 224-5222 e-mail: cid@mma.gov.br Impresso no Brasil Avaliação ambiental estratégica --- Brasília: MMA/SQA, 2002. 92p. 1. Meio Ambiente 2. Avaliação ambiental 3. Política ambiental 4. Planejamento I. Ministério do Meio Ambiente. CDU 504 Ministério do Meio Ambiente - MMA Secretaria de Qualidade Ambiental nos Assentamentos Humanos - SQA Projeto Instrumentos de Gestão - PROGESTÃO Brasília 2002 Avaliação Ambiental Estratégica EQUIPE TÉCNICA CONSÓRCIO PRIME/TETRAPAN Maria do Rosário Partidário – Consultora Carlos Henrique Aranha – Prime Engenharia Ltda Lídia Biazzi Lu – Tetraplan Ivan Carlos Maglio – Consultor MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE Iara Verocai – Edição e revisão de texto Nelson Amaral Nunan Eustáquio – Revisão de texto Ministério do Meio Ambiente - MMA Secretaria de Qualidade Ambiental nos Assentamentos Humanos - SQA Projeto Instrumentos de Gestão - PROGESTÃO Sumário APRESENTAÇÃO ...........................................................................................................7 1. ANTECECENTES ...........................................................................................................9 2. FUNDAMENTOS DA AAE .......................................................................................... 11 2.1. Objetivos .................................................................................................................. 11 2.2. Bases conceituais ......................................................................................................12 2.2.1.Terminologia ....................................................................................................12 2.2.2. Definição ........................................................................................................12 2.2.3. Tipos de AAE e suas aplicações ......................................................................13 2.3. Princípios diretores ...................................................................................................15 2.4. Relações da AAE com outros instrumentos de política ambiental ................................17 2.5. Modelos institucionais e de procedimentos ................................................................19 2.6. Requisitos para a implementação da AAE .................................................................21 3. EXPERIÊNCIA DE APLICAÇÃO DA AAE ...................................................................24 3.1. Experiência internacional ...........................................................................................24 3.1.1. Nova Zelândia ................................................................................................24 3.1.2. Canadá ...........................................................................................................26 3.1.3. Dinamarca ......................................................................................................28 3.1.4. Grã-Bretanha ..................................................................................................31 3.1.5. Holanda ..........................................................................................................33 3.1.6. Estados Unidos da América ............................................................................36 3.1.7. Diretrizes adotadas pela União Européia ..........................................................39 3.1.8. Banco Mundial ...............................................................................................40 3.2. Experiência brasileira ................................................................................................42 4. MÉTODOS E TÉCNICAS ...............................................................................................48 4.1. Antecedentes ............................................................................................................48 4.2. Procedimentos técnicos básicos ................................................................................49 4.2.1. Questões iniciais .............................................................................................49 4.2.2. Etapas seqüenciais ..........................................................................................50 5. SUBSÍDIOS À APLICAÇÃO DA AAE NO BRASIL .....................................................61 5.1. Consensos ................................................................................................................61 5.2. A AAE e a realidade brasileira ..................................................................................62 5.3. Recomendações gerais para a instituição da AAE ......................................................64 5.4. Implementação da AAE no âmbito federal .................................................................68 5.4.1. Plano Plurianual de Investimento ......................................................................68 5.4.2. Setor de energia elétrica ..................................................................................74 5.4.3. Setor de transporte .........................................................................................77 GLOSSÁRIO .......................................................................................................................81 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................89 Avaliação Ambiental Estratégica 8 Avaliação Ambiental Estratégica 9 Apresentação A Agenda de Prioridades do Ministério do Meio Ambiente - MMA estabelece o aprimoramento do licenciamento ambiental e dos demais instrumentos de política e gestão ambiental como um dos principais objetivos das ações a serem desenvolvidas pela Secretaria de Qualidade Ambiental nos Assentamentos Humanos (SQA). Tal aprimoramento deve contemplar não só os aspectos técnicos, administrativos e políticos, mas também a efetividade do emprego desses instrumentos, com vistas à real melhoria da qualidade do meio ambiente no País. A SQA tem como objeto de trabalho, por um lado, os problemas ambientais de âmbito nacional, referentes ao controle da poluição e à implantação de empreendimentos de infra-estrutura e desenvolvimento econômico (Agenda Marrom). Por outro lado, deve fazer face aos problemas associados às carências que ainda impedem a boa prática e a modernização da gestão ambiental por parte das entidades de meio ambiente, principalmente as deficiências referentes à implementação dos instrumentos de apoio ao licenciamento ambiental (monitoramento, fiscalização, auditoria, gestão de risco, ordenamento ambiental) e à promoção da sustentabilidade financeira das ações das referidas entidades. No processo de modernização da gestão, conforme projetada pelo MMA, se destacam a implementação de diálogo e a articulação institucional com os setores estratégicos de Governo, visando à construção de agendas ambientais. A iniciativa de diálogo setorial, promovida pelo MMA, rompecom a tendência de ações corretivas e individualizadas, e passa a uma postura preventiva, mais pró-ativa, com os diferentes usuários dos ativos ambientais, notadamente os setores de energia elétrica, petróleo, transporte e assentamento rural. Por outro lado, investe no aprimoramento técnico das atividades de licenciamento e gestão ambiental, tanto em nível estadual quanto federal, por intermédio de projetos de cooperação com o IBAMA e entidades estaduais de meio ambiente, destacando-se Programa de Fortalecimento Institucional para o Licenciamento Ambiental, resultado do Acordo de Empréstimo 1013/AF – BR, Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID. O referido Programa tem como objetivos fortalecer a operacionalização, estabelecer condições de sustentabilidade, modernizar, normalizar e divulgar normas e procedimentos e promover a desconcentração das atividades do sistema de licenciamento ambiental, no âmbito federal. Concentra-se no reforço e na capacitação técnica das equipes do IBAMA que operam em Brasília e suas unidades regionais, na implementação de sistemas de informação e na elaboração de uma série de manuais técnicos e de procedimentos que servirão como base de conhecimento e instrução para o aprimoramento dos processos de licenciamento ambiental de competência federal. Em que pese a ênfase dada ao licenciamento ambiental, faz parte ainda das diretrizes do MMA a consideração dos preceitos de proteção do meio ambiente nas diferentes etapas de planejamento dos demais setores de governo. Um dos problemas identificados na prática do Avaliação Ambiental Estratégica 10 licenciamento ambiental é a interferência de questões ambientais pertinentes a esferas superiores de tomada de decisão nas discussões e negociações envolvidas na análise e na aprovação de projetos de atividades isoladas. Assim, complementando a estratégia de trabalho da SQA, estão sendo desenvolvidas algumas atividades com vistas à implementação sistemática da avaliação ambiental estratégica no País. Como parte do Programa de Fortalecimento Institucional para o Licenciamento Ambiental foi elaborado o estudo Avaliação Ambiental Estratégica, objeto desta publicação, que consolida os resultados do trabalho Estudos para Elaboração do Manual de Avaliação Ambiental Estratégica (AAE), objeto de contrato firmado com Consórcio PRIME/TETRAPLAN, e incorpora elementos colhidos em seminários de trabalho realizados em 2001, com a participação de representantes de órgãos e instituições governamentais de meio ambiente e planejamento. O presente estudo constitui a primeira abordagem do MMA sobre o tema avaliação ambiental estratégica, tendo como objeto divulgá-lo para profissionais do Governo e da iniciativa privada e, como segundo, motivar dos meios acadêmicos e governamentais para o seu desenvolvimento, com vistas à sua adoção gradual no âmbito dos processos de planejamento dos diferentes setores de governo. Para isto, apresenta a síntese dos conceitos fundamentais e do conhecimento técnico básico sobre o assunto, a experiência de aplicação da avaliação ambiental na formulação de políticas, planos e programas em diversos países, na União Européia, no Banco Mundial e no Brasil, e oferece sugestões sobre as medidas e os procedimentos necessários para sua prática no contexto de alguns setores de governo. Outras iniciativas que merecem destaque dizem respeito à cooperação com o setor de petróleo voltadas para aplicação da avaliação ambiental estratégica ao planejamento dos campos de concessão de exploração de petróleo e para a realização de estudos com vistas à definição de procedimentos e critérios técnicos para a implementação da avaliação ambiental estratégica no âmbito do planejamento dos setores de petróleo e geração de energia elétrica. Ainda sobre o tema, ressalta-se as gestões realizadas pelo MMA junto ao Ministério do Planejamento Orçamento e Gestão que decidiu contratar estudos de avaliação ambiental estratégica dos Eixos Norte e Oeste do Programa Avança Brasil. Eduardo Sales Novaes Secretário de Qualidade Ambiental nos Assentamentos Humanos Ministério do Meio Ambiente Avaliação Ambiental Estratégica 11 1. Antecedentes A última década assistiu a uma rápida e controversa evolução da política ambiental: de um lado, recrudesceu o questionamento sobre decisões tomadas à revelia das devidas considerações ambientais e, de outro, não faltaram mecanismos e instrumentos legais, aparatos técnicos e metodológicos e soluções operacionais para prevenir e resolver problemas críticos de degradação ambiental. O questionamento deveu-se, fundamentalmente, ao fato de não se ter encontrado resposta para os novos desafios proclamados durante a Conferência das Nações Unidas para o Ambiente e o Desenvolvimento, de 1992, além de não se ter conseguido integrar, de forma clara e definitiva, as questões ambientais, econômicas e sociais, em busca do desenvolvimento sustentável. Quanto aos mecanismos legais e outras providências de aprimoramento da gestão ambiental, os resultados sentiram-se por conta da melhoria dos instrumentos aplicáveis às decisões a respeito da implementação de novas políticas e programas de desenvolvimento que afetam a qualidade do meio ambiente. Neste sentido, foram significativos os avanços processuais e metodológicos da avaliação ambiental estratégica (AAE). Outros dizem respeito ao aumento da sensibilização ambiental dos setores público e privado e o emprego voluntário de instrumentos de controle ambiental, como a auditoria ambiental e os programas de gestão ambiental, surgidos no rastro das normas ISO 14 000, tendo sido inegável a mudança de valores e atitude, por parte dos empresários, relativa às responsabilidades de proteção do meio ambiente. No Brasil, o progresso do arcabouço jurídico institucional tem sido relevantes. Alguns marcos jurídicos importantes reforçaram, na década de 90, a base legal da gestão ambiental e os princípios e objetivos da Política Nacional de Meio Ambiente, que havia sido estabelecida em 1981. A Constituição Federal de 1988 já os havia confirmado, consagrando a exigência de prévia avaliação de impacto ambiental para a implantação de atividades e obras que afetem o meio ambiente. Cumprindo outro preceito constitucional, a Lei n.º 9.433, de 08 de janeiro de 1997, criou o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, determinando as responsabilidades institucionais e os instrumentos de gestão de bacias hidrográficas e proteção da qualidade e uso sustentável da água. A Lei de Crimes Ambientais (Lei n.º 9.605, de 13 de fevereiro de 1998), por sua vez, definiu o que se entende por crime ambiental e estabeleceu penalidades, sujeitando a detenção e multa as pessoas físicas e jurídicas que implantarem qualquer empreendimento potencialmente poluidor sem as devidas autorizações e licenças ambientais, causarem poluição ou deixarem de cumprir dever legal ou contratual referente a obrigação de relevante interesse ambiental. Outros domínios da política ambiental também foram objeto de leis e regulamentos, tais como a proteção dos ecossistemas e a conservação da biodiversidade, o ambiente urbano, o ordenamento ambiental e a proteção das comunidades indígenas. Ao mesmo tempo, uma série de resoluções do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) regulamentou importantes aspectos da política ambiental, entre as quais se destacam os referentes à gestão ambiental das atividades potencialmente poluidoras e modificadoras do meio ambiente, em particular o licenciamento ambiental, a delegação de competência aos municípios para o licenciamento de atividades de impacto local e a compensação, por parte dos empreendedores, dos impactos negativos e do uso de recursos ambientais sob forma de investimento em conservação ambiental. Avaliação Ambiental Estratégica 12 Nas esferas das Unidades da Federação, os avanços da legislação ambiental foram menos significativos, embora tenhamsurgido algumas e regulamentos referentes a instrumentos avançados de gestão ambiental, como o ICMS ecológico e a auditoria ambiental. Em alguns municípios, a partir das leis orgânicas editadas em 1990, criaram-se sistemas institucionais de meio ambiente, acompanhados da legislação pertinente. A implementação da avaliação de impacto ambiental e do licenciamento de projetos de atividades de significativo potencial poluidor, a cargo dos órgãos de meio ambiente, consolidou-se como instrumento preventivo de política e gestão ambiental, apesar das dificuldades conjunturais por que tem passado a Administração Pública. Foram significativos os programas de capacitação institucional que tentaram minorar tais dificuldades, com apoio interno e externo, embora nem sempre tenham sido inteiramente aproveitados. A efetividade da avaliação de impacto ambiental se viu, também, ameaçada pela falta de consideração das variáveis ambientais em etapas de planejamento anteriores àquela de formulação dos projetos de grandes obras públicas e empreendimentos de iniciativa privada. Foram freqüentes os casos em que o processo de licenciamento e avaliação de impacto ambiental acabou por servir de ocasião para discussões a respeitos de questões relevantes em termos de suas conseqüências ambientais, porém pertinentes a diretrizes políticas de desenvolvimento econômico ou ao planejamento setorial. Por exemplo, o licenciamento de projetos de rodovias e ferrovias foi perturbado por conflitos e discussões a respeito da política de transporte, e o de usinas de geração de energia elétrica, por questões referentes aos efeitos ambientais da matriz energética ou, no caso de hidrelétricas, ao aproveitamento múltiplo das respectivas bacias hidrográficas. O licenciamento e a avaliação de impacto ambiental são instrumentos cujos objetivos limitam- se a subsidiar as decisões de aprovação de projetos de empreendimentos individuais, e não os processos de planejamento e as decisões políticas e estratégicas que os originam. As questões e situações conflituosas em termos do uso dos recursos e da proteção ambiental surgidas nas diferentes etapas de formulação de políticas públicas e planejamento devem ser respondidas e solucionadas por meio de um processo seqüencial de entendimento e avaliação das conseqüências ambientais de sua implementação. Esta foi das razões por que se desenvolveu a AAE, que é, reconhecidamente, o instrumento de política ambiental adequado para promover a articulação das várias dimensões de uma dada política, um plano ou um programa de desenvolvimento, permitir que se explicitem com clareza seus objetivos e as questões ambientais relacionadas à sua implementação, orientar os agentes envolvidos no processo e indicar os caminhos para sua viabilização econômica, social e ambiental, facilitando ainda a avaliação de impactos cumulativos porventura resultantes das diversas ações a serem desenvolvidas. Outra razão, além das insuficiências observadas na avaliação ambiental de projetos, foi a crescente consciência, em diversos países e instituições internacionais, de que a formulação e a implementação de políticas, planos e programas deve ter como base o uso racional dos recursos, a proteção do meio ambiente, a prevenção da degradação ambiental e, acima de tudo, a promoção dos princípios e das práticas do desenvolvimento sustentável. Avaliação Ambiental Estratégica 13 2. Fundamentos da AAE 2.1 Objetivos A Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) é um instrumento de política ambiental que tem por objetivo auxiliar, antecipadamente, os tomadores de decisões no processo de identificação e avaliação dos impactos e efeitos, maximizando os positivos e minizando os negativos, que uma dada decisão estratégica – a respeito da implementação de uma política, um plano ou um programa – poderia desencadear no meio ambiente e na sustentabilidade do uso dos recursos naturais, qualquer que seja a instância de planejamento. Entre os benefícios que se podem esperar como resultado da aplicação da AAE, destacam-se os seguintes: • visão abrangente das implicações ambientais da implementação das políticas, planos e programas governamentais, sejam eles pertinentes ao desenvolvimento setorial setoriais ou aplicados a uma região; • segurança de que as questões ambientais serão devidamente tratadas; • facilitação do encadeamento de ações ambientalmente estruturadas; • processo de formulação de políticas e planejamento integrado e ambientalmente sustentável; • antecipação dos prováveis impactos das ações e projetos necessários à implementação das políticas e dos planos e programas que estão sendo avaliados; e • melhor contexto para a avaliação de impactos ambientais cumulativos potencialmente gerados pelos referidos projetos. A contribuição para um processo de sustentabilidade, a geração de um contexto de decisão mais amplo e integrado com a proteção ambiental e a melhor capacidade de avaliação de impactos cumulativos constituem os benefícios mais notáveis da AAE, em sua capacidade de instrumento de política ambiental. Além do mais, a AAE traz o benefício de facilitar a avaliação individual dos projetos implantados como resultado dos planos e programas que lhes deram origem. O Quadro 2.1, extraído do Estudo Internacional da Eficácia da Avaliação Ambiental (Sadler, 1996 e 1998), sistematiza os objetivos da AAE, relacionando-os aos citados benefícios. Apoiar o processo de promoção do desenvolvimento sustentável Fortalecer e facilitar a avaliação de impacto ambiental de projetos · Decisão que integra aspectos ambientais e de desenvolvimento · Formulação de políticas e planos ambientalmente sustentáveis · Consideração de opções e alternativas ambientais melhores e mais praticáveis · Identificação, o mais cedo possível, dos impactos potenciais das políticas, planos e programas de governo e dos efeitos ambientais cumulativos das ações e projetos necessários à sua implementação · Consideração das questões estratégicas relacionadas à justificativa da necessidade e às propostas de localização dos futuros projetos · Redução do tempo e dos recursos necessários à avaliação de impacto ambiental de projetos individuais Avaliação Ambiental Estratégica 14 Quadro 2.1 - Objetivos e benefícios da AAE 2.2 Bases Conceituais 2.2.1 Terminologia A importância e a necessidade de se adotar um instrumento de política ambiental com os objetivos da AAE é amplamente reconhecida, embora o seu desenvolvimento ainda desperte algumas controvérsias. Uma delas diz respeito à terminologia. A expressão avaliação ambiental estratégica corresponde à tradução direta da inglesa strategic environmental assessment, designação genérica que se convencionou adotar para identificar o processo de avaliação ambiental de políticas, planos e programas. Tanto em inglês como em português a expressão não reúne o consenso dos profissionais da área de meio ambiente. A razão é de ordem etimológica e deve-se aos conceitos de meio ambiente e estratégia, revelando-se na aplicação prática as interpretações distintas da AAE. Com efeito, a designação adotada tem influenciado a comunicação sobre a matéria, bem como sua percepção por parte dos que a promovem e utilizam. Assim, têm surgido divergências em relação à amplitude atribuída ao conceito de meio ambiente, uma vez que, em alguns países, apenas as suas dimensões físicas e bióticas são consideradas. Em outros, meio ambiente adquire conotação mais ampla, que inclui, além dos fatores de ordem física e biótica, o homem e as atividades humanas em suas dimensões econômicas, sociais, institucionais e políticas. Por outro lado, a palavra estratégia é também passível de diversas interpretações. Para alguns, uma estratégia tem, essencialmente, natureza política de médio a longo prazo; para outros, generaliza- se o conceito de estratégia, passando-se ele a incluir tudo aquilo que possa acontecer no futuro,em qualquer escala temporal e espacial, desde a estratégia de implantação de um projeto até às estratégias de política e desenvolvimento regional ou setorial. Quaisquer que sejam os conceitos de meio ambiente e estratégia que se adotem, terá que existir sempre uma estratégia objeto de avaliação e, portando, de aplicação da AAE, e a avaliação ambiental deverá ser feita na mais ampla concepção de meio ambiente, considerando-se integralmente todas as suas dimensões e os princípios da sustentabilidade. 2.2.2 Definição A forma mais simples de se definir a AAE é como “a avaliação dos impactos ambientais de uma política, um plano ou um programa”. Esta definição, contudo, é demasiado vaga. Diversas têm sido as definições sugeridas para AAE, algumas associadas ao conceito de avaliação de impacto ambiental de projetos (Therivel, et. al., 1992), outras apoiadas no conceito de gestão ambiental e desenvolvimento sustentável (Sadler e Verheem, 1996). Propõe-se, portanto, uma definição de AAE que procure conciliar a noção de procedimento sistemático, pró-ativo e participativo, decorrente dos princípios da avaliação de impacto ambiental, com a natureza contínua e estratégica dos processos decisões a que se deve aplicar e, ainda, com a necessidade de se garantir uma perspectiva integradora das vertentes fundamentais de um processo de sustentabilidade: Avaliação Ambiental Estratégica 15 Avaliação Ambiental Estratégica é o procedimento sistemático e contínuo de avaliação da qualidade do meio ambiente e das conseqüências ambientais decorrentes de visões e intenções alternativas de desenvolvimento, incorporadas em iniciativas tais como a formulação de políticas, planos e programas (PPP), de modo a assegurar a integração efetiva dos aspectos biofísicos, econômicos, sociais e políticos, o mais cedo possível, aos processos públicos de planejamento e tomada de decisão (Partidário, 1999). A AAE fundamenta-se nos princípios da avaliação de impacto ambiental (IAIA/IEA, 1999), constituindo, porém, um novo instrumento de gestão ambiental, que está associado aos seguintes aspectos: • conceito ou visão de desenvolvimento sustentável nas políticas, nos planos e nos programa; • natureza estratégica das decisões; • natureza contínua do processo de decisão; e • valor opcional decorrente das múltiplas alternativas típicas de um processo estratégico. A AAE é um instrumento de caráter político e técnico e tem a ver com conceitos e não com atividades específicas em termos de concepções geográficas e tecnológicas. Pode-se concluir, portanto, que a AAE não se confunde com: • a avaliação de impacto ambiental de grandes projetos, como os de rodovias, aeroportos ou barragens, que normalmente afetam uma dada área ou um local específico, envolvendo apenas um tipo de atividade; • as políticas, planos ou programas de desenvolvimento integrado que, embora incorporem algumas questões ambientais em suas formulações, não tenham sido submetidos aos estágios operacionais de avaliação ambiental, em especial, à uma apreciação de alternativas baseada em critérios e objetivos ambientais, com vista à tomada de decisão; e • os relatórios de qualidade ambiental ou as auditorias ambientais, cujos objetivos incluem o controle periódico ou a gestão de impactos ambientais das atividades humanas, mas que não possuem como objetivo específico informar previamente a decisão relativa aos prováveis impactos de alternativas de desenvolvimento. 2.2.3 Tipos de AAE e suas aplicações A prática de aplicação da AAE ainda é limitada, mas sua importância e o papel que pode desempenhar nos processos de desenvolvimento sustentável vêm sendo discutidos há alguns anos. Sua necessidade é reconhecida e confirmada pela experiência, embora falte encontrar os modelos que melhor se ajustem a cada processo de decisão e, assim, tornem eficaz a sua aplicação. Freqüentemente, a AAE é vista como um instrumento único, pressupondo-se que sejam os mesmos os critérios, procedimentos e técnicas de avaliação a serem aplicados, quer se trate da avaliação de políticas, planos ou programas. Contudo, a prática tem demonstrado o contrário, tendo a AAE se revelado um instrumento extraordinariamente flexível. Com efeito, enquanto o processo de avaliação de impacto ambiental, dirigido ao licenciamento ambiental de projetos, apresenta aproximadamente as mesmas características, qualquer que seja a natureza do empreendimento (diferentes tipos de obra de infra-estrutura ou atividade econômica), distinguindo- Avaliação Ambiental Estratégica 16 se apenas no conteúdo substantivo dos estudos de impacto ambiental, o processo de AAE, de acordo com o objeto de sua aplicação, assume distintas e variadas formas em termos tanto dos modelos institucionais em que opera como do seu conteúdo técnico. No Quadro 2.2, sistematizam-se os tipos de AAE mais citados na literatura e para os quais é possível reunir um conjunto de estudos de caso (CE-DGXI, 1996; Therivel & Partidário, 1996, Partidário & Clark, 2000). Contudo, uma análise mais detalhada de casos representativos permite concluir que o principal aspecto comum a esses tipos é a comunhão dos princípios de avaliação ambiental e, ainda, o fato de que todos são empregados em estágios de planejamento e decisão anteriores aos de avaliação de projetos. Processualmente, e mesmo em termos de abordagem metodológica, os tipos de AAE aplicam-se em contextos diferentes quanto aos respectivos modelos institucionais e operacionais. Por exemplo, a avaliação ambiental programática (Programmatic environmental assessment) tem sido usada, nos Estados Unidos, apenas para a avaliação ambiental de planos e programas. Esta é uma das razões pela qual, nos EUA, não se pode falar em prática de avaliação ambiental de políticas (Clark, 2000). Por outro lado, na Holanda, surgiram três abordagens distintas da AAE, a saber: teste ambiental (E-Test) para o trato de avaliação de propostas de legislação; avaliação de impacto ambiental estratégica, para planos e programas; e análise ambiental estratégica, para programas de cooperação internacional, em contextos participativos. Quadro 2.2 - Tipos Formais de AAE • Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) – termo genérico que identifica o processo de avaliação dos impactos ambientais de políticas, planos e programas (PPP); • Avaliação de Impactos de Políticas (Policy Impact Assessment) – termo adotado no Canadá para particularizar o processo de avaliação de impacto ambiental de políticas; • Teste Ambiental (Environmental Test – E-test) – utilizado na Holanda para avaliação de políticas (propostas de legislação), utilizando um procedimento específico baseado numa listagem, critérios de sustentabilidade; • Avaliação Ambiental Regional (Regional EA) – tipo de AAE estabelecido pelo Banco Mundial para a avaliação das implicações ambientais e sociais de âmbito regional de propostas de desenvolvimento multi- setorial, numa dada área geográfica e durante um período determinado; • Avaliação Ambiental Setorial (Sectoral EA) – tipo de AAE estabelecido pelo Banco Mundial para a avaliação de políticas e de programas de investimento setoriais, envolvendo sub-projetos múltiplos (apóia também a integração de questões ambientais a planos de investimento de longo prazo); • Supervisão Ambiental (Environmental Overview) – adotado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) no processo de formulação de programas, para a identificação de oportunidades, impactos ambientais e sociais e a incorporação de medidas de mitigação na revisão de programas; • Análise Ambiental Estratégica (Strategic Environmental Analysis) – abordagem utilizada pela Agência Internacional de Financiamento da Holanda para a avaliação de planos e programas, por meio de procedimento participativo; • Avaliação de Impacto Ambiental Estratégica (Strategic Environmental Impact Assessment) – termo utilizado na Holanda para a avaliaçãode planos e programas, seguindo-se os mesmos procedimentos da avaliação de impacto ambiental de projetos; e • Avaliação Ambiental Programática (Programmatic Environmental Assessment) – tipo estabelecido nos Estados Unidos para a avaliação de grupos de projetos referidos a uma mesma área geográfica ou que guardam similaridades em termos de tecnologia e tipologia. Avaliação Ambiental Estratégica 17 A natureza diferencial dos tipos de AAE diz respeito ao amplo leque de decisões estratégicas que seus procedimentos pode vir a subsidiar, conforme se exemplifica no Quadro 2.3. Quadro 2.3 - Âmbito de Aplicação da AAE • Tratados Internacionais • Processo de Privatização • Programas Operacionais de Ajustamento • Programas Operacionais de Estruturação • Orçamentos Nacionais • Planos Plurianuais de Investimento • Propostas de Legislação e Regulamentação • Políticas Globais e Setoriais • Planejamento Físico de Uso do Solo • Planejamento dos Recursos Hídricos • Planejamento Setorial 2.3 Princípios Diretores Para que a AAE possa ser eficaz, um certo número de condições devem se fazer presentes, podendo elas serem entendidas como os princípios de boa prática da AAE (Quadro 2.4), grande parte dos quais se originam da boa prática da avaliação de impacto ambiental. É fundamental que a aplicação da AAE ocorra sob uma estrutura política integrada e de sustentabilidade que, por sua vez, forneça um referencial para a avaliação. No contexto da política, deverão estar definidos os objetivos de desenvolvimento sustentável e as metas de qualidade ambiental a serem alcançadas (benchmarks), que servirão de referência para a avaliação. O caráter integrador da estrutura política é que assegura a relação substantiva e de resolução que a AAE deve manter com os mecanismos tradicionais de tomada de decisão. É fundamental, ainda, definir as questões que se entendem como significativas ou relevantes no quadro da avaliação ambiental, pois, não apenas é impossível avaliar todas as prováveis implicações de uma proposta de estratégia como, em processos tão complexos, é naturalmente diverso o entendimento dos diversos atores. Finalmente, deve-se assegurar a transparência do processo de decisão, uma vez que, tal como a avaliação de impacto ambiental, a AAE é, acima de tudo, um processo público de avaliação. A AAE tem natureza política e de decisão, mais do que técnica. Deste modo, o contexto institucional em que se aplica é fundamental para a sua eficácia. Um dos princípios diretores essenciais da AAE é, portanto, a identificação do quadro de funções e responsabilidades das instituições envolvidas, assim como suas inter-relações, para que as avaliações ambientais das propostas de estratégia sejam conduzidas de forma efetiva. As regras básicas devem estar definidas em regulamento geral, mesmo quando o quadro institucional e legal em vigor e a natureza da decisão a ser tomada indiquem que se devem adotar formas e procedimentos de AAE meramente indicativos. Avaliação Ambiental Estratégica 18 Outro conjunto essencial de princípios diretores da AAE refere-se aos procedimentos, ou seja, à definição das formas, à seqüência das etapas e seus respectivos prazos, ao conteúdo e a outros aspectos operacionais da AAE, que devem ser adaptáveis, o mais que for possível, aos processos correntes de planejamento e decisão. É mais útil integrar os referidos procedimentos a estes processos, introduzindo elementos de avaliação nos seus conteúdos estratégicos, do que submetê-los a outras rotinas processuais, diferentes e independentes, o que aumentaria ainda mais a complexidade da AAE. Os procedimentos devem abranger, no mínimo, as seguintes questões: Quadro de Política • Estratégias de sustentabilidade • Objetivos definidos e respectivas metas, incorporados a planos de ação para o desenvolvimento sustentável • Relacionamento entre a AAE e os mecanismos de tomada de decisão • Critérios e mecanismos para avaliar significância dos impactos • Sistemas abertos e verificáveis Institucionais • Quadro institucional • Estrutura organizacional • Definição de responsabilidades e meios de verificação • Quadro de regulamentação, sempre que necessário Procedimentais • Integração com o processo de desenvolvimento de políticas, planos e programas • Foco nos elementos de política/estratégia fundamentais • Definição do tipo de política, plano e programa a que se aplica a AAE • Definição de quando se deve aplicá-la • Foco nas questões fundamentais, por meio de perguntas corretas • Âmbito abrangente de intervenção • Âmbito compatível com a importância dos prováveis impactos • Identificação e comparação das opções igualmente válidas • Integração de fatores físicos, ecológicos, socioeconômicos, institucionais e políticos • Envolvimento público como elemento fundamental • Objetivos e termos de referência claramente definidos • Diretrizes claras que permitam a aplicação da AAE • Abordagens metodológicas simples • Relatórios sobre a avaliação e decisões acessíveis ao público • Monitoramento e acompanhamento da implementação das decisões avaliadas • Revisão independente do processo e dos relatórios de avaliação ambiental Fonte: Partidário 1996; Sadler 1996 Quadro 2.4 - Princípios de Boa Prática da AAE Avaliação Ambiental Estratégica 19 • a definição do conteúdo da avaliação e a seqüência e prazos de suas etapas, que devem ser adequadas a cada contexto, nacional ou regional, a que se aplica a AAE. O conteúdo deve ser tão amplo quanto possível, mas, acima de tudo, concentrar-se nas questões mais significativas, adotando uma forma integrada de avaliação compatível com a importância dos prováveis impactos da decisão estratégica que se deve tomar; • o envolvimento e a participação do público, questão fundamental por ser a AAE um instrumento de gestão ambiental de caráter democrático. Mais uma vez, deve-se recorrer de preferência a procedimentos porventura existentes e praticáveis de participação da sociedade, disponibilizando-se a tempo a informação sobre a decisão estratégica e suas implicações ambientais, por meios adequados de comunicação; e • mecanismos de revisão independentes e acompanhamento da implementação da decisão estratégica que, em face da complexidade inerente aos processos de AAE, se devem apoiar em procedimentos simples e práticos, de modo a garantir a qualidade das avaliações realizadas. O Quadro 2.5 apresenta a síntese dos princípios referentes aos procedimentos de AAE e suas finalidades, baseada na experiência holandesa, elaborada por Tonk e Verheem (1998). 2.4 Relações da AAE com Outros Instrumentos de Política e Gestão Ambiental A AAE é indissociável de uma política de desenvolvimento sustentável. Seus benefícios, confirmados pela prática, só se tornam efetivos se a AAE for conduzida de modo integrado com outros mecanismos de decisão. Entre os instrumentos cujo emprego deve se compatibilizar com o da AAE, situam-se os de promoção da sustentabilidade, como as estratégias nacionais de sustentabilidade, os programas nacionais de política ambiental, os planos operacionais de gestão ambiental, as Agendas 21 (gerais ou setoriais, nacionais, regionais ou locais). A integração das ações derivadas destes instrumentos permite tirar partido das sinergias decorrentes da importância e dos objetivos de cada um deles. Merecem referência os instrumentos e procedimentos de avaliação que se aplicam a políticas, planos e programas, mas que não podem ser definidos como AAE porque não consideram a componente ambiental. Contudo, a sucessão de etapas de avaliação realizadas e seus respectivos prazos, as oportunidades de tomada de decisão e as formas que tais avaliações adotam em seus contextos políticos e institucionais podem servir de exemplo para a construção de um sistema de AAE, beneficiando-se ele da existência e da forma de funcionamento de mecanismos deste tipo. A relação da AAEcom a avaliação de impacto ambiental é, sem dúvida fundamental. Ambas provêm da mesma família de instrumentos de gestão ambiental e se complementam, na medida em que, na seqüência de planejamento, aos planos e programas sucedem os projetos necessários para sua implementação. A avaliação ambiental passa a constituir um processo seqüencial, que se denomina avaliação em cascata (em inglês tiering assessment). Avaliação Ambiental Estratégica 20 Quadro 2.5 - Princípios operacionais e finalidade de cada etapa do processo de AAE Início do Processo. Seleção de propostas de decisão estratégica (PPP) a ser objeto de AAE 1. Execução de uma avaliação ambiental preliminar de cada uma das propostas para identificar aquelas que, potencialmente, resultem em conseqüências ambientais significativas (tanto positivas como negativas) e que, portanto, serão objeto de AAE, pelos órgãos e instituições responsáveis pela condução do processo. Prazos (Timing) 2. Previsão de que os resultados da avaliação estejam disponíveis a tempo para sua efetiva utilização como subsídio para a formulação ou definição da estratégia. Definição do conteúdo e realização da avaliação (Scoping) Aspectos Ambientais 3. Disposição de toda a informação ambiental relevante - e exclusão de toda a informação irrelevante - para se avaliar se decisão estratégica pode ter continuidade ou se haveria formas ambientalmente mais favoráveis para atingir os seus objetivos. Outros Aspectos 4. Disposição de informação suficiente sobre outros aspectos envolvidos na proposta, incluindo as considerações socioeconômicas, em paralelo ou de forma integrada à avaliação. Revisão 5. Mecanismo para verificar e garantir a qualidade da informação e dos resultados da avaliação. Envolvimento e participação do público 6. Disposição ao público afetado de informação suficiente e recolhimento de suas opiniões, em tempo hábil (suficientemente antecipado), para que sejam efetivamente utilizadas na formulação da decisão estratégica. Documentação 7. Disponibilidade dos resultados da avaliação, em forma de relatório compreensível, para a informação de todas as partes afetadas pela decisão. Decisão 8. Esclarecimento a todas as partes afetadas pela decisão que foi tomada, de como os resultados da avaliação foram levados em consideração. Acompanhamento da implementação da decisão estratégica 9. Reunião de informação sobre os impactos reais da implementação da decisão, para informação das partes interessadas e para os necessários ajustes, alterações e correções da estratégia adotada. Nas sessões anteriores, se fazem algumas referências às relações entre a AAE e a avaliação de impacto ambiental. Contudo, é importante esclarecer algumas contradições relativas ao entendimento sobre os objetivos e o emprego de ambos instrumentos: Avaliação Ambiental Estratégica 21 • a AAE não deve ser vista como alternativa à avaliação de impacto ambiental, ou seja, como uma forma de se ultrapassarem as dificuldades inerentes à avaliação ambiental de projetos de significativo potencial de impacto, muito menos como uma forma de compensar as insuficiências de um estudo de impacto ambiental inadequado, incompleto ou mal concebido. Nem a AAE tem haver com a avaliação dos impactos de projetos ou a comparação de alternativas, sejam estas mais ou menos importantes, nem o processo de avaliação de impacto ambiental de projetos deve ser ocasião de discussão de decisões estratégicas tomadas em etapas anteriores na hierarquia de planejamento; e • AAE não é solução para os casos em que os estudos de impacto ambiental não consigam desempenhar eficazmente o seu papel de informar de forma pró-ativa sobre os impactos das alternativas de desenvolvimento de um projeto; nem para os casos em que o processo de avaliação de impacto ambiental tenha sido incapaz de assegurar a efetiva participação do público, a adoção das medidas mitigadoras e o monitoramento dos impactos negativos que foram previstos. Infelizmente, a AAE tem sido usada para corrigir situações deste tipo. Há outras formas de avaliação ambiental que têm sido consideradas como um tipo de abordagem de AAE e que poderiam ser questionadas quanto à natureza estratégica da decisão a que se destinam. Outras vezes, consideram-se como AAE, simplesmente, iniciativas de melhores práticas de planejamento ambiental. No primeiro caso citam-se os grandes projetos de infra-estrutura de transporte, claramente localizados; no segundo caso, encontram-se os projetos estruturais de urbanização, também claramente localizados. Em qualquer dos casos, normalmente, não está em pauta a discussão sobre o conceito de desenvolvimento que se pretende promover, nem o equacionamento dos objetivos e das opções de uma decisão estratégica. 2.5 Modelos Institucionais e de Procedimentos Os processos de AAE resultam, de um modo geral, de dois modelos de abordagem (Partidário, 1996a, 2000): • modelo de abordagem política, que se fundamenta no sistema de desenvolvimento e avaliação de decisões estratégicas (políticas, planos e programas); e • modelo de abordagem de projetos, que se apóia nos procedimentos de avaliação de impacto ambiental de projetos. A Figura 2.1 representa a relação destes dois modelos de abordagem. Assim, o modelo de abordagem política é visto como uma abordagem de cima para baixo (top-down), já que adota mecanismos mais abrangentes e estratégicos de formulação de políticas e instrumentos de planejamento, aplicando a esses os procedimentos de avaliação ambiental. O modelo de abordagem de projeto, conhecido como modelo de baixo para cima (bottom-up), recorre à experiência da avaliação de impacto ambiental de projetos, generalizando-a para a avaliação de decisões em níveis mais altos na hierarquia de planejamento (programas e planos). Assim, enquanto o modelo de abordagem política confere à AAE uma natureza estratégica e contínua, permitindo que os procedimentos de AAE se integrem mais facilmente aos processos de decisão e às práticas de formulação de política e de planejamento, o modelo de abordagem de projeto transforma a AAE em instrumento de aplicação discreta, motivada pela existência de documentação sobre planos ou programas que facilite que se proceda à avaliação de Avaliação Ambiental Estratégica 22 suas conseqüências ambientais, segundo metodologias adequadas, passando seus resultados a subsidiar os processos de decisão, conforme as práticas de avaliação de impacto ambiental de projetos. Ambas formas de abordagem, associadas em cada país às características dos processos de decisão sobre as políticas, os planos e os programas, determinam diferentes sistemas de AAE. A revisão da experiência internacional (Partidário, 1996b; Sadler e Verheem, 1996; Fuller, et. al., 1998) demonstra esta diferença. Assim, o modelo de abordagem de política é evidente em países com um forte sistema de planejamento e avaliação de políticas (por exemplo, o Reino Unido e a Dinamarca), ao passo que o modelo de abordagem de projeto tem sido aplicado justamente em paises onde a avaliação de impacto ambiental de projetos está bem institucionalizada (por exemplo, a Holanda e os EUA). Dada sua natureza, o processo de AAE segundo o modelo de abordagem de projetos dificilmente se aplicará à avaliação de políticas. Por outro lado, tem maiores probabilidades de implementação em curto prazo, à medida que utiliza mecanismos estabelecidos de avaliação ambiental e não encontra a resistência por parte dos profissionais de planejamento, que ainda demonstram ceticismo em relação à adoção de procedimentos sistemáticos e integrados de avaliação ambiental para esses níveis de decisão. Figura 2.1 - Origem dos modelos fundamentais de AAE MODELO DE ABORDAGEM POLÍTICA (Desenvolvimento e Avaliação de Políticas) AAE (Avaliação de Projetos) MODELO DE ABORDAGEM DE PROJETO A revisão da experiência internacional permite tambémperceber que são diferentes os processos de avaliação dos impactos de uma política, um plano e um programa. Enquanto a avaliação ambiental de políticas requer abordagens mais rápidas e flexíveis, ajustadas à natureza incremental dos respectivos processos (muitas vezes quase informais), a avaliação ambiental de um plano exige, para ser eficaz, o ajuste dos procedimentos de AAE aos procedimentos de planejamento, garantindo que, em cada momento de decisão, sejam consideradas opções alternativas e apurados os seus efeitos, reintroduzindo no processo de planejamento o produto da avaliação. Já no âmbito de um programa, desde que se entenda um programa como o escalonamento temporal de investimentos e o cronograma de atividades que se implementarão por meio de projetos de desenvolvimento, a avaliação ambiental pode ser tratada como uma abordagem muito próxima da avaliação de impacto ambiental de projetos. Embora não exista, ainda, nenhuma classificação internacionalmente reconhecida, têm sido propostos diversos modelos institucionais de AAE que, no essencial, distinguem as abordagens acima descritas. No Estudo Internacional de Eficácia da Avaliação de Impacto Ambiental, Sadler e Verheem (1996), identificam-se três destes modelos: ! ! Avaliação Ambiental Estratégica 23 • modelo equivalente de avaliação ambiental (equivalent environmental appraisal model), em que a avaliação de políticas e de planos é conduzida com o objetivo de identificar e levar em consideração os efeitos ambientais (como no Reino Unido); • modelo integrado de gestão ambiental (integrated environmental management model), em que a AAE é realizada como parte integrante de um amplo processo de formulação de políticas e planos (como na Nova Zelândia); e • modelo padrão de avaliação de impacto ambiental (standard EIA model), em que a avaliação ambiental de políticas, planos e programas segue o mesmo modelo do sistema de avaliação ambiental de projetos, com procedimentos técnicos e atividades semelhantes, mas com diferenças introduzidas pela natureza mais fluida dos requisitos para a tomada de decisão estratégica (como na Holanda e nos Estados Unidos da América). Anteriormente, Therivel (1993) havia revisto os sistemas de AAE existentes e identificado os seguintes países e regiões como geradores de diferentes sistemas: Estados Unidos da América, Holanda, Nova Zelândia, Reino Unido e União Européia. Com efeito, são sistematicamente referenciados os mesmos países. Curiosamente, surge a União Européia como protagonista de um sistema determinado pela diretriz recentemente aprovada; apesar de o Reino Unido e a Holanda serem estados–membros da União Européia, ambos países implementam sistemas de AAE diferentes do proposto nessa diretriz. No essencial, os modelos de AAE distinguem-se ou por uma abordagem mais próxima da avaliação de políticas e planos, de forma mais ou menos integrada, ou por uma abordagem mais próxima da avaliação de impacto ambiental de projetos, com procedimentos que se lhe assemelham. O que é importante é que se identifiquem as oportunidades e restrições impostas pelos processos e sistemas de formulação de política e planejamento em vigor, em relação à sua adaptabilidade aos objetivos da AAE. 2.6 Requisitos para a Implementação da AAE Os requisitos fundamentais para a boa prática de AAE resultam da análise da experiência internacional, que é recente, não se conhecendo, ainda, qual a formulação mais eficaz para determinadas atividades de AAE. Contudo, é cada vez mais claro que o processo de AAE deve se manter flexível, ajustando-se à natureza do processo de decisão característico do contexto em que se aplica. Assim, identificam-se as seguintes condições para a boa prática da AAE: • referencia a um contexto de política (política de sustentabilidade, seus objetivos e estratégias); • definição de um quadro de objetivos, critérios e padrões de qualidade: - para avaliar a necessidade e a justificativa da proposta de estratégia; e - para avaliar os efeitos ambientais (perdas/alterações). • sistemas de decisão abertos; • facilidade de adaptação ao processo de decisão; • integração (e coordenação) com o processo de formulação de políticas e de planejamento; Avaliação Ambiental Estratégica 24 • enfoque centrado nos processos e conceitos, e não em localização geográfica; • abordagens simples, flexíveis e interativas; • abordagem integrada no que diz respeito ao âmbito e interação dos fatores relevantes; • adoção de diretrizes orientadoras do processo e regulamentação mínima; • desenvolvimento de casos demonstrativos dos benefícios da AAE - exemplos de boa e má prática; • facilidade, disponibilidade e acesso à informação; • disponibilidade de recursos; • processo participado, envolvendo as diferentes instituições interessadas e considerando as prioridades e preferências do público; • comprometimento do proponente com os resultados da AAE; • contribuição para que sejam ultrapassados os preconceitos e alteradas as atitudes e as formas de decisão; e • estabelecimento de novas rotinas de tomada de decisão. Acima de tudo, sugere-se que se ponha em prática a AAE, quer se comece pelas fases de concepção e formulação de uma política, de um plano ou de um programa, por suas fases de revisão, ou simplesmente pelo monitoramento de sua implementação. O que é indiscutível entre os profissionais que se dedicam à avaliação ambiental, no nível internacional, é a premência da adoção de práticas que assegurem a integração dos princípios e do conceito geral de avaliação ambiental, o mais cedo possível, no processo decisório. A AAE, embora considerada como um instrumento de política ambiental, só tem razão de ser se for incorporada pelos diversos setores de desenvolvimento do governo ao conteúdo das políticas, dos planos e dos programas setoriais. Um dos aspectos mais característicos da AAE é o fato de ser sua eficácia fortemente dependente do grau de adequação, adaptabilidade e flexibilidade dos procedimentos, em relação ao processo de decisão ao qual se aplica. Assim, não existe apenas uma forma de AAE; potencialmente, haverá tantas formas de AAE quantos os processos decisórios que a utilizem. Deste modo, recomendam-se procedimentos adaptáveis e que considerem os princípios operacionais apresentados no Quadro 2.5, o que significa estabelecer um sistema de avaliação ambiental que integre aos processos de formulação de política e planejamento, os seguintes elementos essenciais da AAE (Partidário, 2000): • clara definição da estratégia da política, do plano ou do programa objeto de avaliação; • identificação do quadro de referência de sustentabilidade; • identificação dos objetivos a atingir com a política, o plano ou o programa; • definição das decisões estratégicas que devem ser avaliadas; • definição do conteúdo dos estudos de avaliação ambiental, ou seja, das questões mais significativas a serem investigadas, e da escala de abordagem; Avaliação Ambiental Estratégica 25 • definição e esclarecimento sobre as responsabilidades institucionais envolvidas; • estabelecimento dos requisitos legais mínimos (obrigatórios) e dos recomendados; • estabelecimento dos procedimentos formais ou informais de condução do processo de AAE, formulação e adoção de diretrizes de melhor prática; • identificação e definição do procedimento de envolvimento e participação público (formas de comunicação e papel da comunidade e das organizações não governamentais); • identificação e definição do procedimento de controle de qualidade do processo de AAE, o que inclui, eventualmente, revisão independente dos estudos e supervisão do desempenho das medidas e ações de implementação da decisão estratégica; e • esclarecimento de como os resultados da AAE irão contribuir e influir, de modo relevante, para a decisão estratégica. Avaliação Ambiental Estratégica 26 3. Experiência deaplicação da AAE O presente capítulo trata da sistematização da experiência de implementação dos procedimentos de AAE no âmbito de outros países e organizações internacionais, além de apresentar algumas iniciativas nesta matéria experimentadas no Brasil. São descritas e avaliadas as características dos diferentes sistemas de AAE, os avanços e as dificuldades que se observam em cada caso, amealhando-se subsídios para a instituição da AAE como instrumento de política ambiental a ser aplicado para auxiliar a decisão, no âmbito dos sistemas de planejamento brasileiros. 3.1 Experiência Internacional Para a descrição e a análise da experiência em AAE, foram selecionados os sistemas vigentes nos países que mais se distinguem em matéria de modelo processual e abordagem técnica: Nova Zelândia, Canadá, Dinamarca, Grã-Bretanha, Holanda e Estados Unidos da América. A descrição de cada sistema considera: gênese e evolução, âmbito de aplicação, quadro legal e institucional e métodos e técnicas utilizados, ilustrada por alguns exemplos pontuais. Incluem-se também as diretrizes de AAE adotadas pela União Européia e pelo Banco Mundial. 3.1.1 Nova Zelândia A Nova Zelândia é um arquipélago formado por duas ilhas principais e outras menores. Administrativamente, divide-se em 93 províncias, nove distritos e três distritos exclusivamente urbanos. A população de 3,9 milhões de habitantes (2001) distribui-se por uma área de 269 mil km2. O regime político do país é o parlamentarista democrático. Com um PIB (1999) de US$ 63,8 bilhões, seus os principais recursos naturais são gás natural, minério de ferro, areia, carvão, madeira, energia hidrelétrica, ouro, pescado; apenas 9% de suas terras são aráveis (fundamentais para a economia desse país). Os problemas ambientais compreendem: desmatamento, erosão do solo e desvantagem competitiva da fauna e flora naturais pela introdução de espécies exóticas. Não há constituição escrita na Nova Zelândia. Existem apenas dois níveis de governo, central e local, sendo que este último detém grande parcela de poder e de responsabilidade, sobretudo no que diz respeito à gestão dos recursos ambientais, de acordo com a seguinte repartição: • autoridades distritais (Conselhos Distritais e Locais), responsáveis por: gestão do uso do solo, controle de ruídos, efeitos sobre os lagos e rios das atividades realizadas e monitoramento da qualidade do meio ambiente em seus territórios; e • autoridades regionais (organizadas por bacias hidrográficas), responsáveis por: gestão dos recursos naturais, controle de efluentes líquidos e emissões gasosas, disposição final de resíduos sólidos, uso do solo para fins de conservação, gestão preventiva e corretiva de acidentes naturais e de qualquer efeito nocivo provocado pelo armazenamento, uso, disposição e transporte de substâncias perigosas. Para o desempenho de suas responsabilidades, as autoridades governamentais nos diversos níveis de governo obedecem a diretrizes estabelecidas através um sistema rígido de Avaliação Ambiental Estratégica 27 planejamento: no âmbito do governo central, são estabelecidos as políticas nacionais e os padrões de qualidade ambiental; no âmbito das autoridades regionais, são definidas as políticas regionais, que devem ser compatíveis com as políticas nacionais; por fim, as autoridades locais elaboram seus planos setoriais e de desenvolvimento, para cada cidade ou distrito, sempre em obediência às diretrizes regionais e nacionais. Na estrutura administrativa do país, as funções de formulação, análise e implementação de políticas está repartida entre diferentes ministérios ou instituições. Os órgãos de assessoria política preparam as diretrizes nacionais das várias políticas setoriais. Para algumas, existem órgãos específicos de implementação; em certos casos, como o que concerne à política de conservação de recursos naturais, é o Departamento de Conservação dos Recursos Naturais que elabora a política e administra as áreas protegidas (parques nacionais e reservas). Gênese e evolução Até 1991, a avaliação ambiental era empregada, quase exclusivamente, para a aprovação de projetos de desenvolvimento, fora algumas tentativas de aplicação a decisões estratégicas setoriais (Ward, 2000). Não havia, portanto, abordagem formal de AAE para a avaliação de políticas, planos ou programas. A integração dos princípios da avaliação ambiental à estrutura formal de planejamento e à Política de Gestão de Recursos, introduzida por lei em 1991, resultou um esquema totalmente inovador de abordagem integrada de planejamento, avaliação e gestão ambiental. Com o objetivo de promover a gestão sustentável dos recursos naturais, a referida política adotou duas formas de incorporação dos princípios de avaliação ambiental e gestão sustentável de recursos (Dixon e Fookes, 1995): • A avaliação de impacto ambiental de projetos, cujos requerimentos de licença para a utilização de recursos naturais devem ser acompanhados da análise dos seus impactos; • A avaliação ambiental dos instrumentos de planejamento (declarações de política regional, planos regionais e planos distritais), pela qual as propostas de políticas e planos devem conter informações explícitas sobre seus objetivos, justificativa para sua adoção, meios e medidas para alcançá-los, mecanismos para sua implementação e impactos ambientais esperados. Além disso, todas as propostas são submetidas ao escrutínio público, podendo qualquer pessoa manifestar-se, caso em que terá direito a uma resposta formal da autoridade responsável. Com efeito, o modelo neozelandês é um bom exemplo de abordagem integrada de AAE, de cima para baixo (top-down), como se descreve no Capítulo 2, pois foi estabelecido a partir da avaliação de políticas e planos. Embora não se possa distinguir, de forma racionalizada e específica, o seu papel efetivo, a presença da AAE faz-se notar por sua integração nos processos de planejamento e pela qualidade das decisões efetivamente tomadas, em termos da proteção ambiental. Âmbito de aplicação A AAE aplica-se a todo tipo de decisões estratégicas (políticas, planos e programas) e planos de desenvolvimento, excluindo-se os setores de gestão costeira e de exploração de recursos minerais. Sua aplicação às políticas nacionais é, ainda, muito limitada (Ward, 2000). Avaliação Ambiental Estratégica 28 Quadro Legal e Institucional O instrumento jurídico básico é a Lei de Gestão de Recursos (Resource Management Act), de 1991, que consolida, sob o enfoque do desenvolvimento sustentável, todos os instrumentos reguladores da estrutura de planejamento e gestão do espaço (incluindo usos do solo), do controle da qualidade do ar, da água e dos ruídos, da gestão de áreas costeiras, da energia e do controle da poluição. Essa lei, que substituiu os regulamentos anteriores sobre avaliação de impacto ambiental, introduziu requisitos mais explícitos com relação à aplicação da avaliação ambiental aos projetos submetidos a licenciamento, que devem apresentar relatórios formais sobre os efeitos ambientais, às políticas e aos planos. A responsabilidade de condução do processo foi concedida às autoridades regionais e locais, sobretudo para a aplicação da AAE às decisões estratégicas sob suas jurisdições. Métodos e técnicas Não se empregam métodos específicos de AAE, recorrendo-se, normalmente, aos métodos e técnicas de avaliação de políticas e planejamento. Existe pouca evidência quanto aos resultados advindos da aplicação desses métodos, uma vez que a documentação do processo de AAE é reduzida, não se produzindo, por vezes, relatórios de avaliação ambiental em separado. Vantagens e dificuldades A experiência da Nova Zelândia vem reforçar o entendimento de que a AAE é mais facilmente incorporada a processos formais de planejamento e tomada de decisão, em detrimento de procedimentos explícitos de avaliação de impacto ambiental de políticas e planos, realizadosapós sua formulação. O sistema de AAE, naquele país, tem, ainda, melhor concepção do ponto de vista de integração das questões ambientais no planejamento, com efeito positivo tanto no processo decisório de cada proposta como no processo seqüencial de avaliação ambiental em cascata (tiering process) – desde os níveis de formulação de política e planos e programas até os níveis de concepção de projeto. A desvantagem do modelo neozelandês é que os procedimentos de AAE não ganham personalidade própria, imbuídos que estão nas rotinas de planejamento. Por isto, torna-se difícil demonstrar com clareza os resultados de sua aplicação e a eficácia das decisões. Também não existem mecanismos que assegurem a efetiva aplicação da AAE por parte das autoridades responsáveis pelo planejamento. Entretanto, sempre que uma proposta de política ou plano tenha implicações ambientais, o Ministro do Meio Ambiente participa do processo de análise e seu parecer, caso necessário, pode ser expresso separadamente e encaminhado a cada um dos demais ministérios. Além disso, de modo geral, os aspectos ambientais relevantes são submetidos à consulta pública, através procedimentos formais e estruturados. Em caso de descontentamento com a justificativa sobre os efeitos ambientais, emanada do governo, o cidadão pode recorrer ao Tribunal de Planejamento, que é a instância judiciária responsável pela proteção ambiental. Há ainda uma última instância de recurso, representada pela Suprema Corte do país (Gow, 1994). 3.1.2 Canadá O Canadá é uma federação parlamentarista formada por dez províncias e três territórios, apresentando topografia extremamente variada, extensas áreas de água interior e recursos naturais bastante diversificados (minério de ferro, zinco, chumbo, prata, níquel, cobre, ouro, molibdênio, madeira, caça, pesca, carvão, petróleo, gás natural, energia hidroelétrica e 5% de terras aráveis). Sua população é esparsa, distribuindo-se os 31,6 milhões de habitantes (2001) numa área de 9,9 milhões de km2. O Avaliação Ambiental Estratégica 29 PIB, em 1999, era de US$ 722,3 bilhões. As principais questões ambientais são: poluição do ar e chuva ácida, que afetam severamente os lagos e causam danos às florestas; contaminação de águas oceânicas por atividades agrícolas, industriais, de mineração e silvicultura. As ações administrativas de governo (federal, provincial e local) estão a cargo de um conjunto de departamentos e agências setoriais, que detêm as atribuições de propor e executar as respectivas diretrizes políticas e programáticas, todas comprometidas com os objetivos da Estratégia para o Desenvolvimento Sustentável, adotada pelo país em 1999. Gênese e evolução A prática de avaliação executada pelo próprio proponente (self-assessment), forma de avaliação de impacto ambiental de projetos praticada no Canadá até 1995, influenciou a ação do governo do Canadá, que, em 1990, baixou um Despacho do Gabinete de Ministros (Cabinet Directive) para a aplicação dos mesmos princípios à avaliação ambiental de políticas e programas. Esse despacho exigiu que cada departamento do governo federal levasse em conta os efeitos ambientais de suas propostas de política e programa, a serem submetidos à consideração do Conselho de Ministros, em forma de relatório (memorandum), determinando ainda que se apresentasse uma declaração formal ao público sobre a influência dos referidos efeitos ambientais na tomada de decisão e, sempre que possível, se procedesse à consulta pública. Âmbito de aplicação No Canadá, a AAE aplica-se a todo o tipo de políticas, planos e programas, globais e setoriais. As propostas de clara e imediata emergência ou que trate de matéria já submetida a análise ambiental podem ser isentadas da obrigação de se submeterem à AAE. Quadro Legal e Institucional A insuficiência da implementação do Despacho do Gabinete de Ministros, de 1990, levou à sua revisão, tendo sido publicado, em 1999, de um decreto do mesmo Gabinete dirigido à aplicação da avaliação ambiental às políticas, planos e programas, tendo em vista a implementação das Estratégias para o Desenvolvimento Sustentável. O decreto reforçou o papel da AAE na tomada de decisão estratégica, bem como a responsabilidade dos departamentos e agências federais na sua implementação. De acordo com o decreto, a Agência Canadense de Avaliação Ambiental (Canadian Environmental Assessment Agency - CEAA), entidade responsável pela preparação das diretrizes de AAE, encarrega-se de supervisionar sua implementação. Os departamentos e agências federais, nos vários setores de governo, têm a responsabilidade de preparar as propostas e os respectivos relatórios de avaliação ambiental, que são levadas à consideração dos ministros ou do Conselho de Ministros. Alguns departamentos federais optaram por definir seus próprios procedimentos. O Departamento de Negócios Estrangeiros e Comércio Internacional (Department of Foreign Affairs and International Trade) desenvolveu, em 1997, procedimentos em duas fases (ver Quadro 3.1) (Shuttleworth and Howell, 2000). A Agência de Desenvolvimento Internacional Canadense (Canadian International Development Agency - CIDA) também promove a realização de AAE para as ações estratégicas que apóiam em seu programa de ajuda e financiamento internacional. A Autoridade de Parques adota procedimentos específicos para avaliação de impactos dos seus planos de ordenamento (Therrien-Richards, 2000). Nas províncias canadenses, aplica-se a AAE em diversos contextos e setores; por exemplo, os planos municipais no Estado de Ontário e os planos de impactos na saúde, na Columbia Britânica. Avaliação Ambiental Estratégica 30 Métodos e técnicas A AAE fundamenta-se tecnicamente numa pequena lista de questões críticas, utilizada durante a fase de formulação, e no estabelecimento de metas ambientais e de sustentabilidade. A AAE de planos e programas inclui alternativas e avaliação formal de impactos cumulativos e físico-ecológicos, por meio do emprego de técnicas matriciais de avaliação de impacto. Empregam-se ainda mecanismos de consulta pública, sempre que possível. Vantagens e dificuldades A avaliação ambiental de políticas, planos e programas exige procedimentos formais. A experiência de AAE do Canadá confirma o princípio de que a avaliação pelo próprio proponente (self-assessment) pode ser uma boa estratégia, porém necessita que a Administração Pública esteja bem motivada e mobilizada em seu contexto decisório específico. Por outro lado, no Canadá, a AAE é demasiadamente centrada nos aspectos físicos e ecológicos do meio ambiente, qualquer que seja o nível de governo, muito embora exista a preocupação de se integrarem a eles os componentes sociais e econômicos. Quadro 3.1 - Abordagem de AAE por parte do Departamento Canadense de Negócios Estrangeiros e Comércio Internacional Abordagem em duas fases: 1ª fase: Verificação das Implicações Ambientais 2ª fase: Avaliação Ambiental detalhada se necessário Primeira Fase: Verificação das Implicações Ambientais 1. A Política ou Programa vai ser considera pelo Conselho de Ministros ou por alguma autoridade ministerial? 2. Já houve alguma Revisão Ambiental para uma proposta similar (se sim, fornecer a referência)? 3. Há registro de atividades similares no passado terem provocado impactos ambientais? 4. Outra instituição vai considerar os impactos ambientais como parte de uma revisão do seu próprio programa? 5. A proposta determina diretamente ou associa-se à construção de uma infra-estrutura sujeita à Lei de avaliação de impacto ambiental Canadense? 6. Vai ser preparado algum Estudo de Análise de Impacto Regulatório? 7. Haverá consulta pública como parte da Análise da Política ou Programa? 8. Acha que uma revisão ambiental é necessária? Segunda Fase: Avaliação Ambiental detalhada se necessário Estrutura recomendada: • componentes da proposta; • resultados esperados; • interações possíveiscom o ambiente; • significados da interação e impactos ambientais potenciais; • minimização e monitoramento para controlar ou monitorar os potenciais impactos ambientais negativos. 3.1.3 Dinamarca A Dinamarca é uma monarquia constitucional parlamentarista formada por quatorze províncias, com uma população de 5,3 milhões de habitantes (2001),. Seu território compreende de uma península e centenas de ilhas que ocupam uma área de aproximadamente 43 mil km2, onde Avaliação Ambiental Estratégica 31 predominam terras planas e baixas, além dos territórios da Groelândia e das Ilhas Faeroes. Com um PIB de US$ 127,7 bilhões, seus principais recursos naturais são: petróleo e gás natural (auto- suficientes); peixe, sal, estanho, areia, cascalho, pedra, argila e 60% de terras aráveis. Os principais problemas ambientais compreendem: o aumento da contribuição das atividades de transportes para a poluição do ar, em anos recentes, embora as taxas de CO2, S e N tenham se reduzido por efeito da política energética; a contaminação de águas subterrâneas (recurso suficiente para atender toda a demanda do país) por produtos químicos usados na agricultura; disposição final de resíduos sólidos (12 toneladas anuais de lixo urbano). Gênese e evolução O vigoroso sistema de planejamento dinamarquês influencia não apenas a prática da avaliação de impacto ambiental de projetos, mas assegura que as decisões de planejamento sejam tomadas levando em conta os valores e as conseqüências ambientais. Com efeito, desde 1972, a avaliação ambiental é conduzida para projetos e planos, no âmbito do sistema de planejamento, por meio da integração dos componentes físicos e ecológicos no processo de decisão. Uma vez que apenas as políticas não eram ainda objeto de avaliação, em 1993, foi adotado um despacho administrativo do Gabinete do Primeiro Ministro determinando que, à semelhança do modelo canadense, todas as propostas de legislação e outras propostas governamentais submetidas à aprovação do Parlamento fossem acompanhadas de uma avaliação ambiental. Em janeiro de 1995, um novo despacho estendeu os tipos de impacto que deveriam ser avaliados (Elling, 1996, 1997). Âmbito de aplicação O sistema de AAE da Dinamarca não se fundamenta em legislação formal e explícita. Sua instituição por um ato administrativo implica que a implementação dependa do apoio governamental e da intenção de cumprir seus objetivos, por parte dos outros ministérios que não o Ministério do Meio Ambiente. Assim, a decisão de se proceder à AAE é, por princípio, discricionária. Além disso, somente as iniciativas do governo sujeitam-se a tais determinações. Os projetos de lei e demais propostas governamentais são avaliados segundo os critérios contidos nas diretrizes regulamentares adotadas em 1993 e revistas em 1995 (Figura 3.1) e os planos e programas, por procedimentos próprios ao processo de planejamento. Quadro Legal e Institucional Não existem procedimentos formais para a aplicação da AAE na Dinamarca. O despacho administrativo que a instituiu teve como objetivo a introdução gradual dos preceitos de proteção ambiental e desenvolvimento sustentável nas esferas superiores de decisão e as avaliações ambientais de políticas, planos e programas governamentais devem realizar-se segundo os princípios de viabilidade administrativa e disponibilidade de dados. Deve-se assegurar a flexibilidade do processo de tomada de decisão pelo legislativo, sem que se introduzam novos procedimentos ou interferência de outras unidades institucionais. As diretrizes, elaboradas pelo Ministério do Meio Ambiente e transformadas em regulamento, publicadas em 1993 e revisadas em 1995, recomendam quatro etapas para o processo de AAE: • Seleção das propostas que devem ser objeto de AAE, aplicando-se as questões principais contidas em um questionário para a análise preliminar; Avaliação Ambiental Estratégica 32 • Definição do escopo do estudo de AAE, tendo como guia as questões principais e as questões secundárias contidas no questionário; • Avaliação propriamente dita, realizada pelo ministério competente ou por firma de consultoria, cabendo ao ministro decidir como os impactos serão descritos e documentados; • Publicação da declaração dos impactos da propostas na documentação a ser anexada ao projeto de lei ou à proposta governamental. Comparados com os procedimentos vigentes no país para a avaliação de impacto ambiental dos projetos individuais, verifica-se que os procedimentos de AAE são bastante simplificados. Não há previsão de participação do público nas etapas de seleção de projetos e definição do escopo dos estudos, nem de realização de audiência pública antes da decisão. A oportunidade de participação da sociedade se dá durante o processo legislativo no Parlamento, com base na documentação preparada pelo ministério competente. A seleção de projetos não se faz segundo lista de atividades e critérios legais, mas à discrição das autoridades setoriais. Não há obrigação de se considerarem alternativas nem etapa de revisão dos estudos e relatórios, como no caso da avaliação de impacto ambiental. A responsabilidade da condução da AAE é da instituição promotora, sob a supervisão do Ministério do Meio Ambiente. Métodos e técnicas A avaliação de propostas governamentais é feita a partir de uma listagem de controle (checklist), que contém 57 critérios qualitativos para a identificação dos impactos significativos, agrupados em treze categorias de avaliação, referentes essencialmente aos impactos nos componentes físicos, ecológicos e humanos (saúde e culturais) do meio ambiente e questões de risco (transporte de substâncias tóxicas e perigosas). A avaliação de planos (setoriais e de ordenamento do território) e programas é feita com o apoio de métodos diversos. Vantagens e dificuldades Os processos e métodos de avaliação das políticas, na Dinamarca, são simples e de fácil execução. A desvantagem é que se limitam aos aspectos ambientais de ordem física e ecológica, considerando, apenas pontualmente, os sócio-culturais. A realização da avaliação prévia dos impactos é assegurada pelo forte sistema de planejamento ambiental, destacando- se alguns problemas de aplicação da AAE e a melhoria que se faz necessária em algumas áreas, principalmente na qualidade das avaliações e nos procedimentos para apoiá-las e conduzir seus resultados à tomada de decisão. A deficiência técnica das avaliações parece ser causada pelo caráter abstrato da análise dos impactos e pela necessidade de se traçarem objetivos de qualidade ambiental que possam ser usados como referência. Quanto aos procedimentos, fazem falta a consideração de alternativas e a participação do público em todas as fases do processo, para que se cumpram os objetivos da AAE e as intenções do governo quanto à consideração dos aspectos ambientais no âmbito político. As perspectivas de evolução da AAE na Dinamarca são, entretanto, positivas, havendo indícios da superação dessas deficiências. Avaliação Ambiental Estratégica 33 Figura 3.1- Processo legislativo e avaliação ambiental na Dinamarca (segundo Elling, 1997) 3.1.4 Grã-Bretanha O Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte, ou simplesmente Grã-Bretanha, compreende quatro países: Inglaterra, Escócia, Gales e Irlanda do Norte. Possui uma população total de 59,6 milhões de habitantes (2001), distribuída em 245 mil km2, formada pela Ilha da Bretanha, parte do norte da Irlanda, além de outras pequenas ilhas. O regime político é a monarquia constitucionalista governada pelo sistema parlamentarista democrático. O PIB é quinto maior do mundo e seus principais recursos naturais são carvão, petróleo, gás natural, estanho, cal, minério de ferro, sal, argila, chumbo, sílica, além de seus 25% de terras aráveis. Os principais problemas ambientais incluem: poluição do ar por SO2, principalmente devido à operação de usinas termoelétricas, poluição
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