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1 ALIENAÇÃO PARENTAL REVISTA DIGITAL LUSOBRASILEIRA 10.ª EDIÇÃO | FEV.-MAI. 2017 PARENTAL ALIENATION LUSOBRAZILIAN DIGITAL MAGAZINE 10 th EDITION | FEV.-MAY. 2017 ESPECIAL II CONGRESSO LUSOBRASILEIRO ALIENAÇÃO PARENTAL – NOVOS HORIZONTES SPECIAL II LUSOBRAZILIAN CONGRESS INTO PARENTAL ALIENATION – NEW INSIGHTS Um evento de | an Event from Com o apoio de | With Support of 2 Título: Alienação Parental - Revista Digital Lusobrasileira 10 ª Edição Fev. – Mai. 2017 Fundadora: Sandra Inês Feitor Formato: Digital - em linha ISSN: 2183-1769 Conselho Científico: Sandra Inês Feitor, Fernanda Molinari, António Fialho, Andreia Calçada, Sérgio Moura Rodrigues, Ana Isabel Sani, Ana Brussolo Gerbase, Lenita Pacheco Duarte, Mónica Borile, Jaqueline Cherulli, Cláudia Petry Faria, Isabel Rama, Fernando Valentin. Periodicidade: Trimestral Local: Lisboa, Portugal Ano: 2017 Edição: 10.ª Edição | Fev.-Mai.2017 Edição Gráfica: Feitor, Sandra Inês; Ribeiro, Carlos Manuel Tradutores: Feitor, Sandra Inês Publicação eletrónica: http://revistaalienacaoparental.webnode.pt/ AGRADECIMENTOS Dirijo o meu agradecimento à Associação Portuguesa para a Igualdade Parental, Associação Brasileira Criança Feliz, Sociedade Brasileira de Psicologia Jurídica, OAB Mulher Barra da Tijuca, Associação Soltar os Sentidos, Associação Portuguesa de Criminologia, CLIP, ICFML, Observatório da Guarda Compartilhada e Associação Conversas de Psicologia pela parceria que possibilitou a concretização do Projeto Revista Alienação Parental, bem como a todos os colaboradores nesta partilha de informação e conhecimento de dimensão internacional. 3 Title: Parental Alienation - Digital Luso-Brazilian Magazine 10th Edition Fev.-Mai. 2017 Founder: Sandra Inês Feitor Format: Digital - online ISSN: 2183-1769 Scientific Board: Sandra Inês Feitor, Fernanda Molinari, António Fialho, Andreia Calçada, Sérgio Moura Rodrigues, Ana Isabel Sani, Ana Brussolo Gerbase, Lenita Pacheco Duarte, Monica Borile, Jaqueline Cherulli, Cláudia Petry Faria, Isabel Rama, Fernando Valentin. Frequency: Quarterly Location: Lisbon, Portugal Year: 2017 10th Edition Feb.-May 2017 Graphical Edition: Feitor, Sandra Ines; Ribeiro, Carlos Manuel Translators: Sandra Inês Feitor Electronic publication: http://revistaalienacaoparental.webnode.pt/ ACKNOWLEDGEMENTS I extend my acknowledgements to the Portuguese Association for Parental Equality, Happy Child Brazilian Association, Brazilian Society of Forensic Psychology, Lawyers Bar Association of Barra da Tijuca, Association Free the Senses, Portuguese Association of Criminology, CLIP Mediation Institute, ICFML International Mediation Institute, Observatory for Shared Parenting, Psychology Talks Association, that allows the realization of Parental Alienation Magazine Project, as well as to all writers how share information and knowledge with an international dimension. 4 PUBLICAR NA REVISTA A Revista Alienação Parental, de âmbito lusobrasileiro, apenas publica artigos originais ligados direta ou indiretamente com o tema Alienação Parental. O tema em questão carece ainda de muita investigação para promover uma melhor aplicação do direito a estes casos, bem como de dinamização e veiculação de conhecimento, informação, sensibilização e formação - objetivos pretendidos pela Revista e para os quais os autores contribuem, assegurando projeção internacional. Os artigos devem ser encaminhados por email para revistaalienacaoparental@gmail.com, em anexo em formato microsoft word, aos cuidados da fundadora Sandra Inês Feitor, ou através de qualquer dos elementos do Conselho Científico ou Parceiros. São aceites artigos originais de mestres e doutorandos ou doutorados, assim como de investigadores e profissionais nas áreas do direito, psicologia, sociologia, medicina, psiquiatria, ciências forenses e mediadores familiares. Os autores serão notificados da decisão editorial de aceitação ou não de artigos e da Edição em que serão inseridos. NORMAS DE PUBLICAÇÃO a) Título; b) Nome dos autores e titulação, função e/ou instituição a que se vincula. c) Resumo entre 100 a 300 palavras. d) Introdução. e) Corpo de texto - máximo de 15 páginas A4. f) Notas de rodapé numeradas. g) Referências bibliográficas h) letra times new roman, tamanho 12, espaço 1,5. As Edições da Revista serão publicadas em formato bilingue (Português - Inglês) a cargo e da responsabilidade da Revista Alienação Parental, e de tiragem trimestral. 5 São admitidas Edições Especiais para apresentação de projetos, teses e outros trabalhos científicos, assim como eventos de grande projeção relacionados com o tema, tais como Conferências e Congressos nacionais e Internacionais. São publicados apenas textos que versem direta ou indiretamente sobre o tema alienação parental e responsabilidades parentais ou conexos. Os direitos autorais são cedidos à Revista Digital Lusobrasileira de Alienação Parental. CONSELHO CIENTÍFICO Sandra Inês Feitor Fernanda Molinari António Fialho Andreia Calçada Sérgio Moura Rodrigues Ana Isabel Sani Lenita Pacheco Duarte Ana Brussolo Gerbase Monica Borile Jaqueline Cherulli Cláudia Petry Faria Isabel Rama Fernando Valentin 6 PUBLISHING IN THE MAGAZINE The Parental Alienation Magazine in Brazilian-Portuguese context, only publishes original articles connected directly or indirectly with the theme Parental Alienation and family conflict. The topic in question still needs a lot of research to promote a better application of the law to these cases, as well as, dynamism of knowledge, information, awareness and training – intended goals for the Magazine and for which the authors contribute, ensuring international recognition. Articles should be sent by email revistaalienacaoparental@gmail.com, attached in Microsoft Word format, to the attention of founder Sandra Ines Feitor, or by any of the Scientific Council members or partners. Original articles are accepted from masters and doctoral students or doctoral degrees, as well as researchers and professionals in the fields of law, psychology, sociology, medicine, psychiatry, forensic science, social workers and family mediators. Authors will be notified of the decision of acceptance or not, of the articles and the edition that will be inserted. PUBLICATION RULES a) Title; b) Names of authors, titles, function and/or institution to which it is connected. c) Abstract between 100-300 words. d) Introduction. e) Body Text – up to 15 A4 pages. f) Numbered footnotes. g) References h) Font Times New Roman, size 12, 1.5 space. The Magazine will be published in a bilingual format (Portuguese – English) in charge and responsibility of the Journal Parental Alienation, and quarterly circulation. 7 Special Editions are admitted for presentation of projects, thesis and other scientific works, as wellas large projection events related to the issue, such as conferences and national and International Congresses. There are only published texts that deal directly or indirectly on the subject of parental alienation and parental responsibilities. Copyrights are assigned to Digital Luso- Brazilian Magazine of Parental Alienation. SCIENTIFIC BORD Sandra Ines Feitor Fernanda Molinari António Fialho Andreia Calçada Sérgio Rodrigues Moura Ana Isabel Sani Lenita Pacheco Duarte Ana Brussolo Gerbase Monica Borile Jaqueline Cherulli Cláudia Petry Faria Isabel Rama Fernando Valentin 8 Revista Alienação Parental http://revistaalienacaoparental.webnode.pt/ revistaalienacaoparental@gmail.com visite-nos no facebook Associação Brasileira Criança Feliz www.criancafeliz.org sergiomoura@hotmail.com Sociedade Brasileira de Psicologia Jurídica http://www.sbpj.org/index.php sbpj@sbpj.org Ordem dos Advogados Brasileiira, Barra da Tijuca Comissão OAB Mulher www.oab-barra.org.br/institucional/comissões Presidente: Dra Sheila Lasevitch Soltar os Sentidos Associação Juvenil Rua da Cruz Nova nº6, 3020-170 Eiras, Coimbra - Portugal Fixo: 239 439 101 Móvel: 926990815 soltarossentidos@gmail.com www.soltar-os-sentidos.pt/ PARCEIROS PARTNERSHIP 9 Associação Portuguesa de Criminologia Rua de Zurique n.º 9, 4485-515 Mindelo, Vila do Conde, Portugal. (+351) 937 516 990 – Vítor Miguel Silva (+351) 916 626 369 – Isabel Costa http://apcriminologia.com/newapc/ geral@apcriminologia.com CLIP CLÍNICA DE PSICOTERAPIA E INSTITUTO DE MEDIAÇÃO Rua Luciana de Abreu, 337 conj. 404e503 Porto Alegre - RS (51) 3222.6134 www.clipmed.com.br info@clipmed.com.br Instituto de Certificação e Formação de Mediadores Lusofonos ICFML Maria João Castelo Branco +351 967 144 328 Thomas Gaultier abmulher.barra@oabrj.org.br +351 916 441 499 no Brasil - Lilian Santos +55 (11) 98763-1969 https://icfml.wordpress.com/ Observatório da Guarda Compartilhada www.obgcbrasil.wix.com/guardacompbr obgcbrasil@gmail.com Atlas da Guarda Compartilhada http://www.atlasdaguardacompartilhada.com/ 10 Associação Conversas de Psicologia Vitor Nuno Anjos http://conversasdepsicologia.com/ conversasdepsicologia@gmail.com (+351) 912 387 657 11 A Equipa da Revista Alienação Parental é composta de uma parceira lusobrasileira, Partindo da iniciativa de Sandra Inês Feitor, jurista portuguesa, com tese de mestrado em direito publicada pela Coimbra Editora, intitulada «A Síndrome de Alienação Parental e o seu Tratamento à Luz do Direito de Menores». Com a estreita colaboração de todos os parceiros torna-se possível concretizar um projecto sério de criação de uma revista sobre o tema Alienação Parental com âmbito luso- brasileiro. A Alienação Parental, independente de ser ou não considerada uma síndrome, é um fenómeno socio-jurídico e familiar multidisciplinar e globalizado. Não se trata de um fenómeno novo, mas pouco conhecido, quer pela sociedade em geral, quer pelos operadores de direito, pelo que é fundamental a divulgação, informação e formação sobre este tema para todos os operadores que com ele se deparam no exercício da sua atividade, e para as famílias. A Alienação Parental tem sido um fenómeno em expansão, no qual não há vencedores, mas em que a maior vítima e quem mais sofre são as crianças, uma vez que são a peça principal deste jogo de domínio dos afetos. Tem sido considerada como um abuso emocional, uma violência psicológica para as crianças com potenciais graves consequências, quer para o seu superior interesse e bem-estar psico-emocional, quer para o seu desenvolvimento da personalidade, e projeção na vida adulta. Os atos de alienação parental violam gravemente a dignidade da criança, o seu direito à liberdade dos afetos, violando a Convenção Europeia dos Direitos da Criança e os seus Direitos Constitucionais Fundamentais, pois que destrói, desestrutura, desmoraliza e desacredita os laços paterno-filiais. Deste modo, todos os esforços empreendidos na informação acerca do que é a Alienação Parental e os seus aspetos jurídicos, quer dirigida à sociedade em geral, quer dirigida às escolas, aos operadores das ciências sociais e jurídicas, serão um novo ganho, uma nova conquista no combate a este fenómeno. EDITORIAL EDITORIAL 12 A Revista Digital Alienação Parental vem trazer informação sobre o tema em diversas áreas, facultando conhecimento e instrumentos de trabalho. 13 Parental Alienation Magazine Team consists of a Luso-Brazilian partnership, founded by Sandra Ines Feitor, Portuguese jurist, with master's thesis in law published by Coimbra Editora, entitled «Parental Alienation Syndrome and its Treatment in the Light of Child’s Law». With the close collaboration of all partners it becomes possible to implement a serious plan to create a magazine on Parental Alienation issue with Luso-Brazilian context and contributes. Parental Alienation, regardless of whether it is considered or not a syndrome, is a socio-legal and family phenomenon. This is not a new issue, but less known by society, and mostly by legal professionals, justifying the need of specialized information and training on this topic for all law operators whom are faced with, but also for families who are apart. Parental Alienation has been a growing phenomenon, in which there are no winners, but most victims and those who suffer most are children, since they are the centerpiece of parental conflict. Has been considered as emotional abuse, psychological violence to children which can have serious consequences, either for their best interests, and psycho- emotional well-being and for the development of personality, with projection into adulthood. Also, is a violation of fundamental and constitutional rights of children. Acts of parental alienation seriously violate the dignity of the child, the right to freedom of affection in violation of the European Convention on Rights of the Child because it destroys, disrupts, demoralize and discredit the paternal-branch ties. Thus, all efforts in information about what is Parental Alienation and its legal aspects, whether directed to society in general, and directed to schools, operators of social and legal sciences, will gain a new achievement in combating, prevent and understand this phenomenon, its characteristics and dynamics. The Digital Luso-brazilian Magazine on Parental Alienation is bringing information on the subject in several areas, providing knowledge and tools in order to a paradigm change, in law, and in court practice. 14 A Revista Alienação Parental é composta por entrevistas com profissionais, instituições e parceiros, a fim de partilhar os seus projetos, novas leis ou projectos legislativos em discussão,bem seu trabalho e sua experiência. Também é composto por artigos sobre matérias relacionadas com a alienação parental e conflitos familiares, de forma multidisciplinar, escritos por profissionais e estudantes de Mestrado e Doutorado, em matéria de direito, psicologia, psicanálise, medicina, serviço social, mediação, terapia familiar. Uma vez que o material de informação e estudo e investigação é importante, a revista também é composto pela jurisprudência, as leis e projectos legislativos em discussão, mas também informações sobre a literatura e os eventos ou formação sobre estas questões. A Revista Luso-brasileiro é, desde a sua segunda edição, bilíngue, uma vez que é digital e tem sido de grande recepção em todo o mundo - não só em Portugal e no Brasil. As traduções não são profissionais, no entanto, como a Revista ainda não tem personalidade jurídica. A Revista representa o desejo altruísta e vontade de contribuir para a partilha de informação e conhecimento, a fim de um melhor aplicação da lei, bem como, para conceder o sistema de ferramentas de estudo, de trabalho e de pesquisa. Luso-Brasileiro Magazine tem nenhum programa de financiamento, somente graças à cooperação e esforço conjunto existente. Todas as edições são de acesso digital livre em http://revistaalienacaoparental.webnode.pt/ APRESENTAÇÃO PRESENTATION 15 Parental Alienation Magazine is composed by interviews with professionals, institutions and partners in order to share their projects, new laws or legislative projects in discussion, as well their work in the field, their experience. Also is composed by articles about matters linked with parental alienation and family conflict, in a multidisciplinary way, written by professionals and Master or PhD students, on law, psychology, psychoanalysis, medicine, social work, mediation, family therapy. Once information, study and investigation material is important, the Magazine is also composed by case law, laws and legislative projects in discussion, but also information about literature and events or formation about these matters. Luso-brazilian Magazine is, since its second edition, bilingual, once is digital and have been great reception around the world – not only in Portugal and Brazil. The translations are not professional yet, as the Magazine has not yet legal personality. The Magazine represent the altruistic desire and willingness to contribute to information sharing and knowledge, in order to a better law application, as well as, to grant the system of study, work and research tools. Luso-Brazilian Magazine has no funding program, existing only thanks to the cooperation and joint effort. All editions are free digital access in http://revistaalienacaoparental.webnode.pt/ 16 Editorial | Editorial………………………………………………………………………………………………..... 11 Apresentação | Presentation………………………………………………………………………………….. 14 Anabela Quintanilha Nós no Mundo Delas - A Mediação Familiar no Novo Regime Geral do Processo Tutelar Cível ……………………………………………………………………………………………………………………………………………. 21 Us in Their World - Family Mediation in the New Family Procedural Law ……………….. 31 Maria Perquilhas Acompanhamento pós sentencial e Incumprimento do regime do exercício das responsabilidades parentais - desafios e paradigmas …………………………………………………………. 41 Post-verdict follow-up and Failure to comply with parental responsibilities - challenges and paradigms …………………………………………………………………………………………………………………………… 49 Paulo Guerra O novo conceito do MELHOR interesse da criança e a convivência familiar ……………… 57 The New Concept of Child BEST INTEREST and Child Family Life ……………………………… 67 Helena Monteiro O papel do Assistente Social – o valor da Vinculação ……………………………………………….. 78 The Role of Social Worker – The value of bounds …………………………………………………….. 92 Amanda Sheffer Oportunismo na Alienação Parental ……………………………………………………………………….. 106 The Opportunist Use of Parental Alienation ……………………………………………………………. 124 Dulce Nascimento Inovações do Sistema Brasileiro na Mediação - Novos Horizontes da Mediação …….. 142 Innovations of the Brazilian Mediation System - New Mediation Horizons …………….. 152 Juliana Rodrigues de Souza Abuso de Direito e Abuso da Autoridade Parental – Paradigma Civilista Constitucional ………………………………………………………………………………………………………………………………. 162 Law Abuse and Abuse of Parental Authority Legal and Constitutional Paradigm …… 172 Sandra Inês Feitor Privação da Convivência Familiar e a Realização de Perícias ………………………………….. 182 Deprivation of Family Life and Expertise ……………………………………………………………….. 189 ÍNDICE CONTENTE 17 Andreia Calçada Criança sintoma e sintoma psicossomático – avaliar e identificar ………………………….. 196 Child symptom and psychosomatic symptom - evaluate and identify ……………………. 201 Ana Massena A Convenção Europeia sobre o Exercício dos Direitos da Criança e o papel do Ministério Público na concretização do superior interesse (da criança) .…………………………………………….. 206 The European Convention on the Exercise of the Rights of the Child and the role of the Public Prosecutor's Office in the realization of the highest interest (of the child) …………………………. 228 Ana Rita Gil Child Friendly Justice – Orientações Europeias Para Uma Mudança de Paradigma … 248 Child Friendly Justice - European Guidelines for A Paradigm Shift ………………………….. 258 Manuela Porto Saber ouvir as crianças – Vozes Silenciadas ………………………………………………………….. 267 How to listen to children - Silenced Voices ……………………………………………………………. 273 João D’Oliveira Coias Recomendação do Conselho da Europa nº 2079, de 02.2015, sobre o valor fundamental da convivência familiar …………………………………………………………………………………………………………. 279 Recommendation of the Council of Europe nº 2079, of 02.2015, on the fundamental value of the Family Life ………………………………………………………………………………………………………………. 287 18 162 ABUSO DE DIREITO E ABUSO DA AUTORIDADE PARENTAL – PARADIGMA CIVILISTA CONSTITUCIONAL Juliana Rodrigues de Souza Advogada, mestranda na Universidade Autónoma de Lisboa - Portugal; graduada em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUC/RS; Especialista em Direito Público pela Fundação Escola Superior do Ministério Público - FMP/RS; Diretora de Porto Alegre/RS da Associação Brasileira Criança Feliz – ABCF, membro do IBDFAM, autora de artigos nacionais e internacionais e do livro “Alienação Parental sob a perspectiva do direito à convivência familiar”. “Podemos escapar de tudo, menos da nossa infância” (Beryl Bain bridge) RESUMO O abuso de direito e abuso da autoridade parental sob o paradigma civilista constitucional representa uma temática de fundamental importância nos contextos familiares. Percebe-se que as situações decorrentes da Alienação Parental, em que a convivência familiar de um dos genitores com a criança e/ou o adolescente é prejudicada, ocorre uma completa violação aos deveres parentais e um desrespeito aos direitos mais basilares dos indivíduos. Assim, para atingir o objetivo proposto, tornou-se imprescindível dividir a investigação em três partes. Na primeira, apresentam- se as mudanças nos contextos familiares. Na segunda, aborda-se os aspectos gerais doabuso do direito. E, por fim, na terceira, demonstra-se a autoridade parental na perspectiva civil constitucional. Percebe-se que refletir acerca desta temática proporciona a conscientização de que cada vez mais as condutas provenientes da Alienação Parental não podem mais ser toleradas pela sociedade. PALAVRAS-CHAVE: Abuso de direito. Autoridade Parental. Direito de família. ABSTRACT The abuse of rights and abuse of parental authority under the constitutional and civilian paradigms represents a theme of fundamental importance in family contexts. It is noticed that the situations resulting from the Parental Alienation, where the family life of one of the parents with the child and/or the adolescent is impaired, a complete violation of the parental duties and a disrespect to the most basic rights of the people occurs. Thus, to achieve the proposed goal, it has 163 become essential to divide this research into three parts. In the first one, the changes in the familiar contexts are presented. The second deals with the general aspects of abuse of rights. And finally, in the third, parental authority is demonstrated from a civil and constitutional perspective. It is verified that to bethink on this subject provides the awareness that more and more the conducts coming from the Parental Alienation can no longer be tolerated by the society. KEYWORDS: Abuse of law. Parental Authority. Family right. INTRODUÇÃO O abuso de direito e abuso da autoridade parental sob o paradigma civilista constitucional representa uma temática de fundamental importância nos contextos familiares. Constata-se que as profundas modificações na sociedade influenciaram o exercício das responsabilidades parentais na contemporaneidade, de modo que os pais objetivam participar mais efetivamente no desenvolvimento de seus filhos. Porém, em situações decorrentes da Alienação Parental, em que a convivência familiar de um dos genitores com a criança e/ou o adolescente é prejudicada, ocorre uma completa violação aos deveres parentais. Nesse sentido, para compreender as questões que envolvem o abuso de direito e o abuso da autoridade parental a investigação foi divida em três partes. Na primeira, apresentam-se as mudanças nos contextos familiares. Na segunda, aborda-se os aspectos gerais do abuso do direito. E, por fim, na terceira, demonstra-se a autoridade parental na perspectiva civil constitucional. Percebe-se que refletir acerca desta temática proporciona a conscientização de que cada vez mais que as condutas provenientes da Alienação Parental não podem mais ser toleradas pela sociedade. Apesar de não haver um legislação específica, Portugal tem conseguido avançar neste tema. E no Brasil, até pouco tempo, não havia uma legislação pertinente, o que ocasionava um completo desrespeito aos direitos mais basilares de nossas crianças e adolescentes. 1. DAS MUDANÇAS NOS CONTEXTOS FAMILIARES O conceito de família se modifica de modo contínuo e se renova de acordo com as alterações do indivíduo na sociedade. Para realizar um adequado entendimento do instituto, é 164 importante analisar não apenas o momento histórico, mas também, o sistema normativo em vigor177. O direito de família precisa, constantemente, sofrer adaptações significativas no âmbito jurídico, com a finalidade de atender os anseios sociais e individuais. Adequações estas que se relacionam, de modo primordial com os aspectos conceituais do próprio instituto e com a interpretação legislativa e a análise de decisões com o passar dos anos. É essencial ressaltar que o seu conceito não é estático, tendo em vista que varia de acordo com o momento histórico e social de cada época e ainda reflete modificações quando as relações sociais, culturais e entre as gerações se alteram178. No Brasil, a Constituição Federal de 1988 estabeleceu novos valores sociais e revalorizou a pessoa humana. A família foi reconhecida como base da sociedade e passou-se a admitir outras maneiras de composição, de modo que foi assegurado o tratamento prioritário às crianças e aos adolescentes, baseado na igualdade e dignidade da pessoa humana179. A existência de valores supremos são imprescindíveis ao relacionamento humano, de modo que a família é uma instituição necessária ao pleno desenvolvimento da personalidade das pessoas. E ainda, devido ao “direito que o menor tem de crescer e desenvolver plenamente sua personalidade, dentro do grupo familiar, não pode ser, de forma alguma, relegado a um plano secundário”180. Devido as mudanças impostas na sociedade contemporânea, em que os pais cada vez mais buscam participar e acompanhar de forma mais efetiva da vida dos filhos e estão mais conscientes do papel que desempenham na vida deles, é proporcionado a ambos a oportunidade de exercerem a guarda dos filhos, em condições de igualdade. Porém, em determinados casos evidencia-se situações de abusos de direito e de abusos de autoridade parental pelas pessoas que deveriam proteger, amar e educar as crianças e os adolescentes. Constata-se que nestas situações, os filhos encontram-se totalmente fragilizados em decorrência de um conflito que envolve os seus pais, prejudica a convivência familiar saudável com um dos genitores e desrrespeita diversos direitos fundamentais inerentes a pessoa humana. 177 GROENINGA, Giselle Câmara – Família: um caleidoscópio de relações. In GROENINGA, Giselle Câmara; PEREIRA, Rodrigo da Cunha. (coords.) – Direito de família e psicanálise: rumo a uma nova epistemologia. Rio de Janeiro: Imago, 2003, p. 125-176. 178 GROENINGA, Giselle Câmara – Família: um caleidoscópio de relações. In GROENINGA, Giselle Câmara; PEREIRA, Rodrigo da Cunha. (coords.) – Direito de família e psicanálise: rumo a uma nova epistemologia. Rio de Janeiro: Imago, 2003, p. 125-176. 179 MARQUES, Suzana Oliveira – Princípios do direito de família e guarda dos filhos. Belo Horizonte: Del Rey, 2009, p. 25. 180 ELIAS, Roberto João – Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente: (Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990). 3.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 21. 165 2. DOS ASPECTOS GERAIS DO ABUSO DO DIREITO O impedimento a convivência familiar saudável de criança ou de um adolescente com seus pais representa a mais severa maneira de um abuso de direito, que afronta diversos princípios constitucionais e valores de ordem moral e jurídico que decorrem das relações familiares. Conforme Sílvio Rodrigues, o abuso de direito “ocorre quando o agente, atuando dentro das prerrogativas que o ordenamento jurídico lhe concede, deixa de considerar a finalidade social do direito subjetivo e, ao utilizá-lo desconsideradamente, causa dano a outrem.”181, ou seja, a pessoa que causar uma prejuízo para outra pessoa pratica um ato ilícito e é obrigada a reparar dano causado. Não há violação aos limites objetivos da lei, tendo em vista que o indivíduo obedece a previsão legislativa, mas desvia a sua finalidade social e o espírito que a norteia. O abuso ocorre quando o titular utiliza o seu direito para causar um malefício à outra pessoa, com a finalidade de praticar um mal, e sem proveito próprio. Destaca-se que o fundamento ético da teoria caracteriza-se pela percepção de que a lei não deve permitir que alguém utilizasse o seu direito exclusivamente para causar dano a outrem182. O abuso de direito representa a licitude no antecedente e ilicitude no conseqüente, de maneira que inicialmente o agente dispensa o direito, mas exerce com excesso ou com abuso. O ato lícito converte-se em ilícito devido ao excesso e não em decorrência de sua origem. Constata-se, assim, que no abuso ocorre a apreciação relativa a maneira pelo qual o titular exerce o direito183. Percebe-se que o abuso “é espécie de ato ilícito, que pressupõe a violação de direito alheio mediante conduta intencional que exorbita o regular exercício de direito subjetivo”184. Portanto, o abuso de direito refere-se a uma pretensão de um exercício injusto e irregular de um direito legítimo e reconhecido. Ainda, é necessário estabelecer a diferença entre ato ilícito e ato abusivo. O primeiro representa uma violação frontal a uma lei e o segundo, por sua vez, “pressupõem a existência de um direito subjetivo ou de uma situação jurídica subjetiva, de titularidade do agente, exercido de maneira anormal, com desvio de finalidade”185. 181 RODRIGUES, Sílvio – Direito Civil. Vol. 4 – Responsabilidade Civil. 20.ª ed. de acordo com o novo Código Civil (Lei n.º 10.406, de 10-1-2002). São Paulo: Saraiva, 2003, p. 46. 182 PEREIRA, Caio Mário da Silva – Instituições de direito civil. 18.ª ed. Vol. 1. Rio de Janeiro: Forense, 1995, p. 430. 183 LORENZETTI, Ricardo Luis – Nuevas Fronteras del Abuso de Derecho. Revista dos Tribunais. São Paulo. Vol. 85, n.º 723 (Jan. 1996), p. 53. 184 NADER, Paulo – Curso de Direito Civil. Parte Geral. Vol. 1. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 553. 185 ABDO, Helena Najjar – O abuso do processo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 104-105. 166 O Código Civil brasileiro de 1916, abordou de uma maneira muito discreta em seu art. 160, I as nuances para a futura positivação da teoria do abuso de direito na atual legislação civilista, ao reconhecer que “não constituem atos ilícitos: I – Os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido”186. Por seu turno, o atual Código Civil do Brasil instituído pela Lei n.º 10.406, de 10 de janeiro de 2002, em seu artigo 187, apesar que não mencionar a denominação, positivou a teoria do abuso de direito ao reconhecer que: “também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê- lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes”187. E, nesse sentido, Farias e Rosenvald apontam que o legislador brasileiro inspirou-se no artigo 334 do Código Civil de Portugal, que assevera: “É ilegítimo o exercício de um direito, quando o titular exceda manifestamente os limites impostos pela boa fé, pelos bons costumes ou pelo fim social ou econômico desse direito”188. Ao fazer uma relação deste tema com o âmbito familiar, percebe-se que comete um verdadeiro abuso de direito aquele que detém a responsabilidade parental e o exerce de maneira irregular, desviando-se das finalidades sociais e jurídicas inerentes as condições de pais. Acerca dos excessos cometidos nas relações familiares, Roberta Mercantônio reflete que por envolver questões íntimas e diversos sentimentos, os abusos e os limites ocorrem, em determinadas situações, sem que as pessoas percebam os seus atos189. Destaca-se ainda que a “Alienação Parental constitui uma forma de maltrato e abuso infantil, aliás, um abuso que se reveste de características pouco convencionais do ponto de vista de como o senso comum está acostumado a identificá-lo, e, por isso mesmo, muito grave, porque difícil de ser constatado”190. E nos contextos familiares, indiscutivelmente, os filhos são as maiores vítimas destes excessos cometidos que ultrapassam os limites e caracterizam-se como abusos, que deixam marcas profundas e danos irreparáveis nas suas formações. 186 CÓDIGO CIVIL: Lei n.º 3.071, de 01 de janeiro. [Em linha]. Brasília: Planalto, 1916. [Consult. 15 Jan. 2017]. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L3071.htm 187 CÓDIGO CIVIL: Lei n.º 10.406, de 10 de janeiro. [Em linha]. Brasília: Planalto, 2002. [Consult. 15 Jan. 2017]. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm 188 FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson – Curso de Direito Civil. Parte Geral, 10.ª ed. Salvador: Editora Juspodivm, 2012, p. 681 e CÓDIGO CIVIL: Lei n.º 10.406, de 10 de janeiro. [Em linha]. Brasília - Brasil: Planalto, 2002. [Consult. 15 Jan. 2017]. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm 189 MERCANTÔNIO, Roberta – Abuso de Direito no direito de família. Revista IBDFAM. Porto Alegre: Magister. Vol. 15 (Abril/Maio 2010), p. 50. 190 TRINDADE, Jorge – Síndrome de Alienação Parental. In: DIAS, Maria Berenice (coord.) – Incesto e alienação parental: realidades que a justiça insiste em não ver. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010, p. 25. 167 3. DA AUTORIDADE PARENTAL NA PERSPECTIVA CIVIL CONSTITUCIONAL As normas que disciplinam o direito de família devem convergir para a pessoa humana, para o desenvolvimento de sua personalidade, para o elemento finalístico da proteção estatal, de maneira a regular as relações mais íntimas e mais intensas do indivíduo no âmbito social. No direito positivo brasileiro, a família recebe especial proteção na medida em que a Constituição reconhece o importante papel na promoção da dignidade humana. Porém, a tutela privilegiada encontra-se condicionada ao atendimento dessa função191. Percebe-se ainda que a função essencial de uma família decorra de uma ampla proteção à dignidade de cada indivíduo que a compõe, para que se concretize a tutela constitucional privilegiada. E, nesse sentido, se reconhece que diante do paradigma civilista constitucional tornou-se incoerente proteger as relações privadas quando não estão presentes estas funções. Acerca da importância do princípio da dignidade da pessoa humana no âmbito familiar, denota-se que “representa o epicentro axiológico da ordem constitucional irradiando efeitos sobre todo o ordenamento jurídico e, balizando não apenas os atos estatais, mas também toda a miríade de relações privadas que se desenvolvam no seio da sociedade civil”192. E no mesmo sentido, são as ponderações de Norberto Bobbio ao afirmar que ordenamento jurídico desempenha funções específicas, de assegurar a certeza, a mobilidade e a eficácia ao sistema normativo em vigor. Além disso, alcançar um determinado fim não representa a única função do direito na sociedade, mas também tem o escopo de representar o instrumento útil para percorrer diversas finalidades193. No âmbito constitucional, se evidencia que diversos princípios estão embasados na dignidade da pessoa humana e dentre eles, destacam-se: o melhor interesse da criança e do adolescente; a pluralidade de formas de família; a autonomia e menor intervenção estatal; a afetividade e a paternidade responsável194. Além disso, o art. 227 da Constituição Federal do Brasil prevê expressamente que: “É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à 191 TEPEDINO, Gustavo – Novas formas de entidades familiares: efeitos do casamento e da família não fundada no matrimônio. In: TEPEDINO, Gustavo. Temas de direito civil. 4.ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2008, p. 394. 192 SARMENTO, Daniel – A ponderação de interesses na constituição. Rio de Janeiro: Lumen Júris, 2000, p. 59. 193 BOBBIO, Norberto – Da estrutura à função: novos estudos de teoria do direito. Trad. Daniela Beccaccia Versiani. Rev. Orlando Seixas Bechara, Renata Nagamine. Barueri, São Paulo: Manole, 2007, p. 54-57. 194 MADALENO, Rolf – Curso de direito de família. 6.ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015, p. 49. 168 educação, ao lazer, (...) à dignidade, ao respeito,à liberdade e à convivência familiar e comunitária (...)”195. Dessa forma, o constituinte brasileiro estabeleceu de modo expresso o dever aos pais de assegurar o melhor interesse para os seus filhos. Contudo, Tânia da Silva Pereira reforça que ocorrendo abusos por parte dos pais ou os responsáveis, o Estado pode intervir nas relações familiares, de modo que “o abuso da autoridade e a falta aos deveres inerentes à autoridade parental autorizam o Juiz a adotar medida que lhe pareça reclamada pela segurança do filho e seus haveres, podendo inclusive suspender suas prerrogativas”196. Da mesma forma, o art. 3.º da lei brasileira de Alienação Parental, Lei nº 12.318, de 26 de agosto de 2010, reforça que: A prática de ato de alienação parental fere direito fundamental da criança ou do adolescente de convivência familiar saudável, prejudica a realização de afeto nas relações com genitor e com o grupo familiar, constitui abuso moral contra a criança ou o adolescente e descumprimento dos deveres inerentes à autoridade parental ou decorrentes de tutela ou guarda. (Grifo da autora) Assim, a Alienação Parental caracteriza-se como um grave abuso de direito, em que os pais ou reponsáveis utilizam os seus direitos em detrimento dos melhores interesses da criança ou do adolescente. Ainda, com a finalidade de evitar a propagação dos abusos e as consequências nas vítimas, a Lei nº 12.318, de 26 de agosto de 2010 estabeleceu no art 6.º que: Art. 6º Caracterizados atos típicos de alienação parental ou qualquer conduta que dificulte a convivência de criança ou adolescente com genitor, em ação autônoma ou incidental, o juiz poderá, cumulativamente ou não, sem prejuízo da decorrente responsabilidade civil ou criminal e da ampla utilização de instrumentos processuais aptos a inibir ou atenuar seus efeitos, segundo a gravidade do caso: I - declarar a ocorrência de alienação parental e advertir o alienador; II - ampliar o regime de convivência familiar em favor do genitor alienado; III - estipular multa ao alienador; IV - determinar acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial; 195 CONSTITUIÇÃO da República Federativa do Brasil, de 05 de Outubro. [Em linha]. Brasília: Planalto, 1988. [Consult. 15 Jan. 2017]. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm 196 PEREIRA, Tânia da Silva – Direito da criança e do adolescente – uma proposta interdisciplinar. 2.ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2008, p. 69. 169 V - determinar a alteração da guarda para guarda compartilhada ou sua inversão; VI - determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou adolescente; VII - declarar a suspensão da autoridade parental. A finalidade da legislação ao estabelecer as medidas previstas no art. 6.º, da Lei de Alienação Parental é fazer com que os pais ou responsáveis reflitam acerca do exercício abusivo da autoridade parental e, de modo especial, que compreendam o verdadeiro papel que desempenham na vida das crianças e dos adolescentes. Em situações como estas é imprescindível que o Estado realize uma intervenção, para que amenizem os prejuízos as vítimas deste fenômeno. Em consonância com o proposto, Guilherme Calmon alerta que as responsabilidades parentais ultrapassam os limites temporais impostos à autoridade parental, tendo em vista que não se refere apenas à decisão de se tornar pai ou mãe, mas, sobretudo, de permanecer responsáveis pelos filhos durante toda a vida, de modo especial na fase da formação e do desenvolvimento da personalidade197. Diante de quaisquer evidências de abuso de autoridade parental em decorrências do impedimento de uma convivência familiar saúdável, sejam aplicadas as medidas cabíveis a fim de minimizar os danos as crianças e os adolescentes. Além disso, “casos de maltrato e abuso são sempre graves e merecem eficaz reprimenda judicial, inclusive com a adoção de mdidas que façam cessar o abuso”198. E, por fim, tendo em vista que os casos de Alienação Parental caracterizam-se como um verdadeiro abuso da autoridade parental, que sejam identificados precocemente, com a finalidade de amenizar os danos aos envolvidos e, principalmente, para tornar efetiva as legislações civilista constitucional previstas no ordenamento jurídico que protegem as nossas criança e adolescentes. CONCLUSÃO O abuso de direito e abuso da autoridade parental sob o paradigma civilista constitucional refere-se a uma temática que proporciona uma reflexão mais intensa de que é imperioso assegurar a todas as crianças e aos adolescentes uma ampla proteção aos direitos fundamentais. 197 GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da – A nova filiação: o biodireito e as relações parentais: o estabelecimento da parentalidade filiação e os efeitos jurídicos da reprodução assistida heteróloga. Rio de Janeiro: Renovar, 2003, p. 455. 198 DIAS, Maria Berenice – Alienação Parental: um crime sem punição. In: DIAS, Maria Berenice (coord.). Incesto e alienação parental: realidades que a justiça insiste em não ver. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010, p. 20. 170 Ainda, devido as mudanças nos contextos sociais, os genitores buscam participar de maneira mais efetiva no desenvolvimento de seus filhos. E, nesse sentido, impedir a convivência familiar da criança ou do adolescente com um dos seus genitores em decorrência de atos de Alienação Parental representa a mais severa forma de um abuso de direito. Situações como estas, de um evidente exercício irresponsável da autoridade parental, afrontam os diversos princípios estabelecidos pelo legislador constituinte e os valores no âmbito social, moral e jurídico provenientes das relações familiares. O tema releva uma reflexão mais ampla de que condutas provenientes de Alienação Parental não podem mais ser toleradas pela sociedade e devem ser combatidas pelo Poder Judiciário. Espera-se que o Estado consiga intervir nas relações familiares sempre que houver a violação as normas civilistas constitucionais estabelecidas no ordenamento jurídico. E que cada indivíduo consiga compreender o seu papel na sociedade e auxilie a coibir os atos abusivos ocorridos no âmbito familiar, sejam eles de direito e de autoridade parental. E ainda, que a Alienação Parental seja combatida por meio de instrumentos jurídicos capazes de salvaguardar os direitos mais basilares de nossas crianças e adolescentes. BIBLIOGRAFIA ABDO, Helena Najjar – O abuso do processo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. BOBBIO, Norberto – Da estrutura à função: novos estudos de teoria do direito. Trad. Daniela Beccaccia Versiani. Rev. Orlando Seixas Bechara, Renata Nagamine. Barueri, São Paulo: Manole, 2007. CÓDIGO CIVIL: Lei n.º 3.071, de 01 de janeiro. [Em linha]. Brasília: Planalto, 1916. [Consult. 15 Jan. 2017]. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L3071.htm CÓDIGO CIVIL: Lei n.º 10.406, de 10 de janeiro. [Em linha]. Brasília: Planalto, 2002. [Consult. 15 Jan. 2017]. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm CONSTITUIÇÃO da República Federativa do Brasil, de 05 de Outubro. [Em linha]. Brasília: Planalto, 1988. [Consult. 15 Jan. 2017]. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm DIAS, Maria Berenice – Alienação Parental: um crime sem punição. In: DIAS, Maria Berenice (coord.). Incesto e alienação parental: realidades que a justiça insiste em não ver. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010. ELIAS, Roberto João – Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente:(Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990). 3.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2008. 171 FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson – Curso de Direito Civil. Parte Geral, 10.ª ed. Salvador: Editora Juspodivm, 2012. GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da – A nova filiação: o biodireito e as relações parentais: o estabelecimento da parentalidade filiação e os efeitos jurídicos da reprodução assistida heteróloga. Rio de Janeiro: Renovar, 2003. GROENINGA, Giselle Câmara – Família: um caleidoscópio de relações. In GROENINGA, Giselle Câmara; PEREIRA, Rodrigo da Cunha. (coords.) – Direito de família e psicanálise: rumo a uma nova epistemologia. Rio de Janeiro: Imago, 2003. LORENZETTI, Ricardo Luis – Nuevas Fronteras del Abuso de Derecho. Revista dos Tribunais. São Paulo. Vol. 85, n.º 723 (Jan. 1996), p. 53–65. MADALENO, Rolf – Curso de direito de família. 6.ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. MARQUES, Suzana Oliveira – Princípios do direito de família e guarda dos filhos. Belo Horizonte: Del Rey, 2009. MERCANTÔNIO, Roberta – Abuso de Direito no direito de família. Revista IBDFAM. Porto Alegre: Magister. Vol. 15 (Abril/Maio 2010), p. 50-88. NADER, Paulo – Curso de Direito Civil. Parte Geral. Vol. 1. Rio de Janeiro: Forense, 2004. PEREIRA, Caio Mário da Silva – Instituições de direito civil. 18.ª ed. Vol. 1. Rio de Janeiro: Forense, 1995. PEREIRA, Tânia da Silva – Direito da criança e do adolescente – uma proposta interdisciplinar. 2.ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2008. RODRIGUES, Sílvio – Direito Civil. Vol. 4 – Responsabilidade Civil. 20.ª ed. de acordo com o novo Código Civil (Lei n.º 10.406, de 10-1-2002). São Paulo: Saraiva, 2003. SARMENTO, Daniel – A ponderação de interesses na constituição. Rio de Janeiro: Lumen Júris, 2000. TEPEDINO, Gustavo – Novas formas de entidades familiares: efeitos do casamento e da família não fundada no matrimônio. In: TEPEDINO, Gustavo. Temas de direito civil. 4.ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2008. TRINDADE, Jorge – Síndrome de Alienação Parental. In: DIAS, Maria Berenice (coord.) – Incesto e alienação parental: realidades que a justiça insiste em não ver. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010. Law Abuse and Abuse of Parental Authority Legal and Constitutional Paradigm Juliana Rodrigues de Souza 172 Lawyer, Master and PhD at the Autonomous University of Lisbon - Portugal; Graduated in Law from Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUC / RS; Specialist in Public Law by Fundação Superior do Ministério Público - FMP / RS; Director of Porto Alegre/RS of the Happy Child Brazilian Association - ABCF, member of IBDFAM, author of national and international articles and the book "Parental Alienation from the perspective of the right to family life." "We can escape everything except our childhood" (Beryl Bain bridge) ABSTRACT The abuse of rights and abuse of parental authority under the constitutional civilian paradigm represents a theme of fundamental importance in family contexts. It is noticed that the situations resulting from the Parental Alienation, in which the family life of one of the parents with the child and/or the adolescent is impaired, a complete violation of the parental duties and a disrespect to the most basic rights of the individuals occurs. Thus, in order to achieve the proposed objective, it has become essential to divide research into three parts. In the first one, the changes in the familiar contexts are presented. The second deals with the general aspects of abuse of rights. And finally, in the third, parental authority is demonstrated in the constitutional civilian perspective. It is perceived that reflecting on this theme provides the awareness that more and more conduct from Parental Alienation can no longer be tolerated by society. KEY WORDS: law Abuse. Parental Authority. Family right. INTRODUCTION The abuse of rights and law abuse of parental authority under the constitutional civilian paradigm represents a theme of fundamental importance in family contexts. It is seen that profound changes in society have influenced the exercise of parental responsibilities in the contemporary world, so that parents aim to participate more effectively in the development of their children. However, in situations resulting from Parental Alienation, in which the family relationship of one of the parents with the child and/or the adolescent is impaired, a complete violation of parental duties occurs. 173 In this sense, to understand the issues involving abuse of law and abuse of parental authority the investigation was divided into three parts. In the first one, the changes in the familiar contexts are presented. The second deals with the general aspects of abuse of rights. And finally, in the third, parental authority is demonstrated in the constitutional civilian perspective. It is perceived that to reflect on this theme provides the awareness that more and more that the conducts coming from the Parental Alienation can no longer be tolerated by the society. Although there is no specific legislation, Portugal has been able to move forward on this issue. And in Brazil, until recently, there was no relevant legislation, which caused a complete disrespect to the most basic rights of our children and adolescents. 1. CHANGES IN FAMILY CONTEXTS The concept of family is continuously modified and renewed according to the changes of the individual in society. In order to achieve an adequate understanding of the institute, it is important to analyze not only the historical moment, but also the normative system in force199. Family law must constantly undergo significant adjustments in the legal sphere, in order to meet social and individual needs. These appropriations relate primarily to the conceptual aspects of the institute itself and to the legislative interpretation and analysis of decisions over the years. It is essential to emphasize that its concept is not static, since it varies according to the historical and social moment of each epoch and still reflects changes when social, cultural and intergenerational relations change200. In Brazil, the Federal Constitution of 1988 established new social values and revalued the human person. The family was recognized as the basis of society and other forms of composition were admitted, so that priority treatment for children and adolescents was ensured, based on equality and dignity of the human person201. The existence of supreme values are indispensable to the human relationship, so that the family is an institution necessary for the full development of the personality of the people. And 199 GROENINGA, Giselle Câmara – Família: um caleidoscópio de relações. In GROENINGA, Giselle Câmara; PEREIRA, Rodrigo da Cunha. (coords.) – Direito de família e psicanálise: rumo a uma nova epistemologia. Rio de Janeiro: Imago, 2003, p. 125-176. 200 GROENINGA, Giselle Câmara – Família: um caleidoscópio de relações. In GROENINGA, Giselle Câmara; PEREIRA, Rodrigo da Cunha. (coords.) – Direito de família e psicanálise: rumo a uma nova epistemologia. Rio de Janeiro: Imago, 2003, p. 125-176. 201 MARQUES, Suzana Oliveira – Princípios do direito de família e guarda dos filhos. Belo Horizonte: Del Rey, 2009, p. 25. 174 yet, because of the "right of the child to grow and fully develop his personality within the family group, he cannot in any way be relegated to a secondary plane.202" Due to changes in contemporary society, where parents increasingly seek to participate and more effectively accompany their children'slives and are more aware of the role they play in their lives, both are afforded the opportunity to exercise custody of children. Children on an equal basis. However, in certain cases there are situations of abuse of rights and abuse of parental authority by those who should protect, love and educate children and adolescents. It is noticed that in these situations, the children are totally fragile due to a conflict that involves their parents, harms the healthy family life with one of the parents and disrespects several fundamental rights inherent to the human person. 2. GENERAL ASPECTS OF THE ABUSE OF LAW The impediment to the healthy family life of a child or an adolescent with his or her parents represents the most severe form of abuse of rights, which violates several constitutional principles and moral and juridical values derived from family relationships. According to Sílvio Rodrigues, abuse of rights "occurs when the agent, acting within the prerogatives that the legal system grants him, fails to consider the social purpose of the subjective right and, when using it inconsiderately, causes harm to another.203", Or Either the person causing injury to another person practices an unlawful act and is obliged to repair damage caused. There is no violation of the objective limits of the law, since the individual obeys the legislative forecast, but deviates its social purpose and the spirit that guides it. Abuse occurs when the owner uses his right to cause harm to the other person, for the purpose of practicing an evil, and to no avail. It is emphasized that the ethical foundation of theory is characterized by the perception that the law should not allow anyone to use their right exclusively to cause harm to others204. The abuse of law represents the lawfulness in the antecedent and illegal in the consequent, so that initially the agent dispenses the right, but exerts with excess or with abuse. The lawful act 202 ELIAS, Roberto João – Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente: (Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990). 3.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 21. 203 RODRIGUES, Sílvio – Direito Civil. Vol. 4 – Responsabilidade Civil. 20.ª ed. de acordo com o novo Código Civil (Lei n.º 10.406, de 10-1-2002). São Paulo: Saraiva, 2003, p. 46. 204 PEREIRA, Caio Mário da Silva – Instituições de direito civil. 18.ª ed. Vol. 1. Rio de Janeiro: Forense, 1995, p. 430. 175 becomes illicit because of the excess and not because of its origin. It is therefore found that in abuse there is an assessment of the manner in which the owner exercises the right205. It is perceived that abuse "is a kind of unlawful act, which presupposes the violation of the right of others through intentional conduct that outstrip the regular exercise of subjective right.206" Therefore, abuse of rights refers to a claim of an unfair and irregular exercise of a legitimate and recognized right. Moreover, it is necessary to establish the difference between an unlawful act and an abusive act. The first represents a frontal violation of a law and the second, in turn, "presupposes the existence of a subjective right or a subjective legal situation, owned by the agent, exercised abnormally, with misuse of purpose.207" The Brazilian Civil Code of 1916, addressed in a very discreet way in his art. "I do not deny that I do not constitute unlawful acts: I - Those practiced in self-defense or in the regular exercise of a recognized right"208. On the other hand, the current Civil Code of Brazil established by Law No. 10,406 of January 10, 2002, article 187, although not mentioning the denomination, positived the theory of abuse of rights by recognizing that "also An offense is committed by the owner of a right which, when exercising it, clearly exceeds the limits imposed by its economic or social purpose, by good faith or by good customs. 209" Farias and Rosenvald point out that the Brazilian legislator was inspired by Article 334 of the Civil Code of Portugal, which states: "The exercise of a right is illegitimate when the holder clearly exceeds the limits imposed by good faith, by the Good customs or for the social or economic end of this right 210". In making a relation of this subject with the family, it is perceived that it commits a true abuse of right that holds the parental responsibility and exercises it in an irregular way, diverting from the social and juridical purposes inherent to the conditions of parents. 205 LORENZETTI, Ricardo Luis – Nuevas Fronteras del Abuso de Derecho. Revista dos Tribunais. São Paulo. Vol. 85, n.º 723 (Jan. 1996), p. 53. 206 NADER, Paulo – Curso de Direito Civil. Parte Geral. Vol. 1. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 553. 207 ABDO, Helena Najjar – O abuso do processo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 104-105. 208 CÓDIGO CIVIL: Lei n.º 3.071, de 01 de janeiro. [Em linha]. Brasília: Planalto, 1916. [Consult. 15 Jan. 2017]. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L3071.htm 209 CÓDIGO CIVIL: Lei n.º 10.406, de 10 de janeiro. [Em linha]. Brasília: Planalto, 2002. [Consult. 15 Jan. 2017]. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm 210 FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson – Curso de Direito Civil. Parte Geral, 10.ª ed. Salvador: Editora Juspodivm, 2012, p. 681 e CÓDIGO CIVIL: Lei n.º 10.406, de 10 de janeiro. [Em linha]. Brasília - Brasil: Planalto, 2002. [Consult. 15 Jan. 2017]. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm 176 In making a relation of this subject with the family, it is perceived that it commits a true abuse of right that holds the parental responsibility and exercises it in an irregular way, diverting from the social and juridical purposes inherent to the conditions of parents. About the excesses committed in family relations, Roberta Mercantônio reflects that because it involves intimate issues and diverse feelings, abuses and limits occur in certain situations, without people perceiving their actions211. It is also noted that "Parental Alienation constitutes a form of child abuse and abuse, moreover, an abuse that has unconventional characteristics from the point of view of how common sense is accustomed to identify it, and for this very reason , Very serious, because difficult to be verified 212". And in family contexts, children are undoubtedly the biggest victims of these excesses that go beyond the limits and are characterized as abuses that leave deep marks and irreparable damage to their formations. 3. THE PARENTAL AUTHORITY IN THE CONSTITUTIONAL CIVIL PERSPECTIVE The rules that dominate family law must converge for the human person, for the development of his personality, for the finalist element of state protection, in order to regulate the most intimate and intense relations of the individual in the social sphere. In Brazilian law, family receives special protection insofar as the Constitution recognizes the important role in promoting human dignity. However, the privileged guardianship is conditioned to the fulfillment of this function213. It is also perceived that the essential function of a family derives from a broad protection to the dignity of each individual that composes it, so that the constitutional protection privileged. And in this sense, it is recognized that before the constitutional civilian paradigm it became incoherent to protect private relations when these functions are not present214. Regarding the importance of the principle of the dignity of the human being in the family, it is said that"it represents the axiological epicenter of the constitutional order radiating effects 211 MERCANTÔNIO, Roberta – Abuso de Direito no direito de família. Revista IBDFAM. Porto Alegre: Magister. Vol. 15 (Abril/Maio 2010), p. 50. 212 TRINDADE, Jorge – Síndrome de Alienação Parental. In: DIAS, Maria Berenice (coord.) – Incesto e alienação parental: realidades que a justiça insiste em não ver. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010, p. 25. 213 TEPEDINO, Gustavo – Novas formas de entidades familiares: efeitos do casamento e da família não fundada no matrimônio. In: TEPEDINO, Gustavo. Temas de direito civil. 4.ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2008, p. 394. 214 SARMENTO, Daniel – A ponderação de interesses na constituição. Rio de Janeiro: Lumen Júris, 2000, p. 59. 177 on the whole legal order and, not only state acts, but also all the myriad of private relations Within civil society ". And in the same sense, it is the considerations of Norberto Bobbio when affirming that legal order performs specific functions, to ensure certainty, mobility and effectiveness to the normative system in force. Moreover, achieving a particular purpose is not the sole function of law in society, but it also has the scope of representing the useful tool for pursuing various purposes215. In the constitutional scope, it is evident that several principles are based on the dignity of the human person and among them, they stand out: the best interest of the child and the adolescent; The plurality of family forms; Autonomy and less state intervention; Affection and responsible parenthood216. In addition, art. 227 of the Federal Constitution of Brazil expressly provides that: "It is the duty of the family, society and State to ensure to the child, adolescent and young person, with absolute priority, the right to life, health, food, education, Leisure, ... dignity, respect, freedom and family and community life ... "217. In this way, the Brazilian people expressly established the duty of parents to ensure the best interest for their children. However, Tânia da Silva Pereira reinforces that, in the event of abuses by parents or guardians, the State can intervene in family relations, so that "abuse of authority and lack of the duties inherent to parental authority authorize the Judge to adopt measures that Seems to him to be reclaimed by the security of the son and his possessions, and may even suspend his prerogatives. 218" Likewise, the art. 3 of the Brazilian Parental Alienation Act, Law No. 12,318, of August 26, 2010, reinforces that: The practice of parental alienation violates the fundamental right of the child or adolescent of healthy family life, impairs affection in relations with the parent and with the family group, constitutes moral abuse against the child or the adolescent and noncompliance with the duties inherent to the Parental authority or arising from guardianship or custody. Thus, Parental Alienation is characterized as a serious law abuse, in which parents or persons responsible use their rights to the detriment of the best interests of the child or 215 BOBBIO, Norberto – Da estrutura à função: novos estudos de teoria do direito. Trad. Daniela Beccaccia Versiani. Rev. Orlando Seixas Bechara, Renata Nagamine. Barueri, São Paulo: Manole, 2007, p. 54-57. 216 MADALENO, Rolf – Curso de direito de família. 6.ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015, p. 49. 217 CONSTITUIÇÃO da República Federativa do Brasil, de 05 de Outubro. [Em linha]. Brasília: Planalto, 1988. [Consult. 15 Jan. 2017]. In http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm 218 PEREIRA, Tânia da Silva – Direito da criança e do adolescente – uma proposta interdisciplinar. 2.ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2008, p. 69. 178 adolescent. Also, in order to avoid the spread of abuse and the consequences for victims, Law No. 12,318, of August 26, 2010, established in art 6 that: Art. 6 Characterized typical acts of parental alienation or any conduct that makes it difficult for the child or adolescent to coexist with a parent, in an autonomous or incidental action, the judge may cumulatively or not, without prejudice to the resulting civil or criminal liability and the widespread use of Procedural instruments capable of inhibiting or mitigating its effects, according to the gravity of the case: I - declare the occurrence of parental alienation and reprimand the alienator; II - to extend the family live in favor of the alienated parent; III - to impose a fine on the alienator; IV - determine psychological and/or biopsychosocial monitoring; V - determine the change from custody to shared custody or its reversal; VI - determine the precautionary setting of the domicile of the child or adolescent; VII - declare the suspension of parental authority. The purpose of the legislation in establishing the measures set forth in art. 6 of the Parental Alienation Act is to make parents or guardians reflect on the abusive exercise of parental authority and, in particular, to understand the true role they play in the lives of children and adolescents. In situations like these, it is imperative that the State carry out an intervention, so that the victims of this phenomenon can be treated as harmless. Consistent with the proposal, Guilherme Calmon points out that parental responsibility goes beyond the temporal limits imposed on parental authority, since it refers not only to the decision to become a parent but, above all, to remain responsible for the children throughout Life, especially in the stage of formation and development of personality219. In the face of any evidence of abuse of parental authority as a result of the impediment of a healthy family life, appropriate measures are applied in order to minimize the harm to children 219 GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da – A nova filiação: o biodireito e as relações parentais: o estabelecimento da parentalidade filiação e os efeitos jurídicos da reprodução assistida heteróloga. Rio de Janeiro: Renovar, 2003, p. 455. 179 and adolescents. In addition, "cases of mistreatment and abuse are always serious and deserve effective judicial reprimand, including with the adoption of measures that stop the abuse.220" Lastly, since Parental Alienation cases are characterized as a genuine abuse of parental authority, they are identified early in order to alleviate damages to those involved and, above all, to make effective the constitutional civilian legislation provided for in the legal system that protects our children and adolescents. CONCLUSION Law Abuse and abuse of parental authority under the constitutional civilian paradigm refers to a theme that provides a more intense reflection that it is imperative to ensure that all children and adolescents enjoy broad protection of fundamental rights. Also, due to changes in social contexts, parents seek to participate more effectively in the development of their children. And, in this sense, preventing the child's or adolescent's family relationship with one of their parents as a result of acts of Parental Alienation represents the most severe form of abuse of rights. Situations such as these, of an irresponsible exercise of parental authority, confront the various principles established by the constituent legislator and the values in the social, moral and legal spheres of family relationships. The theme highlights a broader reflection that conduct from Parental Alienation can no longerbe tolerated by society and must be fought by the Judiciary. It is hoped that the State will be able to intervene in family relations whenever there is a violation of the constitutional civilian norms established in the legal system. And that each individual can understand their role in society and help to curb abusive acts within the family, be they in law and parental authority. Also, that Parental Alienation can be fought through legal instruments capable of safeguarding the most basic rights of our children and adolescents. REFERENCES ABDO, Helena Najjar – O abuso do processo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. 220 DIAS, Maria Berenice – Alienação Parental: um crime sem punição. In: DIAS, Maria Berenice (coord.). Incesto e alienação parental: realidades que a justiça insiste em não ver. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010, p. 20. 180 BOBBIO, Norberto – Da estrutura à função: novos estudos de teoria do direito. Trad. Daniela Beccaccia Versiani. Rev. Orlando Seixas Bechara, Renata Nagamine. Barueri, São Paulo: Manole, 2007. 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