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1 UFPB Universidade Federal da Paraíba DIREITO PROCESSUAL COLETIVO TUTELA DOS INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS PROFESSOR: ROBERTO MOREIRA DE ALMEIDA (Mestre e Doutor em Direito) João Pessoa/PB Tutela dos Interesses Difusos e Coletivos Professor Roberto Moreira de Almeida 2 S U M Á R I O Curriculum vitae resumido............................................................... 03 Capítulo 01.Inquérito civil................................................................. 05 Capítulo 02. Ação civil pública......................................................... 21 Capítulo 03. Ação de improbidade administrativa.......................... 29 Bibliografia......................................................................................... 35 Tutela dos Interesses Difusos e Coletivos Professor Roberto Moreira de Almeida 3 CURRICULUM VITAE RESUMIDO 1. DADOS PESSOAIS x Roberto Moreira de Almeida x E-mail: r.m.a.2007@hotmail.com 2. FORMAÇÃO ACADÊMICA x Pós-graduação a) Doutor em Ciências Jurídicas e Sociais b) Mestre em Direito Econômico c) Especialista em Direito Constitucional d) Especialização em Direito Constitucional Comparado (Universidade Lusíada do Porto – Portugal) e) Pós-Graduação em Direitos Humanos e Sistema Penitenciário pela UNICRI (“United Nations Inter-regional Crime and Justice Research Institute”) – Turim – Itália. f) Curso Preparatório à Magistratura da Escola Superior da Magistratura – ESMARN. x Graduação a) Direito – 1994; b) Engenharia Civil – 1990; c) Licenciatura em Ciências – 1987. 3. ATIVIDADE PROFISSIONAL x Membro do Ministério Público Federal (Procurador Regional da República). 4. APROVAÇÃO EM EXAMES E CONCURSOS NA ÁREA JURÍDICA x Advocacia a) Exame da Ordem dos Advogados do Brasil; x Ministério Público a) Ministério Público do Estado do Ceará – Promotor de Justiça - 3º lugar (144 aprovados); b) Ministério Público Federal – Procurador da República - 2º lugar no Estado do Ceará e 12º no Brasil (105 aprovados); x Magistratura a) Juiz Substituto do Estado do Ceará – 3ª média global (102 aprovados). x Outros a) Procurador do Município de Macaíba/RN – 2º lugar; b) Assistente Jurídico da UFRN (hoje Procurador Federal) – 2º lugar; c) Professor de Direito Comercial da UFRN – 2º lugar; d) Professor de Prática Forense da UFRN – 3º lugar; e) Professor de Processo Penal e Prática Jurídica Penal da UFPB – 1º lugar; f) Concurso de monografias da Justiça Federal do RN – 1º lugar. Tutela dos Interesses Difusos e Coletivos Professor Roberto Moreira de Almeida 4 5. LIVROS E ARTIGOS JURÍDICOS PUBLICADOS 5.1. ARTIGOS E LIVROS PUBLICADOS x Dezenas de artigos publicados e os seguintes livros: a) Lei Antitruste: 10 anos de combate ao abuso do poder econômico. Belo Horizonte: Del Rey, 2005 (em co-autoria); b) Ação Civil Pública – 20 anos da Lei n. 7.347/85. Belo Horizonte: Del Rey, 2006 (em co-autoria); c) 25 anos da Política Nacional do Meio Ambiente. Belo Horizonte: Del Rey (no prelo – em co-autoria); d) 20 anos da Lei n. 7.492/86, Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional. Belo Horizonte: Del Rey (no prelo – em coautoria); e) Teoria Geral do Processo: civil, penal e trabalhista. São Paulo: Método, 2013 (4.ª edição) (autoria individual); f) Curso de Direito Eleitoral. Salvador: JusPodivm, 2019 (13ª edição) (autoria individual); g) Direito Penal para Concursos e OAB: Parte Geral. São Paulo: Método, 2010 (autoria individual). h) Questões Comentadas CESPE de Direito Eleitoral. Salvador: JusPodivm, 2011 (autoria individual) i) Temas de Direito Eleitoral no Século XXI. Brasília: ESMPU, 2012 (autoria coletiva). j) Temas Aprofundados do Ministério Público Federal. 2ª Ed. Salvador: JusPodivm, 2013 (autoria coletiva). Tutela dos Interesses Difusos e Coletivos Professor Roberto Moreira de Almeida 5 UFPB GRADUAÇÃO DO CURSO DE DIREITO CAPÍTULO 01. 1. INQUÉRITO CIVIL: CONCEITO, FINALIDADE, NATUREZA JURÍDICA, CARACTERÍSTICAS, FASES: INSTAURAÇÃO, INSTRUÇÃO E CONCLUSÃO, ARQUIVAMENTO. COMPROMISSO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA. 1. INQUÉRITO CIVIL 1.1. CONCEITO O inquérito civil, segundo Hugo Nigro Mazzilli1, é uma investigação administrativa prévia a cargo do Ministério Público, que se destina basicamente a colher elementos de convicção para que o próprio órgão ministerial possa identificar se ocorre circunstância que enseje eventual propositura de ação civil pública ou coletiva. Antônio Augusto Mello de Camargo Ferraz2 definiu inquérito civil como sendo “um procedimento administrativo de natureza inquisitiva tendente a recolher elementos de prova que ensejem o ajuizamento de ação civil pública”. José Luiz Mônaco da Silva assim se manifesta: “o inquérito civil é um instrumento jurídico criado pela Lei n. 7.347/85, para auxiliar o Ministério Público no seu mister de apurar fatos ensejadores da propositura de ação civil pública3. Entendemos o inquérito civil como o procedimento administrativo, presidido com exclusividade por órgão de execução do Ministério Público, com o afã de obter elementos de autoria e materialidade de determinados ilícitos civis e, uma vez colhidos indícios dessa prática, celebrar termo de ajustamento de conduta ou promover a ação civil pública pertinente. 1.2. ORIGEM E PREVISÃO LEGAL O inquérito civil nasceu sob a égide da Lei n.º 7.347, de 24 de julho de 1985 (Lei da Ação Civil Pública, que, disciplina a ação civil pública de responsabilidade por danos 1 O inquérito civil, p. 46. 2 Ministério público e afirmação da cidadania, p. 101. 3 Inquérito civil – doutrina, legislação e modelos, p. 23. Tutela dos Interesses Difusos e Coletivos Professor Roberto Moreira de Almeida 6 causados, dentre outros, ao meio-ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, bem como dá outras providências. Com efeito, assim está redigido o § 1.º do art. 8.º da LACP: “O Ministério Público poderá instaurar, sob sua presidência, inquérito civil, ou requisitar, de qualquer organismo público ou particular, certidões, informações, exames ou perícias, no prazo que assinalar, o qual não poderá ser inferior a 10 (dez) dias úteis”. A previsão legal veio a ser constitucionalizada no art. 129, inc. III, da Constituição Federal, que estabeleceu como função institucional do Ministério Público, a promoção do inquérito civil e da ação civil pública com o afã de proteger o patrimônio público e social, o meio ambiente e outros interesses difusos e coletivos. Hodiernamente diversos diplomas legais tratam expressamente do inquérito civil. São exemplos: a) art. 6º da Lei n.° 7.853/89 (Lei da Pessoa Portadora de Deficiência); b) art. 201, V, da Lei n.° 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente); c) art. 6º, VII, da LC n.° 75/93 (Lei Orgânica do Ministério Público da União); d) art. 25, IV, da Lei n.° 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público); e e) art. 74, I, da Lei n.° 10.741/2003 (Estatuto do Idoso). Considerando que não há um diploma legal específico para disciplinar o procedimento, o Conselho Nacional do Ministério Público editou a Resolução n.º 23, de 17 de setembro de 2007, que disciplina, no âmbito do Ministério Público, a instauração e a tramitação do inquérito civil. 1.3. FINALIDADES No entender de Edis Milaré4, o inquérito civil possui tríplice função: preventiva (o compromisso de ajustamento de conduta previne eevita a ocorrência de um dano iminente), reparatória (colhem-se os elementos necessários para buscar uma reparação do dano com a propositura de uma ação civil pública) e repressiva (ao obter decisão favorável na ACP, pune-se o agente causou o dano). 4 Ação civil pública, Lei n. 7.347/85 – Reminiscências e Reflexões após dez anos de aplicação, pp. 220/221. Tutela dos Interesses Difusos e Coletivos Professor Roberto Moreira de Almeida 7 Entendemos que o inquérito civil possui dúplice finalidade. Ele visa apurar autoria e materialidade de lesões a interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos e, uma vez constatada a prática ilícita ou a iminência de sua ocorrência, celebrar termo de ajustamento ou promover a ação civil pública. 1.4. NATUREZA JURÍDICA O inquérito civil não é processo. Trata-se de um procedimento administrativo de natureza inquisitorial, porque, para a maioria dos autores, não sendo um fim em si mesmo, não admite contraditório nem ampla defesa. Nesse diapasão, Nelson Nery Júnior e Rosa Maria Andrade Nery5 assim se reportaram: “Trata-se de procedimento administrativo destinado à colheita de elementos para eventual e futura propositura responsável da ACP, evitando-se o ajuizamento de ação temerária. Como não é processo administrativo, não há contraditório no IC, sendo salutar que o MP faculte aos interessados a possibilidade de se manifestarem no IC, juntando documentos, pareceres técnicos, fornecendo informações etc.”. Seguindo o mesmo raciocínio lógico-jurídico, lecionou Hugo Nigro Mazzilli6: “O inquérito civil não é processo administrativo e sim procedimento. Nele não há uma acusação nem nele se aplicam sanções. Dele não decorrem limitações, restrições ou perda de direitos. No inquérito civil não se decidem interesses; não se aplicam penalidades. Apenas serve para colher elementos ou informações com o fim de formar-se a convicção do órgão do Ministério Público para eventual propositura de ação civil pública ou coletiva”. Destarte, o inquérito civil não é processo, mas procedimento administrativo e, dessa forma, não há falar em contraditório nem em ampla defesa quando de sua tramitação. 5 Código de processo civil comentado, p. 1424. 6 O inquérito civil, p. 48. Tutela dos Interesses Difusos e Coletivos Professor Roberto Moreira de Almeida 8 1.5. CARACTERÍSTICAS São seis as principais características do inquérito civil, a saber: 1.5.1. Procedimento administrativo É cediço que o inc. III do art. 129 da Constituição Federal estabelece como função institucional do Ministério Público, a instauração do inquérito civil para tutelar o patrimônio público e social, o meio ambiente e outros interesses difusos e coletivos. Sendo o Ministério Público instituição integrante da Administração Pública e autônomo em relação ao Poder Judiciário, indubitável não ser o inquérito civil um procedimento judicial, mas administrativo. 1.5.2. Investigativo O inquérito civil serve para investigar a prática de condutas violadoras a direitos e interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos. 1.5.3. Exclusivo do Ministério Público Nos termos do art. 5.º da LACP, são diversos os legitimados para propor a ação civil pública, a exemplo da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e da Defensoria Pública. No que concerne à instauração e à presidência do inquérito civil, diversamente, apenas o Ministério Público poderá fazê-lo. Com efeito, na forma como está estabelecida na LACP e legislação sobre a matéria, apenas o Ministério Público poderá instaurar e presidir tal instrumento de investigação. 1.5.4. Facultativo O inquérito civil é instrumento investigativo de instauração facultativa pelo Ministério Público. Tutela dos Interesses Difusos e Coletivos Professor Roberto Moreira de Almeida 9 Paulo Lúcio Nogueira7, sobre a dispensabilidade ou facultatividade do inquérito civil, ensina: “A finalidade do inquérito civil é justamente colher elementos e informações para a propositura da ação civil pública, mas, desde que já tenham esses elementos, perfeitamente dispensável sua instauração, que, em muitos casos, viria até a retardar a propositura da ação civil pública”. No mesmo diapasão, vaticina o parágrafo único do art. 1.º da Resolução CNMP n.º 23/2017: “O inquérito civil não é condição de procedibilidade para o ajuizamento das ações a cargo do Ministério Público, nem para a realização das demais medidas de sua atuação própria”. Destarte, se o órgão de execução do Parquet dispuser de elementos mínimos de autoria e de materialidade de ilícitos civis para o ajuizamento de uma ação civil pública, não terá ele necessidade, com toda obviedade, de instaurar inquérito civil. Nessa situação, só haveria perda de tempo e risco maior consolidação dos ilícitos e danos à coletividade. O ajuizamento da ação civil pública, nessa hipótese, dispensa a instauração prévia do inquérito civil. 1.5.5. Inquisitivo Como já explicitado, o inquérito civil é procedimento administrativo. Sendo procedimento, e não processo, não se admite contraditório nem ampla defesa. Daí a característica inquisitorial. Nesse pensar, vejamos lúcido ensinamento de José dos Santos Carvalho Filho8: “Como mero instrumento de apuração de dados, o inquérito civil, a símile do que ocorre com o inquérito policial, tem caráter inquisitório, não se aplicando, em decorrência disso, os postulados concernentes ao princípio do contraditório”. 1.5.6. Escrito Insta mencionar que as diligências realizadas pelo Ministério Público, durante a tramitação do inquérito civil, devem ser documentadas. 7 Instrumentos de tutela e direitos constitucionais – teoria, prática e jurisprudência, p. 127. 8 Ação civil pública – comentários por artigos, p. 175. Tutela dos Interesses Difusos e Coletivos Professor Roberto Moreira de Almeida 10 A oitiva de testemunhas, declarantes, peritos, dentre outras provas colhidas, mesmo que orais, devem ser reduzidas a termo e inseridas nos autos do procedimento. O mesmo se dá com documentos, que devem ser juntados aos autos do inquérito civil. Aplica-se, in casu, analogicamente, o art. 9º do Código de Processo Penal, in verbis: “Todas as peças do inquérito serão, num só processado, reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade”. No Estado de São Paulo, existe ato normativo disciplinando a matéria. De fato, assim reza o §3o do art. 5º do Ato (I) n. 19/94 – CPJ: “todas as diligências serão documentadas mediante termo ou auto circunstanciado, assinado pelo Presidente do inquérito civil, pelo secretário, por qualquer interessado presente, ou por duas testemunhas, na ausência do interessado”. 1.6. FASES Três são as fases do inquérito civil: instauração, tramitação e conclusão. 1.6.1. INSTAURAÇÃO DO INQUÉRITO CIVIL Gianpaolo Poggio Smanio9 entende que o inquérito civil pode ser instaurado por portaria, quando de ofício, ou em despacho pelo promotor lançado em requerimento ou representação a ele dirigido por qualquer interessado. A instauração do inquérito civil sempre ocorrerá por portaria. A portaria será editada pelo membro de execução do Ministério Público: i) de ofício; ii) em face de requerimento ou representação formulada por qualquer pessoa; iii) por comunicação de outro órgão do Ministério Público, ou qualquerautoridade, desde que forneça, por qualquer meio legalmente permitido, informações 9 Interesses difusos e coletivos, p. 101. Tutela dos Interesses Difusos e Coletivos Professor Roberto Moreira de Almeida 11 sobre o fato e seu provável autor, bem como a qualificação mínima que permita sua identificação e localização; ou iv) por designação do Procurador-Geral de Justiça, do Conselho Superior do Ministério Público, Câmaras de Coordenação e Revisão e demais órgãos superiores da Instituição, nos casos cabíveis. INDAGAÇÃO DIDÁTICA Inquérito civil pode ser instaurado a partir de denúncia anônima? O inc. IV do art. 5.º da Constituição Federal proíbe o anonimato. Não obstante, o Supremo Tribunal Federal tem interpretado esse dispositivo constitucional como de caráter relativo em atenção ao princípio da concordância prática. Com efeito, havendo informação de ilegalidade ao Ministério Público, cabe à instituição fazer uma investigação prévia e, ao constatar indícios razoáveis da prática ilícita, dar azo à persecução. O art. 22 da Lei n.º 8.429/1992 permite, mesmo de ofício, que o Ministério Público requisite a instauração de inquérito policial ou procedimento administrativo para apurar qualquer ilícito previsto naquele diploma legal. Se ele pode agir de ofício, com mais razão poderá fazê-lo mediante denúncia anônima. Por sua vez, §§§ 1.º a 3º do art. 2º da Resolução CNMP n.° 23/2007 dispõe: “Art. 2.º. [...]. § 1º. O Ministério Público atuará, independentemente de provocação, em caso de conhecimento, por qualquer forma, de fatos que, em tese, constituam lesão aos interesses ou direitos mencionados no artigo 1º desta Resolução, devendo cientificar o membro do Ministério Público que possua atribuição para tomar as providências respectivas, no caso de não a possuir. § 2º No caso do inciso II, em sendo as informações verbais, o Ministério Público reduzirá a termo as declarações. Da mesma forma, a falta de formalidade não implica indeferimento do pedido de instauração de inquérito civil, salvo se, desde logo, mostrar-se improcedente a notícia, atendendo-se, na hipótese, o disposto no artigo 5º desta Resolução. § 3º O conhecimento por manifestação anônima, justificada, não implicará ausência de providências, desde que obedecidos os mesmos requisitos para as representações em geral, constantes no artigo 2º, inciso II, desta Resolução”. Por seu turno, a jurisprudência caminha em admitir a instauração do inquérito civil, similarmente ao que ocorre na instauração do inquérito policial, a partir de denúncia anônima, desde que haja uma averiguação prévia por parte da autoridade. Nesse sentido, os seguintes julgados: 1. “O Supremo Tribunal Federal fixou entendimento no sentido de que é possível a deflagração da persecução penal pela chamada denúncia anônima, desde que esta seja seguida de diligências realizadas para averiguar os fatos nela noticiados antes da instauração do inquérito policial” (STF, ARE 1.112.656, Rel. Min. Luiz Fux e ARE 1.069.179, Rel. Min. Gilmar Mendes). 2. “Conforme consolidado entendimento firmado pelas Cortes Superiores, é cediço que, conquanto não se preste como fundamento exclusivo à instauração do inquérito policial, como início de persecução criminal, a denúncia anônima - notitia criminis inqualificada -, nos crimes de ação penal pública incondicionada, afigura-se como elemento hábil à apuração preliminar de fatos apontados como criminosos, a serem, após percuciente atividade investigativa, confirmados ulteriormente mediante produção de outros elementos informativos coletados pela autoridade policial, o que afasta a ilicitude do ato prisional e, por conseguinte, de todo acervo procedimental e probatório dela decorrente, conforme interpretação filológica e sistemática dos arts. 6.º, inciso III, e 27, ambos do CPP” (STJ, AgRg. no AREsp. 1419478/RS, Relator: Min. LAURITA VAZ, 6.ª Turma, DJe. 24/05/2019). 3. “O STJ reconhece a possibilidade de investigar a veracidade de denúncia anônima em Inquérito Civil ou Processo Administrativo (...)”. (STJ, RMS 38.010/RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 02/05/2013); e 4. “A Lei n. 8.625/1993, Lei Orgânica do Ministério Público e a Resolução n. 23/2007 do Conselho Nacional do Ministério Público autorizam a atuação investigatória do parquet, no âmbito administrativo, em caso de denúncia anônima” (STJ, RMS 37.166/SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Primeira Turma, julgado em 09/04/2013). Em suma, é possível, também por analogia ao inquérito policial, a instauração de inquérito civil, a partir de denúncia anônima, desde que guardadas as cautelas de estilo. Tutela dos Interesses Difusos e Coletivos Professor Roberto Moreira de Almeida 12 A portaria de instauração do inquérito civil, nos termos do art. 4.º da Resolução CNMP n.º 23/2007, deve conter: Art. 4º. O inquérito civil será instaurado por portaria, numerada em ordem crescente, renovada anualmente, devidamente registrada em livro próprio e autuada, contendo: I) o fundamento legal que autoriza a ação do Ministério Público e a descrição do fato objeto do inquérito civil; II) o nome e a qualificação possível da pessoa jurídica e/ou física a quem o fato é atribuído; III) o nome e a qualificação possível do autor da representação, se for o caso; IV) a data e o local da instauração e a determinação de diligências iniciais; V) a designação do secretário, mediante termo de compromisso, quando couber; VI) a determinação de afixação da portaria no local de costume, bem como a de remessa de cópia para publicação. Parágrafo único. Se, no curso do inquérito civil, novos fatos indicarem necessidade de investigação de objeto diverso do que estiver sendo investigado, o membro do Ministério Público poderá aditar a portaria inicial ou determinar a extração de peças para instauração de outro inquérito civil, respeitadas as normas incidentes quanto à divisão de atribuições. 1.6.2. INDEFERIMENTO DE INSTAURAÇÃO O membro do Ministério Público poderá indeferir requerimento de instauração de inquérito civil, quando constatar que os fatos narrados na representação não configurem lesão aos interesses ou direitos transindividuais ou se o fato já tiver sido objeto de investigação ou de ação civil pública ou se os fatos apresentados já se encontrarem solucionados. O art. 5.º da Resolução CNMP n.º 23/2007 traça o procedimento para aludido indeferimento pelo Parquet, in verbis: “Art. 5º Em caso de evidência de que os fatos narrados na representação não configurem lesão aos interesses ou direitos mencionados no artigo 1º desta Resolução ou se o fato já tiver sido objeto de investigação ou de ação civil pública ou se os fatos apresentados já se encontrarem solucionados, o membro do Ministério Público, no prazo máximo de trinta dias, indeferirá o pedido de instauração de inquérito civil, em decisão fundamentada, da qual se dará ciência pessoal ao representante e ao representado. § 1º Do indeferimento caberá recurso administrativo, com as respectivas razões, no prazo de dez dias. § 2º As razões de recurso serão protocoladas junto ao órgão que indeferiu o pedido, devendo ser remetidas, caso não haja reconsideração, no prazo de três dias, juntamente com a representação e com a decisão impugnada, ao Tutela dos Interesses Difusos e Coletivos Professor Roberto Moreira de Almeida 13 Conselho Superior do Ministério Público ou à Câmara de Coordenação e Revisão respectiva para apreciação. § 3º Do recurso serão notificados os interessados para, querendo, oferecer contrarrazões. § 4º Expirado o prazo do artigo 5º, § 1º, desta Resolução, os autos serão arquivados na própria origem, registrando-se no sistema respectivo, mesmo sem manifestação do representante. §5º Na hipótese de atribuição originária do Procurador-Geral, caberá pedido de reconsideração no prazo e na forma do parágrafo primeiro instauração do inquérito civil sempre ocorrerá por portaria”. INDAGAÇÃO DIDÁTICA Cabe habeas corpus para trancar inquérito civil instaurado sem justa causa? Caso não seja possível utilizar o HC para tal fim, qual o remédio jurídico constitucional a ser utilizado? Não. Habeas corpus é um remédio jurídico utilizado para tutelar a liberdade de ir e vir do indivíduo. A instauração do inquérito civil não ensejará, direta ou indiretamente, qualquer cerceamento da liberdade de locomoção da pessoa do investigado. Incabível, portanto, HC para tal fim. A doutrina e a jurisprudência advogam a tese do cabimento de mandado de segurança. Nesse diapasão os seguintes julgados: “O habeas corpus não é meio hábil para questionar-se aspectos ligados quer ao inquérito civil público, quer à ação civil pública, porquanto, nesses procedimentos, não se faz em jogo, sequer na via indireta, a liberdade de ir e vir” (STF HC 90378, Rel. Min. Marco Aurélio, Primeira Turma, julgado em 13/10/2009). E mais: “EMENTA. ADMINISTRATIVO. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. INQUÉRITO CIVIL. TRANCAMENTO. JUSTA CAUSA. DEMONSTRAÇÃO. SUSPEIÇÃO DA AUTORIDADE IMPETRADA. NÃO OCORRÊNCIA. RECURSO NÃO PROVIDO. 1. O fato de a autoridade impetrada, promotor de justiça, já ter presidido anterior inquérito civil no qual o recorrente figurava como investigado não acarreta o seu impedimento ou suspeição para abertura de novo inquérito civil, sendo o caso de incidência, por analogia, da Súmula 243/STJ. 2. "Somente em situações excepcionais, quando comprovada, de plano, atipicidade de conduta, causa extintiva da punibilidade ou ausência de indícios de autoria, é possível o trancamento de inquérito civil" (RMS 30.510/RJ, Rel. Min. ELIANA CALMON, Segunda Turma, DJe 10/2/10). 3. No caso, a abertura do inquérito civil foi devidamente justificada pela autoridade impetrada, que aponta eventuais ilegalidades na Portaria 101/07, editada pelo recorrente quando ocupava a Chefia da Polícia Civil. 4. Recurso ordinário não provido (STJ, RMS 27004/RS, Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, PRIMEIRA TURMA, DJe. 28/09/2010. 1.6.3. INSTRUÇÃO DO INQUÉRITO CIVIL A segunda fase do inquérito civil denomina-se instrução, cuja finalidade primordial é a colheita de provas para respaldar propositura de eventual ação civil pública. O inquérito civil, após instaurado, deve receber a devida atenção do membro do Ministério Público, que passa a ser um investigador, na busca da verdade real, no intuito de identificar a ocorrência ou não do ilícito civil. Tutela dos Interesses Difusos e Coletivos Professor Roberto Moreira de Almeida 14 A Lei n. 7.347/85 é omissa a respeito da fase de instrução, mas menciona que “o Ministério Público poderá requisitar, de qualquer organismo público ou particular, certidões, informações, exames ou perícias, no prazo que assinalar, o qual não poderá ser inferior a 10 (dez) dias úteis. Somente nos casos em que a lei impuser sigilo, poderá ser negada certidão ou informação, hipótese em que a ação poderá ser proposta desacompanhada daqueles documentos, cabendo ao juiz requisitá-los” (LACP, Art. 8º, §§1º e 2º da Lei n. 7.347/85). Não obstante a previsão normativa supra, nenhum rito legal foi estabelecido para a colheita das provas e realização das investigações no âmbito do inquérito civil. Passou a predominar o entendimento segundo o qual o promotor deve agir como um verdadeiro detetive e, nessa condição, na condição de presidente do inquérito civil, há de realizar inspeções pessoais, requisitar perícias e diligências, inquirir testemunhas e declarantes, ouvir o indigitado causador do dano, requisitar documentos e tudo o mais que entender pertinente para elucubração dos fatos. No intuito de colmatar a omissão legal, foram editados os arts. 6.º a 9.º da Resolução CNMP n.º 23/2007 para tentar disciplinar a instrução do inquérito civil, a saber: Art. 6º A instrução do inquérito civil será presidida por membro do Ministério Público a quem for conferida essa atribuição, nos termos da lei. § 1º. O membro do Ministério Público poderá designar servidor do Ministério Público para secretariar o inquérito civil. § 2º. Para o esclarecimento do fato objeto de investigação, deverão ser colhidas todas as provas permitidas pelo ordenamento jurídico, com a juntada das peças em ordem cronológica de apresentação, devidamente numeradas em ordem crescente. § 3º. Todas as diligências serão documentadas mediante termo ou auto circunstanciado. § 4º. As declarações e os depoimentos sob compromisso serão tomados por termo pelo membro do Ministério Público, assinado pelos presentes ou, em caso de recusa, na aposição da assinatura por duas testemunhas. § 5º. Qualquer pessoa poderá, durante a tramitação do inquérito civil, apresentar ao Ministério Público documentos ou subsídios para melhor apuração dos fatos. Tutela dos Interesses Difusos e Coletivos Professor Roberto Moreira de Almeida 15 § 6º. Os órgãos da Procuradoria-Geral, em suas respectivas atribuições, prestarão apoio administrativo e operacional para a realização dos atos do inquérito civil. § 7º. O Ministério Público poderá deprecar diretamente a qualquer órgão de execução a realização de diligências necessárias para a investigação. § 8°. As notificações, requisições, intimações ou outras correspondências expedidas por órgãos do Ministério Público da União ou pelos órgãos do Ministério Público dos Estados, destinadas a instruir inquérito civil ou procedimento preparatório observarão o disposto no artigo 8°, § 4°, da Lei Complementar n° 75/93, no artigo 26, § 1°, da Lei n° 8.625/93 e, no que couber, no disposto na legislação estadual, devendo serem encaminhadas no prazo de dez (10) dias pelo respectivo Procurador-Geral, não cabendo a este a valoração do contido no expediente, podendo deixar de encaminhar aqueles que não contenham os requisitos legais ou que não empreguem o tratamento protocolar devido ao destinatário. § 9º. Aplica-se o disposto no parágrafo anterior em relação aos atos dirigidos aos Conselheiros do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério Público (Redação dada pela Resolução n° 35, de 23 de março de 2009). § 10. Todos os ofícios requisitórios de informações ao inquérito civil e ao procedimento preparatório deverão ser fundamentados e acompanhados de cópia da portaria que instaurou o procedimento ou da indicação precisa do endereço eletrônico oficial em que tal peça esteja disponibilizada (Redação dada pela Resolução n° 59, de 27 de julho de 2010). § 11. O defensor constituído nos autos poderá assistir o investigado durante a apuração de infrações, sob pena de nulidade absoluta do seu depoimento e, subsequentemente, de todos os elementos investigatórios e probatórios dele decorrentes ou derivados, direta ou indiretamente, podendo, inclusive, no curso da respectiva apuração, apresentar razões e quesitos (Incluído pela Resolução n° 161, de 21 de fevereiro de 2017). Art. 7º. Aplica-se ao inquérito civil o princípio da publicidade dos atos, com exceção dos casos em que haja sigilo legal ou em que a publicidade possa acarretar prejuízo às investigações, casos em que a decretação do sigilo legal deverá ser motivada. § 1º. Nos requerimentos que objetivam a obtenção de certidões ou extração de cópia de documentos constantes nos autos sobre o inquérito civil, os interessados deverão fazer constar esclarecimentos relativos aos fins e razões do pedido, nos termos da Lei nº 9.051/95. § 2º. A publicidade consistirá: I) na divulgação oficial, com o exclusivo fim de conhecimento público mediante publicação de extratos na imprensaoficial; II) na divulgação em meios cibernéticos ou eletrônicos, dela devendo constar as portarias de instauração e extratos dos atos de conclusão; III) na expedição de certidão e na extração de cópias sobre os fatos investigados, mediante requerimento fundamentado e por deferimento do presidente do inquérito civil; IV) na prestação de informações ao público em geral, a critério do presidente do inquérito civil; Tutela dos Interesses Difusos e Coletivos Professor Roberto Moreira de Almeida 16 V) na concessão de vistas dos autos, mediante requerimento fundamentado do interessado ou de seu procurador legalmente constituído e por deferimento total ou parcial do presidente do inquérito civil. (Suprimido pela Resolução n° 107, de 5 de maio de 2014) § 3º. As despesas decorrentes da extração de cópias correrão por conta de quem as requereu. § 4º. A restrição à publicidade deverá ser decretada em decisão motivada, para fins do interesse público, e poderá ser, conforme o caso, limitada a determinadas pessoas, provas, informações, dados, períodos ou fases, cessando quando extinta a causa que a motivou. § 5º. Os documentos resguardados por sigilo legal deverão ser autuados em apenso. § 6º. O defensor poderá, mesmo sem procuração, examinar autos de investigações findas ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital. (Incluído pela Resolução n° 161, de 21 de fevereiro de 2017) § 7º. Nos autos sujeitos a sigilo, deve o advogado apresentar procuração para o exercício dos direitos de que trata o § 6º. (Incluído pela Resolução n° 161, de 21 de fevereiro de 2017) § 8º. O presidente do inquérito civil poderá delimitar, de modo fundamentado, o acesso do defensor à identificação do(s) representante(s) e aos elementos de prova relacionados a diligências em andamento e ainda não documentados nos autos, quando houver risco de comprometimento da eficiência, da eficácia ou da finalidade das diligências. (Incluído pela Resolução n° 161, de 21 de fevereiro de 2017) Art. 8º. Em cumprimento ao princípio da publicidade das investigações, o membro do Ministério Público poderá prestar informações, inclusive aos meios de comunicação social, a respeito das providências adotadas para apuração de fatos em tese ilícitos, abstendo-se, contudo de externar ou antecipar juízos de valor a respeito de apurações ainda não concluídas. Art. 9º. O inquérito civil deverá ser concluído no prazo de um ano, prorrogável pelo mesmo prazo e quantas vezes forem necessárias, por decisão fundamentada de seu presidente, à vista da imprescindibilidade da realização ou conclusão de diligências, dando-se ciência ao Conselho Superior do Ministério Público, à Câmara de Coordenação e Revisão ou à Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão. (Redação dada pela Resolução n° 193, de 14 de dezembro de 2018) § 1º Cada Ministério Público, no âmbito de sua competência administrativa, poderá estabelecer prazo inferior, bem como limitar a prorrogação mediante ato administrativo do Órgão da Administração Superior competente. (Anterior parágrafo único renumerado para § 1º pela Resolução n° 193, de 14 de dezembro de 2018) § 2º Suspende-se o curso do prazo dos procedimentos em trâmite nos dias compreendidos entre 20 de dezembro e 20 de janeiro, inclusive, excetuados os prazos previstos nos artigos 8°, §1°, e 9°, §1°, da Lei n° 7347/85 e nos artigos 5°, §2°, 6°, §8°, art. 9°-A e art. 10, §1°, desta Resolução. (Incluído pela Resolução n° 193, de 14 de dezembro de 2018) § 3º Ressalvadas as férias individuais e os feriados instituídos por lei, os membros do Ministério Público exercerão suas atribuições durante o período Tutela dos Interesses Difusos e Coletivos Professor Roberto Moreira de Almeida 17 previsto no parágrafo anterior (Incluído pela Resolução n° 193, de 14 de dezembro de 2018). § 4º Ressalvadas situações urgentes devidamente justificadas, durante a suspensão do prazo, não se realizarão audiências. (Incluído pela Resolução n° 193, de 14 de dezembro de 2018) Art. 9º-A. Após a instauração do inquérito civil ou do procedimento preparatório, quando o membro que o preside concluir ser atribuição de outro Ministério Público, este deverá submeter sua decisão ao referendo do órgão de revisão competente, no prazo de 3 (três) dias (Incluído pela Resolução n° 126, de 29 de julho de 2015). 1.6.4. Conclusão Ao concluir as investigações, o membro do Ministério Público: a) promoverá o arquivamento do inquérito civil, b) celebrará termo de ajustamento de conduta ou c) ajuizará ação civil pública. Analisemos cada uma das situações. 1.7. ARQUIVAMENTO O arquivamento será determinado pelo próprio membro do Ministério Público presidente do inquérito civil, quando vislumbrar não existir justa causa para a propositura da ação civil pública. Uma vez caminhando pela via do arquivamento, o agente do parquet deverá fazer minucioso relatório e fundamentar as razões do seu convencimento. Ato contínuo, no prazo de três dias, sob pena de incorrer em falta grave, deverá encaminhar as peças de investigação ao Conselho Superior do Ministério Público, para fins de homologação do arquivamento. Sendo acolhidas as razões de arquivamento, o Conselho Superior designará outro órgão do Ministério Público para o ajuizamento da ação civil pública. A matéria recebeu o seguinte tratamento no art. 10 da Resolução CNMP n.º 23/2007: “Art. 10. Esgotadas todas as possibilidades de diligências, o membro do Ministério Público, caso se convença da inexistência de fundamento para a propositura de ação civil pública, promoverá, fundamentadamente, o arquivamento do inquérito civil ou do procedimento preparatório. § 1º. Os autos do inquérito civil ou do procedimento preparatório, juntamente com a promoção de arquivamento, deverão ser remetidos ao órgão de revisão competente, no prazo de três dias, contado da comprovação da efetiva cientificação pessoal dos interessados, através de publicação na imprensa Tutela dos Interesses Difusos e Coletivos Professor Roberto Moreira de Almeida 18 oficial ou da lavratura de termo de afixação de aviso no órgão do Ministério Público, quando não localizados os que devem ser cientificados. § 2º. A promoção de arquivamento será submetida a exame e deliberação do órgão de revisão competente, na forma do seu Regimento Interno. § 3º. Até a sessão do Conselho Superior do Ministério Público ou da Câmara de Coordenação e Revisão respectiva, para que seja homologada ou rejeitada a promoção de arquivamento, poderão as pessoas colegitimadas apresentar razões escritas ou documentos, que serão juntados aos autos do inquérito ou do procedimento preparatório. § 4º. Deixando o órgão de revisão competente de homologar a promoção de arquivamento, tomará uma das seguintes providências: I) converterá o julgamento em diligência para a realização de atos imprescindíveis à sua decisão, especificando-os e remetendo os autos ao membro do Ministério Público que determinou seu arquivamento, e, no caso de recusa fundamentada, ao órgão competente para designar o membro que irá atuar (Redação dada pela Resolução n° 143, de 14 de junho de 2016); II) deliberará pelo prosseguimento do inquérito civil ou do procedimento preparatório, indicando os fundamentos de fato e de direito de sua decisão, adotando as providências relativas à designação, em qualquer hipótese, de outro membro do Ministério Público para atuação. § 5º. Será pública a sessão do órgão revisor, salvo no caso de haver sido decretado o sigilo”. 1.8. COMPROMISSO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA Pode ocorrer de, antes da propositura da ação civil pública, o causador da lesão a um dos interesses metaindividuais se comprometa a reparar o dano causadoou mesmo evitar que tal dano venha a ocorrer. Nesse caso, há a possibilidade de se evitar a propositura da ação civil pública mediante a celebração do termo de ajustamento de conduta. Na realidade, a implantação do termo de ajustamento de conduta na Lei da Ação Civil Pública foi obra do Código de Defesa do Consumidor, que acrescentou três parágrafos ao art. 5o da Lei n. 7.347. O § 6o do mencionado art. 5o passou a ter a seguinte redação: “Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados compromisso de ajustamento de conduta às exigências legais, mediante cominações, que terá eficácia de título executivo extrajudicial”. Uma vez celebrado tal ajuste, o membro do Ministério Público deverá remeter os autos do inquérito civil ao Conselho Superior do Ministério Público, no prazo de três dias, para fins de homologação. Tutela dos Interesses Difusos e Coletivos Professor Roberto Moreira de Almeida 19 Homologado o ajustamento de conduta, cabe ao agente ministerial fiscalizar o cumprimento do termo. Cumprido integralmente o acordo, o procedimento é definitivamente arquivado; caso contrário, o Ministério Público ingressa diretamente com ação civil pública executiva, já que o termo de ajustamento de conduta tem natureza de título executivo extrajudicial. Na mesma linha de pensar, foi editado o art. 14 da Resolução CNMP n. 23/2007, a saber: “Art. 14. O Ministério Público poderá firmar compromisso de ajustamento de conduta, nos casos previstos em lei, com o responsável pela ameaça ou lesão aos interesses ou direitos mencionados no artigo 1º desta Resolução, visando à reparação do dano, à adequação da conduta às exigências legais ou normativas e, ainda, à compensação e/ou à indenização pelos danos que não possam ser recuperados”. 1.9. AJUIZAMENTO DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA Ficando caracterizadas autoria e materialidade de ilícito civil metaindividual, o membro do Ministério Público presidente do inquérito civil deverá promover a ação civil pública pertinente. A ACP será instruída com o inquérito civil. Tutela dos Interesses Difusos e Coletivos Professor Roberto Moreira de Almeida 20 UFPB GRADUAÇÃO DO CURSO DE DIREITO PROFESSOR: ROBERTO MOREIRA DE ALMEIDA CAPÍTULO 02. 1. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CONCEITO. INTERESSES DIFUSOS, COLETIVOS E INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS. 1. AÇÃO CIVIL PÚBLICA 1.1. CONCEITO Ação civil pública consiste no meio processual estatuído pela Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985, destinado à tutela dos interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos: meio ambiente, consumidor, patrimônio cultural (bens de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico), ordem econômica, dentre outros. 1.2. INTERESSES DIFUSOS, COLETIVOS E INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS 1.2.1. INTERESSES DIFUSOS “São os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato” (CDC, art. 81, parágrafo único, inc. I). Não há vínculo jurídico entre as pessoas. Extrai-se do conceito: natureza indivisível, indeterminação da titularidade e liame fático. Exemplos: I) poluição atmosférica provocada por indústria panificadora; II) propaganda enganosa veiculada pela mídia; III) proteção de um bem de valor histórico etc. a) natureza indivisível: atendido o interesse de um dos titulares, estará atendido o interesse de todos. b) indeterminação do titular: não se pode individualizar a titularidade do direito a um meio ambiente sem poluição. c) liame fático: todos os indivíduos encontram-se ligados entre si através de uma relação de fato. 1.2.2. INTERESSES COLETIVOS “São os transindividuais de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base” (CDC, art. 81, parágrafo único, inc. II). Tutela dos Interesses Difusos e Coletivos Professor Roberto Moreira de Almeida 21 Nota-se a distinção para o direito difuso em decorrência da possibilidade de determinação do beneficiário (grupo, classe ou categoria de indivíduos) e na relação jurídica entre eles. A semelhança entre direito difuso e coletivo está na natureza indivisível de ambos. Exemplos: I) aumento abusivo de mensalidade escolar (ilegalidade); II) cobrança de TR mais juros nos contratos de crédito educativo, sem previsão legal etc. a) natureza indivisível: atendido o interesse de um dos titulares, estará atendido o interesse de todos. b) liame jurídico: contrato de prestação de serviços educacionais; c) beneficiários: pessoas determinadas (os pais dos alunos daquela escola); 1.2.3. INTERESSES INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS “São os decorrentes de origem comum” (CDC, art. 81, parágrafo único, inc. III). São individuais, o titular é identificável, o objeto é divisível e a origem é comum. Exemplos: I) vários consumidores que adquiriram determinado produto com o mesmo defeito de fabricação; pretensão à restituição de prestações pagas indevidamente , etc. a) natureza divisível: é possível individualizar o interesse de cada um. b) o titular é identificável: apenas o grupo de consumidores que adquiriu o produto; c) a origem é comum: teve a mesma origem. QUADRO RESUMIDO INTERESSES GRUPO DIVISIBILIDADE ORIGEM DIFUSOS Indeterminável indivisíveis situação fática COLETIVOS Determinável indivisíveis relação jurídica IND. HOMOG. Determinável divisíveis situação fática 1.3. PRESSUPOSTO É pressuposto para o ajuizamento da ação civil pública a ocorrência de dano moral e/ou material (patrimonial) a interesses difusos, coletivos ou individuais homogêneos. Tutela dos Interesses Difusos e Coletivos Professor Roberto Moreira de Almeida 22 1.4. PESSOAS LEGITIMADAS 1.4.1. SUJEITO ATIVO a) Ministério Público; b) União; c) Estados; d) Municípios; e) Autarquias; f) Empresas públicas; g) Sociedades de economia mista; h) Fundações públicas; i) Associações; e j) Defensoria pública. OBS.1: No que pertine às associações é preciso que estejam previamente constituídas e em funcionamento há pelo menos um ano, nos termos da lei civil, e incluam, entre suas finalidades institucionais, a proteção do meio ambiente, do consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência, ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico ou paisagístico (art. 5º, LACP). OBS.2: O juiz poderá dispensar o requisito da pré-constituição, quando houver manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido (art. 5º, § 4º, LACP). 1.4.2. SUJEITO PASSIVO Qualquer pessoa, física ou jurídica, pública ou privada, responsável por dano ou ameaça de dano a interesse difuso, coletivo ou individual homogêneo poderá vir a ser ré na ação civil pública. 1.5. LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO A) INTERESSES DIFUSOS Em decorrência da dispersão e abrangência, qualquer interesse difuso poderá ser tutelado pelo MP através da ACP. Tutela dos Interesses Difusos e Coletivos Professor Roberto Moreira de Almeida 23 B) INTERESSES COLETIVOS Apenas nas hipóteses em que o interesse coletivo esteja relacionado com a função institucional do Ministério Público. C) INTERESSES INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS Veja-se a esse respeito, a Súm. nº 07, do Conselho Superior do Ministério Público do Estado de São Paulo:“SUMULA 07: O MP está legitimado à defesa de interesses individuais homogêneos que tenham expressão para a coletividade, como: a) os que digam respeito à saúde ou à segurança das pessoas, ou ao acesso das crianças e adolescentes à educação; b) aqueles em que haja extraordinária dispersão dos lesados; c) quando convenha à coletividade o zelo pelo funcionamento de um sistema econômico, social ou jurídico”. 1.6. JURISPRUDÊNCIA SOBRE A AÇÃO CIVIL PÚBLICA10 “Cabe ação civil pública para obrigar o Estado a promover obras com a finalidade de eliminar danos causados ao meio ambiente pela própria administração pública (STJ-2ª Turma, Resp. 88.776-GO, rel. Min. Ari Pargendler, j. 19.5.97, derão provimento, v.u., DJU 9.6.97, p. 25.501).” “Em tese, é cabível ação civil pública com a finalidade de transferência das instalações de empresa apontada como poluidora (RT 634/63).” “A denominação de uma rua tem valor histórico, suscetível de ser amparado pela ação civil pública (RT 657/144).” 10 CF. THOTÔNIO NEGRÃO. Código de processo civil e legislação processual em vigor. São Paulo: Saraiva, 1999, passim. Tutela dos Interesses Difusos e Coletivos Professor Roberto Moreira de Almeida 24 “Ação civil pública. Restauração de área livre, de lazer do povo, prejudicada por iniciativa administrativa tendente à construção de monumento lesivo à unidade e simplicidade da paisagem. Demanda procedente. Sentença mantida em reexame (RJTJERGS 139/70).” “Admite-se ação civil pública para compelir a municipalidade a usar os meios judiciais e extrajudiciais para repelir a turbação, o esbulho e a indevida utilização de áreas pública invadidas (JTJ 178/13).” O MINISTÉRIO PÚBLICO TEM LEGITIMIDADE PARA PROPOR AS SEGUINTES AÇÕES CIVIS PÚBLICAS, SEGUNDO A JURISPRUDÊNCIA11: “em defesa de direitos individuais homogêneos, desde que esteja configurado interesse social relevante” (STJ-RDA 207/282); “para ajuizar ação coletiva de proteção ao consumidor, em cumulação de demandas, visando: a) à nulidade de cláusula contratual inquinada de nula (juros mensais); b) à indenização pelos consumidores que já firmaram os contratos em que constava tal cláusula; c) à obrigação de não mais inserir nos contratos futuros a referida cláusula” (RSTJ 98/311); “em defesa de patrimônio de fundação pública” (JTJ 192/9, maioria). “visando à proteção do patrimônio público” (STJ-5ª Turma, Resp 98.648-MG, rel. Min. José Arnaldo, j. 10.3.97, negaram provimento, v.u.,DJU 28.04.97, p. 15.890. No mesmo sentido: RT 722/139; JCJ 156/127; “visando à restituição de dinheiro desviado dos cofres públicos, não ficando afastada a ação popular com o mesmo objetivo” (RT 721/222, maioria); “para que se afira se ex-prefeito de município lesou o erário, realizando despesas irregulares” (RJTAMG 56/130); 11 Idem, ibidem. Tutela dos Interesses Difusos e Coletivos Professor Roberto Moreira de Almeida 25 “ contra aumento de mensalidades escolares (RSTJ 90/22). No mesmo sentido: voto vencido do Min. Maurício Corrêa, no RE 161.231, apud Inf. STF 62, de 3.3.97, p. 1; STF-2ª Turma, RE 185.360-3-SP, rel. Min. Carlos Velloso, j. 17.11.97; “para fornecimento de histórico escolar de aluno” (RSTJ 93/296); “com o objetivo de incluir percentual da arrecadação de impostos na verba destinada à educação” (JTJ 155/98). “ contra loteador, visando ao cumprimento das obrigações assumidas no empreendimento” (RT 742/256, JTJ 193/127). “ em defesa dos consumidores de energia elétrica” (JTJ 201/14). 1.7. FUNÇÕES DO MINISTÉRIO PÚBLICO a) atuará como autor (item supra); b) não sendo autor da ação, atuará obrigatoriamente como fiscal da lei (custos legis). (§ 1º, art. 5º, LACP); c) promoverá a execução do julgado se o autor não o fizer no prazo de 60 dias; d) quando houver desistência infundada ou abandono da causa por outra parte legítima, o MP ou outro legitimado assumirá a titularidade ativa (§ 3º, art. 5º, LACP); e) instaurará o inquérito civil público, com exclusividade, quando houver necessidade de colher elementos probatórios acerca da autoria e materialidade para posterior ação civil pública. 1.8. OBJETO A ação civil pública pode ser proposta em caso de lesão ou ameaça de lesão. Portanto, pode ser proposta ação civil pública principal ou cautelar (arts. 4º e 5º LACP). Tem por objeto: Tutela dos Interesses Difusos e Coletivos Professor Roberto Moreira de Almeida 26 a) a condenação do réu em perdas e danos, hipótese em que o valor das indenizações será destinado ao Fundo para Reconstituição dos Bens Lesados (FRBL), disciplinado pelo Dec. nº 1.306, de 9/11/1994. b) cumprimento da obrigação de fazer ou não fazer, hipótese em que o juiz determinará o cumprimento da prestação da atividade devida ou a cessação da atividade nociva, sob pena de execução específica ou de cominação de multa diária, se esta for suficiente ou compatível, independentemente de requerimento do autor. 1.9. PREVISÃO LEGAL 1.9.1. LEI DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA: Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985. Disciplina a ação civil pública de responsabilidade por danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, bem como outros interesses difusos e coletivos. 1.9.2. AÇÃO CIVIL PÚBLICA PARA A PROTEÇÃO E APOIO ÀS PESSOAS PORTADORAS DE DEFICIÊNCIA E SUA INTEGRAÇÃO: Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989. 1.9.3. AÇÃO CIVIL PÚBLICA PARA RESPONSABILIDADE POR DANOS CAUSADOS AOS INVESTIDORES NO MERCADO DE VALORES MOBILIÁRIOS: Lei nº 7.913, de 7 de dezembro de 1989. 1.9.4. AÇÃO CIVIL PÚBLICA PARA PROTEÇÃO DE INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES: Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (arts. 208 a 224 do ECA). 1.9.5. AÇÃO CIVIL PÚBLICA PARA A PROTEÇÃO DO CONSUMIDOR: Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (arts. 81 a 104). 1.9.6. AÇÃO CIVIL PÚBLICA PARA PROTEÇÃO DAS PESSOAS IDOSAS: Lei nº 8.842/94. Tutela dos Interesses Difusos e Coletivos Professor Roberto Moreira de Almeida 27 1.9.7. AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR INFRAÇÃO DA ORDEM ECONÔMICA: Lei nº 8.884, de 11 de junho de 1994. Tutela dos Interesses Difusos e Coletivos Professor Roberto Moreira de Almeida 28 UFPB GRADUAÇÃO DO CURSO DE DIREITO TUTELA DOS INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS PROFESSOR: ROBERTO MOREIRA DE ALMEIDA CAPÍTULO 03. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA 1) ENRIQUECIMENTO ILÍCITO E ATOS DE IMPROBIDADE DOS AGENTES PÚBLICOS (LEI Nº 8.429/92) 1.1.CONCEITO A improbidade administrativa consiste na prática de atos, estatuídos em lei, de natureza civil, atentatórios aos princípios norteadores da administração pública. 1.2) LEGISLAÇÃO APLICÁVEL A) CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988: art. 37, caput e § 4º, CRFB/88. B) LEI FEDERAL Nº 8.429, de 2 de junho de 1992 (Lei de Improbidade Administrativa). 1.3) SUJEITOS ATIVOS DA IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA I) AGENTES PÚBLICOS São todos aqueles que exercem, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função na administração direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, deautarquias, fundações públicas, empresas públicas, sociedades de economia mista ou de entidade que receba subvenção, benefício ou incentivo, fiscal ou creditício de órgãos públicos (arts. 1º, caput, e parágrafo único, 2º e 3º da LIA). OBS.: Dentre os agentes públicos citados acima, pode-se resumir: a) agentes políticos: Exemplos: magistrados, membros do Ministério Público, do Tribunal de Contas, do Executivo, Legislativo e Judiciário. b) servidores públicos civis e militares: Tutela dos Interesses Difusos e Coletivos Professor Roberto Moreira de Almeida 29 Exemplos: funcionários públicos (cargos), empregados públicos (empregos) e ocupantes de funções públicas. c) contratados: Exemplos: particulares exercendo transitoriamente, com ou sem remuneração, funções estatais sem vínculo empregatício (ex.: jurados, mesários de eleições etc.);b) pode-se incluir: delegatários (concessionários, permissionários e autorizatários) OBS.: Também poderão ser responsabilizados aqueles que, mesmo não sendo agentes públicos, induzam ou concorram para a prática do ato de improbidade administrativa ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou indireta (art. 3º, LIA). 1.4. SUJEITO PASSIVO DA IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA I)SUJEITO PASSIVO IMEDIATO É a pessoa jurídica efetivamente afetada pelo ato. O art. 1º, caput, da LIA estabelece o seguinte rol: a) órgãos da administração direta ou indireta; b) empresa ou entidade para cuja criação o erário haja concorrido ou concorra com mais de 50 % do patrimônio ou da receita anual; c) empresa ou entidade que receba subvenção, benefício ou incentivo, fiscal ou creditício de órgão público; d) empresa incorporada ao patrimônio público. II)SUJEITO PASSIVO MEDIATO Toda a coletividade, daí o interesse e a legitimidade do Ministério Público atuar com o afã de coibir tais práticas mediante a utilização do direito de ação. 1.5. TIPICIDADE LEGAL A Lei de Improbidade Administrativa tipifica as condutas em três grupos, a saber: Tutela dos Interesses Difusos e Coletivos Professor Roberto Moreira de Almeida 30 I) ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA QUE IMPORTAM ENRIQUECIMENTO ILÍCITO (art. 9º, LIA) As condutas estão relacionadas à obtenção de qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do exercício de cargo, mandato, função, emprego ou atividades nas entidades públicas ou equiparadas. II) ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA QUE CAUSAM PREJUÍZO AO ERÁRIO (art. 10, LIA) São, em regra, aquelas condutas que causam lesão ao erário. Consistem nas práticas omissivas ou comissivas, dolosas ou culposas, que ensejam perda patrimonial, desvio, apropriação ou dilapidação dos bens das entidades públicas ou equiparadas. III) ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA QUE ATENTAM CONTRA OS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA (art. 11, LIA) São aqueles atos comissivos ou omissivos que violam os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade às instituições. A CRFB/88, no art. 37, assevera ser princípios da administração pública: a legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Com o mesmo conteúdo, a LIA dispôs no art. 4º. 1.6. SANÇÕES Segundo o art. 37, § 4º, da Constituição Federal, “os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma da lei, sem prejuízo da ação penal cabível”. A lei cabível é a Lei de Improbidade Administrativa que impõe sanções divididas em três grupos, a seguir discriminados: I) ENRIQUECIMENTO ILÍCITO (art. 9º, LIA) a) perda dos bens acrescidos ilicitamente; b) ressarcimento integral do dano, se houver; c) perda da função pública; Tutela dos Interesses Difusos e Coletivos Professor Roberto Moreira de Almeida 31 d) suspensão dos direitos políticos de 8 (oito) a 10 (dez) anos; e) multa civil de até três vezes o valor do acréscimo patrimonial; f) proibição de contratar com o poder público, ainda que por intermédio de pessoa jurídica pelo prazo de 10 anos. II) LESÃO AO ERÁRIO (art. 10, LIA) a) ressarcimento integral do dano; b) perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se houver; c) perda da função pública; d) suspensão dos direitos políticos de cinco a oito anos; e) pagamento de multa civil de até duas vezes o valor do dano; f) proibição de contratar com o Poder Público, ainda que por intermédio de pessoa jurídica, pelo prazo de cinco anos. III) ATOS CONTRA OS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO (art. 11, LIA) a) ressarcimento integral do dano, se houver; b) perda da função pública; c) suspensão dos direitos políticos de três a cinco anos; d) pagamento de multa civil de até 100 vezes o valor da remuneração percebida do agente; e) proibição de contratar com o poder público, ainda que por intermédio de pessoa jurídica, por três anos. RESUMIDAMENTE GIANPAOLO SMANIO12 resume as sanções da seguinte forma: “1. Em qualquer caso que houver lesão ao Erário - ressarcimento integral do dano; 2. Em qualquer caso de enriquecimento ilícito - perda dos bens ilicitamente acrescidos; 3. Em qualquer caso - perda da função pública; 4. Em qualquer caso - suspensão dos direitos políticos - art. 9º (8 a 10 anos), art. 10 (5 a 8 anos); art. 11 (3 a 5 anos); 12 SMANIO, Gianpaolo Poggio. Interesses difusos e coletivos. São Paulo: Atlas, 1998, p. 87. Tutela dos Interesses Difusos e Coletivos Professor Roberto Moreira de Almeida 32 5. Em qualquer caso - multa civil. art. 9º (3 x valor do acréscimo); art. 10 (2 x dano), art. 11 (3 e 5). 6. Em qualquer caso - proibição de contratar com o poder público - art. 9º - 10anos, art. 10 - 5 anos, art. 11 - 3 anos.” 2. ASPECTOS PROCESSUAIS 2.1. AÇÃO PREVISTA Ação civil pública porquanto o bem jurídico tutelado é interesse transindividual (difuso). 2.2. COMPETÊNCIA É do juízo cível de 1º grau de jurisdição do local onde ocorreu o dano, se houver ou o local da prática do ato. 2.3. LEGITIMIDADE ATIVA A legitimação processual ativa é concorrente do Ministério Público e da pessoa jurídica lesada. OBS.: A atuação do MP se fundamenta no art. 129, inc. III, CF/88. OBS.2: Se o MP não for o autor, ele atuará obrigatoriamente como fiscal da lei (custos legis) (art. 17, § 4º, LIA). 2.4. LITISCONSÓRCIO ATIVO ULTERIOR Quando o MP for o autor, a pessoa jurídica deverá ser cientificada para, querendo, integrar a lide, na condição de litisconsorte ativa, podendo suprir omissões, falhas e indicar provas (art. 17, § 3º, LIA). 2.5. PRAZO PARA A PROPOSITURA DA AÇÃO Enquanto não ocorrer a prescrição, o MP ou outro legitimado poderá propor a ação civil pública de improbidade administrativa. 2.6. PRESCRIÇÃO As ações de improbidade administrativa podem ser propostas: Tutela dos Interesses Difusos e Coletivos Professor Roberto Moreira de Almeida 33 a) até cinco anos após o término do exercício de mandato, de cargo em comissão ou de função de confiança; b) dentro do prazo prescricional previsto em lei específica para faltas disciplinares puníveis com demissão a bem do serviço público, nos casos de exercício de cargo ou emprego” (art. 23, LIA). c) para o ressarcimento do dano não há prescrição, conforme o art. 37, § 5º, da CF/88. 2.7. TRANSAÇÃO Em sendo o interesse indisponível, a transação é vedada (art. 17, § 1º, da LIA). 2.8. CAUTELARES A) INDISPONIBILIDADE DOS BENS: art. 7º; B) SEQUESTRO DOS BENSE BLOQUEIO DE CONTAS BANCÁRIAS: ART. 16; c) AFASTAMENTO TEMPORÁRIO DO EXERCÍCIO DO CARGO: art. 20, p. único. Tutela dos Interesses Difusos e Coletivos Professor Roberto Moreira de Almeida 34 BIBLIOGRAFIA BÁSICA x ALMEIDA, Gregório Assagra de. Direito processual coletivo brasileiro. São Paulo: Saraiva. x ARAÚJO JÚNIOR, Gediel Claudino de. Prática no processo civil. São Paulo: Atlas. x CARVALHO FILHO, José dos Santos. Ação civil pública – comentários por artigo. Rio de Janeiro: Freitas Bastos Editora. x COSTA MACHADO, Antônio Cláudio da. A intervenção do Ministério Público no processo civil brasileiro. São Paulo: Saraiva. x x FERNANDES NETO, Guilherme. Inquérito civil e ação civil pública. São Paulo: Atlas, 2013. x FUX, Luiz. Curso de Direito Processual Civil. Rio de Janeiro: Forense. x LOPES, João Batista. A prova no direito processual civil. São Paulo: RT. x MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Ação civil pública. São Paulo: RT. x MARINONI, Luiz Guilherme et ARENHART, Sérgio Cruz. Manual de processo de conhecimento. São Paulo: RT. x MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo. São Paulo: Saraiva. x MILARÉ, Édis. Ação civil pública – Lei n. 7.347/85 – reminiscências e reflexões após dez anos de aplicação. São Paulo: Revista dos Tribunais. x NERY JÚNIOR, Nelson et NERY, Rosa Maria de Andrade. Código de Processo civil comentado e legislação processual civil extravagante em vigor. São Paulo: RT. x NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Instrumentos de tutela e direitos constitucionais. São Paulo: Saraiva. x PAZZAGLINI FILHO, Marino. Lei de Improbidade Administrativa comentada. São Paulo: Atlas. x THEODORO JÚNIIOR, Humberto. Curso de Direito Processual civil. Rio de Janeiro: Forense. x VIGLIAR, José Marcelo Menezes. Ação civil pública. São Paulo: Atlas.
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