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INGLATERRA - REVOLUÇÕES NO SÉCULO XVII O Antigo Regime europeu correspondeu ao modo de vida da população europeia ao longo da Época Moderna, tendo como pilares de sustentação o Absolutismo Monárquico e o Mercantilismo. A partir de meados do século XVII, porém, essa estrutura começou a dar sinais de declínio devido às transformações socioeconômicas por que passava o continente europeu nesse momento histórico. Tais transformações, observadas inicialmente e com maior intensidade na Inglaterra, refletiram-se sobre a organização política e cultural dos países europeus, levando à derrocada do Antigo Regime como um todo. Certamente, o processo foi lento e gradual, mais intenso em determinadas regiões, mais prolongado em outras. De qualquer modo, as bases do Antigo Regime começaram a ser abaladas na segunda metade do século XVII e alguns fenômenos históricos foram responsáveis por esses abalos: as Revoluções Inglesas de 1640 e 1688, a Revolução Industrial, a filosofia do Iluminismo e a Independência dos Estados Unidos. Cada um a seu modo contribuiu para o questionamento da ordem vigente na Europa até aquele momento: os privilégios da nobreza feudal, o intervencionismo estatal na economia, os poderes absolutos do rei. Iniciemos nosso estudo acerca da crise do Antigo Regime europeu pelas Revoluções Inglesas do século XVII. A INGLATERRA NO INÍCIO DO SÉCULO XVII Vimos que o apogeu do Absolutismo inglês deu-se sob a dinastia Tudor: Henrique VIII e Elizabeth I. Durante o reinado desses dois monarcas, a autoridade do rei impôs-se à da nobreza feudal e à do Parlamento, a prosperidade econômica, conquistada graças a uma eficiente política naval e comercial, associada à estabilidade política obtida em função do duplo apoio social ao rei (burguesia e nobreza), fizeram da Inglaterra uma poderosa nação no cenário europeu. A sociedade inglesa da época achava-se dividida da seguinte forma: Nobreza: ao lado da antiga nobreza feudal, latifundiária, exploradora da mão de obra servil, detentora de privilégios, havia uma nova nobreza, chamada de gentry, a qual havia surgido após a Reforma Anglicana, quando Henrique VIII vendeu as terras da Igreja Católica. O rei confiscara os bens da Igreja e vendera-os a burgueses enriquecidos pelo comércio, obtendo, dessa forma, recursos consideráveis para sustentar o aparelho do Estado. Por outro lado, o processo de cercamento das terras comunais ("enclosures") havia expulso do campo milhares de camponeses e as terras acabaram concentrando-se em mãos dessa nova nobreza. Esses novos nobres, por sua vez, passaram a dedicar-se à agricultura comercial visando o abastecimento dos núcleos urbanos que se desenvolviam. Investiam capitais oriundos de outras atividades econômicas, sobretudo do comércio, na agricultura, originando assim uma nobreza empreendedora. Burguesia: também esse grupo não era homogêneo. Havia uma burguesia mercantil e monopolista que, além de grande riqueza acumulada, usufruía de enormes privilégios junto ao rei (frequentava a Corte, recebia concessões monopolísticas da Coroa) e, por isso, apoiava incondicionalmente o Absolutismo. Esse grupo, em troca das vantagens econômicas auferidas junto ao rei, garantia os recursos necessários à plena manutenção do Estado Absolutista, antecipando lucros e impostos. Havia, entretanto, um outro segmento burguês no interior da sociedade inglesa: a burguesia manufatureira. Tratava-se de um grupo ligado à produção de manufaturas - sobretudo têxteis - que não usufruía de qualquer vantagem econômica, social ou política e que, acima de tudo, desejava a ampliação do mercado consumidor para seus produtos. Para isso, era necessário abolir os laços servis e converter camponeses e trabalhadores urbanos em consumidores. Além disso, exigia o fim das restrições mercantilistas e a liberdade de produção e comércio. Povo: chamaremos de povo ao restante da população inglesa formada tanto por camponeses sujeitos às obrigações servis junto à nobreza proprietária de terras, quanto aos camponeses expropriados pelos cercamentos, que abandonaram o campo e dirigiram-se para as cidades, constituindo o proletariado urbano. Este grupo desejava retornar às atividades rurais e, por isso, condenava o absolutismo promotor de sua expulsão. Ainda compunham o povo os pequenos comerciantes e os artesãos que moravam nas cidades. Devido ao absolutismo em vigor na Inglaterra do início do século XVII, não haviam canais de expressão social e política que representassem ideologias ou classes sociais. O único veículo de expressão aceito eram as religiões e, nesse sentido, a população dividia-se da seguinte forma, conforme seu apoio ou crítica ao absolutismo monárquico: anglicanos: eram o grupo ligado ao poder, formado, basicamente, pela nobreza emergente e pela burguesia monopolista; defendia a manutenção do absolutismo pelas vantagens conseguidas junto ao rei; católicos: era a nobreza feudal, que perdera muito de seu poder e prestígio com o fortalecimento da autoridade real, mas que ainda usufruía de largos privilégios, como, por exemplo, o recebimento das obrigações servis; temiam, sobretudo, perder o que ainda lhe restava de prestígio e, por isso, não se colocavam contra o rei; calvinistas: protestantes divididos em puritanos (mais radicais, defensores da República) e presbiterianos (mais moderados, advogavam uma Monarquia Parlamentar); representavam a burguesia desprivilegiada e os setores mais humildes da sociedade inglesa, principalmente, o proletariado urbano de origem camponesa, descontente com o processo de cercamentos e que sonhava voltar à terra que lhe fora confiscada. Tais grupos assumiram uma posição política nitidamente antiabsolutista. A DINASTIA STUART A família Stuart, que assumiu o poder político na Inglaterra após a morte do último monarca Tudor, Elizabeth I, em 1603, procurou dar continuidade ao absolutismo de seus antecessores. As alterações socioeconômicas por que passara a Inglaterra ao longo do século XVI, porém, impediram-nos de concretizar plenamente seu objetivo. Jaime I (1603-1625) foi o primeiro monarca da dinastia Stuart. Seu reinado caracterizou-se pela ausência de habilidade política, excesso de vaidade pessoal, teimosia e grande erudição, o que lhe valeu o "título" de "imbecil mais sábio da cristandade". Durante seu reinado, desenvolveu uma forte perseguição a católicos e calvinistas, com vistas ao fortalecimento do anglicanismo no reino e, consequentemente, do absolutismo. Ao mesmo tempo, com o aumento dos gastos do Estado para sua manutenção e queda da arrecadação do tesouro, o rei foi obrigado a adotar uma política fiscal e tributária de péssimas repercussões. Procurou criar novos impostos e aumentar os já existentes, mas, para isso, necessitava da aprovação do Parlamento (não esquecer da Magna Carta de 1215), o qual se negou a colaborar com o rei e, por isso, foi dissolvido em 1614, assim permanecendo até 1621. Seu filho, Carlos I (1625-1649), substituiu-o e, apesar de mais hábil nas questões políticas, também procurou manter a concentração absoluta de poderes herdada dos Tudor. As dificuldades financeiras avolumaram-se durante seu reinado e o Parlamento, reconvocado em 1621, negava-se a ajudar o rei a resolver os problemas orçamentários. Carlos I procurou negociar com o Parlamento a aprovação de novos impostos e, em 1628, conseguiu que aprovasse, mediante o juramento da Petição de Direitos que previa o fim das prisões arbitrárias e imposição de tributos ilegais, novos tributos que aliviassem a difícil situação financeira da Monarquia. O rei, porém, uma vez aprovados novos tributos, dissolveu novamente o Parlamento, que permaneceu em "recesso" até 1637. Nesse ano, ocorreu a invasão da Inglaterra pelos escoceses devido à tentativa do monarca de anglicanizar a Igreja Presbiteriana da Escócia. Para se retirarem do território inglês, osescoceses exigiam o pagamento de uma pesada indenização, para o qual o rei não possuía recursos. Foi, portanto, obrigado a reconvocar o Parlamento que, mais uma vez, negou- se a colaborar com o monarca e, mais uma vez, foi fechado em 1640. Desta vez, porém, o fechamento do Parlamento, gerou uma violenta reação por parte dos setores antiabsolutistas da sociedade inglesa que passaram a enfrentar o rei, primeiro criticando, mas depois pegando em armas, originando uma guerra civil. O conflito armado entre adeptos do absolutismo monárquico (chamados cavaleiros) e seus opositores (conhecidos como cabeças redondas e liderados por Oliver Cromwell) iniciou-se em 1642. Depois de violentos conflitos, os cabeças redondas, melhor organizados e mais disciplinados que os cavaleiros (Cromwell havia criado o "Exército de Novo Tipo" que garantiu uma melhor estruturação militar aos cabeças redondas), venceram, aprisionaram e executaram o rei e instauraram o regime republicano na Inglaterra, em 1649. A vitória dos cabeças redondas significou a vitória das forças radicais antiabsolutistas que desejavam a implantação da República. Esse radicalismo, porém, serviu para isolar os puritanos e levá-los à derrota, anos mais tarde. "Os ingleses estavam divididos em dois campos: os Cavaleiros, partidários do rei, e os Cabeças Redondas, partidários do Parlamento. De início, esses dois campos não estavam separados por diferenças sociais bem nítidas e foram frequentes as mudanças de campo. O rei mantinha bem o Norte e o Oeste, enquanto o Parlamento organizava as suas forças no Sul e no Leste, economicamente mais desenvolvidos. De resto, Cabeças Redondas e, mesmo, Cavaleiros eram bem pouco versados na arte da guerra e careciam de recursos. Dos dois lados, viu-se combaterem gentil homens e milicianos mal pagos, e houve arrecadação de impostos. Teve o rei algum contato com os irlandeses que o desconsideraram. O Parlamento teve-os com os escoceses, sem muita eficácia. Em 1644, a guerra declinava. Pym e Hampden estavam mortos. Entabolaram-se negociações, porém a intransigência do rei fê-las malograrem. A guerra recomeçara. Havia que levá-la à frente. O Parlamento recorreu a Oliver Cromwell, fidalgo camponês que se distinguira à frente de seu regimento, os "Costelas de ferro", disciplinado e fanático. Era um homem simples e enérgico, um puritano arrebatado, persuadido de que tinha uma missão a cumprir. Revelou-se um organizador. O Parlamento decidiu remodelar o exército a exemplo dos "Costelas de ferro" (New Model). Em 1645, o exército real foi esmagado em Naseby. Carlos I refugiou-se na Escócia. Todavia, como ele se recusasse sempre a reconhecer o Covenant, os escoceses entregaram-no ao Parlamento de Londres por 40.000 libras." ( CORVISIER, André. História Moderna. 2a.ed, São Paulo, DIFEL, 1980; p.175) INGLATERRA - REVOLUÇÕES NO SÉCULO XVII
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