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Resumo Terapia Antimicrobiana 2 Resumo de Terapia Antimicrobiana www.sanarflix.com.br 1. Introdução Antimicrobianos são substâncias naturais, semissintéticas ou sintéticas que eliminam (bactericidas) ou inibem o crescimento (bacteriostáticos) dos microrganismos. São utilizados no tratamento ou na prevenção de doenças infecciosas. Os microrganismos importantes sob a perspectiva médica podem ser classificados em 4 grupos gerais: bactérias, vírus, fungos e parasitos. A primeira classificação geral dos antimicrobianos corresponde diretamente a essa divisão, de modo que temos fármacos (1) antibacterianos, (2) antivirais, (3) antifúngicos e (4) antiparasitários. Tais agentes, para serem eficazes, necessitam manifestar toxicidade seletiva, isto é, devem ser tóxicos para os microrganismos, porém inócuos para o hospedeiro humano. Os processos bioquímicos geralmente inibidos incluem a síntese das paredes celulares das bactérias e dos fungos; as sínteses da membrana celular e das subunidades ribossômicas 30s e 50s; o metabolismo dos ácidos nucleicos; as funções das topoisomerases e das proteases e integrases virais; as proteínas de fusão do envoltório viral; a síntese do folato pelos parasitos; e os processos de desintoxicação química dos parasitos. Cada antimicrobiano pode ser classificado de acordo com a sua atividade: bacteriostática ou bactericida. Os bacteriostáticos descrevem os antibióticos que inibem o crescimento dos microrganismos, e os bactericidas descrevem os antimicrobianos que matam os microrganismos. Adicionalmente, cada antimicrobiano está associado a um espectro particular de atividade. Esse espectro de atividade descreve o número de diferentes espécies de microrganismos que são sensíveis a esse fármaco. Antibióticos de amplo espectro são aqueles que atuam em diferentes espécies de bactérias, enquanto os de baixo espectro são efetivos contra um pequeno número de espécies bacterianas. 3 Resumo de Terapia Antimicrobiana www.sanarflix.com.br 2. Tipos e objetivos do tratamento antimicrobiano Considerando o momento ao longo da linha de progressão da doença em que o tratamento é iniciado, este pode ser pode ser profilático, antecipatório ou preventivo, empírico, definitivo ou supressor. Profilaxia: consiste em tratar pacientes que ainda não estão infectados ou não desenvolveram a doença. O objetivo da profilaxia é evitar a infecção ou impedir o desenvolvimento de uma doença potencialmente perigosa em indivíduos que já têm evidências de infecção. Em condições ideais, um único fármaco eficaz e atóxico consegue evitar a infecção por um microrganismo específico ou erradicar a infecção em fase inicial. Um exemplo é a profilaxia das infecções oportunistas em pacientes imunossuprimidos, como nos pacientes com HIV-Aids e com contagem de linfócitos CD4+ menor que 200 células/mm³. Tratamento preventivo: usado como substituto à profilaxia universal e como tratamento precoce dirigido aos pacientes de alto risco que já tenham indícios laboratoriais ou outro teste indicando que um paciente assintomático se tomou infectado. O princípio desse tratamento é que sua administração antes do desenvolvimento dos sinais e dos sintomas (pré-sintomático) erradica a doença iminente. Deve ter duração curta e pré-definida. Um exemplo da utilização deste tipo de tratamento é para evitar a doença causada por citomegalovírus (CMV) depois dos transplantes de células-tronco hematopoiéticas e órgãos sólidos. Tratamento empírico: iniciação do tratamento baseado na apresentação clínica, que pode sugerir o microrganismo específico, assim como no conhecimento dos microrganismos que mais provavelmente causam infecções específicas em determinados hospedeiros, antes da confirmação laboratorial da própria infecção e do patógeno. Sempre deve ser avaliado se o tratamento está realmente indicado. Com algumas doenças, o custo de esperar alguns dias por indícios microbiológicos de infecção é pequeno. Em outro grupo de pacientes, os riscos de esperar são altos, tendo como base o estado imune do indivíduo ou outros fatores de risco que reconhecidamente 4 Resumo de Terapia Antimicrobiana www.sanarflix.com.br agravam o prognóstico. Existem técnicas laboratoriais simples e rápidas para auxiliar nessa decisão, como o exame de secreção e líquidos corporais infectados com o corante de Gram. Esses exames auxiliam a reduzir a lista de patógenos possíveis e permitem a escolha mais racional do tratamento inicial. Antes de iniciar o tratamento empírico, deve-se sempre obter os materiais para as culturas apropriadas. Tratamento definitivo: tratamento individualizado com antibiótico específico empregado quando um patógeno é isolado e os resultados dos testes de sensibilidade estão disponíveis. O tratamento com um único fármaco é preferível para reduzir os riscos de toxicidade e seleção de patógenos resistentes, embora haja situações especiais nas quais há evidências inequívocas a favor do tratamento combinado. A duração deve ser a menor possível. Os princípios da utilização de terapia combinada são: evitar resistência, acelerar a rapidez da atividade microbicida, aumenta a eficácia terapêutica ou ampliar a atividade microbicida e reduzir a toxicidade (como nos casos em que a eficácia plena de um antibacteriano pode ser conseguida apenas com doses tóxicas e a administração de um segundo fármaco produz efeitos aditivos). Tratamento supressor: tratamento mantido com dose mais baixa após o controle da doença inicial com o antimicrobiano. O objetivo é mais propriamente de profilaxia secundária. Isso ocorre porque, nesses casos, a infecção não foi completamente erradicada e a anormalidade anatômica ou imune que causou a infecção original ainda persiste. Isso é comum, por exemplo, nos pacientes com Aids e nos receptores de transplantes. Figura 1: Linha de progressão da doença-tratamento antimicrobiana. Fonte: Brunton, Chabner, Knollmann, 2012 5 Resumo de Terapia Antimicrobiana www.sanarflix.com.br 3. Seleção de um agente antimicrobiano Para selecionar o fármaco de escolha no tratamento de uma infecção, vários fatores devem ser levados em consideração, incluindo fatores dos microrganismos, fatores do hospedeiro e fatores relacionados ao próprio fármaco. Resumidamente, o microrganismo deve ser identificado, sempre que possível, utilizando microscopia óptica associada à coloração de gram ou por cultura direta. A cultura é utilizada para determinar a quais agentes farmacológicos o microrganismo é suscetível. Fatores a serem considerados na seleção de um agente infeccioso Fatores dos microrganismos Identificação do microrganismo Suscetibilidade (CIM, CBM) Fatores dos hospedeiros Alergia ao fármaco Variabilidades farmacêuticas (efeito da alimentação na absorção do fármaco, doenças que afetam a absorção do fármaco, impacto de outros fármacos que alterem a biotransformação) Função hepática/renal Gravidez/lactação Sítio da infecção Sinais e sintomas (febre, mal-estar, leucocitose, drenagem purulenta, etc) Fatores dos fármacos Econômicos Penetração tecidual Toxicidade do fármaco Prevenção da resistência Tabela 1: Fatores a serem considerados na seleção de um agente infeccioso. Fonte: Kester et al., 2008 A concentração inibitória mínima (CIM) corresponde à menor concentração do fármaco capaz de inibir a multiplicação de determinada cepa bacteriana. A CIM está correlacionada com asconcentrações plasmáticas obtidas em esquemas posológicos factíveis e não tóxicos, afirmando-se que há sensibilidade quando a CIM for inferior a tais concentrações. Usualmente, bactérias são consideradas sensíveis quando a CIM 6 Resumo de Terapia Antimicrobiana www.sanarflix.com.br situa-se abaixo de 1 μg/mL. Pode apresentar variações em decorrência da prevalência de uso dos antimicrobianos em diferentes instituições e áreas geográficas. A concentração bactericida mínima (CBM) corresponde à menor concentração do fármaco, in vitro, capaz de destruir culturas de microrganismos. Para os antibacterianos bacteriostáticos, as CIMs do fármaco são bem menores que as CBMs. Essa classificação é controversa, podendo alguns agentes bacteriostáticos ser bactericidas, dependendo do patógeno em questão, da dose e da concentração do fármaco no local de infecção. Em situações em que o sistema imune do paciente esteja comprometido, os agentes bactericidas devem ser preferidos aos bacteriostáticos. Em alguns casos, as altas concentrações necessárias para a ação antibacteriana impossibilitam seu uso clínico, dada a toxicidade do fármaco ao paciente. Nesse caso, as bactérias são consideradas resistentes às doses usuais dos antimicrobianos. 4. Mecanismos de resistência aos antimicrobianos Microrganismos resistentes são aqueles capazes de se multiplicar em concentrações mais altas de antimicrobianos que as obtidas com o uso de doses terapêuticas. A resistência ocorre de 2 formas. A primeira é chamada primária ou intrínseca, na qual as bactérias são naturalmente resistentes aos antimicrobianos (como exemplo, a bactéria Mycoplasma pneumoniae não tem parede celular, portanto é naturalmente resistente aos β-lactâmicos). A segunda forma é a secundária ou adquirida, que ocorre por desenvolvimento de novos mecanismos de defesa por parte do microrganismo perante a exposição continuada ao antimicrobiano. Os mecanismos de resistência diante os fármacos incluem: inativação ou modificação enzimática, alteração do local-alvo ou receptor de ligação, alteração da permeabilidade celular, desenvolvimento de uma via alternativa à inibida, aumento da síntese do local-alvo, diminuição da captação ou efluxo do fármaco pelo microrganismo. 7 Resumo de Terapia Antimicrobiana www.sanarflix.com.br Figura 2: Mecanismos de resistência dos microrganismos a antibacterianos. Fonte: Gomez, Torres, 2017 5. Classificação e mecanismo de ação Os diferentes mecanismos de ação incluem: • Fármacos inibidores da síntese da parede celular: β-lactâmicos, glicopeptídeos, fosfomicina; • Fármacos que aumentam a permeabilidade da membrana celular: polimixinas, daptomicina; • Fármacos que inibem a síntese proteica: macrolídeos, lincosamidas, tetraciclinas, glicilciclinas, aminoglicosídeos, estreptograminas, oxazolidinonas, cloranfenicol; • Fármacos que afetam o metabolismo de ácidos nucleicos: rifamicinas, fluoroquinolonas, nitroimidazóis e nitrofuranos; 8 Resumo de Terapia Antimicrobiana www.sanarflix.com.br • Fármacos antimetabólitos: sulfonamidas. Figura 3: Mecanismos de ação das principais classes de antibacterianos. Fonte: Gomez, Torres, 2017 9 Resumo de Terapia Antimicrobiana www.sanarflix.com.br Figura 4: Elementos estruturais e processos bioquímicos na célula bacteriana que proporcionam alvos potenciais para a ação de agentes bacterianos. Fonte: Dale et al., 2010 Referências bibliográficas 1. Brunton, Laurence L. Chabner, Bruce A. Knollmann, Bjorn C. As bases farmacológicas da terapêutica de Goodman & Gilman. 12. ed. Porto Alegre: AMGH, 2012. 2. Gomez, Rosane. Torres, Iraci L. S. Farmacologia clínica. 1. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. 3. Dale M. M., et al. Farmacologia condensada. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. Kester, M., et al. Farmacologia. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. 10 Resumo de Terapia Antimicrobiana www.sanarflix.com.br .
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