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FISIOPATOLOGIA ORAL 4º AULA: Neoplasias Benignas e Malignas da Cavidade Oral Neoplasias Benignas Neoplasias benignas têm aspectos microscópicos e macroscópicos inocentes. O crescimento é localizado, lento, células bem diferenciadas (muito semelhante ao tecido), não há invasão local nem à distância (metástase). Pode ser removido cirurgicamente. Temos sempre que analisar o grau de diferenciação, a taxa de crescimento, a invasão local e a invasão à distância. As neoplasias benignas da cavidade oral são: papiloma escamoso, lipoma, hemangioma, linfangioma, neurilemoma (Schwannoma) e neurofibroma. Papiloma Escamoso É uma neoplasia benigna do epitélio de revestimento. Podemos visualizar, dessa forma, um aumento do epitélio (células proliferando). Trata-se de uma lesão induzida pelo papilomavírus humano (HPV tipo 6 e 11). O HPV pode ser transmitido por contato sexual, não sexual, por objetos contaminados, saliva e leite materno. São lesões únicas, é muito difícil elas serem múltiplas. Os papilomas geralmente são nódulos, macios à palpação, com aspecto exofítico (cresce para fora), indolores, lesões normalmente pediculadas, coloração esbranquiçada ou rosa, afeta regiões de palato mole, duro, língua e úvula. Um detalhe muito importante do papiloma são as projeções superficiais digitiformes, que tem uma aparência de “couve-flor” ou verrucosa. Na maioria dos casos, são lesões pequenas. Às vezes podem ter um aspecto mais arredondado e rosa, depende da localização. Geralmente, quando a suspeita clínica é de papiloma, a indicação é biópsia excisional para o exame anatomopatológico. O diagnóstico diferencial pode ser condiloma e verruga vulgar. Aspectos Histopatológicos ● Como é uma lesão em epitélio, temos bastante queratina. Há um aumento do epitélio (proliferação). ● Proliferação do epitélio pavimentoso estratificado queratinizado, disposto em projeções digitiformes com centros de tecido conjuntivo. ● Estroma de tecido conjuntivo bem vascularizado de sustentação. O tecido epitelial não sobrevive sem o conjuntivo, então eles se acompanham. ● Podemos visualizar um processo inflamatório. ● O aspecto principal é a coilocitose (alteração no queratinócito induzida por vírus). Dessa forma, o coilócito nos informa que há um vírus dentro da célula. É provocada pela inclusão do HPV. Observar células com núcleo hipercromado e citoplasma claro. Fibroma Fibroma convencional é uma lesão reativa de trauma e não é uma neoplasia verdadeira. Porém, ele respeita as características de uma neoplasia. Podemos classificá-lo como neoplasia quando há uma certeza absoluta de que ele não foi induzido por trauma. Em 80% dos casos é fibroma traumático. Nessa lesão há um depósito de colágeno e é muito difícil visualizar infiltrado inflamatório. Lipoma Trata-se de uma neoplasia benigna de gordura. O lipoma não aumenta se o paciente engordar e também não diminui se o indivíduo emagrecer, ele tem um metabolismo independente. Porém, é mais comum em pessoas obesas. A patogênese é incerta, não sabemos porque acontece. É mais comum em tronco e extremidades. Afeta de 1% a 4% na região oral e maxilofacial (raros). Encontramos em região de mucosa jugal, vestíbulo, lábio, língua e soalho. É muito mais comum eles acontecerem fora da boca. Os pacientes normalmente têm em torno de 40 anos de idade e afeta tanto homens quanto mulheres. A submucosa (abaixo do epitélio e tecido conjuntivo) fica amarelada. O lipoma costuma aparecer na submucosa, que é onde temos células de gordura, glândulas salivares, músculo (se for na língua), osso e etc. As lesões geralmente são assintomáticas, nódulos de superfície plana e lisa, podem ser sésseis ou pediculados, circunscritos (encapsulado) e de coloração amarelo ou róseo (profundidade). Quando colocamos o lipoma no formol, ele flutua, o que ajuda no diagnóstico diferencial. Aspectos Histopatológicos Proliferação de células de gordura (núcleo na periferia porque no centro há grânulos de gordura). Temos adipócitos com maturação variada. Essa proliferação acontece em submucosa. Hemangioma Lesão benigna com origem vascular (realizamos vitropressão ou diascopia). Possui rápida fase de crescimento (proliferação endotelial) e uma involução gradual. Pode ser classificado de duas formas: malformação vascular ou uma lesão benigna da infância. Malformação é um processo que já se estabilizou (não continua proliferando), ou seja, não tendem a crescer. A pessoa nasce com aquilo, a lesão chega a um determinado tamanho e se estabiliza. Os hemangiomas da infância tem um pico de proliferação e, quando ele termina, a lesão pode diminuir ou pode se estabilizar. Muitas pessoas caracterizam os hemangiomas por hamartoma (lesão autolimitante - depois de um certo tamanho não se modifica mais). Quando falamos das malformações vasculares, podemos classificar quanto ao tipo de vaso (capilar, venoso, arteriovenoso) e quanto às características hemodinâmicas (baixo e alto fluxo). Os capilares e as veias são de baixo fluxo e artérias são de alto fluxo. As malformações são alterações estruturais dos vasos sanguíneos com renovação normal, presentes ao nascimento e persistem ao longo da vida. O granuloma piogênico é considerado um hemangioma capilar. Tumores vasculares: hemangiomas da infância, hemangiomas congênitos, hemangioendotelioma kaposiforme, angioma em tufos e granuloma piogênico. Malformações vasculares: simples (capilar, venosa, linfática e arteriovenosa) e malformações combinadas. Clinicamente o hemangioma possui um aumento de volume, várias dimensões, afeta regiões de mucosa bucal como língua, lábios e mucosa jugal. A coloração é vermelho vivo ou azulado (lesão vascular). A consistência é mole à palpação (lesão vascular) e são assintomáticos. Raramente podem trazer complicações para o paciente e apresentam baixa morbidade. O diagnóstico é feito com base no exame clínico, que inclui vitroscopia como manobra semiotécnica. Em relação ao tratamento, a lesão não vai aumentar e também não vai levar o paciente à óbito. A remoção pode ser feita, mas como é uma lesão vascular, o risco de sangramento é muito alto. O tratamento pode ser feito com crioterapia (uso do frio para queimar a região), ou seja, uma técnica/tratamento alternativo para diminuir as chances de hemorragia. Aspectos Histopatológicos Vemos proliferação de vasos (muitas hemácias). Linfangioma O linfangioma tem a característica de ser muito semelhante ao hemangioma, porém, ele acontece nos vasos linfáticos. Nos vasos linfáticos passa a linfa. Quando o linfangioma acontece, na maioria das vezes é na língua (⅔ anterior). Ele caracteriza o que chamamos de macroglossia (aumento da língua). São relativamente comuns na região de cabeça e pescoço (50% a 75%). Os linfangiomas também tem um crescimento autolimitante (hamartoma). Podemos deixar o linfangioma no paciente, mas isso prejudica a qualidade de vida social dele. A remoção podeser feita (excisão cirúrgica), mas deve ser uma cirurgia muito bem planejada pois há riscos de acometer estruturas importantes (não é possível remover completamente) e, consequentemente, pode recidivar, principalmente se for uma lesão profunda. Superficialmente há um aspecto de vesículas transparente agrupadas e podem produzir som crepitante à palpação. Podemos visualizar bolhas com colorações diferentes (esbranquiçadas, arroxeadas). Aspectos Histopatológicos Visualizamos vasos linfáticos revestidos por endotélio proliferando. Há também um material eosinofílico amorfo (linfa dentro dos vasos). É uma distribuição difusa pela submucosa, não capsulado e vasos adjacentes ao epitélio. Neurilemoma São neoplasias que se originam a partir da proliferação das células de Schwann. São células de origem neural, que formam a bainha de mielina (impulsos nervosos - reparação do axônio). São incomuns na região intra oral mas são relativamente comuns na região de cabeça e pescoço (25% a 48%). É de crescimento lento, encapsulado, tem associação com o tronco nervoso, eventualmente pode ter uma sensibilidade dolorosa (associado ao tronco nervoso) mas na maioria das vezes é assintomático. Mais comuns na língua (intra oral), e afeta pacientes adultos jovens e meia idade. Pode acontecer bilateralmente e, nesses casos, podemos desconfiar que o paciente tem a síndrome da neurofibromatose do tipo II (nervo vestibuloauditivo condição hereditária). Nessa síndrome, o paciente vai ter múltiplos neurofibromas e lesões em pele (pigmentação cutânea café com leite). Aspectos Histopatológicos Variantes histológicas: celular, melanótico, plexiforme. Outros: reticular/microcístico; neuroblastoma-simile. Há uma característica chamada padrão Antoni-A e padrão Antoni-B. No padrão Antoni-A as células de Schwann ficam agrupadas, formando a paliçada de núcleos. No meio, temos as projeções das células (espaço vazio). Esse padrão de projeções é chamado de corpos de Verocay. O padrão Antoni-B é mais difuso. Neurofibroma São lesões com origem nas células neurais (muitas vezes são as de Schwann). Geralmente são lesões solitárias. Quando o paciente tem múltiplos neurofibromas, ele também tem outras síndromes e iremos caracterizar como neurofibromatose do tipo II (síndrome). Quando é apenas uma lesão, não é neurofibromatose. Os neurofibromas solitários são lesões indolores, amolecidas, de crescimento lento, bem delimitadas, superfície lisa, assintomáticas, são mais frequentes em pele mas na cavidade oral também podem surgir em língua e mucosa jugal. Eventualmente podem acontecer dentro do osso (mais raro). Aspectos Histopatológicos Proliferação de células perineurais, fibroblastos e células de Schwann. Há estroma colageneizado, com variação mixóide. Caracterizando se é de origem neural ou não, podemos visualizar também células fusiformes, em formato de vírgula, citoplasma sem bordas definidas. Neurofibromatose Tipo I - Síndrome de Von Recklinghausen É uma doença autossômica dominante, com lesões cutâneas ou na mucosa. Em lesões em pele, são chamadas de café com leite (manchas acastanhadas). Esses pacientes normalmente têm anomalias de osso e alterações no SNC. Também têm múltiplos neurofibromas. Há risco de malignização das lesões. Neoplasias Malignas Conhecidas como cânceres, podem invadir e destruir estruturas adjacentes e se disseminar para áreas adjacentes e áreas distantes (metástase). Células pouco diferenciadas. Crescimento rápido e agressivo. Também devemos analisar, assim como nas neoplasias benignas, o grau de diferenciação, taxa de crescimento, a invasão local e a invasão à distância. Entre as neoplasias malignas temos: Sarcomas: tumores malignos de origem mesenquimal. Leucemias: tumores malignos de origem dos progenitores sanguíneos. Linfomas: tumores malignos dos linfócitos e precursores. Carcinomas: tumores malignos de origem epitelial (CEC). Adenocarcinomas: tumores malignos que se originam no epitélio glandular. Osteossarcoma O osteossarcoma é uma neoplasia maligna de células mesenquimais que têm a característica de produzir osso imaturo/osteóide (semelhante ao osso). É a neoplasia maligna mais comum nos ossos longos, relativamente raro. Mas eventualmente quando acontecer, acomete os ossos gnáticos como mandíbula e maxila. Ele tem comportamentos diferentes nos ossos longos e em ossos gnáticos. Não sabemos a origem das mutações que fazem com que aconteçam os osteossarcomas. Acomete uma ampla faixa etária (idade média de 33 a 39 anos), com leve predileção pelo sexo masculino. Acomete muito mais a mandíbula do que a maxila. Temos um aumento muito grande de volume (assimetrias faciais), com crescimento relativamente rápido. É sintomático (dor), causa mobilidade dental, parestesia (agressivo o suficiente para invadir o nervo), obstrução nasal (maxila) e podem apresentar crescimento mais lento nos osso gnáticos. Esses aspectos indicam neoplasias malignas e precisamos nos preocupar. Os osteossarcomas podem até mesmo invadir a região do cérebro. Quando eles acontecem nos ossos longos são mais agressivos (metastatizar mais rapidamente e silenciosamente) do que nos ossos gnáticos. Nos ossos gnáticos as metástases não são tão comuns, não crescem tão rapidamente. Radiograficamente, podemos ver lesões radiopacas e radiolúcidas, com aspecto misto. Não conseguimos definir as bordas pois a lesão é difusa (não dá pra saber o que é osso normal ou neoplasia). Faz expansão e destrói cortical óssea (sinal importante de neoplasia maligna). O periósteo do osso relacionado ao osteossarcoma faz uma reação que proporciona um aspecto padrão chamado de “raios de sol”. Há também uma reabsorção radicular (é um sinal preocupante). Visualizamos um alargamento do espaço do ligamento periodontal. O tratamento é feito com quimioterapia, radioterapia e remoção cirúrgica com ampla margem. Características Histopatológicas Temos estroma sarcomatoso (aspecto de neoplasias mesenquimais), células malignas produtoras de osteóide e células bem diferenciadas. Linfoma São neoplasias relacionadas com os linfócitos/plasmócitos. Acontecem no sistema linfático (órgãos linfóides primários e linfonodos), eventualmente podem acontecer extra linfonodais. Os linfomas extra linfonodais há um aumento de massas tumorais sólidas, a palpação será endurecida. Há predileção inicial por órgãos linfóides mas também podem acometer medula óssea e sangue periférico com o avanço. Toda vez que alguém tem linfoma fazemos o estadiamento da doença para ver até onde tem neoplasia. As neoplasias em linfócitos NK são mais raras porém muito mais agressivas, o paciente tem um prognóstico ruim. Existem vários subtipos de linfomas, divididos em duas categorias: linfomas de hodgkin e não hodgkin. Os linfomas de Hodgkin acontecem quase que exclusivamente nos tecidos linfóides, acometendo linfonodos da cadeia cervical no diagnóstico do dentista. Os linfomas não Hodgkin, principalmente os de célulasB, são os que mais geram lesões intra-orais. Podem ser indolentes (convivem com esse linfoma, só tratam em casos de necessidade), agressivos e altamente agressivos (precisam ser tratados rapidamente). O tratamento é feito com quimioterapia, e respondem melhor quando estão em estados agressivos. O subtipo indolente responde pouco à esse tratamento. Em boca, vemos um aumento de volume rápido com superfície ulcerada (aspecto comum de malignidade), assemelha-se clinicamente ao carcinoma epidermóide ou tumor de glândula salivar. Apenas 5% dos linfomas acontecem na cavidade oral, em língua, palato mole e glândula salivar. São sítios com tecido linfóide primitivo. Na palpação, os linfonodos estarão endurecidos, fixos e sintomáticos. O tratamento é quimioterapia, radioterapia, e a recaída da doença durante o tratamento é sinal de mau prognóstico (resistência à quimioterapia). O prognóstico depende do tipo de linfoma (Hodgkin e não Hodgkin) e do comportamento clínico (indolente e agressivo). Melanoma É uma neoplasia que inicia no epitélio (melanócitos) da pele. Não é a neoplasia de pele mais comum, mas é a que mais mata pois é extremamente agressiva. Acontece principalmente na pele mas 25% deles acontecem na região de cabeça e pescoço. O melanoma intra oral é raro (1%). Os melanomas intra orais são extremamente agressivos, no momento do diagnóstico já há metástase. Os fatores de risco são: casos na família, pele e cabelos claros, tendência a fácil bronzeamento, histórico de queimaduras graves na infância, profissão ou hábitos recreativos exercidos ao ar livre, história pessoal e nevo congênito ou displásico. O melanoma tem dois padrões de crescimento: radial (em superfície - para os lados) e vertical (invasivo). Raramente há um aumento de volume do melanoma, pois no crescimento vertical ele prolifera para dentro, não visualizamos esse aspecto. Há também o sistema de avaliação ABCD, para identificar se é um melanoma: A - assimetria; B- bordas irregulares; C- coloração em matizes; D-diâmetro maior que 6mm. O melanoma intra oral é raro, acomete mais indivíduos adultos, sem predileção por sexo, afeta palato duro e gengiva maxilar e às vezes podem ser precedidos por alteração de cor - melanose na mucosa (mácula marrom ou negra com bordos irregulares). No diagnóstico diferencial há lesões que causam pigmentação: nevos, tatuagem por amálgama, pigmentação racial e mácula melanótica. Devemos basear na história clínica, simetria e uniformidade da coloração para estabelecer um diagnóstico diferencial. O tratamento é feito com cirurgia (ampla margem), quimioterapia e radioterapia associadas, porém, o prognóstico é ruim por conta da metástase a distância, principalmente no pulmão (melanomas intra orais). Características Histopatológicas Atipias relacionadas aos melanócitos. Não são todos os melanomas intra orais que têm pigmentos, as vezes podem ser lesões claras. Os melanócitos que adquirem as características de malignidade e fazem invasão. Muitas vezes haverá cor de mucosa normal.
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