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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA TRABALHO E SEGURANÇA DO TRABALHO: CONTEXTUALIZAÇÕES SEGURANÇA DO TRABALHO E SAÚDE OCUPACIONAL O GESTOR COM PESSOAS COMO AGENTE ATIVO NA SEGURANÇA DO TRABALHO SEGURANçANO TRABALHO unidade I unidade II unidade III Prof. Me. Tiago Ribeiro da Costa o trabalho e seus contextos segurança do trabalho: conceitos qualidade de vida no trabalho Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande desafio para todos os cidadãos. A busca por tecnologia, informação, conhecimento de qualida- de, novas habilidades para liderança e solução de problemas com eficiência tornou-se uma questão de sobrevivência no mundo do trabalho. Cada um de nós tem uma grande responsa- bilidade: as escolhas que fizermos por nós e pelos nossos fará grande diferença no futuro. Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar – assume o compromisso de democra- tizar o conhecimento por meio de alta tecnologia e contribuir para o futuro dos brasileiros. No cumprimento de sua missão – “promo- ver a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cida- dãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária” –, o Centro Universitário Cesumar busca a integração do ensino-pesquisa-extensão com as demandas Reitor Wilson de Matos Silva palavra do reitor Direção UniceSUMar reitor Wilson de Matos Silva, Vice-reitor Wilson de Matos Silva Filho, Pró-reitor de administração Wilson de Matos Silva Filho, Pró-reitor de eaD Willian Victor Kendrick de Matos Silva, Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi. neaD - núcleo De eDUcação a DiStância Direção de operações Chrystiano Mincoff, coordenação de Sistemas Fabrício Ricardo Lazilha, coordenação de Polos Reginaldo Carneiro, coordenação de Pós-Graduação, extensão e Produção de Materiais Renato Dutra, coordenação de Graduação Kátia Coelho, coordenação administrativa/Serviços compartilhados Evandro Bolsoni, Gerência de inteligência de Mercado/Digital Bruno Jorge, Gerência de Marketing Harrisson Brait, Supervisão do núcleo de Produção de Materiais Nalva Aparecida da Rosa Moura, Design educacional Larissa Finco, Diagramação Humberto Garcia da Silva, revisão textual Yasminn Zagonel, , Fotos Shutterstock. neaD - núcleo de educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação - Cep 87050-900 Maringá - Paraná | unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 institucionais e sociais; a realização de uma prática acadêmica que contribua para o desen- volvimento da consciência social e política e, por fim, a democratização do conhecimento aca- dêmico com a articulação e a integração com a sociedade. Diante disso, o Centro Universitário Cesumar almeja ser reconhecido como uma instituição univer- sitária de referência regional e nacional pela qualidade e compromisso do corpo docente; aquisição de com- petências institucionais para o desenvolvimento de linhas de pesquisa; consolidação da extensão univer- sitária; qualidade da oferta dos ensinos presencial e a distância; bem-estar e satisfação da comunidade interna; qualidade da gestão acadêmica e adminis- trativa; compromisso social de inclusão; processos de cooperação e parceria com o mundo do trabalho, como também pelo compromisso e relacionamento permanente com os egressos, incentivando a edu- cação continuada. CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância: C397 Seguranca no Trabalho. Tiago Ribeiro da Costa. Publicação revista e atualizada, Maringá - PR, 2014. 108 p. “Pós-graduação Núcleo Comum - EaD”. 1. Seguranca. 2. Trabalho. 3. EaD. I. Título. CDD - 22 ed. 331 CIP - NBR 12899 - AACR/2 Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à Comunidade do Conhecimento. Essa é a característica principal pela qual a UNICESUMAR tem sido conhecida pelos nossos alunos, professores e pela nossa sociedade. Porém, é importante destacar aqui que não estamos falando mais daquele conhecimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas de um conhecimento dinâmico, renovável em minutos, atemporal, global, de- mocratizado, transformado pelas tecnologias digitais e virtuais. De fato, as tecnologias de informação e comunicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, informações, da edu- cação por meio da conectividade via internet, do acesso wireless em diferentes lugares e da mobilidade dos celulares. As redes sociais, os sites, blogs e os tablets aceleraram a informa- ção e a produção do conhecimento, que não reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos em segundos. A apropriação dessa nova forma de conhecer transformou-se hoje em um dos principais fatores de agregação de valor, de superação das desigualdades, propagação de trabalho qualificado e de bem-estar. Logo, como agente social, convido você a saber cada vez mais, a co- nhecer, entender, selecionar e usar a tecnologia que temos e que está disponível. Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg modificou toda uma cultura e forma de conhecer, as tecnologias atuais e suas novas fer- ramentas, equipamentos e aplicações estão mudando a nossa cultura e transformando a todos nós. Priorizar o conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância (EAD), significa possibilitar o contato com ambientes cativantes, ricos em informações e interatividade. É um processo desafiador, que ao mesmo tempo abrirá as portas para melhores oportunidades. Como já disse Sócrates, “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida”. É isso que a EAD da UNICesumar se propõe a fazer. Pró-Reitor de EaD Willian Victor Kendrick de Matos Silva boas-vindas sobre pós-graduação a importância da pós-graduação O Brasil está passando por grandes transformações, em especial nas últimas décadas, motivadas pela estabilização e crescimento da economia, tendo como consequência o aumento da sua impor- tância e popularidade no cenário global. Esta importância tem se refletido em crescentes investimentos internacionais e nacionais nas empresas e na infraestrutura do país, fato que só não é maior devido a uma grande carência de mão de obra especializada. Nesse sentindo, as exigências do mercado de trabalho são cada vez maiores. A graduação, que no passado era um diferenciador da mão de obra, não é mais suficiente para garantir sua emprega- bilidade. É preciso o constante aperfeiçoamento e a continuidade dos estudos para quem quer crescer profissionalmente. A pós-graduação Lato Sensu a distância da UNICESUMAR conta hoje com 21 cursos de especialização e MBA nas áreas de Gestão, Educação e Meio Ambiente. Estes cursos foram planejados pensando em você, aliando conteúdo teórico e aplicação prática, trazendo informações atualizadas e alinhadas com as necessida- des deste novo Brasil. Escolhendo um curso de pós-graduação lato sensu na UNICESUMAR, você terá a oportunidade de conhecer um conjun- to de disciplinas e conteúdos mais específicos da área escolhida, fortalecendo seu arcabouço teórico, oportunizando sua aplicação no dia a dia e, desta forma, ajudando sua transformação pessoal e profissional. Professor Dr. Renato Dutra Coordenador de Pós-Graduação , Extensão e Produção de Materiais NEAD - UNICESUMAR apresentação do material Prezado acadêmico, Seguras saudações! Seja bem vindo ao mundo da Segurança do trabalho e da Saúde ocupacional no contexto da Gestão com Pessoas. Antes de darmos início a discussão deste tema, tenho uma importante tarefa a cumprir e gosta- ria de convidá-lo a participar desta tarefa. Trata-se de uma tarefa aparentemente fácil, mas que pode definir se você irá ou não continuar a ler esse ma- terial: Quero incentivá-lo e convencê-lo sobre a importância do estudo acerca da Segurança do Trabalho no contexto de sua futura profissão como Gestor com Pessoas. Para tal, convido-oa acompanhar nossa pri- meira unidade. Na Unidade I problematizaremos primeiramente sobre o trabalho de acordo com duas questões norteadoras: o que é o trabalho? Quais os contextos do trabalho ligados ao ser humano? Verificaremos que o trabalho se configura a partir do atendimento das necessidades e anseios do ser humano em transformar seu meio concreto e até mesmo suas aspirações abstratas (pensamen- tos, ideias, crenças). Ainda nesse certame, o trabalho apresenta-se em seus diversos contextos (filosófico, religioso, eco- nômico, científico e outros que serão explicitados em momento oportuno). Tais contextos apresen- tam as classes de motivos pelos quais o trabalho pode ser executado, com sua relativa importân- cia. Após essa contextualização sobre o objeto da Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional (o trabalho), faremos uma contextualização sobre a própria Segurança do Trabalho. Professor Mestre tiago ribeiro da costa Os princípios de Segurança do Trabalho foram desenvolvidos a partir da famigerada dualidade plenitude-crise do modelo capitalista de traba- lho apregoado na época da Revolução Industrial. O simples aumento de produtividade dado pela sistematização dos processos produtivos e pela exploração exacerbada de uma força de trabalho por vezes inadequada aos processos altamente exi- gentes em força e repetitividade (uso de mulheres, idosos e crianças em jornadas que ultrapassavam 16 horas diárias), provocou uma situação de crise insustentável. De acordo com Albert Einstein, “a crise é a maior bênção para pessoas e para países”. Nesse sentido, a saída para tais crises ligadas às condições de- sumanas de trabalho foi o desenvolvimento de novas propostas, tidas como paradigmas sociais, tais como o fortalecimento de organizações associativas (Sindicatos, Associações e Cooperativas), ideários socioeconômicos (Comunismo como modelo al- ternativo ao Capitalismo) e o desenvolvimento de normas e ações voltadas à proteção do trabalha- dor, a qual teve seu maior expoente representado pela promulgação das diversas convenções sobre o trabalho editadas pela Organização Internacional do Trabalho – OIT, a partir de 1921. Discutiremos sobre essas convenções e seus desdobramentos históricos, inclusive no Brasil. A partir da Unidade II iniciaremos um pro- cesso de delimitação da discussão, focando mais sobre a questão da Segurança do Trabalho em si. Apresentaremos todos os subsídios necessários para que você, prezado aluno, possa conhecer seus princípios, aplicações, legislações e normas pertinentes, atores e atualidades acerca do assunto. Nesse momento é que passaremos a definir qual o papel do Gestor de Pessoas no contexto da Segurança do trabalho a partir desse questiona- mento: “Quem é o Gestor de Pessoas frente à Segurança do Trabalho?”. Provavelmente a Unidade II lhe apresentará bons argumentos nessa minha tentativa de con- vencê-lo ao estudo da Segurança do Trabalho. Entretanto, ainda é necessário estabelecer ações e ferramentas de atuação do Gestor de Pessoas enquanto membro participante do que podemos chamar de “bureau” empresarial de Segurança do Trabalho. Assim, por meio da Unidade III, discutiremos sobre o papel do Gestor de Pessoas nas estraté- gias de capacitação dos atores envolvidos com a prática laboral, afinal, antes das práticas laborais serem definidas por meio de máquinas, equipamen- tos, implementos e ferramentas, elas são, acima de tudo, definidas pela inserção do ser humano ciente de seu papel como agente ativo dos processos. Ao final dessa terceira unidade, estabelecere- mos uma última discussão sobre as perspectivas de atuação do Gestor de Pessoas frente ao que se chama “Qualidade de Vida no trabalho”, um conceito operacional que visa dotar o ambiente em- presarial de práticas e mecanismos que reduzam os impactos e desgastes da prática laboral, ao passo em que visa ampliar a satisfação e o prazer em se trabalhar por parte dos colaboradores. Você já parou para pensar que em nosso dia a dia certamente passamos a maior parte do tempo nos dedicando ao trabalho? Por consequência, o trabalho em si deve apresentar alguns elementos de cunho psicológico e físico que ampliem a sen- sação de satisfação e de reconhecimento do local de trabalho como uma “segunda casa”. Contudo, será que é isso mesmo que acontece no ambiente empresarial? Como a QVT (Qualidade de Vida no Trabalho) é encarada pelos empresários e pela sociedade, desde sua concepção até os dias atuais? E, qual será o seu papel nesse processo? Somente lendo a Unidade III para conferir. Para lhe auxiliar em seus estudos, fiz questão de anexar leituras e atividades complementares que irão auxiliar no processo de construção de seu conhecimento. Vamos então iniciar nossos estudos sobre a Segurança do Trabalho no contexto da Gestão com Pessoas? Sinta-se à vontade para estudar os conte- údos desse material, mas, acima de tudo, assuma uma postura crítica e disciplinada em seus estudos: Estabeleça horários e metas e sempre se questio- ne, de uma maneira crítica, sobre esses conteúdos. Afinal, também não quero estabelecer a minha visão do assunto como única e dependo de suas visões e percepções em uma proposta dialógica para que possamos estabelecer, de fato, a constru- ção do conhecimento. Até a primeira unidade! Prof. tiago ribeiro Eng. Agrônomo, Eng. de Segurança do Trabalho, Me. Professor e Consultor de Projetos de Desenvolvimento Regional su m ár io 01 12 o trabalho e seus contextos. 20 evolução histórica do trabalho. 24 revolução industrial: a crise que gestou a segurança do trabalho. 28 o estado de crise da revolução industrial e o desenvolvimento dos primeiros princípios sobre segurança do trabalho. 32 aplicação de princípios e diretrizes de segurança e saúde no trabalho no Brasil. TRABALHO E SEGURANÇA DO TRABALHO: CONTEXTUALIZAÇÕES 02 03 48 segurança do trabalho: conceitos 53 atores envolvidos no sistema de segurança do trabalho e saúde ocupacional 56 mecanismos que regem as ações de segurança do trabalho e saúde ocupacional 60 revisitando o conceito de riscos associados à prática laboral 63 principais ferramentas da segurança do trabalho 82 perspectivas do tema “segurança do trabalho e saúde ocupacional” no contexto da gestão com pessoas 83 o papel do gestor com pessoas nas estratégias de conscientização e de capacitação dos atores envolvidos 87 qualidade de vida no trabalho 95 a importância da segurança do trabalho ao gestor com pessoas como elemento de competitividade no mercado de trabalho SEGURANÇA DO TRABALHO E SAÚDE OCUPACIONAL O GESTOR COM PESSOAS COMO AGENTE ATIVO NA SEGURANÇA DO TRABALHO 1 TRABALHO E SEGURANÇA DO TRABALHO: CONTEXTUALIZAÇÕES Professor Mestre Tiago Ribeiro da Costa Plano de estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estu- dará nesta unidade: • O trabalho e seus contextos; • Evolução histórica do trabalho; • Revolução industrial: a crise que gestou a segu- rança do trabalho; • O estado de crise da revolução industrial e o de- senvolvimento dos primeiros princípios sobre segurança do trabalho; • Aplicação de princípios e diretrizes de seguran- ça e saúde no trabalho no Brasil; objetivos de aprendizagem • Proporcionar o conhecimento, por parte dos acadêmicos, acerca da contextualização do trabalho, objeto de estudo da Segurança do Trabalho, no plano das necessidades humanas e de seus di- ferentes contextos (filosófico, econômico, religioso, científico e cultural-educativo) • Problematizar os conhecimentos acerca dos fatores históricos que desencadearam a Gênese dos princípios de Segurança do Trabalho. • Estabelecer uma análise inicial sobre os dispositivos legais que regemas ações de Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional. Prezado aluno, seja bem vindo! Estamos iniciando nosso estudo sobre a Segurança do trabalho e Saúde ocupacional no contexto da Gestão com Pessoas. Entretanto, como mencionado na apresenta- ção desta obra, antes de falarmos sobre a Segurança do Trabalho em si, precisamos nos convencer sobre a importância de seu estudo e de suas aplicações no campo da Gestão com Pessoas. Para tal, coloco-lhe a seguinte questão para sua reflexão: “afinal, você sabe o que é ‘trabalho’?” Em um primeiro momento, sem o conhecimento teórico necessário, parece difícil definir com precisão o que seja trabalho. Provavelmente você, se não conseguiu estabelecer um conceito acerca do assunto, certamente associou a palavra a alguma atividade desenvolvida pelo ser humano, às vezes apresentando características ligadas ao prazer ou ligadas à lamúria. Contudo, esta associação entre o termo “trabalho” e o desenvolvimento de alguma atividade ou mesmo, a associação entre a atividade e algum adjetivo, tal como fizemos, deve ser feita de maneira cautelosa e nós vamos entender o motivo disto por meio da análise dos diversos con- textos relacionados ao trabalho. Ademais, muitas vezes o “trabalho” é associado aos adjetivos negativos por conta de alguns de seus contextos. Não pude evitar pensar que você deve ter se perguntado: “Mas pro- fessor, nem conceituamos ainda o que é o trabalho e já estamos partindo para seus contextos...”. Em minha visão, penso que visua- lizando alguns contextos principais, podemos conceituar com maior propriedade o que é o trabalho, e de que forma o trabalho é realiza- do, levando-se em conta estes contextos. Em um segundo momento, ainda nesta unidade, evidenciaremos a própria Segurança do Trabalho, de maneira conceitual, abrindo o leque de possibilidades para o entendimento desta ciência e ainda, eviden- ciando alguns de seus pontos chave que podem abrir portas para a atuação do Gestor de Pessoas. Está curioso? Vamos então abrir nossas discussões e nossas mentes. Seguranca no Trabalho 12 como atividade inicial, peço para que você se concentre nas palavras deste período do livro e siga rigorosamente as reflexões aqui colocadas. Vamos lá? Em algum momento de sua vida você já se deparou com uma espécie de vazio provocado por questões não respondidas? Tratam- se de questões que beiram o campo da filosofia e do papel exercido pelo ser humano no universo, como por exemplo: O TRABALHO E SEUS CONTEXTOS • “- Quem sou eu?”; • “- Por que estou aqui?”; • “- Qual o objetivo de viver?”; • “- O ser humano está sozinho no universo?”; • “- Existe algo que rege a nossa vida?”. Pós-Graduação | Unicesumar 13 É difícil encontrar alguém que nunca tenha se deparado com estas questões. Saiba que tais questionamentos são naturais e pertinentes a qualquer ser humano, desde épocas remotas. Todavia, assim como você, eu nunca obtive respostas satisfatórias para estas questões, mesmo considerando que estamos em uma época onde o desenvolvi- mento científico e tecnológico nos confere subsídios importantes à resolução destes questionamentos. Reflita agora sobre esta mesma análise, mas transporte-a para tempos mais remotos, quando os subsídios que poderiam nos auxi- liar na resolução destas questões eram mais raros. De alguma maneira, o ser humano, com sua grande capacidade de adaptação ao am- biente, não somente física e biológica, mas também cognitiva, criou alternativas ao en- tendimento das referidas questões. Desta forma, surgiram as primeiras teorias filo- sóficas que buscavam dar suporte a estes questionamentos. São duas as principais teorias filo- sóficas que foram criadas diante deste contexto, em ordem: a) o Teocentrismo; e, b) Antropocentrismo. Segundo Souza (2009)1 o Teocentrismo surgira em uma época de densa supremacia da Igreja Católica, especialmente sob o ponto de vista ideológico. Na Idade Média, período do auge do Teocentrismo, o ideário básico suscitava a relação entre Deus e as coisas sem 1 SOUZA, A.S. concepções de Deus na idade Média e no iluminismo. Disponível em: <http://www.webartigos.com/artigos/concepcoes-de-deus- na-idade-media-e-no-iluminismo/18518/>. Acesso em 26. Abr. 2012. explicação lógica, ou seja, todas as respostas àquelas perguntas encontravam-se direcio- nadas à justificativa divina. A própria definição de Teocentrismo ilustra esta supremacia divina: “O teocentrismo, do grego theos (“Deus”) e kentron (“centro”), é a concepção segundo a qual Deus é o centro do universo, tudo foi criado por ele, por ele é dirigido e não há outra razão além do desejo divino sobre a vontade humana.” (TEOCENTRISMO.COM, 2012)2. Não é nosso objetivo nos aprofundar em uma discussão do campo sociológico quanto ao Teocentrismo, contudo, você já deve ter per- cebido que tal ideologia, por sua característica principal, subjuga o poder transformador do ser humano, ávido por modificar seu meio em prol de suas necessidades. Neste sentido, o Antropocentrismo, teoria a qual apregoa uma “troca” quanto ao ele- mento principal do universo (de Deus para ser humano), entrou em cena, em meados do século XIV, com o Renascimento. Não obstan- te, o nome “Renascimento” sugere o ressurgir do homem e de sua capacidade de modifi- car o meio a partir de um cenário de “trevas” advindo da Idade Média. Neste momento o desenvolvimento da razão e das ciências permitiu ao ser humano a compreensão de muitos fenômenos na- turais e humanos, até então creditados às entidades divinas. Não se tratava do primeiro 2 TEOCENTRISMO.COM. Definição de teocentrismo. Disponível em: <http:// teocentrismo.com/artigo1.php>. Acesso em: 26. Abr. 2012. Seguranca no Trabalho 14 momento histórico no qual o ser humano era protagonista no desenvolvimento de suas atividades, mas certamente foi o mais auspi- cioso nesta questão, afinal, graças ao poder inventivo do ser humano, traduzido por sua capacidade de modificar o meio (portanto trabalho), grandes feitos na história da hu- manidade foram executados, tais como as grandes navegações, o desenvolvimento das leis universais da física e das demais ciências (sociologia, matemática, anatomia, dentre outras) e a própria Revolução Industrial, um marco histórico no campo do trabalho que modificou drasticamente as bases sociais, econômicas, ambientais e políticas da socie- dade Europeia, nos séculos XVIII e XIX e da sociedade mundial no século XX. Neste momento você deve ter percebi- do que o antropocentrismo tem uma ligação bastante importante com o trabalho em si, devido a sua característica de libertação da capacidade transformadora e inovadora do ser humano. Todavia, ainda não é capaz de solucionar todas as questões filosóficas es- tabelecidas na ânsia do entendimento do papel deste ser humano no universo. O Teocentrismo, em menor grau e, princi- palmente o Antropocentrismo ilustram esta relação do ser humano com o universo, um ser ativo, atuante e que busca constantemente a transformação de seu meio para seu próprio benefício. A esta capacidade de modificação do meio é que damos o nome de “trabalho”. É importante salientar que esta “modifica- ção do meio” supracitada pode ter efeitos tanto em elementos concretos como também em elementos abstratos: a própria teoria filosófica do Teocentrismo foi criada pelo ser humano, o qual estabeleceu uma relação causal entre um elemento abstrato (Deus) e as consequên- cias terrenas (concretas). Por isso que também é válido afirmar que o Teocentrismo possui sua parcela de contribuição em nossatenta- tiva de conceituar o termo “Trabalho”. Mediante o exposto, portanto, depreen- de-se que: O termo “trabalho” faz alusão à capacidade humana de transformar o meio (consideran- do elementos abstratos e concretos) para o pleno atendimento de suas necessidades. Entretanto, a conceituação sobre o Trabalho torna-se incompleta do ponto de vista processual. Fazendo uma alusão com a boa e velha gramática, é como se estivés- semos vendo claramente o que é a ação (o verbo do predicado) e quem executa esta ação (ou seja, o sujeito). Entretanto esta ação não se configura como “verbo intransitivo”, necessitando, portanto, de um complemen- to, de um “objeto”, de um “para quem a ação é voltada”. Desta forma, caro aluno, de uma maneira mais direta, eu lhe peço para que tenha a seguinte reflexão: “Para quem o trabalho é voltado?”. Pós-Graduação | Unicesumar 15 Analise as seguintes citações: “O homem filosofa para entender o mundo e seu papel dentro dele. Filosofa para entender a si mesmo. (...) O homem faz ciência para estabelecer o conhecimento metodológico das relações do mundo material, visando apropriar-se deste conhecimento para seu próprio desenvolvi- mento intelectual. (...) O homem desenvolve tecnologia para aplicar na sua própria prática de vida os co- nhecimentos científicos adquiridos, visando seu desenvolvimento, sua abundância eco- nômica, seu conforto e sua qualidade de vida. (...) O homem faz religião para buscar sua bem aventurança espiritual, aproximando-se de suas divindades. (...) O homem faz arte para o deleite de seu próprio espírito. (...) O homem trabalha para realizar no am- biente seus próprios interesses, promovendo sua transformação.”3 3 COSTA, T.R. Segurança do trabalho – aula 01/03 – Pós-graduação MBa em Gestão com Pessoas (centro Universitário de Maringá – ceSUMar). Maringá: CESUMAR, 2011. 95 slides: color. A partir desta leitura pode-se depreender que em todos os casos, os resultados da ação chamada trabalho são voltados ao próprio ser humano, ou seja, este é promotor de uma ação modificadora do meio que tem por objetivo o seu próprio benefício, corroborando com a observação anterior de que o trabalho é voltado ao atendimento das necessidades deste ser humano. Diferentes formas de expressão humana por meio do trabalho podem explicar, em parte, o próprio contexto histórico do tra- balho e as inovações que foram atreladas ao desenvolvimento desta prática ao longo dos séculos. A própria substituição da força humana pela tração animal e, posteriormente, por matrizes energéticas diversas (carvão, gás natural, vapor de água, energia elétrica, etc.) são exemplos da aplicação de metodologias derivadas de expressões distintas de seres humanos em busca do atendimento de suas necessidades, de maneira mais eficiente. Após a contextualização filosófica sobre o trabalho, resta-nos discutir, nesta parte inicial, sobre os demais contextos ligados ao trabalho, a saber: a) Contexto Econômico; b) Contexto Jurídico; c) Contexto Bíblico; d) Seguranca no Trabalho 16 Contexto Cultural-Educativo; e, e) Contexto Histórico. Para explicar a contextualização econô- mica do trabalho, vamos nos ater a conceito das profissões: Atualmente os trabalhos encontram-se segmentados por profissões. Estas profis- sões podem ser interpretadas como uma derivação da atual organização social a qual serializa a economia em segmentos, os quais devem possuir elementos humanos (tra- balhadores) especializados em uma única função ou conjunto de funções, fazendo com que os resultados do trabalho (espe- cialmente o lucro) sejam obtidos com maior eficiência. Neste modelo, cada trabalhador possui sua capacidade de realização dos trabalhos próprios (atendimento de suas próprias ne- cessidades). Após o atendimento destas, a competência desenvolvida para determinado trabalho não é sobrepujada pelo desenvolvi- mento de novas competências. Ao contrário, elas se somam. Esta “capacidade latente” em cada indi- víduo para produzir trabalho além de suas necessidades, é capaz de gerar excedentes, em qualidade e quantidade de trabalho os quais podem ser comercializados, ou seja, existe uma atribuição de valor ao trabalho excedente desenvolvido, que pode ser tradu- zido como um salário ou mesmo pagamento avulso pela prestação de serviços. Este, por- tanto, é o contexto econômico do trabalho, o qual, em nossa sociedade moderna, todos estamos envolvidos. Considerando esta segmentação eco- nômica e a consequente fragmentação das atividades, além do próprio contexto econô- mico do trabalho, é valido supor que exista um conjunto de regras que regem o trabalho e suas relações. A Consolidação das Leis Trabalhistas – CLT (BRASIL, 19434) e, aproximando ao nosso discurso, as Normas Regulamentadoras sobre Segurança e Medicina do Trabalho – NR´s 4 BRASIL. lei n. 5.452 de 1° de Maio e 1943. aprova a consolidação das leis do trabalho. Brasília, 1943. Trata-se de um minicaso baseado em um caso real observado pelo autor deste livro Falando sobre o contexto econômico do trabalho, é bastante evidente nos dias atuais encontrarmos “criadores de profissões”. Assim são chamados os profissionais que já possuem for- mação acadêmica mas que atuam, de maneiras curiosas, fora de sua área de formação, ganhando um bom salário para isso. Só para se ter uma ideia, em Campo Grande – MS, houve uma ocorrência de destaque: Uma Engenheira Civil que resolveu montar um “bar móvel de brigadeiros gourmet”. Na verdade, trata-se de um display de acrílico que contém os ingredientes para a fabri- cação, na hora, dos brigadeiros e este display circula junto ao garçom em fes- tas e coquetéis. O garçom monta o bri- gadeiro de acordo com a preferência do consumidor. A ideia tem feito sucesso e esse exem- plo ilustra o contexto econômico do trabalho, associado à satisfação em sua realização, algo realmente desafiador nos dias atuais. Pós-Graduação | Unicesumar 17 (ABNT, apud ATLAS, 20125) são exemplos destas regras, fazendo parte ainda do chamado con- texto jurídico do trabalho. Por sua vez, o contexto bíblico do tra- balho versa sobre a ligação entre este e a questão da punição humana. Esta ligação se encontra tão imbricada no âmago social que, por vezes, você já deve ter ouvido alguém falar a expressão: “(...) Eu atirei pedra na cruz pra ter um trabalho desses (...)” ou ainda “(...) Meu trabalho não é prazeroso, aliás, aquilo é um sofri- mento. Parece que Deus está de mal comigo! (...)”. Logicamente que tais colocações são ori- ginadas de outros fatores além da questão bíblica, mas não há como negar a forte in- fluência deste livro nesta concepção, o que chega até a distorcer a conceituação de tra- balho que construímos há alguns momentos. Para lhe ilustrar o que estamos discutindo analisemos os trechos retirados do Livro de Gênesis, da Bíblia Sagrada6, os quais versam a respeito do primeiro pecado cometido pelo ser humano e suas respectivas punições: 5 ATLAS, Segurança e Medicina do trabalho. 69ª ed. São Paulo: ATLAS, 2012. 968p. 6 GÊNESIS. a Bíblia Sagrada. tradução na linguagem de hoje. São Paulo: SOCIEDADE BÍBLICA DO BRASIL, 1988. “(...) E chamou o Senhor Deus a Adão, e dis- se-lhe: Onde estás?” (Gênesis 3:9). E ele disse: Ouvi a Tua voz soar no jardim, e temi, porque estava nu e escondi-me. (Gênesis 3:10). E Deus disse: Quem te mostrou que estavas nu? Comeste tu da árvore de que te ordenei que não comesses? (Gênesis 3:11). Então disse Adão: A mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvore, e comi.(Gênesis 3:12). E disse o Senhor Deus à mulher: Por que fizeste isto? E disse a mulher: A serpente me enganou, e eu comi. (Gênesis 3:13). (...) E [Deus] à mulher disse: Multiplicarei gran- demente a tua dor, e a tua conceição; com dor darás à luz filhos (...). (Gênesis 3:16). E à Adão disse (...) No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra; (...)”. (Gênesis 3:17-19). Principalmente a análise do versículo 19, ca- pítulo 3 do Livro de Gênesis nos ilustra esta relação entre trabalho e punição, ou seja, o Trabalho, nesta visão, é desconstruído en- quanto atributo humano de modificações do meio para o atendimento das necessi- dades individuais e coletivas. Neste sentido reflita: Seguranca no Trabalho 18 Levando em conta a questão que lhe coloquei como reflexão, parece que a con- textualização bíblica do trabalho não é a mais adequada do ponto de vista de execução de tra- balhos e nem da promoção dos princípios de segurança do trabalho. De certa forma, é exa- tamente esta a impressão que quero lhe passar, não pelo fato desta ligação entre religião e traba- lho em si, mas da forma como ela é interpretada. Ao passo em que não fazemos absoluta- mente nada contra esta interpretação deturpada do trabalho enquanto punição, estamos sim- plesmente promovendo-a. Veremos nas Unidades II e III que uma das funções primor- diais dos profissionais ligados à promoção da Saúde e Segurança do Trabalho é a de comu- nicador e de animador dos processos. Estes profissionais (dentre eles o Gestor com Pessoas) deverão convencer os trabalha- dores, por meio de processos participativos, a construir no dia a dia um ambiente seguro e saudável ao desenvolvimento das práticas labo- rais. De que forma faremos isso se mantivermos esta visão sobre o trabalho? Conseguiremos animar e nos comunicar com pessoas que estão com seus “filtros” fechados por elas acre- ditarem que o trabalho é uma punição? Faço estas provocações a você, caro aluno, e recupero o questionamento feito no momento de reflexão anterior: O que você faria para sanar as dificuldades impostas por um cenário onde esta interpretação do tra- balho como punição está em voga? • Quais seriam as dificuldades impos- tas ao seu futuro trabalho, levando em conta essa contextualização bí- blica do trabalho? Além disso, o que você faria para sanar tais dificulda- des impostas por esse cenário? “Se eu serei um animador, um comunica- dor na promoção da Saúde e da Segurança do Trabalho, talvez cursos de capacitação, diálogos com os trabalhadores ou mesmo palestras seriam bons instrumentos para lidar com esta problemática...”. Provavelmente você deve ter pensado em algo parecido com isso. Se não pensou, não há problema, mas considere esta estratégia como válida. Desta forma, estamos adentran- do ao contexto cultural-educativo ligado ao trabalho. Considerando as estratégias lúdico-pe- dagógicas, a formação do conceito sobre o trabalho tem sido realizada de diferentes maneiras, principalmente durante a forma- ção psicológica e social do indivíduo. Você se lembra de, quando criança, já ter cultiva- do uma semente de feijão em um algodão umedecido, tendo como vaso um pote de Pós-Graduação | Unicesumar 19 iogurte? Ademais, você já ouviu falar sobre o conto “A formiga e a cigarra”7? Certamente muitas pessoas já passaram por estas experiências, onde o valor do esforço e a qualidade da estratégia de tra- balho nos são ensinados com ares de moral de histórias. De fato, quando se fala no con- texto cultural-educativo do trabalho, se fala também no papel dos valores e princípios desta atividade humana e de seus efeitos para o desenvolvimento cognitivo, físico, eco- nômico e social dos “seres trabalhadores”. O que se quer mostrar é que o próprio trabalho apresenta-se como ferramenta na problematização dos conhecimentos e da tomada de decisões eficazes e sustentáveis. Os processos educacionais podem se utilizar das diferentes maneiras de execução de um trabalho, servindo, por exemplo, para dotar trabalhadores de competências e habilidades de segurança do trabalho na lida com ma- quinários ligados à silvicultura ou ainda, para conhecerem as diferentes formas de inter -relacionamento humano nas corporações. Assim, exemplos de sucesso, bem como exemplos de fracasso de práticas laborais, seja no campo administrativo, executivo, de planejamento ou quaisquer outras ligadas à vida corporativa podem ser utilizados nas es- tratégias de capacitação e conscientização, compondo, portanto, o contexto cultural-e- ducativo do trabalho. 7 “A formiga e a cigarra” é uma fábula de autoria atribuída à Esopo (escritor da Grécia Antiga), a qual também foi recontada pelo escritor francês Jean de La Fontaine (WIKIPEDIA, 2012 - WIKIPEDIA. a cigarra e a formiga. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/ wiki/A_Cigarra_e_a_Formiga>. Acesso em 17. Mai. 2012. Até este momento estamos anali- sando os diferentes contextos ligados à prática laboral. Entretanto, para finalizar esta discussão sobre a contextualização do trabalho, é necessário abordar sobre a evo- lução histórica do trabalho, estando esta na próxima seção desta unidade. Vamos continuar? Sobre os processos de capacitação para o trabalho, nota-se que o Brasil atualmente vive um processo onde busca-se reduzir a disparidade entre a necessidade de mão de obra capa- citada e a real formação dessa mão de obra. Um dos exemplos mais bem acabados dessa iniciativa é o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e ao Emprego – PRONATEC. Esse programa foi criado em 2011 e esse autor que vos fala teve a oportu- nidade de se capacitar em um curso de programação de computadores por meio desse programa (gratuita- mente). Segundo dados de Ribeiro (2014), até o momento 5,7 milhões de estudantes encontram-se matricu- lados em cursos que visam capacitar mão de obra para áreas econômicas estratégicas (desde a indústria de base até a de energias renováveis). Deste total, 1,7 milhões estão matri- culados em cursos de longa duração (2 a 4 anos). Fonte: RIBEIRO, L. Dilma diz que PRO- NATEC terá 8 milhões de matrículas. O Estado de São Paulo [on-line]. Dispo- nível em: <http://economia.estadao. com.br/noticias/geral,dilma-diz-que -pronatec-tera-8-milhoes-de-matri- culas,176979e>. Acesso em: 10 Ago. 2014. Seguranca no Trabalho 20 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO TRABALHO Pós-Graduação | Unicesumar 21 Prezado acadêmico: Até este momento, além de conceituar o termo “traba-lho”, desenvolvemos o conhecimento acerca dos diversos contextos ligados a este termo. A partir deste ponto, faremos uma re- flexão sobre o desenvolvimento do trabalho ao longo da história da humanidade. Não se preocupe, pois não faremos uma abordagem detalhada sobre esta evolução, mas desta- caremos alguns pontos chave que podem ser considerados como marcos evolutivos do trabalho. Em um primeiro instante, o ser humano nômade e altamente dependente dos pro- cessos extrativistas, de caça e de pesca desenvolvia o trabalho, ou seja, sua capaci- dade de alteração do ambiente natural em seu próprio benefício de maneira bastante pontual e limitada, afinal, estes processos de sobrevivência causam pouca influência no meio natural. Entretanto, com o passar dos séculos e com a ampliação da percepção cognitiva do ser humano, o desenvolvimento das ativi- dades extrativistas e de caça e pesca foram diminuindo. Tratou-se de um momento evolutivo de transição de um ser humano nômade para um ser humano sedentário, fixado e cada vez mais dependentede seu grupo. Esta transição fora desencadeada por um dos primeiros marcos relativos ao tra- balho na humanidade: a “descoberta” da Agricultura. Com sua capacidade amplia- da de percepção, este “novo” ser humano passou a observar mais atentamente os di- versos fenômenos da natureza, a qual ficou mais previsível pela associação de sinais na- turais e suas consequências. Assim, por observação quanto ao modo de reprodução vegetal, especialmen- te das plantas de reprodução assexuada (reprodução vegetativa, a exemplo da man- dioca, batata, banana e cana de açúcar), o ser humano passou a cultiva-las nas proximi- dades de seus aglomerados populacionais. Seguranca no Trabalho 22 Este foi um fator de modificação não somente dos padrões sociais, mas também da própria organização do trabalho, em termos de atividades e ferramentas. Cabe salientar que este advento da Agricultura possibilitou o desenvolvimento de ferramen- tas tidas como especializadas para a época, como ferramentas de corte e de cultivo em terra (não se fala ainda em aragem da terra pois o arado, enquanto instrumento de cultivo, somente fora concebido séculos depois pelos egípcios). O desenvolvimento da prática laboral, durante séculos, teve papel importantíssimo na definição dos padrões sociais, econômi- cos e políticos das diferentes sociedades clássicas. Ao mesmo tempo, pode-se dizer que o trabalho também tem grande influ- ência no que tange a gestão dos recursos naturais. Na Grécia Antiga, no Império Romano e mesmo no Império Egípcio, o trabalho, além de definir o posicionamento social (neste caso, a prática laboral estando ligada às classes inferiores, as quais exerciam estas atividades em prol de uma representação de autoridade, sendo o estado democráti- co na Grécia e o Imperialismo nos outros exemplos), também definia o modo de utili- zação dos recursos disponíveis (basicamente água, solos agricultáveis, fauna e flora) e o modo de descarte dos resíduos da ativida- de humana. Também é de se destacar que o desen- volvimento do trabalho ao longo da Idade Antiga contribuiu para o desenvolvimento das artes, da cultura e das inovações pro- dutivas e econômicas. No primeiro caso, às ferramentas de trabalho foram somados os primeiros equipamentos rudimentares (o caso do tear) e os implementos de tração animal, bastante úteis na lida com a terra e na construção da infraestrutura urbana. Por sua vez, o segundo caso pode ser ilustrado pela criação do dinheiro e pela monetariza- ção dos produtos, que é a atribuição de valor equivalente a um lastro que representasse o dinheiro, como por exemplo, cobre, prata, ouro e até mesmo sementes de cacau, no antigo Império Asteca. Contudo, não somente os avanços no campo do trabalho, mas, de maneira univer- sal, em todos os segmentos de reflexão-ação sob influência humana foram paralisados na Idade Média, período que se estendeu dos Séculos V ao XV depois de Cristo. A ampla influência religiosa impôs um modelo de engessamento social, filosófico, cultural e econômico. O dinheiro e as ino- vações já não eram mais a fonte do poder e sim o acúmulo de terras. O trabalho havia se reduzido ao cultivo de alimentos para a manutenção de uma sociedade crescente e decadente. Todas as inovações, em quaisquer campos do conhecimento, eram considera- das como heresia e seus protagonistas eram duramente punidos. Para se ter um panorama daquilo que acontecia à época da Idade Média, o trabalho era direcionado à produção de alimentos e a ampliação de poder do mesmo modo que os processos educacionais encontravam-se Pós-Graduação | Unicesumar 23 sobre a tutela da Igreja Católica, estando estes voltados à propagação dos princípios Teocentristas e, de maneira paradoxal, ao en- tendimento do espólio filosófico da Grécia Antiga, uma vez que Aristóteles e Platão eram temas recorrentes aos acadêmicos europeus. Diante deste cenário, torna-se válido supor que o desenvolvimento do traba- lho, considerando seu conceito, encontrou grandes barreiras. Logicamente que este en- gessamento promovido na Idade Média não pode ser encarado como absoluto, assim como a própria Idade Média, a qual teve seu momento áureo por volta dos séculos VII e IX, sendo decadente até sua derrocada, no século XV. Havia o desenvolvimento da ciência e inovação, entretanto em momentos pontu- ais e sem maiores influências no cenário da época. Entretanto, com o enfraquecimento deste modelo medieval e com a instauração gradual do Renascimento (Idade Moderna), o trabalho ganhou novas matizes, ultrapas- sando o modelo artesanal e se aproximando de um novo modelo de produção, mais ra- cional e eficiente à época: a Manufatura. Esta, por sua vez, prezava a utiliza- ção de equipamentos e, em certo grau, da setorização produtiva, o que ampliou con- sideravelmente a variedade de produtos ofertados à uma sociedade, já não mais eu- ropeia, mas ocidental, em um momento de franca expansão do capitalismo, representa- do, em princípio pelo mercantilismo e pela ampliação de poder econômico e social de uma nova classe: a Burguesia. Fazendo uma reflexão sobre este momento histórico e sobre a monetariza- ção (criação do dinheiro), ocorrida na Idade Antiga, chegamos a um ponto crucial na evolução histórica do trabalho: A própria capacidade excedente de trabalho, tra- duzida em força e/ou intelecto, passou pelo processo de atribuição de valores (monetarização). Lembra-se do contex- to econômico do trabalho? Não se pode afirmar claramente quando foi a primeira vez na história da humanidade que alguém foi pago pela execução de um serviço, mas este conceito na Idade Moderna certamen- te foi consolidado. A partir do Século XVIII inseriam-se na his- tória da humanidade as máquinas, as quais executavam o mesmo processo humano com maior velocidade e precisão. Já não se falava em produção artesanal e sim em escala e, mais ao final do século XIX, em produção em série. Tais sistemas produtivos potencializa- ram a comercialização dos excedentes de trabalho e permitiram a popularização de bens de consumo, devido à redução nos custos produtivos. Isto somado a ampliação do poder aquisitivo derivado do aumento da empregabilidade criara uma espiral de consumo-produção, onde cada vez mais era necessário produzir tais bens. Se nós parássemos nossa análise neste ponto, seria coerente afirmar que a Europa vivia neste instante (séculos XVIII e XIX) um momento auspicioso, quase de pleno emprego, correto? Seguranca no Trabalho 24 respondendo ao último questionamen-to feito na seção anterior, podemos afirmar que, de fato, a Europa e, pos- teriormente os Estados Unidos passaram sim por um momento de pleno emprego, pois mesmo que já não fossem necessários tantos trabalhadores no processo produtivo, devemos levar em consideração que se tra- tavam de máquinas rudimentares, que ainda necessitavam da ação e supervisão humana para desempenhar suas ações. Ademais, países europeus como Inglaterra, Alemanha e países Ibéricos (Espanha e Portugal), passaram anteriormente por re- formas sociais que praticamente dizimaram o campesinato, afinal, em nome do progresso, mão de obra era necessária onde as indústrias estavam e o Estado necessitava de maior con- trole sobre as terras (algo como matar dois coelhos com uma pedrada). Assim, mesmo sem o trabalho no campo, as famílias tinham nas cidades, seu trabalho garantido. REVOLUÇÃO INDUSTRIAL: A CRISEQUE GESTOU A SEGURANÇA DO TRABALHO. Pós-Graduação | Unicesumar 25 Entretanto devemos avaliar este trabalho pelo enfoque da qualidade. Nesta época o modelo capitalista vigente estava em tran- sição (do capitalismo tradicional ao atual capitalismo financeiro). Contudo, os prin- cípios capitalistas estavam em seu auge e a acumulação dos lucros estava em patama- res exorbitantes. Tal fato não se traduzia, no entanto, em investimentos produtivos ou de gestão que garantissem um ambiente de trabalho seguro e saudável aos trabalhadores. Muito pelo contrário, não somente os ambien- tes de trabalho eram assim, mas todos os vilarejos nas proximidades das fábricas apre- sentavam um ambiente deplorável quanto à saúde pública. O termo SMOG (névoa de poluição), de- rivado dos termos FOG (neblina) e SMOKE (fumaça) fora concebido nesta época, tamanho era o problema causado pelas di- ferentes fumaças eliminadas nas chaminés das fábricas. Muitas doenças respiratórias, como asma e bronquite, foram potenciali- zadas neste ambiente. Neste cenário, onde em termos de plane- jamento, somente a meta de produção era considerada (somente a demanda e a pre- visão de lucro pareciam fatores relevantes aos burgueses industriais da época), a mão de obra passou por um amplo processo de depreciação derivado das longas jornadas de trabalho, necessárias ao atendimento das demandas. Não somente homens em idade produ- tiva eram usados mas também mulheres, crianças, jovens e idosos. Não importava a idade do trabalhador, mas sim sua aptidão para a realização do trabalho. Notou que utilizei a palavra “usados” su- blinhada. Trata-se da mesma observação realizada na apresentação desta obra e, não por acaso, o sentido de “usados” encontra- se no aspecto mais visceral possível. Nesta época, tamanha era a visão produtivista, que o ser humano, agora proletário, tinha expro- priado de si mesmo sua própria humanidade. Tratava-se de um número funcional, uma mera engrenagem ao processo produtivo, a qual poderia ser trocada em caso de baixo rendimento, ou na pior das hipóteses, em caso de quebra, algo que não acontece hoje em dia não é? Aliás, reflita sobre a provocação supraci- tada e responda o seguinte questionamento: Você acha que o enfoque atual da Gestão com Pessoas é semelhante ao enfoque produtivista da Revolução In- dustrial? Caso sua resposta seja “não”, qual seria o atual paradigma quanto à relação trabalho – seres humanos? Duras jornadas de trabalho, por vezes ultrapassando 16 horas diárias, sem folgas remuneradas; Ampliação dos trabalhos re- petitivos e, por consequência, das lesões provocadas pelo esforço repetitivo nos processos (era a primeira vez na histó- ria em que se falava em Lesão por Esforço Seguranca no Trabalho 26 Repetitivo – LER, ou mesmo em Distúrbios Ósteomusculares Relacionados ao Trabalho – DORT); Ambientes insalubres (mal iluminados e poluídos); e, Remuneração não condizente com o nível de trabalho da massa operária: Estes e outros fatores ampliaram a deprecia- ção da mão de obra daquela época. Além disso, falta considerar um fator primordial: Se estamos discutindo que o produto e o lucro tornaram-se mais impor- tantes que o próprio ser humano no processo, seria correto afirmar que as máquinas foram concebidas diante de rígidos princípios de proteção ao trabalhador? Segundo Costa (2011), os primeiros pro- tótipos de máquinas dataram do século XVII, mas somente no século XVIII é que estas foram utilizadas para seus propósitos, es- pecialmente no meio rural, facilitando os processos de produção de alimentos (ao menos, colheita). Nenhuma máquina fora concebida para, em seu uso, proteger o ope- rador. Engrenagens, transmissores de força, elementos cortantes e outras partes vitais das máquinas encontravam-se expostos. Além disso, os operadores operavam estas máqui- nas expostos a toda sorte de gases, expelidos em altas temperaturas. Não se tem um relato preciso de quantos acidentes de trabalho ocorreram na época da Revolução Industrial, mas, não seria exagero afirmar que o número de feridos, debilitados e mortos se apro- ximara dos de uma situação de conflito civil, tais como observamos atualmente nos países do Oriente Médio. Observe os exemplos das figuras a seguir para traçar o seu panorama quanto a “carnificina” que ocorria na época: Disponível em: <http://files.historiaeducacao.webnode.com.br/ 200000055-b50c6b5571/Trabalho_Infantil.jpg> Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/_uZ36BDz9F6g/S6f9R0LzcgI/ AAAAAAAAAkE/7k9POuKs14I/s320/lewis-hine01.jpg> Disponível em: <http://2.bp.blogspot.com/-KxC9KpTy-JE/ T2-Rmk0G4jI/ AAAAAAAAAcc/s-DUBgb8ywE/s640/Prolet%C3%A1rio.jpg> Pós-Graduação | Unicesumar 27 Eximi você, caro aluno, de algumas fotos re- almente chocantes, colocando apenas aquelas suficientemente brandas para explicar e jus- tificar o panorama da época da revolução industrial quanto à relação trabalho – acidentes. A situação de crise era tamanha que na Europa e nos Estados Unidos da América, vários levantes trabalhistas foram insurgidos por melhorias nas condições de trabalho e de remuneração. Neste bojo, novos paradigmas sociais e produtivos foram suscitados, sendo o primei- ro deles um resgate da importância humana no processo produtivo, o Cooperativismo (SANTOS, 2009)8 e o segundo, mais voltado a um novo empoderamento social, onde a classe trabalhadora, verdadeira geradora de riquezas, seria a responsável por estabelecer, teoricamente, um modelo de Estado justo e equitativo na distribuição desta riqueza, sem o acumulo de capital. Trata-se do comunis- mo, ideia amplamente defendida por Marx (2006a9, b10), em sua obra máxima, “O Capital”. 8 SANTOS, T.H. o mito do cooperativismo: Cooperativa de associados ou condomínio de sócios? Dissertação de Mestrado (Mestrado em Administração – Universidade Federal do Paraná), 2009. 167 p. 9 MARX, K. o capital: Crítica da economia política: Livro I. 24. ed. Rio de Janeiro: CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA, 2006. 1 v. 10 MARX, K. o capital: Crítica da economia política: Livro I. 24. ed. Rio de Janeiro: CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA, 2006b. 2 v. Os mortos de Chicago - 1º DE MAIO: Para ampliar a ideia do estado de cri- se que assolava os países da Europa e da América do Norte (essencialmen- te EUA), proceda a leitura do artigo o qual versa sobre a emblemática Revolta de Chicago, mote criador do Dia Internacional do Trabalho. Apenas para lhe adiantar, essa Re- volta envolveu trabalhadores que se encontravam insatisfeitos com suas condições de trabalho, o que culminou em um processo de gre- ve e protestos, não acatados pelos patrões. Na tentativa de se manter a ordem pública, muitas pessoas fo- ram assassinadas. Leia o artigo para conferir mais detalhes. Vale a pena! SERRALHEIRO, J.P. Os mortos de Chi- cago – 1° de Maio. Arquivo Vivo, 134:2004. Disponível em: <http:// www.apagina.pt/?aba=7&cat=134&- doc=10092&mid=2>. Acesso em: 02 Jun. 2014. Seguranca no Trabalho 28 os primeiros levantes trabalhistas e o desenvolvimento do ideário re-volucionário do comunismo se constituíram como sintomas iniciais dos pro- cessos de mudança de uma sociedade em busca de um novo paradigma e de um novo estado de plenitude. No campo específico da Segurança do Trabalho, os Estados europeus, a se iniciar pela Inglaterra, já consideravam na primei- ra metade do século XIX tratativas sobre a preservação da saúde e da segurança dos trabalhadores. Em 1833 fora promulgada na Inglaterra a chamada “Lei da Fábrica”, a qual proibiao exercício do trabalho noturno para menores de 18 anos e limitava a jornada de trabalho, em todos os turnos, para 12 horas por dia. Considerando a inexistência de quaisquer iniciativas legais sobre Saúde e Segurança do Trabalho, a Lei da Fábrica representou um avanço, mesmo que pouco significativo, O ESTADO DE CRISE DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E O DESENVOLVIMENTO DOS PRIMEIROS PRINCÍPIOS SOBRE SEGURANÇA DO TRABALHO D is po ní ve l e m : < ht tp :// up lo ad .w ik im ed ia .o rg /w ik ip ed ia /c om m on s/ a/ a7 /B un de sa rc hi v_ Bi ld _1 02 -1 02 46 ,_ En gl an d, _A rb ei ts lo se _v or _G ew er ks ch af ts ha us .jp g> Pós-Graduação | Unicesumar 29 no sentido de preservar a força de trabalho. Trata-se de um avanço pouco significativo pelas falhas no processo de fiscalização e, acima de tudo, por sua invalidade social, fator que analisaremos adiante. Somente 51 anos após a Lei da Fábrica é que outra lei, desta vez na Alemanha, fora promulgada. A partir de um conjunto de tra- tativas, aquele país publicou algumas leis que versavam sobre os primeiros princípios da Segurança do Trabalho. Você deve estar se perguntando: “Então, a Segurança do Trabalho, considerando a his- tória da humanidade, surgiu recentemente, somente no século XIX?”. A resposta para esta pergunta é não. Pela análise dos relatos históricos sobre Segurança do Trabalho, você verá que existiu sim o desenvolvimento de estudos e prin- cípios mesmo na Grécia Antiga. Entretanto, damos maior destaque e enfoque ao desenvolvimento destes princípios no pós -Revolução Industrial, pois são os que mais se aproximam de nossa atual realidade. Contudo, os princípios pioneiros possuem sua importância histórica por serem inicia- tivas humanas no sentido de promover a qualidade de vida como uma das diretrizes da prática laboral. Somente no século XX é que os prin- cípios de Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional ganharam destaque em nível mundial por meio da recém-criada Organização Internacional do Trabalho – OIT, vinculada à Organização das Nações Unidas – ONU. Já no ano de 1919, pós Primeira Guerra Mundial e ainda sobre forte influ- ência do estado de crise promovido pelas desigualdades sociais entre burguesia e tra- balhadores, a OIT, promulga as Convenções sobre Segurança e Saúde no Trabalho, as quais foram editadas e publicadas ao longo do século XX e deram origem as legislações brasileiras sobre o assunto. “Ah, Professor, então quer dizer que, a partir das Convenções da OIT o mundo inteiro ´falou a mesma língua’ na questão da pre- servação da Saúde e garantia da Segurança na prática do trabalho. Assim os problemas daquela época foram resolvidos?” Seguranca no Trabalho 30 Não pude evitar de pensar que você possa estar com este questionamento em mente. E em resposta ao mesmo, de certa maneira, os países signatários das convenções da OIT, dentre eles o Brasil, seguiram as regras das convenções como diretrizes para o desenvolvimento de instrumentos legais específicos às características do trabalho de cada país. Por exemplo, no Brasil, durante as décadas de 1920, até 1950, grande parte dos dispositivos legais que versavam sobre o tema Trabalho, eram voltados aos trabalhos portuários, tendo em vista a ca- racterística econômica brasileira da época (exportador de matérias-primas e do que hoje chamamos de commodities). A partir desta década, maior atenção foi dispen- sada ao setor da siderurgia e da indústria de base. O que se quer ilustrar é que as conven- ções da OIT não foram suficientes ou mesmo absolutas no que tange à preservação da saúde e da integridade física dos trabalha- dores. Inclusive, se analisarmos os principais argumentos para criação destas convenções, verificaremos que, muito além da questão da proteção, tais convenções foram publicadas no sentido de aquietar os ânimos de uma so- ciedade em crise. Segundo Alvarenga apud. Costa (2011), os principais argumentos para a criação das convenções da OIT sobre Saúde e Segurança do Trabalho são: • A presença de condições difíceis, injustas e degradantes para muitos trabalhadores exercerem sua função (argumento humanístico). • O risco de conflitos sociais que pudessem ameaçar a paz (argumento político). • O fato de que países que não adotassem condições humanas de trabalho seriam um obstáculo para a obtenção de melhores condições em outros países que adotassem tais condições (argumento econômico). Pós-Graduação | Unicesumar 31 Perceba que somente um dos argumen- tos, de fato, apresenta-se como legítimo do ponto de vista da proteção ao trabalhador. Os dois últimos são mais voltados aos próprios interesses da elite da época, afinal, não seguir estes princípios acarretaria perdas econômi- cas significativas, além de ampliar o risco de uma inversão, ou mesmo, do compartilha- mento de poder, algo inaceitável para quem se encontra em uma posição privilegiada em nossa sociedade moderna. Esta é a dura realidade, caro aluno. Mesmo nos modernos dispositivos legais que versam sobre a preservação da saúde e da integrida- de física dos trabalhadores, existe o jogo de interesses das classes dominantes. O verda- deiro pano de fundo desta questão está no equilíbrio econômico e de forças políticas destas classes, ficando o aspecto humanís- tico como “máscara” deste processo. Não quero convencê-lo sobre este ponto de vista, aliás, sinta-se a vontade para questioná-lo. As atuais diretrizes e normas sobre Segurança do Trabalho são bastan- te eficientes e possuem valores humanistas suficientemente inseridos. No caso particular do Brasil, por exemplo, a sociedade organi- zada participa da criação destas normas, da mesma forma que tem poder, por exemplo, para sugerir leis ou mesmo, destituir do poder seus representantes. Entretanto, pense bem: Você alguma vez foi chamado para partici- par destas discussões ou já conheceu alguém que tenha sido convidado? Provavelmente esta pergunta terá res- posta negativa de sua parte. Ficaria feliz caso você respondesse “sim”, mas, por conhecer as formas populares de participação nas de- cisões do Estado, fica difícil acreditar nesta hipótese e mais difícil ainda acreditar em instrumentos legais validados pelos benefi- ciários, ou seja, legitimados. Não sou radical em meu posicionamento e reconheço haver a participação popular nos processos decisórios, mas você há de convir que esta participação é limitada às decisões marginais. Em outras palavras, você não “bate o martelo” em uma questão de maior relevância. Isto acontece no que tange aos dispositivos legais sobre Saúde e Segurança do Trabalho. Seguranca no Trabalho 32 conforme discutido, o Brasil é um dos países signatários das Convenções da OIT sobre Saúde Ocupacional e Segurança do Trabalho. A partir da década APLICAÇÃO DE PRINCÍPIOS E DIRETRIZES DE SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO NO BRASIL de 1920 até os dias atuais, o Brasil possui como diretrizes norteadoras das práticas de Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional as seguintes convenções (Quadro 1). Pós-Graduação | Unicesumar 33 Quadro 1 – Convenções da Organização Internacional do Trabalho – OIT ratificadas e aplicadas no Brasil. • Convenção nº 103 – Amparo à maternidade. • Convenção nº 116 – Proteções a radiações ionizantes. • Convenção nº 127 – Peso máximo para carga. • Convenção nº134 – Prevenção de acidentes de trabalho dos marítimos. • Convenção nº 136 – Proteção contra os riscos de intoxicação provocados pelo benzeno. • Convenção nº 139 – Prevenção e controle de riscos profis- sionais causados por substância ou agentes cancerígenos. • Convenção nº 148 – Proteção dos trabalhadores contra os riscos devidos à contaminação do ar, ao ruído e às vibrações no local de trabalho. • Convenção nº 152 – Segurança e higiene nos trabalhos portuários. • Convenção nº 155 – Segurança e saúde dos trabalhadores e do meio ambiente de trabalho. • Convenção nº 159 - Reabilitação profissional e emprego de pessoas deficientes. • Convenção nº 161 – Serviços de saúde no trabalho. • Convenção nº 162 – Utilização do asbesto com segurança. • Convenção nº 163 – Proteção da saúde e assistência médica aos trabalhadores marítimos. • Convenção nº 167 – Segurança e saúde na construção. • Convenção nº 170 – Segurança na utilização de produtos químicos no trabalho. e, • Convenção nº 182 – Proibição das piores formas de trabalho infantil e ação imediata à sua eliminação. Fonte: Elaboração do Autor (2014). Ademais, dois importantes instrumen- tos legais de destaque, que antecederam à Constituição Brasileira de 1988, foram o Decreto-Lei 5.452/1943 (BRASIL, 1943)11 11 BRASIL, lei n. 5.452 de 1° de Maio de 1943. aprova a consolidação das leis do trabalho. Brasília, 1943. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm>. Acesso em 11. Mai. 2012. e a Lei 6.514/1977 (BRASIL, 1977)12. Respectivamente tratam da Consolidação das Leis Trabalhistas – CLT e da Lei que altera o Capítulo V da CLT, aprimorando os princípios e diretrizes sobre Segurança do Trabalho. Ambas as legislações apresentaram-se como avanços, logicamente, considerando o pano de fundo discutido no item anterior. Contudo, não há como negar que estas duas legislações, em especial, auxiliaram na con- solidação dos atuais dispositivos legais de preservação da saúde e da integridade física dos trabalhadores. Para se ter uma ideia, a Lei 6.514/77 trata ainda da gestão participativa sobre Segurança do Trabalho, algo apenas sus- citado nas convenções da OIT. Em seu texto, esta lei traz as obrigações de cada ator envolvido neste sistema de garantia da Segurança e Saúde do Trabalhador, não tão bem definido como a atual NR-5, que define a função e o papel da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes – CIPA, mas sufi- ciente enquanto iniciativa. Ainda, esta lei (6.514/77) traz os primór- dios das atuais Normas Regulamentadoras de Saúde e Segurança do Trabalho – NR´s (ABNT apud. ATLAS, 2012), conforme ilustra- do no Quadro 2. Quadro 2 – Comparação entre os dispositivos 12 BRASIL, lei n. 6.514 de 22 de Setembro de 1977. altera o capítulo V do titulo ii da consolidação das leis do trabalho, relativo a segurança e me- dicina do trabalho e dá outras providências.. Brasília, 1977. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6514.htm>. Acesso em 11. Mai. 2012. Seguranca no Trabalho 34 da Lei Federal 6.514/77 e as atuais Normas Regulamentadoras – NR´s (ABNT apud. ATLAS, 2012). Dispositivo Da Lei 6.514/77 NR equivaLeNte SEÇÃO III - Dos Órgãos de Segurança e de Medicina do Trabalho nas Empresas. NR 4 - Serviços especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho. SEÇÃO IV - Do Equipamento de Proteção Individual. NR 6 – Equipamento de Proteção Individual – EPI. SEÇÃO V - Das Medidas Preventivas de Medicina do Trabalho. NR 7 – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional – PCMSO. SEÇÃO XIII - Das Atividades Insalubres ou Perigosas. NR 15 – Atividades e Operações Insalubres e NR 16 – Atividades e Operações Perigosas. Demais seções. Equivalente ao desenvolvimento das demais NR´s. Fonte: Elaboração do Autor (2014). Por fim, um dos últimos aspectos históricos que merecem destaque é a elevação dos princípios de Segurança e Saúde no Trabalho à di- reitos universais do cidadão brasileiro, garantido por meio do Artigo 7° da Constituição Cidadã de 1988 (BRASIL, 1988)13: “Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança. XXIII - adicional de remuneração para as atividades penosas, insalu- bres ou perigosas, na forma da lei. XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa.” 13 BRASIL, constituição da república Federativa do Brasil, de 5 de outubro de 1988. Brasília, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em 11. Mai. 2012. Pós-Graduação | Unicesumar 35 Posto isto, pode-se afirmar que a lógica his- tórica da Segurança do Trabalho no Brasil ocorreu de maneira semelhante aos países europeus, embora o estado de crise social não tenha sido provocado primordialmente pelas condições indevidas de trabalho. A questão da segurança do trabalho foi tema secundário às reivindicações trabalhistas brasileiras, muito mais pautadas na questão do aumento salarial e na luta pelos direitos po- líticos, especialmente na época da Ditadura Militar. Isto se justifica pelo desenvolvimento tardio das relações trabalhistas, em compara- ção com os países europeus, que as instituíram com pelo menos 250 anos de antecedência, sem quaisquer princípios de segurança do tra- balho que fossem relevantes. Para melhorar o entendimento, podemos dizer que o Brasil “pegou o bonde andando” no que tange ao desenvolvimento de uma cultura preservacionista da força de trabalho, o que explica, em grande parte, a inexistência de crises sociais de grande porte relaciona- das à questão da Segurança do Trabalho. Quando falamos a respeito das Normas Re- gulamentadoras, um dos principais questio- namentos relaciona-se à sua aplicabilida- de. Para aqueles que consideram a cultura preservacionista, todos os indivíduos que exercem atividade laboral, independente de seu vínculo devem ser protegidos pelas NR’s. E esse foi o entendimento dado pela Defensoria Pública do Estado de São Paulo em um litígio ocorrido entre funcionários e a Prefeitura do interior desse Estado. A prefeitura alegou à época (2012), que não oferecia Equipamentos de Proteção Indi- vidual (EPI´s) aos funcionários do setor de limpeza, levando em consideração que se tratava de funcionários estatutários e não celetistas. De fato, os dispositivos legais re- lacionam a obrigatoriedade na adoção das NR´s apenas aos celetistas. Todavia, os riscos não escolhem vínculos empregatícios e segundo a juíza que par- ticipou do caso, a Prefeitura deveria arcar com a responsabilidade do fornecimento dos EPI´s e ainda, arcar com indenizações relacionadas aos acidentes ocorridos pelo não obedecimento das NR´s. Tratou-se de um caso onde a saúde e segurança dos tra- balhadores tiveram mais evidência que os princípios legais. Fonte: Elaborado pelo autor, baseado em fatos reais. Seguranca no Trabalho 36 Prezado aluno, chegamos ao final da primeira unidade deste material e, com isto, finaliza- mos a contextualização sobre Segurança do Trabalho. Nesta unidade, abordamos didatica- mente o conceito sobre trabalho e quais os seus principais contextos, ilustrando desde os mais perceptíveis (contexto econômico) até os mais ocultos (contexto religioso). Você percebeu como a contextualização do traba- lho apresenta-se rica de significados e como ela pode ampliar nossos horizontes acerca do entendimento sobre Segurançado Trabalho e Saúde Ocupacional? A partir dos conhecimentos adqui- ridos sobre o Trabalho e seus contextos, desenvolvemos uma visão histórica sobre o desenvolvimento dos princípios de Segurança do Trabalho a partir dos estados de crise social. Novamente reforço que a Segurança do Trabalho em si não se originou a partir do século XIX, afinal, como visto, existem relatos da aplicação de princípios de se- gurança no trabalho que datam da época da Grécia Antiga. Entretanto, tais princípios foram desenvolvidos com maior destaque e impacto a partir da Revolução Industrial. Compreendemos ainda quais foram as respostas dos Estados àquela situação de crise, por meio da análise, principalmente, das Convenções sobre Saúde Ocupacional e Segurança do Trabalho da Organização Internacional do Trabalho – OIT. Revelamos e problematizamos o pano de fundo destas decisões e chegamos ao consenso de que, embora exista o aspecto humanista, o desen- volvimento destas soluções para situações de crise ponderam, com maior peso, os as- pectos econômicos e políticos. Por fim, analisamos o desenvolvimen- to de tais princípios no Brasil e chegamos a conclusão que o desenvolvimento dos mesmos ocorreu em clima de maior calmaria se comparado ao histórico europeu e norte americano. Com estas informações, estamos aptos a avançar ao entendimento sobre Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional, para pos- teriormente, inserir estes conhecimentos em sua área de atuação. No mais, desejo-lhe bons estudos e até a Unidade II! Considerações Finais Pós-Graduação | Unicesumar 37 1. Em 1919, a recém-criada Organização Internacional do Trabalho inicia a elaboração das chamadas Convenções Trabalhistas, as quais podem ser consideradas como um dos primeiros dispositivos de Segurança do Trabalho implantados na história. Entretanto, analisando o contexto da criação destas convenções, pode-se afirmar: a. ( ) O Brasil participou ativamente da criação destas convenções, sendo posterior signatário, principalmente das convenções ligadas aos setores econômicos mais pujantes da época, ou seja, o portuário/ marítimo e o agropecuário. b. ( ) A criação das Convenções da OIT veio em resposta a um cenário de crise o qual ameaçava o estado de ordem social vigente. Entre outras coisas, o levante dos movimentos sindicais e das correntes socialistas/comunistas exigiram que fossem tomadas atitudes no sentido de atender as reivindicações trabalhistas da época. Assim sendo, a criação destas Convenções serviu para apaziguar os ânimos dos atores envolvidos. c. ( ) Em suma, a OIT constituiu- se como uma agência de fiscalização das condições de trabalho nos países signatários de sua criação e de suas convenções. De acordo com os relatos históricos, já no início do século XX, a OIT foi responsável pela elaboração de normas e diretrizes de segurança do trabalho, sendo que muitas delas perduram até os dias atuais. d. ( ) A Organização Internacional do Trabalho foi criada em 1919 por meio do capítulo XIII do Tratado de Verona. e. ( ) Todas as alternativas estão corretas. Atividade de Autoestudo Seguranca no Trabalho 38 2. Historicamente, o desenvolvimento dos princípios da segurança do trabalho apresentou-se entremeado ao desenvolvimento tecnológico advindo da Revolução Industrial. Considerando o quadro socioeconômico da época e as discussões acerca do assunto, realizadas em aula, assinale a alternativa correta. a. ( ) Os princípios de segurança do trabalho foram desenvolvidos paralelamente ao surgimento das tecnologias, como máquinas e equipamentos. Por consequência, o índice de acidentes de trabalho não teve aumento significativo se comparado aos índices do século XVIII, período anterior à Revolução Industrial. b. ( ) O desenvolvimento tecnológico de que trata o enunciado teve bases puramente tecnicistas, em defesa do aumento de produtividade. Os princípios de segurança do trabalho foram desenvolvidos tardiamente, após a instalação de um estado de crise, derivado do elevado número de acidentes de trabalho. Somaram-se a este estado de crise, as instabilidades sociais derivadas das condições insalubres e perigosas de trabalho. c. ( ) No Brasil, já em 1919, foram desenvolvidos mecanismos de segurança do trabalho, ratificados posteriormente pela Organização Internacional do Trabalho – OIT. d. ( ) Os conhecimentos sobre segurança do trabalho são anteriores à época da Revolução Industrial, sendo que os primeiros relatos sobre estratégias prevencionistas, datam da Idade Antiga. Desta maneira, é injustificado dizer que existiram milhares de Pós-Graduação | Unicesumar 39 acidentes, tendo em vista que a Segurança do Trabalho, em termos de práticas e princípios, já se encontrava em sua plenitude. e. ( ) Todas as alternativas anteriores estão incorretas. 3. A Segurança do Trabalho é uma espécie de ciência com várias matizes de análise. Costumeiramente, os pesquisadores da área estabelecem seu enfoque na análise das técnicas e procedimentos de segurança. Contudo, em termos humanos, o enfoque sobre a significância e os contextos da prática laboral ainda carece de maiores análises. Sobre o contexto da prática laboral, assinale a alternativa correta. a. ( ) O contexto bíblico da prática laboral abrange as práticas educacionais e demonstram-se como importante elemento lúdico de ensino sobre o trabalho. b. ( ) Por meio do contexto técnico-científico, torna- se possível explicar a comercialização dos excedentes de capacidade, qualidade e quantidade de trabalho. c. ( ) Não é possível definir qual o contexto principal da prática laboral, uma vez que existe, em maior ou menor grau, a contribuição de todos os contextos para a formação conceitual sobre o trabalho. d. ( ) Em termos de contextualização histórica do trabalho, é correto afirmar que houve um desenvolvimento tardio das tecnologias de produção, tais como máquinas e equipamentos, as quais vieram a ser produzidas na época da Revolução Inglesa. e. ( ) Nenhuma das alternativas anteriores está correta. Seguranca no Trabalho 40 Livro Obra: Convenções da OIT (BRASIL, 2002)15. Sinopse: Sinopse (sic): “A importância da Organização Internacional do Trabalho no desencadear de temas estratégicos, garantindo o desen- volvimento continuado das relações de trabalho no mundo, é ímpar. O Ministério do Trabalho e Emprego reconhece e ressalta essa importância e é com imenso orgulho que nos esforçamos para ampliar o conhecimen- to público sobre as convenções da Organização relativas à Segurança e Saúde no Trabalho. A Secretaria de Inspeção do Trabalho – SIT/Departamento de Segurança e Saúde no Trabalho – DSST espera com esta iniciativa prosseguir no seu foco permanente de atenção, que é a redução significativa dos aciden- tes de trabalho, com consequente melhoria da qualidade de trabalho.” Disponível em: <http://por tal .mte.gov.br/data/f i les/ FF8080812BCB2790012BD507F4816CAA/pub_cne_convencoes_oit.pdf > Acesso em: 10. Ago. 2014. 15 BRASIL. Convenções da OIT. Ministério do Trabalho e Emprego – MTe, Secretaria Nacional de Inspeção do Trabalho – SIT. 1ª ed. Brasília: IMPRENSA OFICIAL, 2002, 62p. Conheça o histórico da Segurança do Trabalho. Acesse: História da Segurança do Trabalho - http://www.temseguranca. com/2009/03/historia-da-seguranca-do-trabalho.htmlhttp://www.segurancadotrabalhonwn.com/2011/11/historia-da-segu- ranca-do-trabalho.html A história da Segurança (Higiene) do Trabalho - http://www.youtube. com/watch?v=fITheTfwcyg Web Pós-Graduação | Unicesumar 41 O SIGNIFICADO DO TRABALHO As atuais mudanças desencadeadas pela glo- balização são de tal forma revolucionárias que ultrapassam o bom tecnológico. O ser humano está sendo forçado a dar um salto evolucioná- rio para o qual não teve tempo de se preparar. A História nos mostra períodos de inovações que exigiram adaptações quanto a conheci- mentos, atitudes e habilidades, mais ou menos intensas, todas sem precedentes. A Revolução Industrial é um exemplo clássico. Entretanto, a presente metamorfose nos impõe exigên- cias de tal forma urgentes e volumosas que o impacto psicológico e social não pode ser ainda completamente avaliado ou previsto, pois estamos em meio ao processo. Pode-se apenas senti-lo e observá-lo à flor da pele das pessoas e das instituições sociais na forma de insegurança, opressão e remotas esperanças de um futuro melhor. A busca dessa adaptação tem sido colocada como prioritária pelo homem moderno, como condição de sobrevivência. Parecem não haver alternati- vas em curto prazo, a não ser a de interagir com o movimento. Empresas e empregados respon- dem procurando se antecipar às necessidades, antevendo novas regras de mercado, propondo outras realidades, concretas e virtuais. É preciso desenvolver novos valores, tecnologias e pro- dutos, a fim de alcançar parâmetros mínimos de competitividade e subsistência. Uma palavra constantemente pronunciada, e que se tornou lei, é velocidade. Não basta saber, é preciso saber antes. Não basta fazer, é preciso fazer antes. Até mesmo o vocabulário de alguém atualizado é foco de atenção cuidadosa, visto que num período curtíssimo de tempo se torna obso- leto, diferenciando informados e desinformados. É nesse meio ambiente que surge a questão da relação do homem com o seu produto. Afirma CODO (1995, p. 141) que trabalho é o ato de depositar significado humano à natureza. Complementa a afirmação ao apontar que, numa sociedade baseada na cooperação e na troca, trabalho é o ato de depositar significado social à natureza. Ao produzir, o homem transforma a natureza e é por ela transformado. Seu produto o representa e o reapresenta. A própria socieda- de é criada e tem seus valores modelados pelas formas de produção. Como forma de expressão do homem, o trabalho pode ser comparado à arte. É a manifestação de algo interno que se apresenta na concretização do esforço despendido, expondo crenças, atitu- des e valores. Esse princípio é válido tanto para aquele satisfeito com seu trabalho quanto para o insatisfeito. No primeiro caso, o sujeito alienado de si mesmo exterioriza seus preceitos de sub- missão ou acomodação ao sistema. No segundo, atualiza seu potencial, no dizer de ROGERS (1961) o que o coloca no caminho da individuação, e, portanto da realização pessoal. Gestão de Negócios 42 [...] O trabalho hoje Os avanços tecnológicos, em princípio com ob- jetivos de “humanizar” a vida, têm colocado o homem numa situação paradoxal. Se, por um lado, é verdade que hoje é possível trabalhar em condições mais amenas fisicamente, e até mesmo por vezes bastante agradáveis, também é verdade que “a ciência manipulada das relações humanas, que tenta precisamente dar uma imagem agradá- vel ao labor, pretende afastar somente o sentido de alienação e não a própria alienação” (HELLER, 1997, p.170). Dentro do contexto atual, onde a ameaça à territorialidade profissional está presente, a com- petência é infinita e constantemente testada e os mais fortes impulsos competitivos são estimula- dos, como é possível esperar que se mantenha o contato consigo mesmo, como fazia o artesão da Idade Média ou o agricultor, através da sintonia com produto? Será que o homem ainda espera encontrar sentido naquilo que faz ou está defi- nitivamente cindido? Há sintomas evidentes de que a ação mecâni- ca sem significação tem sido tolerada somente dentro do ambiente de trabalho, provavelmente pelo que MASLOW apontaria como ligado à sa- tisfação da necessidade de sobrevivência. Fora deste ambiente, entretanto, é que a grande massa de trabalhadores dá o melhor de si, executando atividades automotivadas que realmente preen- chem e conduzem à satisfação interna. “Trabalho é mais do que emprego, é o ato de atribuir significado ao meio, portanto a si mesmo e ao outro”. CODO (in DAVEL, 1995, p.165). Segundo CODO (in DAVEL, 1995, p.142) para que o indivíduo se reconheça e ao outro, é preciso que esteja conectado a seu produto e, dessa forma, a si mesmo. Já na infância aprendeu a valori- zar o que faz para interagir, e ao mesmo tempo conquistar espaço e afirmação. Ao desconectar- se, a individualidade se dilui, perante o outro e perante o mundo. Sem estes contatos é difícil sentir a si próprio. A crise contemporânea, ver- dadeira epidemia, revela um momento histórico ultrapassado, cujas premissas básicas que funda- mentaram a produção em massa, característica de nosso século, caem por terra. Outro século começa a despontar, trazendo consigo muito mais buscas do que respostas, já que a aliena- ção permanece subjacente. Trecho extraído de CAVALLET, S.R.R. O significa- do do trabalho. Sanare, 11(11), 1999. Disponível em: <www.sanepar.com.br/sanepar/sanare/v11/ Significado/significado.html>. Acesso em: 10 Ago. 2014. Pós-Graduação | Unicesumar 43 relato de caso Muitas vezes o Gestor com Pessoas se depara com situações onde sua intervenção é necessária no auxílio ao reconhecimento dos riscos laborais, utilizando-se de metodologias científicas qualita- tivas, a exemplo da “Análise Preliminar de Riscos”. Sobre esta é que desenvolveremos o caso. De maneira geral, a Análise Preliminar de Riscos é uma metodologia quali-quantitativa, ou seja, mescla características de análise qualitativa dos riscos presentes em um ambiente, ao mesmo tempo em que relaciona esses riscos aos dife- rentes graus de frequência e consequência, de maneira que essa gradação é que estabelece a prioridade das ações de mitigação dos riscos. Para se ter uma ideia, a tríade risco-frequência- consequência pode ter uma gradação iniciando pelo nível “desprezível”, onde se verifica que o possível acidente causará não mais que um susto, até o nível “catastrófico”, onde mortes e danos materiais são de grande monta. Esse caso ocorreu em uma microempresa de limpeza industrial e de limpeza pós-obra, de pequeno porte com um quadro funcional de cinco colaboradores, que estão diretamente alo- cados na área produtiva. A empresa referenciada situa-se na região de Maringá e está enquadrada no código e descrição da atividade econômica principal 43.30-4-99. Outras obras de acabamento da construção, que conforme a CNAE no quadro I, da NR 4 (BRASIL, 2008), corresponde ao grau de risco 3. O processo produtivo é realizado em diversos locais internos e externos. Para o processo produ- tivo são utilizados produtos químicos, máquinas, ferramentas, água e energia elétrica. De maneira geral, os processos se dividem da se- guinte forma: • Limpeza de pisos (laminados, porcelanatos, cerâmicos e imundos – calçadas e pedras); • Limpeza de paredes e esquadrias; • Limpeza de corrimões; • Limpeza de Azulejos; • Limpeza de Banheiros; • Impermeabilização; • Limpeza de estofados à seco; e, • Limpeza em altura (superior aos 2,0 metros). O levantamento dos riscos fora realizado por meio de observações dos ambientes de trabalho e das formas como os colaboradores executavam suas funções. Registros fotográficos também foram obtidos para análises desses postos de trabalho. “Mas é só isso, professor?” –Você deve estar se perguntando, não é mesmo! Pois lhe digo que é só isso sim! Basta uma câmera fotográfica e logicamente o conhecimento sobre os riscos am- bientais e sobre a metodologia, que tudo fica fácil. Mas, como esta metodologia foi aplicada neste caso? Peço para que observe o quadro a seguir, o qual é uma APR da função “Limpeza de pisos (laminados, porcelanatos, cerâmicos e imundos – calçadas e pedras)”. Gestão de Negócios 44 relato de caso aNáLise pReLimiNaR De Riscos - apR pRoceDimeNtos opeRacioNais e De seguRaNça Do tRabaLho empresa: OlINI & VAlADÃO lTDA aNo: 2014 tarefa a ser exwecutada: lIMPEzA DOS PISOS (lAMINADO, CERâMICA E PORCElANATO) campo De apLicação: Serviços de limpeza Riscos Pontenciais Efeito Categoria / Classe Risco Medidas Preventivas ou Corretivas EPI’s EPC’s Máquinas / Ferramentas e Materias a. Riscos Físico • Ruido e umidade. b. Risco químico • Poeira; • Produtos químicos. c. Risco biológico • Não se aplica. d. Risco ergonômico • Postura inadequada, rit- mo repetitivo e transporte de peso. e. Riscos de acidente • Queda no piso molhado. a. Riscos Físico • Problema auditivo; • Resfriados e contamina- ção indireta por absorção cutãnea. b. Risco químico • Irritações, alergias de pele e problemas pulmonares. c. Risco biológico • Não se aplica. d. Risco ergonômico • Doenças relacionadas à coluna vertebral, membros superiores e inferiores (pernas e braços). e. Riscos de acidente • Hermatomoas, fraturas, e cortes. a. Riscos Físico • Marginal. b. Risco químico • Marginal. c. Risco biológico • Não se aplica. d. Risco ergonômico • Marginal. e. Riscos de acidente • Crítica. a. Riscos Físico • Uso correto de EPI’S. b. Risco químico • Uso correto de EPI’S. c. Risco biológico • Não se aplica. d. Risco ergonômico • Adotar postura adequa- da, realizar revezamento dos braços durante a exe- cução da tarefa, utilizar carrinho adequada para transporte de peso e deve ser incluídas pausas para descanso. e. Riscos de acidente • Redobrar a atenção no ambiente, utilizar equi- pamento adequado. • Óculos de proteção de policarbonato de ampla visão; • protetor auditivo; • Máscara respirató- ria com filtro para vapores orgãnicos (para o uso do Refine lP); • luvas de látex nitrílico; • Uniforme; • Avental imperme- ável de PVC; • Botas de OVC antiderrapante. • Sinalização de segurança “piso molha- do”. • Rodo de alumínio; • Aspirador de pó; • Algodão com acetona; • Detergente neutro concentrado; • Água; • Produto luster lP; • Produto Refine lP; • Disco; • Espátula; • Bucha; • Máquina conservadora de piso. Fonte: OLINI e COSTA (2014). Pós-Graduação | Unicesumar 45 relato de caso Pela análise do quadro, você pode perceber que a cada risco associa-se um efeito indesejado, uma categorização (desprezível, marginal, crítica ou catas- trófica), as medidas preventivas e os instrumentais associados (Equipamentos de proteção individual e coletiva, máquinas, ferramentas e materiais). Veja ainda que aqui não se verifica nada de quantitativo. Apenas se verifica a descrição e a categorização dos riscos, as quais variam de acordo com o cri- tério do observador. Por isso, caro aluno, lhe digo: Qualquer pessoa que tenha conhecimento sobre os riscos laborais pode fazer uma APR e o diferencial disso é que se trata de uma metodologia rápida e eficiente, que antevê os riscos do ambiente. O resultado desse caso pode ser traduzido pelo próprio quadro e pelos demais quadros, das demais funções. Para cada função, medidas preventi- vas foram elencadas e a aceitação de tais medidas foi grande na empresa estudada. Elaborado pelo autor, baseado em OLINI, M.G.; COSTA, T.R. Estudo dos riscos ambientais de uma empresa de limpeza pós-obra da região de Maringá- PR. Monografia: Curso de Especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho – Universidade Estadual de Maringá. 2014. 90p. 2 SEGURANÇA DO TRABALHO E SAÚDE OCUPACIONAL Prof. Me. Tiago Ribeiro da Costa Plano de estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Segurança do trabalho: conceitos; • Atores envolvidos no sistema de segurança do tra- balho e saúde ocupacional; • Mecanismos que regem as ações de segurança do trabalho e saúde ocupacional; • Revisitando o conceito de riscos associados à prática laboral; • Principais ferramentas da segurança do trabalho. objetivos de aprendizagem • Demonstrar aos acadêmicos conceitos, definições, prin- cípios e principais mecanismos associados à Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional • Estabelecer uma ligação, em nível de ação, do futuro Gestor com Pessoas com as principais ferramentas, estraté- gias e metodologias utilizadas na Segurança do Trabalho. • Permitir com que o futuro Gestor com Pessoas compre- enda as principais estratégias aplicadas no sentido de detectar, delimitar e reduzir/eliminar riscos laborais. Caro aluno, chegamos praticamente à metade de nossos estudos sobre Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional. O interessan- te é que nós não fizemos o estudo direto sobre o tema, da maneira clássica, e garanto que você já possui uma ideia acerca do tema, dadas as discussões da unidade anterior. Isto se chama “construção do conhecimento”. Dando continuidade a esse processo, nessa unidade, trabalharemos o cerne sobre Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional, traba- lhando sua definição (o que é), quais os instrumentos que regem as ações de Segurança e Saúde Ocupacional (o que rege) e quais os atores que estão envolvidos nesse processo (por quem e para quem é feito). Além disso, diante dos instrumentos que regem a Segurança do Trabalho, exercitaremos a discussão sobre as Normas Regulamentadoras – NR´s, definindo-as e aproximando nosso dis- curso da área de Gestão com Pessoas, afinal, mesmo que a Segurança do Trabalho ainda seja genérica (somente em alguns casos, como na Construção Civil, as normas são específicas), é necessário enten- der como esse tema se insere no universo de trabalho do Gestor com Pessoas. Aliás, considerando essa discussão inicial, você sabe qual é o seu papel, como Gestor com Pessoas atuando no “bureau” de Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional? Caso não saiba nesse instan- te, não desanime, pois iniciaremos a discussão desse tema nessa unidade. Vamos prosseguir com nossos estudos? Seguranca no Trabalho 48 De alguma maneira, você formou seu conhecimento acerca do assunto que estamos tratando por meio de seu conhecimento tácito, ou seja, de suas próprias visões e experiências de vida e por meio da discussão da Unidade I. Exercitando, a minha maneira, construi- ria o conceito sobre Segurança do Trabalho da seguinte forma: 1. Para quê é feito: Se o título do tema é “Segurança do trabalho” e se discutimos ao longo da Unidade I o que é o trabalho e quais são os contextos, depreende-se que se trata de algo relacionado à aplicação de estratégias que garantam a integridade física e a saúde no exercício de alguma SEGURANÇA DO TRABALHO: CONCEITOS Pós-Graduação | Unicesumar 49 atividade que modifique o ambiente para o atendimento de nossas necessidades, ou seja, no exercício do trabalho; 2. Para quem é feito: Verificamos a existência de um ator importante, o ser humano, na execução dos trabalhos. Dada esta relação, fica explícito que para este protagonista, os princípios de segurança do trabalho são feitos; 3. Por quem é feito: Pelos Governos? Por entidades? Por força popular? Seria mais interessante descrever que os princípios de Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional são feitos pelos próprios seres humanos,na percepção de que o exercício de uma atividade traz riscos à saúde e a segurança de quem exerce este trabalho. 4. O que rege: Nós não discutimos os temas da Unidade I por mero capricho. Analisando aquele conteúdo fica nítido que existem mecanismos legais que regem as ações de Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional. No caso brasileiro, por exemplo, as leis federais 5.452/1943 e 6.514/1977 são as principais. Inclusive, esta última lei, já prevê em seu escopo a criação de normas específicas aos diversos segmentos econômicos (as NR´s). Perceba que, somente resgatando as discus- sões da unidade anterior, já conseguimos estabelecer uma discussão inicial acerca do que seja Segurança do Trabalho. Entretanto, uma questão que pode vir a sua mente é a seguinte: Por que se define somente a Segurança do Trabalho se o tema é “Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional”? O tema “Saúde Ocupacional” encontra- se implícito no grande tema “Segurança do Trabalho”. Mesmo em termos de áreas de conhecimento reconhecidas pelo Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Científico – CNPq, a referência que se faz ao tema é “Segurança e Saúde do Trabalho”. Não se quer dizer com isso que a saúde é tema secundário. Pelo contrário, tem o mesmo nível de importância que as estratégias de segurança no trabalho. Ambos os temas Seguranca no Trabalho 50 são indissociáveis, ou seja, não se consegue cumprir com os princípios de Segurança do Trabalho sem considerar a manutenção de um ambiente saudável no trabalho e vice-versa. Ainda no campo da conceituação sobre o tema, faça o seguinte exercício: Digite no buscador de páginas de internet de sua pre- ferência o termo “definição sobre Segurança do Trabalho”. Fazendo este exercício, encon- trei cerca de 1,5 milhões de resultados. Apenas consultando os resultados da pri- meira página, notei que existem algumas coisas em comum entre os diferentes concei- tos. Creio que você também deve ter notado. Listando as palavras ou termos de maior ocor- rência, temos: a) conjunto de estratégias; b) eliminação/minimização de riscos; c) prote- ção física do trabalhador; e, d) preservação da saúde do trabalhador. Mesmo em minha tentativa de concei- tuar o assunto, na página anterior, utilizei de alguns termos que estão listados acima. Desta forma, vou apresentar uma definição que utilizo em minhas aulas. Esta definição é uma adaptação formada por elementos de definições de outros autores, a qual julgo adequada para definir o tema. Veja se você concorda com a mesma: Esta definição não é absoluta e espero que você possa me ajudar a complementá-la com seu saber, afinal, estamos mesmo em um processo de construção do conhecimento. Podemos trabalhar um pouco mais em cima desta definição, antes de passarmos ao próximo tema: Veja que esta definição se utiliza do termo “conjunto de ciências e tecnologias”. De fato, a Segurança do Trabalho é trans e mul- tidisciplinar. É aplicada nos vários campos da atividade humana e depende destes para a formação de seu arcabouço teórico. Considerando a área de Gestão com Pessoas, perceba que não existe uma norma regulamentadora – NR, específica. Talvez a que mais se aproxime é a NR-5, que trata sobre a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes - CIPA. Contudo, os princípios de Segurança do Trabalho devem ser plenamente aplicados nas atividades relacionadas à área e esta, por sua vez, poderá contribuir para a formação de normas específicas, como vem acontecendo, por exemplo, com o setor da panificação. Até os dias atuais, a NR 12 – Segurança do Trabalho em Máquinas e Equipamentos regia a Segurança do Trabalho nas instalações industriais de maneira geral. Contudo, desde 2010, a tendência é que sejam criadas novas normas específicas para setores industriais dis- tintos, como foi o caso da NR-36 (Segurança e Saúde no Trabalho em Empresas de Abate e Processamento de Carnes e Derivados). Não significa o desmembramento da NR, tampou- co o desuso da NR 12 neste setor, mas toda a especificação, derivada da experiência pro- fissional dos trabalhadores, é bem vinda e “Trata-se de um conjunto de ciências e tecnologias que visam à preservação da saúde e da integridade física do trabalhador no desenvolvimento de suas atividades. A diminuição dos riscos laborais é seu principal objeto. Por consequência, também há a di- minuição dos acidentes de trabalho e das doenças ocupacionais.” Pós-Graduação | Unicesumar 51 efetiva em sua missão de preservação da in- tegridade física e da saúde dos trabalhadores. Considerando este ponto, reflita: Pense em sua área de atuação como Gestor com Pessoas. Você sabe que não existe nenhuma norma específica à sua profissão, dentre as NR´s. Você acha necessária a criação de uma NR específica? Se você estiver pensando desta forma, eu não tiro sua razão, mas a função de um professor sempre é provocar, não é? Olhe esta questão por seu lado positivo: Mesmo que não tenhamos discutido sobre as NR´s (mecanismos que regem os princípios de Segurança do Trabalho), você já está sabendo que elas existem. Estou simplesmente agu- çando sua curiosidade para consulta-las. Voltando a discussão, existe mais um ele- mento na definição que merece destaque: Os riscos laborais. Tais riscos se configuram como elementos potencializadores de um evento indesejado na prática laboral. Tratam-se de cinco classes de riscos, a saber (Figura 1): Que professor apressado! Eu nem conheço todas as NR´s para afirmar se seria necessário a criação de alguma norma específica para a área de Gestão com Pessoas! Figura 1- Categorias de riscos laborais. Fonte: Elaboração do Autor (2014) Seguranca no Trabalho 52 Por meio da Figura 1 verificamos a exis- tência dos riscos físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e de acidentes propriamen- te ditos. Os exemplos ilustrados são os mais comuns de se ocorrer no exercício do trabalho. Além disso, estes riscos encontram-se definidos e exemplificados por meio da Não somente os riscos laborais e os aci- dentes de trabalho são preocupantes, mas também as doenças desenvolvidas no exercício do trabalho. As doenças profis- sionais continuam sendo as principais cau- sas das mortes relacionadas com o traba- lho, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT). Segundo estimativas de 2013 da OIT, de um total de 2,34 milhões de acidentes mortais de trabalho a cada ano, somente 321 mil se devem a aciden- tes. As restantes 2,02 milhões de mortes são causadas por diversos tipos de enfer- midades relacionadas com o trabalho, o que equivale a uma média diária de mais de 5.500 mortes. Trata-se de um déficit inaceitável, afirma a agência da ONU. A ausência de uma prevenção adequada das enfermidades profissionais tem profundos efeitos negativos não somente nos traba- lhadores e suas famílias, mas também na sociedade devido ao enorme custo gerado, particularmente no que diz respeito à perda de produtividade e a sobrecarga dos siste- mas de seguridade social. Fonte: OIT (2013). Disponível em: <http:// www.onu.org.br/oit-um-trabalhador-morre -a-cada-15-segundos-por-acidentes-ou-do- encas-relacionadas-ao-trabalho/>. Acesso em: 10 Ago. 2014. NR 9 – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais – PPRA, a qual estabelece a obri- gatoriedade de elaboração e implementação por parte de todos os empregadores, deste programa, que visa preservação da saúde e integridade física por meio da antecipação, reconhecimento, avaliação e controle dos riscos ambientais (ABNT apud. ATLAS,2012). Pós-Graduação | Unicesumar 53 reiterando nossas discussões anteriores, a segurança do trabalho é feita por seres humanos para seres humanos, diante de uma prática laboral e de conhecimentos ATORES ENVOLVIDOS NO SISTEMA DE SEGURANÇA DO TRABALHO E SAÚDE OCUPACIONAL específicos (trans e multidisciplinares). Para facilitar o entendimento sobre os atores que estão envolvidos nesta questão, acompanhe o Quadro 3. Seguranca no Trabalho 54 Quadro 3 – Atores envolvidos no Sistema de Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional. eLemeNto comeNtáRios empregado Trata-se da pessoa física que presta serviços de natureza não esporádica ao empregador, sob a dependência deste e mediante salário (NR 2 – ABNT apud. ATlAS 2012). empregador Empresa individual ou coletiva que, assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviços. Também são considerados empregadores profissionais liberais e instituições sem fins lucrativos que admitam empregados (NR 2 – ABNT apud. ATlAS 2012). engenheiro de segurança do trabalho É o ramo da engenharia responsável por prevenir riscos à saúde e à vida do trabalhador. O engenheiro de segurança do trabalho tem a função de assegurar que o trabalhador não corra riscos de acidentes em sua atividade profissional, sejam eles danos físicos, sejam danos psicológicos. Esse profissional administra e fiscaliza a segurança no meio industrial, organiza programas de prevenção de acidentes, elabora planos de prevenção de riscos ambientais, faz inspeções e emite laudos técnicos. Assessora empresas em assuntos relativos à segurança e higiene do trabalho, examinando instalações e os materiais e processos de fabricação utilizados pelo trabalhador. Orienta a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) das companhias e dá instruções aos funcionários sobre o uso de equipamentos de proteção individual. Pode, ainda, ministrar palestras e treinamentos e imple- mentar programas de meio ambiente e ecologia. (GUIA DO ESTUDANTE, 2012)1. médico do trabalho Profissional habilitado por conselho de classe, formado em medicina e especializado no ramo “medicina do trabalho”. É responsável por monitorar e realizar acompanhamentos sobre a saúde dos empregados em uma determinada empresa. A ele cabe, por exemplo, os exames admissionais, de mudança de função, demissionais e a planificação e execução do Programa de Controle Médico e Saúde Ocupacional. enfermeiro do trabalho Profissional de nível superior, especializado na área de Enfermagem do Trabalho e registrado em conselho de classe específico. Este profissional atua na coordenação do setor de enfermagem nas empresas, nas situações de emergência e nos processos de orientação e capacitação, além de prestar consultoria nos planejamentos de educação sanitária e avaliação da saúde ocupacional. técnico de segurança do trabalho Profissional de nível técnico que possui atribuições definidas pela Portaria nº 3.275/89, do Ministério do Trabalho. Dentre estas destacam-se a informação do empregador e dos trabalhadores sobre os riscos presentes no ambien- te de trabalho e a promoção de campanhas e outros eventos de divulgação das normas de segurança e saúde no trabalho, além do estudo dos dados estatísticos sobre acidentes e doenças relacionadas ao trabalho. técnicos e auxiliares de enfermagem do trabalho Estes profissionais prestam apoio às atividades preventivas de acidentes nas mais diversas áreas de sua atua- ção, como administração de vacinas, palestras, orientações aos trabalhadores e verificação de sinais vitais. São responsáveis ainda para executar medidas emergenciais em casos de acidentes, prevenindo agravos à saúde do trabalhador, quando não houver outro profissional de maior habilidade. comissão participativa (tripartite) sobre se- gurança do trabalho e saúde ocupacional Trata-se de uma comissão formada por representantes do poder público, dos empregadores e dos empregados (geralmente entidades da sociedade civil organizada, como sindicatos). Esta comissão é acionada quando da revisão das NR´s existentes e/ou para a criação de novos dispositivos norteadores de estratégias de Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional. Esta comissão valida as propostas geradas pelas câmaras temáticas, que são responsáveis pela elaboração dos dispositivos validados pela comissão. Fonte: Elaboração do Autor (2014)1. 1 GUIADOESTUDANTE.ABRIL.COM. Descrição sobre o profissional de Engenharia de Segurança do Trabalho. Disponível em: <http://guiadoestudante.abril.com.br/ profissoes/engenharia-producao/engenharia-seguranca-trabalho-602980.shtml>. Pós-Graduação | Unicesumar 55 Em princípio, pela análise do Quadro 3, parece que não há espaço para a atuação do Gestor de Pessoas neste conjunto. E de fato isto é verdade, quando consideramos as atividades exclusivas aos profissionais acima elencados. Aliás, configuraria-se como in- fringimento do código de ética profissional se o Gestor com Pessoas fosse o responsá- vel técnico pelo Programa de Prevenção de Riscos Ambientais - PPRA ou pelo Programa O Gestor com Pessoas deve participar ati- vamente dos processos junto à Comissão Interna de Prevenção de Acidentes – CIPA, ou junto aos Serviços Especializados em Segurança e Medicina do Trabalho – SES- MT, prestando assessoria técnica nas áreas do conhecimento que não são de domínio dos profissionais componentes daqueles serviços. COSTA, T.R. Segurança do Trabalho e Multidis- ciplinariedade. IV Congresso Iberoamericano de Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacio- nal. Anais... Belo Horizonte, 2012. p.639-648. de Controle Médico e Saúde Ocupacional - PCMSO. Entretanto, isto não exclui a participação deste profissional, o qual terá importante função nos processos de capacitação e orien- tação de empregados e empregadores e no processo de levantamento de riscos associa- dos à ação humana, subsidiando as decisões de um Engenheiro de Segurança do Trabalho, por exemplo. Seguranca no Trabalho 56 alguns destes mecanismos já foram citados ao longo do texto, como as Leis, Decretos e Normas Regulamentadoras. Entretanto, outros me- canismos também merecem destaque. Desta forma, fazendo um apanhado de todos os mecanismos envolvidos na promoção da Segurança do Trabalho, têm-se: a. As próprias Leis, as quais estabelecem as diretrizes da ação; b. Decretos, os quais regulamentam as leis (como serão aplicadas); c. Portarias, editadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego no sentido de adicionar e/ou alterar as disposições das normas regulamentadoras – NR´s; d. Instruções normativas, as quais definem regras de condução dos trabalhos e dos processos, considerando atividades altamente específicas; e, e. Normas Regulamentadoras – NR´s, que apresentam o conjunto de instruções e regras voltadas à promoção da Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional em todas as atividades listadas no Cadastro Nacional de Atividades Econômicas – CNAE (IBGE) e/ou em áreas específicas (caso da construção civil). MECANISMOS QUE REGEM AS AÇÕES DE SEGURANÇA DO TRABALHO E SAÚDE OCUPACIONAL Pós-Graduação | Unicesumar 57 Além de conversamos sobre as normas quero lhe propor algo di- ferente. Analise o Quadro 4. Veja que ele tem três colunas, sendo a primeira com a descrição da NR e as duas últimas, colunas em branco, as quais exigem uma resposta de sua parte, caro aluno. Na segunda coluna, responda SiM ou não para a pergunta “Nós já vimos esta norma no texto?”. Por sua vez, na terceira coluna, também responda SiM ou não para a pergunta “Será que eu, como Gestor de Pessoas, tenho co- nhecimentos e habilidades para auxiliar na aplicação desta norma?”. Não se preocupe se sua resposta será consideradacerta ou errada, até porque nós não discutimos minimamente sobre o conteúdo de cada norma. O que vale são suas percepções acerca do tema da NR. Vamos lá? Professor, e quais são estas normas regulamentadoras? Seguranca no Trabalho 58 DescRição Da NoRma ReguLameNtaDoRa peRguNta a peRguNta b NR 1- Disposições Gerais Ex. Não Ex. sim NR 2 – Inspeção Prévia NR 3 – Embargo e Interdição NR 4 – Serviço Especializado em Segurança e Medicina do Trabalho NR 5 – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes – CIPA NR 6 – Equipamentos de Proteção Individual – EPI´s NR 7 – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional – PCMSO NR 8 – Edificações NR 9 – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais – PPRA NR 10 – Segurança em Instalações e Serviços em Eletricidade NR 11 – Transporte, movimentação, armazenagem e manuseio de materiais NR 12 – Máquinas e Equipamentos NR 13 – Caldeiras e Vasos de Pressão. NR 14 – Fornos NR 15 – Atividades e Operações Insalubres NR 16 – Atividades e Operações Perigosas NR 17 – Ergonomia NR 18 – Condições e meio ambiente de trabalho na Indústria da Construção NR 19 – Explosivos NR 20 – líquidos Combustíveis e Inflamáveis NR 21 – Trabalho a céu aberto NR 22 – Segurança e Saúde Ocupacional na Mineração NR 23 – Proteção Contra Incêndios NR 24 – Condições Sanitárias e de Conforto nos locais de trabalho NR 25 – Resíduos Industriais NR 26 – Sinalização de Segurança NR 27 – Registro profissional do Técnico de Segurança do Trabalho no Ministério do Trabalho NR 28 – Fiscalização e Penalidades NR 29 – Norma Regulamentadora de Segurança e Saúde no Trabalho Portuário NR 30 – Segurança e Saúde no trabalho Aquaviário NR 31 – Segurança e Saúde no Trabalho na Agricultura, Pecuária, Silvicultura, Exploração Florestal e Aquicultura NR 32 – Segurança e Saúde no Trabalho em Serviços de Saúde NR 33 – Segurança e Saúde nos trabalhos em espaços confinados NR 34 - Condições e meio ambiente de trabalho na indústria da construção e Reparação Naval NR 35 – Trabalho em Altura NR 36 - Segurança e Saúde no Trabalho em Empresas de Abate e Processamento de Carnes e Derivados Fonte: Elaboração do Autor (2014). Quadro 4 – Normas Regulamentadoras de Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional e verificação de conhecimen- tos por parte do aluno (Pergunta A: “Nós já vimos esta norma no texto?” e Pergunta B: “Será que eu, como Gestor de Pessoas, tenho conhecimentos e habilidades para auxiliar na aplicação desta norma?”). Pós-Graduação | Unicesumar 59 Achou esta atividade difícil? Provavelmente sim, pois só os títulos das NR´s, em alguns casos, não fazem justiça ao seu conteúdo. Entretanto esta dinâmica que nós trabalhamos foi pro- posital, para incentivá-lo a descobrir, por si só, quais seus futuros caminhos de atuação como Gestor com Pessoas na área de Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional. Desta forma, se você é um aluno proativo, característica exigida pelo mercado de tra- balho, antes de realizar o preenchimento do Quadro 4, provavelmente buscou informações em outras fontes. Parabéns por esta atitude, mas se você não fez isso, não fique chateado. Ao final desta unidade, no item “Na Web” você encontrará links onde poderá acessar maiores informações a respeito das NR´s. Certamente você que fez a atividade sem antes consultar ao menos as infor- mações básicas sobre as NR´s, ao refazer o Quadro 4, mudou algumas opiniões. Quais foram estas opiniões modificadas? Qual é a impressão inicial que você, futuro Gestor com Pessoas, apreendeu sobre sua ação no campo da Segurança do Trabalho e da Saúde Ocupacional? Existem boas oportu- nidades? É possível estabelecer uma boa rede profissional com os demais agentes do setor? Utilize o espaço a seguir para deixar suas impressões acerca de nossa discussão até aqui. IMPRESSÕES __________________________________________ __________________________________________ __________________________________________ __________________________________________ __________________________________________ __________________________________________ __________________________________________ _________________________________________ Durante o texto, nós men- cionamos sobre a criação de novas Normas Regulamenta- doras, a exemplo da NR-36. Sobre esta norma, Vedovat- ti (2013) realizou um estudo de caso em um frigorífico no sudoeste paranaense. Este frigorífico possui mais uma unidade no Estado de Santa Catarina, a qual encontra-se em processo avançado de adaptação à NR-36. Ao analisar os custos e os cenários para a adaptação da unidade paranaense à norma, Vedovatti (2013) ve- rificou que os custos totais passariam dos R$ 2 milhões, considerando o cenário de adoção de automatização de parte da linha de produção. Essa unidade possuía 185 colaboradores, o que daria um investimento de, apro- ximadamente, R$ 10.811,00 por colaborador. Conclui-se que a adoção de estratégias para mitigação dos riscos laborais pode ser dispendiosa, mas se trata de um investimento necessário, segundo o autor, para a pre- servação da vida dos traba- lhadores. Fonte: VEDOVATTI, W. Análise de adaptação de um frigorífi- co no sudoeste paranaense à Norma Regulamentadora nº. 36. Monografia – Curso de Especialização em Engenha- ria de Segurança do Trabalho – Universidade Estadual de Maringá – 2013. 68 p. Seguranca no Trabalho 60 no início desta unidade apresentamos o conceito de riscos ocupacionais como “elementos potencializado- res de ocorrências indesejadas no ambiente de trabalho”. Ainda, pela leitura das Normas Regulamentadoras, os riscos ocupacionais re- ferem-se à capacidade de uma grandeza que possui potencial para causar lesões ou danos à saúde das pessoas (PAGANELLA, 20112). Ambos os conceitos convergem para o fato de que os riscos do ambiente de tra- balho encontram-se presentes, em maior ou menor escala, dependendo de fatores ligados à prática laboral, às máquinas e equipamentos associados, bem como 2 PAGANELLA, W.O. reconhecimento e controle de riscos ambientais nas atividades de triagem de Material reciclável. Monografia (Curso de Especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho, Escola de Engenharia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul), 2011, 42p. à própria infraestrutura do ambiente de trabalho. Costa (2011) afirmou que todos os am- bientes e todas as práticas de trabalho apresentam riscos associados, desde as mais simples, até aquelas que apresentam maior complexidade em sua execução. Tais riscos, como definidos por meio da NR 9 – Programa de Proteção de Riscos Ambientais – PPRA (ABNT apud. ATLAS, 2012) dividem-se em cinco classes, a saber: a) Riscos Físicos; b) Riscos Químicos; c) Riscos Biológicos; d) Riscos Ergonômicos; e, e) Riscos de Acidentes. Para melhor entendimento sobre o que é comportado em cada tipo de risco, leia o seguinte trecho da NR 9: REVISITANDO O CONCEITO DE RISCOS ASSOCIADOS À PRÁTICA LABORAL Pós-Graduação | Unicesumar 61 “(...) 9.1.5 Para efeito desta NR, consideram-se riscos ambientais os agentes físicos, quími- cos e biológicos existentes nos ambientes de trabalho que, em função de sua nature- za, concentração ou intensidade e tempo de exposição, são capazes de causar danos à saúde do trabalhador. 9.1.5.1 Consideram-se agentes físicos as diversas formas de energia a que possam estar expostos os trabalhadores, tais como: ruído, vibrações, pressões anormais, tem- peraturas extremas, radiações ionizantes, radiações não ionizantes, bem como o in- frassom e o ultrassom. 9.1.5.2 Consideram-se agentes químicos as substâncias, compostos ou produtos que possam penetrar no organismo pela via respiratória, nas formas depoeiras, fumos, névoas, neblinas, gases ou vapores, ou que, pela natureza da atividade de exposição, possam ter contato ou ser absorvidos pelo organismo através da pele ou por ingestão. 9.1.5.3 Consideram-se agentes biológicos as bactérias, fungos, bacilos, parasitas, pro- tozoários, vírus, entre outros. (...)” A leitura do trecho escrito acima define clara- mente quais são as interferências que podem ser consideradas como riscos. Somando-se a estas alocações, faltou mencionar que os riscos ergonômicos estão ligados à inadap- tação dos diversos elementos componentes da prática laboral (móveis, equipamentos, fer- ramentas, EPI´s, etc.) ao empregado, e que os riscos de acidentes alocam as demais interferências não alocáveis nos riscos an- teriores, como por exemplo, máquinas que não possuem as devidas proteções às suas transmissões de força ou mesmo atividades perigosas, como o manuseio de combustível. Ademais, conforme o trecho destaca- do da NR 9, observamos que um risco se configura não somente pela natureza da ati- vidade, mas também pelo nível de exposição ao agente causador do risco. Cada fator causador de riscos apresenta seu respectivo nível de tolerância, estando este descrito nas Normas Regulamentadoras. Não é nosso objetivo nos aprofundar na teoria sobre níveis de tolerância em cada elemento causador de risco (ruído, temperatura, vibra- ções, trabalhos com agentes radioativos, etc.), até mesmo porque esta é uma competência dos profissionais formados em Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional, mas, apenas para ilustrar, vejamos o exemplo dos níveis de tolerância para ruídos. A seguir, apresentam-se os limites de tolerância para ruído contínuo ou intermi- tente, de acordo com o Anexo I da Norma Regulamentadora nº 15 (NR 15), Portaria 3.214 de 08/06/1978 (Ministério do Trabalho), a qual dispõe sobre Atividades e Operações Insalubres. Seguranca no Trabalho 62 Quadro 5 – Níveis de ruídos intermitentes ou contínuos e seus respectivos limites de tole- rância, segundo a NR 15, Anexo I. NíveL De RuíDo Db (a) máxima exposição DiáRia peRmissíveL 85 8 horas 86 7 horas 87 6 horas 88 5 horas 89 4 horas e 30 minutos 90 4 horas 91 3 horas e trinta minutos 92 3 horas 93 2 horas e 40 minutos 94 2 horas e 15 minutos 95 2 horas 96 1 hora e 45 minutos 98 1 hora e 15 minutos 100 1 hora 102 45 minutos 104 35 minutos 105 30 minutos 106 25 minutos 108 20 minutos 110 15 minutos 112 10 minutos 114 8 minutos 115 7 minutos Fonte: ABNT apud ATLAS (2012). Entende-se por ruídos intermitentes aqueles que possuem tempos variáveis de execução, em frequências normais, enquanto ruídos contínuos são aqueles que perma- necem em execução por longos períodos de tempo em uma mesma frequência ou frequências pouco variáveis. Além destes tipos de ruídos, também existe o ruído de impacto que, segundo a NR 15, é aquele que apresenta picos de energia acústica de duração inferior a 1 (um) segundo, a intervalos superiores a 1 (um) segundo (ABNT apud ATLAS, 2012). Retomando o foco de nossa discussão atual, mesmo o ruído pode não ser conside- rado como risco físico. Isto ocorre quando a exposição ao ruído é por tempos não signifi- cativos ou quando os ruídos não apresentam intensidades superiores às apresentadas no Quadro 5, considerando o tempo máximo de exposição. Diante destas informações, tanto os pro- fissionais da área de Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional, como também os profis- sionais de Gestão com Pessoas devem aguçar sua sensibilidade e, logicamente, seus equi- pamentos, para conferir ao fator analisado o status de risco, ou seja, o status onde este elemento possa provocar danos e/ou lesões aos trabalhadores. Tendo melhor conceituado a questão dos ricos ocupacionais, podemos partir para o questionamento principal desta unidade: “Quais as ferramentas, estratégias e metodologias ligadas à promoção da Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional que podem ser utilizadas pelos Gestores com Pessoas em sua prática de trabalho ou por eles devem ter sua execução auxiliada?”. Pós-Graduação | Unicesumar 63 Equipamentos de Proteção Individual – EPI´s PRINCIPAIS FERRAMENTAS DA SEGURANÇA DO TRABALHO A utilização destes equipamen- tos é regida pela NR 6 (Equipamentos de Proteção Individual), a qual outorga, principalmente: • A obrigatoriedade de fornecimento destes equipamentos, em perfeito estado de conservação, por parte do empregador; • A obrigatoriedade de uso por parte dos empregados expostos a fonte de riscos; • A observação de que os equipamentos fornecidos devem estar aptos, testados, certificados e aprovados pelo Ministério do Trabalho e Emprego; • A necessidade de capacitação dos empregados e demais profissionais expostos aos riscos ocupacionais que condicionaram a utilização destes EPI´s; • A coparticipação dos empregados no que tange à conservação e higienização dos EPI´s; como a própria nomenclatura informa, tratam-se de equipa-mentos que são utilizados para minimizar e/ou eliminar os riscos ocu- pacionais a partir do momento em que as estratégias de proteção coletiva não surtem efeito suficiente para eliminar a fonte dos riscos. A Figura 2 ilustra alguns exemplos de EPI´s. Seguranca no Trabalho 64 • Os princípios de fabricação e os requisitos para comercialização dos EPI´s; e, • Os tipos de EPI´s de acordo com a área do corpo do trabalhador a ser protegida. No que tange à Gestão com Pessoas, o “ani- mador” dos processos, ou seja, o Gestor, pode exercer sua função em conjunto com os pro- fissionais ligados ao Sistema de Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional, orientan- do os trabalhadores sobre a importância e o correto uso destes equipamentos. Tais orientações são bastante válidas, especialmente considerando os trabalhos que envolvem resíduos industriais, trata- mento de esgoto, triagem e destinação de resíduos sólidos e na implantação das Certificações de Qualidade nas empresas, as quais possuem, dentre outros requisi- tos, a exigibilidade de condições seguras e saudáveis para o desenvolvimento huma- nizado dos trabalhos. Isto significa dizer que praticamente todas as atividades laborais exigem o PPRA e, da mesma forma, significa que o conteúdo deste Programa deve ser adaptado à realida- de encontrada em cada estabelecimento de trabalho, não havendo um “modelo” definido. Logicamente que o PPRA, elaborado com linguagem simples e objetiva (não confun- dir simples com simplório) ao entendimento dos trabalhadores, só o poderá ser por vias dos Engenheiros e Técnicos de Segurança do Trabalho e pelos Médicos e Enfermeiros do Trabalho. Isto não quer dizer definitivamente que o Gestor com Pessoas encontra-se ex- cluído deste processo de elaboração. Os Engenheiros e Técnicos de Segurança do Trabalho, bem como Médicos e Enfermeiros do Trabalho estão plenamente capacitados na elaboração deste documento, o qual deverá levar em conta o levantamento e diagnóstico de todos os riscos ocupacio- nais e o planejamento com as ações efetivas no controle dos mesmos. Todavia, nenhum profissional detém o conhecimento abso- luto sobre quaisquer temas e neste sentido, um outro olhar sobre o ambiente de traba- lho (do Gestor com Pessoas) é bem vindo, desde que este esteja antenado e capacitado quanto ao diagnóstico de riscos e estratégias de controle. Para a execução do PPRA são previstos apenas três tipos de riscos, conforme de- monstrado durante o texto desta unidade,sendo eles os riscos físicos, químicos e bio- lógicos, entretanto, os riscos ergonômicos e de acidentes também estão presentes no Programa de Prevenção de Riscos Ambientais – PPRA O Programa de Prevenção de Riscos Ambientais – PPRA encontra-se embasado na NR 9, sendo este obrigatório a todos os empregadores que admitam empregados aos seus processos laborais. Esta é uma exi- gência do Ministério do Trabalho e Emprego – MTe. Pós-Graduação | Unicesumar 65 ambiente e, embora não especificado na NR 9, também devem ser levantados e diagnos- ticados quanto a sua natureza e fonte. Você quer experimentar os procedimentos de um PPRA (diagnóstico dos riscos e planeja- mento para controle)? Assista o vídeo a seguir: Usina de Reciclagem de Lixo - http://www.youtube.com/ watch?v=aU_Qm7wFmdk Web Suponha que você foi contratado como consultor auxiliar do caso ilustrado neste vídeo e que seja necessário executar o le- vantamento de riscos e o planejamento de ações para controle destes riscos desta atividade. Aprecie todos os detalhes do vídeo e elenque, no quadro abaixo, quais são os riscos que você conseguiu identificar. Não se preo- cupe com a questão dos níveis de tolerância que caracterizam os riscos, apenas diga quais são os riscos que estão presentes, em sua visão e como você os controlaria. categoRias De Riscos FoRmas De coNtRoLe Riscos Físicos • Calor, dentro das unidades de triagem (por exemplo); • Ampliação dos dutos de ventilação (por exemplo); • • • • Riscos químicos • • • • • • Riscos bioLógicos • • • • • • Riscos eRgoNômicos • • • • • • Riscos De aciDeNtes • • • • • • Seguranca no Trabalho 66 Este exercício lhe ajudará a entender o cerne de como é realizado o PPRA. A partir do diagnóstico de riscos e da elaboração de estratégias de controle, fica mais fácil o desenvolvimento do planejamento de se- gurança do trabalho e de saúde ocupacional dentro de uma empresa, que atenda às es- pecificidades do “estado de arte” encontrado naquela situação. Novamente perceba que o PPRA é bas- tante específico a cada situação e que o olhar clínico dos profissionais que auxiliam nesta elaboração, sejam eles da área de Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional, Administrativa ou mesmo da área produtiva (empregados e empregadores), afinal, o PPRA torna-se mais válido e legítimo quando da elaboração participativa do mesmo. Apenas não confunda elaboração participativa com Responsabilidade Técnica, a qual compete somente aos profissionais de Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional. Apenas para conhecimento, existe outra metodologia alternativa ao PPRA que é o LTCAT (Laudo Técnico das Condições Ambientais de Trabalho). Embora ambos os documentos estejam ligados às condições de segurança no ambiente de trabalho, cada um se presta à finalidade diferente. O PPRA é um Programa, com a finalida- de de reconhecer e reduzir e/ou eliminar os riscos existentes no ambiente de traba- lho, servindo de base para a elaboração do PCMSO (Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional). O PPRA precisa ser revisto e renovado anualmente. Por sua vez, o LTCAT é um Laudo, ela- borado com o intuito de se documentar os agentes nocivos existentes no ambiente de trabalho e concluir se estes podem gerar insalubridade3 para os trabalhadores even- tualmente expostos. Somente será renovado caso sejam introduzidas modificações no am- biente de trabalho. O parágrafo 3º do Art. 58 da Lei 8.213/914, com o texto dado pela Lei 9.528/975 diz que: “A empresa que não mantiver laudo técnico atualizado com referência aos agentes nocivos existentes no ambien- te de trabalho de seus trabalhadores ou que emitir documento de comprovação de efetiva exposição em desacordo com o respectivo laudo, estará sujeito à pena- lidade prevista no Art. 133 desta Lei”. O LTCAT deve estar disponível na empresa para análise dos Auditores Fiscais da Previdência Social, Médicos e Peritos do INSS, devendo ser realizadas as alterações neces- sárias no mesmo, sempre que as condições de nocividade se alterarem, guardando-se as descrições anteriormente existentes no referido Laudo, juntamente com as novas alterações introduzidas, datando-se ade- quadamente os documentos, quando tais modificações ocorrerem. 3 Para maiores informações acerca da Insalubridade, consultar a NR 15 – Atividades e Operações Insalubres (ABNT apud. ATLAS, 2012). 4 BRASIL, lei n. 8.213 de 24 de Julho de 1991. Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras providências. Brasília, 1991. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8213cons.htm>. Acesso em 11. Mai. 2012. 5 BRASIL, lei n. 9.528 de 10 de Dezembro de 1997. altera dispositivos das leis n°s 8.212 e 8.213, ambas de 24 de julho de 1991, e dá outras provi- dências. Brasília, 1997. Disponível em: <http://www81.dataprev.gov.br/sislex/ paginas/42/1997/9528.htm>. Acesso em 11. Mai. 2012. Pós-Graduação | Unicesumar 67 Diferentemente do PPRA, que exige atua- lização anual, o LTCAT tem validade indefinida, atemporal, ficando atualizado permanente- mente, enquanto o “layout” da empresa não sofrer alterações. Da mesma forma, além do PPRA e LTCAT, existem variantes metodológicas de análise de riscos ambientais/ocupacionais, sendo elas: a) PGR – Programa de Gerenciamento de Riscos; e b) PCMAT – Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho. Salienta-se que este último é utilizado somente no setor de construção civil, por suas especificidades, ou seja, a ação do Gestor com Pessoas neste caso é mais limitada em comparação ao PPRA. Considere a Figura 3 a seguir: Figura 3 – Representação dos riscos ocupacionais de acordo com a classe (físico, químico, biológico, ergonômico e mecânico/de acidentes) e grau de risco (leve, médio e elevado). Fonte: AREASEG.COM (2012). Disponível em: <http://www.areaseg.com/sinais/tabolas.gif>. Acesso em 17. Jun. 2012. Mapa de riscos ocupacionais O Mapa de Riscos Ocupacionais é uma fer- ramenta didática para ilustração final aos trabalhadores sobre quais os riscos ocu- pacionais que os mesmos encontram-se sujeitos. Uma vez que os riscos estejam diagnosticados e classificados, é de simples execução. Esta execução leva em conta alguns fatores, quais sejam: a) Representação da unidade avaliada (geralmente plantas baixas do ambiente de trabalho); b) riscos ocupacionais; e, c) nível de gravidade do risco. Seguranca no Trabalho 68 Estes círculos que se encontram repre- sentados na Figura 3 variam de diâmetro conforme o nível do risco considerado e este, por sua vez, varia de acordo com a natureza da atividade, da intensidade e do tempo de exposição ao agente causa- dor do risco. Esta graduação de risco não tem relação com o grau de risco das diferentes atividades econômicas cadastradas no Cadastro Nacional de Atividades Econômicas – CNAE (IBGE), as quais constam no Quadro I da NR 4 – Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho. A Figura 4 ilustra como se dá a aplicação de tais círculos na planta baixa dos locais de trabalho, completando, portanto, a execução do Mapa de Riscos Ocupacionais. Figura 4 – Exemplo de aplicação da metodologia de Mapa de Riscos. Fonte: BIOSSEGURANCAEMFOCO.COM (2012). Disponível em: <http://biossegurancaemfoco.com/wp-content/ uploads/2009/10/mapaderisco.jpg>. Acesso em 17. Jun. 2012. Observando a Figura 4 verifica-se que o conhecimento sobre os riscos ocupacionaispor parte do trabalhador fica bastante intui- tivo e prático, sendo esta uma ferramenta valiosa, especialmente nos processos de comunicação e conscientização sobre as medidas que devem ser tomadas para a mi- nimização dos riscos ambientais. Pós-Graduação | Unicesumar 69 Outras Ferramentas feito; Who – Por quem será feito; How – Como será feito; e, How much – Quanto custará para ser feito); • Gráfico de Pareto (priorização de atividades em um planejamento); • Diagrama de Causa e Efeito (Ishikawa) na análise de riscos; • Histograma (por exemplo, na verificação do número de trabalhadores afetados por determinado elemento nocivo no ambiente de trabalho); • Folha de Verificação (check list de processos no planejamento de ações de controle de riscos, por exemplo); • Gráfico de Dispersão; • Fluxograma (análise de processos decisórios); • Carta de Controle (análise de duas variáveis que são correlacionadas, por exemplo, movimentos repetitivos em Uma empresa do setor de vestuário, localiza- da em Cianorte Paraná, decidiu estabelecer um novo modelo produtivo que preconi- zasse ao mesmo tempo o reconhecimento dos riscos e a eficiência produtiva. Para tal, contratou-se um Engenheiro de Segurança do Trabalho e um Gestor com Pessoas. O pri- meiro analisou o ambiente de acordo com a metodologia do PPRA (NR-9). O segundo avaliou o ambiente e os colaboradores por metodologia própria, composta por ques- tionários semiestruturados. Após analisar o ambiente e os colaboradores, os profissionais chegaram à conclusão que seria interessante estabelecer um novo layout produtivo, o qual foi projetado e implemen- tado nos dias seguintes. Depois de trinta dias sob o novo modelo, verificou-se que o proje- to reduziu em 141 km/dia o caminhamento dos colaboradores na condução das peças de roupa, ao mesmo tempo em que reduziu-se em 78% o número de acidentes em um setor no qual o risco físico de vibração de máquinas e má iluminação estavam presentes. Fonte: Elaborado pelo autor, baseado em fatos reais. Ainda existe uma diversidade de ferramentas que podem ser utilizadas com o objetivo de reduzir/eliminar riscos, considerando outros pontos específicos da prática laboral, do ambiente de trabalho e dos aspectos orga- nizacionais da empresa. As ferramentas de gestão da qualidade cabem neste processo e auxiliam a diagnos- ticar os pontos críticos ligados especialmente às práticas no ambiente corporativo, além de estarem presentes no planejamento das so- luções, em curto, médio e longo prazo. São exemplos de ferramentas de qualidade que podem ser utilizadas em par as estratégias de Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional: • Metodologia 5W2H (What – O que será feito; Why – Porque será feito; Where – Onde será feito; When – Quando será Seguranca no Trabalho 70 triagem de resíduos sólidos e número de trabalhadores afastados por Dores Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho - DORT); • Estratificação; e, • Metodologia SWOT-FOFA (Fortalezas, Oportunidades, Fraquezas e Ameaças – Wright et al. 2000)6. Vale expor que estas ferramentas podem ser utilizadas pelos Gestores com Pessoas de maneira compartilhada aos profissionais de Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional, entretanto, não são tão utilizadas como se deveria. Talvez este seja um bom nicho de mercado para você que domina estas ferra- mentas, não acha? Estas, portanto, são as principais ferra- mentas e metodologias que devem ser de conhecimento dos Gestores com Pessoas, considerando nosso questionamento inicial: “Quais as ferramentas, estratégias e metodologias ligadas à promoção da Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional que podem ser utilizadas pelos Gestores com Pessoas em sua prática de trabalho ou por eles devem ter sua execução auxiliada?”. Em quantidade, parecem poucas as opor- tunidades de ação no que tange à Segurança do Trabalho. Entretanto estas “poucas” atua- ções são bastante densas em seu conteúdo. 6 WRIGHT, P.; MARK J. K.; PARNELL, J. administração estratégica: conceitos. 1. ed. São Paulo: ATLAS, 2000. Considere o fato de que ainda não discuti- mos sobre o papel do Gestor com Pessoas no lado humano (abordamos até aqui o papel deste profissional no lado técnico). Assim, as possibilidades de parcerias de trabalho e enriquecimento de conhecimentos, quando são associadas às duas áreas, são bastante promissoras. Na composição do texto dessa obra, mencionamos algumas vezes o termo “acidente” (acidente de trabalho, por exemplo). Todavia, a Segurança do Tra- balho também aborda sobre o termo “incidente”. Você sabe qual a diferença entre os dois termos? Um “incidente” pode ser definido como sendo um acontecimento não deseja- do ou não programado que venha a deteriorar ou diminuir a eficiência ope- racional da empresa, sem, no entanto, provocar lesões aos trabalhadores ou a outrem e perdas à empresa. Por sua vez, do ponto de vista prevencionista, um “acidente” é o evento não desejado que tenha por resultado uma lesão ou enfermidade a um trabalhador ou um dano a propriedade. Fonte: VEDOVATTI, W. Análise de adap- tação de um frigorífico no sudoeste pa- ranaense à Norma Regulamentadora nº. 36. Monografia – Curso de Especia- lização em Engenharia de Segurança do Trabalho – Universidade Estadual de Maringá – 2013. 68 p. Pós-Graduação | Unicesumar 71 Prezado aluno, até aqui estamos obtendo ótimos avanços na compreensão sobre o tema Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional. Ao finalizar esta segunda unidade, tenho a sensação, e espero que esta sensação esteja sendo compartilha- da por você que lê estas palavras, que a Gestão com Pessoas possui relação com a Segurança do Trabalho. Aliás, esta relação é bastante íntima e você mesmo pôde compreender, pelo exercí- cio proposto por meio do Quadro 4, que em grande parte das Normas Regulamentadoras – NR´s, pode haver o trabalho do Gestor com Pessoas. Em suma, além de exercitar nosso cog- nitivo na descoberta dos significados que orbitam a Segurança do Trabalho, inseri- mos, ao menos inicialmente, a Gestão com Pessoas como componente da Segurança do Trabalho. Também nos adiantamos quanto a um dos componentes da Segurança do Trabalho, os quais devem ser plenamente compreen- didos por você, caro aluno: Os riscos. A partir destas colocações sobre os riscos, quais sejam: a) Riscos Físicos; b) Riscos Químicos; c) Riscos Biológicos; d) Riscos Ergonômicos; e, e) Riscos de Acidentes; focamos a discussão sobre as ferramentas da Segurança do Trabalho que podem ser de utilização do Gestor com Pessoas em sua atuação na área. EPI´s, PPRA, PCMAT, PGR, CIPA, SESMT, Mapa de Riscos Ocupacionais e Ferramentas de Qualidade: Este conjunto de siglas e conceitos agora já faz parte de seu arcabouço teórico e são processos que você poderá auxiliar a executar em quais- quer empresas. Em nossa próxima unidade, ampliare- mos nossa discussão sobre o papel do Gestor com Pessoas nas estratégias de capacitação e conscientização dos parceiros (empregados, empregadores e outros atores envolvidos no certame), além de inserir um último ele- mento, o qual acentuará a proximidade dos Gestores com o universo da Segurança do Trabalho. Trataremos da Qualidade de vida no trabalho. No mais, espero que você tenha bons estudos e lhe aguardo em nossa derradeira unidade (Unidade III). Considerações Finais Seguranca no Trabalho 72 1. Os riscos ocupacionais são os perigos que incidem sobre a saúde humana e o bem-estar dos trabalhadores associadosa determinadas profissões. Embora sejam feitos esforços para reduzir os riscos de acidentes no trabalho, esses riscos continuam presentes em indústrias, empresas em geral, estabelecimentos comerciais e demais ambientes profissionais. Reconhecer os riscos ocupacionais é o primeiro passo para elaborar e implementar programas de segurança do trabalho com o intuito de manter a qualidade de vida dos trabalhadores. Diante do exposto, analise as colocações sobre riscos ocupacionais que se encontram abaixo e assinale a alternativa correta: I. Os riscos ocupacionais podem ser divididos em cinco categorias: Físicos, Químicos, Biológicos, Ergonômicos e de Acidentes. II. Os riscos ambientais são aqueles definidos pela NR – 9 (Programa de Prevenção de Riscos Ambientais), quais sejam: Riscos Físicos, Químicos e Biológicos. Contudo, a norma em questão não exclui do processo de elaboração do PPRA a menção sobre os demais riscos (ergonômicos e de acidentes). III. São considerados riscos ergonômicos: Calor, Frio, Vibrações e Radiações. IV. O item III estaria correto caso fizesse a seguinte menção: “São considerados riscos físicos”. Estão corretos: a. ( ) Somente os itens I e II. b. ( ) Somente os itens I, II, e III. c. ( ) Somente o item III d. ( ) Somente os itens I, II e IV. e. ( ) Somente os itens III e IV. 2. Quanto à elaboração das Normas Regulamentadoras, julgue os itens a seguir e assinale a alternativa correta. Atividade de Autoestudo Pós-Graduação | Unicesumar 73 I. As Normas Regulamentadoras apresentam-se como uma evolução do disposto na Lei 6.514/77, a qual previa, em conjunto com o Artigo 7° da Constituição da República Federativa do Brasil, a criação de dispositivos normatizadores das diferentes práticas laborais. II. Estas Normas apresentam-se bastante definidas em algumas áreas, tais como a Construção Civil, Siderurgia e Metalurgia e Indústrias em geral e, em outras, ainda carecem de maiores definições, como é o caso da NR-31, a qual trata de Segurança do Trabalho nas atividades rurais (agricultura, pecuária, silvicultura, aquicultura e exploração florestal). III. Em outros casos, as Normas apresentam-se com uma aplicabilidade transversal, como é o caso da NR-4 (SESMT), NR-5 (CIPA), NR-6 (EPI´s), NR-17 (Ergonomia) e NR- 26 (Sinalização de Segurança). IV. Tais normas foram concebidas por meio da participação paritária de trabalhadores, técnicos e representantes governamentais. Vale dizer ainda que estas normas não são absolutas, cabendo o desenvolvimento de outras normas ou dispositivos complementares para que haja um verdadeiro aperfeiçoamento no que tange à Segurança do Trabalho. a. ( ) Somente a alternativa I está correta; b. ( ) As alternativas II e III estão incorretas; c. ( ) As alternativas II e III estão corretas, mas, a alternativa III não é um complemento da alternativa II; d. ( ) Todas as alternativas estão corretas. e. ( ) Nenhuma alternativa está correta. Seguranca no Trabalho 74 Livro Título: Gestão de Pessoas e Segurança do Trabalho – O que a escola deixou de te ensinar Autor: MARTINS, ELI DAMARIS Editora: LEON EDITORA Sinopse: Este guia de Gestão de Pessoas traz vivências que a autora teve durante vinte anos de experiência. Os fatos são reais, levando o leitor a refletir nas suas atitudes diárias. Aos líderes, a esperança do entendimento que “para gerir pessoas é preciso dar segurança”. Aos que pretendem conhecer um sistema de liderança moderno, a certeza de estar no caminho correto, seguindo as orienta- ções nesse contido. Aos amantes de uma boa leitura, a satisfação de um novo conhecimento. Pós-Graduação | Unicesumar 75 • Entenda mais sobre os riscos ocupacionais, acessando: • http://www1.pucminas.br/imagedb/documento/DOC_DSC_NOME_ARQUI20081104143622.pdf • Acesse os seguintes endereços para ficar por dentro das Normas Regulamentadoras de Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional: • Resumo das NR´s (Portal SESMT) - http://www.sesmt.com.br/portal/index. php?option=com_content&view=article&id=271&Itemid=92 • Normas Regulamentadoras – Wikipedia -http://pt.wikipedia.org/wiki/Norma_Regulamentadora • Para conhecer os limites de tolerância de outros agentes de risco ocupacional, acesse: • Ministério do Trabalho e Emprego – MTe (Norma Regulamentadora NR 15 – Atividades e Operações Insalubres): • http://portal.mte.gov.br/legislacao/norma-regulamentadora-n-15-1.htm • Para saber maiores detalhes sobre o PPRA e outras metodologias de análise de riscos, acesse os se- guintes endereços de internet: • Programa de Prevenção de Riscos Ambientais – PPRA (NR 9): • http://www3.dataprev.gov.br/sislex/paginas/05/mtb/9.htm • Exemplo de PPRA do Hospital Universitário de Santa Maria – HU/UFSM: • http://jararaca.ufsm.br/websites/ssst/download/SSST/PPRA.pdf • Proposta de Modelo de LTCAT: • http://pt.scribd.com/doc/54943979/modelo-LTCAT • Programa de Gerenciamento de Riscos – PGR: • http://engenheirorodrigo.wordpress.com/2009/05/13/programa-de-gerenciamento-de-risco-pgr/ • Para conhecer maiores detalhes sobre o Mapa de Riscos Ocupacionais, acesse o endereço a seguir: • Valores e atitudes seguras – Mapa de riscos ocupacionais: • http://valoreseatitudes.blogspot.com.br/2011/07/mapa-de-riscos_11.html Web Gestão de Negócios 76 Embora ainda não tenhamos discutido acerca dos aspectos relacionados à Qualidade de Vida no Trabalho, penso ser interessante trazer-lhe uma leitura que ilustra o conceito e a importância da Qualidade de Vida no Trabalho. Vamos a ela? Vivemos numa sociedade em mudanças e num momento excitante para as organizações. A socie- dade percebe que a Qualidade de Vida e a Saúde são ativos importantes, envolvendo dimensões física, intelectual, emocional, profissional, espiri- tual e social. Práticas inadequadas no ambiente de trabalho geram impacto negativo na saúde física e emocional dos empregados e na saúde financeira das empresas. Baixa motivação, falta de atenção, diminuição de produtividade e alta rotatividade criam uma energia negativa que repercute na família, na so- ciedade e no sistema médico. Segundo Domenico de Masi, vivemos e trabalhamos numa sociedade do futuro, mas continuamos a usar os instru- mentos do passado. Felizmente, para algumas empresas inovadoras e conscientes, este cenário não faz parte de sua realidade atual. As dez melhores empresas para se trabalhar (Guia Exame 2001) transformaram o ambiente de tra- balho e a Saúde emocional e física em vantagem competitiva, tendo plena convicção estratégi- ca de que quanto mais eliciar satisfação, mais retorno terão em produtividade, criando assim a visão de uma organização mais privilegiada, competitiva e equilibrada. Definição: Segundo a Organização Mundial da Saúde, Qualidade de Vida é um conjunto de percep- ções individuais de vida no contexto dos sistemas de cultura e de valores em que vivem, e em relação a suas metas, expectativas, padrões e preocupações. Objetivos Programas de saúde é a ciência e a arte de ajudar pessoas a modificar seu estilo de vida em direção a um ótimo estado de saúde, sendo esta com- preendida como o balanço entre a saúde física, emocional, mental, social e espiritual. (American Journal, 1989). Os programas de Saúde e QV objetivam facilitar mudanças no estilo de vida, combinando ações e campanhas para consciência, comportamento e envolvimento, que suportem suas práticas de saúde e previna doenças. Qualidade de Vida no Trabalho O propósito de um programa de Qualidade de Vida ou Promoção de Saúde nasOrganizações é encorajar e apoiar hábitos e estilos de vida que promovam saúde e bem estar entre todos os funcionários e famílias durante toda a sua vida profissional. Um programa de Qualidade de Vida existe para gerar estratégias com o intuito de promover um ambiente que estimule e dê suporte ao indiví- duo e à empresa, conscientizando sobre como sua saúde está diretamente relacionada à sua qualidade e produtividade. Não é suficiente ter em mente mudar relevante- mente o estado de saúde dos profissionais, mas também encorajá-los a cuidarem e gerenciarem sua própria saúde, adquirindo um ganho subs- tancial na sua satisfação e crescimento, assim como no aumento de produção e redução de custos para a empresa Pós-Graduação | Unicesumar 77 Benefícios • Melhoria da produtividade • Empregados mais alertas e motivados • Melhoria da imagem corporativa • Menos absenteísmo • Melhoria das relações humanas e industriais • Baixas taxas de enfermidade • Melhoria da moral da força de trabalho • Redução em letargia e fadiga • Redução de turnover Missão Estratégica A missão estratégica de um programa de Qualidade de Vida canaliza seus esforços para alcançar os seguintes resultados: • Aumentar os níveis de SATISFAÇÃO E SAÚDE do colaborador/ consumidor/ comunidade. (Força de trabalho mais saudável) • Melhorar o CLIMA ORGANIZACIONAL (am- biente, relações e ações saudáveis) • Afetar beneficamente no processo de FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO humano, agregando competências (capacidade e atributos) • Influenciar na diminuição da PRESSÃO NO TRABALHO e do DISTRESSE individual e orga- nizacional (Menor absenteísmo/rotatividade; Menor número de acidentes) • Melhorar a capacidade de DESEMPENHO das atividades do dia a dia. (Maior produtividade) As dimensões da Saúde Integral e Qualidade de Vida Para efeitos didáticos, dividimos a Saúde em Seis Dimensões: FÍSICA, EMOCIONAL, INTELECTUAL, PROFISSIONAL, SOCIAL e ESPIRITUAL. Estas dimensões facilitam a consciência e o de- senvolvimento da saúde integral, assim como a possibilidade de se ter uma visão sistêmica e seu posterior equilíbrio e expansão, pois sabemos que na vida sempre estamos buscando uma inter-rela- ção harmoniosa dos vários aspectos e dimensões do ser humano. Desde que o mundo exigiu novas e complexas interações em termos de excelência em relação à produtividade e a qualidade dos serviços pres- tados, estamos tendo que constantemente se adaptar à todos estes estímulos, comprometen- do de alguma forma nosso aprendizado e saúde. Afinal de contas, se sentir mal no tempo e no espaço não é mais privilégio de nenhum astro- nauta. O psiquiatra Carl Gustav Jung dizia que se as coisas vão mal no mundo, algo deve estar mal comigo. Assim seria sensato, em primeiro lugar, ficar bem. Viver uma vida vibrante e feliz, na qual se utiliza o máximo que possui, com enorme prazer é um objetivo de vida. É o que dá quali- dade à vida. Fonte: CARMELLO, E. Qualidade de vida no tra- balho. Disponível em: <http://www.rhportal.com. br/artigos/rh.php?rh=Qualidade-De-Vida-No-Tra- balho&idc_cad=a7o2sdrwi>. Acesso em: 29 Set. 2014 Gestão de Negócios 78 relato de caso Estabelecer práticas no ramo da Segurança do Trabalho e da Saúde Ocupacional não significa somente antever os riscos, mas associar práticas prevencionistas à própria preservação e confor- midade do meio ambiente. Com essa premissa é que se propôs investigar o caso de uma empresa, localizada no sudoeste paranaense, especializada no tratamento e destinação de resíduos sólidos e líquidos. A grande problemática deste estudo estava em adequar o ambiente e os postos de trabalho para que não houvesse risco de contaminação dos trabalhadores com os diferentes compostos que pudessem estar presentes, em especial, nos re- síduos líquidos derivados da decomposição de materiais orgânicos (chorume). Ao se observar somente o enfoque da segu- rança do trabalho, as medidas que poderiam ser tomadas estariam obedecendo as Normas Regulamentadoras, em especial, as que versam sobre Equipamentos de Proteção Individual, Programa de Prevenção de Riscos Ambientais – PPRA, Programa de Controle Médico e Saúde Ocupacional – PCMSO, Insalubridade e Sinalização. Contudo, um profissional completo não se limita somente aos conhecimentos ligados às suas atri- buições profissionais. Então, por que não pensar em mitigar os riscos tratando diretamente as suas fontes? E neste caso, as fontes estavam bastante claras: Os resíduos líquidos oriundos da decom- posição de material orgânico. De maneira geral, empregam-se lagoas de estabi- lização em cadeia, nas quais se verifica a criação de um gradiente decrescente de material orgânico e das demandas química e biológica de oxigê- nio, o que significa, em resumo, que boa parte do material orgânico já foi processado por micror- ganismos, tornando-se consolidado. No último estágio, este resíduo, já chamado de efluente, caso obedeça parâmetros sanitários legais, pode retornar à natureza, de maneiras diversas. No caso da empresa avaliada, não somente se veri- ficava a problemática relacionada à contaminação dos trabalhadores como também se verificava que os parâmetros sanitários eram altamente va- riáveis, mesmo com a finalização dos processos de estabilização nas lagoas. Em resumo, além de contaminar os trabalhadores, havia a contamina- ção ambiental. Esta problemática só fora resolvida a partir do momento em que se propôs o uso associado de microrganismos com plantas aquáticas e, neste caso, o uso da espécie Eichornia crassipes, popular- mente conhecida como Aguapé. Pelas análises do estudo sobre esta associa- ção, verificou-se apenas a limitação do uso do aguapé em duas condições: Em frio extremo e nas lagoas de efluentes brutos (sem estabilização). Observou-se que a maioria das plantas, nestas duas condições, não foram capazes de se estabe- lecer, não cumprindo com o objetivo esperado. Entretanto, passadas as condições de frio e utili- zando as plantas no estágio final de estabilização, verificou-se uma queda acentuada nos níveis de agentes contaminantes nocivos (metais pesados, por exemplo), os quais ficaram definitivamente associados à matéria fresca dos vegetais. Não se quer afirmar, neste caso, que o uso do Aguapé é a solução única e definitiva. Aliás, o problema dos materiais contaminantes ainda permanece quando se considera a produção de efluente bruto, sendo necessárias medidas miti- gadoras em nível de trabalhador (EPI´s). Mas, o que se quer destacar é o empreendedorismo da solução, a qual aliou os princípios de segurança do trabalho e os princípios de biorremediação, com o uso de espécies vegetais, reduzindo a contaminação ambiental e a exposição dos tra- balhadores aos agentes nocivos. Elaborado pelo autor, baseado em SCHERER, M.A.; COSTA, T.R. Uso de biorremediadores como instrumento de acompanhamento, de- tecção e redução de contaminação em lagoas de tratamento de efluentes – Estudo de caso. Artigo: Curso de Especialização MBA em Gestão Ambiental e Desenvolvimento Sustentável – Centro Universitário Cesumar. 2014. 17p. Pós-Graduação | Unicesumar 79 3 O GESTOR COM PESSOAS COMO AGENTE ATIVO NA SE-GURANÇA DO TRABALHO Professor Me. Tiago Ribeiro da Costa Plano de estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Perspectivas do tema “segurança do trabalho e saúde ocupacional” no contexto da gestão com pessoas • O papel do gestor com pessoas nas estratégias de conscientização e de capacitação dos atores envolvidos • Qualidade de vida no trabalho • A importância da segurança do trabalho ao gestor com pessoas como elemento de competitividade no mercado de trabalho objetivos de aprendizagem• Debater sobre a importância do Gestor com Pessoas no Contexto da Segurança do Trabalho. • Apresentar as perspectivas de atuação aplicada deste Gestor nos processos de capacitação e conscientiza- ção e na aplicação dos princípios de Qualidade de Vida no Trabalho. • Demonstrar a importância do aprendizado sobre da Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional no con- texto de ampliação da competitividade profissional no mercado de trabalho. Prezado aluno, finalmente chegamos à última unidade de nosso material. Infelizmente nossa caminhada está terminando, mas com certeza foi uma caminhada bastante prazerosa e elucidativa. Ao longo de nossas unidades anteriores, procuramos caracterizar os diferentes contextos ligados à prática laboral, obtendo subsídios suficientes para estabelecermos a importância em se executar esta mesma prática dentro de princípios seguros e salutares. Devemos continuar nosso esforço no aprendizado por mais algumas páginas, analisando as perspectivas que o tema “Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional” possui no contexto da Gestão com Pessoas. Em sequência, analisaremos a inserção dos princípios de Qualidade de Vida no Trabalho, inerentes tanto à área de Segurança do Trabalho como também à área de Gestão com Pessoas e, por fim, consta- taremos o quanto o conhecimento e a qualificação sobre o tema desta obra (Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional) amplia o poder de competitividade dos profissionais no mercado de trabalho. Verificaremos que as tendências que ligam as áreas do conhecimen- to estudadas apontam para o desenvolvimento de conhecimentos e de um “novo” Gestor com Pessoas, com visão e ações sistêmicas que extrapolam os limites de sua formação, neste caso, possuindo conhecimentos nas áreas de Gestão da Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional e Gestão da Qualidade. Você deseja ser este “novo” Gestor com Pessoas? Então acompanhe as discussões desta última unidade. Vamos lá? Seguranca no Trabalho 82 assim como o desenvolvimento profissional tende a formação de indivíduos com conhecimentos sis- têmicos e atitudes empreendedoras, as áreas do conhecimento, em especial as mencio- nadas ao longo deste material (Gestão com Pessoas e Segurança do Trabalho) possuem a tendência de serem analisadas de maneira imbricada, ou seja, sem barreiras entre si. Já lhe adianto que após a leitura desta unidade, você perceberá que já não é mais possível estudar ou falar somente sobre Gestão com Pessoas, ou somente sobre Segurança do Trabalho, ou ainda, falar sobre PERSPECTIVAS DO TEMA “SEGURANÇA DO TRABALHO E SAÚDE OCUPACIONAL” NO CONTEXTO DA GESTÃO COM PESSOAS os dois temas sem também mencionar sobre a Gestão de Qualidade, afinal, nenhum dos pressupostos das áreas de conhecimento discutidas tornar-se-iam reais sem o auxílio da Gestão da Qualidade. Esta é a tendência, não somente para estas três áreas, mas para as demais áreas do conhecimento. Pense que o “estado de arte” de nossa sociedade tem apresentado proble- máticas complexas, as quais não conseguem ser resolvidas pela aplicação dos conheci- mentos de maneira compartimentada. Mediante o exposto, passemos a discu- tir os temas desta unidade. Pós-Graduação | Unicesumar 83 ao se falar em estratégias de capacitação e de conscientização de empregados e empregadores, estaremos nos reportan-do diretamente a dois organismos dentro das empresas: O SESMT e a CIPA. O PAPEL DO GESTOR COM PESSOAS NAS ESTRATÉGIAS DE CONSCIENTIZAÇÃO E DE CAPACITAÇÃO DOS ATORES ENVOLVIDOS Seguranca no Trabalho 84 Não os trato (empregados, empregado- res e demais atores) como orientados ou clientes, devido a gama de conhecimen- tos empíricos, experiências e percepções de mundo, mas sim como parceiros de tra- balho. Assim como deve ocorrer na área de STSO, o desenvolvimento do trabalho do Gestor com Pessoas deve estar voltado às pessoas e por elas ser imponderado, ampliando as perspectivas de sucesso da ação. Além disso, assim como aprendi que ser um Engenheiro Agrônomo e Engenheiro de Segurança do Trabalho é, acima de tudo, ser um comunicador, entendo que o pro- fissional em questão também deve assumir esta função de comunica- dor e, acima disso, de animador dos processos, visto os inúme- ros entraves e dificuldades que este profissional encontrará para comunicar e capacitar trabalha- dores de perfis e histórias de vida tão diferentes. O SESMT – Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e Medici- na do Trabalho é regido pela NR 4, de mesmo título. Não são todas as empre- sas que são obrigadas a estabelecer este serviço. O Quadro II daquela NR apresenta o dimensionamento deste Serviço de acordo com o número de colaboradores nas empresas. São pro- fissionais inerentes ao SESMT: a) Enge- nheiro de Segurança do Trabalho; b) Médico do Trabalho; c) Enfermeiro do Trabalho; d) Técnico de Segurança do Trabalho; e) Técnico de Enfermagem do Trabalho; e, f ) Auxiliar de Enferma- gem do Trabalho. Por sua vez, a CIPA – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes é formada por representantes dos empregados e dos empregadores. São agentes ati- vos definidos pela NR 5, de mesmo título, que possuem por objetivo a prevenção de acidentes e doenças decorrentes do trabalho, de modo a tornar compatível permanentemente o trabalho com a preservação da vida e a promoção da saúde do trabalha- dor. Fonte: ATLAS, Segurança e Medicina do Trabalho. 69ª ed. São Paulo: ATLAS, 2012. 968p. Diante das propostas de capa- citação e conscientização, penso que o foco de atuação do Gestor com Pessoas, bem como dos profissionais de STSO deve se concentrar nos atores e não na es- trutura ou na técnica a ser repassada. Pós-Graduação | Unicesumar 85 Infelizmente, caro aluno, não consegui- ria lhe responder com 100% de precisão, afinal, precisaria conhece-lo mais a fundo para poder lhe orientar (e vontade não me falta). Apenas conseguiria lhe ensinar técni- cas e macetes neste processo. Ademais, não poderia lhe ensinar a se comunicar, pois isto é algo intrínseco a cada pessoa, algo que depende da experiência, dos saberes e da formação familiar de cada um. Assim, eis um conjunto de técnicas que podem lhe ajudar a se comunicar melhor: • Exercite sua dicção. Não confunda termos e seja claro em suas palavras; • Fale com calma e tente utilizar a chamada “Técnica Silvio Santos”, que consiste em falar sobre a mesma coisa de maneiras diferentes; Qual seria o meu papel, enquanto Gestor com Pessoas, considerando os processos de comunicação? Como devo me comu- nicar? • Apesar dos modelos pedagógicos apontarem para um modelo educacional horizontalizado nas práticas de capacitação, você deverá mostrar certa autoridade na condução e moderação das discussões (não confunda modelo participativo com bagunça); • Brinque, utilize o lúdico, faça seus parceiros na capacitação darem risada ou ficarem “chocados” com algum conhecimento que se queira passar. Geralmente na área de segurança do trabalho, ilustro a importância de se evitar um acidente tocando no “sentimento” das pessoas, exaltando os valores familiares e colocando imagens para reflexão, tanto dos acidentes, como cenas posteriores aos acidentes Seguranca no Trabalho 86 (velórios, crianças chorando, famílias tristes, etc.). Isto se configura como uma tentativa de ilustrar que o maior custo com os acidentes de trabalho não ficam para a empresa, ou para a vítima, mas sim para a família, que, por vezes, paga um custo para o resto da vida de não ter mais presente um ente querido (se você é uma pessoasentimental, você também se sentiu tocado com isso, não é?). • Não fale o “tecnicês” ou o “academicês”: Utilize termos simples e aproxime seu discurso de seus parceiros; • Antes de se comunicar, deixe seus parceiros se comunicarem e execute um diagnóstico dos mesmos, analisando qual o nível de conhecimento acerca do assunto que se quer trabalhar. Lembra-se de quando conceituamos a Segurança do Trabalho na Unidade II? Fiz-lhe uma pergunta prévia na Unidade I antes de iniciarmos esta discussão na Unidade II, de maneira que você chegou a esta discussão mais preparado. Você poderá fazer algo semelhante considerando este tópico; e, • A comunicação não é limitada por apenas um canal (voz). Utilize seu corpo, gesticule moderadamente para fazer com que seus parceiros, além de ouvir, enxerguem melhor aquilo que você está discutindo. Pós-Graduação | Unicesumar 87 conforme observamos na Unidade I, o desenvolvimento do Trabalho encon-tra-se paralelo à própria sobrevivência do ser humano, uma vez que este é a repre- sentação da capacidade de transformação do ambiente voltada ao atendimento de nossas necessidades. Verificamos ainda que, diante de um enfoque capitalista, todos os elementos envolvidos na prática do trabalho, especial- mente considerando o ser humano e sua capacidade laboral, tiveram valores atribu- ídos, ou seja, tornaram-se comercializáveis. Infelizmente, tal conceito também se faz presente quando se debate sobre a “Qualidade de Vida no Trabalho”. Mas, você deve estar pensando nos motivos que fizeram com que tenha lhe colocado desta forma, afinal, o QVT é uma estratégia tão necessá- ria e “bacana” por parte das empresas. De fato, muitas empresas tem adotado os princípios de QVT, mas, conforme afirma Vasconcelos (2001)1, muitos destes princí- pios ainda estão focados meramente no aumento de ganhos pecuniários. Trocando em miúdos, a ideia é que a QVT encon- tra-se instalada no ambiente de trabalho quando os colaboradores são justamente recompensados por seu árduo trabalho. Falácia! Este é somente um dos elementos da QVT e não necessariamente devem haver estes ganhos pecuniários. Aliás, a adoção 1 VASCONCELOS, A.F. Qualidade de vida no trabalho: Origem, evolução e pers- pectivas. caderno de Pesquisas em administração. 8(1): 23-35. 2001. QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO Seguranca no Trabalho 88 destas estratégias torpes é que faz com que as verdadeiras estratégias de Qualidade de Vida no Trabalho sejam encaradas como apenas mais um ônus ao empregador, o que justifica a frase que utilizei há alguns parágrafos. Ademais, é válido salientar que a QVT não é um tema recente. Rodrigues (1999)2 aponta que a QVT sempre esteve presente no desenvolvimento da prática laboral humana, com outros títulos e em outros contextos. Segundo aquele autor, os próprios ensinamentos de Geometria de Euclides de Alexandria, que datam de 300 a.C. serviram como inspiração para a melhoria dos métodos de trabalho na agri- cultura às margens do Rio Nilo, no Egito. Da mesma forma, Rodrigues (1999) também cita o exemplo da Lei das Alavancas de Arquimedes, formulada 13 anos depois (287 a.C.), a qual foi utilizada na diminuição do esforço físico de muitos trabalhadores. Vasconcelos (2001) ainda aponta que a QVT, enquanto objeto de estudo das grandes áreas do conhecimento, foi ava- liada por muitos pesquisadores durante o Século XX (pós estado de crise provocado pela Revolução Industrial do século XIX, por- tanto). O Quadro 5 apresenta a evolução de conceitos ligados à Qualidade de Vida no Trabalho: 2 RODRIGUES, M.V.C. Qualidade de vida no trabalho: evolução e análise no nível gerencial. 1ª ed. Petrópolis: VOZES, 1999. Quadro 5 – Evolução do conceito de Qualidade de Vida no Trabalho coNcepções evoLução Do qvt caRacteRísticas ou visão 1. QVT como uma variável (1959 a 1972) Reação do indivíduo ao trabalho. Investigava-se como melhorar a qualidade de vida no trabalho oara o indivíduo. 2. QVT como uma abordagem (1969 a 1974) O foco era o indivíduo antes do resultado organizacional; mas ao mesmo tempo, busca-se traser melhorias tanto ao empregado à direção. 3. QVT como um método (1972 a 1975) Um conjunto de abordagens, métodos ou técnicas para melhor o ambiente de trabalho e tomar o trabalho mais produtivo e mais satisfatório. QVT era vista como si- nônimo de grupos autônomos de trabalho, enriquecimento de cargo ou desenho de novas plantas com integração social e técnica. 4. QVT como um movimento (1975 a 1980) Declaração ideológica sobre a natureza do trabalho e as relações dos trabalhadores com a organi- zação . Os termos “ administração participativa” e “democracia industrial” eram frequentemente ditos como ideias do movimento de QVT. 5. QVT como tudo (1979 a 1982) Como panacéia contra a com- petição estrangeira estrangeira, problemas de qualidade, baixas taxas de produtividade, proble- mas de queixas e outros proble- mas organizacionais. 6. QVT como nada (futuro) No caso de alguns projetos de QVT fracassarem no futuro, não passará de um”modismo” passageiro. Fonte: NADLER & LAWLER apud. FERNANDES (1996, pg. 42)3. 3 FERNANDES, E. Qualidade de vida no trabalho: como medir para melho- rar. Salvador: CASA DA QUALIDADE EDITORA LTDA., 1996. Pós-Graduação | Unicesumar 89 Um dos experimentos mais famosos datam das décadas de 1920 a 1940, executados por Helton Mayo. Estes expe- rimentos ocorreram na empresa Western Eletric Company (Hawthorne, Chicago – EUA) e visaram basicamente modificar os postos de trabalho de um grupo amostral de traba- lhadoras daquela companhia. Os novos postos de trabalho encontra- vam-se próximos fisicamente da chefia e alguns benefícios foram ofertados à estas tra- balhadoras no sentido de expressão de ideias e de intercomunicação durante a prática laboral. Os resultados de tal experimento apontaram para um repentino aumento de produtividade e definiram, ao menos primor- dialmente, quais os fatores que deveriam ser levados em conta no que concerne ao esta- belecimento de um ambiente que oferta a Qualidade de Vida no Trabalho. Outros trabalhos paralelos e posteriores foram realizados e em muito contribuíram para o entendimento dos fatores possibili- tam a criação de um ambiente de trabalho com qualidade de vida. Maslow e sua Teoria das Necessidades e McGregor, com sua teoria X são exemplos destes estudos. A avaliação de ambas as teorias, em especial, a Teoria X de McGregor, nos faz concluir que o compromisso do ser humano com os objetivos empresariais depende basi- camente das recompensas ofertadas (não necessariamente pecuniárias). A oferta destas recompensas faz com que o ser humano não somente aceite as respon- sabilidades como também faz com que ele as procure, conforme observado por Ferreira, Reis e Pereira (1999)4. Posteriormente aos estudos de Maslow e McGregor, Frederick Herzberg realizou suas considerações sobre o tema Qualidade de Vida no Trabalho, definindo com mais clareza o conjunto de fatores que deterioram a QVT no ambiente de trabalho. Segundo Herzberg, apud. Vasconcelos (2001), os fatores higiê- nicos capazes de produzir insatisfação ao trabalhador compreendem: a. A política e a administração da empresa; b. As relações interpessoais com os supervisores; c. A própria supervisão dos trabalhos; d. As condições de trabalho; e. O salário; f. O status; e, g. A segurança no trabalho. Por sua vez, ainda de acordo com este estudo,os fatores motivadores, ou aqueles capazes de gerar satisfação aos trabalhadores são: a. Capacidade de realização; b. Reconhecimento; c. O próprio trabalho (prazer na prática laboral); d. Sensação de responsabilidade; e, e. Possibilidade de progresso ou desenvolvimento de carreira. 4 FERREIRA, A.A.; REIS, A.C.F.; PEREIRA, M.I. Gestão empresarial: De taylor aos nossos dias. evolução e tendências da moderna administração de empresas. São Paulo: PIONEIRA, 1999. Seguranca no Trabalho 90 Este experimento de Herzberg nos faz refletir, não é caro aluno? Afinal desmistifi- camos de uma vez por todas que o salário ou ganhos pecuniários não são o principal fator gerador de satisfação ou de insatisfa- ção com o trabalho. Antes disso, questões ligadas ao ambiente de trabalho e às rela- ções interpessoais, especialmente quando consideramos as relações hierárquicas, são fundamentais ao desenvolvimento de um estado de plenitude quanto à Qualidade de Vida no ambiente de trabalho. Diria que este é um ponto de partida para a própria ação dos Gestores com Pessoas, afinal esta discussão inicial sobre QVT foi rea- lizada justamente neste sentido, de esclarecer que QVT não implica somente na melhoria das condições salariais. O Brasil atualmente tem despontado com um dos países que mais investem em Qualidade de Vida no Trabalho. Ademais, vale dizer que a QVT também é um dos pilares que susten- tam a própria Segurança do Trabalho e a Saúde Ocupacional. Veja o ranking dos países que apresentaram os melhores índices de qualidade de vida no trabalho. RaNkiNg De quaLiDaDe De viDa poNtuação 1. Méchico 153 2. Brasil 151 3. China 145 4. Índia 139 5. África do Sul 135 6. Austrália 129 7. Estados Unidos 123 8. Holanda 120 9. Canadá 113 10. França 109 11. Japão 105 12. Bélgica 104 13. Reino Unido 104 14. Alemanha 95 Fonte: ABRANTES, T. Qualidade de vida no trabalho no Brasil é a que mais cresceu em dois anos. Disponível em: <http://exame.abril.com.br/carreira/noticias/qualidade-de-vida- no-trabalho-no-brasil-e-a-que-mais-cresceu-em-2-anos>. Acesso em: 08 Ago. 2014. Pós-Graduação | Unicesumar 91 Aliás, as próprias áreas do conhecimento que convergem à QVT, lhe prestando im- portantes contribuições ao seu estudo, nos informam a respeito dos focos que devemos ter ao analisarmos o ambiente de trabalho. Estas áreas são, segundo Albuquerque e França (1997)5: • Saúde: Tem contribuído com estudos que visam a preservação da integridade física, mental e social do ser humano, portando-se como preventiva, além de corretiva. • Ecologia: O homem no ambiente de trabalho é integrante e responsável pela preservação do sistema que a ele se coloca. Como este ser humano faz parte do mesmo, o sistema pode ser flexibilizado por suas ações, lhe gerando maior qualidade de vida na execução de seu trabalho. • Ergonomia: Analisa e adapta o meio de trabalho, especialmente equipamentos, materiais e instalações, ao trabalhador. • Psicologia: Amplia os princípios de QVT em sua alçada, demonstrando a influência das atitudes internas e das perspectivas de vida de cada pessoa em seu trabalho. A psicologia tem avaliado ainda a importância pessoal do trabalho e as necessidades individuais, equalizando-as à prática laboral. 5 ALBUQUERQUE, L.G.; FRANÇA, A.C.L. Estratégias de recursos humanos e gestão da qualidade de vida no trabalho: O stress e a expansão do conceito de quali- dade total. revista de administração. 33(2): 40-51, 1998. • Sociologia: Em QVT, tem resgatado a dimensão simbólica do que é compartilhado e construído socialmente, considerando os diferentes saberes, princípios e culturas. • Economia: Aproxima a QVT dos princípios de sustentabilidade, uma vez que considera que todos os recursos são finitos. Nesta ótica, torna-se necessário a distribuição e o compartilhamento dos materiais e da estrutura do ambiente de trabalho, exercitando o equilíbrio, a responsabilidade e os direitos de sociedade. • Administração: Amplia a capacidade de mobilizar recursos para atingir os resultados, considerando ambientes de trabalho cada vez mais complexos, mutáveis e competitivos. • Engenharias: Contribuem com a QVT no sentido de elaborar formas produtivas flexíveis, com a utilização de tecnologias para o trabalho e para o controle dos processos. Diante desta discussão, você foi capaz de perceber como a QVT é complexa e foge do senso comum ligado somente ao salário ou somente às questões de saúde. Perceba que diante deste cenário, torna-se amplamente necessária a figura de um animador, comu- nicador e articulador dos processos, com competências e conhecimentos que estão muitas vezes distantes dos profissionais de Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional. Seguranca no Trabalho 92 Assim, o Gestor com Pessoas é o pro- fissional responsável, em conjunto com os profissionais de Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional, bem como com os demais colaboradores da empresa pela apli- cação coordenada das categorias conceituais de Qualidade de Vida no Trabalho. Quadro 6 – Categorias conceituais de Qualidade de Vida no Trabalho cRitéRios iNDicaDoRes De qvt 7. Compensação justa e adequada Equidade interna e externa Justiça na compensação Partilha de ganhos de produtividade 8. Condições de trabalho Jornada de trabalho razoável Ambiente físico seguro e saudável Ausênsia de insalubridade 9. Uso e desenvilvimento de capacidades Autonomia Autocontrole relativo Qualidades mútiplas Informações sobre o processo total do trabalho 10. Oportunidade de cres- cimento e segurança Possibilidade de carreira Crescimento pessoal Perspectiva de avanço salarial Segurança de emprego 11. Intergração social na organização Ausência de prexonceitos Igualdade Mobilidade Relacionamento Senso Comunitário 12. Constitucionalismo No caso de alguns projetos de QVT fracassarem no futuro, não passará de um”modismo” passageiro. 13. O trabalho e o espaço total de vida Papel balanceado no trabalho Estabilidade de horários Poucas mudanças geográficas Tempo para lazer da família 14. Relevância social do traebalho na vida Imagem da empresa Responsabilidade social da empresa Responsabilidade pelos produtos Práticas de emprego Fonte: Walton, apud. Fernandes (1996, pg. 48). Walton, citado por Fernandes (1996, pg. 48), apresenta oito categorias conceituais, ou critérios de Qualidade de Vida no Trabalho, que deverão ser avaliados e aplicados nos di- ferentes ambientes de trabalho. Tais critérios e seus respectivos indicadores, encontram- se dispostos no Quadro 6 a seguir: Professor, quais são então estas categorias con- ceituais que eu devo conhecer para aplica-las em minha prática profissional? Pós-Graduação | Unicesumar 93 Infelizmente existe uma grande dis- tância entre os princípios de Qualidade de Vida no Trabalho e a realidade. Conforme Albuquerque, citado por França e Assis (1995, pg. 28)6: “(...) existe uma grande distância entre o discurso e a prática. Filosoficamente, todo mundo acha importante a implantação de programas de QVT, mas na prática pre- valece o imediatismo e os investimentos de médio e longo prazo são esquecidos. Tudo está por fazer. A maioria dos progra- mas de QVT tem origem nas atividades de saúde e segurança do trabalho e muitos nem sequer se associam a programas de qualidade total ou de melhoria do clima organizacional. QVT só faz sentido quando deixa de ser restrita a programas internos de saúde ou lazer e passa a ser discuti- da em um sentido mais amplo, incluindoqualidade das relações de trabalho e suas consequências na saúde das pessoas e da organização”. Este trecho acima citado pode resumir a ideia sobre as dificuldades que você encontrará ao tentar implantar os princípios de QVT em sua atividade profissional. São muitas as barreiras de ordem conceitual (nem todos conhecem todas as dimensões da QVT), de ordem fi- nanceira (nem todas as empresas querem 6 FRANÇA, A.C.L.; ASSIS, M.P. Projetos de qualidade de vida no traba- lho: Caminhos percorridos e desafios. RAE Light. 2(2): 26-32, 1995. arcar com os custos da implantação de tais programas, considerando que os resultados dos mesmos só aparecem em médio e longo prazo), de ordem cultural (a manutenção do status quo das lideranças engessando a inter- pessoalidade dentro de uma empresa), além de dificuldades estruturais (as empresas ra- ramente possuem estruturas outras que não sejam produtivas). Contudo, dada a importância da Qualidade de Vida no Trabalho e seus be- nefícios, torna-se amplamente necessário que os atuais paradigmas sejam revistos. Conforme o último trecho citado, não se pode falar em Qualidade Total em uma empresa sem se falar em QVT. Parafraseando- a, não se pode falar em Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional e muito menos em um processo de Gestão de Pessoas sem mencionar, implantar e con- solidar os princípios de QVT na vida da empresa e de seus colaboradores. Nossa intenção ao discutir sobre QVT é apresentar mais um nicho de mercado para sua futura atuação. Contudo, não é nossa intenção esgotar o assunto, afinal, ainda existiriam muitos outros aspectos que poderiam ser discutidos. Portanto, para ampliar seu aprendizado e suas visões acerca da Qualidade de Vida no Trabalho, Seguranca no Trabalho 94 Após finalizarmos nosso entendimento sobre Qualidade de Vida no Trabalho, nos resta discutir sobre o último tópico desta unidade, o qual versa sobre a importância da Segurança do Trabalho ao Gestor com Pessoas como elemento de competitividade no mercado de trabalho. Vamos continuar nossos estudos? Em minhas práticas na docência em nível presencial, tenho observado que a prá- tica confirma a teoria. Meu Professor de Extensão Rural, o qual até hoje mantenho amizade, afirmara que o ser humano, em condições normais, só consegue prestar atenção em uma informação por cerca de sete minutos. Finalizado este tempo, al- guma estratégia deveria ser aplicada no sentido de ter novamente a atenção desta pessoa. Resolvi praticar alguns dos princípios de Qualidade de Vida no Trabalho, inserindo a ginástica laboral em minhas aulas. Não satisfeito, decidi estudar o comportamento dos alunos antes e depois das ginásticas, aplicando-lhes pequenos testes para ave- riguação de sua atenção durante as aulas. Tive sucesso, pois 86% dos alunos avaliados responderam corretamente a um teste psi- cológico o qual demandava atenção para obtenção de acertos. Esta experiência per- mitiu concluir que as ações de QVT estabe- lecem a execução mais precisa e prazerosa da prática laboral (neste caso, da prática do estudo). Fonte: Elaborado pelo autor, baseado em fatos reais. apresento-lhe, ao final desta unidade, duas leituras complementares que abordam as- pectos e atualidades sobre a QVT. Ademais, também apresento sugestões de literaturas que são basilares a quem pretende atuar no setor de Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional e de Gestão de Pessoas. Por último, peço para que você acompanhe as sugestões de vídeos, os quais reforçarão os conceitos de QVT e apresentarão sua apli- cação prática. Acesse estes conteúdos ao final de nossa unidade, ok? Pós-Graduação | Unicesumar 95 Segundo a reportagem de capa da Revista ISTO É, de 26 de Abril de 2012, intitulada “O profissional que o mercado quer”, o mundo do trabalho vive sua maior transformação desde a Revolução Industrial e busca um novo tipo de pessoas. Agora o que vale mais é ter formação diver- sificada, ser versátil, autônomo, conectado e dono de um espírito empreendedor (RUBIN, 20127). Em outras palavras, dominar os conhe- cimentos de apenas uma área ou curso é pouco válido. Ainda mais considerando uma área tão competitiva como a da Gestão com Pessoas. 7 RUBIN, D. O profissional que o mercado quer. iSto É [on line]. 2212 ed., São Paulo: ABRIL, 2012. Disponível em: <http://www.istoe.com.br/reporta- gens/196912_O+PROFISSIONAL+QUE+O+MERCADO+QUER>. Acesso em: 17. Jun. 2012. A tendência do mercado é que os pro- fissionais passem a desenvolver um enfoque sistêmico acerca de suas demandas. Há pouco, discutíamos sobre os sistemas de gestão empresariais e ressaltamos o fato de que estes sistemas deveriam convergir e in- teragir entre si, considerando que possuem a mesma base e respeitando as tendências de mercado. Somente o Gestor com Pessoas, sem maiores conhecimentos sobre a Gestão de Qualidade e sobre os princípios de Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional não será capaz de atender as futuras demandas de um mercado em expansão. Conforme já abordado em momentos an- teriores, a atuação do Gestor com Pessoas no A IMPORTÂNCIA DA SEGURANÇA DO TRABALHO AO GESTOR COM PESSOAS COMO ELEMENTO DE COMPETITIVIDADE NO MERCADO DE TRABALHO Seguranca no Trabalho 96 Sistema de Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional está limitada pelas atribuições dos profissionais oficiais (definidos pela NR 4 – Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho), ou seja, este gestor não se encontra habilitado, por exemplo, para elaborar e ser o responsável técnico de um PCMAT. Todavia, nada impede que este profissio- nal tenha o conhecimento dos mecanismos e ferramentas da Segurança do Trabalho para auxiliar na aplicação das mesmas. No início deste material, utilizei o termo “bureau” para me referir ao Sistema de Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional, em alusão ao significado de conjunto de pro- fissionais, técnicas e conhecimentos acerca de um determinado assunto. E de fato é isso que se espera de um profissional da área de Gestão com pessoas: Participação e proa- tividade em conhecer os mecanismos da Segurança do Trabalho. Por isso que lhe in- centivei ao longo do material a acompanhar as leituras complementares, visitar endere- ços de páginas de internet com conteúdo relacionado, a desenvolver conceitos utili- zando o raciocínio, ou seja, aos poucos, neste material, treinamos nosso cognitivo, nossa inteligência. Aliás, certo dia ouvi de um bom mestre: “A Inteligência é a capacidade do ser humano em buscar soluções para aquilo que ele não conhece ou não entende”. Você conhecia ou entendia sobre todos os princípios co- mentados neste material? Provavelmente não, mas, muito mais você aprendeu do que eu lhe ensinei, por que antes de lhe ensinar o assunto propriamente dito, nos abastecemos de argumentos e trabalha- mos densamente os conceitos que orbitam o assunto principal. Tanto isto é verdade que fomos capazes de definir o tema Segurança do Trabalho sem conhecer uma definição de algum outro autor e verificamos que os conceitos que de- senvolvemos, de fato, eram válidos. Pós-Graduação | Unicesumar 97 Voltando a nossa discussão do momento, portanto, treinamos em con- junto o exercício de nossa inteligência que, junto com o empreendedorismo, a proa- tividade, a capacidade de comunicação e Uma determinada instituição financeira fora alvo de pesquisa, baseada no Modelo de investigação de QVT de Walton. O objeti- vo da pesquisa foi identificar a existênciada relação entre a QVT e seu Desempenho organizacional. A análise das respostas obtidas através de 27 respondentes identificou uma significativa insatisfação por parte dos funcionários refe- rentes à compensação financeira oferecida pela empresa e à segurança no trabalho. Já as variáveis “Condições de Trabalho e Rele- vância do Trabalho” foram as que obtiveram as melhores avaliações por parte dos cola- boradores entrevistados, refletindo pontos fracos e fortes da instituição, que podem ser trabalhados de maneira a gerar um ambien- te mais saudável e produtivos. Supõe-se que este seria um cenário propício à ocorrência de acidentes de trabalho derivados do des- gaste sofrido pelos trabalhadores. Fonte: GALEANO, R.; VIEIRA, E.A.; ARAÚJO, K. A qualidade de vida no trabalho como fator de influência no desempenho organi- zacional. Disponível em: <http://www.ead. fea.usp.br/semead/11semead/resultado/ trabalhosPDF/759.pdf>. Acesso em: 10 Ago. 2014. o conhecimento amplo e sistêmico, são capacidades demandadas pelo mercado de trabalho. Espero que com estas infor- mações valiosas, você consiga ser bem sucedido em sua profissão. Seguranca no Trabalho 98 Nesta última unidade de nosso material você teve a possibilidade de perceber quais são as perspectivas do tema Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional no contexto da Gestão com Pessoas sob três enfoques: Comunicação e Animação dos processos, Qualidade de Vida no Trabalho e Ampliação de competitividade profissional. Verificamos que nos três enfoques as áreas do conhecimento abordadas (Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional e Gestão com Pessoas) tornaram-se indissociáveis, não sendo possível avaliar uma problemática sob o enfoque isolado de uma destas ciências. Também verificamos a forte ligação do tema Segurança do Trabalho com o tema Qualidade de Vida no Trabalho. A Qualidade de Vida no Trabalho, conforme observamos, transcende a aplicação de técnicas espe- cíficas à cada caso, avançando no sentido de aproximar do profissional as condições pessoais ideais para a prática laboral, am- plificando sua produtividade por meio do bem estar físico e mental dos colabora- dores. Ademais, vale dizer que os custos operacionais das empresas com absenteísmo derivado de acidentes ou de instabilidades físicas e emocionais dos trabalhadores é re- duzido drasticamente. Por fim, tecemos uma análise crítica quanto à formação profissional do Gestor com Pessoas, destacando a inteligência, o empreendedorismo, a proatividade, a capa- cidade de comunicação e o conhecimento amplo e sistêmico como qualidades deman- dadas pelo mercado de trabalho. Ademais, este conhecimento amplo e sistêmico abarca diferentes áreas do co- nhecimento e raramente encontramos no mercado de trabalho profissionais que sejam antenados na área de Segurança do Trabalho. Verificam-se muitos profissionais com conhe- cimentos isolados e nossa prática de estudos, por meio deste material, visou justamente o contrário: Quero que você se forme com sua visão crítica e sistêmica desenvolvida, inte- grando os conhecimentos das duas áreas trabalhadas neste material para que você possa ser um profissional responsável e de sucesso. Considerações Finais Pós-Graduação | Unicesumar 99 Atividade de Autoestudo 1. O tema “Qualidade de Vida no Trabalho” é complexo e foge do senso comum ligado somente ao salário ou somente às questões de saúde. Para o entendimento de todos os fatores ligados à QVT, torna-se necessária a adoção de enfoques relacionados à diferentes ciências. Sobre estas diferentes ciências, assinale a alternativa que apresenta a associação correta entre a ciência e sua descrição ou contribuição relacionada à QVT. a. ( ) Administração: Em QVT, tem resgatado a dimensão simbólica do que é compartilhado e construído socialmente, considerando os diferentes saberes, princípios e culturas. b. ( ) Psicologia: Amplia os princípios de QVT em sua alçada, demonstrando a influência das atitudes internas e das perspectivas de vida de cada pessoa em seu trabalho. A psicologia tem avaliado ainda a importância pessoal do trabalho e as necessidades individuais, equalizando-as à prática laboral. c. ( ) Sociologia: Contribuem com a QVT no sentido de elaborar formas produtivas flexíveis, com a utilização de tecnologias para o trabalho e para o controle dos processos. d. ( ) Engenharias: Tem contribuído com estudos que visam a preservação da integridade física, mental e social do ser humano, portando-se como preventiva, além de corretiva. e. ( ) Ecologia: Analisa e adapta o meio de trabalho, especialmente equipamentos, materiais e instalações, ao trabalhador. 2. No campo da Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional, considera-se como parte das estratégias de prevenção de riscos a adoção de visões pluralistas advindas de profissionais de diferentes áreas. Assim, para a formação do chamado “bureau” de Segurança e Saúde no Trabalho, considera-se a presença não somente dos atores oficiais (profissionais ligados ao SESMT), mas também de profissionais de outras áreas. Sobre a atuação do profissional formado no curso de MBA em Gestão com Pessoas na área de Segurança do Trabalho, assinale a alternativa correta. Seguranca no Trabalho 100 a. ( ) É função deste profissional, de acordo com a NR-03, cumprir e fazer cumprir, em conjunto aos demais profissionais da área de Segurança e Medicina do Trabalho, o disposto nas Normas Regulamentadoras ou em outros instrumentos equivalentes. b. ( ) O profissional formado na área de Gestão com Pessoas, além de articulador dos processos, tem atribuições que lhe permitem atuar nos processos de perícias e auditorias, especialmente nos casos onde existam dúvidas quanto à percepção dos adicionais de insalubridade e/ou periculosidade. c. ( ) Para todos os efeitos, o profissional formado em Gestão com Pessoas não possui o poder legal de assumir a responsabilidade técnica quanto ao cumprimento do disposto nas Normas Regulamentadoras e em outros dispositivos de Segurança do Trabalho. Contudo, possui um importante papel no campo da articulação entre os atores envolvidos com a prática laboral, da comunicação e expressão e em algumas áreas correlatas à Psicologia do Trabalho, especialmente aquelas ligadas à processos motivacionais das equipes de trabalho e organizacionais. d. ( ) A alternativa “a” estaria correta caso o trecho “cumprir e fazer cumprir” estivesse referenciado à Lei 6.514/77, Artigo n°. 157, e não a NR- 03. e. ( ) Nenhuma das alternativas anteriores encontra-se correta. Pós-Graduação | Unicesumar 101 Livro Título: Stress e qualidade de vida no trabalho: Perspectivas atuais da saúde ocupacional. 1ª ed. Autor: STEVEN L. SAUTER/ PERREWE/ ROSSI Editora: ATLAS Sinopse: Este livro aborda tópicos importantes nas áreas de stress, saúde ocupacional e qualidade de vida, reunindo um grupo multidisciplinar de especialistas que fornecem análises aprofundadas sobre o tema. Pelo fato de o stress no trabalho Ter se formado em uma preocupação mundial, este livro assume uma perspectiva verdadeiramente internacional sobre o stress ocupacional e o bem-estar dos colaboradores. A obra apresenta temas do que é atualmente uma literatura em expansão que visa atender as causas, os efeitos e a prevenção do stress no local de trabalho. Começa com três capítulos sobre as diferentes fontes de stress ocupacional, abordandode fatores organizacionais a atributos dos próprios trabalha- dores. Os cinco capítulos seguintes atualizam a compreensão sobre os efeitos adversos que o stress pode ter sobre os indivíduos, suas famílias e as organizações. O último grupo de capítulos do livro tem um tom mais positivo, avaliando os benefícios de ambientes de trabalho saudáveis e formas de superar a prevenir o stress no trabalho. Livro Título: Qualidade de vida no trabalho – QVT: Conceitos e práticas nas empresas da sociedade pós-in- dustrial. 2ª ed. Autor: Ana Cristian Limongi-Franca Editora: ATLAS Sinopse: Esta obra busca novos paradigmas na administração de empresas por meio de três vetores con- ceituais nas questões de Qualidade de Vida no Trabalho (QVT). As escolas de pensamento, os indicadores empresariais BPSO (Biológicos, Psicológicos, Sociais e Organizacionais) e os fatores críticos de gestão. O intenso trabalho de pesquisa visou a uma nova Modelagem Conceitual, com base nas Interfaces da Gestão da Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) da administração de empresas. Os conceitos aqui tra- tados foram construídos com base na combinação do método quantitativo - utilizando-se a análise documental e do estudo quantitativo exploratório - por meio de pesquisa de campo com adminis- tradores, alunos e professores da área de Administração e ampla análise documental, inclusive com alunos do MBA-RH (FIA) em convênio com a USP, em projeto de pesquisa de livre-docência da autora. Livro Título: Extensão ou Comunicação? 6. ed. Autor: FREIRE, P. Editora: PAZ E TERRA, Sinopse: Uma das maiores contribuições de Paulo Freire para o desenvolvimento de ações em conjunto com Agricultores e Agricultoras Familiares encontra-se no livro “Extensão ou Comunicação?”. Por meio da discussão estabelecida neste material, o leitor é levado a problematizar sobre o seu papel, como agente de desenvolvimento, no sentido de promover os processos comunicativos dialogados na mesma linguagem do agricultor, considerando seus saberes, costumes e identidade. Trata-se de uma leitura obrigatória a todos os profissionais que desenvolvem ações em conjunto com estes atores sociais. Seguranca no Trabalho 102 Qualidade de vida no trabalho: Trata-se de um vídeo que apre- senta didaticamente os principais conceitos relacionados à Qualidade de Vida no Trabalho - http://www.youtube.com/ watch?v=qoxW13XryFM VT Qualidade de Vida no Trabalho – Caso Johnson & Johnson: Trata-se de um vídeo institucional o qual apresenta a aplicação dos princípios de QVT em uma empresa do ramo de higiene pessoal - http://www.youtube.com/watch?v=OOWmokQdnjE Web Pós-Graduação | Unicesumar 103 relato de caso O transporte de cargas é um dos segmentos mais importantes para o desenvolvimento do Brasil, pois é através dele que se faz chegar a matéria prima nas indústrias e o produto final ao consu- midor. Dentre as inúmeras cargas transportadas pelas nossas rodovias encontram-se os produtos perigosos, sem os quais seria inviável a produção de bens de consumo. Os riscos de desastres com produtos perigo- sos acontecem entre os desastres humanos de natureza tecnológica, podendo localizar-se no Transporte Rodoviário, Aeroviário, Ferroviário, Marítimo, Fluvial ou Lacustre, no Deslocamento por Dutos, e em muitos outros locais onde ocorre o uso ou manuseio de produtos perigosos. Os acidentes com produtos perigosos que ocorrem durante o seu transporte, armazena- gem ou manuseio requerem das pessoas, que possuam contato direto e indireto no processo, conhecimentos gerais e específicos para evita- rem sinistros. O acidente ocorre todas as vezes que se perde o controle sobre o risco, resultado em extravasamento, causando danos humanos, materiais e ambientais. Considera-se produto perigoso toda substância com propriedades físico-químicas como toxicida- de, corrosividade, inflamabilidade e outras que podem causar danos à saúde das pessoas, desor- dem ou destruição do meio ambiente e prejuízos ao patrimônio de terceiros. Esses produtos estão agrupados em nove classes de risco, identificados, nos veículos, por painéis de segurança e rótulos de risco. Diante da necessidade de se transportar tais cargas, é conveniente afirmar que o conhecimen- to sobre a tipologia da carga bem como sobre suas características físico-químicas e sobre as ações para contenção de catástrofes é extremamente válido aos profissionais da área de Gestão, em es- pecial os Gestores com Pessoas. Pode-se dizer que em uma empresa que preten- da ser referência no mercado, a existência de um Gestor com capacidade de multiplicar tais conhe- cimentos promove não somente a defesa dos recursos naturais, mas também a própria segu- rança do trabalho. O presente estudo revelou que as empresas que investem em um sistema de gestão integrada em seus transportes, considerando a gestão ambien- tal, de pessoas, de qualidade e da segurança do trabalho, reduzem seus custos operacionais em 48%, considerando a comparação com empresas que não adotam procedimentos que possam ser característicos das respectivas gestões. Da mesma forma, os dados revelados por este estudo indicam que o investimento em gestão integrada valoriza os papéis das empresas que possuem ações nas bolsas de valores, em especial, as empresas logísticas de maior porte. É válido salientar que estes processos de gestão integra- da são de competência do Gestor com Pessoas, levando-se em conta que 35% das empresas ava- liadas no caso possuíam este profissional em seu bureau de planejamento. Desta forma, avalia-se como positiva a ação deste profissional nos casos avaliados por meio deste trabalho, da mesma forma que se avalia como necessária a multiplicação de conhecimentos sobre estratégias de segurança e contenção de catástrofes nos transportes de cargas perigosas. Elaborado pelo autor, baseado em SILVA, E.M.; COSTA, T.R. Transporte e armazenamen- to de cargas perigosas. Monografia: Curso de Especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho – Universidade Estadual de Maringá. 2014. 70p. Seguranca no Trabalho 104 Prezado aluno do curso de MBA em Gestão com Pessoas, a produção do livro “Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional” apresenta- se como uma humilde contribuição literária aos seus estudos e ao seu futuro exercício pro- fissional. Por meio desse material, muitos dos conceitos e do conhecimento acerca deste tema estratégico foram tratados, sempre com um foco realista e interdisciplinar. Espero que você possa ter construído o conhecimento sobre a importância, as ações, os atores envolvidos e as perspectivas sobre os assuntos abordados e, se você realmen- te conseguiu este intento, terei cumprido minha missão em auxiliá-lo em sua jornada. Contudo, sei que muitos conceitos e muitas das discussões realizadas neste ma- terial não se acabam por aqui, podendo gerar novas dúvidas. Se você leu atenta- mente este material, e possui um espírito CONCLUSÃO empreendedor, você certamente irá gostar de ter estas dúvidas e de estar em frente aos novos desafios, ou seja, você terá a atitude necessária para descobrir mais sobre este mundo tão vasto e complexo da Segurança do Trabalho. Estarei sempre a sua disposição para lhe ajudar nesses assuntos. Entre em contato em caso de dúvidas e sugestões, por meio do en- dereço: tiago.costa@unicesumar.edu.br. Será um prazer conversar com você! Desejo lhe encontrar em uma próxima oportunidade para novamente construirmos o conhecimento. Um grande abraço! Prof. Tiago Ribeiro Eng. Agrônomo, Eng. de Segurança do Trabalho, Me. Professor Assistente – NEAD UniCesumar Pós-Graduação | Unicesumar 105 ABRANTES, T. Qualidade de vida no tra- balho no Brasil é a que mais cresceu em dois anos. Disponívelem: <http:// exame.abril.com.br/carreira/noticias/ qualidade-de-vida-no-trabalho-no-brasil-e -a-que-mais-cresceu-em-2-anos>. Acesso em: 29. Jul. 2012. ALBUQUERQUE, L.G.; FRANÇA, A.C.L. Estratégias de recursos humanos e gestão da qualidade de vida no trabalho: O stress e a expansão do conceito de qualidade total. revista de administração. 33(2): 40-51, 1998. ATLAS, Segurança e Medicina do trabalho. 69ª ed. São Paulo: ATLAS, 2012. 968p. BRASIL, constituição da república Federativa do Brasil, de 5 de outubro de 1988. Brasília, 1988. Disponível em: <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em 11. Mai. 2012. ______, lei n. 5.452 de 1° de Maio de 1943. aprova a consolidação das leis do trabalho. 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