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AULA 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NEUROCIÊNCIA E 
COMPORTAMENTO 
HUMANO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Angela Christine Gosch 
 
 
 
 
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TEMA 1 – NEUROCIÊNCIA 
A neurociência é a ciência que estuda o sistema nervoso nos mais diversos 
níveis de complexidade, buscando abranger as suas funções na íntegra, bem 
como suas relações com as funções orgânicas, desde a célula até o corpo como 
um todo e com o comportamento humano (Kandel; Schwartz; Jessell, 2000). 
A neurociência é um estudo complexo e é uma tendência da evolução, pois 
envolve uma questão multidisciplinar, englobando tudo que cerca o sistema 
nervoso e suas implicações na vida de uma pessoa. Há que se considerar que o 
sistema nervoso está no comando de tudo: do pensamento, da memória, de 
nossos movimentos, das paixões, afetos e desafetos e tudo o mais que envolve o 
ser humano (Kandel; Schwartz; Jessell, 2000). 
Observa-se um campo de conhecimento e estudo muito amplo, pois 
envolve a compreensão do sistema nervoso em cada um de seus pormenores e 
suas correlações com as funções do corpo humano, quer sejam motoras, quer 
sejam cognitivas ou emocionais (Kandel; Schwartz; Jessell, 2000). 
Considerado atual, complexo e interdisciplinar que envolve a integralidade 
do ser humano, o conteúdo abrangido por esse tema envolve a biologia com a 
composição básica do corpo humano em nível celular; a anatomia e a 
neuroanatomia, que nos mostram a morfologia do corpo e cérebro; a fisiologia e 
neurofisiologia, que explicam o funcionamento, regulação e modulação das 
estruturas que compõem o corpo humano; bem como a psicologia, que 
correlaciona todos esses conhecimentos ao comportamento humano e às reações 
emocionais (Kandel; Schwartz; Jessell, 2000). 
A mente humana é, sem sombra de dúvidas, uma maravilhosa obra de 
engenharia, dotada de uma capacidade de análise, de resolver processos 
interpretativos e de comando de uma forma fascinante. Mas quanto se conhece 
do cérebro humano? Apesar do imenso conhecimento, ainda existem muitas 
coisas a serem desvendadas sobre a estrutura e funcionamento do sistema 
nervoso. Por que somos como somos? Por que nos comportamos de forma 
diferente frente a determinadas situações? Por que, diante de certas situações, 
somos capazes de nos adequar e, frente a outras, ficamos totalmente sem 
reação? Por que gostamos de determinadas coisas e outras simplesmente 
detestamos? Por que temos facilidade de aprender determinadas disciplinas na 
escola enquanto que outras nos são extremamente difíceis? Conseguimos lidar 
 
 
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adequadamente com nossas emoções? Essas são questões muito amplas que 
uma só disciplina não consegue responder. A neurociência, por meio da junção 
de diversas áreas de conhecimento, busca responder não apenas a essas 
questões, mas a muitas outras dúvidas que estão por trás do funcionamento de 
nossa mente, nosso comportamento e de nosso corpo (Myers, 1998). 
TEMA 2 – HISTÓRIA DA NEUROCIÊNCIA 
Nossa curiosidade pelo conhecimento da mente humana vem das eras 
mais longínquas. Nós sempre quisemos saber como a mente interage com nosso 
corpo e como ela pode comandar e modular nossos comportamentos. Como 
acontece a relação entre a mente e o corpo? Como nossos pensamentos são 
formados? Onde são armazenadas nossas memórias? E nossas emoções e 
sentimentos possuem um lugar preciso em nosso corpo? Essas e muitas outras 
dúvidas perscrutam o nosso íntimo e são feitas pelos pesquisadores na área de 
neurociência na busca incessante do conhecimento e de respostas sobre si 
mesmo e dos que nos cercam (Myers, 1998). 
A história da neurociência começa nos primórdios da medicina com os 
estudos de anatomia e fisiologia, que eram feitos no princípio de forma bastante 
rudimentar. Devemos considerar que não havia exames de imagens e que nos 
primórdios era proibido dissecar os corpos humanos sob pena de heresia 
(Rooney, 2018). 
Nas civilizações mais antigas, como as egípcias e outras, admitia-se que a 
mente humana achava-se no interior do crânio. E não apenas a mente habitava o 
crânio, mas também os espíritos (Rooney, 2018). 
Ainda sem comprovação científica, pois os estudos eram feitos com base 
na observação e não na experimentação científica, a maioria dos filósofos da 
Antiguidade (tais como Alcmeon, Demócrito, Hipócrates e outros) afirmavam que 
o cérebro é o local onde se encontra a mente com todas as nossas emoções, 
pensamentos e sentimentos. Hipócrates, considerado o “Pai da Medicina”, afirmou 
isto em seu livro A arte da cura. Ele trabalhou empiricamente, sempre comparando 
pacientes que apresentassem lesões cerebrais com as sequelas apresentadas 
(que podiam ser de diversas naturezas: cognitivas, motoras, de memória, de 
consciência ou outras). Com esses estudos realizados, ainda que de maneira 
frágil, Hipócrates concluiu que o cérebro é a morada da mente humana. Alguns 
discordavam dessa teoria, como Aristóteles, que afirmava que o coração era a 
 
 
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sede de nosso intelecto, de nossas percepções e o centro de nossas emoções. 
Embora incorretas, das teorias de Aristóteles perduraram algumas expressões até 
o dia de hoje, tais como “saber de cor” (saber com o coração). Mas novamente 
aqui as observações eram feitas com base na observação e no pensamento, sem 
experimentação científica (Rooney, 2018). 
Já na Idade Média Galeno dissecou animais e fez comparações entre a 
anatomia animal e a humana. No entanto esse confronto de anatomias mais tarde 
mostrou-se carregada de erros, pois nem sempre elas podem ser comparadas. 
Independente disso, ele reafirmou as teorias de Hipócrates de que o cérebro é o 
domínio da mente humana (Rooney, 2018). 
Em 1543, Andreas Versalis publicou um dos primeiros livros em que 
descreveu com incrível precisão o sistema nervoso. Em 1664, Thomas Willis 
publicou uma obra que tratava especificamente da anatomia do cérebro: Anatomy 
of the brain. No entanto nessa época ainda não se entendia como eram feitas as 
conexões, não se entendia a atividade elétrica do sistema nervoso. O conceito de 
sinapse nervosa ainda não existia (Rooney, 2018). 
René Descartes foi um filósofo importante, que publicou diversas obras, 
tais como As paixões da alma. Foi o criador da teoria do dualismo, na qual 
considerava a mente e o corpo como estruturas distintas, de tal forma que um não 
pode influenciar o outro. Em seu célebre livro Discurso do método, escreveu a 
famosa frase “Penso, logo existo”, a qual faz referência à importância da mente e 
do corpo. Questiona a dúvida absoluta, em que as verdades não podem 
apresentar questionamentos e responde sobre a existência do ser e da mente, 
duvidando delas, mas, segundo ele, se o pensamento existe, também existimos. 
Por fim, Descartes também elaborou a teoria da ação reflexa, que relaciona os 
estímulos recebidos do meio externo com a interpretação por parte do sistema 
nervoso (Rooney, 2018). 
TEMA 3 – A NEUROCIÊNCIA NA ATUALIDADE 
Um grande avanço científico surgiu quando se descobriu que o sistema 
nervoso funciona por meio de um sistema elétrico e que esses impulsos elétricos 
é que conduzem as informações. Novas descobertas começaram a surgir de 
forma rápida, tais como o potencial de ação, o potencial de membrana e os 
potenciais elétricos do sistema nervoso, Estudou-se a velocidade de propagação 
desses potenciais e sua influência no estímulo nervoso e muscular. Foi também 
 
 
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desenvolvido o eletroencefalograma, demostrando o registro gráfico da atividade 
elétrica cerebral. Foi o início de uma nova era em que a eletrofisiologia científica 
e sua funcionalidade predominaram (Kandel; Schwartz; Jessell, 2000). 
Quanto à função das áreas cerebrais, inicialmente deduziu-se que o 
cérebro era divido em várias áreas e que cada área era responsável por uma 
função. No entanto o padrão que foi atribuído a essas funções foi feito de maneira 
aleatória e não correspondia à realidade.Mais tarde, foram descobertas algumas 
funções relacionadas à fala. Broca, por exemplo, descreveu a área motora da fala 
e Wernick descreveu a área cognitiva da fala (Kandel; Schwartz; Jessell, 2000). 
Claude Bernard, considerado o pai da fisiologia moderna experimental, 
descobriu o conceito fundamental da fisiologia denominado homeostasia, que é o 
equilíbrio dinâmico entre os meios corporais. A vida dentro de um corpo muda a 
cada instante, e a busca pelo equilíbrio ocorre constantemente comandada pelo 
sistema nervoso (Kandel; Schwartz; Jessell, 2000). 
A classificação citoarquitetural de Brodmann dividiu o córtex cerebral 
segundo a organização de suas células, e cada área recebeu um número e várias 
dessas regiões podem ser correlacionas com uma função. Dentre as mais 
conhecidas, temos as áreas 1, 2 e 3, que representam o córtex somatossensorial, 
que permite ao indivíduo perceber as sensações nas diversas partes do corpo; a 
área 4, que caracteriza o córtex motor primário; a área 17, que mostra o córtex 
visual primário; e as áreas 41 e 42, que representam o córtex auditivo primário. 
Muitas outras correlações entre as regiões de Brodmann e as funções 
equivalentes ainda estão sendo descobertas até hoje (Kandel; Schwartz; Jessell, 
2000). 
Até bem pouco tempo atrás era impossível estudar o cérebro do indivíduo 
vivo, mas, com a evolução dos exames de imagens, isso já é possível. A 
tecnologia atual permite um melhor diagnóstico, prognóstico e tratamento tanto de 
doenças neurológicas quanto de patologias psiquiátricas. Além disso, diversas 
doenças podem ser detectadas ainda em fase inicial, o que propicia um melhor 
tratamento com maiores chances de sucesso. Os diferentes exames, tais como a 
ressonância magnética e a tomografia computadorizada, trouxeram uma nova luz 
para a dinâmica dos diagnósticos e prognósticos. A cada dia, o conhecimento das 
funções do sistema nervoso se fez possível com a evolução da ciência e da 
tecnologia (Kandel; Schwartz; Jessell, 2000). 
 
 
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Conforme os estudos foram evoluindo, as conexões entre as diversas 
disciplinas começaram a se tornar obrigatórias. Cada vez mais surgiu uma ciência 
que abrange diversas disciplinas, que integra todos os conhecimentos que 
envolvem o corpo humano. A relação entre a mente e o corpo passa a ser 
estudada de forma ampla e abrange desde o conhecimento celular e molecular 
até o desenvolvimento de softwares que facilitem a compreensão das funções. 
(Kandel; Schwartz; Jessell, 2000). 
TEMA 4 – NEUROCIÊNCIA ESTRUTURAL 
A neurociência é multidisciplinar, pois envolve muitas áreas de 
conhecimento. O cérebro é o foco central que coordena todas essas áreas de 
conhecimento, sendo considerado o elo que irá realizar a ligação entre todas as 
neurociências (Bear; Connors; Paradiso, 2010). 
No entanto é necessário dividir os campos que especificam a complexidade 
do sistema nervoso e suas relações para facilitar o estudo. Dessa forma, cada 
uma das áreas estudadas pode ser correlacionada com as demais, montando 
assim uma grande teia de conhecimento sobre o sistema nervoso, suas funções 
e relações com nosso comportamento (Bear; Connors; Paradiso, 2010). 
4.1 Neuroanatomia 
Uma das partes mais complexas e difíceis da neurociência, ela tem por 
objetivo compreender toda a estrutura do sistema nervoso. Atualmente ainda 
existem muitas áreas não estudadas no nosso cérebro, mas, com os exames de 
imagens, esses conhecimentos se tornam a cada dia mais precisos. A 
neuroanatomia é o estudo de cada uma das partes que compõe tanto o sistema 
nervoso central quanto o sistema nervoso periférico a fim de compreender suas 
respectivas funções e correlações clínicas. É necessária a compreensão da 
estrutura, para poder analisar como cada parte interage uma com as outras. 
Nosso sistema nervoso age em conjunto: um segmento interfere na função do 
outro. Sem o conhecimento das estruturas que compõem o sistema nervoso, 
torna-se impossível o estudo das funções cerebrais (Bear; Connors; Paradiso, 
2010). 
Atualmente o desenvolvimento dos exames de imagens permitiu um grande 
avanço no conhecimento da neuroanatomia e da neurofisiologia. As técnicas 
 
 
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avançadas levam a uma maior precisão diagnóstica e de tratamentos, cujo 
conhecimento vem evoluindo a cada dia (Bear; Connors; Paradiso, 2010). 
4.2 Neurofisiologia 
A neurofisiologia estuda as funções ligadas às várias áreas do sistema 
nervoso central e periférico. A correlação entre a estrutura, a função e as 
patologias é fundamental, pois, para compreender a patologia, é necessário 
primeiramente conhecer o fisiológico para que se possa traçar um perfil 
comparativo. O conhecimento da forma é essencial para a compreensão do 
funcionamento, formando-se uma tríade entre a anatomia, a fisiologia e a 
patologia (Bear; Connors; Paradiso, 2010). 
A neurofisiologia é o elo que realiza a ligação entre a forma e as aplicações 
clínicas, pois, para compreender qualquer processo de doença, primeiramente 
precisamos conhecer a estrutura saudável tanto no que se refere à forma quanto 
no que se refere à função. A função do cérebro está relacionada com suas 
interações com o comando do corpo, mas como acontece esse comando? De que 
forma o sistema nervoso regula as nossas funções corporais? Como ocorre a 
coordenação para que nosso corpo tenha um equilíbrio dinâmico entre os meios 
corporais? Quais são as influências do sistema endócrino no sistema nervoso, na 
fisiologia corporal e no comportamento humano? (Bear; Connors; Paradiso, 2010). 
4.3 Neurociência celular e molecular 
O sistema nervoso, assim como todo nosso corpo, é formado por células, 
as quais são as unidades que dão início à vida. As células são a menor unidade 
do nosso corpo e são dotadas de independência, cumprindo as funções celulares 
que as mantêm vivas (Bear; Connors; Paradiso, 2010). 
Os neurônios e a neuróglia são as células que compõem o sistema nervoso. 
Os neurônios são considerados a unidade anátomo-funcional. São eles que 
recebem as informações e as conduzem para o sistema nervoso central, onde é 
feita a interpretação. As respostas elaboradas por nosso corpo são levadas pelos 
neurônios até o órgão efetor (Bear; Connors; Paradiso, 2010). 
A neuróglia (ou células da glia, como também podem ser chamadas) tem a 
missão de dar suporte aos neurônios para que estes possam cumprir suas 
funções. Dentre as principais atividades da neuróglia, estão a nutrição, o suporte 
 
 
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de oxigênio, a limpeza com a remoção de células mortas e a formação da bainha 
de mielina, cuja função é melhorar a condução do impulso nervoso, pois quanto 
maior a quantidade de mielina, melhor e mais rápida será a transmissão da 
informação (Bear; Connors; Paradiso, 2010). 
Atualmente existem diversas pesquisas que discutem se o papel da 
neuróglia verdadeiramente se restringe ao suporte aos neurônios ou se esta tem 
uma atuação na composição das funções cerebrais como pensamento, memória 
e interpretação (Gomes; Tortelli; Diniz, 2013). 
4.4 Neurociência do desenvolvimento 
 Sempre quisemos saber como o cérebro humano se desenvolve. Como 
criamos as conexões cerebrais? Qual é a relação com os mecanismos biológicos 
e como isso afeta o desenvolvimento do ser humano como um todo? Esse 
desenvolvimento, quando não acontece de forma integral, pode afetar a pessoa 
por toda a vida, interferindo no comportamento, nas emoções, na aprendizagem 
e até mesmo na saúde (Myers, 1998). 
 Durante a vida intrauterina, ocorre a formação do sistema nervoso e isso 
se dá a partir da terceira semana de vida. A má formação do embrião pode levar 
a diversas patologias que podem causar um comprometimento do 
desenvolvimento e que podem afetar desde a parte motora até a parte intelectual 
(Myers, 1998). 
O desenvolvimento dos seis anos iniciais de vida é essencial para a 
formação e é influenciado pelos aspectos físicos, psicológicos e sociais. Uma 
primeirainfância bem desenvolvida interfere na adolescência e até mesmo na vida 
adulta, formando indivíduos mais saudáveis do ponto de vista emocional e 
cognitivo (Myers, 1998). 
 Desde a gravidez, o bebê já interage com o ambiente externo e interno bem 
como com as atitudes da mãe. Depois do parto, crianças que sejam privadas de 
contato físico podem ter comprometimento de suas funções cerebrais em 
qualquer âmbito, por exemplo, emocional, cognitivo e até mesmo de 
desenvolvimento físico (Myers, 1998). 
O toque para o bebê tem papel fundamental na formação, trazendo 
informações de conforto, bem-estar e segurança, que permitem ao indivíduo 
desenvolver-se adequadamente, estimulando suas sensações e reações 
orgânicas. Embora sua memória ainda não esteja bem desenvolvida e essas 
 
 
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lembranças não perdurem, a ausência dos estímulos impede o correto 
desenvolvimento e pode formar lacunas no desenvolvimento da personalidade, 
bem como interferir no desenvolvimento dos processos cognitivos e emocionais 
(Myers, 1998). 
4.5 Neuroimagem 
Embora uma grande parte do cérebro ainda seja desconhecida com o 
avanço da tecnologia e os exames de imagens, hoje é possível detectar com muita 
precisão quando as estruturas que compõem o sistema nervoso estão íntegras ou 
alteradas por uma patologia ou trauma. Isso se torna de suma importância nos 
diagnósticos e prognósticos de cada indivíduo frente a uma patologia (Kandel; 
Schwartz; Jessell, 2000). 
A criação de imagens por meio de exames é cada dia mais utilizada e pode 
ser utilizada como recurso tanto na atenção primária quanto no acompanhamento 
de um tratamento ou monitorização de sequelas já existentes. As imagens são 
também amplamente utilizadas como forma de estudo em que é possível analisar 
as estruturas e correlacioná-las com as funções cerebrais e verificar como o 
cérebro reage frente a uma atividade específica (Kandel; Schwartz; Jessell, 2000). 
4.6 Neurociência computacional 
Assim como todas as áreas da neurociência, a área computacional também 
tenta compreender o comportamento humano. Trabalha de forma teórica, 
utilizando-se de programas de computação para tentar recriar situações que 
envolvem o sistema nervoso. Simulando e modulando as funções cerebrais, cria 
modelos de estudo para que se possam aprimorar os conhecimentos e testar 
hipóteses que serão analisadas em experimentos fisiológicos (Kandel; Schwartz; 
Jessell, 2000). 
4.7 Neuroengenharia 
A neuroengenharia vem criando modelos que podem ser aplicados no 
conhecimento da estrutura e no seu funcionamento para que, com essa 
compreensão, possam se prevenir alterações. O conhecimento dos mecanismos 
fisiológicos nos permite entender quando algo está errado e, dessa forma, buscar 
uma correção (Kandel; Schwartz; Jessell, 2000). 
 
 
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Essa ciência se utiliza de técnicas de engenharia para tentar compreender 
o funcionamento da mente, recriando situações por meio de componentes 
expressivos, buscando entender e reparar os circuitos neuronais (Kandel; 
Schwartz; Jessell, 2000). 
TEMA 5 – NEUROCIÊNCIA APLICADA 
O envolvimento e a integração das diversas áreas é que permite a 
neurociência aprofundar os estudos do cérebro e suas relações com o 
comportamento humano. O sistema nervoso integra todas as pesquisas e 
coordena os diversos níveis de relação entre o comportamento humano e suas 
aplicabilidades. Pode-se dividir os estudos em diversas áreas de conhecimento 
com o intuito de facilitar e aprofundar o aprendizado (Kandel, 2000). 
5.1 Neuropsicologia 
A neuropsicologia estuda a interação entre a psicologia e o cérebro 
humano, preocupando-se com a conexão que há entre o funcionamento das 
estruturas que compõem o sistema nervoso e de suas funções ligadas à área 
comportamental, cognitiva e psíquica, o que envolve a relação entre o 
comportamento e as funções cerebrais. Por que pessoas agem de formas 
diferentes frente a situações similares? Se considerarmos apenas a 
neuroanatomia e a neurofisiologia, todos deveriam ter um mesmo comportamento, 
no entanto não é isso o que ocorre, pois além da estrutura básica que compõe o 
cérebro humano, existem os pensamento, os sentimentos, as memórias, enfim, 
as vivências e os aprendizados vividos por todas as pessoas. Essas experiências 
é que nos tornam indivíduos únicos capazes de tomar decisões diferentes frente 
a cada uma das situações. Como compreender essas relações entre o material e 
o abstrato e torná-las papáveis do ponto de vista funcional no entendimento da 
mente humana? (Kandel; Schwartz; Jessell, 2000). 
Podemos também nos perguntar como as lesões cerebrais interferem na 
conduta frente às diversas situações e no comportamento de vida diária. É 
importante pesquisar se essas lesões interferem na capacidade cognitiva, 
emocional e comportamental do indivíduo e fazer uma avaliação, desde a conduta 
frente às diferentes situações até a capacidade compreender, analisar e resolver 
os problemas, com o intuito de entender o comportamento e correlacionar suas 
 
 
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causas com as possíveis lesões do sistema nervoso. Além disso, é preciso 
analisar toda a estrutura do sistema nervoso, verificando as possíveis ligações 
entre as falhas morfológicas da estrutura e do funcionamento (Kandel; Schwartz; 
Jessell, 2000). 
Enfim, a neuropsicologia abre um vasto leque de pesquisas em que a 
ciência e a psicologia se colocam lado a lado, buscando a compreensão do 
comportamento humano e suas razões (Kandel; Schwartz; Jessell, 2000). 
5.2 Neurociência cognitiva 
A neurociência cognitiva analisa as capacidades cognitivas, as habilidades 
para desenvolver o conhecimento, as formas de aprendizado, o raciocínio e a 
memória, a interação entre a biologia e nossos atos. Como os nossos neurônios 
são capazes de coordenar o pensamento? Como nosso cérebro aprende? Por 
que algumas pessoas têm mais facilidade de aprendizado do que outras? Qual é 
a razão de termos mais facilidades em aprendermos uma disciplina e mais 
dificuldades em outras? (Myers, 1998). 
Os estudos nos mostram que nosso cérebro processa e aprende melhor as 
coisas para as quais damos mais importância, ou seja, a atenção interfere no 
processo de aprendizagem. Os sentimentos que nutrimos por um determinado 
tópico ou mesmo pela pessoa que nos apresenta esse tópico faz com que 
tenhamos muito mais interesse por este ou aquele assunto. Como melhorar esse 
interesse de forma a incrementar nossa capacidade cognitiva em relação a 
determinados temas? (Myers, 1998). 
5.3 Neurociência comportamental 
Nossas ações do dia a dia são comandadas pelo nosso sistema nervoso. 
Fatores como as emoções e pensamentos influenciam diretamente o 
comportamento visível, como a forma de falar, de agir e até mesmo os gestos 
usados pela pessoa. O sistema nervoso é responsável pelo comportamento, mas 
como é feita esta relação entre a biologia e nossos atos? Como o ser humano 
controla o comportamento, e como as lições aprendidas no decorrer da vida 
podem influenciar nossas atitudes mudando padrões de comportamento? (Myers, 
1998). 
 
 
 
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5.4 Neurociência afetiva 
As emoções sempre foram, sem sombra de dúvidas, a parte mais difícil de 
compreender da mente humana. Cada um de nossos sentimentos tem uma 
relação com todo o corpo e provoca diversas alterações fisiológicas. Buscar 
respostas para o que sentimos é um grande desafio. Queremos sempre saber por 
que estamos sentindo aquilo ou de onde vem esse sentimento. Podemos controlar 
nossos sentimentos? Uma dúvida que nos assola, por exemplo, é saber onde fica 
no nosso corpo cada emoção que permeamos. Mas se compreender as emoções 
já é uma tarefa árdua, saber como nossa mente controla as emoções é outro 
desafio. O sistema nervoso interage com as emoções, e sua ligação e comando 
do corpo fazem com que as emoções influenciem em todo nosso organismo (Cruz; 
Landeira-Fernandes, 2007). 
5.5 Neurociência cultural 
Essa parteda neurociência estuda como os valores culturais, morais e 
nossas crenças interferem em nossa forma de agir. Como o que aprendemos no 
dia a dia e as regras que nos foram incutidas desde a infância influenciam em 
nosso comportamento? O domínio dos conceitos de certo e errado fazem com 
que nosso cérebro seja estimulado a realizar atitudes consideradas corretas ou 
inibido em virtude de algo que consideramos errado (Kandel; Schwartz; Jessell, 
2000). 
Dessa forma, podemos compreender que em apenas uma ciência seria 
impossível responder a tantos questionamentos que nos assolam acerca da 
mente humana. A neurociência tenta reunir diversas áreas de estudo, tendo um 
ponto em comum, que é a mente humana (Kandel; Schwartz; Jessell, 2000). 
 
 
 
 
 
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REFERÊNCIAS 
BEAR, M. F.; CONNORS, B. W.; PARADISO, M. A. Neurociências: desvendando 
o sistema nervoso. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010 
CRUZ, P. M.; LANDEIRA-FERNANDES, J. Por uma psicologia baseada em um 
cérebro em transformação. In. LANDEIRA-FERNANDES, J; SILVA, M. T. A. 
(Org.). Intersecções entre psicologia e neurociências. Rio de Janeiro: 
MedBook, 2007. 
GOMES, F. C. A.; TORTELLI, V. P.; DINIZ, L. Glia: dos velhos conceitos às novas 
funções de hoje e as que ainda virão. Estudos Avançados, São Paulo, v. 27, n. 
77, 2013. 
KANDEL, E. R.; SCHWARTZ, J. H.; JESSELL, T. M. Fundamentos da 
neurociência e do comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000. 
MYERS, D. Introdução à psicologia geral. 5. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1998. 
ROONEY, A. A história da neurociência. São Paulo: M. Books, 2018.

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