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A d.e.scrt5a'.o ystcopo.~olÓ9tCQ. é. d.e fu.kd.o.Mek~o.l tr111- por~Ô.kcio. po.ro. o. pro.Hco. d.o.s psiccle.ro.pto.s co9ktHvo.s. SeM e.Lo. ka'.o serto. possível 91.te o. TCC se ek91.to.d.ro.sse d.ekho d.o Movt- Mek~o 9u.e. cho.Mo.Mos hoje d.e. prG.Hc<l.s bo.se.o.d.o.s e.M evtd.~k cto.s. A iMpor~Ô.kcto. d.o cokhectMek~o d.o espedro pstcopo.- ~olÓ9tco e d.e st.to. MO.ktfe.s~<l.5a'.o ko.s forMo.s Mt.ti~o.s ve.z.es St.t~b e cl.s vez.es Mo.is o.9u.d.o.s d.e ho.5os ko. ft.tkdoko.ltd.o.d.e. co9ktHvo-coMpor~<l.Me.k~Q.l d.o.s pessoo.s, ikclt.tsi.ve lt\o.s cri.o.lt\50..s e. o.d.olesce.K~es, kor~ei.o. o ~ro.bo.lho d.o ~ero.pet.t~o.. A91.ti restd.e u.M d.os MQ.i.ores vo.lores d.es~e iks~ru.Mek~o d.e.sekvolvtd.o pelos 91.tertd.os cole90.s R.eko.~o. e Ed.ero.ld.o. Afro.vé.s d.e t.tMo. sé.ri.e. d.e 91.tes~Õe.s o.presek~o.d.o.s cl..s crto.k- 5<l.s, vo.Mos d.trectok<l.kd.o o. exclu.sa'.o 01.t o. i.kclu.sa'.o d.e co.d.o. po.ctek~e. \l\u.M espedro 91.te Melhor e.x.pltco. os probleMo.s por e.lo.s o.pre.sek~o.d.os. O~ro e.korMe. Mé.rt~o d.o i.ks~ru.Me.\l\~o: d.tfu.\l\d.tr o cokhe.- ctMe.k~o d.o. pstcopo.~olo9i.Q. o.os ~e.ro.pe~o.s i.lf\fo.kHs. 'Prepo.reM-se, r.oi.s es~e i.kshu.Mek~o é. o.pe"'-<l.S Q. pok~o. d.o i.ceber9 d.e u.Mo. prod.u.5a'.o i.k~ele.du.o.l i.1-\~ekso., proft.tkc(Q. e o.~o. Melf\~e crto.Hvo. des~es <l.u.~res. t=o.50.M u.so i.kd.tscri.Mtko.d.o d.es~o. f erro.Mek~o., por9u.e coM cer~ez.o. su.o.s prG.~tco.s clÍktco.s sera'.o o.cresctd.o.s d.e. u.M o.~o 9ro.u. d.e 9u.o.li.d.o.de. R.eko.~o. e Ed.ero.ld.o, o.s 1-\osso.s crto.k50.s o. 9 r<l.d.eceM. Re.koJ:o M. C.0.Mtkko. Te.ro.~u~o. e.spe.ci.o.lt.s~o. e.M tkf&..,.ci.o. e. o.d.ole.scêl-\cto. Coord.e.1-\0..Ó.Or Cio. e.spe.ci.o..li.z..o.~o, o.Mbu o.~Óri.o e. ce.1-\ho d.e. pe.s9ui..so. d.o crc- lNFAf'A-R'.i :/...:. ·) ~I NOP\'i' :\ r. f'res i.d.e. .... ~e. d.o. F6TC. bi.~i.o 2005-2007 Me.Mbro d.o. d.tre.d tvo. d.o. ALAf'CO • """1111 ! • 9!7'8'85'64 ~468 1 08 llAllAl .. 11() llli 1111()111 .. lil\I AS: Ltd.o..\l\d.o com ~ro..\l\s~or\l\os d.o.. t\l\fa\l\cto.. em bu.sco.. d.o bem-es~o..r. R~\l\o..~4 t=erro..te.z. Per\l\P.\l\cles ltd.eto..Ltlo :José Lopes • • .:J \:... ·> StNOP.W5 7\r; SUMÁRIO Prefácio ........................................................................................ ................... 15 Introdução Capítulo 1 - Os transtornos mentais na infância: conceituação de caso e o manuseio do Baralho de Problemas. Capítulo 2 - O Baralho de Problemas: 17 19 como usá-lo na conceituação de caso ............................................................ 27 Capítulo 3 - O Baralho de Problemas e a Depressão Infantil. ..................... 31 Capítulo 4 - O Baralho de Problenws e a Ansiedade Infantil... ................... 37 Capítulo 5 - O Baralho de Problemas e o Transtorno Desafiador Opositivo 45 Capítulo 6 - O Baralho de Problemas e o Transtorno de Conduta ............. 51 Capítulo 7 - O Baralho de Problemas e a falta de habilidades sociais ........ 59 Capítulo 8 - O Baralho de Problemas e o TOC infantil... ............... ............. 65 Capítulo 9 - O Baralho de Problemas e a Hiperatividade .............. ............. 69 Capítulo 10 O Baralho de Problemas e o Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) ......................... ............... 75 Capítulo 11 - O Baralho de Problemas e os Transtornos da Aprendizagern 79 Capítulo 12 - O Baralho de Problemas, a gagueira e os tiques .................... 85 Baralho de Problemas 89 13 PREFÁCIO A obra que o leitor tem em mãos é de alta relevância. Ao referi-la as-sim não pretendo apenas fazer um elogio como se fosse um prefa-ciador comprometido em elogiar e demonstrar seu apreço honroso pelo convite de apresentar o trabalho e cumprir agradecidamente com a tarefa que lhe foi incumbida. Como fazemos na terapia cognitiva em nossas práticas diárias, vou me valer de uma série de evidências para justificar a "alta relevância" citada. Tenho certeza de que após apresentação das evidên- cias o leitor irá concordar comigo. A descrição psicopatológica é de fundamental importância para a prá- tica das psicoterapias cognitivas, sem ela não seria possível que a rcc se enquadrasse dentro do movimento que chamamos hoje de práticas basea- das em evidências. É de conhecimento dos terapeutas infantis que a psico- patologia não possui a mesma configuração e expressão na infância quanto na idade adulta. :-Vlesmo nos adultos, muitas vezes estaremos trabalhando com manifestações do espectro sem que necessariamente tenhamos uma configuração plenamente justificada pelo checklist do manual diagnostico e estatístico dos transtornos mentais, o conhecido DSM. A importância do conhecimento do espectro psicopatológico e de sua manifestação nas formas muitas vezes sutis e às vezes mais agudas de tra- ços na funcionalidade cognitivo-comportamental das pessoas, inclusive nas crianças e adolescentes, norteia o trabalho do terapeuta. Sendo a TCC base- ada em evidências, cada configuração psicopatológica indica uma série de técnicas consideradas de primeira escolha para o tratamento da psicopato- logia ou do problema apresentados pela criança em questão. Aqui reside um dos maiores valores deste instrumento desenvolvido pelos queridos colegas Renata e Ederaldo. Através de uma série de ques- tões apresentadas às crianças, vamos direcionando a exclusão ou a inclusão de cada paciente num espectro que melhor explica os problemas por elas apresentados. Conforme destaquei acima, mesmo que não haja a configu- ração plena de alguma patologia iremos nos deparar com manifestações, ou "sopros" do espectro que ajudam a situar o terapeuta de modo a diminuir a margem de erro em sua intervenção através da escolha das técnicas indi- cadas ao caso. Outro enorme mérito do instrumento: difundir o conhecimento da psi- 15 copatologia aos terapeutas infantis. Nesses \'inte anos de ensino especifico na área e da relação com um grande numero de alunos formados e supervisio nados em terapia infantil, afirmo com muita propriedade - os terapeutas de crianças precisam conhecer e estudar mais o curso, o prognóstico e as mani festações de cada espectro que a psicopatologia descritiva nos apresenta. Não bastassem essas vantagens todas, ainda podemos fazer a avaliação psicopatológica dentro do modelo cognitivo de conceitualização integran - do elementos teóricos e ateóricos de modo lúdico e convidativo, quebrando assim a aspereza da avaliação inicial. Tantos são os méritos e ludicidade do instrumento que ao tomarmos conhecimento dele, Marina Caminha e eu o inserimos diretamente na fase conceituai da nossa T.R.I. e o fizemos com a certeza de enriquecer e completar nosso modelo de trabalho. Tive meu primeiro contato com os autores cerca de dois anos atrás, quando fui ministrar um módulo no curso de especialização em TCC in fantil por eles coordenado na Universidade Federal de Uberlândia, em Mi- nas Gerais. Ao chegar lá, fiquei espantado com a quantidade e qualidade de instrumentos por eles desenvolvidos para tornar viável a TCC infantil. Para completar, me deparei com a acolhida e disponibilidade de ambos. Pessoas fantásticas militando na infância, a fase mais sensível da vida, na qual inter- venções bem estruturadas promoverão resiliência e saúde mental. Eles se enquadram no tipo de pessoas que mais admiro no mundo: as que lutam e fazem acontecer um mundo melhor. Preparem-se, pois este instrumento é apenas a ponta do iceberg de uma produção intelectual intensa, profunda e altamente criativa destes autores. Tenho certeza de que cumpri minha meta de apresentar evidências irre- futáveis da alta relevância à qual me referi no início deste prefácio. Façam uso indiscriminado desta ferramenta, porque com certeza suas práticas clínicasserão acrescidas de um alto grau de qualidade. Renata e Ederaldo, as nossas crianças agradecem. Com muito apreço, Renato M. Caminha Terapeuta especialista em infância e adolescência Coordenador da especialização, ambulatório e centro de pesquisa do CTC- INFAPA-RS Presidente da FBTC biênio 2005-2007 Membro da directiva da ALAPCO 16 INTRODUÇÃO Esta obra é uma tentativa de oferecer a psicólogos e psicopedagogos clínicos um instrumento de investigação dos problemas psicoló-gicos que afetam a infância e a adolescência que seja abrangente e profícuo. Ela nasceu de nossa experiência de 18 anos trabalhando com crianças e adolescentes em clínicas-escola. Em uma época e m que os desafios cotidianos que se impõem a es- sas duas etapas do desenvolvimento são sem precedentes, torna-se ne- cessário partilhar com os colegas que se dedicam à psicologia infantil técnicas que possam efetivamente auxiliar no estabelecimento de boas conceituações de caso (que incluem diagnósticos mais precisos e hipó- teses clínicas fundamentadas). O Baralho de Problemas permite à criança/adolescente selecionar, a partir de um conjunto de 100 cartas, frases simples que descrevem suas dificuldades afetivas, emocionais e comportamentais, expressando suas dificuldades de forma objetiva e clara. Entretanto, esse manual vai além de uma boa descrição de como utilizar uma técnica lúdica que auxilia o terapeuta a desvendar os problemas apresentados pelas crianças e ado- lescentes. Ele fornece ao psicoterapeuta uma visão global dos principais transtornos da infância e da adolescência, oferecendo uma base teórica para o conjunto de questões que o terapeuta pode e deve fazer à criança/ adolescente cada vez que ela escolhe uma das cartas do baralho. É fato que só podemos aderir a uma proposta se entendermos seu embasamento e objetivo. Esta proposta tem como embasamento a teoria e técnica cognitivo-comportamental e seu objetivo é oferecer um manu- al que permita ao leitor compreender a importância de um boa concei- tuação de caso na infância (capítulo 1 ); que ensina o manejo da técnica em linhas gerais (capítulo 2) e que segue apresentando a fundamentação teórica e o manejo da técnica para Depressão Infantil (capítulo 3); para a Ansiedade Infantil (capítulo 4); para o Transtorno Desafiador Opositivo (capítulo 5); para o Transtorno de Conduta (capítulo 6); para a falta de habilidades sociais (capítulo 7); para o TOC infantil (capítulo 8); para a Hiperatividade (capítulo 9); para o Transtorno do Estresse Pós-Traumá- tico (capítulo 10); para os Transtornos de Aprendizagem (capítulo 11) e para problemas de gagueira e tiques (capítulo 12). 17 Toda técnica ludoterapica deve ser dinâmica e simples, além de faci- litar a investigação e a intervenção que o terapeuta deseja implementar. O Baralho de Problemas reúne essas características. Quando a criança escolhe uma carta, seu verso, por exemplo, permite ao terapeuta iden- tificar o quadro clínico ao qual a carta pertence. Dessa forma, as cartas DI trazem descrições de sinais e comportamentos característicos da de- pressão infantil; por sua vez, as cartas AI trazem descrições de sinais e comportamentos típicos de ansiedade infantil e assim sucessivamente. Para cada uma das cartas escolhidas pela criança há nesse manual um conjunto de questões a serem feitas que ajudam o terapeuta a compre- ender de forma mais profunda a escolha feita pela criança/adolescente. Afinal, sabemos que na clínica infantil a máxima atribuída à Esfinge de Tebas na tradição da mitologia grega ("Decifra-me ou te devoro") é um desafio técnico a se vencer, especialmente na fase da conceituação de caso. É importante destacar que essa ferramenta ludoterapica é um jogo que auxilia no processo diagnóstico do caso e mais especificamente na conceituação cognitiva do mesmo, mas não tem o objetivo de servir como procedimento psicodiagnóstico. Antes, é um meio auxiliar para ajudar a criança a expressar-se quanto aos sinais e comportamentos pre- sentes e que constituem determinados quadros clínicos. Para o psico- diagnóstico o profissional deve utilizar testes e escalas aprovados pelo SATEPSI (Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos) e deve se reme- ter à resolução CFP 007/2003, que apresenta o manual de elaboração de documentos escritos produzidos pelo psicólogo. Finalmente, queremos registrar que estamos muito felizes por e~sa técnica compor protocolos interventivos da Terapia de Reciclagem In- fantil (TRI), proposta por Renato e Marina Caminha. Esperamos que a técnica ajude muitas crianças a "darem voz" a seus problemas. Deseja- mos a vocês uma excelente leitura e um bom uso da técnica. Renata e Ederaldo Uberlândia (MG), inverno de 2013 18 Capítulo 1 - Os transtornos mentais na infância: conceituação de caso e o manuseio do Baralho de Problemas. Nestes quinze últimos anos, temos atendido e supervisionado muitos ca- sos envolvendo transtornos mentais na infância e adolescência. De todas as etapas do trabalho psicoterapêutico e psicopedagógico, o momento da con- ceituação de caso parece ser muito delicado, uma vez que as informaçôes coletadas nessa etapa do processo de avaliação nortearão as intervençôes posteriores. Observamos inúmeras dificuldades em nossos alunos, tanto de graduação quanto de pós-graduação, em realizar uma boa conceitua- ção de caso e, pior, muitos deles, inclusive profissionais mais experientes, não acreditam que uma investigação exaustiva nessa etapa seja importante. Deixe-nos então lhe fazer uma pergunta: você iria a um cardiologista, ou a um neurologista, que não fizesse uma investigação detalhada de seus sin- tomas? é a um pediatra? Você confiaria em um pediatra que não avaliasse muito bem seu filho ou sua filha? E o que você pensaria se um profissional da área de saude lhe dissesse que você ou seu filho tem um "problema': mas não especificasse nada sobre ele, as possíveis causas e os prováveis desdo- bramentos des~e "problema" nem lhe explicasse as etapas do tratamento? Infelizmente, cada vez mais profissionais de psicologia e psicopedagogia têm se esquivado de oferecer diagnósticos, o que tem desqualificado nossa opinião técnica. O objetivo do Baralho de Problemas, que você agora tem em mãos, é auxiliá-lo a fazer uma avaliação exaustiva dos principais distúrbios psico- lógicos que aparecem na infância e na pré-adolescência. Este instrumento lúdico de avaliação, em conjunto com os dados obtidos a partir de outras formas de avaliação, tais corno os testes e as escalas, lhe dará ferramentas mais fidedignas para planejar sua intervenção, considerando tanto déficits quanto habilidades e competências das crianças e dos pré-adolescentes. Você podera explorar, atraves das cem cartas do Baralho de Problemas, os principais sinais e sintomas ligados a Depressão Infantil, Ansiedade, Transtorno Desafiador Opositivo, Transtorno de Conduta, Hiperatividade, estresse pós-trauma, Transtorno Obsessivo-Compulsivo na Infância, pro- blemas escolares, déficits nas habilidades sociais, tiques e gagueira. 19 Os transtornos mentab na infância: conceituação de caso e o manuseio do Baralho . .. AMPLIANDO A NOÇÃO DE CONCEITUAÇÃO DE CASO O verbo "avaliar'; na língua portuguesa, no que diz respeito aos objeti- vos e metas do campo da psicologia e da psicopedagogia clínica, significa "reconhecer a grandeza, a intensidade, a força" de algo ou de alguém. Psi- cólogos clínicos e psicopedagogos, entretanto, são treinados em seus cursos de graduação ou em suas pós-graduações a realizarem diagnóstico psico- patológico/psicopedagógico, ou seja, a "qualificar'; "categorizar" um trans- torno mental enfatizando mais déficits do que habilidades e competências daquele que é avaliado. Esse treinamento é parte importante, sem dúvida, de um todo muito mais amplo e complexo que envolve o processode "conceituação cogniti- va"1, conforme propõem os livros e artigos de psicoterapia cognitivo-com- portamental. Conceituar um caso é antes de tudo estabelecer hipóteses cli- nicas para planejar as intervenções psicoterápicas. Mas o que são hipóteses? Voltemos às definições. Hipótese é um conjunto de condições ou in- formações que tomamos como ponto de partida para desenvolver um ra- ciocínio. Dessa forma, as hipóteses clínicas dão sustento para o raciocínio clínico. Assim, são necessárias múltiplas informações extraídas de dados clínicos para se hipotetizar e, portanto, raciocinar clinicamente. O grande desafio proposto para qualquer psicólogo ou psicopedagogo clínico é, a partir de sua imparcialidade, organizar a massa de dados que ele pode extrair nesta fase do tratamento. Nesse sentido, sempre defende- mos junto a nossos alunos que é fundamental um sólido conhecimento de psicologia do desenvolvimento, da psicopatologia infantil e da abordagem cognitivo-comportamental para organizar as informações obtidas durante o psicodiagnóstico de forma a estabelecer hipóteses clínicas mais sólidas. O conhecimento apurado sobre desenvolvimento humano é fundamen- tal, pois, afinal, muitas vezes o que uma visão leiga encara como um sinto- ma nada mais é do que um evento do desenvolvimento normal. Além disso, é preciso considerar o fato de que há um entrelaçamento entre as fases do 1 Conceituação cognitiva: Con;1ste em uma das etapas da psicoterapia cognitivo-comporta- mental. Nessa etapa, e possível estabelecer hipóteses sobre pensamentos, suposições, emoções e crenças <lo paciente com base na descrição de situações, pensamentos automáticos, crenças intermediarias, crenças centrais e estrategias de compensação, e\·itação ou manutenção das crenças. A conceituação cognitiva ocorre ao longo de toda a terapia à medida que norns in- formações e evidências vão sendo agregadas (J. Bcck, 1997; 2007; Caminha & Caminha, 2007; Neufeld & Cavenage, 2010). 20 Baralho de problemas: lidando com transtornos da infância em busca do bem-estar ciclo vital dos cuidadores e das crianças; afinal, a criança, em qualquer eta- pa de sua infância, pode ser cuidada por alguém que vive os desafios da adolescência (maternidade e paternidade na adolescência), por um adulto jovem ou ainda por cuidadores que vivem as exigências da meia-idade ou da terceira idade (crianças cuidadas por seus avós). Essa roda-viva de desafios, demandas e exigências das diferentes fases do desenvolvimento em que se encontram o cuidador e a criança pode por si mesma ser fator precipitante de transtornos mentais em crianças e ado- lescentes. Lembre-se sempre de considerar em sua avaliação tanto a criança quanto seu cuidador, levando sempre em conta o que a díade que você está avaliando tem enfrentado porque o ciclo vital é implacável na imposição de suas demandas. Não é nada fácil ser criança e ter que aprender tudo sobre todas as coisas, mas também não é nada fácil ser um adulto e ter que educar e orientar, pois infelizmente filhos não vêm com manual de bordo, e os desafios da vida adulta não se resumem a educar filhos. Lembre-se: todos os desafios desenvolvimentais têm um amplo impacto sobre o senso de eficácia e de competência das pessoas ao longo de toda a vida. Assim, um bom clínico tem um bom livro de desenvolvimento humano a seu alcance. Tenha também o seu e faça uso dele. Você se surpreenderá com o quanto se ampliará a sua visão clínica. Também afirmamos que é indispensável um conhecimento amplo sobre psicopatologia infantil. O diagnóstico diferencial deve ser seu forte profis- sional. É indispensável se questionar sobre a possibilidade de haver outras explicações para os sintomas cognitivos, comportamentais, afetivos e fisio- lógicos que estão sendo descritos pela criança e/ou por seu cuidador. Tenha sempre um Manual Diagnóstico e Estatístico das Doenças Mentais (DSM). Não se satisfaça com a leitura dos sinais e sintomas do transtorno, leia um pouco mais e se detenha por alguns minutos no diagnóstico diferencial. Você se surpreenderá com o quanto você enxergará além do óbvio. No que diz respeito à abordagem teórica, é indiscutível o papel dos funda- mentos teóricos de uma abordagem psicológica para a organização dos da- dos. Da perspecti\'a comportamental, veja que conceitos como reforçamen- to positivo e negativo, encadeamento de estímulos, punição, fuga e esquiva explicam perfeitamente o repertório comportamental de seu cliente, mesmo que ele seja um bebê. É por isso que programas como SOS babá e Supernanny alcançam grande nível de audiência. Pais desejam muito mais "receitas" de como educar seus filhos do que compreender os comportamentos de seus 21 Os transtorno' mentais na infancia: conceituação de .:a'o e o manuseio do Baralho .. . filhos de forma reflexiva a partir de mudanças em sua forma de ser e de viver suas \idas e intervir sobre eles. A perspectiva comportamental não responde sozinha a todas as dúvidas, embora os conceitos da análise experimental do comportamento aplicada ajudem, de forma 1mpar, não soa organizar as in- formações oferecidas pelos pais ou observadas nas crianças como também a planejar a modificação da(s) resposta(s) e/ou queixa(s). Se adotarmos uma abordagem cognitivo-comportamental, é possível pres- supor que comportamentos, emoções e fisiologia são influenciados por pensa- mentos, e vice-versa. Enquanto a criança mantiver ativas as suas crenças desa- daptadas norteadoras, ela se comportará de forma desadaptada. A partir dos dados informados pelo cuidador e da observação da criança e com base no ar- cabouço teórico cog111tivo, que pressupõe perfis cognitivos de personalidade, podemos hipotetizar, a partir de situações relatadas e obserndas, que se trata de uma criança com perfil histriõnico hiperativado (ela quer e deseja sua aten- ção para assegurar-se de que os cuidadores a amam e vão livrá la da frustra- ção); ou que se trata de uma criança com um perfil cognitivo passivo-agressivo (o popular "negativista" e do contra) e que, portanto, não consegue lidar bem com o controle da figura de autoridade; pode se tratar de uma criança com um perfil obsessivo de personalidade (para ela, os erros são ternveis e devem ser evitados a qualquer preço); ou ser alguém com um perfil evitativo (para quem todas as situações ameaçadoras devem ser evitadas a todo o custo); a criança pode apresentar um perfil cognitivo dependente e, portanto, todas as tarefas devem ser intermediadas pelo cuidador; ou ter um perfil narcisista (tudo existe porque ela existe, ela é solar, mais inteligente, mais bonita, mais competente, mas não há dados que corroborem tudo isso). Assim, conceitos como pensan1entos automáticos·, crenças intermediárias', crenças centrais', 2 Pensamentos automatKo' ,,io pensamentos ª' aliativos brc\'es que as pc-soas aprc'<~ntam e estão de acordo com as crenças centrais sobre si mesmo. o outro e o mundo. Trata->e do nÍ\·el de cognição mais superficial que uma pessoa pode apresentar (). Beck, 1997; 2007; Lopes & Lopes, 2008). Diante de uma tarefa acadêmica, uma criança, por exemplo, que tem uma crença central de desamparo, pode ter pensamentos automúticos como: "Nunca vou aprender isso". 3 Crenças intermediúrias são cognições geralmente caracterizadas por regras, suposições e • 11ribuições sobre as pessoas, sobre si mesmo ou sobre os outros. Da mesma forma que os pensamentos automaticos, e'tão de acordo com as crenças centrais. Uma criança com crenças centrais de falta de amor pode ter a seguinte suposiçiio: "Se eu decepcionar meus pais, posso perder o amor deles e eles não cuidarão mais de mim"; "se eu não decepcionar meus pais, eles me amarão e continuarão cuidando de mim''. -1 Crenças centrais tratam do nível de cognição mais profundo. São crenças sobre si mes- mo;, sobre os outros e sobre o mundo que podem refletir,no caso das psicopatologias, ideias mais amplas ligadas a falta de amor (p. ex., "as pes:.oas não se importam comigo"), 22 Baralho de problemas: lidando com transtornos da intància em bu"a do bem-estar perfis cognitivos\ esquemas hiperdesenvolvidos, esquemas subdesenvolvidos, distorções cognitivas (cognições erráticas que são usadas pelas pessoas para dar sentido a experiências) e dados relevantes da infància são fundamentais para a elaboração de hipóteses clinicas (conceituação de caso). Fica, portanto, clara a necessidade de um sólido conhecimento dos conceitos da abordagem cognitivo-comportamental a fim de dar ordem aos dados. A TAREFA DE AVALIAR: AMPLIANDO HORIZONTES A avaliação de urna criança em TCC é um processo amplo que abrange a avenguação de informações de múltiplas fontes (pais, professores, familiares e a própria criança ou o próprio adolescente) e precisa transcender ao diag- nóstico de uma dada psicopatologia infantil ou da adolescência, abrangendo também a compreensão das forças, das capacidades, das competências, da ri- queza do repertório cognitivo, afetivo e comportamental de uma dada criança. Dessa forma, o processo de avaliação ou conceituação cognitiva deve ser contínuo e abrangente o suficiente para que em todas as fases do processo psicoterapêutico o terapeuta possa apontar tanto forças quanto fraquezas da criança . .Esta pode lhe parecer uma tarefa fácil, mas trata-se de um enorme desa- fio profissional. Lembre-se de que as principais fontes de informação sobre o cotidiano infantil (repertório de interesse do psicoterapeuta de crianças) são seus pais, cuidadores, professores, etc. Temos que considerar que essas fontes são hábeis em apontar "defeitos'; "maus hábitos'; "incômodos" que a criança provoca, ou seja, pais são muito habilidosos em discriminar estímulos que são percebidos por eles como "aversivos''. Tudo aquilo que é aversivo reduz não apenas a frequência de seus comportamentos de socializadores amorosos e zelosos, mas também diminui a frequência com a qual discriminam esti- mulos apetitivos e reforçadores que surgem em contingências reforçadoras. Assim, os pais possuem uma enorme dificuldade de perceber as qualidades e desamparo (p. ex., "não sou capai de ... "), ou desvalor (p. ex., '\.•u não presto para nada") . 5 Perfis cognitirns: Segundo Beck e Alford (2000), os proce,sos cognitivos, afetivos e mo ti\·acionaís são definidos por padrões esquemáticos constituintes da personalidade de uma pessoa (os chamados perfis cogníti\'O>). Os autores afirmam que em torno dos esquemas que compõem º' perfis cognitirns "' organiza o funcionamento do' diversos sistemas ps1cológi· cos. '-:esse sentido, a teoria cognitiva defineº" perfis de personalidade como sendo processos esquematicos idiossincráticos, relauvamente constantes ao longo do tempo. que influenciam os sistemas cognitivos, que são produtos das tentativas de adaptação ao meio social e ambien- tal no qual estão inseridos. 23 Os transtornos mentai; na infonda: conceituação de caso e o manuseio do Baralho .. competências de seus filhos, especialmente em períodos de crise. OS DESAFIOS DE ENTREVISTAR Nossa experiência clínica nos mostra todos os dias que pais e cuida- dores, quando são indagados, durante uma entrevista de avaliação, sobre qualidades, competências e va lores introjetados de suas crianças tornam-se lacônicos, silenciosos e algumas vezes até irritados. Felizmente, a maioria deles percebe, já no primeiro encontro com o terapeuta, algumas limitações de suas práticas educacionais, como, por exemplo, a dificuldade que têm de reconhecer forças e competências de seus filhos e o quanto isso pode influenciar em sua forma de representar cognitivamente o problema da criança. Percebem, portanto, que as crenças de que seus filhos são "difí- ceis" interferem nesse relacionamento mútuo, tornando-os mais propensos a sentimentos ligados à raiva, à desesperança e ao medo enquanto educam e, portanto, restringindo comportamentos mais adaptados nessas situações. Da mesma maneira, quando entrevistamos os filhos e solicitamos que eles nos apontem suas qualidades, na maioria das vezes observamos a mes- ma pobreza no repertório verbal para descrever suas experiências catego- rizando-as como qualidades pessoais. É claro que toda criança e todo ado- lescente, por mais que apresentem emoções e comportamentos diruptivos, possuem qualidades, competências, forças, grandezas sobre as quais pode- mos nortear muitas de nossas intervenções psicoterápicas. Habilidades e competências da criança podem ser sistematicamente recriadas através de atividades ludoterápicas durante a primeira fase do tratamento, com a fina- lidade de fortalecer o vínculo terapeuta criança. O problema, como vimos, é descobri-las durante a fase de entrevista inicial. Se você descobrir e usar as forças e competências da criança no início do tratamento, terá percorrido 50% do caminho para solidificar o vínculo com ela. Lembre-se, só com um bom vínculo você será confiável o suficiente para intervir sobre os déficits e as queixas relatadas. Por outro lado, as descrições que as crianças fazem de seus problemas são muito generalistas e poucas vezes obtemos relatos precisos sobre suas dificul- dades. Essa limitação do discurso pode ocorrer por alguns motivos: primeiro, porque crianças e os adolescentes não procuram atendimento psicoterápico por vontade própria, assim elas podem apresentar problemas narrados por seus pais e responsáveis que elas próprias podem ou não admitir ou compre- 24 Baralho de problemas: lidando com transtornos da infancia em bu,ca do bem-estar ender; segundo, porque geralmente são encaminhadas para a terapia porque suas dificuldades psicológicas criam problema para algum sistema (familia, escola etc.}, mas muitas vezes a criança não compreende de que forma seu comportamento cria tais dificuldades em sistemas tão amplos e complexos. Terceiro, porque quanto menor a criança mais problemas encontraremos no que se refere à fluência verbal, à mediação verbal, à regulação verbal, à ca- pacidade de tomada de perspectiva, à capacidade de raciocínio concreto e abstrato - e todos esses elementos são fundamentais para a descrição de um problema psicológico em qualquer fase do desenvolvimento humano, em es- pecial na infância e na adolescência. Além de todos esses aspectos, temos ainda que considerar a importância da ampla compreensão que o terapeuta precisa ter das situações comuns da vida da criança e que são fundamentais para entender os eventos contextu- ais ligados ao problema-queixa trazido para a consulta. Segundo friedberg e McClure (2001 ), os sistemas aos quais as crianças pertencem (familia, es- cola, grupos de amigos) atuam e transformam os comportamentos infantis podendo reforçar ou extinguir habilidades adaptativas de autocontrole e de controle do ambiente. Portanto, o envolvimento saudável da criança com o seu contexto é crucial para o início, a manutenção e a generalização de ganhos terapêuticos. Nesse sentido, a instalação de um repertório social em uma criança com ansiedade de separação pode ser posto em extinção à medida que seus pais não reforçam seus comportamentos de interação com outras crianças e com outros adultos. A seguir, apresentaremos o Baralho de Problemas e mostraremos como seu uso pode auxiliar crianças e pré-adolescentes a identificarem suas di- ficuldades, além de indicarmos nos próximos capítulos como ampliar sua avaliação inicial (com testes e escalas) usando as cartas-problemas escolhi- das pelo cliente. REFERtNCIAS E LEITURAS SUGERIDAS Beck, A. f., & Alford. B. A. (2000). O poder integrador da terapia cog11itil'tl. Porto Alegre: Artes }.ledicas. Beck, ). S. ( 1997). 'frrapia cogmtim: Teoria e prática (S. Costa. Trad.). Porto Alegre: Artmed. (Originalmente publicado em 1995).Beck, ). S. (2007). li!rap111 cogmtil'a para desafios clinicas: O que ji1zcr tJWllltio o liâsico 25 Os transtornos mentai' na mfânda: conceitua\·ão de caso e o manuseio do Baralho . .. não jimciona (5. ,\1. de Can-alho, Trad.). Porto Alegre: Artmed. (Originalmente pu- blicado em 2005). Caminha, R. ~!.. & Caminha, M. G. (200-). Conceitualização cogmti\'a com crianças. ln R. M. Caminha & ,\f. G. Caminha (Orgs.), A prática cognitiva na Íl!fiincia (pp. 57- 70). São Paulo: Roca. Friedberg, R. D., & McClurc, ). M. (2001). A prcítirn c/(11irn da terapia cogmtm1 com crianças e adolescentes. Porto Alegre: Artmed. Lopes, R. F. F., & Lopes, L. ). (2008). Co11hcce11do-se para educar: Uma l'isâo wmpurta- mental-cognitiva da oricntaçtio de pais. Ribeirão Preto: Legis Summa. Neufeld, C. B., & Cavcnagc, C. C. (20 10). Conce1tualização cognitiva de caso: Cma proposta de sistematização a partir da prática clinica e da formação de terapeutas cog- nitivo-comportamentais. Rt·1·1st11 Brasileira de 'frmpias Cognitims, 6(2), 3-35. 26 Capítulo 2 - O Baralho de Problemas: como usá-lo na conceituação de caso O objetivo principal <lo Baralho de Problemas é oferecer ao psicotera- peuta e ao psicopedagogo um instrumento que o auxilie na conceituação de caso nos transtornos mentais da infância. O instrumento oferece um total de cem cartas que abordam as principais psicopatologias da infância: a de pressão infantil, a ansiedade, o Transtorno Desafiador Opositivo, o ·1 rans torno de Conduta, a Hiperatividade, o estresse pós-trauma, o Transtorno Obsessivo Compulsivo na Infância, os problemas escolares, os déficits nas habilidades sociais, os tiques e a gagueira. Embora as i:.artas do Baralho de Problemas abordem mais enfaticamente cada um desses dez grupos de psicopatologia, as cartas permitem que as crianças e os pré-adolescentes escolham livremente qualquer problema em qualquer um dos grupos temáticos. Isso ajuda o profissional a pensar em comorbidades ou em s1na1s e sintomas que emergem em conjunto nos qua- dros sindrômicos como são os casos de depressão infantil ou de ansiedade, que afetam varios aspectos do comportamento infantil, tais como o sono, a alimentação, o desempenho escolar, etc. É importante lembrar que essa técnica ludoterápica não dispensa o uso de testes e escalas para um psicodiagnóstico mais preciso, mas é uma ferra- menta poderosa para auxiliar a criança na identificação de sinais e sintomas relacionados ao seu sofrimento psíquico. O MATERIAL DO TERAPEL TA. COMO O KIT DO BARALHO DE PROBLEMA<; É COMPOSTO Cada kit do terapeuta e composto por cinco caixas dobràwis (hgura 1 }, cem cartas-problemas (hgura 2) que constituem o Baralho de Problemas e uma carta termômetro; por um arquivo eletrônico, dísponi\'el em www. sinopsyseditora.com.br/bprforml com as imagens das cartas-problemas para serem impressas e decoradas pelo cliente e que formarão as opções do cliente. O arquivo contém ainda uma planilha (Figura 3 ), que permite ao te- rapeuta acompanhar o impacto dos problemas sobre o dia a dia da criança. A carta-termômetro ajudará a criança a medir, a cada sessão, a intensidade 27 O Baralho de Problema" rnmo u'â·lo na conceituação de caso. com a qual o problema está afetando sua rotina ao longo da semana. Por sua vez, cada criança tem como material pessoal uma caixinha de problemas e as cartas impressas pelo terapeuta, idênticas às escolhidas no Baralho de Problemas. Essas cartas podem ser coloridas e enfeitadas por ela, além do termômetro, que deve ser impresso a cada sessão para medir o impacto do problema em sua rotina semanal. •••• .. - '" .. - ::....-:: r.::· __ .. ·-- r" -i Figura 1: Exemplo de Caixinha de Problemas Figura 2: O Baralho de Problema' --- ·· ~~m.f.a.;•rnll .. -- -----Scma...... ~.~ Figura 3: Planilha do Baralho de Problema' (www.sinop'y'ed1tora.eom.br/bprform 1) O BARALHO DE PROBLEMAS NA PRIMEIRA SESSÃO DE AVALIAÇÃO E NAS DEMAIS SESSÕES O Baralho de Problemas pode ser usado já na primeira sessão de a\·alia- ção. Depois de ter sido feito o "rapport': e de se ter esclarecido para a criança o que e uma psicoterapia e com qual objetirn ela está ali, o terapeuta pode oferecer para a criança as e.em cartas do Baralho de Problemas ou uma se- leção de cartas previamente escolhidas em função das queixas apresentadas pelos pais durante a entrevbta inicial. Sugerimos, então, que o terapeuta apresente à criança o concei to de 28 Baralho d<· problema" lidando com transtornos da intànêla cm bu,ca do bcm·c,tar problema dizendo para ela que um "problema" é tudo aquilo que faz a criança ou quem cuida dela "ficar chateado", triste, ansioso, nervoso, an- gust iado ou irritado. Em seguida, o terapeuta pode dar as instruções de como a criança deve manusear o Baralho de Problemas. Instruções: Você tem aqui um baralho com muitos problemas de crian- ça. Sua tarefa é ler cada uma das cartas com atenção e escolher aquelas cartas que melhor representem os seus problemas. Portanto, você deve escolher dessas cartas os problemas que você acredita que tem e aqueles problemas que as pessoas dizem que você tem. Depois que você escollrer suas cartas, nós iremos conversar um pouco sobre elas e você poderia me- dir com o termômetro o quanto esses problemas o prejudicam. Então eu irei imprimir as cartas q14e você escol11eu, nós as decoraremos e você as colocará em sua caixa de problemas. Você pode escolher quantas cartas desejar. Nós abriremos essa caixa todas as sessões para traballlarmos com os se11s problemas até que eles diminuam ou desapareçam. Se ao longo de nossos encontros novos problemas surgirem ou se você se lembrar de al- gum problema que não escolheu neste primeiro encontro, nós poderemos acrescentar novas cartas à sua caixa. Note que o terapeuta usará as cartas do Baralho de Problemas em todas as suas sessões terapêuticas com o objetivo de mensurar o impacto dos pro- blemas da criança sobre sua rotina semanal. Além disso, ele pode separar qual dos problemas foca lizará naquela sessão, levando a criança a identifi - car a dificuldade que estará sendo trabalhada a cada encontro. Isso ajuda o terapeuta infantil a estabelecer um roteiro para a sessão, além de favorecer sobremaneira a compreensão da criança sobre os objetivos que se tem ao se fazer psicoterapia. Quando um novo dado - ou uma nova informação - é obtido, e um novo problema é identificado, o terapeuta oferece novamente o Baralho de Problemas para que a criança identifique sua dificuldade, e uma nova <.arta é impressa e colocada na caixa de problemas. Por sua vez, quando a criança passa a apresentar um novo repertório e cognições mais adaptadas diante de seus problemas, estes são retirados da Caixa de Problemas, pois a inten sidade dos problemas desapareceu ou diminuiu drasticamente. Com base nos dados obtidos com o uso do termômetro, o terapeuta pode monitorar a cada sessão a 111tensidade dos problemas-queixas, escolher quais proble- mas abordar prioritariamente e estabelecer um monitoramento gráfico de 29 O Baralho de Problema". como u,,í . Jo na conceituação de caso. tais problemas através do preenchimento da planilha que está no arquivo eletrônico. A escala de mensuração do termômetro varia em: não me atrapalha em nada (O); me atrapalha um pouco (l); geralmente me atrapalha (2); me atrapalha muito (3). Com crianças menores, o clínico deve usar a noção de maior ou menor para efetuar a mensuração sempre com o auxilio visual do termômetro, lembrando à criança que quanto mais próximo da ponta do termômet ro mais o problema incomoda. É interessante que o profissional anote na planilha a intensid:ide com a qual os problemas atrapalham a roti- na das crianças semanalmente. Lembre-se de que a caixa de problemas será aberta todas as sessões,e os problemas serão mensurados semanalmente. Aumentos ou diminuições na mensuração dos problemas de\'em ser explorados com a criança enfat1zan do os acontecimentos, pensamentos e sentimentos associados ao aumento ou à diminuição dos problemas da caixa. A cada sessão, o terapeuta pode escolher um ou mais problemas da caixa para trabalhar. Esses procedimen- tos tornam o processo terapêutico mais claro para a criança. Além disso, a planilha pode servir para nortear o processo de orientação de pais, mos trando que tipos de eventos ampliam ou reduzem os sintomas da criança. Nos próximos cap1tulos, apresentaremos como trabalhar com as cartas problemas em função do tipo de psicopatologia que elas representam de forma mais enfatica e sistematizada. 30 Capítulo 3 - O Baralho de Problemas e a Depressão Infantil DEPRESSÃO INFANTIL: COMO IDENTIFICAR~ É consenso na atualidade que antes da fase escolar é incomum o surgi- mento de quadros depressivos. Por outro lado, a depressão em crianças na fase escolar e, em especial, na adolescência não é mais questionada. A questão é que a depressão em crianças, adolescentes e adultos assume formas de expressão diferenciadas. Um bom exemplo diz respeito ao tem- po de duração. Fnquanto em adultos notamos um efeito da cronicidade, a pessoa fica por d ias, meses ou mesmo anos apresentando \'arios sinais e sintomas em intensidades variadas, como por exemplo um humor deprimi do ou diminuido, a criança apresenta por sua Yez "episódios depressivos·: ou seja, em um dado momento apresenta um estado de humor negati,·o e fortemente diminuido, ou crises de raiva muito intensas e logo a seguir está novamente brincando, ou interessada em seu videogame, ou no facebook, ou ainda assistindo T\'. Isso causa uma grande confusão nos pais ou cuida dores, o que faz com que eles desconsiderem sinais e sintomas importantes e só procurem ajuda depois de um longo tempo de instalação da doença. A depressão na infância é mais episódica e menos um estado psicológico. Também é importante destacar que alguns sintomas manifestos na ado- lescência estão ausentes na infância. Por exemplo, o conteúdo da depressão na adolescência co5tumciramente associa se a relações afetivas desfeitas (namoro), a dificuldades de integração social, a problemas escolares, à expe- nência de sofrer liullying. Isso costumeiramente provoca no jovem insônia, distúrbios alimentares ou quadros de ansiedade comórbidos. Na criança, por sua vez, há o temor da perda de um dos pais, ou a perda propriamente dita, a perda de objetos (por exemplo, brinquedos que se quebram ou são perdidos, ou a perda do animal de estimação). Isso costuma produzir pesa <leios, comorbidades como ansiedade de separação, medos, etc. Embora estabelecer critérios diagnósticos tenha sido um problema con- sensual em psicologia clínica infantil, atualmente ut ilizam-se os mesmos 6 Parte teonca ba,eada em [)Sl\1 l\'-TR (Amencan Psychiatric Association ,APA j, 2002); Bahls e Bahh (2001 ); ( .aballo e Simon (200..\a, 200..\b); Domingos e l\laluf (2003); 1 ernamb ct ai. (2008); htedberg e r..kClure (2001 ); Lopes e Lopes (2008); Miyuaki (2000). 31 O Baralho de Problemas e J deprc".io infantil índices diagnósticos para adultos e crianças no que diz respeito à depressão, utilizando-os de forma contextualizada. DESCRIÇÃO CLINICA A depressão é definida como um problema psicológico complexo (uma síndrome sintomática) cujas características principais são, por um lado, o estado de ânimo irritável e/ou disfórico e por outro a falta de motivação e a diminuição de comportamentos instrumentais adaptativos. Na Tabela 1, são apresentados os sinais e sintomas primários e secundários da depressão com ênfase ao quadro na infância e na adolescência. Tabela 1: Sinais e sintomas primarios e secundários da depressão na in- fância e na adolescência de acordo com o DSM IV-TR (APA, 2002) Sintomas primários da depressão Sintomas secundários da depressão O sono Ânimo irritável ou deprimido (<lisfórico) Algumas crianças e alguns adolescentes Quando a criança ou o adolescente apre· senta alteração no sono frequentemente costumam apresentar um humor irritáwl e notamos a presença de insônia inicial, apresentam uma rat\'a persistente acompa nhada por explosões de rai\'a e 'entimento> média ou tardia e, menos frequentemente, hiper'>onia exagerados de frustração. Alterações psicomotoras Por sua wz, a cnança pode apresentar um Quando ocorrem alterações psicomoto-humor Inste, disforico, caracterizado por ex - ras, elas podem sinalizar uma ati\'idade pressões de desesperança ou an,ioso. Humor aumentada (a criança ou o adolescente não irritável e disfórico podem alternar-w na fica sentado( a), esfrega as mãos, beli>ea 'e mesma criança ou no mesmo adolescente. etc,) ou uma ati,·idade diminuída (lentidào As crianças ou os adolescentes também na fala, no discurso, nos movimentos cor· podem apresentar \'aria'> qucix,1s som.itk.ts porais etc.) Também é possível notar uma ou dores físicas. diminuição na \'ariedade de conteúdo da fala e. em alguns Ca'>os, mutismo. Diminuição do interesse ou do pra1er Perda de energia cansaço ou fadiga em ali\·idades -.;esses caso<;. a criança ou o adole>ecnte Algumas crianças ou algum adolescente' reda ma de cansaço por realizar tarefas mui · ' perdem o interesse por atividade, que to simp)e, e rotineiras como, por exemplo, anteriormente eram dcsaita' como pra1c la\'ar o ro>to, escornr º'dente' e pentear rosas (jogar bola, praticar esportes, ª"1stir os cabelos. Também reclama de cansaço T\' etc). Sua capacidade de dc>frutar sem que nenhum exercício fü.ico tenha sido quando estão ne"ª' allndades também realizado. Notam-se grande, e,forços par.i diminui. Alguns abandonam seu' lwbbics e realizar pequenas atividade.,. entretenimentos e passam a apresentar um isolamento '>OCial. 32 Baralho <le problema" lidando com transtornos da infânua em busca <lo bem ·e,tar Sintomas primários da depressão Sintomas secundários da depressão Sentimentos de culpa e inutilidade ina- propriados e em excesso A criança - ou o adolescente · costuma, nesse> casos, faze r atribu1çõc' negativas a si mesma e dar um valor exagerado a acontecimentos corriqueiros cvidencian- do-os como prova> <le sua> 111adequaçõc,. Frequentemente, rumina acontec1mentos passados e apresenta sentimentos de culpa e inutilidade inapropriados. Perda de apetite ou aumento de peso Diminuição de habilidades de memória De uma forma geral, nota-se, na criança e atenção ou no adolescente, uma diminuição no As crianças e os adolescentes relatam apetite ou nos e>forço' para comer. Menos uma diminuição da capacidade de pensar, frequentemente, ha um aumento no apetite, concentrar-se, tomar decisões. lembrar-se mas quando isso ocorre nota-se um aumen- de coisas. Distraem-se com facilidade e têm to preferencial por doce,. dificuldade em concentrar-se. Geralmente, ha um rebaixamento do rendimento c.,colar. Pensamentos suicidas e tentativas de suicídio A criança acredita que tudo sena melhor se ela morresse, tem pensamentm. suicidas transitórios (poucos segundo>) e rccorren- tes. Pode apresentar planos para cometer suicídio e pode ter tentado se suicidar anteriormente. AVALIANDO A DEPRESSÃO COM O BARALHO DE PROBLEMAS A seguir, apresentaremos um roteiro de perguntas que podem feitas para a criança com o objetivo de ampliar as informações sobre as cartas escolhi- das por ela a fim de se avaliar um possível quadro depressivo. A Tabela 2 indica as cartas que exploram mais especificamente a depressão na infância e na adolesc;!ncia e quais questões complementares o profissional pode re- alizar para compreender melhor os problemas do cliente. Lembre-se não só de que o questionário deve ser aplicado depois que a criança faz todas as suas escolhascomo de que ela pode escolher cartas relacionadas a outros quadros psicopatológicos. Feitas as escolhas e os questionamentos, a crian- ça deve mensurar no te rmômetro dos problemas a intensidade com que o problema a atrapalha. 33 O Baralho de Problemas e a depressão mfantil Lembrete: O objetivo das cartas-problemas é favorecer a iden tificação dos problemas pela criança. A escolha de uma ou mais de uma carta(s)-pro- blema(s) dessa categoria não significa que a criança apresente depressão. O psicodiagnóstico deve ser feito somando as informações dadas pelo(s) cui- dador (es), por inventários e testes psicológicos (preferencialmente os indi- cados pelo SATEPSI) que apontem para o referido quadro psicopatológico. Tabela 2: Como trabalhar com as cartas-problemas nas questões que avaliam sintomas de depressão infantil Cartas-Problemas Q uestões complementares Dé um exemplo de como sua Yida é ruim. Eu acho a minha Alguém ou alguma coisa torna sua ,;da ruim? vida ruim. Aconteceu alguma coisa que fez com que sua vida fosse ruim? Às vem>. sua \'ida é boa? Quando? Que pessoas ou coisas fazem sua vida ficar boa? Quando foi a última ve7 que você sentiu vontade de morrer ? Eu tenho vontade O que aconteceu para que \'OCê sentisse vontade de morrer? de morrer Alguma pessoa ou fato faz sua vontade de morrer aumentar? Você sente vontade de viver? Alguém ou alguma coisa faz você ter vontade de ' iver? O que ou quem atrapalha seu sono? Vocé tem pesadelos? Com o quê? Eu não consigo Você tem dificuldade de começar a dormir? dormir bem. Você acorda com facilidade? Alguém faz você dormir? Qual é a melhor parte em dormir? Quem não gosta de ,·ocê? O que essa pessoa faz ou diz para você acreditar que ela n.ío Eu s into que gosta de \'OCê ? Você faz coisas para que ela não goste de você? O quê? ninguém gosta Alguém gosta ou já gostou de ''ocê? Quem? de mim . Por que es'a pessoa gosta ou gostou de você? O que ela fá . ou disse? \'ocê l'a! coisa., para que essa pessoa goste de você? O quê? Em que situações você se sente sozinho( a)? Eu me sinto O que voú' faz quando se sente sozinho( a)? sozinho(a). De,de quando você se sente sozinho(a)? Você tem amigos? Quem são eles? Onde você encontra seus amigos? 34 Baralho de problema'>: lidando com transtornos da infáncia em busca do bem-estar Cartas-Problemas Ques tões complementares Quando foi a ultima \'ez que Yocê pensou em morrer? Conte· me sobre esse pensamento. Eu, às vezes, penso O que aconteceu para que você pensasse em morrer? Alguma pessoa ou fato faz você pensar em morrer? em morrer. \'oc<' pcm a que é bom viYer? Alguém ou alguma coisa faz você pensar em como é bom viver? l'm que situações você sente pena de você? Eu sinto pe na de O que você faz quando sente pena de você? De,de quando você sente pena de você? mim mesmo(a). Vocé gosta de algo em você? O que é? Seus amigos gostam de algo em você? Do que eles gostam? Quando ,·ocê sente ,·ontade de ficar sozmho(a)? O que acontece para que ,·ocê sinta vontade de ficar 'otinho(a)? Eu sinto \Ontade Com que frequência rncê sente ,·ontade de ficar '>Otinho(a)? de fica r sozinho(a). \'ocê go>ta de ficar com seu> amigos ou pa1'? \"ocê go>ta mais de brincar sozinho(a) ou com os( a,) am1 · go,(as)? Quando \'OCê sente vontade de chorar? Eu sinto muita O que acontece para que Yocê sinta vontade de chorar? vontade de chorar. Com que frequência você sente vontade de chorar? Você gosta de r ir? O que faz você rir? Você faz alguém rir? Conte-me um exemplo. Quando você se sente tnste? O que acontece para que você se sinta triste? Eu me sinto t r iste. Com que frequência você fica triste1 \'ocê fica alegre? O que fa7 com que você fique alegre? Conte-me um exemplo. REFERtNCIAS E LEITURAS SUGERIDAS American Psych iat ric Association. (2002). DS,\1-I\"-TR: Mcm11al dwgnostico e esta- tístico de tm11stornos 111entc11s (4. ed. rev., C. Do rnelles, trad.). Porto Alegre: Artmed. Ba hls, S., & Bahls, I-. R. C. (2002). Depressão na ad olescên cia: caractenst icas clinicas. /11temção em Psicologia, 6( 1 ), 49-5-. Caba llo, V. 1:.. & Simo n , J\I. A. ( 2004a). Mamial de psicologia clinirn i11fa11til e do ado- lescente: Transtornos específicos. São Paulo: Liv raria Santos. Caballo, V. E. & Simon, M . A . (2004b). ,\1a11ual de psicologia clinica i11jimtil e do ado- lescente: Transtornos gerais. São Paulo : Livraria Santos. 35 O Baralho de Problema' e a depre.,.,ão mfantil Domingos, B., & :\laluf, t\l. R. (2003). Experiências de perda e luto em escolares de 13 a 18 anos. Psicologia: Reflexiio e Crítica, 16(3), Si7-589. Fernandes, L. F. B., Silveira, 1.. R., Myiazaki, M. C., Domingos, N. A. t\I., Luiz, A. t\l. A. G., & :\ticheletto, M. R. D. (2008). Eventos aversivos e depressão na adolescência: Relato de caso. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas. 4(1). Disponível em http:/I pepsic.bvsalud.orglpdf/rbtc/v4n l/v4n 1 a07.pdf hiedberg, R. D., & McClurc, ). M. (2001 ). A prática clínica da terapia cognitiva co111 crianças e adolescentes. Porto Alegre: Artmed. Lopes, R. F. F., & Lopes, E.). (2008). Conhecendo-se para educar: Uma visiio comporta· mental-cognitiva da orientaçiio de pais. Ribeirão Preto: Legis Summa. Miyazaki. M. C. O. S. (2000). Depressão Infantil. ln E. F. M. Sil\ares (Org.), Est11do.s de caso em psicologia clinica co111portc1111e11tal (vol. 2, pp. 43-62). Campinas: Papirus. 36 Capítulo 4 - O Baralho de Problemas e a Ansiedade Infantil TRANSTORNOS DE ANSIEDADE: UMA INTRODUÇÃO' Neste capítulo, apresentaremos em linhas gerais as principais caracte- rísticas dos seguintes Transtornos de Ansiedade: medos e fobias; Transtor- no de Ansiedade de Separação; Transtorno de Ansiedade Generalizada e Transtorno do Pânico na Infância. De forma geral, nota-se que os pesquisadores vinham subestimando o sofrimento das crianças e as repercussões negativas ocasionadas pelas fo- bias na infância no campo da pesquisa e da aplicação. Uma das explicações para esse fato é que as crianças experimentam inúmeros medos no curso de seu desenvolvimento. A maioria dos medos infantis é transitória, de in- tensidade leve e específica de uma idade. Os chamados medos "evolutivos" proporcionam às crianças os meios de adaptação a diversos tipos de estímu- los estressantes vitais. Alguns medos da infância, contudo, persistem por anos, inclusive até a idade adulta, e causam um mal-estar clinicamente significativo à criança e/ou interferem no seu funcionamento cotidiano, na convivência familiar, escolar ou social. Para que um medo infantil seja considerado fóbico, é preciso: a) que ele seja desproporcional às demandas da situação; b) que a elevada ansiedade a ele associada o transforme em um comportamento desadaptativo; e c) que seja provocado por estímulos objetivamente inócuos (baratas, seres imagi· nários) ou por estímulos sob controle (por exemplo, cachorro na coleira). Um outro critério é o de que o medo deve ser persistente. O atual DSM IV-TR (APA, 2002) reduziu este período de tempo para quatro semanas. Pesquisas espanholas têm mostrado que os principais medos infantojuve- nis são: medo do fracasso escolar; medo do mal-estar fisico; medo social e ansiedade antecipatória (Caballo & Simon, 2004). 7 Parte teórica baseada em D5~1 !V-TR (American Psychiatríc Assodation [APA ', 2002); Asbahr (2004); C.aballo e Simon (2004a, 2004b); Friedberg e McClure (200 1 ); lopes e Lopes (2008); Orgamzaçáo Mundial da Saude ( 1993). 37 O Baralho de Problema' e a ansiedade infantil TRANSTORNO DE ANSIEDADE DE SEPARAÇÃO Segundo o DSM JV-TR (APA, 2002), a ansiedade de separação trata-se de uma ansiedade imprópria e excessiva em relação ao nível de desenvol- \'imento envolvendo uma grande dificuldade do afastamento do lar oude figuras de vinculação. O transtorno pode ser diagnosticado quando três (ou mais) dos seguintes aspectos estão presentes: Tabela 3: Características do Transtorno de Ansiedade de separação se- gundo o DSM IV-TR (APA, 2002). 1 Sofrimento intenso e recorrente diante da ocorrência ou previsão do afa>tamento de casa ou de figuras importantes de \'inculação. 2- Preocupaç.io persistente e excessi,·a acerca da possi\'d perda ou de perigos envolvendo figuras importantes de vinculação (por exemplo: pai, mãe). 3- Preocupação persistente e excessiva de que um evento indesejado leve a uma separa- ~ão da figura importante de vinculação (perder se; ser >equestrado). 4 Relutância per>i'>tentt· ou recusa a ir para a e'cola ou qualquer outro lugar em \'irtude da scparaçáo. 5 Temor cxcessi,·o e persistente, relutância em ficar sozinho ou sem figuras de Yincula- ção em casa ou sem adultos significativos em outros contextos. 6- Relutánc1a ou reema persistente em ir dormir sem est<1r próx11110 da figura de nncula- ção ou dificuldade de pernoitar fora de casa. - Pesadelos repetidos envol\'endo o tema da separação. 8- Repetidas queixas de '>mtomas somaticos (tais como cefaleias, dores abdominais, nauseas e vômitos) quando a separação de figuras importantes de ,·inculação é pre,·ista ou ocorre. TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA (TAG) A característica principal do TAG é uma preocupação excessiva não centrada em situação ou objeto específico e com ênfase nos sintomas fisio- lógicos que acompanham a ansiedade. As crianças que apresentam TAG informam preocupação em uma grande variedade de áreas: acontecimentos futuros; desempenho; segurança pessoal e avaliação social. Elas apresentam queixas somáticas, tais como dores de cabeça e dores de estômago. São des- critas como perfeccionistas, ávidas por agradar os outros e excessivamente 38 Baralho de problemas: lidando com transtornos da infância em busca do bem-estar maduras. O TAG é mais frequente em meninas, e sua prevalência se dá em torno dos 12 aos 19 anos. Estudos foram realizados para a caracterização das cognições, das rela- ções com colegas, da família e de problemas escolares de crianças ansiosas. As cognições das crianças que apresentam ansiedade generalizada são ca- racterizadas por um excesso de pensamentos negativos, por distorções cog- nitivas como personalização e catastrofização e por uma alta frequência de pensamentos não modulados que interferem no seu desempenho cotidia- no. Quanto ao desenvolvimento social, essas crianças têm dificuldades nas relações sociais com os colegas porque outras crianças as percebem como sendo tímidas e isoladas. No que tange a problemas escolares, o Transtor- no de Ansiedade Generalizada está associado à rejeição escolar, ao medo diante das provas e ao baixo rendimento escolar. As famílias dessas crian- ças parecem apresentar algum tipo de disfunção, e os problemas mais co- muns parecem estar associados a superproteção, ambivalência com relação à criança e insatisfação marital. O DSM-IV-TR detalha o TAG conforme podemos observar na Tabela 4: Tabela 4: Características do Transtorno de Ansiedade Generalizada se- gundo o DS~l IV-TR (APA, 2002). 1) Trata ·se de ansiedade e preocupação excessivas, ocorrendo na maioria dos dias pelo pcriodo mínimo de seis meses em diferentes eventos e atindades. 2) O indi\'iduo considera difícil controlar a preocupação. 3) A ansiedade e a preocupação são associadas com pelo menos três dos seguintes sinto- mas: inquietação ou semação de estar com os nervos à flor da pele; faligabilidade; sensação de branco na mente; irritabilidade; tensão muscular; perturbação do sono. -1) O centro da ansiedade e da preocupação não se limita aos sintoma'> dos transtornos do eixo 1 e não são derivadas de estresse pós-traumático. 5) A ansiedade, a preocupação ou os sintomas !'bicos causam sofrimento clinicamente significativo e prejuízo no funcionamento social, ocupacional e de outras áreas importan- tes da vida do sujeito. 6) As perturbações não .,e dewm a efeitos fi5iológicos ou a abuso de substâncias psicoatiYas. 7) As preocupações e inquietações da criança não podem estar relacionadas a nenhum outro Transtorno de Ansiedade. 8) f: essencial diferenciar a TAG de transtornos somáticos porque as queixas somáticas das crianças são constantes. 39 O Baralho de Problemas e a an.,iedade infantil TRANSTORNO DO PÂNICO (TP) O DSM-IV-TR define o TP como a presença recorrente de ataques de pâ- nico que podem durar minutos ou horas e consiste em uma série de sintomas aversivos, somáticos e cognitivos que atingem a sua máxima intensidade nos primeiros dez minutos e depois começam a diminuir gradualmente. Os sintomas mais comuns são: palpitações ou taquicardia; sudorese; tremores; sensação de sufocamento ou falta de ar; sensação de asfixia; dor ou desconforto torácico; náuseas ou incômodos abdominais; sensação de instabilidade, tontura ou desmaio; sensação de irrealidade ou despersona- lização; medo de perder o controle; medo de morrer; parestesias; calafrios ou ondas de calor. Os ataques de pânico podem ser classificados como: inesperados; situ- acionalmente predispostos; situacionalmente determinados. A agorafobia pode ou não acompanhar o TP. A agorafobia se define como um temor intenso de estar em situações nas quais pode ser difícil ou embaraçoso es- capar ou pedir ajuda no caso de se apresentar algum sintoma. As circuns- tâncias que os portadores de TP comumente evitam são: estar sozinhos fora de casa, estar em uma multidão, fazer fila, viajar em algum veículo etc. Me- ninas apresentam mais ataques de pânico do que meninos. A idade mais frequente para o início dos ataques de pânico é a adolescência média ( 14 anos); a agorafobia é mais comum a partir dos 24 anos. Estudos mostram que jovens com TP apresentam significativamente mais diagnóstico de de- pressão, diagnóstico de Transtorno de Separação e abuso de substâncias psicoativas. Os acontecimentos estressantes da vida e as respostas e dinâ- micas parentais e familiares podem servir como estímulos desencadeadores dos ataques de pânico. COMORBIDADE COM OUTROS TRANSTORNOS DE ANSIEDADE As possíveis explicações da presença frequente de transtornos múltiplos de ansiedade incluem a ocorrência de um Transtorno de Ansiedade que age como um fator de risco para outros, de tal maneira que diferentes transtornos de ansiedade têm a mesma etiologia, fato pelo qual os sujeitos atendem aos critérios de diagnósticos múltiplos. 40 Baralho de problema'>: lidando com transtornos da infância em busca do bem-e,tar AVALIANDO A ANSIEDADE COM O BARALHO DE PROBLEMAS A seguir, como no capítulo anterior, apresentaremos o roteiro de pergun- tas que podem ser feitas para a criança com o objetivo de ampliar as informa- ções sobre as cartas escolhidas por ela a fim de se avaliar um possível quadro de ansiedade. A Tabela 5 indica as cartas que exploram mais especificamente a ansiedade na infância e na adolescência e quais questões complementares o profissional pode realizar para ampliar sua percepção sobre os problemas do cliente. O mesmo procedimento descrito no Capítulo 2 deve ser realizado aqui: deixar a criança escolher todas as cartas, entrevistá-la, realizar a men- suração com o termômetro dos problemas e anotar os resultados na planilha. Lembrete: O objeti\'O das cartas-problemas é favorecer a identificação dos problemas pela criança. A escolha de uma ou mais de uma carta-problema dessa categoria não significa que a criança apresente Transtorno de Ansieda de. O psicodiagnóstico deve ser feito somando as informações dadas pelo(s) cuidador(es), por inventários e testes psicológicos (preferencialmente os in- dicados pelo SATEPSI) que apontem para o referido quadro psicopatológico. Tabela 5: Como trabalhar com as cartas-problemas nas questõesque ava- liam sintomas de ansiedade na infância. Cartas-Problemas Questões complementares Quem poderia lhe fazer mal? Eu tenho O que essa pc,soa poderia fazer de mal para Yocê? Como ela se sentiria? medo que Com que frcquéncia Yocê tem esse tipo de pensamento? alguém me As pc"oas podem fazer coisas boas para as outras? Dê-me um exemplo. faça mal. Alguém que n;io fosse de sua familia já fez algo bom para Yocê? O que foi? Como você acha que essa pessoa se sentiu? Você já fez algo de bom para alguém? O que foi? Como você 'C sentiu? Quai' ª' 'ituaçõe' que fazem \'O(ê ficar ansio,o(a) na e,wla? Algum.1' pe"ºª' aumentam sua ansiedade na es(ola? Quem ,jo Eu fico ansioso( a) ela,; O que ela' falem para \'Ocê? quando estou na Com qu<' frequcnda rncê fica ansioso(a) na e,cola? 11.í um momento do dia na escola que deixa \'Oci: ma1' an'iº"º' ,\ escola. hora do rccn~10? Alguma aula em e>pe.:ial? A aula de cducaç:10 tl-i.;a7 'km algum momento na e'cola ou em que diminui ,u.1 an,iedadc? Alguma P~''ºª na escola faz \'OCê se 'entir menos amio,o(a)7 Eu tenho medo Alguêm ja implicou com você antes? O que essa pessoa fez? que as pessoas im- O que vocé faz quando alguém implica com você? Você tú algo para que impliquem com você? pliquem comigo. Alguém j.i foi agradavel com você? Quem? Contc·mc a situação. 41 O Baralho de Problemas e a ansiedade infantil Cartas-Problemas Q uestões complemen tares Eu tenho medo O que você faz quando sente medo de monstro> ou espíritos? d e monstros Você assiste a fil mes de monstros ou esp1ritos' ou espíritos. \'ocê ja pensou que monstros não ex1~.tem e se sentiu seguro? O que ajudou você no passado a lidar com esse medo? Você já tirou notas baixas' O que fez quando IS'>O aconteceu? Eu fico com Você sabe o que precisa fazer para melhorar suas notas? medo de tirar Como seus pais reagiram a suas notas no passado? Foi como notas ruins. nKê esperava? \'ocê já ti rou notas boas? Como se sentiu? O que fez para tirar notas boas? Quando eu fico com med o ou Em que situações suas mãos tremem e seu coraçáo dispara? preocupad o (a), min has mãos O que você fa7 quando isso acontece? t remem e meu Seu coração JJ disparou quando algo muito bom aconteceu com você? coração dispara. Eu tenho medo Alguém já ticou bravo com você ante>' O que essa pe,,soa fez? que as pessoas \ 'ocê faz coisas para as pessoas ficarem bravas com você? O que você faz? fiquem bravas As pessoas que ficam brava~ com você já lhe fizeram um elogio? co migo. Conte-me como foi . Como mcê '>abe que esta ansioso(a)? Eu sou ansioso(a). O que você faz quando está ansioso( a)? Com que frequência você se sente ans1oso(a)? O que voce faz para parar sua amiedade? Eu não consigo Em que você fica pensando enquanto não dorme? dormir bem . O que você sente quando pensa que não consegue dormir bem? Você tem feito alguma coisa para dormir bem? De que tipo de doença você tem medo? Eu tenho m edo de Você ,iá teve que ficar hosp1talindo antes? Conte me como foi? ficar d oente. Q ual a pior parte em ficar doente? Você é saud,ivel? Come com idas saud.iveis' Pratica esportes? REFERÊNCIAS E LEITURAS SUGERIDAS American Psychiatric Association. (2002). DSM- JV-TR: M1111ua/ di11g11óstico e estatístico de tra11stomos mentais (4. ed. rev., C. Dornelles, trad.). Porto Alegre: Artmed. Asbahr, F. (2004). Transtornos ansiosos na infância e adolescência: aspectos clínicos e neu- robiológicos. foma/ de Pediatria, 80(2), 28-34. 42 Baralho de problema'>: lidando com transtornos da infà1Kia em busca do bem·C'>tar Caballo, V. E., & Simon, l\l. A. (2QO.la). ,\famwl de psicologia clínica i11fa11til e do adolescen- te; Tra11Stomos espcc1f1cos. São Paulo: li\Taria Santos. Caballo, V. E., & Simon, M. A. (2QO.lb ) . .\1mmal de psicologia clinica i11j(mtil e do adolcsce11- te· Transtornos gerais. São Paulo: Li\Taria Santo>. h iedberg. R. D., & McClure, ). M. (200 l ). A prática clínica da terapia cog11iti1•11 com ai1111- çc1s e adolo:scentes. Porto Alegre: Artmed. Lopes, R. E F., & Lopes, E. ). (2008). Co11hcce11do-sc para educar: Uma visão comportc1111c11- tc1/-rng11itim da oric11taçc1o de pais. Ribeirão Preto: Legis Summa. Organização Mundial da Saude. ( 1993). Classificação de tm11Stomos mentais e de compor- tamento d11 CTD-10: Descrições clínicas e diretrizes diag11ósticas. Porto Alegre: Artmed. 43 Capítulo 5 - O Baralho de Problemas e o Transtorno Desafiador Opositivo O TRANSTORNO DESAFIADOR OPOSITIVO: ALGUMAS CONSIDERAÇÓESA O Transtorno Desafiador Opositivo (TOO) é caracterizado por um pa drão de comportamento negativista, hostil e desafiador. O TDO parece ser influenciado por múltiplos fatores inter-relacionados que podem funcionar como variaveis que atuam ora como causa e ora como efeito do transtorno. Sabe-se que o TDO é moldado e mantido pela natureza das interações reci- procas entre crianças e adultos significativos. Alguns fatores que influenciam essa interação são: crianças com tem- peramento difícil; pais imaturos, aos quais faltam experiência com relação à educação dos filhos, hostilidade e labilidade emocional obsen adas em famílias; interações deficientes entre criança e figura de autoridade; e opa- pel do reforçamento negativo na interação pai-criança (quando as crianças atuam de maneira desafiadora e agressiva para com os pais e tal comporta mento produz consequências favoráveis para fazer o que a criança deseja). É importante destacar, entretanto, que o comportamento oposicional temporário é muito comum em crianças pré-escolares e adolescentes. Por- tanto, deve-se ter cuidado ao fazer o diagnóstico de TDO, especialmente durante esses períodos do desenvolvimento. Quando se constata o TDO, no entanto, nota-se que o número de sinto- mas de oposição tende a aumentar com a idade. O transtorno é prevalente em homens comparativamente às mulheres antes da puberdade, mas as ta- xas são provavelmente iguais após a puberdade. Os sintomas em geral são similares para ambos os gêneros, à exceção do fato de que os homens po- dem apresentar mais comportamentos de confronto e sintomas mais per- sistentes. O Transtorno Desafiador Opositivo em geral se ma111festa antes dos oito anos de idade e no início da adolescência. Os sintomas opositiYos 8 Pdrte teúrka h.1'eada em DS:\1-1\'-TR (Ameri(an Psy,hiatrk ,\,,_o.:1ation ! \P.\ '. 2000); Caballo e Simon (2004.1, 20().Jb); Lopes e Lopes (2008); Organização i\lundial da Saude ( 1993); Serra-Pinheiro, Guímaràc,, e Serra (2005); Serra-Pinheiro, Schmítz. Mattos. e Souza (2004); Souta, Serra, \!altos, e hanco (2001 ). 45 O Baralho de ProblemJ' e o Tramtorno desafi,1dor opositirn frequentemente emergem no contexto do lar, mas com o tempo podem aparecer também em outras situações. O início é tipicamente gradual, ge- ralmente se estendendo por meses ou anos. Em uma proporção significativa dos casos, o Transtorno Desafiador Opositivo é um antecedente evolutivo do Transtorno de Conduta. PADRÃO FAMILIAR DO TDO O Transtorno Desafiador Opositivo parece ser mais comum em famílias nas quais pelo menos um dos pais tem uma história de Transtorno do Humor, Transtorno Desafiador Opositivo, Transtorno de Conduta, Transtorno de Dé- ficit de Atenção/Hiperatividade, Transtorno da Personalidade Antissocial ou um transtorno relacionado a substâncias. Além disso, alguns estudos sugerem que as mães com transtorno depressivo estão mais propensas a terem filhos com comportamento oposicional, mas não está claro o grau em que a depressão materna é causa ou consequência do comportamento oposicional nas crianças. O TOO é mais comum em familias nas quais existem problemas conjugais. CARACTERÍSTICAS DIAGNÓSTICAS O DSM-IV-TR detalha o TOO conforme podemos observar na Tabela 6: Tabela 6: Características do TranstornoDesafiador Opositivo segundo o DSM IV-TR (APA, 2002). A. Trata-se de um padrão de comportamento negativista, hostil e desafiador persistente durando pelo menos seis meses, durante os quaís quatro (ou mais) das seguintes caracte- rísticas estão presentes: ( 1) a criança ou o adolescente frequentemente perde a paciencia; (2) a criança ou o adolescente frequentemente discute com adultos; (3) com frequência, desafia ou se recusJ ativamente a obedecer a solicitações ou regras dos adultos; (-1) frequentemente, perturba as pc.,.,oas de forma deliberada; (5) frequentemente, respon,ahili1a º'outros por seus erros ou mau comportamento; (6) mostra-se frequentemente suscetivd ou é aborrecido com facilidade pelos outros; (7) frequentemente, a criança • ou o adolescente - mostra-se enrah·ecída e ressentida; (8) frequentemente, é rancoroso(a) ou ,·ingativo(a). Obs: A) !ô fundamental con~iderar o critério como satisfeito apenas se o comportamento ocorre com maior frequência do que se observa tipicamente em individuos de idade e nível de desenvolvimento comparáveis. 46 Baralho de problemas: lídando com transtornos da infância cm busca do hem-estar B) A perturbação do comportamento deve causar prejuízo clinicamente signifaativo no funcionamento soda!, acadêmico. C) Os comportamentos não ocorrem exclusivamente durante o curso de um Transtorno Psicótico ou Transtorno do Humor. D) 1'ão sâo satisfeitos os critérios para Transtorno de Conduta. O DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL E O TDO Como foi salientado na Tabela 6, é importante diferenciar o TOO do Transtorno de Conduta, dos Transtornos do Humor e dos Transtornos Psi- cóticos que podem estar presentes em crianças e adolescentes, não deven- do ser diagnosticado em separado se os sintomas ocorrerem exclusivamente durante o curso de um Transtorno do Humor ou Transtorno Psicótico. Os comportamentos de oposição também devem ser diferenciados do compor- tamento diruptivo, que resulta da desatenção e impulsividade no Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade. Em indivíduos com retardo mental, um diagnóstico de TOO é dado apenas se o comportamento oposicional é acentuadamente maior do que aquele em geral observado entre indivíduos de idade, gênero e gravidade do Retardo Mental comparáveis. O TOO também deve ser diferenciado de um fracasso em obedecer a comandos resultantes de prejuízo na compreensão da linguagem (por ex., perda auditiva, Transtorno Misto da Linguagem receptivo-expressiva). Um diagnóstico de TOO deve ser considerado apenas se os comportamentos ocorrem com maior frequência e têm consequências mais sérias do que se observa tipicamente em outros indi- víduos de estágio evolutivo comparável e se acarretam prejuízo significativo no funcionamento social, acadêmico ou ocupacional. AVALIANDO O TDO COM O BARALHO DE PROBLEMAS Como nos cap1tulos anteriores, apresentaremos o roteiro de perguntas que podem feitas para a criança com o objetivo de ampliar as informações sobre as cartas escolhidas por ela a fim de se avaliar um possível quadro de TOO. A Tabela 7 indica as cartas que exploram mais especificamente o TOO na in- fância e na adolescência e quais questões complementares o clínico pode rea- lizar para ampliar suas informações sobre os problemas do cliente. O mesmo procedimento descrito nos capítulos 2, 3 e 4 deve ser realizado aqui: deixar 47 O Baralho de Problemas e o Tramtorno desafiador opositivo a criança escolher todas as cartas, entrevistá-la, realizar a mensuração com o termômetro dos problemas e anotar os resultados na planilha. Lembrete: O objetivo das cartas-problemas é favorecer a identificação dos problemas pela criança. A escolha de uma ou mais de uma carta-problema dessa categoria não significa que a criança apresente transtorno opositivo. O psicodiagnóstico deve ser feito somando as informações dadas pelo(s) cuida- dor(es), por inventários e testes psicológicos (preferencialmente os indicados pelo SATEPSI) que apontem para o referido quadro psicopatológico. Tabela 7: Como trabalhar com as cartas-problemas nas questões que avaliam sintomas de TOO na infância Cartas· Problemas Questões complementares Quab pessoas ,30 lllJUsta.' com você? De exemplos das inJusti•;m. que Eu acho que as elas fazem. \'oc~ ~injusto C(lm alguém? pessoas são injustas O que ,.o(ê faz quando se sente inju5tiçado? comigo. h'o ajuda ou não? Alguém já foi justo com Yocê? Conte-me. As outras crianças Quem faz ni<ê perder a cabeça e ficar agressivo? me fazem perder fnl que '\illli\ÇÔl'' i''º ocorre? a cabeça, ficar Em que o(a) a.1uda \CU comportamento agressi\'O' Corno' agressivo Outra' crian\a' JiÍ perderam a cabeça e foram agressivas com você? Como você se 'cnt1u? Conte· me. As pessoas Quem o(a) chateia? O que as pessoas fazem para chateá-lo(a)? Dê-me um exemplo. me chateiam. \'ocê chatda alguém? Conte-me. Quando eu fico O que faz ,·ocê 'cntir tanta raiva? com muita raiva, Fia não Pª"ª me,,mo' Ou você tem alguma cstratcgia para da pa"ar? a raiva não passa. Quanto tempo dura a sua raiva? Alguém jú 'ent1u raiYa as,im de rncê? Como você se sentiu? Eu acho que as O que as pê>-'ºª' fazem para você pensar que elas estão contra vo.:ê? pessoas estão Dê-me um exemplo. contra mim. \'ocê já ficou contra uma pc"oa? Conte-me: o que fez? Como ~c sentiu? Eu não estudo O que acmll<'CC qu.rndo nKê não estuda para urna proYa' para as provas. Qu.11 o problema cm estudar para uma prm·a? Eu não obedeço O que acontece quando você não obedece aos seus pais? Qual o problema em ser obediente? aos meus pais. Dê-me exemplos de suas desobediências. 48 ,~ ·i l Baralho de problema-= lidando com tran,tornos da infancia em bu,ca do bem-estar Cartas-Problemas Questões complementares O que voce faz para deixar as pessoas nerYosa'? Eu deixo as O que as pessoas fazem quando Yocé as deixa ner"º'ª'? pessoas nenosas. Como \'OCé se sente quando deixa as pe"ºª' nernhas? \"oâ é capai de deixar as pessoas telizes? Conte-me. Eu discuto com Dê-me um exemplo de uma discussão com um adulto ou de uma situa· os adultos (sou .;ào em que YOCê foi respondão ( respondona). respondão). O que aconteceu quando Yocê discutiu com essa pessoa? Como você se sente quando discute com uma pc"ºª mai' Yclha? O que acontece quando você nào faz a tarefa? Eu não faço tarefa. Qual o problema em fazer a tarefa? \"oce não !"aí a tarefa porque não comegue ou porque n.io deseja' Dê· nw exemplos dessas situações. REFERtNCIAS E LEITURAS SUGERIDAS American Psychiatric Association. (2002). DSM-1\'-TR: .\fmwal díag11óstico t' esta- tístico de tra11stornos mentais (-l. ed. rev., C. Dornelles, trad.). Porto Alegre: Artmed. Caballo, V. E., & Simon, ~1. A (200-la). Mamwl de ps1colog1a dímrn i11ji111t1/ c do ado- lcscc11tc: 'liw1stomo.1 cspccifiros. São Paulo: Livraria Santos. Laballo, \~ E., & Simon, M. A. (200-lb). Afm111al de psicologia dí11ica i1~f(111/i/ e do 11do- lcsce11tc: J"r1111stomos gerais. 5áo Paulo: Livraria Santos. Lopes, R. F. F., & Lopes, E. J (2008). Conhecendo-se para edurnr: Uma 1•istio ro111porla- 111c11tal-cog111t11•11 da oncntaçtio de pms. Ribeirão Preto: Legis Summa. Organização }.lundial da Saude. ( 1993) Classificação de tm11storrw.1111t'11tais e dt' co111- portc1111c11to da Cf/J . JO: [)t'.1aiçàes clínicas e diretrizes diagnósticas. Porto Alegre: Art- med. Serra-Pinheiro,~!. A., Guimarães, ~1. ~1.. & Serra,~!. E. (2005). A efic.kia de treina- mento de pais em grupo para pacientes com transtorno desafiador de opos1çao: L·m estudo piloto. Rn·ista de Psiq11ic1tria Clí11ica, 32(2), 68-'2. Serra-Pinheiro, ~I. \., Schmitz, }.!., }.lattos, P., & Souza, 1. (200-1) Transtorno desafia- dor de oposição: lJma n.:Yisáo de correlatos neurobiológicos e ambientais, comorb1da- dcs, tratamento e prognóstico. Rcl'i.1ta de Psiquiatria Clínica, ..?6(-l). 273·276.Souza, 1., Serra, M. A., ,\latto;, P., & Franco, \'.A. (2001 ). Comorb1dadc cm crianças e adolescentes com transtorno do déficit de atenção: Resultados preliminares. Arquivo.:; de Nc11ropsiq11ic1tria, 59(2B), 40 1-406. 49 Capítulo 6 - O Baralho de Problemas e o Transtorno de Conduta O TRANSTORNO DE CONDUTA: DIAGNÓSTICO E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS O Transtorno de Conduta é um padrão repetitivo e persistente de com- portamento agressivo e destrutivo no qual são violados os direitos básicos dos outros ou as normas ou regras sociais importantes. Dois subtipos de Transtorno de Conduta são diagnosticáveis, e essa classificação se faz com base na idade de início dos sintomas. Os subtipos diferem com relação à natureza característica dos problemas de conduta apresentados, ao curso do transtorno, ao prognóstico e à distribuição entre os gêneros masculino ou feminino. Ambos os subtipos podem ocorrer de forma leve, moderada ou severa. Na avaliação da idade de início do trans- torno, as informações devem ser obtidas preferivelmente da criança ou do adolescente e de seus responsáveis. Uma vez que muitos comportamentos diruptivos podem ser ocultados, os pais ou responsáveis podem não relatar todos os sintomas ou ainda superestimar a idade de seu início. As classificações diagnósticas são: tipo com início na infância e tipo com início na adolescência. O tipo com início na infância é definido pela presença de pelo menos um critério característico do Transtorno de Conduta antes dos dez anos de idade. Os indivíduos mais frequentemente acometidos são do sexo mascu- lino e geralmente demonstram agressividade física para com outros, têm relacionamentos perturbados com seus pares, podem apresentar o Trans- torno Desafiador Opositivo durante um período precoce de sua infância e geralmente apresentam sintomas que satisfazem todos os criterios para Transtorno de Conduta antes da puberdade. Essas crianças estão mais pro- pensas a ter Transtorno de Conduta persistente e a desenvolver Transtorno da Personalidade Antissocial na idade adulta do que aqueles jovens com o tipo com início na adolescência. 9 Parte teórica baseada em DS:\1-1\'-TR (American Psychiatric Association lAPAI. 2002); Bordin e Otford (2000); Cab,1110 e Simon (2004a, 2004b); Feijo e Oliveira (2001 ); Marinho e Caballo (2002); Orga111zação Mundial da Saude (1993); Pacheco, Alvarenga, Reppold, Picci- nini, e Hultz (2005). 51 O Baralho de Problemas e o Tran,torno de Conduta O tipo com início na adolescência, por sua vez, é definido pela ausên- cia de quabquer critérios caractensticos do Transtorno de Conduta antes dos dez anos de idade. Em comparação com o tipo com início na infân- cia, esses indivíduos estão menos propensos a apresentar comportamen- tos agressivos e tendem a ter relacionamentos mais próximos do padrão esperado com seus pares (embora frequentemente apresentem problemas de conduta na companhia de outros Jovens). Eles estão menos propensos a ter um Transtorno de Conduta persistente ou a desenvolver Transtorno da Personalidade Antissocial na idade adulta. Alem disso, a razão de homens para mulheres com Transtorno de Conduta é menor para o tipo com 111icio na adolescência do que para o tipo com início na infância. Como dissemos anteriormente, o Transtorno de Conduta, especialmen- te do tipo com início na infância, e muito mais comum no sexo masculino. As diferenças entre gêneros também são encontradas na expressão dos sin- tomas ligados a problemas de conduta. Enquanto a agressão com confronto é mais comum entre os homens, as mulheres tendem a usar comportamen- tos agressivos sem confronto físico. Os homens com um diagnóstico de Transtorno de Conduta frequentemente apresentam lutas, furtos, vanda- lismo e problemas de d isciplina na escola. Já as mulheres com diagnóstico de Transtorno de Conduta tendem a mentiras, participação em bagunças no ambiente escolar, fuga de casa, uso de substâncias e prostituição. f bom lembrar, entretanto, que esses comportamentos apresentados isoladamente e sem a intenção de ferir regras e agredir não são por si só sinais de Trans- torno de Conduta, já que todos eles podem ser motivados por eventos que não se alinham ao contexto ligado ao Transtorno de Conduta. Com relação aos 111veis de gravidade dos sintomas, o Transtorno de Conduta pode ser diagnosticado como leve, moderado ou severo. No Transtorno de Conduta leve, são notados poucos problemas de conduta (os problemas de conduta causam danos relativamente pequenos a outros, por ex., mentiras para prejudicar o outro deliberadamente, bagunça na escola com destruição de objeto). No Transtorno de Conduta moderado, o nume- ro de problemas de conduta e o efeito sobre os outros atingem um patamar intermediário entre "leves" e "severos" (por ex., furtos sem confronto com a vitima, vandalismo). No Transtorno de Conduta severo, notamos muitos problemas de comportamentos que causam danos consideráveis aos outros (por ex., sexo forçado, crueldade física, uso de arma, roubo com confronto com a vítima, arrombamento e invasão). Percebe-se a existência de uma 52 Baralho de problemas: hdando com transtornos da infância em busca do bem-e,tar proporcionalidade entre o desenvolvimento de maior força física, das ca- pacidades cognitivas e da maturidade sexual e os sintomas do transtorno. Comportamentos menos severos (por ex., mentir, furtar em lojas, entrar em lutas corporais) tendem a emergir primeiro, enquanto outros (por ex., rou- bo) tendem a manifestar-se mais tarde. Entretanto, existem amplas diferen- ças entre os indivíduos, sendo que alguns se envolvem em comportamentos mais prejudiciais em uma idade precoce. Alguns profissionais têm manifestado a preocupação de que o diagnós- tico de Transtorno de Conduta possa, ocasionalmente, ser mal aplicado a indiv1duos em contextos nos quais os padrões de comportamento inde- sejável às vezes são vistos como protetores (por ex., contexto ameaçador, empobrecido, com alto índice de criminalidade). Consoante à definição de transtorno mental do DSM-IV-TR (APA, 2002), o diagnóstico de Trans- torno de Conduta aplica-se apenas quando o comportamento em questão é sintomático de uma disfunção básica interior ao indivíduo (problema ca- racterológico), e não uma mera reação ao contexto social imediato. A prevalência de Transtorno de Conduta parece ter aumentado nas últi- mas décadas, podendo ser superior em contextos urbanos em comparação com a área rural. Infelizmente, o Transtorno de Conduta é uma das condi- ções mais frequentemente diagnosticadas em instituições de saúde mental ambulatoriais e de internação para crianças. Estimativas obtidas a partir de estudos de gêmeos e de adoções mostram que o Transtorno de Conduta tem componentes tanto genéticos quanto am- bientais. O risco de Transtorno de Conduta é maior em crianças com um dos pais biológicos ou adotivos com franstorno da Personalidade Antisso- cial ou um irmão com Transtorno de Conduta. O transtorno também parece ser mais comum em filhos de pais biológicos com dependência de álcool, Transtornos do Humor ou Esquizofrenia ou pais biológicos com história de Transtorno de Deficit de Atenção/Hiperatividade ou Transtorno de Conduta. CARACTERÍSTICAS DIAGNÓSTICAS DO TRANSTORNO DE CONDUTA O DSM-IV-TR (APA, 2002) descreve os sinais e sintomas do Transtorno de Conduta conforme podemos observar na Tabela 8. Tabela 8: Características do Transtorno de Conduta segundo o DSM IV- TR (APA, 2002) 53 O Baralho de Problema" e o Transtorno de Conduta A. Um padrão repetitivo e persistente de comportamento no qual são violados os direitos b.ísicos dos outros ou ª" normas ou regras sociais importantes apropriadas:. idade, ma- nitestado pela presença de três (ou mais) do,, seguintes critérios nos último' doze meses, com pelo menos um critério presentenos últimos seis meses: Agressão a pessoa' e animais ( 1) frequentemente prornca, ameaça ou intimida outro' (2) frequentemente inicia lutas corporais (3) utilizou uma ,1rma capaz de cauoar sáio dano físico a outros (por ex., bastão, tijolo, garrafa quebrada, faca, arma de fogo) (4) foi fisicamente cruel com pe'>soa' (5) foi fisicamente cruel com animais (6) roubou com confronto com a vitima (por ex., bater carteira. arrancar bolsa, extorsão, ,w,aho à mão armada) (7) forçou alguém a ter atividade sexual Destruição de propriedade (8) envolveu-se deliberadamente na provocação de incêndio com a intenção de causar sérios danos (9) destruiu deliberadamente a propriedade alheia (diferente de provoca.;ão de incêndio) Defraudação ou furto ( 10) arrombou re,idénc1a, prédio ou automovel alheio' ( 11) mente com frequência para obter bens ou favores ou para evitar obrigações legais (isto é, ludibria outra' pessoas) ( 12) roubou objeto> de ,·alor sem confronto com a ntim,1 (por ex .. furto em loja>. mas sem arrombar e invadir; fals11icação) ( 13) frequentemente permanece na rua à noite, ape5ar de proibições do' pai,, inidando ,intes dos treze ano> de idade ( 1-1) fugiu de ca'a à noite pelo menos duas vezes, enquanto vh'ia na casa dos pais ou lar adotivo (ou uma vez sem retornar por um extenso periodo) ( 15) frequentemente gazeteia à escola, iniciando antes dos 13 anos de id,1de B A perturbação no comportamento causa pre1uízo clinicamente significativo no fundo· namento social, acadêmico ou ocupacional. C Se o individuo tem dezoito anos ou mais, não são 'atisfe1tos m critenm para o Trans- torno da Peroonalidade Antissocial. O DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL E O TRANSTORNO DE CONDUTA É importante realizar um diagnóstico diferencial entre Transtorno de Conduta e Transtorno Desafiador Opositivo; Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (quando são satisfeitos os critérios para Transtor- no de Déficit de Atenção/Hiperatividade e Transtorno de Conduta, porém, aplicam-se ambos os diagnósticos). Além disso, irritabilidade e problemas de conduta frequentemente ocorrem em crianças ou adolescentes que pas- 54 Baralho de problemas: lidando com transtornos da infúncia em busca do bem-estar sam por um episódio maníaco. Estes geralmente podem ser diferenciados do padrão de problemas de conduta vistos no Transtorno de Conduta - com base no curso episódico e nos sintomas concomitantes característicos de um episódio maníaco. Se os critérios para ambas as condições são satis- feitos, aplicam-se os diagnósticos tanto de Transtorno de Conduta quanto de Transtorno Bipolar - 1. O Transtorno de Conduta também deve ser diagnosticado diferencial- mente do transtorno de ajustamento (com perturbação da conduta ou com perturbação mista das emoções e da conduta). O transtorno de ajustamento deve ser considerado se problemas de conduta clinicamente significativos que não satisfazem os critérios para um outro transtorno específico se de- senvolverem em clara associação com o início de um estressor psicossocial. Problemas de conduta isolados nao satisfazem os critérios para Trans- torno de Conduta. O Transtorno de Conduta é diagnosticado apenas se os problemas de conduta representam um padrão repetitivo e persistente associado ao prejuízo no funcionamento social, acadêmico ou ocupacional. Para indivíduos com mais de dezoito anos, um diagnóstico de Transtorno de Conduta aplica-se apenas se não forem satisfeitos os critérios para Trans- torno da Personalidade Antissocial. O diagnóstico de Transtorno da Perso- nalidade Antissocial não se aplica a indivíduos com menos de dezoito anos. AVALIANDO O TRANSTORNO DE CONDUTA COM O BARALHO DE PROBLEMAS Da mesma forma que nos capítulos anteriores, apresentaremos o roteiro de perguntas que podem feitas para a criança com o objetivo de ampliar as informações sobre as cartas escolhidas por ela a fim de se avaliar um possí- vel quadro de Transtorno de Conduta. A Tabela 9 indica as cartas que me- lhor caracterizam o Transtorno de Conduta na infância e na adolescência e quais questões complementares o avaliador pode realizar para ampliar suas informações sobre os problemas do cliente. O mesmo procedimento descri- to nos capítulos anteriores deve ser realizado aqui: deixar a criança escolher todas as cartas, entrevistá-la, realizar a mensuração com o termômetro dos problemas e anotar os resultados na planilha. Lembrete: O objetivo das cartas-problemas é favorecer a identificação dos problemas pela criança. A escolha de uma ou mais de uma carta-pro- blema dessa categoria não significa que a criança apresente Transtorno de 55 O Baralho de Problemas e o Transtorno de Conduta Conduta. O psicodiagnóstico deve ser feito somando as informações dadas pe- lo(s) cuidador(es), por inventários e testes psicológicos (preferencialmente os indicados pelo SATEPSI) que apontem para o referido quadro psicopatológico. Tabela 9: Como trabalhar com as cartas-problemas nas questões que avaliam sintomas do Transtorno de Conduta na infância. Cartas-Problemas Questões complementares Que tipo de coisas você rouba? O que faz com as coisas que rouba? Eu roubo. O que rncê sente quando rouba algo? \'ocê já devolveu algo que roubou? O que aconteceu? Quem :.abe que você rouba? \'ocê jâ .,ofreu alguma consequência por roubar? Em que situações você pensa em fugir de casa? Para onde iria .,e fugi-se de casa? Eu penso em fugir O que você não gosta em sua casa? de casa. De quem \'Ocê não gosta em sua casa que faz você pensar cm fugir? O que ni.ê acha que aconteceria em sua casa se rncê fugbse? O que você acha que aconteceria com ,·ocê se \"OCê fugisse? Com quem você costuma brigar? Eu procuro briga Como você briga? O que você sente quando briga ? com os outros. Por que você briga? O que você faz quando termina briga? Por que vo«: falta às aulas? Como "~ sente quando falta à:. aulas? Eu falto às aulas. Que problemas você tem por faltar às aulas? Seus pais '>abem que você falta às aulas? Como eles reagem? O que você faz quando falta a alguma aula? Eu gosto quando as pesso- Por que você go>ta que as pe".oas sintam medo de voe.:? as sentem medo de mim. O que você faz quando percdJe que alguém tem medo de você? Por que voâ mente? Eu minto. Como >C .,ente quando mente? Que problemas \'Ocê tem por mentir? Seus pais :.abem que você mente? Como eles reagem? Eu gosto de enganar Por que você gm.ta de enganar as pessoas? O que \'Ocê faz quando engana uma pessoa? Dê um as pessoas. exemplo. 56 Baralho de problemas: lidando com transtornos da infância em busca do bem-estar Cartas-Problemas Questões complementares Do que \'OCê xinga essas pessoas7 Dê um exemplo. Eu xingo os adultos e Elas xingam você? os amigos ou irmãos. O que acontece depois que \'Ocê xinga urna pessoa? Você j.í disse palavras gentis para essa pessoa7 O que acontc.:eu? Por que você bate nos seus amigos ou irmãos? O que acontece quando você bate em um irmão ou amigo? Eu bato nos meus amigos Como vo.:ê se sente quando bate em um amigo ou irmão? e/ou nos meus irmãos. O que o seu irmão ou amigo faz quando você bate ndc? O que os seus pais fazem quando vê você batendo no seu irmão/amigo? Por que você quebra ou est raga as c01sas de propó.,1to? O que acontece quando você quebra ou estraga algo de Eu quebro ou estrago propósito? as coisas de propósito. Como você se sente quando quebra ou e'traga algo de propósito? O que os seus pais fazem quando veem que \'OCê quebrou ou estragou algo de propósito? REFERtNCIAS E LEITURAS SUGERIDAS American Psychiatric Association. (2002). DSM-IV-TR: Ala1111al diagnóstico e esta- tístico de transtornos mentais (4. ed. rev., C. Dornelles, trad.). Porto Alegre: Artmed. Bordin, 1. A. S., & Offord, D. R. (2000) Transtorno da conduta e comportamentoantis- social. Revista Brasileira de Psiquiatria, 22(Supl. 2), 12- 15. Disponível em http://www. scielo.br/pdf/rbp/v22s2/3789.pdf. Caballo, \'. E., & Simon, M. A. (2004a). Manual de psicologia clinica i11fa11til e do ado- lescente: Transtornos especificos. São Paulo: Livraria Santos. Caballo, V. E., & Simon, M. A. (2004b). ,\,fanual de psicologia clínica mfantil e do ado- lescente: Transtornos gerais. São Paulo: Livraria Santos. Feijó, R. B., & Qlt,·eira, E. A. (2001) Comportamento de risco na adolescência. /onral de Pediatria (Rio de fm1eiro), 77(Supl. 2), Sl25-Sl34. Marinho, M. L., & Caballo, \'. E. (2002). Comportamento antissocial infantil e seu impacto para a competência social. Psicologia, Saúde e Doe11ças, 3(2), 141-147. 57 O Baralho de Problemas e o 1ran.,torno de Conduta Organização Mundial da Saude. ( 1993) Classificaç<io de transtornos mentais e de comportamento da CID- 10: Descrições c/micas e diretrizes diagnósticas. Porto Ale- gre: Artmed. Pacheco,]., Alvarenga, P., Reppold, C., Piccinini, C. A., & Hultz, C. S. (2005). Estabili dade do comportamento antissocial na transição da infância para a adolescência: Uma perspectiva desenvolvimentista. Psicologia: Reflexão e Crítica, 18(1), 55-61. 58 Capítulo 7 - O Baralho de Problemas e a falta de habilidades sociais HABILIDADE SOCIAL: O QUE t E COMO PODEMOS AVALIÁ-LA " A psicologia clínica, nas últimas décadas, mudou seu foco de questões psicopatológicas para adaptações comportamentais positivas, chamando tais competências de habilidades e capacidades sociais. As habilidades so- ciais são comuns e específicas de cada fase do desenvolvimento humano. Isso nos permite hipotetizar que: A) A competência social permite que a pessoa experimente sua fa~e do desenvolvimento de maneira mais adequada e, portanto, permite ao indi- víduo comportamentos mais funcionais num dado momento de sua vida. B) A vi,•ência social competente permite a aquisição de competências e habilidades mais avançadas necessárias para negociações eficazes em está- gios posteriores do desenvolvimento. De uma forma geral, não há consenso em Psicologia sobre o conceito de "competência social". Os vários modelos diferem quanto ao que consideram elementos centrais e elementos secundários, periféricos ou indiretos para a definição do termo. Portanto, não há garantia de que quando diferentes pesquisadores estão usando o termo "competência social" eles estejam se referindo aos mesmos critérios de habilidades e capacidades. O modelo de habilidades sociais adotados neste capítulo é o modelo qua- dripartido de competência social, que tem como foco ressaltar as competên- cias já adquiridas pela criança, fornecendo pistas do que se deve adquirir ou recuperar para se ter uma boa competência social (DuBois & Felner, 2000). O MODELO QUADRIPARTIDO DE COMPETÊNCIA SOCIAL O modelo quadripartido pressupõe que a saúde mental, em qualquer fase do desenvolvimento, inclusive na infância, influencia e é influencia- da pela competência social. A competência social , por sua vez, depende de características constitucionais do indivíduo (características diáticas) e 10 Parte teoríca ba .. cada cm DuB01s e Felner (2000); Jiménez Hernández ( 1995); Pizzínato e Castella Sarricra (2003). 59 O Baralho de Problemas e a falta de habilidade' soda is de suas transações com o meio no qual está inserido. Suas características diáticas e o tipo de transações com o meio garantem uma melhor ou pior competência social. São quatro os elementos essenciais que caracterizam o modelo quadri- partido de competência social: habilidades e capacidades cognitivas, habi- lidades comportamentais, competências emocionais e conjunto de motiva ções e expectativas. Com relação às habilidades e capacidades cognitivas, é preciso verificar se a criança tem um banco de informações de como se comportar em situ- ações sociais adequado para a idade. Também é necessário investigar se ela possui habilidades para processar informação social (se é atenta aos indícios do conte>..'to social, se é capaz de perceber sinais sociais apropriadamente, se é capaz de tomar decisões sociais esperadas para sua idade, etc.). Também é interessante investigar se possui crenças ou esquemas desadaptados de falta de amor, desvalor ou de desempenho que interfiram em sua competência social. Finalmente, é importante averiguar o estilo atribucional da criança, ou seja, se ela atribui a causalidade de eventos (especialmente os eventos negativos) a fatores externos ou se a atribui a si mesma. Por sua vez, as habilidades comportamentais que devem ser avaliadas, especialmente nas crianças e nos adolescentes, são: capacidade de asser- tividade, negociação com pares e cuidadores, capacidade de aquisição de informações, habilidade de conversação com pares e adultos e repertório de comportamento social de pró-ajuda. Com relação ao comportamento emocional, é fundamental que a crian- ça ou o adolescente tenha uma boa capacidade de regulação do afeto e apre- sente uma boa capacidade para se relacionar afetivamente (seja capaz de se vincular positivamente). Finalmente, quanto ao conjunto de motivações e expectativas, é interes- sante compreender a estrutura de valores da criança e da família à qual ela pertence, seu desenvolvimento moral atual e seu senso de eficácia e capaci- dade de autocontrole. É importante destacar que níveis ótimos de competência em apenas um dos domínios não são suficientes para garantir os resultados desejados du- rante a intervenção psicológica. Além disso, déficits nas habilidades sociais podem acompanhar um bom número de quadros psicopatológicos na in- fância (depressão, TOC, TOO, hiperatividade etc.). Finalmente, se uma an- siedade patológica se associar às dificuldades sociais, pode estar em curso 60 Baralho de problemas: lidando com transtornos da míãnc1a em bu,.:a do bem-estar um quadro de fobia social que deve ser mais bem investigado. AVALIANDO HABILIDADES SOCIAIS COM O BARALHO DE PROBLEMAS Como nos capítulos anteriores, apresentaremos o roteiro de perguntas que podem ser feitas para a criança com o objetivo de ampliar as informa- ções sobre as cartas escolhidas por ela a fim de se avaliar um possível défi- cit em suas habilidades sociais. A Tabela 1 O apresenta não so as cartas que melhor avaliam déficits nas habilidades sociais de crianças e adolescentes como também questões complementares que o avaliador pode realizar para ampliar suas informações sobre os problemas do cliente. O mesmo proce- dimento descrito nos capítulos anteriores deve ser realizado aqui: deixar a criança escolher todas as cartas, entrevistá-la, realizar a mensuração com o termômetro dos problemas e anotar os resultados na planilha. Lembrete: O objetivo das cartas-problemas é favorecer a identificação dos problemas pela criança. A escolha de uma ou mais de uma carta-pro- blema dessa categoria não significa que a criança apresente déficits nas habilidades sociais. O psicodiagnóstico deve ser feito somando as infor- mações dadas pelo(s) cuidador(es), por inventários e testes psicológicos (preferencialmente os indicados pelo SATEPSI) que apontem para o referi- do quadro psicopatológico. Tabela 10: Como trabalhar com as cartas-problemas nas questões que avaliam déficits de habilidades sociais Cartas Problemas Questões complementares Em quais situaçóes você percebe a sua timidt>1? Exemplifique. Alguém faz \'Ocê se sentir mais tímido? O que rncê faz quando percebe que està tímido? Eu sou tímido (a). O que você deixa de fazer por causa de sua timidez? \'oc.? já venceu sua timidez antes? O que aconteceu? Por que você acha que é tímido? O que você poderia fazer para vencer sua timidez? llá outras pc,soas em sua família que são assim? Em quai' 'ituações \'OCC percebe que gague_ja? Exemplifique.Eu gaguejo quando Alguém o(a) faz gaguejar' vou falar com os O que você faz quando percebe que está gaguejando? O que \'Ocê deixa de fazer por causa de -.ua gagueira? outros. \·ocê já falou sem dificuldades antes? O que aconltxeu? Por que você acha que gagueja? 61 O Baralho de Problemas e a falta de habilidades :.ociab Carias- Problemas Q uestões compleme ntares Eu não gosto de Por que, nesse caso, você sente vergonha de falar? trabalhos em grupo, O que rncê acha que aconte(erá se vo.::ê falar? pois tenho vergo nha \'ocê Já falou ante:. em seu grupo de trabalho? O que aconteceu? de falar. O que você faz quando um professor pede um trabalho em grupo? Por que você não toma a iniciativa de brincar ou de folar com Eu não tomo a algucm? iniciat iva para O que você acha que acontecerá se você tomar a inici•lli,·a tlc b rincar o u conversar brincar ou falar? com alguém. \'ocê Jª tomou imciallva tle brincar ou falar com alguém .intes? O que aconteceu? O que rncê pensa quando tem que escolher algo? Eu não consigo Algumas situações cau<.am uma dificuldade maior para que rncê escolha coisas? escolher o que devo O que você faz quando não consegue e.colher algo? vest ir ou comer. \'ocê já conseguiu escolher coisas com mais facilidade? O que aconteceu? Por que \'Ocê rói unhas? Algumas situações fazem rncê roer as unhas mais do que outras? Eu roo as unhas. O que você pensa quando vê que roeu suas unhas? O que você >ente quando nota que roeu suas unhas? \'ocê já ficou sem roer unha> por um tempo? O que aconteceu? Eu tenho \'ergonha Por que você tem vergonha de pedir algo para alguém? de pedir algo para O que você acha que aconte(erá se você pedir algo para alguém? os outros. Você já pediu algo para alguém ante~? O que aconteceu? De que rncê se >ente culpado(.1)? Eu me sinto Existem situações que fazem você se sentir mai> culp.1tlo(a)? cu lpado( a). l.xistem pessoas que fazem você 'e sentir mais culpado( a)? O que você faz quando se sente culpado( a)? \"ocê ja deixou de fazer coilk1s por temer sentir culpa depois' O que foi? Existem situações que fazem você se sentir mai> incompetente? Exemplifique. Eu me sinto Existem pessoas que fazem você se sentir mais incompetente? incompetente. Exemplifique. O que você faz quando se sente incompetente? Você já deixou de fazer coisas por temer sentir incompetente? O q ue foi? Eu tenho vergonha Por que \'OCê tem vergonha de conversar com seu professor ou 1 de conversar com pedir algo para ele? o professor. O que rncê acha que acontecera se rncê pedir algo para o profo;sor? \'occ j.i pediu algo para seu profc>sor antes? O que aconteceu? 62 Baralho de problemas: lidando com transtorno> da infância em busca do bem-estar REFERtNCIAS E LEITURAS SUGERIDAS American Psychiatric Association. (2002). DSM-l\'-TR: Mcwual diagnóstico e esta- tístko de transtornos mentais (4. ed. rev., C. Dornelles, trad.). Porto Alegre: Artmed. DuBois, D., & Felner, R. {2000). O modelo quadripartido de competência social: 1e- oria e aplicações da intervenção clínica. ln M. Reineck., F. Dattilio, & A. Freeman (Eds.), Terapia cognitiva com crianças e adolescentes: Manual para a prática clínica (pp. 105-125). Por to Alegre: Artes Médicas. Jiménez Hernández, M. (1995). Competencia social en la infancia: Delimitación con- ceptual y componentes. Ap11ntes de Psicologia, 45, 41-68. Pizzinato, A., & Castellá Sarriera, J. (2003). Competência social infantil: Análise dis- criminante entre crianças imigrantes e não imigrantes no contexto escolar de Porto Alegre. Psicologia em Estudo, 8(2), 115-122. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/ pe/v8n2/v8n2a 11.pdf. 63 Capítulo 8 - O Baralho de Problemas e o TOC infantil O TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO: CARACTERÍSTICAS GERAIS 11 O Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) caracteriza-se por obses- sões e pensamentos, imagens ou impulsos que, embora sejam reconhecidas pela criança ou pelo adolescente como sem sentido ou desnecessários, inva- dem sua consciência involuntariamente causando comprometimentos fun- cionais. Apesar de falhar em controle, a criança sabe que esses pensamentos são produto de sua mente. As obsessões são criadas a partir de objetos, conteúdos mentais, palavras repetidas, pensamentos, temores, recordações, imagens, músicas ou cenas dramaticas. )a as compulsões são atos sem sentido que causam comprome- timento emocional e funcional, levando o indivíduo a seguir regras rituais em resposta para anular a obsessão, esforçando-se para evitar certo<> pensa- mentos, impulsos danos ou eventos. Crianças e adolescentes costumam elaborar regras precisas referentes a cronologia, velocidade, ordem, duração, número de atos. Relatam sen- tirem-se forçados ou invadidos pelos sintomas, mas têm insights sobre a inutilidade ou o excesso dos pensamentos e dos atos. Essa compreensão, contudo, é inconstante e ora perde o sentido. Parece haver uma continuidade do TOC nos diferentes períodos do de- senvolvimento. De maneira geral, os estudos demonstram que a prevalência de TOC pode ser maior do que se acreditava no passado, e que há proble- mas com a metodologia epidemiológica para traçar um diagnóstico que contemple tanto as obsessões comuns quanto as subclínicas. DESCRIÇÕES CLÍNICAS Adolescentes e adultos geralmente experimentam tanto obsessões quan- to compulsões, detalhadas na Tabela 11, a seguir, e raramente as categorias de obsessões ou compulsões são exclusivas. 11 Parte teórica ba'>cada em Abramow1tz, \\' hileside, e Deacon (2005); Cordioli (2004); Pratc- rcs, Marque,, Souza, Wanderson, e ronlenelle (2007}; Torres e Lima (2005). 65 O Baralho de Problemas e o TOC infanlll Tabela 11: Principais sintomas de obsessões e compulsões clássicas na infância e na adolescência Obsessões clássicas Compulsões clássicas Pensamentos, imagem, palavras, dúvidas Lavar, limpar, verificar e contar. que se repetem na mente. Lavar as mãos continuamente. Repetição de preces diwrS<ls vezes. Escovar o piso, tirar o pó exageradamente. Cenas de violência repetidas na mente. Verificar portas, janelas, fechaduras, lâmpa- Incapacidade de fazer opçôes a..:crca de das e examinar o próprio corpo em bus.;,1 compras pequenas. de doenças. Tentar recordar palavras ou números de Contar azulejos, lajotas, manchas. trás para frente. Colocar repetidamente roupas, ferramentas ralar na língua do "pê" et.:. e papéis em uma ordem especial etc. O início dos sintomas nos meninos se dá por volta dos nove anos e nas me- ninas por volta do onze anos. Quando o imcio ocorre na adolescência, os rapa- zes têm em média quinze anos e as moças, por \·olta dos 22 anos. Por sua vez, crianças com TOC geralmente apresentam rendimento escolar normal e frequentemente o maior impacto se dá sobre as relações familiares, uma \'ez que ocorre uma extensão dos sintomas do transtorno sobre a família. Tomemos como exemplo um ritual de lavagem das mãos, que pode durar ho- ras seguidas. Além dos problemas com a conta de água, sabonetes inteiros são consumidos, e as mãos ficam maceradas. Outras crianças realizam rituais de contagem ou de repetição de palavras ou números, nos quais seguem madruga das adentro. O comportamento grave não escapa aos pais, e eles tentam auxiliar nos rituais acreditando que estão oterecendo ajuda e acabam por reforçá-los. As crianças e os adolescentes ficam embaraçados e não contam seus compor lamentos ritualísticos inidalmente. Quando os sintomas são percebidos, geral- mente ocorre uma experiência frustrante e ameaçadora para os pais e dolorosa para a relação pais e filhos diante dos sintomas de TOC. Os pais descobrem de- pois de algum tempo que não conseguem interromper suas participações nos rituais. Fies sabem da grn\·idade da patologia em relação aos vários domínios da vida cotidiana, que ficamcomprometidos. ~!uitas vezes, entretanto, se iludem com a ideia de que é "apenas uma fase''. AVALIANDO O TOC COM O BARALHO DE PROBLEMAS Como nos capítulos anteriores, apresentaremos o roteiro de perguntas que podem ser feitas para a criança com o objetivo de ampliar as informações sobre 66 !Iara lho Je prohlemas: lidanJo .:om transtornos da ínlàncía cm bus.:a do bem ·estar as cartas escolhidas por ela a fim de se verificar se ha sintomas de TOC em curso. A Tabela 12 apresenta as cartas que melhor avaliam TOC em crianças e adolescentes e apresenta questões complementares que o a\·aliador pode re- alizar para ampliar suas informações sobre os problemas do cliente. O mesmo procedimento descrito nos capítulos anteriores deve ser realizado aqui: deLxar a criança escolher todas as cartas, entrevistá-la, realizar a mensuração com o termômetro dos problemas e anotar os resultados na planilha. Lembrete: O objetivo das cartas-problemas é favorecer a identificação dos problemas pela criança. A escolha de uma ou mais de uma carta-problema dessa categoria não significa que a criança apresente Transtorno Obsessivo Compulsivo. O psicodiagnóstico deve ser feito somando as informações dadas pelo(s) cuidador(es), por inventários e testes psicológicos (preferencialmente os mdicados pelo SATFPSI) que apontem para o referido quadro psicopatológico. Tabela 12: Como trabalhar com as cartas-problemas nas questões que avaliam roe <:artas-Problemas Questões complementares Tenho pensamentos Que tipo de pensamentos ruins você tem? Exemplifique. ruins que pipoi:am Você já contou para alguém que tem e"e' pens.unentos? na minha cabeça faistt·m situações ou pe>soas que fazem com que e"e e eu não posso pmsamento apareça? controlá-los. Por que vou: acha que isso acontece com \'ocê? Tenho que fazer mi Que tipo de ..:oisas \'OCê tem que fazer para ..:omb•ll<'r pensamento'> rui11'? Exemplifique. sas ou pensar coisas Alguém já notou que você fa7 cs'>é tipo Jc coisa? para combater os l'\l'>tcm '>Ítuaçôcs ou pessoas que fa1em com que e"c comporta pensamentos ruin'" mcnto apareça? Por que \'OCê acha que i'"º a.:ontece com ,·ocê? Tenho que la\·ar as Por que você tem que la\'ar o corpo ou as mãos muitas vezes? O que você acha que aconteceria se \'OCI': não os lavasse? mãos ou o corpo \'ocê já tentou resistir? O que a.:onteccu? muitas "ezes. Por que vocé acha que Yocê age assim? Tenho que checar Por qut• você tem que checar se tuJo e>tá correto multas \'Cle,? se tudo está correto O que voc~ acha que a.:ontcceria se ,·o.:ê n.lo che.:a"e? muitas vezes. \ 'nc<' )'Í tentou resi'>tir? O que aconteceu? Por que ,·océ acha que você age as>im? Tenho muitas ma- Que tipos de mania você tem? Exemplifique. nias e perco muito Quanto tempo em média você gasta com elas? \'ocê deixa de fazer coisas ou se atrasa porque tcm que executar tempo com elas. essas manias? 67 O Baralho de Problemas e o roe infantil Cartas-Problemas Questões complementares Não consigo jogar Por que \'OêÍ: não pode Jogar as coi,as fora? fora coisas velhas e O que \'OCê acha que aconteceria 'e rncê jogasse fora e'sas coisa'? quebradas. \"txê Já tentou fa1er i"o? O que aconteceu? Por que \'Ocê acha que rncê age assim? Tenho medo de Que tipo de doença rnc~ tem medo de ter? ficar doente. Qual a pior parte cm tkar doente? Voo'.· já ddxou de fazer coisas para não ficar doente? f.xcmplifique. Preciso fazer coisas Por que você tem que fazer as coisas muitas vezes? O que \'OC.! acha que aconte.:eria se \'OCê não repetisse as coi,as que fot? repetidamente. \ 'ocê Jª tentou resistir? O que aconteceu? Por que \'OCê acha que você age assim? Acho que se penso Que tipo de coisa ruim rncê acha que acontecerá? algo ruim, isso vai Alguma .:oba que voú~ pensou já aconteceu? acontecer. Como rncê se ":nte quando tem e"e tipo de pensamento? Por qu<' \·ocê tem que deixar as coisas numa ordem espcciti.:a? Preciso deixar as O que \"Ocê acha que aconteceria 'e rncê não deixa"e as coí,as coisas numa ordem numa ordem espedfi.:a? 1 específica. \'ocê Já tentou resistir? O que aconteceu? Por que você acha que você age assim? REFERENCIAS E LEITURAS SUGERIDAS Abramowitz, J. S., Whiteside, S. P., & Deacon, B. J. (2005) The effectiveness of treat- ment for pediatric obsessive-compulsive disorder: A meta-analysis. Bchavior 11rempy. 36( 1 ). 55-63. American Psychiatric Association. (2002). DSM-IV-TR: Alanual diagnóstico e C.'ttl tistico de transtornos mentais (4. ed. re\·., C. Dornelles, trad.). Porto Alegre: Artmcd. Cordioli, A.\'. (2004). \'c11crndo o 1hmstorno Obsessi1'0-Comp11/si1•0: Ma111111/ da tera- pia cognitivo-comportc1mc11t11/ pam paâc11tcs e terapeutas. Porto Alegre: Artmed. Prazeres, A. ~1.. Souza. \\'. F., & fontenelle, l~ F. (2007). Terapias de base cognitivo· comportamental do tran'>torno obsessi\'0-wmpulsi\'o: Re\·isão sistemática da última década. Rel'ista Brasileira de Psiquiatria, 29(3), 262-270. Disponi\'el em http://\nrn-. scielo.br/pdf/rbp/v29n3/2420.pdf. Torres, A. R., & Lima, M. C. P. (2005). Epidemiologia do transtorno obsessivo-com- pulsivo: Uma revisão. Revista Brasileira de Psiquiatria, 27(3), 237-242. 68 Capítulo 9 - O Baralho de Problemas e a Hiperatividade O TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO/HIPERATIVIDADE: SINAIS E SINTOMAS 2 O Transtorno de Déficit de Atenção com hiperatividade (TDAH) é um transtorno sindrômico caracterizado por desatenção, hiperatividade e im- pulsividade. Tais sintomas causam dificuldades para a própria pessoa e para os outros em pelo menos dois contextos diferentes (geralmente, no caso das crianças, em casa e na escola). No CID-10, o TDAH é classificado como um transtorno hipercinético. Segundo o DSM IV-TR (American Psychiatric Association [APAJ, 2002), os seguintes sinais e sintomas podem ser observados no TDAH (Tabela 13 ): Tabela 13: Sinais e sintomas que podem ser observados no TDAH se- gundo o DSM IV TR (APA, 2002). Critérios diagnósticos para Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade A( 1 ): Seis (ou mais) dos seguintes sintomas de desatenção persistiram por pelo menos seis meses, em grau mal-adaptativo e inconsistente com o nível de desenvolvimento: Desatenção: (a) frequentemente deixa de prcst,1r atenção a detalhes ou comete erros por descuido em atividades escolares, de trabalho ou outras; (b) com frequência. tem diliüildades para m<1nter a atenção em tarefas ou atividades lúdica;; (c) com frequência, pareü• não escutar quando lhe dirigem a palaHa; (d) com frequência, não segue mstruções e não termina seus de\·ere'> C'>colarcs, tarefas domé;ticas ou deveres profis.,ionai'> (não devido a comportamento de opo.,ição ou incapa· cidade de compreender instruções); (e) com frequência, tem diti..:uldade para organizar tarefas e atividade'>; (f) com frequência, evita tarefa., que exijam esforço mental constante (corno t.iréfas e"ola · res ou deveres de e-asa), antipatua com tais tarefa; ou reluta para se envoln~r com elas; (g) com frequência. perde coisas necessarias para tarefas ou ati\'idades (por ex., brinque· dos, tarefa; escolares, l•ípb. hHos ou outros materiais); (h) é facilmente distraido por estímulos alheios à tarefa; (i) com frequência, apresenta esquecimento em atividade;. diárias. 12 Parte teonca ba5cada cm DS:\1 !\' TR ( \PA. 2002); Caballo e Simon (2004a, 200·fü); Fne · dberg e McClure (2001 ); Organmçao Mundial da Saúde ( 1993). 69 O Baralho de Problema' e a Hiperali\'idade Critérios diagnósticos para Transtorno de Déficit de Atenção. Hiperath idade A(2): Seis (ou mais) dos seguintes sintomas de hiperali\idade persistiram por pelo me· nos seis meses, em grau mal-adaptati\'O e inconsistente com o nível de desem·olvimento: Hiperatividade: (a) frequentemente, agita as mãos ou º' pe' ou se remexe na cadeira; (b)frequentemente, abandon<l sua cadcir<I cm sala de aula ou outras situações nas quab se espera que permaneça sentado; (e) frequentemente, corre ou cscal,1 cm demasia, cm situações nas quais i>so é inapropria- do (em adolescentes e adulto,, pode C'>tar limitado a sensações subjeti\'as de inquietaçfo); (d) com frequência, tem difirnldadc para hríncar ou se envol\'er silenciosamente cm ati\'idades de la1er; (e) esta frequentemente "a mil" ou muita' n:tc'> age como se estivesse "a todo \'apor": (f) frequentemente, fala cm demasia. Impulsividade; (g) frequentemente, dá respostas precipttada' ante' de as perguntas terem sido completada'; ( h) com frequênéla , tem diliü1ldadc para aguardar sua wz; (í} frequentemente, interrompe aS'>untos de outros ou se intromete em temas que não Ih<' dizem re>peito (por ex illl!'\(Ui· '~ l'tll con\'er,~ts ou brin(adeira~'- B: Alguns sintomas de hiperatividadelimpulsividade ou desatenção que causaram prejuízo estavam presentes antes dos sete anos de idade. C: Algum prejuízo causado pelos sintomas e'>ta presente em dois ou mais contextos (por ex., na escola e em casa). - D: Deve haver claras evidências de prejuízo clinicamente significati\'O no fundona- mento social, acadêmico ou ocupacional. E: Os sintomas não ocorrem cxclu<,ivamcntc durante o curso de tran.,torno inv<1.,ivo do desenvolvimento, esquizofrenia ou outro Transtorno Psicótico e não são mais bem explicados por outro transtorno mental (por ex., Transtorno do Humor, Transtorno de Ansiedade, Transtorno Dissociativo ou um Transtorno da Personalidade). Classificação com base no tipo de TDAH Transtorno de deficit de atenção/hiperathidade, tipo combinado: 'e tanto o êrit.:rio A 1 quanto o critério \2 ,jo 'atislc1to' durante os últimos seis meses. Transtorno de déficit de atenção, hiperath idade, tipo predominantemente desatento: Se o criterio A 1 é 'atisfoi:o, ma' o critO:rio A2 não é 'atisfeito durante os último' 'eis me'"'· Transtorno de déficit de atençiiolhiperath·idade, tipo predominantemente hiperati- ,·o-impulsivo· Se o (ntcrio \2 é sati,tê:Jto. mas o cnterio A 1 não e satisfeito durante os últimos seis meses. :\"ota para a codificaçáo: p.ua 111d1,·íduos (cm especial adolescente; e adultos) que atual - mente apresentam smhlllla'> 4uc não mais 'atisfazcm todos os criterios. especificar "Lm Remissão Parcial". É especialmente difícil estabelecer o diagnóstico em crianças com me- 70 Baralho de problema" lidando com transtornos da infância em bu.,ca do hem-estar nos de quatro ou cinco anos pelo fato de seu comportamento caractenstico ser muito mais variá\'el do que o de crianças mais velhas e incluir, possivel- mente, comportamentos similares aos sintomas do transtorno. Além disso, em geral é difícil observar sintomas de desatenção em bebês e crianças pré -escolares, porque as crianças jovens tipicamente sofrem poucas exigências de atenção prolongada. Mesmo a atenção de crianças pequenas, entretanto, pode ser mantida em uma variedade de situações (por exemplo, a criança padrão de dois ou três anos de idade em geral consegue ficar sentada com um adulto olhando livros de figuras). Em comparação, crianças pequenas com TDAH movem-se excessiva- mente, sendo em geral difícil contê-las. Indagar sobre uma ampla variedade de comportamentos em uma criança pequena pode ser útil para assegurar se da obtenção de um quadro clinico completo. À medida que as crianças amadurecem, os sintomas geralmente se tornam mais claros. No final da infância e início da adolescência, os sinais de excessiva atiYidade motora (por exemplo, correr ou escalar excessivamente ou não conseguir perma- necer sentado) passam a ser menos frequentes, podendo os sintomas de hiperatividade limitar-se à inquietação ou uma sensação intima de agitação ou nervosismo. Em crianças com idade escolar, os sintomas de desatenção afetam o traba- lho em sala de aula e o desempenho acadêmico. Os sintomas de impulsivida- de também podem levar ao rompimento de regras familiares, interpessoais e escolares, especialmente na adolescência. A prevalência do Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade é es limada em 3 a 5% entre as crianças em idade escolar. Existem poucos dados sobre a preYalência na adolescência e na idade adulta. A maioria dos pais observa pela primeira vez o excesso de atividade moto- ra quando as crianças ainda estão engatinhando, frequentemente coincidindo com o desenvolvimento da locomoção independente. Entretanto, uma vez que muitos bebês hiperativos não desenvolvem o Transtorno de Déficit de Atenção/HiperatiYidade, deve-se ter cautela ao fazer esse diagnóstico em uma idade muito precoce. Geralmente, o transtorno é diagnosticado pela primeira \'eZ durante as primeiras séries, quando o ajustamento a escola está compro- metido. Na maioria dos casos obsen·ados nos contextos clínicos, o transtorno é relativamente estaYel durante o início da adolescência. Na maioria dos indivíduos, os sintomas atenuam-se durante o final da adolescência e na idade adulta, embora uma minoria dessas pessoas experi 71 O Baralho de Problemas e a Hiperatíndade mente o quadro sintomático completo de TDAH até os anos intermediários da idade adulta. Outros adultos podem reter alguns dos sintomas, aplican- do-se, nesses casos, um diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção/ Hiperatividade em remissão parcial (esse diagnóstico aplica-se aos indiví- duos que não mais têm o transtorno com todos os seus aspectos caracte- rísticos, mas ainda retêm alguns sintomas que causam prejuízo funcional). Finalmente, é interessante ressaltar que o TDAH é encontrado com maior frequência nos parentes biológicos em primeiro grau de crianças com TDAH. Os estudos também sugerem que existe uma prevalência superior de Trans tornos do Humor e de Ansiedade, Transtornos da Aprendizagem, Transtor nos Relacionados a Substâncias e Transtorno da Personalidade Antissocial nos membros das famílias de indivíduos com TDAH, o que pode dificultar ainda mais a conYivência com a criança que apresenta tal transtorno. AVALIANDO TDAH COM O BARALHO DE PROBLEMAS Como nos capítulos anteriores, apresentaremos o roteiro de perguntas que podem ser feitas para a criança com o objetivo de ampliar as informações sobre as cartas escolhidas por ela a fim de se avaliar a presença de TDAH. A Tabela 14 indica as cartas que melhor avaliam TDAH em crianças e ado- lescentes e apresenta questões complementares que o avaliador pode utilizar para ampliar suas informações sobre os problemas do cliente. O mesmo pro- cedimento descrito nos capítulos anteriores deve ser realizado aqui: deixar a criança escolher todas as cartas, entrevistá-la, realizar a mensuração com o termômetro dos problemas e anotar os resultados na planilha. Lembrete: O objetivo das cartas-problemas é favorecer a identificação dos problemas pela criança. A escolha de uma ou mais de uma carta-problema dessa categoria não significa que a criança apresente hiperatividade. O psi- codiagnóstico deve ser feito somando as informações dadas pelo(s) cuida- dor(es), por inventários e testes psicológicos (preferencialmente os indicados pelo SATEPSI) que apontem para o referido quadro psicopatológico. 72 Baralho de problemas: lidando com transtornos da infância em busca do bem-estar Tabela 14: Como trabalhar com as cartas-problemas nas questões que avaliam TDAH Cartas-Problema• Questões complementares Voce procura prestar atenção? O que faz? !ixistem situações em que fica mais difícil prestar aten\"âo? Eu não presto atenção. Quais? Que problemas \'OCê tem por não prestar a atenção? Alguém se queixa de sua falta de atenção? Quem? Como \'OCc se sente? Como é sua mochila de escola? Eu não sou Como é seu quarto? organizado(a). \'océ acha importante deixar as coisas organizadas? Você tem problemas com sua desorganização?Eu não gosto de fazer Por que \'OCê não gosta de pensar? coisas que exigem que \'oce tem problemas por não gostar de pensar? Em que situaçõe> o fato de você não gostar de pensar o(a) eu pense. pre,iudica? Com que frequência rncê perde seu material e>colar? Eu perco meu Alguém se queixa por \'OCê perder seu material e,,colar? Quem? material escolar O que a pessoa faz? Como Yocê se sente? com frequência. Quando Yocê perde seu material sua mãe ou seu pai compra outro ou não? Eu esqueço minha Com que frequência \'OCê esquece sua tarefa de casa? tarefa de casa com O que acontece quando você esquece a tarefa de ca,,a? frequência. Alguém se queixa por você não fazer a tarefa de casa? O que acontece quando você faz a tarefa de casa? Eu não consigo ficar O que acontece quando você não senta? sentado(a) e me Como \'OCê se sente? levanto toda hora. Você tem alguma estratégia para ficar sentado(a)? Por que \'Océ con\'ersa? O que acontece quando você con\'ersa demais? Eu converso demais. Você conversa muito na sala de aula? Isso o(a) atrapalha? O que profe"ora faz' Você com·ersa muito em casa? Isso o(a)atrapalha? Qual a rea~iio dos seus pais' Eu não consigo O que acontece quando rncê não para? Como \'Ocê se sente? ficar parado(a). Você tem alguma estratégia para ficar parado( a)? Eu não consigo O que acontece quando \•ocê não consegue esperar por sua \'ez? Como \'OCê se sente? esperar a minha vez. Você tem alguma estratégia para esperar? 73 O Baralho de Problema> e a l ltperall\idade 1 Cartas-Problemas 1 Eu não consigo esperar a professora ! terminar a pergunta e já vou respondendo. Questões complementares O que acontece quando , .o,ê antecipa a resposta' O que a profes>ora faz? O que seus colegas fazem? Como você se sente? REFERENCIAS E LEITURAS SUGERIDAS American Psychiatric Association. (2002). DSM-1\'-TR: Manual diag11óstico e esta- tístico de tra11stornos 111e11tais (4. ed. rev., C. Dornelles, trad.). Porto Alegre: Artmed. Caballo. V. E .. & Simon, M. A. (2004a). Alm111al de psicologia c/í11ica i11ji111til e do adolescente: Transtornos específicos. São Paulo: Livraria Santos. Caballo, V. E., & Simon, .M. A. (2004b). M111111al de psicologia clínica i11jánti/ e do adolescente: Transtornos gerais. São Paulo: l ivraria Santos. Friedberg, R. D., & McClure, J. M. (2001 ) .. \ pratirn clínica da terapia cog111tm1 com crianças e adolcsce11tes. Porto Alegre: Artmcd. Organização ~lundial da Saúde. (1993) Classifirnçcio de transtornos 111c11tais e de co111portamc11to da CID 10: Descrições d1mc11s t' diretrizes diag11óst1Cas. Porto Ale- gre: Artmed. 74 Capítulo 1 O - O Baralho de Problemas e o Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT)13 Toda situação que ameaça o equthbrio (homeostase) da vida do homem é geradora de estresse e tem como consequências tanto o restabelecimento desse equilíbrio, visando à adaptação à situação criada, como a preservação da vida. Uma situação pode ser muito estressante, produto de desequilíbrio extremo, provocado, por exemplo, por assalto, sequestro, abuso sexual, de- sastres da natureza, ou mesmo condição médica extrema (p. ex., câncer). Eventos desse tipo podem ser caracterizados como traumáticos e levar a um quadro ansiogênico gra\'e chamado de Transtorno de Estresse Pós-Traumá- tico (TEPT). O TEPT é um Transtorno de Ansiedade caracterizado por três categorias de sintomas: a) reexperiência intrusiva; b) evitação e entorpeci- mento; c) aumento da excitabilidade fisiológica. Esses sintomas persistem por mais de um mês e trazem prejuízos no desempenho escolar, cognitivo, social e outros. A Tabela 15 apresenta o conjunto dos sintomas do TEPT segundo o DS- M-IV-TR (American Psychiatric Association [APA], 2002). Tabela 15: Critérios diagnósticos do TEPT do DSM-IV TR (APA, 2002). A. Lxpos1ção l. Vivência ou testemunha de um ou mais eventos que envolveram morte ou grave ferimento, reais ou ameaçados, ou ameaça à integridade ao c\·cnto física própria ou de outros. traum.itko (dois sintomas) 2. A resposta envolveu intensos medo. ímpotênci;1 ou horror. Em crian- ças, pode ser cxprcs'>O por comportamento desorganitado ou agitado. 1. Recordações aflitivas, rernrrentes e intrusivas do evento. incluindo imagens, pensamentos ou percepções. Em crianças, podem ocorrer _jogos repetitivo> com expre'5âo de aspectos do trauma. B. Revin!rKia 2. Sonhos aflitivos e rcrnrrentes com o evento. I· m aianças podem do evento trau- ocorrer sonhos amedrontadores, sem conteúdo identificável. mático (um ou 3. Agir ou sentir como"~ o evento traumático estivcs;,c ocorrendo novamente. Em criança;,, pode ocorrer reenccnaçào do trauma. mais sintomas 4. Sofrimento psicológico intenso quando da cxpo;,içâo a indícios inter- nos ou externos que simbolizam ou lembram a;,pcdos do evento. 5. Reati\·idade fisiológica na exposição a indícios internos ou externos que simbolizam ou lembram o evento traumático. 13 Parte teórica baseada no DSM I\' TR (APA. 2002); Borges, Zoltow'>ki, Zucatti e DellAglio (2010), Margis (2004), Ximenes, Oliveira e Assis (2009). 75 O Baralho de Problemas e o Transtorno de htrc"e Pós -Traumátirn (TEPT) 1. Esforços para evitar pensamentos, sentimentos ou conversas sobre o trauma. 2. fafon;os para evitar atividades, locais ou pessoas que ativem recorda- C. Esquiva e ções do trauma. entorpecimento 3. Incapacidade de recordar algum aspecto importante tio traun1<1. (tr~s ou mais 4. Redução acentuada do intcrc-se ou da participação cm atividades sintomas) significativas. 5. Sens.ição de distanciamento ou afastamento cm relação a outras pessoas. 6. faixa de afeto restrita. 7. Sentimento de um futuro abre\iado. D. l:'_xcitabilida · 1. D1ficuldade em rnnciliar ou manter o .,ono. de aumentada 2. Irritabilidade ou surtos de rai,·a. (dois ou mais 3. Dificuldade em concentrar-se. sintomas) 4. Hipervigilánc1a. 5. Resposta de sobressalto exagerada. E. Sintomas do' critérios B, C e D per,istem por mais de um mês. E Sofrimento clinicamente '>igni!i.:atirn ou prejuízo funcional. De acordo com o DSM IV-TR (APA, 2002), o TEPT é diagnosticado de forma muito parecida tanto em adultos quanto em crianças. No entanto, prin- cipalmente em crianças muito pequenas, esse procedimento é problemático por causa de questões desenvolvimentais. Além disso, as crianças pequenas parecem ser mais suscetíYeis aos eventos traumáticos do que os adultos. A prevalência do TEPT infantil é algo bastante variável, pois quando se avalia pelo DSM a percentagem de crianças com TEPT diminui comparativa- mente a critérios menos rígidos. Alguns estudos mostram uma variabilidade grande nessas percentagens, variando de 6,5% em crianças cariocas e 70% de crianças na Faixa de Gaza. Um outro aspecto é que os profissionais, em geral, não fazem diagnóstico de TEPT, subestimando os sintomas desse qua- dro psiquiátrico. Algumas alegações vão no sentido dos problemas de defini- ção do quadro, além das dificuldades de separação de aspectos próprios do desenvolvimento infantil (medos, pesadelo:. etc.) daqueles que poderiam ser atribuídos ao TEPT. No entanto, dada a gravidade dos sintomas e seus efei- tos sobre a vida da criança em geral, é imprescindível aprimorar ferramentas diagnósticas e de tratamento. Nesse sentido, o uso das cartas apresenta-se como mais um elemento fundamental na investigação do quadro e na busca de auxílio às crianças e aos seus cuidadores. 76 Baralho de problemas: lidando com transtorno; d.1 infancia em busca do bem-estar O TEPT E O BARALHO DE PROBLEMAS Da mesma forma que nos capítulos anteriores, apresentaremos o roteiro de perguntas que podem ser feitas para a criança com o objetivo de ampliar as informações sobre as cartas escolhidas por ela a fim de que ela identifique dificuldades relacionadasao TEPT. A Tabela 16 apresenta as cartas que au- xiliam na identificação dos sintomas de TEPT e apresenta questões comple- mentares que o avaliador pode realizar para ampliar suas informações sobre os problemas do cliente. O mesmo procedimento descrito nos capítulos an teriores deve ser realizado aqui: deixar a criança escolher todas as cartas, en- trevistá-la, realizar a mensuração com o termômetro dos problemas e anotar os resultados na planilha. Lembrete: O objetivo das cartas-problemas é favorecer a identificação dos problemas pela criança. A escolha de uma ou mais de uma carta-problema dessa categoria não significa que a criança apresente o quadro de estresse pós- trauma. O psicodiagnóstico deve ser feito somando as informações dadas pe- lo(s) cuidador(es}, por inventários e testes psicológicos (preferencialmente os indicados pelo SATEPSI) que apontem para o referido quadro psicopatológico. Tabela 16: Como trabalhar com as cartas problemas que favorecem a identificação de sinais de estresse pós-trauma Cartas-Problemas Questões complementares Eu tenho pensamentos Sobre o que são esses pensamentos? ruins que não posso Com que fn:quênda você tem esses pemamcntos? O que você faz quando tem esse tipo de pensamentos? controlar. Por que você acha que tem esse tipo de pcn,amentos? Que tipo de situações você procura evitar? Eu procuro evitar O que você faz para cvítar es'ª' situações? O que você pens.1 que pode <ll:ontecer se você não evitar essas situações. situaçôcs? O que acontece quando você nfo pode evitar essas situaçôes? Eu me sinto Conte-me como é e~se cansaço. cansado( a). Desde quando rnéê se sente cansado( a) assim? O que rncê faz parn não ficar t<io cansado(a)? Desde quando você não se interessa mai' pelas brincadeiras de Eu não me interesso que gostava antes; mais por brincadeiras Você se interessa por novas brincadeiras? Quais? ou coisas que antes me Por que você não "~ interessa mais pelas brincadeiras que se interessarnm. interessa\<! antes? \'ocê fa1 alguma coisa em vez de brincar? O quê? 77 O Baralho de Problemas e o Tran.,torno de btres<,e Pós-Traumático (TEPT) Cartas-Problemas Questões complementares Eu fico revivendo uma Com que frequcnc1a \'océ revi\'e essa coisa ruim? coisa ruim que me Que coisa ruim ti e"a? \'oct' pode me contar? aconteceu. Por que você acha que revi\'e essa coisa ruim? Por que \'OCê se sente desprotegido( a)? Eu me sinto Tem alguém ou alguma pe''ºª que faz você se sentir protegi· desprotegido(a). do( a)? Tem algum lugar que faz você se sentir mais protegido( a)? Eu tenho muitos Com que frequência você tem pesadelos? pesadelos. Que tipo de pesadelos você tem? Scw, pesadelos prejudicam seu sono? Eu não dou mais De.,de quando você não <,e interessa mais pelas pessoa<,? importância às pessoas como dava antiga- Por que \ºOcê não -.e intere"a mais pelas pessoas como se interc'\'a,·a ante~? mente. Desde quando você não consegue demonstrar seus sentimentos como antes? Eu não consigo mos· \'ocê gostaria de demonstrar seus sentimentos como antes? Irar meus sentimentos Por que ,·ocê niio se consegue demonstrar seus senttmentos como antes. como antes? Voei! faz alguma coisa para tentar demonstrar algum sentímen· to? O quê? Eu fico atento( a) a Que tipo de estratégia você utilita para ficar atento( a) a tudo tudo para não correr para não correr perigo? l"o c.m.,a \'ocê1 nenhum perigo. Isso traz algum tipo de problema para você? REFERÊNCIAS E LEITURAS SUGERIDAS American Psychiatric Association. (2002). DSAf-T\'-TR: Afanua/ diagnóstico e esta- tístico de transtornos mentais (4. cd. rev., C. Dornelles, trad.). Porto Alegre: Artmed. Borges, J. L., Zoltowski, A. P. C., Zucatti, A. P. N., & Dell'Aglio, D. D. (2010). Trans- torno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) na infância e na adolescência: Prevalência, diagnóstico e avaliação. Avaliação Psicológica, 9( 1 ), 87 -98. Margis, R. (2004). Transtorno de Estresse Pos-Traumático. ln F. Kapczinski, J. Que,·e- do, l. lzquierdo & Cols., Bases /Jíológicas dos transtornos psiquiátricos (pp. 243-249). Porto Alegre: Artmed. Ximenes, L. F., Oliveira, R. V. C., & Assi\, S. G.(2009). Violência e transtorno de estres- se pós-traumático na infância. Ciência e~ Saúde Coletil'a, 14(2), 417-433. 78 Capítulo 11 - O Baralho de Problemas e os Transtornos da Aprendizagem 14 O DSM-!V-TR classifica diferentes quadros de Transtornos da Aprendi· zagem em domínios específicos, a saber: Transtorno da Leitura, Transtorno da Expressão Escrita e Transtorno da Matemática. A seguir, apresentaremos de forma geral os processos envolvidos em cada um dos transtornos e os critérios diagnósticos de acordo com o DSM-IV-TR (American Psychiatric Association [APA], 2002). TRANSTORNO DA LEITURA Os seguintes processos estão implicados nos processos de leitura: pro- cessos perceptivos (ligados aos movimentos sacádicos dos olhos) e proces· sos de acesso ao léxico (conhecimento linguístico que e const ituído de as- pectos fonológkos, ortográficos e semânticos das palavras), a partir do qual escritores e leitores constroem e estabelecem o significado das palavras. Na Tabela 17, podemos observar os critérios diagnósticos para o Transtorno da Leitura segundo o DSM-!V-TR. Tabela 17: Critérios diagnósticos para o Transtorno da Leitura segundo o DSM-IV-TR. (APA, 2002) A. O rendimento cm leitura, medido por testes padronizados de correção ou compreensão da leitura, administrados individualmente, está acentuadamente abaixo do nível esperado, considerando a idade cronológica, a inteligência medida e o nívd escolar próprios da idade do indivíduo. B. A perturbação no nitêno A interfere significativamente no rendimento e>eolar ou em att\·idades da vida diária que e:-.igem habilidades de leitura. C. Se e"tiwr presente um dêtiot sensorial, as dificuldades de ltdtura L'Xcedem as habitual· mente asso(iadas a tal déficit. 14 Parte teórica ba .. cada no DS/\l-1\'-TR (APA, 2002); Muiioz, Frerneda, 1'lend01a, Carballo e Pestun (2005). 79 O Baralho de Problemas e os Tramtornos da Aprendi1.agem TRANSTORNO DA EXPRESSÃO ESCRITA Pesquisadores pressupõem pelo menos quatro processos envolvidos no Transtorno da Expressão Escrita que parecem funcionar, algumas vezes, de forma autônoma ou serial e outras vezes, parecem funcuonar de maneira simultânea ou interativa. Os processos são: planejamento (no qual aque- le que escreve deve decidir sobre qual tema deseja escrever, que aspectos quer ressaltar e a quem quer se dirigir); processos sintáticos (nos quais as frases que compõem o texto se ajustam às regras e à estrutura gramatical da língua); processos léxicos (nos quais ocorre a seleção adequada das pa- lavras que serão usadas nos processos sintáticos) e os processos motores (que consistem nas operações para que o sinal gráfico seja estabelecido, ou seja, envolvem coordenação grafomotora fina para elaborar o traçado das letras). Para isso, é necessária a seleção do sinal que representará a letra e a realização dos mo\'imentos musculares necessários para a realização do ato). Na Tabela 18, são encontrados os critérios para os transtornos da es- crita segundo o DSM-IV-TR. Tabela 18: Critérios diagnósticos para o Transtorno da Expressão Escri- ta segundo o DSM-IV-TR (APA, 2002) A. As habilidades de escrita, medidas por teste padronizados (ou avaliações funcionais das habilidades de escrita) individualmente administrados estão acentuadamente abaixo do nível esperado considerando a idade cronológica, a inteligência medida e o nível escolar próprios da idade do indivíduo. B. A perturbação no critério A interfere significativamente no rendimento escolar ou em atividades da \·ida diária que exigem a composição de textos escritos (por exemplo, escre· \'er frases gramaticalmente corretas e parãgrafosorganizados). C. Encontra-se presente um déficit 'ensorial. e as habilidades para escrever estão abaixo das normalmente associadas a esse déficit. TRANSTORNO DA MATEMÁTICA A principal característica do Transtorno da Matemática está relacionada à dificuldade para a realização de operações aritméticas (medidas por testes 80 Baralho de problema': lidando com trafütorno' da intànc1a cm bm.::a do bem·e,tar padronizados, individualmente administrados, de cálculo e raciocm10 ma- temático), considerando o padrão esperado para a idade. Estima-se que a prevalência desse transtorno, quando não associado a outros Transtornos da Aprendizagem, é de aproximadamente um em cada cinco casos de transtorno da aprendizagem. A estimativa é de que 1 % das crianças em idade escolar têm esse tipo de transtorno. Embora algumas dificuldades em lidar com a matemática possam aparecer na pré escola ou primeira série, como, por ex., confusão para conceitos numéricos ou inca- pacidade de contar corretamente, o Transtorno da Matemática raramente é diagnosticado antes do final da primeira série, uma vez que ainda não ocorreu suficiente instrução formal em matemática até esse momento em di\'ersos contextos escolares. O transtorno em geral é mais visível por volta da segunda ou terceira série. Especificamente, quando o Transtorno da Ma- temática está associado com QI alto, a criança pode ser capaz de funcionar no mesmo nÍ\'el ou quase no mesmo nível que seus colegas da mesma série, de modo a não se perceber o transtorno até a quinta série ou depois desta. Tabela 19: Critérios diagnósticos para o Transtorno da ~Iatemática se- gundo o DSM-IV-TR (APA, 2002) A: A capacidade matematica. medida por testes padronizados, individualmente adminis· trados, está acentuadamente abaixo do nível esperado, considerando a idade cronológica. a inteligência medida e a escolaridade apropriada à idade do indivíduo. B: A perturbação no Critério A interfere significativamente no rendimento escolar ou nas atividades da vida diária que exigem habilidades em matemática. C: Em presença de um déficit sensorial. as dificuldades na capacidade matemática estão abaixo das normalmente assodadas a esse déficit. TRANSTORNOS DA APRENDIZAGEM E O BARALHO DE PROBLEMAS Seguindo a estrutura dos capítulos anteriores, apresentaremos o roteiro de perguntas que podem ser feitas para a criança com o objetivo de ampliar as informações sobre as cartas escolhidas por ela a fim de se avaliar um possível transtorno de aprendizagem. A Tabela 20 apresenta as cartas que mais favo- recem a identificação de dificuldades escolares pelas crianças e pelos adoles- centes e apresenta questões complementares que o avaliador pode realizar para ampliar suas informações sobre os problemas do cliente. O mesmo pro- cedimento descrito nos capítulos anteriores deve ser realizado aqui: deixar a criança escolher todas as cartas, entrevistá-la, realizar a mensuração com o 81 O Baralho de Problemas e os Transtornos da Aprendizagem termômetro dos problemas e anotar os resultados na planilha. Lembrete: O objetivo das cartas-problemas é favorecer a identificação dos problemas pela criança. A escolha de uma ou mais de uma carta-problema des- sa categoria não significa que a criança apresente exclusivamente dificuldades escolares. O psicodiagnóstico deve ser feito somando as informações dadas pe- lo(s) cuidador(es), por inventários e testes psicológicos (preferencialmente os indicados pelo SATEPSI) que apontem para o referido quadro psicopatológico. Tabela 20: Como trabalhar com as cartas-problemas que favorecem a identificação de dificuldades escolares Cartas-Problemas Questões complementares Como rncê se sente quando não con;egue ler como -.eus colegas? O que a profe,sora faz ou fala quando rncê não consegue ler Eu não consigo ler como seus colega.\? como meus colega~. Em sua opinião, por que voe<' não consegue ler como -eus colq~as? Você tem alguma estratégia para evitar ler? Você tem tentado algo para melhorar sua leitura? Como você se sente quando não consegue resolver problemas Eu não consigo de matemática como seus colegas? resolver os problemas O que a professora faz ou fala quando ,·ocê não consegue de matemática como resoh-er problemas de matemática como seus wlegas? meus colegas. Em sua opinião, por que você não consegue resolwr proble- mas de matemática como \Cus colegas? Você tem tentado algo para resolver problemas de matemática? Como você se sente quando n.io consegue escrever como seus colegas? O que a professora fa1 ou fala quando você não consegue Eu não consigo escrever escrever como seus colegas? como meus colegas. , Em sua opinião, por que você não consegue escrever como seus colegas? Você tem alguma c-tratégia para evitar escrevcr1 \ ·ocê tem tentado algo para melhorar sua escrita? Meus amigos riem de Como você se sente quando seus amigos riem de vou~? mim porque eu não O que a professora faz ou fala quando você não consegue consigo acompanhar o acompanhar o que ela pede? E o que ela faz ou fala quando seus amigos riem? que a professora pede Lm sua opinião, por que 'eu' amigos riem? na sala de aula. \'occ tem alguma estratégia para evitar que eles riam? Tenho vergonha porque Por que você tem vergonha por não conseguir fazer o que a não consigo fazer o que professora pede? a professora pede. O que rncê faz quando sente vergonha? 82 Baralho de problemas: lidando com transtorno' da 10t:iné1a em busca do bem-estar Cartas-Problemas Questões complementares Tenho muito medo das Por que rnce tem tanto medo das prm·as? prorns e avaliações e \'ocê j.\ teve branco na hora da pnwa? Seu medo atrapalha você na hora tia pr0\<1? fico muito ansioso(a). \'ocê fa1 alguma coi'>a para entar provas1 Eu fico apavorado(a) Por que nKê fica apa,·orado(a)? quando a professora O que a profc,sora faz ou fala quando vé que \'Ocê está aparnra· chama um(a) aluno(a) do(a)? na lousa. Você faz alguma coisa para e\itar ir à lousa? Eu penso que sou Por que você ,icha que é burro(a)? burro(a). Alguém já diso,e isso sobre você? Quem tá isso? \'ocê já se sentm inteligente alguma vez? Conte-me. Por que as pessoas dizem que você ê preguiçoso( a)? As pessoas dizem que Você concorda com elas? sou preguiçoso(a). \'o.:ê já colaborou com as pessoas sem que das pedissem? Como você 'e sentiu? Fico triste por Quais notas você tirou este binw,tre? decepcionar meus pais Por que você fica triste por decepcionar '>Cus pais? com minhas notas. Fies já dhseram algo para rncê? Como foi? O que você fez? REFERtNCIAS E LEITURAS SUGERIDAS Amencan Psychiatric Association. (2002). DSM-IV-TR: Mc11111<1/ diagnóstico e esta- tistiw de transtornos mentais (4. ed. rev., C. Dornelles, trad.). Porto Alegre: Artmed. ;\luüoz, J., Fresneda, :\1. D .. :\1cndon, 1:., Carballo, G .• & Pestun, :'>1. S. \'. (2005). Des cnção, avaliação e tratamento dos transtornos de aprendizagem. ln V. E. Caballo & i\I. A. Simon . .\lmwal de psicologia climca 111fi111til e do adolesce11te: Tm11stomos esperificos (pp. 159-180). São Paulo: Li\•raria Editora. 83 Capítulo 12 - O Baralho de Problemas, a gagueira e os tiques15 A GAGUEIRA A gagueira é um problema de fluência da fala que atinge crianças de qualquer nível socioeconômico e é independente do nível intelectual apresentado por ela. É mais frequente em homens do que em mulheres, nwna proporção de 3: l (Ameri- can Psychiatric Association [APA], 2002). A gagueira geralmente começa de forma gradual e apenas em alguns casos tem wn início abrupto. Quando isso ocorre, geralmente está associada a proble- mas emocionais ou a traumas sofridos na região da cabeça. Existem três tipos de gagueira: a) por repetição, que é a mais comum e que consiste na repetição de sons, de sílabas ou de palavras. A maioriadas crianças repete essas três categorias ao falar, entretanto, para se considerar uma gagueira, é preciso que esta seja a forma característica da fala da criança; b) por bloqueio, na qual a criança tem dificuldade para dar início ao som e precisa fazer gestos e força com os lábios e com o rosto para finalmente conseguir produzir o som que dese- java; c) por prolongamento, na qual o problema da gagueira está ligado à duração da emissão do som, de tal maneira que o som se prolonga mais do que é esperado. A gagueira está relacionada ao estresse. As diferenças individuais são uma tônica nesses casos, estando fortemente ligadas a condicionamentos, discrimi- nação e generalização de estímulos. Por isso, observamos crianças que gague- jan1 na presença dos pais, mas não gaguejam na presença de estranhos; ou- tras, por sua vez, gaguejam na presença de estranhos, mas não gaguejam com pessoas do seu núcleo familiar. Um outro exemplo são aquelas crianças que gaguejam quando estão com raiva, mas não o fazem quando estão tranquilas. Outras, porém, fazem exatamente o contrário. De uma forma geral, crianças não gaguejam quando cantam. Alguns fatores são atribuídos à etiologia da gagueira. A chamada gagueira evolutiva começa entre os dois e os cinco anos de idade e raramente depois dos doze. É wn fato que as crianças pensam mais rápido do que conseguem se expres- sar. Portanto, entre os dois e os cinco anos é esperado que as crianças gaguejem. 15 Parte teórica baseada no Aguilar (2005); DSM-IV-TR (APA , 2002); l\liltenberger e Woods (2005). 85 O Baralho de Problema,. a gagueira eº' tique' O excesso de correção e o reforçamento inadequado, contudo, podem gerar um quadro de gagueira que não diz respeito a características esperadas do desenYol- vimento. Fatores biológicos também são aludidos, tais como fator genético, problema~ biológicos ligados à produção do som e a problemas cerebrais. Outro fator dessa natureza está ligado à coordenação muscular. A fala depende da coordenação da respiração com os músculos que controlam a emissão da voz (laringe) e os mús culos que coordenam a língua, os lábios e a mandíbula. A falta de coordenação de qualquer músculo favorece a gagueira. Fatores emocionais parecem ter alguma influência sobre a gagueira, mas não podemos afirmar que a gagueira seja um reflexo de um problema emocional. É certo que a visão de si, do outro e do mundo e o papel da fala na interação com o meio influem no grau com que a pessoa pode aceitar seu problema e coordená-lo melhor. Estudos mostram que a gagueira pode produzir quadros de ansiedade, mas não o contrário. Estudos atuais mostram que o envolvimento dos pais é fundan1ental para as modificações e a manutenção do comportamento de falar fluente no gago, espe- cialmente nos casos em que a criança aprendeu falar gaguejando como forma de obtenção da atenção dos pais na fase da gagueira evolutiva. TIQUES Os transtornos de tiques são caracterizados por "vocalizações ou movimentos motores estereotipados, súbitos, rápidos, recorrentes, não rítmicos" (APA, 2002). Os transtornos de tiques têm sido avaliados e tratados, historicamente, por psiquiatras e neurologistas, embora os psicólogos clínicos tenham desenvolvido, também, técnicas de avaliação e de tratamento para tais transtornos. Os tiques podem ser simples (envolvem poucos músculos ou sons simples) ou complexos (vários grupos musculares ou palavras e frases). Eles podem mudar de gravidade com o passar dos dias, variam conforme o contexto (casa, escola, tra- balho e outros) e diminuem ou desaparecem durante o sono. Os tiques são con- siderados transitórios (se ocorreram durante menos de doze meses) ou crônicos (com mais de doze meses, como no caso do transtorno de Tourette). Praticamen- te, a etiologia dos transtornos de tiques centrou-se no transtorno ou smdrome de Tourette (esta envolve tiques motores e vocais), pois os transtornos de tiques motores e vocais são versões menos graves da síndrome de Tourette. Desse modo, a descoberta das causas da síndrome de Tourette levaria à descoberta das causas dos transtornos de tiques motores e vocais. 86 Baralho de problema>: lidando com transtornos da infância em busca do bem-estar Resumidamente, as causas dos transtornos de tiques centram-se em teorias biológicas e comportamentais. As primeiras podem ser divididas em influências genéticas, diferenças neuroanatômicas e atividade neuroquímica. Em termos comportamentais, os tiques podem ser vistos como comportamentos mantidos por um ciclo de reforçamento negativo em que uma sensação corporal aparece como um impulso para realizar um tique. O comportamento resultante (tique) aliviaria essa sensação corporal aversiva. Os tratamentos aos tiques, basicamente, são biológicos (farmacológicos) ou comportamentais (prática massiva negativa e a inversão do hábito). A GAGUEIRA, OS TIQUES E O BARALHO DE PROBLEMAS Da mesma forma que nos capítulos anteriores, apresentaremos o roteiro de perguntas que podem ser feitas para a criança com o objetim de ampliar as infor· mações sobre as cartas escolhidas por ela, a fim de que ela identifique dificuldades relacionadas a tiques e gagueira. A Tabela 21 apresenta as cartas que auxiliam na identificação de tiques e gagueira pelas crianças e pelos adolescentes e apresenta questões complementares que o avaliador pode realizar para ampliar suas infor- mações sobre os problemas do cliente. O mesmo procedimento descrito nos ca- pítulos anteriores deve ser realizado aqui: deixar a criança escolher todas as cartas, entrevistá-la, realizar a mensuração com o termômetro dos problemas e anotar os resultados na planilha. Lembrete: O objetivo das cartas-problemas é favorecer a identificação dos problemas pela criança. A escolha de uma ou mais de uma carta-problema dessa categoria não significa que a criança apresente exclusivamente um quadro de ti- ques ou gagueira. O psicodiagnóstico deve ser feito somando as informações da- das pelo(s) cuidador(es), por inventários e testes psicológicos que apontem para o referido quadro nosológico. Tabela 21: Como trabalhar com as cartas-problemas que fa\'orecem a identi ficação de tiques e gagueiras. Cartas-Problemas Questões complementares Quando vocé gagueja~ Eu gaguejo. Como se sente quando gague_ja? fai,tem >iluações ou pessoas que fazem você gague,iar mab? Com que frequência \'OCê faz xixi na cama? Eu faço xixi na cama. O que seu> pais fazem quando veem a cama molhada? \'ocê tenta e>conder que fez xixi? 87 O Baralho de Problem,1s, a gagueira e os tiques Cartas-Problemas Q uestões complementares Com que frequência voâ apresenta os tiques? Eu tenho tiques. O que as pc,soas dizem ou fazem quando veem seu tique? Exüte alguma situação ou há pe,;s()as que fazem seu tique surgir? Como você se sente quando faz o tique? Os outros riem de Como você se sente quando riem de rncê? m im quando cu O que a profo,sora ou seus pais fa1em ou falam quando seus amigos riem? gaguejo. Em sua opinião, por que eles riem? Os outros riem de Como você se sente quando riem de você? mim quando eu O que a professora ou seus país fa1em ou falam quando sew, amigos riem? tenho o tique. Em sua opinião, por que eles riem? Meus pais ficam br avos porque eu O que seus pais fazem qu,mdo ficam bravos? faço xixi na cama. Eu me sinto Por que você tem vergonha por não conseguir controlar seu tique? envergonhado( a) por ter tique. O que você faz quando sente vergonha? Eu me sinto Por que você tem wrgonha ao não conseguir controlar sua gagudra1 envergonhado(a) quando gaguejo. O que você faz quando sente vergonha? Eu me sinto enver- Por que ,·ocê tem vergonha ao não conseguir controlar o xixi? gonhado(a) quando faço xixi na cama. O que você faz quando sente vergonha? Eu sinto medo Por que vocêsente medo de gaguejar? de gaguejar. O que rncê faz quando sente medo1 Você deixa de fazer algo por medo de gaguejar? REFERÊNCIAS E LEITURAS SUGERIDAS Aguilar, G. (2005). Um programa estruturado para o tratamento da gagueira em crian- ças. ln V. E. Caballo & Simón, M. A. Manual de psicologia clínica infantil e do adolescente: Transtornos específicos (pp. 223-239). São Paulo: LÍ\Taria Editora. American Psychiatric Association. (2002). DSM-1\'-TR: Manual diagnóstico e estatrstico de transtornos mentais (4. ed. rev., C. Dornelles, trad.). Porto Alegre: Artmed. Miltenberger, R. G., & \\'oods, D. \\'. (2005). Características clínicas e tratamento dos transtornos de tiques. ln V. E. Caballo & M. A. Simon. AJanual de psicologia c/1111ca i11ji111- til e do adolescente: Transtornos gerais (pp. 355-370). São Paulo: Livraria Santos. 88 Baralho de Problemas DEPRESSÃO INFANTIL (CARTAS D.I.) Eu acho a minha Yida ruim. Eu tenho vontade de morrer. Eu não consigo dormir bem. Eu sinto que ninguém gosta de mim. Eu me sinto sozinho(a). Eu, às ,·ezes, penso em morrer. Eu sinto pena de mim mesmo(a). Eu sinto vontade de ficar sozinho( a). Eu sinto muita vontade de chorar. Eu me sinto triste. ANSlrDAJE INFANT L (CARTAS A.I) Eu tenho medo que alguém me faça mal. Eu fico ansioso( a) quando estou na escola. Eu tenho medo que as pessoas impltquem comigo. Eu tenho medo de monstros ou espíritos. Eu fico com medo de tirar notas ruins. Quando eu fico com medo ou preocupado(a), minhas mãos tremem e meu coração dispara. Eu knho medo que as pessoas fiquem bra,·as comtgo. Eu sou ansioso(a). Eu não consigo dormir bem. Eu tenho medo de ficar doente. 89 O Baralho de Problemas TRANSTORNO DESAFIADOR OPOSITIVO (CARTAS T.D.O.) Eu acho que as pessoas são injustas comigo. As outras crianças me fazem perder a cabeça, ficar agressivo( a). As pessoas me chateiam. Quando eu fico com muita raiva, a raiva não passa. Eu acho que as pessoas estão contra mim. Eu não estudo para as provas. Eu não obedeço aos meus pais. Eu deixo as pessoas nervosas. Eu discuto com os adultos (sou respondão). Eu não faço tarefa. TRANSTORNO DE CONDUTA (CARTAS T.C) Eu roubo. Eu penso em fugir de casa. Eu procuro briga com os outros. Eu falto às aulas. Eu gosto quando as pessoas sentem medo de mim. Eu minto. Eu gosto de enganar as pessoas. Eu xingo os adultos, os amigos e/ou os irmãos. Eu bato nos meus amigos e/ou nos meus irmãos Eu quebro ou estrago as coisas de propósito. HABILIDADES SOCIAIS (CARTAS H.S.) Eu sou tímido(a). Eu gaguejo quando vou falar com os outros. Eu não gosto de trabalhos em grupo, pois tenho vergonha de falar. Eu não tomo a iniciativa para brincar ou conversar com alguém. Eu não consigo escolher o que devo vestir ou comer. Eu roo as unhas. Eu tenho vergonha de pedir algo para os outros. Eu me sinto culpado( a). Eu me sinto incompetente. Eu tenho vergonha de conversar com o professor. 90 TOC INFANT'L (CARTAS T.O.C) Tenho pensamentos ruins que pipocam na minha cabeça e eu posso controlá-los. Tenho que fazer coisas ou pensar coisas para combater os pensamentos ruins. Tenho que lavar as mãos ou o corpo muitas vezes. Tenho que checar se tudo está correto muitas vezes. Tenho muitas manias e perco muito tempo com elas. Não consigo jogar fora coisas velhas e quebradas. Tenho medo de ficar doente. Preciso fazer coisas repetidamente. Acho que se penso algo ruim, isso vai acontecer. Preciso deixar as coisas numa ordem específica. HIPERAT1VIDADE (CARTAS H) Eu não presto atenção. Eu não sou organizado( a). Eu não gosto de fazer coisas que exigem que eu pense. Eu perco meu material escolar com frequência. Eu esqueço minha tarefa de casa com frequência. Eu não consigo ficar sentado( a) e me levanto toda hora. Eu converso demais. Eu não consigo ficar parado(a). Eu não consigo esperar a minha vez. Eu não consigo esperar a professora terminar a pergunta e já vou respondendo. 91 O Baralho de Problemas ROBLEMAS ESCOLARES (CARTAS P.E.) Eu não consigo ler como meus colegas. Eu não consigo resolver os problemas de matemática como meus colegas. Eu não consigo escrever como meus colegas. Meus amigos riem de mim porque eu não consigo acompanhar o que a professora pede na sala de aula. Tenho vergonha porque não consigo fazer o que a professora pede. Tenho muito medo das provas e avaliações e fico muito ansioso( a). Eu fico apavorado( a) quando a professora chama um( a) aluno( a) na lousa. Eu penso que sou burro( a). As pessoas dizem que sou preguiçoso(a). Fico triste por decepcionar meus pais com minhas notas. TRANSTORNO DE ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO (CARTAS T.E.P.T.) Eu tenho pensamentos ruins que não posso controlar. Eu procuro evitar situações. Eu me sinto cansado( a) . Eu não me interesso mais por brincadeiras ou coisas que antes me interessavam. Eu fico revivendo uma coisa ruim que me aconteceu. Eu me sinto desprotegido( a). Eu tenho muitos pesadelos. Eu não dou mais importância às pessoas como dava antigamente. Eu não consigo mostrar meus sentimentos como antes. Eu fico atento( a) a tudo para não correr nenhum perigo. TIQUES/ GAGUEIRA (CARTAS T.G.) Eu gaguejo. Eu faço xixi na cama. Eu tenho tiques. Os outros riem de mim quando eu gaguejo. Os outros riem de mim quando eu tenho o tique. Meus pais ficam bravos porque eu faço xixi na cama. Eu me sinto envergonhado(a) por ter tique. Eu me sinto envergonhado( a) quando gaguejo. Eu me sinto envergonhado(a) quando faço xixi na cama. Eu sinto medo de gaguejar. 92 CONFIRA OUTROS TÍTULOS DA SINOPSYS EDITORA Baralho das Emoções _. ................. ..._ O Baralho das Emoções é um instrumento facilitador de acesso às emoções das crianças na clínica psicológica. Ele possui 21 cartas com características gráficas para meninos e também 21 cartas com características gráficas para me- ninas. Cada uma das cartas descreve - em desenho - uma emoção especifica. O instrumento visa acessar, com mais propriedade, as emoções infantis durante o período de avaliação, assim como também durante todo o processo de tratamento. Renato e ;l. larina acabam de ino,·ar mais uma vez. Com o presente t rabalho, oferecem aos terapeutas de crianças e adolescentes uma maneira mais direta de lidar com os pensamento:. e crença> intermediárias, estas ultimas se constituindo talvez em um dos aspectos menos compre- endidos e explorados pela terapia cognitiva. Este livro, Ba- ralho dos Pensamentos, parte das seis emoções básicas - já delimitadas e devidamente justificadas em seu prede- cessor, o Baralho das Emoções - e apresenta os pensamen- tos mais comumente associados às respectivas emoções. ~OdoS Contpo. rta~~to~ ' f..\~wsne<~ ..,.__..~ _._,_ ., Após elaborarem o Baralho das Emoções. com o objeti\'O de instrumentalizar o acesso às emoções infantis na clíni- ca cognitiva, e o Baralho dos Pensamentos, que possibilita o acesso mais direto a um dos mveis mais complexos da cognição, Renato e Marina Cammha, lançam o Baralho dos Comportamentos, que mtegra o terceiro e funda- mental elemento do t rabalho clinico, especificamente no contexto psicoterápico infantil: o comportamento. 93 • • ; . • • .:.J .\:._ ·) S!NOPSYS • • • • ,,. ' ,_ ' i __ 1 -·1r _:} \:__ ~ StNOPSYS -:\....To e d i to r a (51) 3066 3690 www .s·nopsysed1tora.com.br E.v l>a to "ºs mevs amigos e/ oo "ºs mevs irmâ:os. E.o gosto civa"do as pessoas se" tem medo de mim. E.o xi"go os adultos, os amigos e/ ou os irmâ:os. E.v civel>ro ov estrago as coisas de propósito. E.o falto is aulas. E.o procuro l>riga com os outros. E.v mil\to. E.o gosto de e"gª"ªr as pessoas. E.o pel\SO em f ogir de casa.E.o rool>o. - 5 - .. E.o discuto com os a.doltos Csoo respo"dio). Q,oa."do eo fico com moita. raiva., a. raiva. "io passa.. Ev deixo as pessoas l\ervosas. 7 - - r- --- - E.o l\io f a.ço ta.ref a.. Ev a.cho ioe as pessoas estio COI\ tra. mim. A.s pessoas me cha.teia.m. - . -~ . --· -;;,.r-.c:. ·-"" ~1 t-: :-- ~- - E.o "io estodo pa.ra. as provas. E.o "io obedeço a.os meos pa.is. -- - - - - . - .. ~ ..,... E.o a.cho ioe as pessoas sio il\jostas comigo. -- - A.s ovtras crtal\ças me fazem perder a ca.Leça, fàcar agressàvo(i>. -··--·----------- -------- ------ _ _.. -- -- -- ...... Ev te1'ho pe1'same1'tos rvi1'S <i,.Ve 1'â:O posso co"trolar, Ev procoro evitar certas sitvações. Eo me si1'to desprote9ido(a), Ev me si1'to ca"sado(a), Eo "ão dov mais importâ"cia is pessoas como clava ª"ti9ame1'te, t--- .• ~ - """- - ~ Eo "ão C01'st90 mostrar meos se1'ttme1'tos como at\tes, .... ' Eo te"ho moitos pesadelos, Ev fico revive1'do oma coisa roim q_oe me aco" teceo, ·-~ - - ··- -- Eo fico ate"to(a) a todo para "ão correr "e"hom perigo, - 1--... ' .. - . ...... E.o l\io me ti\ teresso ma.ls por l>rtl\cadefras oo coisas \Oe ª" tes me ti\ teressa vam. - ---- L- ,_ - - - .. - - E.o me sll\tO e" ver901\ha.do(a.) por ter tl<t.oe, E.o me sll\tO e" vergo"hado(a.) <t.ºa."do 9a.9oejo. - Ji Ev gaguejo. L -- '- - Meos pais flca.m .bravos por<t.oe eo faço xixi "ª ca.ma. Ev te"ho h<t.oes. 1, !• ... ~ li E.o sll\tO medo ele 9a9oeja.r, Ev faço xixi "a. cama. ~ , f 1 1 ' l'.'f9 ' 1 - ~~- 11 :,1 \ 1 • 1 E.o me si"to el\ ver901\ha.elo(~ <tºa."elo fa.ço xixi "a. ca.ma.. Os ootros riem ele mim <tºa."elo eo 9a.9oejo. ,_ Os ootros riem ele mim <(.Oa.l\elO meos ttioes a.pa.recem. , __ _ - -i Prectso fazer cotsas repetldamel\ te. T e"ho mottas mal\tas e perco moito tempo com elas. /\cho cioe se pe"so algo roim, isso vai aco" tecer. T e"ho medo de ficar doe" te. Não COl\stgo jogar fora coisas velhas e cioe.bradas. T e"ho cioe fazer coisas oo pe"sar coisas para com.bater os pe"samel\tos roil\s, Prectso detxar as cotsas l\oma ordem especfftca. T e"ho cioe checar se todo está. correto moitas vezes. Te"ho pe"samel\tos rotl\S cioe pipocam "ª mil\ha ca.beça e eo "ão posso col\trolá.-los. T e"ho q_oe la. va.r a.s "" ma.os oo o corpo moitas vezes. .... ·- - E.o fico com medo de tlra.r l\Ota.s rvll\S. E.o te"ho medo q_oe a.lgoém me f a.ça. ma.I. -- - - '/- - .- E.o soo a.l\sloso{a.), L -- -- .. ·=--· I"...---' E.o te"ho medo q_oe a.s pessoa.s lmpHq_oem comigo. E.o fico a."sloso{a.) q_oa.l\do estoo "a. escola.. E.o "io COl\slgo clormlr i>em. ~ ~ - - _, . -;;;::-- - -~ E.o te"ho medo ele mo"stros e espíritos. E.o te"ho medo de flca.r doe" te. Q_oa.l\dO eo fàco com meclo oo preocopa.cloCa.:>. ml"ha.s mios tremem e meo cora.çio clàspa.ra.. E.u te"ho medo q,ue as pessoas fiq,uem bra. va.s comigo. E.o Sil\tO VOl\tade • de ficar sozi"ho(a), Si"to moita vo"tade de chorar. E.o me si" to sozi"ho(a), E.o me Stl\tO triste. E.o. às vezes, pe"so em morrer. E.o te"ho VOl\tade de morrer. E.o si"to pe"a de mim mesmo(a), E.o "ão COl\si90 dormir i>em. E.o si"to ctºe "i"9oém gosta de mim. • < ' E.u acho a mi"ha viela ruim. Eu "ão cot\si90 ficar se" tado(a) e me Jeva"t~ toda hora. Eu "ão COl\si90 esperar a mil\ha vez. Eu "ão presto ate"ção. Eu "ão cot\si90 esperar a professora termil\ar a per9u" ta e já vou respo"de"do . ,_ . ~ -~ ~ - - Eu co" verso demais. ~ - ~ - -- ::. Perco meu material escolar com fre<t.uê"cia. ·-- ~------- ____ ., _______ ·-- -- --·- ------ ---- - ,_ .-- -- Eu "ão COl\si90 ficar parado(a), - -· - .-:..··~ Eu "ão sou or9al\izado(a), ---- ·-- - --- - -~ ~ ~· .. - - Eu es<1.ueço mil\ha tarefa de casa com fre<t.uê"cia. Eu "ão 9osto de fazer co&sas q_ue ex&9em • q_ue eu pel\se. li. ..._ - - -- - - ? -~ f.o me Stl\to colpado(i>. • - . -:::-... - -- - -;;::;;- - - - ---- -~ f.o tel\ho ver901'ha de COI\ versar com o professor. ~ - - -;;;.- f.o "ão tomo tl\tciativa para l>rtl\car oo COI\ versar com algoém . - ~ - - - ;;;:;;.-- f.v me Stl\tO tl\COmpete" te. - ~ -~ E.o 9a9oejo q_oal\do voo falar com os ootros. ~ - ... --- - - -- --- --~ ~ C>-., r------- = .... f.o tel\ho ver901\ha de pedir algo para os ootros. -~-,..., - - --- - - - - ---- - ~ f.o "ão gosto de tral>alhos em 9ropo, pois te"ho ver901'ha de falar. E.o sov tímido(i). -~ .............. - - -;:;:;--- E.o "io cot\stgo escolher o tue elevo vestlr oo comer, E.o l\iO COl\Si90 resolver pro.Llem~ de matemática como os meos cole9~. E.o fico apavorado(i> q,oa"do a professora chama om(i> alol\o(i> "ª loosa. Meos amigos riem de mim porcioe ev l\io col\si90 acompa"har o cive a professora pede "ª sala de av!a. E.o l\iO COl\Si90 escrever como os meos cole9~. E.o pel\SO cioe soo J,orro(i>. A.s pesso~ dizem cive soo pre9viçoso(i>. E.o l\io COl\si90 ler como meos cole9~. Fico triste por decepciol\ar meos pais com mil\h~ l\Ot~. "f el\hO ver901\ha porcioe "io col\si90 fazer o cioe a professora pede. Tel\ho motto medo~ provas e avallações e fico motto ª"stosoCv. - l 1 -~1 1/ ''/. 1 \