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ARTE E LUDICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL E ANOS INICIAIS Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS Autoras: Cinara Marli da Cunha Baumgartner Tatiana dos Santos da Silveira Reitor: Prof. Ozinil Martins de Souza Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Norberto Siegel Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Profa. Hiandra B. Götzinger Montibeller Profa. Izilene Conceição Amaro Ewald Profa. Jociane Stolf Revisão de Conteúdo: Profa. Camila Almeida Pinheiro da Costa Revisão Gramatical: Profa. Márcia Maria Junkes Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Copyright © UNIASSELVI 2010 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 370.157 B3484a Baumgartner, Cinara Marli da Cunha. Arte e Ludicidade na Educação Infantil e Anos Iniciais / Cinara Marli da Cunha Baumgartner [e] Tatiana dos Rodrigues. Centro Universitário Leonardo da Vinci. – Indaial: Grupo UNIASSELVI, 2010.x ; 90 p.: il. Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7830-324-2 1. Educação Lúdico 2. Ensino de Artes - Criatividade I. Centro Universitário Leonardo da Vinci. II. Núcleo de Ensino a Distância III. Título Impresso por: CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Cinara Marli da Cunha Baumgartner Mestre em Educação pela Universidade Regional de Blumenau (FURB). Especialista em Arte-Educação pela Associação Catarinense de Ensino Faculdade de Educação de Joinville (2004) e em Educação Inclusiva pela Universidade Castelo Branco (2006). Graduada em Educação Artística pela Universidade Regional de Blumenau - FURB (2004) e em Pedagogia pela Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC (2006). Professora de ensino regular e cursos de graduação e pós-graduação. Pesquisa na área de Arte-Educação, formação de professor e leitura de imagem. Entre as principais publicações estão: A Construção do Olhar: Concepções e práticas pedagógicas acerca do ensino de Arte e da utilização de imagens fixas. A imagem no ensino da arte. Bidocência: Reinterpretando papéis. Ela é minha aluna exclusiva: A prática pedagógica na bidocência. Ensino da Arte e leitura de imagem. Arte e inclusão: O que dizem os professores? Tatiana dos Santos da Silveira Mestre em Educação pela Universidade Regional de Blumenau (FURB). Especialista em Arte pela Universidade Regional de Blumenau (2006), graduação em Educação Artística pela Universidade Regional de Blumenau (2004) e em Pedagogia pela Universidade do Estado de Santa Catarina (2006). Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Arte-Educação e inclusão. Professora de ensino regular e cursos de pós-graduação. Desenvolve pesquisas relacionadas à Inclusão, Deficiência Visual e Arte-Educação. Entre as principais publicações estão: “Vendo com as mãos”: Práticas pedagógicas para a inclusão escolar em Artes Visuais. Artes visuais e deficiência visual: Possíveis reflexões. Alunos cegos e artes visuais: inclusão no contexto escolar. Inclusão do educando deficiente visual nas aulas de artes plásticas: uma reflexão sobre as escolas públicas municipais de Gaspar - SC/ Brasil. A imagem no ensino da arte. Eu não tive formação: uma reflexão sobre as práticas pedagógicas de artes visuais em turmas onde estudam educandos cegos. Arte e inclusão: o que dizem os professores? Sumário APRESENTAÇÃO ......................................................................7 CAPÍTULO 1 Introdução do Lúdico na Aprendizagem .............................9 CAPÍTULO 2 O Lúdico e a Arte na Aprendizagem .....................................33 CAPÍTULO 3 Os Caminhos do Ensino de Arte no Brasil ........................57 7 APRESENTAÇÃO Caro(a) pós-graduando(a): Caro aluno, neste caderno de estudos você conhecerá caminhos possíveis no trabalho com a Arte e a Ludicidade. Para tanto, é necessário conhecer o ensino da Arte e também o papel do lúdico na infância. Nesse sentido, a ludicidade é um tema que tem conquistado espaço no panorama nacional, principalmente na Educação Infantil, pelo fato de o brinquedo, o jogo e a brincadeira tornarem- se a essência da Infância e seus usos permitirem um trabalho pedagógico que possibilita a produção do conhecimento, da aprendizagem e do desenvolvimento. Os jogos e as brincadeiras estão presentes em todas as fases da vida dos seres humanos, dessa forma, podemos afirmar que o lúdico acrescenta um ingrediente indispensável no relacionamento entre as pessoas, contribuindo para o desenvolvimento da criatividade e tornando especial a existência do ser humano. Independentemente de época, cultura e classe social, os jogos e brincadeiras promovem nas crianças, um mundo de fantasia, de encantamento, de alegria e de sonhos em que a realidade e o faz-de-conta são aliados. Desta forma, pretendemos no decorrer deste caderno de estudos apresentar a importância da ludicidade na formação humana, bem como, o ensino da Arte como atividade fundamental no processo de desenvolvimento do Lúdico na infância; e, as possíveis práticas pedagógicas e resgates de brinquedos e brincadeiras para o ensino da arte e da ludicidade. As autoras. CAPÍTULO 1 Introdução do Lúdico na Aprendizagem A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: 3 Reconhecer a ludicidade como elemento presente nas atividades do ser humano. 3 Compreender o lúdico como parte integrante da aprendizagem. 11 Introdução do Lúdico na Aprendizagem Capítulo 1 Contextualização A ludicidade tem sua origem na palavra latina ludus que quer dizer jogo. Considerando apenas a etimologia da palavra, o termo lúdico está diretamente relacionado ao jogo, ao brincar, ao movimento espontâneo. Além disso, o lúdico é um traço essencialmente psicofisiológico, ou seja, uma necessidade básica da personalidade do corpo e da mente no comportamento humano. As implicações das necessidades lúdicas extrapolaram as demarcações do brincar espontâneo de modo que a definição deixou de ser o simples sinônimo de jogo. O lúdico faz parte das atividades essenciais da dinâmica humana, trabalhando com a cultura corporal, movimento e expressão (ALMEIDA, 2006). Agora que sabemos a origem da palavra ludicidade e conhecemos o conceito de lúdico, faz-se necessário conceituarmos as palavras jogo, brinquedo e brincadeira. Jogo: é a ação pela qual se estabelecem regras específicas, convencionadas antes de iniciar o jogo e que devem ser seguidas. Ele pode acontecer individualmente ou em grupo. Brinquedo: é o objeto manipulado, ele pode ser um objeto concreto como bola, carrinho, boneca, ou até mesmo, ser fruto da imaginação, ou seja, um brinquedo criado pelo sujeito em sua mente. Brincadeira: é uma atividade agradável na qual o mundo real se mistura ao mundo imaginário. Não necessita ter um objeto de manipulação, como por exemplo, os brinquedos; e, não há regras, a criança inventa, constrói. Envolve a espontaneidade e a função de entreter, de distrair; ela é caracterizada pelo faz de conta. Exemplos de brincadeiras: cabra-cega, esconde-esconde, amarelinha, pega-pega. Mas, como o lúdico faz parte da aprendizagem? Neste capítulo estudaremos o lúdico como linguagem e seu desenvolvimento no processo histórico e cultural.Além disso, veremos como o lúdico é compreendido na atualidade. 12 Arte e Ludicidade na Educação Infantil e Anos Iniciais Lúdico: Linguagem e Processo Histórico e Cultural Brincar não é perder tempo, é ganhá-lo. É triste ter meninos sem escola, mas mais triste é vê-los enfileirados em salas sem ar, com exercícios estéreis, sem valor para a formação humana. Carlos Drummond de Andrade A ludicidade amplia o processo de ensino e aprendizagem, tanto no desenvolvimento psicomotor, ou seja, no desenvolvimento da motricidade fina e ampla, e no desenvolvimento de habilidades do pensamento, como a interpretação, a imaginação, a criatividade, a tomada de decisão, a obtenção e organização de dados, o levantamento de hipóteses e a aplicação dos fatos e dos princípios às novas situações que, por sua vez, acontecem quando jogamos, quando obedecemos regras, quando vivenciamos conflitos numa competição, entre outros (CAMPOS, 2006). Além disso, o jogo também é reconhecido como meio para fornecer à criança um ambiente agradável, motivador, planejado e enriquecido, que possibilita a aprendizagem de várias habilidades, trabalhando também o seu desenvolvimento dentro e fora da sala de aula. De acordo com Vigotsky (1984), a criança aprende a agir numa esfera cognitiva. Segundo o autor, é na interação com o brinquedo que a criança comporta-se de forma mais avançada que nas atividades da vida real, tanto pela vivência de uma situação imaginária, quanto pela capacidade de subordinação às regras. Dessa forma, compreendemos que os jogos e as brincadeiras são ações indispensáveis à saúde física, emocional e intelectual. É por meio deles, também, que a criança desenvolve a linguagem, o pensamento, a socialização, a iniciativa e a autoestima, preparando-se para ser um cidadão capaz de enfrentar desafios e contribuir de maneira efetiva na construção de mundo. Na interação com o brinquedo que a criança comporta- se de forma mais avançada que nas atividades da vida real, tanto pela vivência de uma situação imaginária, quanto pela capacidade de subordinação às regras. 13 Introdução do Lúdico na Aprendizagem Capítulo 1 Figura 1 – Vida na Flor (Mônica Santana) Fonte: Disponível em: <www.ciranda.net>. Acesso em: 20 mai. 2010. Na atividade lúdica, o que importa não é apenas o produto da atividade que dela resulta, mas a própria ação, momentos de fantasia que são transformados em realidade, momentos de percepção, de conhecimentos e de vida. Na escola, os jogos e as brincadeiras estimulam as crianças ao desenvolvimento pleno do corpo e da mente. O jogo desperta também, o surgimento da afetividade, sentimentos, emoções, medos, interesses e alegrias. A ludicidade proporciona desenvolvimento pessoal que, associado aos fatores sociais e culturais, colaboram para uma boa saúde física e mental, facilitando o processo de socialização, comunicação e construção de conhecimento; além, de um desenvolvimento pleno e integral dos indivíduos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem. A respeito do lúdico, Vygotsky (1989) aponta que ele preenche as necessidades da criança. A tendência de uma criança muito pequena é satisfazer seus desejos imediatamente. Na fase escolar, surge uma gama de desejos e o brinquedo parece ser inventado quando a criança começa a experimentar desejos não possíveis de realização imediata. Para resolver esta tensão, a criança se envolve num mundo imaginário. Os estudos de Vygotsky (1989) nos levam a refletir sobre o significado do jogo simbólico e do brinquedo na infância, do ponto de vista do seu valor no desenvolvimento da criança, e na construção da personalidade que envolve um intercâmbio do cognitivo e afetivo. Por meio 14 Arte e Ludicidade na Educação Infantil e Anos Iniciais do lúdico desenvolvem-se as relações interpessoais, o conhecimento lógico- matemático, a representação do mundo, a linguagem e também a leitura e escrita. a) O Lúdico como Linguagem Revendo a história da humanidade, percebemos que o elemento lúdico está presente desde a Pré-História. Podemos encontrá-lo nas pinturas rupestres, por meio das representações de suas danças, de alegrias, medos e crenças. Nos dias atuais encontramos a presença marcante da ludicidade, não apenas entre as crianças, mas em grande concentração, no mundo dos adultos, no formato de piadas, nos esportes em geral, nas danças, nos meios de comunicação e nas artes. Caro(a) pós-graduando(a): nas imagens que seguem, você poderá observar a forma como o homem pré-histórico desenhou a si mesmo em seus rituais. Figura 2 – Inscrições Rupestres Figura 3 – Inscrições Rupestres Fonte: Disponível em: <http://www. mundoeducacao.com.br/artes/arte- rupestre.htm>. Acesso em: 20 mai. 2010. Fonte: Disponível em: <http://www.expoart.com. br/historia/?idt1=1>. Acesso em: 20 mai. 2010. 15 Introdução do Lúdico na Aprendizagem Capítulo 1 O lúdico está diretamente ligado às diversas ações do dia a dia das pessoas e, sempre esteve presente nos povos antigos desde os mais remotos tempos. Por isso podemos afirmar que o lúdico é uma prática humana, histórica e cultural em permanente transformação que está presente na vida do ser humano desde os primórdios até os dias atuais. O homem, também precisou comunicar-se para construir um mundo mais favorável para a sua existência. Consideramos que as múltiplas formas abordadas para se expressar: a escrita, as artes visuais, o movimento, a música, a linguagem cênica, a matemática são exemplos de como o homem utilizou o lúdico como linguagem, ou seja, como forma de expressão humana e como instrumento de compreensão do mundo. A atividade lúdica é indispensável à saúde física, emocional e intelectual. Por meio da atividade lúdica, a criança desenvolve a linguagem, o pensamento, a socialização, a iniciativa e a autoestima. A criança expressa-se pelo ato lúdico e é através desse ato que a infância carrega consigo as brincadeiras. Elas perpetuam e renovam a cultura infantil, desenvolvendo formas de convivência social, modificando-se e recebendo novos conteúdos, a fim de se renovar a cada nova geração. É pelo brincar e repetir a brincadeira que a criança saboreia a vitória da aquisição de um novo saber fazer, incorporando-o a cada novo brincar. (CRAIDY; KAERCHER, 2001, p. 103). Diante dessa afirmação, percebemos que o lúdico contribui para a formação da criança no seu processo de ensino e aprendizagem. Devemos salientar que é de grande importância que a família e a escola estejam atentas e preocupadas com esse assunto, pois o lúdico apresenta-se como oportunidade para a criança estar em contato com o mundo, com as pessoas e objetos, contribuindo positivamente na formação da sua personalidade. b) O Lúdico como Processo Histórico e Cultural Para entendermos o lúdico como um processo histórico e cultural, recorremos a Vigotsky que é o precursor desta teoria. Vigotsky (1984) concebe o mundo como resultado de processos histórico-sociais que influenciam o modo de pensar do homem e o modo de vida da sociedade. O autor atribui relevante papel ao ato de brincar na constituição do pensamento infantil e afirma que é com os jogos A escrita, as artes visuais, o movimento, a música, a linguagem cênica, a matemática são exemplos de como o homem utilizou o lúdico como linguagem. O lúdico apresenta-se como oportunidade para a criança estar em contato com o mundo, com as pessoas e objetos, contribuindo positivamente na formação da sua personalidade. PO lúdico é uma prática humana, histórica e cultural em permanente transformação que está presente na vida do ser humanodesde os primórdios até os dias atuais. 16 Arte e Ludicidade na Educação Infantil e Anos Iniciais e brincadeiras que a criança revela seu estado cognitivo, visual, auditivo, tátil, motor, seu modo de aprender e entrar em uma relação cognitiva com o mundo de eventos, pessoas, coisas e símbolos. Nessa perspectiva o jogo infantil e as brincadeiras são resultados de processos sociais. Assim, o brincar é uma atividade sociocultural livre e origina-se nos valores, hábitos e normas de uma determinada sociedade ou grupo social. A criança, por meio da brincadeira, reproduz o discurso externo e o internaliza, construindo seu próprio pensamento. Ainda em conformidade com Vigotsky (1989) a brincadeira atua diretamente na Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) da criança. A ZDP consiste, de acordo com Vigotsky (1989), na distância que intercede o nível atual, ou seja, o Nível de Desenvolvimento Real (NDR) da criança, determinado pela sua capacidade de resolver problemas individualmente e o Nível de Desenvolvimento Potencial (NDP), determinado por meio da resolução de problemas sob a orientação de adultos ou em colaboração com os pares mais capazes. Diante do exposto, podemos verificar a importância que possui as atividades lúdicas, pois, é por meio delas que a criança reproduz muitas situações vividas em seu dia a dia, as quais, pela imaginação e pelas brincadeiras, são reelaboradas. Esta representação do cotidiano se dá por meio da combinação entre experiências passadas e novas possibilidades de interpretações e reproduções do real, de acordo com suas afeições, necessidades, desejos e paixões. Estas ações são fundamentais para a atividade criadora do homem (VIGOTSKY, 1989). O lúdico possui origem sociocultural. Desse modo, de acordo com o autor, a brincadeira, na infância, é atividade de suma importância, à medida que favorece a socialização do indivíduo e promove as mais importantes mudanças no desenvolvimento psíquico e na personalidade da criança, como por exemplo ao desenvolver um jogo simbólico a criança ensaia comportamentos e papéis, projeta-se em atividades dos adultos, ensaia awtitudes, valores, hábitos e situações para as quais não está preparada na vida real. Assim, podemos afirmar que o lúdico funciona como cenário no qual a criança se constitui como sujeito que atua e cria a partir de seu potencial de desenvolvimento, elaborando seu próprio conhecimento a partir de suas experiências. O Lúdico na Contemporaneidade Quais os jogos e brincadeiras que você costumava realizar na infância? Onde brincava? Com quem brincava? E, atualmente, como brincam as nossas crianças? É comum ouvirmos queixas de pais, mães e educadores que as crianças hoje em dia não sabem mais brincar. Dizem que na A criança reproduz muitas situações vividas em seu dia a dia, as quais, pela imaginação e pelas brincadeiras, são reelaboradas. 17 Introdução do Lúdico na Aprendizagem Capítulo 1 hora do recreio, principalmente, só correm e brigam. Pergunto: quem pára e brinca hoje com as crianças? Quem as ensina a brincar? (CRAIDY; KAERCHER, 2001, p.101). Levados a refletir sobre tais questionamentos, façamos uma pausa para pensar sobre a crônica de Veríssimo (2001, p. 41-42) que retrata o diálogo entre um pai e um filho sobre um brinquedo. A BOLA O pai deu uma bola de presente ao filho. Lembrando o prazer que sentira ao ganhar a sua primeira bola do pai. Um número 5 sem tento oficial de couro. Agora não era mais de couro, era de plástico. Mas era uma bola. O garoto agradeceu, desembrulhou a bola e disse “Legal!”. Ou o que os garotos dizem hoje em dia quando não gostam do presente ou não querem magoar o velho. Depois começou a girar a bola, à procura de alguma coisa. - Como é que liga? - perguntou. - Como, como é que liga? Não se liga. O garoto procurou dentro do papel de embrulho. - Não tem manual de instrução? O pai começou a desanimar e a pensar que os tempos são outros. Que os tempos são decididamente outros. - Não precisa manual de instrução. - O que é que ela faz? - Ela não faz nada. Você é que faz coisas com ela. - O quê? - Controla, chuta... - Ah, então é uma bola. - Claro que é uma bola. 18 Arte e Ludicidade na Educação Infantil e Anos Iniciais - Uma bola, bola. Uma bola mesmo. - Você pensou que fosse o quê? - Nada, não. O garoto agradeceu, disse “Legal” de novo, e dali a pouco o pai o encontrou na frente da tevê, com a bola nova do lado, manejando os controles de um videogame. Algo chamado Monster Baú, em que times de monstrinhos disputavam a posse de uma bola em forma de blip eletrônico na tela ao mesmo tempo em que tentavam se destruir mutuamente. O garoto era bom no jogo. Tinha coordenação e raciocínio rápido. Estava ganhando da máquina. O pai pegou a bola nova e ensaiou algumas embaixadas. Conseguiu equilibrar a bola no peito do pé, como antigamente, e chamou o garoto. - Filho, olha. O garoto disse “Legal” mas não desviou os olhos da tela. O pai segurou a bola com as mãos e a cheirou, tentando recapturar mentalmente o cheiro de couro. A bola cheirava a nada. Talvez um manual de instrução fosse uma boa idéia, pensou. Mas em inglês, para a garotada se interessar. Figura 4 - Jogando Bola (Ivan Cruz) Fonte: Disponível em: <http://www.brincadeirasdecrianca. com.br/>. Acesso em: 21 mai. 2010. 19 Introdução do Lúdico na Aprendizagem Capítulo 1 Você Conhece a história da origem da bola? Segundo Atzingen (2001, p. 77): A bola é um dos objetos mais antigos usados no esporte, jogos e brincadeiras. Redondas ou ovais, há 6500 anos eram feitas de fibra de bambu, no Japão, e de crinas de animais, na China. Romanos e gregos utilizavam tiras de couro e penas de aves para confeccionar suas bolas, mas o material preferido era a bexiga de boi. A bola de futebol chegou ao Brasil em 1894, junto com as regras do jogo, pelas mãos de Charles Miller. Quem inventou a bola de futebol branca foi o brasileiro Joaquim Simão, em 1935, para que ela pudesse ser vista à noite com mais facilidade pelos jogadores. O primeiro jogo de basquete nos Estados Unidos aconteceu em 1892, ainda usando uma bola de futebol. A primeira bola de basquete foi fabricada naquele país dois anos depois. Atividade de Estudos: 1) Convidamos, você caro(a) aluno(a), a refletir sobre essa crônica e relacionar com o dia a dia escolar. Responda brevemente quais as atividades lúdicas que são desenvolvidas em sala de aula? ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ 20 Arte e Ludicidade na Educação Infantil e Anos Iniciais Essa crônica ilustra as diferenças entre os jogos e brincadeiras que vivenciamos em nossa infância em tempos remotos e a realidade de muitas crianças dos tempos atuais. Baseando-se nessa perspectiva, pode-se constatar que nas últimas décadas a tecnologia expandiu-se de maneira acelerada e o mercado de brinquedos tem acompanhado esse crescimento. Os resultados desse crescimento estão contemplados nas prateleiras de lojas específicas, com novidades sofisticadas e bem elaboradas destinadas para as crianças do século XXI. Percebemos, também, que o acesso das crianças a jogos eletrônicos e sites, está acontecendo cada vez mais cedo, de forma a abranger os primeiros anos de vida. Isto promove o desenvolvimentodo raciocínio lógico das crianças, porém, no entanto, como afirma Vygotsky (1989) na infância é muito importante que a criança tenha a oportunidade de experimentar diversas possibilidades de aprendizagem, multiplicando o prisma de suas relações. Dessa forma, é importante que os jogos e as brincadeiras não se limitem apenas aos jogos eletrônicos ou à televisão. A infância é compreendida a partir das condições histórico-sociais em que a criança vive, porém, independentemente do tempo histórico, do país, da cultura, da religião ou de qualquer outro agravante que possa contribuir para a formação de um sujeito, podemos reconhecer um fator comum a todas as crianças: a capacidade de brincar, criar, imaginar, viver no mundo da fantasia. Essa capacidade deve ser estendida aos jovens e adultos, os quais necessitam vivenciar a experiência lúdica, uma vez que o brincar é uma atividade inerente ao ser humano. Embora o lúdico seja de suma importância ao desenvolvimento do ser humano, a pergunta que surge é: por que, em alguns casos, as crianças não são mais incentivadas a brincar? Estamos passando por uma transformação do modo de viver em nossa sociedade; e, essas mudanças influenciam diretamente nosso cotidiano e consequentemente o cotidiano das crianças. As causas das atividades lúdicas terem perdido espaço são diversas. Segundo Friedmann (2000), uma das razões seria o crescimento das cidades, o que ocasionou o aumento das distâncias, e a consequente dificuldade de deslocamento e encontro. Outra razão citada é a ausência de espaços públicos voltados para o lazer, estes espaços poderiam tornar-se um ponto de encontro entre as crianças. Porém, a falta de segurança; o fato de a mãe estar inserida no mercado de trabalho; e assim, ficar menos tempo com seus filhos; o incentivo ao consumo de brinquedos industrializados; tudo vem contribuindo para a inovação acelerada de novas tecnologias. A mesma autora afirma que estamos vivendo uma crise de valores em consequência das condições do mundo globalizado e destaca a necessidade do ser humano ir a busca de suas raízes mais profundas, suas razões de ser e de existir. É importante que os jogos e as brincadeiras não se limitem apenas aos jogos eletrônicos ou à televisão. 21 Introdução do Lúdico na Aprendizagem Capítulo 1 Em consonância com este pensamento, Aranha (2006) afirma que a mudança deve-se à sociedade capitalista, pois esta entende que o brincar consista em perder tempo e exige do adulto inserido no setor produtivo da sociedade uma seriedade condizente com seu papel social. Valorizando excessivamente a razão, o ser humano acaba reprimindo suas experiências lúdicas. Seguindo o mesmo raciocínio, Santin (1994) confere tal modificação à lógica da racionalidade presente na sociedade moderna que, na sua visão, extinguiu o calor das paixões, substituiu a arte pela matemática e transformou o humano em técnico. No seu ponto de vista, o homem da ciência e da técnica perdeu a felicidade e a alegria de viver, perdeu a capacidade de brincar, perdeu a fertilidade da fantasia e da imaginação guiadas pelo impulso lúdico. Conduzidas pelas concepções dos autores, anteriormente mencionados, podemos afirmar que a modernidade exige que o ser humano seja capaz de atender as competições do mercado de trabalho, bem como a sua produtividade, portanto, as atividades lúdicas ficaram em segundo plano e perderam seu significado. Contudo, podemos afirmar que a atividade lúdica não é simplesmente um passatempo para distrair as crianças. Pelo contrário, corresponde a uma profunda exigência do organismo e ocupa lugar de extraordinária importância na educação escolar. Estimula o crescimento e o desenvolvimento, a coordenação muscular, as faculdades intelectuais, a iniciativa individual, favorecendo o advento e o progresso da palavra. Instiga a observar e conhecer as pessoas e os objetos do ambiente em que se vive. Por meio das atividades lúdicas a criança pode brincar naturalmente, testar hipóteses, explorar toda a sua espontaneidade criativa. O lúdico é essencial para que a criança manifeste sua criatividade, utilizando suas potencialidades de maneira integral. Sendo criativo, a criança descobre seu próprio eu (TEZANI, 2004). O Lúdico na Legislação Brasileira Sabendo da real importância do lúdico na vida do ser humano e preocupados com esta realidade, procuramos estudar os documentos oficiais da educação brasileira. Pesquisando sobre o aparecimento da atividade lúdica dentro da legislação brasileira, nos deparamos com diversas leis sobre a infância que versam sobre o assunto, a saber: o Estatuto da Criança e do Adolescente, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, a Declaração dos Direitos das Crianças, o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil e os Parâmetros Curriculares Nacionais. Por meio das atividades lúdicas a criança pode brincar naturalmente, testar hipóteses, explorar toda a sua espontaneidade criativa. A sociedade capitalista, entende que o brincar consista em perder tempo e exige do adulto inserido no setor produtivo da sociedade uma seriedade condizente com seu papel social. 22 Arte e Ludicidade na Educação Infantil e Anos Iniciais De acordo com a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, mais conhecido como o Estatuto da criança e do Adolescente (BRASIL, 1990) – ECA – no seu Art. 2º diz que: “Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade.” No Art. 59, refere-se ao esforço que os Municípios, Estados e União, em conjunto, deverão fazer, visando proporcionar programações culturais, esportivas e de lazer para a infância e a juventude. Em consonância com o ECA, está a Resolução CEB nº 1, de 7 de abril de 1999, que Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil – DCN –, afirma em seu Art. 3º: , inciso I e linha c) que: “As propostas pedagógicas das Instituições de Educação Infantil, devem respeitar os seguintes fundamentos norteadores: princípios estéticos da sensibilidade, da criatividade, da ludicidade e da diversidade de manifestações artísticas e culturais”. (BRASIL, 1999). O documento Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (BRASIL, 1998, p. 26) estabelece que: “as brincadeiras fazem parte das atividades permanentes, que devem ocorrer dentro da instituição de Educação Infantil”. Assim, vimos que, segundo o ECA, criança é a pessoa que tem até 12 anos, portanto, é criança também, aquela que frequenta o Ensino Fundamental e, apesar do DCN do ensino fundamental não citar que deva ocorrer situações de ensino – aprendizagem em forma de brincadeiras, estas crianças têm amparo no ECA e nos Direitos das Crianças, para poderem ter a brincadeira incluída em sua vivência dentro da escola. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997), orientam a utilização dos temas transversais, como por exemplo, a pluralidade cultural, em que se leva a criança a respeitar os diferentes grupos e culturas. Envolve questões como discriminação e preconceito. Consideramos que em um país como o Brasil em que convivem diferentes etnias e culturas essa discussão se faz necessário. A ludicidade, brinquedos, brincadeiras e jogos, além de garantir diversão para as crianças, também favorecem ao professor um resgate da própria cultura do país, do folclore de um povo. Desse modo, pode-se proporcionar à criança o conhecimento da história de seu povo, o conhecimento de sua cultura, seus valores, seus costumes. Como vimos nos parágrafos anteriores, o papel do brincar está inserido na sociedade contemporânea com o respaldo dos documentos oficiais,para resgatar os valores mais essenciais dos seres humanos, tais como: a ludicidade, os jogos, as brincadeiras, as manifestações artísticas e culturais e o acesso à programas de esportes e lazer. Dessa forma, faz-se necessário que a prática dos professores As propostas pedagógicas das Instituições de Educação Infantil, devem respeitar os seguintes fundamentos norteadores: princípios estéticos da sensibilidade, da criatividade, da ludicidade e da diversidade de manifestações artísticas e culturais. 23 Introdução do Lúdico na Aprendizagem Capítulo 1 junto às crianças esteja em consonância com os documentos oficiais, para que aconteça a internalização dos conceitos apresentados com relação ao brincar. Diante do que foi apresentado e sobre o que você aprendeu sobre ludicidade, que tal realizarmos a leitura de um texto sobre como a arte pode contribuir para o desenvolvimento da imaginação e da ludicidade da criança sem se prender aos estereótipos? INFÂNCIA E DESCOBERTA: CONHECENDO A LINGUAGEM DA ARTE, INDO DE ENCONTRO AOS ESTEREÓTIPOS Bruna Pereira Alves INTRODUÇÃO A infância é uma época de descobertas, aventuras e magia para as crianças. É nesta fase, durante a educação infantil, que elas terão seus primeiros contatos com as linguagens da arte, cabendo ao professor valorizar os conhecimentos e a criatividade que elas trazem para a sala de aula e compreender a importância existente no ato de elas explorarem, pesquisarem e criarem coisas novas. O que realmente importa a elas é o brincar aprendendo, é esperar curiosamente pelo inesperado, estar envolvida com o lúdico e com a possibilidade de sonhar, pois assim, ela aprende se sentindo mais realizada e mais feliz. Em virtude disso, venho levantar e destacar a importância de se pensar a questão dos estereótipos, conceitos padronizados, na educação infantil; já que é nesta fase que a criança começa a criar conceitos e relações novas a respeito do que aprende, não devendo assim, sofrer influência destes, pois poderá levar consigo sempre a idéia de que os desenhos bonitos são os estereotipados, e não querer realizar seus próprios traços. Além disso, devemos considerar ainda, que a arte e seus elementos estão presentes em nosso dia a dia; não devendo ser vista como meio de oportunizar prazer às crianças, para trabalhar a coordenação motora ou para enfeitar as salas de aulas, mas ao contrário, deve-se trabalhar a arte como contribuição para a construção do conhecimento sensível da criança, já que contribui também, para a educação do olhar desta, e ajuda a ampliar suas leituras de mundo. Deve-se trabalhar a arte como contribuição para a construção do conhecimento sensível da criança. 24 Arte e Ludicidade na Educação Infantil e Anos Iniciais Esses são alguns dos motivos pelos quais venho escrever este artigo, para levantar a importância de o professor agitar-se no movimento de mudanças e descobertas, assim como, argumentar, criticar e fazer-se presente nas mudanças, movimentando-se no sentido de oportunizar ao aluno um melhor ambiente de trabalho e aprendizagem, ajudando-o a ampliar suas visões de mundo e a não restringir suas idéias a estereótipos. REFERENCIAL TEÓRICO As crianças sentem prazer em desenhar, pintar, rabiscar, cortar e criar; é assim que elas se expressam. Elas utilizam sua imaginação para inventar ou transformar desenhos, criando sempre o inusitado, o novo, o diferente. As crianças desvelam-se e revelam-se por meio de manifestações expressivas, cabendo as instituições de educação infantil e aos professores, oportunizar a elas momentos de criação, compreensão, imaginação e ressignificação. Sendo fundamental que o professor observe os limites da criança na arte de desenhar, e compreenda também, a importância de a criança criar seu desenho e titulá-lo livremente, sem se basear em modelos pré-determinados, evitando assim, que esses modelos prontos interfiram no imaginário da criança. Além disso, sabemos que é na medida em que a criança vai fazendo novas descobertas e tendo contato com novos materiais, que ela vai estruturando seu vocabulário visual. Sendo de extrema importância, que o professor disponibilize materiais diversos como: argila, papel, isopor, tinta, sucata, e deixe que ela descubra as diversas utilidades que eles têm, tendo liberdade para inventar coisas que para o professor muitas vezes não têm significado, mas que para ela faz muito sentido. Segundo Cunha (1999, p. 10), “para que as crianças tenham possibilidades de desenvolverem-se na área expressiva, é imprescindível que o adulto rompa com seus próprios estereótipos [...]”, assim, o professor tem que fazer parte do processo de descoberta da criança, desprezando os estereótipos e abrindo a mente para novas idéias e novos materiais, não só entendendo, mas vivenciando as linguagens da arte com a criança. Sabendo também da importância de não somente contemplar a produção do aluno, como a leitura desta produção e de outras As crianças desvelam-se e revelam-se por meio de manifestações expressivas, cabendo as instituições de educação infantil e aos professores, oportunizar a elas momentos de criação, compreensão, imaginação e ressignificação. 25 Introdução do Lúdico na Aprendizagem Capítulo 1 imagens, reforço a idéia de ampliar as possibilidades do que é apresentado a eles, diversificando sempre e tentando não se prender a estereótipos. Estes, por sua vez, fazem com que muitos alunos acabem seguindo-os por pensarem que assim terão seus trabalhos aceitos mais facilmente pelos professores, mas na verdade, o que ocorre é que com os estereótipos as crianças aos poucos desaprendam o seu próprio desenho, perdendo a confiança nos seus traços e começando a considerá-los “feios”. Mas se sabemos que os estereótipos são negativos, por que eles ainda são tão presentes em nosso cotidiano? A resposta, acredito eu, está no fato de que a maioria das vezes os estereótipos são basicamente os mesmos, e de tão reproduzidos e utilizados, se tornam largamente difundidos e aceitos. Assim acontece na escola, onde percebe-se que os estereótipos estão muito presentes, muitas vezes em formas de desenhos perfeitos que enfeitam as salas, aparecendo como pretexto de tornar o ambiente mais atraente e interessante para a criança. Pensando agora em nossas vivências, sabemos que nós vemos o que compreendemos e o que temos condições de entender. Assim, para que realmente possamos ver um objeto, devemos percebê-lo em suas relações com o sistema simbólico que lhe dê significado. O significado, por sua vez, está relacionado ao sentido que se dá a situação, pois estabelecemos relações do que estamos vendo com as nossas experiências. Entrelaçam-se informações do contexto sociocultural em que a situação ocorreu e os conhecimentos do leitor (sua imaginação, suas inferências). De acordo com Pillotto, o sentido e o significado que as crianças dão aos objetos, às situações e às relações passam pela impressão que elas têm do mundo, de seu contexto histórico e cultural, dos afetos, das relações inter e intrapessoais (PILLOTTO, 2007, p. 23). Pensando nisso, percebe-se que não só as crianças, mas todos nós fazemos ligações do que estamos vendo com: as experiências que já vivenciamos, nossas lembranças, nossas interpretações, fantasias e até mesmo, com os últimos acontecimentos que presenciamos. Assim, se o contexto, as informações, as vivências de cada leitor estão presentes ao procurar dar um sentido para a imagem, observa-se que as crianças, por exemplo, geralmente fazem relações de uma imagem com algum personagem de história ou programa infantil que elas conhecem. 26Arte e Ludicidade na Educação Infantil e Anos Iniciais Ostetto (2007, p. 35-36) diz que “não é mesmo novidade dizermos que é pelas diferentes experiências com/no mundo sensível que a criança vai se apropriando de formas mais complexas de ver e ler esse mesmo mundo sentido.” Pensando assim, reforço a idéia de que a criança faz sua interpretação em função de suas informações e dos seus interesses, tendo como fundamento as suas vivências. Outro elemento importante nas interpretações e relações dos alunos é a imaginação, já que ela se alimenta das experiências vividas por cada um e é responsável pela construção da cultura. Assim, para facilitar esta imaginação e criação dos alunos, cabe ao professor modificar a disposição dos objetos da sala de aula, possibilitando ao aluno situações diferenciadas que enriqueçam a sua produção e fazendo assim, com que ele veja as coisas de formas variadas, já que essas mudanças possibilitarão à criança visões diversificadas, não fazendo com que ela fixe-se em um único modelo de sala de aula. Assim, o professor não estará influenciando o aluno, mas ao contrário, instigando-o a ter novas visões. Segundo Pillotto, a organização do espaço poderia compreender pequenos cantos com objetos e situações diferenciadas, mobiliários postos de forma a possibilitar flexibilidade para trocas de lado, formas, para o acréscimo de outros objetos, e a retirada de outros etc. (PILLOTTO, 2007, p. 20). Além disso, deve-se levar em conta que as crianças se apropriam de novas formas de compreender o mundo de acordo com o que vivenciam. Elas inventam, contam histórias, descobrem coisas, fazem poesia. Essa última, por sua vez, termina no momento em que o professor interfere na criação e descoberta da criança, dando-lhes por exemplo, folhas mimeografadas com desenhos prontos e perfeitos, sem permitir-lhes criar, influenciando assim, em seu processo imaginário. É fundamental ainda, trazer a poesia novamente para a escola, para que a criança possa criar realidades, fundar mundos, revelar o desconhecido, pintar imagens, modelar formas e construir pontes. Portanto, pensar nas ações que possibilitem às crianças experiências com as linguagens da arte, ajudará a desenvolver nelas a imaginação, a percepção, a intuição, a emoção e a criação. Segundo Pillotto (2007, p. 25), “a imaginação nasce do interesse, do entusiasmo, da nossa capacidade de nos relacionar. Por isso as instituições educacionais precisam estar atentas ao Pensar nas ações que possibilitem às crianças experiências com as linguagens da arte, ajudará a desenvolver nelas a imaginação, a percepção, a intuição, a emoção e a criação. 27 Introdução do Lúdico na Aprendizagem Capítulo 1 currículo, propondo ações voltadas ao interesse das crianças.” Assim, é importante utilizar o lúdico, o brinquedo e o jogo como elementos fundamentais no cotidiano das crianças, já que seu fazer criativo está sempre ligado às suas experiências de vida visando novas perspectivas e novas aprendizagens. CONSIDERAÇÕES FINAIS É necessário começar a educar o olhar da criança desde a educação infantil, possibilitando atividades de leitura para que além do fascínio das cores, formas e ritmos, ela possa compreender e analisar como a linguagem visual se estrutura, e assim, possa pensar criticamente sobre as imagens. Além disso, deve-se fazer com que a escola vá além das vivências artísticas com as quais está acostumada. Ela deve ajudar a criança a conhecer outras épocas históricas, outras culturas, outras formas de expressão, cabendo ao professor fazer com que a criança compreenda o mundo em que está inserida, situando-a em diferentes contextos sócio-culturais. Cabe ao professor também, aguçar os sentidos de seus alunos apresentando-lhes novos materiais e levantando questões sobre eles. Lembrando sempre, que muitas vezes o limite da criança é o próprio corpo e o alcance de sua mão será o que delimitará o espaço de atuação gráfico-plástica e, que para a manipulação destes distintos materiais, ela possivelmente irá se sujar. Outro ponto muito importante também, é que o educador mantenha uma linha de trabalho, ligando uma aula à outra e explorando o inusitado junto com seu aluno, se aventurando a aprender caminhos novos e reaprendendo a utilizar a imaginação. Além disso, reforço ainda, a idéia de que os desenhos estereotipados empobrecem a percepção e a imaginação da criança, não permitindo que ela desenvolva naturalmente seu potencial. Assim, nós, como educadores, devemos oferecer maior espaço para a expressão de nossos alunos, negando os estereótipos, já que somos contra a acomodação e reprodução e acreditamos no poder de criatividade e individualidade de cada um. Assim, acredito que, para que a linguagem da arte venha se fazer presente na educação infantil, é necessário ligá-la ao lúdico, ao jogo, ao brincar, ao criar, ao imaginar, ao perceber, possibilitando 28 Arte e Ludicidade na Educação Infantil e Anos Iniciais a criança a construção não só do conhecimento cognitivo, mas principalmente, do sensível. Penso ainda, que um elemento importantíssimo na construção do imaginário infantil é o fato de o professor não se impor ao processo de criação da criança, devendo se libertar ao máximo dos estereótipos que tanto as influenciam e permitindo que estas possam inventar descobrir e sonhar livremente, colocando no papel as idéias que estão em seu pensamento, dando asas a sua imaginação. REFERÊNCIAS CUNHA, Susana Rangel Vieira da. Pintando, bordando, rasgando, desenhando e melecando na educação infantil. In: Cor, som e movimento: a expressão plástica, musical e dramática no cotidiano da criança. Porto Alegre: Mediação, 1999. p. 07-36. PILOTTO, Silvia Sell Duarte. As linguagens da ate no contexto da educação infantil. In: PILOTTO, Silva Sell Duarte (org.). Linguagens da arte na infância. Joinvile-SC: UNIVILLE, 2007. p. 17-28. OSTETTO, Luciana Esmeralda. Entre a prosa e a poesia: fazeres, saberes e conhecimento na educação infantil. In: PILOTTO, Silva Sell Duarte (org.). Linguagens da arte na infância. Joinvile-SC: UNIVILLE, 2007. p. 29-45. Fonte: ALVES, Bruna Pereira. Infância e descoberta: conhecendo a linguagem da arte, indo de encontro aos estereótipos. Disponível em: <http://www.artenaescola.org.br/pesquise_ artigos_texto.php?id_m=87>. Acesso em: 25 mai. 2010. Atividades de Estudos: Diante do texto que você acabou de ler, perguntamos: 1) Quais as atividades lúdicas desenvolvidas na sua escola? ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ 29 Introdução do Lúdico na Aprendizagem Capítulo 1 2) Qual a relação que você percebe no seu ambiente de trabalho entre a Arte, o Lúdico e os Estereótipos? Você deverá abordar estas questões por meio da produção de um texto. Solte a crítica, a criatividade e vamos lá! ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________ Algumas Considerações Nesse primeiro capítulo, estudamos sobre a ludicidade na aprendizagem e como o lúdico age no processo de ensino e aprendizagem, no desenvolvimento psicomotor e no desenvolvimento de habilidades do pensamento da criança. Além da ludicidade ser reconhecida como meio de fornecer à criança a possibilidade de aprendizagem de várias habilidades, abordamos o seu desenvolvimento dentro e fora da sala de aula. Apresentamos para você leitor, o lúdico como linguagem, não apenas entre as crianças, mas em grande concentração no mundo dos adultos, que se expressam nas piadas, nos esportes nas danças, nos meios de comunicação e nas artes. Também apresentamos o lúdico como processo histórico e cultural, pois, a ludicidade, na infância, é atividade de suma importância, porque favorece a socialização do indivíduo e promove as mais importantes mudanças no desenvolvimento psíquico e na personalidade da criança. A criança se comunica por meio da ludicidade, entretanto, estamos vivendo uma cultura de muitos brinquedos e menos brincadeiras; muita tecnologia e pouca arte. No próximo capítulo apresentaremos a importância da arte no processo de ensino e aprendizagem da criança na educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental. 30 Arte e Ludicidade na Educação Infantil e Anos Iniciais Referências ALMEIDA, Anne. Ludicidade como instrumento pedagógico. Disponível em: <http://www.cdof.com.br/recrea22.htm>. Acesso em: 19 fev. 2006. ATZINGEN, Maria Cristina Von. História do brinquedo. São Paulo: Alegro, 2001. ARANHA, Fábio. Ludicidade e história. Revista Nós na Escola. Ano 3, n 36, 2006. Disponível em: <http://www.cdof.com.br/recrea22.htm>. Aceso em: 5 mar. 2010. BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC/SEF, 1997. _____. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília: MEC/ SEF, 1998. _____. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Estatuto da criança e do Adolescente. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069. htm>. Acesso em: 20 mai. 2010. _____. CEB nº 01 de 07 de abril de 1999. As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil BRASIL. CEB nº 01 de 7 de abril de 1999. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br>. Acesso em: 10 jul. 2006. _____. CEB nº 02 de 07 de abril de 1998. Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br>. Acesso em: 10 jul. 2006. CAMPOS, Maria Célia Rabello Malta. A importância do jogo no processo de aprendizagem. Disponível em: <http://www.psicopedagogia.com.br/entrevistas/ entrevista.asp?entrID=39>. Acesso em: 20 fev. 2006. CRAIDY, Carmem; KAERCHER, Gládis E. (Org.). Educação Infantil: Pra que te Quero? Porto Alegre: ARTMED, 2001. FRIEDMANN, Adriana. A Arte de Brincar: brincadeiras e jogos tradicionais. 4ª ed. Petrópolis: Vozes, 2000. SANTIN, S. Educação Física: da alegria do lúdico à opressão do rendimento. Porto Alegre: EST/ESEF-UFRGS, 1994. TEZANI, Thaís Cristina Rodrigues. O jogo e os processos de aprendizagem e desenvolvimento: aspectos cognitivos e afetivos. 2004. Disponível em: http:// 31 Introdução do Lúdico na Aprendizagem Capítulo 1 www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=621. Acesso no dia 16 de fev. de 2006. VERÍSSIMO, Luiz Fernando. Comédia para se ler na escola. Objetiva 2001. VYGOTSKY, L. S. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1984. ______. A formação social da mente. 3 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1989. CAPÍTULO 2 O Lúdico e a Arte na Aprendizagem A partir da concepção do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: 3 Conhecer o papel da arte na educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental. 3 Compreender a arte como meio de comunicação e expressão na infância. 35 O Lúdico e a Arte na Aprendizagem Capítulo 2 Contextualização A Arte está presente na vida das pessoas desde o início da humanidade como forma de comunicação e expressão. Desde a pré-história o homem já se comunicava através dos desenhos e códigos impressos na rocha. Por meio das expressões artísticas é possível, além de manifestar sentimentos, perceber o mundo de forma poética, sensível e contextualizada. Sabemos que tanto a Arte, como o lúdico, os brinquedos e brincadeiras, são fatores fundamentais para o desenvolvimento da criança. Brincar, jogar e trocar experiências artísticas e lúdicas com seus pares permite interação, socialização e aprendizagem. Nesse capítulo, apresentaremos a você, caro(a) aluno(a), algumas possibilidades e reflexões acerca do trabalho com a arte e a ludicidade com crianças na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental. O Papel da Arte na Infância: Educação Infantil e Anos Inciais do Ensino Fundamental Para iniciar nossa conversa sobre o papel da arte na infância, convidamos você, caro(a) aluno(a), a relembrar momentos da sua infância através de uma das linguagens da Arte: a poesia. (apud MAGALHÃES JÚNIOR, 1972, p. 268). MEUS OITO ANOS (Casimiro de Abreu) Oh que saudades que tenho Da aurora da minha vida, Da minha infância querida Que os anos não trazem mais Que amor, que sonhos, que flores, Naquelas tardes fagueiras, A sombra das bananeiras, Debaixo dos laranjais. 36 Arte e Ludicidade na Educação Infantil e Anos Iniciais Como são belos os dias Do despontar da existência Respira a alma inocência, Como perfume a flor; O mar é lago sereno, O céu um manto azulado, O mundo um sonho dourado, A vida um hino de amor! Que auroras, que sol, que vida Que noites de melodia, Naquela doce alegria, Naquele ingênuo folgar O céu bordado de estrelas, A terra de aromas cheia, As ondas beijando a areia E a lua beijando o mar! Oh dias de minha infância, Oh meu céu de primavera! Que doce a vida não era Nessa risonha manhã Em vez das mágoas de agora, Eu tinha nessas delicias De minha mãe as carícias E beijos de minha, irmã! Livre filho das montanhas, Eu ia bem satisfeito, Pés descalços, braços nus, Correndo pelas campinas A roda das cachoeiras, Atrás das asas ligeiras Das borboletas azuis! Naqueles tempos ditosos Ia colher as pitangas, Trepava a tirar as mangas Brincava beira do mar! 37 O Lúdico e a Arte na Aprendizagem Capítulo 2 Rezava as Aves Maria, Achava o céu sempre lindo Adormecia sorrindo E despertava a cantar! Oh que saudades que tenho Da aurora da minha vida Da, minha infância querida Que os anos não trazem mais Que amor, que sonhos, que flores, Naquelas tardes fagueiras, A sombra das bananeiras, Debaixo dos laranjais! As palavras de Casimiro de Abreu nos permitem refletir sobre a importância desta fase tão importante da vida das pessoas: A infância. Fase da vida em que a fantasia, as brincadeiras e o faz de conta andam de mãos dadas, quando a aprendizagem acontece em meio a tantas possibilidades e vivências históricas, culturais e lúdicas. Como afirma o poeta, fase que deixa saudades e, em que o tempo não volta. Iniciar nossa reflexão sobre o papel da arte na infância, apreciando uma obra de arte, neste caso, o poema de Casimiro de Abreu, é oportunizar a você, caro(a) aluno(a), momento de contextualização cultural e histórica. São esses momentos que compreendemos como fundamentais para a construção humana sensível. Você que é educador costuma apreciar obras de arte? Qual o seu contato com a arte, como educador e sujeito cultural ou histórico? Quais as obras que você já teve a oportunidade de apreciar? Já oportunizou este contato com obras de arte aos seus alunos?Levantamos esses questionamentos para provocar em você a reflexão sobre o modo como a Arte está presente na vida das pessoas; porém, nem sempre nos apropriamos dos conhecimentos que a própria Arte nos oferece. Antes de apresentar sobre o papel da Arte na infância é importante refletir sobre o papel da Arte em nossas vidas. Diariamente nos deparamos com imagens como se fôssemos bombardeados por elas o tempo inteiro. Ouvimos diferentes músicas, apreciamos encenações, filmes, novelas, performances em diferentes pontos da cidade e muitas vezes deixamos que esses momentos, essas manifestações das diferentes linguagens 38 Arte e Ludicidade na Educação Infantil e Anos Iniciais artísticas passem despercebidas. Nem sempre aproveitamos estas oportunidades como momento de conhecimento artístico e cultural, valorizando a Arte que a própria realidade da sociedade contemporânea nos oferece. Você já parou para analisar a função da Arte na sua vida? Já pensou no conhecimento adquirido no momento de fruir e contextualizar imagens? Você já se perguntou qual a real importância da Arte na vida das pessoas? O termo Fruir, muito utilizado no campo das Artes, diz respeito a apreciação, leitura e interpretação da obra de Arte. Barbosa (2002) atenta que é impossível conhecer a cultura de um país, sem conhecer sua arte, pois é importante compreender que a Arte é a representação do país por seus próprios membros. É por meio da Arte que podemos conhecer e entender a cultura do nosso tempo, sendo este um processo fundamental para a construção humana sensível. Quando falamos de construção humana sensível, não estamos generalizando a Arte como forma de despertar apenas sentimentos, pois desta forma estaríamos reduzindo seu real papel enquanto área de conhecimento presente na vida das pessoas. Estamos aqui, referindo-nos a todos os elementos que permeiam esta construção de conhecimento cultural e histórico por meio da Arte, pois “[...] a arte como linguagem, expressão e comunicação, trata da percepção, da emoção, da imaginação, da intuição, da criação, elementos fundamentais para a construção humana sensível” (PILLOTTO, 2004, p. 38). Como vetor de construção humana sensível, a Arte possibilita contato com o mundo e consigo mesmo. Permite que, por meio dela, a criança conheça e compreenda o contexto onde está inserida, bem como desenvolva conhecimentos artísticos, culturais e históricos. Já o valor da arte para Ferraz e Fusari (2009, p.18) “[...] está em ser um meio pelo qual as pessoas expressam, representam, e comunicam conhecimentos e experiências”. Deve ser compreendida como forma de expressão e representação humana, como vetor de reflexão, crítica e conhecimento pessoal e social. Arte é conhecimento! Arte é cultura! É o modo pelo qual o ser humano manifesta-se em diferentes linguagens, em diferentes meios, atravessado pela cultura da qual pertence ou na qual está inserido. É impossível conhecer a cultura de um país, sem conhecer sua arte. 39 O Lúdico e a Arte na Aprendizagem Capítulo 2 No que se refere à arte/educação, esta proporciona aos alunos o contato direto com imagens e objetos artísticos. Este contato e o trabalho com as produções artísticas desenvolvido por professores de arte no contexto escolar permitem, além do contato com a Arte, momentos de criação e de expressão individuais e coletivos. Permitem ao aluno conhecer a realidade do seu tempo, a sua cultura e a sua história. Se pretendemos de fato uma educação para a cidadania, que entenda os sujeitos como construtores de suas histórias, temos que garantir a educação estética e artística nos espaços das instituições educacionais, talvez o único para a maioria das crianças, a única possibilidade para adentrarem no universo poético e estético. (PILLOTTO, 2004, p. 59). A escola é o espaço institucional onde o aluno tem a oportunidade de conhecer de forma intencional ou não, os conhecimentos históricos e culturais construídos pela sociedade no decorrer dos tempos. É o espaço que permite uma relação entre história, cultura e Arte. Ao conhecer a arte produzida em diversos locais, por diferentes pessoas, classes sociais e períodos históricos e as outras produções do campo artístico (artesanato, objetos, design, audiovisual etc.), o educando amplia sua concepção da própria arte e aprende dar sentido a ela. (FERRAZ; FUSARI, 2009, p.19). Mas afinal, qual a função da arte na escola? Pesquisas indicam que a Arte desenvolve a cognição de crianças e adolescentes, proporcionando conhecimento e expressão não apenas racional, mas também afetivos e emocionais. “A função da Arte na Educação é essa, desenvolver as diferentes inteligências” (BARBOSA, 2009). Ana Mae Barbosa, foi uma das pioneiras da Arte-educação no Brasil. ARTE, EDUCAÇÃO E CULTURA Profª Ana Mae Barbosa [...] O papel da arte no desenvolvimento cultural Através das artes temos a representação simbólica dos traços espirituais, materiais, intelectuais e emocionais que caracterizam a sociedade ou o grupo 40 Arte e Ludicidade na Educação Infantil e Anos Iniciais social, seu modo de vida, seu sistema de valores, suas tradições e crenças. A arte, como uma linguagem presentacional dos sentidos, transmite significados que não podem ser transmitidos através de nenhum outro tipo de linguagem, tais como as linguagens discursivas e científicas. Não podemos entender a cultura de um país sem conhecer sua arte. Sem conhecer as artes de uma sociedade, só podemos ter conhecimento parcial de sua cultura. Aqueles que estão engajados na tarefa vital de fundar a identificação cultural, não podem alcançar um resultado significativo sem o conhecimento das artes. Através da poesia, dos gestos, da imagem, as artes falam aquilo que a história, a sociologia, a antropologia etc., não podem dizer porque elas usam um outro tipo de linguagem, a discursiva, a científica, que sozinhas não são capazes de decodificar nuances culturais. Dentre as artes, a arte visual, tendo a imagem como matéria-prima, torna possível a visualização de quem somos, onde estamos e como sentimos. A arte na educação como expressão pessoal e como cultura é um importante instrumento para a identificação cultural e o desenvolvimento. Através das artes é possível desenvolver a percepção e a imaginação, apreender a realidade do meio ambiente, desenvolver a capacidade crítica, permitindo analisar a realidade percebida e desenvolver a criatividade de maneira a mudar a realidade que foi analisada. Fonte: Extraído e adaptado de: BARBOSA, Ana Mãe. Arte, Educação e Cultura. <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ mre000079.pdf>. Acesso em: 12 mai. 2010. Diante dos dizeres de Ana Mae Barbosa, apresentados no texto anterior, perguntamos a você caro(a) aluno(a): Qual a função da arte na Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental? Segundo Pillotto (2007, p. 19), [...] se entendemos o processo de construção de conhecimento da criança pela via do lúdico, do jogo e das relações entre o brincar, abriremos um grande espaço para a arte e suas possibilidades de leituras e interação. Vivemos num mundo repleto de sons, formas, cores, materialidade: como ficar alheio a tudo isso? Como se comunicar sem a expressão do corpo, sem a possibilidade do sentir/ver/ouvir? Ainda segundo a autora, o conhecimento se dá através da interação entre pares, nos momentos lúdicos de jogos e brincadeiras. A comunicação e a expressão estão presentes nesses momentos em que a criança utiliza as diferentes linguagens 41 O Lúdico e a Arte na Aprendizagem Capítulo 2 artísticas para construir seu conhecimento cultural e histórico. Um dos papéis da Arte na construçãodo conhecimento infantil é possibilitar a aprendizagem cultural e histórica através da construção humana sensível. “A arte é, por conseguinte, uma maneira de despertar o indivíduo para que este dê maior atenção ao seu próprio processo de sentir.” (DUARTE JÚNIOR, 1988, p. 65). Ouvir uma música, uma poesia, apreciar um quadro, uma fotografia, uma apresentação de teatro ou dança, são modos de sentir Arte. Sentir Arte é um processo pelo qual a criança conhece a respeito de si e do mundo. Assim, o trabalho com a Arte está relacionado à percepção, à emoção, à intuição, à sensibilidade. Para Pillotto (2004, p. 38), “A arte como linguagem, expressão e comunicação, trata da percepção, da emoção, da imaginação, da intuição, da criação, elementos fundamentais para a construção humana sensível”. Como vetor de construção humana sensível, a Arte possibilita contato com o mundo e consigo mesmo. Permite que, por meio dela, a criança conheça e compreenda o contexto onde está inserida, bem como desenvolva conhecimentos artísticos, culturais e históricos. Em se tratando desse contato da criança com o mundo, há muito tempo, Vigotsky (1998) já atentava para a importância de aprender por meio das relações com o outro, pois é por meio dessas relações que a criança desenvolve seu potencial, passa a observar-se e a perceber-se como sujeito de sua própria história. Para o autor, o conhecimento se dá no momento das relações e interações entre pares. Momento em que a criança troca experiências, cultura e conhecimento. Que tal mais um pouco de Arte? Pense agora, na infância através do Poema “Criança”: CRIANÇA Tatiana dos Santos da Silveira Eis a riqueza de nossas vidas... No primeiro momento de vida, Tão pequenina e indefesa Pequenos olhos brilhantes e esperançosos Aguardam descobrir o mundo a sua volta... A arte é, por conseguinte, uma maneira de despertar o indivíduo para que este dê maior atenção ao seu próprio processo de sentir. 42 Arte e Ludicidade na Educação Infantil e Anos Iniciais A cada toque de carinho A revelação do novo. A cada fase avançada a busca pela autonomia, Estica, rola, engatinha... Descobre o mundo através do toque, Através do cheiro, Através da alma! No primeiro passo, A satisfação de uma nova conquista. E nas primeiras palavras... A possibilidade de conhecer e sentir de diferentes maneiras... Vai crescendo, vai descobrindo, vai criando... Cria as primeiras letras, lê as primeiras letras... Desperta para o mundo! Brinca, brinca e brinca! Cresce, aprende e Vive! Seu tempo é o Agora... Pois... Não será eternamente criança... Seu tempo é AGORA! Agora é o tempo de aproveitar sua infância! Vá... Voe e viva criança! Figura 5 – Brincando de Roda (Ivan Cruz) Fonte: Disponível em: <http://4. bp.blogspot.com/_fvvGvfxiwPE/ S_1mgpiiuiI/AAAAAAAAAGQ/ iKt02U0i4lQ/s1600/brincando_de_ roda.jpg>. Acesso em: 15 mai. 2010. 43 O Lúdico e a Arte na Aprendizagem Capítulo 2 Conforme sugere o poema, a infância é uma fase que passa muito rápida. Cada fase avançada pela criança é uma nova descoberta, é uma nova aprendizagem, cabe ao professor possibilitar essa descoberta de forma lúdica e contextualizada nos espaços educacionais. Cabe a nós, o trabalho com a construção humana sensível, citada anteriormente por Pillotto (2004). A função da Arte na educação não deve ser compreendida como meio de repetição e trabalho com desenhos prontos, cópias feitas em série que não possibilitam a criação da criança. A Arte é possibilidade, é imaginação, é criação, é expressão. Quem consegue criar quando recebe a proposta pronta? Vejamos, na sequência, alguns exemplos claros do que estamos apresentando: Figura 6 – Abelha para colorir Figura 7 – Árvore para colorir Fonte: As autoras. Fonte: As autoras. Por vezes, os professores acabam limitando a capacidade de criação das crianças, por não permitirem a autonomia e a expressão individual no momento das propostas metodológicas. Neste momento é importante você, caro(a) aluno(a), compreender que muitas dessas atitudes, também fazem parte da nossa trajetória como alunos e professores. Pensem rapidamente: Se neste momento solicitássemos que você desenhasse uma árvore; como ela seria? E, se de repente solicitássemos o desenho de uma flor ou de uma pessoa? Apresentamos para você um texto muito comum no meio educacional, para que você reflita sobre o papel da arte e da linguagem do desenho na infância: 44 Arte e Ludicidade na Educação Infantil e Anos Iniciais CONTO POPULAR... Era uma vez um menininho bastante pequeno que contrastava com a escola bastante grande. Uma manhã, a professora disse: – Hoje nós iremos fazer um desenho. “Que bom!” – pensou o menininho. Ele gostava de desenhar leões, tigres, galinhas, vacas, trens e barcos... Pegou a sua caixa de lápis-de-cor e começou a desenhar. A professora então disse: – Esperem, ainda não é hora de começar! Ela esperou até que todos estivessem prontos. – Agora, disse a professora, nós iremos desenhar flores. E o menininho começou a desenhar bonitas flores com seus lápis rosa, laranja e azul. A professora disse: – Esperem! Vou mostrar como fazer. E a flor era vermelha com caule verde. – Assim, disse a professora, agora vocês podem começar. O menininho olhou para a flor da professora, então olhou para a sua flor. Gostou mais da sua flor, mas não podia dizer isso... Virou o papel e desenhou uma flor igual a da professora. Era vermelha com caule verde. Num outro dia, quando o menininho estava em aula ao ar livre, a professora disse: – Hoje nós iremos fazer alguma coisa com o barro. – “Que bom! Pensou o menininho. Ele gostava de trabalhar com barro. Podia fazer com ele todos os tipos de coisas: elefantes, camundongos, carros e caminhões. Começou a juntar e amassar a sua bola de barro. 45 O Lúdico e a Arte na Aprendizagem Capítulo 2 Então, a professora disse: – Esperem! Não é hora de começar! Ela esperou até que todos estivessem prontos. – Agora, disse a professora, nós iremos fazer um prato. “Que bom!” – pensou o menininho. Ele gostava de fazer pratos de todas as formas e tamanhos. A professora disse: – Esperem! Vou mostrar como se faz. Assim, agora vocês podem começar. E o prato era um prato fundo. O menininho olhou para o prato da professora, olhou para o próprio prato e gostou mais do seu, mas ele não podia dizer isso. Amassou seu barro numa grande bola novamente e fez um prato fundo, igual ao da professora. E muito cedo o menininho aprendeu a esperar e a olhar e a fazer as coisas exatamente como a professora. E muito cedo ele não fazia mais coisas por si próprio. Então aconteceu que o menininho teve que mudar de escola. Essa escola era ainda maior que a primeira. Um dia a professora disse: – Hoje nós vamos fazer um desenho. “Que bom!” – pensou o menininho e esperou que a professora dissesse o que fazer. Ela não disse. Apenas andava pela sala. Então veio até o menininho e disse: – Você não quer desenhar? – Sim, e o que é que nós vamos fazer? – Eu não sei, até que você o faça. – Como eu posso fazê-lo? – Da maneira que você gostar. – E de que cor? – Se todo mundo fizer o mesmo desenho e usar as mesmas cores, como eu posso saber o que cada um gosta de desenhar? 46 Arte e Ludicidade na Educação Infantil e Anos Iniciais – Eu não sei. E então o menininho começou a desenhar uma flor vermelha com o caule verde... Fonte: disponível em: <http://pcdec.sites.uol.com.br/ciranda/ ternurinha.htm>. Acesso em: 16 mai. 2010. Pillotto (2007) sugere o trabalho com as categorias do conhecimento sensível: percepção,emoção, imaginação, intuição e criação. Perguntamos a você: Qual das categorias, citadas pela autora, estamos trabalhando ao oferecer desenhos prontos ou direcionar a construção do desenho das crianças? Podemos afirmar que este é um momento de criação, emoção e imaginação? Lidamos quase que o tempo todo com as linguagens da arte: desenho, modelagem, corporeidade, sonoridade, pintura, gravura, escultura, cinema, desenho animado e tantas outras. Mas de que forma nos apropriamos dessas linguagens? (PILLOTTO, 2007, p.19). A preocupação da autora está no modo como nos apropriamos das diferentes linguagens da Arte, presente no nosso dia a dia e trabalhamos com estas linguagens em sala de aula. O modo como levamos a Arte para dentro da esfera escolar. Qual a função da arte na escola? Deixar as paredes das escolas bonitinhas, enfeitadas com desenhos estereotipados? Desenvolver a coordenação motora das crianças, através de atividades pontilhadas com diferentes linhas e formas? Atividade de Estudos: 1) Para você, qual deve de ser o papel da arte na escola? ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ Lidamos quase que o tempo todo com as linguagens da arte: desenho, modelagem, corporeidade, sonoridade, pintura, gravura, escultura, cinema, desenho animado e tantas outras. 47 O Lúdico e a Arte na Aprendizagem Capítulo 2 A Arte como Forma de Comunicação e Expressão Aprofundar o campo da imaginação e do papel que pode ter na criação de significados pessoais e na transmissão da cultura torna-se o ponto e o propósito para se ter artes na educação. Arthur Efland As palavras de Efland nos permitem reafirmar a importância do trabalho com a arte na educação, a valorização da cultura e as categorias do campo da imaginação e criação infantil. A criança quando cria, o faz de forma lúdica, ou seja, brincando. Porém, costumamos oferecer para as crianças nos espaços educacionais, propostas pedagógicas baseadas no nosso gosto pessoal, nossos desejos e vontades. Poucas são às vezes em que os professores permitem o ato criativo infantil. Preste atenção nas seguintes obras: Figura 8 – Autorretrato (Romero Brito) Fonte: Disponível em: <http:// www.romerobritto.com.br/index2. htm>. Acesso em: 16 mai. 2010. Figura 9 – Autorretrato (Candido Portinari) - 1957 Fonte: Disponível em: <http://www. proa.org/exhibiciones/pasadas /portinari/salas/portinari_auto_retrato. html>. Acesso em: 16 mai. 2010. 48 Arte e Ludicidade na Educação Infantil e Anos Iniciais Todas estas obras são o que chamamos de autorretrato. Este é um momento de criação do próprio artista. A representação de si mesmo, um ato individual de criação, imaginação e expressão. Assim como o artista, a criança representa o mundo de acordo com a sua realidade e com o seu contexto histórico. As informações existentes nas suas produções são fruto do trabalho que desenvolvemos e que apresentamos a elas. Quanto mais rica a experiência humana, tanto maior será o material disponível para a imaginação. Desta lei, portanto, extrai-se a importante conclusão pedagógica de ampliar a experiência cultural da criança, caso se pretenda fornecer-lhe uma base sólida para que venha a desenvolver sua capacidade criadora. (JAPIASSU apud PILLOTTO, 2007, p. 21) Ampliar a experiência cultural dos alunos é oportunizar momentos de contato com a arte e com diferentes contextos. É na troca de informações com seus pares e nos momentos de fruição das linguagens da arte que a criança amplia o seu repertório visual e cultural. Neste sentido, a Arte como forma de expressão e comunicação é fundamental nos espaços educacionais e nas vivências infantis. Talvez a única possibilidade de contato com a arte para muitas dessas crianças. Figura 11 – Autorretrato (Anita Malfatti) Fonte: Disponível em: <http://4. bp.blogspot.com/_k4zG_ZMp6gY/ SAJ2egXN5yI/AAAAAAAABr4/ OcMC3_Mkiac/ s400/anita+autoretrato.jpg >. Acesso em: 19 mai. 2010. Figura 10 – Autorretrato (Tarsila do Amaral) -1924 Fonte: Disponível em: <http://www. tarsiladoamaral.com.br/index_frame. htm>. Acesso em: 19 mai. 2010. 49 O Lúdico e a Arte na Aprendizagem Capítulo 2 As vivências artísticas, estéticas e culturais, como fazer bolinhos e utensílios de barro, desenhar na terra, na areia do mar, cantarolar, dramatizar a partir de personagens imaginários, movimentar o corpo nas brincadeiras e danças, ouvir o violeiro, histórias, lendas e contos, são práticas do cotidiano das crianças, ou pelo menos deveriam ser, pois nesses momentos em que o simbólico se faz presente elas também estão aprendendo. (PILLOTTO, 2007, p. 2). Essas vivências artísticas mencionadas por Pillotto (2007) proporcionam a criança o contato com a cultura, com o contexto histórico onde está inserido, além da possibilidade de pesquisa sobre diferentes situações. Nesses momentos as crianças acabam se apropriando de novas informações e conhecimentos, aumentando o seu próprio repertório cultural e a própria maneira de sentir. Sentir Arte. Quando nos referimos em diferentes contextos estamos mencionando as diferentes representações artísticas que podem ser pesquisadas com as crianças. Por exemplo: a presença do lúdico dentro da grande diversidade cultural em que vivemos. Vamos exemplificar isto através da obra de Arte: Essas vivências artísticas proporcionam a criança o contato com a cultura, com o contexto histórico onde está inserido, além da possibilidade de pesquisa sobre diferentes situações. Figura 12 – Modelagem em argila Fonte: Disponível em: <http:// pt.dreamstime.com/imagem-de-stock- modelagem-com-argila-image8674021>. Acesso em: 19 mai. 2010. Fonte: Disponível em: <http://belavista.pt/ index.php?area=actividades_externas _show&title=Workshop%20-%20 Brincar%20com%20o%20Barro&id=10>. Acesso em: 19 mai. 2010. Figura 13 – Peças de argila 50 Arte e Ludicidade na Educação Infantil e Anos Iniciais Figura 14 – Dança indígena Fonte: Disponível em: <http://www.passeiweb.com>. Acesso em: 19 mai. 2010. Figura 15 – Dança de Prenda Fonte: Disponível em: <www.zumblick.com.br>. Acesso em: 19 mai. 2010. Figura 16 – Pau de fitas Fonte: Disponível em: <www.iade.art.br>. Acesso em: 19 mai. 2010. 51 O Lúdico e a Arte na Aprendizagem Capítulo 2 Figura 17 – Dança alemã Fonte: Disponível em: <www.zumblick.com.br>. Acesso em: 19 mai. 2010. Figura 18 – Jongo no quilombo Fonte: Disponível em: <http://www.umbandafest.com.br>. Acesso em: 19 mai. 2010. Esses são alguns exemplos frente a grande diversidade cultural na qual estamos inseridos, representados por diferentes artistas. O contato com a arte nos permite conhecer esta diversidade no decorrer dos tempos e espaços, além do modo particular de representação de cada artista dentro do seu contexto, dentro da sua época, marcando e contribuindo com a nossa história. Estes contatos com a arte devem acontecer em todos os espaços educacionais, principalmente nos espaços de educação infantil, lugar onde iniciamos a trajetória escolar. Espaço que deve ser compreendido como lugar de ensino e aprendizagem: aprendizagem da Arte e da Ludicidade. 52 Arte e Ludicidade na Educação Infantil e Anos Iniciais Atividade de Estudos: 1) Diante das informações sobre o papel da arte na infância, sugerimos que você faça a leiturado artigo que segue: Proposta para a arte na Educação Infantil, da autora Silvia Sell Duarte Pillotto. Após realizar a leitura, nossa sugestão é que você reflita e escreva sobre a proposta de ensino de arte na instituição que você trabalha. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ PROPOSTAS PARA A ARTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL Silvia Sell Duarte Pillotto A linguagem da arte na educação infantil tem um papel fundamental, envolvendo os aspectos cognitivos, sensíveis e culturais. Até bem pouco tempo o aspecto cognitivo não era considerado na a educação infantil e esta não estava integrada na educação básica. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação 9.394/96 veio garantir este espaço à educação infantil, bem como o da arte neste contexto. Para compreender a arte no espaço da educação infantil no momento atual, mesmo que brevemente, é preciso situar o panorama histórico das décadas de 80 e 90. Os referenciais que fundamentavam as práxis do profissional da educação infantil eram os Cadernos de Atendimento ao Pré-escolar (1982), criados pelo Ministério da Educação e Cultura – MEC. Os textos destes Cadernos para aquele momento histórico tiveram contribuição fundamental como subsídio para as ações dos educadores atuantes na educação infantil. Entretanto, vale ressaltar que pouco priorizavam 53 O Lúdico e a Arte na Aprendizagem Capítulo 2 o conhecimento, centrando-se apenas nas questões emocionais, afetivas e psicológicas e nas etapas evolutivas da criança. Com relação à arte na educação, os pressupostos eram muito mais voltados à recreação do que às articulações com a arte, a cultura e a estética. Como exemplo, é possível citar a ênfase em exercícios bidimensionais que priorizava desenhos e pinturas chapadas. Ou seja, os conceitos sobre arte resumiam-se a simples técnicas. De acordo com PILLOTTO (2000, 61) “é interessante observar que esse Caderno, embora tenha uma fundamentação teórica voltada às concepções do ensino da arte modernista, na sua essência é muito mais tecnicista no que diz respeito aos exercícios repetitivos, mecânicos e sem a preocupação com a reflexão dos conceitos”. Na década de 90, o MEC lança o Caderno do Professor da Pré- Escola, com uma abordagem contextualista, na qual a arte deixa de ser tratada apenas como atividade prática e de lazer, incorporando o ato reflexivo. Apesar dessas transformações, a arte permanecia ainda com foco em abordagens psicológicas e temáticas. A arte na educação infantil nesta década ainda buscava uma consistência teórica, conceitual e metodológica. A partir de 2000 as discussões reflexivas sobre a arte na educação infantil ganham novos espaços na literatura, nas propostas curriculares e especialmente na pesquisa. É com este propósito que em 2002 iniciou- se na Universidade da Região de Joinville a pesquisa “O Programa Institucional Arte na Escola e sua dimensão no ensino e aprendizagem da arte”. O objetivo desta pesquisa é avaliar reflexivamente as ações dos programas de educação continuada para profissionais da educação, no intuito de perceber os aspectos frágeis com relação a arte no contexto escolar, diagnosticando a realidade para construir coletivamente novas proposições. A pesquisa tem apontado a necessidade de novos constructos* para a arte na educação infantil, no sentido de desenvolver práxis nas quais haja a total integração do profissional da educação infantil, do profissional da arte na educação, das crianças, da instituição e da comunidade. Esta abordagem tem se mostrado eficiente e consolidada para a educação infantil na Itália, sendo disseminada em outros países. Obviamente, entende-se que cada espaço possui especificidades próprias que devem ser respeitadas. Portanto, a idéia não é a de adotar modelos estrangeiros, mas de tê-los como possibilidade de referência. 54 Arte e Ludicidade na Educação Infantil e Anos Iniciais A partir desta pesquisa, a proposta é apontar constructos (a curto, médio e longo prazos), nos quais cada instituição de educação infantil tenha um profissional habilitado no ensino da arte, capaz de desenvolver projetos pedagógicos em parceria com os demais educadores, enfatizando os aspectos cognitivos, sensíveis e culturais em arte. Nesta perspectiva, entende-se por novos constructos propostas que partem de uma visão de currículo não linear ou sistêmico, considerando o contexto histórico-social, as necessidades e interesses das crianças, no qual educadores, crianças, instituição e comunidade desenham um currículo que parte do trabalho coletivo. O planejamento no currículo, a partir da perspectiva sistêmica, pressupõe como método de trabalho no qual professores “apresentam objetivos educacionais gerais, mas não formulam objetivos específicos para cada projeto ou atividade de antemão. Em vez disso, formulam hipóteses sobre o que poderia ocorrer com base em seu conhecimento das crianças e das experiências anteriores.” (RINALDI: 1999,113). A partir desta visão, especificamente para a arte na educação infantil está o educador em arte, que atua em consonância com os demais educadores da instituição, aprofundando conceitos e linguagens da arte. A função do profissional em arte na educação não é simplesmente ministrar aulas fragmentadas de arte, mas, sobretudo de organizar um espaço de cultura que possibilite a ampliação das expressões e das linguagens da criança. No que este espaço contribui? “Ajuda que os professores compreendam como as crianças inventam veículos autônomos de liberdade expressiva, de liberdade cognitiva, de liberdade simbólica e vias de comunicação”. (VECCHI: 1999, 129) Como historicamente pode-se observar, a arte na educação infantil possuía um perfil de recreação e de desenvolvimento emotivo e motor. Hoje, a arte na educação infantil está em processo de rupturas e transformações, exigindo das políticas educacionais, dos cursos de Formação de Professores, especialmente das Licenciaturas em Arte, um comprometimento com os aspectos cognitivos, sensíveis e culturais. Cabe então, a todos os profissionais que atuam direta ou indiretamente com o ensino da arte, uma reflexão não somente 55 O Lúdico e a Arte na Aprendizagem Capítulo 2 dos processos de sala de aula, mas também do seu papel como cidadãos, protagonistas de uma história. REFERÊNCIAS EDWARDS, C., GANDINI, L., FORMAN, G. As cem linguagens da criança: abordagem de Reggio Emilia na educação da primeira infância. Porto Alegre: ArtMed, 1999. GANDINI. Lella; & EDWARDS, Carolyn. Bambini: a abordagem Italiana à educação infantil. Trad. Daniel Etcheverry Burguño. Porto Alegre: ArtMed, 2002. PILLOTTO, Silvia S.D. A trajetória histórica das abordagens do ensino e aprendizagem da arte no contexto atual. Revista Univille, v.5, n.1, abr, 2000. RINALDI, Carlina. O Currículo Emergente e o Construtivismo Social. IN: EDWARDS, C., GANDINI, L., FORMAN, G. As cem linguagens da criança: abordagem de Reggio Emilia na educação da primeira infância. Porto Alegre: ArtMed, 1999. VECHI, Vea. O Papel do Atelierista. IN: EDWARDS, C., GANDINI, L., FORMAN, G. As cem linguagens da criança: abordagem de Reggio Emilia na educação da primeira infância. Porto Alegre: ArtMed, 1999. * Silvia Sell Duarte Pillotto, Mestre em Educação pela Universidade Federal do Paraná e Doutoranda em Engenhariada Produção (Gestão) na Universidade Federal de Santa Catarina, é professora dos Departamentos de Artes Visuais e Pedagogia na Univille, além de coordenadora pedagógica do Pólo Arte na Escola e coordenadora da pesquisa “O Programa Institucional Arte na Escola na região de Joinville e sua dimensão no ensino e aprendizagem da arte”. Letícia Mognol, Mestranda em Educação na Universidade do Vale do Itajaí, é professora do Departamento de Artes Visuais da Univille e pesquisadora do mesmo projeto. Fonte: PILLOTTO, Silvia Sell Duarte. Propostas para a arte na educação infantil. Disponível em: <http://www.artenaescola.org.br/ pesquise_artigos_texto.php?id_m=24>. Acesso em: 22 mai. 2010. 56 Arte e Ludicidade na Educação Infantil e Anos Iniciais Algumas Considerações Nesse segundo capítulo, estudamos um pouco sobre o papel da arte na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental e a arte como forma de comunicação e expressão. Apresentamos para você leitor, a importância do trabalho com a arte como forma de construção humana sensível, exercício de sensibilidade e criatividade dos seres humanos. Refletimos sobre o trabalho com estereótipos e desenhos prontos apresentados aos alunos e as influências culturais nas suas produções. No próximo capítulo apresentaremos a metodologia triangular do ensino da Arte e o modo como podemos resgatar os brinquedos, jogos e brincadeiras infantis por meio do trabalho com a arte e a valorização da cultura. Referências BARBOSA, Ana Mae Tavares Bastos. John Dewey e o ensino da arte no Brasil. 5.ed. São Paulo : Cortez, 2002. ______. A função da Arte. 2009. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/ download/texto/mre000079.pdf>. Acesso em: 21 mai. 2010. DUARTE JÚNIOR, João Francisco. Por que arte-educação? 5. ed. Campinas: Papirus, 1988. FERRAZ, Maria Heloísa C. de T.; FUSARI, Maria F. de Rezende. Metodologia do ensino da Arte. 2. Ed. São Paulo: Cortez, 2009. PILLOTTO, Silvia Sell Duarte. O Conhecimento sensível: uma contribuição para o aprendizado humano. In: PILLOTO, Silvia Sell Duarte; SCHRAMM, Marilene K.; CABRAL, Rozenei W. (Orgs.). Arte e o ensino da arte. Blumenau: Nova Letra, 2004. ______. (Org.). Linguagens da arte na infância. Joinvile: Univille, 2007. VIGOTSKY, Lev Semenovich. Pensamento e linguagem. Tradução de Jefferson L. Camargo. São Paulo: Martins Fontes, 1998. CAPÍTULO 3 Os Caminhos do Ensino de Arte no Brasil A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: 3 Apresentar a trajetória do ensino da arte no Brasil. 3 Conhecer a Proposta Triangular do Ensino da Arte. 3 Possibilitar o resgate de brinquedos e brincadeiras por meio da arte. 59 Os Caminhos do Ensino de Arte no Brasil Capítulo 3 Contextualização A história da Arte brasileira está entrelaçada com a história do ensino da Arte, e cada uma delas apresenta especificidade, como área de estudo e objetivos próprios. Todavia, o elo entre ambas é o homem, como produtor de signos e significados, na Arte, na história e na cultura. A Arte que almejamos para a escola não pode ser diferente da Arte praticada fora dela. O ensino da Arte ansia estar em sintonia com a produção artística e cultural, para formar leitores e fruidores de Arte. Nesse sentido, para Barbosa (1989, p. 9), “A falta de conhecimento sobre o passado está levando os arte- educadores brasileiros a valorizarem excessivamente o ‘novo’”. Assim, para que possamos repensar o ensino educacional em Arte, é necessário discutir, compreender e estudar a história desse ensino como um possível meio para refletir sobre as práticas pedagógicas e sobre os métodos e conteúdos artísticos a serem selecionados para aplicação na sala de aula. Em virtude do que ressaltamos, faremos uma abordagem sobre o ensino de Arte no Brasil e sobre a Proposta Triangular para o ensino da Arte. Os Caminhos do Ensino de Arte no Brasil A origem do ensino de Arte, no Brasil, aconteceu no início da colonização no país, com a chegada dos jesuítas. Os estudos de Stori e Andrade Filho (2010) ressaltam que: Os primeiros artistas pertenciam, em sua maioria, ao clero e eram autodidatas. Copiavam estampas europeias de gravuras religiosas, sem ter qualquer preparo técnico ou base cultural para fazê-lo. Da segunda metade do século XVI até o século XIX, A Arte na colônia era praticada por negros e mulatos e ensinada de pai para filho ou de mestre para aprendiz. Essa situação permaneceu até 1800, com a Aula Régia, de Manuel Dias de Oliveira. (grifo nosso) Aula Régia era a denominação para a aula pública de desenho e figura, que funcionava como uma escola destinada a artífices e pintores, porém, ainda muito distante da Academia Neoclássica. (OLIVEIRA, 1979). Os primeiros artistas pertenciam, em sua maioria, ao clero e eram autodidatas. 60 Arte e Ludicidade na Educação Infantil e Anos Iniciais Manoel Dias de Oliveira (1764-1837), pintor gravador e escultor, nomeado por Dom João VI (1767-1826), tornou-se o primeiro professor público brasileiro a ministrar aulas de nu com modelo vivo. Para o meio artístico brasileiro, Manuel Dias de Oliveira representa uma inovação, pois sinaliza o término da época em que os artistas se educavam no interior de ateliês de escultores e ourives (OLIVEIRA, 1979). Figura 19 – D. João VI e D. Carlota Joaquina - Retrato de Manuel Dias de Oliveira. Óleo sobre tela, século XX. Acervo do Museu Histórico Nacional Fonte: Disponível em: <http://www.museuhistoriconacional.com.br/ingles/ images/galeria08/mh-g8a003.htm>. Acesso em: 25 mai. 2010. Cabe referenciar a Missão Artística Francesa, trazida, em 1816, por Dom João VI, criador da Academia Imperial de Belas-Artes, que, após a Proclamação da República, passou a ser chamada de Escola Nacional de Belas-Artes. Essa escola reconhece a função ímpar do desenho, com a valorização da cópia fiel e a utilização da tradição clássica europeia. Segundo Barbosa (1975), a sua importância se resume à laicização da Arte, e não à sua democratização. No Brasil, estava em ascensão, especialmente em Minas Gerais, a Escola Barroca, mas a Missão Artística Francesa impôs a substituição do Barroco pelo Neoclássico trazido pelos franceses e que foi assumido pelas classes dirigentes como o que havia de mais “moderno”. Barbosa (1994, p.19), esclarece que: Aqui chegando, a Missão Francesa já encontrou uma arte distinta dos originários modelos portugueses e obras de artistas humildes. Enfim uma arte de traços originais que podemos designar como Barroco brasileiro. Nossos artistas, todos de origem popular, mestiços em sua maioria, eram vistos pelas camadas superiores como simples artesãos, mas não só quebraram a uniformidade 61 Os Caminhos do Ensino de Arte no Brasil Capítulo 3 do barroco de importação, jesuítico, apresentando contribuição renovadora, como realizaram uma arte que já poderíamos considerar como brasileira. Dessa forma, a concepção de Arte burguesa dominou a Arte popular. O Brasil, pela primeira vez possuía um estilo artístico em sintonia com o que estava acontecendo na Europa. Porém, a Arte atingiu um patamar de elite que desvalorizava outras manifestações artísticas que não seguiam esse padrão. Manuel da Costa Ataíde - suas pinturas em tetos das igrejas seguiam as características do estilo barroco, e aliavam-se perfeitamente às esculturas e arquitetura de Aleijadinho. Conhecido também, como Mestre Ataíde, pintou várias igrejas de Minas Gerais com um estilo próprio e bem brasileiro. Usava cores vivas e alegres e gostava muito do azul. Ataíde utilizava tanto a tinta a óleo (que era importada daEuropa) como a têmpera. Os pintores da época nem sempre podiam importar suas tintas. Faziam então suas próprias cores com pigmentos e solventes naturais aqui da terra. Entre outros, usavam terra queimada, leite e óleo de baleia, clara de ovo, além de extratos de plantas e flores. E é claro criavam suas próprias receitas que eram mantidas em segredo. Talvez por isso é que se diz que não existe, no mundo inteiro, um colorido como o das cidades mineiras da época do barroco. Fonte: Disponível em: <http://www.historiadaarte.com.br/ barrocobrasileiro.html>. Acesso em: 25 mai. 2010. Figura 20 – Pintura do Teto da Igreja de São Francisco de Assis Fonte: Disponível em: <http://www. historiadaarte.com.br/barrocobrasileiro. html>. Acesso em: 24 mai. 2010. 62 Arte e Ludicidade na Educação Infantil e Anos Iniciais Observe agora, a obra de Jacques Luis David, ícone do Neoclacissismo. As figuras são pintadas com tons claros e iluminados, o que contrasta com os tons escuros e opacos do fundo, ou seja, muito contraste de luz e sombra, sendo essa uma das principais características da arte Barroca. Figura 21 – O Juramento dos Horácios, de Jacques Louis David, em 1784 Fonte: Disponível em: <http://artesplasticasfranca.wordpress. com/2009/05/06/hello-world/>. Acesso em: 24 mai. 2010. Diante do exposto, compreendemos que o Academismo brasileiro apenas perpetuou os moldes europeus de ensino sem qualquer adaptação à nossa cultura. Novas leis educacionais foram criadas nas décadas de 1870 e 1880, influenciadas pela queda da Monarquia. Barbosa (1975) explica que, influenciada pelo positivismo, a educação, no Brasil, ganhou um novo cenário, abandonando a busca pela explicação de fenômenos externos para procurar explicar coisas mais práticas e presentes na vida do homem, como as leis, as relações sociais e a ética. O Positivismo teve influência fundamental nos eventos que levaram à Proclamação da República no Brasil, destacando o Coronel Benjamin Constant, que também contribuiu para a inclusão do desenho geométrico no currículo com o objetivo de desenvolver a racionalidade. Era priorizada a melhora da mão de obra para a indústria e para a ciência. Dessa forma, os desenhos geométricos, os desenhos de observação e as técnicas de luz, sombra e perspectiva foram incluídos nos conteúdos ensinados na escola. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, o ensino da Arte era complemento técnico, e A disciplina desenho, apresentada sob a forma de Desenho Geométrico, Desenho do Natural e Desenho Pedagógico, era considerada mais por seu aspecto funcional do que uma experiência em arte; ou seja, todas as orientações e conhecimentos visavam uma aplicação imediata e a qualificação para o trabalho. (BRASIL, 1997, p. 25). 63 Os Caminhos do Ensino de Arte no Brasil Capítulo 3 A partir desse período – décadas de 1970 e 1980 –, a história do ensino de Arte passou a carregar uma concepção de ensino autoritária, pautada na valorização do resultado final do trabalho e centrada na figura do professor como detentor absoluto do saber. As produções eram baseadas em cópias, e a classe reproduzia o mesmo trabalho. O professor preocupava-se com aspectos técnicos descartando qualquer hipótese de produção criativa, sensitiva e individual. No Brasil, somente após 1920, reforçado pelo movimento da Escola Nova, o ensino de Arte tomou rumo diferente. O objetivo era tornar a Arte uma atividade de integração para a criança se expressar e também assimilar conteúdos de outras disciplinas, tendo sido mantida, porém, a metodologia de trabalho. Segundo Barbosa (1975, p.44), “[...] na maioria dos casos, as crianças desenhavam copiando do material visual usado como motivação”. Em 1922, houve uma grande revolução de métodos quando teve início a caracterização de um pensamento modernista – a Semana de Arte Moderna, em São Paulo – de que participaram artistas de todas as linguagens da Arte (Artes Visuais, Artes Cênicas, Música e Dança) e também nomes da poesia. De acordo com Barbosa (1975, p.44) “[...] nossa grande renovação metodológica no campo da arte- educação se deve ao movimento de Arte Moderna de 1922”. O poeta Mário de Andrade e a artista Anita Malfati, ambos participantes da Semana de Arte Moderna, foram os idealizadores das ideias da livre-expressão para a criança. Barbosa (1975) completa afirmando que esse novo conceito incentivou artistas, educadores e psicólogos por entenderem que a Arte deve ser expressa e não ensinada. Dessa forma, a Arte na educação passou a ter caráter terapêutico. A partir de 1948, com a criação da Escolinha de Arte do Brasil, uma nova concepção educacional para o ensino de Arte foi implantada. A Escolinha de Arte do Brasil foi iniciativa do artista pernambucano Augusto Rodrigues, da artista gaúcha Lúcia Alencastro Valentim e da escultora norte-americana Margareth Spencer, em 1948, no Rio de Janeiro. Os fundamentos teóricos do trabalho na Escolinha de Arte eram do filósofo Herbert Read, ancorados no princípio de que a educação é o fundamento da arte. O trabalho da Escolinha de Arte não diretivo, incluindo uma tentativa de ampliação do repertório artístico e a intensificação do diálogo entre as diferentes modalidades artísticas. Recebeu apoio de educadores, como Anísio Teixeira e Helena Antipoff. As experiências da Escolinha de Arte do Brasil e de outras que foram sendo criadas a partir dessa experiência se A partir de 1948, com a criação da Escolinha de Arte do Brasil, uma nova concepção educacional para o ensino de Arte foi implantada. 64 Arte e Ludicidade na Educação Infantil e Anos Iniciais caracterizavam pela aprendizagem livre e pelo incentivo à expressão criadora. Essas atividades se contrapunham ao ensino da arte nas escolas com foco no desenho geométrico e na cópia. De acordo com Barbosa (1975), o objetivo da arte-educação passou a ser o desenvolvimento da capacidade criadora. Porém, até os anos de 1940 não havia qualquer tipo de formação continuada ou formação de professores no ensino de Arte. Por isso, o objetivo da arte-educação ficou restrito aos espaços informais de ensino, sem modificar o currículo escolar. Personalidades importantes de nossa história, como Teodoro Braga, Anita Malfatti e Mário de Andrade, deram contribuições relevantes para o início do processo de ensino de Arte em nosso país. Em 1971, com a Lei nº 5.692, foi criada a disciplina de Educação Artística no currículo escolar. A lei determinou que a disciplina abordasse todas as linguagens da Arte, ou seja, Artes Plásticas, Música e Artes Cênicas, nos cursos de 1˚ e 2˚ graus. Porém, o que se criou foi a necessidade da figura de um professor que tivesse domínio das linguagens da Arte, isto é, um professor polivalente. Diante dessa necessidade, surgiram os cursos de graduação em Educação Artística, alguns de licenciatura curta, para sanar emergencialmente a falta de professores habilitados, e também os com licenciatura plena. Inclusive alguns cursos de Bacharelado se tornaram cursos de licenciatura para atender a procura. Os professores buscavam processos e métodos diferentes para trabalhar as linguagens da Arte, dando abertura para a chegada do livro didático em Arte. Os professores de Arte valorizavam a expressão dos sentimentos, e as atividades eram propostas sem a preocupação com a realidade do estudante. O que permaneceu, muitas vezes, foi o fazer pelo fazer ou a livre-expressão, sem oferecer uma experiência estética ou a aquisição de novos conhecimentos. Assim, a aula de Arte se transformou em aula de desenho expressivo ou uma atividade sem qualquer significado ou fundamentação teórica. A falta de conhecimento histórico acerca da cultura e das experiênciasestéticas da humanidade fez com que o ensino de Arte fosse ineficiente na escola. A implantação de qualquer mudança no ensino de Arte deve se preocupar com as relações socioculturais e as condições propícias para a aprendizagem contextualizada. Na década de 1980, com o objetivo de discutir as metodologias e as funções do ensino de Arte, teve início o Movimento de Arte- Em 1971, com a Lei nº 5.692, foi criada a disciplina de Educação Artística no currículo escolar. A lei determinou que a disciplina abordasse todas as linguagens da Arte, ou seja, Artes Plásticas, Música e Artes Cênicas, nos cursos de 1˚ e 2˚ graus. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional estabeleceu, em seu artigo 26, parágrafo 2º, que “O Ensino da Arte constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos”. 65 Os Caminhos do Ensino de Arte no Brasil Capítulo 3 Educação, liderado por professores de Arte do ensino formal e informal. Em 1988, iniciaram as discussões sobre a nova LDB que seria sancionada no ano de 1996. O motivo que levou a essas discussões foi uma das versões da referida lei que retirava a obrigatoriedade da disciplina no currículo. (BRASIL, 1997). Aprovada em 20 de dezembro de 1996, a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional estabeleceu, em seu artigo 26, parágrafo 2º, que “O Ensino da Arte constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos” (BRASIL, 1997, p. 30). Em 1996, também surgiram os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) com o objetivo de trazer uma nova orientação para o ensino brasileiro e buscar um redimensionamento da educação na sociedade contemporânea. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais de Arte, uma das características desse novo currículo foi identificar a área, não mais por Educação Artística, e sim, por Arte; e, integrá-la ao currículo escolar, não apenas como atividade prática ligada à produção fragmentada, mas com conteúdos e metodologias contextualizadas. A partir da nova LDB – Lei nº 9.394/96 – que determinou as novas diretrizes para o ensino de Arte, todos os estados se adequaram à Proposta de Ensino. O currículo escolar foi alterado com maior facilidade; porém, o processo de mudança da nomenclatura nos cursos superiores foi mais lento. (BRASIL, 1996). As diversas modificações na teoria e na prática do ensino de Arte continuam, nos dias atuais, a ser assunto de debates e de propostas feitas por teóricos, estudiosos e professores de Arte. Entre as propostas que estão sendo difundidas no Brasil, podemos destacar a Proposta Triangular para o ensino de Arte, criada por Ana Mae Barbosa, que propõe como encaminhamento pedagógico-artístico a integração da produção artística, a fruição da obra de arte e a sua contextualização histórica, como também, a função do professor que atua como mediador cultural. Vale salientar que o percurso da arte-educação começa pelo professor reflexivo e sensível para dialogar com as linguagens, com a história da Arte e do ensino. Ao escolher os conteúdos, é necessário segurança e também ter os objetivos artísticos bem definidos nas propostas pedagógicas. De acordo com Hernandes (2007, p.15), é essencial uma educação em Arte em que os estudantes possam participar “de experiências vivenciadas de aprendizagem, pelas quais aprendam a resolver questões que possam dar sentido ao mundo em que vivem, de suas relações com os outros e consigo mesmo”. A Proposta Triangular para o ensino de Arte, criada por Ana Mae Barbosa, que propõe como encaminhamento pedagógico-artístico a integração da produção artística, a fruição da obra de arte e a sua contextualização histórica, como também, a função do professor que atua como mediador cultural. O ponto fundamental para o ensino de Arte é tratá-la como conhecimento. Ensinar Arte significa estabelecer relações com a Proposta Triangular: a criação/produção, a fruição/leitura de imagem e a contextualização/ reflexão ou o reconhecimento da produção artístico-estética da humanidade. 66 Arte e Ludicidade na Educação Infantil e Anos Iniciais O ponto fundamental para o ensino de Arte é tratá-la como conhecimento. Ensinar Arte significa estabelecer relações com a Proposta Triangular: a criação/ produção, a fruição/leitura de imagem e a contextualização/reflexão ou o reconhecimento da produção artístico-estética da humanidade. Atividade de Estudos: 1) Caro(a) pós-graduando(a), sugerimos que você faça uma síntese traçando os principais pontos da trajetória do ensino da arte. Para isso, tome como base a leitura inicial deste capítulo, pontuando desde a chegada dos jesuítas até a chegada da nova LDB e a Proposta Triangular. ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ Proposta Triangular para o Ensino de Arte A Proposta Triangular, foco desta seção, nasceu de uma preocupação e de um questionamento de profissionais ligados ao ensino de Arte sobre a proposta educativa em Arte centrada apenas no fazer das diversas linguagens (Teatro, Dança, Música e Artes Plásticas) que predominava nos anos de 1970. Naquela década, o ensino de Arte se deu na perspectiva do fazer artístico, ainda sofrendo as influências da Escolinha de Arte do Brasil, de Augusto Rodrigues. 67 Os Caminhos do Ensino de Arte no Brasil Capítulo 3 Nascido em Recife, Auguso Rodrigues foi pintor, desenhista, gravador, ilustrador, caricaturista, fotógrafo e arte-educador brasileiro. Também foi pioneiro na criação das escolinhas de Arte para crianças no Brasil. O trabalho dos professores de Arte estava centrado nas propostas de experimentação expressiva como a mola propulsora para o processo criador. Era valorizado o desenvolvimento da autodescoberta e da livre-expressão. Durante esse período, entre os profissionais ligados ao ensino de Arte, nasceu uma preocupação e um questionamento sobre a proposta educativa em Arte, centrada apenas, no fazer das diversas linguagens (Teatro, Dança, Música e Artes Plásticas). Foi nesse contexto que surgiu a proposta de profissionais ligados ao ensino de Arte de iniciar um processo de discussão e pesquisa que direcionasse o ensino também, para o conhecimento da Arte e sua apreciação. Para Barbosa (2002, p. 34-35), A produção de arte faz a criança pensar inteligentemente acerca da criação de imagens visuais, mas somente a produção não é suficiente para a leitura e o julgamento de qualidade das imagens produzidas por artistas ou do mundo cotidiano que nos cerca. [...] Temos que alfabetizar para a leitura da imagem. Através da leitura das obras de artes plásticas, estaremos preparando a criança para a decodificação da gramática visual, da imagem fixa e, através da leitura do cinema e da televisão, a prepararmos para aprender a gramática da imagem em movimento. Essa decodificação precisa ser associada ao julgamento da qualidade do que está sendo visto aquie agora e em relação ao passado. A Proposta Triangular foi empregada por Ana Mae Barbosa nos anos de 1980, quando ela esteve na direção do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo. Essa proposta está fundamentada em abordagens epistemológicas como: Escuelas al Aire Libre, do México; Critical Studies, da Inglaterra; e Discipline Based Art Education (DBAE), dos Estados Unidos. Destacamos, entre as abordagens mencionadas, o DBAE, por ser usada por Barbosa para sistematizar a Proposta Triangular. O projeto Discipline Based Arte Education (DBAE), desenvolvido nos Estados Unidos desde a década de 1980, postula a educação/ensino da Arte por meio da articulação diálogo entre três 68 Arte e Ludicidade na Educação Infantil e Anos Iniciais momentos educativos: leitura de imagem, produção e reflexão. Para maior aprofundamento, ver obra A imagem no ensino da arte (BARBOSA, 2002), na qual a autora apresenta sua proposta metodológica, fundamentada na ideia de arte-educação, como também, organiza e promove uma leitura da obra artística que, além de uma pedagogia, é uma nova visão da função das artes na cultura do homem contemporâneo. Barbosa (2002, p. 36) afirma que a proposta “[...] do ensino das artes corresponde às quatro mais importantes coisas que as pessoas fazem com a arte. Elas produzem, elas a vêm, elas procuram entender seu lugar na cultura através do tempo, elas fazem julgamento acerca de sua qualidade”. Ao sistematizar a Proposta Triangular, Barbosa (2002) propõe que o ensino de Arte seja elaborado a partir de três ações básicas, ou seja, a produção, a leitura de imagem e a reflexão. Na Proposta Triangular, existe uma junção da crítica e da estética que a autora chamou de apreciação ou leitura de imagem; o fazer artístico ou produção artística; e a história da Arte ou reflexão da produção artística. A Proposta Triangular, de Barbosa (2002), é constituída por três eixos, conforme mostramos na figura 15. Figura 22 – Eixos da Proposta Triangular Fonte: As autoras (2010), com base em Barbosa (2002). Conforme mostra a figura 22, a Proposta Triangular é constituída por três eixos: produção, leitura de imagem e reflexão. Esse triângulo original é considerado referência dos eixos de aprendizagem que dominam o ensino atualmente. O triângulo ajuda na prática pedagógica de Arte nas escolas brasileiras. O eixo Refletir Arte está relacionado à história da arte e visa a possibilitar o entendimento de que Arte se dá num contexto, tempo e espaço em que se situam as obras de arte. Leitura de imagem está centrada na análise e apreciação da obra de arte, REFLEXÃO PRODUÇÃO LEITURA DE IMAGEM Ensino das artes corresponde às quatro mais importantes coisas que as pessoas fazem com a arte. Elas produzem, elas a vêm, elas procuram entender seu lugar na cultura através do tempo, elas fazem julgamento acerca de sua qualidade. 69 Os Caminhos do Ensino de Arte no Brasil Capítulo 3 procurando desenvolver a habilidade de ver e descobrir as qualidades da obra de arte e do mundo visual que cerca o apreciador. A partir da apreciação, é educado o senso estético; e, o estudante pode julgar com objetividade a qualidade das imagens. Produção em Arte, ou seja, o fazer artístico, objetiva desenvolver a criação de imagens expressivas. Os estudantes se conscientizam das suas capacidades de elaborar imagens, experimentando os recursos da linguagem, as técnicas existentes e a invenção de outras formas de trabalhar a sua expressão criadora. Barbosa (1998) faz correções ao termo utilizado Metodologia Triangular, até por ela mesma, no seu livro A Imagem no Ensino da Arte, afirmando que se culpa por ter aceitado o apelido e usado a expressão Metodologia Triangular em seu livro. A autora afirma que, após anos de experimentação, está convencida de que metodologia é a construção de cada professor na sua prática pedagógica e que, dessa forma gostaria de ver a expressão Proposta Triangular, e não mais Metodologia Triangular. Em 1987, a Proposta Triangular foi amplamente utilizada em atividades com crianças e adolescentes e para a formação de professores de Arte, no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo. Esses professores se tornaram multiplicadores do trabalho praticado na instituição que passou a ser referência para outras experiências no ensino de Arte. As reflexões teórico- práticas referentes ao ensino de Arte, levadas a efeito por Ana Mae Barbosa, estão inscritas na vertente educacional realista-progressista. Em síntese, essas reflexões apontam para a democratização do conhecimento da Arte, para a construção do conhecimento e, sobretudo, para o rompimento da prática tecnicista que permeia, ainda, o ensino de Arte entre nós. Essa proposta pode ser posta em prática com a combinação de três ações: leitura de imagem, produção e reflexão; também pode ser articulada em seis sequências, pois, a combinação de várias ações e seus conteúdos não têm hierarquia. As sequências possíveis são: • leitura de imagem-produção-reflexão; • leitura de imagem-reflexão-produção; • produção-leitura de imagem-reflexão; • produção-reflexão-leitura de imagem; • reflexão-produção-leitura de imagem; • reflexão-leitura de imagem-produção (RIZZI, 2000). 70 Arte e Ludicidade na Educação Infantil e Anos Iniciais No contexto escolar, em que é trabalhada a Proposta Triangular, é preciso interligar as vertentes do triângulo – conhecer, apreciar, fazer – buscando nos processos cognitivos o equilíbrio entre razão, emoção e intuição. Encerrando-se as etapas Conhecer Arte, Apreciar Arte e Fazer Arte, os estudantes poderão avaliar os trabalhos e fazer a leitura do que foi produzido, configurando-se uma nova etapa do processo, que pré-figura a tríade: processo-produto-processo. A leitura da obra de arte, além de ser usada para o conhecimento e a fruição, deve sobretudo, ser usada para instigar o estudante a produzir suas próprias imagens, mesmo que se identifique com aspectos formais de um ou outro artista. No que se refere a esse aspecto, Barbosa (2002) nos afirma que o mais importante é que o arte-educador não exija cópias exatas da obra mostrada, pois ela deve servir como modelo interpretativo, e não, como modelo de cópias. O ensino de Arte, na concepção da Proposta Triangular, envolve mais a cultura e a história; e, ensinar Arte implica que o conhecimento em Arte ocorra no encontro da experimentação, decodificação e informação. Atividade de Estudos: 1) Nesse momento, sugerimos que você escreva o que pretende os eixos: produção, leitura de imagem e reflexão - da Proposta Triangular de Barbosa (2002). ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ No contexto escolar, em que é trabalhada a Proposta Triangular, é preciso interligaras vertentes do triângulo – conhecer, apreciar, fazer – buscando nos processos cognitivos o equilíbrio entre razão, emoção e intuição. 71 Os Caminhos do Ensino de Arte no Brasil Capítulo 3 ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ Resgate de Brinquedos e Brincadeiras Tradicionais por Meio da Arte A criança tem cem mãos, Cem pensamentos, Cem modos de pensar, de jogar e de falar, Cem sempre, cem modos de escutar as maravilhas de amar, Cem alegrias para cantar e compreender, Cem mundos para descobrir, Cem mundos para inventar, cem mundos para sonhar. Loris Mallaguzzi Para Mallaguzzi e Miguel (2007), o tempo das crianças é, hoje, repleto de coisas novas para descobrir e para sonhar. Os jogos e brincadeiras tradicionais, muitas vezes fazem parte de um repertório pouco conhecido pelas crianças, tendo em vista o avanço da tecnologia e os brinquedos eletrônicos e modernos que lhe são oferecidos. Não é mais comum no corre-corre em que vivemos nos depararmos com crianças brincando na rua, subindo em árvores, fazendo bolinho de barro ou areia. A rua já se tornou um lugar perigoso e para muitos, além de cômodo, o fato da criança ficar dentro de casa brincando com jogos eletrônicos, aparentemente conectados com o mundo, é mais seguro. Para Mallaguizzi e Miguel (2007) a escola é o espaço onde podemos oportunizar a integração das crianças; pois, a maioria brinca sozinha ou com os pais durante a semana, em casa. A arte nos permite interagir e criar um diálogo entre os diferentes contextos com as crianças. Muitos professores costumam trabalhar com os alunos a imagem do artista Pieter Bruegel, Jogos Infantis, 1560, a fim de resgatar brincadeiras tradicionais. 72 Arte e Ludicidade na Educação Infantil e Anos Iniciais Caro(a) aluno(a), observe a referida obra: Figura 23 – Jogos infantis – Pieter Bruegel Fonte: Disponível em: <portaldoprofessor.mec.gov.br>. Acesso em: 25 mai. 2010. A obra Jogos Infantis, realmente, disponibiliza-nos informações sobre várias brincadeiras tradicionais, no entanto, não devemos deixar de contextualizá-la. Esta obra é datada de 1560, época em que a visão de criança era a de um adulto em miniatura. Se observarmos, podemos perceber que se tratava de adultos brincando. Uma crítica do artista ao modo como a burguesia da época levava as suas vidas. O artista brasileiro Ivan Cruz ressignificou a mesma obra, com base no seu contexto, conforme apresenta-se na figura 24. Figura 24 –Brincadeiras de criança – Ivan Cruz Fonte: Disponível em: <http://images01.olx.com.br/ ui/2/26/80/17032680_1.jpg>. Acesso em: 25 mai. 2010. 73 Os Caminhos do Ensino de Arte no Brasil Capítulo 3 Esses são exemplos de duas obras que poderão ser utilizadas e trabalhadas com a Proposta Triangular do Ensino da Arte, que você pôde conhecer na seção anterior. Apresentar as obras para as crianças e deixá-las descobrirem diferentes brincadeiras por meio da leitura de imagem e contextualização da época de criação da obra, é oportunizar conhecimento artístico cultural e histórico dentro das instituições escolares. Além da leitura de imagem, é possível realizar pesquisa sobre as diferentes brincadeiras que encontramos na obra. Você sabia que vários artistas já abordaram esta temática? Apresentamos a você algumas obras de diferentes artistas sobre jogos e brincadeiras infantis: Figura 25 – Brincadeiras de criança – Ivan Cruz Fonte: Diponível em: <www.brincadeirasdecriança.com.br>. Acesso em: 25 mai. 2010. Figura 26 – Jogo de Peteca – Monica Santana Fonte: Disponível em: <www.monicasantana.com.br>. Acesso em: 25 mai. 2010. 74 Arte e Ludicidade na Educação Infantil e Anos Iniciais Figura 27 – Maya à la poupée – Pablo Picasso Fonte: Disponível em: <http://lh6.ggpht.com/_dxhPw_mpmKg/SYrEzDpLbyI/ AAAAAAAAEeM/bZ5JVhfTl1w/DSC04909.JPG>. Acesso em: 25 mai. 2010. Figura 28 – Canoa que voa – Marcos Leal Fonte: Disponível em: <http://www.saatchi-gallery.co.uk/yourgallery/ artist_profile//90882.html>. Acesso em: 25 mai. 2010. Figura 29 – Meninos brincando – Cândido Portinari Fonte: Disponível em: <http://www.museudainfancia.unesc.net/memoria/ expo_ibero/acervo_portinari.htm>. Acesso em: 25 mai. 2010. 75 Os Caminhos do Ensino de Arte no Brasil Capítulo 3 Esses são apenas alguns exemplos de obras de grandes artistas que apresentamos a você caro(a) pós-graduando(a), com a finalidade de proporcionar contato maior com imagens de obra de arte, além de discutir a possibilidade de resgatar brincadeiras tradicionais através da arte. Outro exemplo comum, e que também pode ser utilizado em sala de aula, é a relação entre diferentes obras que retratam a mesma temática, neste caso, a mesma brincadeira. Apresentar diferentes linguagens para a criança é ampliar seu repertório visual e cultural, é trabalhar com a emoção, a percepção e a intuição, categorias do conhecimento sensível. Você lembra o que mencionamos anteriormente sobre a construção humana sensível? Sobre as categorias do conhecimento sensível, tema abordado por Silvia Pillotto? Se você não lembra, é a oportunidade de retornar seus estudos. Veja agora, alguns exemplos do que estamos falando: Vamos pensar na brincadeira do pião. Você lembra como brincar de pião? Observe a sensibilidade de alguns artistas ao trabalharem com esta temática. Figura 30 – Menino com pião – Marcos Leal Fonte: Disponível em: <http://www.saatchi-gallery.co.uk/yourgallery/ artist_profile//90882.html>.Acesso em: 25 mai. 2010. 76 Arte e Ludicidade na Educação Infantil e Anos Iniciais Figura 31 – Menino com pião – Reynaldo Fonseca Fonte: Disponível em: <http://peregrinacultural.wordpress.com/2008/08/14/bailado- russo-poema-infantil-de-guilherme-de-almeida/>. Acesso em: 25 mai. 2010. Figura 32 – Menino com pião – Nando Ribeiro Fonte: Disponível em: <http://www.artmajeur. com/?go=artworks/display_mini_gallery&login= nandoribeiro&mini_gallery_id=1243012&artist_id=83361&image_ id=3355570&disp_m=normal&serie=1&glang=pt>. Acesso em: 25 mai. 2010. 77 Os Caminhos do Ensino de Arte no Brasil Capítulo 3 Figura 33 – Menino com pião – Cândido Portinari Fonte: Disponível em: <http://www.museudainfancia.unesc.net/memoria/ expo_ibero/acervo_portinari.htm>. Acesso em: 25 mai. 2010. Figura 34 – Rodando pião – Ivan Cruz Fonte: Disponível em: <www.brincadeirasdecrianca.com.br>. Acesso em: 25 mai. 2010. 78 Arte e Ludicidade na Educação Infantil e Anos Iniciais Quando resgatamos alguns brinquedos ou brincadeiras, podemos explorar as diferentes linguagens da Arte a fim de apresentar para as crianças diferentes modos de representar o mesmo objeto, como neste caso, o Pião representado através da pintura, da escultura, e, conforme apresentamos na sequência, também na poesia e na música. BAILADO RUSSO Guilherme de Almeida Fonte: ALMEIDA, Guilherme de et al. Antologia de poemas para a infância. 2. ed. São Paulo: Ediouro, 2001. p. 32. RODA PIÃO – Cantiga de roda O Pião entrou na roda, ó pião ! (bis) Refrão: Roda pião, bambeia pião ! (bis) Sapateia no terreiro, ó pião ! (bis) Mostra a tua figura, ó pião ! (bis) Faça uma cortesia, ó pião! (bis) Atira a tua fieira, ó pião! (bis) Entrega o chapéu ao outro, ó pião ! (bis) Fonte:Disponível em: <http://letras.terra.com.br/cantigas- populares/984005/>. Acesso em: 25 mai. 2010. A mão firme e ligeira puxou com força a fieira: e o pião fez uma eclipse tonta no ar e fincou a ponta no chão. É o pião com sete listas de cores imprevistas. Porém, nas suas voltas doudas, não mostra as cores todas que tem: -fica todo cinzento, no ardente movimento… E até parece estar parado, teso, paralisado, de pé. Mas gira. Até que aos poucos, Em torvelins tão loucos assim, já tonto, baboleia, e bambo, cambaleia… Enfim, Tomba. E, como uma cobra, Corre mole e desdobra então, em hipérboles lentas, sete cores violentas, no chão. 79 Os Caminhos do Ensino de Arte no Brasil Capítulo 3 Caro(a) pós-graduando(a), você conhece a história deste brinquedo? O Pião? A seguir, apresentamos resumidamente a origem histórica do pião. HISTÓRIA DO PIÃO Geralmente de madeira, o pião é um objeto cônico que possui na extremidade um aponta de metal. Quando torcido, com a ajuda de um fio, faz um movimento de giro. Cerca de 3 mil anos a.C., na Babilônia, já existiram os piões, feitos de argila e com as bordas decoradas com formas de animais e humanas ou relevos. Eles foram encontrados em túmulos de crianças, assim como as bolinhas de gude. Os japoneses antigos pintavam superfície com ricos detalhes e foram os primeiros a fazer um sulco ao redor da circunferência e produzir piões que assobiavam quando movimentados. No museu Johns Hopkins, em Baltimore (Estados Unidos), existe um vaso grego pintado há aproximadamente 2500 anos em que são vistas duas pessoas observando a dança de um grande pião de madeira. Os piões também foram encontrados nas escavações de Pompéia (Itália). Fonte: Atzingen (2001, p. 57). Essas obras que abordam a temática do brinquedo pião podem ser trabalhadas de forma em que o aluno entrará em contato com diferentes culturas, contextos e linguagem da Arte. Além, de ser uma maneira de resgatar esse brinquedo popular, estas obras nos permitem criar momentos de fazer artístico com as crianças. Podemos citar: • Ressignificação da obra: A criança produz uma representação pessoal da obra ressignificando-a. Fonte: Disponível em: <www. brincadeirasdecrianca.com.br>. Acesso em: 25 mai. 2010. Figura 35 – Bola de gude – Ivan Cruz 80 Arte e Ludicidade na Educação Infantil e Anos Iniciais Ressignificação da obra: Figura 36 – Bola de gude Fonte: Disponível em: <http://escolahumberto.blogspot.com/>. Acesso em: 25 mai. 2010. Figura 37 – Marimba – Ivan Cruz Fonte: Disponível em: <www.brincadeirasdecriana.com.br>. Acesso em: 25 mai. 2010. Ressignificação da obra: Figura 38 – Marimba Fonte: Disponível em: <http://albertinhoniteroi.blogspot.com/2009/11/ arte-na-escola_26.html>. Acesso em: 25 mai. 2010. 81 Os Caminhos do Ensino de Arte no Brasil Capítulo 3 • Intervenção com fragmento da obra do artista: A criança cria um novo contexto, partindo de um fragmento da obra de arte. Figura 39 – Rendeiras de Florianópolis – Willy Zumblick Fonte: Disponível em: <zumblick.com.br>. Acesso em: 25 mai. 2010. Intervenção com fragmento da obra: Figura 40 – Intervenção 1 Figura 41 – Intervenção 2 Fonte: As autoras. Fonte: As autoras. Esses são apenas dois exemplos de fazer artístico que podemos trabalhar com as crianças. Além da linguagem visual, ainda cabe lembrar, que a arte permite conexão entre as diferentes linguagens. 82 Arte e Ludicidade na Educação Infantil e Anos Iniciais É possível reler as obras de arte de diferentes artistas através da representação cênica, da musicalização e também é possível contextualizar as brincadeiras ou brinquedos por meio da literatura. Vamos finalizar nosso caderno de estudos com um último exemplo: • A representação de bonecas: Figura 44 – Menina com boneca – Henri Rosseau Fonte: Disponível em: <marluisa.blogspot.com>. Acesso em: 25 mai. 2010. Figura 45 – Boneca com carrinho – Ivan Cruz Fonte: Disponível em: <www. brincadeirasdecriança.com.br>. Acesso em: 25 mai. 2010. Fonte: Disponível em: <http:// jornale.com.br/wicca/?p=3290>. Acesso em: 25 mai. 2010. Fonte: Disponível em: <http:// cristianecampos .arteblog.com. br>. Acesso em: 25 mai. 2010. Figura 43 – A boneca – Cristiane Campos Figura 42 – Bonecas – Noêmia Dantas 83 Os Caminhos do Ensino de Arte no Brasil Capítulo 3 Você conhece uma Matryoshka? A Matryoshka é uma bonequinha que contém dentro de si, várias bonequinhas, muito conhecida no leste europeu, principalmente relacionada à Rússia. Todo mundo já deve ter ouvido falar dela e certamente, se já passou por Berlin, Praga e mais precisamente por Moscou, deve ter tido o ímpeto de comprar uma, nem que seja para deixar guardadinha no armário. Figura 48 - Matryoshka Fonte: Disponível em: <http://vilamulher.terra.com.br/marianecara/ matryoshka-9-4485839-63941-pf.php>. Acesso em: 10 jun. 2010. Figura 46 – Menina com casinha – Marcos Leal Fonte: Disponível em: <http:// www.saatchi-gallery.co.uk/ yourgallery/artist_profile//90882. html>. Acesso em: 25 mai. 2010. Figura 47 – Boneca Carajá Fonte: Disponível em: <http:// precolombianartbrazil.blogspot. com>. Acesso em: 25 mai. 2010. 84 Arte e Ludicidade na Educação Infantil e Anos Iniciais Apresentamos a você diferentes obras sobre Bonecas. Bonecas em diferentes contextos. Obras que trazem uma contextualização histórica que vai do lúdico até a crença de determinadas culturas. Nossa intenção é refletir sobre a possibilidade de através do lúdico e da própria arte o professor, abordar temáticas que vão além da Arte e ludicidade, temáticas que abordam a diversidade. A boneca, enquanto brinquedo popular, é objeto de diferente sentido de acordo com o espaço e a época em que está inserida. Este objeto permite o trabalho artístico, lúdico, cultural e histórico. Você conhece sua história? BONECAS A origem das bonecas se perde no tempo. Possivelmente as primeiras estatuetas de barro tenham sido feitas pelo homo sapiens há 40 mil anos, na África e na Ásia, com propósitos ritualísticos. No Museu de História Natural de Viena, na Áustria, encontra-se uma das mais antigas figuras humanas conhecida, a Vênus de Willendorf (25 mil – 20 mil a.C.), uma pequena estatueta de formas arredondadas, considerada um símbolo de fertilidade. A transição das bonecas como ídolos para brinquedos provavelmente ocorreu no Egito, há 5 mil anos. Poderia ser um sacrilégio uma criança egípcia brincar com um ídolo de argila, mas isso seria aceitável se o objeto representasse um mero mortal, como um servo. Por isso bonecas e bonecos não tinham aparência infantil; eram, antes, miniaturas de adultos e nunca ambíguos, tendo os sexos bem definidos. Em túmulos egípcios foram encontradas, ao lado de crianças, bonecas esculpidas em pedaços de madeira com o cabelo feito de cordões de argila ou de contas de madeira. Na Grécia e em Roma, em 500 a.C., as bonecas recebiam os nomes de nympha e pupa que significavam “moça pequena”. Algumas tinham braços e pernas articulados e cabelo humano. 85 Os Caminhos do Ensino de Arte no Brasil Capítulo 3 As meninas gregas brincavam com bonecas que as acompanhavam até a época do casamento quando eram dedicadas a Afrodite, deusa do amor e da fecundidade. Os meninos romanos, por sua vez, se divertiam com bonecos de cera e argila que representavamsoldados. A transição das bonecas da forma adulta para a infantil não está claramente documentada, mas pode ter ocorrido quando artesãos começaram a fazer as bonecas carregando seus filhos, que teriam ganho a preferência das crianças. Na Idade Média, as bonecas passaram a ter grande importância na moda. Estilistas vestiam-nas com suas criações e as enviavam para rainhas e damas escolherem os modelos de seus vestidos. Na corte de Isabel da Baviera, casada com o rei da França Carlos VI (1368-1422), elas ficaram conhecidas como embaixatrizes da moda. A Alemanha tornou-se o centro de produção de bonecas e a primeira fábrica surgiu em Nuremberg, em 1413. As bonecas de papel (dressing dolls), originaram-se na Inglaterra no final do século XVIII. Eram figuras para recortar, com roupas para trocar e fizeram sucesso em toda a Europa, principalmente na França. Em 1844 o americano Charles Goodyear patenteou a técnica de produzir uma borracha dura que poderia ser utilizada para fabricar bonecas “à prova d´água”. Os italianos começaram a usar esse material em 1860, mas perceberam que ele não tinha durabilidade e rachava com o tempo. São raros os exemplares que restaram dessa experiência. As cabeças das bonecas continuaram sendo de massa, porcelana ou biscuit; os olhos de cristal; os cabelos feitos com fios naturais e o corpo, de madeira ou pelica, com enchimento de serragem. O fato de algumas bonecas de porcelana terem parte posterior da cabeça cortada se deve a uma solução encontrada pelos fabricantes para reduzir a tarifa alfandegária cobrada sobre o peso do carregamento. As primeiras bonecas que falaram mamã e papá foram 86 Arte e Ludicidade na Educação Infantil e Anos Iniciais apresentadas por Johann Maelzel na Exposição da Indústria Francesa em 1823, mas só foram aperfeiçoadas em 1880, com o emprego da tecnologia fonográfica de Thomas Alva Edison (1847-1931). Em 1826 aparecem as pálpebras que podiam se mover por meio de fios ligados a contrapesos de chumbo no interior da boneca. O celulóide começou a ser utilizado em bonecas após 1850. No século XX elas passaram a ser desse material e também de borracha e plástico. Começaram a dar risada, a engatinhar e a falar. A Barbie foi criada nos Estados Unidos em 1959 e revolucionou o conceito de bonecas, tornando-se um grande sucesso mundial. No Brasil, a boneca Susi, lançada em 1962, marcou a infância de meninas de várias gerações. Em 1964, um boneco americano vestindo uniforme militar inaugurou s série das chamadas “figuras em ação”. Ele foi criado por Stanley Weston e recebeu o nome de G. I. Joe, inspirado no filme A Vida de G. I. Joe. No Brasil, no final dos anos 70, a Estrela lançou o Falcon e, nos anos 80, heróis saídos dos filmes e desenhos, como Batman e Superman. Hoje existem bonecas mecânicas que funcionam a pilha e podem conversar, pedir beijinhos, cantar... Algumas são aromatizadas com cheirinho de talco. Já existem bonecas programadas eletronicamente, que pedem comida na hora certa e respondem à aproximação de alguém. No futuro, a boneca poderá receber vários programas diferentes, que poderão estar disponíveis na internet e permitirão maior variedade de brincadeiras. Fonte: Atzingen (2001, p. 5-9). Para completar as informações que trouxemos para você sobre as bonecas, indicamos uma literatura e uma cantiga que abordam esta temática: O livro Menino brinca de boneca? de Marcos Ribeiro, desmistifica os papéis homem e mulher atribuídos aos sexos desde a infância, e assim, estimula 87 Os Caminhos do Ensino de Arte no Brasil Capítulo 3 o jovem a refletir e opinar sobre o tema e respeitar as diferenças. Ilustrações de Bia Salgueiro. Além da literatura, que também aborda esta temática, apresentamos a você, outra linguagem da Arte, a música com a temática: Boneca. A BONEQUINHA Composição: Rennan Cantuária da Silva, João Paulo Gonçalves e Rennan Cantuária da Silva Eu tenho uma bonequinha sim Ela veio de Paris pra mim Ela tem um lindo chapéu E também um amor de véu Eu ponho ela em pé não cai Ela diz mamãe papai (mamãe, papai) Mas um dia sem razão Escorregou e caiu no chão Quebrou o narizinho dela E também o dedinho do pé Eu levei ela no doutor Que sabia curar sem dor A bonequinha chorou, chorou E eu também chorei, chorei Só depois que ela sarou Eu brinquei, brinquei, brinquei... Fonte: Disponível em: <http://letras.terra.com.br>. Acesso em: 25 maio 2010. Agora, que você já recebeu várias informações sobre o resgate dos brinquedos e brincadeiras tradicionais por meio da arte, chegou o momento de colocar seu aprendizado em prática, planejando, discutindo e refletindo sobre estas possibilidades que lhe foram apresentadas. A ideia não é de receita, mas de reflexão sobre as diferentes linguagens da arte como vetor de resgate de jogos, brinquedos e brincadeiras de forma lúdica no contexto escolar. Bons estudos e muita arte e ludicidade nos seus planejamentos! 88 Arte e Ludicidade na Educação Infantil e Anos Iniciais Atividade de Estudos: 1) Faça um planejamento para trabalhar com esta temática - com uma turma de Educação Infantil ou Anos Iniciais do Ensino Fundamental. ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ Algumas Considerações O ponto fundamental para o ensino de Arte é tratá-la como conhecimento. Ensinar Arte significa estabelecer relações com a Proposta Triangular: a criação/ produção, a fruição/leitura de imagem e a contextualização/reflexão ou o reconhecimento da produção artístico-estética da humanidade. A leitura da obra de arte deve ser feita sempre considerando os contextos culturais como uma referência, evitando-se o reducionismo, produto da homeneização, que é fatal no processo de ensino e de aprendizagem de Arte. 89 Os Caminhos do Ensino de Arte no Brasil Capítulo 3 A Proposta Triangular é referenciada no documento oficial que orienta o ensino de Arte no Brasil, que é o PCN de Arte (BRASIL, 1997). Nesse documento, o professor de Arte pode buscar o auxílio para a formulação de seu currículo. Para Barbosa (2002) um currículo planejado a partir da Proposta Triangular respeita as necessidades, o interesse e o desenvolvimento da criança, bem como, acata o ensino de Arte, sua composição e suas contribuições. Devemos ressaltar que, para obter um ensino de Arte significativo, é essencial compreender o objeto artístico a partir de três áreas do conhecimento: a produção, a leitura de imagem e a reflexão. Destacamos, igualmente, que não interessaa sequência em que serão trabalhadas as vertentes, desde que estejam traçadas no planejamento do professor e que esse tenha a nitidez sobre como se dá o processo de ensino e de aprendizagem de Arte na escola. Referências ATZINGEN, Maria Cristina Von. História do brinquedo. São Paulo: Alegro, 2001. BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília, 1996. Disponível em: <http://portal.mec. gov.br/Sesu/índex.php?option=conten&task=vview&id=773&Itemid306>. Acesso em: 10 jul. 2006. ______. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria do Ensino Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília, 1997. (v. Arte). BARBOSA, Ana Mae. Recorte e Colagem: influência de John Dewey no ensino de arte no Brasil. São Paulo: Cortez, 1989. ______. A imagem no ensino da Arte. São Paulo: Max Limonad, 2002. ______. Tópicos utópicos. Belo Horizonte: C/Arte, 1998. ______. Arte-educação pós-colonialista no Brasil: Aprendizagem Triangular. In: SABINO, Zélia Regina; ALVES, Jucélia Maria (coord.). O ensino da Arte em foco. Florianópolis: Ed. da UFSC, 1994. ______. Teoria e prática da educação artística. São Paulo: Cultrix, 1975. HERNÀNDEZ, Fernando. Catadores da cultura visual: proposta para uma nova narrativa educacional. [s.l]: Mediação, 2007. 90 Arte e Ludicidade na Educação Infantil e Anos Iniciais MALLAGUZZI, Loris; MIGUEL, Marelenquelem. O lúdico e o imaginário no desenvolvimento infantil. In PILLOTTO, Silvia Sell Duarte . (org.) Linguagens da arte na infância. Joinville : Ed. da Univille, 2007. OLIVEIRA, Manoel Dias de. Arte no Brasil. São Paulo: Abril Cultural, 1979. RIZZI, Christina. 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