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O presente trabalho visa abordar o contexto socioeconômico de criação e desenvolvimento das primeiras escolas de Serviço Social na América Latina, bem como alguns atores importantes nesses acontecimentos. Destaca-se que as primeiras escolas surgiram no Chile e Brasil e posteriormente em outros países próximos. Originadas, em especial, no seio da igreja católica, foram frutos do contexto de desenvolvimento industrial de ampliação das refrações da questão social nos países em destaque. O referido conteúdo foi abordado na disciplina de Fundamentos Históricos Teóricos e Metodológicos do Serviço Social I, desenvolvida por meio de aulas expositivas, dialogadas e apresentação de seminários, utilizando-se de livros, textos, artigos e materiais de áudio e vídeo. Para contextualizar, destaca-se que no Chile, a fundação da primeira Escola de Serviço Social foi em 1925, pelo médico Alejandro Del Río, sendo que o profissional de Serviço Social era entendido como uma “sub-profissão” médica, frente aos graves problemas de saúde da época. O segundo espaço de formação de profissionais foi a Escola Elvira Matte de Cruchaga criada em 1929 por Miguel Cruchaga Tocornal, a qual obedeceu aos interesses da Igreja Católica em criar um centro ortodoxo para a formação de agentes sociais. A escola visava à formação de visitadoras que, além de cuidar do aspecto material dos assistidos também tratassem de suas almas. Para a escola se concebia mais do que uma simples profissão e sim uma vocação. No Brasil criava-se em 1936 a Escola de Serviço Social de São Paulo inspirada pela Ação Católica e Ação Social. Surge em 1937 no Rio de Janeiro o Instituto de Educação Familiar e Social que foi formado por duas escolas, sendo uma de Serviço Social e outra de Educação familiar. Em 1938 surge a Escola Técnica de Serviço Social voltada para questões dos menores. No Uruguai a fundação deu-se em 1937, sendo que somente três anos após sua criação a direção foi assumida por Augusta Schroeder profissional graduada em Serviço Social. Na Argentina, no ano de 1940 em Buenos Aires, através do Cardeal Luis Copelo passou-se a organizar a primeira Escola de Serviço Social do país. Já no Peru a Escola de Serviço Social foi criada em 1937, ligada ao Ministério da Saúde, mas fruto de crises econômicas que o mundo vivenciava e afetava diretamente o país que tinha sua economia baseada em recursos externos que foram cessados com os períodos de crise, desempregando mineradores e camponeses. Concluindo destaca-se que as escolas foram decisivas para a construção do conhecimento técnico de profissionais que desenvolviam ações sociais ligadas em especial ao cunho religioso e orientadas pelas encíclicas papais. Aplicando a técnica e a prática já existente, os profissionais do Serviço Social que orientavam-se no Serviço Social Europeu e posteriormente Norte Americano foram aos poucos construindo e consolidando a profissão no espaço latino americano e contribuindo na redução das refrações da questão social. 1-Formação profissional e igreja no Chile. O caso das primeiras escolas. Contexto sócio político Na década de 20, Arturo Alessandri representa a camada média e encabeça um movimento reformista e consegue aprovar a proposta de um código de trabalho. Esta está marcada por um período de crise institucional e uma onda de protestos e greves. Nesse contexto as classes dominantes, através do estado se vê compelida a acolher as reivindicações da classe operária e outros setores populares. A burguesia chilena a institucionalizar essas reivindicações criando uma legislação. 1.2 A primeira escola chilena (De origem estatal) Funda-se, nesse contexto a primeira escola de Serviço Social no Chile em 1925, tendo como seu fundante Alejandro Del Río (que era médico), que foi a Bélgica para conhecer os outros centros de formação acadêmica. Ele obteve uma resposta parcial ao criar uma escola para formar profissionais destinados a complementar o trabalho médico. As principais característica dessa escola foram: sua origem que está próxima da esfera das necessidades de expansão estatal, e pela imposição das demandas das classes operárias. 1.3 A segunda escola chilena A Igreja não estará ausente do processo constitutivo do Serviço Social, por muitos anos ela foi a promotora de obras de caridade inspirada nos preceitos religiosos operando um apostolado que sustentava inúmeras “obras de misericórdia”. Só em 1929 a igreja promove a organização de sua primeira escola de Serviço Social, a escola Elvira Matte de Cruchaga, fundada por Miguel Cruchaga. Sua origem tem diversas motivações, entre elas cito: O interesse da igreja em criar um centro católico ortodoxo para a formação de agentes sociais adequados às mudanças sofridas pela sociedade chilena, e uma estratégia de conscientização da influência católica na criação de escolas de Serviço Social. Com o objetivo de recuperar o seu papel de condutor moral da sociedade 1.4 Os efeitos da escola Elvira Matte Cruchaga no Chile e no continente Latino Americano A Igreja também se viu impelida a situar-se no interior da questão social emergente com a modernização capitalista que mercantiliza a força de trabalho, redefine a família, promove concentrações urbanas, origina novas doenças etc. Esta nova escola era uma resposta de forma complementar e não antagônica, à criação da escola de Del Rio, uma vez que essa tinha a pretensão de promover a assistência médica. Já a escola Elvira Matte de Cruchaga cobriu um amplo espaço da questão social. Destaca-se que na sua atuação a inovação tinha maior ênfase. Outro espaço coberto foi a ênfase da necessidade de uma aproximação à ciência e a técnica. A escola tinha, também, uma intenção de compreensão mais global dos vetores que determinavam as desigualdades de classes na sociedade chilena inserindo a assistência social nesta problemática. Esta possibilidade diversificada de ação profissional lhe conferiu uma ampla margem de atuação em comparação com a escola de Del Río que tinha a sua condição real nas mãos dos médicos. Outro aspecto dessa diferenciação é o caráter confessional da segunda em relação a primeira, vinculado diretamente ao apostolado da igreja. Sob este foco a escola Elvira Matte de Cruchaga é um projeto destinado a organização dos leigos, com uma diretriz de formação profissional de acordo com os ditames da igreja. A igreja deu ao Serviço Social uma base orgânica continental e se manifesta em duas vertentes principais. Formação de escolas estatais cuja a formação acadêmica de profissionais estava sob a direta gestão da igreja. Este papel difusor desempenhado pela igreja possibilitou-lhe o fortalecimento de uma tendência de vasto alcance latino americano. 1.5 A formação da visitadora social na escola Elvira Matte de Cruchaga Com uma seleção rigorosa que exigia uma estrita escolha – como por exemplo ser maior de 21 anos , bons antecedentes e boa saúde- em face das poucas vagas a escola, sob orientação de um espírito cristão. A formação tinha ênfase aos cursos voltados a saúde devido aos problemas das péssimas condições de salubridade e também a influência europeia que ligava o Serviço Social a enfermagem. Essa tendência se repetiu nas escolas do Peru e de São Paulo. Ao lado do cuidado com a saúde houve um crescimento na importância do Serviço Social nas empresas. Com o passar dos anos houve uma diversificação nos campos de interesse tais como: as problemáticas operária rural e rural familiar, e da saúde e assuntos dos profissionais do Serviço Social. Alguns anos passados foram organizados as “semanas de estudo” que tinha os seus programas elaborados em sugestões das visitadoras onde elas compartilhavam experiências de trabalho e traziam novas propostas de métodos de atuação. Os conferencionistas que palestravam nestas semanas eram pessoas que ocupavam relevantes cargos nas instituições que demandavam o trabalho das visitantes. 1.6 A influência internacional da escola de Serviço Social Elvira Matte de Cruchaga A escola católica chilena nasceu filiada a União Católica Internacional de ServiçoSocial, a UCISS que elegeu a escola para a tarefa de fomentar o Serviço Social na América Latina. A primeira atuação da difusão foi a criação no Uruguai em 1937 por estimulo da escola chilena com importante ajuda de Rebeca Izquierdo que foi diretora da escola chilena, anos depois em Buenos Aires, Izquierdo, que já havia ajudado na criação da escola do Uruguai promove a criação da escola na Argentina e em 1940 organiza-se na capital argentina a escola católica de Serviço Social. Na Colômbia a formação da escola católica também obteve colaboração de Elvira Matte de Cruchaga. Na Venezuela a escola foi fundada por sugestões da escola chilena. Em Cuba, apenas surgiu anos depois, do entusiasmo de um grupo de pessoas com o dinamismo da liderança de Elvira Matte de Cruchaga. Além de promover a fundação de diversas escolas no continente, a escola chilena desenvolveu importantes atividades (conferências, publicações, congressos). Foi a instituição pioneira que serviu de modelo as outras escolas de formação. Foi, também, pioneiro nas ciências sociais no pais andino. Não se trata de um paradigma para a profissão, mas com a atuação na história dá para perceber componentes atuais pra área. 2-Formação da escola Peruana O país vivia na década de 20 sob a ditadura de Augusto B. Leguía. Este se subordinou ao imperialismo norte americano, do qual obtinha recursos para sua administração. Sob esta aliança floresceu no Peru uma burguesia comercial fundada no crescimento das exportações para os EUA. Nesta década houve também uma organização da estrutura de classes e a emergência de setores populares na vida política. Com a crise internacional a economia peruana foi afetada. O percentual de desempregados aumentou ficou deteriorado, devido a crise. Houve agressivo movimento popular. A classe dominante foi aos quartéis e a solução para os impasses foi o Golpe militar de Luis M. Sanches Cerro que recebeu apoio de diversos setores populares. Sanches Cerro era ao mesmo tempo uma “face suave” e uma autoridade repressiva e intolerante. Em 1931 são convocadas eleições presidenciais e uma Assembleia Constituinte. Vários levantes militares afasta Sanches e instaura-se uma junta nacional de Governo que faz uma política econômica que favorece aos latifundiários aos grupos agro exploradores. Em 1931 realizam-se as eleições e Sanches Cerro com uma campanha apoiada pela união revolucionária para ( Aliança Popular Revolucionária Americana), e vence. Com isso a instabilidade se generaliza e ocorre protestos e manifestações por toda a parte até que em abril de 1933 Sanches é assassinado. A Assembleia Constituinte entrega o poder ao general Oscar R. Benavides. Para aliviar a tensão que se passava no país o general propõem um governo de paz e trégua para o principal grupo opositor (APRA), supondo que estava em oposição Benavides convocou a eleição e Luis Antonio Equigurem com apoio do APRA, vence, mas houve anulação do resultado e Benavides proclamou-se presidente. Nesse mandato reaparelhou-se o exército e a polícia nomeou um gabinete militar. Benevides entendeu que a repressão não era mais viável e compreendeu que eram necessárias iniciativas de política social. Para poder controlar o povo, realizou várias medidas nas várias áreas que beneficiou principalmente a Escola de Serviço Social do Peru. Esse clima agitado é que explica a criação da Escola de Serviço Social do Peru. 2.2 - Estado, classes e a formação da escola de serviço social do Peru. A Escola de Serviço Social do Peru (ESSP), criada em 1937 vinculada ao Ministério da Saúde Pública, Trabalho e Previdência Social para contribuir com a pessoal deste Ministério e outras instituições que estavam surgindo em decorrência da medida do governo Benavides. Porém antes dela, em 1931 o Instituto da Criança criou a Escola de visitadores Sociais de higiene infantil e Enfermeiras de Puericultura que durou pouco mais de um de ano. A ESSP reuniu três projetos diferentes: o de Christine de Hemptinne (as requisições da igreja e de sua ação social no peru e no continente); o de Dr. Edgardo Rebagliati (demanda de pessoal apropriado para desempenhar as suas funções estatais); e do Médico Wanceslao Molina (formação de assistentes sociais que pretendia promover saúde por via da educação). Estes projetos deram respaldo para que Francisca Benavides (esposa do presidente) apoiasse a criação da Escola. A direção da escola foi entregue a USSIS que indicou a Louisse Joerissen a experiente diretora da escola chilena. A presença de Francisca Benavides acelerou o processo de cristalização do projeto. Ela por ser católica fervorosa fez a relação entre Estado e a Igreja. As funções foram assim definidas: O Estado ficava com a parte de criação de leis e a igreja com a parte acadêmica. A Igreja tinha larga experiência na formação de outras escolas na América Latina. A ESSP tinha uma política estatal de controle sobre o movimento popular. Nos primeiros anos a profissão era influenciada pela medicina para enfrentar as deploráveis condições de salubridade. A equipe da escola eram em sua maioria profissionais de reconhecido prestigio intelectual o que estimulou os estudantes em sua preparação. Apesar de curta duração dos cursos os resultados erma excelentes, pois os estudantes tinham uma ótima formação de base. A escola tinha uma perspectiva de educar o povo aproximando-o da religião e apoiar o Estado impedindo que o povo criasse uma consciência de diferença de classes, o que era ameaçador tanto para o Estado quanto para a religião. O serviço social de inspiração católica favorecia a restituição da imagem social das classes dominantes. O assistente social como uma vocação e não uma profissão atendia os interesses do estado que pagava salários baixos aos vocacionados que faziam caridade. A Igreja sempre esteve do lado do poder e o Estado por sua vez se declarava católico e isso ajuda na compreensão do interesse da igreja nos movimentos políticos que questionavam a sua atuação e a acusavam de apoiar os regimes oligárquicos. O que são movimentos sociais urbanos? Os movimentos sociais urbanos constituem uma nova questão na análise das relações de classes e, principalmente, no que diz respeito à tradição das classes populares. Trata-se de problemas sociais novos que, expressando contradições próprias das sociedades capitalistas, não se explicam somente pelo ângulo da oposição entre capital e trabalho. Representam antes de tudo efeitos das distorções e das desigualdades decorrentes de uma aplicação desigual dos recursos públicos empregados no desenvolvimento e manutenção dos aglomerados urbanos. As carências e defasagens no nível de apropriação da água, dos esgotos, dos transportes coletivos, da saúde, da educação e dos equipamentos sociais têm se tornado cumulativamente em fatores que afetam o que se convencionou chamar de qualidade de vida dos cidadãos, mas que afetam mais a alguns do que a outros, dependendo de sua posição na estrutura sociai da cidade e do seu acesso aos recursos públicos. Os movimentos têm surgido das contradições que se expressam no cotidiano da população na sua condição de moradores. A proliferação de estudos que tratam da temática dos movimentos sociais urbanos é um indicador do interesse que estes têm gerado e da sua crescente importância no contexto das práticas das classes populares. A característica básica destes trabalhos, na sua maior parte não publicados, é uma tendência à reconstrução de histórias de mobilizações e reivindicações urbanas, embora vários trabalhos enfatizem os aspectos relativos aos desafios organizatórios, resolvendo a partir de sua própria dinâmica os problemas que se colocam à sua livre expressão na política. Ao tratarmos dos movimentos sociais urbanos nos defrontamos com uma produção incipiente e atomizada, sendo que o nosso grande desafio tem sido o de localizar e organizar um conjunto de textos não publicados, fruto de trabalhos de tese e de pesquisa, no sentido de apresentar o espectro mais amplo possível sobre o estágio em que se encontra a produçãoteórica no Brasil. Os movimentos sociais urbanos podem ser entendidos hoje como um fato diferenciador da sociedade capitalista atual, tendo como característica essencial um questionamento da ação estatal na distribuição de benfeitorias urbanas e dos equipamentos de consumo coletivo. Se por um lado assumem um caráter econômico, incidindo sobre a qualidade de vida urbana, por outro lado assumem um caráter basicamente político, configurando-se enquanto eixos significativos para se compreender de uma nova forma a dinâmica da realidade urbana a partir das suas contradições. Estes movimentos se inscrevem num marco de contradições extremamente complexo que caracteriza a formação dos grandes centros urbanos brasileiros, no contexto do seu desenvolvimento e funcionamento como grandes aglomerados que viabilizam a reprodução das condições necessárias à continuidade do sistema capitalista. Referem-se à problemática urbana que deriva das contradições geradas pelo desenvolvimento do capitalismo ante as novas e sempre crescentes necessidades postas à reprodução da força de trabalho gerando uma crescente intervenção do Estado. O novo caráter da problemática urbana passa a se centrar nos serviços de consumo coletivo urbano e no papel do Estado como orientador da vida cotidiana. As novas bases analíticas incorporam a noção de contradição no contexto da realidade urbana enfatizando o seu potencial de politização e a possibilidade de gerar mobilizações de diferentes atores sociais.