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85 10ºAula A educação brasileira após 1930 No Bem vindas e bem vindos à Historia da educação brasileira! Aqui faremos uma parada para discutirmos a educação a partir da década de 1930, período em que ocorre a Revolução, sendo esta um marco referencial para a entrada do Brasil no mundo capitalista de produção. A nova realidade econômica do Brasil, exigiu uma mão de obra especializada e para tal era preciso investir na educação. Sendo assim, em 1930, foi criado o Ministério da Educação e Saúde Pública e, em 1931, o governo provisório sanciona decretos (que ficaram conhecidos como “Reforma Francisco Campos”), organizando o ensino secundário e as universidades brasileiras, que até então era praticamente inexistentes. Ao findarmos esta aula, vocês poderão fazer uso das seguintes ferramentas: “fórum”, “quadro de avisos” e “chat”, para tirar alguma dúvida, caso ainda tenham. Boa aula! História da Educação 86 Objetivos de aprendizagem 1 - Os acontecimentos pertinentes à educação brasileira ocorridos nos anos de 1930 Em outubro de 1930, o governo do Presidente Washington Luiz era derrubado por um movimento armado que se iniciava ao sul do país e tivera repercussões em vários pontos do território brasileiro. Esse movimento se convencionou chamar Revolução de 1930. Ao final desta Aula, você será capaz de: • analisar os avanços na educação dos anos trinta aos anos oitenta; • reconhecer as principais influências da Revolução de 1930 e o que representou a chamada “Era Vargas”, no setor educacional; • analisar a concepção pedagógica renovadora de 1932 a 1969; • compreender as determinações das Constituições brasileira referente ao período de 1930 a 1980, frente a Lei de Diretrizes e Base da Educação – LDB n. 5692/71. 1 - Os acontecimentos pertinentes a educação brasileira ocorridos nos anos de 1930 2 - A educação brasileira: concepção pedagógica renovadora (1932-1969) 3 - A Educação nas décadas de 1970 a 1980 Seções de estudo definida, capaz de sustentá-lo como movimento duradouro e coerente, o tenentismo se resumiu numa série de reivindicações que oscilaram entre a necessidade de se implantar uma ordem social e econômica de caráter capitalista e a moralização das eleições, até a implantação de mudanças radicais, só passíveis de realização pela imposição de um governo forte, coeso e nacionalista. A crise delineou se, portanto, como uma necessidade de se reajustar o aparelho do Estado às novas necessidades da política e da economia, ou seja, de se substituir urgentemente toda a estrutura do poder político que contribuiu para criar e manter a crise econômica. Praticamente, a maior parte do organismo social participante ou consciente do processo político e econômico, que se desenrolava, estava descontente com o sistema vigente. As elites que se mantinham no poder viam minadas, dia a dia, suas bases de sustentação e o governo perdia, visivelmente, sua autoridade. As eleições de 1930, para presidência da República, realizada em clima de grande agitação política e nas quais imperou, como de costume, a fraude, deram vitória ao candidato da situação. Esse fato, aliado ao assassinato do candidato oposicionista à vice-presidência, acabou por constituir os motivos concretos de que se carecia para a irrupção do movimento armado. O movimento resultou de uma coalizão de forças. Dessa coalizão podiam distinguir se duas correntes: a dos que desejavam mudanças apenas no sentido jurídico, ou mesmo, propugnavam por uma troca de pessoas no poder, e a dos que se propunham lutar por mudanças mais profundas, divididos em dois grupos. No primeiro grupo, alinhavam se os militares superiores, uma parcela dos plantadores de café descontentes com a política econômica do governo, e a parte da elite política da oposição, que visava à conquista do poder. Estes últimos, políticos frustrados, tanto nos Estados maiores, quanto nos menores, deveriam fornecer a continuidade indispensável entre a República Velha e os estágios sucessivos da era de Vargas. No segundo grupo, estavam os revolucionários, os que comandaram ou tiveram participação mais A Revolução de 30 marca o ponto alto de uma série de revoluções e movimentos armados que, durante o período compreendido entre 1920 e 1964, se empenharam em promover vários rompimentos políticos e econômicos com a velha ordem social oligárquica. Foram esses movimentos que, em seu conjunto e pelos objetivos afi ns que possuíam, iriam caracterizar a Revolução Brasileira, cuja meta maior tem sido a implantação defi nitiva do capitalismo no Brasil. Através desses movimentos e, sobretudo, através da Revolução de 1930, o que se procurou foi um reajustamento constante dos setores novos da sociedade com o setor tradicional, do ponto de vista interno, e, destes dois, com o setor internacional, do ponto de vista externo. Ver mais em http://elogica.br.inter.net/crdubeux/h30.htm De todos os movimentos, o que mais profundamente marcou a luta pela mudança do processo político e saiu vitorioso com o movimento de 1930 foi o tenentismo. Sem uma ideologia Nos anos 30, o corpo docente era composto por duas professoras, as quais eram chamadas de Dona, cada uma delas incumbida de lecionar duas classes. As alunas usavam batas brancas, como era habitual naquela época, e tinham aulas de manhã e à tarde. 87 2 - A educação brasileira: concepção pedagógica renovadora (1932-1969) O movimento dos renovadores ganha corpo com a fundação da Associação Brasileira de Educação (ABE), em 1924, se expande com a realização das Conferências Nacionais de Educação a partir de 1927, e atinge plena visibilidade com o lançamento do “Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova ” em 1932 (XAVIER, 2002). Em 1930 foi lançado o livro de Lourenço Filho “Introdução ao Estudo da Escola Nova” Ao longo dos anos 30 do século XX o movimento renovador foi irradiando sua influência por meio da ocupação dos principais postos da burocracia educacional e pela criação de órgãos de divulgação, buscando deliberadamente hegemonizar o campo educacional. Mas os renovadores tiveram que disputar o controle do espaço pedagógico, palmo a palmo, com os educadores católicos. efetiva no movimento. Este grupo se subdividiu em duas correntes: uma, mais moderada, preocupada com mudanças de caráter constitucional, com apoio na pequena classe média e que reivindicava eleições livres e honestas, maior garantia de liberdades civis e um governo constitucional, e a outra, mais radical, liderada pela ala jovem das forças armadas, os “tenentes”, que se propunham lutar pela “regeneração nacional” e pela modernização em caráter mais amplo e profundo. Os “tenentes” queriam um governo centralizado e nacionalista. Assim que se instalou o novo governo, a princípio em caráter provisório, sob a presidência de Getúlio Vargas, com a radicalização das posições em torno da volta à normalidade constitucional. Este permaneceu no poder, de 1930 a 1945. Foram 15 anos marcados por um período mais instável (de 30 a 37) e uma ditadura (de 37 a 45). Depois de nomeado presidente, Getúlio estendeu esse seu primeiro mandato por quinze anos ininterruptos. De 1945 a 1951 ocupou o cargo de Senador Federal. Depois desse mandato, voltou à presidência pelo voto popular. Em agosto de 1954. Para a educação a Era Vargas foi palco das primeiras investidas dos novos métodos de ensino, preconizando a centralidade na criança e na sua iniciativa no processo de aquisição do conhecimento. Mesmo que inicialmente restrito, porque atendendo a uma camada da população, esse ensino renovado se sedimentou, atingindo amplos setores educacionais, incitando uma discussão sobre os princípios norteadores de seu método de ensino, que nem sempre atende as necessidades de parte da população escolar. Disponível em :http://www.histedbr.fae.unicamp.br/ navegando/periodo_era_vargas_intro.html, dia 20/10/2010 No campoespecífico da pedagogia os católicos travaram um combate sem tréguas às novas ideias abraçadas pelo movimento dos renovadores da educação. Nessa tarefa se destacaram os líderes que compunham a elite intelectual leiga, vinculados, de modo geral, ao Centro Dom Vital, sendo figura destacada Alceu de Amoroso Lima. Para Alceu de Amoroso Lima, sendo a pedagogia a formação do homem, quer dizer, preparação para a vida e considerando que para se preparar é preciso saber para quê, é necessário, na pedagogia, que haja previamente uma finalidade, um objetivo, um ideal a atingir. Daí que, para ele, o problema da pedagogia no Brasil é a ausência completa de um ideal educativo. Naquele momento referência à pedagogia católica demarcou espaço porque, apesar da influência da Escola Nova, boa parte das escolas normais e dos cursos de pedagogia permaneceu sob o controle da Igreja; e, mesmo nas instituições públicas, o pensamento católico, por meio de seus representantes e dos manuais por eles elaborados, se manteve presente. Vários manuais de orientação católica marcaram presença nas escolas normais, institutos de educação e cursos de pedagogia, como Noções de história da educação, de Theobaldo Miranda Santos, e História da educação: evolução do pensamento educacional, de José Antônio Tobias. Mas a pedagogia católica não significou simplesmente um puro e exclusivo confronto, inteiramente irredutível, com a pedagogia nova. Mesmo os mais acerbos críticos da Escola Nova não deixaram de reconhecer pontos de convergência. O próprio Alceu de Amoroso Lima, reconheceu a validade do postulado da Escola Nova que coloca a criança no centro do processo educativo. Reconheceu igualmente que não existe “nada de mais racional” do que o entendimento da atividade, da iniciativa como o “elemento capital da educação”. Do mesmo modo reconheceu o valor dos métodos novos. Além desse reconhecimento, sem dúvida secundário, por parte daqueles que se colocavam em posição antagônica com relação à Escola Nova, encontramos também educadores católicos que se assumiam como integrantes do movimento de renovação pedagógica. Provavelmente o exemplo mais conspícuo desse grupo é Everardo Backheuser que desenvolveu uma extensa gama de atividades como a fundação da Associação Brasileira de Educação, da Academia Brasileira de Ciências, de várias Associações de Professores Católicos e da Um grupo de educadores lança à nação o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, redigido por Fernando de Azevedo e assinado por outros concei- tuados educadores da época. Em 1935 o Secretário de Educação do Distrito Federal, Anísio Teixeira, cria a Universidade do Distrito Federal, no atual município do Rio de Janeiro, com uma Faculdade de Educação na qual se situava o Instituto de Educação. História da Educação 88 Confederação Católica Brasileira de Educação, além de um grande número de publicações. Progressivamente, na medida em que o movimento renovador ia ganhando força e conquistando certa hegemonia, constata- se uma tendência, também progressiva, de renovação da pedagogia católica. A aprovação da Constituição de 1934 Ainda em 1934, por iniciativa do governador Armando Salles Oliveira, foi criada a Universidade de São Paulo. A primeira a ser criada e organizada segundo as normas do Estatuto das Universidades Brasileiras de 1931. A resistência dos católicos não chegou a impedir o avanço dos pioneiros que já a partir do início da década de 1930 começaram a ocupar os principais postos da burocracia educacional. Em 1938 foi fundado o Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP) – atualmente Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais – que se converteu no principal centro aglutinador e estimulador de experiências de renovação pedagógica. Consequentemente, se o período situado entre 1930 e 1945 pode ser considerado como marcado pelo equilíbrio entre as influências das concepções humanista tradicional (representada pelos católicos) e humanista moderna (representada pelos pioneiros da educação nova), a partir de 1945 já se delineia como nitidamente predominante a concepção humanista. Ministro da Educação, Clemente Mariani, constituíra a referida comissão convidando para integrá-la os principais educadores da época. Entre eles estavam o Pe. Leonel Franca e Alceu Amoroso Lima, representantes do grupo católico, mas também Anísio Teixeira Lourenço Filho, Fernando de Azevedo, Almeida Júnior, Faria Góis, todos representantes da pedagogia nova. Igualmente a orientação que prevaleceu no texto do projeto elaborado por essa comissão revela a predominância dos renovadores. A tramitação desse projeto da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional conduz, no final da década de 1950, ao conflito escola particular-escola pública quando os católicos retomam, na defesa da escola particular, os mesmos argumentos do início da década de 30, guardando o mesmo caráter monolítico. Somente em 1961 1ue foia provada a primeira LDB nº 4.024 de 1961, ainda na década de 1950, a par da ação do INEP, a concepção pedagógica renovadora avança por meio da fundação da CAPES (Campanha de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), em 1951, e do Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais, em 1955, articulando os Centros Regionais de Pesquisas Educacionais. Nesse movimento foi fundada, em 1969, a Sociedade Civil “Instituto Pedagógico Montessori-Lubienska” que passou a realizar Semanas Pedagógicas em várias cidades em todo o Brasil. A partir de 1975 alterou-se a denominação para “Instituto Pedagógico Maria Montessori”, vinculando-se à “Associação Montessori Internacional”, com sede na Holanda. Ao final da década de 1970 existiam no Brasil 144 escolas montessorianas sendo 94 no Estado de A predominância da pedagogia nova já pode ser detectada na comissão constituída em 1947 para elaborar o projeto da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. A fim de dar cumprimento ao disposto na Constituição de A segunda Constituição da República dispõe, pela primeira vez, que a educação é direito de todos, devendo ser ministrada pela família e pelos Poderes Públicos. por iniciativa do governador Armando Salles Oliveira, foi criada a Universidade de São Paulo. A primeira a ser criada e organizada segundo as normas do Estatuto das Univer- sidades Brasileiras de 1931. Concepção humanista moderna: esboça-se numa visão do homem centrada na vida. Em 1942, por iniciativa do Ministro Gustavo Capanema, são reformados alguns ramos do ensino. Estas Reformas receberam o nome de Leis Orgânicas do Ensino, e são compostas por Decretos-lei que criam o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI e valoriza o ensino profi ssionalizante. O ensino fi cou composto, neste período, por cinco anos de curso primário, quatro de curso ginasial e três de colegial, podendo ser na modalidade clássico ou científi co. O ensino colegial perdeu o seu caráter propedêutico, de preparatório para o ensino superior, e passou a se preocupar mais com a formação geral. Apesar dessa divisão do ensino secundário, entre clássico e científi co, a predominância recaiu sobre o científi co, reunindo cerca de 90% dos alunos do colegial. Foi aprovada em 18 de setembro de 1946, apesar de ter sido uma Constituição liberal, estava mais de acordo com os interesses dos latifundiários e dos empresários urbanos do que com os interesses das classes trabalhadoras. Refrente a educação: Determina a obrigatoriedade de se cumprir o ensino primário e dá competência à União para legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional. Além disso, a nova Constituição fez voltar o preceito de que a educação é direito de todos, inspirada nos princípios proclamados pelos Pioneiros, no Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, nos primeiros anos da década de 30. Ainda em 1946 oentão Ministro Raul Leitão da Cunha regulamenta o Ensino Primário e o Ensino Normal, além de criar o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial - SENAC, atendendo as mudanças exigidas pela sociedade após a Revolução de 1930. Baseado nas doutrinas emanadas pela Carta Magna de 1946, o Ministro Clemente Mariani, cria uma comissão com o objetivo de elaborar um anteprojeto de reforma geral da educação nacional. 1946 que atribuiu à União a tarefa de fixar as diretrizes e bases da educação nacional, o então Em 1935 o Secretário de Educação do Distrito Federal, Anísio Teixeira, cria a Universidade do Distrito Federal, no atual município do Rio de Janeiro, com uma Faculdade de Educação na qual se situava o Instituto de Educação 89 Se as discussões sobre a Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional foi o fato marcante, por outro lado muitas iniciativas marcaram este período como, talvez, o mais fértil da História da Educação no Brasil: em 1950, em Salvador, no Estado da Bahia, Anísio Teixeira inaugura o Centro Popular de Educação (Centro Educacional Carneiro Ribeiro), dando início a sua ideia de escola- classe e escola-parque; em 1952, em Fortaleza, Estado do Ceará, o educador Lauro de Oliveira Lima inicia uma didática baseada nas teorias científi cas de Jean Piaget: o Método Psicogenético; em 1953 a educação passa a ser administrada por um Ministério próprio: o Ministério da Educação e Cultura; em 1961 a tem inicio uma campanha de alfabetização, cuja didática, criada pelo pernambucano Paulo Freire, propunha alfabetizar em 40 horas adultos analfabetos; em 1962 é criado o Conselho Federal de Educação, que substitui o Conselho Nacional de Educação e os Conselhos Estaduais de Educação e, ainda em 1962 é criado o Plano Nacional de Educação e o Programa Nacional de Alfabetização, pelo Ministério da Educação e Cultura, inspirado no Método Paulo Freire. São Paulo e 50 espalhadas por outros dez Estados e no Distrito Federal. Visando não perder a clientela e responder as novas exigências , o caminho que a Igreja Católica encontrou para foi assimilar a renovação metodológica sem abrir mão da doutrina. Lubienska desenvolveu seu método pedagógico em estreita relação com a bíblia e a liturgia católica aproximando-se, também, do pensamento oriental do qual extraiu aquilo que era compatível com o espírito bíblico-litúrgico e com a tradição da Igreja Católica. No final da década de 1950 e início dos anos 60, intensifica-se o processo de mobilização popular, agitando-se, em consequência, a questão da cultura e educação populares. Em termos de educação popular os movimentos mais significativos são o Movimento de Educação de Base (MEB) e o Movimento Paulo Freire de Educação de Adultos, cujo ideário pedagógico mantém muitos pontos em comum com o ideário da pedagogia nova. Essa perspectiva se fez presente em grupos católicos derivados de organismos integrantes da Ação Católica, com destaque para a JUC e JEC que se lançaram em programas de educação popular, em especial a alfabetização de adultos, que por sua vez, radicalizou sua oposição á ditadura militar transformando-se em APML (Ação Popular Marxista Leninista), optou pela luta armada e foi dizimada pela repressão. Paralelamente a essas transformações no campo da pedagogia católica, a década de 1960 Para erradicar o analfabetismo foi criado o Movimento Brasileiro de Alfabetização – MOBRAL, aproveitando-se, em sua didática, do expurgado Método Paulo Freire. O MOBRAL propunha erradicar o analfabetismo no Brasil... Não conseguiu. E, entre denúncias de corrupção, acabou por ser extinto e, no seu lugar criou-se a Fundação Educar. Então, perceberam quantos fatos interessantes podemos observar que ocorreu nesse período? Não podemos nos esquecer da tentativa de erradicar um mal que até hoje não está totalmente curado – O analfabetismo! Que na década de 1960, logo após o golpe militar deu-se a grande expansão das universidades no Brasil. Para acabar com os “excedentes” (aqueles que tiravam notas sufi cientes para serem aprovados, mas não conseguiam vaga para estudar), foi criado o vestibular classifi catório? Então, vamos para a década dos 70? foi uma época de intensa experimentação educativa, deixando clara a predominância da concepção pedagógica renovadora. A década de 1960, contudo, não deixou também de assinalar o esgotamento do modelo renovador, o que se evidencia pelo fato de que as experiências mencionadas se encerraram no final dos anos 60 quando também são fechados o Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais e os Centros Regionais a ele ligados. No interior dessa crise articula-se a tendência tecnicista, de base produtivista, que se tornará dominante na década seguinte, assumida como orientação oficial do grupo de militares e tecnocratas que passou a constituir o núcleo do poder a partir do golpe de 1964. Na década de 1960 a “teoria do capital humano” foi desenvolvida e divulgada positivamente, sendo saudada como a cabal demonstração do “valor econômico da educação”. Em consequência, a educação passou a ser entendida como algo não meramente ornamental, um mero bem de consumo, mas como algo decisivo do ponto de vista do desenvolvimento econômico,isto é, um bem de produção. O Regime Militar espelhou na educação o caráter anti democrático de sua proposta ideológica de governo: professores foram presos e demitidos; universi- dades foram invadidas; estudantes foram presos e feridos, nos confronto com a polícia, e alguns foram mortos; os estudantes foram calados e a União Nacional dos Estudantes proibida de funcionar; o Decreto-Lei 477 calou a boca de alunos e professores. História da Educação 90 1 - A educação nas décadas de 1970 a 1980 Sob a influência da tendência crítico- reprodutivista, buscou-se, então, evidenciar que a subordinação da educação ao desenvolvimento econômico significava torná-la funcional ao sistema capitalista, isto é, colocá-la a serviço dos interesses da classe dominante: ao qualificar a força de trabalho, o processo educativo concorria para o incremento da produção da mais valia, Existem muitos cientistas e pensadores sociais que desenvolveram diferentes vertentes para conceber uma explicação para surgimento e o funcionamento do sistema capitalista, reforçando, em consequência, as relações de exploração. Enquanto que na década 80, busca-se superar os limites da crítica acima apontada. A partir da reforma instituída pela lei n. 5.692, de 11 de agosto de 1971, essa concepção produtivista pretendeu Esta concepção, no entanto, chega invariavelmente à conclusão de que a função própria da educação consiste na reprodução da sociedade em que ela se insere. Nessa medida, não cabe à educação nenhum papel transformador, modifi cador das condições existentes, mas apenas o papel de reprodutora da estrutura social vigente. Além do mais, a concepção crítico-reprodutivista limita-se a analisar as relações entre educação e sociedade, não apresentando nenhuma teoria pedagógica que possa orientar a prática pedagógica dos educadores surge a tentativa de empreender a crítica da “teoria do capital humano”. FUSARI, J.C. A educação do educador em serviço; o treinamento de professores em questão. São Paulo PUC/SP - (mestrado Fil. da Educação) - PUC/SP. A doutrina neoliberal teve início na segunda metade dos anos 1970, tornou-se hegemônica nos de 1980 e inspirou a reforma conservadora dos anos de 1990, correspondendo a uma necessidade objetiva das elites fi nanceiras internacionais, que se sentiam tolhidas e ameaçadas pelo dirigismo econômico, imposto por governos nos quais o movimento operário conseguia imprimir alguma infl uência. No Brasil, na década de 1980, com a Constituição de 1988 instituiram-se em lei, os direitos do cidadão. Apesar da dimensão de participação que é atribuídaà cidadania é sempre uma participação na conquista de direitos, eles não são naturais como defendeu Jonh Lock, são resultado das lutas historicamente travadas, no quadro da vida social e do EstadoTP*PT. Na ordem burguesa, uma educação para a cidadania pode, por um lado ser uma formação para a conformação e aceitação das regras do capitalismo, mas também um confronto e ampliação de direitos sempre onerosos à histórica acumulação do capital. Se é para tornar-se propriedade do trabalhador, se é inalienável, que o capital humano seja “produzido” pelo poder público, mesmo que com a fi nalidade de servir ao capital; mas se é para tornar-se propriedade da classe hegemônica, se é passível de expropriação sem os ônus sociais dos investimentos na longevidade, por exemplo, então que seja o capital intelectual, objetivável, produzido sob o controle direto do empresariado. SANTOS, Aparecida de Fátima Tiradentes dos - FIOCRUZ (EPSJV) http://www.anped.org.br/ reunioes/27/gt09/t095.pdf Termo usado para designar a disparidade entre o salário pago e o valor do trabalho produzido. Figura 45 - A exploração do trabalho caracteriza a mais-valia, disponível em: http://www.mundoeducacao.com.br/geografi a/ maisvalia.htm. Acesso em 05/10/2012. moldar todo o ensino brasileiro por meio da pedagogia tecnicista que, convertida em pedagogia oficial, foi encampada pelo aparelho de Estado que procurou difundi-la e implementá-la em todas as escolas do país. Pode-se observar que a concepção produtivista vem se mantendo como dominante ao longo das últimas quatro décadas, não se deve considerar que a versão da teoria do capital humano elaborada por Schultz tenha ficado intacta. Que preconizava o Estado do Bem-Estar Cancian, Renato. Estado do bem-estar social. Disponível em: <http://educacao.uol. com.br/sociologia/ult4264u30.jhtm>, dia 12/10/2010. A teoria do capital humano assume, pois, um novo sentido, sendo que, não se trata mais da iniciativa do Estado e das instâncias de planejamento visando assegurar, nas escolas, a preparação da mão de obra para ocupar postos de trabalho definidos num mercado que se expandia em direção ao pleno emprego. Agora é o indivíduo que terá que exercer sua capacidade de escolha visando adquirir os meios que lhe permitam ser competitivo no mercado de trabalho. E o que ele pode esperar das oportunidades escolares já não é o acesso ao emprego, mas apenas a conquista do status de empregabilidade. Também é conhecido por sua denomi- nação em inglês, Welfare State. Os termos servem basica- mente para designar o Estado assis- tencial que garante padrões mínimos de educação, saúde, habitação, renda e seguridade social a todos os cidadãos. É preciso esclarecer, no entanto, que todos esses tipos de serviços assisten- ciais são de caráter público e reconhe- cidos como direitos sociais que - a era de ouro do capitalismo. 91 Segundo a historiadora Otaíza Romanelli, faz com que as discussões sobre as questões da educação, profundamente ricas no período anterior, entrem “numa espécie de hibernação”. As conquistas do movimento renovador, infl uenciando a Constituição de 1934, foram enfraquecidas nessa nova Constituição de 1937. Marca uma distinção entre o trabalho intelectual, para as classes mais favorecidas, e o trabalho manual, enfatizando o ensino profi ssional para as classes mais desfavorecidas. Recorte do texto A educação passa a ser entendida como um investimento em capital humano individual que habilita as pessoas para a competição pelos empregos disponíveis. O acesso a diferentes graus de escolaridade amplia as condições de empregabilidade do indivíduo o que, entretanto, não lhe garante emprego, pelo simples fato de que, na forma atual do desenvolvimento capitalista, não há emprego para todos: a economia pode crescer convivendo com altas taxas de desemprego e com grandes contingentes populacionais excluídos do processo. É o crescimento excludente, em lugar do desenvolvimento inclusivo. Por outro lado propõe que a arte, a ciência e o ensino sejam livres à iniciativa individual e à associação ou pessoas coletivas públicas e particulares, tirando do Estado o dever da educação. Mantém ainda a gratuidade e a obrigatoriedade do ensino primário Também dispõe como obrigatório o ensino de trabalhos manuais em todas as escolas normais, primárias e secundárias. No contexto político o estabelecimento do Estado Novo, o governo vargas e o equilíbrio entre a pedagogia tradicional e a pedagogia nova de Azilde L. Andreotti, Doutora em Filosofia e História da Educação pela UNICAMP. No período do Estado Novo (1937 - 1945), com refl exo de tendências fascistas é outorgada uma nova Constituição em 1937. A orientação político-educacional para o mundo capitalista fi ca bem explícita em seu texto sugerindo a preparação de um maior contingente de mão de obra para as novas atividades abertas pelo mercado. Nesse sentido, a nova Constituição enfatiza o ensino pré-vocacional e profi ssional. BARBOSA, R. C. Educação Popular e a construção de um poder ético. Disponível em <http://www. espacoacademico.com.br/078/78barbosa.htm>. Acessado em 20 de agosto de 2008. FREIRE, P. (1987). Pedagogia do Oprimido. 27. ed. RJ, Paz e Terra. Vale a pena Vale a pena ler Moraes, Maria Célia Marcondes de. Educação e Política nos Anos 30: a Presença de Francisco Campos. Disponível em <http://www.rbep.inep.gov. br/index.php/RBEP/article/viewFile/452/457>, acesso em 12/01/2010. Vale a pena acessar 1 - Os acontecimentos pertinentes à educação brasileira ocorridos nos anos de 1930. a) Diz respeito os acontecimentos educacionais ocorridos entre os anos de 1930, a influência da Retomando a aula Vamos encerrar esta aula. Mas perceberam quantas novas informações obtivemos? Para fi nalizar, vamos recordar? Revolução industrial e os investimentos realizados na educação brasileira. Os anos de 1930 foram férteis em relação à nova educação. b) Os novos métodos de ensino visavam à auto educação e a aprendizagem surgia de um processo ativo. c) A participação dos organismos sociais no processo político e econômico e a educação da Era Vargas. 2 - A educação brasileira: concepção pedagógica renovadora (1932-1969). a) As propostas do Manifesto dos Pioneiros sobre educação, publicadas em 1932, foram defendidas por educadores de ideário renovador versus o movimento conservador. b) A aprovação da Constituição de 1934 e a educação como um direito de todos. c) A promulgação da Lei de Diretrizes e base da Educação Nacional n. 4024/61. 3 - A educação nas décadas de 1970 a 1980 a) A concepção crítico-reprodutivista – ao processo educativo da produção da mais valia. b) A pedagogia tecnicista instituída pela LEI DE Diretrizes e Base da Educação Brasileira n. 5.692/71. História da Educação 92 “Vidas Secas”, dirigido por Pereira dos Santos, é baseado no conto de Graciliano Ramos, que narra a estória de uma família de nordestinos afugentada de sua casa pela seca. Disponível em: <http:// www.youtube.com/watch?v=DCTnivj9cz4>. Acesso em 01/11/2012. “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, do diretor Glauber Rocha, lida de maneira alegórica com o fanatismo religioso e político no Nordeste. Disponível em: <http://www.youtube.com/ watch?v=mS81fFWbJCY>. Acesso em 01/11/2012. “Noite Vazia” exibe um tema mais voltado para o urbano, retratando a dor e solidão das pessoas que moram num grande centro industrial como São Paulo. Disponível em: <http://www.youtube.com/ watch?v=CajORmdL93s>. Acesso em 01/11/2012. Vale a pena assistir