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O REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO- uma analise critica a luz da dignidade da pessoa humana

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FACULDADE PROJEÇÃO
ESCOLA DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS
CURSO DE DIREITO
O REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO: 
uma análise crítica a luz da dignidade da pessoa humana
THE DISCIPLINARY DIFFERENTIAL:
a critical analysis of the light of human dignity
SOBRADINHO – DF
2015
O REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO: 
uma análise crítica a luz da dignidade da pessoa humana
THE DISCIPLINARY DIFFERENTIAL:
a critical analysis of the light of human dignity
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado perante Banca Avaliadora do curso de Direito da Escola de Ciências Jurídicas e Sociais da Faculdade Projeção como pré-requisito para a aprovação na disciplina de TCC 2 e para obtenção do grau de bacharel em Direito.
Área de concentração: Direito Penal.
Orientador: Prof. Rubens Luiz Bernardes da Costa.
SOBRADINHO – DF
2015
RESUMO: O tema abordado neste trabalho é o Regime disciplinar diferenciado, que é uma modalidade de sansão disciplinar instituído pela lei 10.792 de 2003, incluindo-o na Lei de Execução Penal (LEP), onde apresentou as hipóteses e condições de sua aplicabilidade. O assunto se justifica por, em tese, violar princípios constitucionais, tais como, o princípio da dignidade da pessoa humana que é a base da Constituição Federal. O problema apresentado, portanto, é a falta de objetividade na Lei que implantou o Regime Disciplinar Diferenciado, bem como, a afronta a princípios Constitucionais. O objetivo é analisar comparativamente se há ou não constitucionalidade neste Regime disciplinar. A pesquisa realizada deve ser denominada como bibliográfica, em razão da amplitude do tema, obtida através da leitura de artigos e doutrinas jurídicas. A metodologia escolhida foi o método Dialético, tendo em vista que a mesma não trabalha de forma estática, mas aborda o tema da forma de evolução histórica, social e progressivo, que vai ao encontro com o objetivo geral do presente trabalho que é demonstrar que o regime implantado na Lei de Execução Penal trouxe prejuízos a presos provisórios e sentenciados, ao sistema carcerário brasileiro como um todo, bem como conflitou com fundamentos constitucionais, especialmente o princípio da dignidade da pessoa humana.
PALAVRAS-CHAVES: Princípios; Inconstitucionalidade; Regime Disciplinar Diferenciado; RDD; Constituição Federal.
ABSTRACT: The issue addressed in this paper is the differentiated disciplinary regime, which is a form of disciplinary sanction imposed by the Law 10,792 of 2003, including it in the Law of Penal Execution (LEP), which presented the opportunities and conditions for its applicability. The subject is justified because, in theory, violate constitutional principles such as the principle of human dignity which is the basis of the Constitution. The problem presented is therefore a lack of objectivity in the law that established the Differentiated Disciplinary Regime, as well as the affront to Constitutional principles. The aim is to analyze whether or not this constitutionality Disciplinary measures. The survey should be termed as literature, because of the breadth of the subject, obtained by reading articles and legal doctrines. The chosen methodology was the dialectic method in order that it does not work in a static way, but addresses the issue of form of historical, social and progressive evolution, which meets with the overall objective of this work is to demonstrate that the deployed regime in the Prison Law brought harm to pre-trial detainees and sentenced, the Brazilian prison system as a whole, and conflicted with constitutional foundations, especially the principle of human dignity.
KEYWORDS: Principles; Unconstitutional; Differentiated Disciplinary Regime; RDD; Federal Constitution.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
O Regime disciplinar diferenciado (RDD) é uma modalidade de sansão disciplinar instituído pela lei 10.792 de 2003, incluindo-o na Lei de Execução Penal (LEP), alterando o artigo 52 da LEP, que apresentou as hipóteses e condições em que o Regime disciplinar diferenciado poderá ser aplicado.
Desta forma deve-se abordar o RDD de uma forma analítica, observando princípios constitucionais, bem como, direitos e garantias protegidas através da Constituição Federal. 
O objetivo geral é analisar argumentos doutrinários, jurisprudenciais, bem como, pesquisas na legislação, direitos e garantias fundamentais, bem como, princípios para que, desta forma, poder chegar a conclusão se tal Regime disciplinar diferenciado é ou não é constitucional.
Desta forma, insta salientar que são objetivos específicos a análise de penas e suas peculiaridades, a análise de princípios e garantias fundamentais do ser humano, bem como, uma análise do Regime Disciplinar Diferenciado.
A metodologia utilizada é denominada de bibliográfica, vez que as fontes de pesquisas utilizadas, bem como a amplitude do tema está baseada em artigos publicados, doutrinas e dissertações, uma vez que o tema em questão ainda é muito discutido e debatido entre inúmeros juristas. 
É importante analisar também alguns princípios que norteiam o sistema penal brasileiro e principalmente a constitucionalidade de um instituto tão importante quanto ao Regime Disciplinar Diferenciado.
Em suma, é importante o questionamento de quais os critérios atuais para considerar constitucional o Regime disciplinar diferenciado no sistema penal brasileiro? 
DAS PENAS NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO
Pena é uma sansão imposta pelo Estado, por intermédio de uma ação penal, ao autor de uma infração, como retribuição do seu ato ilícito, cujo objetivo é evitar novos delitos.
Nesse sentido, Capez conceitua e acrescenta que pena é uma sanção penal de caráter aflitivo imposta pelo estado, em execução de uma sentença, ao culpado pela prática de uma infração penal, consistente na restrição ou privação de um bem jurídico, cuja finalidade é aplicar a retribuição punitiva ao delinquente, promover a sua readaptação social e prevenir novas transgressões pela intimidação dirigida à coletividade.” (2012, p. 385).
Desta forma, a pena surgiu com a intenção de punir determinadas condutas e desta forma, inibindo-as, fazendo com que o agente não venha cometer novos ilícitos. Esta, também possui a finalidade de proteção da sociedade, resguardando esta da criminalidade e evitando novos delitos.
Espécies de pena
Os crimes realizados devem ser punidos de acordo com a gravidade da conduta realizada e desta forma, as penas são classificadas como pena privativa de liberdade, pena restritiva de direitos e pena de multa.
As penas privativas de liberdade retiram do meio social o agente que cometeu alguma ilicitude, privando-o de sua liberdade. Esta pena é considerada a mais utilizada em nosso sistema penal e são classificadas em reclusão, detenção e prisão simples.
As penas restritivas de direito, também chamadas de penas alternativas são impostas aos condenados que praticam infrações consideradas mais brandas e desta forma não o é privado de sua liberdade.
De acordo com o artigo 43 do Código Penal, as penas restritivas de direito são classificadas em prestação pecuniária, perda de bens e valores, prestação de serviços à comunidade ou às entidades públicas, interdição temporária de direitos e limitação de fim de semana.
   
Já a pena de multa, é uma sanção penal, fixada na sentença pelo juiz, levando em consideração todas as circunstancias bem como, o grau de culpabilidade e situação do condenado, sendo esta pena, calculada em dias multa, através do pagamento de uma determinada pecúnia ao fundo penitenciário, podendo ser no mínimo dez chegando ao máximo de trezentos e sessenta dias multa, podendo ser também cumulativa ou alternativa.
Regimes de cumprimento de pena
Ao existir uma condenação por pena privativa de liberdade, o juiz além de fixar a pena deve também estabelecer o regime inicial de cumprimento desta, observando para cada caso a condutasocial do agente, a gravidade do delito e as circunstancias judiciais.
Os regimes de cumprimento da pena privativa de liberdade são classificados em regime fechado, regime semiaberto e regime aberto.
O Regime fechado é quando o indivíduo é submetido a incialmente cumprir a pena em estabelecimento prisional de segurança máxima ou media, sem direito a saídas externas.
No regime semi-aberto as saídas externas podem ser autorizadas e o estabelecimento prisional deve ser em colônias agrícolas, industriais ou similares, podendo o condenado ficar alojado em locais coletivos.
O regime aberto é aplicado para crimes menos graves e contravenções penais, tendo como finalidade a ressocialização e autodisciplina do condenado e, desta forma, o condenado deverá cumprir a pena em casa de Albergado, contendo palestras ou cursos, onde ficará recolhido apenas para o repouso noturno e nos dias de folga. 
Progressão de Regime
O ordenamento Jurídico Brasileiro utiliza como um dos princípios penais a progressão de regime, ou seja, a pena privativa de liberdade está sujeita a progressão durante a sua realização. Esta se dá através da transferência do condenado de um regime mais severo para um mais brando após o cumprimento de um sexto da pena e, caso o agente tenha mérito de bom comportamento.
É importante ressaltar que não existe progressão de regime por salto, ou seja, deve-se progredir de forma gradativa, porém, caso o condenado venha a praticar fato definido como crime doloso, falta grave ou sofrer condenação por crime anterior que, somando a pena seja incabível tal regime, este estará submetido a regressão de regime e não há nenhum impedimento que seja por saltos.
Destarte que este instituto corrobora com a finalidade da pena que é a de ressocializar o indivíduo que cometeu um fato considerado como crime e, de maneira gradual, possibilitar a reinserção na sociedade protegendo-o da reincidência.
PRINCÍPIOS A SEREM OBSERVADOS E ANALISADOS
Para Bitencourt, os princípios têm função de auxiliar o legislador, orientando e limitando o poder do Estado, garantindo o controle da aplicação do Direito Penal, visando os direitos fundamentais. (2008, p.10)
A Constituição Federal enumerou os direitos e garantias fundamentais dos quais, estão inseridos no Artigo 5º e são cláusulas pétreas, dentre tais, destacam-se os inseridos nos incisos III, XLVII, alínea “e”, e inciso XLIX, que disciplinam respectivamente: ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante, não haverá penas cruéis e é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral. É de todo óbvio, nenhuma pena pode voltar-se contra a dignidade do ser humano, devendo ser respeitado os princípios penais existentes.
Princípio da dignidade da pessoa humana
O princípio da dignidade da pessoa humana está elencado no artigo 1º, inciso III da Constituição Federal. Este princípio é considerado de maior importância, expressando uma forma de guia para todo o ordenamento jurídico.
Grande é a sua importância que, diante do direito penal, pode determinar a inconstitucionalidade de qualquer punição que venha obter lesão à integridade física, ou moral contra a pessoa. 
Neste sentido Rogerio Grecco afirma:
 
[...] “mesmo reconhecendo a sua existência, conceituar dignidade da pessoa humana continua a ser um enorme desafio. Isto porque tal conceito encontra-se no rol daqueles considerados vagos e imprecisos. É um conceito, na verdade, que, desde a sua origem, encontra-se em um processo contínuo de construção. Não podemos, de modo algum, edificar um muro com a finalidade de dar contornos precisos a ele, justamente por ser um conceito aberto” [...]
[...] Como princípio constitucional, a dignidade da pessoa humana deverá ser entendida como norma de hierarquia superior, destinada a orientador todo o sistema no que diz respeito à criação legislativa, bem como para aferir a validade das normas que lhe são inferiores. Assim, por exemplo, o legislador infraconstitucional estaria proibido de criar tipos penais incriminadores que atentassem contra a dignidade da pessoa humana, ficando proibida a cominação de penas cruéis, ou de natureza aflitiva, a exemplo dos açoites, mutilações, castrações, etc.”. (2011, p.67- 71)
 Nesse contexto, Greco continua:
“Veja-se, por exemplo, o que ocorre com o sistema penitenciário brasileiro. Indivíduos que foram condenados ao cumprimento de uma pena privativa de liberdade são afetos, diariamente, em sua dignidade, enfrentando problemas como superlotação carcerária, espancamentos, ausência de programas de reabilitação, falta de cuidados médicos, etc. A ressocialização do egresso é uma tarefa quase impossível, pois não existem programas governamentais para a sua reinserção social, além do fato de a sociedade, hipocritamente, não perdoar aquele que já foi condenado por ter praticado uma infração penal.
É evidente que a dignidade da pessoa humana – assim como nenhum outro direito fundamental, não é absoluta. Com isso, pretende-se dizer que o Estado, em determinadas situações, pode privar o cidadão, temporariamente, de alguns de seus direitos fundamentais em prol de outros princípios que também são garantidos pela própria Constituição. Como exemplo, tem-se que, em busca da pacificação social, o Estado tem o poder de punir o infrator de suas leis (penais), privando-o, temporariamente, de sua liberdade (direito fundamental)”. (2011, p. 103)
A dignidade humana consiste na garantia de condições adequadas e justas de vida ao cidadão englobando o respeito, bem como a proteção a sua integridade física e mental.
O Ilustre doutrinador Cunha Junior também explica:
A dignidade da pessoa humana assume relevo como valor supremo de toda sociedade para o qual se reconduzem todos os direitos fundamentais da pessoa humana. É uma “qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz merecer do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimais para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa e co-responsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos. (2009, p. 527-528)
Neste contexto, até pela privilegiada posição geográfica na da Constituição Federal, o princípio sob estudo é matriz e norma interpretativa orientadora de todas as demais leis subsequentes, dentre as quais, incluem-se os dispositivos referentes à execução de pena, devendo em todos os casos ser observado, não podendo, entretanto, ser violado.
Princípio da Proporcionalidade
A pena aplicada deverá ser proporcional à gravidade do ilícito cometido, devendo ser analisado o grau de reprovabilidade e o potencial ofensivo que este venha a oferecer à sociedade.
Em relação a este princípio Luiz Regis Prado ensina:
“Desse modo, no tocante à proporcionalidade entre os delitos e as penas (poena debet commensurari delicto), salienta-se que deve existir sempre uma medida de justo equilíbrio – abstrata (legislador) e concreta (juiz) – entre a gravidade do fato ilícito praticado, do injusto penal (desvalor da ação e desvalor do resultado), e a pena cominada ou imposta. Em suma, a pena deve estar proporcionada ou adequada à intensidade ou magnitude da lesão ao bem jurídico representado pelo delito e a medida de segurança à periculosidade criminal do agente”. (2008. p. 141)
Portanto, a pena ao ser aplicada deverá respeitar e analisar a intensidade da lesão, bem como, o índice de periculosidade do agente.
Vedação à tortura, tratamento desumano e penas cruéis no Brasil
Conforme preleciona a Constituição Federal em seu artigo 5º, ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante, não haverá penas cruéis e é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral. É de todo óbvio, nenhuma pena podevoltar-se contra a dignidade do ser humano.
Prediz o artigo 5º, inciso XLVII da constituição: “Não haverá penas: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do artigo 84, XIX; b) de caráter perpétuo; c) de banimento; d) cruéis.”
Conforme elencada acima, a Constituição Federal veda expressamente, dentre outras, as penas consideradas cruéis, bem como a tortura e tratamento degradantes, inserindo tal proibição no rol de direitos e garantias fundamentais do homem, pois tais penas não condizem com o desenvolvimento da sociedade atual, além de ir em confronto com o princípio da dignidade humana.
Ney Moura Teles defende que a própria pena privativa de liberdade é um mal que não resolve coisa alguma, ao contrário, traz enormes prejuízos para a sociedade, afirmando ainda que o caminho é outro, ou seja, a criação de novas modalidades de sanções penais, com a abolição da própria pena de prisão. (1996, p. 89)
Além das vedações constantes na Constituição Federal, o Brasil assinou a Convenção Americana dos Direitos Humanos (Pacto San José da Costa Rica), bem como ratificou a Declaração de Direitos Humanos, que veda expressamente toda e qualquer forma de penas cruéis que venha em confronto com a Dignidade da pessoa Humana.
Haja vista a total proibição de penas que não estão em conformidade com a dignidade humana, Ney Moura Teles afirma que é quase a totalidade dos presos brasileiros que estão cumprindo penas em total desrespeito à Constituição e à Lei de Execução Penal, ou seja, de modo cruel, desrespeitando à integridade física e moral do condenado, haja vista inúmeras notícias de prisões superlotadas, tratamento desumano e degradante, verdadeira crueldade, violando a Carta Constitucional. (1996, p.93)
Ney Moura Teles defende:
O homem, apesar de condenado, ou preso, não deixa de ser homem, e, continua preso, com todos os seus direitos, com exceção apenas dos incompatíveis com a perda da liberdade. De consequência, deve ser protegido, enquanto ser humano e cidadão. Principalmente porque é um ser destituído de liberdade, incapaz de, por isso, defender-se em sua plenitude. O homem encarcerado, algemado, não é capaz de enfrentar a maior parte das dificuldades e dos percalços da vida em prisão. (1996, p. 94)
Princípio da Ressocialização
O princípio da ressocialização vai de encontro ao objetivo da pena que é de inserir e reintegrar o condenado a sociedade após o cumprimento de sua pena e, desta forma, um dos institutos ligados a ressocialização é o da Remissão de pena que oferece ao indivíduo a possibilidade de remir pena em razão de dias trabalhados ou de estudos. 
É considerada uma forma de confiança em que o Estado deposita no condenado, podendo este descontar a cada 3 dias de trabalho, 1 dia de pena, ou, a cada 12 horas de estudo dividido em 3 dias, 1 dia de pena será remido, dando a oportunidade de, além do aprendizado e da profissionalização que estará adquirindo durante o seu encarceramento, diminuir a quantidade de dias determinada em sua pena.
A ressocialização do indivíduo objetiva promover e incentivar a reintegração do apenado ao convívio social, tendo como fatores fundamentais a responsabilidade e o compromisso tanto da sociedade quanto do Estado.
 Princípio da presunção de inocência
O art. 5ª, LVII, informa que: “Ninguém será considerado culpado, até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”. 
Dessa forma, este princípio diz que ninguém poderá ser punido arbitrariamente, devendo-se haver uma sentença terminativa com contraditório e ampla defesa, ou seja, é necessário que haja uma comprovação sobre o fato determinante da inclusão.
Nas palavras de André Ramos Tavares, a presunção da inocência trata-se de um princípio penal, de que ninguém pode ser tido por culpado pela prática de qualquer ilícito senão após ter sido como tal julgado pelo juiz natural, com ampla oportunidade de defesa. (2002, p. 475), ou seja, a presunção da inocência veda que se aplique qualquer consequência ao indivíduo antes do transito em julgado de uma sentença condenatória.
O REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO NO BRASIL
O Regime Disciplinar Diferenciado é uma espécie de punição aplicada a presos condenados ou provisórios com o intuito de resguardar a ordem, a proteção e disciplina interna dos estabelecimentos prisionais, desta forma, é cumprido em estabelecimento de segurança Máxima.
O Regime Disciplinar Diferenciado é uma modalidade de sanção desta forma não deve ser confundido com um tipo de regime de cumprimento de pena. 
Júlio Fabbrini Mirabete complementa que o regime disciplinar diferenciado não constitui um regime de cumprimento de pena em acréscimo aos regimes fechado, semi-aberto e aberto, nem uma nova modalidade de prisão provisória, mas sim um regime de disciplina carcerária especial, caracterizado por maior grau de isolamento do preso e de restrições ao contato com o mundo exterior, a ser aplicado como sanção disciplinar ou como medida de caráter cautelar, tanto ao condenado como ao preso provisório, nas hipóteses previstas em lei ".(2004, p. 116)
Surgimento do RDD no Brasil
O Regime Disciplinar diferenciado deu origem no Estado de São Paulo, devido a diversas rebeliões, dentre elas, a ocorrida no Município de Taubaté, pelo qual vinte e cinco unidades prisionais foram tomadas. 
Devido a esses acontecimentos, foi editada a Resolução 26/2001, da Secretaria de Administração Penitenciaria de São Paulo, para a tentativa do combate ao crime organizado e, um dos requisitos dessa Resolução era a possibilidade de isolamento total dos líderes de organizações criminosas e também dos detentos que mantiverem o comportamento inadequado nas penitenciarias, por até trezentos e sessenta dias.
Tendo como inspiração o que havia sido implantado nos estabelecimentos prisionais de São Paulo, a Lei de Execuções Penais foi alterada pela Lei nº 10.792, de dezembro de 2003, com a inclusão do chamado Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) em todo Brasil.
 Características e requisitos do RDD
Segundo a Lei de Execuções Penais, a sansão do Regime Disciplinar Diferenciado poderá ter a duração máxima de trezentos e sessenta dias, podendo haver repetição, mesmo que seja por falta grave da mesma espécie, sendo limitada até um sexto da pena aplicada.
Enquanto o preso estiver submetido ao RDD, este será recolhido em cela individual, tendo direito a visita de duas pessoas por semana, com duração de duas horas e, além disso, o banho de sol será realizado em duas horas diárias.
O Regime Disciplinar Diferenciado possui características próprias conforme preleciona o artigo 52, incisos I, II, III e IV, da Lei nº. 7.210 /84:
“Art.52 A prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave e, quando ocasione subversão da ordem ou disciplina internas, sujeita o preso provisório, ou condenado, sem prejuízo da sanção penal, ao regime disciplinar diferenciado, com as seguintes características:
I - duração máxima de trezentos e sessenta dias, sem prejuízo de repetição da sanção por nova falta grave de mesma espécie, até o limite de um sexto da pena aplicada;
II - recolhimento em cela individual;
III - visitas semanais de duas pessoas, sem contar as crianças, com duração de duas horas;
IV - o preso terá direito à saída da cela por 2 horas diárias para banho de sol ".
§ 1o O regime disciplinar diferenciado também poderá abrigar presos provisórios ou condenados, nacionais ou estrangeiros, que apresentem alto risco para a ordem e a segurança do estabelecimento penal ou da sociedade.
§ 2o Estará igualmente sujeito ao regime disciplinar diferenciado o preso provisório ou o condenado sob o qual recaiam fundadas suspeitas de envolvimento ou participação, a qualquer título, em organizações criminosas, quadrilha ou bando.”
 O procedimento para aplicação do RDD
A imposição desse regime depende de decisão do juiz das execuções penais e poderá ter lugar, de acordo com a norma legal, sempre que ocorrer “a prática de fato previsto como crime doloso” ou que provoque“subversão da ordem ou disciplina internas”. 
Também ficam sujeitos ao regime o preso que apresentar “alto risco para a ordem e a segurança do estabelecimento penal ou da sociedade” e aquele sobre o qual recaiam “fundadas suspeitas de envolvimento ou participação, a qualquer título, em organizações criminosas, quadrilha ou bando”.
 ADIN 4.162 proposta pela OAB 
O Regime Disciplinar Diferenciado desde sua inserção a LEP vem sendo atacado e criticado por inúmeros juristas e advogados e, desta forma, a Ordem dos Advogados do Brasil propôs em 2008 uma Ação de direta de Inconstitucionalidade (ADIN 4.162) para questionar a legislação devido a vasta afronta a princípios constitucionais e aos direitos e garantias elencados na Constituição Federal.
A ação proposta pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados - OAB pretende que seja declarada a inconstitucionalidade do Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) por afrontar a dignidade da pessoa humana, a vedação da tortura, de penas cruéis e de tratamento degradante, o devido processo legal, ampla defesa, contraditório e as determinações constitucionais de cumprimento de pena. 
“Os termos legalmente instituídos de aplicação do RDD, que incluem isolamento prolongado do preso, incomunicabilidade, severa restrição no recebimento de visitas, entre outras medidas, aviltam o princípio fundamental da dignidade da pessoa humana (art.1º, III), agredindo também as garantias fundamentais de vedação à tortura e ao tratamento desumano ou degradante (art.5º, III) e de vedação de penas cruéis (art.5º, XLVII, “e”)”, argumentou a OAB na petição inicial.
Para a OAB, o tratamento instituído pelo Regime Disciplinar Diferenciado é desumano e degradante porque leva ao isolamento, à suspensão e à restrição de direitos por tempo prolongado. A pessoa fica até 360 dias no regime. O prazo pode ser prorrogado em casos de reincidência. “A aplicação do regime, que inclui isolamento, incomunicabilidade e severas restrições no recebimento de visitas, entre outras medidas, aviltam o princípio fundamental da dignidade da pessoa humana e agride as garantias fundamentais de vedação à tortura e ao tratamento desumano ou degradante, e de vedação de penas cruéis”, afirma a ADI.
A falta de objetividade do legislador torna a interpretação um tanto confusa, dando margens a diferentes interpretações, o que em se tratando de execução penal e de normas tão duras é um tanto temerário, um exemplo disso são as expressões: “fundada suspeita de envolvimento ou participação do custodiado, a qualquer título, em organizações criminosas”, e, “fundado risco para a ordem e segurança do estabelecimento penal ou da sociedade”.
OUTRAS CONSIDERAÇÕES A CERCA DA (IN)CONSTITUCIONALIDADE DO RDD
   
Conforme amplamente demonstrado, a lei que inseriu do Regime Disciplinar diferenciado não traz uma forma objetiva de se caracterizar os agentes que devem ser inseridos neste sistema, impondo tratamento igualitário a presos provisórios e condenados sob fundamentos vagos, ferindo além do princípio da dignidade da pessoa humana, o princípio da presunção de inocência, por esse e tantos outros motivos que é tão criticado.
 
 “A pena aplicada deve ser humana, uma vez que sua aplicação recairá contra um indivíduo que precisa ter sua dignidade respeitada acima de tudo” (KUNEL, 2005, p.50).
Esse isolamento celular diuturno de longa duração é um dos mecanismos de tortura do corpo e da alma do condenado e manifestamente antagônico ao princípio constitucional da dignidade da pessoa humana (DOTTI, op. cit., p. 22).
O Regime Disciplinar Diferenciado acaba transformando-se em uma punição de natureza cruel, pois representa o tratamento desumano ou degradante do preso, colocando em risco a integridade física e moral, desrespeitando o valor supremo: a dignidade da pessoa humana.
Imperioso ressaltar que já possui um entendimento da inconstitucionalidade do Regime Disciplinar Diferenciado, através do julgado do Habeas Corpus nº. 978.305.3/0-00 do Tribunal de Justiça de São Paulo, oriundo da Primeira Câmara do referido Tribunal:
"(...) O chamado RDD (Regime disciplinar diferenciado), é uma aberração jurídica que demonstra à sociedade como o legislador ordinário, no afã de tentar equacionar o problema do crime organizado, deixou de contemplar os mais simples princípios constitucionais em vigor. (...) Independentemente de se tratar de uma política criminológica voltada apenas para o castigo, e que abandona os conceitos de ressocialização ou correção do detento, para adotar" medidas estigmatizastes e inocuizadoras "próprias do" Direito Penal do Inimigo ", o referido "regime disciplinar diferenciado" ofende inúmeros preceitos constitucionais". E continua o insigne Magistrado, "trata-se de uma determinação desumana e degradante (art. 5º , III , da CF), cruel (art. 5º , XLVII , da CF), o que faz ofender a dignidade humana (art. 1º , III , da CF). (...) O Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, ao entender como inconstitucional o citado regime disciplinar, ainda deixou evidente que a medida" é desnecessária para a garantia da segurança dos estabelecimentos penitenciários nacionais e dos que ali trabalham, circulam e estão custodiados, a teor do que já prevê a Lei 7.210 /84 ".
CONCLUSÃO
Pelo que restou demonstrado, a pena nada mais é do que a punição do Estado ao ilícito cometido pelo agente, porém, deve a pena ser imposta observados todos os princípios e regras que norteiam o Ordenamento Jurídico Brasileiro.
Verificou-se ainda que o Regime disciplinar diferenciado, como sanção imposta aos indivíduos afronta fortemente as normas principiológicas constitucionais, quais sejam, a dignidade da pessoa humana; vedação de penas cruéis; princípio da ressocialização; princípio da presunção de inocência; dentre tantos outros princípios estabelecidos no Direito Penal Brasileiro.
Ao que parece, à inconstitucionalidade na lei que instituiu o Regime Disciplinar Diferenciado, haja vista que a pena imposta é executada além dos limites permitidos por lei, ofendendo ainda, os princípios acima referidos, em especial o respeito à dignidade humana. 
Devido ao excessivo tempo em que pode ser submetido ao isolamento absoluto, bem como, critérios pouco claros e subjetivos para a implantação do preso no referido regime, há uma enorme afronta e desrespeito aos princípios elencados, bem como aos direitos fundamentais do ser humano, por infligir sofrimento excessivo e desnecessário ao detento, uma vez que não atinge apenas a integridade física, mas também a psicológica.
Em suma, restou demonstrado que tal regime foi implantado apenas para o castigo, abandonando os conceitos de ressocialização ou recuperação do detento, tratando-se de uma punição que apenas ofende preceitos fundamentais, como nítida adoção do direito penal do inimigo em nosso ordenamento jurídico.
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.792.htm (LEI Nº 10.792, DE 1º DE DEZEMBRO DE 2003. Acessado em 10 de Outubro de 2015).

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