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Cultura Um conceito antropológico - Roque de Barros Laraia_Resumo

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Resumo do livro: CULTURA - UM CONCEITO ANTROPOLÓGICO – ROQUE DE BARROS LARAIA
Afinal de contas, o que é Cultura?
O autor divide seu livro em duas partes sendo primeira delas (Da Natureza da Cultura ou Da Natureza à Cultura) é mais teórica uma vez que ele aborda o desenvolvimento que o conceito de cultura sofreu ao longo dos anos. A segunda parte (Como Opera a Cultura) aborda é mais prática evidenciando como as diferentes culturas influenciam o comportamento social e diferenciam toda a humanidade entre si.
No primeiro e no segundo capítulo do livro Roque Laraia desmistifica antigas formas de explicar os diferentes padrões culturais da humanidade. Inicialmente ele aborda o “Determinismo Biológico” que afirma que a composição física e biológica do homem era o motivo pelo qual eles agiam do modo que agiam. Ele derruba essa ideia com um simples exemplo da divisão sexual do trabalho mostrando que essa relação é diferenciada de cultura pra cultura, embora todas tenham a presença de homens e mulheres. Em seguida ele trata do “Determinismo Geográfico” que o meio em que uma sociedade se encontra determina a maneira como ela vai agir. Mais uma vez ele derruba essa teoria mostrando exemplos de vários povos que compartilham um mesmo ambiente geográfico, mas tem hábitos distintos.
No capítulo 3 o autor trata de como o conceito de cultura começou a ser pensado. Laraia menciona vários nomes que se destacam por serem os primeiros a fazer isso, tais como Edward Tylor, que foi o primeiro a formular um conceito para o termo “cultura”; John Locke, que começou a pensar em nível de relativismo cultural; Jean-Jacques Rousseau que acreditava que a educação era o fator determinante para a existência da cultura entre os homens; e por fim Alfred Kroeber que eliminou de vez o determinismo biológico como o motivo principal para definir a cultura de uma sociedade.
No capítulo 4, possivelmente o mais longo do livro, Laraia trabalha o desenvolvimento do conceito de cultura ao longo dos anos. O grande fato que podemos destacar deste capítulo é a maneira como a academia passou a enxergar as raças humanas. Agora todas as raças eram consideradas realmente humanas. Podemos perceber isso na elaboração de Tylor sobre o conceito de cultura: “a uniformidade que tão largamente permeia entre as civilizações pode ser atribuída em grande parte a uma uniformidade de ação de causas uniformes” (p.30). Isso vai de encontro ao pensamento colonialista de que o negro e o índio não poderiam ser considerados humanos. Tylor assume que existia sim, uma uniformidade de comportamentos sociais em todas as raças. Ao enfatizar esse ponto Roque Laraia afirma que “mais do que preocupado com a diversidade cultural Tylor preocupa-se com a igualdade existente na humanidade”. 
Apesar de todas essas formulações serem baseadas na teoria evolucionista não podemos descartá-las por completo. Devemos dar o crédito que merecem, pois homens como Tylor foram acadêmicos que romperam com a mentalidade da época, trazendo igualdade a todas as raças humanas. É certo que eles acreditavam que a diversidade cultural acontecia porque algumas sociedades estavam mais adiantadas no estágio da evolução, mas reconheciam que sua própria sociedade europeia havia passado por esse estágio e com essa mentalidade igualavam todas as sociedades como sociedades humanas.
Franz Boas começa a mudar a essa mentalidade acadêmica reconhecendo que todas as sociedades não podem ter o mesmo padrão para serem avaliadas. Pelo contrário, “cada cultura segue seus próprios caminhos em função dos diferentes eventos históricos que enfrentou.” (p.36). Com isso ele funda a Escola Cultural Americana com o particularismo histórico.
No capítulo 5 é enfatizado o surgimento da cultura entre a humanidade. A base principal de argumentação do autor é o evolucionismo. Segundo ele a cultura surgiu quando o cérebro do homem primata se evoluiu e passou a ser cérebro pensante. David Pilbeam e Kenneth Oakley defendem que a partir do momento em que o homem se portou ereto sobre dois pés ele teve uma nova perspectiva de visão, sendo isso o fator determinante para ter cultura. Para Lévi-Strauss a cultura se deu quando o homem formulou a primeira regra (nesse caso o incesto, proibição comum a todas as sociedades). Ao formularem esta regra todos os homens deveriam respeitá-la tornando-os, portanto, possuidores de cultura. Leslie White diz que o deu cultura aos homens foi sua habilidade de criar símbolos aos quais eles poderiam atribuir significados. Ao finalizar sua exposição sobre esse tema o autor menciona a tese de Geertz que diz que “a maior parte do crescimento cortical humano foi posterior e não anterior ao início da cultura”, ou seja, à medida em que o homem passa desenvolver níveis complexos de cultura, mais seu cérebro se desenvolvia. Laraia conclui que o homem não é somente aquele que gera a cultura, mas ele é o produto de sua cultura.
O capítulo 6 utiliza o artigo “Theories of Culture” de Roger Keesing como base para descrever os conceitos mais recentes do termo cultura. O autor do artigo destaca dois tipos de abordagens do conceito de cultura: cultura como um sistema adaptativo e teorias idealistas de cultura. Estas teorias idealistas se dividem em três abordagens principais. São elas:
 Cultura como sistema cognitivo: é um sistema onde o indivíduo adquire o conhecimento necessário sobre como opera a sua cultura. Só com posse desse conhecimento ele será aceito pela sociedade.
 Cultura como sistema estrutural: defendido por Lévi-Strauss essa abordagem mostra que a sociedade e as regras que a regem são compostas por diversas estruturas diferentes, nem sempre fáceis de identificar.
 Cultura como sistema simbólico: representada por Clifford Geertz essa abordagem afirma que, ao chegar em uma cultura, o indivíduo está apto para viver mil vidas pois está aberto para aprender novos comportamentos sociais.
Roque Laraia inicia a segunda parte de seu livro com uma das ilustrações mais acertadas para descrever termo cultura, criada por Ruth Benedict: “a cultura é como uma lente através da qual o homem vê o mundo.” (p.67). No início desta segunda parte ele nos mostra como a Cultura determina a cosmovisão do indivíduo que a compõe. Todos os valores e crenças de uma pessoa serão determinados pela cultura na qual ela está inserida. Assim sendo, não é difícil de imagina que, no contato interétnico, essa pessoa ache sua própria cultura melhor que a do outro. Para o autor, o etnocentrismo ocorre quando um indivíduo vê outra cultura com as lentes de sua própria cultura colocando-se acima do outro. E este é um fato notado em todas as sociedades humanas. Para evitar o etnocentrismo é preciso se aprofundar na cosmovisão do outro para entender o motivo de ele agir da maneira que age. “O ponto fundamental de referência não é a humanidade, mas o grupo.” (p.73)
Um assunto interessante que o autor aborda é a questão do envolvimento do indivíduo na sua sociedade. Não é possível que uma única pessoa conheça todos os aspectos possíveis da sua comunidade, ninguém é capaz de tal coisa. O indivíduo precisa sim de um conhecimento mínimo dos padrões de sua sociedade para se relacionar adequadamente dentro dela. Com posse desse conhecimento mínimo ele vai saber não só agir adequadamente, mas também aprenderá a prever as reações positivas ou coercivas da cultura. Esse é um fato que possivelmente não percebemos em nossa sociedade, mas cobramos das pessoas de outras sociedades. Nós enquanto pesquisadores, exigimos que o nosso informante tenha conhecimentos completos da sua cultura para fazermos uma boa pesquisa. Antes de olhar para a cultura do outro precisamos olhar para a nossa.
Roque Laraia intitula o capítulo 4 da segunda parte de “A Cultura tem uma lógica interna”. A princípio é possível confundir os argumentos deste capítulo com aqueles utilizados no capítulo 1, também da segunda parte: “A Cultura condiciona a visão de mundo do homem”. No entanto no capítulo 4 ele está mais preocupado mostrar que cada cultura apresenta explicações plausíveispara eventos do cotidiano do que em explicar a cosmovisão de cada povo. E é essa lógica interna que fornece os arcabouços para essas explicações. “as explicações encontradas pelos membros das diversas sociedades humanas são lógicas e encontram a sua coerência dentro do próprio sistema.” (p.91). Por isso devemos procurar conhecer essa a lógica interna quando chegamos a uma cultura diferente porque só conseguiremos entender as práticas daquela cultura se a observarmos do ponto de vista êmico. O autor diz que “nem sempre as relações de causa e efeito são percebidas da mesma maneira por homens de culturas diferentes.” (p.89). Ao usar a nossa cosmovisão para explicar o mundo do outro incorreremos no etnocentrismo.
Laraia não poderia deixar de concluir seu livro desmistificando um dos maiores mitos em relação às sociedades simples: as culturas são estáticas, os povos nunca mudam. Essa teoria popular é comum pelo fato das sociedades simples serem menos tendenciosas à mudança. O motivo é porque elas estão muito satisfeitas com sua cultura, mas isso não quer dizer que essas mudanças não ocorram.
Existem dois tipos de mudanças culturais que podem ocorrer em uma sociedade. A mudança interna é ocorre lentamente sendo motivada pelo interesse da própria sociedade que decide mudar seu padrão de comportamento para melhor se adaptar ao meio em que vivem. O outro tipo de mudança é mais brusca e ocorre principalmente pelo contato interétnico. O autor menciona que foi através do estudo desse tipo de contato que surgiu o termo “aculturação”. Sabemos, entretanto, que esse termo já não é mais visto como apropriado pelas ciências sociais de hoje, acredito que Laraia poderia ter aprofundado mais na explanação desse conceito mostrando o motivo por não ser mais utilizado pela antropologia atual.
Laraia ainda comenta que essas mudanças culturais causam desconforto para os diversos indivíduos de uma mesma sociedade. Ele cita o exemplo do conflito de gerações onde os filhos já não têm mais o mesmo conceito que seus pais tinham em relação a um determinado fato social. Ele explica bem o motivo desses conflitos ao dizer que “em cada momento as sociedades humanas são palco do embate entre as tendências conservadoras e inovadoras. As primeiras pretendem manter os hábitos inalterados (...). As segundas contestam a sua permanência e pretendem substituí-los por novos procedimentos.” (p.99).

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