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Parasitologia – Professora Daniela Bruna Bicalho – Famed 13 Agente Etiológico O agente causador da Malária é o protozoário Plasmodium. Filo: Apicomplexa Família: Plasmodiidae Gênero: Plasmodium Existem 5 espécies de Plasmodium que são capazes de causar Malária em humanos: 1. Plasmodium falciparum: É o plasmodium que causa a forma mais grave da doença. 2. Plasmodium vivax: É o plasmodium que mais aparece no Brasil. 3. Plasmodium malarie: É o plasmodium que causa a febre quartã (OBS: as outras espécies causam febre terçã). 4. Plasmodium ovale: É o plasmodium encontrado no continente africano. 5. Plasmodium knowlesi. No Brasil, os nomes populares da malária são: Paludismo, Impaludismo e Maleita. Vetor Vetor: é o veículo que transmite o parasito entre dois hospedeiros. O vetor da malária é a fêmea do mosquito anopheles. Somente as fêmeas do mosquito podem transmitir a malária, pois apenas elas são hematófogos (se alimentam de sangue). Ciclo da Doença Ciclo de Vida do Plasmodium O ciclo do Plasmodium é um ciclo heteroxênico, ou seja, o ciclo necessita de um hospedeiro definitivo (mosquito Anopheles) e outro intermediário (homem). As etapas do ciclo são: CICLO PRÉ ERITROCÍTICO: Ocorre no fígado. 1. As fêmeas do mosquito, durante a picada, injetam os esporozoítos na corrente sanguínea do homem. 2. Esses esporozoítos vão infectar as células do fígado (hepatócitos). Malária Parasitologia – Professora Daniela Bruna Bicalho – Famed 13 3. Dentro dos hepatócitos, os esporozoítos se multiplicam e formam o esquizonte. OBS.: O esporozoíto pode não seguir para os outros estágios e formar o hipnozoíto, que é a forma do Plasmodium que pode se manter latente no fígado. 4. Há a ruptura dos esquizontes nos hepatócitos, o que libera merozoítos na corrente sanguínea. 5. Os merozoítos livres na corrente sanguínea infectam as hemácias. CICLO ERITROCÍTICO: é quando ocorrem as manifestações clínicas. 6. Dentro das hemácias, o merozoíto vira trofozoíto imaturo, depois vira trofozoíto. É formado o esquizonte, que novamente será rompido, liberando merozoítos. Esses novos merozoítos podem infectar outras hemácias. 7. Alguns trofozoítos, ao invés de seguir o ciclo até se tornarem merozoítos para infectar outras hemácias, se diferenciam em gametócitos. 8. Esse gametócito é a forma que será ingerida pelo mosquito no contato da picada. CICLO ESPOROGÔNICO: é quando há a reprodução do plasmodium. 9. O gametócito se transforma em macrogametócitos (que são os gametas femininos) e microgametócitos (que são os gametas masculinos). E ocorre a fecundação entre os dois. 10. Após a fecundação, há a formação do oocineto. 11. Em seguida, os oocinetos dão origem aos oocistos. 12. O oocisto é rompido, liberando esporozoítos, que permanecem na glândula salivar do mosquito. Mecanismos de Transmissão Os mecanismos de transmissão da malária são: Vetorial: através da picada da fêmea do mosquito anopheles infectado. É a forma mais comum de transmissão. Transfusão sanguínea: pouquíssimos casos relatados Congênita: pouquíssimos casos relatados. Parasitologia – Professora Daniela Bruna Bicalho – Famed 13 Sinais Clínicos As manifestações clínicas da malária sempre vão ocorrer durante o ciclo eritrocítico, ou seja, apenas quando o plasmodium começa a infectar as hemácias. Quando ele está presente no fígado, ainda não há sintomas. Os principais sintomas da malária ocorrem devido: 1. À ruptura das hemácias: A ruptura das hemácias induz uma intensa resposta imunológica no hospedeiro. Acesso malárico: O acesso malárico ocorre quando há a ruptura das hemácias. Consiste em 3 sintomas apresentados pelo hospedeiro, que ocorrem de forma cíclica. São eles: Febre alta (41°C) que dura por cerca de 15 minutos. Sudorese Calafrio e fraqueza intensa Esse acesso malárico ocorre de forma intermitente, e sua duração depende da espécie de Plasmodium que está infectando o organismo (as espécies levam tempos diferentes para completar o ciclo eritrocítico e romper as hemácias): Febre terçã: é a febre que ocorre a cada 48 horas. É característica de infecções causadas por P. falciparum, P. vivax e P. ovale. Febre quartã: é a febre que ocorre a cada 72 horas. É característica de infecções causadas por P. malarie. 2. Liberação de citocinas: Durante a fase aguda da malária, as células de defesa do organismo produzem citocinas que agirão sobre o parasito, mas que podem ser nocivas ao hospedeiro. A liberação de citocinas pelas células do hospedeiro causa febre e mal-estar. A principal citocina pró-inflamatória liberada é a TNF-alfa (Fator de Necrose Tumoral), ela é produzida por Macrófagos e Monócitos e estimula a expressão de certos receptores no endotélio dos vasos, que estão envolvidos na adesão das hemácias parasitadas à parede do vaso. Essa alteração no vaso pode gerar uma lesão endotelial, e como consequência, pode haver extravasamento de líquido para o espaço intersticial de estruturas nobres como os alvéolos (produzindo as manifestações da malária grave pulmonar) e os glomérulos (produzindo as manifestações da malária grave renal). Além disso, a TNF –alfa inibe a eritropoiese medular (formação de células sanguíneas na medula óssea), o que pode gerar anemia no hospedeiro. Algumas citocinas são responsáveis por inibir a gliconeogênese, o que pode gerar hipoglicemia. 3. Sequestramento de hemácias: O sequestramento de hemácias só ocorre nas infecções por Plasmodium falciparum. Os glóbulos vermelhos parasitados pelo P. falciparum sofrem alterações em sua estrutura: Tal alteração é caracterizada pelo surgimento dos knobs, que são protuberâncias na superfície das hemácias parasitadas (as protuberâncias são formadas pela presença de proteínas do parasito no interior da membrana da hemácia). Essa alteração na estrutura torna as hemácias mais adesivas entre si e às paredes dos vasos sanguíneos. Quando o fenômeno de adesão ocorre entre hemácias parasitadas e não parasitadas acontece a formação de rosetas (aglomerados de hemácias parasitadas em torno de hemácias não-parasitadas). A formação de rosetas e a adesão das hemácias ao endotélio do vaso ocorre principalmente em capilares de órgãos vitais, como a substância branca do cérebro, coração, fígado, rins e intestino. Dependendo da intensidade, pode levar à obstrução da microcirculação, o que favorece: a diminuição Parasitologia – Professora Daniela Bruna Bicalho – Famed 13 do fluxo de oxigênio, o metabolismo anaeróbico e a acidose lática. Sintomas da malária não complicada: A malária não complicada pode ocorrer por infecção de todos os tipos de plasmodium, até mesmo por Plasmodium falciparum, que é a espécie que mais causa a malária grave. Os principais sintomas da malária não grave são: Acesso malárico Febre Anemia Manifestações crônicas, como a esplenomegalia (aumento dobaço). Isso pode ocorrer em indivíduos constantemente expostos à infecção. Sintomas da malária grave: A malária grave é causada pela espécie P. falciparum, e ocorre principalmente em indivíduos que não vivem em região endêmica e são expostos pela primeira vez à doença. Os sintomas da malária grave são: Malária cerebral Insuficiência renal aguda Edema pulmonar agudo Hipoglicemia Convulsões e vômitos Icterícia Distúrbios de consciência Parasitologia – Professora Daniela Bruna Bicalho – Famed 13 Recaída X Recrudescência RECAÍDA: Durante o ciclo do Plasmodium, o Hipnozoíto tem a capacidade de se manter latente nas células hepáticas. Assim, a malária, mesmo após ser tratada, pode surgir novamente após alguns meses ou anos, quando o hipnozoíto deixar o estado de latência. A recaída pode acontecer nas infecções causadas por P. vivax e P. ovale. Nos exames de um paciente que teve recaída de malária, os resultados serão positivos durante o período da doença, depois negativos quando o hipnozoíto estiver latente, e novamente positivos quando o protozoário sair do período de latência. RECRUDESCÊNCIA: é quando a doença reaparece após um tempo de cura aparente. Isso pode acontecer devido à uma resposta inadequada do organismo do paciente ao tratamento (por exemplo, quando há cepas resistentes do plasmodium). A recrudescência pode ocorrer nas infecções causadas por P. falciparum. Parasitologia – Professora Daniela Bruna Bicalho – Famed 13 Nos exames de um paciente com recrudescência, os resultados serão sempre positivos, mesmo quando os sintomas desaparecerem antes de reaparecerem novamente. Diagnóstico Nas regiões endêmicas, ou seja, regiões onde a malária ocorre com muita frequência, qualquer caso de febre leva à suspeita de malária. Nas regiões não endêmicas, justamente pelos casos de malária serem mais raros, os sintomas iniciais não levam imediatamente à suspeita de malária. Assim, quando a malária acomete um paciente nessas regiões, o diagnóstico geralmente é tardio e a doença se torna fatal. O diagnóstico de malária pode ser realizado de diferentes formas: 1. Gota espessa e esfregaço sanguíneo: É feito o esfregaço sanguíneo do paciente com suspeita de infecção. Nessa técnica é possível diferenciar as espécies de Plasmodium. 2. Teste imunológico: É um teste rápido, onde o sangue do paciente é colocado em placas contendo proteínas do parasito. Compara-se os traços que surgem na placa. Nessa técnica também é possível diferenciar as espécies de Plasmodium. 3. Testes moleculares: É realizado principalmente o PCR (Teste em Cadeia da Polimerase), que detecta o DNA do parasito em amostras sanguíneas. Esse teste é utilizado principalmente em laboratórios de pesquisa. Tratamento O tratamento medicamentoso pode variar, segundo: Espécie do parasito. Gravidade do caso. Idade do paciente. Se a paciente é gestante. Exposição prévia do paciente à malária. Local de residência do paciente (região endêmica ou não). Tratamento para malária não grave: Após a suspeita de malária, deve ser feita a coleta de sangue para exame de detecção do Plasmodium e logo após, se confirmado o diagnóstico, deve-se iniciar o tratamento medicamentoso. Na impossibilidade de se reconhecer a espécie de Plasmodium causad, deve-se optar pelo tratamento do P. falciparum, pois é a espécie que pode causar mais prejuízo à saúde do paciente. Se, após o exame, o diagnóstico for P. vivax, deve- se completar o tratamento com Primaquina. Dentre as drogas para o tratamento da malária não grave, estão: 1. Coartem: É a junção de: Artemether + Lumefantrine. É a primeira escolha para tratar malária não grave por P. falciparum e malária mista. 2. Quinina + Doxiciclina + Primaquina: É a segunda escolha para malária não grave por P. falciparum e malária mista. COLETA DE SANGUE INICIAR O TRATAMENTO Parasitologia – Professora Daniela Bruna Bicalho – Famed 13 3. Tafenoquina: É uma nova droga aprovada pelo FDA para tratar recaídas. Tomada em dose única. Pode causar anemia grave. 4. Cloroquina: Era muito usado contra P. falciparum, mas seu uso está diminuindo, pois o Plasmodium está criando resistência contra ele. 5. Primaquina: Elimina as formas hepáticas do Plasmodium e o hipnozoíto. Também combate os gametócitos. Tratamento para malária grave: Após a suspeita de malária grave, deve-se iniciar imediatamente o tratamento para a doença. É necessário encaminhar o paciente para a UTI, realizar acesso venoso, coleta de sangue para exames laboratoriais e verificar a escola de Coma de Glasgow. O tratamento medicamentoso para esse tipo de malária deve ser exclusivamente por drogas injetáveis. São elas: 1. Artesunato; 2. Artemether; 3. Clindamicina; 4. Quinina. Profilaxia A prevenção da malária é feita por: Tratamento ao homem doente; Proteção ao homem sadio: Uso de cortinados, uso de mangas compridas, uso de repelentes, manter as janelas fechas à noite para evitar o contato com o mosquito. Combate ao vetor: Uso de inseticidas. Não há vacinas para prevenção de malária. Epidemiologia A malária é uma doença presente principalmente em países com o clima tropical. Segue abaixo um mapa mundial onde está representada a ocorrência da malária: A doença também está muito associada à pobreza: No Brasil, a malária está mais presente na região amazônica. Isso acontece pois na região o índice de pobreza e precariedade é grande: as casas não possuem paredes e janelas para barrar a entrada dos mosquitos. Além disso, a proximidade da mata favorece o crescimento dos mosquitos transmissores da doença. ACESSO VENOSO INICIAR O TRATAMENTO MEDICAMENTOSO ENCAMINHAR PARA UTI EXAMES LABORATORIAIS ESCALA DE GLASGOW Parasitologia – Professora Daniela Bruna Bicalho – Famed 13 Fora da região amazônica, há pouquíssimos casos de malária. Os casos que existem estão relacionados à bromélia-malária. Bromélia é um tipo de planta nas quais o mosquito Anopheles deposita seus ovos; dessa forma, o mosquito consegue sobreviver em ambientes longe da floresta amazônica. Outros casos de malária registrados fora da região amazônica estão relacionados aos macacos contaminados, que passam o plasmodium para o mosquito Anopheles, que por sua vez, infectam humanos que frequentam matas.
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