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APG – SOI III Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/3º Período 1 APG 23 – Malária 1) COMPREENDER A FISIOPATOLOGIA (CICLO DO MOSQUITO E HOSPEDEIRO), MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA MALÁRIA → A malária é uma doença infecciosa febril aguda pelo protozoário do gênero plasmodium na primo infecção, em recidivas raramente tem febre aguda. → Pode ser causada por quatro protozoários do gênero Plasmodium: ✓ Plasmodium vivax; ✓ P. falciparum; ✓ P. malariae; ✓ P. ovale. → No Brasil, somente os três primeiros estão presentes, sendo o P. vivax e o P. falciparum as espécies predominantes. → É transmitida pela picada da fêmea do mosquito do gênero Anopheles (anopheles darlingi =anofelinos ou mosquito prego, popularmente) infectados com o Plasmodium. → Não há vacina disponível para malária. → No Brasil a área endêmica é formada por todos os estados da Amazônia Legal (99% dos casos registrados do país). São eles: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia e Roraima, além das regiões a oeste do Estado do Maranhão, ao noroeste do Estado do Tocantins e ao norte do Estado do Mato Grosso. → Os vetores são mais abundantes nos horários crepusculares (ao amanhecer e ao entardecer), permanece infectante por toda sua existência e gostam de ambiente urbano. → O homem é o único reservatório do protozoário. → Gestantes, crianças pacientes jovens, viajantes que entram em área de risco que nunca tiveram contato com o Plasmodium tendem a estarem mais suscetíveis a malária e quadro mais graves (também tem relação com a imunidade do hospedeiro). ❖ FISIOPATOLOGIA → O Plasmodium apresenta um ciclo de vida heteroxênico, ou seja, para completar o seu ciclo de vida precisa de dois hospedeiros diferentes: um vertebrado e outro invertebrado. → Primeiramente, a infecção humana inicia-se com a inoculação no tecido subcutâneo do parasita, proveniente das glândulas salivares de mosquitos fêmeas, na forma esporozoíto. Após isso, o esporozoíto atravessa diferentes tipos celulares, até chegar à corrente sanguínea ou linfática. → Ao alcançarem os vasos sanguíneos, chegam ao fígado em cerca de 30 minutos (ciclo hepático), onde são capturados por células de Kupffer e atravessam as células endoteliais dos capilares hepáticos e diversos hepatócitos, diferenciando em merozoítos. → No interior do hepatócito, os esporozoítos originam estágios esféricos uninucleares conhecidos como criptozoítos. No fígado, a divisão nuclear dos criptozoítos origina uma célula multinucleada conhecida como esquizonte. Ao final de 8 a 15 dias, o hepatócito parasitado libera milhares de merozoítos. ▪ Esquizogonia é o processo de reprodução assexuada que resulta na formação do esquizonte, que, por sua vez, dará origem aos merozoítos. A esquizogonia que ocorre em hepatócitos é conhecida como esquizogonia hepática, tecidual, pré-eritrocitária ou exoeritrocitária, para distingui-la dos ciclos esquizogônicos que posteriormente ocorrem nas hemácias. → Os merozoítos invadem a hemácia, dando início ao segundo ciclo de reprodução assexuada dos plasmódios: o ciclo sanguíneo ou eritrocítico = durante um período que varia de 48 a 72 horas, o parasito se desenvolve no interior da hemácia até provocar a sua ruptura, liberando novos merozoítos que irão invadir novas hemácias = anemia!!! → A maioria dos merozoítos vão infectar as hemácias, outros vão se diferenciar em gametócitos (masculinos e femininos), em que o mosquito consome o parasita ao alimentar-se de sangue (para fechar o ciclo de vida). Dessa forma, os gametócitos se diferenciam em gametas -> oocineto -> ovócito -> esporozoítos. ▪ Ao se alimentar de sangue, um mosquito Anopheles ingere os gametócitos masculinos (microgametócitos) e APG – SOI III Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/3º Período 2 femininos (macrogametócitos), dando início ao ciclo esporogônico. ▪ No estômago do mosquito, os microgametas penetram nos macrogametas, produzindo zigotos. ▪ Os zigotos tornam-se móveis e alongados, evoluindo para oocinetes. ▪ Os oocinetes invadem a parede do intestino médio do mosquito, onde se desenvolvem em oocistos. ▪ Os oocistos crescem, rompem-se e liberam esporozoítos, os quais se deslocam para as glândulas salivares do mosquito. A inoculação dos esporozoítos em um novo hospedeiro humano perpetua o ciclo de vida da malária. → Alguns dos esporozoítos, em P. vivax e P. ovale, ficam latentes como hipnozoíto por semanas ou meses e podem, depois da infecção primária, reativar-se resultando nas recaídas tardias típicas da infecção humana. Os mecanismos que levam à reativação dos hipnozoítos são desconhecidos, especula-se que a febre, causada pela própria malária ou infecções bacterianas, possa estimular a reativação. ❖ FISIOPATOLOGIA DA MALÁRIA GRAVE → O principal fator de virulência de P. falciparum é a capacidade de adesão das hemácias parasitadas por estágios maduros do parasito ao endotélio de pequenos vasos sanguíneos no cérebro e outros órgãos, particularmente de vênulas pós-capilares, um fenômeno conhecido como citoaderência. → A citoaderência permite que os parasitas evitem passar pelo baço, onde os eritrócitos anormais são eliminados. Esse fenômeno, provavelmente, também apresenta um papel importante na mediação de manifestações graves da malária falciparum, com alterações inflamatórias locais mediadas por um grande número de parasitas aderentes que levam à disfunção de órgãos. → Os parasitas da espécie P. falciparum utilizam a variação antigênica para escapar da resposta imune do hospedeiro. A principal proteína que medeia a citoaderência dos eritrócitos infectados às células endoteliais, a proteína de membrana eritrocitária de P. falciparum 1 (PfEMP-1), é transportada até a superfície do eritrócito e constitui um alvo das reações imunes do hospedeiro que limitam a infecção. → Durante o curso da infecção, os parasitas frequentemente variam a expressão da PfEMP-1 para impedir as respostas do hospedeiro. Esse fator e a alta variabilidade na sequência de muitas moléculas de PfEMP-1 apresentam um amplo repertório de antígenos e, provavelmente, ajudam a explicar a aquisição lenta da imunidade antimalárica protetora. → A malária falciparum pode evoluir para a malária cerebral, incluindo coma, edema pulmonar não cardiogênico, com comprometimento respiratório grave e insuficiência renal, anemia severa, acidose, hipoglicemia e outras síndromes de disfunção orgânica. ❖ MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS → O quadro clínico da malária pode ser leve, moderado ou grave, na dependência da espécie do parasito, da quantidade de parasitos circulantes, do tempo de doença e do nível de imunidade adquirida pelo paciente. → Quadro clínico geral: presença da clássica tríade = febre, calafrio e dor de cabeça. Sintomas gerais, como mal-estar, dor muscular, sudorese, dor torácica, anorexia, vômitos, diarreia, náusea e tontura, podem preceder ou acompanhar a tríade sintomática. ▪ Normalmente, a febre é irregular no início da doença, mas, sem tratamento, pode tornar-se regular, com ciclos de 48 horas (P. vivax e P. ovale) ou 72 horas (P. malariae), particularmente na doença não causada por P. falciparum. → As formas clínicas podem ser divididas em: ✓ Não complicada: a maioria dos episódios de malária, até mesmo na infecção por P. falciparum, não apresenta nenhuma complicação. O período de incubação após uma picada é, em geral, de 10 a 14 dias para P. falciparum, e cerca de 2 semanas para outras espécies. ▪ Os achados físicos podem estar ausentes ou podem incluir sinais de anemia, icterícia, esplenomegalia e hepatomegalia discreta. O exantema e a linfadenopatia não são típicosna malária, de modo que a sua presença sugere outra causa para a febre. Os exames laboratoriais geralmente revelam anemia, trombocitopenia e anormalidades das funções hepática e renal. ✓ Complicada: ▪ Grave por P. falciparum: A presenta mais sintomas, como prostração, alteração da consciência, dispneia ou hiperventilação, convulsões, hipotensão arterial ou choque, edema pulmonar, hemorragias, icterícia, hemoglobinúria, hiperpirexia (>41ºc) e oligúria. APG – SOI III Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/3º Período 3 ✓ Apresenta maior parasitemia; ✓ A malária cerebral, que constitui a complicação grave mais comum em crianças, é geralmente definida como uma alteração da consciência na presença de malária por P. falciparum. ✓ Exames laboratoriais podem detectar uma: anemia grave (crianças pequenas), hipoglicemia, acidose metabólica, insuficiência renal, hiperlactatemia e hiperparasitemia. ✓ A presença de mais de 1 dos critérios determina a forma grave e indica internação hospitalar: ❖ DIAGNÓSTICO → O diagnóstico da doença é feito pela visualização microscópica do plasmódio em exame da gota espessa de sangue, corada pela técnica de Giemsa ou de Walker. ✓ Gota espessa: Baseia-se no encontro de parasitos no sangue, permite diferenciação das espécies de Plasmodium e do estágio de evolução do parasito circulante. Pode-se ainda calcular a densidade da parasitemia em relação aos campos microscópicos examinados. É necessário equipe com experiência. ▪ Para realização do exame de gota espessa é feita a punção digital (pode ser feita punção venosa também) e preparado do esfregaço. Após, a lâmina deve ser mantida em temperatura ambiente para secagem da gota de sangue. Com a lâmina pronta é feita a análise através do microscópio. → Testes rápidos imunocromatográficos: Baseiam-se na detecção de antígenos dos parasitos por anticorpos monoclonais, que são revelados por método imunocromatográfico. São realizados em 15-20 minutos. Não diferencia espécie e não medem parasitemia!!! Além disso, seus custos são ainda mais elevados que o da gota espessa e pode apresentar perda de qualidade quando armazenado por muitos meses em condições de campo. → Diagnóstico diferencial: Deve-se descartar outras causas de febre prolongada, como febre tifoide, febre amarela, leptospirose, hepatite infecciosa, leishmaniose visceral, doença de Chagas aguda e outros processos febris. • Na fase inicial, principalmente na criança, pode-se fazer o diagnóstico diferencial com doenças infecciosas dos tratos respiratório, urinário e digestivo, quer de etiologia viral ou bacteriana. • No período de febre intermitente, as principais doenças que se confundem com a malária são as infecções urinárias, tuberculose miliar, salmoneloses septicêmicas, leishmaniose visceral, endocardite bacteriana e as leucoses. Todas apresentam febre e, em geral, esplenomegalia. Algumas delas apresentam anemia e hepatomegalia. ❖ TRATAMENTO → O objetivo do tratamento consiste em atingir o parasito em pontos-chave do seu ciclo evolutivo, assim, deve-se: ✓ Interromper a esquizogonia sanguínea: responsável pela patogenia e manifestações clinicas da infecção; ✓ Destruir as formas latentes (hipnozoítos das espécies P. Vivax): evitando recaídas tardias; ✓ Interromper a transmissão: drogas que impedem o desenvolvimento de formas sexuadas dos parasitas (gametócitos). → A decisão de como tratar o paciente com malária deve ser precedida de informações sobre os seguintes aspectos: ✓ Espécie de plasmódio infectante, pela especificidade dos esquemas terapêuticos a serem utilizados; ✓ Idade do paciente, pela maior toxicidade para crianças e idosos; ✓ História de exposição anterior à infecção uma vez que indivíduos primoinfectados tendem a apresentar formas mais graves da doença; ✓ Condições associadas, tais como gravidez e outros problemas de saúde; ✓ Gravidade da doença, pela necessidade de hospitalização e de tratamento com esquemas especiais de antimaláricos. → Malária por P. vivax – Não complicada: As medicações são de acordo com peso e idade do paciente. Usa-se esquizonticida • Parasitemia alta; • Dispneia (edema pulmonar); • Oligúria (insuficiência renal); • Hemorragias; • Alteração do nível de consciência (malária cerebral); • Convulsões; • Icterícia; • Hipoglicemia; • Febre alta persistente. APG – SOI III Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/3º Período 4 eritrocitário (cloroquina por 3 dias = indicação para formar sanguíneas) + esquizonticida tecidual/gametocitocida (primaquina por 7-14 dias = indicação para formas hepáticas latentes). → Malária por P. falciparum – Não grave: esquizonticida eritrocitário (arteméter e lumefantrina OU artesunato e mefloquina = indicação para rápida negativação da parasitemia). → Malária por P. falciparum – grave: A malária grave deve ser considerada uma emergência médica. Nesses casos, o principal objetivo do tratamento é evitar que o paciente morra. Para isso, antimaláricos potentes e de ação rápida devem ser administrados, juntamente com todas as medidas de suporte à vida do paciente. Usa-se artesunato via endovenosa, uma vez que tem rápida negativação da parasitemia, mas tem alta taxa de recrudescência + clindamicina (manutenção por 5 dias). REFERÊNCIAS • FEREIRA, Marcelo U. Parasitologia Contemporânea. 2ª ed. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2020. • GOLDMAN, Lee. Goldman-Cecil Medicina. 26. ed. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2022.
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