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AÇÃO CIVIL PÚBLICA, INQUÉRITO E TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA (última aula Thais p p1).
A lei nº 6938/81, que é a lei da Política Nacional do Meio Ambiente, previu no seu art. 14, §1º a responsabilidade civil objetiva. Era necessário densificar aquele dispositivo, instrumentalizando aquela responsabilidade por uma ação judicial direcionada para tal fim, ou seja, imputação de responsabilidade civil ao poluidor. O que aconteceu, então, em 1985? A lei nº 6938, como eu acabei de mencionar, é de 1981. A lei nº 7347 é de 1985, que é a lei da Ação Civil Pública. Essa lei objetivou, então, viabilizar a judicialização de responsabilidade civil em virtude de poluição, mas não somente. A lei nº 7347 (e vejam que ela é anterior à Constituição de 1988) fortaleceu as demandas coletivas em sentido lato, ou seja, essa lei percebeu que nós não estávamos mais apenas em busca de liberdades individuais, aquelas típicas de direitos de primeira dimensão, mas sim o passo agora era fazer com que esse Estado social funcionasse em benefício desses direitos ou interesses metaindividuais. A lei 7347 serve para juridicizar esses interesses transindividuais ou metaindividuais. Então, estamos falando aqui da tutela judicial ou jurisdicional do meio ambiente, do direito do consumidor, da economia popular, do patrimônio histórico-cultural, de questões étnicas e raciais, do direito à educação, da proteção jurídica do idoso, enfim, a gente está falando de mecanismos de jurisdição coletiva. Essa jurisdição coletiva sempre foi muito diferente da tutela jurídica de interesses individuais. O nosso processo civil clássico foi erguido para tutelar direitos e interesses individuais e patrimoniais. O que a jurisdição coletiva nos provoca a pensar é nessa necessidade de estruturar esse processo civil a partir dessas novas demandas ou desses novos direitos. 
Foi isso que a lei nº 7347/1985 viabilizou, tanto que a literatura que trata de jurisdição coletiva fala no papel dessa jurisdição coletiva, desse microssistema de processo civil coletivo como mecanismo de se instrumentalizar a justiça social, promover a justiça social pelas mãos do poder judiciário. Então, juntamente com a lei nº 7347/1985 alguns autores vão ser aqui bastante mencionados como é o caso do Ministério Público, da Defensoria Pública, da sociedade civil organizada e de outros dois instrumentos que decorrem da previsão contemplada na lei nº 7347/85 que são o inquérito civil e o termo de ajustamento de conduta. Então, a gente vai começar devagar discutindo primeiro a ação civil pública, depois inquérito civil e por fim o termo de ajustamento de conduta. A AÇÃO CIVIL PÚBLICA vai ter por objeto a proteção jurídica de direitos ou interesses dito meta ou transindividuais, como já mencionado, e esses direitos ou interesses podem ser patrimoniais e extrapatrimoniais. Isso significa, no caso dos danos ambientais, a possibilidade de reparação desses danos ambientais materiais mas também em relação ao dano moral ambiental, que foi algo que a gente já mencionou naquelas nossas últimas aulas. - Quem pode ajuizar a Ação civil pública? Como eu mencionei há pouco, a Ação civil pública é um instrumento de proteção jurídica de interesses metaindividuais. Então, seria esperado que os titulares desses direitos ou interesses tivessem, de alguma forma, possibilidade de se socorrerem da Ação civil pública. Mas antes da gente chegar até lá, outros legitimados precisam ser mencionados. Então, quem pode ajuizar a Ação civil pública? O indivíduo sozinho? Não. O sujeito isoladamente considerado, o sujeito cidadão portador de um título eleitoral pode ajuizar a Ação popular, mas aqui estamos discutindo a Ação civil pública. E quem pode ajuizar? O Ministério Público, a Defensoria Pública, os entes federados (ou seja, a União, Estados, Distrito Federal e os Municípios), fundações, sociedades de economia mista, autarquias, e, por fim, as denominadas associações. 
- E o que são essas associações? São a sociedade civil organizada, formalmente organizada. Então, as associações podem ajuizar a Ação civil pública, ou seja, nós, titulares do direito fundamental ao meio ambiente, formalmente organizados, podemos ajuizar a Ação civil pública, mas é necessário que essas associações observem pelo menos 2 requisitos. O primeiro requisito é a pertinência temática e o segundo requisito é a pré-constituição. O que é a pertinência temática? A pertinência temática é a compatibilidade entre o objeto da Ação civil pública e a linha de atuação da associação. Essa associação pode ser uma associação de moradores, pode ser uma organização não-governamental, pode ser uma organização da sociedade civil de interesse público, enfim é a representação jurídica de uma sociedade civil organizada. Essas associações, então, precisam ter um objetivo institucional, precisam ter um propósito para a sua existência, então existem, dessas organizações, que são constituídas para defender interesses do consumidor, para proteger infância e juventude, para trabalhar em defesa do consumidor, enfim os objetivos são múltiplos. O que é importante e o que é requisito essencial que essas associações devem cumprir? A pertinência temática. Então, se a associação tem como objeto a proteção do consumidor, por exemplo, a princípio ela não poderia ajuizar uma Ação civil pública cujo objeto é a proteção jurídica de manguezal, por exemplo. Se essa associação, se essa organização não-governamental tem como propósito a defesa do interesse de pessoas idosas, a princípio ela não observaria o requisito da pertinência temática se o objeto da Ação civil pública fosse a economia popular, por exemplo. O primeiro requisito, portanto, para que essas associações possam ajuizar a Ação civil pública é a pertinência temática. O segundo requisito é a “pré-constituição por pelo menos um ano nos tempos da lei civil”. O que significa isso? Significa que essas associações precisam estar formalmente constituídas, seus atos precisam estar registrados no cartório competente para tal. Por que é necessário, por que é importante essa pré-constituição? Para que sejam evitados casuísmos, para que não sejam constituídas associações para fins meramente “hipócritas”. Já vi muitas associações e instituições sendo constituídas assim: “vamos defender o direito do consumidor”, aí faz muitos eventos para captação de clientela para determinado escritório de advocacia. Mas ingressar com Ação civil pública que é bom pra defender interesse do consumidor não faz. Ah, essa associação precisa ser pré-constituída por pelo menos um ano nos termos da lei civil para impedir o uso politiqueiro desse tipo de organização. Em prefeituras do interior do Estado do Maranhão, isso pode ser muito perigoso. Criam uma associação para defender o meio ambiente, direito do consumidor, etc, objetivo bastante amplo. E aí essa associação em período pré-eleitoral se dana a ajuizar Ação civil pública somente para infernizar a vida do gestor municipal. Então, é para evitar esses tipos de casuísmos que a legislação exige a pré-constituição por pelo menos um ano nos termos da lei civil. Ocorre que esse segundo requisito não é absoluto (da pré-constituição). A própria lei nº 7347/85 prevê que esse requisito da pré-constituição poderá ser afastado pelo juiz no caso concreto. Quando? Quando a demanda for tão relevante, quando o objeto da Ação civil pública for tão extenso e o risco de dano ou efetivo dano for tão significativo que é muito mais importante que o poder Judiciário tutele aquele interesse do que a gente ficar preso a um formalismo. Nesse ponto esse microssistema de processo civil coletivo é muito desafiador dos dogmas clássicos do processo civil. Às vezes, o objeto, o conflito que se pretende judicializar é tão relevante que não se vai ficar questionando há quanto tempo que a associação está pré-constituída. Se ela está constituída, por exemplo, há apenas 3 meses, mas o propósito da Ação civil pública, o objeto dessa ACP é proteger uma nascente de um rio, que é um rio que abastece aquele Município,esse é uma questão muito mais relevante do que a gente ficar adstrito há quanto tempo aquela associação existe. Como eu disse, nosso processo civil clássico, tradicional, do processo civil de 1973 ainda era muito formalista, muito apegado às formas, e nesse novo Código de Processo Civil e muito desafiado por esse microssistema de processo civil coletivo, a coisa precisa mudar. Então, a Ação civil pública 
está vocacionado à execução de justiça social, à entrega de direitos difusos. Então, nesse sentido, o objeto dela, a matéria que ela defende é muito mais relevante do que esse tipo de entrave formal, do que esse processo tão formalista que acaba virando um fim em si mesmo. Aqui a Ação civil pública, enquanto procedimento jurisdicional, é instrumento, é meio para se atingir o resultado que é muito mais relevante do que essas formas. Tanto é assim que nesse microssistema de processo civil coletivo, uma das várias características do processo civil coletivo está muito mais afinado com o Estado social, então o propósito da Ação Civil pública, a ideia de empoderar a sociedade civil para provocar no Poder Judiciário a defesa do meio ambiente é muito mais relevante do que o apego exacerbado às formas, do que a absoluta segurança jurídica, por exemplo. OBS.: os dois requisitos são dispensados diante dessa relevância social? São dois requisitos: o primeiro é a pertinência temática e o segundo, pré-constituição. E o que é flexibilizável é a pré-constituição há pelo menos um ano. É esse que o juiz, no caso concreto, mediante decisão motivada, pode desconsiderar em virtude da relevância do objeto da Ação civil pública. - Foro do local do dano: onde vai se ajuizar a Ação civil pública? No foro do local onde o dano ocorreu. Em matéria ambiental, especialmente, as Ações civis públicas tradicionais, infelizmente, são ajuizadas apenas depois que o dano se concretizou. Aí é fácil, porque aí vai ajuizar a Ação no foro do local do dano. Mas e se esse dano ainda não aconteceu? Aí vai ser no foro do local onde se pretende ou se espera que provavelmente esse dano ocorra, observadas as normas de prevenção do juízo. - Protagonismo do Ministério Público: uma outra coisa importante de se mencionar acerca disso é que até uns 10/15 anos quem tinha o protagonismo do ajuizamento das Ações civis públicas era o Ministério Público e aqui eu falo do MP como uma instituição una e indivisível, aquela coisa linda do art. 127 da CF/88. Isso tem paulatinamente mudado, especialmente a partir de 2007, com a alteração da lei nº 7347/85 ao inserir a Defensoria Pública no rol de legitimados ao ajuizamento de Ação Civil Pública. De todo modo, se o MP não ajuizou a Ação civil pública, ele necessariamente nela intervirá como fiscal da lei. Então, as Ações civis públicas, sejam elas ambientais ou que tenham quaisquer outros objetos, terão, necessária e obrigatoriamente, a intervenção ministerial. Então, se o Ministério Público não é autor, ele funcionará como custos legis. Uma outra questão interessante e que diz respeito a essa ideia de instrumentalidade da Ação civil pública que eu mencionei há pouco, é que nas nossas ações individuais como é que funciona quando a gente desiste do processo? O juiz faz o que? Condecora e extingue o processo, arquivando. Na Ação civil pública, quando o autor da Ação, por exemplo, uma associação qualquer desiste da Ação ou deixa de lhe dar o impulso esperado, o Ministério Público ou qualquer outro legitimado pode substituir aquela associação que desistiu. Por que? Porque o escopo da Ação civil pública, o seu objeto, o conflito ambiental que está em questão é muito mais relevante do que a imposição de normas desse processo civil clássico. Então, vejam que em 1985 a lei nº 7347 já previa tais possibilidades, então muito antes do nosso Código de Processo Civil de 2015, esse sim mais próximo de uma preocupação com os direitos fundamentais. OBS.: só a associação que pode desistir? Eventualmente, a Defensoria também pode desistir talvez. A União pode desistir. O Ministério Público não pode desistir. No caso, ele vai substituir a parte que está desistindo? Sim. Na autoria da Ação. **Começou a usar slides - Estado, jurisdição coletivo e seus reflexos sobre as normas processuais Aqui foi o que eu mencionei no início sobre jurisdição coletiva, sobre a inadequação do nosso processo civil individual e patrimonialista, a necessidade da gente repensar esses institutos clássicos. 
Aqui coloquei duas colunas diferentes (slide**) para abordar sobre as distinções, as repercussões de um Estado eminentemente liberal, que foi o Estado dentro do qual nosso processo civil clássico foi redigido, e o Estado social que foi o Estado dentro do qual essas demandas coletivas se concretizaram. Então, se num primeiro momento era exigido do magistrado um distanciamento, uma postura supostamente neutra, aqui (no Estado social) o objetivo desse juiz é uma postura mais ativa, mais participativa, observado obviamente o contraditório e a equidistância da demanda. Se aqui nós tínhamos (Estado liberal), em um primeiro momento, apego às formas, ao formalismo, uma preocupação com as liberdades individuais e com o Estado especialmente absenteísta, aqui (no Estado social) temos a supremacia da matéria, do objeto da demanda, da efetividade em detrimento da segurança ou dos formalismos, que, portanto, a instrumentalidade e economia processual são as tônicas desse processo coletivo, dessa Ação civil pública. - Estado social e jurisdição coletiva Esses tópicos dizem respeito à jurisdição coletiva de maneira geral. Os provimentos jurisdicionais, especialmente proferidos em Ação civil pública, objetivam atingir uma eficácia social que por vezes se quer as políticas públicas estatais conseguem. Aqui nós temos uma valorização dos juízos de verossimilhança em detrimento dos juízos de certeza e isso lembra a vocês um determinado princípio? Princípio de precaução, que é o fundamento utilizado pelo STJ para inversão do ônus da prova, inclusive em demandas coletivas, sejam elas ambientais, consumeristas, ético-raciais ou o que quer que seja. Aqui, especialmente nas Ações civis públicas ambientais, a tônica é a valorização da tutela específica em detrimento da ressarcitória. A gente já falou sobre isso quando comentamos em responsabilidade civil que o ideal seria a restauração ambiental daquele meio ambiente degradado no local em que o dano aconteceu, a indenização teria que vir apenas em última hipótese, a cumulação é desejável, mas o ideal seria que o meio ambiente no seu local pudesse ser restaurado, o que a gente já sabe que nem sempre é possível acontecer. Há aqui uma relação bem importante nesse tópico e um outro tópico que fala sobre a valorização nessa jurisdição coletiva do resultado prático equivalente, ou seja, o escopo da decisão judicial é obter um resultado que seria o mesmo se a norma tivesse sido cumprida desde o princípio. - Prova no processo coletivo No que diz respeito à prova, a gente vai trabalhar com juízos de verossimilhança, com probabilidades e por que é importante a gente pontuar esse aspecto? Porque vamos ver que os elementos amealhados pelo Ministério Público no inquérito civil poderão servir ao juiz para quem foi distribuída a Ação civil pública como dados para concessão do pedido liminar, então a tutela de urgência poderá utilizar daqueles elementos que foram levantados no inquérito civil (voltaremos a falar sobre isso daqui a pouco). Então, aqui, e inclusive em virtude da possibilidade de inversão do ônus da prova, a gente tem uma diminuição da sobrecarga probatória sobre a sociedade, porque vocês poderiam dizer que “ah, mas o Ministério Público tem condições de provar!”, mas o que está em jogo não é o interesse do Ministério Público, mas sim o interesse da sociedade, das pessoas que são titulares daquele direito fundamental ao meio ambiente. Aqui citei o art. 370, CPC/15 para mencionar que a aquela atitude absenteísta do juiz, aquela postura neutra tem sido substituída por uma postura mais participativa e isso estámuito contemplado no art. 370 do CPC/15, ou seja, a prova como instrumento de obtenção da verdade não como uma arma da parte, nesse sentido o juiz tem ampla liberdade probatória e por isso citei esse dispositivo. - Art. 370, CPC/15 – Caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinar as provas necessárias ao julgamento do mérito. Parágrafo único – O juiz indeferirá, em decisão fundamentada, as diligências inúteis ou meramente protelatórias. 
Nesse sentido, na instrução processual, esse juiz vai poder expedir ofícios, medidas destinadas à coleta de material probatório, inclusive fazendo inspeção judicial que é algo cada vez mais raro no processo civil clássico. - Ação civil pública ambiental Agora falando especificamente sobre Ação civil pública ambiental. Como eu disse no início, a origem dessa lei nº 7.347 vem lá da lei nº 6.938, que é a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, e é um instrumento destinado à tutela de direitos difusos ou metaindividuais. Ainda agora falei sobre o protagonismo do Ministério Público e como que até pouco tempo ele ajuizou a maioria das Ações civis públicas. A própria Constituição Federal em seu artigo 129, III (“São funções institucionais do Ministério Público: [...] III – promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos”), prevê entre as funções institucionais do Ministério Público a promoção do inquérito civil e da Ação civil pública para proteção do patrimônio público social, do meio ambiente e de outros interesses difusos coletivos. Então, desde o momento de se pensar a organização ministerial, o meio ambiente já estava ali presente, a jurisdição coletiva também. 2733 Eu citei esse dispositivo da Lei nº 6.938 só para pontuar a previsão da responsabilidade civil objetiva que eu comentei no início: art. 14 – Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal, estadual e municipal, o não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e danos causados pela degradação da qualidade ambiental sujeitará os transgressores: I – à multa simples ou diária, nos valores correspondentes, no mínimo a 10 (dez) e, no máximo, a 1.000 (mil) Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional – ORTNs, agravada em casos de reincidência específica, conforme dispuser o regulamento, vedada a sua cobrança pela União se já tiver sido aplicada pelo Estado, Distrito Federal, Territórios ou pelos Municípios; II – à perda ou restrição de incentivos e benefícios fiscais concedidos pelo Poder Público; III – à perda ou suspensão de participação em linhas de financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito; IV – à suspensão de sua atividade. §1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente. §2º - No caso de omissão da autoridade estadual ou municipal, caberá ao Secretário do Meio Ambiente a aplicação das penalidades pecuniárias prevista neste artigo. §3º - Nos casos previstos nos incisos II e III deste artigo, o ato declaratório da perda, restrição ou suspensão será atribuição da autoridade administrativa ou financeira que concedeu os benefícios, incentivos ou financiamento, cumprimento resolução do CONAMA. §4º - revogado. §5º - A execução das garantias exigidas do poluidor não impede a aplicação das obrigações de indenização e reparação de danos previstas no §1º deste artigo. - Lei nº 7.347: responsabilidade por danos morais e patrimoniais E aí vem a reparação de danos morais e patrimoniais – objeto da Ação civil pública. Causados a que ou a quem. - Lei nº 7.347: responsabilidade para a ACP Os dispositivos que irei citar daqui pra frente são todos dessa lei nº 7.347. Bem aqui coloquei o caput do art. 1º somente para pontuar quais são os objetos possíveis dessa Ação civil pública: - Art. 1º, lei – Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados: I – ao meio ambiente; II – ao consumidor; III – a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico; IV – a qualquer outro interesse difuso ou coletivo; V – por infração da ordem econômica; VI – à ordem 
urbanística; VII – à honra e à dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos; VIII – ao patrimônio público e social. Parágrafo único – Não será cabível ação civil pública para veicular pretensões que envolvam tributos, contribuições previdenciárias, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço – FGTS ou outros fundos de natureza institucional cujos beneficiários podem ser individualmente determinados. Então, esses direitos ou interesses, mas não só esses, podem ser tutelados pela via da Ação civil pública. Vejam que o dispositivo de abertura (a lei não é exatamente muito boa em técnica legislativa) está no inciso IV (qualquer interesse difuso ou coletivo) estejam esses interesses nomeados aqui ou não. - Lei nº 7.347: responsabilidade por danos morais e patrimoniais Por que eu fiz questão de asseverar esse ponto – danos morais e patrimoniais? Porque, como eu já disse, a possibilidade de danos morais ambientais não foi toda vida algo tranquilo na jurisprudência do STJ. Então, eu fiz questão de mencionar esse precedente (Informativo da jurisprudência nº 0545 – Segunda seção). Aqui não é a ementa, mas sim um Informativo de jurisprudência desse julgado que acho que é de 2014 e que bem retrata a possibilidade da reparação de dano moral ambiental. Então, é um caso decorrente de lama tóxica. DIREITO AMBIENTAL E CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL EM DECORRÊNCIA DE DANO AMBIENTAL PROVOCADO PELA EMPRESA RIO POMBA CATAGUASES LTDA. NO MUNICÍPIO DE MIRAÍ-MG. RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C DO CPC E RES. 8/2008-STJ). Em relação ao acidente ocorrido no Município de Miraí-MG, em janeiro de 2007, quando a empresa de Mineração Rio Pomba Cataguases Ltda., durante o desenvolvimento de sua atividade empresarial, deixou vazar cerca de 2 bilhões de litros de resíduos de lama tóxica (bauxita), material que atingiu quilômetros de extensão e se espalhou por cidades dos Estados do Rio de Janeiro e de Minas Gerais (poluição não tem limite geopolítico), deixando inúmeras famílias desabrigadas e sem seus bens (móveis e imóveis): a) a responsabilidade por dano ambiental é objetiva, informada pela teoria do risco integral, sendo o nexo de causalidade o fator aglutinante que permite que o risco se integre na unidade do ato, sendo descabida a invocação, pela empresa responsável pelo dano ambiental, de excludentes de responsabilidade civil para afastar a sua obrigação de indenizar; b) em decorrência do acidente, a empresa deve recompor os danos materiais e morais causados; e c) na fixação da indenização por danos morais, recomendável que o arbitramento seja feito caso a caso e com moderação, proporcionalmente ao grau de culpa, ao nível socioeconômico dos autores, e, ainda, ao porte da empresa recorrida, orientando-se o juiz pelos critérios sugeridos pela doutrina e jurisprudência, com razoabilidade, valendo-se de sua experiência e bom senso, atento à realidade da vida e às peculiaridades de cada caso, de modo a que, de um lado, não haja enriquecimento sem causa de quem recebe a indenização e, de outro lado, haja efetiva compensação pelos danos morais experimentados por aquele que fora lesado. Com efeito, em relação aos danos ambientais, incide a teoria do risco integral, advindo daí o caráter objetivo da responsabilidade, com expressa previsão constitucional (art. 225, § 3º, da CF) e legal (art.14, § 1º, da Lei 6.938/1981), sendo, por conseguinte, descabida a alegação de excludentes de responsabilidade, bastando, para tanto, a ocorrência de resultado prejudicialao homem e ao ambiente advinda de uma ação ou omissão do responsável (EDcl no REsp 1.346.430-PR, Quarta Turma, DJe 14/2/2013). Ressalte-se que a Lei 6.938/1981, em seu art. 4°, VII, dispõe que, dentre os objetivos da Política Nacional do Meio Ambiente, está “a imposição ao poluidor e ao predador da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados”. Mas, para caracterização da obrigação de indenizar, é preciso, além da ilicitude da conduta, que exsurja do dano ao bem jurídico tutelado o efetivo prejuízo de cunho patrimonial ou moral, não sendo suficiente tão somente a prática de um fato contra legem ou contra jus, ou que contrarie o padrão jurídico das condutas. Assim, a ocorrência do dano moral não reside exatamente na simples ocorrência do ilícito em si, 
de sorte que nem todo ato desconforme com o ordenamento jurídico enseja indenização por dano moral. O importante é que o ato ilícito seja capaz de irradiar-se para a esfera da dignidade da pessoa, ofendendo-a de forma relativamente significante, sendo certo que determinadas ofensas geram dano moral in re ipsa. Na hipótese em foco, de acordo com prova delineada pelas instâncias ordinárias, constatou-se a existência de uma relação de causa e efeito, verdadeira ligação entre o rompimento da barragem com o vazamento de 2 bilhões de litros de dejetos de bauxita e o resultado danoso, caracterizando, assim, dano material e moral. REsp 1.374.284-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 27/8/2014. “b) em decorrência do acidente, a empresa deve recompor os danos materiais e morais causados” – quando a gente estava falando de responsabilidade eu utilizei algumas imagens de desastre de Mariana que bem demonstravam os danos morais coletivos, as pessoas perderam suas casas e parte de suas histórias. Numa das fotos tinha uma pessoa resgatando ou tentando tirar um quadro antigo da parede, e também tinham as fotos, os documentos, a sua história se perdeu naquele evento. Pergunta: esse é o dano moral por ricochete? Quando a gente fala em dano moral puro e dano moral por ricochete, todo tipo de dano que não seja estritamente ao meio ambiente natural vai ser por ricochete. “c) na fixação da indenização por danos morais, recomendável que o arbitramento seja feito caso a caso e com moderação, proporcionalmente ao grau de culpa, ao nível socioeconômico dos autores, e, ainda, ao porte da empresa recorrida” – isso significa que não adianta fixar uma indenização de mil reais contra uma empresa cujo capital social é de 5 bilhões. “Assim, a ocorrência do dano moral não reside exatamente na simples ocorrência do ilícito em si, de sorte que nem todo ato desconforme com o ordenamento jurídico enseja indenização por dano moral” – então, o dano moral não é automaticamente decorrente do ilícito. Se isso foi assim nesse evento em 2014, imaginem a gravidade de Mariana. - Lei nº 7.347: foro do local do dano Então a gente já viu a questão da legitimidade, do objeto da Ação civil pública e aí o art. 2º fala sobre o foro do local do dano: - Art. 2º, lei – As ações previstas neste Lei serão propostas no foro do local onde ocorrer o dano, cujo juízo terá competência funcional para processar e julgar a causa. Parágrafo único – A propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo para todas as ações posteriormente intentadas que possuam a mesma causa de pedir ou o mesmo objeto. Pergunta: nesse caso que a senhora mostrou que aconteceu em Minas, inicialmente o foro será em Minas? Em qualquer deles, é foro competente. Onde for primeiro citado, esse juízo está prevento. - Lei nº 7.347: objeto da ACP e cumulação de pedidos - Art. 3º, lei – A ação civil poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer. Olha, esse dispositivo aqui, não sei se vocês lembram que eu comentei quando estávamos falando sobre responsabilidade, o que eu disse? Responsabilidade civil é objetiva, é integral e que a reparação do dano precisa ser integral. Esse dispositivo da Lei nº 7.347 teve sua interpretação uniformizada pelo STJ e essa conjunção alternativa está desde muito tempo sendo interpretada como se aditiva fosse e isso significa o que? É possível a cumulação de pedidos na Ação civil pública. Então, os pedidos podem ser para o poluidor fazer ou deixar de fazer alguma coisa e também de indenizar. Então, serão fixadas tantas obrigações quanto sejam necessárias para reparação integral do dano. - ACP ambiental e cumulação de pedidos na jurisprudência do STJ 
Inclusive, quando estávamos falando disso, mencionei essa tese do STJ (quando estávamos falando sobre responsabilidade civil antes da prova), que diz que se admite a condenação simultânea cumulativa das obrigações de fazer, de não fazer e de indenizar na reparação integral do meio ambiente (Tese 1: Admite-se a condenação simultânea e cumulativa das obrigações de fazer, de não fazer e de indenizar na reparação integral do meio ambiente), ou seja, essa conjunção alternativa será lida como se aditiva fosse. - ACP ambiental e cumulação de pedidos na jurisprudência do STJ Aqui tem um caso que a gente também já viu antes da prova que trata exatamente dessa hipótese – “Deve-se destacar que embora o art. 3º da lei nº 7.347 disponha que a Ação civil poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, é certo que a conjunção “ou” bem como nos artigos tais (?) opera com valor aditivo, não introduzindo, portanto, alternativa excludente” (jurisprudência mencionada está abaixo). AMBIENTAIS. ALEGAÇÃO DE AFRONTA AO DIREITO DE DEFESA. PRECLUSÃO TEMPORAL EM RELAÇÃO À NÃO REALIZAÇÃO DE PROVA PERICIAL. IMPRESCRITIBILIDADE DA OBRIGAÇÃO DE REPARAÇÃO DO DANO AMBIENTAL. DIREITO FUNDAMENTAL AO MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO POLUIDOR. AUTONOMIA ENTRE AS ESFERAS CIVIL, PENAL E ADMINISTRATIVA. APELAÇÃO IMPROVIDA. I- A obrigação de reparação do dano ambiental é imprescritível, consoante orientação do Egrégio Superior Tribunal de Justiça. II- A Constituição da República consagra o direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado como interesse difuso das presentes e futuras gerações, prevendo a responsabilidade civil objetiva das pessoas físicas ou jurídicas pela prática de conduta ou atividade lesiva ao meio ambiente, sem prejuízo das respectivas sanções penais e administrativas. III- Nos termos do § 1º, do art. 14, da Lei n. 6.938/81, o poluidor é obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. IV- À responsabilização por danos ambientais, basta a existência da conduta, do dano e do nexo de causalidade entre ambos. V- Preclusão temporal em relação às alegações de afronta ao direito de defesa, dentre outras, decorrentes da ausência de prova pericial. VI - Afirmação falsa nas razões de apelação. VII - Não caracterização de bis in idem em razão de condenação na esfera penal. VIII - Inexistência de elementos a caracterizar condenação em valor excessivo. IX - Apelação improvida. (TRF-3 - AC: 100 SP 0000100-15.2005.4.03.6125, Relator: DESEMBARGADORA FEDERAL REGINA COSTA, Data de Julgamento: 18/04/2013, SEXTA TURMA) Consoante o artigo 225 da Constituição Federal e o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado constitui um direito difuso, sendo imposta a sua defesa e preservação para as presentes e futuras gerações e, para tanto, as condutas lesivas devem ser coibidas por meio das sanções penais, administrativas, independentemente do dever de reparação civil pelos danos causados. Desta forma, o requerido é responsável pela lesão ambiental por ter praticado os atos danosos ao meio ambiente. Na espécie, deve-se buscar a restauração do meio ambiente com a sua recomposição, sem prejuízo do dano moral coletivo configurado pela ocorrência da infração, consoante entendimento consolidado do Superior Tribunal de Justiça: DIREITO PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL. CUMULAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES DE RECOMPOSIÇÃO DO MEIO AMBIENTEE DE COMPENSAÇÃO POR DANO MORAL COLETIVO. Na hipótese de ação civil pública proposta em razão de dano ambiental, é possível que a sentença condenatória imponha ao responsável, cumulativamente, as obrigações de recompor o meio ambiente degradado e de pagar quantia em dinheiro a título de compensação por dano moral coletivo. Isso porque vigora em nosso sistema jurídico o princípio da reparação integral do dano ambiental, que, ao determinar a responsabilização do agente por todos os efeitos decorrentes da conduta lesiva, permite a cumulação de obrigações de fazer, de não fazer e de indenizar. Ademais, deve-se destacar que, embora o art. 3º da Lei 7.347/1985 disponha que "a ação civil poderá ter por 
objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer", é certo que a conjunção "ou" - contida na citada norma, bem como nos arts. 4º, VII, e 14, § 1º, da Lei 6.938/1981 - opera com valor aditivo, não introduzindo, portanto, alternativa excludente. Em primeiro lugar, porque vedar a cumulação desses remédios limitaria, de forma indesejada, a Ação Civil Pública - importante instrumento de persecução da responsabilidade civil de danos causados ao meio ambiente -, inviabilizando, por exemplo, condenações em danos morais coletivos. Em segundo lugar, porque incumbe ao juiz, diante das normas de Direito Ambiental - recheadas que são de conteúdo ético intergeracional atrelado às presentes e futuras gerações -, levar em conta o comando do art. 5º da LINDB, segundo o qual, ao se aplicar a lei, deve-se atender "aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum", cujo corolário é a constatação de que, em caso de dúvida ou outra anomalia técnico-redacional, a norma ambiental demanda interpretação e integração de acordo com o princípio hermenêutico in dubio pro natura, haja vista que toda a legislação de amparo dos sujeitos vulneráveis e dos interesses difusos e coletivos há sempre de ser compreendida da maneira que lhes seja mais proveitosa e melhor possa viabilizar, na perspectiva dos resultados práticos, a prestação jurisdicional e a ratio essendi da norma. Por fim, a interpretação sistemática das normas e princípios ambientais leva à conclusão de que, se o bem ambiental lesado for imediata e completamente restaurado, isto é, restabelecido à condição original, não há falar, como regra, em indenização. Contudo, a possibilidade técnica, no futuro, de restauração in natura nem sempre se mostra suficiente para reverter ou recompor integralmente, no âmbito da responsabilidade civil, as várias dimensões do dano ambiental causado; por isso não exaure os deveres associados aos princípios do poluidor-pagador e da reparação integral do dano. Cumpre ressaltar que o dano ambiental é multifacetário (ética, temporal, ecológica e patrimonialmente falando, sensível ainda à diversidade do vasto universo de vítimas, que vão do indivíduo isolado à coletividade, às gerações futuras e aos processos ecológicos em si mesmos considerados). Em suma, equivoca-se, jurídica e metodologicamente, quem confunde prioridade da recuperação in natura do bem degradado com impossibilidade de cumulação simultânea dos deveres de repristinação natural (obrigação de fazer), compensação ambiental e indenização em dinheiro (obrigação de dar), e abstenção de uso e nova lesão (obrigação de não fazer). REsp 1.328.753-MG, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 28/5/2013. A reparação in natura consiste na condenação do requerido a reparar o dano ambiental efetivado, mediante o reflorestamento suficiente para cobrir toda a área indevidamente explorada, de forma direta, sendo que a sua regeneração deve ser fiscalizada pelo órgão ambiental competente. Destarte, o dever de reparar o dano moral ambiental coletivo decorre da simples infração, posto que é necessário prestar integral proteção ao meio ambiente para a preservação da vida das presentes e futuras gerações. Neste ponto, a Constituição recepcionou o artigo 14, § 1º da Lei nº 6.938/81, que estabeleceu responsabilidade objetiva para os causadores de dano ao meio ambiente, nos seguintes termos: "sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente de existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros." A responsabilidade ambiental é objetiva e solidária, ou seja: havendo dano ambiental causado por mais de uma pessoa, todas serão solidariamente responsáveis. A existência do dano caracteriza a responsabilização. O meio ambiente é categoria que exprime uma série de elementos que, em seu conjunto, constituem um valor que transcende a sua mera soma, e que não pode ser traduzido mediante parâmetros econômicos. Tendo por consequências o desequilíbrio ecológico, relacionado diretamente, no presente processo, com a supressão irregular da Floresta Amazônica, para que seja transportada sem os documentos exigidos. Válido o ensinamento de Roque Marques, que propõe alguns parâmetros para aferição do dano ambiental de efeitos morais, quais sejam: a) circunstâncias do fato, b) gravidade da perturbação (intensidade leve, moderada ou severa; tamanho da área afetada; duração da agressão; tempo de recuperação da área afetada); 
c) condição econômica do poluidor1. Neste sentido, já decidiu o egrégio Tribunal de Santa Catarina que "como não é possível encontrar-se um critério objetivo e uniforme para a avaliação dos interesses morais afetados, a medida da prestação do ressarcimento deve ser fixada ao arbítrio do Juiz, levando-se em conta as circunstâncias do caso, a situação econômica das partes e a gravidade da ofensa. (Apud José Rubens Morato Leite. Op. cit. p. 307) Quanto ao valor a ser fixado deve ser considerada a gravidade da infração cometida; o impacto ambiental; a capacidade econômica do infrator; o caráter pedagógico da medida a servir de trava à degradação ambiental. Observando estes critérios de mensuração, FIXO A INDENIZAÇÃO NA QUANTIA DE R$ 5.000,00 (CINCO MIL REAIS). Ante o exposto, JULGO PROCEDENTE o pedido e declaro extinto o processo, na forma do art. 487, I, do Código de Processo Civil para condenar a parte requerida PEDRO TORRES DE LIMA: a) Reflorestar área correspondente aos 40,00 metros cúbicos de madeira, de preferência com mudas das espécies de Ingá, Sapucaia, Jatobá, Andiroba, Pau-Preto, Ipê, Cajá, Mogno e Sumaúma, esclarecendo que este rol é exemplificativo e não exaustivo, na área destinada à criação do Parque Ambiental Linear" Rio Itacaiúnas "- Grota do Aeroporto, na área compreendida entre a Avenida Sororó e o limite final do Bairro Amapá, nas Áreas de Preservação Permanente e mata cilia, conforme definido na Reunião do Projeto de Execução Civil Ambiental. b) Ficando sob a responsabilidade da parte requerida a aquisição das mudas e as despesas com o plantio e manutenção durante o primeiro ano, no prazo 120 (cento e vinte) dias, sob pena de multa mensal que fixo em R$ 1.000,00 (mil reais), recolhida ao Fundo que cuida o art. 13 da Lei nº 7.347/85. c) Eventual impossibilidade no cumprimento de obrigação de fazer restaurativa pode converter-se em perdas e danos a ser avaliada em fase executiva após escoado o prazo, e, se for o caso, revertido ao Fundo respectivo ou na execução de Projeto Aprovado pelo Plano de Execução Civil Ambiental, desde de que relacionado com o reflorestamento da Floresta Amazônica; d) Fica esclarecido aqui, que diante da necessidade de aumentar o quantitativo de mudas de espécies nativas da Amazônia, caso o condenado não consiga outro local para aquisição das mudas, poderá adquirí-las nos viveiros da SEAGRI e UNIFESSPA, mediante permuta por materiais necessários para o funcionamento dos viveiros, proporcionalmente ao valor de mercado das mudas; e) Pagar o valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), a título de indenização por danos morais coletivos, devendo a quantia ser revertida para o Fundo que cuida o art. 13 da Lei n. 7.347/85. Isento de custas, visto a gratuidade da justiça. Não são cabíveis honorários de sucumbência (REsp 1.099.573/RJ, 2ªTurma, Rel. - Lei nº 7.347: legitimidade O art. 5º da lei prevê quem pode ajuizar a Ação civil pública: - Art. 5º - Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar: I – o Ministério Público; II – a Defensoria Pública; III – a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; IV – a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista; V – a associação que, concomitantemente: a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil; b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção do patrimônio público e social, ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência, aos direitos de grupos raciais, étnicos ou religiosos ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico. - Lei nº 7.347: associações – requisitos Esse mesmo artigo 5º da lei em seu inciso V, alíneas “a” e “b” (V – a associação que, concomitantemente: a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil; b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção do patrimônio público e social, ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência, aos direitos de grupos raciais, étnicos ou religiosos ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico) prevê as exigências que as associações precisam cumprir e no seu parágrafo 4º (§4º - O requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz, quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão 
ou característica do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido) há previsão de elasticidade do requisito da pré-constituição. O requisito da pré-constituição, e somente ele, poderá ser dispensado pelo juiz quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão, por característica do dano ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido. Ou seja, o objeto da Ação civil pública é muito mais relevante do que a tecnicidade, a tecnicalidade do procedimento judicial. - Ação civil pública ambiental Estava falando ainda agora sobre inquérito civil, sobre possibilidade de concessão de liminar, essa hipótese contemplada no art. 12 da lei – possibilidade de concessão de liminar e possibilidade de suspensão da execução. Essa liminar pode ser concedida com base nos elementos reunidos no inquérito civil que vamos discutir daqui a pouco. - Art. 12, lei – Poderá o juiz conceder mandado liminar, com ou sem justificação prévia, em decisão sujeita a agravo. §1º - A requerimento de pessoa jurídica de direito público interessada, e para evitar grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia pública, poderá o Presidente do Tribunal a que competir o conhecimento do respectivo recurso suspender a execução da liminar, em decisão fundamentada, da qual caberá agravo para uma das turmas julgadoras, no prazo de 5 (cinco) dias a partir da publicação do ato. §2º - A multa cominada liminarmente só será exigível do réu após o trânsito em julgado da decisão favorável ao autor, mas será devida desde o dia em que se houver configurado o descumprimento. Uma outra coisa, que diz respeito à coisa julgada erga omnes nos limites da competência territorial do órgão prolator. A jurisprudência tem temperado a parte da “competência territorial do órgão prolator”. Vocês viram esse caso que aconteceu em Minas Gerais, que teve repercussão em outros estados da federação? Aí digamos que o juízo competente foi lá da comarca de Miraíma. E ele prolata a sentença. A competência dele é somente naquela comarca. Vocês estão vendo o que está dizendo no dispositivo? “Nos limites da competência territorial do órgão prolator”, então se o poluidor é condenado pelo juiz lá daquela comarca a reparar o dano, será que esse dano a ser reparado pelo poluidor é só dentro da comarca? O STJ já tem entendimento tranquilo de que não. Esse dispositivo aqui precisa ser lido à luz do princípio da reparação integral do dano. Isso aqui foi uma alteração que a lei nº 7.347 sofreu acho que em 2003 ou 2004, que foi mais ou menos o período em que vários dispositivos dela foram alterados. E aí vocês poderiam me perguntar por que tanta mudança? Porque uma Ação civil pública incomoda muita gente, especialmente o poder público, que é o principal cliente das Ações civis públicas. Então, houve já várias alterações nela, algumas bastante deletérias e entre todas essas alterações deletérias essa é uma das mais relevantes no meu entendimento, porque ela fragiliza a obrigação de reparação como se o dano ambiental pudesse ser limitado. Então, você reconhece a globalidade do dano ambiental, mas a obrigação de reparar tem que ser limitada ao espaço territorial dentro do qual o magistrado tem jurisdição? Não faz o menor sentido, porque seria esvaziar de sentido e de instrumentalidade a própria lei de Ação civil pública e responsabilidade civil pelo dano. Pergunta: então esse artigo é interpretado além, não se restringe? Exatamente, não se restringe ao limite territorial. Se restringe a que? À reparação integral do dano. Uma vez ocorrido o dano naquele território que ele tenha jurisdição ele seria competente para julgar a causa, mas não limitar os efeitos da decisão ao território, né? Isso mesmo. - Lei nº 7.347: art. 5º, MP como parte ou custus legis e litisconsórcio facultativo - Art. 5º, §1º e §5º, lei – §1º - O Ministério público, se não intervir no processo como parte, atuará obrigatoriamente com fiscal da lei. - Se o MP não for parte, ele vai intervir como custus legis, como fiscal da lei. §5º - Admitir-se-á o litisconsórcio facultativo entre os Ministérios públicos da União, do Distrito Federal e dos Estados na defesa dos interesses e direitos de que cuida esta lei. - Uma coisa 
importante é a possibilidade de litisconsórcio entre os Ministérios Públicos. Como vocês sabem, o art. 127 da CF/88, no caput, diz que o Ministério Público é uno e indivisível e seus membros tem autonomia e independência funcional (Art. 127 – O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis). E há o Ministério Público da União e os Ministérios Públicos dos Estados. Aqui em matéria ambiental, nos interessa a atuação dos Ministérios Públicos dos Estados e, dentro do Ministério público da União, o Ministério Público Federal, por meio das Procuradorias da República. Aí o que se andava questionando: ah, mas Procurador da República não pode ajuizar Ação civil pública na Justiça Estadual, porque Justiça Estadual é território de competência do Promotor de Justiça. Mas qual é a questão? É que os membros do Ministério Público não têm competências, mas atribuições. Eles se organizam administrativamente para atuarem da maneira mais eficiente possível na defesa dos interesses da sociedade. Então, o que é muito mais comum que não essa briga sem sentido de só atua lá ou só atua aqui? Todos atuam juntos e isso é muito interessante, especialmente em demandas que dizem respeito a interesses direitos ou indiretos da União e que dizem respeito a interesses estritamente locais de Município, por exemplo. Então, o que tem sido muito comum? Promotor de justiça e Procurador da República assinando a petição inicial da Ação civil pública e essa Ação é ajuizada quer na Justiça Estadual, quer na Justiça Federal. Essa possiblidade de litisconsórcio entre os membros do MP é algo que pode enriquecer enormemente a chance de essa Ação civil pública ser bem-sucedida. - Lei nº 7.347: art. 5º, litisconsórcio e desistência/abandono - Art. 5º, §2º e §3º - §2º - Fica facultado ao Poder Público e a outras associações legitimadas nos termos deste artigo habilitar-se como litisconsortes de qualquer das partes. – às vezes o Ministério Público federal e o promotor de justiça ajuízam a Ação civil pública, mas aí outro fica sabendo e também quer ser litisconsorte ativo e vai lá e se habilita nos autos. Isso pode fortalecer a mobilização. §3º - Em caso de desistênciainfundada ou abandono da ação por associação legitimada, o Ministério Público ou outro legitimado assumirá a titularidade ativa. - Isso é uma determinação, uma obrigação. Desistindo da ação, o juiz notifica todo mundo. - Lei nº 7.347: indenização revertida e (...) – não consegui ver Uma outra coisa importante: na hipótese de ser julgada improcedente essa Ação civil pública ambiental e ser fixada uma indenização, essa indenização, a princípio, não é para as pessoas individualmente (não entendi) consideradas, mas vai, por exemplo, para o Fundo de defesa de direitos difusos que vai converter esse dinheiro em benefício de toda a coletividade. Então, o escopo da lei de Ação civil pública é a reparação ampla, reparação líquida de toda a degradação ambiental em benefício de toda a coletividade. INQUÉRITO CIVIL Ainda pouco eu falei que o inquérito civil pode ter seus elementos utilizados para fundamentar uma decisão liminar. O que é um inquérito civil? É um procedimento administrativo inquisitivo à cargo só e somente só do Ministério Público. Ninguém, além do MP, pode instaurar inquérito civil. O inquérito civil, como procedimento administrativo, será utilizado para investigar a prática de ilícitos civis. Esses ilícitos civis podem ter natureza ambiental consumerista ou qualquer daqueles interesses difusos mencionados no rol do art. 1º da lei nº 7.347. Esse inquérito civil, como instrumento de investigação, vai ser utilizado pelo Ministério Público para dar lastro ao ajuizamento da Ação civil pública. O inquérito civil é um procedimento investigativo por meio do qual o MP vai levantar documentos, ouvir pessoas, expedir ofícios, determinar a execução de estudos técnicos, de todas as diligências necessárias ao ajuizamento da Ação civil pública. Todavia, o inquérito civil NÃO é pressuposto processual para o ajuizamento da 
Ação civil pública. O inquérito civil pode ser instaurado ou não. O que é importante lembrar? Só e somente só o Ministério Público pode instaurar o inquérito civil. E aí o MP pode instaurar de ofício, por provocação de alguém, por portaria, por mero despacho, enfim, o que é importante saber é que esse inquérito civil vai ser utilizado pelo MP para o ajuizamento da Ação civil pública. Mas é somente para o ajuizamento da Ação civil pública? Não. O inquérito civil pode ser instaurado pelo Ministério Público, por exemplo, antes de ele participar de uma audiência pública ou, até mesmo, pode ser instaurado para auxiliar o Ministério Público antes da celebração de um Termo de Ajustamento de Conduta. De todas essas hipóteses, o mais comum é se instaurar o inquérito civil antes do ajuizamento da Ação civil pública. Então, quais são os resultados possíveis de um inquérito civil? O inquérito civil pode resultar num ajuizamento de uma Ação civil pública; na celebração de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC); pode ser utilizado antes de uma audiência pública; e pode resultar em nada também. Se o Promotor de justiça ou o Procurador da República se convencer de que não havia um ilícito civil ou verificar ao longo do procedimento do inquérito que o dito poluidor tinha licença ambiental, não haverá o que fazer senão arquivar. A promoção de arquivamento do inquérito civil é uma decisão do Promotor ou Promotores de justiça. Quem é que preside o inquérito policial? É a autoridade policial. Quem fiscaliza e acompanha a decisão de arquivamento? É o juiz. Aqui no inquérito civil, quem instaura, preside e arquiva o inquérito civil é o Ministério Público. Então, o MP verificando a ausência de ilícito civil pode promover o arquivamento do inquérito, só que essa decisão vai ser revisada, vai ser submetida à análise do Conselho Superior do Ministério Público. Então, o Promotor de justiça que se convence que não se trata de hipótese de ajuizamento de Ação civil pública vai promover a decisão de arquivamento. E essa decisão de arquivamento precisa ser motivada. Promotor de justiça não vai arquivar sem justificar, vai ter que dizer porque, vai dizer, por exemplo, que a atuação que estava sendo imputada a um determinado poluidor tinha fundamento para uma licença ambiental regularmente expedida pelo órgão ambiental competente, então não há razão para o ajuizamento de uma Ação civil pública, por exemplo. Essa decisão de arquivamento do Promotor de justiça vai ser submetida ao Conselho Superior do Ministério Público e esse Conselho vai homologar a promoção de arquivamento (dizendo que não era caso mesmo de ajuizar a Ação civil pública) ou então vai indicar outro membro do Ministério público para ajuizar a Ação civil pública. “Ah, mas por que não manda para aquele que ao invés de fazer a Ação civil pública, arquivou?” Porque ele tem independência funcional. O Procurador de Justiça, membro do Conselho Superior do Ministério Público, não vai chegar para o Promotor de Justiça e mandar ele ajuizar a Ação civil pública, porque se ele já se convenceu de que não é caso para ajuizamento da Ação civil pública ele não pode obriga-lo a fazê-lo. Então, o Conselho Superior do Ministério Público ou homologa a decisão do Promotor de Justiça de arquivar o inquérito civil ou indica outro Promotor de Justiça para ajuizamento da Ação civil pública. Muitas pessoas ficam questionando: “Ah, essa promoção de arquivamento do inquérito civil pelo Ministério Público é inconstitucional com base na fundamentação de que nenhuma ameaça ou lesão ao direito pode ser impedida de acesso ao poder Judiciário”, mas qual a questão aqui? Se o Promotor de Justiça não ajuíza a Ação civil pública, a Defensoria pode, uma associação pode, a União, Estados e Municípios podem, fundação pode, autarquia pode. Então, como o Ministério Público não é exclusivo legitimado para o ajuizamento da Ação civil pública, o fato de ele arquivar o inquérito civil não impede daquela lesão ou ameaça ao direito seja submetida ao poder Judiciário por outro legitimado. Pergunta: Mas prejudica que outro membro do Ministério Pública possa entrar com essa Ação? Não, até porque o próprio Conselho Superior do Ministério Público vai indicar, se não homologar o arquivamento, outro Promotor de Justiça para o ajuizamento da Ação. E também no caso do 
Conselho homologar a decisão de arquivamento, não impede que outro Promotor possa ajuizar a Ação. Pergunta: esse outro Promotor que é indicado pelo Conselho Superior é obrigado a ajuizar a Ação? Não. - Inquérito civil: fundamento constitucional Lembra que eu falei sobre o art. 129, CF/88? É o mesmo inciso III que prevê a legitimidade para a Ação civil pública e a possibilidade de instauração de inquérito civil (Art. 129 - São funções institucionais do Ministério Público: [...] III – promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos). Uma coisa importante: é POSSIBILIDADE de instauração de inquérito civil, não está obrigado a fazer. No inquérito civil não se investiga prática de crimes, não há acusação, então o inquérito civil, até por ser um procedimento administrativo inquisitório, não tem contraditório e nem ampla defesa. Isso não significa que o advogado do suposto poluidor não possa acompanhar o procedimento, porque é óbvio que pode, ele precisa ter acesso àquelas peças do inquérito civil, mas não tem aquela mesma gravidade das investigações desenvolvidas no inquérito policial, no inquérito penal. 5438 - Lei nº 7.347: inquérito civil O art. 8º, lei – Para instruir a inicial, o interessado poderá requerer às autoridades competentes as certidões e informações que julgar necessárias, a serem fornecidas no prazo de 15 (quinze) dias. §1º - O Ministério Público poderá instaurar, sob sua presidência, inquérito civil, ou requisitar, de qualquer organismo público ou particular, certidões, informações, exames ou perícias, no prazo que assinalar, o qual não poderá ser inferior a 10 (dez) dias úteis. – PODERÁ. Uma coisa importante é que na instauração do inquérito civil é necessário que o Promotor de Justiça, Procurador da Repúblicatenham elementos mínimos pra isso. Então, apesar de não ser uma investigação com a mesma gravidade de um inquérito penal, é preciso ter justa causa. Então, por exemplo, uma denúncia anônima. Denúncia anônima pode motivar a instauração de um inquérito civil? É preciso haver elementos mínimos que motivem a existência de justa causa, porque mesmo não sendo uma investigação de um ilícito penal, mesmo a tipicidade sendo aberta, não havendo a necessidade daquela subsunção exata, que é típica do Direito Penal, é necessário que a autoridade, no momento de instaurar o inquérito civil, diga porque está instaurando e quais são os elementos mínimos. §2º - Somente nos casos em que a lei impuser sigilo, poderá ser negada certidão ou informação, hipótese em que a ação poderá ser proposta desacompanhada daqueles documentos, cabendo ao juiz requisitá-los. O artigo 9º da lei fala justamente da revisão da decisão de arquivamento e o que eu tinha mencionado anteriormente sobre a fundamentação da decisão de arquivamento do inquérito civil; a submissão dessa decisão ao Conselho Superior; a possibilidade de, até a decisão do Conselho Superior de promoção de arquivamento, as associações influenciarem no convencimento desses Procuradores de Justiça sobre a necessidade de não se arquivar o inquérito; e depois a designação do Conselho Superior de outro membro de Ministério Público para o ajuizamento da Ação civil pública, se ele de fato não homologar a decisão de arquivamento do inquérito civil. - Art. 9º - Se o órgão do Ministério Público, esgotadas todas as diligências, se convencer da inexistência de fundamento para a propositura da ação civil, promoverá o arquivamento dos autos do inquérito civil ou das peças informativas, fazendo-o fundamentadamente. §1º - Os autos do inquérito civil ou das peças de informação arquivadas serão remetidos, sob pena de se incorrer em falta grave, no prazo de 3 (três) dias, ao Conselho Superior do Ministério Público. §2º - Até que, em 
sessão do Conselho Superior do Ministério Público, seja homologada ou rejeitada a promoção de arquivamento, poderão as associações legitimadas apresentar razões escritas ou documentos, que serão juntados aos autos do inquérito ou anexadas às peças de informação. §3º - A promoção de arquivamento será submetida a exame e deliberação do Conselho Superior do Ministério Público, conforme dispuser o seu Regimento. §4º - Deixando o Conselho Superior de homologar a promoção de arquivamento, designará, desde logo, outro órgão do Ministério Público para o ajuizamento da ação. - Inquérito civil Aqui estão aquelas questões que eu mencionei ainda há pouco que se trata de um instrumento exclusivo do Ministério Público, cujo o objetivo é apurar fatos que fundamentem a atuação ministerial. É um procedimento investigatório de cunho inquisitivo. Durante o inquérito civil, serão reunidos elementos de convenção para o ajuizamento da Ação civil pública ou ainda para realizar TAC e participar de audiência pública. Importante mencionar que o inquérito civil não é pressuposto da Ação civil pública. Os elementos colhidos no inquérito podem ser utilizados pelo juiz para quem foi distribuída a Ação civil pública para decidir o pedido liminar, mas no julgamento do mérito da Ação civil pública esses elementos exclusivamente não poderão ser utilizados pelo juiz para condenar o poluidor. Por que? Porque esses elementos levantados no inquérito civil foram levantados sem o crivo do contraditório e da ampla defesa. Então durante a Ação civil pública o poluidor vai ter direito de produzir prova e é com base nessas provas produzidas sob o crivo do contraditório e da ampla defesa que o juiz proferirá a sua decisão, sua sentença na Ação civil pública ambiental. Então, uma coisa é utilizar os elementos do inquérito civil para decidir um pedido de urgência e outra coisa é utilizá-los exclusivamente no momento de proferir a sentença de mérito. Como eu mencionei ainda há pouco sobre denúncias anônimas, notícias de jornal, etc, é preciso que a instauração desse inquérito seja movida por justa causa, que seja devidamente fundamentada. Esses fatos extremamente falhos, sem eira e nem beira não podem dar base para a instauração de inquérito civil, então é preciso elemento mínimo para embasar uma investigação formal mesmo que essa investigação não seja da prática de um crime. Já mencionei também que são ilícitos cíveis que são investigados, que não temos uma subsunção tal como se dá no Direito Penal, havendo, portanto, uma adequação típica mínima e a possibilidade de instauração de inquérito civil como mecanismo de prevenir o dano ambiental. Então, a desgraça não precisa estar feita para que o inquérito civil seja instaurado, do mesmo modo que o dano ambiental não seja precisa acontecer para que seja ajuizada a Ação civil pública. O viés preventivo desses instrumentos, o princípio da prevenção que vimos anteriormente continua funcionando aqui na tutela jurisdicional do meio ambiente. Sobre acesso ao inquérito civil – advogado e o poluidor, obviamente, terão acesso. Outra coisa importante é sobre o controle da legalidade – eu falei no início que o inquérito civil precisa ter justa causa e se não tiver? O que desafia o inquérito civil ilegal? Mandado de segurança. Se fosse um inquérito policial, seria Habeas corpus. Sobre sigilo (é possível que seja decretado sigilo às investigações) – é possível que seja decretado sigilo sobre partes (parcial) do inquérito civil. É possível. Mas é preciso que isso seja fundamentado. Estou utilizando, obviamente, o Código de Processo Penal de maneira análoga. A autoridade vai poder assegurar o sigilo necessário à elucidação do fato, mas é óbvio que isso não impede o acesso do investigado ao inquérito civil. Constitucionalidade do arquivamento do inquérito civil e princípio da obrigatoriedade – essas questões a gente já mencionou ainda há pouco sobre essa constitucionalidade do arquivamento do inquérito civil e sobre o fato de outros legitimados poderem ajuizar a Ação civil 
pública na hipótese, por exemplo, de Promotor de justiça entender não ser caso de ajuizamento de Ação civil pública. Pergunta: o sigilo pode ser somente parcial? Pode. E a decisão precisa ser fundamentada. Mas, via de regra, as informações do inquérito são públicas? Sim, com base no art. 37 da CF/88, publicidade dos atos da Administração pública. TAC – Termo de Ajustamento de Conduta Ainda há pouco falei que o inquérito civil pode ser instaurado antes do ajuizamento de uma Ação civil pública, a realização de uma audiência pública e também deste inquérito pode resultar um Termo de Ajustamento de Conduta ou Compromisso de Ajustamento de Conduta. O TAC é um título executivo extrajudicial por meio do qual o poluidor se vincula perante uma autoridade administrativa a cumprir determinados requisitos fixados mediante ajuste prévio. O TAC é um piso, um patamar mínimo de responsabilidade. Isso significa que o poluidor não pode ser desonerado das obrigações que lhe são direcionadas por dispositivo de lei. O que significa isso? O Ministério público ou quaisquer outros legitimados à celebração do TAC não podem flexibilizar a legislação ou permitir que aquele poluidor descumpra a legislação pela celebração de um TAC. Por isso que eu disse que o TAC é piso mínimo de responsabilidade, é um ponto de partida da imputação de responsabilidade. - Lei nº 7.347: TAC O TAC tem previsão no §6º do art. 5º da Lei nº 7.347, que é a lei de Ação civil pública. - Art. 5º, §6º, lei – Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais, mediante cominações, que terá eficácia de título executivo extrajudicial. O que significa “eficácia de título executivo extrajudicial”? Significa que o descumprimento do TAC não exige o ajuizamento de Ação civil pública. Se vai executar o TAC diretamente, não se vai ter que submeter aquela situação a um procedimento judicial, e sim simplesmente vai executar aquele TAC. O que é importante saber e lembraré que apenas alguns legitimados ao ajuizamento da Ação civil pública podem celebrar Termo de Ajustamento de Conduta. De maneira tecnicamente incorreta, esse parágrafo 6º do art. 5º da lei fala de “órgãos públicos” e vocês devem imaginar que a União, por exemplo, não é órgão público, mas sim um ente federal. Mas o que significa de pronto esse termo “órgãos públicos”? Que as associações estão de fora, associações não podem celebrar nenhum TAC com o poluidor. Por que eu disse ainda há pouco que o TAC é um patamar mínimo, que representa um patamar mínimo de responsabilidade? Porque esse TAC precisa fixar cominações, ou seja, sanções em face de seu descumprimento. Se o empreendimento cometeu uma série de irregularidades e lançou dejetos contaminantes num curso d’água e não tinha licença ambiental, no TAC o legitimado que está tomando o ajuste de conduta não pode dizer que se dispensa o licenciamento. E outra: o TAC vai observar o princípio da responsabilidade integral do mesmo jeito. Então, se, por exemplo, uma determinada área foi objeto de desmatamento. Ah, digamos que essa área seja uma Unidade de Conservação de Proteção Integral. Houve degradação em todo o terreno, então houve construção irregular, desvio de curso d’água, supressão vegetal e tal dentro desse Parque Nacional. Aí o Ministério Público chama o poluidor e propõe um Ajuste de Conduta, e o poluidor aceita. Aí fica determinado que o poluidor vai reparar grande parte do terreno e deixa de fora apenas uma parte (mesmo essa pequena parte também afetada). Sobre esse pedaço afetado que não foi objeto do TAC, cabe ajuizamento de Ação civil pública ou celebração de outro TAC ou questionamento da validade do TAC como um todo, porque ele não conseguiu realizar a reparação integral. Por isso que eu disse que o TAC é o patamar mínimo de responsabilidade. 
Por que o TAC pode ser ótimo para a reparação do dano ambiental? Porque ele é muito mais rápido do que o caminhar lento, difícil, vagaroso e custoso de uma Ação civil pública. Nesse sentido, ele pode ser excelente, porque ele pode entregar a reparação do dano ambiental de modo muito mais eficiente e célere. Por que ele pode ser perigoso? Porque o TAC é passível de aditamentos. Existem aditamento que são excelentes, que são benéficos inclusive para o poluidor, e existem aditamentos que nada mais fazem do que agravar o dano ambiental sofrido pela área. Por exemplo, digamos que uma Usina Siderúrgica tenha celebrado com o Ministério Público um TAC. Uma das obrigações é a instalação de um determinado filtro para impedir a expedição de particulados sólidos em exagero na atmosfera. Só que o filtro era importado e demorava 6 meses para chegar. Então, no TAC foi firmado o prazo de 6 meses para instalação do filtro. Quando deu o 6º mês, o fabricante do filtro na Suíça liga para o poluidor dizendo que não iria conseguir enviar em 6 meses e diz que precisa de pelo menos mais 3 meses. O poluidor, portanto, liga para o Ministério Pública e informa a situação, entregando a comprovação de que comprou o filtro, a declaração do fabricante de que ele ficou preso e por isso precisa de mais 3 meses. Esse é um tipo de aditamento que é muito benéfico, porque o Promotor de Justiça vê nitidamente a boa-fé do poluidor. Mas existem aditamentos que se sucedem não para viabilizar o cumprimento da obrigação, mas para inviabilizar o atendimento às normas legais. E o TAC tem sido celebrado para tudo o que vocês possam imaginar. Em Prefeitura do interior do Estado do Maranhão, serão feitos TACs até para fazer concurso público; pra fechar lixão; pra determinar realização de Plano Municipal de Saneamento; etc. Por exemplo, essa treta da Cyrela em relação ao Jardins fizeram um TAC. Pode ser excelente, mas também pode ser bastante perigoso. Imagine você como Promotor de Justiça numa comarca no interior do Estado do Maranhão e faz Família, Crime, faz Júri, Infância e Juventude, Meio ambiente, Consumidor, Improbidade administrativa e celebra muitos TACs, é muito difícil ter estrutura para acompanhar a execução de tudo isso. Pergunta: se o TAC não cumpre a obrigação de reparação integral? Pode ser questionado judicialmente pela Ação civil pública, inclusive. Se um TAC não é cumprido, o que faz o Ministério Público? Ajuíza Ação civil pública? Não. Executa o TAC e acabou. O TAC pode ser celebrado nos autos de uma Ação civil pública. Quando isso acontece qual a repercussão para a Ação civil pública? O TAC, para fins processuais, é considerado como uma transação que implica na extinção do processo com resolução de mérito. Antes era o art. 269 do CPC/73, mas agora é o art. 487, CPC/15. O TAC é tido, para fins processuais, como transação. Então, a Ação civil pública vai ser extinta com resolução do mérito. - Art. 487, CPC/15 – Haverá resolução de mérito quando o juiz: I – acolher ou rejeitar o pedido formulado na ação ou na reconvenção; II – decidir, de ofício ou a requerimento, sobre a ocorrência de decadência ou prescrição; III – homologar: a) o reconhecimento da procedência do pedido formulado na ação ou na reconvenção; b) a transação; c) a renúncia à pretensão formulada na ação ou na reconvenção. Parágrafo único – Ressalvada a hipótese do §1º do art. 332, a prescrição e a decadência não serão reconhecidas sem que antes seja dada às partes oportunidade de manifestar-se. Por que é difícil considerar o TAC como transação? Um dos pressupostos da transação é a concessão mútua e o TAC é patamar mínimo de responsabilidade. Então, o legitimado, o IBAMA, por exemplo, celebra com o poluidor um TAC. O IBAMA não pode abrir mão do licenciamento, não pode abrir não da obrigação de reparar o dano causado a uma área de preservação permanente. Então, esse tipo de concessão não é legítimo havendo TAC. Pergunta: somente os legitimados do TAC é que podem executar? Sim, somente os legitimados do TAC.

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