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LARA FERNANDA ODONTOLOGIA DO TRABALHO

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1 INTRODUÇÃO
	A saúde e a segurança dos colaboradores vêm preocupando cada vez mais as empresas no mundo todo. No Brasil, o crescimento do “passivo trabalhista” ameaça a saúde financeira das empresas. As normas de certificações, quais sejam nacionais ou internacionais, vieram de encontro à necessidade das empresas demonstrarem seu compromisso com a redução dos riscos ambientais e com a melhoria contínua de seu desempenho em saúde ocupacional e segurança de seus colaboradores. Elas permitem analisar e avaliar, criticamente, cada Sistema de Gestão da Saúde e Segurança no Trabalho a identificar oportunidades de correções e implementar as ações necessárias (COSTA, 2008).
	Em face da recente criação da Odontologia do Trabalho durante a II Assembléia Nacional de Especialidades Odontológicas - II ANEO, em setembro de 2001, na cidade de Manaus, cuja regulamentação está apoiada pelas Resoluções de números 22/2001 e 25/2002 do Conselho Federal de Odontologia (CFO), vislumbra-se uma nova realidade, um desafio a ser trilhado com vistas a sedimentar os horizontes de atuação desta nova especialidade odontológica, sua capacidade de agregar conhecimentos em benefício da saúde bucal, da segurança e do bem-estar do trabalhador, além de possibilitar a oportunidade de estimular uma conscientização maior da relevância e do envolvimento da Odontologia do Trabalho para 
um Sistema de Gestão da Saúde e Segurança no Trabalho. 	A realização do presente trabalho faz-se oportuna diante do momento de transição vivido pela Odontologia do Trabalho no atual contexto da Gestão da Saúde e Segurança no Trabalho e a necessidade das empresas brasileiras se ajustarem à crescente demanda social por acesso a melhores condições de saúde, valorizando e motivando seus recursos humanos, que representam o patrimônio mais valioso a ser enfatizado no desempenho de uma gestão (COSTA, 2008).
	Atualmente, governos, empregadores e trabalhadores reconhecem, timidamente, as repercussões positivas que têm a introdução de Sistemas de Gestão da Saúde e Segurança no Trabalho (SGSST) nas organizações, tanto para a redução de riscos ocupacionais como para o incremento da produtividade. Neste cenário, a Odontologia do Trabalho em comunhão com as demais entidades integrantes do Sistema, vem propor sua inclusão e participação no Sistema de Gestão da Saúde e Segurança no Trabalho das organizações, no intuito de reforçar a mitigação dos riscos ocupacionais e acidentes de trabalho e, então favorecer a manutenção da saúde bucal e a qualidade de vida dos colaboradores, bem como garantir a ascensão do processo produtivo (COSTA, 2008).
2 A ÉTICA NA PRÁTICA DA ODONTOLOGIA DO TRABALHO
	O campo de atuação do profissional da Odontologia do Trabalho exige conhecimentos legais que transcendem àqueles fornecidos pela graduação. Questões legais muitas vezes entram em conflito com questões éticas. O limite entre elas pode ser muito tênue e às vezes classificada de acordo com as concepções das partes envolvidas e do embasamento de que têm do assunto. Como os valores morais e opiniões sobre situações vividas na área odontológica são muito díspares, pode-se verificar a dissonância entre as soluções potencialmente sugeridas para a resolução de conflitos. Desta forma, os aspectos éticos/morais devem ser solidamente conhecidos e praticados de forma a enriquecer sua individualidade e a respeitar a de seus semelhantes (PUPPIN et al., 2000).
	A ética na Odontologia estaria dentro do campo da Bioética, já que esta não possui novos princípios éticos fundamentais e sim é a ética já conhecida, aplicada a uma série de situações novas que estão se originando nas Ciências da Saúde. A ética está muito relacionada com a formação moral do indivíduo sendo externada continuamente através de ações frente a situações que a vida apresenta. A partir daí, cria-se um código próprio de viver e agir dentro do que considera-se certo ou errado, justo ou injusto, que caracterizará o indivíduo (RODRIGUES et al., 2007).
	Segundo Rodrigues et al., (2007) a atuação do cirurgião-dentista é regulada pelo Código de Ética Odontológica. O Código tem aspecto normativo e o que constituir infração ética pode resultar em aplicação de penas. Segundo o art. 10, do Código de Ética Odontológica constituem infração ética:
	“I – revelar, sem justa causa, fato sigiloso de que tenha conhecimento em razão do exercício de sua profissão;
	II – negligenciar na orientação de seus colaboradores quanto ao sigilo profissional.
	Parágrafo 1º: Compreende-se como justa causa, principalmente:
a) notificação compulsória de doença;
b) colaboração com Justiça nos casos previstos em lei;
c) perícia odontológica nos seus exatos limites;
d) estrita defesa de interesse legítimo dos profissionais inscritos;
e) revelação de fato sigiloso ao responsável pelo incapaz”.
	Em relação à Odontologia do Trabalho, o cirurgião-dentista ao atuar no processo de exame admissional e periódico dos trabalhadores, bem como, em seu exercício profissional dentro das empresas, deve atuar baseado nos preceitos éticos da profissão odontológica, para que assim, não cause danos ao trabalhador, no caso de conduta incorreta no exame bucal que levaria ao afastamento do empregado, como para a empresa, na ocorrência de identificação de fatores de riscos laborais equivocados frente às doenças bucais. As infrações éticas praticadas pelos inscritos em Conselho de Odontologia ao prescreverem 5 anos, interrompem-se pela propositura da competente ação (MAZZILLI, 2003).
	Conforme o Conselho Federal de Odontologia (2005) uma das áreas de atuação do especialista em Odontologia do Trabalho é o assessoramento técnico e a atenção em matéria de saúde e equipamentos de proteção individual.
	No capítulo II do Código de Ética Odontológico, o Inciso IV do Artigo 3 o especifica que o profissional tem o direito de “recusar-se a exercer a profissão, em âmbito público ou privado, onde as condições de trabalho não sejam dignas, seguras e salubres” (CONSELHO FEDERAL DE ODONTOLOGIA, 2003).
	O Inciso V do Artigo 5 o determina ser um dever dos profissionais e entidades de Odontologia o zelo pela saúde e pela dignidade do paciente (CONSELHO FEDERAL DE ODONTOLOGIA, 2003). 
	Conforme Brasil (2001) a Agência Nacional de Vigilância Sanitária determina a utilização dos seguintes EPIs para a equipe odontológica:
Gorro: de preferência descartável, que cubra todo o cabelo e as orelhas, devendo ser trocado sempre que necessário ou a cada turno de trabalho. Em procedimentos cirúrgicos, o paciente também deverá utilizá-lo.
Óculos de proteção: devem possuir laterais largas e bem vedadas, além de serem confortáveis, transparentes, laváveis e passíveis de desinfecção. O uso pelo paciente também está recomendado. Podem ser substituídos por protetores faciais.
Máscara: devem ser descartáveis, de filtro duplo e tamanho suficiente para cobrir completamente a boca e o nariz, permitindo a respiração normal e sem causar irritação à pele. Devem ser descartadas após o atendimento a cada paciente ou quando ficarem úmidas.
Avental: de mangas longas, de tecido claro e confortável, feito com tecido ou material descartável. Deverá ser de material impermeável na execução de procedimentos de limpeza e desinfecção de artigos, equipamentos e ambientes. Para a realização de todos os procedimentos, tem que estar fechado.
Luvas: de borracha para limpeza; de látex para procedimentos clínicos; de látex estéril para atendimentos cirúrgicos; de plástico, como sobreluvas, quando houver necessidade de manusear artigos fora do campo de trabalho.
Calçados: fechados e com solado antiderrapante. 
	Sendo assim Silva et al., (2002) e Brasil (2002) além dos EPIs, as seguintes medidas devem ser adotadas:
Lavagem das mãos antes e após o contato com o paciente e entre dois procedimentos no mesmo paciente.
Manipulação cuidadosa do material perfurocortante.
Não reencapar, entortar, quebrar ou retirar agulhas das seringas.
Ter atenção na transferência de materiais e artigos no trabalho a quatro mãos. Sempreque possível, utilizar uma bandeja.
Manter as caixas de descarte em local de fácil acesso e não preenchê-las acima de 2/3 da sua capacidade total Não utilizar agulhas para prender papéis em murais.
Descontaminar superfícies, caso haja presença de sangue ou secreções potencialmente infectantes.
Submeter os artigos utilizados a limpeza, desinfecção ou esterilização antes de serem utilizados em outros pacientes. 
Não tocar os olhos, o nariz, a máscara ou o cabelo enquanto realiza procedimentos ou manipula materiais orgânicos. Não se alimentar, beber ou fumar no consultório.
Manter os cuidados específicos na coleta e na manipulação de amostras de sangue.
Não atender telefone, tocar em superfícies e maçanetas calçando as luvas que estão sendo utilizadas para o atendimento do paciente.
	A correta execução das normas de biossegurança, em entidade pública ou privada, farão com que o paciente esteja devidamente protegido. Esta proteção está prevista no Artigo 66 do Código de Defesa do Consumidor, que pune com detenção (3 meses a 1 ano) e multa os prestadores de serviço que fizerem afirmação falsa ou enganosa, ou que omitirem informação relevante à segu rança do consumidor. O Inciso I do Artigo 6 o do mesmo código determina que a proteção da vida, a saúde e a segurança e ser contra as práticas no fornecimento de serviços considerados perigosos ou nocivos são direitos do consumidor, que é toda pessoa, física ou jurídica, que utiliza um serviço como destinatário final (Artigo 2o ) (BRASIL, 2002; BRASIL, 1990).
3 DISCUSSÃO
	Apesar de ser recente a regulamentação da especialidade odontológica cuja competência reside em atuar no campo da Saúde do Trabalhador (Brasil, 2002), inúmeras pesquisas relatam a existência de serviços odontológicos industriais em fins do século XIX e início do século XX. Isto devido às vantagens que programas de atenção odontológica voltados aos trabalhadores podem oferecer. Como exemplo destas vantagens, pode-se destacar: prevenção das doenças bucais, as quais diminuem a capacidade produtiva dos trabalhadores; facilidade de acesso por parte dos trabalhadores; possibilidade de diagnóstico precoce dos casos de câncer bucal; aumento da motivação do empregado, e aumento da sua qualidade de vida; aumento da eficiência do trabalhador, diminuição dos riscos de acidentes de trabalho e diminuição do absenteísmo. 
	Com relação ao perfil destes serviços, eles devem ser integrados aos demais setores da empresa, planejados observando a realidade do processo produtivo desenvolvido pela empresa em questão, e contar com a participação ativa dos trabalhadores.
	O primeiro princípio a ser observado quando da implantação de um programa de saúde (bucal ou geral) nas empresas, é que este deve visar a melhora das condições de saúde do trabalhador, pautado em princípios éticos e humanísticos, respeitando sua condição de ser humano, e não simplesmente como peças de um mecanismo de produção
4 CONCLUSÃO
	A implantação de um programa de atenção em saúde bucal voltado ao trabalhador teve ter como objetivo principal a promoção, proteção, recuperação e reabilitação da saúde bucal deste trabalhador contribuindo assim para uma melhora em sua qualidade de vida.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Instituto Nacional do Seguro Social. Resolução INSS/DC nº 089, de
05 de abril de 2002. Aprova a Norma técnica de Avaliação da Incapacidade
Laborativa para fins de Benefícios Previdenciários em HIV/AIDS. Disponível em: <http://www.aids.gov.br > Acesso em: 27 maio 2012
BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. 2001.Norma Regulamentadora 6 - Equipamento de Proteção Individual – EPI. Disponivel em: <http://www.mte.gov.br/Empregador/SegSau/Legislacao/Normas/> Acesso em: 27 maio 2012
BRASIL. Lei no 8.078 - Código de Defesa do Consumidor, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8078>. Acesso em: 27 maio 2012
CONSELHO FEDERAL DE ODONTOLOGIA. Resolução 63/2005: Artigos 67 e 68. Consolidação das Normas para procedimentos nos Conselhos de Odontologia. 54p. Disponível em: < http://www.cfo.org.br/download/pdf/consolidacao.pdf> Acesso em: 27 maio 2012.
CONSELHO FEDERAL DE ODONTOLOGIA. Código de Ética Odontológica: resolução nº 42, de 20 de maio de 2003.
COSTA, M. T. Odontologia do trabalho: uma perspectiva de integração aos sistemas de gestão da saúde e segurança no trabalho. IV CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO. Responsabilidade Socioambiental das Organizações Brasileiras Niterói, RJ, Brasil, 31 de julho, 01 e 02 de agosto de 2008. Disponível em: <http://www.latec.uff.br/cneg/documentos/anais_cneg4/T7_0052_0090.pdf> Acesso em: 26 maio 2012. 
MAZZILLI, L.E.N. Odontologia do trabalho. São Paulo: Santos; 2003.
PUPPIN, A.A.C; PAIANO, G.A; PIAZZA, J.L; TORRIANI, M.A. Ético versus legal – Implicações na rática clínica. Rev ABO Nac. 2000; 8(1): 38-41.
RODRIGUES, C. K.; DITTERICH, R. G.; HEBLING, E. Aspectos éticos e legais da Odontologia do Trabalho. Rev Inst Ciênc Saúde 2007; 25(4):449-53. Disponível em: <ttp://saudebucalcoletivauerj.files.wordpress.com/2011/02/aspectos-c3a9ticos-da-odontologia-do-trabalho1.pdf> Acesso em: 26 maio 2012. 
SILVA ACL, Trevisan AP, Friedman MT. Síndrome da imunodeficiência
adquirida. Manifestações orais e biossegurança no consultório odontológico. 
Med center com Odontologia . Maio de 2002. Disponível em: <http://www.odontologia.com.br/artigos.asp?id=31&idesp=5&ler=s> Acesso em: 27 maio 2012.

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