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Direito Empresarial Conceitos Fundamentais Unid 1 ao 3

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1 CONCEITOS FUNDAMENTAIS 
 
Muitas pessoas acreditam que, assim como o Direito do Consumidor protege os 
consumidores e o Direito do Trabalho protege dos trabalhadores, o Direito 
Empresarial possui como objeto a tutela do empresário. Ocorre que tal 
posicionamento está completamente equivocado. O Direito Empresarial, na 
verdade, tem o objetivo de disciplinar o exercício da atividade econômica 
organizada para a produção ou circulação de bens e de serviços. Ou seja, não 
é um ramo do direito destinado à proteção do empresário, mas sim à 
regulamentação da exploração de atividade econômica. Nesse aspecto vale 
ressaltar o posicionamento de Maria Helena Diniz: 
 
O direito de empresa, ramo do direito privado, é um conjunto de normas 
e princípios que regem a atividade empresarial; não é propriamente 
dito um direito dos empresários, mas sim um direito para a disciplina 
da atividade econômica organizada para a produção ou circulação de 
bens ou de serviços, exercida profissionalmente pelo empresário, por 
meio do estabelecimento, no interesse da coletividade. (DINIZ). 
 
No Direito Empresarial, como em todos os ramos do direito, diversas palavras 
são utilizadas com um significado técnico-jurídico diferente daqueles que lhes 
são dados pelo senso comum, ou seja, pelo público leigo. Assim, como se trata 
de uma obra de cunho jurídico as expressões a seguir serão utilizadas em seu 
sentido técnico. 
 
É corriqueira, mesmo em reportagens e em grandes veículos de comunicação, 
a utilização da palavra "empresa" de maneira inadequada. Em várias 
oportunidades é possível perceber que uma grande parcela da população utiliza 
tal expressão para se referir a uma pessoa jurídica, o que caracteriza um erro 
técnico grave, segundo o critério adotado pelo direito empresarial. Na realidade, 
o termo "empresa" significa a atividade econômica que é exercida por um 
empresário. Assim, não é possível afirmar que a Petrobrás é uma empresa. Na 
verdade, a Petrobrás exerce uma empresa (atividade econômica), qual seja: a 
pesquisa, a lavra, a refinação, o processamento, o comércio e o transporte de 
petróleo. 
 
Como mencionado, a empresa é exercida por um empresário, logo, no exemplo 
dado, o empresário é a Petrobrás, pessoa jurídica que explora a atividade 
econômica. Dessa forma, pode-se dizer, a título de introdução, que o empresário 
é a pessoa física ou jurídica que exerce uma atividade econômica, sendo ela 
denominada de empresa. 
 
1.1 CARACTERÍSTICAS DO DIREITO COMERCIAL 
 
O Direito Empresarial, como ramo do direito privado que tem como escopo a 
disciplina da exploração da atividade econômica, possui uma série de 
características próprias, que são responsáveis por diferenciá-lo de outros ramos 
do direito. Dentre as principais características desse ramo do direito destacam-
se: 
 
a) Cosmopolitismo: a prática comercial sempre carregou consigo a 
necessidade de intercâmbio entre os povos. Essa característica fez surgir 
usos e costumes comuns a todos os comerciantes, independentemente de 
sua nacionalidade. Esse cosmopolitismo do comércio gerou o 
cosmopolitismo do Direito Comercial. Por isso, existe uma tendência para 
universalização das normas de Direito Comercial/Empresarial, existindo 
vários tratados e várias leis modelo UNCITRAL - United Nations Commission 
on International Trade Law - Comissão das nações unidas sobre comércio 
internacional. 
 
Importante destacar que, ao contrário de outros ramos do direito, em que o 
costume e a cultura local devem interferir diretamente na construção do 
ordenamento jurídico, o Direito Empresarial deve, na medida do possível, se 
afastar das peculiaridades locais e possuir um caráter universal, viabilizando o 
intercâmbio e o comércio entre empresários de diversos países distintos. Ao criar 
normas de Direito Empresarial com caráter universal, ou seja, similares ao de 
outros países, haverá um natural estímulo ao desenvolvimento econômico, tendo 
em vista a existência de uma maior facilidade em se realizar negócios com 
investidores estrangeiros. 
 
b) Onerosidade: A ocupação mercantil sempre se caracterizou pelo seu 
intuito econômico ou lucrativo, logo, as relações jurídicas empresariais se 
presumem onerosas. Assim, não se deve esperar que um empresário 
pratique um ato gratuito, já que a finalidade da exploração da atividade 
econômica é a obtenção do lucro. Há uma presunção que o empresário será 
remunerado pelos serviços e produtos que coloca à disposição do seu 
público alvo. 
 
Ressalta-se, contudo, que não há impedimento para a distribuição de pequenas 
amostras e/ou disponibilização gratuita de um produto para o período de testes, 
pois nesses casos o empresário está, na verdade, adotando uma estratégia de 
publicidade, para cativar o consumidor e realizar a venda posterior do produto. 
 
c) Individualismo: O Direito Empresarial possui como característica 
marcante a busca pelo lucro, que possui caráter individual. Cada empresário 
atua da maneira que melhor atenda a seus interesses, sem se preocupar 
com fatores externos à gestão dos seus negócios, desde que respeite os 
limites legais. O lucro é a preocupação imediata do interesse individual. 
d) Dinamismo: O dinamismo do Direito Empresarial está diretamente 
relacionado com o desenvolvimento empresarial. O Direito Empresarial 
demanda uma frequente atualização, passando por constantes mudanças, 
tendo em vista que a prática empresarial e o surgimento de novas 
tecnologias geram a criação de novos negócios jurídicos que ainda não são 
previstos em lei. Ou seja, a frequente evolução das práticas comerciais 
acarreta o surgimento de novos modelos de negócios jurídicos (contratos e 
parcerias comerciais). 
e) Elasticidade: A elasticidade é uma característica que decorre 
naturalmente do dinamismo. Como a atividade empresarial é muito dinâmica 
e sempre surgem novos tipos de negócios, que não são regulamentados, o 
Direito Comercial deve ser capaz de adaptar suas normas e princípios para 
dar contornos jurídicos a essas novas relações jurídicas. 
 
Por isso, muitas vezes, a solução para determinado problema jurídico decorrerá 
da aplicação dos costumes empresariais e da aplicação dos princípios do Direito 
Empresarial, considerando que o legislador não é capaz de acompanhar a 
evolução das atividades empresariais e sempre existirão lacunas, ou seja, 
sempre surgirão novos negócios que não estão previstos em lei. Portanto, esse 
ramo do direito permanece em constante processo de mudanças, adaptando-se 
à evolução das relações de comércio. Como os contratos 
de leasing e franchising. 
 
f) Informalidade: A informalidade também é uma característica que está 
umbilicalmente ligada ao dinamismo. A atividade empresarial é 
eminentemente dinâmica e necessita de meios ágeis para a realização das 
operações. Tal necessidade acarreta a impossibilidade prática de se 
formalizar todos os negócios jurídicos empresariais. 
 
Por isso, muitas vezes as relações empresarias são realizadas apenas com 
acordos ou contratos verbais, sem que se exija uma formalização daquela 
relação jurídica em longos contratos, que demandam uma discussão de meses 
entre os advogados das partes envolvidas. 
 
g) Fragmentarismo: O Direito Empresarial encontra-se subdividido em 
diversos ramos, com características peculiares e, na maioria das vezes, 
independentes umas em relação às outras: 
 
I - teoria geral do Direito Empresarial (história, princípios, 
características, conceito, conceito de empresário, normas gerais 
aplicáveis aos empresários) 
II - direito societário; 
III - títulos de créditos; 
IV - falência e recuperação de empresas; 
V - propriedade industrial; 
VI - direito bancário. 
 
1.2 PRINCÍPIOS DO DIREITO EMPRESARIAL 
 
a) Livre iniciativa - liberdade individual no plano da produção, circulaçãoe 
distribuição de riquezas, assegurando a livre escolha das profissões, da 
atividade econômica e da forma de exploração dessa atividade, desde que 
respeite os limites impostos pelo ordenamento jurídico. A atividade 
econômica pode ser livremente exercida desde que não viole direitos 
individuais e coletivos. 
b) Livre concorrência: liberdade dada aos empresários para exercerem 
suas atividades segundo seus interesses, possuindo liberdade para 
delimitar suas estratégias e preços, desde que aja de boa-fé. Pode existir 
preponderância de um empresário sobre o outro, desde que a 
preponderância se dê em um cenário onde sejam respeitadas as leis 
econômicas. Por exemplo, não se pode vender o produto com valor abaixo 
do seu custo de produção, pois viabilizaria que um agente dotado de 
grandes recursos financeiros suportasse o prejuízo por um longo tempo, 
somente com a intenção de falir a concorrência; não se pode captar, 
fraudulentamente, a concorrência alheia. 
c) Função social da empresa (atividade econômica): A exploração de 
uma empresa, ou seja, o exercício de uma atividade econômica, atende a 
sua função social quando explora a atividade de forma lícita e eficaz, 
gerando tributos, produzindo riquezas, satisfazendo o interesse do 
empresário (caráter individual do direito empresarial), e, se possível, 
gerando empregos, sendo este fator menos importante e não 
imprescindível. 
 
Veja que é perfeitamente possível para um empresário que a função social da 
empresa seja alcançada, mesmo que o empresário não contrate sequer um 
funcionário. Vamos pensar no exemplo de um pai de família, que sempre foi o 
provedor do lar, trabalhando como diretor de uma indústria. Um dia, após vinte 
anos de serviços prestados, este pai de família é despedido e não consegue se 
recolocar no mercado de trabalho, ficando meses desempregado. 
 
Percebendo que suas economias, os frutos do acerto trabalhista e os recursos 
oriundos do seguro desemprego estão chegando ao fim, o pai de família resolve 
se registrar como microempreendedor individual e começa a revender salgados 
na porta de uma faculdade, obtendo uma renda de aproximadamente seis mil 
reais mensais. Ele está explorando uma atividade econômica (empresa), com 
habitualidade e visando extrair da exploração dessa atividade as condições 
necessárias para se desenvolver financeiramente, sendo considerado um 
empresário. A atividade está sendo explorada de maneira lícita, acarreta o 
pagamento de tributos e atende ao intuito lucrativo do empreendedor, 
viabilizando que o seu titular continue mantendo em dia as contas da família e 
garanta uma vida digna a ele, sua esposa e seu filho. Nesse caso, ainda que não 
haja a contratação de sequer um funcionário, não há como negar que a função 
social da atividade foi alcançada. 
 
1.3 FONTES 
 
a) Constituição federal; 
b) Código comercial 1850 - comércio marítimo 
c) Código civil 
d) Legislação extravagante (lei 11.101/05 - lei 8245/91 - lei 8934/94, etc..) 
e) Tratados internacionais 
f) Usos e costumes. 
 
1.4 HISTÓRIA 
 
A primeira constatação que se obtém ao analisar a história do Direito Comercial 
é de que o comércio é uma figura muita mais antiga do que o Direito Comercial. 
 
1.4.1 PERÍODO ANTERIOR AO DIREITO ROMANO: 
 
Praticamente irrelevante do ponto de vista do Direito Empresarial 
 
1.4.2 IMPÉRIO ROMANO 
 
Apesar de possuírem um ordenamento jurídico bem organizado e completo, os 
romanos não possuíam normas próprias para o Direito Comercial, inexistia um 
direito especial para o comercio. 
 
O direito romano se dividia entre ius civile (direito próprio dos cidadãos romanos 
- somente aplicável entre romanos - pretores romanos) e o ius gentium (direitos 
das gentes - aplicável pelos pretores peregrinos - para as relações jurídicas entre 
romanos e estrangeiros e entre estrangeiros e estrangeiros. 
 
Como a maioria dos comerciantes era estrangeiro, as relações comerciais 
passaram a ser regidas pelo ius gentium, inclusive quando as partes eram 
cidadãos romanos. Com o passar dos anos, houve a unificação de todo o direito 
privado, sem distinção entre estrangeiros e nacionais. Não havia direito civil e 
comercial - havia direito civil do cidadão nacional e direito civil do estrangeiro 
 
1.4.3 QUEDA DO IMPÉRIO ROMANO E FEUDALISMO 
 
Com a queda do império romano do ocidente houve uma fragmentação do poder 
político central, fortalecendo assim o poder local no continente europeu. Assim, 
ganha força na Europa o sistema do feudalismo onde os mais humildes 
procuravam proteção debaixo das hostes de seus senhores. Nos feudos, a 
economia era essencialmente ligada à agricultura e destinada à subsistência. 
Vários agricultores, cansados dos abusos praticados pelos senhores feudais, 
começaram a abandonar os feudos e migrar para outros locais, dando força para 
as cidades medievais. Nessas cidades, surgiram atividades industriais 
rudimentares e artesanais. 
 
Com isso, surge a classe burguesa, que deu nascimento a uma nova atividade 
econômica e a um novo espírito empreendedor, em clara contraposição à 
realidade feudal. Com o passar do tempo, a cidade se transformou num centro 
de consumo, de troca e de produção. Havia um trabalho livre dos artesãos e 
comerciantes, que foi se associando às corporações - as corporações de ofício. 
 
Ainda, surgiu, ao longo do tempo, o intercâmbio entre as cidades, nascendo as 
feiras e os mercados para reunião de mercadores, criando assim uma 
necessidade de desenvolvimento do transporte e da troca de moedas. Atrelado 
a isso, fez-se necessária a regulamentação daquelas atividades, que até então 
eram regidas pelas leis civis de cada uma das regiões onde se encontravam as 
cidades (basicamente - direito romano - direito canônico e leis germânicas). 
 
Assim, as corporações de ofício chamaram para si o papel de regulamentar o 
direito comercial, com base nos usos mercantis e também o papel de aplicá-las. 
Os comerciantes matriculados nas corporações elegiam cônsules, que seriam 
os responsáveis por realizar o julgamento. 
 
O Direito Comercial somente surgiu, portanto, durante a Idade Média, como um 
direito de cunho classista e subjetivo. Somente era aplicado àquelas pessoas 
que eram matriculadas nas corporações de ofício. - Com o passar do tempo as 
corporações passaram a julgar questões envolvendo comerciantes e não 
comerciantes e, posteriormente, questões envolvendo dois não comerciantes, 
desde que ligadas ao comercio. 
 
1.4.4 FORMAÇÃO DOS ESTADOS NACIONAIS 
 
Com a formação dos estados nacionais, o poder central volta a ganhar força e 
começam a editar as leis comerciais, que nesse momento eram muito similares 
àquelas normas aplicadas pelas corporações de ofício, que agora passaram a 
revestir de um poder estatal. 
 
1.4.5 TEORIA DOS ATOS DE COMÉRCIO/ ATOS DE MERCANCIA - 
REVOLUÇÃO FRANCESA - ADOTADOS TAMBÉM PELO CÓDIGO 
COMERCIAL BRASILEIRO DE 1850. 
 
O final da Idade Média foi marcado pela Revolução Francesa, tendo sido editado 
em 1807 o código comercial francês, que rompeu com o paradigma existente, 
abolindo a ideia de direito classista e inaugurando/instaurando o período 
objetivo. A figura do comerciante perdeu espaço e deu lugar aos atos do 
comércio. Não mais importava a existência ou não de registro, mas o exercício 
de um ato ligado ao comércio. 
 
Na falta de um critério mais adequado, o legislador elencou quais seriam os atos 
considerados como típicos do comércio - art. 632 e 633 do código comercial 
francês. Contudo, face à grande criatividade dos comerciantes, logo se 
demonstrou que era impossível para o legislador acompanhar a velocidade da 
transformação e evolução das atividades comerciais. 
 
1.4.6 TERIA DA EMPRESA - ADOTADA TAMBÉM PELO CÓDIGO CIVIL DE 
2002 
 
Surgiu com o código civil italianode 1942. 
 
1.5 A DISCUSSÃO SOBRE A UNIFICAÇÃO DO DIREITO PRIVADO 
 
Em 1892, Cesare Vivante, ao proferir aula magna na Universidade de Bolonha - 
ITA, sustentou a desnecessidade de fragmentação do direito privado em 
diversos ramos e sugeriu a unificação, novamente, do Direito Civil e do Direito 
Comercial, formando um único ramo de direito privado. 
 
Diante de tal posicionamento muito se discutiu sobre o tema, tendo repercutido 
muito a disputa acadêmica entre Alfredo Rocco(contrário à unificação) e Cesare 
Vivante. 
Após analisar a sugestão de Vivante, Rocco se posicionou contrariamente á 
sugestão apresentada, tendo elencado uma série de fatores que, em sua 
opinião, tornariam impossível a unificação. 
 
Os dois autores permaneceram com posicionamentos divergentes, até que 
Vivante, em 1919, se retratou e assumiu que a unificação não poderia ocorrer, 
basicamente porque o Direito Comercial, por ter um aspecto universal não se 
pode prender aos valores morais da sociedade como faz o Direito Civil. Assim, 
ocorre uma diferença de padrão de comportamento (ética) entre o comerciante 
e um cidadão comum. 
 
Essa diferença se tornou ainda mais acentuada com a Revolução Industrial, 
onde houve a exploração massificada de trabalho em condições desumanas. 
Naquela época, considerava que o comerciante (empresário) possuía um caráter 
perverso, o que aliado ao aspecto cosmopolitano do Direito Comercial, 
impediriam a unificação. 
 
Contudo, era pacífico na doutrina italiana que a teoria dos atos de comércio era 
ultrapassada e não era adequada ao dinamismo das relações comerciais. 
 
Apesar da retratação de Vivante, o Código Civil italiano de 1942 regulamentou a 
matéria de Direito Comercial e criou a teoria da empresa, hoje aplicada na maior 
parte do mundo. Todavia, ressalta-se que houve apenas uma unificação formal 
do Direito Comercial com o Civil, mas não houve a unificação material. Apesar 
de estarem previstos num mesmo código o Direito Civil e Empresarial, eles 
persistiram como ramos autônomos e com características e princípios próprios. 
Apenas houve a junção de duas matérias diversas num único diploma legal. 
 
O código civil de 2002 se inspirou no código italiano de 1942 e, além de promover 
a unificação formal do Direito Empresarial, adotou a teoria da empresa. 
 
1.5.1 A TEORIA DA EMPRESA 
 
Com o surgimento do Código Civil italiano de 1942 a teoria dos atos do comércio 
deu lugar à teoria da empresa, segundo a qual considera empresário quem 
exerce profissionalmente uma atividade econômica voltada para a produção ou 
circulação de bens ou de serviços, estando excluídos dessa compreensão os 
profissionais intelectuais e os produtores rurais. A premissa básica dessa 
exclusão é a de que esses profissionais não teriam adquirido a "ética perversa" 
do empresário. 
 
Dessa forma, a figura do comerciante foi substituída pela figura do empresário. 
 
1.6 CONCEITO DE EMPRESÁRIO 
 
Antes de analisar o conceito de empresário é importante destacar o conceito de 
profissional para o Direito Empresarial. 
 
Profissional: Pessoa física ou jurídica que exerce com habitualidade e em nome 
próprio uma atividade econômica com o objetivo de se estabelecer e se 
desenvolver financeiramente. 
 
Destaca-se que o Direito Empresarial é o único ramo do direito que admite a 
existência de um profissional pessoa jurídica, algo que não se admite no Direito 
do Trabalho (trabalhador pessoa jurídica) ou no direito administrativo (servidor 
público pessoa jurídica). 
 
Ressalta-se, ainda, que estão excluídos do conceito de profissional aqueles que 
exercem uma atividade lucrativa de caráter eventual/esporádico. Não será 
empresário, portanto, aquele que comprar uma casa e meses depois a revender 
com lucro, mesmo que tenha exercido uma atividade econômica e que tenha 
existido lucro, ele não será considerado empresário, pois não se trata de 
atividade exercida de maneira habitual, tendo ocorrido em caráter eventual. 
Contudo, se essa pessoa possuísse como profissão a compra e revenda de 
casa, ela seria considerada um empresário. 
 
Além disso, para ser profissional é indispensável que a atividade seja exercida 
em nome próprio, por isso o caixa do supermercado, a faxineira, o segurança, o 
repositor e demais funcionários não serão considerados profissionais para o 
direito empresarial, pois não exercem a atividade em nome deles, mas em nome 
do supermercado. Assim, o profissional é o próprio supermercado (profissional 
pessoa jurídica), pois a atividade é realizada em nome dele. 
 
Da mesma forma, os sócios de uma sociedade não são considerados 
empresários, pois a atividade é exercida não em nome deles, mas em nome da 
sociedade. Vamos pegar como exemplo o Jorge Paulo Lemann (principal 
acionista/sócio da Ambev), a atividade econômica não é exercida em seu nome, 
mas em nome da Ambev, logo o profissional é a "Ambev" e não o Jorge Paulo 
Lemann, que deve ser chamado de sócio de uma sociedade ou, no máximo, de 
empreendedor. 
 
Por fim, reitera-se que o Direito Empresarial possui caráter oneroso e que a 
exploração de uma atividade econômica pressupõe a busca pelo lucro. Assim, o 
profissional não exerce uma atividade apenas por amor ou por filantropia. O 
profissional exerce uma atividade em busca de lucro, ou seja, por dinheiro. O 
profissional sempre visa uma remuneração e a remuneração do explorador de 
uma atividade econômica é o lucro. Por isso, pode-se falar que será profissional 
a pessoa que explore uma atividade com a intenção de lucrar. 
 
Note-se que o requisito aqui delineado é a intenção de lucrar e não a obtenção 
efetiva do lucro após a exploração da atividade, o prejuízo não retira o caráter 
profissional da atividade, pois o que importa é que houve o objetivo de lucrar, 
houve finalidade lucrativa. A ocorrência de prejuízo simplesmente demonstra 
que o objetivo não foi alcançado. 
 
Aqui, pode-se fazer uma analogia com a situação de um aluno de graduação, 
que possui a intenção de aprender o conteúdo e ser aprovado. O fato de no final 
do semestre não obter a pontuação desejada e a consequente reprovação não 
o descaracteriza como aluno, mas apenas demonstra que o objetivo não foi 
alcançado. 
 
Por fim, é importante destacar que o Direito Empresarial reconhece apenas três 
tipos de profissionais: 
 
a) profissional intelectual: o profissional pessoa física será chamada apenas 
de profissional intelectual; já o profissional intelectual pessoa jurídica será 
chamado de Sociedade de natureza Simples ou Eireli de natureza Simples. 
b) profissional rural: pode ser chamado de rurícola ou ruralista. 
c) Empresário: o empresário pessoa física será chamado de empresário 
individual; já o empresário pessoa jurídica será chamado de sociedade 
empresária ou de Eireli empresária. 
 
1.6.1 CONCEITO DE EMPRESÁRIO INDIVIDUAL (EMPRESÁRIO PESSOA 
FÍSICA) 
 
O conceito de empresário individual (nome dado ao empresário pessoa física) 
está descrito no Art. 966, do Código Civil Brasileiro: 
 
Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente 
atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de 
bens ou de serviços. 
Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão 
intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o 
concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da 
profissão constituir elemento de empresa. (BRASIL, 2002). 
 
Esse artigo gera divergências doutrinárias e merece um estudo mais profundo. 
 
a) Regra geral caput do art. 966: 
 
Assim, para que haja a caracterização do empresário, exige-se a presença 
conjunta de quatro elementos: 
 
I - Profissionalismo: como já estudado, será considerada profissional a 
pessoa física ou jurídica que exerce, com habitualidade,em nome próprio, 
uma atividade econômica com o objetivo de se estabelecer e se desenvolver 
financeiramente. 
II - Exploração de atividade econômica: atividade com finalidade lucrativa. 
Considera-se a intenção de lucrar e não a existência do lucro ao final da 
atividade. 
III - A organização: esta matéria será estudada no subtópico seguinte. 
IV - Produção ou circulação de bens ou de serviços. 
 
b) A organização da atividade 
 
A atividade econômica será considerada organizada quando houver a presença 
conjunta dos fatores de produção: capital; trabalho e atividade. 
 
Assim, uma atividade econômica será organizada quando houver a utilização de 
capital (dinheiro ou qualquer outro bem economicamente apreciável, ainda que 
de pequeno valor), e quando houver a sistematização da forma de exploração 
da atividade (horário de funcionamento, forma de atendimento, forma de 
disposição dos produtos na prateleira, formas de pagamento aceitas etc.), sendo 
ainda indispensável a existência de trabalho. 
 
No tocante à inclusão do trabalho como um dos fatores de produção, é 
necessário esclarecer que existem duas correntes sobre o tema. A primeira, cujo 
principal expoente é Fábio Ulhoa Coelho, sustenta que uma atividade somente 
é organizada quando há a contratação de funcionários: 
 
Como organizador de atividade empresarial, o empresário (pessoa 
física ou jurídica) necessariamente deve contratar mão-de-obra, que é 
um dos fatores de produção. Seja como empregado pelo regime do 
Direito do Trabalho (CLT) ou como representante, autónomo ou 
pessoal terceirizado vinculados por contrato de prestação de serviços, 
vários trabalhadores desempenham tarefas sob a coordenação do 
empresário. (COELHO, 2007, p.22). 
 
Nessa mesma obra o autor reafirma a necessidade de contratação de mão de 
obra e exemplifica uma situação hipotética em que não haveria a caracterização 
do empresário por ausência de contratação de mão de obra: 
 
O comerciante de perfumes que leva ele mesmo, à sacola, os produtos 
até os locais de trabalho ou residência dos potenciais consumidores 
explora atividade de circulação de bens, fá-lo com intuito de lucro, 
habitualidade e em nome próprio, mas não é empresário, porque em 
seu mister não contrata empregado, não organiza mão de obra. 
(COELHO, 2007, p.13-14). 
 
Ocorre que tal entendimento não se adequa ao nosso ordenamento jurídico, pois 
o Direito Empresarial somente reconhece três tipos de profissionais, o 
intelectual, o rural e o empresário. Parece claro que o vendedor de perfume que 
vive da compra e venda habitual de perfumes exerce a atividade em seu próprio 
nome e com habitualidade, objetivando o lucro. Assim, inequívoco que a 
atividade exercida é profissional e deve ser inserida numa das três categorias 
acima. Diante de tal situação questiona-se: 1 - a atividade exercida é rural? 2- a 
atividade exercida é intelectual? 
 
Em ambos os casos a resposta é negativa, logo a atividade profissional citada 
será, indubitavelmente, empresária. Na realidade não se exige a contratação da 
mais valia alheia para que se faça presente o fator de produção "trabalho", o que 
se exige é que alguém trabalhe. O trabalho pode ser do próprio empresário ou, 
no caso das sociedades empresárias, dos próprios sócios. Sobre o tema Haroldo 
Malheiros Verçosa ensina que: 
 
Não é elemento essencial da organização da atividade que ela seja 
feita com o concurso de trabalho de outras pessoas além do 
empresário. Suponha-se um caso-limite: um empresário individual ou 
uma sociedade empresaria formada por dois únicos sócios exerce 
atividade inteiramente automatizada, seja por recorrer integralmente a 
robôs, seja pela utilização exclusiva de computadores, sem contar com 
qualquer empregado ou prestador de serviços. Mesmo assim deve ser 
reconhecida a existência da empresa, desde que presentes os demais 
elementos essenciais. (VERÇOSA, 2011, p.144). 
 
Superada essa pequena divergência quanto à delimitação da organização da 
atividade é importante voltar ao caput do art. 966, que estabelece que 
"considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica 
organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. 
 
Após análise sobre o profissionalismo, a atividade econômica e a organização, 
infere-se que aparentemente todo aquele que em caráter habitual explorar, em 
seu nome, uma atividade econômica, com o emprego de trabalho e capital e 
visando o lucro seria considerado empresário. Contudo, o legislador cuidou de 
trazer duas exceções a essa regra, quais sejam: o profissional intelectual e o 
profissional rural, que serão estudados abaixo. 
 
1.6.2 PARÁGRAFO ÚNICO DO ART. 966. - O PROFISSIONAL 
INTELECTUAL 
 
O art. 966 estabelece em seu parágrafo único que "não se considera empresário 
quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, 
ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da 
profissão constituir elemento de empresa.". 
 
Veja-se que o parágrafo único do artigo 966 foi elaborado para retirar da 
compreensão do conceito de empresário o profissional intelectual (de natureza 
científica, literária ou artística), ainda que ele produza ou circule bens e serviços 
em seu próprio nome, de forma habitual, com finalidade lucrativa e que haja o 
emprego de capital e trabalho. Ou seja, embora estejam presentes todos os 
requisitos indispensáveis para a caracterização da atividade empresarial, essas 
pessoas não serão consideradas como empresárias, por expressa previsão 
legal. 
 
Contudo, o próprio legislador cuidou de trazer uma exceção e estabeleceu que 
quando a profissão intelectual constituir elemento de empresa ela será 
considerada empresária. Atualmente existem duas teorias acerca do significado 
da expressão elemento de empresa: 
 
1ª corrente: Segundo Fábio Ulhoa Coelho, a profissão intelectual será 
considerada elemento de empresa quando houver a perda na pessoalidade na 
exploração da atividade. Segundo o autor, o que determina a caracterização da 
atividade intelectual como elemento de empresa é a contratação de funcionários 
de tal forma que o principal papel do profissional intelectual seja a gestão da 
atividade e não a sua realização efetiva. Para esclarecer esse conceito, o autor 
apresenta o seguinte exemplo: 
 
Imagine o médico pediatra recém-formado, atendendo seus primeiros 
clientes no consultório. Já contrata pelo menos uma secretária, mas se 
encontra na condição geral dos profissionais intelectuais: não é 
empresário, mesmo que conte com o auxílio de colaboradores. Nesta 
fase, os pais buscam seus serviços em razão, basicamente, de sua 
competência como médico. Imagine, porém, que, passando o tempo, 
este profissional amplie seu consultório, contratando, além de mais 
pessoal de apoio (secretária, atendente, copeira etc), também 
enfermeiros e outros médicos. Não chama mais o local de atendimento 
de consultório, mas de clínica. Nesta fase de transição, os clientes 
ainda procuram aqueles serviços de medicina pediátrica, em razão da 
confiança que depositam no trabalho daquele médico, titular da clínica. 
Mas a clientela se amplia e já há, entre os pacientes, quem nunca foi 
atendido diretamente pelo titular, nem o conhece. Numa fase seguinte, 
cresce mais ainda aquela unidade de serviços. Não se chama mais 
clínica, e sim hospital pediátrico. Entre os muitos funcionários, além 
dos médicos, enfermeiros e atendentes, há contador, advogado, 
nutricionista, administrador hospitalar, seguranças, motoristas e 
outros. Ninguém mais procura os serviços ali oferecidos em razão do 
trabalho pessoal do médico que os organiza. Sua individualidade se 
perdeu na organização empresarial. Neste momento, aquele 
profissional intelectual tornou-se elemento de empresa. Mesmo que 
continueclinicando, sua maior contribuição para a prestação dos 
serviços naquele hospital pediátrico é a de organizador dos fatores de 
produção. Foge, então, da condição geral dos profissionais intelectuais 
e deve ser considerado, juridicamente, empresário. (COELHO, 2007, 
p.16-17). 
 
Essa teoria possui diversos problemas, a começar pela premissa equivocada de 
que uma atividade econômica somente é organizada se contratar funcionários, 
o que não é verdade, conforme já amplamente demonstrado. Partindo de tal 
premissa(equivocada) o autor sustenta que o grau da organização (a maior 
contratação de funcionários) iria desnaturar a natureza jurídica da atividade, 
transformando uma profissão intelectual em atividade empresária. 
 
A ideia básica de que parte o autor está fundamentada na perda da pessoalidade 
no exercício da profissão intelectual, a partir do momento que os consumidores 
pararem de procurar o profissional e procurarem a estrutura organizada, haveria 
a transformação da atividade intelectual em empresária. Ocorre que a exceção 
prevista no parágrafo único do art. 966 existe especificamente para retirar o 
caráter de empresário do profissional intelectual já organizado, pois do contrário 
já não seria considerado empresário, uma vez que a organização é elemento 
indispensável para a sua caracterização. Sobre o tema Alfredo de Assis 
Gonçalves Neto ensina que: 
 
Não se enquadra no conceito de empresário, segundo o parágrafo 
único do artigo 966, 'quem exerce profissão intelectual, de natureza 
científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou 
colaboradores'. 
É importante esclarecer, desde já, que essa previsão por excepcionar 
o caput do art. 966, supõe, evidentemente, o exercício de atividade 
dessa natureza sob a forma organizada e em caráter profissional, pois 
se assim não fosse, não precisava existir ressalva alguma. Ou seja, se 
não se verificarem os pressupostos da atividade organizada e da 
atuação profissional do intelectual, não há como enquadrá-lo no art. 
966, o que torna incogitável, por isso e por óbvio, subsumi-lo ao 
respectivo parágrafo: por excluído já estar, a disposição excludente 
não o apanha. (GONÇALVES, 2012, p.76). 
 
Além disso, o critério adotado por Fábio Ulhoa Coelho é muito subjetivo e deve 
ser analisado sob a ótica do consumidor, e a visão pode variar de um consumidor 
para outro. Vamos analisar a circunstância a partir do exemplo trazido pelo autor. 
No caso por ele apresentado, alguns clientes poderiam procurar a clínica em 
virtude de sua organização e não possuir qualquer preferência de profissional, 
mas outros clientes poderiam procurá-la para serem atendidos especificamente 
pelo fundador. Nesse caso, a atividade seria intelectual para uns e empresária 
para outros pacientes? Qual seria o exato momento em que a atividade seria 
considerada empresária? Na contratação do primeiro, segundo, terceiro, décimo, 
vigésimo ou milésimo médico? Essas questões não são respondidas pelos 
adeptos dessa teoria e geram uma insegurança prática muito grande. Isso 
porque o profissional empresário deve se registrar perante a Junta Comercial, 
sob pena de exercer a atividade de maneira irregular, perder algumas proteções 
jurídicas e se sujeitar a uma série de punições. 
 
Diante do exposto, não restam dúvidas quanto ao equívoco praticado pelos 
adeptos dessa teoria. 
 
2ª corrente: Uma segunda corrente, defendida por Alfredo de Assis Gonçalves 
Neto e que deve prevalecer por estar mais adequada ao nosso ordenamento 
jurídico, defende que a complexidade da organização não possui qualquer 
relação direta com a aplicabilidade do regime jurídico empresarial aos 
profissionais intelectuais. Isso porque a exceção do parágrafo único tem como 
principal objetivo excluir o profissional intelectual que explore atividade 
econômica organizada da delimitação do conceito do empresário. Destaca-se 
que o próprio legislador autorizou a contratação de funcionários ao permitir o 
concurso de auxiliares ou colaboradores. Além disso, toda atividade profissional 
possui objetivo lucrativo, assim, a complexidade da organização, a quantidade 
de funcionários contratados e o volume dos lucros apurados não podem servir 
como base para que a profissão intelectual se converta em atividade 
empresária. 
 
Soma-se a isso o fato de que o principal fator que justificou a exclusão da 
atividade intelectual do rol de atividades empresárias é a diferença de 
comportamento (diferença ética) identificada ao longo da discussão acerca da 
unificação do direito privado. Assim, um empresário que exerça apenas atividade 
intelectual, mesmo que contrate muitos funcionários, jamais será considerado 
empresário, pois o legislador fez uma presunção absoluta de que ele não 
incorporou a (perversa) ética empresarial. Este é o posicionamento de Vinícius 
José Marques Gontijo: 
 
Por outro lado, essa 'diversidade de espírito' em atos, ética, 
comportamento, o legislador brasileiro não vislumbrou absorvida por 
aqueles que exercem atividade intelectual, pouco interessando se de 
natureza artística, literária ou cientifica. Daí a exclusão contemplada no 
parágrafo único do art. 966 do Código Civil, que tem evidente 
conotação ética. 
[...] 
Com efeito, entendemos que a exceção contemplada pelo parágrafo 
único do art.966 do Código Civil tem origem na vetusta dicotomia do 
Direito Privado; o nosso legislador entendeu que aqueles que exercem, 
na condição de pessoa natural ou mesmo pessoa jurídica, atividades 
intelectuais ainda não absorveram o ''estado de espírito'', ou seja: a 
ética empresarial, e dessa feita, devem estar excluídos da 
compreensão de empresários. (GONTIJO, 2004, p.32-33). 
 
Portanto, o critério utilizado para que a atividade intelectual se caracterize como 
elemento de empresa deve ser outro. Certo é que, ao prever que a profissão 
intelectual será considerada empresária quando caracterizar elemento de 
empresa, o legislador criou uma exceção da exceção e previu a possibilidade da 
profissão intelectual configurar atividade empresária. 
 
Para chegar a uma conclusão acerca do significado da expressão "elemento de 
empresa" é necessário voltar um pouco nas primeiras noções de Direito 
Empresarial, onde fica claro que a expressão "empresa" significa atividade 
econômica explorada por empresário. Assim, sugere-se, para fins didáticos, que 
ao realizar a releitura do parágrafo único do art. 966, a expressão "elemento de 
empresa" seja substituída por "parte integrante da atividade econômica". Dessa 
maneira a redação do parágrafo único do art. 966 ficaria: "Não se considera 
empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou 
artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o 
exercício da profissão (intelectual) constituir parte integrante da atividade 
econômica.". 
 
Ou seja, a profissão intelectual estará incluída no rol de atividades empresárias 
quando fizer parte de um todo mais complexo (Teoria do Objeto Complexo ou 
Teoria do Ato Único). Portanto, se a única atividade explorada for intelectual, a 
atividade jamais será considerada empresária, todavia, se em conjunto com a 
atividade intelectual for explorada uma ou várias atividades empresárias, 
prevalecerá a ética empresarial sobre a ética do profissional intelectual e a 
atividade será empresária. Este é o posicionamento de Alfredo de Assis 
Gonçalves Neto: 
 
[...] de toda maneira, ser "elemento de atividade econômica organizada 
em empresa" ou, simplesmente, "elemento de empresa" significa 
parcela dessa atividade e não a atividade em si, isoladamente 
considerada. Evidencia-se assim, assim, que a única possibilidade de 
se enquadrar a atividade intelectual no regime jurídico empresarial será 
considerando-a como parte de um todo mais amplo apto a se identificar 
comoempresa - ou, mais precisamente, como um dos elementos em 
que se decompõe a empresa. 
[...] sujeita-se às disposições do direito empresarial e, portanto, 
considera-se empresário o intelectual que contribui com seu trabalho 
profissional para a feitura ou a circulação de um produto ou serviço 
diverso e mais complexo do que aquele em que se insere sua 
habilitação. (GONÇALVES, 2012, p. 78). 
 
Para fins elucidativos cita-se o caso de um veterinário. Caso ele se limite a 
prestar o serviço de medicina veterinária, ainda que contrate diversos 
funcionários, inclusive outros veterinários e tenha lucro gigantesco, jamais será 
considerado empresário, pois a única atividade explorada é a intelectual. Por 
outro lado, se um veterinário, que sequer contrate funcionários, além de prestar 
o serviço de medicina veterinária vende shampoo para cachorros, ração e 
coleira, além da atividade intelectual é exercida uma segunda atividade de 
natureza empresária. Nesse caso, a presunção é de que a ética (perversa) do 
empresário irá preponderar sobre a ética empresarial e ele será considerado 
empresário. 
 
1.6.3 ART. 971. - O PRODUTOR RURAL (RURÍCOLA OU RURALISTA) 
 
Além do profissional intelectual, o legislador criou mais uma exceção ao conceito 
de empresário e estabeleceu que, como regra geral, o rurícola não será 
empresário, a não ser que, por livre e espontânea vontade, se registre perante a 
Junta Comercial. É o que estabelece o art. 971, do Código Civil: 
 
Art. 971. O empresário, cuja atividade rural constitua sua principal 
profissão, pode, observadas as formalidades de que tratam o art. 968 e 
seus parágrafos, requerer inscrição no Registro Público de Empresas 
Mercantis da respectiva sede, caso em que, depois de inscrito, ficará 
equiparado, para todos os efeitos, ao empresário sujeito a 
registro.(BRASIL, 2002). 
 
Dessa forma, percebe-se que o rurícola é um profissional que possui o direito de 
escolher se será empresário ou não. Caso não queira ser considerado 
empresário, basta não se registrar perante a Junta Comercial. Por outro lado, 
caso queira se registrar, no exato instante em que realiza o registro será galgado 
ao status de empresário. Importante destacar, ainda, que a regra prevista no 
artigo 971 do Código Civil é aplicável apenas ao profissional pessoa física. 
 
Assim, o produtor rural pessoa física poderá ser empresário ou não, dependendo 
de sua vontade de se registrar. Já as pessoas jurídicas que explorem atividade 
rural sempre serão consideradas empresárias, pois sua existência depende de 
um registro perante a junta comercial. 
 
1.7 AGENTES ECONÔMICOS - PESSOAS NÃO NATURAIS (EMPRESÁRIO 
PESSOA JURÍDICA) 
 
Este tema será melhor desenvolvido nas unidades subsequentes, contudo, é 
importante destacar que além do profissional pessoa física, o Direito Empresarial 
reconhece a existência do profissional pessoa jurídica. O art. 44 do Código Civil 
elenca, em rol exaustivo, quem são pessoas jurídicas de direito privado: 
 
Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado: 
I - as associações; 
II - as sociedades; 
III - as fundações; 
IV - as organizações religiosas; 
V - os partidos políticos; 
VI - as empresas individuais de responsabilidade limitada. 
 
 Dentre essas pessoas jurídicas, apenas as sociedades e as empresas 
individuais de responsabilidade limitada (Eireli) se destinam à exploração da 
atividade econômica com finalidade lucrativa, e, portanto, podem ser 
empresárias. 
 
Mais adiante serão estudados todos os tipos de sociedade (existem diversos 
tipos de sociedades) e a Eireli. No entanto, desde já, é indispensável elencar 
quais os tipos de sociedades existentes para enquadrá-las enquanto sociedades 
empresárias e não empresárias. Nesse momento é oportuno esclarecer que as 
pessoas jurídicas não empresárias serão chamadas de "Sociedades de 
Natureza Simples" ou de "Eireli de Natureza Simples" e não mais de profissional 
intelectual ou rurícola. 
 
Antes de analisar a aplicabilidade do conceito de empresário para as sociedades 
e para a Eireli, é necessário elencar os tipos de agentes econômicos e de 
pessoas jurídicas que possuem finalidade lucrativa: 
 
a) Sociedade Simples Pura 
b) Sociedade Cooperativa 
c) Eireli 
d) Sociedade Em Nome Coletivo 
e) Sociedade Limitada 
f) Sociedade em Comandita Simples 
g) Sociedade em Comandita por Ações 
h) Sociedade Anônima 
 
A Sociedade Simples Pura sempre terá natureza simples e somente pode 
explorar atividade intelectual. 
 
Já a Eireli, a Sociedade Limitada, a Sociedade em Nome Coletivo e a Sociedade 
em Comandita Simples, em virtude do previsto no art. 982, do código civil, podem 
ter natureza simples ou empresária, dependendo do tipo de atividade que 
explorem, conforme conceito estudado no art. 966. 
 
A Cooperativa pode explorar qualquer atividade econômica, mas sempre será 
considerada sociedade de natureza simples, ainda que a atividade não seja 
intelectual. (art. 982, do Código Civil). 
 
Já as sociedades por ações (Sociedade Anônima e Sociedade em Comandita 
por Ações) sempre serão consideradas empresárias, ainda que exerçam apenas 
atividade intelectual. 
 
Ressalta-se que as sociedades empresárias e a Eireli empresária devem ser 
registradas perante a Junta Comercial, ao passo que as sociedades de natureza 
simples e a Eireli de natureza simples devem se registrar no Registro Civil das 
Pessoas Jurídicas (Cartório de Pessoas Jurídicas). Contudo, a cooperativa, 
apesar de ser considerada sociedade de natureza simples, deverá ser registrada 
perante a Junta Comercial. 
 
1.8 OBRIGAÇÕES COMUNS A TODOS OS EMPRESÁRIOS 
 
Todos os empresários, sejam pessoas físicas ou jurídicas, possuem duas 
obrigações comuns. A Primeira é o dever de registro, a segunda é o dever de 
manter uma escrituração atualizada de suas atividades, ou seja, de manter 
atualizada sua documentação fiscal e contábil. 
 
A seguir, analisaremos cada uma das obrigações dos empresários. 
 
1.8.1 OBRIGAÇÃO DE REGISTRO 
 
O empresário, seja ele individual ou pessoa jurídica, possui o dever de registro, 
segundo previsão do art. 967, do CC/02: 
 
O Art. 967. É obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público 
de Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do início de sua 
atividade. (BRASIL, 2002). 
 
Dizer que o empresário é obrigado a se registrar no Registro Público de 
Empresas Mercantis (RPEM) equivale a dizer que ele deve se registrar perante 
a Junta Comercial. A lei especial nº 8.934/94 regulamenta o registro público de 
empresas mercantis e também estabelece a necessidade de registro do 
empresário individual: 
 
Art. 32. O registro compreende: 
(...) 
II - O arquivamento: 
a) dos documentos relativos à constituição, alteração, dissolução e 
extinção de firmas mercantis individuais, sociedades mercantis e 
cooperativas. (BRASIL, 1994). 
 
Mais adiante, a lei também estabelece que o registro do empresário individual 
terá efeito ex tunc (retroativo) caso o registro seja realizado no prazo de trinta 
dias, contados da data da assinatura do requerimento de empresário 
(documento a ser protocolizado na Junta Comercial para requerer o registro do 
empresário). Assim, quando o registro for deferido, o empresário será 
considerado como empresário regular desde a data em que foi assinado o 
requerimento de empresário. 
 
Por outro lado, se o pedido de inscrição foi realizado após o prazo de trinta dias, 
o empresário somente será considerado regular após o seu registro, nesse caso 
o registro terá efeitos apenas ex nunc (não retroativos). Veja que não é 
impossível o registro após o lapso temporal mencionado, mas apenas os efeitos 
decorrentes do registro não retroagirão à data da assinatura do requerimento. 
Assim, caso o empresário já tivesseiniciado a exploração da atividade, será 
considerado empresário irregular no período compreendido entre a data do início 
da atividade e a data do deferimento do seu registro e, após essa data, passará 
a condição de empresário regular. 
 
Segue a redação do art. 36, da Lei 8,934/93: 
 
Lei 8934/94 - Art. 36. Os documentos referidos no inciso II do art. 32 
deverão ser apresentados a arquivamento na junta, dentro de 30 
(trinta) dias contados de sua assinatura, a cuja data retroagirão os 
efeitos do arquivamento; fora desse prazo, o arquivamento só terá 
eficácia a partir do despacho que o conceder. (BRASIL, 1993). 
 
O registro do empresário individual ou do empresário pessoa jurídica acarreta 
vários efeitos, dentre os quais destacam-se: 
 
a) regularidade na exploração da atividade 
 
b) proteção jurídica e gozo das prerrogativas próprias dos empresários: 
 
* regime jurídico tributário diferenciado: 
* possibilidade de registro no cadastro de contribuintes fiscais (CNPJ) e 
emissão de notas fiscais; 
* Obter enquadramento como pequeno empresário, microempresa ou 
empresa de pequeno porte (lcp 123/06); 
*participar de licitações (art. 28, II, lei 8666/93); 
* possibilidade de autenticar os livros do empresário (possibilidade de 
cumprir com o dever de escrituração). 
* possibilidade de pedir recuperação judicial - art. 48, LREF 
* possibilidade de pedir falência de outros empresários art. 97, lei 11.101/05 
 
c) No caso das pessoas jurídicas ainda existem os seguintes efeitos, que serão 
estudados na próxima unidade: 
 
* Surgimento da pessoa jurídica e aquisição da personalidade jurídica. 
* Autonomia patrimonial entre a pessoa jurídica e seus titulares. 
* Autonomia obrigacional entre a pessoa jurídica e seus titulares. 
 
1.8.2 ESCRITURAÇÃO. 
 
Uma das obrigações que a lei impõe ao empresário, seja ele pessoa física ou 
jurídica, é a manutenção regular de sua escrituração contábil. 
 
A legislação brasileira exige que o empresário individual, a Eireli e a sociedade 
empresária mantenham um sistema de escrituração contábil, que engloba a 
escrituração de seus livros e o levantamento anual do balanço de resultados 
econômicos e do balanço patrimonial. Ou seja, obriga-se que o empresário 
possua um sistema de registros contábeis regulares e que sejam capazes de dar 
credibilidade e transparência ao regular andamento da atividade empresarial. 
Importante destacar que não basta a elaboração desses documentos, sendo 
necessária sua autenticação (registro) perante a junta comercial. 
 
Assim, o empresário deve manter um sistema de contabilidade, elaborado por 
profissional habilitado, e sua documentação contábil deve ser apresentada para 
a junta comercial que realizará sua autenticação, certificando, inclusive a data 
em que foi apresentada. A escrituração será feita em idioma e moeda corrente 
nacionais e em forma contábil, por ordem cronológica de dia, mês e ano, sem 
intervalos em branco, nem entrelinhas, borrões, rasuras, emendas ou 
transportes para as margens. 
 
Apesar de se tratar de documentação protegida por sigilo, a documentação 
contábil deverá ser apresentada em caso de fiscalização realizada por 
integrantes da administração fazendária, que estejam verificando a regularidade 
no pagamento dos tributos. Além disso, há a possibilidade de que numa ação 
judicial o juiz determine a quebra do sigilo e a apresentação da documentação 
contábil. 
 
Por isso, após autenticar sua documentação contábil o empresário deve arquivá-
la e conservá-la, enquanto não estiverem prescritas as ações a que se referem 
os documentos. Ou seja, enquanto houver prazo hábil para que alguém ajuíze 
contra o empresário uma ação (processo judicial) sobre os fatos e documentos 
relativos à documentação contábil, o empresário deverá conservá-la, pois o juiz 
pode determinar a apresentação de tais documentos. 
 
Por fim, é importante esclarecer que a forma de elaboração da documentação 
contábil não é objeto de estudo do Direito Empresarial, por ser matéria inerente 
às disciplinas do curso de contabilidade. Há apenas a necessidade de 
compreensão do dever de se manter um adequado sistema de contabilidade. 
 2 EMPRESÁRIO INDIVIDUAL - PESSOA FÍSICA QUE EXERCE ATIVIDADE 
EMPRESÁRIA 
 
Na unidade anterior foram estudados os requisitos para a caracterização do 
empresário, considerando-se empresária a pessoa que exercer, com 
habitualidade e em nome próprio, uma atividade econômica organizada para a 
produção ou circulação de bens ou de serviços, desde que a atividade não seja 
de caráter exclusivamente intelectual. Importante relembrar que o empresário 
pode ser uma pessoa física ou jurídica. A pessoa física que exerce uma atividade 
empresarial deve ser chamada de empresário individual. 
 
Empresário individual é, portanto, uma pessoa física que exerce uma atividade 
empresária. Como todo empresário, ele deve se registrar na Junta Comercial, 
oportunidade em que irá ser inscrita no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas 
(CNPJ), devendo seu número de inscrição constar em seus contratos e nas 
notas fiscais que emitir. Importante esclarecer que apesar de ocorrer uma 
inscrição no CNPJ, não foi criada uma pessoa jurídica, sendo a atividade 
exercida em nome da pessoa física. Tal inscrição tem fundamento apenas na 
necessidade de se viabilizar o recolhimento de tributos e a fiscalização realizada 
pelas autoridades fazendárias responsáveis por controlar o adequado 
pagamento dos tributos. 
 
2.1 CAPACIDADE PARA SER EMPRESÁRIO E VEDAÇÕES AO EXERCÍCIO 
DA EMPRESA 
 
O Código Civil Brasileiro estabelece, em seu artigo 972, que poderão ser 
empresárias individuais as pessoas que sejam consideradas capazes e não 
tenham nenhum impedimento legal para o exercício da atividade empresária: 
 
972. Podem exercer a atividade de empresário os que estiverem em 
pleno gozo da capacidade civil e não forem legalmente impedidos. 
 
Antes de analisar de maneira mais detida o conteúdo da referida previsão legal, 
é necessário esclarecer o que significam as expressões personalidade jurídica e 
capacidade. 
 
As pessoas naturais (físicas) adquirem personalidade quando nascem com vida 
e somente a perdem com a morte. Mas o que é personalidade? A personalidade 
não é um elemento natural, inerente à qualidade do ser humano, mas sim uma 
invenção do Direito. Já houve época em que o Direito não atribuía personalidade 
a alguns seres humanos, que eram considerados coisas, como ocorreu com os 
escravos. Atualmente todo ser humano que nasce com vida adquire 
automaticamente a personalidade jurídica. 
 
O conceito de personalidade está umbilicalmente ligado às pessoas (físicas ou 
jurídicas), tendo em vista que o instituto jurídico é somente é atribuível a elas. 
Por personalidade entende-se a aptidão que as pessoas possuem para se tornar 
sujeito de direitos e obrigações/deveres. Ou seja, somente as pessoas (físicas 
ou jurídicas) possuem direitos a exercer e deveres a cumprir. 
 
O ser humano passa a ser considerado pessoa do ponto de vista jurídico, com a 
aquisição da personalidade jurídica. Ou seja, a partir do momento em que nasce 
com vida. Por outro lado, o Direito permite que algumas pessoas se reúnam e 
criem uma nova pessoa para determinado fim, trata-se da criação de uma 
pessoa jurídica, que possui personalidade jurídica própria, distinta da de seus 
criadores. Por isso, como as pessoas jurídicas gozam de personalidade jurídica, 
são sujeitos de direitos e deveres, possuindo patrimônio próprio. 
 
As pessoas não naturais (jurídicas) somente adquirem a personalidade jurídica 
com o registro de seus atos constitutivos (estatuto ou contrato social). A partir do 
momento em que é realizado referido ato, tem-se o surgimento de um novo ente 
dotado de personalidade jurídica, e que se tornoutitular de direitos e obrigações. 
 
A partir de agora, vamos analisar especificamente a aquisição de direitos e 
deveres pelas pessoas naturais (físicas) e, para tanto, será necessário o estudo 
de outro instituto jurídico: a capacidade. 
 
O Código Civil estabelece que "toda pessoa é capaz de direitos e deveres na 
ordem civil." (art. 1º, do Código Civil). Portanto, a capacidade está diretamente 
relacionada com a personalidade e podemos dizer que a capacidade é a medida 
da personalidade. Essa medida pode ser plena ou limitada. Se por um lado todas 
as pessoas podem ser titulares de direitos e obrigações, por outro, algumas 
possuem poder efetivo para praticar atos da vida civil e outras possuem mero 
potencial para tanto. Por isso, o ordenamento jurídico estabelece que algumas 
pessoas possuem capacidade plena e outras não, criando a figura do incapaz. 
 
O bebê pode ser proprietário de uma casa, mas é impossível que ele celebre o 
contrato de compra e venda, sem que seus pais participem da celebração do 
contrato, isso porque, apesar de possuir uma aptidão para contrair direitos e 
obrigações, não possui a capacidade de fazê-los por conta própria. 
 
O Código Civil estabelece que a pessoa com menos de dezesseis anos é 
absolutamente (completamente) incapaz e para manifestar sua vontade deve ser 
representada pelos seus responsáveis legais. Assim, para que um bebê adquira 
um imóvel seus pais devem assinar por ele a escritura de compra e venda, ou 
seja, seus pais deverão representá-lo e manifestar a vontade do menor, sem que 
ele participe do ato. 
 
Por outro lado, a pessoa que já completou dezesseis anos, mas ainda não atingiu 
os dezoito anos, é relativamente incapaz. Essa pessoa também não possui 
capacidade para praticar sozinha os atos da vida civil, mas também já possui 
discernimento suficiente para contribuir para a prática desses atos. Por isso, os 
relativamente incapazes não são representados por seus responsáveis legais, 
que deixam de representá-lo e passam a auxiliá-lo na prática desses atos, 
passando a ser chamados de assistentes. 
 
Desta feita, para que um jovem de dezessete anos adquira um imóvel não 
bastará a assinatura de seus responsáveis legais, mas sim a assinatura do 
menor e de seus responsáveis legais que passaram a ser seus assistentes e não 
mais seus representantes. 
 
Por fim, frisa-se que os maiores de dezoito anos que forem interditados 
(declarados incapazes por um juiz de direito) também são considerados 
incapazes. 
 
A regra geral é que a pessoa física adquire a capacidade plena aos dezoito anos, 
quando deixa de possuir responsáveis legais, salvo se for declarada incapaz 
numa ação judicial de interdição. 
 
Ressalta-se, ainda, a possibilidade de uma pessoa com menos de dezoito anos 
alcançar a capacidade plena. Isso ocorre nos casos em que um menor de idade 
é emancipado, nesse caso, apesar de não possuir dezoito anos aquela pessoa 
será considerada capaz. 
 
Como regra geral, em decorrência da previsão do art. 972 do Código Civil, o 
incapaz não pode exercer atividade empresária. Nesse aspecto, é importante 
ressaltar que não se exige a maioridade para o exercício de atividade 
empresária, mas sim a capacidade plena, por isso o menor emancipado pode se 
registrar como empresário. 
 
Apesar de se exigir a capacidade plena para o exercício de uma atividade 
empresária, excepcionalmente, o incapaz poderá exercer a atividade empresária 
nas duas hipóteses previstas no art. 974 do Código Civil: 
 
Art. 974. Poderá o incapaz, por meio de representante ou devidamente 
assistido, continuar a empresa antes exercida por ele enquanto capaz, 
por seus pais ou pelo autor de herança. 
§ 1o Nos casos deste artigo, precederá autorização judicial, após 
exame das circunstâncias e dos riscos da empresa, bem como da 
conveniência em continuá-la, podendo a autorização ser revogada pelo 
juiz, ouvidos os pais, tutores ou representantes legais do menor ou do 
interdito, sem prejuízo dos direitos adquiridos por terceiros. 
§ 2o Não ficam sujeitos ao resultado da empresa os bens que o incapaz 
já possuía, ao tempo da sucessão ou da interdição, desde que 
estranhos ao acervo daquela, devendo tais fatos constar do alvará que 
conceder a autorização. 
 
A primeira hipótese em que o incapaz poderá exercer atividade empresária 
ocorre nos casos de incapacidade superveniente, ou seja, se uma pessoa era 
empresário e, posteriormente ao início da exploração da atividade, perdeu a 
capacidade. Nesse caso será necessária uma autorização judicial e a nomeação 
de um representante ou assistente, dependendo do grau da incapacidade. 
 
Ressalta-se que os bens de uso pessoal que o incapaz possuía antes da perda 
da capacidade não responderão por novas obrigações (dívidas) contraídas para 
a exploração da atividade. Por outro lado, os bens que ele já utilizava para 
explorar a atividade e todos os novos bens por ele adquiridos (seja de uso 
pessoal ou profissional) poderão ser executados por novas dívidas relacionadas 
à exploração da atividade. 
 
Já em relação às dívidas anteriores à perda da capacidade, não há qualquer 
limitação de responsabilidade e todos os bens do incapaz poderão ser 
executados. 
 
Uma segunda hipótese de exploração da atividade por incapaz ocorrerá quando 
o incapaz for herdeiro de um empresário que venha a falecer. Nesse caso 
também será indispensável uma autorização judicial para a exploração da 
atividade e a nomeação de um assistente ou representante, dependendo do grau 
da incapacidade. 
 
Nessa hipótese, os bens que o incapaz possuía antes da sucessão não 
responderão por dívidas ligadas à exploração da atividade econômica. 
 
Por fim, é importante destacar que algumas pessoas jamais poderão ser 
empresários por expressa proibição legal. O ordenamento jurídico brasileiro 
impede que algumas pessoas exerçam atividade empresária, é o caso dos: 
 
• servidores públicos federais: artigo 117, X, da lei 8112/90 
• magistrados: art. 36, I, da LCP 35/79 
• Membros do MP: art. 44, III, da lei 8.625/93 
• Militares - art. 29 da lei 6.880/80 
 
Essas pessoas, ainda que dotadas de capacidade, jamais poderão exercer 
atividade empresária. 
 
Por fim, vale destacar que não há nada que impeça que uma pessoa incapaz ou 
mesmo uma legalmente impedida de exercer uma empresa (atividade) ou que 
seja sócia de uma pessoa jurídica que explore atividade empresária. A proibição 
existente é no sentido de que elas sejam empresários individuais. 
 
2.2 RESPONSABILIDADE DO EMPRESÁRIO INDIVIDUAL 
 
O empresário individual, como já dito, é uma pessoa física que exerce em seu 
próprio nome uma empresa (atividade econômica). Como a atividade econômica 
é explorada em nome da própria pessoa física não há separação entre os bens 
de uso pessoal e os bens de uso profissional, também não há distinção entre as 
dívidas contraídas em virtude da exploração da atividade e as dívidas contraídas 
por questões pessoais. 
 
Desse modo, caso o empresário individual tenha dívidas, o credor poderá fazer 
recair a cobrança sobre qualquer parcela do seu patrimônio, independentemente 
da origem da dívida e da destinação atribuída ao bem. Ou seja, não há uma 
separação entre patrimônio e dívidas pessoais e patrimônio e dívidas 
profissionais. 
 
Dizer que o empresário individual não possui qualquer tipo de limitação de 
responsabilidade ou que possui responsabilidade ilimitada, significa, portanto, 
que todo o seu patrimônio poderá ser responsabilizado pelas dívidas decorrentes 
da exploração da atividade empresária. Assim, tanto o credor pessoal pode fazer 
recair a execução sobre os bens profissionais, quanto o credor ligado à 
exploração da atividade pode fazer recair a cobrança sobre os bens pessoais do 
empresário individual. 
 
Vamos pensar que Joãoda Silva é empresário e utiliza um carro de sua 
propriedade exclusivamente para questões ligadas à exploração da atividade. 
Além disso, João possui um sítio onde costuma passar férias com sua família. 
Vamos supor que João, por uma dificuldade financeira momentânea deixe de 
efetuar o pagamento do aluguel do imóvel onde exerce a atividade empresária. 
Nesse caso, não há dúvida de que a dívida tem cunho profissional, ou seja, 
decorre apenas da exploração da atividade. Como não há qualquer limitação de 
responsabilidade para o empresário individual o dono do imóvel poderá requerer 
a penhora do carro ou do sítio, ainda que o bem não tenha qualquer relação com 
a empresa, para que seja feito o pagamento do crédito que possui. 
 
2.2.1 EMPRESÁRIO INDIVIDUAL CASADO 
 
Visando resguardar os interesses da família, nenhuma pessoa casada, salvo se 
o regime de bens for o da separação absoluta de bens, poderá alienar bens 
imóveis de sua propriedade sem a concordância do cônjuge. É o que se extrai 
do art. 1.648, do Código Civil: 
 
Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges 
pode, sem autorização do outro, exceto no regime da separação 
absoluta: 
I - alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis; 
 
Todavia, essa regra possui uma exceção prevista no art. 978 do Código Civil, 
que estabelece que o empresário casado, independentemente do regime de 
bens, poderá vender, sem necessidade de consentimento do cônjuge, os 
imóveis que sejam de sua propriedade e que sejam utilizados, exclusivamente, 
para a atividade profissional. 
 
Art. 978. O empresário casado pode, sem necessidade de outorga 
conjugal, qualquer que seja o regime de bens, alienar os imóveis que 
integrem o patrimônio da empresa ou gravá-los de ônus real. 
 
2.3 EMPRESÁRIO RURAL 
 
O produtor rural pessoa física poderá requerer sua inscrição na Junta Comercial, 
hipótese em que ficará equiparado, para todos os fins, ao empresário individual. 
 
2.4 EMPRESÁRIOS PESSOAS JURÍDICAS 
 
2.4.1 A PESSOA JURÍDICA E A AQUISIÇÃO DA PERSONALIDADE 
JURÍDICA 
 
Pode-se afirmar que a pessoa é um sujeito de direito. Ou seja, é aquele que 
titulariza relações jurídicas, podendo contrair deveres e obrigações, bem como 
adquirir direitos. Existe uma tendência natural de associarmos a palavra pessoa 
à criatura humana. Ocorre, que essa ideia não se mostra completa, pois não 
abarca aos entes morais (pessoas jurídicas) aos quais a lei atribui personalidade 
jurídica. Assim como as pessoas físicas, as pessoas jurídicas também são 
sujeitos de direito, ou seja, também possuem um patrimônio próprio, seus 
próprios deveres e seus direitos, estando aptas a participar de relações jurídicas 
e celebrar contratos, possuindo direito ao nome e gozando de uma proteção 
jurídica que lhe assegure uma existência digna. 
 
As pessoas jurídicas, também podem ser chamadas de "pessoas coletivas, 
morais, fictícias ou abstratas, podem ser conceituadas como sendo conjuntos de 
pessoas ou de bens arrecadados, que adquirem personalidade jurídica própria 
por uma ficção legal." (TARTUCE, 2012, p. 125-126). 
 
Importante destacar que a pessoa jurídica não se confunde com seus membros. 
Ou seja, se José e Pedro constituírem uma sociedade (pessoa jurídica), os 
contratos celebrados pela sociedade criarão direitos e obrigações para a 
sociedade e não para José e Pedro, que são os sócios que a constituíram. A 
sociedade é, nesse caso, considerada uma pessoa autônoma, completamente 
distinta de José e Pedro. 
 
A pessoa física adquire a personalidade jurídica naturalmente ao nascer com 
vida, já a existência legal de uma pessoa jurídica ocorre com o seu registro junto 
ao órgão competente, ou seja, a aquisição da personalidade jurídica de uma 
pessoa jurídica ocorre com a realização de seu registro. 
 
Nesse momento é importante fazer a distinção entre dois conceitos jurídicos 
distintos, mas que possuem uma grande relação. A pessoa (física ou jurídica) é, 
como dito, o sujeito de direito, ou seja, aquele ser humano ou ente moral que 
titulariza direitos e deveres. Toda pessoa está atrelada à ideia de personalidade. 
A personalidade jurídica, como já mencionado, é a aptidão que uma pessoa 
possui para contrair deveres e adquirir direitos. 
 
2.5 TIPOS DE PESSOAS JURÍDICAS 
 
Segundo o Código Civil brasileiro existem as pessoas jurídicas de direito público 
e as pessoas jurídicas de direito privado. As pessoas jurídicas de direito público 
sempre serão constituídas por uma lei, sendo assim consideradas a União, os 
Estados, os Municípios, o Distrito Federal, os Territórios, os municípios, as 
autarquias e as demais entidades de caráter público criadas por lei. Tais entes 
não são objeto de estudo pelo Direito Empresarial, pois não visam à exploração 
de atividade econômica em caráter lucrativo. 
 
Por outro lado, o artigo 44 do Código Civil estabelece que existem seis tipos de 
pessoas jurídicas de direito privado: 
 
Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado: 
I - as associações; 
II - as sociedades; 
III - as fundações. 
IV - as organizações religiosas; 
V - os partidos políticos; 
VI - as empresas individuais de responsabilidade limitada. 
 
As associações caracterizam-se pela união de pessoas que se organizam para 
a prática de atos sem fins econômicos, podendo apresentar as mais diversas 
finalidades e exercer qualquer tipo de atividade lícita, exceto de caráter militar, 
desde que não haja distribuição de lucro aos associados. A associação pode 
cobrar um valor para a prestação de serviços ou venda de um produto, o que 
não pode ocorrer é a remuneração dos associados com a distribuição de lucros. 
 
Já as fundações são pessoas jurídicas criadas a partir da personificação de um 
conjunto de bens aos quais se atribuiu personalidade jurídica e também se 
destinam a atividades sem cunho econômico. 
 
Por não possuir finalidade lucrativa as associações, fundações, organizações 
religiosas e partidos políticos não serão objeto de um estudo mais profundo. Por 
isso nos limitaremos ao estudo das sociedades e das Eireli's - Empresas 
Individuais de Responsabilidade Limitada. 
 
2.6 SOCIEDADES 
 
2.6.1 O CONCEITO DE SOCIEDADE 
 
Você sabe o que é sociedade? Segundo o art. 981, do Código Civil (CC/02) 
"Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a 
contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a 
partilha, entre si, dos resultados". Ou seja, a constituição ou criação da 
sociedade depende da junção de dois ou mais empreendedores, por meio da 
celebração de um contrato de sociedade, que será denominado de ato 
constitutivo. 
 
Podemos dizer que o surgimento da sociedade ocorre quando duas ou mais 
pessoas (sejam elas físicas ou jurídicas) resolvem explorar uma atividade 
econômica, e, para tanto, celebram um negócio jurídico (contrato), que 
regulamentará os direitos e obrigações de cada um dos sócios 
(empreendedores). No contrato os sócios se comprometem a contribuir, de 
alguma maneira, para a exploração da atividade econômica e a partilhar os 
resultados obtidos. 
 
O surgimento da sociedade ocorre quando há o acordo de vontades, ou seja, 
quando o grupo de empreendedores chega a um consenso quanto à exploração 
conjunta da atividade econômica. Assim, mesmo que não haja o registro da 
sociedade, ela já estará constituída e, portanto, existirá. Nesse aspecto, é 
importante esclarecer que a sociedade somente será considerada pessoa 
jurídica e adquirirá personalidade jurídica quando for devidamente registrada. 
Pode-se dizer, portanto, que o acordo de vontade é suficiente para a criação da 
sociedade, mas até o registro essa sociedade ainda não será considerada uma 
pessoa. 
 
Por fim, para que fique caracterizado o contrato de sociedade éindispensável 
que todos os sócios contribuam para a obtenção do resultado, seja através da 
transferência de bens ou dinheiro para a sociedade, seja através da prestação 
de serviços. Contudo, ressalta-se que apenas um dos tipos societários admite 
que o sócio contribua somente com serviços. 
 
Conclui-se que para se caracterizar a constituição de uma sociedade serão 
necessários os seguintes requisitos: 
 
1. Reunião de duas ou mais pessoas, com o intuito de explorar uma 
atividade; 
2. Que todas as pessoas contribuam com bens ou serviços; 
3. Que exista finalidade lucrativa. 
 
Ao analisar o conceito de sociedade, Haroldo Malheiros Duclerc Verçosa 
esclarece que a sociedade: 
 
Corresponde a um mecanismo jurídico que é titular de bens e/ou 
recursos financeiros os quais lhe permitem o exercício de uma 
atividade econômica destinada a proporcionar lucros para os sócios, 
mas também sujeita a perdas eventuais, nos casos em que as 
despesas daquela mesma atividade superarem as receitas. 
(VERÇOSA, 2006, p. 26). 
 
É muito importante relembrar que a expressão empresa não pode ser utilizada 
como sinônimo da expressão sociedade. Isso porque empresa é um termo 
técnico jurídico que se refere à atividade econômica explorada, ao passo que 
sociedade é a pessoa que exerce aquela atividade. Por exemplo, a 
"COMPANHIA DE BEBIDAS DAS AMÉRICAS -AMBEV" pode ser chamada de 
empresa? Não, a AMBEV é uma sociedade, cuja empresa é a fabricação e venda 
de bebidas. Assim, temos a sociedade (AMBEV) e a empresa (fabricação e 
venda de bebidas) como termos completamente distintos. 
 
2.6.2 TIPOS DE SOCIEDADES 
 
Ao definir pela exploração conjunta de uma atividade por meio da criação de uma 
sociedade, os sócios devem escolher qual tipo de sociedade será constituída. A 
lei brasileira prevê e regulamenta diversos tipos diferentes de sociedades, 
podendo os sócios escolher de maneira livre qual tipo de sociedade é mais 
adequada ao perfil de investimento que pretende fazer. O ordenamento jurídico 
brasileiro prevê os seguintes modelos de sociedade: 
 
I - Sociedade Simples Pura 
II - Sociedade Cooperativa 
III- Sociedade Limitada 
IV - Sociedade em Nome Coletivo 
V - Sociedade em Comandita Simples 
VI - Sociedade em Comandita por Ações 
VII - Sociedade Anônima. 
 
Após o registro da sociedade, caso queiram, os sócios poderão requerer a 
transformação da sociedade, ou seja, alterar o tipo de sociedade que foi criado 
para outro. 
 
As sociedades somente adquirem personalidade jurídica com o registro no órgão 
competente. Atualmente existem dois órgãos distintos para o registro de pessoas 
jurídicas: a Junta Comercial e o Cartório de Pessoas Jurídicas. Importante 
destacar que somente ocorrerá a aquisição da personalidade jurídica se o 
registro for feito no órgão correto, não se pode escolher aleatoriamente em qual 
órgão será realizado o registro, sendo nulo (inválido) aquele feito no órgão 
equivocado. 
 
As sociedades cooperativas, em comandita por ações e anônima, sempre devem 
ser registradas na Junta Comercial. Já a sociedade simples pura sempre será 
registrada no cartório de pessoas jurídicas. Os demais modelos societários 
(Limitada, Nome Coletivo e Comandita Simples) devem ser registrados na Junta 
Comercial quando a atividade for empresária e no cartório se a atividade 
exercida for exclusivamente intelectual. 
 
Note-se a importância de ter em mente os conceitos de empresário e de empresa 
estudados anteriormente, pois no caso das sociedades limitadas, em nome 
coletivo e em comandita simples, a interpretação errada desses conceitos pode 
levar ao registro no órgão equivocado, o que acarretará em sua nulidade, ou 
seja, a sociedade não adquirirá personalidade jurídica. Se referidas sociedades 
forem empresárias deverão ser registradas na Junta Comercial, se forem de 
cunho intelectual artístico, científico ou literário, devem ser registradas no 
Cartório de pessoas jurídicas. 
 
Destaca-se, por fim, que os modelos de sociedade serão estudados na unidade 
7. 
 
2.7 EIRELI - EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITADA 
 
2.7.1 CONCEITO E CONSIDERAÇÕES INICIAIS 
 
A Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI) pode ser 
conceituada como pessoa jurídica de direito privado, cujo nome empresarial 
consta a expressão Eireli, constituída por uma única pessoa (instituidor ou 
titular), cujo capital mínimo é de cem salários mínimos, devidamente 
integralizados, sendo a responsabilidade do seu titular limitada ao valor do 
capital da Eireli. 
 
Importante destacar que a Eireli é uma pessoa jurídica de direito privado, que 
possui finalidade lucrativa. Por ser pessoa jurídica, a Eireli é dotada de 
personalidade jurídica, possuindo seu próprio patrimônio, titularizando direitos e 
deveres. Por ser dotada de personalidade jurídica, as dívidas, obrigações, bens 
e direitos da Eireli não se confundem com as dívidas, obrigações, bens e direitos 
do seu titular. 
 
Assim, como regra geral, as dívidas da pessoa jurídica não se comunicam 
automaticamente ao seu titular, cujo patrimônio pessoal não poderá, a princípio, 
ser responsabilizado para que sejam efetuados pagamentos de obrigações da 
pessoa jurídica. Por isso, pode-se afirmar que a responsabilidade do instituidor 
limita-se ao capital da Eireli, ou seja, ao constituir a Eireli o instituidor optou por 
limitar os riscos do empreendimento ao valor do investimento que realizou. Esse 
investimento não pode ser inferior a cem salários mínimos. 
 
Ao realizar o registro da Eireli deve-se criar um nome empresarial para ela, 
podendo-se utilizar tanto a firma como a denominação. Contudo, em qualquer 
das hipóteses, exige-se que o nome empresarial contenha a expressão EIRELI. 
 
Destaca-se, ainda, que a EIRELI, por ser pessoa jurídica, não se confunde com 
o empresário individual, tendo em vista que nesse caso a atividade econômica é 
explorada diretamente pela pessoa física, sem que seja constituída uma pessoa 
jurídica. 
 
Por outro lado, a EIRELI, também não se confunde com as sociedades - pessoas 
jurídicas que possuem dois ou mais sócios -, ao passo que o capital da EIRELI 
é titularizado por um único titular. Assim, o ato constitutivo da EIRELI não pode 
ser chamado de contrato social, pois dele não fazem parte duas ou mais 
pessoas. 
 
Por fim, destaca-se que a Eireli pode ser constituída a partir da concentração de 
todas as quotas de uma sociedade sob a titularidade de uma única pessoa, 
devendo ser requerida a transformação da sociedade em EIRELI, desde que 
presentes os requisitos necessários para sua criação. Vamos supor que João e 
Francisco são os únicos sócios de uma sociedade empresária, e que Francisco 
resolva sair da sociedade, em virtude de uma grave doença que possui, 
vendendo sua parte para João. Nesse caso todas as quotas da sociedade se 
concentraram em uma única pessoa, devendo João pedir que a sociedade seja 
transformada numa Eireli. Para que isso seja possível devem ser preenchidos 
dois requisitos. O primeiro deles está ligado à necessidade de que o capital 
mínimo investido naquela pessoa jurídica seja de cem salários mínimos. Além 
disso, como cada pessoa física somente pode ter uma Eireli, João não pode 
possuir outra empresa individual de responsabilidade limitada. 
 
2.7.2 DO TITULAR DA EIRELI 
 
É inegável que o titular da EIRELI pode ser pessoa física. O §2º do art. 980-A do 
Código Civil prevê que a pessoa física somente poderá ser titular de uma EIRELI. 
Nada impede que o titular da Eireli seja empresário individual e que seja sócio 
de várias sociedades, contudo, só poderá ser titular de uma Eireli. 
 
Por outro lado, muito se discutiu acerca da possibilidade de uma pessoa jurídica 
constituir uma Eireli. Nesse caso, não havia regulamentação expressa pela 
legislação.

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