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CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 1 CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 2 AUTORIDADES Governador do Estado do Rio de Janeiro Exmº Sr Wilson Witzel Secretário de Estado de Polícia Militar Exmº Sr Coronel PM Rogério Figueredo de Lacerda Subsecretário de Estado de Polícia Militar Ilmº Sr Coronel PM Márcio Pereira Basílio Diretor-Geral de Ensino e Instrução Ilmº Sr Coronel PM Rogério Quemento Lobasso Comandante do CFAP 31 de Voluntários Ilmº Sr Tenente-Coronel PM Marcelo Andre Teixeira da Silva Comandante do Centro de Educação a Distância da Polícia Militar Ilmº Sr Tenente-Coronel PM Alexandra Ferraz de Oliveira CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 3 APRESENTAÇÃO Estamos vivendo a era da tecnologia, na qual a informação está cada dia mais latente e veloz em nossa rotina diária. Este curso tem por objetivo , formar e especializar os Cabos da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Para tal, o Curso ocorrerá na modalidade semipresencial, pois as disciplinas ocorrerão na modalidade EaD no ambiente virtual de aprendizagem, por intermédio da Escola Virtual, no Centro de Educação a Distância Cel Carlos Magno Nazaré Cerqueira (CEADPM) e as avaliações de forma presencial no Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças ( CFAP 31 Vol.). É fundamental o seu empenho no curso, pois você terá na parte EaD autonomia de estudos e de horários, mas também é necessário disciplina e dedicação para o êxito dessa jornada, pois alcançar o sucesso depende do esforço coletivo e também individual, objetivando que nossos policiais sejam cada vez mais qualificados, bem treinados e especializados, para cumprirmos nossa missão, buscando cada vez mais a excelência de nossas ações. O bom treinamento envolve aspectos físicos e cognitivos, na era da informação e da tecnologia, precisamos nos aprimorar cada vez mais a fim de garantir uma tropa consciente, respeitosa, pautada em valores morais e institucionais, garantindo assim o cumprimento de suas funções com dignidade e excelência. Esperamos que você aproveite ao máximo os conhecimentos adquiridos através deste curso e busque uma reflexão acerca de suas funções perante a sociedade e seus companheiros de profissão. Que seja um momento de repensar as práticas e fortalecer seu vínculo profissional, ampliando cada vez mais seus conhecimentos para lidar com as particularidades de ser um Policial Militar no Estado do Rio de Janeiro. Desejamos a todos bons estudos! Rogério Quemento Lobasso – Coronel PM Diretor-Geral de Ensino e Instrução Marcelo André Teixeira da Silva – Ten Cel PM Comandante do CFAP CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 4 Desenvolvedores Supervisão Geral EAD CAP PM Ped Vania Pereira Matos da Silva Equipe Técnica SUBTEN PM Wilian Jardim de Souza 3º SGT PM Marco Antônio José Ribeiro Júnior Conteudista CAP PM Rui de Faria Souto Exercícios CAP PM Ped. Patrícia Kalife 2º SGT PM Elaine Xavier de Oliveira Alves de Lima CB PM Juliana Pereira de Carvalho Revisor Ortográfico CAP PM Ped. Patrícia Kalife 2º SGT PM Elaine Xavier de Oliveira Alves de Lima CB PM Juliana Pereira de Carvalho Diagramação 2º SGT PM Wallace Reis Fernandes 3º SGT PM Ronie Camargo dos Santos CB PM Michele Pereira da Silva de Oliveira CB PM Alecsara Tognoc da Costa Abreu CB PM Thiago Silva Amaral Diagramação Interativa 2º SGT PM Wallace Reis Fernandes SD PM Leonardo da Silva Ramos Design Instrucional CAP PM Ped Vania Pereira Matos da Silva CB PM Bruna Alessandra da silva Braz Marques Vídeo e Animação CB PM Joyce Gaspar de Almeida Designer Gráfico 2º SGT PM Wallace Reis Fernandes SD PM Leonardo da Silva Ramos Suporte ao aluno 2º SGT PM Anderson Inacio de Oliveira CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 5 SUMÁRIO INTRODUÇÃO .......................................................................... 6 DA CRIMINALÍSTICA E SEUS VESTÍGIOS ................................. 8 LOCAL DE INFRAÇÃO PENAL .................................................. 25 DO LOCAL DE INFRAÇÃO PENAL ............................................ 28 EXAMES E LEVANTAMENTO TÉCNICOS PERICIAIS ................. 51 IMPRESSÃO PAPILOSCÓPICA ................................................ 60 IMPRESSÕES PAPILOSCÓPICAS ENCONTRADAS EM LOCAIS DE CRIME .................................................................................... 61 CONCLUSÃO ........................................................................... 73 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................ 75 CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 6 INTRODUÇÃO Originalmente o termo Criminalística foi desenvolvido por Hans Gross como “Sistema de métodos científicos utilizados pela polícia e pelas investigações policiais”. Somente no 1° Congresso Nacional de Polícia Técnica, ocorrido em São Paulo no ano de 1947, a Criminalística foi definida como “disciplina que tem como objetivo o reconhecimento e a interpretação dos indícios materiais extrínsecos, relativos ao crime ou à identidade do criminoso”, Garrido (2010). Articulando dessa maneira, a Criminalística não como uma ciência, mas como a aplicação do conhecimento de diversas Ciências e Artes, para utilização dos métodos desenvolvidos e inerentes às diversas áreas para auxiliar e informar as atividades policiais e judiciárias de investigação criminal. Assim, a Criminalística é uma ciência aplicada que utiliza conceitos de outras ciências firmadas nos princípios da física, da química e da biologia, no bojo de métodos e leis próprias embasadas nas normas específicas constantes na legislação, principalmente a processual penal. Embora não possamos confundir o campo da Criminalística com o da Medicina Legal, e apesar de ambas se responsabilizarem pelos exames de corpo de delito e, apresentem interseção em vários momentos, a Medicina Legal tem como objetivo os exames de vestígios intrínsecos (na pessoa), relativos ao crime. Como defende Garrido (2008), durante a evolução da CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 7 criminalística, diversas foram as denominações doutrinariamente impróprias dadas à Criminalística: Criminologia Científica; Ciência Policial; Investigação Criminal Científica; Policiologia, os quais se aplicam também à administração policial e aos métodos de elucidação geral. No entanto, o termo Criminalística é, oriundo da escola alemã, sendo utilizado por toda Europa, “Kriminalistik e Criminalistique”. E nesse sentido o próprio termo Ciência Forense não é sinônimo de Criminalística em toda parte do mundo. Para Gialamas, Ciência Forense deve ser definida como a aplicação das ciências à matéria ou problemas legais cíveis, penais ou mesmo administrativos. Dessa forma, a Criminalística seria apenas uma das matérias da Ciência Forense. Cabe salientar que não podemos confundir Criminalística com Criminologia, está última dá conta do estudo e da explicação da infração legal, dos meios de se lidar com os atos desviantes, a postura das vítimas, ou seja, o objetivo é o autor dos fatos desviantes, não exclusivamente criminosos e como a sociedade se relaciona com este fato. CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 8 VAMOS VER UM POUCO DA CRIMINALÍSTICA E SEUS VESTÍGIOS? Começaremos por um breve Histórico da Criminalística!! Desde os maisremotos tempos, a humanidade tenta encontrar maneiras de esclarecer os delitos. Assim, há relatos que já na velha Roma, o Imperador César aplicara o método de “exame do local”, tendo determinado o exame no quarto de uma vítima que supostamente teria sido jogada pela janela por seu marido, tendo constatado na ocasião “sinais certos de violência”. Há muita controvérsia acerca do início da investigação forense, de maneira geral, pode-se dizer que a investigação científica aplicada as questões legais tiveram início na medicina legal. O exame de local era procedido pelo médico, que se restringia ao exame do cadáver, com o tempo, a necessidade de esclarecer a causa da morte, levou esse profissional a buscar outros elementos que explicassem a dinâmica dos fatos, uma vez que, na época a necropsia não era uma prática permitida. O termo criminalística foi utilizado pela primeira vez em 1893 por Hans Gross, jurista e magistrado, alemão, Professor de Direito penal da Universidade de Graz, que publicou sua obra intitulada “Criminal Investigation: A Pratical Handbook”. Vamos ver o Conceito de Criminalística? Criminalística, também conhecida como Ciência Forense, versa sobre a análise de vestígios materiais extrínsecos relativos ao local periciado, relacionando o modus operandi com a dinâmica descritiva, oferecendo fundamentação material à instrução penal. Tem por objetivo a interpretação dos vestígios, pela aplicação de diversas CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 9 ciências, visando esclarecer tecnicamente os problemas criminais relativos à determinação da existência do delito, a sua qualificação, a identificação do criminoso, a legalização e a perpetuação das provas materiais. Peritos – você conhece o conceito e a classificação? São técnicos de nível superior ou não, concursados ou não, mas especializados em determinadas áreas do conhecimento humano, e que, por designação da autoridade competente (autoridade de polícia ou judiciária), prestam serviços à Justiça ou a Polícia, a respeito de fatos, pessoas ou coisas. Classificação e Investidura Investidura é o ato pelo qual a autoridade pública dá posse e o perito assume o cargo ou encargo de realizar a perícia. De acordo com a investidura, CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 10 os peritos classificam-se em oficiais, leigos ou ad hoc, louvados ou nomeados e assistentes técnicos. Peritos oficiais São funcionários públicos concursados para exercer a função de realizar perícias nas diversas áreas e atuam por requisição da autoridade de polícia judiciária do órgão ao qual pertencem. Quando a perícia for de natureza médico-legal o exame deverá, preferencialmente, ser realizado por profissional médico, também denominado perito médico ou médico legista. Quando de outra natureza, a responsabilidade deverá recair sobre profissional de curso superior denominado perito criminal. Peritos leigos, ad hoc Na ausência de perito oficial, ou se a instituição pública não dispuser de serviço próprio para o exame que se pretende realizar, o juiz poderá nomear duas pessoas idôneas, de nível superior para a realização da perícia, conforme o disposto no §1º do art. 159 do Código de Processo Penal. Art. 159 do CPP §1º Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior preferencialmente na área específica, dentre as quais tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza do exame. (Redação dada ao §1º pela Lei nº 11.690, de 09 de junho de 2008). Peritos nomeados ou louvados: Na esfera cível ou trabalhista, devido a diversidade de questões apreciadas, os exames normalmente não são efetuados por peritos oficiais, mas por especialistas nomeados CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 11 pelo Juiz, conforme os termos do §1º do art. 156 do Código de Processo Civil e art. 3º da Lei nº 5.584, de 26 de junho de 1970. Art. 156 do CPC O juiz será assistido por perito quando a prova do fato depender de conhecimento técnico ou científico. §1º Os peritos serão nomeados entre os profissionais legalmente habilitados e os órgãos técnicos e científicos legalmente inscritos em cadastros mantidos pelo tribunal ao qual o juiz está vinculado. Conhece os Assistentes Técnicos? São profissionais da confiança das partes, indicados para acompanhar o exame do perito oficial ou nomeado pelo juiz. Até o advento da Lei nº 11.690, de 09 de junho de 2008, a indicação de assistentes técnicos pelas partes ficava restrita ao processo civil (art. 465, §1º, I, do CPC) e trabalhista (art. 3º, parágrafo único, da Lei nº 5.584/70). Art. 465 do CPC §1º Incumbe às partes, dentro de 5 (cinco) dias, contados da intimação do despacho de nomeação do perito: I- Indicar o assistente técnico; Agora também no processo penal (art. 159, §§ 3º e 5º, II, do CPP), o Ministério Público, o assistente de acusação, o ofendido, o querelante e o acusado têm a faculdade de indicar assistentes técnicos. CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 12 Art. 159 ... §3º Serão facultadas ao Ministério Público, ao assistente de acusação, ao ofendido, ao querelante e ao acusado a formulação de quesitos e indicação de assistente técnico (acrescido pela Lei nº 11.690, de 09/06/08). ... § 5º Durante o curso do processo judicial, é permitido às partes, quanto à perícia: ... II- Indicar assistentes técnicos que poderão apresentar pareceres em prazo a ser fixado pelo juiz ou ser inquiridos em audiência (acrescido pela Lei nº 11.690, de 09/06/08). Vamos aprender sobre Vestígio, evidência e indício? O vestígio é o elemento essencial para uma investigação objetiva, em melhor análise são todos os elementos materiais que encontramos em um local de crime, que podem ou não estarem relacionados ao evento periciado, alguns desses elementos serão descartados por não fazerem parte da produção delituosa em exame. É importante entender que o vestígio é o elemento sensível do fato, esse conceito deve estar bem definido tanto para os peritos como para todos os demais segmentos que interagem no local de crime ou que manuseiam algum tipo de vestígio. Todos os vestígios encontrados em um local de crime, em um primeiro momento, são importantes e necessários para elucidar os fatos, no momento em que os peritos chegam à conclusão de que o vestígio está, de fato, relacionado ao evento periciado, ele deixará de ser vestígio e passará a denominar-se evidência. Essas duas expressões (vestígio e evidência) tecnicamente são usadas no âmbito da perícia, no entanto, na fase processual tais expressões são tratadas como indícios, conforme a definição do Código de Processo Penal, abaixo transcrito. Art. 239 Considera-se indício a circunstância conhecida e provada, que tendo relação com o fato, autorize, por indução, concluir-se a existência de outra ou outras circunstâncias. CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 13 Em resumo: Tipos de vestígios Os vestígios materiais podem ser organizados segundo vários critérios e o quadro a seguir resume, de maneira exemplificativa e didática, algumas das principais classificações existentes. Uma vez detectado o vestígio é importante cercar-se de cautela, a fim de certificar-sequanto a sua idoneidade, pois devemos lembrar que antes da chegada do perito a um local de crime, vários outros segmentos funcionais, socorristas, agentes de trânsito, guardas municipais, bombeiros, policiais militares e civis, executaram tarefas no local, e todo esse transitar pelo local pode comprometer a autenticidade do vestígio. Assim os peritos podem encontrar os seguintes tipos de vestígios no local de crime: a) Quanto ao modo de produção b) Quanto à percepção c) Quanto à durabilidade Verdadeiros Forjados ou falsificados Ilusórios ou falsos Visíveis Latentes Perenes Persistentes Fugazes CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 14 Vestígio verdadeiro: são aqueles produzidos diretamente pelos autores da infração, ou seja, é produto direto das ações do cometimento do delito em si. Vestígio forjado ou falsificado: É todo elemento encontrado no local de crime, cujo autor teve a intenção de produzi-lo com o objetivo de modificar o conjunto dos elementos originais gerados pelo autor. Nesses casos o agente age dolosamente, deixando ou produzindo evidências no local, objetivando confundir a investigação. Vestígio ilusório ou falso: É todo elemento encontrado no local de crime que não esteja relacionado às ações dos autores da infração e cuja produção não tenha ocorrido de maneira intencional, não há dolo. Vestígios perceptíveis: são os que podem ser diretamente captados pelos sentidos humanos (visão, paladar, olfato e tato), sem o auxílio de qualquer artifício ou aparelho, como manchas de sangue, danos materiais evidentes, armas ou sinais de arrastamento. Vestígios latentes: requerem a utilização de técnicas ou aparelhos especiais para sua observação. Nesta categoria podemos citar as manchas de esperma, os resíduos deixados pelo disparo de arma de fogo (residuografia), algumas impressões digitais, etc. Vestígios perenes: são os vestígios que não desaparecem com o tempo, somente sendo destruídos por evento natural incomum e de grandes proporções, ou propositalmente, pela ação do homem. Como por exemplo, as ossadas, os danos decorrentes de acidentes automobilísticos, as cavidades produzidas por CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 15 projéteis de arma de fogo em móveis ou objetos, os próprios projéteis e outros. Vestígios persistentes: são aqueles vestígios que não precisam ser imediatamente analisados pelo perito, uma vez que permanecem inalterados por um período mais ou menos longo, permitindo sua apreciação tardia. São exemplos as manchas de sangue em tecidos, os pelos, as fibras e outros materiais. Vestígios fugazes: são os que desaparecem com certa facilidade, exigindo uma atuação rápida na sua coleta e apreciação. Como exemplos, podemos citar as marcas de pneus e pegadas, as manchas de sangue em locais públicos, os resíduos decorrentes de disparos de armas de fogo, substâncias voláteis, etc. CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 16 Marcas: são vestígios tridimensionais deixados sobre uma superfície. Exemplos: marcas produzidas por dentes, marcas ou impressões produzidas por pés descalços ou por solados (pegadas). Impressões: são desenhos planos produzidos por substâncias orgânicas ou não. Exemplos: impressões digitais, impressões palmares, impressões de luvas. Marcas de arrastamento: essas marcas podem ser deixadas em relevos, nos solos menos rígidos ou impressas com sangue, líquidos orgânicos, tintas e outros materiais. As marcas de arrastamento são muito importantes para a perícia porque demonstram a intenção do agente em encobrir o crime ou modificar a posição de coisas ou pessoas com a intenção simular o fato. Fragmentos de pele, unhas, cabelos e pelos: são achados com frequência em locais de crime, particularmente em homicídios e crimes sexuais, e na maioria das vezes são utilizados para determinação de autoria do crime. Manchas de líquidos ou secreções orgânicas: são todas as modificações de cor, toda sujidade, toda deposição de material estranho, visível ou não à vista desarmada, que podem ser encontradas nos pisos e paredes, mobiliário, instrumentos, corpo e vestes do autor e da vítima, constituindo elementos de grande importância médico-legal e criminalística. As manchas encontradas nos locais submetidos a exames periciais são de interesse sob dois aspectos principais: a natureza da substância que as produziu e a forma como se apresentam. CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 17 Veja um pouco sobre a Coleta e Apreensão de vestígios. Coleta e apreensão constituem-se em atos próprios do rito legal. A coleta é efetuada no local de crime, onde os elementos objetivos remanescentes, como por exemplo, recolhimento de impressão digital, amostras de manchas de sangue, de armas, instrumentos etc. O ato de coletar objetos no local de crime é de responsabilidade legal dos peritos porque, além de estarem munidos de fé pública, são também possuidores de competência técnica. Isso parece bastante razoável, uma vez que uma pessoa leiga não dominaria a técnica correta do proceder no caso de recolhimento de evidências que requerem instrumentos e metodologia própria para a coleta, evitando a contaminação dos vestígios pelo operador. As imagens a seguir ilustram procedimentos inadequados de coleta, onde podemos observar que os profissionais não estão com vestimentas adequadas para o trabalho. A seguir podemos observar um estojo de munição sendo coletado corretamente, em que o perito utiliza uma pinça própria para o recolhimento do objeto, evitando o comprometimento das microestrias deixadas pelos cavados e ressaltos do cano da arma. Fonte: www.nis.wvu.edu/ releases/Crimehouse.htm Fonte: www.dickinson.edu/ departments/biol/courses.html CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 18 Sabemos que certos vestígios requerem cuidados especiais nas coletas, com a utilização de materiais e instrumentos apropriados para apreensão e acondicionamento. Abaixo, selecionamos alguns exemplos de vestígios, com a orientação correta dos cuidados a serem adotados por ocasião da coleta pelo perito. Armas de fogo: cuidados para preservar impressões digitais e resíduos de disparo. Evitar introduzir objetos no cano da arma; Cabelos, fibras e pelos: acondicionamento em envelopes individuais, com recolhimento usando pinças; Terras e Sujidades: recolhimento com auxílio de pinças descontaminadas ou espátulas, com acondicionamento em envelopes, ou plásticos, sempre de forma individual; Projeteis e estojos (munições): acondicionamento em envelopes, evitando-se, nas respectivas coletas, contatos com instrumentos metálicos; Peças de roupa: após secagem natural, recolher individualmente, evitando-se o excesso de dobras; Pintura de veículos: os fragmentos questionados, encontrados no local, devem ser coletados e acondicionados individualmente Fonte: www.noticias.uol.com.br/opiniao/coluna/2015/02/28 CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 19 em envelopes ou plásticos. Recolher amostras padrões com auxílio de uma espátula de madeira; Sangue: as manchas de sangue podem ser encontradas sob a forma líquida (coletar em recipientes com agente anticoagulante ou soro fisiológico) ou em crostas (recolher dos próprios suportes, raspadas ou dissolvidas com soro fisiológico e transferir para frascos. A apreensão tambémé um ato legal, e é concretizado quando o perito transfere às mãos do requisitante da perícia as evidências materiais coletadas, para que no decorrer da investigação, a autoridade remeta o que for necessário, acompanhado de quesitação, para os devidos esclarecimentos, mediante a apresentação do laudo competente, logo compete ao solicitante da perícia o ato de arrecadar. A apreensão deve ser registrada adequadamente em documento próprio, contendo a descrição e quantidade do material arrecadado e entregue pelo perito à autoridade. Sabe quais são os Tipos de embalagens para coleta de vestígio? O tipo de embalagem utilizada para coleta de vestígio, depende do material em si. A embalagem deve proteger e preservar a evidência. As embalagens de papel, são normalmente utilizadas para vários objetos, como por exemplo, roupas, utensílios e acessórios, fragmentos, amostras oleosas, fios de cabelo e fibras. CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 20 Para pequenas amostras líquidas embalagens de vidro com fechamento rosqueado ou hermético são satisfatórios. As manchas de sangue são comumente encontradas em cenas de crimes, e são de grande importância para a investigação, uma vez que são capazes de vincular um indivíduo à autoria do ato criminoso e subsidiar a interpretação da dinâmica da ação delituosa. No entanto, faz necessária a correta coleta desse tipo de material, pois se mal executada pode acarretar perda dessa evidência ou o enfraquecimento desse tipo de prova. As amostras de sangue coletadas em locais de crime devem preferencialmente ser representativas e capazes de fornecer todas as informações possíveis. Devem ser recolhidas não só do corpo da vítima e da área principal da ação, mas também de suas áreas periféricas. CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 21 As amostras podem ter origem distintas e se apresentar em diferentes estados físicos e condições de preservação, portanto devem exigir diversificadas formas de recolhimento. Lembrando que o DNA presente na amostra pode facilmente ser degredado, se não for adequadamente preservado, assim, a mostras de sangue colocadas em embalagens transparentes e em contato com o ar, estão propensas a contaminação microbiológica, com crescimento microbiano que prejudicaria os exames laboratoriais, tornando-se assim, sem valor de evidência. Cadeia de custódia dos vestígios Como já discutido até aqui a preservação e isolamento adequados do local de crime, visando impedir a alteração e a eliminação das evidências remanescentes no local, bem como o uso de técnicas corretas de coleta e acondicionamento dos vestígios, são condições essenciais para o sucesso da investigação. Todos os procedimentos relacionados à evidência, desde a coleta, o manuseio e análise, sem os devidos cuidados e sem a observação de condições mínimas de segurança, podem acarretar na falta de integridade da prova, provocando danos irrecuperáveis no material coletado, comprometendo a idoneidade do processo e prejudicando a sua rastreabilidade. Deste modo, é necessário que se estabeleça um controle sobre todas as fases deste processo, assim, tem-se adotado a Cadeia de Custódia como modelo nas mais variadas áreas do conhecimento. CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 22 A cadeia de custódia é um dos elementos que estão diretamente relacionados com a idoneidade do vestígio, em que a primeira etapa do processo de custódia tem início no momento do isolamento e preservação do sítio de ocorrência, com a abordagem e levantamento do local, seguindo um fluxo de ações que visam garantir sua idoneidade e permitir a rastreabilidade da sequência dos fatos, com registro minucioso do caminho que a amostra percorreu, quem manuseou, como manuseou, como o vestígio foi obtido, como foi armazenado e porque manusearam. CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 23 Podemos observar no esquema acima, que o primeiro agente responsável pelo encadeamento da custódia é o policial que comparece ao local, a quem caberá o adequado isolamento e preservação do sítio da ocorrência; em seguida a responsabilidade pelo fluxo da cadeia é do perito de local, que providenciará para que as evidências sejam registradas e coletadas dentro das técnicas, embalando-as corretamente para que não se contaminem; logo depois caberá à autoridade solicitante da perícia comparecer ao local, apreender o material, transportá-lo e guardá-lo em local próprio até a formulação dos quesitos quando será remetido ao instituto de criminalística, cuidando para que o material a ser periciado se apresente íntegro. Uma vez recebida a evidência para exames, a sequência dos registros do encadeamento da custódia deve ser respeitada, devendo o perito de laboratório, antes de receber o material oficialmente, atentar para a integridade da embalagem, verificando a existência do lacre. Note que o art. 170 do CPP determina que “nas perícias de laboratório, os peritos guardarão material suficiente para a eventualidade de nova perícia. Sempre que conveniente, os laudos serão ilustrados com provas fotográficas, ou microfotográficas, desenhos ou esquemas”. O fato de a lei exigir a guarda de amostra do material analisado garante ao investigado a possibilidade de contestação e defesa. Se a cadeia de custódia do material analisado não for rigorosamente controlada, ou seja, se os registros dos profissionais que manipularam a evidência, ou ainda, se as condições em que as mesmas foram acondicionadas, não forem CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 24 adequadas, poderá representar uma falha na cadeia de custódia, o que enfraquecerá o laudo oficial. Devemos lembrar que o Assistente Técnico foi criado com o advento da Lei nº 11.690, de 2008, que alterou o Código de Processo Penal, permitindo que esse profissional atuasse como fiscalizador das partes. Observemos as atribuições que o art. 159, em seus parágrafos 5º e 6º, do CPP, confere ao Assistente Técnico. Art. 159 §5º Durante o curso do processo judicial, é permitido às partes quanto a perícia: I –Requerer a oitiva dos peritos para esclarecerem a prova ou para responderem a quesitos, desde que o mandado de intimação e os quesitos ou questões a serem esclarecidas sejam encaminhadas com antecedência mínima de 10 (dez) dias, podendo apresentar as respostas em laudo complementar; III- Indicar assistentes técnicos que poderão apresentar pareceres em prazo a ser fixado pelo juiz ou ser inquiridos em audiência. §6º Havendo requerimento das partes, o material probatório que serviu de base à perícia será disponibilizado no ambiente do órgão oficial, que manterá sempre sua guarda, e na presença de perito oficial, para exames pelos assistentes, salvo se for impossível a sua conservação. Assim, o perito assistente, ao elaborar laudo divergente ao apresentado pelo perito oficial, deverá analisar primeiramente a cadeia de custódia, certificando-se que todas as alterações, como condições de isolamento e preservação do local, coleta e acondicionamento do material, técnicas empregadas nas análises, foram adequadamente registradas e empregadas. CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 25 VAMOS APRENDER SOBRE LOCAL DE INFRAÇÃO PENAL? Há alguns anos atrás os peritos do instituto de criminalística do Rio de janeiro foramsolicitados para analisar uma cena de crime. Chegando ao local, os profissionais encontraram a seguinte situação, abaixo ilustrada: • A vítima foi encontrada sentada em uma cadeira com a cabeça pendida para trás; • Em um cômodo utilizado como escritório em sua residência; • A sua frente estava a escrivaninha e a seguir uma grande janela, e em uma de suas placas de vidro havia uma perfuração de projétil de arma de fogo, disparado de fora para dentro; • Tanto na ferida de entrada do projétil na vítima (na cabeça – região frontal) quanto no projétil, foi verificada a presença de micropartículas de vidro; • Os peritos acharam a provável posição da vítima antes de ser atingida e projetaram o prolongamento daqueles dois pontos (cabeça e perfuração na janela), utilizando uma caneta a laser e verificaram que o primeiro anteparo externo era um edifício do outro lado da rua na altura do quarto andar; • Tanto a perícia quanto a polícia tinham a certeza de que a vítima foi morta por um atirador experiente e que tal crime foi planejado, tendo o criminoso agido exclusivamente com a razão; • Na casa onde foi apreendido um notebook, que após periciado descobriu-se que a vítima era sócia majoritário de uma empresa, tendo como sócios minoritários seus dois filhos, que administravam as duas filiais da empresa, uma nos Estados Unidos e a outra na China, e um sobrinho que era sócio gerente na matriz; CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 26 • A perícia no notebook, mostrou que a vítima controlava as contas das empresas; • Encontraram também vários e-mails aos demais sócios cobrando providências sobre os baixos rendimentos; • A perícia encontrou uma correspondência eletrônica entre a vítima e seu irmão, expondo sua desconfiança de que seus filhos e seu sobrinho poderiam estar desviando receitas das empresas; • A investigação mostrou que os dois filhos tramavam a morte do pai e planejavam que tudo desse a impressão de que o sobrinho fora o mandante do crime; • Encontraram um e-mail encaminhado por um dos filhos ao sobrinho da vítima, informando que uma pessoa inventada iria até a firma para receber o valor de vinte e cinco mil reais, por suposta prestação de serviço de consultoria. • A intenção do autor era ligar o atirador ao recebimento do pagamento pelo falso suspeito, o sobrinho. O cenário acima ilustra um típico local de infração penal de morte violenta, que devido as suas particularidades, possui uma abrangência que vai além do cômodo em que a vítima foi encontrada, nos levará a refletir sobre os limites geográficos de um local de crime, bem como nos apresentará às técnicas largamente empregadas nos exames de perícia de local. Croqui: É um desenho feito por profissional que mostra a cena do crime em perspectivas apropriada e que pode ser incorporada ao laudo. Evidência: Qualquer objeto que tenha ligação com a cena do crime Local de crime: É a porção do espaço compreendida num raio que, tendo por origem o ponto no qual é constatado o fato, se estende de modo a abranger todos os lugares em que, aparentemente, necessária CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 27 ou presumidamente, hajam sido praticados, pelo criminoso, ou criminosos, os atos materiais preliminares ou posteriores, à consumação do delito, e com este diretamente consumado. Local mediato: É a área adjacente ao local imediato. É toda a região espacialmente próxima ao local imediato e a ele geograficamente ligada, passível de conter vestígios relacionados com a perícia em execução. Local imediato: É aquele que contém o palco principal do crime, onde se concentrou a maioria dos vestígios. Local relacionado: É todo e qualquer lugar sem ligação geográfica direta com o local do crime e que possa conter algum vestígio ou informação que propicie ser relacionado ou venha a auxiliar no contexto do exame pericial Local interno: área compreendida em todo ambiente fechado, isto é, no interior de habitações de qualquer espécie. Considera-se também como tal terreno cercado ou murado. Local externo: Área compreendida fora das habitações. Exemplos: floresta, bosques, via e logradouros públicos. Local idôneo: É aquele que foi adequadamente preservado e isolado, em que não se alterou o estado das coisas. Local inidôneo: É aquele que não foi adequadamente preservado e/ou isolado, assim, um local pode ter sido isolado, porém não preservado. CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 28 AGORA, VAMOS FALAR DO LOCAL DE INFRAÇÃO PENAL!!! Introdução Diversos órgãos de Segurança Pública podem estar envolvidos no atendimento em locais de crime, como, o Corpo de Bombeiros no resgate e salvamento da vítima, na retirada do cadáver preso nas ferragens, na remoção dos veículos, cadáveres ou produtos perigosos da via pública; da Polícia Militar no isolamento da área, no controle do tráfego e também no resgate da vítima; da Polícia Civil na investigação do acidente; da Perícia Oficial na realização da perícia de criminalística. A investigação do local do crime reúne a ciência, a lógica e a lei. O exame é demorado, pois envolve informações sobre as condições do local, localização dos vestígios e a coleta de todas as evidências de forma com que todas sejam preservadas. Por exemplo, pode ser necessário coletar sangue de uma vidraça e isso deve ser feito sem que o perito esbarre no vidro, visto que ali podem existir impressões digitais. É necessário que esses elementos sejam preservados na forma original, de modo que o laboratório, que processará estes vestígios, possa reconstruir o crime ou identificar o criminoso, de forma a constituir provas admissíveis pela justiça. O perito, quando chega ao local do crime, deve se certificar se este foi preservado, através de uma inspeção inicial da cena, verificando se alguém mexeu em alguma coisa antes da sua chegada. O perito deve conversar com os policiais visando saber se eles tocaram em algo. Caso isso tenha ocorrido, ele deve relatar as modificações e os consequentes prejuízos ao exame em seu laudo. Segundo Eraldo Rabelo a definição de local de crime é: CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 29 Local de crime é a porção do espaço compreendida num raio que, tendo por origem o ponto no qual é constatado o fato, se estende de modo a abranger todos os lugares em que, aparentemente, necessária ou presumidamente, hajam sido praticados, pelo criminoso, ou criminosos, os atos materiais preliminares ou posteriores, à consumação do delito, e com este diretamente consumado. Este conceito nos leva a refletir que a investigação pericial ou policial, não deve ficar adstrita aos limites da cena do crime, sendo este apenas o ponto de partida para chegar aos demais pontos ou lugares em que possam ter ocorrido parte daquele crime ou até mesmo seu planejamento. Aos investigadores caberá atentar para os fatos prévios e posteriores à consumação do crime, incluindo desde o planejamento inicial até a dissimulação, destruição ou ocultação de vestígios após o crime, sendo o local do crime o ponto de partida para obtermos essas informações. Netto e Espindula, em sua obra intitulada “ Manual de atendimento a locais de morte violenta”, acrescenta o conceito de local de crime virtual ao conceito tradicional do local físico, palpável, material e objetivo a que tradicionalmente estamos acostumados. O exemplo da ocorrência relatada no início da aula nos mostra como atecnologia virtual vem ampliando os limites para o planejamento ou desdobramentos posteriores do local de crime. Vamos CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 30 imaginar que uma pessoa planeja matar alguém, e utilizando a internet crie vestígios forjados que apontem a autoria do delito para uma terceira pessoa, utilizando por exemplo e-mails ou mensagens em redes sociais com declarações que, embora inverídicas, possam atribuir a autoria do delito ao terceiro envolvido. Naquele exemplo, foi observado que a cena em que estava a vítima foi o ponto inicial para a investigação e que o local da infração ultrapassava os limites físicos do local da cena do homicídio, se estendendo até o local de onde partiu o disparo, ao local do falso suspeito (o sobrinho) e dos filhos, sendo esses últimos denominados locais virtuais. Você sabia que os Locais de exames periciais... É todo lugar, que por ter sido palco de acontecimentos ou abrigar objeto de interesse à justiça Civil ou Criminal, deve ser examinado pelo perito e, eventualmente, pelos assistentes técnicos. Contudo, a investigação pericial ou policial, não deve ficar adstrita aos limites da cena do crime, sendo este apenas o ponto de partida para chegar aos demais pontos ou lugares em que possam ter ocorrido parte daquele crime ou até mesmo seu planejamento. Aos investigadores caberá atentar para os fatos prévios e posteriores à consumação do crime, incluindo desde o planejamento inicial até a dissimulação, destruição ou ocultação de vestígios após o crime, sendo o local do crime o ponto de partida para obtermos essas informações. Você sabe qual a Classificação dos locais? Os locais podem ser classificados segundo vários critérios. O quadro a seguir resume os principais: CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 31 A classificação quanto ao local da ocorrência tem por objetivo determinar a natureza da área onde o mesmo ocorreu. Local interno: área compreendida em todo ambiente fechado, isto é, no interior de habitações de qualquer espécie. Considera- se também como tal terreno cercado ou murado. Local externo: área compreendida fora das habitações. Exemplos: floresta, bosques, via e logradouros públicos. Local imediato: é aquele que contém o palco principal do crime, onde se concentrou a maioria dos vestígios. Em um acidente de trânsito entre dois carros, é o ponto em que ocorreu o sítio de colisão e suas imediações, ponto em que os veículos pararam após o embate, por exemplo. Classificação do local de crime a) Quanto a natureza jurídica do fato b) Quanto ao local de ocorrência c) Quanto ao isolamento Homicídio Furto Acidente de tráfego Local de incêndio Local de explosão Interno Externo Imediato Mediato Relacionado Idôneo Inidôneo Virtual CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 32 É importante ressaltar que ao analisar o local imediato, o perito deve descrever minuciosamente o estado das coisas, estabelecendo referenciais dos posicionamentos dos objetos de análise (um corpo, em local de homicídio; um veículo, em local de acidente de trânsito, etc.) em relação à referenciais imóveis existentes no local. Essa prática denominado amarração do local, permite que o cenário seja a qualquer tempo reproduzido caso haja necessidade de novas diligências. O esquema a seguir ilustra a amarração de um local de acidente de trânsito com vítima fatal, em que um ônibus colidiu com um carro de passeio em um cruzamento sinalizado vindo a arrastá-lo por mais de vinte metros após o sítio de colisão. Reparem que o perito realizou medidas das distâncias entre os veículos na posição de repouso após a colisão e um poste que existia no local, adotando por referencial as rodas das laterais direita dos veículos envolvidos. Percebam que o perito estabeleceu um ponto fixo existente no local e relacionou à dois pontos diferentes do objeto analisado, no caso as rodas do veículo, veremos mais adiante que existem outras metodologias para amarrar o local. Avenida Marechal Fontenele R u a M o n c la ro M en a B a rr e to 1,9 5 m 2,98 m 2 7 ,5 0 m 3, 30 m 3, 00 m 4,10 m 6,50 m N º 8 1 A CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 33 Note que no cenário ilustrado acima o local imediato é o ponto da via em que os veículos possivelmente colidiram (sítio de colisão), além do local de repouso dos veículos após a colisão, uma vez que os principais vestígios foram encontrados nesse ambiente. A descrição do local imediato deve abranger, além da precisão do endereço, referenciais precisos de localização, contendo informações sobre as condições em que o objeto de análise foi encontrado, se em local aberto ou fechado, se exposto à intemperes ou não, se iluminado por luz natural ou não, dentre outros. A posição em que os vestígios são encontrados em um local de crime é de grande relevância para se estabelecer a compatibilidade do objeto com a dinâmica dos fatos a ser estabelecida. Em um local de morte violenta, por exemplo, em que o instrumento utilizado para a consumação da morte seja encontrado a uma distância superior à do alcance da vítima, não é razoável estabelecer a dinâmica dos fatos como auto eliminação. Podemos imaginar ainda um local de suposta auto eliminação em que a arma de fogo nas mãos da vítima encontra- se com a trava de segurança acionada, impedindo o disparo, poderá ser a diagnose diferencial entre homicídio e a auto eliminação. Local mediato: É a área adjacente ao local imediato. É toda a região espacialmente próxima ao local imediato e a ele geograficamente ligada, passível de conter vestígios relacionados com a perícia em execução. Na ilustração do acidente de trânsito apresentada anteriormente, o local mediato é a porção do cenário que está além do sítio de ocorrência (ponto de impacto e local de repouso dos veículos), em que é possível encontrar vestígios relevante ao fato, nesse caso abrangeria basicamente a marca de frenagem deixada pelo ônibus antes do impacto. Local relacionado: É todo e qualquer lugar sem ligação geográfica direta com o local do crime e que possa conter algum CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 34 vestígio ou informação que propicie ser relacionado ou venha a auxiliar no contexto do exame pericial. O exemplo que estamos estudando não apresenta um local relacionado, mas imaginemos que o cenário fosse de um atropelamento e que o condutor do veículo atropelador tivesse se evadido do local com o veículo, sendo localizado dois dias depois, em uma cidade distando 300km do local em que se dera a ocorrência. Na via em que se desenrolou a ocorrência foram deixadas marcas de frenagem de alguns metros de comprimento, antes do provável ponto de impacto. O local relacionado seria aquele em que o automóvel foi encontrado posteriormente, visto que este não possuía ligação geográfica direta com o local em que se desenvolveu a ocorrência. A importância da preservação e Isolamento do Local de Crime A coleta e preservação adequada das evidências são aspectos essenciais para qualquer investigação criminal bem sucessiva, a falta de isolamento e respectiva preservação dos vestígios em um local de crime, no Brasil, é um dilema com que os peritos lidam diariamente. A dificuldade em preservar o estado das coisas em um local de infração penal pode ser atribuída a uma questão cultural, em que a população por curiosidade se desloca por entre os vestígios, chegandomuitas vezes a coletá-los, imaginando estarem contribuindo com a investigação, comprometendo assim, a legalidade do vestígio. Com a vigência da Lei nº 8.862/94 que alterou o art. 6º, inciso I e II, bem como o art. 169, do Decreto Lei nº 3.689/41 (Código de Processo Penal), a responsabilidade pelo isolamento e preservação do local de crime passou a ser obrigação da autoridade policial que for designada para atender a ocorrência, bem como dos demais segmentos funcionais (socorristas, investigadores, Delegados, dentre outros) que interagem no local. CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 35 Tais determinações legais que garantem essa nova condição para o local de crime estão previstos nos dispositivos a seguir, transcritos do Código de Processo Penal (CPP). Art. 6º Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial deverá: I- Dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e a conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais; II- Apresentar os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos criminais. Art. 169 Para o efeito de exame do local onde houver sido praticada a infração, a autoridade providenciará imediatamente para que não se altere o estado das coisas até a chegada dos peritos, que deverão instruir seus laudos com fotografias, desenhos ou esquemas elucidativos. Parágrafo único – Os peritos registrarão, no laudo, as alterações do estado das coisas e discutirão, no relatório, as consequências dessas alterações na dinâmica dos fatos. A dificuldade em preservar o local de crime, parece ainda mais grave quando a autoridade policial, agente responsável em preservar e isolar o local, não cumpre a sua obrigação prevista em Lei. Note que o parágrafo único do art. 169 do CPP, obriga ao perito registrar e refletir sobre as consequências técnicas da não preservação e isolamento do local de infração penal para a análise da cena do crime CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 36 deixada pelo(s) infrator(es) e pela(s) vítima(s). Se as condições da integridade física de um local violado não forem comentadas no laudo, não importando se por motivo justificado ou não, fatalmente levarão as investigações e a justiça a erro. Tomemos como exemplo uma vítima que se sentiu mal, caiu sobre o passeio de pedestres, bateu a cabeça e veio a óbito, ao sofrer a intervenção de bombeiros e/ou paramédicos, teve seu corpo movimentado, os bolsos de suas vestes vasculhados à procura de documentos que o identificasse, parte de suas roupas cortadas ou removidas para localização de ferimentos. Se não for informado ao perito que chegou posteriormente ao local e este não comentar em seu laudo os efeitos de tal intervenção, parecerá que houve latrocínio ou algo parecido. O registro pelo perito das condições de isolamento e preservação do local quando feitos de maneira correta demonstrará a credibilidade dos vestígios materializados e consequentemente a confiabilidade da interpretação da prova. Por outro lado, um local que foi isolado e preservado adequadamente, garante ao perito estabelecer a dinâmica dos fatos de maneira confiável. Ao lado, segue imagens de um local onde ocorreu um disparo anômalo (acidental) de arma de fogo, quando o portador do armamento desembarcava do veículo. Fonte: Manual de Atendimento a Locais de Morte Violenta CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 37 Como o local encontrava-se preservado e isolado (note a faixa zebrada), o perito pode garantir que o veículo não teve sua posição alterada após o disparo e, com isso, pode estabelecer a trajetória do projétil, que atingiu primariamente a face interna da porta dianteira direita acima da dobradiça inferior de fixação do veículo, tendo os peritos constataram que a trajetória assumida pelo projétil indicava que a porta encontrava- se com seu ângulo máximo de abertura no momento do disparo, vindo o projétil a transfixar a lataria e percorrer toda a extensão do vão existente entre a viatura e a rampa de acesso, aproximadamente 1,48 m (um metro e quarenta e oito centímetros), até atingir a barra metálica da rampa de acesso. A falta de preservação de local ou qualquer outro corpo de delito tem início na conduta inadequada dos agentes de segurança que interagem com o local. Nesse particular, a corporação regulou os procedimentos a serem adotados pelos Policiais militares em local de infração penal, orientando-os quanto ao correto proceder em relação à interdição dos locais em que tenha ocorrido crime, bem como a preservação dos elementos objetivos de valor criminalístico (vestígios) neles encontrados, conforme o previsto na Nota de Instrução Nº 006, de 05 de outubro de 1998. Para entendermos a dinâmica e procedimentos a serem adotados para um eficaz isolamento e preservação do local de infração penal, é necessário conhecer alguns conceitos relativos ao exame de local, que passaremos a seguir a definir e classificar. Metodologia para o isolamento e preservação do local, vamos aprender sobre isso? Já discutimos a importância e a obrigação legal em preservar um local de infração, contudo a delimitação do perímetro da área a ser CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 38 isolada não é uma tarefa muito fácil. Observamos que o sítio de ocorrência se estende além dos limites da área do local imediato, assim, o isolamento estabelecido no entorno da cena do crime deve ser maior do que o espaço ocupado pelos componentes da cena principal. Antes de isolar a área, o primeiro agente público responsável pelo ato deve estar ciente dos diferentes aspectos físicos e formais da topografia do local, sua situação e classificação em local interno e externo. Se houver vestígios ou objetos a serem inutilizados pela ação de intempéries (chuva, vento, umidade) tais como manchas de sangue, pegadas, sulcos, marcas de arrastamento de pneus, armas e outros, deverão ser protegidos cobrindo-se com plásticos, lonas, latas, tábuas ou o que houver a mão. Deve o policial cuidar para que os vestígios não sejam tocados ou alterados de posição a serem cobertos. Disponível em http://www.aerofatos.com.br/2015_02_01_archive.html http://www.aerofatos.com.br/2015_02_01_archive.html CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 39 O isolamento e preservação de um local externo apresentam características que dificultam o trabalho, tendo em vista a amplitude e características topográficas da área. O agente que iniciar o isolamento do local externo deve atentar para que o mesmo seja o mais extenso possível, objetivando que não se percam evidências materiais de valor criminalísticos remanescentes. Esses limites podem mais tarde facilmente ser reduzidos, porém dificilmente poderão ser ampliados sem que tenha havido contaminação das áreas adjacentes nesse intervalo. O policial militar deverá interditar apenas a área que contenha vestígios, procurando tanto quanto possível não interromper o trânsito se for o caso de fato ocorrido em logradouro, adotando as demais providências preconizadas para o local de infração penal interno. Em locais internos, essa missão se torna mais fácil, porque a área se localiza “intramuros”, sendo naturalmente limitada, cabendo ao agente guarnecer seus acessos, lembrando que em alguns casos a área mediata também merece cuidados especiais. A primeira autoridade policial que comparecer ao local, tambémdeve se assegurar que as evidências físicas não sejam perdidas, contaminadas ou movidas, podendo utilizar dos mais diversos meios para garantir a preservação, como uso de plásticos, lonas e caixas para proteger da chuva, cordas e fitas refletoras para isolar, etc. Um dos grandes problemas em perícias em locais onde ocorrem crimes é o inadequado isolamento e preservação do local. Essa problemática abrange três fases distintas: A primeira compreende o período entre a ocorrência do crime até a chegada do primeiro policial. Nesse período, a curiosidade de pessoas em verificar de perto o ocorrido causam alterações significativas no local pelo fato de estarem se deslocando na cena. CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 40 A segunda fase compreende o período desde a chegada do primeiro policial até o comparecimento da autoridade de polícia judiciária. Esta fase apesar de menos grave que a anterior, apresente muitos problemas em razão da falta de cuidado dos agentes em adotar medidas cautelares para a preservação e isolamento adequado do local. A terceira fase, compreende o período entre a chegada da autoridade de polícia judiciária até a chagada do perito, nessa fase ocorrem diversas falhas, em função da pouca atenção e da falta de atenção daquela autoridade quanto à importância que representa para ele um local bem preservado. Técnicas operacionais para preservação de local do crime 1) Socorrer a vítima (primeiros socorros) ou providenciar atendimento médico; 2) Prender o infrator (se possível); 3) Interditar o local; 4) Preservar o local; 5) Comunicar o fato ao CECOPOM, ou a sala de Operações e à DP da circunscrição; 6) Arrolar testemunhas e realizar a investigação preliminar; 7) Aguardar no local a chegada da Autoridade de Polícia Judiciária e da Perícia Criminal. CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 41 Em relação à preservação do local, deve o policial adotar as seguintes medidas: a) Não tocar ou alterar a posição dos objetos existentes no local, considerando que a posição dos móveis desarrumados ou desviados de suas posições normais e roupas de cama em desalinho, constituem elementos objetivos para a realização dos exames periciais; b) Não mexer nem recolher armas, estojos, projéteis, documentos e papéis em geral e o que mais houver, nem permitir que outras pessoas o façam; c) Se houver cadáver, permanecer em suas proximidades sem o tocar ou mudar de posição, não permitir também que outras pessoas assim procedem; d) Nas violações de fechaduras, não fechar ou permitir que as fechem com as chaves que lhes são próprias, preservando-se assim os eventuais vestígios; e) Não adentrar ao veículo, nos casos de fatos de interesse criminalístico envolvendo veículos, a fim de preservar as impressões digitais, palmares e outras, encontradas principalmente nos retrovisores, volante, nos vidros, no painel do veículo; CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 42 f) Nada deverá ser tocado ou retirado do interior do veículo, tais como armas, bolsas, carteiras, pertences pessoais da vítima, agendas ou quaisquer outros objetos. g) Não fumar ou permitir que fumem no local de infração penal, visto que palitos de fósforo, cinzas e pontas de cigarros, muitas vezes constituem elementos de valor criminalísticos e, se tiverem sido depositados no local após o seu isolamento, poderão confundir os peritos; h) Os aparelhos telefônicos existentes no loca, bem com as dependências sanitárias ou quaisquer outras, não deverão ser utilizadas. Agora, vamos aprender sobre Avaliação do isolamento Caberá ao perito quando chegar ao local avaliar se a amplitude da área isolada foi suficiente para abranger os vestígios remanescentes do crime. Este deverá também observar as condições de preservação do local, registrando todas as alterações encontradas, bem como as condições em que encontrou o local, como por exemplo: Se as luzes encontravam acesas; Qual a posição em que se encontrava o câmbio seletor de marchas do veículo; Se a paleta do limpador do para-brisas estava acionada; Qual a leitura do hodômetro do veículo; O grau de abertura das portas e janelas, se parcialmente ou totalmente; Se o piso se encontrava molhado; Se havia deposição de material arenoso no asfalto; CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 43 A disposição da mobília, observando se alguma foi movida, cuidando para que ninguém a recoloque em seu lugar. Essas informações são especialmente importantes para estabelecer a dinâmica dos fatos. Escolha de metodologia para processamento do local Antes de adentrar ao local, o perito decidirá qual a orientação do deslocamento que irá adotar. Existem algumas metodologias de pesquisa da cena do crime, aceitas como padrão. É importante ressaltar que ao adotar uma orientação de deslocamento padrão, o perito irá diminuir as chances de modificar, retirar ou destruir algum vestígio mais sensível. A tabela abaixo, elenca alguns deslocamentos padrão adotados. DESLOCAMENTOS Nome Quando a técnica é mais utilizada Espiral Áreas abertas, sem delimitações físicas (Ex.: florestas, campos, mar) Varredura Locais externos, podem ser utilizadas em associação com outras técnicas, como a orientação em quadrantes (Ex.: Ruas, quadras) Quadrante Em amplas áreas abertas ou fechadas, com muita concentração de vestígios, o quadrante pode ser maior ou menos conforme a concentração de vestígios Grade Em áreas abertas ou fechadas, com muita concentração de vestígios Linha Em áreas abertas com maior quantidade de analistas Radial Utilizado em áreas circulares CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 44 CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 45 LEIA UM POUCO MAIS SOBRE AS CONSIDERAÇÕES!!!! Algumas considerações devem ser feitas, acerca das orientações estabelecidas nesses deslocamentos. Qualquer que seja a orientação do deslocamento, os peritos vão examinando a área, fotografando-a e marcando os vestígios encontrados. Note que o deslocamento em espiral pode ser feito no sentido horário ou anti-horário, a partir do ponto mais distante do local mais distante do local imediato delimitado pelo perito. O deslocamento em varredura, assim como o espiral, o exame tem sentido de fora para o local de maior concentração dos vestígios. A varredura pode ser dividida em duas partes, a fim de não ultrapassar o ponto em que está a maior concentração de vestígios, ou seja, duas varreduras tomando-se o sentido de fora para dentro. No deslocamento em quadrante, se o perito achar adequado e as condições permitirem, poderão ser utilizadas fitas, barbantes, marcação com giz ou cordas para fazer o esquadrinhamento. As fotos abaixo ilustram um local de explosão, em que o perito utilizou o deslocamento em quadrante, reparem que o perito optou por esquadrinhar o local com auxílio de um marcador em giz. CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 46 Marcação dos vestígios encontrados Ao iniciar sua marcha de deslocamento pelo cenário em análise, o perito deverá sinalizar a localização dos vestígios encontrados no caminho. Os recursos utilizados para a marcação da localização dos vestígios podem variar bastante, podendo ser utilizado desde marcadores comerciaispróprios para cena de crime até materiais improvisados pelo perito. A foto abaixo o perito utilizou um pedaço de papel adesivo para marcar o posicionamento da evidência. Epicentro Fonte: arquivo pessoal – Perito EB Cleraldo Fonte: arquivo pessoal do professor CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 47 Vamos aprender um pouco mais sobre o Levantamento fotográfico topográfico? Os aspectos técnicos observados na cena do crime devem ser documentados por meio de levantamentos fotográficos, topográficos e descritivos, podendo ser documentados por outros recursos tais como, modelagem de marcas deixadas por vestígios sólidos, filmagem, levantamento de impressões digitais, palmares e dentre outros. As fotografias da cena do crime devem ser feitas sem a interferência do fotógrafo ou de qualquer outra pessoa em relação ao posicionamento dos vestígios. Nas condições ideais o objeto deve permanecer em sua posição inicial e, qualquer alteração desse posicionamento para a fotografia dever ser registrada em campo próprio no laudo. O legislador tornou obrigatório o registro fotográfico em local de ocorrência com cadáver, assim preceitua o art. 164 do CPP: “Os cadáveres serão sempre fotografados nas posições em que forem encontrados, bem como, na medida do possível, todas as lesões externas e vestígios deixados no local de crime”. As fotografias das evidências em um local de crime devem seguir uma metodologia que inclui três posicionamentos básicos: fotografia panorâmica, fotografia geral e foto em detalhe do objeto. A fotografia panorâmica tem por objetivo ilustrar o local onde ocorreu o crime, bem como a área no entorno, engloba a maior extensão possível do cenário. Já a fotografia geral alcança uma distância intermediária, objetivando estabelecer o posicionamento da evidência em relação à cena do crime. Por outro lado, a foto em detalhe do objeto mostrará como a evidência foi encontrada na cena do crime pelos investigadores, bem como os detalhes da evidência. As fotos a seguir ilustram esses três tipos de fotografias registradas em local de disparo acidental de arma de fogo. CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 48 CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 49 Embora os registros fotográficos sejam frequentemente utilizados para documentar uma cena de crime, elas podem conferir ao objeto uma falsa sensação de perspectiva e muitas vezes não apresentam uma representação acurada das dimensões do objeto ou ainda sua relação espacial. Assim, após os registros fotográficos das evidências e do local em si, os peritos devem registrar o cenário através de croquis e diagramas, nos quais as dimensões, escalas de grandeza e distâncias dos objetos devem ser respeitadas, garantindo que o observador tenha uma visão espacial completa sem distorções. O perito pode escolher qualquer ângulo de visão para o registro topográfico da cena do crime, a seguir podemos observar que o local de disparo acidental ilustrado pelas fotografias anteriores é representado em três diferentes ângulos de visão, conforme os croquis abaixo. CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 50 CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 51 VAMOS ENTENDER MAIS SOBRE EXAMES E LEVANTAMENTO TÉCNICOS PERICIAIS!!!! Em um cruzamento devidamente sinalizado, ocorre a colisão lateral entre um ônibus e um veículo de passeio, conforme o representado a seguir: Veículos se aproximando do cruzamento Momento da colisão CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 52 Veículo 1 começa a arrastar o veículo 2 Posição final dos veículos após a colisão Reflectografia: é o método que se utiliza de raios de luz refletidos sobre a superfície e tem sua aplicação na revelação de imagens subjacentes (latentes) gravadas em substratos. Fotografias multissensoriais: registradas com utilização de recursos fotográficos capazes de captar radiações eletromagnética Imagens térmicas: são aquelas obtidas com o auxílio de câmera capaz de capturar radiação infravermelha e convertê-la para faixa visível do espectro luminoso, tornando possível a visão do calor gerado por objetos Macrofotografia: trata-se de uma técnica fotográfica utilizada para mostrar pequenos objetos e/ou detalhes destes, de difícil visualização a olho nu. Fotomicrografia: permite o registro de imagens ampliadas, resultantes do uso de lentes potentes capazes de mostrar detalhes e objetos não visíveis à vista desarmada. CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 53 Croqui: é a ilustração sem escala do local, que objetiva apenas a demonstração de um fato ou versão. Desenho linear: é o desenho formado apenas por linhas, como gráficos, diagramas ou organogramas. Rebatimento topográfico: é a ilustração rebatida do piso, do teto e das quatro paredes. Levantamento topográfico: é o desenho que busca representar no papel plano os acidentes geográficos de uma determinada área, com os acidentes e objetos colocados em sua superfície. Método da triangulação: são estabelecidos dois pontos fixos no ambiente (A, B) e a partir desses pontos são registradas as distâncias de duas evidências (x, y). Método da linha base: é traçada uma linha entre dois pontos fixos (A, B) no ambiente e são feitas medidas de distâncias das evidências (x, y) a partir dessa linha em um ângulo reto. Método da coordenada polar: utiliza-se de um compasso para medir o ângulo entre o ponto específico de uma estrutura reta, como uma parede por exemplo, e a evidência. VANT: Veículo Aéreo Não Tripulado. Existem diversas maneiras de proceder ao levantamento de local, efetuadas em conjunto ou separadamente, conforme a necessidade. Todas elas, entretanto, podem ser classificadas, de acordo com o momento de sua realização, como iniciais ou complementares. CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 54 Levantamento descritivo No levantamento descritivo do local, o perito deverá verificar as condições de preservação do local, registrando todas as alterações encontradas, seguindo uma metodologia que compreende procedimentos e etapas ordenadas de forma lógica, ilustrados a seguir: CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 55 Produção de anotações do local: Data e hora do início dos exames; Localização exata do evento; Condições atmosféricas encontradas no início dos exames. É importante registrar as condições encontradas pelo perito quando da sua chegada ao local, pois vestígios como manchas de sangue podem ter desaparecido em decorrência de sua diluição. Condições de iluminação: muitas vezes os exames são realizados em distintas fases do dia, exigindo uma caracterização completa dessas condições, pois sem a iluminação natural, as condições de iluminação serão distintas; Condições de visibilidade: não dependem tão somente das condições de iluminação no local, mas também da existência de anteparos, depressões no terreno, dentre outros, que poderiam dificultar a visão completa da vítima ou do autor; Condições topográficas da área: uma boa descrição deve incluir detalhes relativos a acidentes topográficos eventualmente existentes na área a ser descrita. Completa análise das vias de acesso: Nos locais internos, todas as vias de acesso devem ser verificadas (portas, janelas, portões, etc), e qualquer irregularidade deverá ser descrita e documentada. Arrombamentos, entradas forçadas, janelas abertas, devem merecer especial atenção. Nos locais externos deve-se explicitar as formas de acesso disponíveis para o local, caminhos, vias, logradouros, avenidas, viadutos etc. CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 56 Levantamento fotográfico Fotografias em locais externos Ilustrar vistas gerais da cena do fato, incluindo pontos de referência, como lotes, construções, placas, marcos, vias públicas etc. Ilustrar as reais condições de isolamento do local, no momento exato da chegada da equipe pericial, sobretudo principalmente quando o local não está satisfatoriamente preservado e isolado; Registrar posições relativas entre diferentes vestígios, adotando posição intermediária; Registrar detalhes de cada vestígio encontrado (fotografias de detalhes). Nesse tipo de foto é aconselhável a utilização de escalas e placas com números ou letras que identifiquem o vestígio. Fotografias em locais internos Registra obrigatoriamente todos os cômodos e ambientes; Realizar uma sequência de fotos desde o acesso ao cômodo até o vestígio, respeitando a orientação do deslocamento (espiral, varredura, quadrante, radial, grade, linha) adotado pelo perito; Registrar posições relativas entre diferentes vestígios, adotando posição intermediária; Registrar detalhes de cada vestígio encontrado (fotografias de detalhes). CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 57 Levantamento topográfico O levantamento topográfico consiste na “amarração” dos vestígios. Nessa etapa, utilizando-se de trenas (que podem ser convencionais ou digitais), o perito deverá medir e anotar todas as distâncias que se fizerem necessárias. A escolha do ponto de amarração e do sistema a ser utilizado (triangulação, linha base, coordenada polar) será feito de acordo com as características do local. O levantamento topográfico deve incluir: Dimensões obtidas durante o processo de amarração dos vestígios; Medidas que forneçam a exata posição dos vestígios encontrados na cena. Cada objeto deverá ser localizado por duas medidas feitas a partir de pontos fixos, como portas, paredes, postes de iluminação pública etc. Dimensões de portas, móveis e janelas, quando necessário; Coordenadas geográficas para locais abertos (obtidos por mapas ou GPS). CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 58 Levantamento do cadáver Exame do cadáver no local Análise visual do cadáver sem o movimentar, descrevendo a posição em que o corpo foi encontrado; Descrição da vítima, incluindo sexo, cor, fase cronológica (criança, jovem, adulto ou idoso), compleição física, comprimento e cor dos cabelos, cor dos olhos, uso de barba, bigode, cavanhaque e outros detalhes relevantes; Descrever o estado e disposição das vestes e pertences da vítima; Identificação das lesões visíveis encontradas, classificando-as quanto ao tipo de lesão (Incisas, Perfuroincisas, Punctórias, Contusas, Cortocontusas, Perfurocontusas), apontando sua localização com auxílio de silhuetas anatômica e medidas; Identificação de possíveis sinais de luta, representados por lesões de defesas observadas principalmente em mãos, braços e antebraços; Verificação de vestígios diretamente no corpo, tais como manchas de sangue, resíduos oriundos de disparos de armas de fogo e vestígios do agressor; Avaliação detalhada das mãos para constatar todo tipo de vestígios, em especial, a presença de resíduos de disparo de arma de fogo; CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 59 Observação e descrição de todos os fenômenos cadavéricos; Observação de sinais característicos capazes de individualizar a pessoa, como tatuagem, as quais devem ser fotografadas, especialmente quando a vítima não está identificada e quando as condições do corpo impedem um reconhecimento direto; Coleta de amostras de sangue e cabelo da vítima; Confrontação dos vestígios encontrados no cadáver com aqueles verificados na cena do crime. Exame das vestes Análise de todas as vestes (inclusive roupas íntimas, calçados e etc); Descrição da disposição geral das vestes, atentando para detalhes como cintos desafivelados, zíperes abertos, botões fora de suas respectivas casas ou ocupando casas trocadas, ou quaisquer outras anormalidades; Retirada das vestes deve ser feita de forma cuidadosa, evitando- se a perde de algum vestígio que possa estar neste suporte. Por vezes, é necessário cortar as vestes, isso deve ser feito de com muito cuidado e, por fim deve ser registrado; Identificação e registros fotográficos de orifícios, rasgos, descosturamentos e botões arrancados; Identificação de manchas (sangue, esperma, resíduo de disparos de arma de fogo); Descrição completa do conteúdo presente nos bolsos, discriminando a sua localização exata; Fotografar cada veste, em suas duas faces (anterior e posterior) e, se necessários também internamente. CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 60 VAMOS APRENDER SOBRE IMPRESSÃO PAPILOSCÓPICA? Datilograma: é a palavra que designa cada um dos desenhos digitais. É uma palavra híbrida, formada por 2 radicais de origem diferente, do grego DAKTILOS=dedos e do latim GRAMA= marca. Reprodução simulada: corpo de delito facultativo, complementar, misto, que se louva em informações subjetivas prestadas por pessoas envolvidas no evento a ser apurado. Papiloscopia: é o estudo das papilas dérmicas em geral existentes no corpo humano. Pegada: é toda marca ou impressão produzida no solo ou em outros suportes (portas, janelas, paredes) pelo pé calçado ou descalço. Datiloscopia: é um método de identificação policial/judiciário, estruturado em bases científicas e experimentais, organizados em sistemas precisos. Podoscopia: é a ciência que estuda a planta do pé, tendo por objetivo estabelecer a identidade humana através das papilas dérmicas. CRIMINALISTA APLICADA – CEFC 2019 61 AGORA, VAMOS ESTUDAR IMPRESSÕES PAPILOSCÓPICAS ENCONTRADAS EM LOCAIS DE CRIME!!! Papiloscopia A papiloscopia é o estudo das papilas dérmicas em geral existentes no corpo humano, porém as partes que mais interessam a perícia são: Extremidade dos dedos, ou seja, o estudo das impressões digitais; Estudo das palmas das mãos, ou seja, impressões palmares; Estudos das impressões plantar, solado dos pés. Postulados da papiloscopia a) Perenidade - Os desenhos formados pelos sistemas de linhas que compõem as impressões digitais, especialmente aquelas localizadas nas extremidades dos dedos, permanecem os mesmos desenhos desde o seu aparecimento, ao sexto mês de vida intrauterina, até a decomposição do corpo após a morte. Apesar dos desgastes naturais verificados em decorrência da passagem dos anos, bem como os provocados pelo manuseio cotidiano de substâncias químicas (óleos, graxas, ácidos, cimentos), que causam
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