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Programa de Pós-Graduação em 
Ciências Forenses 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Módulo: Locais de Crime I 
 
Docente Responsável: Prof. Dr. Jesus Antonio Velho 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2016 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FORENSES – IPOG 
(Uso autorizado somente aos alunos, no interesse específico do mencionado Curso) 
 
2 
 
 
Texto adaptado do Livro: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FORENSES – IPOG 
(Uso autorizado somente aos alunos, no interesse específico do mencionado Curso) 
 
3 
 
1- O crime 
 
O Crime, em termos jurídicos, é toda conduta típica, antijuridíca (ou ilícita) e culpável, 
praticada por um ser humano. Segundo o dicionário, crime é: 
 “sm (lat crimen) 1 Violação dolosa ou culposa da lei penal. 2 Violação das regras 
que a sociedade considera indispensáveis à sua existência. 3 Infração moral grave; 
delito. Em sentido vulgar, crime é simplesmente um ato que viola uma norma.” 
(dicionário Michaelis) 
Num sentido formal, crime é uma violação da lei penal. 
No conceito material, crime é uma ação ou omissão que se proíbe e se procura evitar, 
ameaçando-a com pena, porque constitui ofensa (dano ou perigo) a um bem jurídico individual ou 
coletivo. 
Para a legislação penal, a conduta humana para ser elencada como crime deve ser 
tipificada, ou seja deve estar descrita na legislação. 
Não será abarcada nesta obra as particularidades para se definir crime e conduta sob a ótica 
jurídica, o que se busca é apresentar o crime como sendo um resultado de uma conduta humana 
que é prejudicial a sociedade e deve ser esclarecida tendo os elementos de prova encontrados e 
encaminhados adequadamente a uma corte penal para que um julgamento eficaz possa ocorrer. 
A maneira de se planejar, executar e consumar crimes são diferentes, alguns geram 
resultados mais severos e outros menos severos, alguns danificam bens materiais e financeiros, 
outros danificam o corpo humano, ou a saúde mental, assim como a moral e os costumes de uma 
sociedade. Por isso para efeito de estudos e conforme a legislação penal, as condutas consideradas 
como crimes foram agrupadas segundo o bem jurídico atingido. 
Assim, temos abaixo uma lista sobre alguns dos principais grupos delitivos: 
 Crimes contra a pessoa, por exemplo: homicídio, aborto, lesão corporal, maus tratos. 
 Crimes contra a honra, por exemplo: injúria, calúnia. 
 Crimes contra o patrimônio, por exemplo: furto e roubo. 
 Crimes contra a dignidade sexual, por exemplo: estupro, assédio sexual. 
 Crimes contra a incolumidade pública, por exemplo: explosão, desmoronamento. 
 Crimes econômicos: estelionato, lavagem de dinheiro. 
 
 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Norma
https://pt.wikipedia.org/wiki/Direito_penal
https://pt.wikipedia.org/wiki/Pena_(Direito)
https://pt.wikipedia.org/wiki/Corpo_humano
https://pt.wikipedia.org/wiki/Sa%C3%BAde_mental
https://pt.wikipedia.org/wiki/Costumes
https://pt.wikipedia.org/wiki/Sociedade
https://pt.wikipedia.org/wiki/Homic%C3%ADdio
https://pt.wikipedia.org/wiki/Aborto
https://pt.wikipedia.org/wiki/Les%C3%A3o_corporal
https://pt.wikipedia.org/wiki/Maus_tratos
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FORENSES – IPOG 
(Uso autorizado somente aos alunos, no interesse específico do mencionado Curso) 
 
4 
Evolução do crime de homicídio no Brasi l 
Mesmo não sendo estatisticamente a maior ocorrência criminosa no Brasil, o homicídio é o 
crime que mais choca a sociedade, pois seu dano é irreversível e o mais violento que se pode 
tramar contra a vida humana. 
Nos últimos 30 anos, o Brasil passou de 13.910 homicídios em 1980 para 49.932 em 2010, 
um aumento de 259% equivalente a 4,4% de crescimento ao ano, conforme ilustrado pelo gráfico a 
seguir. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Durante esses 30 anos o Brasil já ultrapassou a casa de um milhão de vítimas de homicídio. 
Os números são de tal magnitude que fica difícil construir uma imagem mental para 
assimilar o seu significado. 
WAISELFISZ, 2013 no seu trabalho intitulado Mortes Matadas por Armas de Fogo no 
Brasil fez a comparação: as mortes violentas no Brasil com vários conflitos armados acontecidos 
no mundo na segunda metade do século passado. Veja a tabela a seguir. 
 
 
Figura 1 – Gráfico mostrando a evolução temporal da taxa de homicídio no Brasil. 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FORENSES – IPOG 
(Uso autorizado somente aos alunos, no interesse específico do mencionado Curso) 
 
5 
 
 
O papel central da Perícia Criminal na resolução 
de crimes: desafios a vencer 
A ciência de um modo geral se apresenta como intérprete da natureza, quando aplicada à 
perícia criminal ela se coloca como reveladora da “verdade dos fatos”, produzindo a prova 
científica no contexto do processo penal. 
Não é de causar estranheza, seja pela confiança na ciência, utilizada pelos peritos, seja pela 
falta de credibilidade das provas subjetivas (testemunho e confissão), que a Associação Nacional 
dos Peritos Criminais Federais escolheu como seu slogan a frase: “A Perícia Prova”. 
O tema do XIX Congresso Nacional de Criminalística, realizado em 2007 foi “Perícia 
Criminal: garantia do indivíduo, direito à verdade”, e em sua apresentação afirmou-se 
categoricamente que “o devido processo legal exige a perícia criminal na apuração de fatos 
supostamente delitivos que deixam vestígios”. 
Ter uma perícia eficaz e eficiente é, portanto, uma garantia do indivíduo que os processos 
penais serão conduzidos com base num suporte fático, rígido e científico que conduza a alegações 
verdadeiras e ao esclarecimento da verdade. Neste escopo a legislação brasileira impede que a 
defesa, a acusação e mesmo o juiz possam obstá-la. 
O exame pericial ao mesmo tempo em que fornece um respaldo de grande credibilidade ao 
veredito do juiz, é um conjunto de procedimentos técnicos dominados por especialistas (peritos), 
que tem que (ou pelo menos deveriam) ser melhor compreendidos e interpretados por operadores 
do Direito. Essa compreensão muitas vezes não ocorre e o impacto dessa lacuna pode representar 
um problema para a promoção da justiça. É lamentável que raros são os cursos de direito, no 
Brasil, que apresentam a disciplina de Criminalística/Ciências Forenses em sua grade curricular. 
Ao não se compreender claramente o papel da perícia, também se nega a ela os recursos 
necessários para que possa desempenhar eficientemente seu papel. Nos últimos anos ocorreu uma 
grande melhora neste quadro, mas ainda está muito longe de uma situação que possa ser 
considerada razoável ou boa. 
A carência de recursos materiais e de capacitação do corpo funcional afetam diretamente a 
eficácia dos procedimentos periciais. Estando dentro ou fora da polícia, a perícia deve receber os 
recursos financeiros e administrativos suficientes que lhe confira a autonomia requerida para 
realizar sua missão. As restrições financeiras implicam em laboratórios mal aparelhados, peritos 
mal remunerados e desatualizados (exceto aqueles que por esforço individual e amor à profissão 
buscam se desenvolver com seus próprios recursos) e mesmo ainda à falta de material básico para 
realização de exames periciais. 
A falta de uma perícia aparelhada, bem remunerada e treinada, gera um elo frágil na 
obtenção das provas necessárias a um julgamento justo, enfraquecendo assim o sistema de 
aplicação da justiça. Pode-se verificar esta situação ao se analisar as notícias de julgamentos que 
acabam em impunidade por falta de provas consistentes. Infelizmente o resultado é o aumento da 
“sensação de impunidade”. 
 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FORENSES – IPOG 
(Uso autorizado somente aos alunos, no interesse específico do mencionado Curso) 
 
6 
Dois Casos, uma Perícia: O caso Naves x O caso 
Nardoni 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O caso dos Irmãos Naves é considerado um dos maiores erros dojudiciário brasileiro. 
 
 
 
 
 
Aconteceu na cidade mineira de Araguari, em 1937. Os irmãos Naves (Sebastião, de 32 
anos de idade, e Joaquim, 25, mostrados na figura 2) eram trabalhadores que compravam e 
vendiam cereais. 
Joaquim Naves era sócio de Benedito Caetano. Este comprara, com auxílio material de seu 
pai, grande quantidade de arroz, trazendo-o para Araguari, mas com os preços em queda constante 
Benedito viu-se obrigado a vender sua safra em expressiva perda, contraindo ainda mais dívidas, 
mas sobrando-lhe somente uma última - mas vultosa - importância em dinheiro. A quantia embora 
expressiva não cobria todas as suas dívidas. Benedito então toma uma decisão inusitada: na 
madrugada de 29 para 30 de novembro do mesmo ano ele decide sair às pressas da cidade, sem 
comunicar nada a ninguém. 
Os irmãos Naves, constatando o desaparecimento, e sabedores de que Benedito portava 
grande importância em dinheiro, comunicam o fato à Polícia, que imediatamente inicia as 
investigações. 
O caso foi atribuído ao Delegado de Polícia Francisco Vieira dos Santos, marcado para ser 
o principal causador do mais vergonhoso e conhecido erro judiciário da história brasileira. O 
Delegado iniciou as investigações e não demorou a formular a sua convicção de que os irmãos 
Naves seriam os responsáveis diretos pela morte de Benedito. 
A partir de então iniciou-se uma trágica, prolongada e triste trajetória na vida de Sebastião 
e Joaquim Naves. Joaquim e Sebastião foram levados a um campo aberto, amarrados a árvores e 
tiveram seus corpos untados com mel para serem atacados por abelhas e formigas e outros tipos de 
animais, ouvindo tiros e ameaças constantes de morte. Submetidos a torturas as mais cruéis 
possíveis, privados de alimentação e visitas, os irmãos Naves resistiram até o esgotamento de suas 
forças físicas e morais, assinando de forma forçada uma "confissão" formal do crime. 
Figura 2 – Naves x Nardoni: no Painel A: os Irmãos Naves e no 
Painel B: Isabella Nardoni. 
 
 
A 
 
B 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FORENSES – IPOG 
(Uso autorizado somente aos alunos, no interesse específico do mencionado Curso) 
 
7 
Realizado o julgamento, os irmãos Naves são condenados a cumprirem 25 anos e 6 meses 
de reclusão. Após cumprirem 8 anos e 3 meses de pena, os irmãos Sebastião e Joaquim, ante 
comportamento prisional exemplar, obtêm livramento condicional, em agosto de 1946. 
De 1948 em diante, Sebastião Naves inicia a busca pela prova de sua inocência. Era preciso 
encontrar o rastro de Benedito, o que vem a ocorrer, por sorte do destino, em julho de 1952, 
quando Benedito, após longo exílio em terras longínquas, retorna à casa dos pais em Nova Ponte, 
sendo reconhecido por um conhecido, primo de Sebastião Naves. 
O caso passou a ser nacionalmente conhecido. A imprensa o divulgou com o merecido 
destaque. A mesma população que, influenciada pela autoridade do delegado, inicialmente aceitava 
como certa a culpa dos irmãos Naves, revoltava-se com o ocorrido, tentando, inclusive, linchar o 
desaparecido Benedito. 
Em nova revisão criminal, os irmãos Naves foram finalmente inocentados, em 1953. 
Qual foi o grande erro de todo o processo criminal? Toda a investigação baseou-se numa 
convicção de culpa sem provas materiais. Ao condenar duas pessoas por um assassinato baseado 
em confissões e em elementos meramente circunstanciais gerou-se um dos mais graves erros 
jurídicos de nosso país. Não houve sequer a comprovação da materialidade do crime. 
Geralmente pensa-se na perícia para encontrar as provas materiais que servirão para 
incriminar os culpados, o que é verdade, porém o foco da perícia é analisar os elementos materiais 
com vistas a desvendar o que ocorreu, ou seja, determinar a verdade dos fatos, o que se realizado 
no caso em tela serviria para inocentar dois seres humanos condenados injustamente. 
Toda a tortura a que foram submetidos os irmãos Naves não foi impedida e mesmo algumas 
pessoas entrevistadas à época disseram que eles “pareciam” culpados. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Seguindo ainda o raciocínio da importância da perícia, tem-se um outro caso histórico. O 
caso da menina Isabella Nardoni assassinada pelo pai e pela madrasta em 2008. O caso marcou 
história pelos meios de prova preponderantemente considerados, pela materialidade dos fatos que 
emergiu do trabalho pericial. No caso Nardoni não houve testemunhas presenciais, e nem mesmo 
elementos circunstanciais. As provas materiais, periciais, assumiram papel chave na apuração do 
ocorrido. Foi taxativa e indubitável. Mesmo contra o senso coletivo de que um pai jamais 
participaria do assassinato de sua filha, as provas periciais demonstraram a conduta criminosa do 
casal Nardoni. 
Na noite de 29 de março de 2008, a menina Isabella Oliveira Nardoni, 5 anos, foi 
encontrada caída no jardim do Edifício London no distrito da Vila Guilherme, em São Paulo, onde 
morava o pai, Alexandre Nardoni, 29, a madrasta, Anna Carolina Trotta Peixoto Jatobá, 24, e dois 
irmãos. Isabella foi encontrada em parada cardiorrespiratória. A menina chegou a ser socorrida 
pelos bombeiros, mas não resistiu e morreu a caminho do hospital. 
Logo após a constatação da morte da menina, o pai de Isabella e a madrasta foram levados 
ao 9º DP (Carandiru) para prestar depoimento. O pai afirmou que, naquela noite, chegou ao 
CURIOSIDADE 
O caso Naves foi tema de um filme brasileiro de 1967, do gênero drama, intitulado “O 
caso dos irmãos Naves”, baseado no livro de João Alamy Filho, que foi o advogado dos 
irmãos. 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Filme
http://pt.wikipedia.org/wiki/Brasil
http://pt.wikipedia.org/wiki/1967
http://pt.wikipedia.org/wiki/Drama
http://pt.wikipedia.org/wiki/Advogado
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FORENSES – IPOG 
(Uso autorizado somente aos alunos, no interesse específico do mencionado Curso) 
 
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edifício de carro, com a mulher e os três filhos dormindo. Ele disse que levou Isabella para o 
apartamento, colocou a menina na cama e a deixou dormindo, com o abajur ligado, para voltar à 
garagem e ajudar a mulher a subir com os dois filhos do casal. 
Conforme a versão de Nardoni, quando ele voltou ao apartamento, percebeu que a luz do 
quarto ao lado do de Isabella, onde dormiam os irmãos dela, estava acesa; que a grade de proteção 
da janela tinha um buraco; e que a menina havia desaparecido. Em seguida, ele disse ter percebido 
que o corpo da menina estava no jardim. 
Naquela ocasião, Nardoni disse suspeitar que a filha tivesse sido atirada do sexto andar do 
prédio por algum desafeto seu. 
Este é um caso que poderia ter tido um desfecho diferente se a história do pai não pudesse 
ter sido demolida pelas Ciências Forenses. 
Sem a existência de provas testemunhais e de uma confissão, a investigação partiu da 
análise das provas materiais visando encontrar elementos que pudessem determinar o que ocorreu. 
Com o andamento da investigação foi levantada a hipótese de participação dos pais e então, 
para confrontar a versão dos réus de que havia uma terceira pessoa na cena do crime, foram 
realizadas diversas perícias. 
As provas irrefutáveis que lastrearam a condenação vieram do trabalho de qualidade 
realizado pela perícia criminal nos vestígios encontrados no local de crime – romanticamente 
chamados pelos peritos de “testemunhas que não mentem”. 
Por meio da análise dos vestígios encontrados no local de crime, manchas de sangue, 
perfurações presentes na camiseta de Alexandre Nardoni provocadas pela tela de proteção do 
apartamento, lesões presentes na vítima, dentre outros, foi estabelecida a dinâmica dos 
acontecimentos e a autoria da ação criminosa. Foi também demonstrado que que houve tentativa 
de adulteração da cena. 
Após cinco dias de julgamento, o juiz Maurício Fossen fez o pronunciamento, que foi 
transmitido por diversas redes de televisão ao vivo. O júri considerou o casal culpado por 
homicídio triplamentequalificado (pela menina ter sido asfixiada, considerado meio cruel, não ter 
tido chance de defesa, por estar inconsciente ao cair da janela, e por alteração do local do crime). 
Alexandre Nardoni foi condenado a 31 anos, 1 mês e 10 dias - pelo agravante de ser pai de Isabella 
- e Anna Carolina Jatobá, a 26 anos e 8 meses, em regime fechado. 
Se o mesmo rigor técnico e científico pudesse ter sido aplicado ao caso dos irmãos Naves, o 
desfecho teria sido diferente. 
 
Local de crime – conceitos básicos 
 
Definição de local de crime 
O local de crime é o palco principal onde, em geral, se inicia o do trabalho da perícia 
criminal, representa o berço de geração dos vestígios produzidos no fato em apuração. 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Homic%C3%ADdio#Homic.C3.ADdio_qualificado
http://pt.wikipedia.org/wiki/Asfixia
http://pt.wikipedia.org/wiki/Inconsciente
http://pt.wikipedia.org/wiki/Reclus%C3%A3o
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FORENSES – IPOG 
(Uso autorizado somente aos alunos, no interesse específico do mencionado Curso) 
 
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De acordo com Kehdy, 1959: “Local de crime é toda área onde tenha ocorrido um fato que 
assuma a configuração de infração penal e que, portanto, exija providências da polícia.” 
Ou ainda de acordo com Rabello, 1996: “Local de Crime - é a porção do espaço 
compreendida num raio que, tendo por origem o ponto no qual é constatado o fato, se estenda de 
modo a abranger todos os lugares em que, aparente, necessária ou presumivelmente, hajam sido 
praticados, pelo criminoso, ou criminosos, os atos materiais, preliminares ou posteriores à 
consumação do delito e com estes diretamente relacionados”. 
 Nesse conceito, estão compreendidos, naturalmente, os crimes de qualquer espécie, bem 
como todo fato que, não constituindo crime, deva chegar ao conhecimento da Polícia, a fim de ser 
convenientemente esclarecido. 
Assim, um local onde tenha ocorrido um homicídio, suicídio, acidente, incêndio, explosão, 
furto qualificado, atropelamento, colisão de veículos, etc., recebe a denominação genérica de 
“local do crime” ou “local do fato”, porque se torna necessário elucidar as circunstâncias em que o 
mesmo se passou. A figura 3 exemplifica diferentes tipos de locais de crime. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Figura 3 - Locais de crime: A - Local de crime 
contra a vida; B - Local de crime contra o 
patrimônio; C - Local de crime de laboratório 
clandestino de drogas de abuso e D - Local de 
crime contra o meio ambiente. 
 
B A 
C 
D 
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10 
 
O Local como fonte de Informação 
Num local de crime podem ser obtidas diversas informações a respeito do que ocorreu ali e 
da autoria da conduta questionada. Essas informações apresentam variados graus de 
disponibilidade, podendo se apresentar de maneira explícita ou não. 
Geralmente, os operadores do Direito: juízes, promotores e advogados, vinculados a 
determinada ação penal não tiveram acesso à cena de crime. Suas convicções serão construídas 
com os elementos que a investigação e a perícia elaborarem. 
 Essa é a principal razão pela qual numa análise de uma cena de crime deve-se procurar 
obter a maior quantidade de informações possível. São essas informações que lastrearão o 
conhecimento dos fatos ocorridos, sua dinâmica e configuração. 
A recenticidade dos fatos e a oportunidade, por vezes única, do adequado tratamento do 
local demandam um imperioso cuidado e planejamento da abordagem de uma cena de crime. 
Frequentemente, a análise de informações contraditórias demanda, por parte dos 
investigadores envolvidos, o uso do bom senso e de sua discricionariedade enquanto agentes 
públicos. 
Basicamente, existem dois tipos de informações disponíveis em uma cena de crime: as 
subjetivas representadas pelo conhecimento de alguém sobre o fato e aquelas denominadas 
objetivas que são oriundas da análise dos vestígios materiais. 
 
Informações subjet ivas 
Denominam-se informações subjetivas aquelas decorrentes do conhecimento dos fatos por 
parte de pessoas que viram ou, de alguma maneira, tomaram conhecimento do acontecido. Esse 
tipo de informação é de ordem interpretativa e de cunho pessoal, podendo até mesmo não refletir a 
verdade. Frequentemente, essas informações são incompletas, abarcando apenas uma parte do fato. 
Pesquisas comprovarão que nem sempre vemos corretamente o ocorrido, vemos uma parte 
da realidade, ou seja, vemos nossa interpretação da realidade. Nossa percepção e nosso julgamento 
dos fatos são construídos com base na nossa experiência anterior com fatos similares e se um fato 
“novo” diferente se apresenta a mente busca encaixá-lo na matriz de conhecimentos anteriores e 
quando não encontra procura construir um aproveitando elementos similares disponíveis. Essa é a 
principal razão pela qual julgamos erroneamente e com base em estereótipos. 
Na prática, esse tipo de informação pode vir a contribuir no sentido de formar uma 
adequada reconstrução mental do ocorrido, facilitando as diversas etapas de investigação do local. 
No entanto, muita cautela deve ser exercida, pois não são informações calcadas em dados 
concretos e absolutos. São informações que representam como determinada pessoa interpretou o 
fato ocorrido. 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FORENSES – IPOG 
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11 
Se adicionarmos a essa cautela as razões de desconfiança necessárias quando suspeitamos 
que as informações são mentirosas, de maneira proposital, teremos avançado na ponderação das 
informações subjetivas. 
De forma alguma queremos ser interpretados como contrários às informações subjetivas, 
acreditamos muito em seu valor e indicamos a todos os investigadores a procurá-las 
exaustivamente em um local de crime, o que fazemos é alertar para o fato de que podem ser 
ilusórias ou forjadas, ou seja, ilusórias nos fazendo perder um tempo precioso seguindo uma 
história mirabolante que não levará a nada ou ainda forjada, aquela criada para nos desviar do 
caminho correto. 
Indicamos a todos os investigadores que busquem validar as informações subjetivas com a 
existência de elementos materiais que comprovem a história ou versão. Essa será a garantia de não 
sermos enganados ou iludidos. 
 
Informações or iundas de ves t íg ios - Objet ivas 
Como toda conduta humana deixará atrás de si um rastro material, só o que se precisa fazer 
é encontrá-lo. Essa afirmação é clara, porém atingi-la não é simples. O rastro material da conduta 
nem sempre é claro, tangível e, muitas vezes, necessita de tecnologia e procedimentos nem sempre 
disponíveis. Neste aspecto o principal trabalho do perito é encontrar o rastro, analisá-lo e por fim 
contextualizá-lo com o fato gerando as provas materiais necessárias. 
Como testemunhas mudas de um crime, os vestígios materiais são a fonte objetiva de 
informações, pois sua análise é mais precisa e mais segura, pois é baseada em princípios técnico-
científicos consagrados e não em interpretações subjetivas. Em muitos casos, parte dos vestígios 
pode ser guardada como contraprova visando a dirimir questionamentos futuros. Aliás, este é o 
procedimento padrão de se preservar, sempre que possível, vestígios para análises futuras. 
 
 
 
 
 
Este conhecimento de locais de crime não é novo, já em 1934 o cientista forense Edmond 
Locard, ao elaborar o princípio da transferência, nos trouxe a informação de que existe sempre a 
troca de vestígios entre os agentes delituosos e o ambiente. O criminoso deixa algo seu no local, ou 
leva algo do local consigo. Tal conceito é ilustrado pelo texto abaixo: 
“Onde quer pise, onde quer que toque ou o que deixe, mesmo que inconscientemente, irá 
servir como testemunha silenciosa. Não somente suas digitais ou suas pegadas,mas seus 
fios de cabelo, as fibras de suas roupas, as partículas de vidro que quebrou, as marcas de 
ferramenta que deixou, a tinta que arranhou, o sangue ou o sêmen que depositou, todos 
estes materiais serão testemunhas silenciosas contra ele. Isto é uma evidência que não 
falha. Isto é uma evidência que não é duvidosa, como o depoimento nervoso de uma 
O QUE DIZ A LEI: 
Art. 170 do CPP – Nas perícias de laboratório, os peritos guardarão material suficiente 
para a eventualidade de nova perícia. Sempre que conveniente, os laudos serão ilustrados 
com provas fotográficas, ou microfotográficas, desenhos ou esquemas. 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FORENSES – IPOG 
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testemunha ou a própria ausência desta. Estas são evidências concretas e factuais. 
Evidencias deste tipo não se confundem. Elas não mentem e também nunca estão 
ausentes. Somente sua interpretação pode gerar erros. Somente a falha humana em achá-
las, em estudá-las,e em entendê-las poderá diminuir o seu valor probatório”. Paul L. Kirk, 
1953. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Mas será que sempre se poderá encontrar o rastro material da conduta delituosa? Como 
muitas outras perguntas em Criminalística a única resposta possível é: Depende. Alguns 
pressupostos devem ser rigorosamente seguidos para que os vestígios visíveis ou não possam ser 
encontrados e coletados e esses princípios são: local adequadamente isolado e preservado para a 
perícia, capacitação contínua do quadro de peritos e existência de equipamentos e tecnologias 
corretas a cada vestígio. 
 Se os fatores elencados no parágrafo anterior estiverem todos satisfeitos ampliaremos 
sensivelmente as chances de encontrar e contextualizar os vestígios da conduta delituosa. 
Ampliaremos as chances de “ouvir” as testemunhas silenciosas e direcionar a apuração, e 
com isso ampliaremos as probabilidades de condenar os criminosos e eliminar os inocentes da 
suspeição causando maior sensação de justiça na sociedade e maior sensação de punição entre os 
criminosos. 
Como ponto ainda a ser relembrado, temos o fato de que as informações de testemunhas e a 
confissão deverão ser refeitas no processo penal enquanto que a análise de um local da forma 
adequada será impossível no curso do processo penal. A intervenção pericial, mesmo com o maior 
cuidado possível, alterará o local de crime, a simples coleta de um vestígio já altera o local. Isso 
confere à perícia uma importância e uma responsabilidade muito grande, pois as provas materiais 
nem sempre poderão ser reanalisadas. 
UM POUCO DE HISTÓRIA 
Edmond Locard (1877 – 1966) foi um dos pioneiros no desenvolvimento 
das Ciências Forenses. Ele formulou o princípio básico da criminalística: 
"Todo contato deixa uma marca", que ficou conhecido como o princípio 
de Troca de Locard. Locard estudou Medicina e Direito em Lyon, 
tornando-se o assistente de Alexandre Lacassagne, criminologista e 
professor. Em 1910 ele começou fundar seu próprio laboratório criminal. 
Ele produziu um monumental trabalho de sete volumes, chamado Traité 
de Criminalistique e, em 1918, descreveu doze pontos característicos para 
a identificação de impressões digitais. Edmond Locard continuou com a 
sua pesquisa até a sua morte, em 1966. 
Fonte: http://fdaf.org/jtissot/jt_locard.htm 
 
CURIOSIDADE 
Edmond Locard esteve no Brasil em 1921 para atuar como perito no caso Bernardes 
(caso envolvendo Arthur Bernardes, o então candidato a presidência da República do 
Brasil, em relação à autoria de carta com texto ofensivo ao Exército Nacional). No 
entanto, Edmond Locard concluiu equivocadamente pela autoria das cartas anônimas 
atribuídas ao ex-presidente, em decorrência de aceitar como legítimos os padrões do 
anonimógrafo Oldemar Lacerda, posteriormente desmascarado pelos laudos dos peritos 
cariocas Serpa Pinto e Simões Corrêa. 
 
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Teoria dos vestígios 
Para entender mais sobre vestígios e locais de crime faz-se necessário uma breve revisão 
sobre a teoria dos vestígios. 
Vestígios, em sentido amplo, são marcas, rastros, sinais, manchas, etc, conforme exemplos 
mostrados na figura 4. Segundo Demercian e Maluly, 2001: 
(...) são sinais, dados materiais, resquícios percebíveis pelos sentidos, manifestações 
físicas que se ligam a um ato ou fato ocorrido ou cometido, isto é, à infração penal. A 
apreciação pelos sentidos, desses dados materiais é que constitui o exame de corpo de 
delito. 
Para a Criminalística, vestígios são elementos materiais encontrados em um local de crime 
ou que compõem um exame pericial e que podem estar ou não relacionados com o crime, ou com o 
fato em apuração. Servem como matéria prima na produção da prova material. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Relação dos ves t íg ios com os fa tos 
Em investigações sempre existem muitos vestígios, muitos detalhes que atraem a atenção 
dos investigadores e dos peritos. Um grande problema em cenas de crime é determinar o vínculo 
entre os diversos elementos materiais presentes na cena e sua relação com os fatos. Essa é uma 
questão crucial. Imagine um perito chegando a uma cena de crime, e todos os elementos ali 
presentes, quais são vinculados ao fato que se investiga? Todos? Esta é uma questão crucial, e por 
isso nos deteremos um pouco classificando os vestígios. Ressalta-se que é possível, diante de um 
fato criminoso, a investigação seguir pistas falsas, que pareciam verdadeiras no início, perdendo 
Figura 4 - Logo da Associação Mediterrânea de Ciências Forenses, exaltando a importância 
dos vestígios (armas, impressões, DNA...) para a promoção da justiça. 
 
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muito tempo e, às vezes, inviabilizando os trabalhos, porque nem sempre os vestígios encontrados 
têm relação com os fatos. 
Assim a Criminalística estabelece a seguinte classificação dos vestígios com relação ao 
fato, conforme explicado a seguir sintetizado na figura 5: 
 
Vestígios Ilusórios: aqueles que são encontrados numa cena de crime e parecem 
relacionados ao fato. Alguns deles podem ser considerados importantes e receberão a atenção dos 
peritos. Como se está no início dos exames ainda não poderão ser descartados, pois parecem 
relacionados ao fato. Receberão o tratamento adequado, serão coletados de acordo com a cadeia de 
custódia, serão encaminhados para outras análises. Enfim tomarão um tempo considerável da 
perícia até a definição de que não tem relação com o fato e estavam no local de crime como fruto 
do acaso, mas no início era impossível perceber. A advertência sobre a presença de vestígios 
ilusórios é feita para que se saiba de sua existência e não para que se descarte “coisas” ainda no 
início dos exames. Se o vestígio não tem claramente um sinal de exclusão, a boa técnica determina 
sua coleta e análises. Poderia se perguntar o que é um sinal claro de exclusão de um vestígio e no 
momento não existe resposta para isso, pois dependerá de tantos fatores que não cabem no escopo 
de uma obra como esta, apenas ressaltamos que isso é construído pela experiência do perito e sua 
capacitação. 
 
Vestígios Forjados: sua configuração é muito parecida com o vestígio ilusório, diferindo 
daquele no seguinte aspecto: não estava na cena de crime por acaso, foi “plantado lá” seja pelo 
autor ou por qualquer indivíduo que queira mudar o rumo de uma investigação. São vestígios 
preparados para desviar a atenção da investigação e conduzi-la a uma direção contrária aos fatos 
em apuração. Apesar dessa condição de forjados, devem ser investigados, primeiro porque não se 
deve desprezar nada no local, segundo, porque podem evidenciaralguma pista do verdadeiro autor. 
 
Vestígios Verdadeiros: são aqueles que, após depuração da equipe pericial, conclui-se ter 
relação com os fatos em investigação, por serem resultado da ação ou omissão do autor e cuja 
interpretação correta pode levar à elucidação do crime. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Vestígio “bituca” de cigarro 
encontrado no local de crime 
Hipóteses 
1ª) A bituca de cigarro foi gerada 
por acaso, no local, por um 
indivíduo não relacionado ao crime 
3ª) A bituca de cigarro foi gerada, 
no local, por um indivíduo 
relacionado ao crime (autor ou 
vítima) 
2ª) A bituca de cigarro foi gerada 
por terceiros, e levadas 
propositalmente ao local, para 
desviar a investigação 
Vestígio Ilusório 
Vestígio verdadeiro 
Vestígio forjado 
Figura 5 - Classificação dos vestígios quanto ao tipo. 
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Relação dos ves t íg ios com o autor 
Antes de se falar da relação dos vestígios com seu autor, é preciso esclarecer que o agente 
de vestígios, ou o autor de vestígios, nem sempre é o ser humano, embora ele esteja, de certa 
forma, por trás de todos os acontecimentos de interesse da Criminalística, e possa deixar vestígios 
por meio de marcas de seu corpo, como a impressão digital, pegada, ou substâncias como esperma, 
sangue, saliva, pele, pelos, etc. Tecnicamente, são chamados de agentes de vestígios, além dos 
homens, os animais, objetos, instrumentos que, natural ou artificialmente, provocam vestígios 
materiais. 
De acordo com sua relação com o autor, os vestígios são classificados em: 
Absolutos: aqueles que permitem que se estabeleça relação absoluta, direta com o seu autor 
ou com a vítima, como, por exemplo, impressão digital e material genético contido em vestígios 
biológicos. Nesse caso, quem deixou impressão digital ou sangue no local, deixou uma parte 
identificável de si mesmo. 
Relativos: aqueles que não guardam relação absoluta, identificável de pronto com o seu 
autor. Sua relação com o autor é por meio da identificação da classe a que pertence. O sangue 
contendo material genético identificável por meio de DNA é um vestígio absoluto, entretanto se 
não puder ser obtido o DNA, mas apenas a tipagem sanguínea do sangue (A, B, AB ou O), o 
vestígio será relativo, pois direcionará a busca do autor a uma classe de indivíduos portadores 
daquele tipo sanguíneo. 
Fica claro, na primeira leitura, que preferimos os vestígios absolutos, mas esses não são os 
mais frequentes. O perito deve estar atento ao fato de que a segurança de um vestígio relativo 
somado a outros elementos podem levar com segurança ao autor do fato. 
A relação pode ser estabelecida de forma indireta. Imagine a seguinte situação: 
encontramos vestígios biológicos de manchas de sangue que por alguma razão não conseguimos 
extrair DNA de forma segura para uma comparação, temos apenas a possibilidade da tipagem 
sanguínea e o resultado foi para sangue O+. O de maior probabilidade de ocorrência na população 
brasileira, Isso não prova nada não é mesmo? Mas imagine que no curso da investigação se 
descubra dentre todos os possíveis suspeitos que apenas dois deles tem o sangue tipo O+. A 
amostragem diminui consideravelmente não é? Pois de todos os indivíduos com sangue tipo O+ 
apenas estes dois poderiam ser os suspeitos. Um indivíduo com sangue AB já poderia ser 
descartado como suspeito. 
Os vestígios relativos podem chegar a identificar um único suspeito dependendo da 
quantidade de informações às quais ele se soma. Dizemos que se temos vestígios relativos 
IMPORTANTE: 
É quase sempre muito difícil para o perito diferenciar vestígios verdadeiros, ilusórios e 
forjados, no início dos trabalhos. Por isso, nenhum detalhe pode ser desprezado; tudo deve 
ser investigado e analisado cuidadosamente, não se deve seguir uma pista só. 
 
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suficientes e vamos cruzando os dados, iremos reduzindo sempre o número de suspeitos, até 
chegar a individualizá-lo. 
 Ainda com relação a relacionar vestígios com seu autor, pode se utilizar o mesmo 
raciocínio para elementos materiais e um bom exemplo disso é a Balística Forense. Se a única 
coisa possível a se determinar de uma arma utilizada é seu calibre (todos os demais elementos 
identificadores encontram-se prejudicados) podemos dizer que temos um vestígio relativo que 
exclui todas as demais armas de calibres diferentes e podemos concentrar nossa atenção na busca 
por aquela arma de determinado calibre, o que deixa a procura mais seletiva e, portanto, mais 
efetiva. O mesmo raciocínio vale para marcas de impacto e ferramentas, veja maiores detalhes no 
capítulo 6. 
 
Vestígios e Indícios 
Conforme visto anteriormente, vestígio é o objeto do exame pericial que pode ou não estar 
relacionado com o evento que deflagrou a solicitação da análise pericial. 
Já indício é uma palavra que o Código de Processo Penal define, em seu art. 239, da 
seguinte forma: “considera-se indício a circunstância conhecida e provada, que, tendo relação com 
o fato, autorize, por indução, concluir-se a existência de outra ou outras circunstâncias”. 
Da interpretação desse dispositivo legal, pode-se concluir que indício é uma suspeita 
fundamentada que pode muitas vezes não ser representada por meio de vestígios materiais. O 
indício é, portanto, uma hipótese sobre determinado fato, cujo valor é diretamente proporcional ao 
número de provas encontradas para provar a sua existência. 
Os indícios de um crime podem ser representados por meio de vestígios materiais ou 
circunstanciais. 
Alguns autores trazem ainda para o corpo da criminalística o conceito de evidência. Para 
esses autores, evidência é o vestígio, que após as devidas análises, tem constatada técnica e 
cientificamente, a sua relação com o crime. Assim, no momento em que os peritos chegam à 
conclusão que tal vestígio está – de fato – relacionado com o evento periciado, ele deixará de ser 
um vestígio e passará a denominar-se evidência. De maneira resumida, há autores que consideram 
que vestígio é o material bruto constatado e/ou recolhido no local do crime, enquanto que 
evidência é o vestígio analisado e depurado, tornando-se uma prova por si só ou em conjunto, para 
ser utilizada no esclarecimento dos fatos. 
Uma vez que tal expressão não está reproduzida no Código de Processo Penal, optou-se 
nesta obra, por adotar apenas os conceitos relacionados a vestígios e indícios. 
Apesar das diferenças conceituais, é comum nos depararmos com o uso, por leigos e até 
mesmo por técnicos, das três expressões como se fossem sinônimos. 
 
Cadeia de custódia 
O termo “cadeia de custódia” refere-se a uma sucessão de eventos seguros e confiáveis que 
deverão ter início de forma legal no primeiro contato da polícia com o vestígio. Este é um termo 
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que deve ser considerado com muita cautela, pois é de importância fundamental para a persecussão 
penal. Imagine a seguinte situação: existe no setor de Criminalística de determinada região um dos 
melhores laboratórios de genética forense, capaz de extrair amostras de DNA de vestígios 
complexos (por exemplo: cadáveres em elevado estado de decomposição) e ainda elaborar 
resultados com a velocidade adequada. Suas análises possuem uma confiança e credibilidades 
inigualáveis. Este laboratório recebeu uma camiseta contendo sangue e também a amostra do 
suspeito. O resultado foi concludente e positivo. No curso do julgamento da ação penal a defesa 
apresentou à corte a fotografia de um policial manuseando a veste questionada no local de crime 
sem luvas. Issodiminuiu a credibilidade da prova? Diminuiu o valor probatório do resultado do 
DNA? Independente da resposta que você está elaborando em sua mente, saiba que a fotografia em 
questão acrescentou sobre a camiseta o seguinte questionamento: será que a polícia manuseou 
corretamente o vestígio em questão a ponto de garantir sua idoneidade? Será que a camiseta que a 
perícia recebeu foi a mesma coletada no local de crime? Será que outros manipularam o vestígio? 
No nosso caso fictício concluímos que a dúvida surgida anulou o exame de DNA e a defesa 
conseguiu excluir uma importante prova da acusação e que era a única que individualizava o 
suspeito. Não houve condenação apesar do pleno conhecimento dos fatos. Neste exemplo, 
considera-se que houve quebra da cadeia de custódia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Consideramos então que o cuidado com os vestígios desde sua origem até sua destinação 
final é um dos elementos garantidores das informações extraídas dos mesmos. A isso chamamos 
cadeia de custódia. 
UM POUCO DE HISTÓRIA 
 
 
Percebendo que o DNA era o principal conjunto de provas, as alegações da defesa 
foram centradas basicamente na manipulação incorreta e contaminação de vestígios. 
Introduziram um grau de “dúvida razoável” com relação à autoria do crime. 
Assim, após 133 dias de julgamento, O. J. Simpson foi declarado inocente. 
 
Na noite do dia 12/06/1994, Nicole Brown 
Simpson e Ronald Goldman foram encontrados mortos na 
casa de Nicole, em Brentwood, Los Angeles, California. 
As investigações apontaram Orenthal James (O. J.) 
Simpson, ídolo do futebol americano como principal 
suspeito. 
Sem a arma do crime, sem boas impressões 
digitais, sem testemunhas e sem confissão do principal 
suspeito, a polícia se concentrou principalmente nos 
vestígios biológicos que eram abundantes na cena do 
crime. 
 
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São duas as formas mais importantes para se iniciar a cadeia de custódia: a perícia em 
locais de crime e a execução de mandados de busca e apreensão. Em ambos instrumentos os 
cuidados devem ser tomados tanto no âmbito técnico quanto no âmbito legal. 
Como nossa análise é direcionada a locais de crime, nosso enfoque será este, mas o 
raciocínio é válido para qualquer outra forma em que vestígios materiais sejam trazidos ao escopo 
de uma investigação. 
De nada adiantará possuirmos a melhor estrutura de análise se o vestígio tiver sua origem 
questionada. O principal cuidado é garantir sua segurança e idoneidade. Este cuidado é função de 
toda a polícia, senão de nada adiantarão as mais modernas tecnologias criminalísticas se o vestígio 
apresentar pontos questionados (técnicos ou jurídicos) em sua obtenção e coleta. Se um vestígio 
material com valor probatório tiver sua origem questionada, o processo como um todo poderá ser 
ineficiente no que tange à aplicação da Justiça. Indivíduos culpados podem ser postos em liberdade 
por quebra da cadeia de custódia. 
Concluímos, então, que cadeia de custódia é uma sucessão de eventos seguros e confiáveis 
que, tendo origem na cena de crime, mantém a idoneidade legal e a preservação técnica necessárias 
para que esses vestígios não venham nunca a ter sua origem e manuseios questionados até sua 
utilização pela Justiça como elemento probatório. 
 Para isso é necessário que cada vestígio coletado seja devidamente documentado, como 
veremos no capítulo sobre documentação de vestígios. 
 A figura abaixo apresenta, de forma suscinta, um modelo de formulário que pode ser usado 
desde a cena de crime até a guarda definitiva do vestígio material. 
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Figura 6 – Exemplo de formulário de cadeia de custódia. 
 
 
Propósito da invest igação em locais de cri me 
 
Figura 7 – O objetivo geral de uma análise de um local de crime é a 
determinação de respostas para as perguntas acima. 
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Conhecer os fa tos 
O principal ponto que se busca, ao se investigar um local de crime, é encontrar as 
informações que podem levar à solução do crime. É como montar um “quebra- cabeças” em que as 
peças estejam perdidas lá na cena do crime. Será por meio da perícia do local que essas peças 
poderão ser encontradas possibilitando a obtenção das respostas às perguntas indicadas na figura 7. 
Como vimos na teoria dos vestígios, os peritos também encontrarão peças de outros quebra-
cabeças, vestígios ilusórios e forjados, e caberá analisar cada um até definir aqueles que 
efetivamente sejam do fato em apuração e a partir deles elaborar a dinâmica do ocorrido. 
 Já vimos que estas informações podem estar presentes na cena do crime de forma visível 
ou não e podem ser objetivas ou subjetivas. Caso as informações não sejam encontradas, faltarão 
peças para a montagem do “quebra cabeças” e isso impactará na aplicação da lei e 
consequentemente na criação da sensação de “punibilidade”. 
Percebe-se que a responsabilidade, por parte da perícia de um local, é muito grande, pois 
todos operadores do direito que participarão do futuro processo de aplicação da lei penal somente 
poderão tomar suas decisões com base no que tenha sido obtido durante a investigação e da perícia 
do local. Raramente o local poderá ser visitado por juízes, promotores e advogados com a 
finalidade de elucidar suas dúvidas. Geralmente, o conhecimento dessas autoridades sobre o local 
de crime baseia-se nas documentações produzidas durante a investigação. 
 
Obter provas 
As informações obtidas quando da análise do local podem se tornar provas, isto é quando 
se processa de maneira efetiva uma cena de crime, encontrando os vestígios materiais relacionados 
ao fato, contextualizando–os por meio de registros fotográficos, filmagens, descrições detalhadas e 
croquis, coletando-os e encaminhando de maneira adequada, está se assegurando uma eficácia na 
transformação dos vestígios materiais em provas. Por meio desse rigor técnico e metodológico no 
processamento de uma cena de crime, as informações baseadas nos vestígios materiais se 
robustecem de forma a gerar provas materiais. 
Mas quando esse rigor técnico e metodológico não é seguido pode até se encontrar as 
mesmas informações de outras fontes, mas a segurança na aplicação da lei fica diminuída gerando 
somente provas circunstanciais, o que pode enfraquecer o corpo probatório. 
 
Assegurar a cadeia de custód ia 
Seguindo a mesma linha de raciocínio de robustecer o corpo probatório, percebe-se que, 
para assegurar a cadeia de custódia, alguns cuidados devem ser tomados. 
Neste aspecto, ressaltamos que quando se trata de vestígios deve-se tomar ainda o cuidado 
adicional de verificar como os mesmos foram encontrados, ou seja, o modo como eles integrarão o 
futuro corpo probatório. Especificamente em locais de crime a legislação é clara, pois determina 
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que o local seja periciado. Se forem encontrados os vestígios materiais em um local de crime, mas 
por alguma razão a perícia não foi feita, pode-se ter uma falha na cadeia de custódia que inclusive 
leve à nulidade processual. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O artigo 564 do CPP evidencia, de forma direta, a importância que a perícia de local 
representa no contexto probatório, referindo-se sobre a sua indispensabilidade, sob pena de 
nulidade de processos. 
Chamamos a atenção para este ponto devido ao fato de que algumas vezes, policiais bem-
intencionados coletam vestígios materiais em um local de crimee o encaminham posteriormente 
para a perícia. A razão para essa conduta é variada, englobando desde localidades onde não 
existem peritos oficiais, locais onde a perícia não poderia comparecer tempestivamente ou ainda 
mesmo a falta de consciência da necessidade legal de realização de uma perícia de local. Mesmo 
nestes casos a falta da perícia de local pode comprometer o contexto probatório. 
Para evitar que isso aconteça o legislador inseriu na codificação artigos que visam a deixar 
claro qual é o papel de cada um na cena de crime e o fez pensando na cadeia de custódia e na 
integridade dos vestígios. 
 
O Código de Processo Penal, em dois artigos, chama atenção para a perícia de local. 
 
 
 
O QUE DIZ A LEI: 
Art. 158 CPP – Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo 
de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado. 
Art. 159 CPP – O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito 
oficial, portador de diploma de curso superior. 
O QUE DIZ A LEI: 
Art. 564 CPP – a nulidade ocorrerá nos seguintes casos: 
Inc. III - por falta das fórmulas ou dos termos seguintes: 
Alínea b - o exame do corpo de delito nos crimes que deixem vestígios, ressalvado o 
disposto no art. 167. 
O QUE DIZ A LEI: 
Art. 169 do CPP – Para o efeito de exame do local onde houver sido praticada a 
infração, a autoridade providenciará imediatamente para que não se altere o estado 
das coisas até a chegada dos peritos, que poderão instruir seus laudos com 
fotografias, desenhos ou esquemas elucidativos. (Vide Lei nº 5.970, de 1973) 
 Parágrafo único – Os peritos registrarão, no laudo, as alterações do estado 
das coisas e discutirão, no relatório, as conseqüências dessas alterações na dinâmica 
dos fatos. (Incluído pela Lei nº 8.862, de 28.3.1994) 
 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1970-1979/L5970.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1989_1994/L8862.htm#art169p
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Ao analisar os artigos 6º e 169 do CPP pode se perceber que cabe aos peritos criminais o 
processamento de uma cena de crime de forma a encontrar e documentar os vestígios ali presentes. 
Mas para que isso aconteça é necessário que a cena de crime não sofra alterações por parte dos 
primeiros policiais que chegarem ao local. O parágrafo único do artigo 169 determina inclusive 
que os peritos discutam em seu laudo os resultados das alterações encontradas. 
O isolamento e preservação de uma cena de crime são aspectos básicos cruciais para uma 
perícia de local eficiente, que serão discutidos no próximo capítulo. 
A conduta em procedimentos de busca e apreensão é diferente, nestes, os vestígios são 
apreendidos e encaminhados para a Perícia, que fará análises posteriores. Mas mesmo nestes casos 
é de extrema importância que toda e qualquer pessoa que tenha algum contato com os vestígios o 
faça de maneira clara e documentada, não deixando quaisquer dúvidas que possam gerar falta de 
credibilidade no manuseio deles. 
Necess idade técnica 
Além da necessidade legal do perito no local do crime, também devem ser considerados os 
aspectos que envolvem o preparo técnico para o trato com alguns vestígios materiais. 
A grande variedade de vestígios, biológicos, químicos e físicos existentes demanda uma 
série de conhecimentos particulares para sua localização e coleta. O conhecimento técnico sobre o 
alcance do exame ao qual o vestígio será submetido posteriormente, suas condições de 
armazenagem e acondicionamento adequado e os riscos de degradação a que o vestígio possa vir a 
ser submetido são alguns dos aspectos técnicos que ressaltam essa necessidade técnica que é 
fornecida pela capacitação dos peritos em locais de crime. 
No âmbito do Departamento de Polícia Federal a capacitação dos peritos em locais de 
Crime é uma disciplina que recebe uma importância ímpar no curso de formação e também na 
capacitação continuada. 
Podem ainda existir locais em que seja requerido o comparecimento de um perito com 
especialização específica para auxiliar nos trabalhos de busca e coleta. 
Além desta necessidade de coleta adequada do vestígio, existem ainda outros aspectos que 
envolvem a habilidade técnica para processar a cena de crime. Trata-se da interpretação do vestígio 
no local. Uma mancha de sangue coletada poderá fornecer um padrão de DNA ou uma tipagem 
sanguínea numa perícia no laboratório, mas no local de crime poderá fornecer mais elementos, tais 
como sua forma, localização na cena, distância relacional com outros vestígios, enfim uma série de 
informações de contexto que são importantes para a elaboração da dinâmica dos fatos. 
 
Locais de interesse da polícia 
Para o melhor entendimento e a exemplificação mais clara do que seja um local de crime, 
são apresentadas as classificações escritas a seguir. 
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Local onde aconteceu o fa to 
É o local de crime típico. Nele, está presente uma grande quantidade de vestígios materiais. 
Deve ser processado pela Criminalística. É o objeto de estudo deste livro. 
 
Local que sofreu as conseq uências do cr im e 
Esse tipo de local torna-se importante na constatação da materialidade de certos tipos de 
crime. Não necessariamente o crime ocorre fisicamente nesse local, mas seus efeitos podem ser 
percebidos e registrados pela perícia. Ex.: Uma investigação de um crime em que se suspeita que 
uma quadrilha de empresários é responsável pelo desvio de verbas públicas, inicialmente 
destinadas à construção de uma estrada, exige da polícia a obtenção da materialidade do crime. 
Isso pode ser conseguido por meio de uma perícia de local, com a finalidade de constatar se a 
estrada foi ou não construída de acordo com o projeto inicial. Outro exemplo típico são os crimes 
cometidos por meio da internet que podem ser perpetrados por indivíduos que estão em locais 
distintos daqueles onde os resultados são produzidos. 
Local onde o cr ime fo i p lanejado 
Esse local fornece uma grande quantidade de informações sobre os autores do crime, seu 
modus operandi e a possível vinculação com outros locais ainda não conhecidos. A obtenção de 
vestígios nesse local depende, muitas vezes, de um mandado de busca e apreensão ou de 
diligências complementares. Ex.: Realização de mandados de busca e apreensão nos escritórios das 
empresas construtoras da estrada referida no exemplo anterior. 
 
Local re lacionado ao fa to 
São locais onde podem ser obtidas informações adicionais sobre o crime, objetivas ou 
subjetivas, que possam auxiliar no contexto da investigação, mas que não possuem continuidade 
geográfica com os locais imediatos e mediatos. É do interesse da investigação encontrar esses 
locais e os seus vestígios. A obtenção das informações ali contidas deve ser resguardada por uma 
diligência bem planejada e, de preferência, na posse de um mandado de busca e apreensão. Ex.: O 
acerto de propina entre os empresários e interessados no crime referido no exemplo anterior 
aconteceu em um determinado hotel. A polícia deve então procurar obter as fitas de vídeo do 
circuito interno de segurança do hotel, os registros de hospedagem dos envolvidos, as formas de 
pagamento, o registro telefônico, etc. O local comumente conhecido no meio policial como “local 
de desova” (aquele em que o corpo é deixado e diverge do local da morte) é tipicamente 
classificado como local relacionado ao fato. 
 
 
 
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O Processamento do Local 
 
O processamento do local de crime é uma atividade pericial que é composta por uma sériede atividades sequenciais cronológicas. A execução de cada atividade impacta diretamente na 
próxima. Conhecer quais são estas etapas é crucial para que se saiba qual pode ser o alcance de 
uma perícia de local. Neste capítulo procuraremos apresentar as seguintes etapas: Preparação, 
Chegada ao Local, Busca Inicial, Busca Completa, Documentação do local, Coleta de Vestígios, 
Reunião final e Liberação do Local. 
 
Preparação 
Para a perícia, a existência de um local inicia-se com o recebimento da comunicação da 
necessidade de se periciar um local de crime. Geralmente essa comunicação é feita ao plantão 
policial que aciona a chefia do setor de Criminalística. Este procedimento pode variar de acordo 
com a estrutura de cada instituição. As equipes de plantão designadas para o atendimento dos 
locais variam de composição dependendo do tipo específico de locais que atenderão. No âmbito da 
perícia federal a designação dos peritos é realizada pela chefia da unidade de Criminalística 
atendendo as especificidades de cada chamado. Essa designação é necessidade uma necessidade 
que possui aspectos jurídicos de acordo com determinações do Código de Processo Penal. 
 
 
 
 
Em muitos casos o fato de estar em uma equipe de plantão formalmente instituída supre 
essa necessidade. 
O QUE DIZ A LEI: 
CPP - Capítulo II - DO EXAME DO CORPO DE DELITO, E DAS PERÍCIAS EM 
GERAL 
 Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por 
perito oficial, portador de diploma de curso superior. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 
2008) 
... 
 Art. 178. No caso do art. 159, o exame será requisitado pela autoridade ao 
diretor da repartição, juntando-se ao processo o laudo assinado pelos peritos. 
 
 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11690.htm#art1
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11690.htm#art1
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FORENSES – IPOG 
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A partir então do acionamento/designação o perito deve adotar todas as providências 
necessárias para o atendimento da solicitação, o que inclui verificar se possui todos os materiais e 
equipamentos necessários. O prejuízo no atendimento de um local sem os equipamentos e 
materiais necessários é facilmente entendido quando se pensa na possível perda de vestígios não 
sendo encontrados por falta de equipamentos, sendo mal coletados por falta de materiais ou ainda 
encaminhados sem o devido cuidado. Esses procedimentos com relação a cada vestígio serão 
detalhados nos capítulos seguintes. 
Reunir todos os recursos materiais e humanos necessários ao atendimento é denominado de 
etapa de preparação. Para que essa etapa seja realizada eficientemente apresentamos a seguir uma 
série de instruções que contribuirão para agilizar o atendimento minimizando a possibilidade de se 
esquecer de detalhes importantes. 
 
Informações preliminares 
Para que se possa realizar a preparação adequadamente é preciso reunir algumas 
informações sobre o local a ser periciado. Essas informações podem não estar disponíveis no 
momento do acionamento, razão pela qual o perito deverá buscar o contato com policiais que já 
estão no local e podem ajudar no fornecimento de informações. 
, pode-se entrar em contato com a pessoa quem realizou o acionamento e solicitar as 
seguintes informações: 
Natureza do evento 
Esta informação é a mais disponível e geralmente acompanha o acionamento, entretanto 
algumas vezes pode vir incompleta, Conhecer o tipo de local a ser periciado dá a ideia precisa de 
quais vestígios poderão estar presentes no local e quais materiais e equipamentos o perito 
necessitará. 
Por exemplo, caso o acionamento seja para um local de morte violenta, sem maiores 
detalhes, pode-se solicitar informações adicionais tais como: o cadáver está no local ou foi 
removido? quantos corpos existem? qual a suspeita de morte (tiro facada, pancada)? Etc. Muitas 
vezes quando se está buscando estas informações também pode-se repassar instruções para a 
equipe de isolamento, seja para ampliar a área isolada, seja para tomar alguma outra providência. 
 
Localização exata da cena 
Existem situações em que a perícia ao ser acionada conta com um endereço, uma 
coordenada GPS, ou uma outra indicação que não traz a localização de maneira imediata, o que 
pode atrasar a chegada ao local. Cada minuto de atraso amplia a possibilidade da cena de crime ser 
alterada, e para isso o deslocamento rápido é crucial. Obter indicações de trajeto e pontos de 
referencia, auxiliarão no planejamento da rota e consequentemente no atendimento mais rápido da 
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ocorrência. Outras informações importantes do ponto de vista operacional e de segurança referem-
se à caracterização geográfica e topográfica do local, dos percursos, obstáculos e distâncias. 
 
Transcurso de Tempo 
Obter uma estimativa de quanto tempo se pressupõe que o fato possa ter ocorrido ajudará a 
estabelecer a necessidade de algum tipo de procedimento adicional seja de recurso material ou 
humano. Por exemplo, num acionamento de local em que foi encontrado um cadáver fica difícil 
estabelecer a data da ocorrência, mas pode-se perguntar qual é o estado em que o cadáver se 
encontra. Isso pode ser o diferencial entre obter o apoio de um entomologista ou preparar 
equipamentos para recolhimento de vestígios entomológicos. 
A data/hora do recebimento da comunicação, bem como a hora em que a equipe foi enviada 
ao local e a hora a que lá chegou, deverão ser sempre registradas, pois, mais tarde, esses períodos 
de tempo (por ex. o tempo decorrido entre a comunicação e a chegada ao local), correlacionados 
com outros elementos, poderão trazer indicações valiosas para a investigação. 
 
Recursos materiais 
O conjunto de meios materiais e equipamentos necessários é vasto e diversificado e varia 
conforme o tipo de crime e as metodologias de investigação empregadas. 
A seguir é apresentada a estrutura operacional e os materiais e equipamentos mais 
comumente utilizados na maioria dos locais de crime. 
Meios de transporte 
Preferencialmente, as equipes de investigação devem dispor de viaturas destinadas e 
especialmente adaptadas à equipe de perícia. Esse veículo deve ser dotado de compartimentos ou 
dispositivos que permitam transportar todos os equipamentos técnicos necessários, bem como, 
acondicionar e transportar em condições adequadas os vestígios recolhidos no local. 
 É conveniente que a viatura disponha de equipamentos como sirenes, luzes e dispositivos 
de identificação que permitam tornar a identificação do veículo ostensiva conforme a situação 
requerer. 
É importante que a unidade policial disponha de veículos aptos a se deslocarem em terrenos 
de difícil acesso. Além disso, as viaturas policiais devem ser dotadas de equipamentos de 
comunicação como rádio e GPS. 
 
Meios de comunicação 
É importante providenciar meios de comunicação que permitam a interação, a todo o 
momento entre os membros da equipe e entre a equipe pericial e a base (unidade de 
Criminalística). Pode ocorrer também a atuação de equipes periciais em locais de crime distintos 
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espacialmente, porém vinculados ao mesmo fato. A comunicação nestes casos potencializa os 
resultados além de agilizá-los. 
Essa comunicação pode ser feita por meio de celulares ou rádio. Caso se trate de uma cena 
de crime grande recomenda-se que os membros da equipe possuam rádio-comunicação que 
propicie uma interação segura e eficiente durante os trabalhos além de possibilitar que todos 
possam estar cientes, em tempo real a respeito àsobservações surgidas durante a análise do local. 
 
Materiais de apoio 
Além dos meios de deslocamento e comunicação, é conveniente ter alguns materiais de 
apoio, como: 
 
 
Tabela 2 – Relação de materiais de apoio para locais de crime 
MATERIAL DE APOIO PARA PROCESSAMENTO DE LOCAIS 
DE CRIME 
Fontes de energia elétrica / iluminação 
Material de isolamento de área e sinalização (fita de isolamento, 
cones, cavaletes etc) 
Capa e guarda-chuva 
Lonas e plásticos para cobertura de materiais em caso de chuva 
Caixa de ferramentas e material de arrombamento 
Frequentemente a atividade policial demanda a entrada ou o acesso 
a ambientes fechados como casas, salas, gavetas, etc, bem como 
encontrar objetos que estão escondidos, enterrados ou submersos. 
Assim, é necessário dispor de meios capazes de proceder à sua 
abertura, acesso e, se necessário, arrombamento 
 
 
Materiais básicos para os exames periciais de locais de crime 
Ao ser acionado para um local de crime, o perito deve verificar, com base nas informações 
preliminares levantadas, se está levando todo material necessário para identificação, registro, 
coleta, documentação e preservação dos vestígios, além dos demais materiais para o 
processamento do local. 
Entretanto uma vasta gama de materiais são básicos e podem ser utilizados na maioria das 
cenas de crime, tais como um conjunto diversificado de embalagens, envelopes, frascos e caixas de 
diversos tamanhos e materiais para a coleta de toda a gama de vestígios porventura encontrados no 
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local (objetos de vidro, armas, etc.), visando o seu adequado acondicionamento, preservação e 
transporte. Os materiais para a coleta e exames periciais em vestígios de natureza específica, como 
os vestígios biológicos e químicos, serão tratados em capítulos seguintes. Uma pequena tabela 
apresentando estes materiais na forma de um “checklist” é apresentada a seguir. 
É conveniente que as embalagens de coleta de vestígios, sempre que possível, já possuam 
etiquetas com campos a serem preenchidos para identificação do material coletado. Isso evita que 
se esqueça de registrar informações importantes na hora da coleta e minimiza manipulações 
desnecessárias do material a fim de identificá-lo. Abaixo, segue uma sugestão de etiqueta de 
identificação de vestígio, a ser afixada ou impressa em todas as embalagens de coleta. 
 
 
 
 
 
 
ETIQUETA DE IDENTIFICAÇÃO DE VESTÍGIO 
Local de crime 
(tipo de crime / local ou instituição/ município) 
Arrombamento ao Banco do Brasil de Sobradinho/DF. 
 Perito criminal responsável pela coleta do vestígio João da Silva 
Data/hora da coleta 01/09/2013 - 10h 
Local da coleta / Tipo de suporte onde o 
vestígio foi coletado (quando for o caso) 
Balcão de atendimento do caixa 03 
Tipo de vestígio 
(assinale “x” ao lado) 
X Material questionado Material padrão 
Quantidade 01 
DESCRIÇÃO DO VESTÍGIO 
 
 
Balaclava deixada sobre o balcão do caixa 03. 
 
 
 
 
Figura 8 – Ilustra etiqueta de identificação de vestígio, que deve ser previamente afixada ou impressa na 
embalagem de coleta. Em vermelho, o preenchimento dos campos a título de exemplo. 
 
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Tabela 3 – Relação de materiais básicos para o processamento de locais de crime 
MATERIAL PARA REGISTRO E 
DOCUMENTAÇÃO DO LOCAL 
MATERIAL PARA COLETA DE VESTÍGIOS * 
Aparelho de GPS (e/ou bússola) Embalagens diversas 
Prancheta Embalagens de papel de vários tamanhos 
Papel branco e milimetrado Embalagens plásticas de vários tamanhos 
Formulários específicos Caixas montáveis de papelão rígido 
Caneta, lápis, borracha Lupa 
Pincel atômico Pinças 
Canetas para escrever em diferentes suportes (vidro, 
plástico etc) 
 
Giz branco e colorido 
EPI 
(EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL) 
Etiquetas auto-adesivas Luvas 
Fita adesiva, tesoura, cola, régua e barbante Máscaras 
Máquina fotográfica, com o respectivo cartão de 
memória e bateria reservas 
Toucas 
Filmadora com o com o respectivo cartão de memória 
e bateria reservas 
Jalecos descartáveis 
Tripé Protetores para o calçado 
Pilhas e baterias sobressalentes Óculos de segurança 
Dispositivo de armazenamento tipo pen drive 
Lanternas 
Lanternas (luzes) Forenses 
Marcadores de vestígio 
Escalas métricas 
Trenas eletrônica e mecânica 
Paquímetro 
Detector de metais 
Balança de mão (portátil) 
 
* Não foram elencados os materiais para a coleta de vestígios biológicos, comumente encontrados em locais de 
crime contra a vida. Esses materiais serão relacionados posteriormente no capítulo que trata dos vestígios 
biológicos. O mesmo vale para vestígios químicos e outros vestígios específicos. 
IMPORTANTE: 
Para se evitar improvisos, o ideal é que o perito faça diariamente uma checagem de todo o 
material de trabalho antes mesmo que haja algum acionamento. Essa verificação pode ser 
feita logo no início do dia ou do turno do plantão. Isso é feito mediante um check-list do 
material de local existente. Essa prática agiliza o deslocamento da equipe pericial num 
eventual acionamento e garante que todo o material necessário está sendo levado. 
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Chegada ao local 
Após a preparação, que deve tomar o menor tempo possível, e ainda durante o 
deslocamento da equipe até o local, pode se iniciar uma troca de ideias sobre o que poderá ser 
encontrado no local e quais as melhores estratégias para a condução dos trabalhos. Neste momento 
pode-se iniciar a distribuição preliminar das tarefas a serem realizadas. 
 
Cadeia de comando 
Para coordenar os trabalhos é importante o estabelecimento de uma cadeia única de 
comando quanto ao processamento do local. Geralmente as equipes periciais possuem um perito 
chefe ou responsável, mas caso este responsável ainda não tenha sido definido é necessário que 
isso seja feito ainda durante o deslocamento. 
 
Assumir o local 
O perito designado como chefe de equipe deve assumir o local de crime de maneira formal 
e clara. Esta formalidade é necessária e importante, pois até a chegada da perícia o local estava 
apenas isolado, mas com a chegada dos peritos ele passa a uma nova condição de local em 
processamento. Assumir o local quer dizer apresentar-se ao policial responsável até o momento, e 
informá-lo da chegada da perícia e da série de procedimentos que serão realizados. Também é 
neste momento em que muitas informações subjetivas são repassadas a perícia, mesmo de maneira 
informal. Aconselha-se a tomar notas destas informações, mas sem que isso implique em formação 
de juízos sobre o que aconteceu. 
DICA: No início dos trabalhos quando se assume o local, recomenda-se 
esclarecer aos policiais, às demais autoridades ou pessoas presentes no local 
até então que o trabalho não será feito rapidamente, poderá demorar pois a 
análise de uma cena de crime geralmente é demorada, pois envolve uma série 
de procedimentos. Essa informação visa a retirar a pressão do tempo para que 
os peritos possam trabalhar tranquilamente. 
 
A pressa é uma das principais fontes de erro no processamento de um local e cabe ao chefe 
da equipe pericial estabelecer as condições para que os trabalhos sejam realizados na velocidade 
adequada visando otimizar os procedimentos de busca e coleta de vestígios. 
Para isso, uma breve exposição sobre como serão conduzidos os trabalhos e qual o foco da 
análise pericial, ajudará a criar em todos um espírito de cooperação. Muitos policiais podem estar 
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na cena de crime há bastante tempo preservando-a e esta explicação pode minimizar-lhes a 
ansiedade de que a perícia acabará logo. 
Existem processamentos de cenas de crime que podem durar muitas horas ou mesmo dias. 
Como só existe uma oportunidade para se processar um local de maneira adequada, deve-se tomar 
todas as precauções para que isso seja feito na primeira análise. Caso seja necessária a interrupção 
da perícia por determinados motivos para ser retomada mais tarde deve-se garantir a preservação 
da cena. 
 
Reunião preliminar 
Após assumir formalmente o local e fazer uma avaliação inicial da cena, o perito chefe 
deve promover uma reunião informal com todos os membros da equipe pericial para que todos 
possam oferecer seu ponto de vista sobre a cena encontrada. 
Esta etapa é realizada no local de crime. Nesta reunião o chefe pode repassar aos demais 
membros as informações obtidas da conversa com o responsável pelo local até então. Até este 
momento as informações que se tinha do local foram obtidas mediante relatos de terceiros, mas 
agora já presentes na cena de crime os peritos poderão avaliar melhor a situação e definir alguns 
parâmetros tais como as condições do isolamento e o tamanho da área isolada. Caso seja 
necessário, a área isolada poderá ser ampliada. 
 Realizar essa reunião assim que se chega é de grande ajuda, pois as sugestões ouvidas 
podem direcionar os trabalhos de maneira eficaz. Neste momento, se ainda não foram 
estabelecidas as tarefas de cada um, elas devem ser distribuídas. 
 
 
Entrevistas 
Deve-se diferenciar entrevistas de depoimentos. Entrevista é um procedimento em que se 
visa encontrar informações adicionais que podem ajudar a avaliar o tamanho da cena isolada, a 
existência de locais correlatos e mesmo alguma informação que possa ser útil. Essas entrevistas 
devem ser feitas no início dos trabalhos com possíveis testemunhas e outras pessoas que estavam 
presentes no local antes da chegada dos peritos. O que se espera conseguir são informações 
adicionais que poderão ajudar a conhecer mais a cena, agilizando assim o trabalho pericial. 
Deve-se atentar sempre para a validade dessas informações, elas se prestarão para a perícia 
apenas como formadoras de um possível quadro geral, por serem informações subjetivas devem 
ser tratadas com muito cuidado. Mesmo que as informações testemunhais possam ajudar a 
encontrar alguns vestígios que comprovem a informação, o perito só deve considerar os vestígios 
para suas conclusões. 
CUIDADO: As informações subjetivas em uma cena de crime são análogas às 
informações de direção que se pedem quando estamos procurando um 
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determinado endereço em uma cidade que desconhecemos, elas nos ajudam a 
encontrar nosso destino, mas de forma alguma substituem a caminhada até ele. 
 
Busca inicial de vestígios 
Após a reunião preliminar enquanto os demais membros se preparam para realizar suas 
atividades, o perito chefe da equipe deve proceder a uma busca preliminar que visa a conhecer 
melhor a cena em questão e planejar a busca completa.. O principal cuidado para a realização dessa 
busca é estabelecer as rotas de entrada e saída que devem ser então usada por todos que 
necessitarem entrar no local, minimizando ao máximo os possíveis danos aos vestígios materiais 
presentes. Para isso o perito pode se utilizar de marcadores específicos, fitas ou ainda setas 
desenhadas no chão sinalizando a rota de entrada. 
 
Busca completa 
Realizada a busca inicial e definida qual deve ser a metodologia de busca completa a ser 
utilizada na área questionada, passa-se então a realizar a busca detalhada, ou completa. Esta é um 
etapa demorada e a que visa encontrar todos os vestígios inerentes ao local em processamento. Os 
tipos de vestígios dependerão de cada local e do tipo de crime, entretanto os procedimentos de 
busca podem ser os mesmos. 
Neste capítulo serão apresentados alguns procedimentos, dentre os vários existentes, que 
poderão ser utilizados para diversos tipos de locais. O procedimento escolhido deve levar em conta 
o tipo de local, sua extensão, a quantidade de membros da equipe pericial, se o local é externo ou 
interno, e os possíveis tipos de vestígios. Geralmente existe um tipo de busca que melhor se 
adequa a cada local, mas não existe uma regra clara para isso, dependerá da experiência e das 
condições existentes no momento. 
O perito que participar da busca deve ser cauteloso e observador. Possuir uma pré-
concepção do fato na mente pode ajudar desde que se esteja preparado para reconhecer uma 
mudança de direção nas análises frente a um novo vestígio. Nesta etapa o que se visa é encontrar 
os vestígios mesmo que à primeira vista pareçam não correlacionados. Eles podem ser marcados, 
documentados e coletados. Se no futuro ficar claro que eram vestígios ilusórios, podemos 
desconsidera-los facilmente. O contrário é que não pode ser feito, ou seja, desconsiderar um 
vestígio e posteriormente descobrir que ele era necessário. 
Sempre que um vestígio for encontrado, o mesmo deve ser marcado, para que possa ser 
descrito, fotografado e assinalado em um croqui. Essa marcação é geralmente feita por marcadores 
próprios, como os mostrados nas figuras seguintes, mas outros tipos podem ser utilizados. 
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Utilizam-se marcadores para garantir a integridade dos vestígios e propiciar a coleta e 
documentação com precisão. 
 
Figura 9- Apresenta um modelo de marcador que possui escala para fotos de 
vestígios menores 
 
 
Figura 10 – Marcador de vestígios com escala na base. 
 
 
 
 
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Padrões de Busca 
A principal característica de um padrão de busca é a sua eficiência em abarcar toda a 
extensão da área questionada, seguida pela facilidade e agilidade de implementação. A busca em 
uma área deve ser feita de maneira a conferir aos peritos a segurança de que todos os vestígios 
existentes na área foram encontrados. Vários métodos de busca podem ser utilizados. Alguns 
métodos são mais precisos que outros e muito mais dispendiosos em tempo e recursos. Caberá à 
equipe no local definir qual o método a ser utilizado. A seguir apresenta-se alguns padrões de 
busca. 
 
 Busca em espiral 
Este tipo de busca é geralmente aplicada quando a área a ser pesquisada é relativamente 
pequena não se dispões de muitos membros na equipe. A busca em espiral inicia-se na parte 
periférica e vai-se contornando a cena até se chegar ao ponto central. A caminhada em forma de 
espiral pode sofrer pequenas variações no percurso em função dos obstáculos e da localização dos 
vestígios encontrados na área examinada. O ponto principal dessa busca é caminhar de forma 
calma, tranquila e atenta, procurando não destruir ou contaminar os vestígios encontrados. A 
figura a seguir apresenta uma ilustração do padrão de busca em espiral. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 11 – Ilustração esquemática da busca em espiral. Inicia-se pela parte externa e caminha-se até o 
centro. 
 
 
 
 
 
Busca por quadrante 
IMPORTANTE: 
 Os padrões de busca visam a promover um acesso à cena de crime de maneira a minimizar a 
contaminação dos vestígios e a promover uma forma organizada de encontrá-los. Cada vestígio 
material, quando encontrado, deverá ser marcado, pois evitará que outras pessoas que não o 
viram possam destruí-lo ou prejudicá-lo. 
 
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Utilizada

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