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Apostila Penal - Geral (1) (1)

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DIREITO PENAL I - PARTE GERAL 
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I N T R O D U Ç Ã O
Conceito de Direito Penal
A reunião das normas jurídicas, pelas quais o Estado proíbe determinadas condutas, sob ameaça de sanção penal, estabelecendo ainda os princípios gerais e os pressupostos para a aplicação das penas e das medidas de segurança, dá-se o nome de Direito Penal, que é ramo do Direito Público. 
As infrações penais dividem-se em crimes ou delitos e contravenções. Não há diferença no direito brasileiro entre crimes e delitos, que são sinônimos. As contravenções constituem um elenco de infrações penais de menor porte e encontram-se elencadas no Decreto-Lei n. 3.688/41 (Lei de Contravenções Penais). 
Denominação
Modernamente, pretendem alguns autores substituir a denominação dada ao Direito Penal, por outra que julgam mais ampla, e que é a de Direito Criminal.
Entendem que a expressão Direito Criminal é mais abrangente, uma vez que esta abriga, de modo mais racional, não somente a pena, como ainda o estudo de todas as conseqüências jurídicas do crime, notadamente as medidas de segurança. 
Salienta-se que, no Direito pátrio, Direito Penal é denominação acolhida na Lei Fundamental do país, pois o art. 22, I, da Constituição Federal, faz menção expressa e nominal a esse ramo da ciência jurídica. 
Caracteres do Direito Penal 
O Direito Penal regula as relações do indivíduo com a sociedade. Por isso, não pertence ao Direito Privado, mas sim ao Público.
Quando o sujeito pratica um delito, estabelece-se uma relação jurídica entre ele e o Estado. Surge o jus puniendi, que é o direito que tem o Estado de atuar sobre os delinqüentes na defesa da sociedade contra o crime. 
Assim, os bens tutelados pelo Direito Penal não interessam exclusivamente ao indivíduo, mas toda a coletividade. A relação existente entre o autor de um crime e a vítima é de natureza secundária, já que ela não tem o direito de punir. Mesmo quando exerce a persecutio criminis, não goza daquele direito, pois o que se lhe transfere unicamente é o jus persequendi, cessando qualquer atividade sua com a sentença transitada em julgado. 
O delito é, pois, ofensa à sociedade, e a pena, conseqüentemente, atua em função dos interesses desta. Logo, é o Estado o titular do jus puniendi, que tem caráter público. 
Conteúdo do Direito Penal
O conteúdo do Direito Penal abarca o estudo do crime, da pena e do delinqüente, que são os seus elementos fundamentais, precedidos de uma parte introdutiva. 
Na parte introdutória são estudadas a propedêutica jurídico-penal e a norma penal. Esta é cuidada quanto à sua aplicação no tempo e no espaço, como também à sua exegese. 
Acrescentam-se partes referentes à ação penal, punibilidade e medidas de segurança. 
Direito Penal Objetivo e Direito Penal Subjetivo
Denomina-se Direito Penal objetivo o conjunto de normas que regulam a ação estatal, definindo os crimes e cominando as respectivas sanções. Somente o Estado, em sua função de promover o bem comum e combater a criminalidade, tem o direito de estabelecer e aplicar essas sanções. É, pois, o único e exclusivo titular do “direito de punir” (jus puniendi) que constitui o que se denomina Direito Pena subjetivo. O direito de punir, todavia, não é arbitrário, mas limitado pelo próprio Estado ao elaborar este as normas que constituem o Direito subjetivo de liberdade que é o de não ser punido senão de acordo com a lei ditada pelo Estado. Só a lei pode estabelecer o que é proibido penalmente e quais são as sanções aplicáveis aos autores dos fatos definidos na legislação como infrações penais. 
Caráter Dogmático do Direito Penal 
Como ciência jurídica, o Direito Penal tem caráter dogmático, já que se fundamenta no direito positivo, exigindo-se o cumprimento de todas as suas normas pela sua obrigatoriedade. Por essa razão, seu método de estudo não é experimental, como na Criminologia, por exemplo, mas técnico-jurídico. Desenvolve-se esse método na interpretação das normas, na definição de princípios, na construção de institutos próprios e na sistematização final de normas, princípios e institutos. Deve o estudioso de Direito Penal, contudo, evitar o excesso de dogmatismo, já que a lei e a sua aplicação, pelo íntimo contato com o indivíduo e a sociedade, exigem que se observe a realidade da vida, suas manifestações e exigências sociais e a evolução dos costumes. 
7. Direito Penal Comum e Direito Penal Especial 
Os autores diferenciam o Direito Penal comum do Direito Penal especial. O primeiro se aplica a todos os cidadãos, ao passo que o segundo tem o seu campo de incidência adstrito a uma classe de cidadãos, conforme sua particular qualidade.
Por isso, entende o Profº Damásio que no Brasil, apenas o Direito Penal militar pode ser indicado como Direito Penal especial, pois a sua aplicação se realiza por meio da justiça penal militar. Já com relação ao Direito Eleitoral, seguindo o critério apontado, não é de Direito Penal especial, uma vez que a quase totalidade da justiça eleitoral é constituída por juizes da justiça comum.
No entendimento do Profº Magalhães Noronha, o melhor critério que estrema o direito penal comum dos outros é o da consideração do órgão que os deve aplicar jurisdicionalmente. E, nesse sentido, ensina José Frederico Marques que se a norma penal objetiva somente se aplica através de órgão constitucionalmente previstos, tal norma tem caráter especial; se sua aplicação não demanda jurisdições próprias, mas se realiza através da justiça comum, sua qualificação será a de norma penal comum.
8. Direito Penal Material e Formal
Autores de renome consideram o Direito Penal sob duplo aspecto : Direito Penal substantivo ou material e Direito Penal adjetivo ou formal.
O primeiro é representado pela lei penal, que define as condutas típicas e estabelece sanções. O segundo é o Direito Processual Penal, que determina as regras de aplicação do Direito Penal substantivo.
Nesse sentido, podemos concluir que o Direito Penal é a substância e o Direito Processual Penal é o instrumento que coloca a substância a atuar.
9. Princípios Fundamentais do Direito Penal 
No Estado Democrático de Direito, em oposição aos Estados Autoritários, reina sobretudo o Princípio da Dignidade Humana (CF, art. 1º, inciso III), que garante a sociedade algum grau de liberdade individual. 
Em razão disso, o poder estatal, partindo do princípio supramencionado, está subordinado a outros princípios limitadores do seu poder punitivo, os quais estão amparados pelo texto constitucional de 1988, art. 5º, a oferecer tranquilidade e garantias ao cidadão brasileiro.
Assim, esses princípios inseridos, implícita ou explicitamente na nossa Constituição, têm a finalidade de nortear o legislador ordinário para a adoção de um sistema de controle penal voltado para os direitos humanos. Vejamos: 
9.1. Princípio da legalidade ou da reserva lega. 
Este princípio constitui uma efetiva limitação ao poder punitivo estatal, o qual foi consagrado na nossa Constituição Federal no art. 5º, XXXIX, que determina” Não haverá crime sem lei anterior que o defina nem pena sem prévia cominação legal”
9.2. Princípio da Intervenção mínima
Este principio, também conhecido como última ratio, orienta e limita o poder incriminador do Estado, pois a criminalização de uma conduta só se legitima se constituir meio necessário para a proteção de determinado bem jurídico. Se existirem outros meios suficientes para a tutela desse bem, sua criminalização é inadequada e não recomendável. 
9.3 Princípio da fragmentariedade 
Nem todas as ações que lesionam bens jurídicos são proibidas pelo Direito Penal, como nem todos os bens jurídicos são por ele protegidos. O Direito Penal limita-se a castigar as ações mais graves praticadas contra bens jurídicos mais importantes, decorrendo daí seu caráter fragmentário.Dessa forma, só existe a presença do Direito Penal nos fragmentos, ou seja, tipos penais relevantes. 
9.4. Princípio da culpabilidade
Segundo esse princípio “não há crime sem culpabilidade”. Na prática de uma conduta típica e antijurídica, às vezes poderá faltar ao agente a potencial consciência da ilicitude, ou mesmo ter plena capacidade mental no momento em que atuou lesando o bem jurídico. 
9.5. Princípio da humanidade
Esse princípio é o maior entrave para a adoção da pena capital e da prisão perpétua, além de sustentar que o poder punitivo estatal não pode aplicar sanções que atinjam a dignidade da pessoa humana ou que ofenda a constituição físico-psíquica dos condenados.
O Estado deve adotar uma infraestrutura carcerária de meios e recursos que impeçam a degradação e dessocialização dos condenados.
A pena não tem só o objetivo punitivo e retributivo, mas sobretudo buscar reeducar e reinserir este indivíduo na sociedade.
9.6. Princípio da irretroatividade da lei penal
Não fosse o princípio da irretroatividade da ei penal não haveria segurança e liberdade na sociedade, em fragrante desrespeito ao princípio da legalidade e da anterioridade da lei, consagrado no art. 1º do Código Penal e no art. 5º, inciso XXXIX, da Constituição Federal. 
Contudo, o princípio da irretroatividade vige somente em relação a lei mais severa, admitindo-se a retroatividade da lei mais favorável. 
9.7. Princípio da insignificância
A tipicidade penal exige uma ofensa de alguma gravidade aos bens jurídicos protegidos, pois nem sempre qualquer ofensa a esses bens ou interesse é suficiente para configurar o injusto típico.
Ex.: furto de um bem alheio de valor insignificante, irrelevante
9.8. Princípio da ofensividade
O Direito Penal protege bens jurídicos relevantes e que causem um prejuízo a vítima. 
Por outro lado, é imperioso observar que nem sempre uma conduta, ainda que contrário a uma norma proibitiva, gera um prejuízo irreparável. 
Vejamos: A lei penal prevê o crime de ato obsceno, no art.233, do Código Penal, por ofender a moral e os bons costumes. Porém, imaginemos oy seguinte exemplo: 
Ex.: um casal, no calor da paixão, vem a se despir no interior do veículo estacionado em lugar ermo, quando são abordados pela autoridade policial. Em tese o crime se consumou, porém a atitude não chegou a causar qualquer lesividade ao pudor público, já que não haviam expectadores. 
 
9.9. Princípio da proporcionalidade
Esse princípio consagra o constitucionalismo moderno (embora já fosse reclamado por Beccaria), recepcionado pela nossa Constituição Federal em vários dispositivos, tais como: exigência da individualização da pena, admissão de maior rigor para infrações mais graves.
Ex.: não posso punir um furto com a pena do roubo ou do homicídio
10. Relações do Direito Penal
Como o sistema jurídico de um país é formado de elementos que se completam, sem contradições, o Direito Penal, como uma das partes desse todo, tem íntima correlação com os demais ramos das ciências jurídicas.
10.1. Relações com as ciências jurídicas fundamentais
 Filosofia do Direito – Na elaboração da lei penal são considerados os aspectos filosóficos. Assim, no direito penal, verifica-se fundamentos filosóficos nos conceitos de crime, pena, imputabilidade, dolo, culpa, erro, etc...
Do ponto de vista deontológico, a ela também se subordina, visto que é uma ciência que se refere a valores e elementos éticos definidos e estudados na filosofia jurídica em consonância com a filosofia moral.
Teoria Geral do Estado – Verifica-se clara relação do direito penal na elaboração de conceitos e institutos jurídicos, válidos para todos os ramos do direito.
Sociologia Jurídica - O Direito Penal é sempre dirigido a uma conduta humana ou fato social. Assim, observa-se a relação e colaboração da sociologia jurídica com o Direito Penal, porque aquela estuda o ordenamento jurídico nas causas e na função social. Tem por objeto o estudo do fenômeno jurídico como fato social e resultante de processos sociais, ocupando-se ainda dos efeitos das normas jurídicas na sociedade.
10.2. Relações com outros ramos de Ciências Jurídicas
Direito Constitucional – A constituição Federal é fonte do Direito Penal (CF, art.22), e este à ela se subordina, já que o Direito Penal não pode fugir à índole da Constituição. Se esta é liberal, liberal também será ele. A propósito, constatamos que o art.5º da nossa Constituição Federal elenca princípios e dispositivos intimamente relacionados com o Direito Penal, tais como :
da anterioridade da lei penal......................................(inciso XXXXIX)
da irretroatividade, salvo para beneficiar o réu..........(inciso XL)
do crime de racismo...................................................(inciso XLII)
dos crimes de tortura, tráfico e terrorismo..................(inciso XLIII)
da personalidade da pena..........................................(inciso XLV)
da individualização da pena.......................................(inciso XLVI)
etc...
Direito Administrativo – A função de punir é eminentemente administrativa, já que a observância da lei penal compete a todos e é exigida pelo Estado. Além do mais, a lei penal é aplicada através dos agentes da administração pública como : Juiz, Promotor de Justiça, Delegado de Polícia, etc...)
Direito Processual Penal – Muito íntima é a relação com o processo penal. Enquanto no direito penal se consubstancia o jus puniendi, o processual o realiza com o se ocupar com a atividade necessária para apurar, nos casos concretos, a procedência da pretensão punitiva estatal.
Direito Processual Civil – Há também correlação do Direito Penal com o Direito Processual Civil, pois, não obstante a diferença de procedimento – penal e civil – ambos possuem normas comuns, como o ato processual e a sentença.
Direito Civil – Nas definições de crimes, muitas noções são fornecidas pelo Direito Civil, como as de casamento, erro, ascendente, descendente, cônjuge, irmão, tutor ou curador etc... O Direito Penal, como direito eminentemente sancionador, a sua contribuição é decisiva para reforçar a tutela jurídica na esfera privada, já que um mesmo fato pode caracterizar um ilícito penal e obrigar a uma reparação civil. Como exemplo, podemos citar o atropelamento culposo, que constitui uma infração à lei civil quanto aos danos pessoais sofridos pela vítima, importando em indenização de caráter econômico, e ao mesmo tempo, é um ilícito penal que acarreta sanção mais grave, no caso de pena privativa de liberdade ou interdição de direito.
Tutela ainda o direito Penal o patrimônio, ao descrever os delitos como furto, roubo, estelionato, etc...; posse no esbulho possessório; família, na bigamia, abandono material, etc..
Direito Penal Internacional – Como ramo do Direito Internacional Público, contém regras jurídicas relativas às infrações internacionais, como no caso dos crimes de guerra, contra a paz, contra a humanidade, terrorismo, pirataria, discriminação racial etc. Com base nestes princípios, o Código Penal consagrou regras como as do art. 7º, incisos I e II e parágrafo 3º). 
Direito Comercial - A lei penal tutela institutos como o cheque, a duplicata, o conhecimento de depósito ou warrant etc. Determina ainda a incriminação de fraude no comércio e tipifica, em lei especial, os crimes falimentares. 
Direito Penitenciário - Embora alguns neguem a existência de um Direito Penitenciário, ganhou ele autonomia na matéria relativa à execução da pena com a Constituição Federal anterior, que desincorporou as normas de regime penitenciário do Direito Penal e do Direito Processual Penal, enquanto a atual Constituição inclui a competência concorrente da União, Estados e Distrito Federal as leis de direito penitenciário (CF, art. 24, inciso I). Naverdade, enquanto as sanções de outros ramos do Direito são de fácil execução devido ao seu caráter meramente reparador, o cumprimento das penas, principalmente das privativas de liberdade, por suas finalidades diversas (retribuição, prevenção, recuperação), apresenta maior complexidade. A dificuldade da execução levou então a uma exigência de maior desenvolvimento das regras para sua regulamentação. No Brasil, elaborou-se pela primeira vez uma Lei de Execução Penal, dissociando-a do Direito Penal e do Direito Processual Penal. 
Com a criação no Código Penal das penas alternativas de restrição de direitos (prestação de serviços à comunidade, interdição temporária de direitos e limitação de fim de semana), pode-se avançar no sentido de que esse ramo jurídico deve transformar-se em verdadeiro Direito de Execução Penal. 
Direito do Trabalho - O Direito Penal relaciona-se ainda com o Direito do Trabalho, principalmente no que tange aos crimes contra a Organização do Trabalho (CP, Título IV, arts. 197 a 207), bem como nos efeitos trabalhistas a sentença penal. 
Direito Tributário - Finalmente, é inegável o relacionamento do Direito Penal com o Direito Tributário quando contém a repressão aos crimes de sonegação fiscal. 
10.3 - Relações com as Disciplinas Auxiliares 
Medicina Legal - Pode-se defini-la como a aplicação de noções médicas e biológicas às finalidades da justiça e à evolução do direito. Compreende concomitantemente o estudo das questões jurídicas, que podem ser resolvidas exclusivamente com os conhecimentos biológicos e principalmente médicos, e o estudo dos fenômenos biológicos e clínicos que servem à solução dos problemas judiciários.
Valioso é seu concurso no estudo dos crimes contra a vida (exames de lesões corporais, necroscópicos), nos sexuais (exame de conjunção carnal ou atos libidinosos), toxicologia (envenenamento, intoxicação alcoólica e por tóxicos) etc. De sua importância, entre nós, fala bem alto a existência da cadeira de Medicina Legal em nossas Faculdades de Direito. 
Psiquiatria Forense - Originariamente ramo da medicina, é considerada hoje ciência à parte. Seu objetivo é o estudo dos distúrbios mentais em face dos problemas judiciários, tais como os da imputabilidade, da necessidade de tratamento curativo nos autores de crimes chamados “semi-imputáveis” e da presunção de violência por alienação ou debilidade mental da vítima de crimes contra os costumes (art. 224, b, do CP). 
Assim, dupla é a tarefa do psiquiatra, ora colaborando com o legislador, na definição e solução de problemas do direito, ora com o magistrado, na aplicação da lei ao caso concreto. Ainda, deve limitar-se a, pelo estudo e observação do delinqüente psicopata, oferecer elementos seguros e necessários ao juiz, para decidir, e nunca opinar sobre a responsabilidade jurídica, tarefa do legislador. 
Com a adoção das medidas de segurança, mais se ampliou o campo da psiquiatria forense. 
Criminalística - Também chamada de Polícia Científica, é a técnica que resulta da aplicação de várias ciências à investigação criminal, colaborando na descoberta dos crimes e na identificação de seus autores. Seu objetivo é o estudo de provas periciais referentes a pegadas, manchas, impressões digitais, projéteis, locais de crime etc. 
11. Criminologia e Ciências Penais
	Criminologia é um conjunto de conhecimentos que estuda os fenônemos e as causas da criminalidade, a personalidade do delinqüente e a sua conduta delituosa e a maneira de ressocializá-lo. O crime é considerado como fato humano e social; o criminoso é tido como ser biológico e agente social, influenciados por fatores genéticos e constitucionais, bem como pelas injunções externas que conduzem à prática da infração penal. Em resumo, estuda-se na criminologia a causação do crime, as medidas recomendadas para tentar evitá-lo, a pessoa do delinqüente e os caminhos para sua recuperação. Pode-se dividir a criminologia em dois grandes ramos: o da Biologia Criminal e o da Sociologia Criminal. 
11.1- Biologia Criminal: 
Estuda o crime como fenômeno individual, ocupando-se esta ciência das condições naturais do homem criminoso no seu aspecto físico, fisiológico e psicológico. Inclui-se a ela os estudos da Antropologia, Psicologia e Endrocrinologia criminais. 
Antropologia Criminal - Criada por César Lombroso, estuda o delinqüente no seu aspecto anatômico e físico, considerando os fatores endógenos (raça, genética, hereditariedade etc). Embora já superada a conceituação do criminoso nato de Lombroso, há investigações modernas a respeito dos cromossomos e até das impressões digitais como identificadores de seres humanos geneticamente inclinados à prática de atos anti-sociais. 
Psicologia Criminal - Resultante das idéias pioneiras de Feuerbach e Romagnosi, trata-se do diagnóstico e prognósticos criminais. Ocupa-se com o estudo das condições psicológicas do homem na formação do ato criminoso, do dolo e da culpa, da periculosidade e até do problema objetivo da aplicação da pena e da medida de segurança. 
11.2- Sociologia Criminal
Capítulo importante da criminologia é a sociologia criminal, que tem por objeto o estudo do delito como fenômeno social. Deve-se o nome a Enrico Ferri, que sustentou ser ela a ciência enciclopédica do crime, concepção inaceitável mesmo por ardentes positivistas-naturalistas. 	 	
Enquanto a antropologia estuda o crime atribuído ao indivíduo ou como fato individual, a sociologia ocupa-se com a criminalidade global, atribuída à sociedade em que se verifica. Aquela é a ciência do delinqüente; a outra é a da sociedade.
12. Breve História do Direito Penal
12.1- Tempos Primitivos
A história do direito penal é a história da humanidade. Ele surge com o homem e o acompanha através dos tempos, isso porque o crime, qual sombra sinistra, nunca dele se afastou. 
Claro é que não nos referimos ao direito penal como sistema orgânico de princípios, o que é conquista da civilização e data de ontem. 
A pena, em sua origem, nada mais foi que vindita, pois é mais que compreensível que naquela criatura, dominada pelos instintos, o revide à agressão sofrida devia ser fatal, não havendo preocupações com a proporção, nem mesmo com sua justiça. 
12.2- Vingança Privada
Como se observa nas espécies inferiores, a reação à agressão devia ser a regra. A princípio, reação do indivíduo contra o indivíduo , depois, não só dele como de seu grupo, para, mais tarde, já o conglomerado social colocar-se ao lado destes. É quando então se pode falar propriamente em vingança privada, pois, até aí, a reação era puramente pessoal, sem intervenção ou auxílio dos estranhos. 
Entretanto, o revide não guardava proporção com a ofensa, sucedendo-se, por isso, lutas acirradas entre grupos e famílias, que, assim, se iam debilitando, enfraquecendo e extinguindo. Surge, então, como primeira conquista no terreno repressivo, o talião. Por ele, delimita-se o castigo; a vingança não será mais arbitrária e desproporcionada. 
Tal pena aparece nas leis mais antigas, como o Código de Hamurabi, lei da Babilônia, século XXIII ªC. Por ele, se alguém tira um olho a outrem, perderá também um olho; se um osso, se lhe quebrará igualmente um osso etc. A preocupação com justa retribuição era tal que, se um construtor construísse uma casa e ela desabasse sobre o proprietário, matando-o, aquele morreria, mas se ruísse sobre o filho do dono do prédio, o filho do construtor perderia a vida.
	Conquista igualmente importante foi a composição, preço em moeda, gado, vestes, armas etc., porque o ofensor comprava do ofendido ou de sua família o direito de represália, assegurando-se a impunidade.
Adotaram-na o Código de Hamurabi, o de Manu e outros, podendo dizer-se que permanece até hoje entre os povos, sob a forma de indenização, multa, dote etc. 
12.3 - Vingança Divina 
Já existe umpoder social capaz de impor aos homens normas de conduta e castigo. O princípio que domina a repressão é a satisfação da divindade, ofendida pelo crime. Nesta fase pune-se com rigor, antes com notória crueldade, pois o castigo deve estar em relação com a grandeza do deus ofendido.
É o direito penal religioso, teocrático e sacerdotal. Um dos principais Códigos é o da Índia, de Manu. Tinha por escopo a purificação da alma do criminoso, através do castigo, para que pudesse alcançar a bem-aventurança. 
Revestido de caráter religioso era também o de Hamurabi. Aliás, podemos dizer que esse era o espírito dominante nas leis dos povos do Oriente antigo. Além da Babilônia, Índia e Israel, O Egito, a Pérsia, a China etc. 
Ao lado da severidade do castigo, já apontada, assinalava esse direito penal, dado seu caráter teocrático, o ser interpretado e aplicado pelos sacerdotes. 
12.4. Vingança Pública
Nesta fase, o objetivo é a segurança do príncipe ou soberano, através da pena, também severa e cruel, visando à intimidação.
Na Grécia, a princípio, o crime e a pena inspiravam-se ainda no sentimento religioso. O direito e o poder emanavam de Júpiter, o criador e protetor do universo. Dele provinha o poder dos reis e em seu nome se procedia ao julgamento do litígio e à imposição do castigo. 
Todavia seus filósofos e pensadores haveriam de influir na concepção do crime e da pena. A idéia de culpabilidade, através do livre arbítrio de Aristóteles, deveria apresentar-se no campo jurídico, após firmar-se no terreno filosófico e ético. Já em Platão, nas Leis, se antevê a pena como meio de defesa social, pela intimidação – com seu rigor – aos outros, advertindo-os de não delinqüirem. 
Dividiam os gregos o crime em público e privado, conforme a predominância do interesse do Estado ou do particular. 
Certo é que, ao lado da vingança pública, permaneciam as formas anteriores da vindita privada e da divina, não se podendo, como é óbvio, falar em direito penal. Entretanto, situam, em regra, os historiadores, na Grécia, suas origens remotas.
Roma não fugiu às imposições da vingança, através do talião e da composição, adotadas pelas Leis das XII Tábuas. Teve também caráter religioso seu direito penal, no início, no período da realeza. No entanto, mais tarde separaram direito e religião.
Apesar de não terem os romanos atingido no direito penal as alturas que se atingiram no civil, se avantajaram a outros povos, posto que distinguiram, no crime, o propósito, i ímpeto, o acaso, o erro, a culpa leve, o simples dolo e o dolus malus. Além de tudo, interpretaram a correção da pena sob o fim de emendar o homem. 
Conheceram os germânicos o talião e a composição, variando esta consoante a gravidade da ofensa. 
Pena de caráter severo era a da perda da paz, em que, proscrito o condenado, fora da tutela jurídica do clã ou grupo, podia ser morto não só pelo ofendido e seus familiares como por qualquer pessoa.
O uso da força para resolver questões criminais foi do agrado dos povos germânicos, estando presente até nos meios probatórios. Conseqüências, certamente, do caráter individual desse direito, em contraposição ao princípio social do direito romano. 
Característico ainda das leis bárbaras é o relevo do elemento objetivo do crime. Não há grande preocupação com a culpa, ou com o elemento subjetivo do delinqüente; decide o dano material causado.
Caminho diversos trilharia o direito canônico, quer se opondo à influência da força como prova judiciária, quer salientando o elemento subjetivo do crime.
Contra a vingança privada, criou o direito de asilo e as tréguas de Deus. Combatendo aquela, sem dúvida, fortalecia o poder público. 
Justo é também apontar-se, além do elemento voluntarístico do crime, já mencionado, a finalidade que empresta à pena, objetivando a regeneração ou emenda do criminoso, pelo arrependimento ou purgação da culpa. Punições rudes ou severas tolerou, mas com o fim superior da salvação da alma do condenado. 
Não obstante, ainda não se saíra da fase da vingança pública. A preocupação era a ofensa do soberano e dos favorecidos. Predominavam o arbítrio judicial, a desigualdade de classes perante a punição, a desumanidade das penas, o sigilo do processo, os meios inquisitoriais, tudo isso aliado a leis imprecisas, lacunosas e imperfeitas, favorecendo o absolutismo monárquico e postergando os direitos da criatura humana. 
12.5. Período Humanitário
O período humanitário iniciou-se no fim do século XVIII, no decorrer do iluminismo (movimento que pregou a reforma das leis e da administração da justiça penal). 
Em 1764, Cesar Bonesana, Marquês de Beccaria, fez publicar em Milão, a obra Dei delliti e delle pene (Dos delitos e das penas), um pequeno livro que se tornou o símbolo da reação liberal ao desumano panorama penal então vigente. 
Beccaria, inspirado na concepção do Contrato Social de Rousseau, propõe novo fundamento à justiça penal, um fim utilitário e político que deve, porém, ser sempre limitado pela lei moral. 
12.6. Escola Clássica
As idéias fundamentais do iluminismo, expostas magistralmente por Beccaria, estão nas obras de vários autores que escreveram na primeira metade do século XIX e que são reunidos sob a denominação de Escola Clássica, nome que foi criado pelos positivistas com sentido pejorativo, mas que hoje serve para reunir os doutrinadores dessa época. 
Seu maior expoente foi Francesco Carrara, autor do monumental Programa del corso di diritto criminale (1859). Para ele, o delito é um “ente jurídico” impelido por duas forças: a física, que é o movimento corpóreo e o dano do crime, e a moral, constituída da vontade livre e consciente do criminoso. O livre arbítrio como pressuposto da afirmação da responsabilidade e da aplicação da pena é o eixo do sistema carrariano. 
Para o grande mestre, é o delito “resultante de um ato do homem” porque somente o homem pode delinqüir, e “terno”, por não ser punível a mera intenção ou cogitação criminosa. Ensina que o ato pode ser “positivo” quando se refere a ação (fazer) ou “negativo” quando se relaciona com a omissão (não fazer o devido). 
Para a Escola Clássica, o método que deve ser utilizado no Direito Penal é o dedutivo e não experimental, próprio das ciências naturais. Quanto à pena, é tida como tutela jurídica, ou seja, como proteção aos bens jurídicos tutelados penalmente. A sanção não pode ser arbitrária, regula-se pelo dano sofrido, inclusive, e, embora retributiva, tem também finalidade de defesa social. 
12.7- Período Criminológico e Escola Positivista
O movimento criminológico do Direito Penal desenvolveu-se em três fases distintas, lideradas por Lombroso, Ferri e Garófalo.
Primeira Fase da Escola Positiva - O movimento criminológico do Direito Penal iniciou-se com os estudos do médico italiano e professor em Turim César Lombroso, que publicou em 1876 o famoso livro L’uomo delinquente studiato in papporto, all’antropologia, alla medicina legale e alle discipline carcerarie, expondo suas teorias e abrindo nova etapa na evolução das idéias penais. Considerando o crime como manifestação da personalidade humana e produto de várias causas, Lombroso estuda o delinqüente do ponto de vista biológico. Criou com seus estudos a Antropologia Criminal e, nela, a figura do criminoso nato. 
Dentre as idéias do Lombroso destaca-se a de que o criminoso nato apresenta características físicas e morfológicas específicas, como assimetria craniana, fronte fugidia, zigomas salientes, orelhas em abano, face ampla e larga, cabelos abundantes e barba escassa etc. 
Segundo Lombroso, a causa da criminalidade situar-se-ia na eplepsia, que ataca os centros nervosos, deturpa o desenvolvimento do organismo e produz regressões a caracteres de ascendentes remotos. 
Embora Lombroso tenha sido o pioneiro do estudo da pessoa do delinqüente e, exagerando na classificação domesmo, sua teoria não resistiu por muito tempo à análise dos doutos. 
Segunda Fase da Escola Positiva - Foi Enrico Ferri, criador da sociologia criminal, que ressaltou a importância de um trinômio causal do delito: os fatores antropológicos, sociais e físicos, pregando a responsabilidade social em substituição à moral. 
Segundo Ferri, o homem só é responsável porque vive em sociedade. Isolado em uma ilha, tal qual um Robinson Crusoé, não tem qualquer responsabilidade. Classificou o criminoso em cinco categorias: nato, louco, habitual, ocasional e passional. 
Terceira Fase da Escola Positiva - É a chamada fase jurídica do positivismo italiano. Seu grande expoente é Rafael Garófalo, em cuja obra denominada Criminologia sistematizou as duas fases anteriores à luz do Direito Penal. O livro examina, de maneira distinta, o delito, o delinqüente e, finalmente, a pena, onde, exatamente, nota-se grande labor jurídico. 
Princípios básicos da escola positiva:
o crime é fenômeno natural e social, sujeito às influências do meio e de múltiplos fatores, exigindo o estudo pelo método experimental. 
a responsabilidade penal é responsabilidade social, por viver o criminoso em sociedade, e tem por base a sua periculosidade. 
a pena é medida de defesa social, visando a recuperação do criminoso ou à sua neutralização. 
o criminoso é sempre, psicologicamente, um anormal, de forma temporária ou permanente. 
12.8- Direito Penal no Brasil 
Direito Penal Indígena - Na época que antecedeu à chegada dos portugueses ao Brasil em 1500, os silvícolas, que aqui viviam em diferentes graus de cultura pré-histórica, solucionavam problemas penais através das regras naturais do Direito Costumeiro. Predominavam, então, o talião, a vingança privada e a coletiva. Dado o seu primarismo, as práticas punitivas das tribos selvagens que habitavam o nosso país em nenhum momento influíram na nossa legislação. 
Ordenações do Reino - Durante o período do Brasil-Colônia vigoraram no país as ordenações do reino. As Afonsinas, até 1512. As Manuelinas, até 1569, que foi substituída pelo Código Sebastiânico até 1603. 
Foram, porém, as Ordenações Filipinas nosso primeiro estatuto, já que os anteriores pouca aplicação aqui poderiam Ter. Dessa forma, as Ordenações Filipinas refletiram o direito penal dos tempos medievais. O crime era confundido com o pecado e com a ofensa moral. As penas eram severas e cruéis (açoites, mutilação, queimaduras etc.), visavam infundir o temor pelo castigo. Era também largamente cominada a pena de morte, executada pela forca, pela tortura, pelo fogo etc. Tiradentes é exemplo típico de acusado em crime de lesa-majestade. 
Código Criminal do Império de 1830 - Com o advento da Independência em 1822, elaborou-se, por força de dispositivo constitucional, o Código Criminal do Império, sancionado em 16 de setembro de 1830 ( o único diploma penal básico que vigorou no Brasil por iniciativa do poder Legislativo e elaborado pelo Parlamento)Individualizou a pena, previu atenuantes e agravantes e deu ênfase à pena de morte como forma de diminuição da criminalidade dos escravos. 
Código Penal Republicano de 1890 - Com a proclamação da República, foi editado à pressas, em 11 de outubro de 1890, o novo estatuto básico, agora com a denominação de Código Penal, contendo falhas gritantes. 
Aboliu-se a pena de morte e instalou-se o regime penitenciário de caráter correcional, o que constituía um avanço na legislação penal. 
Consolidação das Leis Penais de 1932 - A precária sistematização do Código Penal de 1890, e a confusão causada por inúmeros leis penais especiais posteriores, levaram o desembargador Vicente Piragibe, devidamente autorizado pelo chefe do Poder Executivo, a reuní-las na Consolidação das Leis Penais, decretada em 14 de dezembro de 1932, em plena época Vargas. 
Código Penal de 1940 - O atual Código Penal (Decreto-lei n. 2.848, de 07.12.1940), entrou em vigor no dia 1º de janeiro de 1942, após vocatio legis de mais de um ano, a fim de que todos pudussem melhor conhecer seus avanços. 
Originou-se de projeto de autoria do jurista Alcântara Machado, submetido, logo a seguir, ao exame de Comissão Revisora composta por Nelson Hungria, Vieira Braga, Narcélio de Queiroz e Roberto Lyra. 
É uma legislação eclética, adotou inúmeros postulados das escolas Clássica e Positiva, incorporando ao seu texto novidades e avanços dos códigos penais italiano e suíço, promulgados quase è mesma época. 
Em 1969 elaborou-se novo Código Penal que, todavia, não chegou a entrar em vigor, já que após sucessivos adiamentos, foi ao final revogado quase dez anos depois, no ano de 1978. 
12.9. A Reforma do Sistema Penal – (Lei n. 7.209/84) 
Em 1980, O Presidente da República instituiu uma comissão para elaboração de um anteprojeto de lei de reforma da Parte Geral do Código Penal de 1940.
 
13.Fontes do Direito Penal 
13.1. Conceito de Fonte
Fonte significa origem, princípio, causa. Fonte do direito Penal é de onde provém ou se origina a lei penal. 
As fontes podem ser: materiais (ou de produção), referem-se a quem produziu o direito penal; formais referem-se ao modo pelo qual se exterioriza o direito, pelo qual se dá ele a conhecer.
13.2. Fontes Materiais
A única fonte de produção do Direito Penal é o Estado. Determina a Constituição Federal que compete privativamente à União legislar sobre direito penal – (CF, art. 22, inciso I). 
A atual Constituição trouxe uma inovação ao prever a possibilidade de lei complementar autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas no artigo 22 (CF, art. 22, parágrafo único). 
Para que o direito penal não se torne obsoleto, o Estado deve estar sempre atualizando o ordenamento jurídico, tornando-o compatível com a evolução técnica, moral e científica do momento. 
São problemas relativamente atuais, em decorrência da evolução: o transplante de órgãos, a inseminação artificial, o nascimento de bebês de proveta, a cirurgia em transexuais, o devassamento da vida íntima das pessoas por aparelhos sofisticados de gravação, fotografia e escuta telefônica, a poluição nas grandes cidades, nos mares, nos rios e na própria atmosfera. 
13.3. Fontes Formais
As fontes formais que dão “forma” e que exteriorizam o direito, dividem-se em fontes diretas (ou imediatas) e indiretas (ou mediatas ou subsidiárias). 
Fontes diretas - A única fonte direta do Direito Penal, diante do princípio da reserva legal, é a lei. 
Fontes indiretas - Como fontes indiretas ou subsidiárias do Direito Penal temos os costumes e os princípios gerais do direito, referidos na Lei de Introdução do Código Civil – (LICC, art. 4º).
Costumes - o costume é uma regra de conduta praticada de modo geral, que tem sua significante influência na interpretação e na elaboração da lei penal. Somente através do costume se poderá aquilatar o exato significado dos termos: honra, dignidade, decoro (art. 140), mulher honesta (arts. 215 e 219), ato obsceno (art. 233). 
A evolução dos costumes, por sua vez, tem levado ao reclamo da extinção ou modificação de tipos penais como o adultério (art. 240), a sedução (art. 217), o aborto (arts. 124 a 126). 
Princípios gerais do direito - são premissas éticas extraídas da legislação, do ordenamento jurídico, que podem suprir lacunas e omissões da lei penal. Como exemplo de aplicação dessa fonte indireta é a não-punição da mãe que fura as orelhas da filha, que praticaria assim um crime de lesões corporais, quando o faz para colocar-lhe brincos. 
Obs.: A eqüidade (correspondência jurídica na norma às circunstâncias do caso concreto), bem como a doutrina e jurisprudência, não são fontes de Direito Penal, mas forma de interpretação da norma. Também não são os tratados e convenções internacionais, que só passam a viger no paísapós o referendum do Congresso, tornando-se, assim, lei e fonte direta do Direito Penal. 
13.4- Analogia 
A analogia é uma forma de auto-integração da lei. Na lacuna desta, aplica-se ao fato não regulado expressamente pela norma jurídica, um dispositivo que disciplina hipótese semelhante – (LICC, art. 4º).
Diante do princípio da legalidade do crime e da pena, pelo qual não se pode impor sanção penal a fato não previsto em lei, é inadmissível o emprego da analogia para criar ilícitos penais ou estabelecer sanções criminais. 
É possível, entretanto, aplicação da analogia às normas não incriminadoras quando se vise, na lacuna evidente da lei, favorecer a situação do réu. 
São exemplos de aplicação da analogia: 
A exclusão da pena nos casos de aborto que se pratica em mulher vítima de atentado violento ao pudor, que engravidou pela prática de ato delituoso, diante do que dispõe o artigo 128, inciso II, do CP, que se refere apenas ao crime de estupro.
A não punibilidade do dano de coisa comum fungível cujo valor não exceda a quota a que tem direito o agente, diante do disposto no artigo 156, parágrafo 2º, do CP, referente ao crime de furto. 
14. Lei Penal
14.1. Caracteres
A lei é a única fonte formal direta do Direito Penal e, devido ao valor dos bens que tutela, e ainda pela severidade das sanções que impõe, deve ser precisa e clara. Compõe-se de duas partes:
O comando principal (ou preceito primário); 
A sanção (ou preceito secundário).
Tomando-se o artigo 121, caput, por exemplo, temos: 
“Matar alguém”: (preceito primário) 
“Pena – reclusão, de seis a vinte anos”: (preceito secundário). 
Da conjugação dessas duas partes surge a proibição (norma): “é proibido matar”. 
Características - A lei penal apresenta as seguintes características: é imperativa, geral, impessoal e exclusiva, regulando apenas fatos futuros. 
é imperativa – porque a violação do preceito primário acarreta a pena. 
é geral – por estar destinada a todos, mesmo aos inimputáveis, sujeitos à medida de segurança. 
é impessoal – por não se referir a pessoas determinadas. 
é exclusiva – porque somente ela pode definir crimes e cominar sanções.
aplica-se apenas a fatos futuros, não alcançando os pretéritos, a não ser quando aplicada em benefício do agente criminoso. 
 
14.2. Classificação da Lei Penal
São várias as classificações da lei penal, porém, a mais importante é a que distingue as leis penais incriminadoras (lei penal em sentido estrito) das não incriminadoras (lei penal em sentido amplo)
Leis penais incriminadoras - são aquelas que definem os tipos penais e cominam as respectivas sanções. No Código Penal vigente, figuram a partir do artigo 121.
Leis penais não incriminadoras - podem ser subdivididas em explicativas (ou complementares) e permissivas.
Explicativas - são normas que esclarecem o conteúdo de outras ou fornecem princípios gerais para aplicação das penas. Exemplos: os conceitos de “reincidência” (art. 63), de “casa” (art. 150, parágrafo 4º), de “funcionário público” para os efeitos penais (art. 327), bem como as regras para aplicação da lei penal (art. 1º e seguintes), as referentes à aplicação da pena (arts. 59 e 60) etc. 
Permissivas - são normas que não consideram como ilícitos ou isentam de pena o autor de fatos que, em tese, são típicos. Exemplos: os casos dos artigos 23, 24 e 25 (estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento do dever legal e exercício regular de direito); do artigo 142 (imunidades nos crimes contra a honra); do artigo 348, parágrafo 2º (imunidades no crime de favorecimento pessoal); dos artigos 20 e 21 (erro sobre o elemento do tipo e sobre a ilicitude do fato); do artigo 26 (inimputabilidade) etc. 
14.3. Norma Penal em Branco 
Norma penal em branco é aquela que tem conteúdo incompleto, vago, exigindo uma complementação, a ser dada por outras normas, de nível igual ou diverso.
Norma penal em branco em sentido estrito - quando a norma é complementada por outra de nível diverso, como na transgressão de tabela oficial de preços, em que a lei penal é suprida por uma portaria ou regulamento de preços
Norma penal em branco em sentido amplo - quando a norma é complementada por outra norma de nível idêntico, como na violação de direitos autorais, em que a lei penal é suprida pela lei civil de direito autoral (Lei n. 5.988/73). 
14.4. Interpretação da Lei Penal 
	Interpretação é o processo lógico que procura estabelecer a vontade contida na norma jurídica, cuja ciência ou método é denominado de hermenêutica. São as seguintes as espécies de interpretação: 
	Quanto ao sujeito (ou quanto à origem) – A interpretação pode ser autêntica, doutrinária e jurisprudencial:
Interpretação autêntica: É a dada pela própria lei, a qual no seu texto, num dos seus dispositivos, é explicado como deve ser entendido determinado assunto. Exemplos típicos são os artigos 150, parágrafo 4º e 327, do Código Penal, que definem casa e funcionário público. A interpretação autêntica é obrigatória, uma vez que ditada pela própria lei.
 
Interpretação doutrinária: É aquela fornecida pelos estudiosos, professores e profissionais do direito, por meio da publicação de artigos, conferências, teses e livros. 
Interpretação jurisprudencial: É aquela dada pelos tribunais, por meio de entendimentos reiterados de seus julgamentos, que consolidam a jurisprudência. 
Quanto ao meio empregado - A interpretação pode ser, entre outras, gramatical, lógica e teológica:
Interpretação gramatical (ou literal): Examina-se a função gramatical, quanto ao seu significado no vernáculo. 
Interpretação lógica: É feita através de um confronto lógico entre os seus dispositivos, visando reconstruir o pensamento do legislador. 
Interpretação teleológica: É feita objetivando descobrir a finalidade com que a lei foi editada. 
Quanto aos resultados - A interpretação pode ser declarativa, restritiva e extensiva: 
Interpretação declarativa: Ocorre quando o texto examinado não é ampliado nem restringido. Exemplo: o termo “várias pessoas” - (CP, art. 141, inciso III), significa mais de duas, porque quando a lei se contenta com duas ela é expressa.
Interpretação restritiva - Ocorre quando se conclui que a lei diz mais do que pretendia o legislador, buscando conter ou reduzir o seu alcance. Exemplo: No termo “emoção, paixão e embriaguez” – (art. 28, do CP), verifica-se tratar de embriaguez (não patológica), limitando-se o alcance daquele dispositivo para não haver contradição com o dispositivo no artigo 26 e seu parágrafo único. 
Interpretação extensiva - Ocorre quando é necessário ampliar o sentido ou alcance da lei. Exemplo: No termo “serviço de estrada de ferro” (CP, art. 260), deve ser entendido também como serviço de metrô, que nada mais é do que um trem que corre sobre trilhos em zona urbana.
15. Conflito Aparente de Normas 
Através da aplicação dos “princípios que solucionam o conflito aparente de normas”, é possível obter a solução ao caso concreto, uma vez que, tais princípios afastam as normas incidentes e indica as normas penais que verdadeiramente é aplicável à situação, afastando as demais, e, com isso evitando o chamando bis in idem.
15.1. Princípio da Especialidade (Lex specialis derogat generali)
O Princípio da Especialidade, majoritariamente, para os doutrinadores é o mais importante dos princípios utilizados para sanar o conflito aparente de normas penais. Nesse sentido, para Bittencourt (LAURIA, p. 11) os demais princípios “somente devem ser lembrados quando o primeiro não resolver satisfatoriamente os conflitos”.
Para tanto, a norma especial possui todos os elementos da norma geral e mais alguns, classificados como ‘especializantes’, representando maisou menos severidade. Entre uma norma e outra, o fato é enquadrado na norma que tem algo a mais. Com isso, o tipo penal visto como especial derroga a lei geral.
Basta comparar de forma abstrata as condições dos tipos penais, para distinguir a norma geral da especial. Nesse sentindo, leciona Damásio que,
“...o princípio da especialidade possui uma característica que o distingue dos demais: a prevalência da norma especial sobre a geral se estabelece in abstracto, pela comparação das definições abstratas contidas nas normas, enquanto os outros exigem um confronto em concreto das leis que descrevem o mesmo fato.” (apud, CAPEZ, 2010, p. 90)
A norma especial pode descrever tanto um crime mais leve quanto um mais grave, e não é, necessariamente, mais abrangente que a geral. Exemplo: o art. 123 do Código Penal, que trata do infanticídio prevalece sobre o art. 121 do Código Penal, o qual cuida do homicídio, pois, o primeiro, além dos elementos genéricos, possui os especializantes: próprio filho; durante o parto ou logo após; e, sob a influência do estado puerperal. O infanticídio não é mais completo nem mais grave, ao contrário, é mais brando, no entanto, é especial.
Portanto, a norma especial prevalece sobre a geral. Para Greco (LAURIA, p. 11), “a norma especial afasta a aplicação da norma geral”.
15.2. Princípio da Subsidiariedade (Lex primaria derogat subsidiariae)
A norma subsidiária descreve um grau menor de violação de um mesmo bem jurídico, ou seja, um fato menos amplo e menos grave, que definido como delito autônomo é também compreendido como parte da fase normal de execução de crimes mais grave.
Assim, sendo cometido o fato mais amplo, duas normas incidirão, a que define o fato e a que descreve apenas parte dele. A norma primária, que descreve o ‘todo’, absorverá a menos ampla (a subsidiária), tendo em vista que, esta ‘cabe’ dentro da primeira.
A norma primária não é especial, é mais ampla.
Nélson Hungria elucida as diferenças entre este princípio e o da especialidade:
“...a diferença que existe entre especialidade e subsidiariedade é que nesta, ao contrário do que naquela, os fatos previstos em uma e outra norma não estão em relação de espécie e gênero, e se a pena do tipo principal (sempre mais grave que a do tipo subsidiário) é excluída por qualquer causa, a pena do tipo subsidiário pode apresentar-se como soldado de reserva, e aplicar-se pelo residuum.” (apud, LAURIA, 2010, p. 12)
Diante disso, só há que se falar em princípio da subsidiariedade quando a norma principal for mais grave que a subsidiária. Exemplo: o crime de ameaça (art. 147, CP) cabe no de constrangimento ilegal mediante ameaça (art. 146, CP), o qual, por sua vez, cabe dentro da extorsão (art. 158, CP).
Vale salientar que, há casos em que tanto se pode aplicar o princípio da especialidade quanto o da subsidiariedade, exemplo, o roubo e o estupro são especiais em relação ao constrangimento ilegal, mas são mais amplos, já que este último cabe tanto num quanto no outro.
Para saber qual norma incidirá, é necessário verificar qual crime foi praticado e qual foi à intenção do agente, portanto, para aplicação do princípio da subsidiariedade, é imprescindível a análise do caso concreto, sendo insuficiente a comparação abstrata dos tipos penais.
Espécies:
- Expressa ou explícita: a própria norma reconhece expressamente seu caráter subsidiário, admitindo incidir somente se não ficar caracterizado fato de maior gravidade. Exemplo: ao definir a lesão corporal seguida de morte, o art. 129, § 3º do Estatuto Repressivo, afirma incidir se “...as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo”
- Tácita ou implícita: a norma nada diz, mas, diante do caso concreto, verifica-se sua subsidiariedade. Exemplo: mediante uso de violência, a vítima é constrangida a entregar a sua carteira ao autor. Incide aparentemente o tipo definidor do roubo (norma primária), art. 157 do CP, e o do constrangimento ilegal (norma subsidiária), art. 146 do CP, e, assim, sem que a lei nada diga, prevalece o primeiro.
15.3. Princípio da Consunção (Lex consumens derogat consumptae)
Princípio segundo o qual o fato mais amplo e mais grave absorve outros menos amplos e graves, que funcionam como fase normal de preparação ou execução ou mero exaurimento.
Na consunção, há uma seqüência de situações diferentes no tempo e no espaço, sem recorrer às normas, comparam-se os fatos, verificando-se que o mais grave absorve os demais. Esta comparação se dá entre os fatos e não entre as normas, de maneira que, o mais completo, o ‘todo’, prevalece sobre a parte, ou seja, o fato principal absorve o acessório, sobrando apenas a norma que o regula.
Destarte, não é a norma que absorve a outra, mas o fato que consome os demais, fazendo com que só reste uma norma. Exemplo: um sujeito dirige perigosamente (direção perigosa) até provocar, dentro do mesmo contexto fático, um acidente fatal (homicídio culposo no trânsito). Neste caso, a direção perigosa é absorvida pelo homicídio culposo, restando este último crime e, conseqüentemente, a norma que o define. Com isso, evita-se o bis in idem, pois o fato menor estaria sendo punido duas vezes.
É possível verificar a consunção, mediante três hipóteses:
- Crime progressivo: ocorre quando o agente, objetivando, desde o inicio, produzir o resultado mais grave, pratica, por meio de atos sucessivos, crescentes violações ao bem jurídico. O último ato, causador do resultado pretendido, absorve todos os anteriores, que acarretaram violações em menor grau. Dessa forma, o agente responde pelo resultado mais grave.
Nesta hipótese, podem ser observados os seguintes elementos:
- Unidade de elemento subjetivo: desde o início, há uma única vontade;
- Unidade de fato: há um só crime, comandado por uma única vontade;
- Pluralidade de atos: se houvesse um único ato, não haveria que se falar em absorção;
- Progressividade na lesão ao bem jurídico: os atos violam de forma cada vez mais intensa o bem jurídico, sendo os anteriores absorvidos pelo mais grave.
- Crime complexo: resulta da fusão de dois ou mais delitos autônomos, que passam a funcionar como elementares ou circunstanciais no tipo complexo, em que o fato complexo absorve os fatos autônomos. Exemplo: latrocínio (roubo+homicídio), o autor responde pelo latrocínio, ficando o roubo e o homicídio absorvidos.
- Progressão criminosa:
a) Progressão criminosa em sentido estrito: o agente inicialmente deseja produzir um resultado, após atingi-lo, decide prosseguir e reiniciar sua agressão produzindo uma lesão mais grave. A distinção do crime progressivo é que, enquanto neste, há unidade de desígnios, na progressão criminosa há pluralidade de elemento subjetivo ou vontade.
Elementos observados:
- Pluralidade de desígnios: inicialmente, o agente deseja praticar um crime, após cometê-lo, resolve praticar outro de maior gravidade, demonstrando duas ou mais vontades.
- Pluralidade de fatos: existe mais de um crime, correspondente a mais de uma vontade. Embora haja condutas distintas, o agente só responde pelo fato final, mais grave, ficando os demais absorvidos.
- Progressividade na lesão ao bem jurídico: a primeira seqüência voluntária de atos, provoca uma lesão menos grave do que a última e, por isso, acaba por ele absorvida.
b) Fato anterior (ante factum) não punível: o fato anterior menos grave, quando for praticado como meio necessário para a realização de outro mais grave, será por este absorvido.
STJ Súmula nº 17 – 20/11/1990. Estelionato. Potencialidade Lesiva. Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido.
Exemplo: o agente falsifica uma carteira de identidade e com ela comete um estelionato. Responde pelos crimes de falso (art. 297 do CP) e estelionato (art. 171 do CP), uma vez que, o documento falsificado poderá ser utilizado em diversas fraudes. Se, falsificasse a assinatura de um fólio de cheque e passassea um comerciante, responderia apenas pelo estelionato, pois não poderia utilizar mais a folha de cheque em outra fraude.
c) Fato posterior (post factum) não punível: quando após a conduta, o agente pratica novo ataque contra o mesmo bem jurídico, apenas para tirar proveito da prática anterior, exemplo, após o furto, o agente destrói ou vende o que furtou.
Há que se considerar como regra que, na aplicação do princípio de conjunção, quando os crimes são cometidos em um mesmo contexto fático, têm-se a absorção do menos grave pelo de maior gravidade.
15.4. Princípio da Alternatividade
Princípio aplicado quando a norma descreve várias formas de realização da figura típica, onde a ação de uma ou de todas configura crime. São os chamados tipos alternativos, que descrevem crimes de ação múltipla.
“Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com a determinação legal ou regulamentar.” (Lei 11.343/2006, Lei de Drogas, art. 33, caput)
PARTE GERAL
DA APLICAÇÃO DA LEI PENAL
1. Princípio da Legalidade
O artigo 1º do CP dispõe: Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal. 
O artigo 5º, inciso XXXIX, da CF, dispõe: não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal. 
O artigo 5º, inciso XL, da CF, dispõe: a lei não retroagirá, salvo para beneficiar o réu. 
São os princípios da legalidade (ou reserva legal) e da anterioridade. A palavra crime compreende também as contravenções. E a pena, a medida de segurança. 
O princípio da reserva legal, elaborado no início do século XIX, na Alemanha, por Anselmo Feuerbach, foi consagrado através da fórmula latina nullum crimen, nulla poena sine praevia lege. 
Considerando que toda conduta proibida deve estar perfeitamente definida na lei penal, isso significa que o legislador, por ocasião do processo legislativo, deve estabelecer taxativamente, no tipo tudo aquilo que for típico ou atípico. 
Desta forma, o princípio da reserva legal gera duas conseqüências: 1) proibição da retroatividade da lei penal incriminadora, através do princípio da irretroatividade; 2) proibição da analogia para a criação de novos tipos, através do princípio da taxatividade. 
Conseqüentemente, proíbe-se o uso da analogia maléfica, ou in malam partem, para imposição de penas. Admite-se, porém, a analogia benéfica, ou in bonam partem, para beneficiar o réu, e a interpretação analógica intra legem, quando o próprio texto legal manda aplicar a analogia em relação a alguma circunstância, como por exemplo no artigo 171, do CP, que se refere a artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento. 
Logo, de acordo com o princípio da reserva legal, toda conduta que não esteja definida na lei penal incriminadora é lícita. O princípio, todavia, não se aplica em relação às normas penais não incriminadoras da Parte Geral do Código Penal, que, neste caso, pode o intérprete valer-se do auxílio da analogia, dos costumes e dos princípios gerais do direito. 
2. A Lei Penal no Tempo
2.2. Fundamento legal e introdução
O artigo 2º, do CP, dispõe: Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença declaratória. 
E complementa o parágrafo único: A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado. 
Ocorre que, na aplicação da lei penal no tempo, normalmente, surgem conflitos, porque na prática de um delito, por exemplo, a ação pode ter ocorrido durante a vigência de uma lei e a consumação sob a vigência de outra; um crime pode ter ocorrido durante a vigência de uma lei, julgado após a sua revogação e a execução da sentença condenatória proferida durante a vigência de lei anterior revogada etc. 
Para a solução desses conflitos existem princípios que devem ser obedecidos quanto à aplicação da lei penal no tempo. 
2.3. Vigência e Revogação da Lei Penal
Assim como as demais leis, a lei penal também começa a vigorar na data nela indicada, ou na omissão, em 45 dias após a publicação, dentro do País, e em três meses no exterior – (LICC, art. 1º. parágrafo 1º). O espaço de tempo compreendido entre a publicação da lei e a sua entrada em vigor denomina-se vocatio legis (vacância da lei). 
Não havendo referência à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique – (LICC, art. 2º).
Não há revogação pelo simples desuso da lei. A revogação é expressa quando a lei nova diz quais são os textos revogados. A revogação é tácita quando a lei nova é incompatível com a anterior, ou quando vem regular inteiramente a matéria. 
A revogação total denomina-se abrogatio (ab- rogação). A revogação parcial denomina-se derogatio (derrogação). 
	2.4. Princípios da Lei Penal no Tempo
A lei penal no tempo regula-se por dois princípios: 1) princípio da irretroatividade da lei incriminadora e 2) princípio da retroatividade da lei benéfica. 
Assim, havendo conflito de leis penais com o surgimento de novos preceitos jurídicos após a prática do fato delituoso, será sempre aplicada a lei mais favorável. Isso significa que a lei penal mais benigna tem extratividade (é retroativa e ultrativa) e, a contrario sensu, a lei mais severa não tem extratividade (não é retroativa ou ultrativa) e, dessa forma, verifica-se: 
Novatio legis incriminadora - Ocorre quando a lei nova torna típico fato anteriormente não incriminado. Evidentemente, a lei nova não pode ser aplicada diante do princípio da anterioridade da lei penal – (CF, art. 5º, inciso XXXIX e CP, art. 1º). 
	Abolitio criminis - Ocorre quando a lei nova já não incrimina fato que anteriormente era considerado como ilícito penal. Trata-se da aplicação do princípio da retroatividade de lei mais benigna - (CP, art. 2º, caput). 
Pela abolitio criminis se fazem desaparecer o delito e todos os efeitos penais da sentença, permanecendo apenas os civis da decisão. 
Novatio legis pejus - Ocorre quando a lei nova é mais severa que a anterior. Vige, neste caso, o princípio da irretroatividade da lei penal: “a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu” – (CF, art. 5º, inciso XL). 
Novatio legis in mellius - Ocorre quando a lei nova é mais favorável que a anterior. Trata-se da aplicação do princípio da retroatividade de lei mais benigna - (CP, art. 2º, parágrafo único). 
2.5. Lei processual
A lei processual não segue os princípios referentes à aplicação da lei penal no tempo (retroatividade em benefício do agente). Segundo o Código de Processo Penal: “a lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior” - (CP, art. 2º). 
Não há que se cogitar, no caso, de lei mais benigna ou mais severa. A partir da data de início da vigência, a lei posterior passa a regular os atos processuais, a competência etc. (salvo disposição expressa em contrário), permanecendo válidos os atos já praticados. 
2,6.Lei excepcional ou temporária
O artigo 3º, do CP, dispõe: A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se a fato praticado durante a sua vigência. 
Lei excepcional é aquela promulgada para virger durante determinada circunstância excepcional ou situação de emergência (calamidade pública, epidemia, estado de sitio, guerra, terremoto etc.). 
Lei temporária é aquela promulgada para vigorar até determinada data. 
Tanto a lei excepcional como a temporária são ultra-ativas e autorevogáveis. Devido à ultratividade, essas leis são aplicadas a fatos ocorridos durante a sua vigência, mesmo depois de revogadas pelo decurso do tempo ou pela superação do estado excepcional. 
2.7.Tempo do crime 
O artigo 4º, do CP, dispõe: Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado. 
A determinação do tempo do crime, influi diretamente na aplicação de várias regras penais, como a determinação da lei aplicável ao fato, a menoridade ou não do agente no tempo da ação, a incidência de prescrição etc. 
Três são das teorias a respeito do momento que se considera cometido o delito: teoria da atividade, teoria do resultado e teoria mista. 
Pela teoria da atividade (adotada pelo Código Penal) considera-se cometido o delito no momento da ação ou omissão, aplicando-se ao fato, portanto, a lei vigente ao tempo da ação ou omissão. 
Pela teoria do resultado considera-se cometido o delito no momento da produção do resultado.
Pela teoria mista (ou da ubigüidade) pode-se considerar como tempo do crime tanto o momento da ação ou omissão como o momento do resultado. 
3. Lei Penal no Espaço 
3.1. Fundamento legal e introdução
O artigo 5º, do CP, dispõe: Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional. 
§ 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar. 
§ 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou embargações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em vôo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil. 
Um crime pode violar interesses de dois ou mais países, quer porque a ação tenha sido praticada no território de um e a consumação no território de outro, quer porque o delito atinge bem jurídico de um Estado embora praticado no exterior etc. 
Visando a possibilidade da aplicação da lei nacional em tais casos, o Código Penal dispõe sobre a aplicabilidade da lei penal 
no espaço (lugar do crime) com fundamento em convenções, tratados e regras de direito internacional. 
3.2. Territorialidade 
A lei penal no espaço regula-se pelo princípio da territorialidade (temperada), ou seja, o ordenamento penal brasileiro é aplicável aos crimes cometidos no território nacional, de modo que ninguém, nacional, estrangeiro ou apátrida, residente ou em trânsito pelo Brasil, poderá subtrair-se à lei penal brasileira, por fatos criminosos aqui praticados, salvo quando normas de Direito Internacional dispuserem em sentido contrário. 
3.3. Conceito e componentes do território 
Território nacional - sob o prisma material, compreende o espaço delimitado por fronteiras geográficas. Sob o prisma jurídico, abrange todo o espaço em que o Estado exerce a sua soberania. 
Componentes do território: 
solo ocupado pela corporação política; 
rios, lagos, mares interiores, golfos, baías e portos; 
faixa de mar exterior ao longo da costa, denominado territorial (12 milhas marítimas de largura, medidas a partir da baixa-mar do litoral continental e insular brasileiro – (Lei n. 8.617/93, art. 1º).
espaço aéreo; 
navios e aeronaves. 
Lugar do crime 
O artigo 6º, do CP, dispõe: Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado. 
Para a aplicação do princípio da territorialidade é necessário que se esclareça qual é o lugar do crime. São três as teorias a respeito desse assunto: 
Teoria da atividade (ou da ação) - Lugar do crime é o da ação ou omissão, sendo irrelevante o lugar da produção do resultado. 
Teoria do resultado (ou do efeito) - Lugar do crime é o lugar em que foi produzido o resultado, sendo irrelevante o local da conduta; 
Teoria mista (ou da ubigüidade) - Lugar do crime é tanto o da conduta quanto o do resultado. Será, portanto, o lugar onde se deu qualquer dos momentos do inter criminis. 
Teoria adotada - Para determinar o lugar do crime o CP adotou a teoria mista ou da ubigüidade, porém, sobre compet~encia jurisdicional, poderá ser feita uma análise específica, com o estudo do artigo 69 e seguintes do Código de Processo Penal. 
3.5. Extraterritorialidade
O artigo 7º, do CP, prevê a aplicação da lei brasileira a crimes praticados no estrangeiro. É o princípio da extraterritorialidade da lei penal brasileira, que pode ser: 
Incondicionada - A extraterritorialidade é incondicionada quando a lei brasileira é aplicada ao crime cometido no estrangeiro independentemente de qualquer condição - (CP, art. 7º, inciso I). 
Condicionada - A extraterritorialidade é condicionada quando a alei brasileira é aplicada ao crime cometido no estrangeiro se satisfeitas determinadas condições - (CP, art. 7º, inciso II e § 3º). 
3.6.Pena cumprida no estrangeiro
O artigo 8º, do CP, dispõe: A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada quando idênticas.
Assim, a pena cumprida no estrangeiro será descontada na execução pela lei brasileira quando forem idênticas (penas privativas de liberdade, por exemplo), respondendo o sentenciado pelo saldo a cumprir se a pena imposta no Brasil for mais severa. 
Se a pena cumprida no estrangeiro for superior à imposta no País, é evidente que esta não será executada. 
No caso de penas diversas (privativas de liberdade e pecuniárias), por exemplo), aquela cumprida no estrangeiro atenuará a aplicada no Brasil, de acordo com a decisão do juiz no caso concreto, já que não há regras legais a respeito dos critérios de atenuação que devem ser obedecidos. 
4. Lei Penal em Relação às Pessoas
4.1.Imunidades diplomáticas
Os chefes de Estado e os representantes de governos estrangeiros (embaixadores, diplomatas, ministros, núncios e plenipotenciários) estão excluídos da jurisdição criminal dos países em que estiverem exercendo as suas funções, tendo, portanto, imunidade absoluta em qualquer tipo de delito. Encontra-se convencionada a imunidade diplomática na Convenção de Viena de 18 de abril de 1961 e aprovada pelo Decreto Legislativo nº 103/64.
4.2. Imunidades presidenciais
Goza o Presidente da República de imunidade prevista na Constituição Federal (CF, art.86, par.3º), tendo direito a Foro Especial de Julgamento (Súmula 394 STF).
4.3.Imunidades parlamentares
 
A Constituição Federal outorga aos membros do Congresso Nacional algumas prerrogativas (incluindo as imunidades), visando assegurar-lhes a mais ampla liberdade de palavra, no exercício de suas funções, protegendo o Poder Legislativo contra abusos e violações por parte do outros poderes (Executivo e Judiciário). São duas as espécies de imunidades absoluta (de natureza material ou substantiva) e relativa (de natureza formal ou processual). 
Imunidade absoluta – No que se refere à crimes de opinião, a impunidade dos parlamentares é absoluta, pois eles são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos (CF, art. 53, caput). Entende-se por crime de opinião (ou crimes da palavra), os delitos contra a honra: calúnia, difamação e injúria (CP, arts. 138 a 140), de incitação ao crime (CP, art. 286), de apologia de crime ou criminoso (CP, art. 287) etc. 
Distinção: Na imunidade parlamentar (absoluta) as referidas condutas não constituem crimes; na imunidadediplomática, os delitos não são excluídos, apenas há um deferimento para que sua apreciação seja feita posteriormente em outro país. 
Segundo entendimento do Prof. Julio Mirabete, a imunidade absoluta é irrenunciável, posto que é inerente ao mandato, não se podendo instaurar inquérito policial ou ação penal mesmo que haja autorização do parlamentar. Trata-se de instituto que visa preservar não a pessoa do parlamentar, mas o próprio regime representativo, possibilitando a ação livre e independente do Parlamento. Entretanto, a imunidade parlamentar não se estende ao co-réu que não tenha esta prerrogativa (STF, Súmula 245). O período coberto pela imunidade absoluta inicia-se com a expedição do diploma do Deputado ou Senador e se encerra com o término do mandato. 
Imunidade relativa – No que se refere aos demais delitos, a imunidade dos parlamentares é relativa, ou seja refere-se à prisão e ao processo. Com a nova redação dada pela Emenda Constitucional n. 35, de 20-12-2001, prevê a Constitucional Federal que desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional (Deputados e Senadores) serão submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal (CF,art.53, parágrafo 1º), mas não poderão ser presos, salvo em flagrante delito por crime inafiancável (CF, art. 53, parágrafo 2º, primeira parte). 
Assim sendo, o parlamentar jamais pode ser preso em flagrante por crime afiançável. Tratando-se de crime inafiançável (racismo, tortura, tráfico de entorpecentes e os hendiondos traçados na Lei 8.072/90), a autoridade policial deve efetuar a prisão em flagrante, comunicando os fatos à Câmara ou Senado, conforme o caso, que, por voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão, podendo, assim, determinar ou não a soltura do parlamentar (CF, art. 53, parágrafo 2º, Segunda parte). 
Após o recebimento da denúncia contra o Senador ou Deputado, por crime ocorrido após diplomação, o respectivo partido político, pelo voto da maioria de seus membros, tem o direito de solicitar a sustação do processo do processo no Supremo Tribunal Federal (CF, art. 53, parágrafo 3º). A referida sustação do processo suspende a prescrição enquanto durar o mandato (CF, art. 53, parágrafo 5º). 
A Constituição Federal prevê também a imunidade do parlamentar como testemunha. Dessa forma, os Deputados e Senadores não serão obrigados a testemunhar sobre informações recebidas ou prestadas em razão do exercício do mandato, nem sobre as pessoas que lhes confiaram ou deles receberam informações (CF, art. 53, parágrafo 6º). 
Assim, a partir da entrada em vigor da Emenda Constitucional n. 35/2001, de 21-12-2001, os Deputados e Senadores continuam com a imunidade absoluta em relação aos crimes de opinião, porém, quanto aos demais delitos serão submetidos a julgamento pelo Supremo Tribunal Federal, por crimes cometidos antes da diplomação ou durante o mandato, sem a necessidade anterior de prévia licença da respectiva Casa (Câmara ou Senado). 
Imunidade de deputados estaduais e vereadores – A mesma sistemática de imunidade absoluta para os delitos de opinião e imunidade relativa para os delitos comuns, aplica-se também aos Deputados estaduais (CF, art. 27, parágrafo 1º). Os Vereadores são invioláveis por suas opiniões, palavras e votos no exercício do mandato e na circunscrição do Município (CF. art. 29, inciso VIII). 
Outras imunidades – O Estatuto da Advocacia estabeleceu que os advogados têm imunidade penal, de natureza profissional, quando, no exercício da atividade, em juízo ou fora dele, praticarem atos que podem ser classificados como crimes de difamação, injúria ou desacato, sem prejuízo das sanções disciplinares perante a OAB, pelos excessos cometidos (Lei n. 8.906/94, art. 7º, § 2º). Verifica-se, então, mais uma forma de imunidade penal, exigindo como requisito pessoal o de ser advogado e ter praticado o ato quando atacado no exercício da profissão. 
4.4. A extradição 
Extradição é o ato pelo qual uma nação entrega a outra um autor de crime para ser julgado ou punido. A extradição é ativa, em relação do Estado que a solicita e passiva em relação ao Estado que concede.
Entre nós, a extradição passiva é regulada juntamente com as demais definições jurídicas relativas ao estrangeiro no Brasil – (Leis ns. 6.815/80 e 6.964/81). 
Compete ao Supremo Tribunal Federal o julgamento do pedido de extradição solicitada por Estado estrangeiro – (CF, art. 102, inciso I, alínea g). 
5. Disposições Finais Sobre a Aplicação da Lei Penal
5.1.	Eficácia de sentença estrangeira 
O artigo 9º, do Código Penal, dispõe: A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produz na espécie as mesmas conseqüências, pode ser homologada no Brasil para: 
I - 	Obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições e a outros efeitos civis; 
II - 	sujeitá-lo a medida de segurança. 
Parágrafo único - A homologação depende: 
para os efeitos previstos no inciso I, de pedido da parte interessada;
para os outros efeitos, da existência de tratado de extradição com o país de cuja autoridade judiciária emanou a sentença, ou, na falta de tratado, de requisição do Ministro da Justiça.
Sentenças estrangeiras, em regra, não podem ser executadas no Brasil sob pena de violação da soberania e do princípio da territorialidade. Assim, para que a sentença penal estrangeira produza efeitos no Brasil é necessário a sua homologação pelo STJ
O artigo 787 e seguintes do Código de Processo Penal dispõe sobre a homologação das sentenças estrangeiras. 
Compete ao Superior Tribunal Federal a homologação das sentenças estrangeiras – (CF, art. 105, inciso I, alínea i). 
 
5.2. Contagem de prazo 
O artigo 10, do Código Penal, dispõe: O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias, os meses e os anos pelo calendário comum. 
No Direito Penal o dia do começo é incluído no cômputo do prazo, sendo os dias, meses e anos contados pelo calendário comum. 
Nos prazos processuais, ao contrário, não se computa o dia do começo, incluindo-se, porém, o do vencimento – (CPP, art. 798, § 1º). 
Se o CP e o CPP tratarem da mesma matéria, como na decadência (arts. 103 do CP e 38 do CPP), conta-se pelo modo mais favorável ao ré, ou seja, no caso, pelo artigo 10 do CP, incluindo o dia do começo. 
5.3. Frações não computáveis na pena 
O artigo 11, do Código Penal, dispõe: Desprezam-se, nas penas privativas de liberdade e nas restritivas de direito, as frações de dia, e, na pena de multa as frações de cruzeiro. 
De acordo com o dispositivo legal, não se aplica, por exemplo, pena de 20 dias e 8 horas, mas 20 dias. Também são desprezadas nas penas de multa, as frações de real (atual moeda brasileira). 
5.4. Legislação especial 
O artigo 12, do Código Penal, dispõe: As regras gerais deste Código aplicam-se aos fatos incriminados por lei especial, se esta não dispuser de modo diverso. 
De acordo com o dispositivo legal, as regras gerais do Código Penal, ou seja, aquelas previstas na Parte Geral e em alguns dispositivos da Parte Especial (como por exemplo, artigo 327, que se refere ao conceito de funcionário público), aplicam-se aos fatos incriminados por lei especial, se esta não dispuser de modo diverso. 
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DIREITO PENAL II - PARTE GERAL 
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DO CRIME
 Conceitos de Crime
O ilícito penal pode ser definido sob três aspectos diversos, obtendo-se assim o conceito legal, material e formal?
1.1. Conceito legal
O conceito legal de crime é dado pela lei de Introdução do Código Penal, Decreto-Lei nº 3.914/91 que, in verbis: Considera-se crime a infração penal a que a lei comina pena de reclusão ou detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de nulta – (LICP, art. 1º). 
1.2. Conceito material 
O conceito material tem em vista o bem protegido

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