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Contrato de Depósito Conceito e Características Conforme regramento do art. 627, CPC: ´´pelo contrato de depósito recebe o depositário um objeto móvel, para guardar, até que o depositante o reclame. Deste modo, nota-se, desde logo, as partes, isto é, de um lado temos o depositante (aquele que deposita/entrega o objeto) e o depositário (aquele que guarda/recebe o objeto). A principal característica do depósito reside na sua finalidade, isto é, a guarda de coisa alheia. É o ponto que o difere do comodato, visto que o comodatário recebe a coisa para seu uso. No depósito, entretanto, não pode o depositário dela utilizar “sem licença expressa do depositante” (CC, art. 640). Se “o depositário, devidamente autorizado, confiar a coisa em depósito a terceiro, será responsável se agiu com culpa na escolha deste” (parágrafo único). Constituem elementos essenciais do contrato de depósito a entrega da coisa pelo depositante ao depositário, a natureza móvel do bem depositado, a entrega da coisa para o fim de ser guardada, a restituição da coisa quando reclamada pelo depositante e, por fim, a gratuidade do depósito, porém, a estipulação de uma gratificação a favor do depositário, como permitida pelo parágrafo único do citado art. 265, não o invalida. Ao conferir a exigência da entrega da coisa ao depositário pelo depositante, nota-se sua natureza de contrato real , haja vista a necessidade a tradição para o aperfeiçoamento do contrato. Natureza Jurídica O contrato de depósito é, em regra unilateral, isto é apenas obriga o depositário a guardar e posteriormente restituir o bem, entretanto, como foi visto anteriormente, será permitida a estipulação de gratificação em favor ao beneficiário, conforme regramento do parágrafo único do artigo 265 do Código Civil. Ademais, o contrato de depósito é gratuito em regra, , no entanto, conforme regramento do art.628, CC:´´ O contrato de depósito é gratuito, exceto se houver convenção em contrário, se resultante de atividade negocial ou se o depositário o praticar por profissão.´´ Outrossim, destaca-se sua característica de se manifestar como um contrato real por se efetivar com a entrega do bem móvel, exceto nos casos em que o depositário já se encontrava na posse do bem. O deposito também será temporário e ´´intuitu personae´´, isto é, decorre da confiança que o depositante tem no depositário. Essa característica, com o crescimento e evolução dos negócios e a diversidade das relações jurídicas, encontra-se hoje bastante atenuada, sendo comum os proprietários confiarem os seus bens a pessoas ou empresas que pouco conhecem. Espécies de Depósito Depósito Voluntário 3.1.1. Conceito e Características Conforme dita Carlos Roberto Gonçalves: ´´O depósito voluntário resulta de acordo de vontades (CC, arts. 627 a 646). É livremente ajustado pelas partes, segundo o princípio da autonomia da vontade. Caracteriza-se, portanto, pelo consenso espontâneo.´´ . No que diz respeito aos requisitos formais, a lei impõe a necessidade de forma escrita como meio de prova do depósito, conforme disposição do art. 646, CC “o depósito voluntário provar-se-á por escrito”. No entanto, em suma, o depósito necessário não exige para seu aperfeiçoamento, uma forma especial, apenas faz-se mister o instrumento probatório como característica de formalidade. 3.2. Natureza Jurídica Como pôde se observar, o contrato de depósito é não solene, haja vista a ausência de formalidade legal para que se aperfeiçoe. No que diz respeito a gratuidade ou onerosidade, o contrato de depósito pode ser gratuito ou oneroso. Embora a lei o presuma como gratuito, com o crescimento das relações comercias e industriais, há o surgimento em demasia da celebração de contratos de depósito em que o depositante proporciona remuneração ao depositário, desta vista, sendo gratuito ou oneroso, sua natureza jurídica também será alterada no que diz respeito a unilateralidade ou bilateralidade do contrato que conforme pronuncia Carlos Roberto Gonçalves ´´ Quando pago, o contrato é bilateral ou sinalagmático, uma vez que ao dever de guarda se contrapõe a remuneração; sendo gratuito, é unilateral, pois se aperfeiçoa com a entrega da coisa, após a qual restarão obrigações só para o depositário´´. Vale ressaltar também que durante o decurso de tempo em que a coisa estiver em posse do depositário podem surgir obrigações para o depositante, como a de pagar ao depositário as despesas feitas com a coisa (CC, art. 643), no entanto, tal contrato será regido pelo regime de contratos unilaterais, já que as contraprestações nascem de fato eventual, não sendo consequência necessária de sua celebração. Ademais, o referido contrato é também real, vista que se perfaz com a efetiva entrega da coisa. Depósito necessário Compreende-se por depósito necessário aquele em que o depositante, por imposição legal ou circunstância imperiosa, efetua o depósito com terceiro escolhido eventualmente, não escolhido livremente. Neste caso, não há o que se falar em ´´intuit personae´´, pois este não se funda na confiança, mas, sim através de exigência legal ou circunstância que o exija, que conforme regramento do art. 647 do Código Civil: “É depósito necessário: I - o que se faz em desempenho de obrigação legal; II - o que se efetua por ocasião de alguma calamidade, como o incêndio, a inundação, o naufrágio ou o saque´´. 4.1. Espécies de Depósito necessário 4.1.1. Depósito Legal Entende-se por depósito legal aquele que decorre da imputação de obrigação imposta pela lei. À título de exemplo manifesta-se o que deve ser feito pelo administrador dos bens do depositário que se tenha tornado incapaz que conforme regramento do artigo 641, CC ´´ Se o depositário se tornar incapaz, a pessoa que lhe assumir a administração dos bens diligenciará imediatamente restituir a coisa depositada e, não querendo ou não podendo o depositante recebê-la, recolhê-la-á ao Depósito Público ou promoverá nomeação de outro depositário.´´ 4.1.2. Depósito miserável Define-se por depósito miserável a modalidade em que a coisa é entregue por motivo de circunstâncias imperiosas, com os acontecimentos de naufrágios, incêndios ou qualquer fato de calamidade pública. Neste caso, o depositário se dispõe a prestar um serviço ao depositante e, por conseguinte, este não se presume gratuito. 4.1.3. Depósito do hospedeiro Tal depósito refere-se àqueles realizados por hoteleiros ou hospedeiros tendo por objeto as bagagens dos viajantes ou hóspedes, vale-se ressaltar que tal dispositivo estende-se aos internatos, colégios e outros locais que ofereçam acomodação. Conforme regramento do art. 648, CC ´´ Os hospedeiros responderão como depositários, assim como pelos furtos e roubos que perpetrarem as pessoas empregadas ou admitidas nos seus estabelecimentos´´. No entanto, cessará a responsabilidade caso fique comprovado que os ´´atos prejudiciais aos hóspedes não podiam ser evitados´´ (CC, art., 650), como nos casos em que houver culpa dos hóspedes e/ou caso fortuito ou força maior . Obrigações do depositante No que diz respeito as obrigações das partes no contrato de depósito, poderá haver distinções no sentido das alterações de sua natureza jurídica. Sendo o depósito oneroso e, portanto, bilateral, constituirá obrigação ao depositante de pagar ao depositário a remuneração convencionada. Por outro lado, o contrato de depósito é gratuito e unilateral em regra e, assim sendo, aperfeiçoa-se com a mera entrega da coisa, gerando obrigações apenas ao depositário. Neste caso, por conseguinte poderá haver eventuais obrigações do depositante que decorrerão de fatos posteriores a sua formação. São eles: 5.1. Obrigação de reembolsar as despesas feitas pelo depositário Responderá o depositante pelas despesas feitas pelo depositário com o depósito, sendo elas necessárias e contratualmente, pelas úteis ou necessáriasque houver autorizado. 5.2. Obrigação de reembolsar os prejuízos advindos do depósito Ademais o depositante deverá indenizar o depositário pelos prejuízos que lhe tocarem através do depósito, como nos casos em que os vícios ou defeitos da coisa se estendam aos bens do depositário. O art. 644 do Código Civil assegura ao depositário o direito de retenção, como meio direto de defesa para forçar o devedor a efetuar o pagamento da retribuição devida e das despesas e indenizações mencionadas. Obrigações do depositário As obrigações do depositário consistem estas em guardar a coisa, conservá-la e em restituí-la. Por compreender que a guarda da coisa alheia é a principal finalidade deste contrato, deverá o depositário cuidar e zelar desta como se sua fosse, podendo confiá-la, por questões de segurança maior, a outrem, desde que obtida prévia autorização judicial. Outrossim, nota-se que não poderá o depositário servir-se da coisa depositada sem expressa autorização do depositante, visto que a finalidade de tal contrato é a apenas a guarda da coisa. A segunda obrigação é a de conservar a coisa alheia deixada em depósito. A lei impõe ao depositário o dever de zelar pela coisa depositada para, então, restituí-la no estado em que a recebeu, valendo-se ressaltar que responderá por culpa ou dolo, se a coisa perecer ou deteriorar, salvo nos casos de força maior Num terceiro momento, evidencia-se a obrigação de restituir a coisa. Nos casos em que for realizado em benefício do depositante, se faz irrelevante a fixação de prazo para restituição, no entanto, ainda que o contrato estipule, poderá o depositante reclamá-lo mesmo antes de seu vencimento. No entanto, o depositário não se obrigará a restituir a coisa em seu domínio, nos casos em que este esteja utilizando de seu direito de retenção, se tiver sido judicialmente embargado o objeto, se sobre ele pender execução, se houver motivo razoável de suspeitar que a coisa foi dolosamente obtida. Depositário infiel A CF/88 veta a prisão por divida civil, mas ressalva dois casos: ´´ a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel” (art. 5, LXVII, CF/88), consoante com ao art. 652, CC ´´ seja o depósito voluntário ou necessário, o depositário que não o restituir quando exigido será compelido a fazê-lo mediante prisão não excedente a um ano, e ressarcir os prejuízos”. No entanto, decidiu o STF num primeiro instante que a Convenção Americana sobre os Direitos Humanos CADH ratificada pelo Brasil em 1992 conhecida como Pacto de São José da Costa Rica que profere que ninguém deve ser detido por dívidas. Num segundo momento a Suprema Corte proferiu decisão no sentido de que se manteria a prisão do depositário infiel nos casos que se tratar de alienação fiduciária, alegando que as premissas do Pacto de São José da Costa Rica não poderiam se opor a permissão contida no art. 5 LXVII. Entretanto, em dezembro de 2008 o STF negou provimento ao RE 466.343-SP, oriundo de uma ação concernente a um contrato de alienação fiduciária. Tal decisão, pôs, de uma vez por todas, fim à prisão civil do depositário infiel, seja nas hipóteses de contrato ou depósito de alienação fiduciária