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2 DIDÁTICA NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jd. Aclimação Cep 87050-900 - Maringá - Paraná - Brasil www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; MENDONÇA, Camila Tecla Mortean; CORDEIRO, Suzi Maria Nunes. Didática. Camila Tecla Mortean Mendonça; Suzi Maria Nunes Cordeiro. Maringá - PR.:Unicesumar, 2019. 192 p. “Graduação em Educação Física - EaD”. 1. Didática. 2. Tendências Pedagógicas. 3. Avaliação. 4. EaD. I. Título. ISBN 978-85-459-1840-0 CDD - 22ª Ed. 371.3 CIP - NBR 12899 - AACR/2 Ficha Catalográica Elaborada pelo Bibliotecário João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828 Impresso por: DIREÇÃO UNICESUMAR Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin, Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi. NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes, Tiago Stachon, Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho, Diretoria de Permanência Leonardo Spaine, Diretoria de Design Educacional Débora Leite, Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho, Head de Curadoria e Inovação Tania Cristiane Yoshie Fukushima, Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia, Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey, Gerência de Processos Acadêmicos Taessa Penha Shiraishi Vieira, Supervisão de Produção de Conteúdo Nádila Toledo. Coordenador(a) de Conteúdo Mara Cecilia Rafael Lopes, Projeto Gráico José Jhonny Coelho, Editoração Humberto Garcia da Silva, Designer Educacional Patrícia Ramos Peteck, Revisão Textual Lorena Martins, Ilustração Ilustrador, Fotos Shutterstock. Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos com princípios éticos e proissionalismo, não somente para oferecer uma educação de qualidade, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo- nos em 4 pilares: intelectual, proissional, emocional e espiritual. Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos educadores soluções inteligentes para as necessidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter pelo menos três virtudes: inovação, coragem e compromisso com a qualidade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia, metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância. Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando proissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. Vamos juntos! Wilson Matos da Silva Reitor da Unicesumar boas-vindas Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à Comunidade do Conhecimento. Essa é a característica principal pela qual a Unicesumar tem sido conhecida pelos nossos alunos, professores e pela nossa sociedade. Porém, é importante destacar aqui que não estamos falando mais daquele conhecimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas de um conhecimento dinâmico, renovável em minutos, atemporal, global, democratizado, transformado pelas tecnologias digitais e virtuais. De fato, as tecnologias de informação e comunicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, informações, da educação por meio da conectividade via internet, do acesso wireless em diferentes lugares e da mobilidade dos celulares. As redes sociais, os sites, blogs e os tablets aceleraram a informação e a produção do conhecimento, que não reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos em segundos. A apropriação dessa nova forma de conhecer transformou-se hoje em um dos principais fatores de agregação de valor, de superação das desigualdades, propagação de trabalho qualiicado e de bem-estar. Logo, como agente social, convido você a saber cada vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar a tecnologia que temos e que está disponível. Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg modiicou toda uma cultura e forma de conhecer, as tecnologias atuais e suas novas ferramentas, equipamentos e aplicações estão mudando a nossa cultura e transformando a todos nós. Então, priorizar o conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância (EAD), signiica possibilitar o contato com ambientes cativantes, ricos em informações e interatividade. É um processo desaiador, que ao mesmo tempo abrirá as portas para melhores oportunidades. Como já disse Sócrates, “a vida sem desaios não vale a pena ser vivida”. É isso que a EAD da Unicesumar se propõe a fazer. Willian V. K. de Matos Silva Pró-Reitor da Unicesumar EaD Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou proissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desaios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, contribuindo no processo educacional, complementando sua formação profissional, desenvolvendo competências e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessários para a sua formação pessoal e proissional. Portanto, nossa distância nesse processo de crescimento e construção do conhecimento deve ser apenas geográica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das discussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória acadêmica. boas-vindas Débora do Nascimento Leite Diretoria de Design Educacional Janes Fidélis Tomelin Pró-Reitor de Ensino de EAD Kátia Solange Coelho Diretoria de Graduação e Pós-graduação Leonardo Spaine Diretoria de Permanência apresentação do material DIDÁTICA Caro(a) aluno(a), é com muita satisfação que apresentamos a leitura da presente obra, intitulada “Didática”. O estudo da Didática se faz presente em todos os cursos de licenciaturae alguns cursos de bacharelado, tendo em vista seu caráter formativo para a prática pedagógica e a necessidade de se pensar e estudar os procedimentos de ensino, que são inerentes à proissão docente. Nesse contexto, lhe convidamos para uma leitura que propõe os objetivos de conhecer e reletir sobre o processo de ensino e de aprendizagem historicamente construído; compreender como o processo de ensino se dá desde o século XIX até os dias atuais e como a escola, instituição sistematizada, organiza e gere os processos de ensino e de aprendizagem. Também são objetivos a relexão e proposição de modelos ou sugestões de métodos, metodologias e recursos que visam auxiliar o professor em sua prática pedagógica diária e a relexão sobre como a avaliação escolar deve seguir a meto- dologia adotado pelo professor e levar o aluno a construção das suas competências e habilidades. Atendendo a essas inalidades, a Unidade I, intitulada “Fundamentos históri- cos e ilosóicos da Didática”, leva ao conhecimento da origem da Didática e sua construção histórica a partir de seu criador João Amós Comênio, intelectual e teólogo que, no inal do século XVII, produziu uma das obras mais importantes para a educação, a Didática Magna. Também se farão relevantes o conhecimento do Ratio Studiorum e dos métodos de ensino aplicados no Brasil desde os meados do século XVI. A Unidade II, intitulada “Tendências pedagógicas”, aborda os estudos per- tinentes às teorias educacionais que fundamentaram o processo de ensino e de aprendizagem desde o inal do século XIX no Brasil. Para isso, as tendências são descritas levando em consideração o contexto histórico; o papel da escola, do professor e dos alunos; os conteúdos; os métodos e a aprendizagem. A discussão se encerra pela contextualização da didática na contemporaneidade e sua utilização nos ambientes não formais de aprendizagem. A Unidade III, intitulada “Planejamento de ensino”, mostra como se constituem os planejamentos em ambiente escolar e ambientes não formais de aprendizagem, desde as ações macro até as ações micro, a im de proporcionar uma visão linear dos encaminhamentos pedagógicos que começam a nível nacional, por meio de documentos da Educação que embasam os currículos escolares de todo o país, passando por documentos regionais até chegar ao nível institucional e, inalmente, ao professor que colocará em prática seu plano de aula. Para isso, veremos que todo planejamento envolve pesquisa e organização docente. A Unidade IV, intitulada “Execução do planejamento”, fornece elementos que proporcionam o conhecimento das práxis pedagógicas que norteiam os métodos de ação das atividades estabelecidas no planejamento, a im de compreender os procedimentos de ensino que aliam estratégias e técnicas eicientes e eicazes para um ensino de qualidade e uma aprendizagem signiicativa. Finaliza-se com a re- lexão sobre as competências e as habilidades necessárias para o professor, bem como a postura adequada ao proissional. Por im, a Unidade V, intitulada “Avaliação do processo de ensino e de apren- dizagem”, apresenta o conceito de avaliação e como ela foi vista no decorrer de todas as tendências pedagógicas até chegar à concepção de avaliação que pos- suímos atualmente. Também realizaremos discussões em torno dos modelos de avaliação que são utilizados e a importância que tem a utilização da avaliação de forma consciente, com inalidade pedagógica, possibilitando que o professor repense sua prática pedagógica e que os alunos concretizem os conhecimentos que foram adquiridos. Esperamos que você aprecie as reflexões propostas nesta obra e as aproveite ao máximo, enriquecendo os seus conhecimentos e utilizando-os em suas práticas pedagógicas, contribuindo, assim, para que a educação ganhe novos rumos com a formação de sujeitos críticos e conscientes. Esperamos também que você amplie os seus conhecimentos sobre a temática por meio da pesquisa, e não tome esta obra como sua única fonte de saberes. Vamos lá? INTRODUÇÃO Olá, caro(a) aluno(a)! Dando início aos estudos sobre a Didática, discutiremos, nesta unidade, seu nascimento. Para isso, percorreremos um caminho de conhecimento sobre seu criador, o intelectual, ilósofo e teólogo João Amós Comênio. Depois, co- nheceremos sua maior obra para a educação institucional, intitulada Didática Magna. Continuaremos nossos estudos pela construção histórica da Didática no Bra- sil, iniciando com a educação Jesuíta e a sua obra didático-pedagógica, o Ratio Studiorum. Destacaremos, também, mais três métodos utilizados no Brasil no processo de ensino e de aprendizagem: o método individual, o método simultâ- neo e o método Lancaster. O surgimento da Didática está atrelado à gênese da educação institucional, no decorrer da construção da sociedade, das ciências e da produção, como uma atividade que possui intencionalidade, planejamento e é dedicada à instrução das pessoas (LIBÂNEO, 1994). Desde os primeiros tempos há indícios de formas rudimentares de aprendi- zagem, no entanto ainda não havia didática como forma de organização e estru- tura do ensino. Na Antiguidade Clássica e no Período Medieval também havia presença de ações pedagógicas nos mosteiros, igrejas e universidades, porém só podemos tratar de Didática após meados do século XVII, quando se concretizou como uma teoria do processo de ensino, que sistematize o ensino e as formas de ensinar (LIBÂNEO, 1994). O termo Didática aparece quando há a intervenção de adultos no proces- so de aprendizagem das crianças e jovens, por meio de uma ação intencional e planejada. A escola, assim, se institucionaliza, e o processo de ensino se torna sistematizado, levando em consideração o ritmo dos alunos e a assi- milação dos conteúdos. Nesse sentido, nosso objetivo nesta unidade, caro(a) aluno(a), é que você compreenda a Didática como uma teoria que investiga o processo de ensino, que faz parte do fazer diário do professor. Convidamos você a iniciar a leitu- ra desta unidade e se deleitar com a compreensão destes conceitos, que são fundamentais para a construção de uma prática pedagógica consistente. EDUCAÇÃO FÍSICA 15 em que os alunos eram forçados a estudar de forma desordenada e distante da realidade. Aos 20 anos, cursou ilosoia na Academia de Hebron. Seus estudos o aproximaram da vida espi- ritual e possibilitaram que ele reletisse sobre autores que marcaram profundamente seus pensamentos. Por meio de seu mestre, Alsted, conheceu os pensa- mentos progressistas de Francis Bacon (1561-1626) e Holfgang Ratke (1571-1635), que elaboravam novos métodos valorizando a experiência do aprendiz. Aos 22 anos, João Comênio transferiu-se para o curso de Teologia da Academia de Heildeberg (OLIVEIRA; COSTA, 2012). Após a conclusão da sua formação, retornou para a Morávia, onde desempenhou a fun- ção de pastor e de educador. A GUERRA DOS 30 ANOS Figura 1: Celebração da Paz de Münster Fonte: Wikimedia. Após dois anos trabalhando como pastor e educador na Morávia, João Comênio transferiu-se para Ful- nek, em 1616, onde casou-se com sua primeira es- posa, Madalena Vizovska, com quem teve seus dois primeiros ilhos. No entanto, em 1621, o exército dos espanhóis invadiu a cidade de Fulnek em virtu- de da guerra dos 30 anos, causando a Comênio duas grandes perdas: a primeira se refere aos seus livros e manuscritos e a segunda à sua esposa e ilhos, que morreram vítimas da peste. Comênio se viu obriga- do a reiniciar a sua produção. Devido à guerra dos 30 anos (1618-1648), Comênio precisou abandonar a sua pátria e passou por vários países divulgando as suas ideias. Destaca- mosaqui as localidades de Lezno, Suécia, Londres, Transilvânia, Hungria e Amsterdã. Apesar das dii- culdades que enfrentava, Comênio relacionava-se com os grandes pensadores da sua época (OLIVEI- RA; COSTA, 2012). Na sequência desses acontecimentos, iniciou-se a perseguição contra os morávios, que fugiram para a Polônia e se estabeleceram na cidade de Leszno. Nes- 16 DIDÁTICA se período, Comênio casou-se pela segunda vez com a ilha de um bispo muito conhecido e importante na região, chamada de Dorotéia Cirilo. Em Fulnek, outra tragédia destruiu a cidade e, junto com ela, a casa e a biblioteca de Comênio. No ano de 1648, Dorotéia Cirilo faleceu, deixan- do Comênio e os cinco ilhos na cidade de Leszno. Nesse período, Comênio vivenciou uma situação aguda e foi muito criticado e incompreendido pela comunidade da Morávia. Pobre e doente, seguiu para Holanda, onde se casou pela terceira vez com Johana Gasusová, no ano de 1649. Na cidade de Amsterdã, onde viveu até a sua morte, cresceu no- vamente como educador e reformador social a par- tir de suas ideias progressistas. Em 15 de novembro de 1670, Comênio morre após adoecer gravemen- te. Cercado pela família e por amigos, é enterrado na igreja da pequena cidade de Naarden, onde está construído seu mausoléu. VIDA ACADÊMICA Apesar de sua história, Comênio teve uma vida muito produtiva. Começou sua vida acadêmica destacando-se em Hebron, por volta de 1611, onde se preocupou em escrever um dicionário com ex- pressões elegantes de sua língua materna intitulado Bohemicae hesaurus, ou Tesouro da Língua Boêmia, cujo conteúdo descreve a gramática completa da lín- gua tcheca. Neste mesmo período, destacou-se por defender suas duas teses de doutorado, Problemata Miscela- nia e Syloge Quaestiorum Controversum, que foram grandemente elogiadas por seus mestres. Após um período em Heidel-berg para estudos sobre a Ma- temática e a Astronomia, retornou para a Boêmia. No ano de 1614, Comênio foi designado reitor da escola de Prerov, comunidade Morávia. Nesse pe- ríodo, se destacou e foi notadamente elogiado pela inclusão de atividades ao processo de ensino que anteriormente não eram utilizadas, como conver- sas, músicas e jogos, tornando a escola um espaço agradável. Com isso, eliminou da escola os castigos corporais muito utilizados naquele período. Destacou-se pelo seu brilhantismo como educa- dor, principalmente após a reforma educacional que culminou na implantação de métodos diferenciados para o ensino das disciplinas de Artes e de Ciências. Em 1616, estabeleceu-se em Fulnek, onde atuou como pastor morávio. Em 1623, durante sua estadia em Brandeis, escreveu Labyrint sueta a ráj srdce ou O labirinto do mundo e o paraíso do coração, para consolar os que haviam sobrevivido à guerra, a im de que pudessem encontrar alento em Cristo e não nos bens materiais; foi uma de suas obras de maior valia (LOPES, 2008). Posteriormente foi a Londres, onde foi convi- dado a assumir a Reitoria da Universidade de Har- vard. Negando o convite, viajou para vários países, mas acabou se ixando em Leszno. Em uma ocasião durante passagem pela Suécia, Comênio deparou- -se com René Descartes no castelo de Endegeest. Apesar de se tratar de um breve encontro, acredita- -se que Descartes tenha simpatizado por Comênio, tendo em vista a proximidade do pensamento de ambos com relação ao ensino realizado nas escolas da época. Tanto Comênio quanto Descartes foram intelectuais que desenvolveram métodos e defen- diam a utilização destes para o processo de ensino. Idealizavam uma ciência universal a que todos pu- dessem ter acesso. EDUCAÇÃO FÍSICA 17 No entanto, em um ponto as suas ideias di- vergiam. Descartes acreditava que a ciên- cia deveria ser utilizada com a inalidade exclusivamente humana, desconsiderando os aspectos religiosos. Em contrapartida, Comênio acreditava que a ciência deveria ser ensinada e utilizada como uma forma de aproximar as pessoas de Deus, ou seja, com a inalidade religiosa. Suas obras pedagógicas apareceram so- mente no período de 1630 e 1633: a Didática tcheca, Informatorium Skóly Materké (que se traduz por Guia da Escola Materna); Janua Linguarum Reserata (traduzido por Porta Aberta das Línguas) e a Didática Magna, a obra mais importante para a educação. Esses escritos foram desenvolvidos tanto para pro- fessores quanto para alunos. Aos professores era indicado o aprender a fazer e, a partir dis- so, fundamentar a prática em uma sólida teo- ria; aos alunos era preciso aprender a apren- der (LOPES, 2008). Já em 1642, a im de ajudar a Suécia e me- lhorar o seu estudo do latim, é encomendada a Comênio, pelo Chanceler Oxenstiern, a es- crita da obra Methodus Linguarum Novíssima ou Novíssimo Método das Línguas, publicada em 1947. Essa é a principal obra sobre os es- tudos dos idiomas escrita por Comênio, que possuía uma grande preocupação com os es- tudos comparativos das línguas, chegando a traçar regras para a tradução de textos (LO- PES, 2008). Figura 2: Retrato de René Descartes Fonte: Wikimedia. EDUCAÇÃO FÍSICA 19 Nesse período ocorreram intensas mudanças na forma de produção e no desenvolvimento da ci- ência e da cultura. O clero e a nobreza diminuíam enquanto o poder da burguesia aumentava. Assim, na medida em que a burguesia se fortalecia como classe social, disputava o poder econômico e polí- tico com a nobreza. No mesmo ritmo crescia a ne- cessidade de um ensino que fosse ligado às exigên- cias do mundo da produção e dos negócios, ou seja, um ensino que contemplasse o desenvolvimento da capacidade e dos interesses dos indivíduos (LIBÂ- NEO, 1994). Para Ahlert (2002) a Didática Magna se apresen- ta como uma proposta pedagógica para o processo de ensino e de aprendizagem no período de transi- ção entre a Idade Média e o início da Modernidade. Comênio considerava a educação um instrumento necessário às transformações sociais tão urgentes no período turbulento e conlituoso no qual viveu. Nes- se sentido, a educação era o caminho para se chegar à libertação e salvação de todos. Comenius foi o fundador da didática e, em par- te, da pedagogia moderna. Mas foi, ainda, um pensador, um místico, um reformador social, personalidade extraordinária, em suma. Seu nome igura ao nível dos de Rousseau, Pestalo- zzi e Froebel, isto é, dos maiores da educação e da pedagogia (COVELLO, 1991, p. 9). A Didática Magna, ou O Tratado de Ensinar Tudo a Todos, assunto do nosso próximo tópico, é uma das obras mais importantes para a educação ins- titucional, tendo em vista seu caráter pioneiro no processo de democratização da escola. Retomar a obra de Comênio signiica resgatar a utopia de uma educação para todos, em que as mulheres e os me- nos favorecidos socialmente são incluídos. Signii- ca uma possibilidade de educação que considere a multiculturalidade, “expressa no seu esforço em ga- rantir os conteúdos universais na língua e contexto cultural onde o ser humano está inserido. Comênio via a cultura, o seu símbolo maior, como uma força libertadora para as nações oprimidas” (AHLERT, 2002, p. 450). 20 DIDÁTICA A Didática Magna, ou O Tratado de Ensinar Tudo a Todos, deine didática como: O processo seguro e excelente de instituir, em todas as comunidades de qualquer Rei- no cristão, cidades e aldeias, escolas tais que toda a juventude de um e de outro sexo, sem excetuar ninguém em siveiarte alguma, possa ser formada nos estudos, educada nos bons costumes, impregnada de piedade, e, desta maneira,possa ser, nos anos da puberdade, instruída em tudo o que diz respeito a vida presente e à futura, com economia de tempo e de fadiga, com agrado e com solidez (COMÊ- NIO, 2001, p. 11). A Didática Magna escrita por Comênio (2001) se destaca como uma das obras mais importantes da história da educação, consagrando seu autor como criador da didática moderna e um dos intelectuais mais importantes do século XVII. Comênio conce- bia o homem tanto pelo seu lado humano quanto espiritual, tanto que faz uma proposta pedagógica que envolve ambos e que é referência nos estudos do processo de ensino, ou seja, da Didática. Por ter estudado em uma escola muito rígida, cheia de regras e com castigos violentos aplicados às crianças, Comênio foi capaz de perceber os vários defeitos que caracterizavam o método aplicado em A Didática Magna EDUCAÇÃO FÍSICA 21 seu tempo. Nesse sentido, “seu ideal era ensinar a criança de maneira que sua chegada na fase adulta atingisse na plenitude de suas capacidades todo o conhecimento e sociabilidade” (BIASSETI, 2017, p. 8). Seu objetivo era que os indivíduos aprendessem para a vida, de forma que conseguissem se inserir na sociedade e fossem capazes de cumprir os seus deveres sociais. Eles aprenderão, não para a escola, mas para a vida, de forma que os jovens tornem-se enérgi- cos, prontos para tudo, diligentes e merecedo- res da atribuição de qualquer um dos deveres da vida, e ainda mais, se tiverem acrescentado à virtude uma conversação suave, e tudo tive- rem coroado com o temor e o amor de Deus. Tornar-se-ão capazes de expressão e eloquência (COMÊNIO, 2001, p. 200). A escola, nesse contexto, deveria ser um lugar tran- quilo, de convivência e trabalho em equipe. Os alunos teriam a oportunidade de se expressar, de se relacionar socialmente, de aprender de forma agradável, em um processo de transformação dos alunos em seres humanos, iniciado no nascimento e continuado dentro da escola. “Os livros de textos deveriam ser padronizados e cada aluno deveria ter o seu próprio livro. Também, cada classe deveria ter um texto contendo todo o conteúdo de cada aula” (BIASSETI, 2017, p. 9). A educação pansóica ou a sabedoria universal defendida por Comênio se traduz no seu ideário de se ensinar tudo a todos, necessidade atribuída a sua crença em Deus, em sua ininita bondade. Assim, a educação pansóica se constituiu em uma organiza- ção do saber, em um projeto educativo ou um ideal de vida imaginado por Comênio. O pensador organizou a didática em quatro ní- veis: escola materna – de 0 a 6 anos; escola vernácula – de 7 a 12 anos; escola latina – de 13 a 18 anos; e universidades e viagens a partir dos 19 anos. Trate- mos de tais níveis com mais atenção: Escola materna – de 0 a 6 anos. É o lar, conside- rada a primeira escola da criança. Nesse período as crianças deveriam ter o convívio familiar e aprender a partir de suas próprias observações. Além disso, as funções especíicas também deveriam ser ensinadas, como a sociabilidade, a percepção e a religião, a par- tir do interesse das crianças dessa idade. Comênio era a favor dos contos de fadas, dos jogos, das ativi- dades manuais, da música, do humor e das fábulas (BIASSETI, 2017). 22 DIDÁTICA Escola vernácula – de 7 a 12 anos. Comênio acredi- tava que as crianças nesse período deveriam apren- der todas juntas, de forma que a educação deveria ser básica e completa, aquela necessária para a vida de todos nós. A língua vernácula, ou seja, o idio- ma puro, tanto na linguagem oral quanto na escri- ta, sem utilização de palavras estrangeiras, deveria ser ensinado antes do latim. As crianças deveriam treinar os sentidos, a memória e a imaginação, de- senvolvendo-se cognitivamente. Biasseti (2017, p. 10) destaca que as aulas deveriam incluir “Leitura, Escrita, Aritmética prática, Canto, Religião, Moral, Economia e Política, História geral, Cosmograia e as Artes mecânicas”. Escola latina – de 13 a 18 anos. Deveria ser desti- nada a desenvolver, nos meninos, a formação para alcançar os graus mais elevados do saber, indepen- dente da sua condição social. Esta escola iria treinar os alunos a compreender e julgar as informações adquiridas pelos sentidos, que seriam desenvolvidos na escola vernácula. Para isso seriam ensinadas as seguintes disci- plinas: Lógica, Gramática, Retórica, Ciências e Artes, para que as mais elevadas faculdades do espírito fossem exercitadas. Quatro línguas deveriam ser aprendidas: o vernáculo, o latim, o grego e o hebraico. Nesses seis anos de escola latina as matérias seriam divididas: Gramática, Filosoia natural, Matemática, Ética, Dialética e Retórica (BIASSETI, 2017, p. 10). EDUCAÇÃO FÍSICA 23 Universidades e Viagens – a partir dos 19 anos. Indicaria o mais alto nível de educação, seria so- mente para os alunos mais dedicados e com alto caráter moral. O ingresso nesse nível seria realiza- do por meio de exame público para avaliação dos alunos (BIASSETI, 2017). Uma função da univer- sidade seria a pesquisa e as viagens seriam para coleta de informações sobre a natureza humana e suas instituições. Comênio também baseou seus métodos em uma teoria da vida mental e do desenvolvimen- to infantil. Observou cuidadosamente o desen- volvimento das plantas e animais, a execução de artes manuais e artesanato e os interesses espontâneos das crianças. Compreendia que a verdadeira base da ciência educacional deveria ser o crescimento natural da criança, e seguin- do este caminho, deveria se basear o método de ensino neste princípio de sucessão natural (BIASSETI, 2017, p. 11). Comênio defendia que a escola era fundamental para a educação dos homens, por isso a sua máxima “ensinar tudo e todos”. Para ele, dar acesso ao conhe- cimento a todos permitiria que o homem pudesse se colocar como agente do seu desenvolvimento, ou seja, como ator e não como mero espectador. Nesse sentido, caro(a) aluno(a), a educação de Comê- nio tinha como objetivo formar bons cristãos, assim, os homens seriam capazes de praticar boas ações a todos, sem distinção. Sua teoria possuía consistência e apresentava uma boa articulação entre suas diversas dimensões: religiosa, ilosóica, educacional e social, mas isso não foi o suiciente para ser reconhecido, no período em que viveu, pelos seus ideais inovadores. Acreditamos que seja por sua trajetória de vida e pelo momento histórico e social em que viveu. Para Comênio (2001) a Didática é, ao mesmo tem- po, um processo e um tratado; consiste tanto em um ato de ensinar como na arte de ensinar. É uma ação su- blime, pois forma seres humanos, envolve professor e aluno, tornando ambos diferentes do que eram antes. Nesse contexto, ensinar supõe que há conteúdos a serem ensinados, sejam eles de natureza moral, instrucional ou sobre a religião. Esses conhecimen- tos também dão base para a exploração e o conhe- cimento de nós próprios, assim, essa natureza que deve ser explorada é a natureza social, ou seja, os conteúdos historicamente acumulados. Comênio também defendia a educação escolar das crianças pequenas, pois, assim, elas poderiam ter acesso, desde cedo, às noções das ciências básicas que viriam a estudar mais tarde. Ele acreditava que a aprendizagem iniciava pelo treino dos sentidos, pois as impressões das experiências vivenciadas com os objetos seriam internalizadas e mais tarde interpre- tadas pela consciência racional. Você acredita que a máxima de Comênio, “en- sinar tudo a todos”, ainda se faz necessária nos dias atuais? REFLITA EDUCAÇÃO FÍSICA 271549. Trouxeram junto a eles um plano de estudos, elaborado por Inácio de Loyola e vigorado em 1552. Esse documento padronizava a educação em todas as instituições da Companhia de Jesus, apresentan- do métodos de ensino e orientando o professor so- bre como organizar sua aula (FRANCA, 1952). Na Europa, o objetivo dessa educação, ainda vol- tada aos ilhos dos nobres, era proteger o poder da Igreja Católica do protestantismo que se instaurava na época, ameaçando dogmas, costumes e regras já estabelecidos na sociedade. No Brasil, com a cate- quização dos índios, o objetivo era propagar e impor a cultura europeia, sobretudo a portuguesa, a im de que o poder da Igreja Católica também permeasse a nova terra. Mais uma vez, vemos a educação sendo utilizada como forma de poder sobre o povo (SHI- GUNOV NETO; MACIEL, 2008). Mais conhecido como Ratium Studiorum, o Plano de Estudos da Companhia de Jesus desempenha um papel muito importante na educação moderna, papel este que não pode ser diminuído ou menos- prezado. Franca (2017) destaca que, historicamente, esse manual de ensino era utilizado para toda a or- ganização das atividades desenvolvidas em todos os colégios que a Companhia de Jesus fundou e dirigiu no decorrer de aproximadamente dois séculos, em todos os continentes. A Companhia de Jesus, uma ordem consagrada a ensinar pela constituição escrita por seus funda- dores, tinha a missão de exercer os seus ministérios em todo o território que entrasse. Logo depois de instituída, rapidamente multiplicava os seus esta- belecimentos de ensino (FRANCA, 2017). O seu domínio era tamanho que “em 1750, poucos anos antes de sua supressão (1773) por Clemente XIV, a Ordem de Inácio dirigia 578 colégios e 150 semi- nários, ao todo, 728 casas de ensino” (FRANCA, 2017, p. 3). A ordem jesuíta possuía uma organização admi- nistrativa dividida em Províncias e Circunscrições territoriais, ou seja, composta por casas e colégios da ordem, localizados em um território ou em parte dele. Administrando cada província, encontrava-se um Provincial, o qual possuía a função escolher o Prefeito de estudos e das disciplinas, prezar pela formação de bons professores, promover o estudo na Província, vigiar o emprego das normas estabe- lecidas pelo Ratium Studiorum, assim como sugerir mudanças devido as circunstâncias de tempo e lugar especíicas da Província (FRANCA, 2017). O reitor, de acordo com Franca (2017), era a i- gura central do colégio jesuíta. Dentre as suas fun- ções, cabia convocar e presidir a reunião com os professores e as solenidades escolares. Dentro do co- Figura 4: Capa do livro Ratios Studiorum Fonte: Wikimedia Commons. 28 DIDÁTICA légio jesuíta, o reitor é autoridade máxima; fora dela, é subordinado ao Provincial. O prefeito de estudos era o braço direito do reitor, e possuía a função de acompanhar de perto toda a rotina escolar, visitar as aulas e primar pela execução dos regulamentos e dos programas. Se necessário, nomeava-se ainda um prefeito de disciplinas, que possuía a função de auxiliar o prefeito de estudos, principalmente com relação a manter o bom comportamento. Os cursos superiores e secundários eram minu- ciosamente organizados no Ratium Studiorum, de acordo com Franca (2017, p. 65): I – Currículo Teológico. 4 anos. Teologia es- colástica. 4 anos; dois professores, cada qual com 4 horas por semana. Teologia moral. 2 anos. Dois professores com aulas diárias ou um professor com duas horas por dia. Sagrada Escritura. 2 anos com aulas diárias. Hebreu. 1 ano, com duas horas por semana. A revisão de 1832 ao currículo teológico acrescentou, com disciplinas autônomas, o Direito Canônico e a História Eclesiástica, estudada no século XVI, só ocasionalmente. II – Currículo ilosóico. 1o. Ano – Lógica e introdução às ciências; um professor; 2 horas por dia. 2o. Ano – Cosmolo- gia, Psicologia, Física – 2 horas por dia. Mate- mática – 1 hora por dia. 3o. Ano – psicologia, Metafísica, Filosoia Moral – dois professores. Duas horas por dia. III – Currículo Huma- nista. O currículo humanista, corresponde ao moderno curso secundário, abrange, no Ratio, cinco classes: 1 – Retórica. 2 – Humanidades. 3 – Gramática Superior. 4 – Gramática Média. 5 – Gramática Inferior. Essas classes possuíam a característica dos graus, ou estágios de progresso. De acordo com Franca (2017), só poderia ser promovido a um grau supe- rior o aluno que havia adquirido integralmente os conhecimentos. Por esse motivo os currículos eram concluídos, muitas vezes, somente 6 ou 7 anos após o seu início. Franca (2017) apresenta como estava organizada a maior parte do currículo, ou seja, o III – Currículo Humanista: Quadro 1 - Organização do currículo Humanista do Ratium Studiorum Grau Classe Ano 1 Retórica 7 2 Humanidades 6 3 Gramática Superior 5 4 Gramática Média A 4 4 Gramática Média B 3 5 Gramática Inferior A 2 5 Gramática Inferior B 1 Fonte: Franca (2017, p. 7). Na prática, os colégios da Companhia de Jesus não eram instituições de ensino rígidas, sem vida. No entanto, continham um ar conservador e suavemen- te progressista que acompanhava a cultura e as mu- danças sociais. A metodologia do Ratium Studiorum compreen- de processos didáticos com a inalidade do estímulo e a transmissão dos conteúdos. A metodologia apre- sentava lexibilização quanto aos processos de traba- lho, uma vez que o plano de estudos possuía uma va- riedade de métodos e permitia liberdade de escolha. Um ponto chave da didática do Ratium Studiorum é a preleção, ou seja, a indicação de lições antecipadas, que eram indicadas para os alunos estudarem, cujos métodos aplicados variavam de acordo com o nível intelectual dos alunos (TOSHIMA; MONTAGNO- LI; COSTA, 2018, p. 5). EDUCAÇÃO FÍSICA 29 Na pedagogia jesuíta, instrução e educação ca- minhavam juntas. Dessa forma, esse processo não era estritamente religioso, tendo em vista que o ideal da Companhia de Jesus era “proporcionar a realiza- ção plena da natureza humana” (TOSHIMA; MON- TAGNOLI; COSTA, 2018, p. 9). Assim, os jesuítas tiveram êxito na formação de cristãos e de proissio- nais capacitados, e o Ratium Studiorum, mesmo se tratando de um texto escrito no século XVI, merece atenção ainda hoje, tendo em vista que compreen- dê-lo e pensá-lo de forma crítica enriquece nossa postura enquanto docentes. Os jesuítas foram expulsos do Brasil em 1773 pelo Rei Clemente XIV. As causas prováveis de sua supressão versam em duas categorias: questões po- líticas e ideológicas e questões educacionais. Politi- camente e ideologicamente, a Companhia de Jesus havia se tornado um empecilho para os interesses do Estado Moderno; além disso, possuíam um gran- de poder econômico que era cobiçado pela Coroa Portuguesa. No campo educacional, as transforma- ções sociais que decorriam do movimento Iluminis- ta e dos princípios liberais solicitavam um sujeito novo, burguês, e não mais um homem cristão (SHI- GUNOV NETO; MACIEL, 2008). Assim terminou a catequização da Compa- nhia de Jesus no Brasil. No entanto, mesmo após a expulsão, seus métodos e escolas se mantiveram. Atualmente, no Brasil, temos várias escolas e uni- versidades que são mantidas pela Companhia de Jesus e que estão espalhadas por todo o território brasileiro. MÉTODO INDIVIDUAL Outros métodos pedagógicos foram utilizados no Brasil para a educação escolar. Aqui, destacamos o método individual. O método individual consiste na relação entre professor e aluno: o professor atente cada aluno indi- vidualmente, ou seja, o professor chamao aluno e em alguns minutos lhe passa a lição. Ao retornar ao seu lugar, o aluno deveria realizar os exercícios a im de aprender o ensinamento do professor. Nessa época, os estudos realizados eram em torno do ensino da leitura. O methodo individual é aquele que o professor leciona cada menino em si. [...] As vantagens do método individual são o mestre tomar para si, a cada menino, a sua lição respectiva; as suas desvantagens são não se poder praticar n’uma escola, onde haja muitos meninos, porque isso rouba grande parte de tempo (SILVA; ARAN- TES, 2015, p. 17). Esse método de ensino, que é considerado um dos mais antigos, apresenta mais algumas vantagens para o processo de ensino, a saber: o professor co- nhecia o seu aluno de forma a compreender se ha- via disposição para o conhecimento, conhecia o seu caráter, seu gênio, se poderia se tornar bom aluno. A partir deste conhecimento, o professor achava-se habilitado para formar-lhe o coração e dirigir-lhe a inteligência (SILVA; ARANTES, 2015). Algumas desvantagens também poderiam ser vis- tas, como o número de alunos para o professor ensi- nar precisava ser limitado, a disciplina era facilmente dissipada, pois o professor chamava um aluno após o outro para lhe tomar as lições (SILVA; ARANTES, 2015). Conforme exempliicamos na igura a seguir: 30 DIDÁTICA Silva e Arantes (2015) ainda destacam que este era o método utilizado na instrução doméstica, aquela que ocorria em casa, em que as mães ou irmãos que sabiam alguma coisa ensinavam para aqueles que não sabiam nada. Logo em seguida, surge o método Lancaster, que esteve presente na primeira lei sobre a educação no país, a Lei Geral relativa do Ensino Elementar, publicada em 15 de outubro de 1827. MÉTODO LANCASTER O método Lancaster, difundido na Europa no inal do século XVII, chegou ao Brasil somente por vol- ta da década de 1820, momento no qual o gover- no tomou a decisão de implantar o método para o processo de ensino das escolas do Império. Foi cria- do por Joseph Lancaster (1778-1838) em parceria com Andrew Bell (1753-1832). A primeira escola brasileira de ensino mútuo foi criada oicialmente em 1º de março de 1823, e possuía como objetivo a formação de professores, especialmente os militares (MENDONÇA; COSTA, 2015). Figura 5 - Método Individual Fonte: elaborada pelas autoras (2018). Outro método utilizado no Brasil foi o méto- do intuitivo. Este chegou ao Brasil por volta de 1886, por meio da publicação da obra Primeiras lições de coisas, traduzida por Rui Barbosa. O objetivo do método era resolver os pro- blemas educacionais decorrentes da Re- volução Industrial, que se tornaram inei- cientes diante das novas exigências sociais. A Revolução Industrial havia viabilizado a produção de novos materiais e mobiliário escolar, mas a sua utilização dependia da adoção de novos métodos pelos professo- res. Dessa forma, o método intuitivo propi- ciava orientação aos professores por meios de manuais, neste caso a obra Primeiras lições de coisas. Para saber mais sobre este método acesse o artigo: “Primeiras lições de coisas – ma- nual de ensino elementar para uso dos pais e professores”, de autoria de Gladys Mary Teive Auras. Disponível em: <http://www. scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi- d=S0104-40602003000100021>. Fonte: elaborado pelas autoras (2018). SAIBA MAIS EDUCAÇÃO FÍSICA 31 Outorgada, no ano de 1824, a primeira Cons- tituição brasileira, a qual estabelecia a instrução primária gratuita a todos os cidadãos, houve a ne- cessidade de propagar a instrução a todos os cida- dãos brasileiros. Estabelecida essa meta, no dia 22 de agosto de 1825 o governo enviou um aviso mi- nisterial endereçado aos presidentes de províncias, “insistindo na necessidade de propagar escolas pelo método lancasteriano” (CASTANHA, 2012, p. 5). O método de ensino mútuo espalhou-se de tal forma pelo Brasil que até mesmo no início do período republicano ainda era possível encon- trá-lo aplicado em diversos estabelecimentos de ensino – públicos e particulares – não só nas aulas de primeiras letras como, igualmente, em colégios onde funcionavam cursos secundários (NISKIER, 1989, p. 105). Por ser dividido em províncias, o Brasil acabou por adotar formas diferenciadas do método Lancaster. Nesse contexto, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul implantaram, cada um à sua forma, o método Lancaster, tendo em vista que os governos estavam preocupados em apenas criar as escolas e nomear os professores. A iscalização, o treinamento e a eiciência educacional não estavam nos planos dos governos provinciais (MENDON- ÇA; COSTA, 2015). Apesar disso, caro(a) aluno(a), as escolas que adotaram o método Lancaster possuíam algumas características em comum, como a sua estrutura pe- dagógica, os agentes da ação educativa e o mobiliá- rio. A estrutura pedagógica era sempre a mesma: a sala em formato retangular e os alunos organizados todos juntos, a sala não possuía divisão (MENDON- ÇA; COSTA, 2015). Jomard [...] ixou as normas desejáveis para o número de alunos, variando de setenta a mil. Ele indica, por exemplo, para 350 alunos, a necessi- dade de uma sala de 18m de comprimento por 9m de largura. Na Inglaterra e na zona rural fran- cesa, utiliza-se frequentemente um celeiro para a nova escola. Na França, os edifícios religiosos, desocupados após o período revolucionário, são numerosos e respondem perfeitamente às normas desejadas. Esses edifícios acolhem as escolas mútuas (LESAGE, 1999, p. 12). Segue a exempliicação da organização de uma sala de aula do método Lancaster: Figura 6 - Método Lancaster Fonte: as autoras (2018). 32 DIDÁTICA O plano escolar da escola mútua consistia na divi- são dos conteúdos dentro de cada disciplina. Dentro de cada grupo eram estabelecidas as atividades que seriam realizadas. As atividades orais e de leitura eram realizadas em semicírculos espalhados na sala e nos quadros negros. As atividades de matemática eram realizadas nos bancos (MENDONÇA; COS- TA, 2015). Para trazer economia, o mobiliário e os materiais eram utilizados de forma reduzida: os bancos não possuíam encosto e eram produzidos de madeira simples, havia relógios para cronometrar as ativida- des realizadas, estrados elevavam a mesa dos pro- fessores, quadro negro e telégrafos eram utilizados para a comunicação entre os monitores gerais e os monitores particulares (ARAÚJO, 2010). Os agentes da ação educativa eram os professo- res e os alunos monitores, que, diferentemente dos métodos individual e simultâneo, dividiam a res- ponsabilidade. Ao professor cabia orientar os mo- nitores, transmitindo os seus conhecimentos a im de que estes pudessem retransmitir o conhecimento e aplicar o método. Os monitores, os alunos mais fortes, eram as peças essenciais desse método, pois ensinavam os conteúdos diretamente aos demais alunos da sala (MENDONÇA; COSTA, 2015). Figura 7 - Ensino mútuo, Lancaster Fonte: aquarela “Aplicação do método de Lancaster”, de Giovanni Mi- gliara Confalonieri e Pellico. Figura 8 - Mesa de areia Fonte: Revista do Centro de Educação/UFSM. Disponível em: <http:// coralx.ufsm.br/revce/>. Figura 9 - Ensino monitoral - mútuo Fonte: Revista do Centro de Educação/UFSM. Disponível em: <http:// coralx.ufsm.br/revce/>. EDUCAÇÃO FÍSICA 33 O método Lancaster não obteve o desempenho que era esperado. Por esse motivo, novas discus- sões foram travadas. Novos métodos, misturando o método individual e o método Lancaster, foram surgindo ao longo dos séculose estão intimamen- te relacionados à forma como organizamos nossa sala de aula. MÉTODO SIMULTÂNEO O método simultâneo caracteriza uma evolução sig- niicativa no modo de ensinar, pois seu foco está na qualidade e na quantidade de alunos que se pode al- cançar, ao mesmo tempo. O professor, ao invés de realizar o atendimento individual aos alunos, como proposto no método individual, pode atender de trinta a quarenta alunos ao mesmo tempo. Ou seja, os alunos realizam a mesma lição ao mesmo tempo e o professor corrige todos ao mesmo tempo. O método simultâneo consiste em dividir os discípulos em diversas classes ou termos, e fazer seguir em cada classe a mesma lição de leitura, de escrita e de cálculo, passando suces- sivamente de uma a outra classe, e tendo todo o cuidado em que estão empregadas em alguma coisa, aquelas classes, que não assistem neste intervalo (SILVA; ARANTES, 2015, p. 17). Criado por Jean-Baptiste de La Salle, no inal do sé- culo XVII, o método simultâneo possuía como ca- racterística a divisão da turma em classes, levando em consideração a matéria e o grau de desenvolvi- mento dos alunos. O Método simultâneo é coletivo e apresentado a grupos de alunos reunidos em função da matéria a ser estudada, [...] o ensino não se dirige mais a um único aluno, como no modo individual, mas pode atender a cinquenta ou sessenta alunos ao mesmo tempo. Esse ensino [...] comporta em nível de estrutura, três classes sucessivas, a pri- meira é consagrada unicamente a leitura, [...] a segunda destina-se a aprendizagem da escrita, [...] na terceira classe, são abordadas as discipli- nas mais complexas elaboradas: gramática, orto- graia e cálculo (LESAGE, 1999, p. 10-11). O autor recomendava que dentre os alunos fossem escolhidos os que se destacavam, os mais estudiosos. Estes seriam encarregados da vigilância dos demais alunos, ou seja, de “tomar” as lições dos alunos, por meio da repetição do que o mestre havia ensinado. A estes vigilantes também era permitido a repreensão dos alunos que não realizavam os seus deveres e de ensinar, guiando as mãos dos alunos que não conse- guissem escrever. O método simultâneo apresentava maior vanta- gem para o processo de ensino em relação aos méto- dos individual e Lancaster. Neste modelo, o professor poderia ensinar uma quantidade proporcional de alu- nos, dividindo-os em classes segundo o desenvolvi- mento de cada um. Dessa forma, o professor poderia aplicar a toda a classe a mesma lição de leitura, cálculo e escrita. O professor poderia pedir para que um alu- no lesse em voz alta a lição, enquanto os outros acom- panhavam em seus livros, assim o professor poderia transitar de uma classe a outra, sem deixar os alunos ociosos (SILVA; ARANTES, 2015). Exempliicamos as classes do método simultâneo da seguinte forma: 35 considerações inais Prezado(a) aluno(a), chegamos ao inal das discussões sobre os funda-mentos históricos e ilosóicos da Didática. É indispensável pensarmos na forma como os conteúdos desta unidade foram expressos. Iniciamos nossa discussão conhecendo e compreendendo a Didática Magna e o seu criador João Amós Comênio, um intelectual e teólogo que viveu no século XVII, em meio à transição do sistema feudal para o sistema capitalista. Ele se conigura como um dos mais importantes intelectuais do seu período. Partindo de uma experiência pessoal e atenta às mudanças sociais, Comênio propôs uma nova forma de se pensar o processo de aprendizagem nas escolas, a partir da sua obra mais importante para a educação, a Didática Magna. Apesar de ser um homem do seu tempo, Comênio pensou para além dele. Diante disso, suas obras permanecem atuais, servindo de base para as teorias educacionais e norteando o processo de ensino até hoje. As nossas discussões seguiram em torno da compreensão da Didática no Bra- sil, a partir da chegada da Companhia de Jesus para catequizar os índios. Essa é uma importante parte da história do Brasil, tanto com relação ao processo educa- cional quanto ao processo político, pois vemos a educação como uma ferramenta para o processo de dominação. Mesmo após a expulsão dos jesuítas do Brasil, seus métodos pedagógicos permaneceram, no entanto outros também surgiram, como o método individual, método Lancaster e método simultâneo. É importante perceber que, a partir do momento que o adulto passou a inter- ferir no processo de aprendizagem das crianças e dos jovens, surgiu a necessidade de se pensar em métodos para o processo de ensino. Dessa forma, a partir do momento em que o saber é sistematizado, surge a preocupação com o processo de ensino, fazendo emergir intelectuais que propõem, por meio de suas teorias, novas formas de ensinar. Convidamos você a continuar o estudo sobre o processo de ensino, conhe- cendo, na próxima unidade, as tendências pedagógicas que fundamentam o pro- cesso de ensino e de aprendizagem desde o inal do século XIX. Vamos lá? 36 atividades de estudo 1. Estudar a obra Didática Magna de João Amós Comênio, escrita no século XVII, se faz neces- sário ainda nos dias atuais, tendo em vista que reletir sobre a educação e seus aspectos de valorização da infância e da escolarização for- mal, por exemplo, é uma tarefa do homem mo- derno. Nesse contexto, partindo da teoria de Comênio, leia as airmativas e assinale a cor- reta: a) Comênio era um homem do seu tempo, mas que pensava além dele. Por esse mo- tivo, defendia que somente os homens de- veriam ter acesso à escolarização formal. b) Quando era criança, Comênio teve a ex- periência da sua escolarização em uma instituição que valorizava a criança. Foi por esse motivo que ele criou um método, para que todos tivessem acesso à escola. c) Comênio defendia que deveria ser ensi- nado tudo a todos, pois, na época em que viveu, a educação era um privilégio de pou- cos, além de estar sob a guarda da Igreja Católica; d) Comênio defendia que as crianças peque- nas também deveriam frequentar a escola, tendo em vista que a educação empreen- dida pelos pais não era suiciente para a formação do ser humano; e) Comênio defendia que a educação deve- ria ser acessada por todos, tendo em vista que seria por meio da educação que o ho- mem desenvolveria o seu lado racional e intelectual. 2. A educação escolar no Brasil iniciou-se por meio da Companhia de Jesus, os jesuítas, no ano de 1549. A chegada ao país possuía como objetivo a catequização dos índios e a propagação da cultu- ra europeia, além de se constituir como mais uma terra onde o poder da Igreja Católica vigorava. Os jesuítas trouxeram consigo um documento que padronizava a educação em todas as instituições da Companhia de Jesus, o qual se intitula: a) Didática Magna. b) Ratio Studiorum. c) Mundo Ilustrado ou Sensível. d) Novíssimo Método das Línguas. e) Didática Tcheca. 3. A Didática Magna contempla a educação pansó- ica, que se constitui como uma organização do saber, um projeto educativo e um ideal de vida imaginado por Comênio. Nesse contexto, ele organizou a educação em quatro níveis. Leia as airmativas e assinale V para verdadeiro e F para falso, considerando os quatro níveis de educação. ( ) Escola Materna; Escola Vernácula. ( ) Escola Materna; Escola superior. ( ) Escola Latina e Universidade e viagens. ( ) Escola vernácula; Estudos posteriores. ( ) Escola latina; Escola superior. As airmações I, II, III e IV são, respectivamente: a) V, F, V, F, F b) F, V, V, V, F c) V, F, F, V, V d) V, V, F, V, F e) F, F, V, V, V 37 atividades de estudo 4. Foram utilizados no Brasil alguns métodos didá- ticos para a escolarização após a expulsão dos jesuítas, em 1773. A conhecer: o método indivi- dual, o métodomútuo e o método simultâneo. No entanto, foi somente quase um século depois que a instrução primária para todos os cidadãos foi garantida por Lei. Leia as alternativas e assi- nale a que representa o documento que garan- tiu a gratuidade do ensino primário a todos os cidadãos. a) Constituição Federal de 1824. b) Carta Régia. c) Decisão Imperial. d) Lei da Corte Geral. e) Lei 13 de janeiro de 1822. 5. O método Lancaster ou método mútuo chegou ao Brasil por volta de 1820, sendo implantado pelo governo como método para o processo de ensino e de aprendizagem nas escolas do Impé- rio. Todas as províncias do Brasil acabaram por adotar, cada um à sua forma, este método de ensino. Apesar disso, as escolas que adotaram o método apresentavam algumas características em comum. Leia as airmativas e assinale a corre- ta quanto a essas características: I - Estrutura pedagógica. II - Mobiliário. III - Atendimento individualizado. IV - Agentes da ação educativa. Está correto o que se airma em: a) I, II e III, apenas. b) I, III e IV, apenas. c) II, III e IV, apenas. d) I, II e IV, apenas. e) I, II, III e IV. 41 referências AHLERT, A. O mundo de Comênius: entre conlitos e guerras, uma luz para a prática pedagógica. Revista de Ciências Humanas, Florianópolis, n. 32, p. 439- 451, out. 2002. ARAÚJO, J. S. Esboço sobre o surgimento, as carac- terísticas e a implantação do método monitorial/mú- tuo no Brasil do século XIX. Cadernos da Pedagogia, São Carlos, ano 4, v. 4, n. 7, p. 86-95, jan./jun. 2010. Disponível em: <http://www.cadernosdapedagogia. ufscar.br/index.php/cp/article/viewFile/179/105> Acesso em: 19 mar 2019. BIASENTTI, S. 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INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), dando continuidade as nossas discussões sobre a construção histórica da Didática, avançaremos nos estudos do tema e compreenderemos a Didática enquanto um campo de estudo do processo de ensino que, aliando teoria a um conjunto de métodos, recursos e procedimentos, possibilitam ao professor a reali- zação do processo de ensino consistente. O processo de ensino nas instituições educacionais se dá a partir da mediação que o professor faz entre o conhecimento e o aluno, utilizan- do as metodologias, os métodos, as estratégias e os recursos, para isso é preciso que o professor tenha conhecimento destes. Diante disso, nos- so objetivo nesta unidade é o de levá-los à relexão sobre as principais tendências pedagógicas que foram e ainda são utilizadas no processo de ensino em nosso país. É importante esclarecer, de antemão, que o processo teórico de cria- ção e consolidação de uma teoria pedagógica se dá por meio de emba- tes e discussões. As teorias apresentadas são aquelas que se destacaram e foram adotadas nas escolas brasileiras, mas isso não quer dizer que não surgiram outras teorias e propostas nos mesmos períodos. Trouxemos os períodos em que cada teoria foi adotada no país, no entanto sabemos que o processo de transição entre as teorias é moro- so: não dormimos na tendência Tradicional e acordamos na tendência Escola Nova, por exemplo. Mesmo assim, temos que ter ciência de que algumas teorias foram vencidas por outras, mas ainda são adotadas por muitas escolas de nosso país. O estudo das tendências pedagógicas visa proporcionar a compreen- são da dimensão política e da dimensão educacional que estão propostas nas metodologias adotadas pelas instituições de ensino. Desta forma, é essencial o conhecimento dessas tendências, pois elas são pré-requisitos para que possamos reletir e transformar o processo educacional existen- te. Vamos lá? EDUCAÇÃO FÍSICA 49 Quadro 1 - Síntese das principais características das tendências pedagógicas liberais TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS LIBERAIS Tendência Característica Tradicional Renovada Progressista Renovada não diretiva: Escola Nova Tecnicista Papel da escola Preparação dos alu- nos para assumirseu papel na sociedade. A escola deve se ade- quar as necessidades individuais dos alunos. A escola deve pro- mover a formação de atitudes. Modela o com- portamento humano. Conteúdos Conhecimento histo- ricamente acumulado pela humanidade, transmitidos aos alu- nos como verdades absolutas. Os conteúdos são es- tabelecidos a partir dos interesses e situações vividas pelos alunos. Os alunos buscam o conhecimento. Consiste em informações or- denadas em uma sequência lógica e psicológica. Métodos Exposição oral dos conteúdos, reprodu- ção dos modelos. Pesquisas, experiências, soluções de problemas. Facilitação da aprendi- zagem pelo professor. Técnicas de transmissão e recebimento de informações. Professor X Aluno Professor como au- toridade, detentor de todo o conhecimento. Aluno receptor pas- sivo. O professor é um auxi- liar no desenvolvimento do aluno. O aluno é o centro do processo de ensino e de aprendizagem. O professor propi- cia condições para o aprendizado dos alunos. O aluno é o centro do processo de ensino e aprendizagem. O professor trans- mite as informa- ções e os alunos devem ixa-las. Aprendizagem Aprendizagem me- cânica, por meio de repetição, memorização e re- produção. É baseada na estimu- lação, nos interesses e motivação dos alunos. Ao aprender os alunos modiicam as suas percepções sobre a realidade. A aprendizagem é baseada no desempenho. Fonte: Elaborado pela autora (2018). São quatro as tendências pedagógicas liberais. Suas teorias serviram como norteadores do pro- cesso de ensino e de aprendizagem no Brasil até por volta da década de 1950. As principais carac- terísticas destas tendências pedagógicas quanto às categorias papel da escola, conteúdos, métodos, professor X aluno e aprendizagem encontram-se no Quadro 1. 50 DIDÁTICA Os conteúdos trabalhados nessa escola consti- tuíam-se dos conhecimentos historicamente acu- mulados pela sociedade; estes eram transmitidos aos alunos como verdades absolutas, portanto não poderiam ser contestados. As disciplinas eram tratadas isoladamente, desvinculadas dos interes- ses dos alunos e da realidade concreta (LIBÂNEO, 1994). Os métodos adotados eram a exposição oral e a reprodução de modelos. Assim, o ensino acontecia por meio da repetição, memorização e reprodução. O papel do professor e do aluno era estanque. O professor era o centro do processo educativo: ele era o detentor de todo o conhecimento historicamente acumulado, tendo a responsabilidade de transmitir os conteúdos aos alunos e prepará-los para assumir seus papéis na sociedade. Ao aluno, cabia apenas aprender os conteúdos; após a compreensão dos mesmos, cabia ao discente reproduzi-los tal qual lhes foram ensinados. “O professor tende a encaixar os alunos num modelo idealizado de homem que nada tem a ver com a vida presente e futura” (LIBÂ- NEO, 1994, p. 64). O compromisso social dessa escola era a repro- dução da cultura. Suas características eram marca- das pela disciplina rígida e castigos físicos. Possuía como inalidade ser uma instituição sistematizado- ra de uma cultura complexa que propicia, em seu seio, a apropriação do conhecimento por meio da transmissão dos saberes pelo professor e a confron- tação de modelos de demonstração. A escola, nesse contexto, é uma reprodutora de modelos e coloca-se como único local em que se tem acesso ao conheci- mento (BEHRENS, 2009). TENDÊNCIA PEDAGÓGICA TRADICIONAL O termo “tendência tradicional” foi cunhado a partir do estudo das tendências pedagógicas antigas. A te- oria ganhou corpo a partir da identiicação dos pon- tos recorrentes nas práticas pedagógicas adotadas ao longo da história da educação até inal do século XIX. Com a ascensão do movimento renovador, a identiicação das práticas pedagógicas adotadas até então ganha essa denominação. Saviani (2018, p. 1) deine que: A denominação “concepção pedagógica tra- dicional” ou “pedagogia tradicional” foi intro- duzida no inal do século XIX com o advento do movimento renovador que, para marcar a novidade das propostas que começaram a ser veiculadas, classiicaram como “tradicional” a concepção até então dominante. Assim, a ex- pressão “concepção tradicional” subsume cor- rentes pedagógicas que se formularam desde a Antiguidade, tendo em comum uma visão ilosóica essencialista de homem e uma visão pedagógica centrada no educador (professor), no adulto, no intelecto, nos conteúdos cogniti- vos transmitidos pelo professor aos alunos, na disciplina, na memorização [...]. No Brasil, a tendência pedagógica tradicional foi adotada por volta do inal do século XIX, possuindo características bem peculiares quanto ao processo de ensino e de aprendizagem. A escola era caracte- rizada como o único local onde os alunos poderiam ter acesso aos conhecimentos cientíicos. Dessa for- ma, qualquer conhecimento obtido fora da escola não era considerado para o processo de ensino e de aprendizagem formal, isso incluía as vivências dos alunos, seus conhecimentos cotidianos. EDUCAÇÃO FÍSICA 51 Caro(a) aluno(a), não podemos dizer que tudo que foi utilizado na tendência tradicional deve ser des- considerado e deixado para trás, pois algumas prá- ticas ainda são úteis ao processo de ensino e apren- dizagem; as aulas expositivas, por exemplo. As aulas ainda carecem de explicação dos professores. No entanto, aulas expositivas, apenas, não permitem que o aluno desenvolva todas as suas competências e habilidades; tais aulas devem ser aliadas a outras práticas e recursos para que sejam efetivas no pro- cesso de ensino. A crítica que nos cabe fazer sobre a tendência tradicional é que o que se tem adotado da tendên- cia tradicional, nos dias atuais, são os aspectos que não levam os alunos a desenvolverem autonomia para os estudos, independência de raciocínio, pensamento crítico e relexivo. Absorveu-se a re- produção, memorização, a repetição de modelos prontos e estereotipados, sem valor educativo, desprovidos de signiicado social, inúteis para a formação de pessoas com capacidades intelectuais para uma compreensão crítica da realidade (LIBÂ- NEO, 1994). A tendência tradicional é criticada por todas as tendências pedagógicas pelo fato de reproduzir a ló- gica da exclusão, com um conhecimento dominante, perpetuando, assim, a opressão, a divisão de classes e a cultura do silêncio. Freire (1981, p. 67) deine essa tendência como uma educação bancária, que consiste no “ato de depositar, transferir, de transmi- tir valores e conhecimentos”. Esse modelo de educa- ção nega a transformação e a criatividade. Será que conseguiremos deixar para trás esta tendência? Será que é necessário? Caro(a) aluno(a), é evidente que algumas características da tendência tradicional devem ser descartadas, no entanto é pre- ciso manter os aspectos que izeram e fazem bem à prática pedagógica vigente, que atendem às nos- sas necessidades e as dos nossos alunos, pois temos sempre que ter como objetivo o processo de ensino e de aprendizagem. [...] a tendência liberal tradicional é caracteri- zada por dar ênfase ao ensino humanístico, de cultura geral. Segundo essa escola tradicional, o estudante é preparado para atingir sua plenitu- de através de seu próprio esforço. Dessa forma, as diferenças de classe social não são considera- das e toda a prática escolar não tem nenhuma relação com o cotidiano do aluno. Cabe ao pro- fessor conduzir o processo e ao aluno receptivo, apenas memorizar o que foi passado para ele (MARQUES, 2012, p. 2). Seria impensável uma educaçãonesses moldes nos dias atuais, certo? Entretanto, a didática da tendência tradicional tem resistido ao tempo e continua sendo aplicada nas práticas escolares ainda hoje. Apesar da tendência tradicional de ensino ter sido superada teoricamente há décadas, seus resquícios ainda se mantêm enraizados nas nossas práticas pedagógicas. Que atitu- des podemos adotar para que essas práticas sejam modiicadas? REFLITA 52 DIDÁTICA TENDÊNCIA PEDAGÓGICA RENOVADA Em 1924, tivemos a fundação da Associação Brasileira de Educação, com o objetivo de promover os debates em torno das questões educacionais e a inluência da escola nova e seus defensores, em um movimento para dar novos rumos para a educação, os embates e disputas gerados em torno desse novo método evidenciaram o jogo de interesses em que estava inserida a educação escolarizada (ANDRE- OTTI, 2018). Assim, a década de 1930 foi proveitosa com re- lação à nova educação. Em 1932, temos a publicação do Manifesto dos Pioneiros, que foi defendido pelos educadores que ocupavam cargos públicos. Assim, “contrastando com a educação tradicional, as novas tendências pedagógicas visavam proporcionar es- paços mais descontraídos, opondo-se, como inves- tigação livre, à educação ensinada” (ANDREOTTI, 2018, p. 3). Os novos métodos propunham um en- sino que surgia do processo ativo dos alunos e de sua autoaprendizagem. Caro(a) aluno(a), podemos perceber a corre- lação de forças existentes nos embates para se fa- zer educação. Não em benefício das pessoas, mas, sim, levando em consideração o jogo de interesses existentes na sociedade. Diante disso, é importante compreender que sempre, na história da educação, haverá os defensores de uma escola para todos e os defensores de uma educação elitizada, para poucos. Passemos agora à discussão das características dessa tendência pedagógica. A principal característica da tendência escola nova é a rejeição à tendência tradicional de ensino. A escola era caracterizada como um local onde seria formada a atitude dos alunos. A didática é entendida como uma teoria que dará direção para o processo de aprendizagem. Nesse sentido, o centro do proces- so de ensino e de aprendizagem não é o professor Figura 1: Sala de aula de uma escola de educação infantil Montessoriana. A tendência pedagógica renovada incluiu várias cor- rentes provenientes das teorias de vários intelectuais, a exemplo: a ativista espiritualista (de orientação ca- tólica); a montessoriana; a piagetiana; a culturalista; a progressista (baseadas nas ideias de John Dewey) e a não diretiva ou escola nova (baseada nas ideias de Carl Rogers). Todas estas teorias são baseadas na pe- dagogia ativa, que surge por volta de 1930 no Brasil, em contraposição à tendência pedagógica tradicio- nal (LIBÂNEO, 1994). No quadro 2, há uma síntese das duas tendências que mais se destacaram: ten- dência progressista e a não diretiva ou escola nova. No Brasil, as experiências didáticas se basearam no movimento escola nova, por este motivo, aqui ica- remos com as ideias provenientes desta tendência: a renovada diretiva ou escola nova. Os novos métodos de ensino que chegavam ao Brasil eram, a priori, restritos às escolas privadas, uma vez que havia uma luta pela manutenção das escolas católicas, que na época constituíam espaços de educação tradicional. Nesse sentido, as primeiras décadas do século XX, no Brasil, foram palco de dis- putas e embates entre a igreja e seus defensores e um movimento que se empenhou em dar novos rumos para a educação. (ANDREOTTI, 2018). EDUCAÇÃO FÍSICA 53 nem o conteúdo, mas, sim, o aluno, ser ativo e inves- tigador (LIBÂNEO, 1994). Aprender é modiicar suas próprias percepções. Apenas se aprende o que estiver signiicativa- mente relacionado com essas percepções. A re- tenção se dá pela relevância do aprendido em relação ao “eu”, o que torna a avaliação escolar sem sentido, privilegiando-se a autoavaliação. Trata-se de um ensino centrado no aluno, sen- do o professor apenas um facilitador (SILVA, 2018, p. 3). O papel do professor era dar condições para que os alunos, a partir das suas necessidades e interesses, pudessem buscar os conhecimentos por si só. Assim, os conteúdos também se baseavam na busca de co- nhecimento pelos próprios alunos. A ideia emprega- da nessa tendência é que “o aluno aprende mais por si próprio” (LIBÂNEO, 1994, p. 65). Se na tendência tradicional a atividade peda- gógica era centrada no professor, na escola nova é voltada para o “aprender fazendo”. Nesse sentido, o centro passou a ser o aluno, valorizando a pesquisa, a descoberta, suas tentativas experimentais, levando em consideração os interesses dos alunos (MAR- QUES, 2012). Não se tratava somente de colocar o aluno para fazer trabalhos manuais ou manipular objetos, mas de propiciar aos alunos situações em que fosse pos- sível manifestar sua intelectualidade, criatividade, expressão verbal e escrita, por exemplo. De acor- do com Mizukami (2009, p. 45) “a prática educa- tiva passou a ter como foco o aluno, desta forma, a sua realização pessoal e o autodesenvolvimento, inluência da psicologia, tomaram as discussões no campo educacional”. Nesse sentido, Libâneo (1994) destaca que: O professor incentiva, orienta, organiza as si- tuações de aprendizagem, adequando-as às capacidades de características individuais dos alunos. Por isso, a didática ativa dá grande im- portância aos métodos e técnicas como o traba- lho em grupo, atividades cooperativas, estudo individual, pesquisas, projetos, experimenta- ções, etc., bem como aos métodos de relexão e método cientíico de descobrir conhecimentos. Tanto na organização de experiência de apren- dizagem como na seleção de métodos, importa o processo de aprendizagem e não diretamente o ensino (LIBÂNEO, 1994, p. 66). Para alcançar os objetivos propostos por essa ten- dência pedagógica, o aprendizado teria de ser es- pontâneo, ou seja, partir do interesse do aluno. De acordo com Saviani (2009), esse modelo trouxe mais pontos negativos do que positivos para a educação, e ainda destaca que a escola nova provocou o afrou- xamento da disciplina e a despreocupação com a transmissão dos conhecimentos cientíicos, rebai- xando a qualidade do ensino destinado às classes menos favorecidas da sociedade, que somente na es- cola podem acessar o conhecimento historicamente acumulado. Em contrapartida, acabou por melhorar a qualidade do ensino destinado às elites. A didática da escola nova possui muitos pontos positivos, principalmente sua proposição de basear as atividades escolares dos alunos em estudo e pesquisa, atividade mental, visando a formação de pessoas autô- nomas. No entanto, por falta de conhecimento, condi- ções e material, muitos professores utilizaram somen- te alguns métodos e técnicas da teoria escolanovista, sem levar em consideração o objetivo principal, que é propiciar ao aluno a condição de raciocinar cientii- camente, de desenvolver sua independência, sua capa- cidade de relexão e pensamento (LIBÂNEO, 1994). 54 DIDÁTICA Na primeira metade do século XX a escola nova já começava a apresentar algumas das característi- cas que a levariam ao fracasso. A preocupação com a qualidade do ensino, com a didática e com ins- trumentos eicientes para o processo de ensino e de aprendizagem inaugurou um período de relexão que levaria a novas formas de ensinar, novas teorias. TENDÊNCIA PEDAGÓGICA TECNICISTA Para falarmos da tendência tecnicista é preciso, pri- meiramente, compreender o processo produtivo que foi sistematizadono inal do século XIX e início do século XX, por meio da Teoria da Administração, empregada até os dias atuais na organização e con- trole do trabalho, cujo principal precursor foi Frede- rick Winslow Taylor (1856 -1915). A Teoria Geral da Administração possui como principal objetivo o controle do processo produti- vo. O desenvolvimento gerado pelo sistema capita- lista introduziu novas relações entre os trabalhado- res e o processo de produção – a compra e venda da força do trabalho. Surge a igura do gerente, que planeja e controla os processos de produção (MARQUES, 2012). Antes do desenvolvimento capitalista, os traba- lhadores eram independentes. Não havia organiza- ção da produção, o que ocasionava alguns problemas como a falta de padrão dos produtos, o desperdício de matéria prima, produção artesanal, horários de trabalho de acordo com a necessidade de cada um e produção desigual (MARQUES, 2012). Esses pro- blemas não poderiam permanecer na nova socie- dade que emergia; diante disso, o processo de pro- dução precisava ser aprimorado, ser mais racional e eiciente. Esse modelo de produção que também foi inse- rido na educação. A tendência pedagógica tecnicista pode ser entendida a partir do momento da sua in- serção no processo produtivo, ou seja, a escola adere aos conceitos produtivistas e os insere no contexto pedagógico pois é ela quem forma o sujeito necessá- rio para atender as demandas da sociedade, sobretu- do no mercado de trabalho. A tendência pedagógica tecnicista surgiu no Brasil por volta da década de 1950. De forma pro- gressiva, ganhou espaço até ser implantada na déca- Figura 2: Retrato de Frederick Winslow Taylor (1856 -1915) Fonte: Wikimedia. EDUCAÇÃO FÍSICA 55 da de 1960, momento em que se iniciava, no Brasil, a Ditadura Militar (1964-1985). No país, a implantação dessa tendência peda- gógica ocorreu a partir da consultoria de empresas norte-americanas, que já desenvolviam pesquisas sobre a educação brasileira e que também tinham a necessidade de preparar mão de obra qualiicada que pudesse atender ao mercado multinacional. Essa inluência internacional se manifestou na forma dos planejamentos escolares e na formulação da legisla- ção, especiicamente da Lei nº 5.540/1968 (Ensino Universitário) e da Lei nº 5.692/1971 (Ensino de 1º e 2º grau). Inspiradas nas ideias de Augusto Comte (1798- 1857) e sua teoria positivista, além da psicologia americana behaviorista de Burrhus Frederic Skinner (1904-1990), a tendência buscava ensinar o aluno por meio do treinamento. Dentre os princípios do positivismo, destacamos: “a sociedade humana é re- gulada por leis naturais, ou por leis que tem todas as características das leis naturais, invariáveis, inde- pendentes da vontade e da ação humana” (LÖWY, 2007, p. 36). Assim, os métodos empregados para conhecer a sociedade e a natureza deveriam ser os mesmos, ou seja, a metodologia das ciências sociais e das ciên- cias naturais deveriam ser as mesmas, tendo em vis- ta que o funcionamento da sociedade é subordinado à mesma lei que rege o funcionamento da natureza (LÖWY, 2007). Por im, Löwy complementa que: [...] da mesma maneira que as ciências da na- tureza são ciências objetivas, neutras, livres de juízos de valor, de ideologia políticas, sociais ou outras, as ciências sociais devem funcionar exa- tamente segundo este modelo de objetividade cientíica (2007, p. 36). Aranha (1996, p. 176) destaca que a tendência tec- nicista busca na psicologia behaviorista, também de base positivista, “os procedimentos experimentais necessários para a aplicação do condicionamento e o controle do comportamento”. A escola, portanto, passou a ter um caráter téc- nico, operacional e objetivo. O foco da educação não era mais o professor nem o aluno, mas a técnica, ou seja, a organização sistematizada dos meios e ins- trumentos da aprendizagem. À escola cabia treinar os alunos, modelando os seus comportamentos. “À escola compete a organização do processo de aqui- sição de habilidades, atitudes e conhecimentos es- pecíicos, úteis e necessários para que o indivíduo se integre na máquina do sistema social global” (MIZUKAMI, 1986, p. 28-29). Essa tendência pedagógica emprega na escola o papel fundamental da formação das pessoas que se integrem e sejam ativos na sociedade que está se transformando. Assim, a escola deve desenvolver nos alunos os comportamentos que são esperados para a sociedade e organizar, de forma sistematiza- da, o processo de desenvolvimento das habilidades e conhecimentos historicamente acumulados. O professor nesta tendência pedagógica ca- racteriza a sua prática por meio da transmissão e reprodução do conhecimento. A partir da psicolo- gia Behaviorista e da teoria do reforço de Skinner, o professor programava o ensino, assim poderia prever o comportamento desejado e o resultado inal (BERHRENS, 2009). Neste contexto, o pro- fessor aplicava a técnica pela técnica em busca do objetivo inal. O ensino tornou-se ainda mais burocrático, os professores tinham que preencher papéis onde o programa da aula deveria ser detalhado. A função do professor foi inferiorizada, se tornando apenas 58 DIDÁTICA Tendências Pedagógicas Progressistas EDUCAÇÃO FÍSICA 59 A partir da década de 1970, com a modiicação do quadro político frente às lutas sociais por maior de- mocratização da sociedade, passou a ser possível discutir as questões educacionais e escolares a par- tir de uma perspectiva crítica das instituições sociais do capitalismo (LIBÂNEO, 1994). Alguns grupos de pesquisadores e militantes políticos focaram em realizar críticas ao papel ideológico e discriminador que a escola estava reproduzindo na sociedade ca- pitalista. Outros, por sua vez, preocuparam-se em desenvolver outras teorias, articulando a escola aos interesses do povo. Nesse contexto, destacamos as teorias das tendências libertadora e histórico-crítica ou crítico social dos conteúdos. As tendências pedagógicas progressistas se consti- tuem em um conjunto de duas tendências pedagó- gicas. As suas teorias norteiam o processo de ensino e de aprendizagem até os dias atuais. As principais Quadro 2 - Síntese das principais características das tendências pedagógicas progressistas TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS PROGRESSISTAS Tendência Característica Libertadora Histórico-crítica Papel da escola Visa levar professores e alunos a uma consciência da realida- de em que vivem, na busca de transformação social. Propagação dos conteúdos. Conteúdos Temas que são retirados da vida cotidiana dos alunos. Os conteúdos são culturais e universais, estes incorporados pela humanidade, frente a realidade social. Métodos Grupos de discussão. Parte da experiência do aluno, que é confrontada com os conteúdos sistematizados. Professor X Aluno Relação horizontal, de igual para igual. O professor é o mediador en- tre o aluno e o conhecimento. O aluno é participante ativo na construção dos seus co- nhecimentos. Aprendizagem Valorização da experiência vivida pelos alunos. Baseada nas estruturas cog- nitivas que já estão estrutura- das nos alunos. Fonte: Elaborado pelas autoras (2018). características destas tendências pedagógicas quanto às categorias: papel da escola, conteúdos, métodos, professor X aluno e aprendizagem, encontram-se no Quadro 2. 60 DIDÁTICA TENDÊNCIA PEDAGÓGICA PROGRESSISTA LIBERTADORA O método proposto por Paulo Freire expõe o an- tagonismo existente entre a forma como a educação era realizada – autoritária – e a forma comose pre- tendia construir a educação – participativa. Assim, ele defendia uma prática educativa que fosse demo- crática e participativa pois, desta forma, a população teria consciência da sua realidade. A tendência pedagógica libertadora apontada por Paulo Freire “partia de uma concepção de iloso- ia da educação em que o homem é o ‘sujeito da his- tória’ e não seu ‘objeto’” (FERRAZ; FUSARI, 2009, p. 53). Consideramos que nesta perspectiva o sujeito é autor da sua própria história, o seu desenvolvimento se dá por meio da troca de ideias, informações, deci- sões e responsabilidades. Assim, é no ambiente edu- cacional que o indivíduo se desenvolve nos aspectos físico e intelectual. O método de Paulo Freire, que é a base da ten- dência pedagógica libertadora, tem como princípio que a educação consiste em um ato político, pois permite a construção de conhecimentos e a possi- bilidade de criação de uma nova sociedade, mais justa, solidária, humana e ética. Nesse contexto, a educação deve ser permanentemente buscada pe- las classes menos favorecidas, a im de que tenham condições de lutar pela liberdade e pela igualdade de condições Essa tendência pedagógica propõe, de acordo com Berhrens (2009, p. 73), a: valorização da escola como agência difusora dos conteúdos vivos, concretos, indissociá- veis das realidades sociais; enquanto espaço especíico em que se dará a apropriação/desa- propriação do saber; integrada no todo social, econômica e politicamente; capaz, por um lado, de trabalhar visando à transformação dos inte- resses populares. Figura 3: Paulo Freire Fonte: Escritas (on-line). A tendência pedagógica libertadora, muito conhecida como a pedagogia do Paulo Freire (1921-1997), des- pontou no Brasil entre os anos de 1961 e 1964, com as contribuições de Paulo Freire, educador que obte- ve destaque internacional pelo seu método que revo- lucionou a alfabetização dos adultos, voltado para a luta e a organização da classe oprimida. No entanto, a tendência consolidou-se somente entre as décadas de 1970 e 1980. Era “voltada para o diálogo educador- -educando e visando à consciência crítica, inluencia principalmente movimentos populares e a educação não formal” (FERRAZ; FUSARI, 2009, p. 53). EDUCAÇÃO FÍSICA 61 A atividade escolar era centrada nas discussões de te- máticas políticas e sociais. O ensino era baseado na re- alidade social, ou seja, professores e alunos analisavam os problemas e a realidade da sociedade, economia e cultura da comunidade local, com seus recursos e suas necessidades, tendo em vista a ação coletiva frente a es- tes temas e problemas da realidade (LIBÂNEO, 1994). Desde logo, afastávamos qualquer hipótese de uma alfabetização pura e mecânica. Desde logo, pensávamos a alfabetização do homem brasileiro, em posição de tomada de consciên- cia, na emersão que izera no processo de nossa realidade. Num trabalho em que tentássemos a promoção da ingenuidade em criticidade, ao mesmo tempo em que alfabetizássemos (FREI- RE, 2011, p. 136). O professor, nesse processo, respeita o aluno e seus limites. O aluno é atuante e responsável pelo seu de- senvolvimento educacional. O método era baseado no diálogo, pesquisa e na democracia. “O trabalho escolar não se assenta, prioritariamente, nos conteúdos de en- sino já sistematizados, mas no processo de participação ativa nas discussões e ações práticas sobre as questões da realidade social imediata” (LIBÂNEO, 1994, p. 69). O método era desenvolvido por meio de discus- sões, assembleias, relatos de experiências e trabalho em grupo, por exemplo. Assim, surgiam temas ge- radores que poderiam ser sistematizados, consoli- dando o conhecimento. A Didática, nesse contexto, busca desenvolver o processo educativo dentro dos grupos sociais, o professor é o coordenador, o ani- mador das atividades e organiza tudo em uma ação conjunta com os alunos (LIBÂNEO, 1994). A teoria de Paulo Freire contribui no contexto da luta de classes, uma vez que se acredita que o oprimido deve ter consciência da sua situação de opressão. A ela- boração de uma consciência crítica e da organização de classes é uma condição para a libertação da explo- ração política e econômica. A tendência pedagógica li- bertadora, portanto, transcende a pedagogia, atingin- do também a política, as ciências sociais e a economia. A pedagogia libertadora tem sido aplicada em vários setores como sindicatos, movimentos sociais, comunidades religiosas e associações de bairros. Essa tendência alcançou êxito pelo fato de ser uti- lizada entre adultos que já possuem uma vivência prática e política, assim é possível debater sobre po- lítica, economia e sociedade, aprofundando as dis- cussões com autores comprometidos com os interes- ses populares (LIBÂNEO, 1994). Pedagogia Libertadora Convencionou-se denominar de “pedagogia libertadora” a concepção pedagógica cuja ma- triz remete às ideias de Paulo Freire. Sua inspi- ração ilosóica se encontra no personalismo cristão e na fenomenologia existencial. Como se trata de correntes que, como o pragmatis- mo, se inserem na concepção humanista mo- derna de ilosoia de educação, a pedagogia libertadora mantém vários pontos de contato com a pedagogia renovadora. Também ela valoriza o interesse e iniciativa os educan- dos, dando prioridade aos temas e problemas mais próximos das vivências dos educandos sobre os conhecimentos sistematizados. Di- ferentemente do movimento escolanovista, porém, a pedagogia libertadora põe no centro do trabalho educativo temas e problemas políticos e sociais, entendendo que o papel da educação é, fundamentalmente, abrir ca- minho para a libertação dos oprimidos. Fonte: Verbete de Dermeval Saviani. Disponível em: <http://www.histedbr.fe.unicamp.br/navegando/ glossario/verb_c_pedagogia_libertadora.htm>. SAIBA MAIS 62 DIDÁTICA A pedagogia histórico-crítica surgiu no início dos anos 1980 como uma resposta à necessi- dade amplamente sentida entre os educado- res brasileiros de superação dos limites tanto das pedagogias não críticas, representadas pelas concepções tradicional, escolanovista e tecnicista, como das visões crítico reprodu- tivistas, expressas na teoria da escola como aparelho ideológico do Estado, na teoria da reprodução e na teoria da escola dualista (SA- VIANI, 2008, p. XIV). TENDÊNCIA PEDAGÓGICA HISTÓRICO-CRÍTICA OU CRÍTICO- -SOCIAL DOS CONTEÚDOS A tendência pedagógica histórico-crítica surgiu na década de 1970, mas sua efetivação se deu na década de 1980, a partir das discussões realizadas por Der- meval Saviani. No artigo “Escola e Democracia: para além da teoria da curvatura da vara”, o autor reali- za uma crítica ao modelo pedagógico empregado no processo de ensino e de aprendizagem, que não apresentava um caráter historicizante, mas sim re- produtivista. Essa crítica era empreendida às teorias das tendências pedagógicas liberais. EDUCAÇÃO FÍSICA 63 A proposta dessa tendência considera a questão histórica por acreditar que a educação também in- terfere na sociedade, podendo contribuir para sua transformação. Ela também é crítica, pois tem cons- ciência da determinação que a sociedade exerce so- bre a educação (MASHIBA; SERCONEK; MENE- ZES, 2012). Pautado no materialismo histórico dialético de Karl Marx (1818-1889) e Friedrich Engels (1820- 1895), com ainidades relacionadas a psicologia his- tórico-cultural, que possui como principal autor Lev Vygotsky (1896-1934), essa tendência pedagógica possui como objetivo o resgate da “importância da escola, a reorganização do processo educativo, res- saltando o saber sistematizado, a partirdo qual se deine a especiicidade do saber escolar” (GASPA- RIN; PETENUCCI, 2018, p. 4). Por meio do processo de ensino e de aprendiza- gem, a educação deve assumir o seu papel e sua res- ponsabilidade de oferecer aos educandos ferramen- tas para que se tornem sujeitos críticos, participantes e conscientes. Diante dessa perspectiva, buscou-se a elaboração de uma tendência pedagógica mais rea- lista, chamada de “pedagogia histórico-crítica”, ou seja, mais crítica com relação aos conteúdos, sem deixar de lado a contribuição das outras tendências pedagógicas. “Essa pedagogia escolar procura pro- piciar a todos os estudantes o acesso e contato com os conhecimentos culturais necessários para uma práti- ca social viva e transformadora” (FERRAZ; FUSA- RI, 2009, p. 55, grifos do autor). Para a pedagogia histórico-crítica, a escola pú- blica cumpre função social e política de difundir os conhecimentos historicamente acumulados a todos, pois essa é uma condição para que o povo efetiva- mente participe das lutas sociais. Libâneo (1994) considera que o fator mais importante é o confronto entre os conhecimentos historicamente acumulados e as experiências socioculturais, bem como a vida concreta dos alunos, pois assim haverá melhor soli- dez na assimilação dos conteúdos. Do ponto de vista da Didática, o processo de ensino consiste na mediação entre objetivos-conte- údos-métodos, permitindo que o aluno se encontre com as matérias escolares, que são o fator primor- dial da aprendizagem (LIBÂNEO, 1994). O método de ensino objetiva o estímulo do pro- fessor em propiciar e favorecer momentos de diálo- go entre os alunos e com os professores, sem deixar de lado os conhecimentos historicamente acumu- lados. Também é preciso levar em consideração os interesses que os alunos possuem e o seu ritmo de aprendizagem. Dessa forma, de acordo com Masetto (2000, p. 144-145): [...] o professor se coloca como um facilitador ou motivador da aprendizagem [...] ativamen- te colabora para que o aprendiz chegue a seus objetivos. É a forma de apresentar e tratar um conteúdo ou tema que ajuda o aprendiz a co- letar informações, relacioná-las, organizá-las, manipulá-las, discuti-las [...] com o professor e com outras pessoas, até chegar a produzir um conhecimento que seja signiicativo para ele, conhecimento que se incorpore ao seu mundo intelectual, vivencial e social. Podemos airmar, então, que para que a pedagogia histórico-crítica seja de fato transformadora, é pre- ciso nos comprometer com o ensino que propicie aos alunos a construção de conhecimentos verda- deiros. Não há uma fórmula para isso, também não há caminhos absolutamente seguros. No entanto, conhecer a vivência dos nossos alunos nos leva à to- mada de consciência sobre a realidade social, o que culmina na busca de conhecimentos cientíicos. 64 DIDÁTICA Para Libâneo (1994, p. 71) o trabalho do pro- fessor, entendido como uma atividade pedagógica, possui os seguintes objetivos: - Assegurar aos alunos o domínio mais seguro e duradouro possível dos conhecimentos cien- tíicos; - Criar as condições e os meios para que os alunos desenvolvam capacidades e habilida- des intelectuais de modo que dominem méto- dos de estudo e de trabalho intelectual visando a sua autonomia no processo de aprendizagem e independência de pensamento; - Orientar as tarefas de ensino para objetivos educativos de formação de personalidade, isto é, ajudar os alunos a escolherem um caminho de vida, a terem atitudes e convicções que norteiem suas ações diante dos problemas e das situações da vida real. Esses objetivos devem se ligar a outros, tendo em vista que o processo de ensino consiste, ao mesmo tempo, em um processo educativo. Também é im- portante ressaltar que o professor deve realizar um conjunto de ações, coordenadas entre si, para alcan- çar efetivamente os objetivos do ensino, os quais são: planejamento, a direção do processo de ensino e aprendizagem e a avaliação. Cada um desses, des- dobrados em tarefas ou funções didáticas, conver- gem para a realização do ensino propriamente dito (LIBÂNEO, 1994). Para Saviani (2014), nessa teoria o método pe- dagógico possui como ponto de referência a prática social. Dessa forma, entendemos a educação como um processo de mediação dentro dessa prática so- cial, que se constitui como o ponto de partida e de chegada da educação. Ao sistematizar o método da pedagogia histórico-crítica, Saviani (2014) divide o processo de ensino em cinco momentos: prática social inicial; problematização; instrumentalização; catarse e prática social inal. A prática social inicial consiste na identiicação de como um determinado conhecimento se apre- senta na sociedade atual, pois é comum a professo- res e alunos, porém, vivenciados de forma diferente por ambos. Professores possuem uma visão sinté- tica, mais sucinta, mesmo que precária. Já o aluno possui uma visão sincrética, ou seja, mais global e abrangente. Desta forma, o professor deve, por meio da mediação e da teoria, levar o aluno da visão sinc- rética, do conhecimento mais global e fragmentado ao conhecimento sintético, um conhecimento cien- tíico, mais elaborado (LIBÂNEO, 1994). Realizado o levantamento dos problemas pela prática social inicial, é chegado o momento de iden- tiicar as questões que a escola trabalhará e proble- matizará, levando os alunos a discuti-las. Para isso, é preciso buscar instrumentos que permitam essa discussão e a construção de conhecimento. É aí que entra a instrumentalização (LIBÂNEO, 1994). A instrumentalização consiste no momento em que, por meio da mediação do professor, os alunos se apropriarão do conhecimento historicamente acumulado, a partir dos quais se pode responder aos problemas que foram levantados e problematizados. À medida que o professor leva os alunos à apro- priação dos conhecimentos cientíicos, atinge-se o ponto maior do processo educativo, que é a catarse (LIBÂNEO, 1994). A catarse é o momento em que o aluno elabora a síntese final, passando da visão sincrética para a visão sintética. Por meio da mediação do professor, o aluno tem um salto qualitativo na aprendizagem, chegando a uma visão mais elaborada do que a que possuía antes. A catarse, portanto, é a expressão inal da síntese que o aluno foi capaz de produzir depois do processo de ensino e de aprendizagem (MASHI- BA; SERCONEK; MENEZES, 2012). 68 DIDÁTICA A MEDIAÇÃO NO PROCESSO DE ENSINO vez que funciona como um estímulo para o processo de aprendizagem. Nesse sentido, a mediação é compre- endida a partir da relação dialógica entre professores e alunos, relação esta que se estabelece constantemente pela da utilização de diferentes métodos (BARROSO; MENDONÇA; LOZANO; COSTA, 2014). Moraes (2003, p. 2010) airma que a mediação: [...] é um processo comunicacional, conversa- cional, de co-construção de signiicados, cujo objetivo é abrir e facilitar o diálogo e desenvol- ver a negociação signiicativa de processos e conteúdos a serem trabalhados nos ambientes educacionais; bem como incentivar a constru- ção de um saber relacional, contextualizado, gerado na interação professor/aluno. Caro(a) aluno(a), a mediação poderá ser realizada em qualquer idade e está presente em qualquer eta- pa, nível ou modalidade de ensino, basta que haja alunos e professor. Para o professor, o processo de mediação se torna um desaio pois, quando o aluno possui uma dúvida, o professor precisa dar signiica- do ao objeto estudado. A mediação acontece com o auxílio de signos, os responsáveis pela relação entre o real eo pensamen- to. Os pensamentos, por sua vez, estão em constante elaboração e reelaboração entre as ideias e os concei- tos, desta forma, no momento da mediação alguns elementos podem ser facilmente compreendidos e ilustrados, de modo que a elaboração e a reelabora- ção sejam cada vez mais signiicativas, contribuindo para a formação de indivíduos pensantes e ativos na sociedade (BARROSO; MENDONÇA; LOZANO; COSTA, 2014). O termo mediação deriva do latim mediator oris, que signiica mediador, medianeiro. Segundo o nos- so dicionário, signiica “ato ou efeito de mediar, in- termediação” (FERREIRA, 2010, p. 495). A mediação caracteriza-se como a relação que se estabelece entre o homem, o mundo e os outros homens, neste contexto temos: I: instrumentos, S: sujeitos e O: objeto (BERNI, 2018). A mediação é vista como eixo central neste processo, pois articu- lam-se os instrumentos, sujeitos e objetos, a im de que as Funções Psicológicas Superiores (FPS), que são tipicamente humanas, se desenvolvam. Devemos considerar que a mediação se constitui como elemento essencial ao processo de ensino, uma EDUCAÇÃO FÍSICA 69 Ao trabalhar com a ideia de mediação, Vy- gotsky ressalta que, ao ensinar, devemos levar em consideração as especiicidades de cada aluno, pois cada um aprende de forma diferente. Levan- do em consideração que não há um padrão que atinja de maneira igualitária todos os alunos, o professor necessita adequar suas práticas a partir da necessidade de cada um e mediar o processo de ensino para que possa acontecer a aprendi- zagem (BARROSO; MENDONÇA; LOZANO; COSTA, 2014). O conceito de mediação é atrelado ao pen- samento de uma ação realizada com a ajuda do outro. Na escola, há a igura do professor, sujeito capacitado e que possui condições de realizar um elo entre aquilo que o aluno traz consigo, o co- nhecimento de senso comum, e o conhecimento cientíico, historicamente acumulado pela huma- nidade. Machado e Teruya (2009) compreendem a mediação pedagógica como a ação de intervir na aprendizagem do sujeito. Essa ação é concretizada pelo professor, por meio dos métodos, recursos e procedimentos que conduzirão professores e alu- nos na prática educativa. Podemos perceber a responsabilidade que o professor possui no ambiente escolar, uma vez que o desenvolvimento dos alunos se dará por meio do processo de aprendizagem que passa pela media- ção. Assim, o professor, observando e investigan- do os conhecimentos que os alunos já possuem ao chegar à escola, tem condições de intervir e orga- nizar estes conhecimentos, agregando-os aos co- nhecimentos cientíicos, levando o aluno a outro patamar (BERNI, 2018). Visualizamos o conceito de mediação nas falas de Freire (2002): [...] ensinar não é transferir conteúdo a nin- guém, assim como aprender não é memorizar o peril do conteúdo transferido no discurso vertical do professor. Ensinar e aprender têm que ser com o esforço metodicamente crítico do professor de desvelar a compreensão de algo e com o empenho igualmente crítico do aluno de ir entrando, como sujeito de apren- dizagem, no processo de desvelamento que o professor ou professora deve delagrar (FREI- RE, 2002, p. 134). Quando imaginamos uma instituição que trabalha a partir do processo de mediação e interação, não es- tamos pensando em uma escola em que cada um faz aquilo que bem entende, mas falamos de um espaço de valorização do ser humano e de suas ideias, de construção de conhecimentos e de interação entre os indivíduos, para que se sintam motivados a pen- sar e trabalhar em conjunto. Vygotsky (1991) possui, como eixo central da sua psicologia, a interação social e a mediação como centro do processo educativo, de forma que esses dois elementos, interação e mediação, estão intimamente ligados no processo de desenvolvi- mento do ser humano. Na escola, o professor é o sujeito que irá exercer o papel de mediador entre o conhecimento e o aluno, portanto a qualida- de da mediação é de suma importância, uma vez que ela motiva os alunos, ou não, no processo de aprendizagem. EDUCAÇÃO FÍSICA 73 como uma ciência, e será por meio dela que se reali- zará a investigação dos fundamentos, das condições e os modos de realização do ensino. A essa didática cabe converter os objetivos pedagógicos e sócio-po- líticos em objetivos de aprendizagem, além de sele- cionar métodos e recursos para o processo de ensino destes objetivos, tendo em vista o desenvolvimento intelectual dos alunos (LIBÂNEO, 1994). A segunda perspectiva é como uma disciplina dos cursos de formação de professores, a qual faz uma integração entre a teoria e a prática, realizando uma estruturação destas em função do ensino. Para Libâneo (1994), a formação de professores abrange duas dimensões, sendo elas: a formação teórico- -cientíica e a formação técnico-prática. A formação teórico-cientíica inclui a formação especíica das disciplinas em que o professor irá es- pecializar-se, assim como a formação pedagógica, que envolve os conhecimentos das disciplinas de So- ciologia, História da Educação e Filosoia, que con- tribuem para entendimento dos fenômenos educati- vos no contexto histórico-social (LIBÂNEO, 1994). A formação técnico-prática destina-se à prepa- ração para a docência, inclui-se, nas disciplinas es- tudadas, a Didática e as disciplinas de metodologias especíicas para cada curso de formação de professo- res, a Psicologia da Educação e a Pesquisa Educacio- nal (LIBÂNEO, 1994). Caro(a) aluno(a), temos certeza de que a me- todologia empregada nas escolas contribui de for- ma signiicativa para o fracasso ou o sucesso do processo de ensino e de aprendizagem. Assim, não podemos concordar com práticas pedagógicas que são fundamentadas no senso comum nem com pro- fessores que, por desconhecer ou não valorizar as teorias para no processo didático, utilizam-nas de forma eclética, misturando as tendências libertado- ra, tecnicista e histórico-crítica, por exemplo. Temos que ter responsabilidade com a prática pedagógica e educativa, pois esta resulta no processo de aprendi- zagem de nossos alunos. Comênio (2001, p. 173) enfatiza a utilização de um método didático que estimule a todos os alunos, airmando que “a alguns não falta à aptidão para os estudos, mas a vontade; e obrigá-los a estudar contra a vontade é, ao mesmo tempo, enfadonho e inútil. [...] E se se demonstrar que a causa do desgosto pelo estudo são os próprios professores?”. Dessa forma, ao professor cabe preparar os alu- nos, saber atrair a sua atenção, pois da mesma forma que o ferreiro aquece o ferro para depois moldá-lo, ou como o sapateiro costura os sapatos, dá forma e poli- mento ao couro, o professor também precisa, antes de iniciar o processo de ensino dos conteúdos historica- mente acumulados, preparar os seus alunos, tornan- do-os ávidos pelo conhecimento (COMÊNIO, 2001). Os professores, por conta de suas formações, até possuem um discurso pedagógico próximo ao ideal, no entanto, em suas práticas, não conseguem se li- vrar das diretrizes tradicionais que estão enraizadas, devido à forma como fomos ensinados. A diiculda- de que enfrentamos enquanto professores é ensinar da forma que não fomos ensinados. A melhoria da qualidade do ensino se dará a partir da prática pedagógica do professor. O professor deverá conhecer a teoria que sustenta a sua prática, pois so- mente assim poderá transformar o processo de ensino e de aprendizagem em um momento signiicativo, pro- movendo uma educação transformadora que supere as diiculdadeseducacionais e sociais dos alunos. Nesse sentido, caro(a) aluno(a), um professor que deseja realizar um trabalho coerente e consis- tente utilizará métodos e recursos necessários para realização desse processo, além do conhecimento 74 DIDÁTICA teórico. Para além disso, é preciso ter conhecimento das tendências pedagógicas, ou seja, da teoria que embasa o fazer pedagógico em sala de aula. A DIDÁTICA NOS AMBIENTES NÃO FOR- MAIS DE APRENDIZAGEM não formal, busca-se propiciar aprendizagens em espaços educativos fora do contexto escolar, nos quais existam processos interativos e intencionais (NEVES, 2011). Em contrapartida, a educação formal é aquela ofertada dentro dos ambientes escolares que são re- gulamentados por lei, com intencionalidade, conte- údo previamente selecionado pelo currículo escolar, em que o professor é o mediador do processo de en- sino e de aprendizagem. Esses ambientes possuem regras e modelos comportamentais pré-deinidos. A Educação Formal acontece dentro da escola e necessita de um currículo estruturado cronoló- gica e hierarquicamente para organizar os con- teúdos. A Educação Não Formal dispensa essas características, no entanto possui o intuito de proporcionar a aprendizagem de certos conteú- dos em espaços fora da escola. Por esse motivo, possui potencialidades em auxiliar a Educação Formal, uma vez que através de atividades pre- viamente organizadas apresenta intenção de educar (BATISTA, 2014, p. 25). O papel da didática dentro dos ambientes formais está sendo construído no decorrer desse estudo, no entanto, cabe-nos também nos debruçarmos no es- tudo do papel da didática dentro dos ambientes não formais de aprendizagem. Figura 4 - Organização dos espaços formais e não formais de aprendizagem Os estudos de Didática são geralmente aplicados à formação de docentes, aqueles que serão licenciados e atuarão em sala de aula. No entanto, o processo de ensino e de aprendizagem tem ultrapassado os li- mites dos muros escolares, tornando-se necessário, dessa forma, o estudo da Didática nos ambientes não formais de aprendizagem. Entendemos por ambientes não formais de apren- dizagem aqueles espaços em que há a intencionalida- de do ensino, mas que se localizam fora da escola. Exemplos: museus, parques ecológicos, institutos de pesquisa, aquários, zoológicos, presídio, empresas (educação empresarial), academia de ginástica, hos- pitais e Organizações Não Governamentais (ONG). Todos esses espaços possuem proissionais ca- pacitados em sua área especíica e atuam no pro- cesso de ensino, planejando, orientando equipes, trabalhando em equipes, orientando pessoas, co- ordenando ações, com objetivos pedagógicos ex- plícitos e sistematizados. Por meio da educação Fonte: Elaborado pela autora (2018). EDUCAÇÃO FÍSICA 75 Ao propor atividades em ambientes não formais, o proissional permite que os alunos construam senso crítico, relacionando ideias do senso comum com os conhecimentos cientíicos. Será por meio de estraté- gias que o proissional levará seus alunos a ampliar os conhecimentos de forma crítica e livre, criando situações colaborativas que são favoráveis à aprendi- zagem, possibilitando aos alunos múltiplas possibi- lidades de atuação (MORIN, 2001). Para que isso ocorra de forma satisfatória, o pro- issional deverá dispor de métodos, recursos e proce- dimentos que promovam os processos de aprendiza- gem dos alunos mesmo nos ambientes não formais de aprendizagem, ou seja, deverá utilizar a Didática. Quadro 3: Comparativo entre educação formal e educação não-formal Educação formal Educação não-formal Quem educa? Professores. Educadores. Onde se educa? Escolas, Universidades. Museus, Centros de ciência, Hospitais, Academias, Parques ecológicos, Empresas. Como se educa? Por meio de currículo. Por meio de situações intencionalmente educativas sem um currículo deinido. Quais são as principais características? Organização curricular, dividido por idade ou nível de conhecimento. Auxilia na construção de conhecimento de forma individual ou coletiva. Quais objetivos? Ensino de conteúdos, Desenvolvimen- to de habilidades e competências. Corresponde aos objetivos de um indiví- duo ou de um conteúdo em especíico. Fonte: Adaptado de Batista (2014). As pesquisas no campo da Didática nos ambien- tes não formais entendem que há algumas especi- icidades que devem ser levadas em consideração nos processos formativos, como a interação, o tempo e o espaço, que diferem de forma signii- cativa dos ambientes formais (BATISTA, 2014). A questão do tempo é bastante ressaltada nos am- bientes não formais, tendo em vista que é muito breve se compararmos ao dos ambientes formais de aprendizagem. Além do tempo as relações entre os sujeitos também diferem, pois são pontuais e direcionadas à necessidade do aluno. Nesse contexto, é importante que os proissionais organizem os espaços não for- mais a im de que se maximize a exploração do alu- no, pois apesar da intenção didática, os conteúdos são abordados de formas pontuais, ou seja, não há a intenção de contemplar todos os conhecimentos e conteúdos curriculares presentes no contexto edu- cacional (BATISTA, 2014). O estudo da Didática é muito importante para a formação dos proissionais que também atuarão nos ambientes não formais, pois ele estará contribuin- do de forma intencional para o desenvolvimento de pessoas, necessitando se preparar pedagogicamente para as atividades e planejamento das mesmas. 76 considerações inais Apresentamos, nesta segunda unidade, os conteúdos que são pertinen-tes às tendências pedagógicas desde o inal do século XIX até os dias atuais. Ousado, não? No entanto, não tivemos a intenção de esgotar esse assunto, mas sim trazer a você, caro(a) aluno(a), as principais ca- racterísticas de cada uma destas, a im de que, com essa compreensão, você che- gue à construção histórica da educação no Brasil, principalmente com relação à Didática. Compreender essas tendências é essencial, uma vez que elas fazem parte do contexto histórico ainda na atualidade, nas legislações, nas práticas pedagógicas e nos cadernos pedagógicos, por exemplo. Assim, compreender cada um destes nos dá condições, enquanto professores, de tecer críticas e escolher qual a teoria adequada para o trabalho pedagógico, levando em consideração a perspectiva teórica de cada instituição de ensino na qual você vai trabalhar. Nossas discussões também avançaram para o estudo do que é mediação e da sua importância no processo de ensino e de aprendizagem, considerando o conceito de Didática. Levando em consideração que você, aluno(a), irá pôr em prática a sua atividade pedagógica em uma instituição de ensino contemporânea, falar de mediação é essencial, pois o processo de mediação permeia todo o fazer pedagógico na atualidade (como veremos nos métodos de ensino na Unidade III), assim como é fundamental conhecer o conceito de Didática, nosso objeto de estudo em toda a disciplina. Tendo em vista que o processo de ensino e de aprendizagem extrapola os limites da escola, encerramos o nosso estudo falando da docência nos ambientes não formais. Tratar desse assunto em um estudo sobre Didática pode parecer um tanto peculiar, no entanto é essencial, uma vez que a Didática deve ser utilizada no processo de mediação, planejamento, organização e coordenação de ativida- des intencionais mesmo fora das escolas, como é o caso de museus, academias, empresas, hospitais e presídios, onde você pode trabalhar futuramente. 77 atividades de estudo 1. Algumas tendências pedagógicas, apesar de se- rem vencidas poroutras, podem permanecer como teoria que sustenta a prática pedagógica de muitos professores ou escolas, como é o caso das teorias de Montessori e Piaget. Partindo da discussão que realizamos sobre as tendências pedagógicas e sua importância para a Didática, leia as alternativas e assinale a correta: a) O professor poderá optar por utilizar a tendência pedagógica que desejar para o processo de ensino de seus alunos, mes- mo não sendo a tendência adotada pela escola. b) É coerente e comum que uma escola adote duas ou mais tendências pedagógicas para o processo de ensino, mesmo que estas se oponham. c) O professor deverá seguir a tendência pe- dagógica adotada pela escola em que tra- balha, mesmo que essa tendência não seja sua opção pessoal. d) As tendências pedagógicas tiveram prazo de vigência, ou seja, acabado o prazo, ou- tra tendência imediatamente a substituiu. e) A escolha das tendências pedagógicas em cada período histórico aconteceu de forma harmoniosa entre todos: professores, pes- quisadores, escola e governo. 2. A Didática é a arte de ensinar, de transmitir co- nhecimento por meio do processo de ensino. É o conjunto das teorias e técnicas que são relativas à transmissão do conhecimento (AURÉLIO, 2018, p. 1). Partindo desse conceito, leia as alternativas e assinale a correta: a) A Didática pode ser vista como uma ciência. b) A Didática se refere ao processo de aprendizagem. c) A Didática consiste nos materiais para o ensino. d) A Didática é uma disciplina de estudo da Educação Básica. e) A Didática é uma técnica de ensino. 3. O estudo das tendências pedagógicas é indis- pensável, tendo em vista que é a partir da com- preensão das dimensões políticas e educacionais que o professor entenderá a proposta metodo- lógica adotada pela instituição de ensino em que atua. Diante disso, com relação às características de cada tendência, analise as assertivas e assina- le V para verdadeiras e F para falsas. I - As tendências pedagógicas são classiica- das em dois grupos de acordo com Libâ- neo (1996), sendo: 1) tendência liberal; 2) tendência progressista. II - No grupo das tendências progressista são descritas as tendências renovada progres- sista, tradicional e a tendência histórico- -crítica. III - No grupo das tendências liberais são des- critas as tendências tradicional, renovada progressista, a escola nova e a pedagogia tecnicista. IV - A tendência histórico-crítica possui o pro- fessor como mediador do conhecimento e o aluno é participante do processo de construção do conhecimento. As airmações I, II, III e IV são, respectivamente: a) V, F, V, F. b) F, V, V, V. c) V, F, V, V. d) V, V, F, V. e) F, F, V, V. 78 atividades de estudo 4. Ambientes não formais de educação são aqueles espaços em que há ensino intencional fora do ambiente escolar. Leia as airmativas e assinale a que representa ambientes não formais em que há a intencionalidade do ensino. a) Parquinhos. b) Shoppings. c) Casa dos avós. d) Em casa. e) Museus. 5. De acordo com Libâneo (1996) as tendências pe- dagógicas são classiicadas em dois grupos, sen- do estes: 1) tendências liberais e as 2) tendências progressistas. No grupo das tendências liberais destacamos a tendência tradicional, a tendência renovada progressista, a escola nova e a tendên- cia tecnicista. No grupo das tendências progres- sistas destacamos a tendência libertadora e a tendência histórico-crítica. Diante disso, conside- rando as características dessas tendências peda- gógicas, analise as airmativas: I - A nova escola trouxe mais pontos negati- vos do que positivos para o ensino, tendo em vista que nesse modelo pedagógico o interesse do aprendizado deve partir do aluno, ou seja, o aprendizado deve ser es- pontâneo. II - Na tendência pedagógica tecnicista o foco da educação era a técnica, não mais o professor nem o aluno. Dessa forma, eram priorizados os métodos, os procedi- mentos, o treino era indispensável, assim como a retenção dos conteúdos, a ênfase era na repetição. III - A tendência histórico-crítica possui como centro do processo educativo o professor, que é o detentor de todo o conhecimento historicamente acumulado. O aluno pos- sui, nesse processo, papel de compreen- der o conteúdo e reproduzi-lo tal qual foi ensinado. IV - A tendência libertadora foi desenvolvida com as contribuições de Paulo Freire, com a visão de que o homem é sujeito da histó- ria e não o seu objeto. Nessa perspectiva, o professor respeita o ritmo de aprendi- zagem dos alunos, assim como os seus limites. Está correto o que se airma em: a) I, II e III, apenas. b) I, III e IV, apenas. c) I, II e IV, apenas. d) II, III e IV, apenas. e) l, ll, lll e lV. 82 referências ______. Educação como prática de liberdade. 14. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2011. ______. 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Nesta unidade, apresentamos como se constituem os planejamentos em ambientes formais (escola) e não formais de aprendizagem. Para tanto, precisamos co-nhecer os documentos da Educação de âmbito nacional, mu- nicipal e institucional que implicam no planejamento escolar, a im de compreendermos como é pensado seu currículo e o que embasa o plano de aula. Dessa forma, pretendemos proporcionar uma visão linear dos encaminhamentos pedagógicos dentro da escola. Também abordamos a pesquisa docente, bem como a dos proissio- nais que atuam nos ambientes não formais, para que você, caro(a) alu- no(a), possa reletir e compreender a relevância dessa dedicação para um plano de aula e para diversas execuções de trabalho de forma satis- fatória e eicaz. Sendo assim, é importante que vocês, enquanto futuros proissionais, saibam o que é pesquisa, como pesquisar e porque ela se faz necessária. Por im, veremos que todas essas ações são indispensáveis para o re- gistro do plano de aula docente; ele norteará todas as ações pedagógicas, sobretudo do professor em sala, para facilitar a mediação dos conheci- mentos e promover o ensino e a aprendizagem de qualidade. Veremos também que os planos de ação nos campos de atuação não formal depen- dem de planejamentos que os antecedem. Para tanto, é preciso desenvol- ver as habilidades requisitadas na elaboração do plano de aula, por isso proporcionamos a análise dos elementos essenciais desse instrumento. Com essa unidade, esperamos que você, caro(a) aluno(a), compreen- da a importância das ações pedagógicas que se iniciam, em âmbito nacio- nal, por meio do Estado, mas que somente se efetivam pela prática docen- te. Por isso é tão importante que cada professor dê valor ao plano de aula, à pesquisa e à organização, a im de estabelecer boas metas e estratégias para alcançar o ensino de excelência e a aprendizagem de qualidade para todos os alunos. 90 DIDÁTICA Prezado(a) aluno(a), ao longo das unidades ante- riores, enfatizamos aspectos relacionados à Didáti- ca, desde os períodos mais remotos da educação até a contemporaneidade. Tudo que foi exposto sobre essa temática foi planejado por aqueles que hoje es- tudamos, como Comênio (2001), que para desen- volver a Didática Magna planejou desde as ações pedagógicas mais simples até as palavras certas para expressar e exempliicar de forma escrita o que pen- sava ser melhor para a educação de seu tempo. O que gostaríamos de salientar, portanto, é que o planejamento faz parte de uma boa didática, que por sua vez se expressa na elaboração de um plano de aula, na execução do mesmo e na avaliação ho- nesta que o docente faz de seu aluno e de sua aula; o mesmo ocorre com os demais proissionais e seu pú- blico, visto que o ensino ocorre em diversos espaços; todo ensino, incluindo o que ocorre em ambientes não formais, necessita de planejamento. Isso signi- ica que não existe um bom proissional sem uma Caminhos do Planejamento Escolar EDUCAÇÃO FÍSICA 91 boa didática e não existe didática sem planejamento. Por isso, o que veremos ao longo desse capítulo são considerações teóricas pautadas em boas didáticas. Nesse início de discussão, gostaria de lhe fazer duas perguntas para que relita com base em sua vida cotidiana: a) o que você entende por planeja- mento? b) Você costuma planejar? Às vezes não nos damos conta de todas as ações planejadas que reali- zamos, desde atividades simples como nossa rotina diária, até eventos grandes como viagens. O intuito dessa perguntas é te fazer notar a importância que o planejamento possui em nossas vidas. Para Ostetto (2000, p. 177) planejar é estabele- cer metas, “[...] se programar, elaborar um roteiro para empreender uma viagem de conhecimento, de interação, de experiências múltiplas e signiicativas”. Dessa forma, pessoas que planejam tendem a se de- parar menos com empecilhos. Vejamos: entre uma pessoa que planeja seu dia e outra que prefere fazer suas atividades sem planejamento, quem aproveita mais o tempo? Entre uma família que planeja suas despesas mensais e outra que prefere gastar sem pre- ocupações, qual tende a chegar ao im do mês com as inanças no vermelho? Entre um grupo que pla- neja sua viagem e outro que não o faz, qual possui mais chances de conhecer mais lugares em tempo hábil e com menos gastos? Assim, o planejamento se faz necessário em todas as nossas atitudes, seja no contexto pessoal, proissional e/ou acadêmico. Voltemos à primeira pergunta. Planejamento é uma antecipação mental sobre as práticas a serem re- alizadas, não apenas por se tratar de uma tarefa que se faz antes de agir, mas também por ser uma ativida- de que norteia nossas condutas (VASCONCELLOS, 2000). Se tratando de planejamento escolar, conside- ramos que é um processo de relexão sobre as atitudes docentes e envolve todas as ações e situações do edu- cador no seu cotidiano pedagógico. Essa ação precisa de uma “atitude crítica por parte do educador diante de seu trabalho docente” e não é uma fórmula pronta e acabada, pelo contrário, precisa ser lexível a ponto de permitir que o proissional repense constantemen- te sua prática pedagógica (OSTETTO, 2000, p. 177). Diante do exposto, podemos passar para a segun- da questão: Você costuma planejar? Caso a respos- ta seja não, permita-me fazer um convite. Comece hoje a planejar uma ação cotidiana, como exemplo, o estudo da nossa disciplina. Monte um plano que o ajude a organizar os conteúdos, os materiais e o tem- po necessário para seus estudos. Assim, poderáini- ciar a vivência dessa ação e, com a prática constante da mesma, desenvolverá as habilidades necessárias para um bom planejamento. Quando for um prois- sional da educação já terá o costume de planejar, o que é extremamente necessário na docência, como veremos ao longo desta unidade. Segundo Vasconcellos (2000), planejar é buscar uma organização. Contudo, para que haja planeja- mento, precisamos saber o que buscamos. Ninguém planeja uma viagem sem saber seu destino. Dessa for- ma, para saber o caminho a ser trilhado devemos sa- ber o ponto de chegada. Em palavras simples, caro(a) aluno(a), planejamento é o caminho que construímos para chegar ao nosso objetivo, por isso, tanto o cami- nho quanto o objetivo devem ser bem deinidos. 92 DIDÁTICA Em parágrafos anteriores mencionei que uma boa didática só é possível com planejamento. Ambos se fazem presentes nas atitudes de ilósofos, educadores e outros que assumiram o papel de ensinar, seja em ambientes formais ou não formais de educação. Isso mostra que planejamento escolar não é algo recen- te, oriundo de uma tendência nova, porém, a pala- vra que denomina essa organização nasceu apenas no século XIX. Essa prática existe desde o início da educação institucionalizada, ainda que não com a de- nominação de planejamento. Antes de explanarmos sobre o planejamento que conhecemos atualmente, precisamos de uma retomada histórica para compre- ender como foi a caminhada desde sua origem. Na Idade Média, a educação era restrita a quem detinha o poder e ocorria apenas em mosteiros, rei- nos e lugares pertencentes ao clero e à nobreza. Des- tinada apenas a homens ricos, sendo executada em atendimentos individuais, a educação da Idade Média foi alvo de grandes críticas de Comênio (2001), que, como observamos em capítulos anteriores, se propôs a mudar a educação por meio da Didática Magna. A educação para o povo, com ensinamentos cole- tivos, foi apenas uma das reivindicações de João Amós Comênio. Também é a partir de sua referi- da obra que podemos falar em Didática, sendo um marco no que se refere à educação institucionali- zada, como ele sugeriu (COMÊNIO, 2001). Apesar de já existirem Academias (hoje conhecidas como Universidades, ou seja, instituições que ofertam ensino em nível superior) que pluralizavam a edu- cação “superior” para jovens e adultos em grupos, bem como as escolas catedrais do século XII que repassavam os conhecimentos das sete artes libe- rais (gramática, retórica, dialética, geometria, arit- mética, astronomia e música) para turmas de alu- nos, não podemos airmar que havia planejamento, o que seria anacrônico. Contudo, sabemos que as artes supracitadas compunham um currículo, logo, os professores precisavam organizar-se para repas- sar os conhecimentos para todos os alunos. Aqui nos deparamos com aspectos que hoje conhecemos como planejamento. Em sua obra, Comênio (2001) rebate o ensino individualizado e restrito com o argumento de que se deveria objetivar o compartilhamento dos conhe- cimentos, sobretudo de leitura e escrita, para grupos de alunos. Também enfatiza a necessidade de orga- nizar esses conteúdos, uma vez que muitas matérias eram ensinadas ao mesmo tempo e de forma desor- denada. Para tanto, sugeriu propostas que incluem a organização de conteúdos e outros aspectos da edu- cação escolar institucionalizada: Ficou curioso sobre a educação da Idade Mé- dia? Assista ao ilme “O nome da rosa”, direção de Jean-Jacques Annaud, lançado em 1986. Ele mostra como o saber era repassado e qual a importância de ter domínio da leitura e da es- crita, que eram consideradas armas poderosas em um tempo em que apenas clero e poucos nobres detinham o poder das palavras. Veja a icha técnica completa do ilme ao inal deste capítulo. Fonte: a autoral. SAIBA MAIS EDUCAÇÃO FÍSICA 93 Na escola reina a confusão, pelo fato de se querer meter na cabeça dos alunos muitas coisas ao mesmo tempo. Por exemplo: gramá- tica latina e gramática grega, retórica e talvez ainda poética [...] abstenhamo-nos de querer ensinar a dialética a quem estuda gramática; e, enquanto a dialética aina a mente, que esta não seja perturbada pela retórica [...] para não cairmos, de uma maneira ou de outra, em em- baraços, pois, quem pensa em muitas coisas ao mesmo tempo arrisca-se a não compreender seriamente nenhuma delas (COMÊNIO, 2001, p. 217-218). A partir da obra supracitada podemos discutir so- bre planejamento, visto que, ainda sem mencionar essa palavra, ela propõe uma nova organização do ensino. Ao longo dos anos vemos outros modelos de educação, agora institucionalizada, que avançaram em termos de organização. Aqui no Brasil, por exemplo, a educação insti- tucional iniciou-se com a escola jesuíta, que tinha como plano de estudo o Ratio Studiorum, que vi- mos em capítulos anteriores. Esse manual apresen- tava em seu interior métodos de ensino, orientações para organização do professor em sala de aula e o currículo, a saber: Teológico (Teologia Escolástica, Teologia Moral, Sagrada Escritura e Hebreu), Filo- sóico (Lógica e introdução às ciências, Cosmolo- gia, Psicologia, Física, Metafísica e Filosoia moral) e Humanista (Retórica, Humanidades, Gramática Superior, Gramática Média e Gramática Inferior) (FRANCA, 1952). Mais tarde, essa estrutura curri- cular passou a ser utilizada, também, nas Universi- dades europeias. Caro(a) aluno(a), perceba que a história da Didática e das formas de organização do ensino é extensa, mas precisa ser compreendida. Aqui prio- rizamos alguns recortes históricos que são mais sig- niicativos para os objetivos da nossa disciplina, mas você pode aprofundar seus conhecimentos por meio das leituras complementares. Algumas sugestões estão no inal deste capítulo, bem como indicações de ilmes que ajudam a compreender o contexto em discussão. Figura 1 - A Primeira Missa no Brasil, quadro de Victor Meirelles Fonte: Wikimedia. Adiante, salientamos a educação escolar no Brasil após as escolas jesuítas, a im de traçar os caminhos até a consolidação do planejamento na escola e em ambientes não formais de aprendizagem. Confor- me observado em parágrafos anteriores, a Com- panhia de Jesus já seguia um manual para educa- ção escolar, que segundo Franca (1952) continha um currículo pré-estabelecido, as ações docentes e discentes esperadas e orientadas, dentre outros aspectos similares ao que conhecemos hoje, como os documentos referentes aos currículos, metas e projetos da educação escolar. Esse complexo de or- ganização pode ser entendido, atualmente, como um planejamento. 94 DIDÁTICA As escolas tradicionais que surgiram no Brasil após as escolas jesuítas também seguiam um plane- jamento, ainda que não se mencionasse essa palavra. Era um modelo rígido, engessado, em que o profes- sor selecionava os conteúdos e transmitia o conhe- cimento pronto e acabado, como uma verdade abso- luta, seguindo as exigências sociais da época, a im de formar o cidadão moral e cívico ideal para sua sociedade. Essa educação permaneceu elitizada até meados do século XIX, quando as escolas públicas para atender classes populares foram inauguradas (SOUZA, 2006). Chegamos ao marco histórico em que a palavra planejamento inalmente surgiu. Segundo Saviani (2010, p. 382), o termo originou-se em meio a Re- volução Industrial no século XIX. Começamos a ver nitidamente a inluência da sociedade, sobretudo do mercado de trabalho, na educação escolar. Nesse ín- terim, as escolas começaram a incorporar o termo. Na época, ainda comtendências pedagógicas mais tradicionais, os planejamentos escolares eram de in- teira responsabilidade do docente, pois “[...] a ini- ciativa cabia ao professor, que era, ao mesmo tempo, o sujeito do processo, o elemento decisivo e decisó- rio [...]”. A partir de então, iniciou-se o desenvolvi- mento da ação de planejar dentro dos ambientes de aprendizagem. Posteriormente, as tendências pedagógicas con- tinuaram a utilizar o planejamento em suas ações. Na escola nova, já no século XX, por exemplo, essa ação ocorria em conjunto, ou seja, professor e alu- nos discutiam os conteúdos a serem estudados e, a partir de então, eram estabelecidos os procedimen- tos de ensino (BEHRENS, 2009). Na tendência tecnicista o planejamento do professor se embasava no estímulo/resposta necessários para atingir o desempenho esperado do aluno. De acordo com Arruda (2015, p. 243): Figura 2 - Industrialização: Linha de montagem de Ford (1913) Fonte: Wikimedia. EDUCAÇÃO FÍSICA 95 Na década de 1970, em São Paulo, a forma de desenvolver o planejamento sofreu inluências tecnicistas – produtividade, eiciência e eicácia do ensino. Foi também nessa década que se deu a aprovação da Lei n. 5.692, que forneceu as pri- meiras diretrizes e bases dos Ensinos Primário (Fundamental) e Médio. Além disso, ainda no contexto do regime militar, na segunda metade da década de 1960, foram irmados os acordos MEC-USAID, entre o Ministério da Educação (MEC) e a United States Agency for Internatio- nal Development (USAID), para promover a reforma do ensino brasileiro. Diante do exposto, podemos airmar que a partir da década de 1970 houve uma intensiicação do plane- jamento nas escolas e nos ambientes não formais de aprendizagem. Podemos observar que, desde a es- colarização da classe popular, a educação teve como im preparar o sujeito para sua participação na so- ciedade, sobretudo no mercado de trabalho. Como já exploramos em capítulos anteriores, no período tecnicista, mais do que nunca, icou nítida a inlu- ência do mercado sobre a educação, pois a demanda social era de pessoas especializadas em determina- das atividades, logo a educação escolar para as mas- sas deveria formar esses sujeitos. Considerando o contexto social e suas neces- sidades, criaram-se os currículos e, desde então, o professor realiza seus planejamentos para atingir o objetivo estabelecido. Segundo Turra et al. (1995, p. 19), a escola tecnicista teve um processo contur- bado no que corresponde a “[...] racionalização das atividades do professor e do aluno, na situação de ensino e aprendizagem, possibilitando melhores re- sultados e, em consequência, maior produtividade”. Nesse contexto, o planejamento foi de fundamental importância para nortear as atividades docentes e chegar ao objetivo. Em 1961, foi criada a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação do Brasil. Por meio dessa lei, o estado passa a delinear a educação escolar no que tange a investimentos, metas, dentre outros compro- missos com a sociedade. A partir de então o pro- fessor precisou conhecer mais sobre as políticas e exigências do Estado para a educação. Na sequência dos acontecimentos históricos acerca do planejamento surgiram as escolas progres- sistas, nas quais o professor precisava planejar suas aulas considerando o diálogo e a mediação entre o objeto de ensino e o aluno (BEHRENS, 2009). Dessa forma, percebemos que o planejamento não é algo recente, apesar de a palavra ser moderna. Essa ação vem se ampliando no contexto escolar, o que antes As instituições de ensino estão inseridas em sociedades que, a cada tempo, possuem de- mandas diferenciadas. Tanto a sociedade inluencia a escola quanto o inverso, logo, esse condicionamento leva as instituições a formarem cidadãos que atuem de forma eicaz em sua sociedade. A educação tecni- cista surgiu para atender a demanda social do contexto capitalista, em que o mercado de trabalho precisava de pessoas mais qualiica- das, especialistas, que além de ler e escrever soubesse manusear máquinas, dentre outras habilidades mais complexas. Considerando o exposto, o ilme “Tempos Modernos” (1936), de Charlie Chaplin, retrata bem os meios de produção em que emergi- ram o tecnicismo e o trabalho proissional que se pluralizava no mercado. A educação precisava atender essa demanda. Veja a i- cha técnica completa do ilme no inal deste capítulo. Fonte: Elaborado pela autora (2018). SAIBA MAIS 96 DIDÁTICA era apenas responsabilidade do professor tomou uma dimensão nacional. Além disso, o planejamen- to é presente inclusive em ambientes não formais de aprendizagem, sempre considerando a sociedade em que estamos inseridos. mínimos que devem ser ofertados nas escolas de todo o nosso país, por isso toda a equipe peda- gógica deve se familiarizar com ela. Porém, não podemos chamá-la de currículo. Por currículo podemos entender um instru- mento social e cultural que, segundo Moreira e Silva (2002, p. 7-8), [...] não é um elemento inocente e neutro de transmissão desinteressada do conhecimento social. O currículo está implicado em relação de poder, o currículo transmite visões sociais particulares e interessadas, o currículo produz identidades individuais e sociais particulares. O currículo não é um elemento transcendente e atemporal – ele tem uma história, vinculada a formas especíicas e contingentes de organiza- ção da sociedade e da educação. Dessa forma, podemos compreender que o currí- culo está intimamente relacionado com a concep- ção de Homem que a sociedade produz para suprir suas necessidades, que geralmente estão ligadas aos meios de produção capitalista. Diante do exposto, não podemos airmar que o currículo é um docu- mento neutro que trata apenas da formação huma- na. Ele possui um viés político, permeado de inten- ções e visões de quem o produz e se modiica a cada mudança social. Em cada tendência pedagógica o currículo foi visto de uma forma. Assim, nas teorias tradicionais, o currículo se limitava ao “o que ensinar”. Poste- riormente, as teorias críticas ampliaram as relexões para “por que ensinar”, ou seja, “por que ensinar esse conteúdo e não outro?” (SILVA, 2002). Atualmente o currículo é pensado de forma ainda mais ampla (o que ensinar? Para quem? Por quê? Como?) e passa por diferentes discussões (nacional, regional e insti- tucional), como veremos adiante. Saindo do contexto escolar, você acredita que outros proissionais também precisam de planejamento? Por exemplo, um empre- sário ou um chefe de cozinha. Considerando os ambientes não formais de aprendizagem, será que os proissionais desse meio também necessitam de planejamento? REFLITA Como vimos no início deste capítulo, planejar é an- tecipar as ações mentais, a im de organizá-las para suas execuções diversas. Dessa forma, qualquer pro- issional que não planeja suas atividades corre o ris- co de fracassar. Ao contrário do que muitos pensam, atual- mente o planejamento escolar não se limita ao plano de aula que o professor precisa realizar para lecionar. Na verdade, esse é o produto inal de todo o processo de planejamento que aconte- ce na educação escolar. Essa ação inicia-se com o Estado, por meio de políticas educacionais que atendam as demandas da sociedade como um todo. São documentos que estabelecem as me- tas da educação institucional, a exemplo, o Plano Nacional de Educação (PNE). Na Educação Bá- sica, temos a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), aprovada em 15 de dezembro de 2017 para as etapas de Educação Infantil e Ensino Fun- damental, e em 14de dezembro de 2018 para o Ensino Médio. Essa Base estabelece os conteúdos EDUCAÇÃO FÍSICA 97 O currículo em discussão nacional remete-nos à BNCC (2017), que foi construída com base nos pressupostos da nossa Constituição Federal de 1988 e em nossa atual Lei de Diretrizes e Bases da Educa- ção Nacional (LDBEN), lei nº 9.394 de 1996, com o intuito de padronizar os conteúdos de todo o Brasil, para que alunos de norte a sul tenham acesso aos mesmos conteúdos, airmando a igualdade de opor- tunidades. Foi com a ajuda da população e dos professores da rede pública, sobretudo, que os governantes res- ponsáveis puderam consolidar a Base que precisa ser seguida em todo o país, inclusive pelas instituições particulares. Na BNCC (2017) encontramos os con- teúdos mínimos que devem ser trabalhados pelas escolas que ofertam a Educação Básica, bem como as exigências para atender determinadas demandas da sociedade, como o trabalho com as competên- cias e as habilidades de cada aluno, em cada etapa da Educação Básica e em cada disciplina. Vejamos a seguir o conceito de competência para a BNCC: Ao longo da Educação Básica, as aprendizagens essenciais deinidas na BNCC devem concorrer para assegurar aos estudantes o desenvolvimen- to de dez competências gerais, que consubs- tanciam, no âmbito pedagógico, os direitos de aprendizagem e desenvolvimento. Na BNCC, competência é deinida como a mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemo- cionais), atitudes e valores para resolver de- mandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho (BRASIL, 2017, p. 8 – grifos no original). Em outras palavras, competência é a capacidade te- órica e prática que o sujeito possui para desempe- nhar determinada atividade, por exemplo: você tem competência para dar uma aula de ginástica? Para responder essa pergunta precisa-se levar em consi- deração os conhecimentos necessários para dar essa aula, como anatomia humana, técnicas e movimen- tos especíicos da ginástica, didática para ensinar, entre outros. Então, você tem competência para isso? Diante dessa exigência citada pela BNCC (2017), sempre que o professor pensar em um con- teúdo de sua disciplina deverá pensar, também, nas competências e habilidades que deverá trabalhar com seus alunos, pois além de conhecimentos teó- ricos, as crianças e adolescentes da Educação Bási- ca precisam de conhecimento prático, veja a seguir uma das competências gerais que os alunos desse nível de ensino devem adquirir com os conteúdos da BNCC: “agir pessoal e coletivamente com auto- nomia, responsabilidade, lexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em prin- cípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários” (BRASIL, 2017, p. 10). Considerando essa exigência, os professores deverão pensar em es- tratégias de ensino e de aprendizagem que propor- cionem aos seus alunos o desenvolvimento dessas competências. Além disso temos as habilidades, que segundo o documento são práticas cognitivas e sociais que per- mitem ao sujeito ter competência para exercer suas atividades (BRASIL, 2017). De um jeito mais sim- ples, habilidades são formas de se desenvolver bem as atividades, por exemplo: imaginemos que você dê aulas para uma criança de 4 anos e tenha que expli- car o que é um cavalo, pois ela nunca o viu; como você explicaria? Eu tenho habilidades para desenhar (motricidade ina aguçada, percepção visual bem desenvolvida etc.), logo, pegaria um papel e lápis de cor para desenhar um cavalo e explicar por meio de uma ilustração. 98 DIDÁTICA Vemos que a Base (2017) estipula o currículo mínimo e estabelece exigências que norteiam todo o planejamento escolar, mas não determina a didá- tica do professor. As metodologias, os métodos e as estratégias utilizadas para realizar os processos de ensino e de aprendizagem são de inteira responsabi- lidade da equipe pedagógica. Após a aprovação da BNCC pelo Estado quanto aos conteúdos mínimos a serem ensinados nas es- colas de Educação Básica, o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) se reúne com a União Nacional dos Dirigentes Municipais (Un- dime), Conselho Nacional de Educação (CNE), Fórum Nacional dos Conselhos Estaduais de Edu- cação (FNCE) e União Nacional dos Conselhos Mu- nicipais de Educação (Uncme) para debater sobre o currículo ideal para cada estado e seus municípios. Nessas discussões, além dos conteúdos mínimos já estipulados na Base, são consideradas as questões particulares de cada estado e de seus municípios, a im de elaborar o Referencial Curricular do estado, que será seguido por todas as suas cidades (BRASIL, 2018a; PARANÁ, 2018). A partir do Referencial Curricular do estado, cada escola construirá o seu planejamento institu- cional. Sentam-se, nesse momento, diretores, su- pervisores, coordenadores, professores, auxiliares, equipe de limpeza, associação de pais – que envolve a comunidade escolar –, a im de construírem o do- cumento que apresentará o currículo e determinará a identidade da escola: o Projeto Político Pedagó- gico (PPP). Nesse documento é apresentada, com base em preceitos democráticos, a visão de mundo que a escola possui, revelando o que ela entende por educação, conceito que deve ser bem deinido por cada professor; qual é o cidadão necessário para a comunidade local; qual é o objetivo da educação dessa instituição; qual é a tendência pedagógica que norteará as ações didáticas; dentre outras perspec- tivas que apresentem a escola em seus aspectos físi- cos, ilosóicos, políticos e pedagógicos (VASCON- CELLOS, 2002). Esse documento deve ser construído pelos educado- res em conjunto com a comunidade local, por isso o PPP é considerado democrático, pois leva em con- sideração o ponto de vista da equipe diretiva, dos professores, dos pais, dos alunos e de toda a comu- nidade escolar. Isso ocorre pois a educação ofertada é direito de todos, e toda a comunidade será impac- tada pela educação a ofertada por aquela instituição (VEIGA, 1995). Nesse documento – PPP – também são pré-es- tabelecidas as disposições dos conteúdos determi- nados pela BNCC (2017) e discussões anteriores. Volta-se à relexão sobre o currículo, agora dentro da instituição. Segundo Saviani (1991, p. 23), currí- culo “[...] é o conjunto das atividades nucleares de- senvolvidas pela escola”. Logo, tudo o que acontece na instituição é currículo. Aqui vemos a identidade da escola, pois esse currículo inclui as experiências vividas por todos os seus integrantes. O planejamento realizado no PPP é sintetizado, posteriormente, no Plano Anual, documento em que a escola separa os conteúdos e os distribui em se- EDUCAÇÃO FÍSICA 99 mestres e/ou bimestres, a im de organizar o que será trabalhado e quando. Assim, deve-se pensar em uma sequência lógica, para não propor um conteúdo que não seja a sequência lógica do outro. Depois, cada pro- fessor planeja suas ações pedagógicas considerando os conteúdos a serem ensinados; a ordem destes; a importância de cada um; os objetivos a serem alcan- çados e como serão trabalhados. Tudo isso será re- gistrado no plano de aula, que pode ser pensado por conteúdos, por meses, por quinzena ou por semana, o que varia de acordo com a organização de cada escola, considerando sua identidade, registrada no PPP. Vemos, portanto, que o planejamento do profes- sor é o último de uma série de planejamentos que se iniciam em âmbito nacional e vão se afunilandoa cada processo. Na igura abaixo podem ser observados de modo sucinto os passos do planejamento escolar: Dessa forma, o professor não é o único envolvido no planejamento escolar. Quando falamos em currícu- lo devemos lembrar que ele começa a ser planejado pelo Estado em acordo com a população acadêmica e civil, passando por uma ampla discussão até che- gar na escola de fato. O professor, mesmo com esses planejamentos prévios, precisa organizar os conteú- dos de forma que iquem didáticos para os alunos. Em suma, o conteúdo que já está estabelecido para o professor, nessa fase, precisa ser pensado por ele com base em sua relevância, os objetivos e a forma com que serão ensinados. Nos ambientes não formais de aprendizagem, que são assim caracterizados por não possuírem currículo deinido, o proissional deverá elaborar o seu planejamento com base nas diretrizes do local em que trabalha, que pode ser uma empresa, um museu, um hospital, dentre outros lugares onde a aprendizagem ocorre de forma mais espontânea e relacionada com aspectos especíicos do local de trabalho. Na etapa de registro do plano, é necessária pes- quisa em muitos quesitos. Ao falarmos no campo da docência precisamos ter claro que o plano de aula não é um mero papel, mas sim um eiciente instru- mento de trabalho do professor. Não é uma tarefa fácil realizá-lo, pois precisa de pesquisas: identidade da turma, como aprendem, qual é o procedimento de ensino adequado para cada aluno, conhecimen- tos cientíicos dos conteúdos, formas de desenvolver competências e habilidades etc. Veremos, no próxi- mo tópico, como o professor pode efetuar suas pes- quisas para construir seu plano de aula. BNCC - estabelece os conteúdos mínimos que devem ser ensinados em todo o Brasil em cada etapa da Educação Básica. Plano de aula – organiza os conteúdos estabeleci- dos no currículo, a �m de estruturar o que, por que e como ensinar. Figura 3 - Planejamento escolar: âmbito nacional, regional e institucional Fonte: Elaborado pela autora (2018). EDUCAÇÃO FÍSICA 101 A formação proissional nunca se encerra. Come- çamos a construir nossos conhecimentos cientíi- cos próprios da proissão na graduação, mas não para por aí. O sujeito que se contenta apenas com a formação inicial diicilmente será um proissional próspero e preparado para as demandas da socie- dade, visto que são aspectos dinâmicos e o merca- do apresenta novos desaios a todo o instante. A graduação é uma base, um suporte teórico e prá- tico inicial que pode amparar as necessidades de um proissional que acaba de entrar no mercado de trabalho. Nesse meio acadêmico, o futuro professor aprende as teorias necessárias para desenvolver suas aulas e efetivar a aprendizagem, bem como proporcionar o desenvolvimento de seus alunos; por isso é tão importante o contato com as políti- cas, as metodologias, as psicologias educacionais, dentre outras matérias que você, caro(a) aluno(a), terá contato ao longo do curso, assim como a Di- dática. Ao longo do curso você perceberá que todas as disciplinas são essenciais para uma boa didática. Saviani (2003) salienta que o professor, por meio da didática, precisa saber transpor o saber cientí- ico em saber escolar, logo, em sua formação deve aprender a trabalhar com os conteúdos em forma de pesquisa, a im de reletir sobre os mesmos e considerar aspectos como: - A capacidade de ensinar ou ajudar o aluno a se apropriar do saber; - o domínio dos conteú- dos a serem ensinados, o que exige uma visão geral da disciplina (princípios organizadores, campos nacionais, tramas conceituais); - o do- mínio de instrumentos e habilidades ligados a situações de aprendizagem (previsão, observa- ção, análise, gestão, regulação e avaliação), (SA- VIANI, 2003, p. 154). Considerando o exposto, a formação de professo- res deve promover instrução, produção, simulação, documentação, retroação e observação, tudo para estimular e capacitar o proissional a fazer pesqui- sas sobre conteúdos, processos de ensino e de apren- dizagem, modelo pedagógico, organização escolar que, como airma Astoli e Develay (1991), resultam em uma formação pela pesquisa. Discutir sobre a formação de professores é muito importante, pois sempre que é analisa- da a situação da educação pública em nosso país vemos que os índices de desempenho dos nossos alunos, sobretudo nas áreas de português e matemática, são alarmantes. A culpa geralmente recai sobre os docentes, visto que são os responsáveis pela educação escolar. Precisamos fazer a nossa parte. Você, caro(a) aluno(a), enquanto professor em formação, precisa ser “[...] ator/autor da sua trajetória de vida e emergente da teia econômica, so- cial e cultural em que está inserido e como proissional que busca a formação, reconhe- cer suas necessidades e as do contexto em que atua [...]” (SOARES; CUNHA, 2010, p. 32). Não basta as universidades oferecerem a educação superior de qualidade, o acadêmico também precisa buscar o que lhe falta, com autonomia em sua própria formação. Somente assim podemos argumentar que o bom sucesso da educação escolar está para além da formação de professores, exigindo investimentos na educação e responsabilizando, também, o Estado. Fonte: Soares e Cunha (2010). SAIBA MAIS 102 DIDÁTICA Ao longo do curso o acadêmico também tem a oportunidade de ter contato com a prática docen- te por meio dos estágios, nos quais pode veriicar como a teoria se efetiva no contexto escolar, como é a rotina de uma escola, dentre outros aspectos re- lacionados à práxis escolar. Essa pesquisa de campo proporciona ao acadêmico a superação da dicoto- mia entre a teoria aprendida durante as disciplinas e a prática vivenciada no campo de trabalho, pois no estágio o aluno deve perceber, com as mediações docentes, que toda a teoria aprendida nas aulas é necessária para colocar em prática as ações pedagó- gicas, desde o planejamento até o processo de ensi- no e aprendizagem. Esta correlação teoria e prática é um movi- mento contínuo entre saber e fazer na busca de signiicados na gestão, administração e re- solução de situações próprias do ambiente da educação escolar. A prática, como componen- te curricular, que terá necessariamente a mar- ca dos projetos pedagógicos das instituições formadoras, ao transcender a sala de aula para o conjunto do ambiente escolar e da própria educação escolar, pode envolver uma articula- ção com os órgãos normativos e com os órgãos executivos dos sistemas (BRASIL, 2001, p. 9, grifos do autor). Com essa preparação, o futuro professor deve consi- derar que em seu campo de atuação a teoria sempre deve permear a prática para que a ação seja signii- cativa, sobretudo no que diz respeito ao processo de mediação, também a teoria sempre leva em consi- deração as práticas já vivenciadas, mas com cienti- icidade. Essa dicotomia, superada nos estágios, não pode voltar a aparecer quando o professor se forma e assume uma turma. Por im, em meio a todo esse contexto, o acadêmico graduando deve aprender a realizar pesquisas cien- tíicas, o que se efetiva nas atividades de estudo, na realização de fóruns, no desenvolvimento de proje- tos de iniciação cientíica, dentre outras atividades acadêmicas das quais o aluno pode participar, por iniciativa do professor, mas, principalmente, por sua própria iniciativa. Silva e Compiani (2015) denun- ciam que a pesquisa por parte dos professores está abaixo do que precisamos no país, pois apenas uma parcela ligada a cursos universitários como os Stric- to Sensu faz essa tarefa.Diante desse fato, os autores supracitados sa- lientam a importância de todos os professores rea- lizarem pesquisas dentro de suas salas e escolas de atuação, relacionadas a metodologias e outras in- vestigações sistemáticas e intencionais no trabalho educativo: EDUCAÇÃO FÍSICA 103 A ideia de sistemático se refere às formas de recolher e armazenar a informação, de docu- mentar as experiências de dentro e fora da aula e de realizar registros escritos das situações. A intencionalidade vê a pesquisa do professor como uma atividade planejada e não espontâ- nea, mesmo considerando que nem todos os resultados são provenientes de atividades pla- nejadas. Por im, a ideia de investigação traz a noção de que a pesquisa gera questões e relete os desejos docentes de dar sentido às suas ex- periências, admitindo, com isso, que nem toda pesquisa deve, necessariamente, trazer nova in- formação, mas deve trazer a possibilidade de se interpretar a informação que já se possui (SIL- VA; COMPIANI, 2015, p. 1106). Essa pesquisa docente a que se referem as autoras é diferente da pesquisa metodológica, como ocor- re em cursos Stricto Sensu (Mestrado e Doutorado, por exemplo), pois trata-se de pesquisas produzi- das no próprio local de trabalho, a im de aperfei- çoar as metodologias de ensino e de aprendizagem de um público especíico, sem o rigor das pesquisas acadêmicas. cente. Depois que o discente se forma, se depara em sala de aula com inúmeras adversidades que preci- sam ser melhor estudadas, como exemplo: um aluno com transtorno, uma tecnologia da educação inova- dora, uma nova tendência pedagógica, dentre outras novidades para as quais a graduação, apenas, não dá o suporte total. Ainda que tenhamos disciplinas que nos deem a base para conhecer sobre transtornos, tecnolo- gias educacionais e tendências pedagógicas, sem- pre precisaremos de um conhecimento mais espe- cífico e aprofundado do assunto. Por isso temos a pós-graduação, para nos especializarmos naquilo que precisamos em determinado momento (SILVA; COMPIANI, 2015). Novamente, partiremos para a pesquisa e isso se repetirá sempre que o professor se deparar com algo para qual ele acredita não estar preparado. Hoje ele tem um aluno autista sobre o qual pesquisou e já sabe como ele aprende, como ensinar, quais meto- dologias são melhores, entre outros aspectos. Ama- nhã ele terá um aluno surdo, sobre o qual precisa pesquisar novamente, conhecer seu processo de en- sino e de aprendizagem de formas mais especíicas. Assim é com tudo que se passa na escola e demais ambientes de aprendizagem. Vimos em capítulos anteriores que há diferentes tendências pedagógicas, você pode ser contratado para trabalhar em uma escola que segue a pedago- gia histórico-crítica, por exemplo, que está ainda em alta, mas amanhã você pode precisar trabalhar em uma escola que utiliza uma teoria mais tradicional ou ainda uma nova teoria revolucionária que chega ao Brasil. Assim, precisará pesquisar sobre essas ten- dências: qual é o papel do professor? Qual é o foco da teoria? Qual é o objetivo da educação para essa determinada tendência? Você já ouviu a expressão: “o professor não está preparado para isso”? Diante de uma adversidade no âmbito pedagógico, qual proissional você será? Estará disposto a en- carar os desaios ou dirá “não sou preparado para isso”? REFLITA Assim como em todas as proissões, temos aqueles proissionais que, diante de desaios, se preparam para enfrentá-los. Outros preferem usar desculpas. A pesquisa está presente em nossa vida acadêmica e deve permanecer por todos os dias da carreira do- 104 DIDÁTICA A vida do professor é pesquisar e não há como fugir disso. Ser um docente sem ser um pesquisador é estar fadado ao fracasso e ser responsável pela edu- cação escolar sem qualidade, contribuindo para as diiculdades escolares de seus alunos, a não apren- dizagem, o baixo rendimento escolar e o não desen- volvimento global do sujeito. Lüdke (2001) airma que faz parte da boa formação docente as práticas de pesquisa, visto que é por meio delas que o docente adquire as habilidades de reconhecer o seu contex- to, enxergar os desaios e superar os problemas, sem considerá-los imutáveis. Ainda que o professor tenha o mais alto grau de instrução e título acadêmico, precisará continuar suas pesquisas para lecionar. Dessa forma, um pro- fessor que tenha doutorado deve continuar as pes- quisas para ter uma aula de excelência. Na Educação Básica, por exemplo, as pesquisas docentes se ini- ciam antes mesmo do início das aulas. Como vimos no tópico anterior, há uma série de planejamentos antes que os conteúdos cheguem ao professor para elaboração do seu plano de aula. Esse percurso do planejamento escolar deve ser conhecido pelo do- cente, visto que são embasados em documentos educacionais que, a todo momento, podem ser atua- lizados, modiicados e/ou substituídos. Neste exato momento, caro(a) aluno(a), estamos passando por uma atualização dos proissionais da educação que perdurará por um bom tempo, vis- to que a BNCC é nova e precisa ser conhecida por todos os professores, antes mesmo da elaboração de seus planos de aula. Isso signiica pesquisa (BRASIL, 2017; 2018b). Os documentos educacionais devem ser constantemente pesquisados pela equipe pedagó- gica, bem como o PPP de sua escola, visto que o pla- no de aula deve estar em consonância com a visão de mundo que a instituição possui, o objetivo com a edu- cação e demais detalhes que já observamos no tópico anterior. Imaginem que a escola tenha como ideal de educação formar alunos críticos, para tanto utiliza a teoria histórico-crítica, porém o professor é adepto de uma teoria mais tradicional, que não permite a for- mação de um sujeito crítico, mas sim passivo. Esse conlito acaba por formar alunos que não condizem nem com a visão de sujeito da escola nem com a da sociedade atual. Esse professor, portanto, não está apto para atuar nessa escola nem na socie- dade, tornando-se obsoleto e podendo implicar ne- gativamente na formação acadêmica de seus alunos, de forma a prejudicar seu desenvolvimento social e cognitivo. Por isso é tão importante que o professor pesquise os documentos educacionais a nível nacio- nal, regional e principalmente os de sua escola, para então elaborar seu plano de aula. Essa pesquisa, como já salientamos, inicia-se an- tes mesmo das aulas, pois as reuniões com a equipe pedagógica são realizadas um pouco antes do início dos dias letivos, a im de que as escolas já comecem suas pesquisas e seus planejamentos anuais. Para tanto, também é realizada a distribuição de turmas, para que o professor saiba com qual série trabalha- rá, o que também precisa ser pesquisado, pois cada etapa da educação possui um objetivo, cada série possui uma necessidade e cada turma, suas especi- icidades (GÓMEZ, 1998). EDUCAÇÃO FÍSICA 105 Dessa forma, o professor habituado a trabalhar com a Educação Infantil não trabalhará da mesma forma com o Ensino Fundamental. O professor que traba- lha com o 6º ano não pode trabalhar da mesma for- ma com o Ensino Médio. A turma do 2° ano A tem um peril diferente do 2° ano B. Diante do exposto, como o professor pode lidar com esses diferentes peris? Com pesquisa, antes de tudo. Pesquisar o objetivo de cada etapa da educação é fundamental para saber como trabalhar. Sempre que tiver a opor- tunidade de conversar com os professores anteriores da turma, faça-o, pois isso também contribui para a pesquisa da identidade da turma: são alunos mais participativos?Mais curiosos? Trabalham bem em grupo? São disciplinados? Tudo isso contribui para, posteriormente, mon- tar o plano de aula, visto que não há como pensar o que ensinar sem pensar para quem e como. Depois de estabelecidos os conteúdos pelo planejamento es- colar e realizada a distribuição de turma, o professor se empenha na pesquisa dos conteúdos e do peril prévio da turma para montar seu primeiro plano de aula do ano. Esse é o mais difícil, pois o docente tra- balha com base em informações coletadas em sua pesquisa teórica, sem ter, ainda, o primeiro conta- to com a turma; logo, atua sem pesquisa e conheci- mento prático da identidade dos alunos. Dessa for- ma, deve elaborar um plano de aula lexível, ou seja, possível de ser modiicado após o início das aulas, pois precisará mudar suas estratégias diante de uma adversidade (OSTETTO, 2000). Suponhamos que, em suas pesquisas, tenha constatado previamente que a turma é mais agitada e participativa. Com o início das aulas, porém, diante de sua didática e sua postura, notou que a turma se mostrou mais tranquila, menos participativa. Dessa forma, precisará trocar as estratégias de controle da turma para estratégias que promovam a interação, como exemplo, trocar as atividades individuais por atividades em dupla. Ao iniciar as aulas, o professor começa de fato sua pesquisa sobre os alunos: como cada um apren- de? Quais são as diiculdades de cada um? E as habi- lidades? Quais as metodologias mais eicazes para a turma? Tudo para saber como lidar em sala de aula, de forma que consiga ensinar e os alunos consigam aprender. Os conhecimentos dessa pesquisa se rele- tirão em seu plano de aula, em que deverão constar os métodos a serem utilizados. Isso nos leva a ou- tro aspecto que precisa ser pesquisado. Precisamos, o tempo todo, saber quais são os procedimentos de ensino que estão fazendo sucesso quanto a melhoria do ensino e da aprendizagem (GASPARIN, 2007). Passamos agora a reletir sobre a pesquisa dos con- teúdos. Essa pesquisa deve acontecer durante todo o ano letivo. Vivemos em uma sociedade em que a informação está por toda parte. Alunos e professo- res estão cercados de informação, porém, devemos entender que informação é um conceito diferente de conhecimento. Fora da escola posso acessar infor- mações, mas dentro da sala de aula o professor deve proporcionar conhecimento. 106 DIDÁTICA Informação, no campo da educação, pode ser considerada algo supericial, que é repassado de um emissor para um receptor, podendo ser transmitida de forma oral ou, como estamos na era tecnológica, por meio de um instrumento digital (BOSI, 1995). O conhecimento, por outro lado, é aprofundado; parte de algo já produzido pelo Homem, que é reconstru- ído pelo sujeito aprendiz a partir de suas categorias de pensamento (GADOTTI, 2005). O professor pode utilizar a informação como instrumento de seu ensino, servindo, então, como objeto de estudo ou ponto de partida para o alu- no, o que proporcionará, no processo de ensino e de aprendizagem, a produção de conhecimento. De forma alguma, o professor deve apresentar apenas a informação e permanecer nessa superfície, conside- rando-a como conhecimento. Esse cuidado deve ser redobrado em nossa sociedade atual, porque esta- mos imersos na tecnologia que nos proporciona in- formações a todo o instante, por isso muitos alunos chegam em sala achando que sabem de tudo. O pior é quando o professor também acha que informação é conhecimento. Por isso a pesquisa docente nunca se fez tão ne- cessária quanto agora. O professor pode utilizar as tecnologias para sua pesquisa, as informações como ferramenta para suas aulas, mas não pode icar preso a elas. Suas aulas devem ir além da linha rasa dos as- suntos discutidos, do que está posto nas mídias e nas redes sociais. É necessário estudo aprofundado do conteúdo, para que compreenda as entrelinhas das informações, consiga transformá-la em saber siste- matizado e ajudar o aluno a passar do conhecimento real para um mais elaborado. Apenas assim contri- buímos para o desenvolvimento e a aprendizagem (GADOTTI, 2005). Calleja (2008) nos alerta que o professor preci- sa passar do processo informativo e/ou reprodutivo para outro que proporcione a interpretação e análise crítica dessas e outras informações. Para tanto, o au- tor enfatiza que o docente precisa ser: • Preparado e atualizado em sua ciência, ou seja, em sua especiicidade do saber. - Ser um investigador. Às vezes os professores acredi- tam que se sua docência é de pré-escola ou ensino fundamental, não tem de investigar, quando realmente a investigação deve carac- terizar um docente de qualquer nível de ensi- no. - Deve possuir uma cultura geral, ou seja, integral. - Possuir uma formação razoável do ponto de vista da Pedagogia, da Didática e das outras Ciências da Educação. - Ser um edu- cador exemplar, em qualquer lugar, honrado, honesto, consagrado, ético em sua proissão e com boas relações humanas (CALLEJA, 2008, p. 116). A pesquisa docente precisa sair das informações, dos livros didáticos, e passar para um nível mais elevado de produção de conhecimento, que aconte- ce em meios cientíicos. Dessa forma, para pesqui- sa docente é necessário o currículo bem deinido, livros e artigos cientíicos, ilmes e documentários, dentre outros meios de elaboração de conhecimento e de cultura. No âmbito não formal a pesquisa também se faz necessária, pois trata-se de um campo em constan- te atualização. O proissional que atua em empresas, academias, hospitais e outros locais onde a educação se efetiva de forma não curricular precisa se atentar às matrizes que norteiam seu trabalho, documen- tos, novas tendências do seu campo de atuação, por exemplo, tecnologias e técnicas que potencializam o desenvolvimento dos aprendizes etc. EDUCAÇÃO FÍSICA 109 Após o planejamento institucional e a pesquisa do proissional, chega a hora de registrar toda essa ca- minhada, de modo a organizar a ação que será re- alizada com o aprendiz. O plano de aula é a última etapa do planejamento escolar, mas é a mais impor- tante, pois é por meio dele e de sua execução, bem como avaliação, que poderemos saber se a trajetória anterior foi bem-sucedida. Há várias formas de registrar o plano de aula, isso vai depender de cada escola, de cada teoria nor- teadora, dentre outros aspectos. Algumas escolas optam por realizar o plano de aula bimestral, outras o mensal, quinzenal ou, ainda, o semanal. Essa dis- tribuição dos conteúdos, que pode variar de bimes- tre a semanas, acontece a partir do Plano Anual, que já mencionamos no primeiro tópico deste capítulo. Com o currículo já estabelecido, os professores organizam os conteúdos da melhor forma, pensan- do em por que ensinar, para que e como ensinar seus alunos, a im de facilitar as ações de ensino e de aprendizagem, tudo para que se torne um proces- so facilitado, eicaz e eiciente. Portanto, dentro do plano de aula existem elementos essenciais a serem pensados, os quais veremos detalhadamente. Quando falamos em currículo, devemos saber que tais conteúdos foram selecionados não por aca- so, mas sim porque cada um tem uma relevância na formação do sujeito (SAVIANI, 2003). Sabendo disso, o professor deve reletir, em primeiro lugar: por que ensinar determinado conteúdo? Para icar mais explícita a nossa discussão sobre esse plano, vamos juntos, caro(a) aluno(a), pensar no passo a passo da elaboração de um plano de aula ictício. Para tanto, vamos considerar, como conteúdo a ser trabalhadodentro de um bimestre, a probabilidade e a estatística, enfocando os gráicos, por um perí- odo de 15 dias. Suponhamos que nossa aula seja para uma tur- ma de 5º ano do Ensino Fundamental, cuja identi- dade sabemos que apresenta diiculdades em mate- mática; é uma turma agitada e desinteressada nos conteúdos mais teóricos, mas que precisa aprender sobre gráicos. Diante do exposto, por que trabalhar gráicos no 5º ano? Lembramos que o professor deve estar ciente do que os documentos educacionais tra- zem em seu bojo. Se observarmos, por exemplo, a BNCC, verii- camos que traz para o 5º ano a seguinte proposta de trabalho com probabilidade e estatística: “leitura, coleta, classiicação, interpretação e representação de dados em tabelas de dupla entrada, gráico de colunas agrupadas, gráicos pictóricos e gráico de linhas” (BRASIL, 2017, p. 294). Dessa forma, não é todo e qualquer gráico que precisa ser trabalhado nessa etapa, mas sim gráicos de colunas agrupadas, gráicos pictóricos e gráicos de linhas. Considerando ainda a Base, temos que nos aten- tar às habilidades exigidas: “realizar pesquisa envol- vendo variáveis categóricas e numéricas, organizar dados coletados por meio de tabelas, gráicos de colunas, pictóricos e de linhas, com e sem uso de tecnologias digitais, e apresentar texto escrito sobre a inalidade da pesquisa e a síntese dos resultados” (BRASIL, 2017, p. 295). Isso signiica que além de ensinar sobre os referidos gráicos o professor pre- cisará fazer com que o aluno conclua o 5º ano com a habilidade de realizar pesquisas com variáveis nu- méricas (pesquisa quantitativa, com classiicações discretas e/ou contínuas) e categóricas (classiica- ções diversas como gênero, espécie etc.). Partindo desses pressupostos, suponhamos que o PPP da escola do nosso 5º ano apresente que a Matemática se deine como uma ciência que se de- senvolveu desde a necessidade do Homem de resol- 110 DIDÁTICA ver situações problema e que hoje está enraizada em nossa cultura. Com isso, espera-se que os conteúdos matemáticos ajudem seus alunos a participar da so- ciedade com conhecimentos cientíicos, de forma que também possam contribuir para a ampliação dos mesmos. Diante do exposto, o professor já sabe por que trabalhar gráicos no 5º ano: porque essa escola pre- cisa formar cidadãos letrados, que saibam, além de conceitos, fazer uso social dos conteúdos. Essa res- posta será necessária para construir o objetivo da aula que será registrada no plano. Esse conhecimen- to, como vimos no tópico anterior e exempliicado aqui, o professor adquire por meio de pesquisas contínuas aos documentos educacionais, desde os nacionais até o institucional. De acordo com Libâneo (2013) o “porquê” ensi- nar está intrinsecamente relacionado à função social da escola. Em essência, a função de toda instituição escolar é formar um cidadão que saiba ler, escrever e contar, de forma que saia de um conhecimento real e chegue ao seu máximo potencial por meio de lei- tura, escrita e contas. Deve saber interpretar, anali- sar e emancipar seus conhecimentos de forma que se desenvolva plenamente (cognitiva, social, afetiva e isicamente). Contudo, o professor precisa pensar na segun- da questão que norteará seu plano de aula: para que ensinar esse conteúdo? Isso pode ser esclarecido a partir do PPP, que descreve a visão de Homem, de educação e de sociedade que a escola possui, o que inluencia na educação escolar dos seus alunos. Su- ponhamos que a escola do nosso 5º ano tenha como concepção de Homem um ser social, crítico e rele- xivo, que ela veja a educação como uma forma de emancipação do sujeito, que sai da ignorância e che- ga à concepção plena da sociedade em que vive, sen- do essa, por sua vez, capitalista. Assim, o professor pode concluir que o conteúdo gráico será ensinado para que o aluno, por meio das pesquisas quantiica- das, compreenda sua realidade e amplie seus conhe- cimentos cientíicos. Essa resposta será necessária para justiicar o objetivo da aula que será registrada no plano de aula. Libâneo (2013, p. 43) salienta que os alunos devem adquirir conhecimento [...] a im de que se tornem preparados e aptos para enfrentar as exigências objetivas da vida social como a proissão, o exercício da cidada- nia, a criação e o usufruto da cultura e da arte, a produção de novos conhecimentos de acordo com interesses de classe, as lutas pela melhoria das condições de vida e de trabalho. Por im, o professor precisa reletir: como ensinar? Há inúmeras formas de ensinar gráicos, porém, os métodos devem estar de acordo com a teoria da es- cola, que consta no PPP, além de estar em consonân- cia com os objetivos da instituição, do professor e da disciplina. Suponhamos que, para tanto, utilizemos como método as aulas expositivas e práticas, pesqui- sas e resolução de situações problema. Libâneo (2013) orienta que o professor precisa pensar em métodos e procedimentos didático-peda- gógicos que ajudem a viabilizar o processo de ensi- no, de forma que, aliados à mediação, contribuam para o desenvolvimento das capacidades mentais dos alunos, para que eles pensem e adquiram seus próprios métodos de aprendizagem e ação. EDUCAÇÃO FÍSICA 111 Até aqui, caro(a) aluno(a), reletimos questões es- senciais para a elaboração do plano de aula. A par- tir de agora precisamos pensar sobre o seu registro. Para tanto, devemos considerar os seguintes itens: disciplina, conteúdo, objetivos, métodos e avaliação. Seguindo o nosso caso do 5º ano como exem- pliicação, nosso plano de aula tem como vigência 15 dias letivos e a nossa disciplina já está deinida: matemática. O conteúdo também já foi estabelecido: probabilidade e estatística. Dessa forma, consideran- do todo o exposto, precisamos registrar nosso obje- tivo, retomando, então, a relexão do professor sobre o porquê ensinar determinado conteúdo e para que, considerando a BNCC (2017) e o PPP. Da mesma forma, fazemos com os métodos (tema da próxima unidade, sobre os procedimentos de ensino), previa- mente elaborados a partir da relexão sobre como ensinar, acrescentando no registro do plano de aula os instrumentos que serão utilizados, a im de que se faça uma organização prévia do professor e da escola. Por im, a avaliação (tema da nossa última unidade) precisa ser pensada, considerando o PPP da instituição. Nesse momento, vamos supor que nessa escola a avaliação seja diagnóstica e contínua. Assim, nosso plano de aula pode ser registrado da seguinte forma: 112 DIDÁTICA Quadro 1 - Plano de aula hipotético Série: 5º ano Duração: 15 dias Disciplina: Matemática Conteúdo: Probabilidade e estatística Objetivo: formar cidadãos letrados, que saibam, além de conceitos, fazer uso social dos conteúdos, para que o aluno, por meio das pesquisas quantiicadas, compreenda sua realidade e amplie seus conhecimentos cientíicos. Método: aulas expositivas e práticas, literatura, pesquisa em livros cientíicos na biblioteca da escola; pesquisa em sites coniáveis no laboratório de informática da escola; resolução de situações problema em sala de aula, na prática e por meio de softwares no laboratório de informática da instituição; elaboração de cartazes; elabo- ração de gráicos utilizando materiais concretos como bola de isopor, garrafas pet de diferentes tamanhos etc.; apresentação em grupo do resultado de uma pesquisa em malha quadriculada usando gravuras. Instrumentos e recursos: livro de literatura infanto-juvenil; quadro; caderno; lápis, borracha; biblioteca; sala de informática; papel cartolina; sucatas; tinta; pincel;malha quadriculada; revistas. Avaliação: será realizada durante as aulas, por meio da observação da participação dos alunos e o desenvolvi- mento de suas atividades teóricas e práticas. Disposição das aulas: 1ª aula 2ª aula 3ª aula 4ª aula 5ª aula • Apresentação e problematização do conteúdo: (vocês sabem o que é um gráico? Para que serve?); • Exposição teórica: conceito de gráico, informações sobre para que serve um gráico, como pode ser utilizado; • Apresentação visual de diferentes grái- cos e suas funciona- lidades. • Leitura da história Onde Laura gosta de passear; • Interpretação coletiva da litera- tura; • Levantamento quantitativo relacionado aos lugares em que a personagem gos- ta de passear; • Levantamento quantitativo do lugar em que cada aluno gosta de passear; • Montagem coleti- va, no quadro, de um gráico de bar- ras com os dados dos alunos. • Levar os alunos à biblioteca e separá-los em três grandes grupos, para que pesquisem em livros cientíicos o que é gráico de barras duplas, o que é gráico pictográico e o que é gráico de linhas. Todos deverão registrar, cada um em seu caderno. • Tarefa para casa: perguntar para sua família os lugares em que gostam de pas- sear. • Retomada da literatura; • Apresentação de um cartaz elabo- rado pela profes- sora a partir dos dados coletados no levantamento quantitativo dos lugares em que cada aluno gosta de passear (reto- mada da segunda aula); • Separar os alunos em duplas para que confeccio- nem em um cartaz o gráico de barras duplas com os resulta- dos quantitativos da tarefa de casa. • Solicitar que um re- presentante de cada grupo de pesquisa da biblioteca (realizado na 3ª aula) apresente à sala os resultados obtidos na pesquisa; • Apresentação de curio- sidades sobre parques e bosques da cidade e região; • Retomada do conceito e utilidade do gráico de barras; • Sortear para cada aluno um lugar de passeio da cidade e da região, para que façam uma pesqui- sa quantitativa com a ajuda da família. Devem trazer: ano de inaugura- ção, número de visitan- tes por dia etc. Fonte: Elaborado pela autora (2018). EDUCAÇÃO FÍSICA 113 Aqui é possível ver apenas cinco dias, mas veja no inal desta unidade o plano de aula completo, em anexo. Este foi elaborado por nós a partir de um caso ictício, mas que considera aspectos reais como documentos educacionais, planejamento escolar, conteúdos e habilidades exigidas no contexto es- colar, elementos essenciais do plano de aula, entre outros aspectos. Tudo para que você possa compre- ender o passo a passo de um plano de aula. Há vários modelos de planejamento, mas todos apresentam os mesmos encaminhamentos aqui explanados. Cada escola adota o que melhor se adequa a sua realidade. Perceba que, em nossa elaboração, atendemos a todos os requisitos mencionados nos itens anterio- res deste capítulo: a. Consideração dos documentos escolares: em nosso exemplo utilizamos a BNCC (2017) e o PPP da escola, mas há casos em que o profes- sor ainda precisa recorrer às diretrizes, plano anual e outros documentos nacionais, regio- nais e/ou institucionais, pois não podem ser esquecidos pela equipe pedagógica; b. Pesquisa da turma: consideramos, na elabo- ração do plano, o peril da turma (apresenta diiculdade em matemática, é uma turma agi- tada e desinteressada nos conteúdos mais te- óricos), por isso primamos por breves expla- nações teóricas que se fazem necessárias, mas não de forma muito aprofundada e exclusiva, por isso a necessidade de realizar pesquisas, a im de complementar os conhecimentos teó- ricos de forma que o próprio aluno busque as respostas e construa o conhecimento com a mediação do professor. c. Pesquisa cientíica do professor: foi eviden- ciada à medida que descrevemos os docu- mentos consultados. Subentendemos que, para as conceituações, explicações e apresen- tação das curiosidades, o docente também tenha realizado uma pesquisa cientíica em fontes coniáveis. Achou difícil? Como observamos, não é fácil de- senvolver um plano de aula, pois envolve pesquisa, tempo e conhecimento. Mas não é algo impossível e descartável. Pelo contrário, é necessário e muito útil, pois sem o planejamento o caos pode se ins- taurar em sala de aula. Notamos com a prática do- cente que um professor desorganizado (sem pla- nejamento) transmite insegurança aos alunos, que podem reagir de diferentes formas, como exemplo: mostrando desinteresse, indisciplina, entre outros relexos da ausência de orientação dos estudos por parte do professor. Em nosso plano hipotético consideramos uma turma de 5º ano e o conteúdo de matemática, mas o mesmo se aplica a todas as séries e disciplinas. Se fossemos exempliicar com uma atividade de iden- tidade e autonomia para a Educação Infantil, ou de Produção textual na Língua Portuguesa para uma turma de 9º ano ou, ainda, o conteúdo de Território e fronteira na disciplina de História para uma turma do Ensino Médio, o processo de relexão do profes- sor seria o mesmo: por que, para que e como ensi- nar? Os aspectos essenciais do plano de aula, tam- bém permanecem: objetivo, métodos e avaliação. O objetivo da disciplina representa o elemento central do plano de aula, pois por meio dele emer- gem os demais aspectos. Os métodos, por sua vez, esclarecem os recursos e as técnicas que os docen- tes utilizarão para facilitar os processos de ensino e aprendizagem. Por im, a avaliação é importante para que o professor veriique se todos os proces- sos didático-metodológicos estão luindo de acordo com o esperado ou se é necessário modiicar algo, a im de melhorar o ensino e/ou a aprendizagem (LU- CKESI, 1994). O que se modiica entre um plano e outro, além dos aspectos óbvios (série, disciplina e conteúdo) 114 DIDÁTICA são os aspectos particulares de cada turma, por exemplo: se em nossa turma houvesse um aluno cego, deveríamos pensar em estratégias para que os demais alunos não o excluíssem dos trabalhos em grupo, a exemplo, a pesquisa na biblioteca. Uma das estratégias poderia ser a utilização de recursos sono- ros ou livros em braile, caso o aluno saiba ler com esse recurso e esteja disponível na escola. Isso seria acrescentado no registro do plano de aula, nos ins- trumentos mencionados. Outro aspecto que se modiica é o tempo de vi- gência do plano, em primeiro lugar porque isso va- ria em cada instituição, como já mencionamos em parágrafos anteriores. Em segundo lugar, porque o tempo de aula de um professor da Educação Infan- til, por exemplo, é diferente do professor dos anos iniciais do Ensino Fundamental; que por sua vez é diferente do professor dos anos inais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. Na Educação Infantil, o tempo considerado para todo o período que o professor leciona é, geralmen- te, de 4 horas, mas envolve aspectos bem especíicos dessa etapa: adaptação das crianças, habilidades a serem trabalhadas com a turma, maior número de intervalos e atividades lúdicas ou extraclasse, entre outros. Nas séries iniciais do Ensino Fundamental, aspectos como intervalo, atividades lúdicas e extra- classe permanecem, mas o professor também pre- cisa considerar que há mais de uma matéria a ser trabalhada por dia. Por im, os professores das séries inais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio possuem um tempo menor para lecionar, geral- mente 50 minutos. Sejam 4 horas ou 50 minutos, o professor precisa planejar sua aula para que ela seja proveitosa aos alunos, de forma que ele dê conta de ensinar o que foi previstopara aquele ano, bimestre, semana etc. Considerando todo o exposto sobre planeja- mento, podemos entender que o plano de aula nos ajuda a organizar as ações docentes, evitando impro- visações, falta de relexão e signiicação da prática pedagógica. Vasconcellos (2000) sintetiza a ajuda do planejamento em sete aspectos fundamentais para uma aula de sucesso: Figura 4: Contribuições do planejamento segundo Vasconcellos (2000) Fonte: Elaborado pela autora (2018). Dessa forma, podemos concluir que, a partir do pla- nejamento, é possível realizar o que nos propomos a fazer na educação escolar de forma eiciente e eicaz. Além disso, colocamos em prática todo o nosso co- nhecimento teórico, sem dissociação entre teoria e prática. Por im, faz-se necessário planejar para que possamos transformar nosso trabalho, a relação com o outro (professores, alunos, pais), a escola e a socie- dade como um todo (VASCONCELLOS, 2000). 115 considerações inais Prezado(a) aluno(a), como foi possível observar, a trajetória do planeja-mento se inicia bem antes do registro do professor. Conhecer esse per-curso é essencial para realizarmos um bom trabalho pedagógico, que envolve desde a direção até a equipe pedagógica em sala de aula. Preci- samos sempre ter em vista que o papel da escola é ensinar crianças e adolescentes a serem alfabetizados e letrados em todas as ciências. Logo, nosso ponto de parti- da é sempre o aluno e nosso ponto inal é seu conhecimento e desenvolvimento. Nosso objetivo inicial com essa unidade foi conhecer os documentos que interferem no planejamento escolar, desde o âmbito nacional – como a BNCC (2017) – passando pelos níveis regionais, até o institucional – como o PPP. A par- tir deles é montado o currículo escolar, ao qual o professor recorre para registrar seu plano de aula. Após o conhecimento dos documentos educacionais, objetivamos reletir so- bre a pesquisa docente, que se faz necessária para que cada ação pedagógica tenha fundamentação teórica, suporte cientíico e, inalmente, dê o suporte necessário para que o professor construa um plano de aula sólido. Por im, analisar os elementos do plano de aula se fez essencial para que você compreenda a relevância desse registro e desenvolva as habilidades neces- sárias para realizar um plano eiciente e eicaz, a saber: relexão, organização e sintetização. Após planejarmos nossas ações pedagógicas, registrá-las e nos organizarmos, é chegada a hora de colocarmos tudo em prática, para tanto, devemos ter claras as diferentes formas de concretizar nosso planejamento. Portanto, no próximo capítulo, enfatizamos outro aspecto essencial para uma boa didática: a execução do plano de aula. Convido você, caro(a) aluno(a), a reletir sobre as possíveis práticas pedagógicas. 116 atividades de estudo 1. Segundo Ostetto (2000), o planejamento é o mo- mento de organização das ideias, de estabelecer metas e criar estratégias para atingi-las. Dentro do campo da educação, seja ela formal ou não formal, é correto considerar como planejamento: a) Uma ação impulsiva que visa a improvisa- ção das ações docentes e discentes. b) A construção prévia de um registro diário de ações pedagógicas que poderão ou não ser executadas. c) A elaboração de documentos voltados à educação, cuja responsabilidade é do go- verno e suas secretarias. d) Uma relexão de todas as ações docentes que resultam em uma atitude crítica pre- viamente delineada. e) Uma organização de ideias especíicas para o ensino dos conteúdos sistematica- mente elaborados. 2. A palavra planejamento é fruto da modernidade, mais ligada à área administrativa, porém ganhou proporções no campo da educação e sua ação sempre esteve presente em todas as áreas de atuação. Considerando o exposto, analise as air- mativas abaixo: I - Nos primórdios da escola tradicional não havia planejamento, visto que o professor era responsável pela transmissão de co- nhecimento e o período dessa tendência antecede a modernidade. II - A tendência tecnicista foi a primeira a tra- balhar com planejamento, denominan- do-o assim, visto que anteriormente não havia uma sistematização dessa ação, sobretudo considerando leis especíicas para a educação escolar. III - Atualmente o planejamento nas escolas é essencial para uma aula eiciente e ei- caz, considerando que o professor deve conhecer os documentos que norteiam a educação, fazer diferentes pesquisas e realizar um plano de aula crítico e lexível para colocar em ação de forma que ensine de modo fácil e os alunos aprendam com qualidade. IV - O plano de aula muitas vezes é visto como o único elemento caracterizado como o planejamento escolar, contudo, apesar de ser um dos elementos desse processo, há uma gama de planejamentos que o ante- cedem. Está correto o que se airma em: a) I e III, apenas. b) I, III e IV, apenas. c) II, III e IV, apenas. d) I, II e III, apenas. e) l, ll, lll, e lV.. 3. Sabendo que competência é deinida como a mo- bilização de conhecimentos (conceitos e procedi- mentos) e que habilidades são práticas (cogniti- vas e socioemocionais) de atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana (BRASIL, 2017). Assinale a alternativa correta: a) O professor que ensina os conceitos mais importantes de sua disciplina já está for- mando as competências de seus alunos. b) O aluno que consegue reproduzir o que o professor faz; ainda que não de forma re- lexiva, desenvolve habilidades cognitivas, tais como, imitação. 117 atividades de estudo c) Trabalhar de forma que o aluno aprenda os conceitos e a partir deles coloque-os em prática para resolver situações-problema e proporcionar o desenvolvimento de, res- pectivamente, competências e habilidades. d) Ao aluno que tem facilidade de se expressar com o corpo, dizemos que ele tem a com- petência para ser um professor de dança. e) Ao sujeito que tem domínio teórico e práti- co de uma determinada disciplina mas não possui didática, dizemos que ele tem com- petências e habilidades para ser professor. 4. Observe a igura a seguir, que ilustra a pesquisa docente segundo Saviani (2003), e assinale a al- ternativa correta: b) O domínio de instrumentos somente é possível por meio de uma pesquisa do- cente que possibilite o conhecimento de técnicas especíicas para o ensino de de- terminado conteúdo, sem considerar os aspectos práticos. c) O domínio de conteúdos exige pesquisa docente para não utilizar apenas livros cientíicos, visto que hoje o ensino pode ser pautado em informações supericiais. d) Tanto a capacidade de ensino quando os domínios de instrumentos e conteúdos visam uma pesquisa que preparara o pro- fessor para atuar menos e fazer os alunos trabalharem mais. e) O domínio de conteúdo e a capacidade de ensino não fazem parte da pesquisa docente, visto que são habilidades que al- guns professores possuem e outros não. 5. Os aspectos essenciais de um plano de aula são os elementos que, independentemente de para quem e do porquê ensinar, devem constar no registro a partir de relexão, pesquisa e planeja- mento. Considerando esses aspectos discutidos na Unidade III, assinale a alternativa correta: a) Os elementos essenciais de qualquer pla- no de aula são registro, exposição e apren- dizagem. b) São elementos essenciais de um plano de aula o objetivo, os métodos e a avaliação. c) Os elementos essenciais do plano de aula são aqueles registros que não podem fal- tar, logo: série, disciplina e turma. d) Podem ser considerados elementos es- senciais de um plano de aula apenas a re- lexão e os métodos de ensino. e) Apenas a avaliação é considerada um ele- mento essencial de um plano de aula. Fonte: Elaborado pela professora (2018).a) A capacidade de ensinar está relacionada à pesquisa docente pelo fato de exigir do professor uma pesquisa de métodos e me- todologias que facilitem a aprendizagem de seus alunos. 122 referências ARRUDA, H. P.B. Planejamento e plano de aula na educação: histórico e a prática de dois professores. Educativa, Goiânia, n. 1, v. 18, p. 241-265, jan./ jun. 2015. ASTOLFI, J. P. DEVELAY, M. A didática das ciên- cias. Campinas: Papirus, 1991. BEHRENS, M. A. O paradigma emergente e a práti- ca pedagógica. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2009. BOSI, A. Considerações sobre o tempo e informa- ção. Cidade do conhecimento. São Paulo: USP, 1995. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB. Lei nº 4.024 de 20 de dezembro de 1961. Fixa as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, DF: Diário Oicial da União, 1961. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1960- 1969/lei-4024-20-dezembro-1961-353722-publica- caooriginal-1-pl.html>. 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Opção correta é a B. 125 Anexo Quadro 6: Continuação do plano de aula hipotético Série: 5º ano Duração: 15 dias Disciplina: Matemática Conteúdo: Probabilidade e estatística Objetivo: formar cidadãos letrados, que saibam, além de conceitos, fazer uso social dos conteúdos, para que o aluno, por meio das pesquisas quantiicadas, compreenda sua realidade e amplie seus conhecimentos cientíicos. Método: aulas expositivas e práticas, literatura, pesquisa em livros cientíicos na biblioteca da escola; pesquisa em sites coniáveis no laboratório de informática da escola; resolução de situações problema em sala de aula, na prática e por meio de softwares no laboratório de informática da instituição; elaboração de cartazes; elabo- ração de gráicos utilizando materiaisconcretos como bola de isopor, garrafas pet de diferentes tamanhos etc.; apresentação em grupo do resultado de uma pesquisa em malha quadriculada usando gravuras. Instrumento: livro de literatura infanto-juvenil; quadro; caderno; lápis, borracha; biblioteca; sala de informática; papel cartolina; sucatas; tinta; pincel; malha quadriculada; revistas. Avaliação: será realizada durante as aulas, por meio da observação da participação dos alunos e o desenvolvi- mento de suas atividades teóricas e práticas. Disposição das aulas: 6ª aula 7ª aula 8ª aula 9ª aula 10ª aula • Retomada do con- ceito de gráico. • Perguntar aos alunos para que podemos usar gráicos e lembrar das atividades feitas com gráicos de barras duplas. • Explanar sobre o gráico pictográico. • Ir à sala de informá- tica para ver alguns exemplos de grái- cos pictográicos no Excel. Pedir que eles montem um gráico a partir de uma situ- ação problema. • Retomada da aula anterior. • Mostrar alguns gráicos picto- gráicos nos slides e pedir que escolham um para resol- ver as situa- ções problema passadas no quadro. • Pedir que os alunos leiam a deinição de gráico pictográico pesquisado na biblioteca. • Pedir que os alunos façam uma pequena produção textual sobre como podem utilizar esse gráico no dia a dia. • Ver um trecho do ilme “O fantástico mundo da mate- mática”, para que os alunos vejam como o personagem usa os gráicos no dia a dia. • Tarefa para casa: Trazer na próxima semana 3 garrafas pet de diferentes tama- nhos. • Relembrar o ilme; • Separar a sala em duplas para resolver as situ- ações problema de forma que utilizem bolas de isopor para construir os gráicos pictográ- icos. • Relembrar as situações pro- blema da aula passada e pedir que cada dupla se junte com outras, forman- do um grupo de até 4 pessoas, para trocarem informações (quais eram os problemas, como resolve- ram, como icou o gráico, como o confecciona- ram). [Continuação...] INTRODUÇÃO Olá, seja bem-vindo(a)! Nesta unidade, apresentamos as for-mas de realização das ações estabelecidas por meio do plane-jamento. Após o registro previamente elaborado, planejado e reletido pelo professor, chega a hora de colocá-lo em prática por meio de teorias que norteiam o planejamento e, agora, a ação docen- te. Devemos compreender que as ações planejadas precisam ultrapassar o registro a im de ter signiicância na vida do professor e dos alunos. Por isso, a execução do planejamento se faz tão importante quanto sua elaboração. Também tratamos sobre diferentes formas de colocar em prática o plano de aula. Dessa forma, esperamos que você, caro(a) aluno(a), inicie aqui seu conhecimento acerca dos métodos de execução do planejamen- to, mas continue aprofundando-o ao longo de toda a sua vida docente, visto que esses métodos estão sempre sendo renovados para proporcio- nar um ensino eiciente e eicaz, visando a promoção da aprendizagem e do desenvolvimento pleno do aluno. Por im, discutiremos sobre a importância da organização da e na sala de aula, bem como a postura do professor em diferentes momen- tos. Enquanto futuros professores, devemos saber lidar de forma ética com as situações propícias e adversas da sala de aula. A preparação do professor, para todas as circunstâncias, se inicia com a teoria e depois com a prática, tornando-se, posteriormente, um looping contínuo de teoria-prática-teoria. Com esta unidade, esperamos que você, caro(a) aluno(a), compre- enda a importância da efetivação do plano de aula por meio de práticas que facilitem o processo de ensino e também envolvam o aluno, de for- ma que o cativem e potencializem seu processo de aprendizagem e de desenvolvimento. EDUCAÇÃO FÍSICA 133 Prezado(a) aluno(a), esperamos que você tenha compreendido que todas as ações escolares são norteadas por tendências pedagógicas, ou seja, por teorias da educação, bem como por ilosoias que amparam a visão de mundo, de sociedade e de educação. Desde os documentos educacionais até o plano de aula, há pressupostos teóricos-metodoló- gicos implícitos que se coniguram em currículos escolares, aqui explicitados pela visão que concei- tua toda a ação desenvolvida nas escolas. Ou seja, a seleção de conteúdos, passando por ações não pla- nejadas – denominadas de currículo oculto – até as ações docentes intencionais, todas formam um currículo escolar. A partir do planejamento realizado, que con- sidera todos os aspectos mencionados de forma implícita ou explícita, precisamos efetivá-lo para que se torne signiicativo. No momento da execu- ção do planejamento, precisamos ter em mente a práxis pedagógica, ou seja, a aliança indissociável entre a teoria e a prática. Konder (1992, p. 115) explica que: A práxis é a atividade concreta pela qual os sujeitos humanos se airmam no mundo, mo- diicando a realidade objetiva e, para pode- rem alterá-la, transformando-se a si mesmos. É a ação que, para se aprofundar de maneira mais consequente, precisa da relexão, do au- toquestionamento da teoria; e é a teoria que remete à ação, que enfrenta o desaio de ve- riicar seus acertos e desacertos, cotejando-os com a prática. Podemos entender que a teoria aprendida durante a graduação nos dá base para reletir sobre nosso con- texto, nossos alunos e nossos conteúdos, a partir dos quais elaboramos um planejamento e o colocamos em prática. Durante a execução do planejamento, precisamos continuar embasados em teorias educa- cionais bem como nas relexões sobre sua realização, o que une teoria e prática. A teoria e a prática são como os dois lados de uma mesma moeda: apesar de diferentes, são indissociáveis. Juntas, caracterizam a práxis. REFLITA Precisamos constantemente realizar o exercício de ação-relexão para ter a certeza de que o que planejamos pode ser colocado em prática de for- ma eiciente e eicaz ou se precisa ser modiica- do. Independentemente dos resultados ao longo do processo de implementação do planejamento, precisamos reletir sobre como as ações podem melhorar. O mecanismo ação-relexão garantirá assim, ao educador, uma forma metodológica, racional e dinâmica, para a criação de um corpo de co- nhecimentos próprios e originais, independen- tes e inovadores, situados e não-restritivos. Co- nhecimentos que lhe possibilitarão, se o desejar, a condução mais adequada de uma ação politi- camente deinida (LUCKESI, 1994, p. 170). Esse conhecimento próprio permite que o docente construa sua própria didática, especíica para seus alunos, mas que é dependente de uma sequência ininita de ação-relexão para uma nova ação. Em consonância, Freire (2001) airma que a relexão deve ser um instrumento dinamizador entre teoria e prática, ou seja, apenas a relexão não basta, é ne- cessário agir; da mesma forma, a ação sem a reflexão se torna vazia. EDUCAÇÃO FÍSICA 135 Em consonância, Libâneo (2013, p. 161) salienta que a utilização consciente desse método de exposição da matéria é [...] um procedimento necessário, desde que o professor consiga mobilizar a atividade interna do aluno de concentrar-se e de pensar, e a com- bine com outros procedimentos, como o traba- lho independente, a conversação e o trabalho em grupo (LIBÂNEO 2013, p. 161). O autor ainda exempliica algumas formas de exposi- ção, tais como verbal, demonstrativa, exempliicativa e ilustrativa. A exposição verbal é necessária quan- do o professor não tem possibilidade de promover o contato do aluno diretamente com o material de es- tudo. Nesse contexto, Libâneo (2013) airma que a ex- plicação sistematizadase faz necessária para desper- tar a atenção do aluno. Dessa forma, proporciona-se estímulos e interesse pelo conteúdo, trazendo expli- cações por meio de acontecimentos, leituras expres- sivas, entre outros instrumentos que ajudem o aluno a desenvolver suas habilidades cognitivas (atenção, memória, percepção auditiva, entre outras). Vemos, portanto, que o método expositivo não se resume ao monólogo do professor durante horas à frente da turma. É necessário preparo por parte do docente, que deve cativar, trazer informações impor- tantes, expor de forma interessante os conteúdos cien- tíicos e promover o conhecimento de todos os alunos a im de desenvolver competências e habilidades. A exposição demonstrativa envolve experimen- tos, demonstração de situações problema, dentre outros recursos com os quais o professor evidencia ou comprova o conteúdo a ser explicado (LIBÂNEO, 2013). As demonstrações proporcionam o desenvol- vimento das percepções sensoriais, da imaginação, da criatividade, da atenção, da memória, entre outras. Libâneo (2013) especiica que por exposição exempliicativa entende-se a leitura, a escrita ou a fala simples de exemplos relacionados ao conteúdo, sobretudo quando se precisa que os alunos vejam e sigam o exemplo para apreender o que está sendo ensinado. A exposição ilustrativa se caracteriza pela utilização de imagens, gráicos, cartazes, dentre ou- tros recursos visuais que ajudam a ilustrar o que está sendo explicado. Rangel (2005) explana, ainda como método de ensino individualizado, o estudo dirigido, em que o professor conduz uma mediação entre o aluno e o objeto de estudo, de forma com que o aprendiz de- senvolva autonomia em seus estudos. Para tanto, é necessário ofertar momentos de leitura, pesquisa e atividades de produção individual, tais como textos, organogramas e outros meios para sintetizar o con- teúdo, de forma com que o próprio aluno chegue à conclusão do que de fato aprendeu. Como podemos observar, as aulas expositivas são indispensáveis, visto que o professor precisa apresentar o conteúdo cientíico para conhecimen- to do aluno. Contudo, esse método não se resume a uma simples técnica de fala docente e escuta discente. São necessárias técnicas que envolvam o sujeito para que desperte seu interesse, efetiva participação em sua formação e desenvolvimento de habilidades cognitivas necessárias para seu de- senvolvimento. Estímulos auditivos, visuais, sen- soriais, dentre outros, são de extrema relevância para que as aulas expositivas sejam significativas, demandam criatividade e saber pedagógico. Até mesmo nos estudos dirigidos não basta que o professor solicite aos alunos uma pesquisa sem ao menos explicar o que é pesquisa e como se reali- za. Como o próprio nome já diz, o docente precisa conduzir os estudos do aluno. 136 DIDÁTICA Em relação aos métodos aplicados a grupos, pode- mos airmar que se baseiam em interações diretas entre alunos e objetos com a mediação do profes- sor. Assim, o aluno se torna mais ativo na produção de conhecimento individual e coletivo (RANGEL, 2005). Alguns exemplos de métodos aplicados aos grupos são: elaboração conjunta, seminários, pes- quisas e problematização. O método de elaboração conjunta envolve a atividade da conversação, que acontece quando os alunos já possuem um conhecimento prévio do con- teúdo a ser estudado, ainda que não seja sistemati- zado, mas que por meio das mediações e conduções do professor, tornam-se sistematizados pela partilha e construção conjunta de saberes (LIBÂNEO, 2013). Isso proporciona o desenvolvimento de habilidades como análise, relexão e comparação. Essas conver- sações devem suscitar atividades mentais que visam respostas sobre as causas dos fenômenos analisados pelo grupo, de forma que reconheçam a relação en- tre o objeto de análise, os acontecimentos, a avalia- ção crítica e a busca de novos caminhos para solu- cionar o problema. Os seminários são frequentes em muitas au- las, mas precisamos tomar cuidado para que não se tornem responsabilidade somente do aluno. A partir de um conteúdo, o professor separa a turma em grupos e cada um apresenta seu material à clas- se depois de estudos e pesquisas (LIBÂNEO, 2013). Para que não seja algo cansativo, composto apenas de exposição verbal, o professor precisa ter domí- nio do conhecimento cientíico desse método, para conduzir uma discussão relexiva que propicie a produção de novos saberes. Assim, os alunos podem desenvolver habilidades de expressão oral, relexão, argumentação e persuasão. O método de pesquisa é versátil, pois se adequa a qualquer estratégia e técnica de ensino. Kuenzer (2005) explica que, para uma pesquisa de qualida- de, o professor deve oferecer ao aluno materiais para além de livros didáticos, ou seja, textos cientíicos com fontes coniáveis (artigos de revistas cientíicas, periódicos, jornais); dicionários; documentários; entre outros que, inclusive, podem ser acessados pelos alunos na própria biblioteca da escola. Essa pesquisa deve ser conduzida pelo professor, ou seja, não basta indicar um tema sobre o qual o aluno deve buscar informações como tarefa de casa, sem orien- O método expositivo, sem dúvida, nos re- mete ao ensino tradicional pelo qual icou muito marcado. Apesar de exibir pontos negativos que devam ser superados, essa tendência possui aspectos positivos que me- recem ser utilizados devido a sua eiciência e eicácia, tais como os métodos expositivos. Com a diferença de que o professor pode e deve envolver os alunos. Santos e Belmino (2013) salientam que esse método, muitas vezes, é o único utilizado pelos professores de escolas mais carentes, ou seja, de instituições que não possuem recursos tecnológicos ou ao menos materiais como mapas, painéis ilustrativos, dentre outros que possibilitem exposições e estimulem o interesse do aluno. Apesar de o método tradicional ser o mais viável pela simplicidade, economia e prati- cidade, não podemos retornar ao que já foi superado e conquistado para nossa educa- ção. Quer relembrar as características mais marcantes da tendência tradicional que já foram superadas? Veja, no inal deste capí- tulo, uma sugestão de vídeo que aborda o tema em forma de música. Fonte: Santos e Belmino (2013). SAIBA MAIS EDUCAÇÃO FÍSICA 137 tações. É necessário, em primeiro lugar, explicar o que é pesquisa, onde pesquisar e porque pesquisar. Esses momentos devem ser realizados na própria es- cola, com a mediação do professor, até que os alunos aprendam a fazer sozinhos, de forma que consigam abstrair o conhecimento e não, simplesmente, escre- ver sobre o assunto e entregar para obter nota. Ao tratarmos do método de problematização devemos considerar que este deve proporcionar a construção do conhecimento, provocação da capa- cidade de pensar, de representar, de relacionar e de agir e, a partir de então, de transformar a realidade. Isso porque tem sua gênese nos métodos de Freire (2001), que considerava a educação como um meio de emancipação do oprimido, a im de que ele re- conheça sua atual condição e saia dela por meio da relexão e ação. Por isso, ao utilizarmos a problema- tização, lidamos mais com a fala dos discentes do que do professor, para que se possa ouvir relatos, opiniões e, a partir destes, construir novos conheci- mentos que suportarão e conduzirão o caminho do sujeito crítico e relexivo. Vemos, portanto, que os métodos envolvendo gru- pos precisam atingir toda a classe com orientações e mediações do professor. Nesse meio,a produção sistematizada do conhecimento se efetiva de forma participativa, considerando o que o aluno já sabe até a (re)estruturação de novos conhecimentos, bem como desenvolvimento de competências e de habili- dades cognitivas, sociais e físicas. Os métodos de ensino são utilizados para ex- ploração e aplicação dos conteúdos, a im de que facilitem a apresentação dos conceitos e contextos fundamentais para compreensão da matéria e apre- ensão por parte do aluno. Todas essas ações pre- cisam estar em consonância com o plano de aula. Contudo, segundo Veiga (2006), os métodos de en- sino não são os únicos elementos a serem pensados como procedimentos. Temos, ainda, que levar em consideração as estratégias e as técnicas adequa- das a serem utilizadas para que o aluno realmente aprenda e se desenvolva de forma atuante em sua formação, com qualidade de ensino e aprendiza- gem. Por isso, discutimos no item a seguir os di- ferentes meios que o professor possui para efetivar esses processos. EDUCAÇÃO FÍSICA 139 Disciplina: matemática Conteúdo: probabilidade e estatística Objetivo: formar cidadãos letrados, que saibam, além de conceitos, fazer uso social dos conteúdos, para que o aluno, por meio das pesquisas quanti�cadas, compreenda sua realidade e amplie seus conhecimentos cientí�cos. Método: aulas [...] práticas, [...] apresentação em grupo do resultado de uma pesquisa em malha quadriculada usando gravuras. Instrumentos e recursos: [...] lápis, borracha; biblioteca; sala de informática; [...] malha quadriculada; revistas. Quadro 1: Excerto do plano de aula hipotético Na unidade anterior, vimos como elaborar um pla- no de aula, em essência; nesta unidade, veremos como colocá-lo em prática, por isso precisamos co- nhecer diferentes procedimentos de ensino. Nesse plano de aula hipotético elencamos, como um dos objetivos, “formar cidadãos letrados”, ou seja, que saibam fazer uso social do que aprenderam. Para atingi-lo, precisamos pensar em estratégias que fa- çam o aluno explorar o conteúdo de forma ativa, se Fonte: Elaborado pela autora (2018). apropriando teórica e praticamente do conteúdo, para que assim ele compreenda sua signiicância e o veja como um possível meio de resolver proble- mas cotidianos. Apenas depois de elaborar a estra- tégia mais eiciente para atuação docente é que es- colhemos o método para consecução dos objetivos da disciplina e elencamos as técnicas mais eicien- tes para o processo de ensino e de aprendizagem (VEIGA, 2006). 140 DIDÁTICA Figura 1: Procedimentos de ensino adaptado de Veiga (2006) Fonte: Elaborado pela autora (2018). Por isso, levando em consideração o plano de aula apresentado, podemos adotar como estraté- gia o trabalho por meio de situações problema, que proporciona aos alunos, a partir de conhecimentos sistematizados, construídos por meio de pesquisas, a resolução de problemas impostos pela professo- ra, de forma que a solução seja obtida com o uso do conteúdo apreendido. Com essa estratégia deinida, pensamos em métodos práticos para que o professor envolva a turma, tais como aula prática e pesquisa, como vemos no plano de aula. Para tanto, usa-se a técnica de resolução de problemas, conta-se com instrumentos que os alunos possam manusear (lá- pis, malha quadriculada etc.) para concretizar o que aprenderam e fazer o uso do conteúdo, neste caso, a probabilidade e a estatística. Na igura a seguir vemos que esses elementos do procedimento de ensino pos- suem diferentes opções que podem resultar em métodos distintos: EDUCAÇÃO FÍSICA 141 Diante do exposto, compreendemos que cada mé- todo de ensino pode derivar de uma estratégia e de uma técnica diferente. Essa ilustração nos ajuda a pensar em algumas possibilidades para o mesmo caso. Dessa forma, quais outras estratégias e técnicas podem ser pensadas para trabalhar estatística e pro- babilidade com o im de formar cidadãos letrados? Elencamos, no quadro a seguir, algumas possíveis respostas a serem exploradas, que podem ser utili- zadas para diversos conteúdos e disciplinas: Quadro 2: Exemplos de estratégias, técnicas, recursos e instrumentos para uso em sala de aula ESTRATÉGIAS TÉCNICAS RECURSOS INSTRUMENTOS Projetos • Artesanatos; • Confecção de maquetes. • Ateliê da escola. • Sucatas; • Isopor; • Cartolina. Metodologias ativas • Utilização de tecnologias. • Sala de metodologias ativas. • Computadores. Feira de ciência • Realização de experiências. • Laboratório. • Tubos de ensaio. Fonte: Elaborado pela autora (2018). Com relação aos projetos, trata-se de uma estratégia que pode ser utilizada desde a elaboração dos obje- tivos de um conteúdo, de uma disciplina ou, até, da escola como um todo. Podemos criar um pequeno projeto sobre estatística e probabilidade, por exem- plo, ou maior, um projeto para a disciplina de mate- mática que durará um bimestre, ou ainda um grande projeto envolvendo toda a escola, com duração de um semestre, sobre a aplicabilidade da matemática na contemporaneidade (HERNÁNDEZ; VENTU- RA, 1998). Algumas instituições da Educação Básica tra- balham apenas com projetos, ou seja, a partir dos conteúdos curriculares elabora-se um projeto para ser desenvolvido com os alunos (de uma classe, de uma série ou da escola inteira). Para tanto, ao elabo- rar um projeto, precisamos pensar nos objetivos que se pretende atingir, que estão para além daqueles já estabelecidos na BNCC (2017), por exemplo, e no plano de aula, pois se volta às intenções da própria escola com os alunos, como desenvolver habilidades e competências voltadas à socialização, a funções cognitivas, dentre outras mais especíicas que aten- dam a uma necessidade dessa escola, série ou classe. Além de objetivos, os projetos apresentam em sua estrutura uma justiicativa que explica sua ne- cessidade, a seleção de conteúdos que irão compor os estudos, um cronograma com o tempo de dura- ção e os prazos para execução das atividades previs- tas, além da avaliação, que deve ser especíica. Para Hernández e Ventura (1998), essa avaliação deve ser realizada ao longo do projeto. 142 DIDÁTICA com interdisciplinaridade, que, segundo Moraes (2005), é “[...] uma abordagem epistemológica que nos permite ultrapassar as fronteiras disciplinares e nos possibilita tratar, de maneira integrada, os tópi- cos comuns às diversas áreas”. Seguindo com nosso exemplo, podemos trabalhar a estatística e a proba- bilidade de forma que ultrapassem a barreira da ma- temática. Pode ser utilizada a interpretação textual, a análise de dados da economia do nosso país, dentre outras opções que envolvam as demais áreas cientí- icas que a escola precisa trabalhar (português, his- tória, geograia, ciências, educação física e artística). Figura 2: Projeto Bichos do Jardim Fonte: Arquivo pessoal (2018). Geralmente, essa estratégia resulta na apresentação das atividades (cartazes, materiais confecciona- dos pelos alunos etc.) para a comunidade interna e externa. Com isso, há inúmeras questões a serem trabalhadas com os alunos, e elas vão além dos as- pectos de conteúdo: abrangem responsabilidade, cuidado e estética das atividades, desenvolvimento da escrita de forma que o leitor a compreenda, rele- xão, síntese e persuasão para apresentações ao públi- co, oratória, entre outros. Além de ser possível criar projetos para qual- quer disciplina, há a oportunidade de se trabalhar EDUCAÇÃO FÍSICA 143 nos e da intencionalidade de cada atividade. Esse conjunto de procedimentos de ensino, que utilizacomo estratégia os projetos e como técnica a con- fecção pelas mãos dos alunos, se alia bem com o método de pesquisa, por exemplo, visto que pro- fessores e alunos precisam investigar constante- mente sobre conteúdos, recursos materiais, entre outros aspectos. Dentro de ambientes não formais de aprendi- zagem os projetos são utilizados com maior fre- quência, sendo uma prática comum e eicaz para atingir objetivos que as empresas e instituições possuem com os momentos de ensino e de apren- dizagem. Nesses espaços não formais, os projetos ajudam a efetivar as atividades de ensino que o proissional utilizará com seus alunos, para atingir determinados objetivos e necessidades dos pró- prios sujeitos aprendizes. Você já participou de algum projeto enquan- to aluno na Educação Básica? Se sim, como foi? Essa estratégia de ensino costuma ser signiicante, pois trabalha com experiências e outras técnicas e recursos diferentes do que vemos com frequência. REFLITA Considerando o exposto, o projeto é uma ótima estratégia de ensino. Além de organizar os saberes escolares em direção à interdisciplinaridade, como pontua Seraim e Maia (2014), faz com que o aluno seja sujeito ativo na construção do conhecimento e faça uso dos conteúdos de forma prática. Além dis- so, o fato de apresentar suas criações a amigos e fa- miliares contribui para a questão afetiva, visto que será mais um motivo para aprender, fazer as ativida- des de forma caprichada, proporcionando satisfação e (auto) reconhecimento. No exemplo do quadro 2, apontamos como possível técnica para projetos a confecção de arte- sanatos e maquetes. Contudo, há muitas outras ati- vidades que permitem a exploração e o desenvolvi- mento de habilidades como percepção, motricidade, raciocínio lógico, entre outras. Quanto aos recur- sos, seguem o mesmo princípio, ou seja, apesar de poderem ser realizados em ateliês de arte, projetos também podem ser realizados em sala de aula, audi- tório, quadra esportiva e outros espaços escolares de que se disponha. Os instrumentos são mais vastos ainda, depen- dem apenas da criatividade do professor, dos alu- Como já vimos em capítulos anteriores, o que caracteriza um ambiente não formal de apren- dizagem é a realização de procedimentos de ensino e de aprendizagem com objetivos voltados para a atuação do sujeito em sua sociedade, sem que haja um currículo formal, como há nas escolas. Ficou curioso sobre os projetos em ambientes não formais de apren- dizagem? Veriique, no inal deste capítulo, em “Leitura complementar”, uma seleção de alguns projetos desenvolvidos nesses locais que podem ser seu futuro campo de trabalho. Fonte: Elaborado pela autora (2018). SAIBA MAIS 144 DIDÁTICA Passamos agora a conhecer as metodologias ativas, que apesar da nomenclatura não são propriamente metodologias, visto que não se trata de teorias me- todológico-ilosóicas da educação, mas sim estra- tégias que podem ser utilizadas pelo professor para ensinar seus alunos com participações mais diligen- tes. Devemos destacar que não se trata de algo novo, apesar de ser muito utilizado na atualidade, como salienta Abreu (2009). Em consonância com o autor citado, vimos, na Unidade II, que a escola nova já visava uma peda- gogia ativa, com foco no aluno e sua aprendizagem. Dessa forma, as metodologias deveriam voltar- -se para a aprendizagem, como preconizava John Dewey (1859-1952), o nome mais citado na corrente escolanovista. Para Dewey (1979), a educação era como um processo de reconstrução e reorganização das experi- ências de cada um. Logo, não deveria ser uma impo- sição vertical, como ofertava o esquema tradicional, mas deveria proporcionar o controle do indivíduo sobre suas próprias experiências e personalidade. Sua concepção de educação, portanto, estava inter- ligada à concepção de experiência, que por sua vez é a multiplicidade de relações existentes pelas quais os corpos agem sobre o outro (sujeito ou objeto), de forma que modiique tanto o aluno quanto o objeto. Essa é a essência das chamadas metodologias ativas, pois proporcionam o contato direto do sujei- to aprendiz com o objeto de estudo, em uma relação de experiências que modiicam o sujeito, por apren- der, compreender e (re)signiicar o objeto; também modiicam o objeto que, para o aluno, passa a ter novos signiicados. Os ideais de John Dewey para a educação foram disseminados, aqui no Brasil, na dé- cada de 1930, por meio do Manifesto dos Pioneiros da Educação, do qual Anísio Teixeira (1900-1971), que também escreveu sobre a pedagogia de Dewey, foi um dos signatários. Vejamos um excerto que ex- plica a importância de se trabalhar com a experiên- cia dos alunos: Quando os alunos estudam assuntos muito distantes de sua experiência, assuntos que não despertam curiosidade ativa alguma e que es- tão além do seu poder de compreensão, lançam mão, para as matérias escolares, de uma medida de valor e de realidade, diversa da que empre- gam fora da escola, para as questões de interes- se vital. Tendem a tornar-se intelectualmente irresponsáveis; não perguntam a signiicação do que aprendem, isto é, não perguntam qual a diferença trazida pelo novo conhecimento para as outras suas crenças e ações (WESTBROOK; TEIXEIRA, 2010, p. 126). A partir de então, as tendências que seguiram à esco- la nova, no Brasil, também adotaram estratégias que envolviam mais o aluno na construção de seu pró- prio conhecimento, de forma ativa. Como exemplo podemos citar a tendência progressista, também já abordada em unidades anteriores, cujo maior repre- sentante foi Paulo Freire (1921-1997), que airmava: As crianças precisam crescer no exercício desta capacidade de pensar, de indagar-se e de inda- gar, de duvidar, de experimentar hipóteses de ação, de programar e de não apenas seguir os programas a elas, mais do que propostos, im- postos. As crianças precisam ter assegurado o direito de aprender a decidir, o que se faz deci- dindo (FREIRE, 2000, p. 25). A esse método, Freire (2000) chamava de problema- tização, o qual já vimos no primeiro tópico desta uni- dade. A valorização do diálogo é nítida na pedagogia freireana, e objetiva fazer com que o sujeito desmis- EDUCAÇÃO FÍSICA 145 tiique sua condição social e seja o responsável por sua própria formação e emancipação humana. Dessa forma, a atual metodologia ativa possui semelhan- ças também com a teoria de Freire (2000), que, as- sim como a problematização da realidade e a prática relexiva, é uma estratégia que facilita o processo de ensino, conduzindo o discente à autossuiciência ao mesmo tempo em que proporciona uma aprendiza- gem participativa, consciente e libertadora. Por im, a tendência histórico-crítica foi a gran- de responsável, no Brasil, pela massiicação da uti- lização de métodos, estratégias e técnicas de ensino que consideram o sujeito, sua relação com o outro e com o objeto de estudo. Esses princípios são utiliza- dos até hoje em diversas escolas pelo país. Com base na teoria sociointeracionista, pluralizada por Vygot- sky (1991), foi possível compreender que o desen- volvimento humano se faz nas relações e nas trocas sociais, por meio de interação e mediação. Por isso, mais uma vez, a atual metodologia ativa é vista como uma adequada estratégia de ensino para alcançar os objetivos de aprendizagem. Figura 3: Sala invertida da Unicesumar Fonte: Unicesumar (2018). Apesar de muitos considerarem que as metodologias ativas só funcionam nos casos em que o professor utiliza instrumentos tecnológicos, vimos que isso não ocorre necessariamente,sobretudo porque nos anos em que a tecnologia na educação ainda não era realidade, como na década de 30, já existiam alunos ativos. Hoje, contudo, com o recurso das salas infor- matizadas – que algumas escolas já possuem – o pro- cesso de ensino é facilitado com a estratégia da meto- dologia ativa. Por isso, no quadro 2, exempliicamos essa estratégia com o uso de tecnologias como técni- cas de ensino, em que o docente pode proporcionar momentos de aprendizagem por meio de sotwares, internet, entre outros aspectos computacionais. Po- de-se, ainda, utilizar como recurso as salas de me- todologias ativas, as chamadas salas invertidas, que são diferenciadas por permitir que todos, professor e alunos, se comuniquem, se vejam e interajam de diversas formas. Assim, os computadores podem ser apenas um dos muitos instrumentos utilizados. 146 DIDÁTICA Passamos a analisar, caro(a) aluno(a), a última es- tratégia elencada no quadro 2. Utilizar como estra- tégia uma feira de ciências é considerar que o aluno é capaz de promover conhecimento a partir do que foi ensinado e aprendido, sendo isso um mérito seu, quanto professor, e dele, quanto aluno. Se- gundo Ormastroni (1990, p. 7), a feira de ciências é “[...] uma exposição pública de trabalhos cientí- icos e culturais realizados por alunos. Estes efe- tuam demonstrações, oferecem explicações orais, contestam perguntas sobre os métodos utilizados e suas condições”. Por meio dessa deinição, vemos com quantas competências e habilidades o professor pode tra- balhar além das exigidas para o conteúdo em si. Muito similares aos projetos, as feiras resultam em apresentações públicas que promovem troca de ex- periências, despertam a curiosidade entre os alunos, suscitam um compromisso com o saber e uma von- tade de aprender, além de proporcionarem satisfa- ção com os trabalhos bem apresentados. O termo “feira de ciências” é utilizado para comportar todas as grandes ciências: Língua Portuguesa, Matemática, História, Geografia, Ciência, Educação Física, Artes, entre outras. Des- sa forma, as escolas podem trabalhar com uma úni- ca área ou todas elas, conforme preferir. É muito comum, para essa estratégia de ensino, que se utili- ze como técnica as experiências, tanto aquelas rea- lizadas pelo professor, a im de explicar e exemplii- EDUCAÇÃO FÍSICA 147 car, quanto as realizadas pelos alunos, para praticar o que aprenderam. Por isso, nas feiras de ciências, vemos a interação dos alunos com o público por meio de experiências, o que coloca o discente como responsável por repassar o conhecimento. Como recurso para realização dessas experiên- cias, sugerimos os laboratórios (de química, de fí- sica, de biologia, entre outros), que muitas escolas possuem. Contudo, a própria sala de aula, o pátio da escola ou as quadras esportivas podem ser lócus de experiências, tudo depende do que será realizado, considerando, sobretudo, a segurança dos alunos, do professor e do espaço físico. O tubo de ensaio é apenas um dos vários ins- trumentos que podem ser utilizados para experiên- cias, ainal, quando se fala em feira de ciências, ele é a imagem mais projetada pela maioria. Contudo, se falamos em uma feira de História ou de Língua Portuguesa, por exemplo, os materiais utilizados serão bem diferentes dos tubos de química, corre- to? Devemos lembrar que cada instrumento está intimamente ligado aos objetivos estabelecidos no plano de aula. Novamente, a interdisciplinaridade pode ser fa- cilmente utilizada na ação docente. Em uma feira de Geograia, por exemplo, qual experiência mais vemos nas escolas? Seria aquela que demonstra a atividade de um vulcão? Dessa forma, para que o aluno apresente conteúdos sobre o vulcão, precisará saber o que é um vulcão, como é a atividade vulcâ- nica, quais elementos químicos precisa utilizar para reproduzir uma atividade vulcânica, o que acontece com o solo após essa explosão, dentre outras curio- sidades que façam o público se interessar pela apre- sentação. O trabalho, portanto, deverá ser interdis- ciplinar, conciliando conhecimentos de geograia, química e física, por exemplo. Diante do exposto, caro(a) aluno(a), vemos que há muitas maneiras de colocar nosso plano de aula em ação, seja de forma mais expositiva ou mais par- ticipativa. O interessante seria um equilíbrio entre ambas, sempre visando a formação do conhecimen- to e o desenvolvimento pleno do sujeito aprendiz. De todas as formas, o professor precisa dominar o conhecimento ensinado e os procedimentos de ensi- no que serão utilizados, para que se efetive o traba- lho na prática. Pensando nesse domínio docente é que vere- mos, no próximo tópico, quais são as competências e as habilidades de que um professor precisa para ter uma boa didática. Além disso, um aspecto fun- damental na formação de qualquer proissional é a ética, por isso passamos adiante para compreender tais elementos essenciais do ser professor. EDUCAÇÃO FÍSICA 149 de aprendizagem para os acadêmicos, futuros pro- fessores, a im de identiicar as principais compe- tências e habilidades exigidas pelo Ministérios da Educação (MEC). Também contamos com a ajuda de Philippe Perrenoud, sociólogo suíço, cujas obras fundamentam as teorias aqui expostas. Vimos em unidades passadas que o professor precisa proporcionar atividades e momentos que privilegiem o desenvolvimento de competências e habilidades de seus alunos, ou seja, por meio do ensino planejado, o docente ajudará seus alunos a aprender a teoria dos conteúdos, realizar atividades que desenvolvam habilidades cognitivas, físicas, sociais e psicológicas, para que, por im, desenvol- vam competências por meio da teoria e da prática, para resolver problemas do cotidiano com o co- nhecimento cientíico. Para que isso seja possível, porém, o próprio educador precisa desenvolver competências e habilidades para lecionar e provo- car tudo isso. As competências, segundo Perrenoud (1999, p. 36), são “[...] importantes metas da formação. Elas podem responder a uma demanda social dirigida para a adaptação ao mercado e às mudanças e também podem fornecer os meios para apreender a realidade e não ficar indefeso nas relações sociais”. Podemos compreendê-las como domínios práticos das situações cotidianas que precisamos resolver. A Resolução nº 2 de 2015 do CNE/CP exige que os egressos dos cursos de graduação tenham algu- mas competências, o que o documento chama de aptidão. Dessa forma, espera-se que os acadêmicos saiam aptos a realizarem determinadas atividades que unem a teoria e a prática aprendidas durante o curso, de forma que consigam desempenhar seu tra- balho de forma satisfatória. Vejamos algumas: I - atuar com ética e compromisso com vistas à construção de uma sociedade justa, equâni- me, igualitária; [...] III - trabalhar na promoção da aprendizagem e do desenvolvimento de su- jeitos em diferentes fases do desenvolvimento humano nas etapas e modalidades de educação básica; [...] VI - promover e facilitar relações de cooperação entre a instituição educativa, a família e a comunidade; [...] IX - atuar na ges- tão e organização das instituições de educação básica, planejando, executando, acompanhan- do e avaliando políticas, projetos e programas educacionais; XI - realizar pesquisas que pro- porcionem conhecimento sobre os estudantes e sua realidade sociocultural, sobre processos de ensinar e de aprender, em diferentes meios ambiental-ecológicos, sobre propostas curricu- lares e sobre organização do trabalho educativo e práticas pedagógicas,entre outros[...] (BRA- SIL, 2015, p. 7-8). Essas chamadas aptidões que o MEC exige são seme- lhantes às competências para ensinar que Perrenoud (2000) elenca como fundamentais. Ao longo de seu livro, o referido autor explica dez competências: 150 DIDÁTICA Com a análise das competências sugeridas por Per- renoud (2000), veriicamos que elas se dividem em quatro grandes grupos de competências de um bom professor contemporâneo, sendo: ensino, mediação, conhecimento e gestão. A competência para ensinar é indispensável, pois sem explicações claras e méto- dos de ensino eicazes, os alunos não aprendem. A competência para mediar o conteúdo entre o sujei- to e o objeto parece algo simples, mas demanda um conjunto de habilidades complexas. A competência de conhecer é ampla, visto que envolve uma gama de conhecimentos. Já a competência de gestão envolve controle de tempo, de turma, da administração da escola como um todo, entre outros aspectos. Figura 4: As grandes competências essenciais do professor e as dez com- petências de Perrenoud (2000) Fonte: Elaborado pela autora (2018). Mas indissociáveis às competências são as habilida- des. Uma habilidade, segundo Perrenoud (1999, p. 33), pode ser deinida como uma [...] ‘inteligência capitalizada’, uma sequência de modos operatórios, de analogias, de intuições, de induções, de deduções, de transposições dominadas, de funcionamentos heurísticos ro- tinizados que se tornaram esquemas mentais de alto nível. Em outras palavras, caro(a) aluno(a), são as ações em si, os meios pelos quais colocaremos nossos do- mínios em prática para obtermos as competências necessárias e resolver os problemas. Retomando a Resolução nº 2 de 2015, vista em parágrafos anteriores, notamos que ela ainda exige que os professores tenham três habilidades, que con- sideramos importante destacar nesse momento: II - compreender o seu papel na formação dos estudantes da educação básica a partir de EDUCAÇÃO FÍSICA 151 concepção ampla e contextualizada de ensino e processos de aprendizagem e desenvolvimento destes, incluindo aqueles que não tiveram opor- tunidade de escolarização na idade própria; [...] V - relacionar a linguagem dos meios de co- municação à educação, nos processos didático- -pedagógicos, demonstrando domínio das tec- nologias de informação e comunicação para o desenvolvimento da aprendizagem; [...] XII - utilizar instrumentos de pesquisa adequados para a construção de conhecimentos pedagó- gicos e cientíicos, objetivando a relexão sobre a própria prática e a discussão e disseminação desses conhecimentos (BRASIL, 2015, p. 7-8, grifos nossos). Ao pensarmos nas habilidades dos professores, algu- mas nos vem logo à mente, tais como criatividade, paciência, pesquisa e persuasão. Essas, de fato, são essenciais e algumas até já vimos ao longo das nossas unidades, mas, como cada pessoa possui sua singulari- dade, precisamos entender que cada professor possui diferentes habilidades. As competências e habilidades até aqui mencionadas, contudo, são indispensáveis para o ser professor e devemos lembrar que todas po- dem ser desenvolvidas. Caro(a) aluno(a), pensando nesse peril, você possui as competências e habilida- des para ser professor? Caso a resposta seja não, tenha calma, pois você ainda pode desenvolvê-las. Começando pela explanação da igura sobre a grande competência de ensinar. Precisamos sa- ber “organizar e dirigir situações de aprendizagem” (PERRENOUD, 2000) ou, segundo a Resolução nº 2 de 2015, “trabalhar na promoção da aprendizagem e do desenvolvimento de sujeitos em diferentes fases do desenvolvimento humano” (BRASIL, 2015). Para tal, o professor precisa ter habilidades para colocar em prática diferentes métodos de ensino e aprendi- zagem, realizar boas mediações e ter bom vocabulá- rio para se fazer entender. Saber “trabalhar em equipe” também se faz ne- cessário, pois o professor não atua isoladamente. Seu ensino está intrinsecamente ligado ao trabalho pedagógico da coordenação, das equipes de apoio como psicólogos e outros atores que se fazem pre- sentes sobretudo em casos especiais de alunos que demandam acompanhamento, professores de apoio e toda a equipe de educadores. Portanto, seu ensino deve estar em consonância com todos esses perso- nagens, o que demanda certas habilidades sociais, tais como saber ouvir, ser interdisciplinar, entre ou- tras (PERRENOUD, 2000). A segunda grande competência é mediar, no que se refere a “administrar a progressão das apren- dizagens” (PERRENOUD, 2000). Precisamos ter habilidades como a de pesquisar, “utilizar instru- mentos adequados para tanto” (BRASIL, 2015), a im de encontrarmos novos conhecimentos cientí- icos para apresentar aos alunos, de forma que eles passem de seu nível de conhecimento real para um mais elaborado. O professor, para mediar, também precisa ter a competência de “conceber e fazer evoluir dispositi- vos de diferenciação”, ou seja, compreender que cada aluno aprende em um ritmo diferente e por métodos diferentes. A compreensão de uma classe heterogê- nea é a chave para o sucesso do ensino e da apren- dizagem, pois diferenciar um aluno – e sua apren- dizagem – do outro exige habilidade de percepção e criatividade para elaboração de métodos diversiica- dos a im de promover a aprendizagem de todos os alunos (PERRENOUD, 2000). A grande competência de conhecer é primordial para que o professor contemporâneo saiba “utilizar novas tecnologias” (PERRENOUD, 2000); aquele que não possui essa habilidade pode se tornar ob- soleto para o mercado de trabalho. Por isso, habi- 152 DIDÁTICA lidades como o “domínio das tecnologias” e para “relacionar a linguagem dos meio de comunicação” para transformá-las em instrumentos de ensino e de aprendizagem são indispensáveis na atualidade (BRASIL, 2015). A competência de “enfrentar os deveres e os dile- mas éticos da proissão” também é importante. Per- renoud (2000) explica que, com a atual sociedade, ica difícil ensinar os valores cívicos e éticos, visto que tanto fora quanto dentro da escola vemos violência, discriminação, dentre outras injustiças que emanam da convivência social, tornando-se um ciclo em que a sociedade as reproduz porque a escola contribui, ainda que de forma inconsciente, com a reprodução desse caos. Por sua vez, a escola reproduz porque está imersa em uma sociedade desvirtuada. Contudo, o professor precisa “[...] atuar com éti- ca e compromisso com vistas à construção de uma sociedade justa, equânime, igualitária [...]” (BRA- SIL, 2015, p. 1) para quebrar esse círculo vicioso e criar um novo círculo virtuoso. Para tanto, habili- dades como liderança e persuasão são necessárias para ensinar e convencer desde crianças, jovens e até adultos que o respeito e a ética precisam prevalecer para uma sociedade melhor. Ainda como competência do conhecer, o pro- fessor precisa “administrar seu próprio conheci- mento” (PERRENOUD, 2000), ou seja, continuar sua formação ao longo da vida acadêmica, para tanto, habilidades como pesquisa, autoconheci- mento e automotivação são necessárias para um proissional sempre atualizado e eiciente. Lem- brando que também é pesquisa docente o “conhe- cimento sobre os estudantes e sua realidade socio- cultural” (BRASIL, 2015). A última grande competência que elencamos é a de gestão. Para um professor do século XXI, a com- petência para gerir precisa ser bem desenvolvida, vis- to que ele, além de ensinar, administra seu tempo de aula, sua classe e pode até dirigir uma escola em car- gos como ode diretor, atuando na gestão e organiza- ção das instituições, “planejando, executando, acom- panhando e avaliando políticas, projetos e programas educacionais” (BRASIL, 2015). Ainda que o educador não assuma essa cadeira, faz-se necessário conhecer a parte de gestão da escola onde leciona, para com- preender os trabalhos burocráticos que amparam seu trabalho didático em sala de aula. Para tanto, habili- dades como investigação são fundamentais. Por im, o professor precisa ter a competência de “informar e envolver os pais” (PERRENOUD, 2000) nas questões escolares, ou segundo exige a Resolu- ção nº 2 de 2015, precisa facilitar as “relações entre a instituição educativa, a família e a comunidade”, para isso, precisa ter a habilidade de “compreender seu papel” na formação humana (BRASIL, 2015). Esse grupo de grandes competências, caro(a) aluno(a), demandam habilidades que formam o per- il docente exigido na atualidade. O professor de hoje precisa ser ético para lidar com todas as situações de seu cotidiano, ter múltiplos conhecimentos (teóri- cos, práticos, metodológicos e técnicos), ser curio- so, criativo e ter disposição para realizar pesquisas e investigações de sua área de atuação, tudo para que resulte em um ensino eiciente e eicaz e promova uma aprendizagem de qualidade. Esse resultado é a didática. Um professor que tem didática é um pro- fessor que tem bem desenvolvidas as competências e as habilidades aqui descritas. Com esse resultado, as aulas são esclarecedoras, motivadoras e inspiradoras. EDUCAÇÃO FÍSICA 153 Esse peril docente exigido para o professor do século XXI preconiza que ele tenha domínio de métodos e técnicas que promovam a qualidade do ensino, para tanto, até a forma de organização da sala de aula deve ser planejada. Como vimos em tópicos anteriores, os procedimentos de ensi- no são amplos e cada um demanda uma organiza- ção, logo, ainda em seu planejamento, o docente precisa pensar em como será organizada a sala de aula para trabalhar com a turma, estipulando des- de a disposição das carteiras (em ilas, em semi- círculos, em grupos etc.) até a limpeza da sala de aula. Parecem detalhes insigniicantes, mas toda a ação dentro da escola é educativa. Logo, preci- samos ser exemplos e repassar essa postura. Uma sala limpa, bem iluminada e arejada, com orga- nização adequada dos alunos e do professor sem dúvida proporciona uma aprendizagem de maior qualidade. Precisamos, ainda, dentro da ética proissional, mencionar a vestimenta adequada dos professores, que deve sempre manter o respeito ao aluno. O que deve chamar a atenção na sala de aula é o conteú- do e não as roupas do professorado. O tom de voz também promove respeito entre os integrantes da classe; um ambiente de aprendizagem não pode ser nem extremamente silencioso nem exorbitan- temente barulhento: o equilíbrio está na fala pon- derada do professor e dos alunos, bem como no cuidado com as atividades mais práticas, por isso o professor precisa pensar bem em quais serão de- senvolvidas em sala, no pátio ou na biblioteca, para que não se instaure a anarquia na turma nem atra- palhe o restante da escola. A postura docente inluencia diretamente na formação do aluno, por isso precisamos pensar em cada detalhe dos processos de ensino, para que prevaleça a aprendizagem global de qualidade, por meio de aulas prazerosas e incentivadoras, que per- durarão para além do ano letivo, para a vida daquele aluno cidadão. Pensados todos os detalhes do ensino, pauta- dos no planejamento, ao im desse processo é cha- gada a hora de veriicar se tudo o que colocamos no plano de aula e executamos com os alunos foi bem-sucedido ou precisa de mudanças. Para tanto, precisamos de uma avaliação, tema da nossa próxi- ma unidade. 154 considerações inais Prezado(a) aluno(a), como foi possível observar, a trajetória do planeja-mento se inicia bem antes do registro do professor. Conhecer esse per-curso é essencial para realizarmos um bom trabalho pedagógico, que envolve desde a direção até a equipe pedagógica em sala de aula. Preci- samos sempre ter em vista que o papel da escola é ensinar crianças e adolescentes a serem alfabetizados e letrados em todas as ciências. Logo, nosso ponto de parti- da é sempre o aluno e nosso ponto inal é seu conhecimento e desenvolvimento. Nosso objetivo inicial com essa unidade foi conhecer os documentos que interferem no planejamento escolar, desde o âmbito nacional – como a BNCC (2017) –, passando níveis pelos regionais, até o institucional – como o PPP. A partir deles é montado o currículo escolar, ao qual o professor recorre para regis- trar seu plano de aula. Após o conhecimento dos documentos educacionais, objetivamos reletir so- bre a pesquisa docente, que se faz necessária para que cada ação pedagógica tenha fundamentação teórica, suporte cientíico e, inalmente, dê o suporte necessário para que o professor construa um plano de aula sólido. Por im, analisar os elementos do plano de aula se fez essencial para que você compreenda a relevância desse registro e desenvolva as habilidades neces- sárias para realizar um plano eiciente e eicaz, a saber: relexão, organização e sintetização. Após planejarmos nossas ações pedagógicas, registrá-las e nos organizarmos, é chegada a hora de colocarmos tudo em prática, para tanto, devemos ter claras as diferentes formas de concretizar nosso planejamento. Portanto, no próximo capítulo, enfatizamos outro aspecto essencial para uma boa didática: a execução do plano de aula. Convido você, caro(a) aluno(a), a reletir sobre as possíveis práticas pedagógicas. 155 atividades de estudo 1. Freire (2001) nos ensina que todas as ações pe- dagógicas devem estar pautadas em teorias, da mesma forma que as fundamentações teóricas emergem de práticas já estudadas e sistematiza- das. Sobre essas ações indissociáveis, é correto airmarmos que: a) O professor e o sujeito aprendiz devem sempre partir de uma teoria antes de re- alizarem práticas dentro do ambiente de aprendizagem. b) A práxis é o elemento que define como deve ser a ação pedagógica, ou seja, a aliança entre teoria e prática, sem dico- tomias. c) Os alunos precisam de professores que saibam mais sobre teoria do que prática, pois um professor sem teoria não conse- gue dar aula, mas um professor sem práti- ca pode usar somente a teoria. d) É na prática que surge a teoria. Dessa for- ma, o professor deve estar mais prepara- do para atuar do que ter um repertório teórico. e) Sendo a teoria e a prática indissociáveis, precisamos que a formação de professo- res forneça conhecimentos dessas duas formas, o que atualmente não acontece. 2. Libâneo (2013) aborda diferentes métodos que o professor pode utilizar a im de promover uma aula mais dinâmica e atrativa. Considerando que métodos são conjuntos de ações utilizadas para viabilizar o processo de ensino, analise as airma- tivas abaixo: I - A exposição demonstrativa pode ser atra- tiva ao aluno pelo fato de poderem ter contato com o objeto de estudo por meio de experimentos. II - A exposição verbal é um método que, se bem dominado pelo docente, pode se tor- nar interessante ao aluno. Podem ser fei- tas, por exemplo, apresentações de curio- sidades sobre o objeto de estudo. III - Os seminários também podem ser mais dinâmicos na medida em que o professor os relaciona com estudos de caso. Pode- -se, então, discutir sobre o objeto de estu- do a partir de casos reais ou ictícios. IV - O uso de computadores para realização de atividades também é um método atra- tivo para as gerações atuais, que vivem em contato com a tecnologiae possuem maior interesse por tais meios. Está correto o que se airma em: a) I, II e III, apenas. b) I, III e IV, apenas. c) II, III e IV, apenas. d) I e III, apenas. e) l, ll, lll e lV. 3. Imagine que você possui um aluno com diiculda- de de atenção e planejou realizar atividades ao ar livre. Ao veriicar o local, porém, percebeu que há vários detratores (movimentação intensa de pes- soas, múltiplos estímulos sonoros, entre outros elementos). Dessa forma, você precisa alterar al- guns elementos para potencializar o processo de aprendizagem, de forma que o aluno, que já pos- sui uma diiculdade de aprendizagem, não seja prejudicado por esses elementos. Sendo assim, o mais coerente seria: a) Mudar o método de ensino, de demonstra- tivo a expositivo. 156 atividades de estudo b) Alterar o recurso, levando o sujeito para um ambiente com menos estímulos externos. c) Trocar a metodologia de ensino, substituin- do o ensino ao ar livre pelo local fechado. d) Reformular os instrumentos de ensino, pois se o aluno tem diiculdade de atenção, precisa de instrumentos com os quais pos- sa ver mais do que interagir. e) Não utilizar tendências pedagógicas, pois em casos de diiculdades cognitivas ne- nhuma se aplica. 4. Betina é uma adolescente muito inteligente e possui algumas habilidades invejáveis. Conside- rando habilidades como recursos cognitivos que nos auxiliam no desenvolvimento de determina- das atividades, assinale a alternativa que corres- ponde as possíveis habilidades de Betina: a) Bem-estar e saúde. b) Personalidade forte. c) Boa atenção e memória. d) Disposição para realizar atividades. e) Perseverança. 5. Em todos os campos de atuação há um peril exi- gido. No caso de atuações em ambientes formais e não formais, podemos elencar como necessá- rio para o peril do professor: I - Ter domínio de métodos e técnicas que promovam a qualidade do ensino. II - Ter competências para lidar com a diver- sidade. III - Ser um proissional ético. IV - Ser um pesquisador. Está correto o que se airma em: a) I, II e III, apenas. b) I, III e IV, apenas. c) I, II e IV, apenas. d) II, III e IV, apenas. e) I, II, III e IV. 160 referências ABREU, J. R. P. Contexto Atual do Ensino Médico: Metodologias Tradicionais e Ativas - Necessidades Pedagógicas dos Professores e da Estrutura das Es- colas. 2011. Dissertação (Programa de Pós-Gradua- ção em Ciências da Saúde) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2009. BARBANTI, V. J. Dicionário de educação física e do esporte. São Paulo: Manole, 1994. BRASIL. 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Esses são alguns dos sintomas que, histori- camente, a avaliação tem causado nos alunos que passam pelos bancos escolares em todos os níveis, etapas ou modalidades de ensino. No entan- to, depois dos estudos desta unidade,acredito que você não a enfrentará mais sob essa perspectiva, pois compreenderá, de fato, qual é a função que a avaliação deve ter no contexto escolar. Quando tratamos da avaliação, temos que levar em consideração que ela está intimamente relacionada com a teoria que escolhemos para em- basar nossa prática escolar, uma vez que deve ser coerente com o proces- so de ensino e aprendizagem. Desta forma, se tenho a teoria histórico-crí- tica como base para minha prática pedagógica, não posso adotar, para o processo avaliativo, as avaliações características da tendência tradicional, por exemplo. Situações como essa são um dos fatores que fazem com que a avaliação seja vista como vilã do processo educativo. Nesse contexto, para que a nossa prática pedagógica seja coerente, nos aprofundaremos nessa discussão, além de também conhecer os tipos de avaliação que devem fazer parte do cotidiano escolar e, consequente- mente, do processo de ensino e aprendizagem. Nossas discussões se encerrarão com os efeitos positivos e negativos que a avaliação poderá causar nos alunos, avaliando os aspectos peda- gógicos e psicológicos que as avaliações tomam no contexto escolar. Te convido, caro(a) aluno(a), a mergulhar em mais este estudo. Vamos lá? 168 DIDÁTICA Avaliar e ser avaliado são ações do nosso cotidiano. No trabalho, em casa, no contexto social, nos apli- cativos ou em qualquer outra ação que realizamos, a avaliação está presente, de forma direta ou indi- reta, quando julgamos ou comparamos. A avaliação consiste no ato de dar um parecer ou de apreciar uma atitude. Também é vista como uma ação que afere ou confere a algo ou alguém um juízo de valor. A avaliação, por meio dessa deinição, é tida como uma ação em que o juízo de valor é atribuído sem levar em consideração o contexto, a trajetória ou a individualidade de cada um. Na educação acontece da mesma forma. Os alu- nos são avaliados a im de veriicar se aprenderam e quanto aprenderam. Luckesi (2005, p. 33) concei- tua a avaliação como “um julgamento de valor so- bre manifestações relevantes da realidade, tendo em vista uma tomada de decisão, a partir de um critério estabelecido”. Em outras palavras, o professor esta- belece os critérios de avaliação a im de julgar uma manifestação da realidade e, a partir do resultado obtido, toma uma decisão. Outros autores contribuem com as suas visões sobre a avaliação. Tyler (1975 apud HAYDT, 2002) deine o processo de avaliação como, essencialmen- te, ação de determinar se os objetivos educacionais estão realmente sendo alcançados pelos programas e currículos educacionais. Tendo em vista que os ob- Conceito de Avaliação EDUCAÇÃO FÍSICA 169 jetivos educacionais visam a mudança do ser huma- no, a avaliação determina em que grau essas mudan- ças estão ocorrendo e se estão realmente ocorrendo. Em outras palavras, ao avaliarmos queremos sa- ber se o que foi ensinado aos alunos foi aprendido pelos mesmos. Nesse sentido, a nota determinará em que “grau” essa mudança aconteceu. Se os alu- nos foram “bem” na avaliação, o grau de mudanças de comportamento foi elevado, se foram “mal” na avaliação, não houve mudanças de comportamento. Para Scriven (1978 apud HAYDT, 2002), a ava- liação é uma atividade metodológica que consiste na coleta e combinação dos dados do desempenho dos alunos, para isso, utiliza escalas e critérios de ponde- ração para que seja possível classiicar e comparar os números. Nesse sentido, o autor nos diz que ao ava- liar, estamos comparando, classiicando os alunos de acordo com seus desempenhos. Nos perguntamos, portanto: como icam os alunos classiicados nas úl- timas posições? O que fazemos com os alunos que não aprenderam? Para Stufebeam (1971 apud HAYDT, 2002, p. 12), “a avaliação é o processo de delinear, obter e for- necer informações úteis para o julgamento de deci- sões alternativas [...]”. O autor nos traz um conceito de avaliação que nos dá lexibilidade ao dizer que avaliação é traçar, obter e fornecer informações para que possamos decidir qual caminho tomar. Deixare- mos nossos alunos naufragar, ou jogaremos um bote salva vidas? Quando tomamos a avaliação como fer- ramenta no processo de construção do conhecimen- to, jogamos um bote salva vidas aos nossos alunos, pois oferecemos a eles a possibilidade de reconstruir o conhecimento que icou perdido no caminho. Os conceitos de avaliação definidos pelos autores citados são claramente conhecidos por todos nós, educadores e estudiosos da educação, pois é dessa forma que nossos alunos são avalia- dos. Esses conceitos icam ainda mais claros e reais quando vistos na perspectiva de Perrenoud (1999, p. 9), que airma: Avaliar é – cedo ou tarde – criar hierarquias de excelência, em função das quais se decidirão a progressão no curso seguindo, a seleção no iní- cio do secundário, a orientação para diversos tipos de estudos, a certiicação antes da entrada no mercado de trabalho e, frequentemente, a contratação. Perrenoud (1999) airma em seus estudos que é a avaliação que regula o trabalho, as atividades, a co- operação e, de certa forma, a relação entre a família e a escola e/ou entre os proissionais que atuam na educação. Dessa forma, os alunos são avaliados e a partir do seu desempenho, comparados e classiica- dos em virtude de uma norma que visa à excelência. Esse autor nos traz um conceito de avaliação característico do método tradicional de ensino, em que a avaliação era utilizada como ferramenta de punição, medida de conhecimento, classiicação e seleção dos alunos para a aprovação e como pré-re- quisito para entrada na faculdade ou no mercado de trabalho, restando aos não classiicados a reprova- ção, bem como os empregos menos remunerados. Para Gadotti (2003 apud RABELO, 1984, p. 90), o ato de avaliar não é dispensável para a atividade humana ou para qualquer atividade educacional, dessa forma, para esse autor, a avaliação é impres- cindível durante todo o processo educacional em que se realize um constante trabalho de ação-re- lexão-ação, porque “educar é fazer ato de sujeito, é problematizar o mundo em que vivemos para su- perar as contradições, comprometendo-se com esse mundo para recriá-lo constantemente”. 170 DIDÁTICA Rabelo (2003) nos traz uma concepção de ava- liação inerente ao método construtivista de ensi- no, quando nos diz que a avaliação é indispensável durante o processo de ação-relexão-ação, ou seja, a avaliação deve acontecer durante o processo de ensino e de aprendizagem, para que o aluno possa participar da construção do seu conhecimento. Barlow (2006, p. 16) tem uma visão um tanto di- ferenciada do conceito de avaliação apresentado até então. Para esse autor, como um retorno ao ato de avaliar, a avaliação se revela em sua função, como um estímulo a completar, como algo a modiicar, como aperfeiçoar uma tarefa em andamento. Nesse contexto, para o autor, o que cabe agora é descobrir a natureza da avaliação: o que a avaliação quer fazer? O que a avaliação quer dizer? Cada autor que discute avaliação traz consigo as marcas do que entende por educação e por formação humana, partindo das suas concepções teóricas. Pode- mos, portanto, airmar que a avaliação é desenvolvida levando em consideração a concepção teórica que se adota para o processo de ensino e aprendizagem. Na tendência pedagógica tradicional de ensino, a avaliação era realizada de forma sistemática. Con- siderava-se somente a resposta que correspondia ao padrão ensinado pelo professor, ou seja, as avaliações eram momentos de repetiçãodos padrões ensinados pelos professores por meio da memorização e cópia. Então, caro(a) aluno(a), quais habilidades eram co- bradas dos alunos? A memorização e a reprodução, pois essas eram a únicas habilidades necessárias para a repetição dos conteúdos, que eram dados pelos professores como verdades absolutas a ser reprodu- zidas. A inteligência era medida pela capacidade de memorizar e guardar informações. Assim, quanto mais informações uma pessoa memoriza, mais inte- ligente ela é, segundo a tendência tradicional. Os processos avaliativos dessa tendencia pedagógica são comuns para muitos de nos, tendo em vista que i- zeram parte da nossa educação escolar e que moldam o pensamento e as ideias dos alunos. Como muito bem ilustrado pela imagem da professora, moldam o pen- samento e as ideias dos alunos. Dessa forma, voltamos a airmar: esse modelo de avaliação visa a reprodução dos conteúdos que são trabalhados na escola. Outro aspecto importante a ser ressaltado é que as avaliações visavam a quantiicação. Dessa forma, a avaliação era desenvolvida e realizada a im de mensurar o aprendizado dos alunos sobre os con- teúdos estudados. Depois, eram atribuídas notas às avaliações e os alunos eram classiicados. Acredita- va-se que a classiicação dos alunos servia como in- centivo para que os alunos com menor rendimento pudessem buscar melhores notas. Os castigos físicos e as humilhações também faziam parte do processo avaliativo. Os professores utilizavam esses recursos para disciplinar o compor- tamento dos alunos diante dos padrões que eram considerados corretos naquela sociedade. A avalia- ção tradicional era aplicada respeitando os perío- EDUCAÇÃO FÍSICA 171 dos considerados avaliativos: término dos períodos letivos ou de aplicação de um conteúdo, podendo ser estes bimestrais, semestrais e/ou anuais, o que caracterizava a avaliação como parte inal do pro- cesso de ensino e de aprendizagem. Caro(a) aluno(a), como já dito na Unidade II, as características do ensino e da avaliação tradicionais ainda persistem na prática pedagógica de muitos professores, com exceção, é claro, dos castigos físicos e humilhações, que são proibidos por Lei – sendo uma delas o Estatuto da Criança e do Adolescente. Isso não impede, porém, que a avaliação ainda seja utilizada como um momento de coleta de informa- ções que foram meramente decoradas pelos alunos. Na tendência tecnicista, em contrapartida, a ava- liação voltou a ter o caráter que tinha na concepção de ensino tradicional, como foco na mensuração dos conhecimentos adquiridos pelos alunos. Era aplicada somente no inal do processo de ensino e de aprendizagem, uma vez que a ênfase dessa tendência pedagógica estava na aplicação dos instrumentos e técnicas. Dos vários recursos ou instrumentos que eram utilizados para o processo avaliativo, na ten- dência tecnicista, podemos citar a coleta de infor- mações por meio dos questionários, escalas de ati- tudes que deveriam ser incorporadas pelos alunos, icha de registros, por exemplo. Na tendência libertadora a avaliação possuía características de uma prática emancipadora do in- divíduo, dessa forma, era desenvolvida a partir do progresso que o grupo alcançava, a partir de um cronograma também deinido pelo grupo. A avalia- ção também era realizada por meio da interação en- tre professor e alunos, dentro do grupo, a partir da compreensão e da relexão crítica sobre os conteúdos discutidos e dos trabalhos escritos e autoavaliações, sempre levando em consideração o compromisso que o grupo assume com o seu desenvolvimento e com a prática social. Pensando na tendência tradicional de ensino, que icou conhecida pela palmatória e seus di- ferentes métodos de agressão (verbal, física e psicológica), você considera, caro(a) aluno(a), que a avaliação era vista como produto inal de um processo de ensino ou uma forma de agressão? REFLITA Na tendência renovada não diretiva ou escola nova, a avaliação era realizada por meio da autoavaliação ou autocrítica, pois quem mais poderia avaliar o alu- no se não ele mesmo? Esse processo avaliativo leva- va em consideração que o sujeito se tornaria mais criativo, autoconiante e independente (FERREIRA, 2009). O aluno era o responsável por suas ações, sendo estas corretas ou não, assim como também era peça fundamental no processo de elaboração do conhecimento. Nesse sentido, a avaliação perde seu signiicado, pois é somente realizada por meio da autocrítica. 174 DIDÁTICA A partir dos conceitos de avaliação trabalhados até aqui e do olhar que temos sobre o processo avalia- tivo, quando o assunto é avaliar, temos basicamente três funções, sendo elas: diagnosticar, controlar e classiicar. A avaliação diagnóstica “é aquela realiza- da no início do curso, período letivo ou unidade de ensino” (HAYDT, 2002, p.16), ou seja, é um levanta- mento dos conhecimentos dos alunos, dos conheci- mentos já adquiridos. [...] com a intenção de constatar se os alunos apresentam ou não o domínio dos pré-requi- sitos necessários, isto é, se possuem os conhe- cimentos e habilidades imprescindíveis para as novas aprendizagens. É também utilizada para caracterizar eventuais problemas de aprendi- zagens identiicar suas possíveis causas, numa tentativa de saná-los (HAYDT, 2002, p. 17). Diagnosticar signiica fazer um diagnóstico por meio de sinais de indicação, para conhecer uma moléstia, uma enfermidade ou avaliar (FERREI- RA, 2010). Essa deinição, apesar de ser voltada para a área da saúde, nos permite também enten- der a avaliação escolar. De acordo com a deinição, podemos entender que, na educação, diagnosticar o aluno é fazer um levantamento por meio dos si- nais indicativos, veriicar se ele aprendeu o conteú- do ou não. Ou seja, faz-se apenas um levantamen- to de dados para saber se o aluno sabe ou não um determinado conteúdo. A avaliação formativa “tem a função de contro- le” (HAYDT, 2002, p. 17). É utilizada no decorrer do ano letivo para veriicar se os objetivos estão sendo alcançados. Modelos de Avaliação EDUCAÇÃO FÍSICA 175 [...] a avaliação formativa visa, fundamental- mente, “determinar se o aluno domina gradati- va e hierarquicamente cada etapa da instrução”, porque “antes de prosseguir para uma etapa subsequente do ensino-aprendizagem, os obje- tivos em questão, de uma ou de outra forma, devem ter seu alcance assegurado” (HAYDT, 2002, apud TURRAS, 1975, p. 185-186). Nesse sentido, é por meio da avaliação formativa que o aluno percebe seus erros e acertos e aprende com os mesmos. O autor caracteriza esse tipo de avalia- ção como orientadora, pois orienta o trabalho do professor e o aprendizado do aluno, tirando o foco das fontes e causas do estresse que permeia a avalia- ção. Haydt (2002) liga, ainda, a avaliação formativa ao sistema de feedback que possibilita ao professor ajustar seu método, ou seja, indica que o professor deve rever seu sistema de mediação quando este se torna ineiciente. A avaliação, segundo o autor, deve servir como controle de qualidade. A avaliação somativa “tem a função classii- catória”, ou seja, é realizada no im do período ou ano letivo, como o intuito de observar se os alunos atingiram os objetivos propostos. Tem a função de promover – ou não – o aluno para a próxima etapa escolar (HAYDT, 2002). Somar signiica fazer uma soma ou adicionar, ter uma soma ou apresentar, juntar quantidades, incluir e/ou fazer operações de soma (FERREIRA, 2010). No quadro a seguir, mostramos, de uma forma simples e clara, as funções e ospropósitos das três modalidades de avaliação apresentadas. Quadro 2: Características das avaliações diagnóstica, formativa e somativa Modelos e funções da avaliação MODELOS FUNÇÃO PROPÓSITO (PARA QUE USAR) ÉPOCA (QUANDO APLICAR) Diagnóstica Diagnosticar Veriicar a presença ou ausência de pré- -requisitos para as novas aprendizagens. Detectar diiculdades especíicas de aprendizagem, tentando identiicar suas causas. Início do ano ou semestre letivos, ou no início de uma unidade de ensino. Formativa Controlar Constatar se os objetivos estabelecidos foram alcançados pelos alunos. Fornecer dados para aperfeiçoar o pro- cesso ensino-aprendizagem. Durante o ano letivo, isto é, ao longo do processo de ensino- -aprendizagem. Somativa Classiicar Classiicar os resultados de aprendizagem alcançados pelos alunos, de acordo com níveis de aproveitamento estabelecidos. Ao inal de um ano ou semes- tre letivos, ou ao inal de uma unidade de ensino. Fonte: Haydt (2002, p. 19). 176 DIDÁTICA Diante desse quadro, podemos dizer que, se unidos, os três modelos de avaliação apresentados poderiam dinamizar o sistema avaliativo das instituições de ensino, afastando as funções e o uso errôneos que os professores empregam à avaliação, assim como o fantasma do medo nos alunos. veem, perguntamos o que é a avaliação ainal, qual o seu verdadeiro papel, será que as avaliações que apli- camos aos nossos alunos são realmente avaliações da aprendizagem escolar? Libâneo (1994, p. 196-197) entende que o pro- cesso avaliativo se dá em diferentes momentos do processo de ensino, sendo tarefas da avaliação a ve- riicação, a qualiicação e a apreciação qualitativa. A veriicação é a coleta de dados sobre o apro- veitamento dos alunos, tendo em vista o conte- údo sistemático, em provas, tarefas, exercícios, entrevistas e observação do desempenho. A qualiicação consiste na comprovação de que os objetivos foram alcançados, analisando os re- sultados, se preciso e necessário atribui-se nota ou conceito. A apreciação qualitativa é a avalia- ção como a conhecemos, com notas e padrões esperados dos alunos. A partir das tarefas que a avaliação possui, ainda se atribui a ela três funções: pedagógico-didática, de diagnóstico e de controle (LIBÂNEO, 1994). Essas funções estão muito próximas da função da avalia- ção estabelecida por Haydt (2002). A função pedagógico-didática se refere ao pro- cesso avaliativo que cumpre os objetivos gerais e es- pecíicos do processo de ensino e de aprendizagem. Ao comprovar, por meio da avaliação, se o aluno aprendeu ou não, evidencia-se se a inalidade social do ensino, a preparação para o enfrentamento das exigências sociais, a inserção no processo global de transformação social e o acesso à cultura como meio para participação ativa na sociedade foram alcança- dos (LIBÂNEO, 1994). Ao mesmo tempo a função didático-pedagógica possibilita que o aluno seja mais responsável com re- Pensando nas funções das avaliações dei- nidas, será que estamos de fato avaliando nossos alunos tendo em vista seu desenvol- vimento ou aprendizagem? REFLITA Segundo Luckesi (2005, p. 35) Com a função classiicatória, a avaliação cons- titui-se num instrumento estático e frenador do processo de crescimento; com a função diagnóstica, ao contrário, ela constitui-se num momento dialético do processo de avançar no desenvolvimento da ação, do crescimento para a autonomia, do crescimento para a compe- tência etc. Como diagnóstica, ela será um mo- mento dialético de “senso” do estágio em que se está e de sua distância em relação à pers- pectiva em que se está colocada como ponto a ser atingido à frente. A função classiicatória subtrai da prática da avaliação aquilo que lhe é constitutivo: a obrigatoriedade da tomada de decisão quanto à ação, quanto ela está avalian- do uma ação. Podemos perceber que a avaliação classiicatória tem uma maior pretensão quanto a obtenção de mé- dias ou notas, tanto para a aprovação quanto para a reprovação. Diante da forma com que os autores a EDUCAÇÃO FÍSICA 177 lação aos seus estudos, assumindo-o como um dever social. Desta forma, com sua função didática a ava- liação contribui para a ixação e assimilação dos co- nhecimentos, pois a correção dos erros possibilita o aprimoramento, a ampliação e aprofundamento de conhecimentos e habilidades e desenvolvendo suas competências (LIBÂNEO, 1994). A função diagnóstica, que possibilita que o pro- fessor acompanhe o progresso de seus alunos e sua atuação pedagógica, tornando possível que se modi- ique o processo de ensino e aprendizagem, é a mais importante, pois efetiva a função didático-pedagó- gica (LIBÂNEO, 1994). A avaliação diagnóstica ocorre no início, no meio e no im dos conteúdos ou aulas. Ao iniciar, veriica-se quais são as condições que os alunos pos- suem para iniciar um novo conteúdo. Ou seja, é um momento de sondagem dos conhecimentos e ex- periências que os alunos já possuem e que servirão como pré-requisitos para a sequência didática. No meio do processo de ensino e de aprendi- zagem, é realizado o acompanhamento dos alunos para saber se houve evolução da aprendizagem. Esse momento também é propício para a correção de algumas falhas, se houver. Para o professor, esse é o momento de veriicação do seu trabalho, de an- damento da disciplina e adequação de métodos e recursos. Por im, é preciso veriicar os resultados inais da aprendizagem, o que ocorrerá ao inal de um conteúdo, bimestre ou semestre. Essa avaliação, mesmo que inal, também é importante para a ve- riicação do processo de ensino e de aprendizagem (LIBÂNEO, 1994). A função de controle se refere aos meios e a frequência com que as avaliações são realizadas e a qualiicação dos resultados escolares. Deve haver um controle contínuo no processo de interação en- tre professores e alunos, no decorrer das aulas e da realização de atividades que possibilitarão ao profes- sor observar se os alunos estão desenvolvendo suas habilidades e competências. O controle parcial e i- nal será realizado, desta forma, no inal do bimestre, semestre ou do ano letivo, no caso das instituições que os possuem. Segundo Luckesi (2005, p.25) A função verdadeira da avaliação da aprendi- zagem escolar seria auxiliar a construção da aprendizagem satisfatória; porém, como ela está centralizada nas provas e exames, secunda- riza o signiicado do ensino e da aprendizagem como atividades signiicativas em si mesmas e superestima os exames. Ou seja, pedagogica- mente, a avaliação da aprendizagem, na medi- da em que estiver polarizada pelos exames, não cumprirá a sua função de subsidiar a decisão da melhoria da aprendizagem. O autor discute um modelo de avaliação que priori- za a aprendizagem dos alunos, não o atual modelo de avaliação, que está em vigência nas escolas. Antu- nes (2003), em sua obra Avaliação da aprendizagem escolar, discute em quais competências os alunos deverão apresentar progresso depois de uma série de atividades escolares. Ele toma como referência de competência o conceito de Perrenoud (2009, p. 30), que a entende como “a faculdade de mobilizar um conjunto de recursos cognitivos – como as inte- ligências, saberes, habilidades e informações – para solucionar com pertinência e eicácia um conjunto de situações”. 180 DIDÁTICA A avaliação consiste em uma tarefa necessária e permanente no trabalho do professor, o qual acompanha e orienta passo a passo o processo de ensino e de aprendizagem. Por meio da ava- liação, os resultados que vão sendo obtidos por meio do trabalho conjunto de professore alunos são comparados com os objetivos propostos para a aprendizagem, a im de constatar progressos ou diiculdades e reorientar o trabalho pedagógico, se necessário (LIBÂNEO, 1994). Nesse sentido, podemos dizer que a avaliação é uma relexão sobre o nível do trabalho escolar tanto de professores quanto de alunos. A avaliação é uma tarefa complexa, que não deve se resumir a provas e atribuição de notas (LIBÂNEO, 1994). A dimensão pedagógica da avaliação é entendida como aquela que implica diretamente no processo de ensino e de aprendizagem, com suas caracterís- ticas, intencionalidade consciente e sistematização. Compreendemos que o trabalho do professor com seus alunos passa necessariamente por uma organi- zação metodológica, com objetivos a serem atingi- dos, conteúdos a serem trabalhados e um processo de avaliação de resultados (BARLOW, 2006). Aspectos Pedagógicos e Psicológicos da Avaliação EDUCAÇÃO FÍSICA 181 Na discussão do que é real e o que é ideal à prática pedagógica em avaliação, icamos com o conceito de Luckesi (2005, p. 33), que estipula que a “avaliação é um julgamento de valor sobre ma- nifestações relevantes da realidade, tendo em vista uma tomada de decisão a partir de um critério”. Luckesi (2005), em sua obra intitulada Avaliação sobre a aprendizagem escolar, discute avaliação sob vários olhares, tomando como ponto de par- tida seu conceito sobre a mesma. Em seu primeiro capítulo, apresenta um conjunto de observações sobre avaliação sob as visões da promoção, dos professores, dos pais, do fetiche e do medo, que transformam a avaliação em um instrumento do- tado de conotações negativas: Promoção: o educando tem sua atenção na pro- moção, ou seja, em “passar para o próximo ano”, ser promovido para a próxima etapa escolar. Nesse con- texto, não são levados em consideração os objetivos da aprendizagem, o desenvolvimento de habilidades e competências e a função social da escola. Professores: utilizam a avaliação como instru- mento de ameaça, de controle sobre a turma, ou apenas sobre os indisciplinados. O professor tenta promover a avaliação como motivadora da apren- dizagem. A partir desse olhar – que muitos pro- fessores possuem – a avaliação torna-se um único momento no inal de um conteúdo, bimestre ou ano letivo, e visa apenas a função somativa e a pro- moção ou não do aluno. Pais: estão focados nas notas dos seus ilhos e na promoção dos mesmos para a próxima etapa es- colar. Assim, desconsidera-se o processo educativo, que é complexo e exige apoio da família. Fetiche: Segundo Luckesi (2005, p. 23), “as pro- vas e exames são realizados conforme o interesse dos professores ou do sistema de ensino”, ou seja, estão ganhando independência da relação professor e alu- no. Mais do que uma oportunidade de aprendiza- gem signiicativa, a avaliação é uma oportunidade de prova da resistência dos alunos aos ataques do professor. As avaliações são realizadas e as notas atribuídas como se não tivessem relação com o pro- cesso de aprendizagem. As notas, dessa forma, reve- lam por meio de números a aprendizagem bem ou malsucedida dos alunos. Medo: é um fator de controle social, utilizado pelo Estado, pela Igreja e pela escola (LUCKESI, 2005). O medo não só produz uma personalida- de que é submissa em comportamentos e hábitos, mas também conduz doenças respiratórias e gás- tricas, por exemplo, resultado de diversos tipos de estresse. Partindo da visão de Luckesi (2005) sobre a avaliação, é preciso ter conhecimento de que não podemos reproduzir em nossos alunos os mesmos medos e consequências que em nós foram um dia causados devido ao processo avaliativo. Dessa for- ma, compreender a avaliação e suas funções se faz necessário para que tenhamos uma prática pedagó- gica consistente com a teoria escolhida e praticada nas escolas. As consequências pedagógicas da avaliação são, segundo Luckesi (2005, p. 25): A função verdadeira da avaliação da aprendi- zagem seria auxiliar a construção da aprendi- zagem satisfatória: porém, como ela está cen- tralizada nas provas e exames, secundarizadas o signiicado do ensino e da aprendizagem como atividades signiicativas a si mesmas e superes- tima os exames. Ou seja, pedagogicamente, a avaliação da aprendizagem, na medida em que se estiver polarizada pelos exames, não cumpri- rá a sua função de subsidiar a decisão da me- lhoria da aprendizagem. 182 DIDÁTICA Para que este tipo de situação não seja recorrente no processo de ensino e de aprendizagem, é preciso que os objetivos e a avaliação estejam intrinsecamente ligados, uma vez que o processo avaliativo consiste em determinar em que medidas os objetivos pre- vistos estão sendo alcançados (HAYDT, 2002). Os objetivos constituem o norte do processo de ensino e de aprendizagem; diante disso, podemos airmar que é imprescindível a deinição dos objetivos diante do processo de ensino e de aprendizagem, mas prin- cipalmente diante da avaliação. A avaliação, para ser considerada válida, deve ser realizada em função dos objetivos pre- vistos, pois, do contrário, o professor poderá obter muitos dados isolados, mas de pouco valor para determinar o que cada aluno real- mente aprendeu. É a partir da formulação dos objetivos, que vão nortear o processo de ensi- no-aprendizagem, que se deine o que e como julgar, ou seja, o que e como avaliar. É por isso que normalmente se diz que o processo de ava- liação começa com a deinição dos objetivos (HAYDT, 2002, p. 35). Os objetivos precedem a avaliação, pois os mesmos norteiam a caminhada do professor, tornando a ava- liação um processo natural, não um instrumento de medição, moeda de troca ou punição. Diante disso, entendemos que os objetivos de aprendizagem são essenciais, tendo em vista que são eles que indicarão o que o aluno deverá ser capaz de fazer como con- sequência da compreensão de um conteúdo e reali- zação das atividades de ixação. Ou seja, os objetivos deinirão as habilidades e competências que devem ser desenvolvidas pelos alunos. CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO O planejamento da avaliação na educação deverá ser guiado pelos aspectos que envolvem o processo de ensino e de aprendizagem dos alunos. O discente deverá ser avaliado com relação ao seu crescimento, sua busca pelo fortalecimento do conhecimento. Em qualquer nível ou modalidade de ensino, o processo de avaliação deverá ser bem planejado, uma vez que todas as possíveis situações com relação aos alunos, material didático, professores ou componentes am- bientais necessitam ser previstas e/ou antecipadas (SANTANA PINTO, 2009). A avaliação pode ser deinida como a aplica- ção sistemática de procedimentos metodoló- gicos para determinar, a partir dos objetivos propostos e com base em critérios internos e/ou externos, a relevância, a efetividade e o impacto de determinadas atividades com a inalidade de tomada de decisão (SANTANA PINTO, 2009, p. 4). Ao utilizarmos qualquer um dos instrumentos para avaliar os alunos, é preciso especiicar o objetivo da avaliação, utilizando sempre linguagem clara. Dessa forma, o aluno terá condições de responder exata- mente o que está sendo pedido, evitando, assim, ru- ídos na comunicação. Para que a avaliação possa ser contínua, media- dora e processual, ela deve ser elaborada levando em consideração os objetivos propostos na disciplina e no curso ofertado. Nesse sentido, o professor é quem avalia, mas os critérios devem estar claros para os alunos, conforme mostra o esquema abaixo: EDUCAÇÃO FÍSICA 183 Cada sistema de ensino estabelece os seuscritérios de avaliação de acordo com a legislação vigente, ou seja, de acordo com aquilo que se espera do aluno ao inal de um nível de ensino. No entanto, é possível airmar, que de forma geral, os critérios são estabe- lecidos de acordo com os seguintes itens: responsa- bilidade, cooperação, participação e autonomia. Eles envolvem processos menores como: A partir desses critérios, cada professor tem auto- nomia para estabelecer critérios mais especíicos de acordo com cada disciplina e a necessidade de sua classe. É preciso lembrar que os critérios de avalia- ção devem estar de acordo com a legislação vigente, o currículo da escola e o projeto político pedagógico. Figura 1: Critérios de avaliação Fonte: Elaborado pela autora (2018). 184 considerações inais Caro(a) aluno(a), nesta unidade discutimos o processo de avaliação es-colar. Se acreditamos em um processo pedagógico que tenha o aluno como parte integrante e ativa da construção de seu conhecimento e o professor como mediador do processo de ensino e de aprendizagem, não podemos ter uma avaliação com caráter tradicional. Assim, devemos adotar os três modelos de avaliação em nossas práticas, a im de que o processo avaliativo leve em consideração todas as etapas da educação escolar, desde o momento de preparação das aulas e levantamento do conheci- mento prévio dos alunos, passando pelo processo de ensino e de aprendizagem, com a exploração dos conteúdos e atividades, até o momento de inalização das mesmas, quando o aluno já terá compreendido e conseguirá aplicar o novo co- nhecimento na prática. É preciso destacar que a avaliação escolar avalia tanto o aluno quanto o pro- fessor. O aluno deve ser avaliado em todos os momentos e aspectos, dessa forma, entendemos a avaliação como um processo contínuo na prática pedagógica. O professor também é avaliado pelo emprego de recursos, procedimentos e mé- todos, e pela sensibilidade para ver que o caminho tomado não está levando os alunos a compreender os conteúdos propostos. Deve, portanto, tomar a decisão de romper com o curso e seguir por outro caminho. A prática docente é cheia de construção e reconstrução. Isso deve se reletir na avaliação, pois ela não deve ser empregada como parte inal do processo. É, pelo contrário, uma possibilidade de avaliação da prática para uma tomada de decisão, sempre levando em consideração o processo de ensino e aprendizagem, a função social da escola e o desenvolvimento das competências e habilidades de nossos alunos. Esperamos que você, caro(a) aluno(a), ao inal deste estudo, tenha compreendido a importância da Didática para a sua formação proissional e que possa usufruir desses conhecimentos em sua prática. 185 atividades de estudo 1. Segundo Ferreira (2010, p. 1) avaliação signiica avaliar, estimar a qualidade ou competência de alguém, valoração de bens por um avaliador. Diante disso, leia e analise as assertivas abaixo com relação ao conceito de avaliação. I - Para Luckesi (2005), a avaliação é um jul- gamento de valor sobre as ações, partindo de um critério estabelecido. II - Scriven (1978), concorda com a avaliação que compara e classiica os alunos de acordo com o seu desempenho. III - Para Perrenoud (1999), os alunos são avaliados e classiicados de acordo com a norma de excelência. IV - Stufebeam (1971), apresenta um tipo de avaliação que expressa lexibilização, pois possui como objetivo delinear, obter e for- necer informações. Está correto o que se airma em: a) I, II e III, apenas. b) I, III e IV apenas. c) I, II e IV, apenas. d) II, III e IV, apenas. e) l, ll, lll e lV. 2. Luckesi (2005), em sua obra intitulada Avaliação sobre a aprendizagem escolar, discute a avalia- ção sob vários olhares. Diante disso, leia e analise as airmativas abaixo com relação aos aspectos pedagógicos e psicológicos das avaliações esco- lares e seus objetivos: I) A avaliação no contexto escolar é vista como uma etapa do processo de ensino e de aprendizagem, nunca como apenas um processo de promoção. II) Os pais veem a avaliação como uma etapa a ser cumprida antes da progressão para a próxima série. III) Os professores veem a avaliação como ins- trumento de controle e ameaça. IV) O medo no processo avaliativo é tido como parte do controle social, utilizado pela igre- ja, pelo Estado e pela escola. Está correto o que se airma em: a) I, II e III, apenas. b) I, III e IV, apenas. c) I, II e IV, apenas d) II, III e IV, apenas. e) l, ll, lll e lV. 3. Segundo Haydt (2002), quando o assunto é ava- liar temos três funções, sendo elas: diagnosticar; controlar; e classiicar. Diante disso, leia as asser- tivas e considere V para as verdadeiras e F para as falsas com relação a avaliação diagnóstica, so- mativa e formativa. I - A avaliação diagnóstica possui como fun- ção fornecer os dados para aperfeiçoar o processo de ensino e de aprendizagem. II - A avaliação formativa possui como objetivo constatar se os objetivos que foram esta- belecidos foram alcançados pelos alunos. III - A avaliação somativa possui como função classiicar os resultados de aprendizagem alcançados pelos alunos, de acordo com níveis de aproveitamento estabelecidos. IV - As três avaliações juntas podem dinamizar o processo de avaliação escolar, que mui- tas vezes cai no uso errôneo. As airmações I, II, III e IV são, respectivamente: a) V, V, V, F. b) F, V, F, V. c) F, V, V, F. d) F, V, V, V. e) V, V, V, V. 186 atividades de estudo 4. Luckesi (2005) deine avaliação como o processo de avaliação qualitativa sobre os dados relevan- tes oriundos do processo de ensino e de apren- dizagem, que auxilia o professor na tomada de decisão sobre o seu trabalho realizado. O resul- tado dessa prática deve ser a análise dos dados, que permite ao professor decidir o que deverá ser feito em seguida: retomada dos conteúdos, reorientação do processo de ensino e de apren- dizagem ou continuação e inserção de novos conteúdos. A partir disso, leia e analise as airma- tivas que seguem: I - A avaliação é vista por muitos como for- ma de controle e retenção dos conteúdos. Avalia-se o que o aluno foi capaz de me- morizar e não o que de fato aprendeu e poderá aplicar nas situações práticas. II - Os resultados das avaliações devem ser encarados como resultados de uma situ- ação didática, na qual professor e alunos estão empenhados em atingir o objetivo do ensino, que é a aprendizagem. III - Muitas avaliações não possuem relação com o que foi ensinado em sala de aula, ou seja, o professor ensina de uma forma e na prova propõe questões que não se relacionam com a forma que os conteú- dos foram ensinados. IV - As avaliações são empregadas na prática escolar conforme a deinição de Luckesi (2005), ou seja, levando em consideração o processo de ensino e de aprendizagem e as situações didáticas vivenciadas. Está correto o que se airma em: a) I, II e III, apenas. b) I, III e IV, apenas. c) I, II e IV, apenas. d) II, III e IV, apenas e) l, ll, lll e lV. 5. Na última unidade do nosso livro da disciplina de Didática, discutimos sobre a avaliação escolar, e apesar da mesma ser um processo de aprecia- ção qualitativa sobre os dados relevantes do pro- cesso de ensino e de aprendizagem, Gil (2009) nos revela que nem sempre as escolas a enca- ram dessa forma. Neste sentido, disserte: a) Qual a função da avaliação diagnóstica? b) Levando em consideração que se trata de um processo de apreciação qualitativa so- bre os dados relevantes do processo de ensino e de aprendizagem, por que é tão importante avaliar os alunos? 189 referências ANTUNES, C. Avaliação da Aprendizagem Escolar. São Paulo: Cortez, 2003. BARLOW, M. Avaliação escolar: mitos e realidades.Porto Alegre: Artmed, 2006. FERREIRA, A. B. H. Mini Aurélio: o dicionário da língua portuguesa. 8 ed. Curitiba: Positivo, 2010. FERREIRA, L. M. S. Retratos da avaliação: conlitos, desvirtuamentos e caminhos para a superação. 3 ed. Porto Alegre: Mediação, 2009. HAYDT, R. C. Avaliação do processo de ensino- -aprendizagem. São Paulo: Ática, 2002. GASPARIN, J. L. Avaliação na perspectiva histó- rico-crítica. X Congresso Nacional de Educação – EDUCERE. Pontifícia Universidade Católica do Pa- raná, Curitiba, 2011, p. 1973-1984. LIBÂNEO, J. C. Didática. São Paulo: Cortez, 1994. LUCKESI, C. C. Avaliação da aprendizagem escolar. São Paulo: Cortez, 2005. PERRENOUD, P. Avaliação da excelência à regu- lação das aprendizagens: entre duas lógicas. Porto Alegre: Artmed, 1999. RABELO, E. H. Avaliação: novos tempos, novas prá- ticas. Petrópolis: Vozes, 2003. SANTANA PINTO, I. M. B. Avaliação da aprendiza- gem. Ceará: CIAED, 2009. SCRIVEN, M.; STUFFLEBEAM, D. Avaliação edu- cacional II: perspectivas, procedimentos e alternativas. Petrópo- lis: Vozes, 1978. TYLER, R. W. Princípios básicos de currículo e en- sino. Tradução de Leonel Vallandro. Porto Alegre: Globo, 1975. 190 gabarito 1. Alternativa correta é a B. 2. Alternativa correta é a D. 3. Alternativa correta é a D. 4. Alternativa correta é a A. 5. Sugestão de resposta: Outra função da avaliação destacada por nosso autor e a de identiicar progressos e diiculdades dos alunos e dos professores. Essa função é conhecida como diagnóstica e, segundo Libâneo: Na prática escolar cotidiana, a função diagnóstica da avaliação e a mais importante porque é a que possibilita a avaliação do cumpri- mento da função pedagógico-didática e a que dá novo sentido a fun- ção de controle (2008, p. 197):. A avaliação diagnóstica ocorre no início, durante e ao inal do desenvol- vimento das aulas e conteúdos. Como podemos perceber por meio das palavras do autor, a avaliação diagnóstica ocorre em todo o processo de ensino e em diversas etapas. Na etapa inicial, sua função e a de verii- car os conhecimentos e experiências já disponíveis. Esses dados serão utilizados pelo professor como pré-requisitos para a sequência ideal dos conteúdos. Durante o processo de ensino, os alunos são avaliados com o objetivo de acompanhar seus progressos, corrigir as falhas, esclarecer dúvidas e estimular a aprendizagem. Ao mesmo tempo, essa avaliação fornece preciosas informações a respeito de como o professor está con- duzindo seu trabalho. É possível veriicar se o ritmo do conteúdo está adequado ao ritmo de aprendizagem dos alunos, se os métodos e técni- cas utilizados estão de acordo com os objetivos elencados, se os materiais escolhidos estão de acordo com o nível de compreensão e linguagem dos alunos etc. E, inalmente, a avaliação realizada ao inal do conteúdo tem como objetivo especíico veriicar a aprendizagem da matéria ou conteú- do. Mediante as constantes avaliações, notamos que, aos poucos, temos maior controle das situações que envolvem o processo de ensino. Esse controle permite ao professor observar como os alunos estão se saindo na assimilação de novos conhecimentos e de novas habilidades. Nesse caso, a atribuição de notas não é necessária, pois a inalidade é a de for- necer informações relevantes para o professor. conclusão geral Caro(a) aluno(a), chegamos ao inal de mais uma disciplina! Esperamos que os conhecimentos aqui obtidos sejam signiicativos para sua práxis docen- te, tornando seu processo de ensino mais facilitador, resultando na aprendizagem de qualidade a que to- dos têm direito, bem como no desenvolvimento ple- no de seu aluno, seja em ambientes formais ou não formais de aprendizagem. Lembramos que, em todo processo de ensino, há um professor e um aluno. Ao indar as discussões sobre a Didática, espe- ramos que você tenha compreendido a importância dessa ciência para sua formação. Tivemos como ob- jetivo, neste estudo, reletir sobre o processo de en- sino e de aprendizagem historicamente construídos, a im de que você compreenda como as formas de ensino estão presentes na sociedade atual. Cada pe- ríodo histórico exige da sociedade um Homem que supra as necessidades de seu contexto (econômico, político, entre outros aspectos). A educação, nesse ínterim, ajuda na formação desse sujeito. Esperamos que você, caro(a) aluno(a), possa ver a escola como instituição que possui uma função social. Mais que ensinar as ciências de forma verti- cal, deve levar o sujeito à emancipação humana, o que somente acontece quando o próprio aprendiz vê signiicado nos conteúdos, de forma que se aproprie dos mesmos, transforme-os em novos conhecimen- tos e os utilize para sua atuação na sociedade. Para tanto, devemos ter domínio dos processos de ensino, das estratégias e a clareza dos objetivos que temos com a educação em diferentes âmbitos. Acreditamos que a formação Didática é essencial para professores, pois ela nos dá as bases pedagógi- cas necessárias para compreendermos as metodo- logias e sabermos aplicá-las, tornando nossas aulas dinâmicas, facilitadoras, eicientes e eicazes. Isto, caro(a) aluno(a), é o que nossa sociedade precisa: professores bem formados, alunos que dominem o saber e que ajudem a construir uma sociedade mais funcional para todos. 192 Glossário COMPETÊNCIA Capacidade teórica e/ou prática para fazer algo a partir de um conjunto de habilidades. Exemplo: competência para compreender o contexto social, partindo da habili- dade de análise. CONTEÚDO Unidade temática a ser trabalhada e que compõe uma disciplina. Exemplos: gramática, trigonometria, arte barro- ca, dança e movimento, antiguidade, relevo, entre outras. CURRÍCULO Consiste no documento que expressa os conteúdos a serem ensinados. Dentro do currículo os conteúdos são organizados por etapas do ensino, disciplinas e grau de aprofundamento. DIDÁTICA Estudo dos processos de ensino e seus componentes. DIRETRIZES Orientações que deinem e regulamentam as ações que devem ser tomadas. DISCIPLINA O conjunto de conteúdos de determinada área cientíica. Exemplos: português, matemática, história, geograia, educação física, artes etc. HABILIDADE Recurso cognitivo que auxilia no desenvolvimento de determinadas atividades. Exemplos: atenção, memória, criatividade, entre outras. MÉTODO Conjunto de procedimentos. No caso dos procedimentos escolares podem se referir ao ensino ou estudo. Exemplos: método de ensino - exposição visual do conteúdo. Método de aprendizagem - leitura e reprodução escrita do conteúdo. METODOLOGIA Estudo da aplicação dos métodos, ou seja, se são pos- síveis, se há aplicabilidade dos métodos. A metodolo- gia é o caminho teórico pelo qual o método se efetiva na prática. Exemplo: metodologia histórico-cultural, na qual o indivíduo aprende por meio da interação com os objetos e com o meio. PLANEJAMENTO Processo relexivo de organização de uma ação, o que implica na construção do caminho que será percorrido. Isso implica na elaboração de um plano e de um projeto. PLANO Se o planejamento é a tomada de decisão da ação, o pla- no é o processo de efetivação dessa ação. É um registro escrito, um documento ou outros elementos que ajudam a sistematizar a ação. PLANO ANUAL Documento que expressa a forma de organização da escola quanto aos programas e as atividades que serão desenvolvidas ao longo do ano em âmbito institucional por todos os seus agentes. PLANO DE AULA Documento que estabelece as atividades que serão re- alizadas em uma aula ou em um conjunto de aulas, a im de que o professor trabalhe os conteúdos em tempo hábil, por meiode recursos que promovam a facilitação do ensino e da aprendizagem de qualidade. Esse plano é especíico para cada professor. PRÁXIS União indissociável entre teoria e prática. PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO Documento que expressa a proposta pedagógica da escola. Ele é construído de forma democrática, ou seja, com a participação da equipe pedagógica, da comunida- de escolar, dos pais e dos alunos, quando possível. Nes- se documento as responsabilidades são assumidas para que o objetivo social da escola seja alcançado. Forma-se a identidade da instituição. TENDÊNCIA PEDAGÓGICA Teoria que propõe caminhos que podem ser seguidos pela escola com inalidades aos processos de ensino e de aprendizagem.