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LOGISTICA INTERNACIONAL- AULA 1

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LOGÍSTICA INTERNACIONAL 
AULA 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
João Alfredo Lopes Nyegray 
 
 
CONVERSA INICIAL 
Vamos pensar por um instante: quantos países existem atualmente? Há 
aproximadamente 196 países, mais alguns territórios, como o Vaticano e a 
Palestina. Arredondemos para 200. Agora, imagine quantas línguas diferentes 
são faladas em cada um desses países. Alguns deles podem ter a mesma língua, 
como Brasil, Portugal e Angola ou Estados Unidos, Austrália, Canadá e 
Inglaterra. Outros, por outro lado, têm vários idiomas e dialetos oficiais, como a 
África do Sul. Cada um desses países, com um ou vários idiomas e dialetos, 
pode ser berço de diversas culturas diferentes. Cada uma dessas culturas tem 
seus hábitos, costumes e padrões do que é ou não é “normal”, de acordo com 
sua própria lógica. 
Nesses diversos países, berços de diversas culturas, encontram-se as 
maiores empresas de cada nação. Algumas expandiram-se para o exterior, 
outras apenas dominam os mercados nacionais. Essas empresas obedecem às 
regras e leis de seus países, com as quais estão bem familiarizadas. Quando 
buscam se internacionalizar, por outro lado, precisam se adaptar às culturas, aos 
idiomas, às leis e aos regulamentos dos países hospedeiros. Permeando todo 
esse cenário complexo, existem organizações e leis internacionais que buscam 
normatizar o sistema internacional. Você percebe como o mundo onde vivemos 
é complexo? 
Figura 1 – O mundo e suas diversas peças formam um grande quebra-
cabeça 
 
Fonte: <https://goo.gl/4X2yTa/>. 
 
 
3 
CONTEXTUALIZANDO 
Quando estourou a crise da bolsa de valores de Nova York em 1929, 
estima-se que essa notícia levou pelo menos uma semana para chegar aos 
negociadores paulistas de café, em São Paulo. Naquele tempo, nas primeiras 
décadas do século XX, a informação não viajava como viaja hoje, de maneira 
instantânea. Levava-se tempo para saber o que havia ocorrido em outros 
lugares, e ainda mais tempo para medir o impacto de tais acontecimentos nos 
negócios. 
Atualmente, ficamos sabendo imediatamente da ocorrência dos fatos. As 
tecnologias da informação, que evoluíram rapidamente no decorrer do século 
XX, aproximaram os países e, de certa forma, removeram as fronteiras da 
distância. O impacto disso no mundo dos negócios é imenso. As empresas 
deixam de concorrer apenas com seus rivais locais e passam a concorrer com 
qualquer outra empresa do planeta que produza os mesmos bens. Se a 
concorrência aumenta, aumentam também as possibilidades de escolha dos 
consumidores, que já não compram mais como antigamente. Isso pode ser tanto 
uma oportunidade para empresas e profissionais bem preparados quanto uma 
ameaça para aqueles que não têm conhecimentos na área. 
 
Figura 2 – Queda do Muro de Berlim, em 1989, e invasão do Afeganistão, 
em 2001: eventos de impacto internacional transmitidos ao vivo para todo 
o mundo 
 
Fontes: <https://goo.gl/MB08bu> e <https://goo.gl/dvLZZG. Acesso em 01/10/16>. 
 
Atualmente, o comércio virtual está plenamente difundido, e nós 
compramos tanto de sites estrangeiros quanto de sites nacionais. Além disso, os 
mesmos produtos que grandes empresas oferecem aqui são oferecidos no 
exterior. Nike, Ford, Fiat, Toyota, Tommy Hilfiger, Levi’s, Ralph Lauren, Calvin 
 
 
4 
Klein, Absolut Vodka, Apple, Samsung, Microsoft, entre outras empresas de 
outros segmentos, estão amplamente difundidas pelo mundo. 
Como você pode perceber, é fácil lembrarmos dessas grandes marcas, 
plenamente globalizadas e internacionalizadas. O que nem sempre pensamos 
ou lembramos é do percurso que esses produtos traçam de suas origens nos 
centros produtivos até nós. É justamente disso que a logística internacional se 
encarrega. 
 
Pesquisa 
Como você definiria o papel da logística em um mundo interconectado? 
Países sem acesso ao mar, como Paraguai e Hungria, têm logística mais 
complicada? 
 
 
TEMA 1 – GLOBALIZAÇÃO E A NOVA FORMA DE SE FAZER NEGÓCIOS 
Globalização é um daqueles termos muito comentados, mas pouco 
entendidos. Existem aqueles que acreditam que a globalização é algo novo, 
recente, ligado ao avanço da internet. E não é. A globalização é um fenômeno 
antigo: o próprio Alexandre, O Grande, rei da Macedônia, buscou expandir ao 
mundo conhecido de então aspectos diversos da vida e da cultura helênica da 
época. Depois, os romanos antigos buscaram levar suas leis e cultura para fora 
de sua cidade e expandiram as fronteiras do Império Romano pela Europa. 
Assim, não é de hoje que a globalização existe, e é justamente por isso 
que é tão difícil traçar sua história. O que podemos perceber com clareza é que 
a globalização, como a conhecemos hoje, com inegável impacto nos negócios, 
tem seu início com as Grandes Navegações nos séculos XV e XVI, que alteraram 
a balança comercial da época. Anos depois, é com a primeira Revolução 
Industrial e com o motor a vapor que se aprimoram os transportes, 
especialmente o marítimo e o ferroviário. 
A partir desse momento, uma série de tecnologias foram aprimorando não 
só os transportes, mas também os processos de produção e de manufatura. A 
partir do momento que as revoluções industriais alteraram os paradigmas 
produtivos – que passaram de um modo de produção artesanal para um modo 
de produção em escala industrial – passou a haver maior oferta de uma série de 
produtos. Com isso, além de uma redução geral de preços motivada pela maior 
 
 
5 
oferta de produtos, começou a haver um excedente de mercadorias exportável. 
É por volta do início do século XX que a eletricidade e o aço passam a se difundir, 
colaborando ainda mais para a globalização. 
Concomitantemente, a humanidade passou a desenvolver novas 
tecnologias, como o telefone, o avião e o telégrafo, entre outros facilitadores da 
vida. Após 1945, surgiram organizações internacionais interessadas em regular 
o ambiente internacional, seja para assuntos de paz e guerra, seja para assuntos 
financeiros e de comércio. Por fim, a partir da década de 1980, houve a revolução 
das telecomunicações, e as tecnologias bancárias tornaram-se mais modernas. 
 
Figura 3 – Expansão da globalização 
 
Fonte: <https://goo.gl/tkE5aS>. 
Todos esses fatores e aspectos contribuíram para a integração do mundo 
por meio do processo de globalização. Os impactos disso são vários: o 
transporte mais eficiente de navios, a construção de aviões maiores e mais 
rápidos, as comunicações, as transferências financeiras, os acordos 
internacionais, entre outros aspectos, acabaram por industrializar, integrar e 
desenvolver o mundo cada vez mais. Por causa disso, as economias tornaram-
se mais integradas e os estilos de vida em muitos lugares – principalmente no 
ocidente – convergiram para gostos e preferências semelhantes. Tudo isso 
colaborou para que muitas empresas se tornassem globais: basta que vejamos 
um símbolo, um logotipo, em qualquer lugar do mundo para sabermos a qual 
empresa e a qual produto tal marca se refere. 
É por causa desses fatores que podemos afirmar que 
A globalização dos mercados abriu inúmeras oportunidades de 
negócios às empresas que se internacionalizaram. Ao mesmo tempo, 
ela implica a adaptação das empresas a novos riscos e uma acirrada 
concorrência de competidores estrangeiros. A globalização resulta em 
compradores mais exigentes, que buscam as melhores ofertas de 
fornecedores mundiais. [...] Os gestores das empresariais devem, cada 
 
 
6 
vez mais, adotar uma orientação global em vez de um foco local. 
(Cavusgil; Knight; Riesenberger, 2010) 
 Você está preparado para adotar uma orientação globalem seu trabalho? 
Vídeo 
O vídeo “Globalization”, produzido pelo Massachusetts Institute of Business 
(MIB Business School) em parceria com a Assessoria em Comércio Exterior 
do Brasil (Abracomex), aborda a globalização e busca explicar como esta 
afeta os negócios internacionais das empresas brasileiras e como aproveitar 
as oportunidades. Acesse: 
<https://www.youtube.com/watch?v=qj438T5KQQo&index=16&list=FL24Jhgz
uuILwBCZ_78Ij0Yw>. 
 
Saiba mais 
Para saber mais sobre a globalização, leia o artigo “O que é globalização?”. 
Disponível em: <http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/geografia/o-que-
globalizacao.htm>. 
 
Leitura obrigatória 
CAVUSGIL, T.; KNIGHT, G.; RIESENBERGER, J. Negócios Internacionais. 
São Paulo: Pearson, 2010. p. 22-46. Disponível em: 
<http://uninter.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788576053798/pa
ges/_1>. 
 
TEMA 2 – ESTADOS COMO ATORES INTERNACIONAIS 
Anteriormente vimos como algumas grandes empresas estão presentes 
no mundo. Vimos também que a globalização agiu como padronizadora de 
estilos de vida em muitos lugares – principalmente no ocidente –, o que gerou 
uma convergência para gostos e preferências semelhantes. Mas e os países, os 
Estados, como ficam nesse cenário? Como entes passivos? 
Não. Os Estados continuam participando ativamente. A diferença é que, 
antigamente, os países eram os grandes atores das relações internacionais, os 
principais, mais importantes e mais ativos participantes. Atualmente, as 
empresas, os indivíduos e as organizações internacionais também ganharam 
voz. Essa alteração ocorre, principalmente, após a Segunda Guerra Mundial, e 
 
 
7 
é a partir daí que se consolidam as organizações internacionais, como a 
Organização das Nações Unidas (ONU). Ademais, a Declaração Universal dos 
Direitos Humanos de 1948 deu ao indivíduo proteção internacional e direitos 
fundamentais, independentemente de onde essa pessoa tenha nascido. 
Assim, a progressiva integração mundial fez com que outros entes 
internacionais ganhassem importância. Isso não significa, no entanto, que os 
Estados hoje sejam apenas entes passivos, pelo contrário. Em uma tentativa de 
gerar segurança e ordem internacional, cabe aos Estados participar em fóruns e 
reuniões internacionais, redigir e aprovar acordos e normas, firmar tratados e 
estabelecer alianças. 
É preciso lembrar que, no caso brasileiro, qualquer acordo internacional 
ao qual o país tenha se comprometido deve ser submetido à aprovação do 
Congresso Nacional, para que passe a fazer parte de nosso ordenamento 
jurídico. Esse ponto é mais uma mostra do papel que o Estado desempenha nas 
relações internacionais da atualidade. Existem, obviamente, outros fatores que 
merecem atenção. 
Ao buscar a internacionalização, as empresas devem seguir as leis dos 
países hospedeiros. Nesse caso, podem haver leis e normas no país de destino 
que não existam no país de origem. Além das empresas, os profissionais de 
logística internacional devem estar atentos às condições legais impostas pelos 
Estados às empresas estrangeiras. 
Muitas nações impõem restrições à entrada de investimento direto 
estrangeiro (IDE). Por exemplo, no Japão, o daitenhoo (lei das lojas de 
varejo de grande escala) coibiu estrangeiros de abrir lojas no estilo 
atacadista como Walmart [...], restringindo as operações de gigantes 
varejistas [...]. Na Malásia, as empresas que desejam investir em 
negócios locais devem obter a permissão do Malaysian Industrial 
Development Authority, que examina as propostas para garantir que se 
adequem às metas da política nacional. Os Estados Unidos restringem 
investimentos estrangeiros que julgam afetar a segurança nacional; os 
de grande porte devem ser examinados pelo U.S. Committee on 
Investments. (Cavusgil; Knight; Riesenberger, 2010) 
Percebemos, assim, como os Estados desempenham papel importante 
não só no sistema internacional, mas também na normatização de uma série de 
atividades. É de extrema importância que, para o sucesso dos empreendimentos 
internacionais e dos profissionais que atuam internacionalmente, haja atenção 
detalhada às mais variadas regulamentações. Entretanto, não precisamos 
conhecer as leis de todos os países, basta que saibamos as leis que podem 
afetar nosso projeto no país que pretendemos abordar. Além das leis sobre 
 
 
8 
investimento estrangeiro direto, existem outras sobre marketing, distribuição, 
repatriação de lucro, meio ambiente e contratos. 
 
Figura 4 – Mapa do risco político em 2015 
 
Fonte: <https://goo.gl/AQL0rs>. 
Existem uma série de riscos que os Estados podem apresentar aos 
empreendimentos internacionais, inclusive logísticos. O risco-país, por exemplo, 
tenta alertar a respeito dos perigos de se fazer negócio em determinados locais. 
Algumas nações, por exemplo, são conhecidas por confiscar propriedades 
privadas, sobretaxar empresários e não respeitar contratos ou propriedade 
intelectual. Nesses locais, raramente serão feitos grandes negócios. Assim, vale 
à pena atentar para o mapa de risco político visto anteriormente: quanto mais 
clara a cor do país, menor o risco; quanto mais vermelha, maior. 
 
Leitura obrigatória 
CAVUSGIL, T.; KNIGHT, G.; RIESENBERGER, J. Negócios internacionais. 
São Paulo: Pearson, 2010. p. 9-12. Disponível em: 
<http://uninter.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788576053798/pa
ges/_1>. 
 
 
 
 
 
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TEMA 3 – ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS 
No decorrer do século XIX, os Estados europeus digladiaram-se para 
dividir a África e aumentar suas colônias e o poder de seus impérios. Uma 
complicada política de alianças, somada aos conflitos do imperialismo, acabou 
levando à Primeira Guerra Mundial. No decorrer desse primeiro conflito, 
enquanto os estados europeus estavam envoltos nas hostilidades, os Estados 
Unidos tornaram-se o grande produtor e fornecedor mundial de bens. Com o fim 
da guerra em 1918, os estadunidenses mantiveram seu elevado ritmo de 
produção, o que gerou a crise da superprodução de 1929. Após a deflagração 
da crise, os países afetados adotaram políticas protecionistas, discursos 
nacionalistas e de ódio. Os ânimos se acirraram e, em 1939, os alemães 
invadiram a Polônia, o que deu início à Segunda Guerra Mundial. 
 
Figura 5 – Desempregados fazem fila para uma xícara gratuita de café em 
Nova York 
 
Fonte: <https://goo.gl/J8zdIU>. 
 
Por mais difícil que seja conjecturar o que não foi, mas poderia ter sido, 
vamos imaginar por um minuto: e se, na época das duas grandes guerras, 
houvessem organizações internacionais capazes de utilizar o diálogo como fonte 
de resolução de controvérsias? Talvez, se na época dos conflitos mundiais 
houvessem organizações internacionais mais fortes, os acontecimentos do 
século XX fossem diferentes. É verdade que naquele período havia a Sociedade 
das Nações (SDN), fundada em 1919. Entretanto, esta não contava com a 
participação dos Estados Unidos e de vários outros países 
Atualmente, no entanto, existem várias dessas organizações, 
caracterizadas por terem personalidade jurídica própria, “constituídas através de 
um Tratado, com a finalidade de buscar interesses comuns através de uma 
permanente cooperação entre seus membros” (Seitenfus, 2005). 
 
 
10 
A partir do final da Segunda Guerra Mundial, em 1945, e com a fundação 
da ONU, esse tipo de iniciativa internacional “popularizou-se”, e foram criadas 
organizações internacionais especializadas – como a Agência Internacional Da 
Energia Atômica (IAEA) – e também regionais – como a Organização dos 
Estados Americanos (OEA). Na década de 1940, além da ONU, surgiram o 
Fundo MonetárioInternacional (FMI), encarregado de prestar socorro financeiro 
aos países em crise e monitorar o sistema financeiro e monetário, e o Banco 
Mundial, encarregado de fornecer os meios para a reconstrução da Europa. 
 
Figura 6 – Assinatura da Carta de São Francisco, acordo fundador da 
ONU, em 1945 
 
Fonte: <nacoesunidas.org> 
 
Atualmente, essas organizações servem não só como fórum de diálogo 
para temas mundialmente relevantes, como meio ambiente, terrorismo, recursos 
hídricos, alimentação e mudanças climáticas, mas também como organismos 
fomentadores de pesquisas e entendimento de áreas relevantes e complexas, 
que necessitam de pareceres e estudos de especialistas. A cooperação 
internacional encontra nas organizações internacionais uma forte aliada na 
busca por normas comuns, pesquisas conjuntas e prestação de serviços 
sincronizados. 
 
Vídeo 
Para saber mais sobre o papel da ONU, assista ao vídeo “O papel da ONU 
na segurança mundial”, produzido pela TV Justiça. Acesse em: 
<https://www.youtube.com/watch?v=VM-d-2q4SrQ>. 
 
 
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Leitura obrigatória 
FONTANA, V.; KRAINER, J. Organizações internacionais – e as políticas 
públicas brasileiras de educação e trânsito. Intersaberes: Curitiba, 2016. p. 
30-66. Disponível em: 
<http://uninter.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788544303573/pa
ges/-2>. 
 
 
TEMA 4 – EMPRESAS MULTINACIONAIS 
No decorrer desta aula, você se deparou com nomes e exemplos de 
grandes empresas. Internacionalmente, existem vários tipos de companhias que 
atuam em diversas áreas, como logística, navegação, finanças, entre outras. Um 
tipo específico de empresa com forte atuação internacional são as empresas 
multinacionais, organizações que se caracterizam pelo tamanho, pela 
capacidade financeira, pelos recursos e por terem uma matriz em um 
determinado país e filiais espalhadas pelo mundo. 
A revista Fortune classifica ano a ano as maiores empresas do mundo. 
Em edição de 2016, constam no topo Wallmart, Royal Dutch Shell, Exxon, British 
Petroleum, Volkswagen, Toyota, entre outras empresas e marcas bem 
conhecidas. Muitas vezes, essas grandes companhias têm faturamento anual 
maior que o produto interno bruto (PIB) de diversas nações, o que dá a elas 
grande poder de barganha. Por essa razão, é possível afirmar que a “atividade 
da Empresa Multinacional moderna é essencialmente diferente da de sequer 
trinta anos atrás. A globalização impulsionou os processos de 
internacionalização e, hoje, estas corporações cada vez mais se parecem com 
Estados independentes” (Sarfati, 2007) 
 
Figura 7 – Lista de grandes multinacionais mostra, em azul escuro, os 
bens e recursos no exterior, e, em azul claro, os bens nos países de 
origem 
 
 
 
12 
 
 
Fonte: <https://goo.gl/ewRXft>. 
Essa semelhança das empresas multinacionais com os países deve-se 
ao seu porte, ao número de pessoas que empregam e aos recursos que 
movimentam. Multinacionais como “Exxon, Honda e Coca Cola obtêm uma 
parcela significativa de suas vendas e lucros totais, geralmente mais da metade, 
de operações transnacionais” (CAVUSGIL; KNIGHT; RIESENBERGER, 2010). 
Além disso, outras grandes empresas acabam por desempenhar atividades 
diferentes em países diferentes: pesquisa e desenvolvimento no Japão e nos 
Estados Unidos, suprimentos vindos da China e Índia, manufatura no leste 
europeu ou México, e assim por diante. Isso é o que se chama de 
internacionalização da cadeia produtiva ou da cadeia de valor, na qual a logística 
internacional tem grande importância. 
Muitas nações subdesenvolvidas acabam, por pressão das grandes 
empresas, alterando leis nacionais para permitir a exploração de mão de obra, a 
 
 
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remissão de lucros ao exterior ou a flexibilização de normas ambientais. Ainda 
com esses aspectos negativos, é igualmente frequente que empresas sejam 
responsabilizadas em seu país de origem por malfeitos no estrangeiro. 
Assim como a globalização não é um processo recente, a 
multinacionalização de empresas também não é: 
O processo de internacionalização (na verdade, multinacionalização 
das empresas) passou a tomar um grande impulso a partir da 
aceleração do processo de globalização [...]. Segundo o World 
Investment Report 2002 produzido pela UNCTAD, o crescimento das 
EMNs é bastante significativo: em 1992 havia cerca de 35.000 EMNs 
com 150.000 empresas afihiadas. Já em 2001, havia 65.000 EMNs 
com 850.000 empresas afihiadas, empregando 54 milhões de pessoas 
(contra 24 milhões em 1990). (Sarfati, 2007) 
 Atualmente, com a difusão e a melhoria das tecnologias da informação, 
as empresas estão se internacionalizando de maneira mais rápida e ágil. Um 
exemplo são as born globals – empresas nascidas globais. Tratam-se de 
empresas jovens que, em um curto espaço de tempo, conseguem obter uma boa 
porcentagem de suas vendas do exterior – 25% ou 30% –, de dois ou três 
continentes diferentes. Essas empresas são normalmente criadas por 
profissionais de espírito empreendedor, com alguma experiência internacional. 
Tem sido frequente o surgimento de empresas nascidas globais no segmento de 
tecnologia, que criam ou difundem algum tipo de inovação. 
Vídeo 
Para saber mais sobre mentalidade global, assista ao vídeo “Mentalidade 
global: um desafio para as multinacionais brasileiras”. Acesse em: 
<https://www.youtube.com/watch?v=s0u6YuFEq1w>. 
 
Leitura obrigatória 
CAVUSGIL, T.; KNIGHT, G.; RIESENBERGER, J. Negócios internacionais. 
São Paulo, Pearson, 2010. p.11-15. Disponível em: 
<http://uninter.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788576053798/pa
ges/_1>. 
 
TEMA 5 – CULTURA E GESTÃO INTERCULTURAL 
Em negócios e logística internacionais, é comum que o profissional 
ingresse em diferentes ambientes e países, caracterizados por diferentes 
 
 
14 
culturas e hábitos. Consequentemente, cada um desses ambientes traz diversos 
padrões de comportamento e, com estes, vêm os hábitos do consumidor, as leis 
e diretrizes, além de uma série de outras dimensões que devem chamar atenção 
dos profissionais que atuam internacionalmente. 
O próprio termo cultura apresenta uma acepção ampla: frequentemente 
se diz que esta ou aquela pessoa é uma pessoa “culta”, referindo-se aos 
conhecimentos e comportamentos do indivíduo. No entanto, para os 
empreendimentos internacionais, cultura “refere-se aos padrões de orientação 
aprendidos, compartilhados e duradouros em uma sociedade. As pessoas 
demonstram sua cultura por meio de valores, ideias, atitudes, comportamentos 
e símbolos” (Cavusgil; Knight; Riesenberger, 2010). 
 
Figura 8 – Cada cultura tem seus símbolos e hábitos 
 
Fonte: <https://goo.gl/IwaKq1>. 
Por isso, um gesto que para você pode parecer comum, quando feito em 
um ambiente que não seja o seu, pode ser um grande insulto. A figa, por 
exemplo, que para alguns significa sorte, na Itália representa uma ofensa. 
Quando levamos essa lógica ao mundo dos negócios, precisamos tomar muito 
cuidado na hora de prospectar um produto ou elaborar um projeto. 
A cultura influencia uma gama de intercâmbios interpessoais bem 
como operações de cadeia de valor como desenvolvimento de produto 
e serviço, marketing e vendas. Os administradores devem criar 
produtos e embalagens levando em conta os aspectos culturais, 
inclusive em relação a cores. Se por um lado o vermelho pode ser 
bonito para os russos, por outro é símbolo de luto na África do Sul. 
(Cavusgil; Knight; Riesenberger, 2010) 
 
Já imaginou se lançamos um produto embalado em vermelho na África do 
Sul? A chance de sucesso diminui quando a cultura é desconsiderada e, 
consequentemente,aumenta quando a empresa preocupa-se com o fator 
 
 
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cultural. Essas questões chegam a manifestar o risco da gestão intercultural, 
que, quando ignorado, pode trazer sérias consequências aos envolvidos. 
Para entender os aspectos culturais, pense, por um instante, nas 
questões gastronômicas: aquilo que para nós é comum, como comer carne de 
porco, para os israelenses é pecaminoso. Enquanto os chineses utilizam insetos 
e ovos fecundados em sua gastronomia, essa ideia pode não nos apetecer tanto. 
Da mesma forma que você não precisa se tornar amplamente versado 
nas questões legais dos mais diferentes países do mundo, você não precisa se 
tornar um grande antropólogo e conhecedor de todas as culturas existentes. 
Basta que, ao viajar ou negociar com um outro país, você se inteire dos hábitos, 
gostos e do que pode ser considerado ou não uma ofensa. 
É importante frisar que uma cultura não é algo herdado geneticamente, 
mas sim um comportamento aprendido, ou seja, se você for morar em outro país, 
poderá aprender a comportar-se como sua população nativa. Todo profissional 
que atue internacionalmente deve também saber que nenhuma cultura é melhor 
ou pior que a outra, mesmo porque esse tipo de comparação e afirmação não 
faz sentido. Chama-se de etnocêntrico aquele que considera sua cultura melhor 
que as demais. 
 
Leitura obrigatória 
CAVUSGIL, T.; KNIGHT, G.; RIESENBERGER, J. Negócios internacionais. 
São Paulo, Pearson, 2010. p. 97-121. Disponível em 
<http://uninter.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788576053798/pa
ges/_1.> 
 
TROCANDO IDEIAS 
No link a seguir, você encontra disponível o livro Choque de civilizações 
e a recomposição da ordem social, de Samuel Huntington, que apresenta uma 
visão do cenário internacional com base no ponto de vista das culturas. Para o 
autor, os próximos conflitos internacionais serão não entre países, mas entre 
grupos com culturas diferentes. Veja: 
<https://cesarmangolin.files.wordpress.com/2010/02/samuel_huntington_-
_o_choque_de_civilizacoes1.pdf>. 
Você concorda com essa posição? 
 
 
 
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NA PRÁTICA 
Levy defende aumento da presença do Brasil no cenário internacional 
Ministro também afirma que parte do governo tem disposição de apoiar os empresários que 
estão querendo conquistar o mercado internacional. 
 
Brasília – O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, defendeu, por meio de nota à imprensa, a 
ampliação da presença do Brasil no cenário internacional. "O Brasil é uma economia que tem 
muitas vantagens; deve ser uma companhia que tem que competir pra ganhar", afirmou Levy. 
Segundo o ministro, a aprovação [...] do Senado Federal do Acordo Constitutivo do Novo 
Banco de Desenvolvimento (NBD), o banco dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África 
do Sul), e do Acordo Contingente de Reservas (CRA), além do fato de o Brasil ter se tornado 
integrante do Banco de Investimento Asiático, refletem a vontade do governo brasileiro e da 
presidente Dilma Rousseff de estar presente no cenário internacional. A nota também afirma 
que parte do governo tem disposição de apoiar os empresários que estão querendo conquistar 
o mercado internacional. 
Rússia e Índia também já aprovaram processos internos de ratificação para criação do banco. 
China e África do Sul indicaram que estão processando e que devem concluir em breve. 
Assim, o NBD poderá entrar em vigor para a efetiva criação do Novo Banco de 
Desenvolvimento. 
De acordo com a nota divulgada pelo Ministério da Fazenda, o Banco deverá contribuir de 
forma concreta e agrupar os desafios relacionados ao desenvolvimento internacional. "A nova 
instituição representará fonte alternativa de investimentos, aumentando a oferta de recursos 
para os entes públicos e privados do Brasil", afirmou o comunicado. O NBD deverá mobilizar 
recursos para projetos de infraestrutura e de desenvolvimento sustentável nos países 
membros do bloco e em outras economias emergentes ou em desenvolvimento e contemplar 
as ações dos bancos multilaterais. 
[...] 
Fonte: Adaptado de Diário do Nordeste, 2015. 
 
 
Analisando a notícia anterior, qual ou quais devem ser as preocupações 
do empresário que gostaria de atuar internacionalmente? Nesse sentido, qual 
seria o papel do profissional de logística? 
A princípio, uma das preocupações dos empresários que visam atuar 
internacionalmente deve ser a maior concorrência. Para vender em um país que 
não é o de origem, deve-se atentar a quem são os concorrentes e entender como 
enfrentá-los, uma vez que se uma empresa brasileira busca negócios em outros 
países, nada impede empresas de outros países de fazerem o mesmo. A 
segunda preocupação é em relação ao Estado: deve-se entender e compreender 
como as normas do país de destino podem afetar os negócios. Por fim, deve-se 
 
 
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ter em mente que, dependendo de qual seja o país escolhido para as primeiras 
vendas internacionais, pode haver a necessidade de adaptação do produto ou 
serviço por conta de questões culturais. Por todas essas preocupações, o papel 
do profissional de logística deve ser posicionar a empresa e a organização nas 
quais trabalha no sentido de melhor compreender os desafios e as oportunidades 
da atuação internacional: entregar produtos de maneira eficiente, com menor 
custo e em menos tempo, para qualquer empresa ou qualquer pessoa em 
qualquer lugar do mundo. 
 
FINALIZANDO 
As tecnologias da informação, que evoluíram rapidamente no decorrer do 
século XX, aproximaram os países e, de certa forma, removeram as fronteiras 
da distância. As empresas deixam de concorrer apenas com seus rivais locais e 
passam a concorrer com qualquer outra empresa do planeta que produza os 
mesmos bens. Se a concorrência aumenta, aumentam também as 
possibilidades de escolhas dos consumidores, que já não compram mais como 
antigamente. Isso pode ser tanto uma oportunidade para as empresas e 
profissionais bem preparados quanto uma ameaça para aqueles que não tem 
conhecimentos na área. 
A globalização padronizou estilos de vida em muitos lugares – 
principalmente no ocidente –, o que gerou uma convergência para gostos e 
preferências semelhantes. Nesse cenário, os Estados continuam participando 
ativamente, com a diferença de que, antigamente, os países eram os grandes 
atores das relações internacionais, os principais, mais importantes e mais ativos 
participantes. Atualmente, as empresas, os indivíduos e as organizações 
internacionais também ganharam voz. 
Ao buscar a internacionalização, as empresas devem seguir as leis dos 
países hospedeiros. Nesse caso, podem haver leis e normas no país de destino 
que não existem no país de origem. Além das empresas, os profissionais de 
logística devem estar atentos também às condições legais impostas pelos 
Estados às empresas estrangeiras. Além de leis sobre investimento estrangeiro 
direto, existem outras sobre marketing, distribuição, repatriação de lucro, meio 
ambiente e contratos. Por fim, existem uma série de riscos que os Estados 
podem apresentar aos empreendimentos internacionais. O risco-país, por 
 
 
18 
exemplo, tenta alertar a respeito dos perigos de se fazer negócio em 
determinados locais. 
A partir do final da Segunda Guerra Mundial em 1945, e com a fundação 
da ONU, surgiu outro tipo de participante ator das relações internacionais: as 
organizações internacionais. A partir de então, esse tipo de iniciativa 
internacional “popularizou-se”, e foram criadas organizações internacionais 
especializadas – como a IAEA – e também regionais – como a OEA –, que 
participam ativamente do cenário internacional de negócios. 
Além das organizações internacionais, há outrotipo específico de 
empresa com forte atuação internacional: as empresas multinacionais. Essas 
organizações caracterizam-se pelo tamanho, pela capacidade financeira, pelos 
recursos e por terem uma matriz em um determinado país e filiais espalhadas 
pelo mundo. Além da existência de diversos países, empresas e organizações 
internacionais, o cenário internacional de negócios tem como um de seus 
principais cenários de fundo uma série de culturas nacionais, às quais os 
profissionais que atuam internacionalmente devem prestar atenção para garantir 
o sucesso de seus empreendimentos no exterior. 
 
 
 
 
19 
REFERÊNCIAS 
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brasileira de 1850 a 2007. In: AMATUCCI, M. (Org.). Internacionalização de 
empresas: teorias, problemas e casos. São Paulo: Atlas, 2009. p. 5-58. 
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estratégia, gestão e novas realidades. São Paulo: Pearson, 2010. 
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internacional. In: _____. (Org.). Gestão Internacional. São Paulo: Saraiva, 
2006. 
FERREIRA, M. P.; REIS, N. R.; SERRA, F. R. Negócios internacionais e 
internacionalização para as economias emergentes. Lidel: Lisboa, 2011. 
FORTUNE. Global 500. 2016. Disponível em: <http://fortune.com/global500/>. 
Acesso em: 30 maio 2017. Disponível em: <http://goo.gl/sRF83q>. Acesso em: 
30 maio 2017. 
HOBSBAWM, E. A era dos extremos: o breve século XX. São Paulo: 
Companhia das Letras, 2005. 
MAGNOLI, D.; SERAPIÃO JR., C. Comércio exterior e negociações 
internacionais. São Paulo: Saraiva, 2012. 
SARFATI, G. Manual de diplomacia corporativa: a construção das relações 
internacionais da empresa. São Paulo: Atlas, 2007. 
SEITENFUS, R. Manual das organizações internacionais. 4. ed. Porto Alegre: 
Livraria e Editora do Advogado, 2005.

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