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Wagner Rosa Artes cênicas U N O PA R A RTES C ÊN IC A S Artes cênicas Wagner Rosa Artes cênicas Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Rosa, Wagner ISBN 9788584826292 1. Artes cênicas. I. Título. CDD 790 Distribuidora Educacional S.A., 2017. 176 p. R788a Artes cênicas / Wagner Rosa. – Londrina: Editora e © 2017 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. Presidente Rodrigo Galindo Vice-Presidente Acadêmico de Graduação Mário Ghio Júnior Conselho Acadêmico Alberto S. Santana Ana Lucia Jankovic Barduchi Camila Cardoso Rotella Cristiane Lisandra Danna Danielly Nunes Andrade Noé Emanuel Santana Grasiele Aparecida Lourenço Lidiane Cristina Vivaldini Olo Paulo Heraldo Costa do Valle Thatiane Cristina dos Santos de Carvalho Ribeiro Revisão Técnica Heloísa Margarido Sales Editoração Adilson Braga Fontes André Augusto de Andrade Ramos Cristiane Lisandra Danna Diogo Ribeiro Garcia Emanuel Santana Erick Silva Griep Lidiane Cristina Vivaldini Olo 2017 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ Unidade 1 | Sensibilidade corporal Seção 1 - O corpo e seus sentidos 1.1 | Corpo e linguagem 1.2 | Corpo e comunicação 1.3 | Corpo e expressão 1.4 | O corpo em cena Seção 2 - Dilatando os sentidos do corpo: o desenvolvimento da percepção e imaginação criadoras 2.1 | A percepção 2.2 | Os sentidos humanos 2.2.1 | A percepção visual 2.2.2 | A percepção auditiva 2.2.3 | A percepção tátil 2.2.4 | A percepção olfativa 2.2.5 | A percepção gustativa 2.2.6 | A percepção espacial 2.2.7 | A percepção temporal 2.3 | O Movimento corporal humano 2.4 | Os fatores do movimento: energia, tempo e espaço 2.4.1 | Energia 2.4.2 | Espaço (direto e indireto) 2.4.3 | Tempo 2.5 | A percepção e a imaginação criadoras 9 13 13 17 19 20 27 27 28 28 29 31 32 33 33 34 35 35 36 36 38 41 Unidade 2 | Educação e teatro Seção 1 - Arte e educação 1.1 | Arte e formação humana 1.2 | Ensino de arte na escola; arte na educação; arte aplicada à educação 1.3 | Teatro na educação; ensino de teatro na escola; teatro aplicado à educação, pedagogia do teatro 1.3.1 | O ensino de teatro e o estudante 1.3.2 | Sobre o professor de teatro 1.3.3 | Qual teatro? Qual ensino? Seção 2 - O teatro na educação: breve histórico 2.1 | O teatro e a educação 2.2 | Relações entre teatro e educação entre os séculos V a.C. e XVIII d.C. 2.3 | O enfoque na educação da criança a partir de Rousseau: perspectivas teatrais 51 55 55 56 56 57 58 58 61 61 62 64 Sumário 2.4 | De Anchieta à LDB de 1996: o teatro e a educação no contexto brasileiro Seção 3 - A pedagogia do teatro 3.1 | A pedagogia do teatro 3.1.1 | A peça didática de Bertolt Brecht 3.1.2 | O teatro do oprimido 3.1.3 | O teatro como ação cultural 3.1.4 | Teatro e jogo 3.1.5 | Teoria da recepção 67 75 75 77 77 77 78 79 Unidade 3 | O jogo teatral Seção 1 - O jogo teatral 1.1 | Sobre o jogo 1.2 | O jogo simbólico 1.3 | O jogo dramático 1.4 | Jogo dramático ou jogo teatral? 1.5 | O jogo teatral 1.5.1 | O jogo de improviso 1.5.2 | Augusto Boal 1.5.3 | Olga Reverbel 1.5.4 | Viola Spolin (Spolin games) Seção 2 - Elementos do sistema de jogos teatrais de Viola Spolin 2.1.1 | Foco 2.1.2 | Instrução 2.1.3 | Avaliação 2.2 | Etapas evolutivas do Sistema Spolin 2.2.1 | Onde 2.2.2 | QUEM 87 91 91 93 95 98 99 100 102 103 105 109 111 113 116 118 121 122 Unidade 4 | Artes cênicas e as demais linguagens das artes Seção 1 - O ensino de arte e suas múltiplas linguagens 1.1 | O ensino de arte e suas múltiplas linguagens 1.2 | Acepções sobre a linguagem da dança 1.2.1 | Dança e história 1.2.2 | Danças populares: danças folclóricas e danças sociais 1.2.3 | Dança e educação 1.3 | A linguagem da música 1.3.2 | Gêneros musicais 1.3.2.1 | Música erudita 1.3.2.2 | Música popular 1.3.2.3 | Música folclórica 1.3.2.4 | Música religiosa 1.3.3 | Música e educação 2.3 | A linguagem do circo 2.3.1 | Circo e história 133 137 137 138 141 144 144 145 147 148 148 148 148 149 150 152 2.3.2 | O circo no Brasil 2.3.3 | Circo e ensino Seção 2 - Interdisciplinaridade 2.1 | Interdisciplinaridade 2.2 | A interdisciplinaridade e o ensino de arte 2.2.1 | A encenação: o jogo artístico com uma plateia – uma proposição 154 155 157 157 161 162 O ensino de arte tem por objetivo proporcionar ao educando um contato com o universo das artes enquanto produção cultural humana em evolução ao longo da história, bem como a sua influência no cotidiano de cada indivíduo. O presente material é composto por um conjunto de textos que visam esclarecer aspectos relevantes sobre as artes cênicas, num sentido mais amplo, as linguagens artísticas que concentram a Arte do Espetáculo Vivo, nomenclatura utilizada na Europa, principalmente na França, e que distingue o artista cênico (dançarino, ator, mímico, concertista, performer) do artista plástico (escultor, pintor, desenhista, gravurista, entre outros). Strazzacappa (2008) define o artista do espetáculo vivo como aquele que traz em seu próprio corpo sua obra de arte: uma arte efêmera que acontece na mesma hora em que deixa de existir; arte do momento presente e do corpo em movimento. Assim são a dança, o teatro, a ópera e o circo. Pode-se incluir nesse universo o concerto musical ao vivo, realizado por músico intérprete ou criador, tendo em vista que o que importa é o fenômeno espetacular, do acontecimento de tocar. Faz parte da Unidade 1 a busca por compreender a linguagem cênica a partir da compreensão do artista em sua complexidade, do corpo em cena e da necessária preparação deste corpo para operar dentro das linguagens artísticas de caráter cênico, compreendendo o desenvolvimento da percepção e imaginação criadoras como fundamentais para o desenvolvimento da sensibilidade artística. A Unidade 2 possui um estudo sobre as interconexões entre educação e teatro. Na Unidade 3, buscaremos compreender os conceitos de jogo teatral: sua estrutura, elementos constituintes e etapas evolutivas. Concluímos o livro na Unidade 4 deste material, buscando inter-relacionar o universo das artes cênicas com as demais linguagens das artes, especialmente as artes visuais e a música, a partir de uma proposição da prática da encenação teatral, buscando inter-relações entre as linguagens artísticas propostas nos PCN- Arte, procurando identificar possibilidades de trabalho cênico, uma vez que tais linguagens constituem um repertório rico em elementos que nos permitem uma análise das dicotomias, incongruências, desafios, divergências e, por fim, da possível manutenção de um diálogo com o mundo por meio da arte. Apresentação Sensibilidade corporal Wagner Rosa Unidade 1 Na primeira seção, a proposta é apresentar uma abordagem sobre a percepção que temos de que cada indivíduo tem, potencialmente, a capacidade de dar vida e personalidade a personagens, constituindo a sua presença cênica a partir da consciência de suas limitações físicas e exploração de novos limiares. Presença esta desenvolvida por meio de exercícios que contribuam para a propriocepção e estabelecida cenicamentepor meio da prática da linguagem corporal. Na segunda seção desta unidade, voltamos o nosso olhar para aspectos do desenvolvimento da percepção e da imaginação criadoras, entendidos aqui como elementos basilares para o desenvolvimento da sensibilidade artística, uma vez que estão presentes nas realizações humanas geradoras do novo, quer se trate dos reflexos do mundo exterior ou de determinadas elaborações cognitivas e emocionais que existem e se manifestam no próprio ser humano. Seção 1 | O corpo e seus sentidos Seção 2 | Desenvolvimento da percepção e imaginação criadoras Objetivos de aprendizagem: - Identificar aspectos que contribuem para o desenvolvimento da sensibilidade corporal na formação do indivíduo. - Compreender o desenvolvimento da sensibilidade corporal como fundamental no âmbito das artes cênicas; - Compreender os conceitos de percepção e imaginação criadoras e sua relação para o desenvolvimento da sensibilidade artística. U1 10 Sensibilidade corporal U1 11Sensibilidade corporal Estar em cena: ação do artista cuja atividade (por profissão ou não) tem por foco a peculiar condição de situar-se no centro do acontecimento cênico e tornar-se a conexão viva entre o texto do autor, as diretivas de atuação do encenador e a percepção (olhar, audição) do espectador (PAVIS, 1999). Num sentido mais amplo, tornar-se um elo entre a cena e quem a vê, ou seja, entre palco e plateia. Ter presença cênica: este seria o bem supremo a ser possuído pelo ator, e sentido pelo espectador. Mas como aprender a efetivamente “estar em cena”? Estar presente num espaço cênico não implica necessariamente esta condição. Para Ryngaert (2009), a presença cênica não existe simplesmente através das características físicas do indivíduo, mas sob a forma de uma energia irradiante cujos efeitos sentimos antes mesmo que o artista tenha agido ou tomado a palavra. Ela emerge do vigor de seu estar ali. Trata-se de uma “presença perturbadora” (BARBA; WATANABE, 1982, p. 11), pautada na contradição de o ator ser marcadamente presente e, no entanto, necessariamente nada apresentar (segundo aqueles autores, para um ator a verdadeira contradição da presença cênica é como um oximoro. O ator de pura presença é um ator representando sua própria ausência). Este livro foi dividido em quatro unidades e, nesta primeira, podemos compreender o necessário desenvolvimento da sensibilidade corporal como cerne para a formação do artista e, consequentemente, da linguagem cênica, a partir do entendimento do indivíduo em sua complexidade, do corpo em cena e da sua imprescindível preparação para operar dentro das linguagens artísticas a que se propõe. Nas seções que integram esta unidade, podemos perceber a relevância da sensibilização do corpo. Na primeira seção, analisamos que cada artista, em cena, tem potencialmente a capacidade de dar vida e personalidade à sua personagem, que é confrontada com as outras (PAVIS, 1999) e com um público. Desta forma, emprestamos (por identificação) nossa própria vida/identidade. De fato, a perturbação e o fascínio, diante dessa presença cênica, ao mesmo tempo estranha e familiar, advêm do fato de encontrarmos no corpo do artista cênico nada mais que, sob um efeito de scinestesia, nosso próprio corpo, estabelecida cenicamente por meio da linguagem corporal. Na segunda seção, destacamos o desenvolvimento da percepção e imaginação criadoras como fundamentais para o desenvolvimento da sensibilidade artística, pois Introdução à unidade U1 12 Sensibilidade corporal estão presentes em toda realização humana geradora do novo, quer se trate dos reflexos do mundo exterior (nos âmbitos da vida dos indivíduos: cultura, artes e ciência), assim como no desenvolvimento de técnicas ou de determinadas elaborações do cérebro e do sentir, que vivem e se manifestam no próprio ser humano. U1 13Sensibilidade corporal O corpo e seus sentidos Introdução à seção 1.1 Corpo e linguagem Nesta seção, iniciamos nossos estudos fazendo uma abordagem sobre a percepção que temos de que cada artista, em cena, tem potencialmente a capacidade de dar vida e personalidade à sua personagem, que é confrontada com as outras (PAVIS, 1999) e com um público; Neste contexto, emprestamos (por identificação) nossa própria vida/identidade. De fato, a perturbação e o fascínio diante dessa presença cênica, ao mesmo tempo estranha e familiar, advêm do fato de encontrarmos no corpo do artista cênico nada mais que, sob um efeito de scinestesia, nosso próprio corpo, estabelecida cenicamente por meio da linguagem corporal. Ao longo da história, a interpretação do movimento corporal humano tem oscilado entre expressão natural e sistema de código de linguagem. O aprendizado da linguagem é parte indissociável da experiência corporal (NAJMANOVICH, 2001). Para Fernandes (2015), em oposição à interpretação de expressão espontânea de sentimentos pessoais, o movimento humano é visto como um sistema (aprendido) de comunicação social, análogo à linguagem verbal. O entendimento de corpo que apresentamos aqui é o de corpo uno (único), na integralidade entre o que poderíamos denominar como uma soma, compreendendo as dimensões da matéria, da mente e da cultura (corpo, mente e alma) em uma estrutura única, indivisível. Seção 1 “O corpo humano é um local de relação entre paixão e ação, entre impressão e expressão, entre percepção e movimento. É uma tela de projeção para obsessões imaginárias e o instrumento próximo às fantasias pressionando para serem U1 14 Sensibilidade corporal encarnadas e realizadas. O corpo oscila; ele não é inteiramente um campo, não inteiramente um meio. Ele pode ser descrito e ele pode falar. Ele flutua entre sintoma e símbolo”. (KAMPER, 1988, p. 46) Embora organicamente haja uma similaridade na organização dos seres vivos, estruturalmente o corpo humano é singular e se complexifica mediante relações e reações com o entorno, modificando-o e modificando-se. O corpo é resultado de um processo contínuo de troca: afeta e é afetado pelo outro como sujeito histórico, cultural e subjetivo de vários papéis, atuando num mundo repleto de informações (imagéticas, textuais e cinéticas) que são incorporadas ao próprio receptáculo corpóreo, mesmo sem se dar conta. Ao produzir criativamente no mundo, o corpo se torna responsável pelo fluxo de informações, promovendo e rompendo contatos com o ambiente. Cada novo aprendizado traz ao corpo uma rede particular de conexões, atuando como eixo no estabelecimento da aquisição de repertório e vocabulário próprios. Há grande semelhança gráfica entre três palavras cujos significados são distintos: cenestesia, cinestesia, sinestesia. Em neurologia, cenestesia designa a sensação que o indivíduo tem da situação de sua existência, isto é, a consciência de suas funções orgânicas e de sua corporeidade. É a consciência (sensopercepção) que temos do próprio corpo, é a representação consciente do próprio corpo, de sua posição, de seu movimento, de sua postura em relação ao mundo a sua volta e em relação às suas diversas partes e segmentos. Em fisiologia, cinestesia é a consciência por meio da qual percebemos a movimentação espacial de nosso corpo, nossos movimentos musculares. Cinestesia diz respeito à sensopercepção dos movimentos corporais e em relação ao ambiente à sua volta. Em psicologia, sinestesia é quando um perfume nos lembra de determinada cor ou um som nos traz uma imagem qualquer, ou seja, quando um determinado estímulo nos remete a uma determinada memória ou sentimento. A sinestesia é regida pelo intercruzamento de percepções. Disponível em: <http://www.psiqweb.med.br/site/DefaultLimpo.aspx?area=ES/VerDici onario&idZDicionario=171>. Acesso em: 12 jul. 2016. Indistintamente de qual corpo se fala (ou se propõe), o artista cênico, emseu processo criativo, desde o princípio do século XX tem trabalhado com fundamento U1 15Sensibilidade corporal na noção de corpo. Operar no sistema particular que denominamos arte só se torna possível a partir da compreensão da cultura da qual faz parte. A influência do meio se manifesta nas alterações dinâmicas pelas quais passa o corpo, estabelecendo noções de como, quando e porque faz, em relação aos contextos em que está circunscrito. A sensibilidade, a percepção, a reflexão, a cognição e a imaginação podem ser ampliadas, tanto ao realizar formas artísticas quanto na ação de conhecimento e reconhecimento das formas produzidas pelo corpo, tais como a comunicação e a expressão, e que têm a possibilidade de julgar e formular significados que excedem a capacidade de dizer em palavras. A arte refuta os determinismos e reconhece que a imagem e a representação emergem do corpo a partir das experiências vividas. Há Ao discutir a construção cultural do corpo, Daolio (1995, p. 39) afirma que “[...] o ser humano, por meio do seu corpo, vai assimilando e se apropriando dos valores, normas e costumes sociais, num processo de incorporação. Estão escritos nos corpos todas as regras, todas as normas e todos os valores de uma sociedade, por ser o corpo o contato primário do indivíduo com o ambiente que o cerca”. Fonte: adaptada de <https://goo.gl/VRffeS>, <https://goo.gl/JkfnNe>, <https://goo.gl/oVuKwU>, <https://goo.gl/82PfOt>, <https://goo.gl/kCjNm5> e <https://goo.gl/28Gm4Z>. Acesso em: 1 ago. 2016. Figura 1.1 | Os corpos se moldam ao cotidiano e a sociedade das quais fazem parte U1 16 Sensibilidade corporal cognição na própria ação: a poética emerge do corpo em suas múltiplas interfaces, a partir das suas relações com o entorno (espaço e tempo), pois todo sujeito, enquanto indivíduo único que é, sente, pensa e age em relação, assim não é possível separar corpo, mente e alma de suas relações múltiplas com o diverso. Ampliam-se incessantemente as maneiras que possibilitam as formas de expressão de sentimentos, emoções e desejos, transformando-as, também, em formas de conhecimento e como componente estético em que o sujeito revela suas realizações e construções movidas pela intenção, pelo desejo, pelos sentidos, pela emoção, pelo movimento, pela expressão e criação situada num contexto histórico-cultural. A título de exemplo, os ritos de entrada na vida adulta nas mais diversas culturas primitivas, em que cerimônias ou rituais marcam mudanças do status de uma pessoa no seio de sua comunidade. Outro exemplo são as transformações oriundas do determinismo estético, como é o caso das cirurgias plásticas, cada vez mais realizadas na sociedade contemporânea. Para saber mais sobre o fenômeno contemporâneo de culto estético ao corpo, assista ao documentário Tabu Brasil: cirurgias plásticas. Acesso pelo site: <http://www.foxplaybrasil.com.br/watch/58302019806>. Acesso em: 12 set. 2016. Sob outra perspectiva, podemos citar o rito do bar Mitzvah, dos judeus, em que o menino é apresentado à comunidade na sinagoga e ali deve ler em hebraico o trecho da Torah correspondente ao dia da celebração. É uma transformação no nível mental sem marcas no corpo, porém de grande efeito, pois é assim que é aceito como um adulto. Nestes contextos sociais/culturais, mudar significa “transformar o corpo”. Determinadas atividades que consideramos simbólicas e/ou transcendentes em nossa sociedade, naquele contexto são atividades de natureza corporal. O corpo é visto como um “organismo aberto” que pode aprender a transformar-se em outro corpo. Pode-se assimilar o corpo do outro pela convivência, adquirindo- se características comuns a determinado coletivo, sejam os códigos éticos e/ou estéticos. O aprendizado é proporcionado pela linguagem corporal comum ali estabelecida. Assim, nos é possível afirmar que é das experiências cotidianas que emergem o cognitivo, o afetivo e, principalmente, o sensível, pois todas as formas de percepção U1 17Sensibilidade corporal emergem do corpo e para o corpo dos sujeitos: um meio pelo qual conhecemos e interagimos com o mundo e manifestamos possibilidades de, nele, criar formas. O corpo é, portanto, linguagem. Para saber mais sobre presença cênica e as contribuições do treinamento para o desenvolvimento de propriocepção leia o artigo: : ROSA, Wagner. As artes cênicas em ambientes escolar e extraescolar: reflexões sobre presença cênica e treinamento corporal. In: YAEGASHI, Solange Franci Raimundo et al. (Org.). Psicopedagogia: práticas pedagógicas em espaços escolares e não escolares. 1. ed. Curitiba: CRV, 2016. p. 451-467. 1.2 Corpo e comunicação O movimento do corpo do artista é mídia primária que conhece, constrói e se expressa. Para além da comunicação verbal, uma alternativa epistemológica é a percepção dos atos comunicativos do corpo como elementos articuladores centrais das relações humanas. O relacionamento entre o mundo, o corpo que nele vive e o movimento que este corpo faz, está baseado em mecanismos de comunicação. Comunicar é entendido por Vilalba (2006, p. 6), como “tornar comum” o sentido, como uma resposta a um estímulo percebido torna-se informação. Por sua vez, essa informação, aplicada de maneira eficaz, transforma-se em conhecimento. Tudo isso acontece por meio do processo de comunicação, em que o sentido é formado, apresentado e negociado. A formação do sentido se dá pela impressão que é gerada por um sujeito comunicador, reunida organizadamente a outras impressões presentes, determinando, nos planos objetivo e subjetivo, um posicionamento específico (também denominado “relação entre interpretantes”). Esse posicionamento é chamado valor ou sentido. Fonte: <https://pixabay.com/pt/sorriso-punho-dedo-thums-%C3%A2nimo-1188654/>. Acesso em: 1 ago. 2016. Figura 1.2 | Gestos humanos comunicativos U1 18 Sensibilidade corporal O sentido é codificado (ampliado) em um plano de expressão perceptível a outros sujeitos comunicadores e transforma-se em signo; o signo é percebido por outra pessoa, uma nova impressão é gerada no sujeito receptor. Esta impressão organiza- se com outras, que a pessoa já tem e recebe um determinado valor, ou seja, é comparada, relacionada, destacada ou integrada às outras impressões. Esse processo é denominado negociação. O resultado do primeiro momento da negociação pode ser representado num plano de expressão perceptível ao comunicador, ou seja, pode tornar-se mensagem (VILALBA, 2006). Para Ryngaert (2009, p. 33), “de tanto querer projetar para o exterior uma emoção, corre-se o risco de fazer dela uma caricatura, de dissolver uma experiência sensível em signos grosseiros; preocupados demais em transmitir, eles só fornecem banalidades. Por outro lado, a linguagem artística não garante a clareza da mensagem”. Por seu estatuto, o artista é um inventor capaz de propor ao público formas inéditas e desconcertantes que o colocam fora das leis da comunicação tradicional? Para Ferrara (1986, p. 9), "[...] se toda codificação é uma representação do universo, decodificar é conhecer o instrumento de codificação, o signo, mais a sintaxe que o identifica e caracteriza seu modo de representar [...]. E cada código gera signo e sintaxe específicos". Num sentido ampliado, não se trata, entretanto, apenas de como uma informação codificada passa por um meio para chegar integralmente em outra ponta, porque entre seres humanos há também uma intenção do emissor, assim como uma interpretação na instância de chegada, que não deve ser desconsiderada. Comunicação é, portanto, mais que mera transmissão de conteúdo. Importa, também, a maneira “como” a mensagem foi elaborada. E é com esse aspecto da linguagem que o artista cênico trabalha: tanto quanto traduzir uma associação lógica de ideias a serem intelectualmente apreendidas,seus movimentos e evoluções podem, também, criar imagens que causem, sejam sensações, emoções, sentimentos etc. PROPOSTA DE ATIVIDADE VENDO UM ESPORTE – O objetivo é comunicação gestual por meio da expressão corporal. U1 19Sensibilidade corporal Execução: O problema proposto aos participantes é que mostrem, improvisando em cena, a que tipo de esporte estão assistindo ao vivo. O foco de investigação desse jogo está em tornar real (fisicalizar), em cena, a situação proposta: um grupo de pessoas assistindo a uma prática esportiva. As respostas de cada grupo serão analisadas por todos os participantes, que vão definindo o que funcionou ou não nas cenas, e por quê. 1.3 Corpo e expressão Um trabalho artístico cênico parte de um texto corporal que passa pela mente, pelo coração, pelos olhos, pelos ouvidos, pela garganta, pelas mãos; corpo que pensa, recorda, sente, observa, escuta, fala, toca e experimenta, de forma pessoal e intransferível. Um processo que desenvolve um campo de conhecimento tão importante quanto inatingível pela linguagem lógica e científica. Neste sentido, a arte é concebida como construção: a emoção se dá diante das relações novas que se percebem nas linguagens artísticas. Para Pareyson (1997), a arte como construção, como conhecimento e como expressão acontece de forma imbricada, num encontro entre objetividade e subjetividade, consciente e inconsciente, razão e emoção. Para Bosi (1985), a ideia de expressão está intimamente ligada a um nexo que se pressupõe existir entre uma fonte de energia e um signo que a veicula e a encerra. Uma força que se exprime e uma forma que a exprime. Para Cassirer (2012), para além de um mundo meramente físico, o homem vive em um universo simbólico: a comunicação, a expressão e a linguagem são partes desse universo. Em nosso entendimento, o corpo como expressão é pensar o movimento como manifestação do indivíduo, seu texto corporal, pessoal e intransferível, porém passível de compartilhamento; e a linguagem do movimento corporal é a possibilidade de coletivizar a expressão, gerando (novos) códigos e padrões. A expressão cênica é, em nossa perspectiva, a manifestação do indivíduo exteriorizada e refletida por meio do movimento corporal. Fonte: adaptada de : <https://pixabay.com/pt/homem-pranto-rasgar-olhar-triste-1465525/> e <https://pixabay.com/pt/ velha-senhora-sorriso-bela-mulher-845225/>. Acesso em: 11 ago. 2016. Figura 1.3 | Gestos humanos expressivos U1 20 Sensibilidade corporal A expressão corporal é um empreendimento relacional, de comportamento na relação com o outro, de intercomunicação (verbal e não verbal). Configura-se, portanto, como uma forma de comunicação entre humanos: algumas atitudes e expressões denotam visivelmente o estado de ânimo do interlocutor (o semblante baixo ou os ombros caídos, assim como a cabeça pendente podem significar abatimento, na mesma medida em que olhos vividos e semblante altivo costumam denotar energia e disposição). A experiência de vida e o exercício constante de observação nos ensinam a interpretar as expressões mais comuns e os gestos corriqueiros. Também, a postura corporal (seja ao andar, seja ao manter-se em pé ou sentado) e as maneiras de falar, os maneirismos do gesto, do olhar, além dos detalhes perceptíveis na forma de expressão verbal adotada de acordo com a situação, tal como a tonalidade da voz. Tudo que o ser humano realiza cotidianamente determina uma expressão corporal que denota um estado d’alma em particular. Exercitar a expressão corporal visa transcender os objetivos mais simples da nossa vida relacional. Provocando interação a partir de um conjunto de ações e reações, visa ao crescimento, ao amadurecimento e à conscientização gradativa da pessoa em torno de seus objetivos, de sua forma particular de encarar a vida, das idiossincrasias na construção do caráter. Buscar compreender as possibilidades de expressão do corpo é, também, procurar tomar ciência de suas significações, da sua relevância, do lugar que ocupa no cotidiano em relação ao outro: cada pessoa, cada indivíduo, assume perante a sociedade o papel que lhe é designado pelo seu contexto histórico-social e pelo repertório de experiências que vai adquirindo ao longo do tempo, o que é fundamental para que cada um construa a sua própria identidade, conscientizando-se sobre quem é; o que é; e o que deseja ser. A partir do desenvolvimento desta autoconsciência (falaremos sobre propriocepção na próxima seção deste livro), amplia-se a capacidade de compreender o papel que temos a desempenhar no mundo e o desejo de constante aprimoramento. Para além disso, compreender a expressão corporal nas artes cênicas tem a função de denotar as características físicas do personagem, criando uma realidade teatral adequada aos propósitos do espetáculo, de acordo com a concepção que se desejar assumir. 1.4 O corpo em cena Nas artes cênicas, é por meio de um corpo expressivo que se revelam as pulsões sensoriais, emocionais e racionais, provocadas pela palavra/poesia, desenhos, objetos, músicas, imagens etc e que se acionam as tensões dramáticas e os estados corporais (sensação e emoção). O corpo é, portanto, o elemento essencial, pois servindo como meio, é elemento primeiro e final da construção cênica. A centralidade da cena não é mais o texto na acepção aristotélica, e, sim o corpo compreendido como um organismo vivo, plástico e significante, situado em um contexto histórico- U1 21Sensibilidade corporal cultural. A perspectiva cartesiana resultou num relativo distanciamento da participação do corpo na comunicação e no fazer artístico. Para colocá-lo em questão, fez-se necessário romper com a dualidade clássica entre corpo e alma e considerá-lo como sujeito de múltiplas interfaces. O artista, ao trabalhar com o fundamento na noção de corpo e circunstanciá-lo às relações socioculturais, reflete, em suas produções artístico-estéticas, uma forma de resistência e/ou reatualização, provocação e inovação e até mesmo a impressão de valores e percepções sobre o próprio corpo. Para além das especificidades da linguagem teatral, podemos complementar que toda arte cênica é corpo. Em cena, o corpo opera numa dimensão de teatralidade, que contemporaneamente tem se caracterizado por uma diversidade de possibilidades de experimentações híbridas, como na performance, tal como propõem Goldberg (2006) e Glusberg (2003). Segundo estes autores, consolidam-se, na sociedade rápidas mudanças relacionadas a valores e comportamentos, relativos à globalização dos processos de comunicação que continuamente modificam e atualizam as formas de percepção e produção de (e entre) corpos. Tais ações contribuem para que, no cotidiano se e instaure uma insensibilização que conduz à diminuição da Fonte: <https://pixabay.com/pt/bal%C3%A9-dan%C3%A7arina-masculino-desempenho-835757/>, <https://pixabay.com/pt/artista- rock---n-roll-guitarra-1560867/>, <https://pixabay.com/pt/mulher-mulheres-menina-dan%C3%A7abal%C3%A9-1536747/> e <https:// pixabay.com/pt/circo-tihany-contorcionismo-400531/>. Acesso em: 11 ago. 2016. Figura 1.4 | Corpos em cena: dança, música, teatro e circo U1 22 Sensibilidade corporal espontaneidade, da expressividade, da criatividade e das vivências reais em favor da virtualidade e operacionalidade. Consequentemente, o corpo é reduzido a um mero funcionalismo autômato e alienante pela sua instrumentalização, o que se reflete nos movimentos do dia a dia e nas técnicas de trabalhos predominantemente orientados para o resultado: o produto do corpo e para o corpo (DAOLIO, 1995; SANTAELLA, 2004). O que se faz no teatro e na dança com o corpo, segundo Barba (2012), é torná-lo mais dilatado e direcionado por meio de técnicas de codificação da representação. Para tanto, propôs noções como equilíbrio “precário” e equilíbriode “luxo” (ou extracotidiano), decorrente da busca por um equilíbrio resultante do desequilíbrio cotidiano, uma forma de desestruturação das técnicas corporais cotidianas como deslocamento no espaço e imobilidade do corpo, por meio de esforço físico intenso, dilatação do tônus corporal que dá ao corpo na cena uma forma viva, expansiva e aberta que se adianta à própria ação que deve desempenhar. Para saber mais sobre o conceito de equilíbrios precário e de luxo: BARBA, Eugênio; SAVARESE, Nicola. A arte secreta do ator: um dicionário de antropologia teatral. São Paulo: É Realizações, 2012. O trabalho corporal possibilita a aquisição do conhecimento necessário para que a linguagem cênica se estabeleça. No percurso, a própria linguagem corporal transforma e é transformada, mesclando-se à linguagem cênica, fortalecendo a linguagem existente ou estabelecendo-se como uma nova linguagem. No percurso, aprende-se fazendo, constrói-se aprendendo. O uso que um artista cênico faz de seu corpo não é aleatório, mas construído por um longo caminho de composição em que a energia física se condensa em pensamento, por meio de uma experiência transformadora que envolve o indivíduo num processo de construção de conhecimento cumulativo. Neste processo, o artista experimenta/vivencia uma infinita gama de variações de energia e consequente variação de pensamento, manipulando a energia de uma potência mais frágil e delicada até o máximo de vigor e força. A organicidade do trabalho se dá pela continuidade entre o plano físico e o plano mental. Esta organicidade não é natural, ao contrário, é forjada, na medida em que é construída sobre leis fictícias que se distanciam e, por vezes, se opõem às leis do mundo cotidiano (ICLE, 2002, p. 178-179). Desde um aprendizado por imitação, por meio de tentativas e experimentações, em que o indivíduo replica um determinado modelo, passando pelo jogo (o princípio do jogo, nas artes cênicas, é a troca, a comunicação que emerge a partir da criatividade U1 23Sensibilidade corporal e espontaneidade das interações entre sujeitos mediados pela linguagem teatral, que se encontram engajados na solução cênica de um problema de atuação), até uma composição final de partitura física de ações, o artista tem a possibilidade de transformar/moldar seu pensamento, compondo ou improvisando não só com os elementos do trabalho presente, mas somando-se ao repertório emotivo/cinético que o passado de suas ações subjaz às ações do presente. Há, neste contexto, uma tomada de consciência (PIAGET, 1978) pela continuidade entre a ação puramente física e o plano interior do sujeito. Não se trata somente de uma conceituação ou de uma operação mental isolada, mas de uma reestruturação da inteligência do artista que envolve o seu ser como um todo, transformando o físico isomorficamente no mental e vice-versa. Para Icle (2002), a construção desta segunda natureza do artista cênico é tida como uma modificação radical de uma primeira natureza, a cotidiana. Por meio de leis arbitradas, o artista constrói sua presença física a partir de uma construção particular de conhecimento. Esta construção não segue um método ou uma receita que pode a qualquer tempo ser reproduzida por alguém que deseja “estar em cena”. Quando muito, existem princípios recorrentes, mas as escolhas, os caminhos desta construção são pessoais. Cada artista constrói sua técnica particular de atuação. Esta transformação não envolve apenas o seu eu profissional como também propõe e exige uma transformação deste artista enquanto ser humano. Neste processo, o artista acultura o seu comportamento cênico através do treinamento: da repetição, da imitação, do jogo e da composição corporal. Esta aculturação psico/fisiológica permite ao artista acionar uma presença diferenciada da presença cotidiana, quando lhe aprouver. A aculturação transforma o corpo, fazendo parecer que seu comportamento, extremamente artificial, construído, composto em detalhes mínimos, é um comportamento natural e orgânico (ICLE, 2002). O senso comum costuma conferir ao artista cênico um talento nato, que teria nascido com ele ou, ainda, de forma menos radical, uma tendência, ou facilidade a esta presença física. Entretanto, [...] quando vemos atores inseridos de forma profunda nas técnicas de determinada cultura teatral, ao observarmos determinados detalhes, como a posição estranha das mãos ou pés, as formas de transição de uma ação a outra, quando observamos o corpo de uma bailarina clássica ou nas pernas de um ator indiano ou, ainda, a coluna de um mímico, pensamos erroneamente que estes atores e bailarinos nasceram com seus corpos desta forma, quando, na verdade, construíram cada detalhe. E pela dedicação exaustiva eles nos parecem ser tão orgânicos como as mais simples ações cotidianas. (ICLE, 2002, p. 180-181) U1 24 Sensibilidade corporal Para maiores esclarecimentos sobre as linguagens artísticas sugeridas por Icle (2002) na citação acima, veja o vídeo com o espetáculo de ballet clássico “The Swan Lake” (Version Pierre Lacotte Paris Opera Ballet 1° jan. 1972), apresentado pelo Kirov Ballet, no Teatro Mayrink (disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=9rJoB7y6Ncs>); os documentários sobre Katakhali “Sulla Percorso Vita Di Maryse Noiseux Danzatrice Di Kathakali” (disponível em: <https://www.youtube.com/ watch?v=dRM5Z9BvpA8>) e “Nalacharitham Nalam Divasam From Kunchu Nair Trust And Asianet Kathakali Samaroham” (disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=K1QRkzitplg>); e os documentários sobre Marcel Marceau e Michel Courtemanche. O início ou o fim deste processo não pode ser determinado, pois ele é circular ao mesmo tempo em que é espiral. Segundo o ator e dramaturgo Roberto Frabbetti (2011), “para um pesquisador, fazer teatro para crianças de creche pode significar atingir, de maneira utópica, o som, o gesto, o signo fundamental. Não porque esse teatro seja mais compreensível, mas apenas porque é mais comunicativo. Não adianta se esconder atrás de superestruturas culturais inúteis. Nessa situação, é necessário buscar o prazer de sentir a forma visceral de um público que está presente ou não está, que aceita ou recusa o espetáculo com reações fortes; que tem um ritmo especial de respiração, que tem medo ou não tem, que chora por causa de um som muito forte ou que sobe em um velocípede quando se entedia. Um público que obriga você a esperá-lo, a dar-lhe tempo, a não agredi-lo; que quer conhecer você, avaliar tudo e depois deixar você ir embora; um público que pede a você para ser profundamente respeitoso para com ele, porque ele é assim com você”. U1 25Sensibilidade corporal 1. De acordo com o conteúdo abordado na Seção 1, por que o autor sugere que a apresentação para crianças pequenas significa atingir o signo fundamental no teatro? 2. Assinale a alternativa que melhor aproxime a definição de presença cênica abordada na Seção 1 com o texto acima. a) Não existe simplesmente através das características físicas do indivíduo, mas sob a forma de uma energia irradiante cujos efeitos sentimos antes mesmo que o artista tenha agido ou tomado a palavra. Ela emerge do vigor de seu estar ali. b) É o que poderíamos denominar como uma soma, compreendendo as dimensões da matéria, da mente e da cultura em uma estrutura única, indivisível. c) Ela é concebida como construção: a emoção se dá diante das relações novas que se percebem nas linguagens artísticas. d) As alternativas A, B e C estão corretas. e) As alternativas A, B e C estão incorretas. U1 26 Sensibilidade corporal U1 27Sensibilidade corporal Dilatando os sentidos do corpo: o desenvolvimento da percepção e imaginação criadoras Introdução à seção 2.1 A percepção Nesta seção, faremos uma abordagem sobre as possibilidades de dilataçãoda energia corporal a partir do desenvolvimento dos sentidos corporais de autores das artes cênicas e de proposições de atividades que estimulem a percepção e contribuam para a sensibilização do corpo cotidiano em busca de um corpo cênico, por meio de atividades lúdicas que contemplem a imaginação e a criatividade a partir do movimento corporal. Segundo Eugênio Barba (2012), um corpo com vivacidade dilata a presença do artista em cena e a percepção do espectador. Essa “energia” que o ator possui é chamada de presença cênica. Esta presença é alcançada através de técnicas extracotidianas (proposições de exercícios corporais que visam explorar ações que permitam ao indivíduo distanciar-se das ações repetitivas da vida cotidiana) e as diversas tensões criadas no corpo, que acabam por dilatá-lo. Este corpo dilatado é um corpo que se encontra em contínua mutação, crescimento e multiplicação de energias. Para adquirir mais vida em cena, o artista deve ampliar sua capacidade de percepção de si mesmo e do entorno, tornando-se efetivamente mais “vivo” e controlando a dilatação da energia do seu corpo. A percepção é a função cerebral do indivíduo que atribui significados a estímulos sensoriais a partir do seu próprio repertório de experiências vividas, selecionando e organizando as informações obtidas pelos sentidos. Para além dos sentidos biológicos relacionados aos órgãos dos sentidos, sob o ponto de vista psicológico ou cognitivo, a percepção envolve também os processos mentais, a memória e outros aspetos que podem influenciar na interpretação dos dados coletados do meio. Seção 2 U1 28 Sensibilidade corporal O desenvolvimento da percepção se inicia com o desenvolvimento da atenção, da seletividade das observações efetuadas. Este enfoque faz com que o indivíduo perceba alguns elementos em detrimento de outros, seja pelos fatores externos, ligados ao meio ambiente, ou a fatores internos, próprios do organismo. 2.2 Os sentidos humanos Para Ferrara (1986, p. 8-9), a capacidade representativa de uma linguagem é tanto mais segura e precisa em relação ao objeto representado quanto mais se apoiar na capacidade perceptiva de cada sentido em particular: sons, texturas, paladares, cheiros, cores são possibilidades de identificação do mundo concreto e são tanto mais seguras quanto mais fiéis à capacidade específica de cada uma das fontes de ativação dos sentidos. [...] à competência expressiva de cada sentido. Em particular, alia- se a capacidade lógica da cultura e da sintaxe do seu sistema verbal, dominado pela linearidade que possibilitam a construção frasal, suficiente para expressar um modo de pensar eminentemente hierárquico, diacrônico, expansivo em frases subordinadas. O corpo humano se comunica com o ambiente a partir de dois tipos de receptores: os receptores a distância e os receptores imediatos. Compreender a função destes receptores nos permite explorar e nos comunicar com o universo ao nosso redor. Ao estudarmos a percepção nos seres humanos, é possível distinguirmos alguns tipos principais: as formas mais desenvolvidas de percepção são a visual e a auditiva, fundamentais ao desenvolvimento da humanidade enquanto espécie, pois foram os sentidos mais utilizados evolutivamente na luta pela sobrevivência, seja pela busca por alimentos quanto na proteção contra predadores. As artes visuais e a música foram as primeiras formas de arte a serem desenvolvidas pelas civilizações justamente pelo domínio do ser humano por estes aspectos perceptivos e comunicativos com o meio. 2.2.1 A percepção visual A percepção visual consiste da capacidade de detectar e interpretar os estímulos luminosos do ambiente sob as perspectivas lógica e estética. Para além da interpretação lógica e socialmente codificada que define a forma da matéria, na estética a percepção visual é tida como uma característica desenvolvida como habilidade de diferenciar aspectos relevantes e atribuir valores contidos em determinada forma. A percepção visual implica, além da percepção das formas, a percepção das emoções associadas a determinados gestos, também a percepção de profundidade, o que permite a orientação do olhar e do movimento; também a percepção das cores, além da intensidade luminosa que incide sobre o meio e sobre os objetos e formas. U1 29Sensibilidade corporal Fonte: <https://pixabay.com/pt/outono-cores-de-cor-folhagem-994897/> e <https://pixabay.com/pt/art%C3%ADstica- brilhante-cor-colorido-2063/>. Acesso em: 11 ago. 2016. Figura 1.5 | Percepção visual – Ambiente, formas, cores, luz Enquanto fonte de informação que o humano possui, a visão é mais complexa e mais rápida que a audição e o tato. Um cego tem a percepção limitada ao alcance da audição (6 a 30 metros), enquanto que com a vista é possível alcançar as estrelas. Os olhos possibilitam a identificação e a distância dos alimentos, assim como pessoas amigas e natureza dos materiais; possibilitam também mover-se em diversas espécies de terreno, evitando obstáculos perigosos; facilitam a fabricação de utensílios, a cuidar do próprio corpo e do de outros e informar-se acerca do estado afetivo de outrem. Os olhos comunicam e têm capacidade de síntese: aprendemos enquanto vemos. 2.2.2 A percepção auditiva O ouvido sensível é capaz de conscientização: todo tipo de som pode refletir-se no movimento corporal. A percepção auditiva consiste da recepção e interpretação dos estímulos sonoros recebidos do ambiente. Nesta percepção identificam-se algumas habilidades como a sensação sonora (detecção do som), a sua discriminação e localização. Desta forma, faz parte do processamento auditivo a investigação do sinal acústico, o que estabelece o reconhecimento, a compreensão e a ampliação da atenção, associando as informações armazenadas na memória em modelos por meio da construção da representação mental provocadas pelos estímulos sonoros, desde os mais simples ruídos até a complexidade sonora da fala e da música. Fonte: <https://pixabay.com/pt/m%C3%BAsica-ouvir-dan%C3%A7a-can%C3%A7%C3%B5es-1013975/> e <https://pixabay. com/pt/cora%C3%A7%C3%A3o-fones-de-ouvido-objeto-1187266/>. Acesso em: 12 ago. 2016. Figura 1.6 | Música é a combinação harmônica de sons por meio de notas que representam a altura e duração de um som – o ritmo é considerado a dimensão temporal da música, dado pela duração das notas e das pausas U1 30 Sensibilidade corporal O mundo sonoro plasma certa modulação do tempo. O som modifica, condiciona e até transforma o ser humano, pois as vibrações acústicas interagem fisicamente sobre quem as recebe. E quando falamos de mundo sonoro não aludimos apenas à música, mas também ao universo de sons no entorno: a realidade circundante; o mundo sonoro pode funcionar como fundo ou clima sonoro ou ser o "motor cadencial" do movimento. As fontes sonoras são: a- a pessoa: sons naturais, gestos sonoros; execução de instrumentos. b- elementos técnicos: reprodução mecânica (aparelhos de CD, por exemplo). c- ambiente: (vento, chuva, trovões etc.) QUESTÃO PARA REFLEXÃO: ESPAÇO VISUAL X ESPAÇO AUDITIVO Os aparelhos visual e auditivo são distintos: o nervo óptico (olhos) contém cerca de 18 vezes mais neurônios que o nervo coclear (ouvidos). A visão tem um alcance maior, mas pode ser interrompida, por exemplo, numa conversa entre dois indivíduos separados por uma parede. No entanto, uma conversa pode ser estabelecida até uma distância aproximada de seis metros. A 30 metros, a conversa ocorre apenas unilateralmente e, após 400 metros, o som passa a ser indistinguível. Existem distintos tipos de som: Fonte: elaborado pelo autor. Fonte: elaborado pelo autor. Interiores Especiais Natureza Próprios do corpo Lembranças auditivas Sirene Vento, chuva Respiração; coração VISUAL AUDITIVO 340m/s 300.000 km/s Freq. 50 a 15.000 ciclos p/s10.000.000.000.000.000 c p/s Ao tratar da percepção visual e percepção auditiva, percebemos os objetos afastados a partir dos olhos e ouvidos, os receptores a distância; na sequência, trataremos dos receptores imediatos, que exploram o mundo próximo (tato e sensações térmicas). U1 31Sensibilidade corporal As formas de percepção (tátil, olfativa e gustativa) também têm papel relevante na interatividade humana, como em relações de afetividade e de reprodução. 2.2.3 A percepção tátil A pele é o órgão responsável pelo tato, sentido que nos permite perceber o ambiente ao nosso redor. Ela também serve de proteção à entrada de microrganismos em nosso corpo. A pele e os revestimentos externo e interno de nosso corpo captam sensações do ambiente: sentimos se o alimento está quente, se o estômago está cheio quando comemos demais, por exemplo. Sua complexidade compreende quatro subdivisões: Quanto mais estimulado e exercitado for o corpo, maior a possibilidade de desenvolver propriocepção (também denominada cinestesia): termo utilizado para nomear a capacidade em reconhecer a localização espacial do corpo, sua posição e orientação, a força exercida pelos músculos e a posição de cada parte do corpo em relação às demais, sem utilizar a visão. Este tipo específico de percepção permite a manutenção do equilíbrio postural e a realização de diversas atividades práticas. Resulta da interação das fibras musculares que trabalham para manter o corpo na sua base de sustentação, de informações táteis e do sistema vestibular, localizado no ouvido interno e responsável pelo equilíbrio (MARTIMBIANCO et al. 2008). A identificação de texturas (sistema somatossensorial ou sensorial somático) é a condição que possibilita ao ser vivo experimentar sensações nas partes distintas do seu corpo. Podem ser sensações de tato, temperatura, da posição das partes do corpo ou dor. Os receptores do sistema somatossensorial estão distribuídos pelo corpo todo, servem para detectar os estímulos mecânicos, químicos e físicos. Este sistema é muito importante para a vida do ser humano, pois o ajuda na percepção dos objetos que podem ser tocados. Por exemplo, ao nos aproximarmos de um objeto pontiagudo sentiremos que ele pode ser danoso e perfurar a pele, assim saberemos que não devemos tocá-lo para não haver ferimentos. De forma similar, quando nos aproximamos de um objeto com uma temperatura muito alta ou muito fria, a percepção da temperatura (ou termocepção, refere-se à percepção das alterações térmicas do ambiente) serve para proteger o indivíduo de acidentes ou de exposição danosa do indivíduo a ambientes com temperaturas extremas. A sensibilidade térmica se amplia de acordo com a adaptação de um organismo à determinada temperatura. Outra forma de percepção tátil é a percepção da dor (também chamada de nociocepção ou algesia), responsável pela recepção de estímulos aversivos ou agressivos à integralidade do corpo. É ligada ao sistema límbico, responsável por respostas emocionais. Geralmente está associada somente com a pele, mas compreende vários órgãos distintos, como o labirinto, que também é responsável pela localização espacial. U1 32 Sensibilidade corporal Fonte: <https://pixabay.com/pt/engolidores-de-fogo-artista-634585/>. Acesso em: 12 ago. 2016. Figura 1.7 | Percepção tátil - a percepção aguçada da temperatura e da dor permitem ao engolidor de fogo trabalhar artisticamente com este elemento Por meio do tato é possível perceber, também, a intensidade de pressão oferecida pelo ambiente externo, desde uma pressão leve ou intensa até uma pressão ligeira ou mais prolongada. Exercitar e buscar compreender esta forma de comunicação com o ambiente contribui para a ampliação das capacidades comunicacionais e expressivas do indivíduo. 2.2.4 A percepção olfativa Relativamente delicado nos humanos, o olfato é a percepção de odores pelo nariz. A percepção olfativa compreende a discriminação dos odores e o alcance olfativo e tem papel relevante para a alimentação e o desenvolvimento da capacidade afetiva, pois as memórias que incluem a lembrança de algum odor tendem a ser mais intensas e emocionalmente mais fortes. Desta forma, um odor com o qual nos deparamos apenas uma vez na vida pode ficar associado a uma única experiência. Assim, a memória pode ser evocada automaticamente quando tornamos a perceber esse odor. E a memória deste odor parece interferir com a formação de associações subsequentes, por exemplo, a aversão a algum um tipo de comida (que pode ter sido causada por um mal-estar ocorrido num determinado momento apenas por coincidência, nada tendo a ver com o odor em si); contudo, poderá aparecer associada a esse odor numa eventualidade futura. U1 33Sensibilidade corporal Fonte: <https://pixabay.com/pt/mulher-pessoa-cheiro-546103/>. Acesso em: 13 ago. 2016. Figura 1.8 | Percepções olfativa e gustativa - a memória olfativa contribui para o nosso repertório afetivo. O olfato influencia determinantemente o nosso paladar 2.2.5 A percepção gustativa 2.2.6 A percepção espacial O paladar (ou gustação) é o sentido capaz de identificar os gostos de substâncias por meio da língua, onde existem as papilas gustativas que distinguem sabores (o amargo, o ácido, o salgado, o doce e o umami). Sabor corresponde à soma das sensações de gosto e aroma. Importante para a alimentação, o paladar está geralmente associado ao prazer e à sociedade contemporânea. Muitas vezes valoriza o paladar sobre os aspectos nutritivos dos alimentos. O ser humano não possui um órgão específico para a percepção espacial, entretanto as dimensões e distâncias entre os objetos podem ser efetivamente estimadas a partir do intercruzamento da percepção da distância e do tamanho relativo dos objetos. A percepção espacial ocorre a partir do compartilhamento de informações entre si utilizando elementos da percepção auditiva, visual e temporal. Desta forma, é possível distinguir se um som procede especificamente de um objeto visto ou se esse objeto (ou o som) está se aproximando ou se afastando. Além da percepção ligada aos cinco sentidos, os humanos possuem, também, as capacidades de percepção espacial e temporal. O sabor umami ainda é pouco conhecido. Para saber mais sobre o assunto, acesse o site <http://www.portalumami.com.br/o-que-e- umami/>. Acesso em: 12 set. 2016. U1 34 Sensibilidade corporal Fonte: <https://pixabay.com/pt/violinista-equilibrista-palha%C3%A7o-rua-735413/>. Acesso em: 12 ago. 2016. Figura 1.9 | Percepção espacial - a soma de percepções contribui para o desenvolvimento da propriocepção 2.2.7 A percepção temporal Assim como no caso do espaço, o corpo humano não possui órgãos especializados para a percepção do tempo, entretanto as pessoas são capazes de perceber a passagem do tempo. A percepção temporal inclui a experiência de percepção em relação a distintos tipos de fenômenos: a percepção da duração; a percepção e a produção do ritmo; e a percepção da ordem temporal e da simultaneidade. Os sentidos não existem em separado: estão todos ligados entre si. As atividades corporais são atividades do corpo inteiro. Nós respiramos com todo o corpo: com os braços, pernas, pés etc., mesmo que os pulmões e o aparelho respiratório tenham uma importância prioritária no processo. Nós cantamos com o corpo todo, e não somente com as cordas vocais. Ao propormos compreender e exercitar as percepções dos sentidos pontualmente, não estamos sugerindo exercitar isoladamente a expressão de sentimentos ou emoções, tampouco não devemos realizar atividades apenas pelo aspecto físico, mas operacionalizando integralmente operações físicas e mentais (uma vez que uma forma de se mover no espaço é uma manifestação do modo de pensar) Para saber mais sobre o espaço de interação entre os humanos, sugiro a leitura da obra “Adimensão oculta”, do antropólogo norte-americano Edward T. Hall. HALL, Edward T. A dimensão oculta. São Paulo: Martins Fontes, 2005. Para saber mais sobre o tempo e a percepção que temos dele, sugerimos a leitura da obra “A linguagem silenciosa”, do mesmo autor. HALL, Edward T. A linguagem silenciosa. Lisboa: Relógio D’Água, 1994. U1 35Sensibilidade corporal sem deixar de compreender os aspectos emocionais de nossas ações, pois quando cognição e emoção trabalham juntas ocorre uma mudança de consciência que permite vencer a repetição. Sendo assim, o artista cênico deve encontrar sua relação a partir da relação entre equilíbrio e desequilíbrio para que nesta busca energética possibilite a presença da personagem em cena, o que se dá por meio do movimento corporal. Augusto Boal propõe uma série de atividades no formato de jogos que envolvem a sensibilização do corpo em seu sistema reflexivo e instrumental para o trabalho de criação e de apresentação de espetáculos teatrais, denominado Teatro do Oprimido. O objetivo central é que o praticante assuma sua função como protagonista, no teatro e na sociedade. BOAL, Augusto. Jogos para atores e não atores. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 2001. Outra sugestão de leitura é a obra “Consciência pelo movimento”, de Moshe Feldenkrais, em que o autor propõe jogos corporais visando ao desenvolvimento das percepções. FELDENKRAIS, Moshe. Consciência pelo movimento. São Paulo: Summus, 1977. 2.3 O Movimento corporal humano 2.4 Os fatores do movimento: energia, tempo e espaço Para Laban (1978), o corpo humano se organiza em torno de um eixo central, do qual o movimento realiza processos de expansão e contração. Numa percepção global, tais movimentos podem ser realizados e percebidos simultaneamente, dependendo de como o movimento é realizado. O movimento de uma parte do corpo deve ser sempre entendido em relação ao todo, uma vez que este sempre estará afetando e sendo afetado por aquele, seja por uma relação harmônica ou de contraposição. Desta forma, podemos compará-lo a uma orquestra, onde um instrumento está em sintonia com os demais. Em ações de natureza emocional, os movimentos são predominantemente posturais, funcionando todo o corpo em relação ao movimento. Neste caso, pode-se ter a combinação entre contração e expansão ao mesmo tempo, nas várias partes do corpo, dependendo do conteúdo emocional. Nas ações racionais há a predominância de movimentos gestuais, restringidos a partes específicas do corpo, que agem em função de um controle da razão sobre a expressividade dos movimentos. Entre os fatores do movimento deve-se fazer referência à quantidade de energia que o corpo deve empregar para realizar determinado esforço. Esse esforço se realiza em certo tempo e num certo espaço particulares, resultando em qualidades: U1 36 Sensibilidade corporal Fatores do movimento Qualidades do movimento energia Forte - suave tempo Rápido - lento espaço Direto - indireto Todas as ações básicas do ser humano são combinações variáveis dos fatores de energia, espaço e tempo em graus de intensidade (fluxo) diferentes. 2.4.1 Energia 2.4.2 Espaço (direto e indireto) Energia é a capacidade que o corpo tem de produzir movimento por meio de seu sistema muscular em funcionamento ideal, a partir de um rendimento máximo em relação a um desgaste mínimo. Energia é a potência ativa de um movimento. Entre as diversas possibilidades de definir a natureza da energia do corpo, temos: - Energia física é a capacidade que tem um corpo ou um sistema de corpos para produzir trabalho. - Energia cinética é o trabalho realizado por um corpo em movimento. - Energia potencial é a energia que está latente ou a capacidade de realização de determinado trabalho. Segundo Barba e Savarese (2012), a energia do artista é uma qualidade facilmente identificável: é sua potência nervosa e muscular. De fato, o simples fato de estar vivo já colocaria como natural a visualização desta energia. O contexto que pode nos dizer algo sobre sua utilização é o teatro. Estudar a energia do artista cênico, portanto, significa examinar os princípios pelos quais este artista pode modelar e educar sua potência muscular e nervosa de acordo com situações não cotidianas. O aprimoramento do emprego da energia corporal possibilita desenvolver os reflexos, desenvolver os centros de força no movimento, desenvolver maior resistência e o rendimento e possibilita a constante realimentação da própria energia corporal. Conectamo-nos com o espaço por meio do movimento corporal. Nas artes cênicas, quando se fala em espaço se faz alusão ao âmbito que transformamos e modificamos com o movimento corporal. Num espaço dado, em certo âmbito, podem surgir atos corporais dirigidos a modificá-lo, a utilizá-lo simplesmente ou enriquecê-lo. Trata-se de uma relação (inter-relação) dialética entre corpo e meio que pode expandir ou restringir o comportamento corporal. Este espaço é constituído de Fonte: elaborada pelo autor. U1 37Sensibilidade corporal presença e ausências (cheio x vazio). Podemos, também, pensar o corpo humano a partir dos seus espaços interior (órgãos, músculos, cavidades etc.) e exterior (em relação ao espaço imediato). Desta forma, o espaço pode ser percebido, explorado e conhecido. Por exemplo, a partir do estudos de Laban (1978), podemos observar três dimensões que o movimento corporal pode assumir: Estes planos correspondem, de modo geral, a como o corpo humano faz para organizar o espaço pessoal, denominado por Laban (1978) de kinesfera (ou cinesfera). São dimensões que o movimento pode tomar no cotidiano. Entretanto, os estudos deste autor compreendem, também, questões relacionadas aos processos físicos e artísticos do movimento. DIMENSÃO DIREÇÃO PRINCIPAL DIREÇÃO SECUNDÁRIA PLANO IMAGEM comprimento alto/baixo lado/lado vertical porta amplitude lado/lado frente/trás horizontal mesa profundidade frente/trás alto/baixo sagital roda PROPOSTAS DE ATIVIDADE Apoios (sem e com deslocamento): objetivam o desenvolvimento de propriocepção e estimulam o trabalho cooperativo. Execução: os executantes são instigados a investigar posições corporais em que o menor número de apoios possíveis esteja em contato com o solo (por exemplo, apenas um pé). Em seguida, pesquisar também o maior número possível de apoios. Entre um exercício e outro, surgem espaços vazios passíveis de preenchimento. A respiração pode ser o cerne da proposta, conduzindo a movimentação entre uma posição e outra. O espaço também pode ser objeto de investigação, contemplando o uso de planos e níveis propostos por Laban (por exemplo, plano da porta, nível baixo). Espelhos: o objetivo é o desenvolvimento cognitivo e expressivo, percepção rítmica e espacial, além de propiciar o entrosamento do grupo. Execução: em duplas, os componentes se alternarão nos papéis de comando e espelho. O espelho deverá repetir os gestos e movimentos do comando Fonte: elaborada pelo autor. U1 38 Sensibilidade corporal como: pentear-se, pular, expressar caretas, abaixar etc., simultaneamente. Depois o espelho passará a ser comando e o comando espelho. Uma variação é o espelho lateral, visando ao exercício da visão periférica. Outra variação: execução dos exercícios em movimento, utilizando o espaço, variações de velocidade, níveis e planos. Fotografia (preenchimento de espaços vazios): o objetivo é reproduzir a expressão corporal e gestual de figuras a partir de estímulo visual (fotografias, revistas, jornais, desenhos etc.). Execução: primeiramente, cada estudante (ou dupla, trio, grupo) elege uma ou mais imagens as quais serão reproduzidas para os colegas. A partir da primeira imagem, busca-se passar para as imagens subsequentes, preenchendo os “espaços vazios” com movimentos.Uma variação é constituir uma sucessão de movimentos a partir da temática sugerida pela imagem. Outra variação possível: o cruzamento das imagens, fundindo-as e separando-as. 2.4.3 Tempo O ser humano opera no espaço com seu próprio tempo e num particular momento do processo histórico cada presente temporal é um momento que contém um passado e se projeta para o futuro. A distinção entre presente, passado e futuro é quase convencional, porque o tempo é um incessante transcorrer que em um preciso instante qualquer, no momento mesmo em que é pensado ou vivido, deixa de ser presente e se torna passado tanto quando percorremos o passado ou projetamos o futuro, estamos sempre em um aqui e agora que implica os três tempos históricos. Há um vínculo intrínseco entre homem e tempo (idiossincrático): - tempo interno (interior) – tempo de ação/reação que rege o indivíduo; - tempo exterior – baseado no entorno e nas fontes de estímulo no ambiente. Considera-se fundamental vincular o mundo profundo do imaginário com a realidade do tempo externo. Para enriquecer o movimento e sustentá-lo, é importante desenvolver um ouvido alerta e afinado, capaz de registrar os estímulos sonoros. Os estímulos podem chegar por vias não auditivas (visuais e táteis) e igualmente provocar U1 39Sensibilidade corporal respostas, e, mesmo estando estático, um indivíduo poderá responder com mudanças de tonicidade. PROPOSTA DE ATIVIDADE Zip zap boing: o objetivo é o desenvolvimento da atenção e percepção do ritmo. Execução: Variação: zip mantém o ritmo, zap acelera o ritmo e boing (ou zop) diminuem o ritmo. Variação: zip zap zop – mais simplificada. A ação é passada para qualquer participante do grupo, não podendo se repetir a palavra, deve-se respeitar a ordem das mesmas. Variação 2: zip mantém o sentido horário, zap para o sentido anti-horário e zop para quebrar o círculo e transferir o movimento a partir de outro participante. Variação 3: zum acelera o ritmo, zem diminui o ritmo. Os movimentos humanos podem ainda ser divididos em duas categorias: movimentos tangíveis e movimentos intangíveis. O ser humano movimenta-se para satisfazer determinada necessidade ou realizar algum desejo, por exemplo: quando estamos com sede, pegamos um copo, nos deslocamos até um o recipiente com água e enchemos o copo – esta é a parte tangível do movimento. Em contraposição, a forma como nos deslocamos até o recipiente, apanhamos o copo e derramamos a água dentro do copo, o jeito de engolir a água, seriam as partes intangíveis do movimento, seriam, propriamente, a descrição do que nos motiva e se manifesta numa linguagem velada através do movimento. Para demonstrar esta intangibilidade, necessitaríamos decodificar os esforços realizados e os fatores que os materializam: energia, tempo e espaço. Em suas combinações, estes fatores produzem estados, qualidades, ações de movimento e, paralelamente, podem denotar as ações psíquicas presentes em nossas ações. Para maiores informações sobre os estudos de Laban acerca do movimento e suas implicações na educação, sugerimos a leitura da obra U1 40 Sensibilidade corporal “O domínio do movimento”. LABAN, Rudolf V.; ULLMANN, L. (Org.). O domínio do movimento. São Paulo: Summus, 1978. PROPOSTAS DE ATIVIDADE Estátua (moldagem): o objetivo é apresentar conhecimentos a respeito dos limites do corpo. Juntamente com o posicionamento estático, pode-se trabalhar a expressão com o corpo e fisionomia: sentimentos como alegria, tristeza, medo, pavor, ira, orgulho, cinismo, desanimo, desprezo etc. Execução: os estudantes deslocam-se pelo espaço, ritmados por estímulo externo (palmas, contagem, música etc.) Ao sinal do professor, os estudantes imobilizam-se buscando expressar a emoção sugerida pelo professor. Uma variação é o trabalho em grupos (ou duplas, trios), para que um grupo possa observar o outro, analisando conjuntamente a execução da proposta, sugerindo correções e avaliando os resultados. Marionetes: o objetivo é o desenvolvimento da percepção tátil e desenvolvimento de confiança no companheiro ao deixar-se conduzir, estabelecendo relações de confia nça. Execução: em duplas ou trios. Um dos participantes é conduzido pelo espaço a partir de estímulos proporcionados pelo toque de seus companheiros. Um toque na mão direita para cima indica que este é o ponto de partida para o movimento. Um novo toque na coxa esquerda em sua região posterior indica o levantamento da perna ou o giro a partir deste membro e assim sucessivamente. Uma variação é o estímulo visual das mãos funcionando como “imãs” que atraem as partes do corpo do executante. Sentados: o objetivo é o desenvolvimento da percepção tátil e estímulo ao trabalho cooperativo. Execução: forma-se um círculo com os participantes alinhados um em frente ao outro, sucessivamente, como um dominó com as mãos nos ombros do companheiro da frente. Ao comando do professor, todos se sentarão no colo (sobre as coxas) do participante de trás. Na sequência, soltam-se as mãos dos ombros do colega da frente, estando todo o grupo sentado uns apoiados aos outros. U1 41Sensibilidade corporal 2.5 A percepção e a imaginação criadoras A construção artística é constituída de associações, reuniões, interações, combinações de elementos potenciais materiais e imateriais, compartilhados e entrelaçados no espaço-tempo. A arte tem tanto um caráter técnico racional, quanto outro mais subjetivo, ligado ao prazer estético, de quem faz ou de quem frui a arte. Para Pareyson (1997), um processo artístico de criação é uma construção que tem dois grandes e fortes aliados: a imaginação e o trabalho. Bosi (1985) polemiza o grau de subjetividade presente no uso da técnica: até onde chegam as técnicas aprendidas e onde começa a poética pessoal, a forma viva. O fazer do artista é tal que enquanto opera, inventa o que deve fazer e o modo de fazê-lo. “O corpo, em cena, busca incessantemente sair de si, encontrar-se com um ser (ou em um ser) que lhe dê em plenitude a mesma vida que o aquece e que move cada gesto seu” (SOUZA, 2013, p. 32). Como dissemos anteriormente, à medida que ampliamos nosso repertório (ao adquirirmos novas informações e temos novas experiências/vivências), nossa percepção se altera. A presença e a condição do observador modificam o fenômeno. Desta forma, torna-se relevante considerar cada vez mais a importância do exercício contínuo da percepção, que está intrinsecamente ligada à emoção e à memória: se bato em alguma parte de meu corpo, sinto a dor imediatamente; se lembro de ter me machucado ontem, posso provocar em mim, hoje, uma sensação análoga. Não é a mesma dor, mas memória dessa dor. As sensações necessitam de enriquecimento, que é papel do modelo mental. No teatro, o trabalho de Stanislavski sobre as ações físicas vão também nesse sentido; ideias, emoções e sensações estão indissociavelmente entrelaçadas. Um movimento corporal é um pensamento: um pensamento que se exprime corporalmente. É fácil compreender isso observando os casos mais evidentes: a ideia de comer pode provocar a salivação, o amor pode provocar um sorriso, a raiva pode provocar o endurecimento da face etc. Isso será menos evidente quando se tratar de uma maneira particular e andar, de sentar, de comer, de beber, de falar. Portanto, todas as ideias, todas as imagens mentais, todas as emoções se revelam fisicamente. Para maiores informações sobre Konstantin Stanislavski e o Teatro de Artes de Moscou, assista ao documentário “O século de Stanislavski – os construtores de utopia" nos endereços eletrônicos <https://www. youtube.com/watch?v=ah-EUEckox0> (parte 1) e <https://www.youtube. com/watch?v=6avRE8mM0lM> (parte 2). Acesso em: 12 set. 2016. U1 42 Sensibilidade corporal A imaginação e a criatividade estãoem qualquer dos âmbitos da vida dos indivíduos: cultura, artes e ciência, assim como no desenvolvimento de técnicas. A criatividade é frequentemente referenciada como a capacidade de criação, de invenção e de imaginação; como competência de produzir obra nova, porque original e inesperada, bem como apropriada, porque útil e adaptável aos constrangimentos de uma dada tarefa. Outro aspecto importante, a criatividade tem uma origem social, veiculada através da atividade de troca simbólica entre os indivíduos; é historicamente determinada e faz parte de um sistema de significação mais complexo, que se modifica ao longo dos estágios de desenvolvimento humano. A imaginação, faculdade e produção de imagens, enquanto disposição criadora, constitui-se, ao mesmo tempo, no conjunto das imagens que forma; acontece inevitavelmente na construção do saber, sendo ainda capaz de subverter todas as hierarquias e de se alienar às outras faculdades do espírito. É, pela sua natureza, antecipatória, pois possibilita ir além do aprendido diretamente. A imaginação é fundamento da atividade criativa, realização humana geradora do novo, quer se trate dos reflexos do mundo exterior ou de determinadas elaborações do cérebro e do sentir, que vivem e se manifestam no próprio ser humano. O jogo artístico é uma atividade em que a imaginação criativa surge, de início, orientada pela percepção e pela memória sensorial e, depois, mediada simbolicamente. Em nossa experiência, é possível depreender que o jogo tem papel preparatório para o desenvolvimento do pensamento analítico, permanecendo ao longo da vida com o indivíduo. Como dito anteriormente, o princípio do jogo, nas artes cênicas, é a troca, a comunicação que emerge a partir da criatividade e espontaneidade das interações entre sujeitos mediados pela linguagem teatral, que se encontram engajados na solução cênica de um problema de atuação. Em torno da representação teatral se combinam e entremeiam as diferentes formas de criatividade: técnica, artística, verbal e dramática no sentido pleno da palavra. Está expresso também o ciclo da imaginação: as imagens criadas a partir de elementos da realidade, ainda que de modo condicional; o anseio para a ação, representação e concretização que está presente no próprio processo da imaginação. Ao dramatizar, o jogador assume um caráter de síntese: os domínios intelectual, emocional e volitivo são estimulados diretamente pela força natural da própria vida, sem estímulo externo, sem nenhuma tensão excessiva do seu psiquismo. Tais apontamentos não levam em consideração a mera reprodução das formas, mas de processos autorais. O seu valor não reside no resultado, no produto da criação, mas no próprio processo. U1 43Sensibilidade corporal PROPOSTAS DE ATIVIDADE Coordenação (dig-joy): o objetivo é coordenar ação e percepção. Execução: em círculo, a atividade consiste da repetição contínua e ritmada da frase “dig-dig-joy, dig-joy, joy-joy”. Na sequência, elege-se um participante para ser o criador, o elemento que dá início à ação (este participante elabora uma nova movimentação a cada repetição da frase musical). A cada reinício da frase musical, o parceiro da direita mimetiza o movimento apresentado pelo executante da esquerda. A ação se repete até que todos os participantes estejam executando movimentos diferentes, reproduzindo a expressão corporal e gestual dos colegas, a partir de estímulo visual, e sonoro, proporcionado pela música cantada. Uma variação é a eleição de mais participantes, dividindo o círculo em duas, três ou quatro partes. Desta forma, a ação se torna mais complexa. Outra variação é a execução do jogo em linha. O primeiro participante cria e os de trás copiam. Mímica: o objetivo é o desenvolvimento da expressão corporal do estudante. Execução: alguém do grupo (o professor, um estudante ou o grupo, coletivamente) conta uma pequena história. A seguir, tentam recontar a mesma história sem utilizar palavras. Uma variação é a invenção de uma história a partir de elementos fornecidos pelos próprios estudantes, no momento da realização do exercício. Ex.: o professor sugere um cenário (uma quadra de esportes, um teatro, uma praia) e cada estudante acrescenta um elemento: numa tarde de domingo, eu e meu irmão passeávamos pelo parque quando decidimos brincar na quadra de esportes. Alguém sugere a continuação: neste momento, um garoto se aproxima e pede para que joguemos com ele. Outro estudante acrescenta: mas o garoto tinha um ar muito suspeito, ele escondia alguma coisa! Ao que o próximo estudante complementa... Outra variação é a simultaneidade entre a fala e a ação: enquanto um grupo conta a história, o outro a encena. Em seguida, trocam-se as funções. Outras possibilidades de trabalho com mímica podem fazer parte do repertório do professor: sentados em círculo, em silêncio, um primeiro participante criará com as mãos um objeto (ou animal), que será passado ao componente mais próximo, que ao receber o presente observando bem do que se trata, transformando-o em outra coisa qualquer, passando adiante e U1 44 Sensibilidade corporal assim sucessivamente. As criações serão recebidas em todo seu aspecto, ou seja: peso, consistência, cheiro etc. Depois de todos terem feito o exercício, cada um deverá responder ao que recebeu de seu colega. Objetiva o desenvolvimento da cognição, habilidades motoras e criatividade. Expressão vocal e corporal (a máquina/engrenagem): o objetivo é concatenar movimento, gesto e voz. Execução: individualmente, os estudantes realizam um conjunto de movimentos associados a sons por eles produzidos. A seguir, os estudantes adaptam seus movimentos aos dos colegas, criando uma engrenagem com todos os presentes. Uma variação é subdividir o grupo, produzindo outras máquinas distintas. 1. De acordo com o texto estudado na Seção 2, além dos cinco sentidos clássicos, quais as outras percepções que o corpo humano tem e que são possíveis de desenvolver? 2. De acordo com o que foi estudado, a imaginação e a criatividade estão em qualquer dos âmbitos da vida dos indivíduos: cultura, artes e ciência, assim como no desenvolvimento de técnicas. Quais são as principais características que definem estes dois termos no texto? Nesta unidade de estudos, você aprendeu sobre: - Aspectos relevantes ao desenvolvimento da sensibilidade corporal na formação do indivíduo, compreendendo o movimento humano como forma de comunicação e expressão. U1 45Sensibilidade corporal - A sensibilidade corporal e a exploração das percepções humanas como fundamentais para a formação do artista no âmbito das artes cênicas. - Os conceitos de percepção e imaginação criadoras e sua relação para o desenvolvimento da sensibilidade artística. Nos estudos atuais no âmbito das artes cênicas, podemos perceber que o corpo detém a centralidade dos processos de construção da linguagem. Pudemos compreender que cada indivíduo tem, potencialmente, a capacidade de dar vida e personalidade a personagens, o que se constitui como presença cênica. Por meio de exercícios que contribuam para a ampliação de suas percepções sensoriais (principalmente da propriocepção), o estudante ampliará a consciência acerca de suas limitações físicas e exploração de novos limiares da linguagem corporal, assim como desenvolverá a percepção e a imaginação criadoras, entendidos aqui como elementos fundamentais para o desenvolvimento da sensibilidade artística. Sinestésico-cinestésico se refere à integração de duas condições no campo da pesquisa da linguagem. A primeira, sinestesia, se refere à capacidade de tradução interpercepções, estabelecendo relações entre uma percepção de um domínio do sentido e outro domínio evocado. O segundo termo, cinestesia, refere-se à percepção dos movimentos musculares,
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