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1 DIREITO PROCESSUAL CIVIL DA INTERVENÇÃO DE TERCEIROS Neste artigo será tratado a forma pela qual o Novo Código de Processo Civil trata ao trema da Intervenção de Terceiros, apontando as diferenças com relação ao Estatuto anterior, bem como as alterações e novidades trazidas em seu Título III do Livro III, especialmente sobre as novas modalidades inseridas, quais sejam, o Incidente de Desconsideração de Personalidade Jurídica e o Amicus Curiae. No Novo CPC, a Oposição deixou de ser uma modalidade de Intervenção de Terceiros passando a ser um procedimento especial disciplinado no artigo 682 e seguintes do NCPC. A modalidade da Nomeação à Autoria deixou de existir, onde por força do artigo 339 do NCPC, quando o réu alegar em sede de preliminar a ilegitimidade de parte, deverá indicar o sujeito passivo da relação jurídica, sempre que tiver de conhecimento, sob pena de arcar com as despesas processuais e de indenizar o autor pelos prejuízos decorrentes da falta de indicação. Por fim, houve a inserção de duas modalidades novas: o Incidente de Desconsideração de Personalidade Jurídica, disciplinado nos artigos 133 ao 137 do NCPC e do Amicus Curiae tratado no artigo 138 deste Código. O dia que chegar, chegou. Pode ser hoje ou daqui a 50 anos. A única coisa certa é que ela vai chegar. Ayrton Senna 2 INTERVENÇÃO TERCEIROS Processo Civil Brasileiro – Alexandre Freitas Câmara. – 3. ed. – 2017 (5) Chama-se intervenção de terceiro ao ingresso de um terceiro em um processo em curso. Terceiro – frise-se – é todo aquele que não é sujeito de um processo. Assim, sempre que alguém que não participa de um processo nele ingressa e dele começa a participar tem-se uma intervenção de terceiro. É importante ter claro que o terceiro só é terceiro antes da intervenção. A partir do momento em que ingressa no processo ele passa a ser um de seus sujeitos e, portanto, adquire a qualidade de parte. Afinal, é parte do processo todo aquele que se apresenta como um sujeito do contraditório, podendo atuar de forma a exercer influência na formação do resultado do processo. DA ASSISTÊNCIA DA DENUNCIAÇÃO DA LIDE DO CHAMAMENTO AO PROCESSO DO INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA DO AMICUS CURIAE 3 E é exatamente assim que atua o terceiro interveniente, qualquer que seja a modalidade de intervenção. O terceiro, pois, ao intervir, torna-se parte do processo. Nem sempre, porém, será ele parte da demanda. É que em algumas modalidades de intervenção de terceiro o interveniente não assume nem a posição de demandante nem a de demandado (como se dá, por exemplo, nas assistências). Em outros casos, porém, o terceiro interveniente se torna parte da demanda, como acontece no chamamento ao processo, em que o chamado vira réu, assumindo uma posição passiva na demanda que deu origem ao processo (e, assim, se litisconsorciando ao demandado original). A intervenção do terceiro pode ser voluntária ou forçada. É voluntária naqueles casos em que o terceiro, espontaneamente, vai ao processo e postula sua intervenção. De outro lado, é forçada quando o terceiro ingressa no processo independentemente de sua vontade (e até mesmo contra ela), sendo citado. São intervenções voluntárias a assistência e o recurso de terceiro (que, porém, não será examinado aqui, mas na parte deste trabalho dedicada ao estudo dos recursos). São intervenções forçadas a denunciação da lide, o chamamento ao processo, a intervenção resultante do incidente de desconsideração da personalidade jurídica. Por fim, pode ser voluntária ou forçada a intervenção do amicus curiae. DA ASSISTÊNCIA “Ronaldo Cramer” A assistência é modalidade de intervenção de terceiros ad coadjuvandum, por meio da qual um terceiro ingressa no processo alheio para colaborar com uma das partes. A assistência tem duas espécies: a simples e a litisconsorcial. De imediato, duas novidades são identificadas nos dispositivos sobre a assistência no CPC/2015. 4 A primeira refere-se à localização do instituto. No CPC/1973, a assistência encontrava-se inserida no capítulo intitulado “Do Litisconsórcio e da Assistência”, em vez de no capítulo sobre intervenção de terceiros. Andou bem o CPC/2015 ao prever o instituto na parte sobre intervenção de terceiros, mais especificamente no Título III, “Da Intervenção de Terceiros”, do Livro III, “Dos sujeitos do processo”. Não há dúvida de que a assistência constitui forma de intervenção de terceiros e deve estar regulada entre os demais institutos desse tema. A segunda novidade está na forma de disposição dos artigos. O CPC/1973 continha seis artigos sobre assistência, sem discriminar expressamente quais se aplicavam a qual tipo de assistência. O CPC/2015, por sua vez, previu duas regras gerais na Seção “Disposições Comuns”, três dispositivos sobre assistência simples na Seção “Da Assistência Simples” e um artigo sobre assistência litisconsorcial na Seção “Da Assistência Litisconsorcial”. Com efeito, a boa organização dos dispositivos colaborará para a melhor interpretação do texto legal. O art. 119 é praticamente idêntico ao art. 50 do CPC/1973. Art. 119. Pendendo causa entre 2 (duas) ou mais pessoas, o terceiro juridicamente interessado em que a sentença seja favorável a uma delas poderá intervir no processo para assisti-la. Parágrafo único. A assistência será admitida em qualquer procedimento e em todos os graus de jurisdição, recebendo o assistente o processo no estado em que se encontre. 5 No caput, encontra-se a definição de assistência. Assistência constitui modalidade de intervenção de terceiro, em que este, tendo interesse jurídico na vitória de uma das partes, ingressa no processo para colaborar com ela. A assistência constitui forma de intervenção espontânea, pois a entrada do terceiro no processo depende apenas de sua inciativa. INTERESSE JURÍDICO O principal requisito da assistência é o interesse jurídico. Para viabilizar a assistência, pouco importa outro tipo de interesse, como afetivo, religioso, moral, político ou econômico, é preciso que o terceiro tenha interesse jurídico em que uma parte saia vencedora do processo. Interesse jurídico é demonstrado pela possibilidade de a decisão proferida em processo alheio afetar a esfera jurídica de terceiro. Por exemplo, é meramente econômico o interesse do credor A em que a ação proposta pelo credor B contra o devedor comum C seja julgada improcedente. Nesse caso, o credor A não quer a derrota do devedor C, pois tal resultado acarretaria a diminuição do patrimônio deste último e, por conseguinte, poderia impossibilitar o pagamento de seu crédito. Porém, é jurídico o interesse do devedor solidário A em ajudar o devedor solidário B, na ação de cobrança da dívida comum. Caso o devedor solidário B perca a ação, o devedor solidário A terá a responsabilidade de reembolsar o pagamento de sua parte na dívida. Cuidado na prova! A depender da espécie de assistência, se simples ou litisconsorcial, o interesse jurídico tem dimensões distintas. Na assistência simples, o interesse jurídico é de menor intensidade, porque o assistente é titular de relação jurídica subordinada à relaçãojurídica objeto do processo alheio. 6 Na assistência litisconsorcial, o interesse jurídico apresenta-se mais relevante, uma vez que o assistente se configura integrante da própria relação jurídica discutida em juízo. Como se verá mais à frente, o assistente litisconsorcial é caso de litisconsórcio unitário facultativo ulterior. CABIMENTO DA ASSISTÊNCIA O parágrafo único contém regra já conhecida. Admite-se a assistência em qualquer procedimento e em todos os graus de jurisdição, sendo certo que o assistente recebe o processo no estado em que se encontra. Como já se pugnava no CPC/1973, “qualquer procedimento” deve ser entendido como qualquer rito que vise à prolação de sentença. Repare-se que, no caput do art. 119, está dito que o assistente é o terceiro com interesse jurídico na prolação de sentença favorável a uma das partes. Logo, só se deve admitir a assistência nos procedimentos que resultem em prolação de sentença sobre o conflito entre as partes, o que afasta o cabimento do instituto em procedimentos executivos, seja no processo de execução, seja na fase de cumprimento de sentença. Art. 119. Pendendo causa entre 2 (duas) ou mais pessoas, o terceiro juridicamente interessado em que a sentença seja favorável a uma delas poderá intervir no processo para assisti-la. Parágrafo único. A assistência será admitida em qualquer procedimento e em todos os graus de jurisdição, recebendo o assistente o processo no estado em que se encontre. 7 “Humberto Theodoro Junior” A intervenção do terceiro, como assistente, pressupõe interesse. Mas seu interesse não consiste na tutela de seu direito subjetivo, porque não integra ele a lide a solucionar; mas na preservação ou na obtenção de uma situação jurídica de outrem (a parte) que possa influir positivamente na relação jurídica não litigiosa existente entre ele, assistente, e a parte assistida. “Daniel Assumpção Amorim” A assistência é a única espécie de intervenção de terceiros típica admitida em qualquer espécie de processo, inclusive no de execução, como bem demonstra o art. 834 do CC. Certamente é característica que a distingue das demais espécies de intervenção de terceiros típicas, cujo cabimento é restrito ao processo/fase de conhecimento. Apesar de o parágrafo único do art. 119 do Novo CPC ter mantido a previsão do parágrafo único do art. 50 do CPC/1973, no sentido de ser a assistência cabível em qualquer espécie de procedimento, essa é apenas a regra, existindo exceções. Ainda que realmente haja uma amplitude em tal cabimento (procedimento comum, especial, de jurisdição voluntária), existem três exceções dignas de nota: (a) procedimentos dos Juizados Especiais Cíveis (art. 10 da Lei 9.099/1995); (b) processo objetivo (art. 7.º da Lei 9.868/1999); e (c) mandado de segurança. Mantendo a tradição do direito anterior, a assistência continua a ser admitida em qualquer grau de jurisdição, portanto a qualquer momento procedimental (desde a petição inicial até o trânsito em julgado). Diferentemente das outras espécies de intervenção de terceiros típicas, não se aplica à assistência o fenômeno da preclusão temporal. 8 O Superior Tribunal de Justiça já teve a oportunidade de indeferir pedido de assistência em sede de embargos de divergência em razão da especial natureza de tal recurso, e o Supremo Tribunal Federal já admitiu o pedido em sede de recurso extraordinário. O juiz pode indeferir o pedido de assistência liminarmente na hipótese de manifesta inadmissibilidade ou improcedência da pretensão. É o caso, por exemplo, de um pedido fundado em interesse meramente econômico ou ainda em procedimento que não admite tal espécie de intervenção, como o procedimento sumaríssimo dos Juizados Especiais. Caso não indefira liminarmente o pedido de assistência, o juiz intimará as partes que terão um prazo comum de quinze dias para se manifestar, dez dias a mais do que tinham sob a égide do CPC/1973. O caput do art. 120 do Novo CPC inova ao deixar de prever a necessidade de criação de autos em apenso na hipótese de haver impugnação de uma ou de ambas as partes. Prestigiam-se, dessa forma, a simplicidade e a celeridade, decidindo-se o pedido incidentalmente nos próprios autos principais. Apesar da omissão legal, havendo manifestação favorável ao ingresso do terceiro no processo, o procedimento será o mesmo. No inciso II do art. 51 do CPC/1973, havia previsão expressa de autorização para a produção de provas, regra não repetida no artigo ora comentado. Trata-se de supressão indevida. Ainda que se reconheça que a necessidade de produção de provas nesse caso é de extrema raridade, sendo necessária, e mesmo sem previsão legal a respeito, ela deve ser admitida em respeito ao princípio do contraditório. 9 Ao prever que, não havendo manifestação das partes, o juiz deferirá o pedido de intervenção, caso não seja hipótese de rejeição liminar, o dispositivo ora comentado afasta dúvida gerada pela redação do art. 51, caput, do CPC/1973, que dava a entender que o mero silêncio das partes gerava automaticamente a intervenção do terceiro. Atendendo a crítica doutrinária, o caput do art. 120 do Novo CPC não deixa dúvida de que mesmo diante do silêncio das partes o juiz pode indeferir o pedido de assistência se entender não preenchidos os requisitos legais de tal espécie de intervenção. Mantendo tradição do direito anterior, o art. 120, parágrafo único, do Novo CPC prevê que o pedido de assistência e o procedimento para sua decisão não suspendem o processo, que continuará a tramitar normalmente. Da decisão que admite ou não a intervenção do terceiro como assistente cabe o recurso de agravo de instrumento, nos termos do art. 1.015, IX, do Novo CPC. O assistente simples não defende direito próprio na demanda, apenas auxiliando o assistido na defesa de seu direito, de forma que a sua atuação no processo está condicionada à vontade do assistido, não se admitindo que a sua atuação contrarie interesses deste. Essa subordinação da atuação do assistente simples, apesar de não estar prevista expressamente em lei, é decorrência natural das razões que fundamentam a participação do assistente no processo, não sendo crível que um sujeito que ingressa no processo com a função de auxiliar da parte atue contrariamente aos seus interesses. Essa necessária condição de subordinação na atuação do assistente simples não significa que ele só possa praticar atos que o assistido já tenha praticado, porque nesse caso será muito limitada a atuação auxiliar desse assistente. A única postura vedada ao assistente simples é contrariar a vontade expressa do assistido, praticando ato processual contrário a ato processual praticado pelo assistido em sentido diverso do pretendido pelo assistente. 10 Não há, entretanto, nenhum obstáculo para praticar atos diante da mera omissão do assistido, entendimento, inclusive, que otimiza a atuação do assistente simples, considerando-se que somente repetir o que já foi realizado pelo assistido seria delimitar demasiadamente a importância do auxílio. Infelizmente, entretanto, o Superior Tribunal de Justiça vinha entendendo pela inadmissibilidade do recurso do assistente diante da inércia recursal do assistido, com fundamento ora na falta de legitimidade, ora pela falta de interesse do assistente, dando a entender que a omissãodo assistido não permitiria a atuação do assistente. Obs. Em razão desse entendimento jurisprudencial, deve ser saudada a redação do parágrafo único do art. 119 do Novo CPC no sentido de que mesmo diante de omissão do assistido o assistente será considerado seu substituto processual, de forma que poderá livremente praticar o ato processual. O ato, entretanto, poderá se tornar ineficaz se posteriormente o assistido se manifestar expressamente contra sua prática. Afinal, a subordinação do assistente à vontade do assistido continuará a ser a regra mesmo em face de ato praticado por aquele diante da omissão deste. Por outro lado, sendo possível no acordo de procedimento previsto no art. 190 do Novo CPC a convenção sobre ônus processuais, é importante afastar a atuação do assistente diante da omissão do assistido quando ela for decorrência de tal ajustamento prévio. Dessa forma, caso as partes convencionem que não será cabível o recurso de agravo de instrumento no processo, a omissão do assistido diante de uma decisão interlocutória não decorrerá de vontade espontânea ou de desídia, mas de compromisso previamente firmado. E nesse caso o assistente não poderá ser considerado substituto legal do assistido, e qualquer ato por ele praticado será ineficaz. 11 Havia uma interessante especialidade no tocante à atuação do assistente simples prevista pelo art. 52, parágrafo único, do CPC/1973, que previa a hipótese de revelia do assistido, e nesse caso considerava o assistente seu gestor de negócios. A doutrina era uníssona em criticar o dispositivo legal porque a qualidade processual do assistente diante da revelia do assistido não era propriamente de gestor de negócios, instituto de direito material, e com características muito distintas da atuação do assistente. Sempre se defendeu que, em vez de gestor de negócios, o assistente deveria se tornar substituto processual do assistido revel. O parágrafo único do art. 121 do Novo CPC prestigiou a doutrina e consagrou a qualidade de substituto processual do assistente não só na hipótese de revelia do assistido, mas pontualmente diante de qualquer omissão sua. Cumpre consignar, entretanto, que se trata de uma espécie sui generis de substituição processual, considerando-se que o “substituído” faz parte da relação jurídica processual, sendo somente uma parte relapsa em se defender. Certamente causa estranheza num primeiro momento a verificação de que para que exista a assistência litisconsorcial seja necessário que o titular do direito não faça parte do processo que tenha como objeto justamente o seu direito. Em regra, tal situação não poderia ocorrer, mas excepcionalmente admitir-se-á que terceiro titular do direito não participe do processo em que o seu direito é discutido. Trata-se das hipóteses de legitimação extraordinária, pela qual é possível que seja parte processual um sujeito que não é titular do direito (substituição processual) ou de sujeito que é titular com outros sujeitos (cotitulares) que não precisam participar do processo para que este seja válido e eficaz. Era justamente nesse sentido a novidade da previsão do parágrafo único do art. 124 do Novo CPC no projeto de lei aprovado na Câmara ao consagrar expressamente que o colegitimado intervirá no processo na qualidade de assistente litisconsorcial. 12 No texto final aprovado pelo Senado essa norma foi suprimida, o que, entretanto, não deve alterar o entendimento jurisprudencial a respeito do tema. PROCEDIMENTO DE ADMISSÃO DO ASSISTENTE O art. 120 corresponde ao antigo art. 51. No artigo ora comentado, encontra- se previsto o procedimento para admissão do pedido de assistência. Como forma de intervenção voluntária, a assistência depende de requerimento de terceiro. Feito o requerimento, o juiz pode, antes de ouvir as partes, indeferi-lo liminarmente. A rejeição liminar do pedido de assistência é uma novidade do CPC/2015. O indeferimento liminar será possível sempre que o juiz verificar, desde logo, a ausência de qualquer um dos requisitos para a admissão da assistência. Se não rejeitar liminarmente o pedido, o juiz intimará as partes para se manifestarem no prazo de 15 dias, e não em 5 dias, como era previsto no CPC/1973. Se qualquer uma das partes impugnar o pedido, o juiz decidirá o incidente, sem suspender o processo, podendo realizar, se for o caso, rápida instrução probatória. Destaque-se que, diferentemente do CPC/1973, o CPC/2015 não exige a autuação em apenso do pedido de assistência impugnado, o que demonstra que o incidente será julgado nos autos principais. Atenção! DECISÃO QUE JULGA O PEDIDO DE ASSISTÊNCIA A decisão que julga o pedido de assistência é interlocutória e está sujeita a agravo de instrumento, por expressa previsão do inciso IX do art. 1.015. Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre: IX - admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros; 13 ASSISTÊNCIA SIMPLES “Ronaldo Cramer” Assistência simples é a intervenção do terceiro que tem relação jurídica dependente da relação jurídica deduzida em juízo e, por esse motivo, quer ingressar no processo para colaborar com a vitória de uma das partes. Exemplo de assistência simples é o caso do sublocatário que ingressa na ação de despejo a fim de evitar a derrota do locatário. Como a relação de sublocação é subordinada à de locação, se esta for rescindida, aquela também será extinta. ASSISTENTE SIMPLES É PARTE? _____________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________ A doutrina discute se o assistente simples é parte no processo no qual intervém. Parcela dos autores entende que não, porquanto o assistente simples não pede ou contra ele não se pede nenhuma tutela jurisdicional, sendo mero “auxiliar da parte principal”. Outra parcela sustenta que o assistente simples, ao intervir na ação, torna-se parte, já que não pode existir terceiro dentro da relação processual. Entrou na relação processual e passou a poder exercer os mesmos comportamentos das partes é parte. Fico com a segunda posição. Com efeito, partindo da premissa do conceito liebmaniano de parte, segundo o qual parte é o sujeito do contraditório na relação processual, o assistente simples, ao ingressar no processo e assumir os mesmos poderes, faculdades, deveres e ônus das partes, transforma-se em parte. O parágrafo único do art. 121 do CPC/2015 reforça esse entendimento ao prever que o assistente simples, na hipótese de omissão do assistido, atua no processo como seu substituto processual. Efetivamente, só pode atuar dessa forma quem é parte na relação processual. 14 PODERES DO ASSISTENTE SIMPLES O caput do art. 121 diz que o assistente simples exerce os mesmos poderes e se sujeita aos mesmos ônus do assistido. Explique-se melhor. O assistente simples atua em reforço dos atos praticados pelo assistido. Porém, quando o assistido não exerce o ato processual, o assistente simples pode suprir a omissão, agindo como seu substituto processual, conforme previsão expressa do parágrafo único do art. 121. Vejam-se os exemplos: 1) se o assistido interpõe apelação, o assistente simples também pode protocolar a sua apelação; 2) se o assistidonão interpõe apelação, o assistente simples pode entrar com o recurso, atuando como seu substituto processual (vide, entre outros julgados do STJ, REsp nº 205.516/SP). O ASSISTENTE SIMPLES NÃO IMPEDE ATOS DE DISPOSIÇÃO DE DIREITO O art. 122 do CPC/2015 repete, com algumas alterações, o art. 53 do CPC/1973. Como já visto, o assistente simples age no processo para reforçar os atos do assistido, bem como praticar atos não exercidos pelo assistido, atuando como seu substituto processual. No entanto, conforme dispõe o art. 122, o assistente simples não pode impedir que o assistido reconheça a procedência do pedido, desista da ação, renuncie ao direito sobre o qual se funda a demanda e celebre transação. Em relação ao antigo art. 53, o art. 122 incluiu, dentre os comportamentos do assistido que não podem ser evitados pelo assistente simples, a renúncia ao direito. O que o art. 122 quer dizer é que os atos de disposição de direito praticados pelo assistido vinculam o assistente simples, que não pode contrariá-los. Por exemplo, caso o assistido renuncie expressamente ao direito de recorrer contra uma determinada decisão, o assistente simples não pode interpor o respectivo recurso. 15 ATENÇÃO! INAPLICABILIDADE DO ART. 122 NO CASO DE ASS. LITISCONSORCIAL Não é demais frisar que o art. 122 somente se aplica à assistência simples. Na hipótese de assistência litisconsorcial, todo e qualquer ato de disposição de direito praticado pelo assistido depende da anuência do assistente, já que existe entre ambos litisconsórcio unitário. Art. 122. A assistência simples não obsta a que a parte principal reconheça a procedência do pedido, desista da ação, renuncie ao direito sobre o que se funda a ação ou transija sobre direitos controvertidos. “Humberto Theodoro Junior” Essas limitações restringem-se à assistência simples ou adesiva (art. 121). No caso de assistência litisconsorcial (art. 124), assumindo o assistente a qualidade de litisconsorte, ser-lhe-á lícito prosseguir na defesa de seu direito, ainda que a parte originária haja desistido da ação, haja reconhecido a procedência do pedido ou haja transacionado com o outro litigante. EFICÁCIA PRECLUSIVA DA INTERVENÇÃO O art. 123 do CPC/2015 corresponde ao art. 55 do CPC/1973. Ao intervir no processo, o assistente simples não fica sujeito à coisa julgada, isto é, à estabilidade da parte dispositiva da sentença. A coisa julgada somente alcança as partes originárias do processo, que são os sujeitos da relação de direito material deduzida em juízo. 16 O assistente simples encontra-se submetido a um fenômeno processual de vinculação distinto da coisa julgada, chamado eficácia preclusiva da intervenção, conforme disposto no caput do art. 123. A eficácia preclusiva da intervenção subordina o assistente simples à justiça da decisão, ou melhor, aos fundamentos da sentença proferida contra o assistido. Conforme o exemplo clássico: o tabelião intervém como assistente simples na ação em que se pede a anulação de escritura redigida por ele, sob a alegação de que há defeito formal no documento. Após o trânsito em julgado da sentença que julgar procedente o pedido, o tabelião não poderá discutir, na ação regressiva a ser proposta pela parte lesada, a existência do referido defeito. Em síntese, por força do fenômeno da eficácia preclusiva da intervenção, o assistente simples não pode questionar, em qualquer outro processo, os fatos e fundamentos jurídicos da sentença proferida contra o assistido. A eficácia preclusiva da intervenção distingue-se da coisa julgada principalmente por duas características: a) objeto: alcança os fundamentos da sentença, ao passo que a coisa julgada, em regra, atinge apenas a parte dispositiva (arts. 503 e 504); b) meio de impugnação: pode ser afastada nas hipóteses dos incisos do art. 123, enquanto que a coisa julgada somente pode ser desconstituída pela via restrita da ação rescisória. “Humberto Theodoro Junior” O assistente coadjuvante, não sendo parte, não pode sofrer, no sentido técnico, os consectários da res iudicata, mesmo porque apenas defende direitos de terceiro, ou seja, do assistido. No entanto, em razão de sua intervenção voluntária no processo, impõe-lhe o Código uma restrição que consiste em ficar impedido de voltar a discutir, em outros processos, sobre “a justiça da decisão”. Das ressalvas feitas nos incisos do art. 123, é fácil concluir que “a justiça da decisão” – sobre a qual o assistente não pode voltar a discutir – refere-se às questões de fato que influíram na sentença adversa à parte assistida e que, por isso, terá ferido algum interesse do interveniente. 17 “Humberto Theodoro Junior” Não há que se pensar em rediscussão direta pelo assistente, da relação material debatida e alcançada pela coisa julgada, pela razão óbvia de não envolver aquela relação direito algum do assistente. O que o art. 123 impede é, diante de eventuais efeitos externos (práticos) da sentença prejudiciais à relação jurídica do terceiro (aquela que justificou a assistência), venha ele a reabrir a discussão fundada em má-apreciação dos fatos e provas examinados e julgados em sua presença. Esse quadro fático, salvo as exceções dos itens I e II do art. 123, não poderá voltar à discussão por iniciativa do assistente, em futuro processo, sobre cujo objeto a sentença anterior tenha de repercutir, ainda que reflexamente. AFASTAMENTO DA EFICÁCIA PRECLUSIVA DA INTERVENÇÃO O art. 123 dispõe que a eficácia preclusiva da intervenção não se aplica ao assistente simples em duas situações: se, pelo estado em que recebeu o processo ou pelas declarações e pelos atos do assistido, foi impedido de produzir provas suscetíveis de influir na sentença; se desconhecia a existência de alegações ou de provas das quais o assistido, por dolo ou culpa, não se valeu. Dessa forma, compete a quem foi assistente simples provar no futuro processo a ocorrência de uma das hipóteses dos incisos do art. 123, para poder afastar a eficácia preclusiva da intervenção e discutir os fundamentos da sentença proferida contra o assistido. DA ASSISTÊNCIA LITISCONSORCIAL * CABIMENTO Como dito, o CPC/2015 separa os artigos sobre assistência simples e assistência litisconsorcial. O art. 124 trata da assistência litisconsorcial e constitui reprodução do caput do antigo art. 54. Não foi repetida a remissão contida no parágrafo único do art. 54, porque o procedimento de admissão da assistência encontra-se, no CPC/2015, nas disposições comuns do instituto. 18 O art. 124 dispõe que se considera assistente litisconsorcial o terceiro que tem relação jurídica com o adversário do assistido. Com isso, o artigo quer dizer que a assistência litisconsorcial tem cabimento na hipótese de o assistente integrar a relação jurídica de direito material objeto do processo. Como já exposto, exemplo de assistente litisconsorcial é o devedor solidário que deseja ingressar na ação de cobrança de dívida, proposta pelo credor comum contra o outro devedor solidário. Veja-se, nesse caso, que o assistente integra a relação jurídica de direito material deduzida em juízo, pois é um dos devedores da dívida cobrada. A assistência litisconsorcial configura-se hipótese de litisconsórcio unitário ulterior, em que o terceiro ingressa no processo e se torna litisconsorte unitário do assistido. PODERES DO ASSISTENTE LITISCONSORCIAL O assistente litisconsorcial age sem limitação,como se fosse parte originária do processo. Não há nenhuma diferença entre a atuação do assistido e a do assistente litisconsorcial. Não se aplica ao assistente litisconsorcial a limitação do art. 122, que vincula o assistente simples aos atos de disposição de direito praticados pelo assistido. Como a assistência litisconsorcial é caso litisconsórcio unitário, a regra de independência entre os litisconsortes é mitigada. As ações ou omissões de um litisconsorte podem favorecer o outro, mas nunca prejudicar. Logo, os atos de disposição de direito praticados por um litisconsorte apenas têm eficácia se forem ratificados pelo outro. Sobre os poderes do assistente litisconsorcial, vale destacar: Enunciado nº 11 do Fórum Permanente de Processualistas Civis (FPPC): “O litisconsorte unitário, integrado ao processo a partir da fase instrutória, tem direito de especificar, pedir e produzir provas, sem prejuízo daquelas já produzidas, sobre as quais o interveniente tem o ônus de se manifestar na primeira oportunidade em que falar no processo”. 19 Prazo em dobro Como litisconsortes, assistido e assistente litisconsorcial terão direito a prazo em dobro para praticar qualquer ato do processo, se estiverem representados por advogados de escritórios de advocacia diferentes, conforme dispõe o art. 229. Coisa julgada Como litisconsorte e integrante da relação jurídica deduzida em juízo, o assistente litisconsorcial encontra-se submetido à coisa julgada, não se lhe aplicando o art. 123. □ DENUNCIAÇÃO DA LIDE Art. 125. É admissível a denunciação da lide, promovida por qualquer das partes: I - ao alienante imediato, no processo relativo à coisa cujo domínio foi transferido ao denunciante, a fim de que possa exercer os direitos que da evicção lhe resultam; II - àquele que estiver obrigado, por lei ou pelo contrato, a indenizar, em ação regressiva, o prejuízo de quem for vencido no processo. § 1o O direito regressivo será exercido por ação autônoma quando a denunciação da lide for indeferida, deixar de ser promovida ou não for permitida. § 2o Admite-se uma única denunciação sucessiva, promovida pelo denunciado, contra seu antecessor imediato na cadeia dominial ou quem seja responsável por indenizá-lo, não podendo o denunciado sucessivo promover nova denunciação, hipótese em que eventual direito de regresso será exercido por ação autônoma. 20 “Lia Carolina Batista Cintra” Importante salientar logo de início que o Código de Processo Civil de 2015 não promoveu modificações substanciais na disciplina da denunciação da lide, mas certamente fez importantes escolhas em relação a algumas polêmicas surgidas na doutrina e na jurisprudência sob a vigência do Código de Processo Civil de 1973. A denunciação da lide é tradicionalmente estudada como uma das espécies de intervenção de terceiros previstas no ordenamento brasileiro; é intervenção provocada (não voluntária), porque a iniciativa de ingresso no processo não parte do terceiro, e há ampliação subjetiva e objetiva do processo por meio da introdução de uma demanda incidente movida pelo denunciante ao denunciado veiculando direito regressivo. “Lia Carolina Batista Cintra” Anote-se, contudo, que só é possível falar em verdadeira intervenção de terceiro quando promovida pelo réu; a denunciação da lide de iniciativa do autor nada mais é do que a formação originária de um litisconsórcio eventual, pois o direito em face do denunciado só pode existir se o denunciante for vencido na demanda principal. Como quer que seja, a denunciação da lide depende sempre da iniciativa de uma das partes. Não havendo denunciação da lide, o potencial denunciado poderá intervir voluntariamente como assistente simples, mas aí as consequências processuais desse ingresso serão absolutamente diversas (CPC/2015, arts. 119 a 123). CABIMENTO NO PROCESSO DE CONHECIMENTO E NO PEDIDO DE TUTELA PROVISÓRIA ANTECEDENTE Tendo a denunciação da lide natureza de demanda condenatória – obrigação de ressarcir – a doutrina entende que se trata de instituto de aplicação exclusiva ao processo de conhecimento. 21 A expressão “processo de conhecimento” não deve ser confundida com a expressão “procedimento comum”, de modo que não se afasta aprioristicamente o cabimento da denunciação da lide em alguns procedimentos especiais, inclusive no monitório. Na vigência do Código de Processo Civil de 1973 havia dúvida sobre a possibilidade de trazer para o processo cautelar, em alguns casos (especialmente quando se tratasse de produção antecipada de prova), mediante uma espécie de assistência provocada, aquele que poderia figurar como denunciado no processo principal. Esse entendimento foi acolhido na jurisprudência: “É admissível a intervenção de terceiro em ação cautelar de produção antecipada de prova, na forma de assistência provocada, pois visa garantir a efetividade do princípio do contraditório, de modo a assegurar a eficácia da prova produzida perante aquele que será denunciado à lide, posteriormente, no processo principal” (STJ, 3ª T., REsp nº 213.556/RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, unânime, j. em 20/8/2001, DJ de 17/9/2001). “[...] denunciação da lide - incabível referido instituto na ação cautelar de produção antecipada de prova - a denunciação da lide pressupõe a possibilidade de uma eventual condenação, o que não se coaduna com o processo cautelar - assistência provocada - possibilidade - a fim de garantir o pleno exercício do princípio do contraditório e assegurar a eficácia da prova produzida nestes autos perante terceiro [...]” (TJSP, 27ª Câmara de Direito Privado, Agravo de Instrumento nº 992.09.068247-4, Rel. Des. Berenice Marcondes Cesar, unânime, j. em 20/10/2009) 22 “DENUNCIAÇÃO DA LIDE - Medida cautelar - Produção antecipada de provas - Descabimento - Medida que não tem natureza litigiosa - Intervenção de terceiro admitida na forma de assistência provocada - Agravo improvido” (TJSP, 3ª Câmara de Direito Privado, Agravo de Instrumento nº 295.974.4/7, Rel. Des. Luiz Antonio de Godoy, unânime, j. em 5/8/2003). “ASSISTÊNCIA PROVOCADA. PRODUÇÃO ANTECIPADA DE PROVAS. PRETENSÃO A CITAÇÃO DE TERCEIRO PARA QUE INTERVENHA, QUERENDO, NA CONDIÇÃO DE ASSISTENTE, POSSIBILITANDO EVENTUAL DENUNCIAÇÃO DA LIDE NA AÇÃO PRINCIPAL, SE PROPOSTA. ADMISSIBILIDADE. DEFERIMENTO DA OFERTA DE QUESITOS E INDICAÇÃO DE ASSISTENTE TÉCNICO” (1ª TAC/SP, 12ª Câmara, Agravo de Instrumento nº 1.039.091-7, Rel. Des. José Araldo da Costa Telles, unânime, j. em 4/12/2001). FACULTATIVIDADE (OU NÃO OBRIGATORIEDADE) DA DENUNCIAÇÃO DA LIDE O art. 125 do CPC/2015 corresponde ao art. 70 do CPC/1973 e prevê as hipóteses em que a denunciação da lide é admissível. Destaque-se que aqui se fala em admissibilidade, e não em obrigatoriedade, como se cogitava diante da redação legal anterior. Mesmo na vigência do CPC/1973, dúvida real só havia a respeito da obrigatoriedade ou não da denunciação da lide em casos de evicção, menos em razão da redação de seu art. 70, que previa ser obrigatória a denunciação nas hipóteses ali arroladas, e mais em razão da redação do art. 456 do Código Civil. Ainda assim, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça consolidou- -se no sentido de não ser obrigatória a denunciação da lide mesmo nos casos de evicção: 23 FACULTATIVIDADE (OU NÃO OBRIGATORIEDADE) DA DENUNCIAÇÃO DA LIDE “A jurisprudênciado STJ é no sentido de que o direito do evicto de indenizar- se do pagamento indevido diante do anterior alienante não se condiciona à denunciação da lide em ação de terceiro reivindicante. Precedentes” (STJ, 4ª T., AgRg no Ag nº 1.323.028/GO, Rel. Min. Marco Buzzi, unânime, j. em 16/10/2012, DJe de 25/10/2012). Para não deixar qualquer dúvida, o CPC/2015, além de utilizar a palavra admissível em lugar de obrigatória, revogou, em seu art. 1.072, inciso II, o art. 456 do Código Civil. E para o bem da clareza, o § 1º do art. 125 do CPC/2015 prevê expressamente a possibilidade de a parte pleitear seu direito regressivo em ação autônoma sempre que, por qualquer motivo, não ocorrer denunciação da lide – se for indeferida, deixar de ser promovida ou não for permitida. Sendo indeferida a denunciação da lide, será cabível agravo de instrumento (CPC/2015, art. 1.015, inciso IX), mas o denunciante não precisa esgotar as vias recursais para poder se valer da ação autônoma; deverá avaliar a conveniência de recorrer ou não, inclusive levando em consideração que o agravo de instrumento não tem efeito suspensivo automático e que o Superior Tribunal de Justiça entende que, mesmo nos casos em que a denunciação da lide é mal indeferida, o processo não deve ser anulado, porque isso violaria uma das próprias finalidades do instituto, que é a economia processual (ver, nesse sentido, STJ, 2ª T., REsp nº 170.318/SP, Rel. Min. Ari Pargendler, unânime, j. em 18/6/1998, DJ de 3/8/1998 e STJ, 1ª Seção, EREsp nº 128.051/SP, Rel. Min. Franciulli Netto, unânime, j. em 25/6/2003, DJU de 1º/9/2003). 24 ADMISSIBILIDADE DA DENUNCIAÇÃO DA LIDE Apesar de o caput do art. 125 do CPC/2015 ter menos incisos em comparação com o caput do art. 70 do CPC/1973, as hipóteses em que é admissível a denunciação da lide em um e outro diploma são rigorosamente as mesmas. A redução de três para dois incisos deveu-se à necessária adequação da técnica legislativa, pois no Código revogado o inciso II estava claramente contido no inciso III – e se assim não fosse interpretado, tratar-se-ia de hipótese de nomeação à autoria e não de denunciação da lide, agora contemplada nos arts. 338 e 339 do CPC/2015. Assim, a denunciação da lide já era e ainda é admissível em duas hipóteses: (I) evicção (CC, art. 447 e ss.) e (II) direito regressivo, previsto em lei ou no contrato. Em relação ao inciso I, a lei deixa claro que a denunciação deve ser feita ao alienante imediato, o que significa a inadmissibilidade da denunciação per saltum; ou seja, não é possível que autor ou réu denunciem a lide a outros alienantes da cadeia. No Código de 1973, cogitava-se da possibilidade de denunciação per saltum porque o art. 70 referia-se apenas a alienante, e não a alienante imediato, e o art. 456 do Código Civil previa a denunciação ao “alienante imediato, ou qualquer dos anteriores”. A expressa referência ao alienante imediato também afasta a possibilidade de uma denunciação coletiva em face de todos os alienantes anteriores da cadeia. Já em relação ao inciso II, o CPC/2015 deixou de se posicionar sobre a talvez mais relevante polêmica sobre denunciação da lide verificada na vigência do CPC/1973. É necessário saber se a denunciação da lide é ou não admissível quando houver inserção de questões novas que ampliem o objeto do processo. São conhecidas na doutrina as teses ampliativa e restritiva, sendo majoritária a primeira. 25 Na jurisprudência mais recente do Superior Tribunal de Justiça tem prevalecido a tese restritiva: “Afigura-se inviável a denunciação da lide, fundada no art. 70, III, do CPC, nos casos em que o alegado direito de regresso exige o reconhecimento de fundamento novo não constante da lide originária” (STJ, 3ª T., REsp nº 934.394/PR, Rel. Min. João Otávio de Noronha, unânime, j. em 26/2/2008, DJe de 10/3/2008). “Nos termos do art. 70, III, do CPC, para que se defira a denunciação da lide, é necessário que o litisdenunciado esteja obrigado, pela lei ou pelo contrato, a indenizar a parte vencida, em ação regressiva, sendo vedado, ademais, introduzir-se fundamento novo no feito, estranho à lide principal. Precedentes” (STJ, 4ª T., REsp nº 701.868/PR, Rel. Min. Raul Araújo, unânime, j. em 11/2/2014, DJe de 19/2/2014). Essa tese ganhou força especialmente nos casos de responsabilidade civil do Estado e em demandas envolvendo relação de consumo em razão das especificidades de direito material que envolvem essas duas situações. No tocante às ações contra o Estado, decidiu o Supremo Tribunal Federal no seguinte sentido: O § 6º do artigo 37 da Magna Carta autoriza a proposição de que somente as pessoas jurídicas de direito público, ou as pessoas jurídicas de direito privado que prestem serviços públicos, é que poderão responder, objetivamente, pela reparação de danos a terceiros. Isto por ato ou omissão dos respectivos agentes, agindo estes na qualidade de agentes públicos, e não como pessoas comuns. 26 Esse mesmo dispositivo constitucional consagra, ainda, dupla garantia: uma, em favor do particular, possibilitando-lhe ação indenizatória contra a pessoa jurídica de direito público, dado que bem maior, praticamente certa, a possibilidade de pagamento do dano objetivamente sofrido. Outra garantia, no entanto, em prol do servidor estatal, que somente responde administrativa e civilmente perante a pessoa jurídica a cujo quadro funcional se vincular” (STF, 1ª T., RE nº 327.904/SP, Rel. Min. Carlos Britto, unânime, j. em 15/8/2006, DJ de 8/9/2006). Esse entendimento gera bastante estranheza por vários motivos, dentre os quais: (I) embora a solvabilidade da pessoa jurídica seja maior, em muitos casos o pagamento é feito por meio de precatório e a condenação da pessoa física poderia ser mais efetiva; (II) é no mínimo estranho entender que a Constituição veda a propositura de demanda contra o próprio causador do dano; (III) há casos em que a própria defesa do Estado traz para o processo discussão sobre a culpa e isso se dá quando alega culpa exclusiva da vítima ou culpa concorrente. Assim, a denunciação da lide em demandas envolvendo responsabilidade civil do Estado por atos de seus agentes não deve ser excluída de maneira apriorística. O Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento no sentido de não ser obrigatória a denunciação da lide nesses casos (STJ, 1ª Seção, EREsp nº 313.886/RN, Rel. Min. Eliana Calmon, unânime, j. em 26/2/2004, DJ de 22/3/2004), discussão que perde o sentido na vigência do CPC/2015. Já com relação à admissibilidade da denunciação, há significativo julgado em sentido positivo afirmando ser casuística a análise. 27 “O cabimento da denunciação depende da ausência de violação dos princípios da celeridade e da economia processual, o que implica na valoração a ser realizada pelo magistrado em cada caso concreto” (STJ, 2ª T., REsp nº 975.799/DF, Rel. Min. Castro Meira, unânime, j. em 14/10/2008, DJe de 28/11/2008). Em relação às demandas envolvendo relação de consumo, o Código de Defesa do Consumidor, em seu art. 88, veda a denunciação da lide em demanda fundada em fato do produto (CDC, art. 13). Ocorre que existe responsabilidade solidária entre todos os participantes da cadeia produtiva (CDC, art. 7º, parágrafo único), de modo que eventual demanda de regresso deveria ser veiculada por meio de chamamento ao processo e não de denunciação da lide, a despeito de texto legalexpresso mencionando essa segunda figura. Como quer que seja, nesses casos fica então vedado trazer o terceiro para o processo. Anote-se, ainda, que o Superior Tribunal de Justiça amplia a proibição para todos os casos de responsabilidade civil por acidente de consumo: “A vedação à denunciação da lide prevista no art. 88 do CDC não se restringe à responsabilidade de comerciante por fato do produto (art. 13 do CDC), sendo aplicável também nas demais hipóteses de responsabilidade civil por acidentes de consumo (arts. 12 e 14 do CDC)” (STJ, 3ª T., REsp nº 1.165.279/SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, unânime, j. em 22/5/2012, DJe de 28/5/2012). 28 Não existindo vedação legal expressa à denunciação da lide, como ocorre nos Juizados Especiais (Lei nº 9.099/1995, art. 10), a adoção de uma ou outra tese passa necessariamente pelo exame das vantagens da denunciação da lide. A principal delas sem dúvida é a harmonia de julgados, mas é também relevante a economia processual encarada sob o aspecto macro, uma vez que se resolve em um processo só algo que, não fosse a denunciação da lide, seria resolvido em dois. A desvantagem do instituto é o eventual comprometimento da duração razoável do processo, uma vez que é mais complexo o processo com denunciação da lide. Como nenhuma novidade trouxe o Código em relação a essa questão específica, a tendência é que as posições se mantenham na doutrina e na jurisprudência. Anote-se que só se cogita desse problema em relação à denunciação da lide feita pelo réu e que uma correta análise da admissibilidade ou não da denunciação da lide deve ser necessariamente casuística, levando-se em consideração que a denunciação não se dá apenas em benefício do denunciante, mas também da parte contrária, que poderá, ao fim da fase de conhecimento, ter à sua disposição título executivo em face tanto do denunciante como do denunciado. Ainda em relação ao inciso II, a previsão é extremamente ampla ao tratar de direito regressivo. Não se nega que, em casos de solidariedade ou de fiança, aquele que paga a dívida tem também direito regressivo em face dos codevedores ou do devedor principal. Nesses casos, contudo, como se verá adiante, a lei prevê o cabimento do chamamento ao processo, pois aí há relação direta entre o autor da demanda e os chamados, diferentemente do que se passa na denunciação da lide promovida pelo réu. Como quer que seja, diante da possível confusão entre os dois institutos, é imperativa a aplicação da fungibilidade, facilitada em razão de o cabimento de uma ou outra intervenção dar-se no mesmo momento processual. 29 Ao aplicar a fungibilidade, deverá o juiz necessariamente esclarecer de que modo deve ser processada a intervenção, pois há entre elas algumas diferenças de regime jurídico. POSSIBILIDADE DE UMA ÚNICA DENUNCIAÇÃO SUCESSIVA Há ainda, por fim, uma importante novidade a ser destacada no § 2º do dispositivo ora comentado. O Código passa a prever expressamente a possibilidade de uma única denunciação sucessiva, limitando uma potencial cadeia de denunciações que em tese era permitida pelo art. 73 do CPC/1973. “Humberto Theodoro Junior” No Código de Processo Civil atual do Brasil, a denunciação da lide presta- se à dupla função de, cumulativamente, (a) notificar a existência do litígio a terceiro; e (b) propor antecipadamente a ação de regresso contra quem deva reparar os prejuízos do denunciante, na eventualidade de sair vencido na ação originária. No sistema do Código anterior, a denunciação da lide era medida qualificada legalmente como obrigatória, que levava a uma sentença sobre a responsabilidade do terceiro em face do denunciante, de par com a solução normal do litígio de início deduzido em juízo, entre autor e réu. A obrigatoriedade não foi adotada pela legislação atual. A denunciação da lide consiste em chamar o terceiro (denunciado), que mantém um vínculo de direito com a parte (denunciante), para vir responder pela garantia do negócio jurídico, caso o denunciante saia vencido no processo. JURISPRUDÊNCIA SELECIONADA (REFERENTE AO CPC/1973, AINDA APLICÁVEL) “A denunciação da lide é modalidade de intervenção forçada, vinculado à ideia de garantia de negócio translatício de domínio e existência de direito regressivo. A parte que enceta a denunciação da lide, o denunciante, ou tem um direito que deve ser garantido pelo denunciante-- transmitente, ou é titular de eventual ação regressiva em face do terceiro, porque demanda em virtude de ato deste” (STJ, REsp 891.998/RS, Rel. Min. Luiz Fux, 1ª Turma, jul. 11.11.2008, DJe 01.12.2008). 30 “Nas demandas em que se discute a responsabilidade civil do Estado, a denunciação da lide ao agente causador do suposto dano é facultativa, cabendo ao magistrado avaliar se o ingresso do terceiro ocasionará prejuízo à economia e celeridade processuais” (STJ, AgRg no AREsp 139.358/SP, Rel. Min. Ari Pargendler, 1ª Turma, jul. 26.11.2013, DJe 04.12.2013). No mesmo sentido: STJ, AgRg nos EREsp 136.614/SP, Rel. Min. Castro Meira, 1ª Seção, jul. 14.04.2004, DJ 09.08.2004, p. 164. Art. 126. A citação do denunciado será requerida na petição inicial, se o denunciante for autor, ou na contestação, se o denunciante for réu, devendo ser realizada na forma e nos prazos previstos no art. 131. PROCEDIMENTO DA DENUNCIAÇÃO REQUERIDA PELO AUTOR Trata-se de regra procedimental afinada com o objetivo de simplificação do procedimento, uma das linhas mestras do Código de Processo Civil de 2015. Em se tratando de denunciação promovida pelo autor, já foi dito que se trata de um litisconsórcio eventual e, portanto, é óbvio que isso deve ser feito desde logo na inicial; afinal, seria absolutamente ilógico que – em qualquer caso de litisconsórcio, aliás – fossem apresentadas petições distintas em relação a cada um dos réus. PROCEDIMENTO DA DENUNCIAÇÃO REQUERIDA PELO RÉU Já no tocante à denunciação requerida pelo réu, é extremamente saudável a previsão segundo a qual deve ser feita na própria contestação. O CPC/1973 dispunha que a denunciação deveria ser requerida “no prazo para contestação”, o que podia gerar dúvida a respeito de eventual necessidade de petição autônoma, já que a denunciação da lide é exercício do direito de ação. 31 Vale esclarecer, contudo, que em regra o réu não é obrigado a efetivamente contestar a demanda, impugnando a pretensão do autor, para poder promover a denunciação da lide. Poderá limitar-se a requerer a denunciação da lide. Uma possível exceção a essa regra está no art. 787, § 2º, do Código Civil, que impede o segurado de “reconhecer sua responsabilidade ou confessar a ação”. PROCEDIMENTO DA DENUNCIAÇÃO REQUERIDA PELO RÉU O Superior Tribunal de Justiça já vinha entendendo ser desnecessária petição autônoma para a denunciação da lide requerida pelo réu (ver, nesse sentido, STJ, 3ª T., REsp nº 476.670/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, unânime, j. em 2/9/2013, DJ de 20/10/2013). De todo modo, ganha a segurança jurídica com a clareza do CPC/2015. Além disso, o sistema fica mais coerente, uma vez que agora nenhuma outra defesa será apresentada em petição autônoma. Com o CPC/2015, aquilo que era exceção converte-se em preliminar de contestação (CPC/2015, art. 337) e mesmo a reconvenção deve ser apresentada na mesma peça da contestação (CPC/2015, art. 343). Recomenda-se, todavia, que a denunciação seja requerida em um capítulo autônomo da petição inicial, de forma bem destacada, para não gerar dúvidas de queestá sendo de fato requerida. AUSÊNCIA DE DENUNCIAÇÃO E PRECLUSÃO O momento adequado para a denunciação é a inicial, no caso do autor, e a contestação, no caso do réu; não requerida nesses momentos específicos, haverá preclusão dessa faculdade e eventual direito do autor ou do réu; em face dos potenciais denunciados deverá ser discutido em ação autônoma. 32 PRAZOS PARA CITAÇÃO DO DENUNCIADO O art. 131 do CPC/2015, que está no capítulo relativo ao chamamento ao processo, prevê os prazos para que seja efetivada a citação do denunciado: 30 dias se o denunciado residir na mesma comarca, seção ou subseção judiciária e 2 meses se residir em PRAZOS PARA CITAÇÃO DO DENUNCIADO Para que a denunciação fique sem efeito por descumprimento dos prazos previstos no art. 131, é necessário que o atraso seja imputável ao denunciante, que deverá providenciar o necessário para a citação. Se o atraso for imputável ao órgão judiciário ou ao próprio denunciado, o denunciante não poderá ser apenado com a ineficácia da denunciação. Caso a denunciação fique de fato sem efeito por descumprimento dos prazos acima referidos, evidente que ainda assim poderão autor e réu pleitear eventual ressarcimento em ação autônoma, apesar de essa hipótese não estar expressamente disciplinada no § 1º do art. 125; intepretação diversa é inaceitável. Art. 126. A citação do denunciado será requerida na petição inicial, se o denunciante for autor, ou na contestação, se o denunciante for réu, devendo ser realizada na forma e nos prazos previstos no art. 131. ___________________________________________________________________ “Humberto Theodoro Junior” Se o denunciado já integra a lide sua citação é desnecessária, cabendo, entretanto, a intimação do advogado para apresentar sua resposta à denunciação. 33 JURISPRUDÊNCIA SELECIONADA (REFERENTE AO CPC/1973, AINDA APLICÁVEL) Denunciação da lide requerida pelo autor. “Salvo a ocorrência de fato superveniente e relevante, o pedido de denunciação da lide pelo autor deve ser formulado na petição inicial” (STJ, Resp 97.915/SP, Rel. Min. Barros Monteiro, 4ª Turma, jul. 20.11.2001, DJ 22.04.2002, p. 207). Art. 127. Feita a denunciação pelo autor, o denunciado poderá assumir a posição de litisconsorte do denunciante e acrescentar novos argumentos à petição inicial, procedendo-se em seguida à citação do réu. _ __________________________________________________________________ “Humberto Theodoro Junior” Sem embargo de figurar na petição inicial ao lado do réu, o denunciado será citado antes deste, para ter oportunidade de eventualmente assumir a posição de litisconsorte do autor e aditar, se lhe convier, a petição inicial, com novos argumentos. Somente depois desse momento processual, consumado com a resposta do denunciado, ou com o esgotamento do prazo para fazê-la, é que se procederá à citação do réu, abrindo-lhe prazo próprio para contestar a ação. Dessa maneira, as duas citações – a do denunciado e a do réu – não são simultâneas, mas sucessivas. Esse mecanismo procedimental permite ao réu defender-se, numa só contestação, contra os argumentos do autor e do denunciado. DENUNCIAÇÃO AUTOR: O DENUNCIADO DEVE SER CITADO ANTES Para que essa faculdade possa se concretizar, o denunciado deverá ser citado antes do réu, como prevê a lei; caso o denunciado acrescente novos argumentos à petição inicial, o réu, ao ser citado, deverá ser notificado não só da inicial, mas também da manifestação do denunciado. 34 DUPLO PAPEL EXERCIDO PELO DENUNCIADO NO PROCESSO Para bem interpretar esse dispositivo, é necessário diferenciar a demanda originária e a demanda visando ao ressarcimento. Evidentemente, o denunciado só poderá assumir a posição de litisconsorte do denunciante na demanda originária, já que, sendo réu na demanda de regresso, não teria qualquer sentido demandar contra si próprio. Assim, ainda que a lei preveja que o denunciado poderá assumir a posição de litisconsorte do denunciante, ele não será litisconsorte para todos os efeitos naquele processo que contém duas demandas; terá necessariamente um duplo papel. Será litisconsorte do denunciante na demanda originária e réu na denunciação (demanda visando ao ressarcimento). PODERES DO DENUNCIANTE-LITISCONSORTE Importante anotar que o denunciado apenas poderá acrescentar novos argumentos à petição inicial; não poderá, assim, promover modificações no pedido ou na causa de pedir. O art. 74 do CPC/1973 falava em possível aditamento da petição inicial, o que provocou polêmicas a respeito da extensão dos poderes do denunciado. A alteração da redação deve ser levada em conta na interpretação do dispositivo. Anote-se por fim que, optando por acrescentar novos argumentos à petição inicial, assumindo a posição de litisconsorte do autor, o denunciado poderá ser condenado ao pagamento de eventuais verbas de sucumbência. Nesse sentido já decidiu o Superior Tribunal de Justiça na vigência do CPC/1973: “Responde também pelos ônus da sucumbência o litisdenunciado que comparece aos autos e adita a petição inicial, assumindo a posição de litisconsorte do denunciante (art. 74 do CPC)” (STJ, 4ª T., REsp nº 115.894/DF, Rel. Min. Barros, unânime, j. em 23/10/2001. 35 FORMAÇÃO DO LITISCONSÓRCIO E PRAZO EM DOBRO Formando-se o litisconsórcio entre denunciante e denunciado, será aplicável o caput do art. 229 do CPC/2015, que prevê prazo em dobro para litisconsortes com procuradores distintos. Necessário, contudo, atentar para o fato de que a regra do prazo em dobro não tem aplicação quando se trata de processo eletrônico (CPC/2015, art. 229, § 2º). OUTRAS POSSÍVEIS POSTURAS DO DENUNCIADO Nem sempre o denunciado desejará tornar-se litisconsorte do autor. Assim, o denunciado poderá se limitar a contestar a denunciação da lide ou mesmo permanecer inerte, quando será considerado revel em relação à denunciação da lide. Art. 128. Feita a denunciação pelo réu: I - se o denunciado contestar o pedido formulado pelo autor, o processo prosseguirá tendo, na ação principal, em litisconsórcio, denunciante e denunciado; II - se o denunciado for revel, o denunciante pode deixar de prosseguir com sua defesa, eventualmente oferecida, e abster-se de recorrer, restringindo sua atuação à ação regressiva; III - se o denunciado confessar os fatos alegados pelo autor na ação principal, o denunciante poderá prosseguir com sua defesa ou, aderindo a tal reconhecimento, pedir apenas a procedência da ação de regresso. Parágrafo único. Procedente o pedido da ação principal, pode o autor, se for o caso, requerer o cumprimento da sentença também contra o denunciado, nos limites da condenação deste na ação regressiva. 36 “Humberto Theodoro Junior” Ao denunciado o juiz marcará o prazo de resposta (quinze dias) e, após sua citação, poderá ocorrer uma das seguintes hipóteses: (a) Se o denunciado aceitar a denunciação, poderá contestar o pedido, no prazo de resposta (15 dias). Nessa hipótese, o denunciado será litisconsorte do denunciante em relação à ação principal (inciso I). (b) Se o denunciado for revel, ou seja, não responder à denunciação, o denunciante poderá deixar de prosseguir em sua defesa, eventualmente oferecida, e abster-se de recorrer, restringindo sua atenção à ação regressiva (inciso II). Diante do desinteresse do denunciado, pode o denunciante desistir da contestaçãoantes produzida, ou, caso não o faça, e a sentença lhe seja adversa, poderá não usar dos recursos cabíveis, sem que essa atitude comprometa a garantia de regresso. Nesse caso, o réu denunciante passa a se preocupar única e exclusivamente com a ação secundária de garantia, na tentativa de obter êxito em seu pedido de regresso. Importa ressaltar que semelhante disposição era encontrada na legislação substancial, em relação à evicção (CC, art. 456, parágrafo único), mas o artigo foi revogado pelo novo Código (art. 1.072, II). A situação, portanto, é agora regulada e permitida diretamente pelo NCPC. (c) Se o denunciado comparecer e confessar os fatos alegados pelo autor na petição inicial, poderá o denunciante prosseguir na defesa, ou aderir a tal reconhecimento e apenas pedir a procedência da ação de regresso (NCPC, art. 128, III). DENUNCIAÇÃO FEITA PELO RÉU I: DENUNCIADO COMO LITISCONSORTE A redação do art. 128 do CPC/2015 é muito superior à confusa e incompleta redação do art. 75 do CPC/2013, mas ainda apresenta algumas falhas. Na vigência do CPC/1973, surgiu relevante controvérsia na doutrina a respeito da real posição ocupada pelo denunciado no processo em relação à demanda principal: parte da doutrina aderia à literalidade da lei, afirmando tratar-se de litisconsorte; outra parte, no entanto, afirmava tratar-se de assistente. 37 O CPC/2015, no art. 128, inciso I, insiste em prever que, contestando o pedido formulado pelo autor (uma das possíveis posturas que pode adotar no processo), o denunciado será litisconsorte do denunciante na demanda principal (ou originária). Considerando que agora o Código consagrou orientação jurisprudencial no sentido de que o autor pode promover cumprimento de sentença diretamente em face do denunciado (parágrafo único), o que será aprofundado adiante, ganha força a tese segundo a qual o denunciado é litisconsorte do denunciante. Formando-se o litisconsórcio, será aplicável o caput do art. 229 do CPC/2015, que prevê prazo em dobro para litisconsortes com procuradores distintos. Vale mais uma vez que a regra não é aplicável em se tratando de processo eletrônico (CPC/2015, art. 229, § 2º). Anote-se que a preexistência de efetivo litisconsórcio entre denunciante e denunciado não afasta a possibilidade da denunciação. Assim, mesmo quando o potencial denunciado já for réu na demanda principal, é cabível a denunciação da lide. “Nada obsta a denunciação da lide requerida por um réu contra outro, porque somente assim se instaura entre eles a lide simultânea” (STJ, 3ª T., REsp nº 8.185/SP, Rel. Min. Cláudio dos Santos, unânime, j. em 28/5/1991, DJU de 24/6/1991). DENUNCIAÇÃO FEITA PELO RÉU II: REVELIA DO DENUNCIADO O inciso II reproduz a ideia contida no parágrafo único do art. 456 do Código Civil, que, antes de ser revogado pelo Código de Processo Civil de 2015, era aplicável aos casos de evicção: “não atendendo o alienante à denunciação da lide, e sendo manifesta a procedência da evicção, pode o adquirente deixar de oferecer contestação, ou usar de recursos”. Além de a redação do inciso II ser mais técnica, a regra agora é aplicável a todas as hipóteses de denunciação da lide. 38 DENUNCIAÇÃO FEITA PELO RÉU III: CONFISSÃO DOS FATOS PELO DENUNCIADO Por fim, o inciso III dá a entender que a confissão do denunciado somada à adesão do denunciante leva imediatamente à procedência da demanda principal, o que não é verdade. A confissão não é prova plena e deverá ser apreciada pelo juiz em conjunto com os elementos constantes dos autos. Além disso, ainda que a confissão leve de fato à aceitação dos fatos alegados pelo autor como verdadeiros, o juiz deverá aplicar o direito e isso pode levar ao julgamento de improcedência da demanda principal. Art. 129. Se o denunciante for vencido na ação principal, o juiz passará ao julgamento da denunciação da lide. Parágrafo único. Se o denunciante for vencedor, a ação de denunciação não terá o seu pedido examinado, sem prejuízo da condenação do denunciante ao pagamento das verbas de sucumbência em favor do denunciado. ___________________________________________________________________ “Humberto Theodoro Junior” Numa só sentença, duas demandas serão julgadas. Se o denunciante for vencido na ação principal, o juiz passará ao julgamento da denunciação da lide (art. 129, caput); se vencedor, a ação de denunciação não terá o seu pedido examinado, mas ficará sujeito aos encargos da sucumbência (art. 129, parágrafo único). 39 JURISPRUDÊNCIA SELECIONADA (REFERENTE AO CPC/1973, AINDAAPLICÁVEL) “Através da denunciação da lide, o denunciante aproveita-se do mesmo processo para exercer a ação de garantia ou a ação de regresso em face do denunciado, por isso que, inspirado pelo princípio da economia processual, dispôs o legislador que ‘a sentença que julgar procedente a ação declarará, conforme o caso, o direito do evicto, ou a responsabilidade por perdas e danos, valendo como título executivo’ (CPC, art. 76)” (STJ, REsp 613.190/SP, Rel. Min. Luiz Fux, 1ª Turma, jul. 06.03.2007, DJ 02.04.2007, p. 232). “A sentença em processo com denunciação da lide é dúplice: julga a ação principal e em seguida julga a ação secundária, acolhendo ou não a pretensão do denunciante de ver declarada a responsabilidade do denunciado” (TJSP, ApCív 256.836, Rel. Sylvio do Amaral, 2ª Câmara, jul. 24.02.1976, RT 498/89). Sobre denunciação da lide é importante saber o seguinte: 1) Trata-se de intervenção de terceiros que envolve direito regressivo. 2) É admitida tanto no polo ativo (Art. 127) como no polo passivo da demanda (Art. 128) 3) A denunciação da lide NÃO é obrigatória. No CPC/2015, o direito regressivo será exercido por ação autônoma quando a denunciação da lide for indeferida, deixar de ser promovida ou não for permitida (Art. 125 §1) 4) No CPC/2015 admite-se uma única denunciação sucessiva, promovida pelo denunciado, contra seu antecessor imediato na cadeia dominial ou quem seja responsável por indenizá-lo, não podendo o denunciado sucessivo promover nova denunciação, hipótese em que eventual direito regressivo será exercido por ação autônoma. (Art 125, §2) 40 □ DO CHAMAMENTO AO PROCESSO Art. 130. É admissível o chamamento ao processo, requerido pelo réu: I - do afiançado, na ação em que o fiador for réu; II - dos demais fiadores, na ação proposta contra um ou alguns deles; III - dos demais devedores solidários, quando o credor exigir de um ou de alguns o pagamento da dívida comum. Art. 131. A citação daqueles que devam figurar em litisconsórcio passivo será requerida pelo réu na contestação e deve ser promovida no prazo de 30 (trinta) dias, sob pena de ficar sem efeito o chamamento. Parágrafo único. Se o chamado residir em outra comarca, seção ou subseção judiciárias, ou em lugar incerto, o prazo será de 2 (dois) meses. Art. 132. A sentença de procedência valerá como título executivo em favor do réu que satisfizer a dívida, a fim de que possa exigi-la, por inteiro, do devedor principal, ou, de cada um dos codevedores, a sua quota, na proporção que lhes tocar. “Daniel Amorim Assumpção” As hipóteses de cabimento do chamamento ao processo são substancialmente mantidas, havendo apenas a substituição do termo “devedor” do art. 77, I, do CPC/1973 pelo vocábulo “afiançado” do art. 130, I, do Novo CPC. Adotando o entendimento da doutrina majoritária13 edo Superior Tribunal de Justiça14, o art. 131, caput, do Novo CPC consagra expressamente o entendimento de que com o chamamento ao processo haverá a formação de um litisconsórcio passivo ulterior ao prever a citação dos que devam figurar em litisconsórcio passivo ao tratar da citação dos chamados ao processo. 41 O chamamento ao processo deve ser realizado dentro do prazo legal sob pena de preclusão temporal. A comparação entre o art. 131, caput, do Novo CPC e o art. 78 do CPC/1973 mostra uma pequena, mas significativa modificação. O artigo do CPC/1973 previa que o chamamento ao processo deveria ser feito no prazo para contestar, enquanto o novo dispositivo prevê que o chamamento será requerido pelo réu na contestação. Não existe dúvida de que contestar e chamar ao processo são espécies diferentes de resposta do réu diante de sua citação, mas, pretendendo o réu se valer de ambas, deverá fazê-lo num mesmo momento procedimental, incluindo o chamamento ao processo como tópico da contestação. A novidade, entretanto, gera um questionamento. O réu que pretender chamar ao processo terceiros coobrigados tem necessariamente que contestar o pedido do autor? Apesar de a literalidade do caput do art. 131 do Novo CPC indicar conclusão nesse sentido, não parece que a questão deva ser respondida afirmativamente.Contestação e chamamento ao processo são duas espécies diferentes e autônomas de reação do réu diante de sua citação, de forma que, se o réu pretender se limitar a chamar ao processo sem contestar o pedido do autor, por mais exótica que seja tal opção, terá o prazo de resposta para tanto. Sem correspondência no CPC/1973, passa a existir um prazo para a citação dos chamados ao processo, sob pena de o chamamento ser tornado sem efeito. O prazo é de trinta dias, salvo se o chamado tiver que ser citado em outro foro ou estiver em lugar incerto, quando o prazo passa a ser de dois meses. A ineficácia prevista no art. 131 do Novo CPC, entretanto, depende de atraso imputável ao réu em providenciar os elementos necessários à citação, porque, sendo culpa do cartório ou mesmo do chamado, não tem qualquer sentido prejudicar o autor do pedido de chamamento decretando sem efeito seu pedido de intervenção. 42 “Humberto Theodoro Junior” Chamamento ao processo é o incidente pelo qual o devedor demandado chama para integrar o mesmo processo os coobrigados pela dívida, de modo a fazê-los também responsáveis pelo resultado do feito. Com essa providência, o réu obtém sentença que pode ser executada contra o devedor principal ou os codevedores, se tiver de pagar o débito. A finalidade do instituto é, portanto, “favorecer o devedor que está sendo acionado, porque amplia a demanda, para permitir a condenação também dos demais devedores, além de lhe fornecer, no mesmo processo, título executivo judicial para cobrar deles aquilo que pagar”. O chamamento ao processo é uma faculdade e não uma obrigação do devedor demandado. Segundo a própria finalidade do incidente, só o réu pode promover o chamamento ao processo. “Humberto Theodoro Junior” A nova conceituação do contrato de seguro de responsabilidade civil feita pelo Código Civil de 2002 teve importante repercussão sobre a intervenção da seguradora na ação indenizatória intentada pela vítima do sinistro. Pelo art. 787 da atual lei civil, no contrato de que se cuida, a seguradora assume a garantia do pagamento das perdas e danos devidos pelo segurado ao terceiro. Não é mais o reembolso de seus gastos que o seguro de responsabilidade civil cobre. O ofendido tem, portanto, ação que pode exercer diretamente, tanto contra o segurado como contra a seguradora. Havendo, dessa maneira, obrigação direta de indenizar, quando a ação for proposta apenas contra o causador do dano, este, para convocar a seguradora para prestar a garantia contratada, terá de utilizar o chamamento ao processo enão mais a denunciação da lide (CDC, art. 101, II). 43 “Lia Carolina Batista Cintra” Em relação ao chamamento ao processo, o Código de Processo Civil de 2015 não trouxe nenhuma inovação. O projeto aprovado na Câmara tinha dispositivo que ampliava consideravelmente seu cabimento, admitindo também o chamamento “daqueles que, por lei ou contrato, são também corresponsáveis perante o autor”, mas isso foi infelizmente rejeitado no Senado na aprovação do texto final. O chamamento ao processo é modalidade de intervenção de terceiro provocada (não voluntária), porque a iniciativa de ingresso no processo não é do terceiro, e há ampliação subjetiva do processo; diverge a doutrina a respeito de haver ou não ampliação objetiva. O ingresso do chamado no processo dá origem a um litisconsórcio ulterior, que poderá ser comum, quando a obrigação for divisível, ou unitário, quando a obrigação for indivisível. Formando-se o litisconsórcio, haverá incidência do caput do art. 229 do CPC/2015, que prevê prazo em dobro para litisconsortes com procuradores distintos; necessário, contudo, atentar para o fato de que a regra do prazo em dobro não tem aplicação quando se trata de processo eletrônico (CPC/2015, art. 229, § 2º). CABIMENTO NO PROCESSO DE CONHECIMENTO E NO PEDIDO DE TUTELA PROVISÓRIA ANTECEDENTE Valem aqui as mesmas observações feitas com relação à denunciação da lide (v. item II dos comentários ao art. 125): tendo natureza de demanda condenatória, o chamamento ao processo é instituto de aplicação exclusiva ao processo de conhecimento. A expressão “processo de conhecimento” não deve ser confundida com a expressão “procedimento comum”, de modo que não se afasta aprioristicamente o cabimento da denunciação da lide em alguns procedimentos especiais, inclusive no monitório. Será também possível trazer para o procedimento mediante o qual se pleiteia tutela cautelar antecedente, em alguns casos (especialmente quando se tratar de produção antecipada de prova), mediante uma espécie de assistência provocada, aquele que poderia figurar como chamado no processo principal. 44 ADMISSIBILIDADE DO CHAMAMENTO AO PROCESSO Embora o artigo tenha três incisos, seria suficiente dizer que o chamamento é admissível em caso de solidariedade, pois as previsões dos incisos I e II nada mais são do que exemplos de solidariedade. E havendo solidariedade, evidente que o chamado é alguém que já poderia ter sido incluído no polo passivo desde o início. No tocante ao inciso I, contudo, vale deixar claro que apenas o fiador pode promover o chamamento, nunca o afiançado. Obs. A lei silencia a respeito, mas são admissíveis chamamentos sucessivos e quem foi chamado pode ainda denunciar a lide a um terceiro. □ DO INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA Art. 133. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica será instaurado a pedido da parte ou do Ministério Público, quando lhe couber intervir no processo. § 1o O pedido de desconsideração da personalidade jurídica observará os pressupostos previstos em lei. § 2o Aplica-se o disposto neste Capítulo à hipótese de desconsideração inversa da personalidade jurídica. Art. 134. O incidente de desconsideração é cabível em todas as fases do processo de conhecimento, no cumprimento de sentença e na execução fundada em título executivo extrajudicial. § 1o A instauração do incidente será imediatamente comunicada ao distribuidor para as anotações devidas. § 2o Dispensa-se a instauração do incidente se a desconsideração da personalidade jurídica
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