Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
PROCEDIMENTOS ESPECIAIS AÇÃO DE DIVISÃO E DA DEMARCAÇÃO DE TERRAS PARTICULARES Art. 569. Cabe: I - ao proprietário a ação de demarcação, para obrigar o seu confinante a estremar os respectivos prédios, fixando-se novos limites entre eles ou aviventando-se os já apagados; II - ao condômino a ação de divisão, para obrigar os demais consortes a estremar os quinhões. ---------- Este dispositivo trata de dois procedimentos especiais que o legislador do NCPC entendeu conveniente manter, como decorrência da especificidade das situações de direito material. Diz o inciso I que ao proprietário cabe ação de demarcação para que se tenha certeza, descobrindo-se onde está a linha divisória ou criando uma, de onde acaba a propriedade de um e começa a do outro. É o que o legislador quer significar quando diz que a ação de demarcação gera decisão que obriga o confinante a estremar os respectivos prédios. Há também previsão do direito de demarcação no art. 1.297 do CC, que ainda destaca a proporcional repartição das despesas entre os interessados. 2 ▪ A ação de divisão tem por objetivo gerar sentença que desfaz o condomínio. Cabe, portanto, ao condômino. A nova lei usa a expressão “estremar os quinhões”, melhor do que a que existe hoje, “partilhar a coisa comum”, pois abrange a divisão feita in natura e também a que se faz apurando o preço da coisa comum e transformando-o em quinhões quando se trata de bem indivisível. ▪ Também é previsão que se encontra no CC, nos arts. 1.320 a 1.322, com realce para a repartição das despesas com a divisão e, no caso de bem indivisível, quando os consortes não querem adjudicá-la a um só, indenizando os outros, a coisa deverá ser vendida e repartido o apurado, preferindo-se, na venda, em condições iguais de oferta, o condômino ao estranho, e entre os condôminos aquele que tiver na coisa benfeitorias mais valiosas, e, não as havendo, o de quinhão maior. 3 Art. 570. É lícita a cumulação dessas ações, caso em que deverá processar- se primeiramente a demarcação total ou parcial da coisa comum, citando- se os confinantes e os condôminos. ---------- Ambas as ações podem ser cumuladas. Na verdade, trata-se de cumulação de características peculiares. Basta perceber-se que os réus de uma e outra ação não são os mesmos. São duas ações sucessivas, que a lei permite, facilitatis causa, sejam manejadas uma em seguida à outra, de uma só vez, quando sejam ambas necessárias: primeiro, determina-se qual é exatamente a área e, neste momento, evidentemente, a presença dos confinantes é essencial. No entanto, são excluídos do processo na fase em que se pretende resolver a divisão (interna) da área já demarcada (art. 572), embora tenham, estes confinantes, o direito de, depois de feita a divisão, pleitear os terrenos de que se julguem despojados pela linha limítrofe traçada na decisão da demarcatória ou pedir indenização correspondente ao seu valor. 4 Art. 571. A demarcação e a divisão poderão ser realizadas por escritura pública, desde que maiores, capazes e concordes todos os interessados, observando-se, no que couber, os dispositivos deste Capítulo. ---------- O NCPC permite que a demarcação e a divisão sejam feitas por escritura pública, sendo os interessados maiores, capazes e estando de acordo. Aplica-se o CPC subsidiariamente. Trata-se de novidade de que já cogitava a doutrina, considerando admissível que poderiam ser celebradas contratualmente. Neste caso, deve ser levado o acordo a juízo para fins de homologação. A sentença será meramente homologatória e, portanto, anulável e não rescindível. Trata-se de procedimento de jurisdição voluntária. 5 ▪ Art. 572. Fixados os marcos da linha de demarcação, os confinantes considerar-se-ão terceiros quanto ao processo divisório, ficando-lhes, porém, ressalvado o direito de vindicar os terrenos de que se julguem despojados por invasão das linhas limítrofes constitutivas do perímetro ou de reclamar indenização correspondente ao seu valor. ▪ § 1º No caso do caput, serão citados para a ação todos os condôminos, se a sentença homologatória da divisão ainda não houver transitado em julgado, e todos os quinhoeiros dos terrenos vindicados, se a ação for proposta posteriormente. ▪ § 2º Neste último caso, a sentença que julga procedente a ação, condenando a restituir os terrenos ou a pagar a indenização, valerá como título executivo em favor dos quinhoeiros para haverem dos outros condôminos que forem parte na divisão ou de seus sucessores a título universal, na proporção que lhes tocar, a composição pecuniária do desfalque sofrido. 6 ▪ Este artigo se aplica à hipótese de apesar de ter havido sentença indicando os limites do terreno cuja demarcação se pretende, no momento que ocorrer a divisão entre os condôminos, sejam, indevidamente, desrespeitados estes limites e invadidos os terrenos dos confinantes. Estes, é claro, diante dessa situação, têm o direito de se voltar contra os comunheiros, seja para vindicar os terrenos de que julguem ter propriedade, seja para reclamar a indenização correspondente. ▪ O dispositivo comentado no § 1º prevê dois casos de litisconsórcio necessário simples: todos devem ser necessariamente citados, mas a sentença pode não ser uniforme para todos. Há várias relações jurídicas em jogo. Se ainda não tiver transitado em julgado a decisão demarcatória, na ação movida pelos confinantes serão réus todos os condôminos. Se, no entanto, a ação for proposta depois, deverão ser réus apenas aqueles que ficaram com as partes do imóvel dividido que invade o(s) terreno(s) do(s) confinante(s) autor(es). ▪ O § 2º cria um mecanismo semelhante ao que ocorre no chamamento ao processo: a sentença que condena os proprietários dos quinhões cujos limites ultrapassaram aqueles traçados na demarcatória, como sendo os do terreno que deveria ser dividido, vale como título executivo contra os outros quinhoeiros que não foram réus, para deles haverem a composição patrimonial pelo dano sofrido. 7 Art. 573. Tratando-se de imóvel georreferenciado, com averbação no registro de imóveis, pode o juiz dispensar a realização de prova pericial. ---------- Tradicionalmente, a perícia é considera prova imprescindível à fixação de limites entre um prédio e os que lhe são confinantes, ou à recuperação dos limites que antes existiam, por se tratar de questão que não pode ser resolvida com o auxílio de conhecimento jurídico, pela experiência comum ou por prova testemunhal. A Lei n. 10.267, de 28 de agosto de 2001, regulamentada pelo Decreto n. 4.449, de 30 de outubro de 2002, que foi alterado pelo Decreto n. 5.570, de 31 de outubro de 2005, criou o Cadastro nacional de Imóveis Rurais (CNIR). A referida lei torna obrigatório o georreferenciamento do imóvel para inclusão da propriedade no CNIR, condição esta, necessária para que se realize qualquer alteração cartorial da propriedade. Georreferenciamento é o mapeamento que, por força de lei, se deve fazer de imóveis rurais, de modo que fiquem claros os vértices de seu perímetro de acordo com o Sistema Geodésico Brasileiro, definindo claramente o seu perímetro, sua área e sua posição geográfica. Esse mapeamento pode ser feito mediante o uso conjunto de diversas técnicas, tais como a medição em campo, a definição de pontos de referência (estradas, rios, aeroportos, ferrovias etc.), e o uso de GPS. 8 Trata-se da determinação precisa de um ponto na superfície terrestre, mediante o uso de um sistema de medição que permite a determinação precisa da posição do imóvel. A adoção da técnica do georreferenciamento visou à regularização dos registros imobiliários dos imóveis situados em áreas rurais, de modo que não mais houvesse sobreposição de títulos, totais ou parciais, em decorrência da fragilidade das descrições doslimites de cada área. Portanto, parece que, de fato, se se estiver diante de imóvel georreferenciado, com averbação no Registro de Imóveis, o juiz terá condições de dispensar a prova pericial. A lei diz, acertadamente, poder haver esta dispensa. É que pode haver casos em que os marcos referidos tenham desaparecido, ou que o conflito surja a partir de divergência entre os títulos dos confinantes. O verbo poder é, na verdade, manifestação do princípio geral de que o juiz tem liberdade para atribuir valor às provas, segundo a sua convicção, desde que esta seja motivada. 9 DA DEMARCAÇÃO Art. 574. Na petição inicial, instruída com os títulos da propriedade, designar-se-á o imóvel pela situação e pela denominação, descrever-se-ão os limites por constituir, aviventar ou renovar e nomear-se-ão todos os confinantes da linha demarcada. ---------- Este artigo, que já existe no CPC/73, permite que saibamos quem são as partes na ação demarcatória e qual seu objeto. A ação é movida pelo proprietário de um imóvel cujos limites geram dúvidas. Nesse sentido, o entendimento que prevalecente no STJ é pela absoluta necessidade de prova documental do Registro de Imóveis de propriedade da área pelos promoventes. Os réus são os confinantes, não necessariamente proprietários: todos, em litisconsórcio necessário. O objeto (pedido) é a obtenção de sentença descrevendo os limites do imóvel particular objeto material da ação que consistem numa linha que o separa dos imóveis dos confinantes (réus), e, afinal, a implantação física dos marcos, no solo, que correspondem, à demarcação feita na decisão. É ação real imobiliária, que exige, portanto, o consentimento do cônjuge quando este não é litisconsorte ativo (art. 73, NCPC). 10 Art. 575. Qualquer condômino é parte legítima para promover a demarcação do imóvel comum, requerendo a intimação dos demais para, querendo, intervir no processo. ---------- Se a lei diz que qualquer condômino pode propor a ação demarcatória, isto significa que tem, o condômino autor, legitimação extraordinária para agir em nome dos demais condôminos. Os demais condôminos deverão ser intimados para que, se quiserem, intervenham. Se forem autores dois ou mais condôminos, se estará diante de litisconsórcio facultativo unitário. Se, depois de intimados, comparecerem, o farão na condição de assistentes litisconsorciais, já que lhes diz respeito o direito sobre o qual se decidirá. 11 Art. 576. A citação dos réus será feita por correio, observado o disposto no art. 247. Parágrafo único. Será publicado edital, nos termos do inciso III do art. 259. ---------- A citação será feita pelo correio, salvo se no caso ocorrer algumas das exceções do art. 247 (o que também inclui a hipótese de o autor, justificadamente, requerer a citação pessoal por Oficial de Justiça, expedindo-se, para isso, carta precatória). Em boa hora o NCPC altera o regramento sobre a citação na ação demarcatória que vinha consubstanciado no art. 953 do CPC/73. A doutrina criticava o dispositivo que determinava que “os réus que residirem na comarca serão citados pessoalmente; os demais, por edital”, por ser tratar de flagrante tratamento desigual entre os réus, não existindo razão para se determinar a citação por edital do(s) réu(s) residente(s) em comarca diversa, visto ser igualmente possível o envio de carta para a sua citação, quando certo o seu endereço. O parágrafo único faz remissão ao art. 259, III, o qual repete, com exceção do inciso II, o que já está previsto no art. 256, I e III. A citação por edital é exceção à regra. Terá lugar quando não for possível reunir dados suficientes para o envio de carta por correio. Justamente por isso é que o parágrafo único prevê esta modalidade de citação para interessados incertos ou desconhecidos. Caso não se proceda a citação por edital, será caso de inexistência processual, visto ser necessária a citação, ainda que ficta, para que o processo exista. 12 Art. 577. Feitas as citações, terão os réus o prazo comum de 15 (quinze) dias para contestar. ---------- Diferentemente do regramento do CPC/73, que estabelecia prazo de 20 (vinte) dias para contestar a ação demarcatória, o prazo para contestar no NCPC é de 15 (quinze) dias, seguindo a regra geral prevista pelo art. 335. Havendo litisconsórcio passivo e representação processual dos réus por procuradores diversos, o prazo será, a nosso ver, contado em dobro19., conforme disciplina o art. 229, embora a doutrina não seja pacificada a este respeito. Procedendo-se a citação por envio de carta via correio, o prazo para contestação terá início, segundo o art. 231, I, da data de juntada aos autos do aviso de recebimento. Se houver pluralidade de réus, o prazo para contestação começará a fluir a partir da juntada do último aviso de recebimento aos autos (art. 231, § 1º). Em se tratando de citação por edital, o prazo terá início no primeiro dia útil seguinte ao fim da dilação assinada pelo juiz (art. 231, IV), independentemente da existência de pluralidade de réus. 13 Art. 578. Após o prazo de resposta do réu, observar-se-á o procedimento comum. ---------- O procedimento comum terá lugar depois de findo o prazo para resposta. Tradicionalmente se entende que os efeitos da revelia não se aplicam à ação demarcatória. O CPC/73 é expresso a respeito, embora o NCPC não o seja. Ainda assim, parece que este dispositivo indica que o procedimento continua e que a sentença não será proferida a não ser depois de produzida a prova pericial. 14 Art. 579. Antes de proferir a sentença, o juiz nomeará um ou mais peritos para levantar o traçado da linha demarcada. ---------- A prova técnica é obrigatória, tratando-se de imposição legal, não podendo ser dispensada na ação demarcatória. Mesmo nos casos em que seja possível o julgamento antecipado da lide, por revelia (art. 355, II), será necessária a prova pericial. O NCPC, diferentemente do CPC/73, não especifica que tipo de perito deve levantar o traçado da linha demarcada. Apesar disso, o NCPC, quando se refere ao perito, prescreve que tratar-se-á de profissional legalmente habilitado, e/ou órgão técnico ou científico devidamente inscrito em cadastro mantido pelo tribunal ao qual o juiz está vinculado (art. 156). Não há assim, pura arbitrariedade na escolha no perito, que deverá atuar na causa, devendo ser profissional especializado para a realização do trabalho. Quando, no local, não houver perito inscrito no cadastro disponibilizado pelo tribunal, a sua nomeação será de livre escolha pelo juiz, recaindo sobre profissional ou órgão técnico ou científico comprovadamente detentor do conhecimento necessário à realização da perícia (art. 156, § 5º) As partes poderão indicar assistentes técnicos, se desejarem (art. 465, II), no prazo de 15 (quinze) dias (art. 465, § 1.º). A remuneração do perito obedecerá ao disposto no art. 95 deste Código. 15 Art. 580. Concluídos os estudos, os peritos apresentarão minucioso laudo sobre o traçado da linha demarcanda, considerando os títulos, os marcos, os rumos, a fama da vizinhança, as informações de antigos moradores do lugar e outros elementos que coligirem. ---------- Estes dispositivos deixam evidente a imprescindibilidade da prova pericial, salvo no caso de se aplicar aos autos o art. 573, que menciona imóveis georreferenciados. Nestes casos, pode o juiz, se entender não ser necessária, dispensar a prova pericial. O juiz nomeará um ou mais peritos para levantar o traçado e estes elaborarão laudo minucioso, nos termos do art. 580 do NCPC. Embora o NCPC não faça referência expressa ao trio de peritos, a que faz o CPC/73 (art. 956), nada impede que o juiz nomeie agrimensor e arbitrador, pois as informações técnicas que têm ambos os profissionais são diferentes e igualmente necessárias.16 Art. 581. A sentença que julgar procedente o pedido determinará o traçado da linha demarcanda. Parágrafo único. A sentença proferida na ação demarcatória determinará a restituição da área invadida, se houver, declarando o domínio ou a posse do prejudicado, ou ambos. ---------- Este dispositivo trata da sentença que põe fim à primeira fase do procedimento demarcatório. Nela, define-se a linha que divide o imóvel do autor do(s) confinante(s). A sentença pode acolher o pedido de demarcação e determinar o traçado, assim como pode, também, julgar o pedido improcedente ou não admitir a ação. Diz o parágrafo único que se houver área invadida, pelo proprietário ou pelos confinantes, na própria sentença da 1.ª fase o juiz, declarando o domínio ou a posse do prejudicado – que, como dissemos, pode ser o autor ou o réu, confinante – determina a restituição da área invadida. Interessante notar-se aqui que o autor pode ser condenado, sem que o réu tenha feito pedido. Trata-se de consequência da verificação objetiva de onde a efetiva divisão entre ambos os imóveis deva ocorrer. 17 Art. 582. Transitada em julgado a sentença, o perito efetuará a demarcação e colocará os marcos necessários. Parágrafo único. Todas as operações serão consignadas em planta e memorial descritivo com as referências convenientes para a identificação, em qualquer tempo, dos pontos assinalados, observada a legislação especial que dispõe sobre a identificação do imóvel rural. ---------- Proferida a sentença, inicia-se a fase executiva da demarcação. O traçado, até então no papel, se torna realidade, por meio da colocação de marcos no solo, que será feita por perito, de regra, um agrimensor. Evidentemente, todo o material será documentado: em planta e memorial descritivo, tudo de acordo com a legislação pertinente. 18 Art. 583. As plantas serão acompanhadas das cadernetas de operações de campo e do memorial descritivo, que conterá: I - o ponto de partida, os rumos seguidos e a aviventação dos antigos com os respectivos cálculos; II - os acidentes encontrados, as cercas, os valos, os marcos antigos, os córregos, os rios, as lagoas e outros; III - a indicação minuciosa dos novos marcos cravados, dos antigos aproveitados, das culturas existentes e da sua produção anual; IV - a composição geológica dos terrenos, bem como a qualidade e a extensão dos campos, das matas e das capoeiras; V - as vias de comunicação; VI - as distâncias a pontos de referência, tais como rodovias federais e estaduais, ferrovias, portos, aglomerações urbanas e polos comerciais; VII - a indicação de tudo o mais que for útil para o levantamento da linha ou para a identificação da linha já levantada. 19 A caderneta de campo é documento onde serão registradas as principais informações do imóvel pelo agrimensor. Por se tratar de atividade que normalmente escapa ao conhecimento da maioria dos profissionais do direito, a atividade realizada pelo agrimensor deverá ser relatada de maneira clara e organizada, de modo a ser mais facilmente compreendia por aqueles que não detêm o conhecimento específico sobre o assunto. Deste documento, além das principais indicações e anotações do imóvel, poderão constar ilustrações, fotografias do imóvel etc24.. Os incisos trazem as principais informações que deverão constar na caderneta de campo, não se tratando de rol exaustivo, como indica o inciso VII. O memorial descritivo difere da caderneta de campo. Diferencia-se, pois, nela constará o passo a passo das ações do perito. Dessa forma, com o memorial descritivo e a caderneta de campo em mãos, o juiz terá relato de tudo que existe e foi desenvolvido na perícia realizada no imóvel. 20 ▪ Art. 584. É obrigatória a colocação de marcos tanto na estação inicial, dita marco primordial, quanto nos vértices dos ângulos, salvo se algum desses últimos pontos for assinalado por acidentes naturais de difícil remoção ou destruição. ▪ ---------- ▪ A segunda fase da demarcação é o momento de concretização da linha demarcanda, i.e., da criação, no mundo dos fatos, dos limites do bem imóvel já apontados na perícia. Para isso, o perito tomará como base o marco primordial, seguindo para os vértices dos ângulos que, juntos, darão a forma da área do imóvel, caso a colocação de marco não seja inviabilizada por acidentes naturais. Ao final do trabalho, tudo deverá constar de relatório, que será entregue ao juiz (art. 585 e 586). 21 Art. 585. A linha será percorrida pelos peritos, que examinarão os marcos e os rumos, consignando em relatório escrito a exatidão do memorial e da planta apresentados pelo agrimensor ou as divergências porventura encontradas. ---------- Trata-se de dispositivo autoexplicativo, em que se dá sequência aos atos que preparam o processo para a sentença. Como já salientado, o NCPC nada dispõe sobre o trio de peritos do qual trata o art. 956 do CPC/73. No entanto, o dispositivo ora comentado menciona expressamente a figura do agrimensor, indicando a necessidade de que um dos peritos a serem nomeados tenha esse tipo de conhecimento e formação. Os demais peritos, nesse sentido, formularão relatório escrito a fim de fornecer ao magistrado elementos de convicção complementares acerca da exatidão da prova pericial produzida ou de eventuais divergências existentes. 22 ▪ Art. 586. Juntado aos autos o relatório dos peritos, o juiz determinará que as partes se manifestem sobre ele no prazo comum de 15 (quinze) dias. ▪ Parágrafo único. Executadas as correções e as retificações que o juiz determinar, lavrar-se-á, em seguida, o auto de demarcação em que os limites demarcandos serão minuciosamente descritos de acordo com o memorial e a planta. ▪ ---------- ▪ As partes terão o prazo comum de 15 (quinze) dias para se manifestar sobre o relatório dos peritos, juntado aos autos. Feitas as correções determinadas pelo juiz, os limites demarcandos serão descritos segundo o memorial e a planta. 23 ▪ Art. 587. Assinado o auto pelo juiz e pelos peritos, será proferida a sentença homologatória da demarcação. ▪ ---------- ▪ Assinado o relatório pelo juiz, será proferida a segunda sentença, homologatória de demarcação, que produzirá imediatamente efeitos após a sua publicação, visto não estar sujeita ao efeito suspensivo (art. 1.009, § 1º, I). 24 DA DIVISÃO Art. 588. A petição inicial será instruída com os títulos de domínio do promovente e conterá: I - a indicação da origem da comunhão e a denominação, a situação, os limites e as características do imóvel; II - o nome, o estado civil, a profissão e a residência de todos os condôminos, especificando-se os estabelecidos no imóvel com benfeitorias e culturas; III - as benfeitorias comuns. ---------- Os arts. 588 e seguintes tratam de outro procedimento especial: a ação de divisão. Voltamos a relembrar o que dissemos antes: ambos os procedimentos podem ser cumulados. Serão, na verdade, ações sucessivas. Trata-se de uma cumulação sui generis, já que, por exemplo, as partes de ambas as ações não são as mesmas. O que ocorre de rigor é que os procedimentos “engatam” um no outro, sem solução de continuidade. 25 ▪ Com a ação de divisão extingue-se o condomínio, quando o objeto sobre o qual recai são terras particulares. Necessário que haja antes a ação divisória, quando há conflito sobre a precisão dos limites do imóvel a ser dividido. ▪ Se se tratar de imóvel indivisível, não passível de ser dividido fisicamente, o condomínio se extingue pela divisão econômica: alienação judicial e partilha do quantum apurado. ▪ A ação de divisão gera a divisão física do imóvel, atribuindo-se, afinal, a cada comunheiro uma parcela específica do terreno ou do edifício. Vê-se, assim, que também o procedimento de divisão pode ter, comode fato tem, duas fases. Na primeira, pleiteia-se a declaração do direito à extinção do condomínio e na segunda, tendo sido a ação julgada procedente, procede-se à realização da divisão, por meio de atos concretos. ▪ A legitimidade ativa é dos condôminos. O possuidor só tem legitimidade se se tratar de composse. Do mesmo modo, o usufrutuário tem legitimidade para mover ação divisória contra outro usufrutuário. O importante é a homogeneidade de direitos do(s) autor(es) e do(s) réu(s). ▪ Trata-se, também, da ação real, portanto deve(m) o(s) cônjuge(s) do(s) autor(es) e do(s) réu(s) anuírem se não estiverem presentes como litisconsortes. ▪ Os sujeitos passivos são todos os demais condôminos, em litisconsórcio necessário – 26 Art. 589. Feitas as citações como preceitua o art. 576, prosseguir-se-á na forma dos arts. 577 e 578. ---------- Valem aqui as mesmas observações feitas para os arts. 576 a 578. As citações serão feitas pelo correio, como regra. Os desconhecidos ou aqueles que estejam em lugar incerto e não sabido poderão ser citados por edital. O prazo para a contestação é de 15 (quinze) dias. A ausência de contestação não faz necessariamente incidir os efeitos da revelia. No entanto, à vista dos elementos constantes dos autos, é possível que o magistrado julgue antecipadamente a lide (art. 355, II), proferindo sentença e extinguindo a primeira fase da demanda de divisão25.. Ainda que não seja possível o julgamento antecipado da lide, a demanda prosseguirá conforme o rito previsto para o procedimento comum, culminando na prolação de sentença (arts. 203, § 1º, 318, parágrafo único e 578). Dessa forma, caso seja procedente o pedido e reconhecido o direito do(s) autor(es) da ação de divisão, extinguir-se-á o condomínio entre as partes e a divisão propriamente dita ficará para a segunda fase da ação divisória, de cumprimento da sentença, conforme se verá a seguir. 27 Art. 590. O juiz nomeará um ou mais peritos para promover a medição do imóvel e as operações de divisão, observada a legislação especial que dispõe sobre a identificação do imóvel rural. Parágrafo único. O perito deverá indicar as vias de comunicação existentes, as construções e as benfeitorias, com a indicação dos seus valores e dos respectivos proprietários e ocupantes, as águas principais que banham o imóvel e quaisquer outras informações que possam concorrer para facilitar a partilha. ---------- Esgotada a primeira fase da ação divisória e superada eventual fase recursal, a fase de cumprimento da sentença se iniciará com a medição do imóvel. Para isso, também a prova pericial é essencial e o legislador a prevê do mesmo modo que o faz para a ação demarcatória. Menciona poder o juiz nomear um ou mais peritos. 28 Art. 591. Todos os condôminos serão intimados a apresentar, dentro de 10 (dez) dias, os seus títulos, se ainda não o tiverem feito, e a formular os seus pedidos sobre a constituição dos quinhões. ---------- Trata-se de reprodução do art. 970 do CPC/73. Importante ressalvar que o(s) condômino(s) autor(es) já deverá(ão) instruir a inicial com seu(s) respectivo(s) título(s) de domínio (art. 588, caput), requisito específico da exordial da ação divisória. Desse modo, caso não o faça no momento oportuno, o juiz deverá determinar a emenda da inicial (art. 321). Neste momento, portanto, o(s) condômino(s) autor(es) deverão ser intimado(s) para formular pedido acerca da constituição de seu(s) quinhão(ões), caso já não tenha(m) feito na petição inicial. O(s) condômino(s) réu(s), via de regra, apresentará(ão) seu(s) título(s) na contestação. Caso contrário, já nesta fase de cumprimento de sentença, também será(ão) intimado(s) para apresentá-lo(s) dentro do prazo de 10 (dez) dias, bem como para formular seu(s) pedido(s) em relação ao(s) respectivo(s) quinhão(ões). 29 Art. 592. O juiz ouvirá as partes no prazo comum de 15 (quinze) dias. § 1º Não havendo impugnação, o juiz determinará a divisão geodésica do imóvel; § 2º Havendo impugnação, o juiz proferirá, no prazo de 10 (dez) dias, decisão sobre os pedidos e os títulos que devam ser atendidos na formação dos quinhões. ---------- No que concerne ao caput do artigo ora comentado, destaca-se que houve modificação quanto ao prazo que as partes terão para se manifestar acerca dos pedidos formulados pelas demais em relação aos seus respectivos quinhões: era de 10 dias no CPC/73 (art. 971, caput) e, com o NCPC, seguirá a regra geral de 15 dias. O parágrafo único reproduz a mesma regra contida no art. 971, parágrafo único, do CPC/73: feitas impugnações, o juiz terá o prazo impróprio de 10 dias para decidi-las, delimitando, de forma provisória, a formação dos respectivos quinhões; caso não haja qualquer impugnação, o juiz determinará a divisão geodésica do imóvel, que representa uma repartição proporcional provisória, a ser confirmada por posterior perícia e sentença homologatória final. Como se observa, são decisões interlocutórias que põem fim a questões incidentes, sendo, portanto, impugnáveis por meio de agravo de instrumento (art. 1.015, II). 30 Art. 593. Se qualquer linha do perímetro atingir benfeitorias permanentes dos confinantes feitas há mais de 1 (um) ano, serão elas respeitadas, bem como os terrenos onde estiverem, os quais não se computarão na área dividenda. ---------- O NCPC, ao repetir a disposição do art. 973 do CPC/73, preferiu, corretamente, deixar a conceituação de benfeitoria para os artigos 96 e 97 do CC, que tratam do tema. Por outro lado, a adoção do adjetivo “permanente” para as benfeitorias feitas há mais de um ano faz surgir uma nova classificação para essa espécie de melhoramento do imóvel, a ser enfrentada pela doutrina civilista. A partir disso, ressalta o dispositivo ora comentado que as benfeitorias permanentes dos confinantes feitas há mais de um ano deverão ser respeitadas, bem como os seus respectivos terrenos, que não se computarão na área dividenda. Nesse caso, restará ao condômino que se julgar prejudicado ajuizar ação reivindicatória a fim de reaver a sua propriedade em relação a esse terreno. 31 Art. 594. Os confinantes do imóvel dividendo podem demandar a restituição dos terrenos que lhes tenham sido usurpados. § 1º Serão citados para a ação todos os condôminos, se a sentença homologatória da divisão ainda não houver transitado em julgado, e todos os quinhoeiros dos terrenos vindicados, se a ação for proposta posteriormente. § 2º Nesse último caso terão os quinhoeiros o direito, pela mesma sentença que os obrigar à restituição, a haver dos outros condôminos do processo divisório ou de seus sucessores a título universal a composição pecuniária proporcional ao desfalque sofrido. ---------- Conforme já exposto nos comentários ao art. 572 quando da demarcação se gera a posterior divisão, também este dispositivo prevê dois casos de litisconsórcio necessário simples: todos devem ser necessariamente citados, mas a sentença pode não ser uniforme para todos. Há várias relações jurídicas em jogo. Se ainda não tiver transitado em julgado a decisão divisória, na ação movida pelos confinantes serão réus todos os condôminos. Se, no entanto, a ação for proposta depois, deverão ser réus apenas aqueles que ficaram com as partes do imóvel dividido que invade o(s) terreno(s) do(s) confinante(s) autor(es). 32 ▪ Da mesma forma colocada anteriormente, o parágrafo segundo cria um mecanismo semelhante ao que ocorre no chamamento ao processo: a sentença que condena os proprietários dos quinhões cujos limites ultrapassaram aqueles traçados na divisória como sendo os do terreno que deveria ser dividido, vale como título executivo contra os outros quinhoeiros que não foram réus, para deles haverem a composição patrimonial pelo dano sofrido. ▪ Nesse caso, não há óbice paraque os confinantes reclamem, alternativamente, indenização pecuniária correspondente ao valor da parcela de seu bem invadido, incidindo, assim, a regra geral esculpida no já comentado art. 572. 33 Art. 595. Os peritos proporão, em laudo fundamentado, a forma da divisão, devendo consultar, quanto possível, a comodidade das partes, respeitar, para adjudicação a cada condômino, a preferência dos terrenos contíguos às suas residências e benfeitorias e evitar o retalhamento dos quinhões em glebas separadas. ---------- Muito embora o NCPC mencione a possibilidade de o juiz nomear um só perito (art. 590), o dispositivo ora em comento, por reproduzir o conteúdo o art. 978 do CPC/73, utiliza o plural ao se referir aos profissionais com expertise para a divisão de terras particulares. Trata-se de dispositivo que reflete os ditames da equanimidade, operabilidade e sociabilidade já esculpidos na Exposição de Motivos do Código Civil de 2002 por Miguel Reale, bem como do princípio da cooperação processual, pois não se pode fazer a divisão do terreno objeto da demanda divisória de maneira a se esvaziar a sua função social ou a semear focos de futuros novos litígios entre as partes. 34 Art. 596. Ouvidas as partes, no prazo comum de 15 (quinze) dias, sobre o cálculo e o plano da divisão, o juiz deliberará a partilha. Parágrafo único. Em cumprimento dessa decisão, o perito procederá à demarcação dos quinhões, observando, além do disposto nos arts. 584 e 585, as seguintes regras: I - as benfeitorias comuns que não comportarem divisão cômoda serão adjudicadas a um dos condôminos mediante compensação; II - instituir-se-ão as servidões que forem indispensáveis em favor de uns quinhões sobre os outros, incluindo o respectivo valor no orçamento para que, não se tratando de servidões naturais, seja compensado o condômino aquinhoado com o prédio serviente; III - as benfeitorias particulares dos condôminos que excederem à área a que têm direito serão adjudicadas ao quinhoeiro vizinho mediante reposição; IV - se outra coisa não acordarem as partes, as compensações e as reposições serão feitas em dinheiro. 35 ▪ Inicialmente, destaca-se que há modificação do prazo para as partes se manifestarem sobre o cálculo e plano de divisão: era de 10 dias no CPC/73 (art. 979, caput) e passa a ser de 15 (quinze) dias no NCPC. ▪ Após oportunidade de manifestação das partes, com efeito, finda a fase instrutória, o magistrado decidirá sobre a divisão do bem imóvel. Para cumprir a referida decisão, os peritos farão a demarcação dos quinhões nos moldes do procedimento previsto nos arts. 584 e 585, bem como levarão em consideração as regras específicas sobre benfeitorias e servidões, que estão esculpidas nos incisos I a IV (sendo esse último inciso um exemplo típico de norma di chiusura ou de encerramento do sistema). 36 Art. 597. Terminados os trabalhos e desenhados na planta os quinhões e as servidões aparentes, o perito organizará o memorial descritivo. § 1º Cumprido o disposto no art. 586, o escrivão, em seguida, lavrará o auto de divisão, acompanhado de uma folha de pagamento para cada condômino. § 2º Assinado o auto pelo juiz e pelo perito, será proferida sentença homologatória da divisão. § 3º O auto conterá: I - a confinação e a extensão superficial do imóvel; II - a classificação das terras com o cálculo das áreas de cada consorte e com a respectiva avaliação ou, quando a homogeneidade das terras não determinar diversidade de valores, a avaliação do imóvel na sua integridade; III - o valor e a quantidade geométrica que couber a cada condômino, declarando-se as reduções e as compensações resultantes da diversidade de valores das glebas componentes de cada quinhão. § 4º Cada folha de pagamento conterá: I - a descrição das linhas divisórias do quinhão, mencionadas as confinantes; II - a relação das benfeitorias e das culturas do próprio quinhoeiro e das que lhe foram adjudicadas por serem comuns ou mediante compensação; III - a declaração das servidões instituídas, especificados os lugares, a extensão e o modo de exercício. 37 ▪ Para conclusão de seu trabalho de campo, o(s) perito(s) elaborará(ão) memorial descritivo, organizando os quinhões e as servidões aparentes. ▪ Após a sua entrega, ouvidas as partes nos termos do já comentado art. 586 (as partes terão o prazo comum de 15 (quinze) dias para se manifestar sobre o relatório dos peritos juntado aos autos. Feitas as correções determinadas pelo juiz, os limites demarcandos serão descritos segundo o memorial e a planta), o escrivão lavará um auto de divisão, observando as diretrizes do § 3º, o qual será assinado pelo magistrado e peritos; e uma folha de pagamento para cada condômino, contemplando os itens discriminados no parágrafo segundo quando existentes. ▪ Por derradeiro, o juiz proferirá sentença homologatória da divisão. ▪ Assim, ainda que haja apelação, em regra, ela não terá efeito suspensivo (art. 1.012, I), de modo que aquela sentença deverá produzir os seus regulares efeitos de imediato, dentre eles, o principal: o registro da sua transcrição no Cartório de Registro de Imóveis (Lei Federal 6.015/73, art. 168, II, “b”). 38 ▪ Art. 598. Aplica-se às divisões o disposto nos arts. 575 a 578. ▪ ---------- ▪ Trata-se de disposição repetitiva e desnecessária, tendo em vista que o já comentado art. 589 determina expressamente o recurso aos arts. 577 a 578 para os procedimentos voltados às fases citatória e de defesa, além de definir o rito do procedimento comum para prosseguimento da demanda divisória após o prazo de resposta do(s) réu(s). 39 FIM
Compartilhar