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Filosofia e Cidadania 20193-000000(FT) - 9132019 - 620 PM

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PARTE 00 _ FILOSOFIA_E_CIDADANIA_grupoTiradentes.pdf
FILOSOFIACIDADANIA
&
Jorge Renato Johann Série Bibliográfica
4ª Edição
4ª Edição
J65f Johann, Jorge Renato.
Filosofia & cidadania. / Jorge Renato Johann. – 4. ed. – Aracaju : UNIT, 2012.
204 p. : il. 
ISBN: 978-85-7833-162-7
Inclui bibliografia
1. Educação. 2. Filosofia. 3. Cidadania. 4. Ideologia. 5. Ética e sociedade. I. Titulo. 
CDU: 37:1
Redação:
Núcleo de Educação a Distância - Nead
Av. Murilo Dantas, 300 - Farolândia
Prédio da Reitoria - Sala 40
CEP: 49.032-490 - Aracaju/SE
Tel.: (79) 3218-2186
E-mail: infonead@unit.br
online@set.edu.br
Impressão:
Gráϐica Santa Marta
Rua Hortêncio Ribeiro de Luna, 3333 
Distrito Industrial - João Pessoa - PB
Telefone: (83) 2106-2200
Site: www.graϐicasantamarta.com.br
Ilustrações
Geová da Silva Borges Junior
Jouberto Uchôa de Mendonça
Presidente do Conselho de Administração do 
Grupo Tiradentes
Jouberto Uchôa de Mendonça Junior
Superintendente Geral
André Tavares
Superintendente Administrativo Financeiro 
Ihanmarck Damasceno dos Santos
Superintendente Acadêmico
Jouberto Uchôa de Mendonça 
Reitor – Unit
Dario Arcanjo de Santana 
Diretor Geral- Fits
Temisson José dos Santos 
Diretor Geral – Facipe
Jane Luci Ornelas Freire
Gerente de Educação a Distância 
Lucas Cerqueira do Vale
Coordenador de Tecnologias Educacionais 
Maynara Maia Muller
 Assessora Pedagógica de Projetos 
Corporativos Online 
Equipe de Produção de 
Conteúdos Midiáticos: 
Assessor
Rodrigo Sangiovanni Lima
Corretores ortográϐicos
Ancéjo Santana Resende 
Fabiana dos Santos
Diagramadores
Andira Maltas dos Santos 
Claudivan da Silva Santana 
Edilberto Marcelino da Gama Neto 
Edivan Santos Guimarães
Ilustradores
Geová da Silva Borges Junior 
Matheus Oliveira dos Santos 
Shirley Jacy Santos Gomes
Webdesigners
Fábio de Rezende Cardoso 
José Airton de Oliveira Rocha Júnior
Marina Santana Menezes
Pedro Antonio Dantas P. Nou 
Equipe de Elaboração de 
Conteúdos Midiáticos:
Supervisor 
Alexandre Meneses Chagas 
Assessoras Pedagógicas
Kalyne Andrade Ribeiro 
Lívia Lima Lessa
Projeto Gráϐico
Andira Maltas dos Santos 
Edivan Santos Guimarães
Palavra do Autor
Filosofar é Viver!
O ser humano é único ser que pensa e sabe que pensa. Quem não pára 
para pensar se move como um animal irracional, como um objeto manipulado e 
como uma massa de manobra passiva e teleguiada. Portanto, é preciso garantir 
a condição humana através de um pensamento lúcido a respeito de todas as 
coisas que nos rodeiam. Identificar-se como um ser pensante é garantir a con-
dição de um sujeito fazedor de sua própria história e da história de seu povo. 
É o pensamento que move a história humana. Nisso se funda o significado e 
importância da Filosofia na prática educativa em todos os níveis da educação.
O exercício da Filosofia independe do espaço que ocupamos e da tarefa 
que executamos. Assim todos os cursos precisam incluir a prática filosófica na 
sua formação humana e profissional. Uma escola só cumprirá sua missão inte-
gralmente se promover sujeitos conscientes e comprometidos com a construção 
de um mundo melhor para todos. A Filosofia se coloca na base da cidadania 
necessária como condição de homens e mulheres que pensam e que agem em 
favor de uma sociedade mais justa e mais solidária. 
Filosofia e Cidadania é a disciplina que representa um instrumento 
e um espaço especial na formação dos alunos da Universidade Tiradentes. O 
compromisso histórico da UNIT se revela em todos os momentos das práticas 
educativas que nela se executam. O pensamento que as movem é formar seres 
humanos e profissionais competentes e éticos para uma realidade melhor para 
todos os habitantes do planeta. 
A elaboração do livro texto de Filosofia e Cidadania perpassa, do prin-
cípio ao fim, a utopia de um mundo bom para se viver. É certo que ainda não 
temos a realidade com que sonhamos. Mas temos a certeza de que, com a cons-
ciência que se faz compromisso e ação, haveremos de concretizá-la ao longo do 
tempo de nossa travessia como cidadãos.
Para isso, apresentamos o texto de Filosofia e Cidadania. Convidamos 
a todos vocês a se desarmarem de qualquer ideia preconcebida e abrirem suas 
mentes e corações para o despertar de pensamentos e práticas que contribuam 
para a formação de um novo ser humano e de uma nova sociedade.
Prof. Jorge Renato Johann
Parte 1 Aspectos Filosóϐicos, Ideológicos e Educacionais
1 A Era do Conhecimento _____________________________11
1.1 O conhecimento ϐilosóϐico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.2 As relações homem-mundo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
1.3 A sociedade aprendente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
1.4 A condição humana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
Resumo do Tema . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
Exercício de Aprendizagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
2 Filosoϐia e Ideologia ________________________________57
2.1 O processo de ideologização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
2.2 A construção da cidadania . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .66
2.3 O conhecimento e valores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
2.4 Educação e mudança . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
Resumo do Tema . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96
Exercício de Aprendizagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
Sumário
Parte 2 Ética e Cidadania
3 Ética e Educação _________________________________ 107
3.1 Ética e moral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .108
3.2 O compromisso ético . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .114
3.3 A formação do cidadão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .121
3.4 O ser humano integral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .130
Resumo do Tema . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .139
Exercício de Aprendizagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .140
4 Ação Educativa e Cidadania _____________________ 149
4.1 O exercício da cidadania . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .150
4.2 Ética, labor e trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .156
4.3 Vita activa: ética e ação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .170
4.4 A utopia da esperança . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .178
Resumo do Tema . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . .186
Exercício de Aprendizagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .188
Referências Bibliográϐicas ___________________________ 198
Ementa
A era do conhecimento: conhecimento filosófico, as relações homem-
mundo, a sociedade aprendente, a condição humana. Filosofia, ideologia, edu-
cação: o processo de ideologização, a construção da cidadania, o conhecimento 
e valores, educação e mudança. Ética e cidadania: ética e moral, o compromisso 
ético, a formação do cidadão, o ser humano integral. A ação educativa e cidada-
nia: o exercício da cidadania, ética, labor e trabalho, vita activa: ação e ética, a 
utopia da esperança.
Justificativa
A tarefa da educação é a de formar homens e mulheres que se 
desenvolvam em todos os aspectos de sua condição humana. Isso implica 
numa ampla formação técnica e humana. A era do conhecimento precisa levar 
ao desenvolvimento da habilidade profissional, à capacidade de conviver em 
um mundo plural, pleno de diversidades e em que as diferenças levam ao 
enriquecimento individual e coletivo. A disseminação dessas ideias é o papel 
da Filosofia, como exercício da reflexão crítica sobre todas as realidades 
humanas. O foco da disciplina de Filosofia e Cidadania se insere nessa 
perspectiva de formação integral do ser humano. O mundo atual se apresenta 
de forma paradoxalmente carregado de possibilidades e, ao mesmo tempo, com 
problemas que o remetem a uma barbárie primitiva. Disso surge a exigência 
de que as transformações aconteçam urgentemente. Isso só será possível com 
a ação consciente, dinâmica e solidária de indivíduos que se constituam em 
cidadãos, ou seja, homens e mulheres fazedores de história. A utopia de um 
novo homem e de uma nova sociedade, vivendo em um mundo onde haja lugar 
para todos os habitantes do planeta, é o grande desafio histórico da atualidade.
Concepção da Disciplina
Objetivos
  evidenciar uma ampla compreensão do processo de desenvolvimento do 
conhecimento humano e da sua origem através das diferentes leituras de 
mundo, da interpretação filosófica, até chegar à ciência contemporânea.
  identificar o significado e a importância da filosofia no conjunto dos 
conhecimentos construídos pela humanidade e a necessidade de se 
desenvolver uma postura reflexiva e crítica diante da realidade do 
mundo e da vida contemporânea; 
  perceber a sutileza dos processos de ideologização que movem e ma-
nipulam os pensamentos, os comportamentos e os movimentos histó-
ricos do mundo contemporâneo;
  refletir sobre cidadania como valor e como exigência na construção de uma 
sociedade sustentável, em que a educação assume um papel fundamental;
  identificar a ética como uma postura filosófica na construção de um 
novo homem e de uma nova sociedade; 
  desenvolver uma postura reflexiva e crítica que inspire e motive com-
portamentos de cidadãos comprometidos com a construção de uma 
sociedade balizada por valores éticos.
Avaliação
A avaliação da disciplina será realizada a partir da:
  Medida de Eficiência (ME): que deverá ser feita ao longo das Unidades 
no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) no total de duas ME por Uni-
dade. O prazo para realizar a ME é de até 48h antes da data da avaliação (por 
Unidade). Para cada ME você terá duas tentativas de resposta; 
Organização da Disciplina
Bibliografia Básica
ALVES, Rubem. Filosofia da Ciência. São Paulo: Loyola, 2007. 
BUZZI, Arcângelo R. Introdução ao Pensar. Petrópolis: Vozes, 2002.
CHAUÍ, Marilena. Convite a Filosofia. São Paulo: Ática, 2008. 
Metodologia de estudo
O aluno terá o acompanhamento docente no Ambiente Virtual de Aprendiza-
gem, tendo acesso a diversos recursos como: conteúdo textual web, vídeos, podcast, os 
quais servirão de apoio para a compreensão do conteúdo. Há também os fóruns e chat, 
que permitem a interação e o compartilhamento de ideias, além das atividades online 
como as Medidas de Eficiência. A disciplina possui uma dinâmica que permite a relação 
teoria e prática dos conteúdos e a interação entre professor/aluno e aluno/aluno, pre-
sencial e a distância. O Livro Impresso faz parte da dinâmica de estudo e permite que o 
aluno, mesmo estando offline, estude os conteúdos necessários para a compreensão da 
disciplina. Assim, é de fundamental importância o autoestudo por parte do aluno, reser-
vando um tempo para o leitura e o desenvolvimento das atividades na disciplina.
Exercícios de aprendizagem
Ao finalizar um Tema, o aluno terá a oportunidade de testar seu conhecimen-
to respondendo o Exercício de Aprendizagem que é composto de quatro questões sub-
jetivas, sendo uma para cada conteúdo e oito questões objetivas, sendo duas para cada 
conteúdo. O Gabarito das respostas estará no Ambiente Virtual de Aprendizagem. 
  Avaliação Presencial: é realizada presencialmente através de prova es-
crita, sendo uma por Unidade, com o valor de 0,0 a 8,0 pontos. A avaliação é 
individual e sem consulta, com questões objetivas e subjetivas contextualizadas.
Entendendo os ícones do livro
Ao longo do Conteúdo da Disciplina você irá encontrar no livro ícones que 
irão orientá-lo nos estudos. Conheça cada ícone:
Para Refletir: apresenta reflexões sobre o conteúdo abordado durante o 
texto a fim de desenvolver postura crítico – reflexiva sobre a realidade;
Atenção: destaca um conteúdo importante do texto para compreensão da 
temática;
Saiba Mais: são informações ou relatos de experiências considerados interes-
santes para o entendimento do conteúdo que está sendo abordado;
Indicação de Leitura: ficará no final de cada conteúdo e seu objetivo é 
promover a fundamentação: sugestão de texto, livro ou site que reforçam ou 
ampliam o conteúdo;
Anotação: tem por finalidade o registro das reflexões dos alunos.
Está no AVA : indica acesso ao Ambiente Virtual de Aprendizagem para co-
nhecer outros recursos que irão contribuir com o conteúdo estudado;
Exercício de Aprendizagem: indica uma atividade que está associada 
aos conteúdos estudados, que irá conter questões objetivas e subjetivas;
Resumo do Tema: síntese dos conteúdos do Tema abordado. 
Onde tirar as dúvidas?
No Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), acesse o "fale conosco" no 
mural principal para registrar suas Dúvidas de Conteúdo com o professor da disci-
plina e Dúvidas Técnicas quando for relacionado ao AVA.
PARTE 01 _ FILOSOFIA_E_CIDADANIA_grupoTiradentes.pdf
ASPECTOS
FILOSÓFICOS, 
IDEOLÓGICOS E 
EDUCACIONAIS
Parte 01
03
Tema
Neste tema, vamos abrir uma perspectiva 
ampla do mundo em que vivemos como a era do 
conhecimento. A busca incessante do conhecimen-
to se apresenta como um caminho que viabiliza a 
realização individual e coletiva. Portanto, é preciso 
lançar-se com muita força e esperança na aquisição 
do que temos como meio de conquistar o espaço que 
nos cabe em um mundo de imensas contradições e 
também de infinitas possibilidades. 
É preciso fazer com que, através do co-
nhecimento, sejam ampliadas as facilidades e di-
minuidas as dificuldades da existência humana. A 
grande meta deste novo milênio é a construção de 
um mundo em que haja lugar para todos os habi-
tantes do planeta.
Objetivos da Aprendizagem
Ao terminar a leitura e as atividades do Tema 1, 
você deverá ser capaz de:
  compreender o conceito, o significado 
e a importância do conhecimento filo-
sófico no conjunto dos conhecimentos 
construídos pela humanidade;
  identificar o que leva o ser humano 
a construir o conhecimento em sua 
relação com o mundo circundante;
  identificar as características e os de-
safios de uma sociedade aprendente;
  compreender a condição humana 
atual a partir de suas contradições
e 
possibilidades. 
A ERA DO 
CONHECIMENTO
Tema
01
Filosoϐia e Cidadania12 
1.1 O conhecimento filosófico
O processo de evolução do conhecimento acontece e exige dos seres 
humanos um incessante esforço de superação das dificuldades e ampliação das 
facilidades para existir em um mundo onde precisa haver lugar para todos os 
habitantes do planeta. 
O ser humano se hominizará e se humanizará1 quanto mais cons-
truir dentro de si e fora de si condições materiais, sociais, intelectuais e espirituais 
de melhor qualidade. Portanto, a humanização será um permanente processo de 
construção de sua própria vida. Para isso, é preciso conhecer cada vez mais o seu 
mundo para transformá-lo e nele se inserir de forma plenamente realizadora.
As hipóteses com as quais os cientistas atualmente trabalham a respei-
to da origem do universo remetem a sua datação para quinze bilhões de anos. 
A vida sobre o planeta terra teria surgido a aproximadamente cinco bilhões de 
anos e os vestígios mais antigos de hominídeos remontam a sete milhões de 
anos. Portanto, embora sempre se trate de hipóteses, é considerável o tempo em 
que seres pensantes transitam sobre a terra.
A ação humana sobre o planeta se deu de forma lenta e temerosa ao 
longo de todo esse tempo. A vertiginosa velocidade que o processo de transfor-
mações foi tomando, data de um período muito recente. Ocorre que, enquanto 
todos os demais seres do universo receberam um projeto de existência pronto 
e pré-determinado pela natureza, o ser humano recebeu uma mera possibilida-
de de existir. Cabe a ele ajustar o meio para poder nele subsistir e sobreviver. 
Paradoxalmente, esse ser diferente de todos os demais – os seres inanimados, 
os vegetais e os animais – é o mais frágil e indefeso. Sua infância, até se tornar 
adulto e poder sobreviver por si mesmo, é a mais demorada de todas. 
Todavia, com essa fragilidade, o ser humano recebe uma potencialidade 
infinita. Trata-se de uma dimensão que se revelará de múltiplas formas, através 
de suas capacidades intelectuais, emocionais e espirituais. Mesmo com o inexorá-
vel processo de envelhecimento físico ao qual ele está submetido, inevitavelmente 
sucumbindo ao tempo, suas capacidades mentais poderão evoluir de forma ascen-
dente e ilimitada. Existe, portanto, neste ser finito uma dimensão infinita que o 
projeta para uma transcendência sob todos os aspectos de sua condição humana. 
1 Hominizar diz respeito à geração de um ser humano do ponto de vista biológico, enquanto hu-
manizar se refere à construção de um ser humano em seus múltiplos aspectos a serem desenvolvidos. 
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A discussão em torno da origem do universo e do homem é uma temá-
tica que se manifesta em múltiplias posições e de forma inesgotável. Há quem 
entenda que tudo teria surgido por obra de um processo evolutivo. De formas 
mais simples da matéria, uma complexificação cada vez mais elaborada teria 
resultado no surgimento da vida sobre a terra e em níveis de consciência nos 
seres humanos. Todos os seres que compõem o universo seriam, portanto, re-
sultantes de um processo evolutivo ascendente, de seres inferiores para seres 
mais complexos e, portanto, superiores na escala evolutiva. Na contrapartida, 
há quem defenda o creacionismo, isto é, a explicação de que o universo e tudo 
quanto nele existe, especialmente o ser humano, teriam sido criados por Deus 
em um tempo determinado. 
O processo de hominização e de humanização acontece e exige dos se-
res humanos um incessante esforço de superação das dificuldades que se im-
põem a sua existência. O ser humano em parte coincide com a natureza e, em 
outra parte, dela se diferencia. Sua existência, assim, se constitui num somató-
rio de dificuldades e de facilidades. Hominizar-se e humanizar-se são as tarefas 
que o desafiam permanentemente. Para isso, o ser humano haverá de buscar 
contínua e indefinidamente os múltiplos saberes necessários para se inserir em 
um mundo que parte coincide com ele e, em outra parte, diferencia-se dele e 
que precisa ser compreendido e ajustado. Portanto, todo o conhecimento será 
resultado dessa relação do homem com o seu mundo, que precisa se arrumado 
de acordo com sua condição de nele existir. Atualmente, a ação humana sobre 
o mundo se intensifica e se acelera, sob alguns aspectos, de forma assustadora, 
enquanto se pensa em um mundo bom para todos.
Mais do que as respostas, são as perguntas que movem a história. As trans-
formações que ocorreram no mundo foram resultado do pensamento 
humano. A consciência de que o existir se apresenta como um problema a 
ser resolvido é que pode produzir os grandes avanços e as soluções ne-
cessárias para a humanização do próprio homem e do ambiente circundan-
te. Aqui se coloca a Filosofia como uma forma de conhecimento importante 
Filosoϐia e Cidadania14 
e necessária, desde o seu conceito mais simples do senso comum até o seu 
significado mais amplo e profundo. 
Pode-se conceituar filosofia como sendo o simples modo de pensar de 
qualquer ser humano. A sua filosofia de vida é constituída por suas ideias, seus 
ideais e seus valores. Será de acordo com esse seu arcabouço mental que 
esse indivíduo conduzirá a sua vida. Muitas vezes, quando não consegue vi-
ver coerentemente com sua forma de pensar, ele acabará modificando os seus 
pensamentos, adequando-os ao seu jeito de viver. Trata-se de uma questão de 
coerência com a forma de construir a sua vida. 
Esse conceito simples acima exposto faz parte do senso comum e é per-
feitamente válido. Todavia, essa é uma primeira forma de se conceituar filosofia. 
Ao longo da história, em suas origens, a filosofia surge com os pensadores gregos. 
Os filósofos - assim eram conhecidos e denominados esses pensadores - eram 
aqueles mestres que detinham a totalidade dos conhecimentos auferidos pela hu-
manidade até então. Essa é a razão pela qual eles passaram a ser considerados 
amigos da sabedoria (filos=amigo e sofia=sabedoria) e assim eram chamados de 
filósofos. Eram os mestres, os educadores, os orientadores políticos, por vezes 
até mesmo orientadores religiosos e assim eram respeitados, ouvidos e seguidos 
pelos seus contemporâneos. Eram os sábios que sabiam tudo de tudo.
Diferentemente do senso comum, que é difuso e acrítico, e também 
avançando em relação à mitologia, uma linguagem ainda extremamente mar-
cada por metáforas, pela oralidade e pelo conteúdo fideísta, a filosofia se apre-
sentava como um grande esforço racional de entendimento e explicação de todas 
as realidades humanas. O resultado desse esforço foi o surgimento de renoma-
dos pensadores, que produziram obras que passaram a inspirar toda a constru-
ção do conhecimento humano até os dias de hoje.
A história da filosofia se constitui assim num capítulo importante da 
cultura humana. Foi através dos filósofos que a interpretação sobre o mundo se 
aprofundou e foram lançadas as sementes do que resultou modernamente na ci-
ência contemporânea. O mundo não teria evoluído não tivesse havido o esforço de 
grandes pensadores que sobre ele se debruçaram em busca de seu entendimento. 
Desde a Antiguidade até a Idade Média, portanto, há pouco mais de 
quinhentos anos, havia somente a filosofia a englobar a totalidade dos conhe-
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cimentos. Além da Filosofia, é preciso distinguir e destacar a Teologia, como a 
busca do conhecimento das coisas que remetem a humanidade para as ques-
tões transcendentais. Alguns grandes filósofos foram também grandes teólogos 
como Santo Agostinho (354-430 d.C) e São Tomás de Aquino (1225-1274 d.C.).
Eram os filósofos que cuidavam
da matemática, das ciências naturais, 
da busca do entendimento dos fenômenos humanos, das práticas educativas e 
tudo o que poderia dizer respeito às realidades do mundo e do homem. Com o 
advento da Idade Moderna e a substituição da cosmovisão teocêntrica2 pela 
perspectiva antropocêntrica, em que a fé passava a ser substituída pela razão 
humana, os conhecimentos passam a se fragmentar cada vez mais, originando-
se o conhecimento científico, produto da razão humana. 
Cada área do saber começa a apresentar as suas especificidades e seus 
expoentes e pesquisadores. Os avanços da ciência e da técnica começam a se 
apresentar cada vez mais rapidamente e o que a humanidade não progrediu ao 
longo de milhares de anos, agora vai conhecer avanços cada vez mais acelera-
dos. A idade contemporânea chega e se afirma cada vez mais com a convicção 
de que ciência e técnica finalmente resolveriam todos os problemas humanos. 
A fragmentação dos saberes resultou em infindáveis listas de novas e 
específicas áreas do conhecimento, de sorte que, no caminho da máxima espe-
cialização, o espaço dos generalistas3 foi perdendo o seu status e sua impor-
tância. Impôs-se o mundo dos especialistas. E diante da infinidade das novas 
áreas do conhecimento e diante do volume imenso de novos conhecimentos a 
aumentar cada vez mais rapidamente, resta a pergunta: 
Qual é o significado e a importância da Filosofia no conjunto dos conheci-
mentos construídos pela humanidade, quais as questões que ainda restam 
para o filósofo e qual é o seu espaço e sua tarefa? 
2 Cosmovisão teocêntrica é uma visão segundo a qual tudo era percebido e explicado como 
sendo obra de deuses ou de Deus... isso quando não se atribuí a seres da natureza a condição de 
divindade. Por exemplo, uma trovoada era compreendida como se fosse a presença de um deus 
embravecido.... e que teria que ser apaziguado para que não viesse a punir os homens...
3 Generalista é aquele que procura saber tudo de tudo, enquanto o especialista é aquele que 
procura saber tudo de um campo cada vez mais centrado e reduzido da realidade.
Filosoϐia e Cidadania16 
O filósofo não é mais aquele que detém todo o conhecimento, até porque, 
diante da infinidade sem conta de novas áreas de conhecimento, seria absoluta-
mente impossível alguém ter a pretensão de ser um especialista em todos os conhe-
cimentos. Porém, a importância da Filosofia está na sua tarefa de pensar o mundo 
e refletir sobre seu significado. Assim, um pensador se dobrará sobre o seu mundo 
para percebê-lo com mais clareza a respeito de suas razões últimas. 
A postura do filósofo se revela pela capacidade de perguntar. É o afã 
de construir permanentemente o que ainda não somos que nos leva ao questio-
namento a respeito de tudo o que nos cerca. Nenhum outro ser conhecido faz 
uma pergunta. Repetindo o programa pré-determinado pela natureza, todos os 
demais seres do universo simplesmente realizam o que para eles já foi progra-
mado pela natureza. Portanto, nenhuma nova indagação os inquietará.
O ser humano, desde que abre os seus olhos, pela primeira vez, já ma-
nifesta a sua inquietação que o fará buscar respostas enquanto viver. A crian-
ça pergunta insistentemente a respeito de tudo. Infelizmente, essas perguntas, 
muitas vezes, são ridicularizadas, sufocadas e silenciadas. Muitos professores, 
na escola, não gostam do aluno que faz muitas perguntas, enquanto os pais, na 
família, sem saberem o que dizer, silenciam e também fazem calar.
Diante de tantos mecanismos que buscam silenciar desde uma criança até 
adultos de todas as idades – um ser humano quieto não incomoda! – é preci-
so verificar se ainda somos capazes de nos indignar com tudo o que acontece 
ao nosso redor. O filósofo ainda não morreu dentro da gente se ainda não nos 
acostumamos com o inaceitável diante de nossos olhos.
Com que facilidade nos acostumamos com tudo e nada mais nos in-
comoda. É melhor ficar quieto. É melhor não reagir. É melhor não se envolver 
em confusão. Uma encrenca sempre dá trabalho. E assim vamos morrendo por 
dentro e vivendo no limite do inaceitável e intolerável. Porém, viver acostuma-
dos com os absurdos que nos rodeiam é abrir mão da própria dignidade que nos 
faz sentir vivos, mais atores do que meros reatores diante dos acontecimentos. 
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Assim, o mundo dominante nos quer passivos e acomodados. Na antiguidade 
greco-romana, oferecia-se pão e circo para as massas populares manterem-se 
passivas. Atualmente, basta oferecer o circo (futebol, novelas, etc.) e o povo se 
diverte, inconsciente e manipulado. A reação à essa passividade é um desafio à 
dignificação humana. Diante disso, a inquietação filosófica se coloca como um 
meio de humanização e de preservação da cidadania. 
O filósofo é alguém que busca viver e conviver com as diferenças. O dife-
rente é que nos instiga e encanta para além da acomodação. Já não existe mais um 
filósofo dentro de alguém que não sabe conviver com um pensamento diferente, 
com uma cultura diferente da nossa, de um credo, de uma cor, de um sabor ou de 
um jeito diferente de ser. As diferenças sempre serão um desafio para aprender e 
crescer. Jamais a atitude de nivelamento e de achatamento produzirá algo de sig-
nificativo e interessante para mover a realidade. A convivência com o diferente só 
será possível se nos despojarmos de qualquer atitude preconceituosa e dogmática. 
A postura filosófica brotará da saudável inquietude que nos leva a 
questionar o mundo que nos cerca. Não se trata de uma inquietação neurótica e 
de uma ansiedade patológica, mas de uma sensibilidade que se manifesta num 
profundo sentido de alteridade. O filósofo é alguém que se ocupa e se preocupa 
com o outro. Sua sensibilidade o faz perceber a alegria, a tristeza, o encanta-
mento, o desapontamento, o medo, a raiva, o desânimo, a força e tudo o mais de 
que se compõe a personalidade humana. O filósofo se importa com o outro e tudo 
que diz respeito ao seu mundo. Ele está atento a tudo que se passa ao seu redor 
e buscará expressar essa percepção de alguma forma. 
Naturalmente que a postura do filósofo não permanecerá somente ao 
nível do senso comum, dos sentimentos e de uma mera sensibilidade inicial e 
ainda descomprometida. O filósofo também se exercita e se constrói. Sua in-
quietação o levará a sair de sua zona de conforto e exercer uma prática liberta-
dora corajosa e transformadora.
O estudo da Filosofia, em nossa sociedade, acabou se transformando em um 
pesadelo para a maioria de nossos estudantes, restando uma experiência pou-
co positiva. Dois aspectos explicam o fato: o primeiro é histórico e o segundo 
Filosoϐia e Cidadania18 
é pedagógico. Historicamente, precisamos lembrar que as últimas décadas da 
história brasileira foram marcadas por um obscurantismo cultural. Por oca-
sião da revolução militar de 1964, atendendo aos objetivos desenvolvimentis-
tas do capitalismo internacional, ajustou-se a educação aos modelos político 
autoritário e econômico associado e excludente aqui implantados. Para isso, 
excluiu-se das grades curriculares de todos os cursos médios e superiores 
todo e qualquer espaço reflexivo. Concomitantemente, submeteu-se à cen-
sura tudo o que fizesse esse povo pensar, ou seja, os meios de comunicação 
e toda expressão cultural. Resultou em um verdadeiro atraso cultural. Um 
povo que não pensasse, não ouvisse e nada falasse, isso é, silencioso e passivo, 
estaria facilmente subjugado e dominado. Por outro lado, nos espaços reflexi-
vos que ainda persistiram, ocupou-se o tempo em ler e decorar o pensamento 
dos clássicos da Filosofia, da Sociologia, da História etc., de tal forma que os 
estudantes passassem a rejeitar qualquer atividade cujo objetivo fosse des-
pertar
as consciências e toda e qualquer sensibilidade criativa. Restou uma 
educação a serviço de um modelo econômico determinado pela racionalidade 
tecnológica e economicista. Por essas razões, é preciso recuperar os espaços 
perdidos e fazer acontecer o despertar de um povo para a sua condição de 
cidadãos, donos e senhores de sua própria história. Filosofia e Cidadania se 
insere nesta busca e se constitui no espaço educativo cujo objetivo é aprender 
a pensar para fazer acontecer a história individual e coletiva da melhor forma 
possível. (Acesse a internet – no Google/You Tube – e escreva a pergunta O 
que é Filosofia? Você encontrará uma sequência de vídeos sobre o tema). 
 
O que é preciso para formar um filósofo?
Muito estudo. Estudar é ler o mundo e também ler o texto. Isso quer 
dizer que, para se exercitar o filósofo, é preciso leitura. Ler é algo árido e muitas 
vezes cansativo. Porém, somente quem lê muito, pensa bem, escreve bem e fala 
bem. Os neurônios se exercitam e as habilidades intelectuais não são resultado 
apenas de uma mera característica individual. É bem verdade que existem di-
ferentes inteligências. Alguns serão naturalmente mais reflexivos. Outros terão 
uma habilidade especial para expressar seus pensamentos de forma verbal ou 
de forma escrita. Outros serão ainda mais práticos e operativos. Todavia, nada 
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substitui a transpiração de quem se exercita em qualquer atividade humana. As-
sim como uma habilidade física resulta de muito treinamento, também as habi-
lidades intelectuais e mentais são fruto e produto de muito esforço e empenho. 
Fazer silêncio. Para refletir é preciso criar espaços de silêncio. É co-
mum que nossos estudantes tentem estudar com os fones de ouvido e o som 
nos últimos decibéis suportáveis aos ouvidos humanos. Mesmo que haja quem 
afirme que é assim mesmo que ele gosta de estudar, a super estimulação sonora 
é incompatível com o funcionamento das células nervosas do cérebro no que 
diz respeito à assimilação de conteúdos e da aprendizagem. Portanto, é preciso 
criar espaços interiores para que possa desabrochar a criatividade, a sensibili-
dade e florescer o mundo das ideias. 
 
Para produzir algo intelectualmente, é preciso desligar os aparelhos 
eletrônicos, buscar uma condição razoavelmente confortável e se concentrar. 
Sobretudo a reflexão filosófica, assim como a meditação e a oração, exige um 
mínimo de silêncio para que possa florescer na mente e no coração. É preciso 
começar já! Perguntou-se, certa vez, a um grande campeão de natação sobre 
qual era o momento mais difícil de sua vida esportiva. Ele respondeu que era 
o momento de saltar na água. Assim, uma longa jornada sempre se fará com o 
primeiro passo. Não será diferente com a construção intelectual. É preciso dar a 
partida e, por fim, acaba-se tomando gosto e atingindo profundidade no saber. 
O produto do pensamento filosófico poderá se manifestar das mais di-
versas formas: há quem escreva textos de grande qualidade; há quem expresse 
seus pensamentos e sentimentos em poemas; há os que se manifestam em letras 
de música; outros escreverão peças de teatro; outros ainda disseminarão ideias 
geniais na forma de humor e, de forma jocosa, elegante e inteligente, farão o 
público rir gostosamente, levando-o a pensar nas verdades que foram ditas; há 
também quem expresse um mundo de pensamentos em simples traços em uma 
folha em branco.
Assim, a filosofia adquire seu espaço que, de fato, ela nunca perdeu, mas 
apenas se modificou. O que tem feito morrer o sentido reflexivo, sobretudo em 
nossos jovens, é uma maneira árida e cansativa de fazer decorar o pensamento 
de pensadores do passado. Esses tiveram o seu tempo, a sua importância e 
sua originalidade. É muito importante conhecermos o acervo que eles nos le-
garam. Todavia, é preciso fazê-lo de forma prazerosa e, por certo, nunca será 
Filosoϐia e Cidadania20 
necessário decorar o que disse esse ou aquele pensador. Para beber na fonte 
dos grandes pensadores, bastará ir ao encontro deles nos livros e textos que 
deixaram. 
Portanto, na sequência da reflexão que se desenvolverá, em busca de 
uma aproximação da filosofia com a cidadania, trataremos de questões que 
apontem para a possibilidade de construirmos um novo homem e uma nova 
sociedade. Isto quer dizer que, somente se compreendermos as contradições 
em que se movimenta o homem contemporâneo, poderemos desencadear um 
processo de transformação.
Superar o nível de consciência que mantém a massa humana na con-
dição de mero objeto de controle e manipulação e fazer com que ela evolua 
para a condição de poder vivenciar a sua cidadania, é o desafio que terá, sobre-
tudo, a educação como força mobilizadora. É no ato educacional que se realiza 
a construção do conhecimento e a formação de seres humanos. Sua tarefa não 
poderá se reduzir a uma mera transmissão dos saberes auferidos pela humani-
dade, mas também é preciso que sua tarefa se amplie maximamente para que 
dela surjam cidadãos para uma nova realidade, em que o mundo seja um bom 
lugar para todos.
Você encontrará todo o conteúdo no Ambiente Virtual de Aprendizagem, na 
forma de vídeos, podcast, objetos de aprendizagem e na participação do fó-
rum de discussão. 
SOUZA SANTOS, Boaventura de. Um discurso sobre as ciências. 13. ed. 
Porto: Afrontamento, 2002.
A sociólogo português Boaventura de Souza Santos faz uma reflexão sobre o 
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conhecimento desde o senso comum até a ciência. Mostra como as questões 
que brotam da simplicidade de um conhecimento ingênuo, difuso, acrítico, 
dogmático e simples, dá origem aos questionamentos que levam a um conhe-
cimento altamente fundamentado e que precisa retornar à sua origem como 
um senso comum esclarecido. 
GAARDER, Jostein. O Mundo de Sofia. São Paulo: Companhia das Letras, 
2011.
O filósofo norueguês Jostein Gaarder elaborou uma síntese de toda a histó-
ria da Filosofia, desde a Antiguidade até os dias atuais, de forma sedutora e 
envolvente: uma adolescente recebe cartas anônimas em sua caixa postal e 
é desafiada a responder a instigantes perguntas para descobrir quem é seu 
correspondente anônimo. Assim, de desafio em desafio, vai revisando toda 
a evolução do pensamento filosófico, em um texto que arrasta para a leitura 
até o seu final. 
Filosoϐia e Cidadania22 
1.2 As relações homem-mundo
A existência humana constituir-se-á num permanente desafio de su-
peração de problemas. Todavia, é preciso compreender a problematização4 
da vida como uma grande possibilidade de crescimento. Ter que modificar algo 
que é inadequado e que, portanto, não serve, é o que faz com que tudo evolua no 
entorno e com que todas as coisas possam ser mudadas para melhor. Entretan-
to, essa melhoria só poderá acontecer na medida em que se ampliar o nível de 
consciência das condições circunstanciais. Essa afirmação equivale a dizer que é 
preciso conhecer o mundo para nele se inserir de uma forma mais satisfatória e 
realizadora. Quanto mais o homem conhece e penetra nos segredos da natureza 
e descobre os princípios que a regem, tanto mais ele terá possibilidade de se 
ajustar a um mundo de forma realizadora e satisfatória.
São as ideias que movem o mundo. Durante muito tempo, a humanidade se 
manteve num processo lento de desenvolvimento por perceber o mundo pela 
ótica do sagrado, intocável e imutável. A postura diante desta realidade era 
de temor e submissão. Como seu deu a passagem de uma perspectiva fideista 
e teocêntrica para uma cosmovisão racionalista, dando origem às grandes e 
rápidas transformações históricas da idade moderna e, por fim, ao mundo
tecnológico da idade contemporânea?
Ao longo da história, as relações entre os seres humanos e o seu mundo 
sempre foram marcadas pela maneira como estes conseguiam percebê-lo. Atuar 
ou não sobre a realidade vai depender de como ela é compreendida. No mundo 
primitivo, nossos ancestrais ainda não tinham condições de explicar o mundo 
4 Problematizar é a capacidade de identificar o que precisa ser mudado... às vezes é difícil 
e doloroso mudar, mas é a única possibilidade que temos de crescer e se desenvolver... é assim que 
as pessoas crescem e o mundo evolui… Observe-se que essa questão da problematização também 
é a questão mais fundamental para o desenvolvimento da ciência. Levantar uma grande questão 
para ser resolvida é um desafio que produz conhecimento. Portanto, problematizar é a base de 
desenvolvimento da pesquisa científica.
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circundante. Sua interpretação acabava sendo pela ótica do sagrado. A natureza 
e tudo o que ela continha era explicada através de uma perspectiva teocêntrica e 
fideista. Todos os fenômenos eram fruto e produto da ação de Deus ou de deuses. O 
que fundava esse conhecimento era um fideísmo, ou seja, a crença na presença e ação 
de divindades.
Augusto Comte (1798-1857), filósofo positivista, afirma ter a humanida-
de atravessado três estágios no que diz respeito à explicação do mundo: o estágio 
teocêntrico, o racional e o positivo. O teocentrismo caracterizou todo o período 
pré-histórico, a Antiguidade e toda a Idade Média. Os povos primitivos e antigos 
eram politeístas. Para eles, os deuses é que comandavam a vida e a morte de todos 
os seres. A natureza era sagrada e imutável. Não se poderia tocar em algo que fos-
se determinado por uma divindade ou que até mesmo fosse identificando como 
sendo a própria divindade. O Cristianismo trouxe a crença em um Deus único. O 
monoteísmo cristão passou a determinar de vez a fé como explicação de toda a 
condição humana: as relações sociais, políticas e econômicas. Tudo se justificava 
em nome de Deus. A cultura estava circunscrita aos mosteiros e catedrais. Somen-
te tinham acesso ao conhecimento mais elaborado os monges e alguns nobres. 
Esta visão teocêntrica e fideísta de mundo não combinava com o desen-
volvimento de uma ação mais efetiva sobre a natureza. Ao contrário, a crença no 
sagrado infundia um sentimento de temor e um comportamento de submissão. 
Quem ousasse pensar diferentemente do estabelecido pela ortodoxia vigente 
era taxado de herege e punido severamente. Todavia, houve homens e mulheres 
que tiveram a coragem de começar a questionar as verdades impostas e a du-
vidar de tudo o que não era explicado pela razão humana. A idade moderna, a 
partir do século dezesseis, surge com a ação crítica de homens e mulheres que 
tiveram a coragem de afirmar suas novas perspectivas. Um exemplo paradigmá-
tico se revela no pensamento de René Descartes (1596-1650). Um filósofo que 
inaugura um método da dúvida. Nada mais será aceito sem que passe pelo crivo 
da razão humana. Tudo precisava ser interpretado e compreendido através da 
razão. Assim, a dúvida metódica se coloca como um marco de um tempo em que 
a racionalidade humana vai conquistar e ocupar, cada vez mais, seu espaço na 
construção do conhecimento, dando início a era moderna. Junto de Descartes, 
outros pensadores vão concorrer para solidificar a revolução do pensamento 
humano, como Leonardo Da Vinci (1452-1519), Galileu Galilei (1564-1642), 
Francis Bacon (1561-1626), Giordano Bruno (1548-1600), etc.
Filosoϐia e Cidadania24 
Com uma nova compreensão de mundo, as transformações vão ocor-
rer em todos os setores da vida humana. A partir do momento em que se afir-
ma o heliocentrismo5, percebeu-se que daria para navegar sempre para a 
frente e que não se cairia nas garras de monstros, habitantes de abismos pro-
fundos. Afirma-se o sistema planetário em substituição a uma compreensão 
de uma terra plana como uma mesa. Empreendem-se as grandes navegações 
e descobrem-se novas terras em todos os quadrantes do planeta. Afronta-se 
o poder da igreja romana com os questionamentos dos reformadores protes-
tantes. Buscam-se inspirações na antiguidade greco-romana e a cultura dá 
saltos de excelência, constituindo-se num verdadeiro renascimento nas artes, 
na pintura, na escultura, na arquitetura, na música, na pedagogia etc. O de-
senvolvimento da ciência e da técnica produz uma revolução que afetará as re-
lações humanas sob todos os pontos de vista. O modo de produção se desloca 
do setor primário para o setor secundário e, a partir de meados do século XIX, 
a industrialização vai se constituir no mecanismo de produção de bens econô-
micos. Os pensadores iluministas disseminaram ideias de liberdade, de igual-
dade e de fraternidade. Por fim, os três séculos da idade moderna produzem 
a derrocada do feudalismo, cuja estrutura garantiu os privilégios da nobreza e 
do clero durante mil e trezentos anos. Com a revolução burguesa, surge a nova 
ordem econômica e social do capitalismo e sua contrapartida socialista. 
A princípio, a natureza era tida como um obstáculo intransponível, já 
que era dominada por divindades que não permitiam que sobre ela se atuasse e 
se modificasse o que era prerrogativa exclusivamente sua. Pela ótica do Cristia-
nismo medieval, sob a hegemonia da igreja romana, o conhecimento não pode-
ria chegar ao alcance do povo para que interpretações errôneas não induzissem 
a heresias. Quem ousasse pensar diferente do que era estabelecido pela Igreja e 
pela sociedade dominante de então, poderia ser levado para a fogueira inquisi-
torial. Muitos homens e mulheres, de fato, foram queimados, como a francesa 
Joana D’Arc (1412-1431) e o monge italiano Giordano Bruno (1548-1600). Ela, 
uma mulher guerreira, é queimada viva com a acusação de bruxaria, e ele, um 
cientista, é queimado, em Roma, sob a acusação de que seus estudos científicos 
eram contra a doutrina cristã. Na verdade, o que não se queria era correr o risco 
da perda de privilégios e de poder. 
5 Heliocentrismo é a descoberta de que o centro do sistema planetário é o sol e não a terra... 
tudo gira em torno do sol e não da terra...
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Com o advento das idades moderna e contemporânea, a natureza passa 
a ser investigada em suas entranhas e seus princípios passam a ser dissecados. 
Surgem a ciência e a técnica. Os seres humanos não se submetem mais à na-
tureza, mas aprendem com ela e a tornam coadjuvante em seu desenvol-
vimento. Por fim, chega-se a um mundo em que a natureza é dominada. 
Desenvolvem-se imensas possibilidades de se criar um verdadeiro céu neste 
planeta. As ciências vão dissecando os mistérios mais profundos de todos os 
fenômenos e a técnica instrumentaliza os seres humanos, conferindo-lhes um 
extraordinário poder de transformação. As dificuldades são minimizadas sob 
todos os pontos de vista. As facilidades para se viver cada vez mais e em condi-
ções cada vez melhores aumentam significativamente.
Na contrapartida, surge um paradoxo assustador: jamais houve tanto poder 
para se resolverem todos os problemas humanos, jamais se construíram tan-
tas riquezas, jamais foi tão possível fazer deste planeta um lugar tão bom para 
se viver e, contudo, nunca houve tanta violência, nunca tantos seres humanos 
passaram tanta fome, nunca houve tanta destruição e morte e jamais houve 
tantas diferenças quanto ao longo do século vinte e vinte e um. 
Diante disso, é preciso fazer-se algumas considerações que exigirão 
uma reflexão profunda: 
• a grande maioria das pessoas se relaciona com o seu mundo de forma 
simples, ingênua, acrítica, imediata, difusa e dogmática. Isto quer dizer 
que sua
interpretação da realidade é marcada por um nível bem redu-
zido de consciência sobre as verdadeiras razões que movem os acon-
tecimentos ao seu redor. Resulta que elas acabam sendo submetidas e 
manipuladas pelo contexto que as cerca, tornando-se muito pouco su-
jeitos de sua própria história. Elas percebem os fatos acontecendo, mas 
sequer se questionam sobre os porquês e tampouco se darão conta dos 
mecanismos de manipulação dos quais acabam sendo vítimas; 
Filosoϐia e Cidadania26 
• o grande fascínio da humanidade foi e continua sendo o fantásti-
co desenvolvimento tecnológico. O seu resultado se transformou 
numa parafernália que encanta homens e mulheres em todas as 
idades. Ficou muito mais fácil se viver no que diz respeito ao trans-
porte, às comunicações, à manutenção da saúde e à cura de do-
enças, à alimentação mais saudável, ao lazer com o aumento do 
tempo liberado de tarefas antes braçais e opressivas, o acesso ao 
conhecimento e à educação etc. Atingiu-se a culminância da enge-
nhosidade humana com o desenvolvimento de uma tecnologia que 
substitui não somente a mão humana, mas o próprio pensamento 
humano. A rapidez com que tudo acontece, o ritmo alucinante das 
mudanças e inovações, criam um admirável mundo novo, na ex-
pressão do escritor inglês Aldous Huxley (1894-1963);
• entretanto, como explicar os descaminhos pelos quais se embre-
nha a humanidade na razão geométrica em que avança em suas 
conquistas? O fenômeno da massificação asfixia multidões em todo 
o planeta, num processo de despersonalização embrutecedora. O 
consumismo leva as pessoas à perda da própria identidade, em que 
ter coisas há muito passou a ser mais importante do que ser gente. 
Tem-se a impressão de que as massas correm desenfreadamente 
para o vazio do sem sentido, que se manifesta em neuroses, an-
siedades, estresses e doenças psicossomáticas de todo tipo. As exi-
gências de consumo de bens supérfluos impostos pela sedução da 
propaganda produzem um ativismo enlouquecedor. É preciso tra-
balhar cada vez mais para pagar o que se gastou com o que não era 
necessário. A ansiedade, que resulta da pressão por sempre se gastar 
mais do que se pode, vai gerando conflitos internos e externos e uma 
pressão desmedida.
O processo filogenético6 é reproduzido, em pequena escala, pelo proces-
so ontogenético. Isso quer dizer que, assim como a humanidade se desenvolveu 
ao longo de milhões de anos, tendo um longo período de infância – pré-história, 
6 Filogenia diz respeito à origem e evolução da humanidade, enquanto ontogenia diz res-
peito à origem e evolução do ser humano individual.
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antiguidade, idade média, de adolescência – idade moderna, e de adultez, idade 
contemporânea, também um ser humano individual passa pelas mesmas fases. As-
sim como a evolução de toda a humanidade foi determinada pela forma como foi 
compreendendo e atuando sobre o mundo, também o crescimento individual se 
dará pela maneira como ele se relaciona com o seu mundo. Assim, cada indivíduo 
vai até onde acredita que pode ir e terá o tamanho de seu pensamento. O que deter-
mina grandemente o crescimento ou a estagnação pessoal são as crenças que cada 
um fixa em sua mente a respeito de seu mundo. Muitos indivíduos acreditam que 
nasceram para sofrer e que é vontade de Deus a sua condição de miséria e sofrimen-
to. Todavia, quando alguém desperta e compreende que ninguém nasce para sofrer 
e que a miséria não é vontade de Deus, ele assume a tarefa histórica da transfor-
mação pessoal e coletiva. Passa a estabelecer horizontes ilimitados e vai à busca da 
realização de seus projetos e propósitos. Portanto, desmistificar e desfazer crenças 
limitadoras para o próprio crescimento é um desafio que se impõe a todo ser hu-
mano para romper com as amarras internas e externas. Assim como a humanidade 
foi avançando em seu processo de desenvolvimento, cada ser humano individual 
precisa compreender que, dentro do contexto em que ele se insere, é preciso que 
cada um seja o sujeito, dono e senhor de sua própria história. 
O ser humano é o único ser que tem a tarefa de arrumar7 o mundo 
para nele se inserir. Esta é a razão pela qual ele busca o conhecimen-
to. Vai depender da forma como ele percebe o seu mundo o tanto que 
ele vai avançar no seu desenvolvimento pessoal e coletivo. O conheci-
mento sempre resulta da relação do homem com o mundo. Portanto, 
é preciso assumir uma postura de enfrentamento e de realização, de 
forma positiva e esperançosa, para que a sua travessia por este planeta 
seja marcada por realizações e conquistas e realizadoras. Você terá o 
tamanho do alcance de seu pensamento e irá até aonde você acredita 
que poderá ir. Pense alto e olhe para o infinito. Não haverá limites para 
sua possibilidade de crescimento. 
7 Poderia utilizar outro termo?
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Assim se apresenta a realidade paradoxal de nosso mundo: um uni-
verso de infinitas possibilidades e de aspectos assustadores e ameaçadores da 
própria condição de sustentabilidade da sobrevivência do próprio planeta. To-
davia, é preciso encarar tudo o que se apresenta de forma realista: esse é o nosso 
mundo. Ele não é melhor e nem pior do que já foi ou que poderá vir a ser. Tudo 
vai depender de como haveremos de nos posicionar diante do que está posto. 
Assumir uma postura positiva e decisória frente ao mundo é uma necessidade 
fundamental. Isso quer dizer que precisamos encarar a realidade em sua verda-
deira dimensão de fragilidade e de potencialidades. Novamente se nos impõe 
o desafio histórico de minimizar as dificuldades e ampliar as facilidades. Tudo 
isso resultará da postura e do engajamento de homens e mulheres conscientes, 
dinâmicos, e que acreditam na utopia de um mundo melhor para todos. Isso é 
que representa a postura de cidadãos a exercer a sua cidadania como um com-
promisso ético fundamental. Toda a posição que prenuncia uma terra arrasada 
precisa ser abandonada e substituída pela esperança construída de que o mun-
do é transformável, de que ainda há tempo e que a utopia de um mundo em que 
caibam todos pode ser transformada em realidade.
No próximo assunto trataremos das características da sociedade em 
que vivemos. É preciso compreender o tipo de sociedade que se apresenta para 
podermos pensar nos meios para nos inserir nela e nos realizar como seres hu-
manos individuais e construir um mundo bom para todos. Verificaremos que 
se trata de uma sociedade do conhecimento e que o caminho será a busca inces-
sante dos saberes como possibilidade de concretização da utopia de um novo 
homem e de uma nova sociedade. 
Você encontrará todo o conteúdo no Ambiente Virtual de Aprendizagem, na 
forma de vídeos, podcast, objetos de aprendizagem e participação do fórum 
de discussão do tema. 
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ORTEGA Y GASSET, José. Meditação da técnica. Rio de Janeiro: Livro 
Ibero-Americano, 1963.
O filósofo espanhol José Ortega Y Gasset faz uma análise de todo o processo 
de desenvolvimento da ciência e da técnica, desde a afirmação inicial de que o 
ser humano é o único que não recebeu a vida pronta e acabada e que, portan-
to, terá que se fazer permanentemente, já que ele é o que ainda não é. 
CAPRA, Fritjof. O ponto de mutação: a ciência, a sociedade e a cultura 
emergente. São Paulo: Cultrix, 2001.
Os cientistas de vanguarda da atualidade, como Fritjof Capra, nascido na 
Áustria e radicado nos Estados Unidos, reconhecido como um físico proemi-
nente, tornam-se filósofos na medida em que realizam importantes reflexões 
sobre sua atividade científica. O Ponto de Mutação é uma obra que demons-
tra o profundo significado da mudança de paradigma
científico que se estabe-
leceu com o advento da física quântica e da teoria da relatividade. 
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1.3 A sociedade aprendente
Um dos mais frágeis e dependentes seres que habitam o planeta é 
o ser humano. Este, porém, que leva muitos anos para crescer e se autono-
mizar, recebeu uma potencialidade em desenvolvimento para se preparar e 
transformar o seu mundo. Mesmo com o declínio de suas forças físicas, por 
força do tempo, seu potencial mental não conhece limites para sua amplia-
ção e crescimento. O ser humano é o único que precisa ajustar o seu mundo 
para nele se alojar. Para isso, ele precisa conhecer a realidade circundante. O 
conhecimento, como fruto e produto da racionalidade humana, está na base 
do processo de hominização e de humanização. O conhecimento assume um 
significado e uma importância especiais para a construção do homem e do 
mundo. Assim, é preciso destacar as razões que o colocam como pilar de 
sustentação de um mundo melhor para todos.
O primeiro significado que o conhecimento assume no processo de 
construção humana está na revelação do desconhecido. Para se inserir no mun-
do, é preciso conhecê-lo. O desconhecido, a princípio, sempre provoca temor 
e submissão. Na medida em que as luzes se acendem sobre uma realidade, a 
transformação se torna possível e o usufruto dos bens da terra se colocam à 
sua disposição. Portanto, quanto mais se conhecem os segredos do universo 
infinitamente pequeno, médio e infinitamente grande, tanto mais cresce a pos-
sibilidade de se imprimir o jeito humano de ser e de viver em todos os espaços 
que nos rodeiam.
O conhecimento se constitui num direito fundamental de todo ser hu-
mano. Aquele que não tem acesso ao saber, mantido em sua condição de cego de 
espírito, sempre será reduzido a um mero objeto de controle e de manipulação. 
Portanto, o conhecimento se transforma num instrumento de libertação huma-
na. Quanto mais alguém cresce na dimensão do conhecimento, mais se instru-
mentaliza para ser dono e senhor de sua própria história individual e também 
construtor da história coletiva. 
Conhecer a realidade em que vivemos, confere a cada habitante des-
te planeta condições de segurança e de firmeza diante da vida e na execução 
de seus projetos de transformação. O ser humano só se sente seguro quando 
conhece. Daí ser a superação da ignorância uma das exigências fundamentais 
no processo de desenvolvimento humano. O ser humano precisa assumir o seu 
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papel transformador. Já que o mundo não lhe é dado pronto, cabe-lhe modificá-
-lo na perspectiva de sua realização plena. Isso significa que a condição humana 
exige a busca do conhecimento para superar suas adversidades e assim desabro-
char todas as suas potencialidades.
Desta forma, a sociedade aprendente8 elegeu algumas palavras chave 
como expressão das exigências da realidade atual: conhecer, fazer, conviver e 
ser. A inserção no contexto sócio-econômico sem o conhecimento se tornou 
algo impossível. O desafio de aprender se tornou uma exigência para toda 
a vida. Os saberes são substituídos por avanços científicos e técnicos numa 
exiguidade de tempo cada vez menor. A premência pela atualização se tornou 
uma constante com aspectos avassaladores. É preciso estar sempre apren-
dendo, sem jamais parar de buscar novos conhecimentos. Cada qual com a 
sua capacidade de ler o mundo e sua forma de inteligência, terá que assumir 
uma postura de busca permanente de iluminação de sua realidade. Não há 
mais lugar para amadores e a desculpa de que não se sabia não serve mais de 
álibi para resultados negativos. 
As formas de ler o mundo são múltiplas: do senso comum ao conheci-
mento científico. O senso comum se constitui dos saberes simples do cotidiano, 
acríticos, difusos, orais, frutos da experiência do cotidiano. O senso comum é a 
compreensão simples e ingênua com que as pessoas enfrentam o seu dia a dia. 
Existe muita sabedoria também nesta forma de conhecer e viver a realidade 
cotidiana. É desta forma de conhecimento que surgem as grandes questões que 
desafiam a busca do conhecimento científico. Ciência não é outra coisa do que 
senso comum esclarecido. Portanto, o senso comum se constitui num grande 
começo para a ciência. Por fim, quando elevado à condição de conhecimento 
válido pela pesquisas, aprofundamento e comprovação, é preciso que os saberes 
8 Sociedade aprendente é aquela em que o conhecimento assume uma importância funda-
mental para a inserção de qualquer ser humano em suas relações. Aprender é uma tarefa para toda 
a vida...
Filosoϐia e Cidadania32 
retornem para o cotidiano da vida das pessoas, na forma de uma disseminação 
das conquistas científicas. 
Os mitos se constituíram no grande esforço de explicação do mundo 
exercido pelas comunidades primitivas. Esse legado nos vem até hoje numa lin-
guagem metafórica, simbólica e que contem, em germe, a semente dos conheci-
mentos que foram evoluindo ao longo dos tempos. O fenômeno da mitificação 
ainda se apresenta nos dias atuais na forma de manipulação e mascaramento 
da realidade. Criam-se mitos – pessoas, lugares, ideias etc. – para apresentar 
uma realidade fantasiosa que preenche as necessidades das massas carentes de 
tudo e que transferem para a magia do pensamento a satisfação não atingida na 
realidade. O risco disso tudo está no fato de que essas carências tornam as pes-
soas presas fáceis de entendimentos equivocados da realidade e a manipulação 
do consumismo e da exploração de povos inteiros. Portanto, enquanto os mitos 
do passado se constituíram em semente do conhecimento moderno, o mundo 
da ciência e da técnica deslocou o seu significado e os instrumentalizou como 
ferramentas de manipulação e de controle. Portanto, é preciso aproveitar o que 
os mitos nos ensinam e desmascarar o que através deles nos é transmitido sub- 
liminarmente. 
O conhecimento religioso, resultante da revelação divina, de acordo 
com a crença das diferentes religiões, projeta o sentido de transcendência para 
todos os seres humanos. Apresenta-se uma contradição aparente na medida em 
que a construção humana resulta do conhecimento científico e este é fruto da 
razão. Todavia, é preciso compreender que a visão religiosa não projeta o mes-
mo objeto da perspectiva científica. A primeira confere um significa de infinito 
ou transcendente e a segunda busca a significação e o controle do finito ou ima-
nente. Portanto, o que ambas busca não se contradiz, até porque são conheci-
mentos diferentes. Bem colocados em suas tarefas, os conhecimentos religioso e 
científico não coincidem e não são excludentes, mas podem e devem se conciliar 
tanto na explicação de todas as realidades existentes, quanto na vida concreta de 
todos os seus habitantes. À religião cabe a tarefa de conferir o significado à vida 
humana e à ciência cabe explicar o mundo material que nos cerca. Portanto, são 
objetos diferentes que concorrem para a construção e realização da condição 
humana em sua pluridimensionalidade bio-psico-social-espiritual-material. 
Assim, a construção da utopia de um mundo bom para se viver, um 
mundo sustentável, ou um mundo onde caibam todos os seres existentes, resul-
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tará da simbiosinergia de toda a teia da vida em que se constitui nosso planeta e 
todo o universo. Será através da evolução de todos os saberes e de sua colocação 
a serviço da realização da utopia de um mundo melhor que uma nova realidade 
poderá emergir.
Há algum tempo, conseguir um lugar em nossa sociedade, sem o estudo, 
era algo difícil. Hoje, conseguir sucesso pessoal e profissional, sem o estu-
do, é quase impossível. Vivemos
em uma era do conhecimento e a sociedade 
é aprendente. Portanto, uma das poucas chances que tem aqueles que não 
estão incluídos nesta sociedade por herança é através da busca do saber. La-
mentavelmente, nosso mundo ainda é um lugar em que não há lugar para 
todos. Sendo assim, precisamos buscar conquistar esse lugar. A maneira que 
está ao nosso alcance, por mais difícil que possa ser, é através da educação. 
Cada vez mais, a seleção se fará pela competência. É na escola que havere-
mos de buscar aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e 
aprender a ser. 
A Organização das Nações Unidas (ONU), através da UNESCO, seu 
braço que cuida da educação, ciência e cultura no mundo, ao tentar vislumbrar 
as prospectivas para o novo milênio, identificou quatro pilares para o século 
XXI: conhecer, fazer, conviver e ser, anteriormente já mencionados.
Sempre o conhecimento foi o grande instrumento de transformação 
do mundo. Desde a realidade primitiva, os seres humanos se hominizaram e 
se humanizaram através do conhecimento. Se já era importante e necessário 
conhecer o mundo para nele se inserir de forma mais hominizado e humani-
zadora, atualmente é muito difícil avançar, seja do ponto de vista individual, 
quanto do ponto de vista coletivo, sem a ampliação do conhecimento de si e 
de seu mundo. Estamos na era do conhecimento, por excelência. Tanto para 
os indivíduos, quanto para os povos, o mais importante caminho de desen-
volvimento está na busca do conhecimento. É preciso que se invista, cada 
vez mais, na produção do conhecimento através da educação e da pesquisa. 
Filosoϐia e Cidadania34 
Para muitos, a única possibilidade de se furar o bloqueio dos mecanismos de 
exclusão social é através do conhecimento. Portanto, temos que despertar 
para o esforço individual e coletivo para que todos tenham acesso à educação 
e ao conhecimento. Ao se conseguir acessar os meios formais e informais de 
crescimento intelectual, é preciso que sejam aproveitadas todas as oportuni-
dades que se apresentem para que se consiga avançar e conquistar espaços 
pessoais e profissionais. 
O segundo pilar sobre o qual haverá de se estruturar o desenvolvimento 
do novo milênio será o aprender a fazer. Serão as habilidades exigidas por um 
mundo complexo que precisam ser treinadas. A multiplicidade de áreas técnicas 
que surgem em um mundo cada vez mais sofisticado exige empenho para a aqui-
sição de suas especificidades. Um conhecimento sólido precisa vir acompanhado 
da capacidade de aplicar o que se aprendeu teoricamente. Tanto as escolas quanto 
o esforço individual precisam concorrer para que cada indivíduo possa ser um 
profissional competente e capaz de responder à demanda de um mundo cada vez 
mais tecnificado e exigente em suas diversidades e complexidades. 
O mundo dos generalistas foi substituído pelo mundo dos especialis-
tas. Isso representou grandes ganhos e também algumas limitações. Ainda ne-
cessitamos de uma massa imensa que se dedicará aos serviços gerais. Porém, é 
preciso que haja uma evolução no que diz respeito à valorização dessas ativida-
des que não exigem maior preparo técnico. Como veremos à frente, o labor é tão 
necessário e importante quanto as atividades da alta especialização. Todavia, o 
mundo precisa aprender a valorizar as atividades que se restringem a esses afa-
zeres. A possibilidade maior de avanço em um mundo tecnológico está na espe-
cialização para responder às demandas e exigências atuais. Aprender a fazer é a 
chave maior para a inclusão no universo do trabalho cada vez mais exigente em 
suas especificidades. Todavia, o saber especializado não pode perder de vista o 
saber holístico, ou seja, a percepção do todo. Por exemplo, um especialista da 
área da saúde não pode esquecer que estará tratando um ser humano e não ape-
nas uma doença. Precisa lembrar que uma doença não é apenas uma limitação 
de um único órgão do corpo, mas resultado da disfunção da totalidade do or-
ganismo que se manifesta em seu ponto mais fraco. A reunificação dos saberes 
se coloca como uma busca de reintegração do que se fragmentou em demasia. 
Dentre os quatro pilares de sustentação do desenvolvimento para o 
mundo de um novo milênio, o terceiro a ser apontado é o aprender a conviver. 
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Verifica-se um avanço tecnológico que possibilita um mundo de infinitas possi-
bilidades ao lado de dificuldades primárias no que diz respeito às relações entre 
os seres humanos. Tanto nas relações interpessoais de nossos espaços cotidia-
nos quanto as relações entre os povos, o que se verifica são dificuldades imensas 
e que as remete à condições rigorosamente primárias e, por vezes, até mesmo 
a uma verdadeira barbárie humana. Vivemos em um mundo de entredevora-
mentos primitivos e incompreensíveis diante do maravilhoso potencial humano 
que se desenvolve na atualidade. Para fazer acontecer o avanço para um mundo 
onde haja lugar para todos e em que todos possam viver em paz, faz-se neces-
sário o aprender a conviver. Especialmente a educação precisa se constituir no 
principal espaço e instrumento de convivência humana. Iniciando-se na família 
e formando-se na escola, a sociedade necessita de homens e mulheres que sai-
bam conviver em harmonia, fazendo de todas as diferenças possibilidades de 
enriquecimento individual e coletivo, com vistas a um mundo bom para se viver 
para todos os habitantes do planeta. 
O quarto pilar a ser erigido pela sociedade atual é o do ser. O mundo redu-
ziu o ser humano somente ao ter. Os direitos fundamentais do ser humano acaba-
ram por serem suplantados unicamente pela necessidade de produzir e consumir. 
O ser humano precisa se desenvolver em seus múltiplas dimensões. Enquanto não 
houver a possibilidade de um indivíduo crescer sob todos os pontos de vista – bio-
lógico, material, intelectual, social, espiritual, emocional, ético, estético etc. – não 
existirá um ser humano inteiro e feliz. Essa perspectiva da integralidade do ser hu-
mano se constituirá na grande meta para a qual deverão concorrer todas as forças 
de que se compõe a realidade de nossa existência nesse planeta. 
Há uma afirmação corrente a respeito do mundo em que vivemos no que diz 
respeito à busca de um bom lugar: com o conhecimento já está difícil con-
seguir-se um bom lugar, sem o conhecimento é impossível! O que significa 
essa afirmação e em que medida a sociedade atual a está compreendendo e 
criando condições para que todos tenha acesso a uma formação humana e 
profissional de qualidade?
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Esse processo de desenvolvimento integral, caracterizando-se uma so-
ciedade aprendente, haverá de acontecer ao longo de toda a vida. O mundo que 
se apresenta, em um ritmo vertiginoso de desenvolvimento, exige que as buscas 
do conhecimento, das habilidades do fazer, do aprender a conviver e da cons-
trução do ser, façam-se ao longo de toda a vida. Não existe mais a possibilidade 
de alguém pensar que, uma vez formado em algum curso, estará pronto para 
sempre e que não precisará mais nada fazer para responder às exigências que se 
apresentarem. Essas exigências se modificam a cada instante e respondê-las é 
um desafio permanente de atualização e de renovação. Portanto, os cidadãos de 
um novo mundo são e serão cada vez mais homens e mulheres atentos a tudo de 
novo que, a cada dia, está a se apresentar e a exigir respostas inovadoras. So-
mente assim será possível inserir-se em uma realidade paradoxal e desafiadora 
de uma sociedade aprendente.
Faremos agora, na sequência do quarto assunto, uma observação aten-
ta da condição em que se apresenta a vida cotidiana dos seres humanos. É pre-
ciso verificar em que e como os seres humanos ocupam predominantemente 
os seus dias e se encontram
ou não a realização de seus anseios e necessidades 
mais primordiais. 
Você encontrará todo o conteúdo no Ambiente Virtual de Aprendizagem, na 
forma de vídeos, podcast, objetos de aprendizagem e na participação do fó-
rum de discussão sobre o tema. 
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DELORS, Jacques et al. Educação: um tesouro a descobrir. 5. ed. São Paulo: 
Cortez, 2001.
A UNESCO, órgão da ONU que cuida da educação, ciência e cultura no mun-
do, organizou uma comissão de proeminentes da cultura mundial para dis-
cutirem as perspectivas de desenvolvimento para o século XXI. Coordenada 
por um ex-ministro das finanças da França – Jacques Delors – prenuncia 
o conhecimento como a grande força que fará girar a roda da história neste 
novo tempo em que vivemos. 
CAPRA, Fritjof. Sabedoria incomum. São Paulo: Cultrix, 2002.
O renomado físico austríaco Fritjof Capra, radicado nos Estados Unidos, es-
tabelece uma relação entre os diferentes paradigmas científicos e os rumos 
do desenvolvimento de uma perspectiva holística para os saberes do mundo 
contemporâneo. 
Filosoϐia e Cidadania38 
1.4 A condição humana
O ser humano é o único que tem que construir a sua vida e ela só avança 
na medida em que se perseguem metas consideradas, por vezes e de imediato, 
impossíveis e irrealizáveis. Nossa utopia é a de um mundo bom para se viver. 
É preciso construir uma realidade cada vez melhor para todos. Nossa reflexão 
filosófica vai percorrer os caminhos na busca da iluminação da utopia de um 
novo homem e de uma nova sociedade. Haveremos de nos questionar sobre 
quais aspectos e por quais razões partimos do pressuposto de que o mundo 
que temos carece urgentemente de mudanças profundas. Buscaremos com-
preender que somente uma postura de uma autêntica cidadania poderá levar 
à realização de um mundo mais justo e mais equitativo.
O ponto de partida de nossa reflexão vai abordar a condição humana, to-
mando o pensamento da filósofa alemã Hannah Arendt (1906-1975) como 
fio condutor. A grande novidade da existência humana se faz pelo fato de 
alguém vir a este mundo e ter que fazer uma travessia realizadora. Sua pas-
sagem vai se constituir em uma permanente atividade de transformação de 
si e de seu mundo, através do labor, do trabalho e da ação9. Transitando 
entre as três formas de atuação sobre o mundo ou se fixando em uma única 
maneira de fazê-lo, é assim que a condição humana haverá de se caracterizar. 
Sua passagem poderá ser realizadora ou, então, sucumbir em emaranhados 
de descaminhos desumanizadores e de frustrações. 
Labor
Arendt (2007, p.90) inicia a reflexão sobre as atividades humanas dis-
tinguindo-as em labor, trabalho e ação. Ao falar do labor, refere-se ao desprezo 
enraizado já na cultura da antiguidade grega a tudo que exigia esforço físico. 
9 Destaca-se a importância de se definirem os termos, mesmo quando poderiam ser usados 
como sinônimos, para conferir um significado especial a um e outro.
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Desde então, para suprir as necessidades básicas da sobrevivência, executando 
tarefas servis, era preciso designar indivíduos como escravos, reduzindo-os à 
condição de animais domésticos. Estes, por força do que realizavam, não pode-
riam ser considerados seres humanos. Esta era a condição do labor. “Laborar 
significava ser escravizado pela necessidade, escravidão esta inerente às condi-
ções da vida humana” (ARENDT, 2007, p. 94). Para conquistar a liberdade era 
preciso escravizar outros indivíduos para executar as tarefas braçais e que eram 
consideradas indignas de um ser humano. Diferentemente dos tempos moder-
nos, em que a escravidão tinha como finalidade a busca de mão de obra barata e 
de lucro, na antiguidade a escravização significava “a tentativa de excluir o labor 
das condições da vida humana. Tudo o que os homens tinham em comum com 
as outras formas de vida animal era considerado inumano” (ARENDT, 2007, p. 
95). O escravo era conhecido como o animal laborans 1510. 
Mais tarde, na conceituação moderna, as atividades humanas serão 
divididas – segundo Arendt (2007, p. 96 e 98), de forma não menos preconcei-
tuosa – em trabalho manual e intelectual e trabalho produtivo e improdutivo. 
O labor é movido pelas necessidades imediatas de sobrevivência. Desta forma, 
tão logo ele é realizado, desaparece tão depressa quanto o esforço despendido e 
consumido para executá-lo. Um bom exemplo é a atividade do cozinhar. Pron-
ta a comida, todos se alimentam e nada mais resta da demorada e cansativa 
atividade de quem ocupa o espaço da cozinha. Incluem-se aqui a gama imensa 
de atividades conhecidas como de serviços gerais, que não exigem maior espe-
cialização, que são pouco consideradas e muito pouco valorizadas. Aqueles que 
as executam, raramente por escolha e satisfação pessoal, mas por necessidade 
e obrigação, sentem-se envergonhados do que fazem, sua autoestima é baixa e 
sua autoimagem é minúscula. Nesta condição, questiona-se sobre a possibilida-
de de recuperar a cidadania de quem se sente menos e é visto como um indiví-
duo de segunda categoria. 
Arendt (2007) destaca, com o advento da teoria marxista, o processo de 
mudança desta mentalidade que colocava a atividade humana de sobrevivência 
(labor) da forma pejorativa como foi caracterizada. De acordo com a visão mar-
xista, todo o trabalho é resultado da força humana, produzindo um excedente, 
isto é, além do necessário para a sobrevivência. Enquanto o sentido da vida hu-
10 Homo laborans é o homem cuja atividade é o labor cotidiano, simples, repetitivo, cansa-
tivo e pouco valorizado em nossa sociedade.
Filosoϐia e Cidadania40 
mana se reduz à produção de bens para construir o próprio corpo, desaparecem 
todas as concepções diferenciadas das atividades humanas. Tudo será trabalho, 
independente de sua qualificação e, portanto, precisará ser valorizado equitati-
vamente. “Se o labor não deixa atrás de si vestígios permanentes, o processo de 
pensar não deixa coisa alguma tangível” (ARENDT, 2007, p. 101). Mesmo o re-
sultado da produção intelectual necessitará das mãos para se evidenciar, tanto 
no que diz respeito ao pensamento em si mesmo, quanto na sua concretização 
em uma realidade material. De sorte que, de acordo com a perspectiva marxista, 
nada justifica a divisão e a hierarquização das diferentes tarefas humanas em 
trabalhos mais ou menos nobres.
A condição humana individual se dará sempre a partir de um contex-
to de mundo pré e pós-existente à sua chegada e à sua partida. A sua vida se 
constituirá no “intervalo de tempo entre o nascimento e a morte” (ARENDT, 
2007, p. 108). A vida biológica se dará em um movimento que repete os ciclos 
predeterminados pela natureza para todos os seres vivos. Dentro deste tempo, 
o ser humano fará acontecer a sua história. O processo biológico da vida humana 
e o crescimento e declínio do mundo se constituem no eterno ciclo da natureza 
que se repete. É neste movimento que se dá a atividade do labor, encerrando-se 
somente com a morte desse organismo. Esta é a permanente tarefa denominada 
labor, prover a subsistência dos processos vitais, num movimento incessante, can-
sativo e repetitivo. É o labor humano que busca preservar as condições dos seres 
vivos mediante o interminável movimento de crescimento e declínio de tudo o que 
existe. Manter limpo o mundo e evitar o seu declínio é a implacável tarefa humana. 
Eis aí o seu significado e sua importância. Portanto, o labor sempre poderá ser e 
será impregnado do exercício da cidadania. Por mais simples que seja a atividade 
humana, ela é importante e necessária e quem a executa precisa ser valorizado e 
dignificado como um cidadão.
Para

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