Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
10/04/2019 Desdobramento da Boa-Fé Objetiva: Venire contra factum proprium, Supressio, Surrectio, Tu quoque. https://simonearagao.jusbrasil.com.br/artigos/448838290/desdobramento-da-boa-fe-objetiva-venire-contra-factum-proprium-supressio-surrectio-… 1/12 jusbrasil.com.br 10 de Abril de 2019 Desdobramento da Boa-Fé Objetiva: Venire contra factum proprium, Supressio, Surrectio, Tu quoque. Simone Ferreira Aragão[1] Resumo: O presente trabalho busca analisar as questões atinentes aos desdobramentos do princípio da boa-fé objetiva. Com a caracterização do principio, vem-se mostrar as peculiaridades de cada instituto decorrente dele e sua aplicação nos tribunais brasileiros. Inicialmente, conceituaremos a boa-fé objetiva diferenciando-a da subjetiva e trazendo vários de seus aspectos, para depois analisar cada desdobramento e trazer sua importância. Após a caracterização da boa- fé, veremos o instituto do venire contra factum proprium e sua abordagem na doutrina e jurisprudência, além é claro de sua conceituação. Logo em seguida a supressio e a surrectio, que possuem uma importante ligação entre si, e são institutos promissores nos tribunais. E por ultimo, mais não menos importante o tu quoque, que possue elevado valor nos compromissos contratuais. Ao longo desse trabalho, veremos como cada desdobramento é aplicado e sua importância no nosso ordenamento jurídico. Perceberemos uma crescente observação do principio da boa-fé objetiva na aplicação das normas do direito brasileiro, principalmente no que concerne a interpretação dos contratos. Palavras-chave: Boa-fé objetiva. Desdobramentos. Venire contra factum proprium. Supressio. Surrectio. Tu quoque. Sumário 10/04/2019 Desdobramento da Boa-Fé Objetiva: Venire contra factum proprium, Supressio, Surrectio, Tu quoque. https://simonearagao.jusbrasil.com.br/artigos/448838290/desdobramento-da-boa-fe-objetiva-venire-contra-factum-proprium-supressio-surrectio-… 2/12 INTRODUÇÃO 1-DA BOA-FÉ OBJETIVA 1.1 Considerações Gerais 2-VENIRE CONTRA FACTUM PROPRIUM 3-SUPRESSIO E SURRECTIO 4-TU QUOQUE CONCLUSÃO REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Introdução A boa-fé objetiva é vista como um dos princípios essenciais a ser observado ao longo do processo de formação de um contrato, devendo ser usado desde a emissão da vontade de se pactuar, até o momento de pós-execução do dever nuclear, em que se cumprirão os deveres anexos decorrentes dele. Seus vários desdobramentos são para garantir o exercício da cooperação entre os contratantes, e impedir que uma parte atue de má- fé e prejudique o outro. São formas de materialização da boa-fé no mundo jurídico, como se visualiza na leitura do Enunciado 412, da V Jornada de Direito Civil, CJF, que nos relata que ´´As diversas hipóteses de exercício inadmissível de uma situação jurídica subjetiva, tais como supressio, tu quoque, surrectio e venire contra factum proprium, são concreções da boa-fé objetiva´´. 10/04/2019 Desdobramento da Boa-Fé Objetiva: Venire contra factum proprium, Supressio, Surrectio, Tu quoque. https://simonearagao.jusbrasil.com.br/artigos/448838290/desdobramento-da-boa-fe-objetiva-venire-contra-factum-proprium-supressio-surrectio-… 3/12 Nos vários institutos decorrentes da boa-fé objetiva, a imposição de restrição de direitos a fim de se buscar uma conduta condizente com aquilo que é esperado pela sociedade, visa à proibição de uma atitude desleal por parte de um dos celebrantes do negocio jurídico. Ao longo do presente trabalho, iremos ver alguns dos desdobramentos do principio da boa-fé objetiva, a fim de conceitua-los e mostrar sua aplicação em nosso sistema jurídico. Os institutos que serão desenvolvidos são: venire contra factum proprium, supressio, surrectio e tu quoque. Eles são a prova de que a conduta desleal de um contratante pode ser punida. 1- Da boa-fé objetiva 1.1 Considerações Gerais O principio da boa-fé objetiva é consagrado no Código Civil brasileiro, sendo um dos norteadores das relações jurídicas entre os contratantes. Presente no artigo 422, em sua redação declara que ´´Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé´´. Nessa assertiva de nossa legislação as partes devem agir de acordo com aquilo que é visto como um comportamento adequado para que o contrato celebrado tenha sua eficácia garantida. A boa-fé objetiva difere-se da subjetiva, enquanto aquela se trata de um princípio de caráter geral, em que todas as partes estão vinculadas por constar-se de um preceito de ordem pública, esta (boa-fé subjetiva) caracteriza-se pelo caráter psicológico do individuo que celebrou o negócio jurídico. A relação contratual deve pautar-se no comportamento leal entre as partes, para Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald (2012, p. 164) o principio da boa-fé objetiva 10/04/2019 Desdobramento da Boa-Fé Objetiva: Venire contra factum proprium, Supressio, Surrectio, Tu quoque. https://simonearagao.jusbrasil.com.br/artigos/448838290/desdobramento-da-boa-fe-objetiva-venire-contra-factum-proprium-supressio-surrectio-… 4/12 Trata-se da ´´confiança adjetivada´´, uma crença efetiva no comportamento alheio. O princípio compreende um modelo de eticização da conduta social, verdadeiro standard jurídico ou regra de comportamento, caracterizado por uma atuação de acordo com determinados padrões sociais de lisura, honestidade e correção, de modo a não frustrar a legítima confiança da outra parte. Constitui principio que deve ser operado em todos os momentos da relação, desde a fase de negociação, em que se discutem os termos a serem elencados na formação do negocio jurídico, até depois da execução do devido contrato, cumprindo os deveres anexos decorrentes dele. Trata-se de um principio de elevada importância, que ´´apesar de consagrado em norma infraconstitucional, incide sobre todas as relações jurídicas da sociedade´´[2]. Sua observação é primordial para a formação de todo o conteúdo contratual, se tem por objetivo a cooperação entre as partes para alcançar um fim comum, que beneficiará a ambos. 2- Venire contra factum proprium Decorrente da boa-fé objetiva, a expressão latina venire contra factum proprium, corresponde a proibição de comportamento contraditório de um individuo na relação jurídica. Essa expressão pode ser traduzida literalmente como ´´agir contra fato próprio´´, e busca impedir a prática de um ato que contraria comportamento anterior do agente. O individuo pratica reiteradamente certa conduta, provocando no outro uma expectativa de que aquilo é o certo, e logo após assume comportamento contraditório ao anterior. Tem-se como base a confiança na conduta que se estabeleceu no tempo, como se entende no Enunciado 362, da IV Jornada de Direito Civil, CJF que diz: ´´A vedação do comportamento contraditório (venire contra factum proprium) funda-se na proteção da confiança, tal como se extrai dos arts. 187 e 422 do Código Civil. ´´. 10/04/2019 Desdobramento da Boa-Fé Objetiva: Venire contra factum proprium, Supressio, Surrectio, Tu quoque. https://simonearagao.jusbrasil.com.br/artigos/448838290/desdobramento-da-boa-fe-objetiva-venire-contra-factum-proprium-supressio-surrectio-… 5/12 Trata-se de duas condutas inicialmente licitas, sendo a ultima contraditória à assumida anteriormente. Pra Venosa (2013, p. 398), o comportamento contraditório se apresenta no campo jurídico como uma conduta ilícita, passível mesmo, conforme a situação concreta de prejuízo, de indenização por perdas e danos, inclusive de índole moral. A aplicação do princípio não exige dano efetivo, porém, basta a potencialidade do dano. O exame do caso concreto deve permitir a conclusão, uma vez que nem sempre um ato que se apresenta como contraditório verdadeiramente o é. Em decisao do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, é possível ver a aplicação daclausula de proibição do comportamento contraditório, como mencionado abaixo: APELAÇÃO CÍVEL. PROMESSA DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL. CONGELAMENTO DO SALDO DEVEDOR. POSSIBILIDADE. PROIBIÇÃO AO COMPORTAMENTO CONTRADITÓRIO (VENIRE CONTRA FACTUM PROPRIUM NON POTEST). DANO MORAL NÃO CONFIGURADO. 1. Afronta o princípio da boa-fé objetiva, sobretudo o da vedação ao venire contra factum proprium, o comportamento contraditório das promitentes vendedoras de cobrar o valor atualizado do saldo devedor, depois de ter assegurado aos promitentes compradores que esse saldo ficaria congelado por determinado tempo. 2. Meros aborrecimentos decorrentes de comportamento contraditório da construtora não configuram danos morais. 3. Recurso conhecido e parcialmente provido. Unânime. (TJ-DF - APC: 20130111132646 DF 0029456-69.2013.8.07.0001, Relator: FÁTIMA RAFAEL, Data de Julgamento: 21/01/2015, 3ª Turma Cível, Data de Publicação: Publicado no DJE: 04/02/2015. Pág.: 267). 3- Supressio e Surrectio Fenômenos diretamente ligados são a supressio e a surrectio, sendo tachados como dois lados de uma mesma moeda. O primeiro trata-se de posição jurídica, que não é exercida por um período de tempo 10/04/2019 Desdobramento da Boa-Fé Objetiva: Venire contra factum proprium, Supressio, Surrectio, Tu quoque. https://simonearagao.jusbrasil.com.br/artigos/448838290/desdobramento-da-boa-fe-objetiva-venire-contra-factum-proprium-supressio-surrectio-… 6/12 contínuo, que posteriormente não poderá ser mais cumprida por violar a boa-fé que se instalou; observa-se a supressão de um direito pelo seu não exercício. No segundo instituto, haveria o surgimento de um direito, pautado na boa-fé de uma conduta, que não lhe era possível de outro modo; o inverso do supressio. Essa prática pode ser visivelmente notada na leitura do artigo 330 do CC/2002, que em sua redação diz: “o pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir renúncia do credor relativamente ao previsto no contrato”. A supressio se traz através da renuncia tácita de determinada posição jurídica, enquanto a surrectio dá-se pelo costume, em que uma pratica que antes não era legitimada, se torna exequível por força do seu uso reiterado na relação. Nas palavras de Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald (2012, p. 193), a supressio é a situação do direito que deixou de ser exercitado em determinada circunstancia e não mais possa sê-lo por, de outra forma contrariar a boa-fé. Seria um retardamento desleal no exercício do direito, que, caso exercitado, geraria uma situação de desequilíbrio inadmissível entre as partes, pois a abstenção na realização do negócio cria na contraparte a representação de que esse direito não mais será atuado. Na surrectio ´´o exercício continuado de uma situação jurídica ao arrepio do convencionado ou do ordenamento implica nova fonte de direito subjetivo, estabilizando-se tal situação para o futuro.´´[3]. Implica em direito decorrente de um costume. Na decisão proferida pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, observamos a aplicação do supressio, em virtude de cobrança de valor inferior ao acordado por um longo período de tempo, havendo a perca do direito de cobra-lo depois. Abaixo a referida decisão:
Compartilhar