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▼ Fatores Intrínsecos e Extrínsecos que controlam o desenvolvimento microbiano em alimentos. A sobrevivência ou multiplicação de microrganismos nos alimentos depende de uma série de fatores. Esses fatores podem estar ligados às características próprias dos alimentos (fatores intrínsecos) ou com o ambiente em que o alimento se encontra (extrínsecos). Consideramos como fatores intrínsecos a atividade de água (Aa/Aw), a acidez (pH), potencial de oxirredução (Eh), composição química, presença de fatores antimicrobianos naturais e interações entre os microrganismos presentes nos alimentos. Como fatores extrínsecos são inclusos a umidade e temperatura ambientais, além da atmosfera em que o alimento está inserido. FATORES INTRÍNSECOS Atividade da água Microrganismos precisam de água pra sobreviver. E vão utilizar a água presente no alimento em sua forma livre (isto é, não a que está ligada a macromoléculas por forças físicas e que não atua como solvente, nem participa de reações). A disponibilidade de água em um alimento é denominada "atividade da água". Atividade da água é a reação entre a pressão parcial do vapor de água (P) e a pressão parcial do vapor de água pura (P0), a uma dada temperatura: Aa = P/P0 Adição de sal ou açúcar diminui o valor de Aa por reduzir o valor de P. Bactérias Gram-negativas são mais exigentes em relação à atividade da água que as Gram-positivas. A maioria das bactérias deteriorantes não se multiplica em Aa inferior a 0,91. Acidez (pH) A maioria dos microrganismos possuem pH mínimo, máximo e ótimo de crescimento. Para a maior parte, o pH ideal gira em torno da neutralidade (6,5-7,5). Bactérias lácticas se desenvolvem em pH ácido, uma vez que há inibição da microbiota de competição. Fungos e leveduras, por sua vez, têm maior tolerância ao pH, sendo que bolores se multiplicam em ambientes ainda mais ácidos. Dentre as bactérias, as mais exigentes são as mais patogênicas. Carnes, pescados e laticínios são produtos altamente suscetíveis à contaminação bacteriana devido ao seu pH neutro, enquanto frutas e vegetais costumam ser um pouco mais ácidos. Quando os microrganismos estão em pH diferentes do neutro, sua capacidade de multiplicação dependerá de sua habilidade de transformar o meio adverso. Potencial de oxirredução (Eh) Os processos de oxidação e redução têm a ver com a troca de elétrons entre compostos químicos. O potencial de oxirredução pode ser definido como a facilidade com que um substrato ganha ou perde elétrons. Quanto mais oxidado é um composto, mais positivo é o seu potencial de oxirredução. Quanto mais reduzido é um composto, mais negativo é esse potencial. Lembre-se: quem reduz, ganha. Os anaeróbios requerem valores baixos de Eh, como as bactérias patogênicas, como o Clostridium botulinum. Composição Química Para que a multiplicação microbiana aconteça, os seguintes nutrientes devem estar disponíveis: água, fonte de energia, fonte de nitrogênio, vitaminas e sais minerais. Como fontes de energia os germes podem usar carboidratos complexos, como amido. Lipídios também servem, mas poucos são os capazes de metabolizá-los. As fontes de nitrogênio mais importantes são os aminoácidos. Terão função plástica na célula. As vitaminas são importantes fatores de crescimento de microrganismos, uma vez que fazem parte de diversas coenzimas. Entre as vitaminas, as mais importantes são as do complexo B. Gram-positivas são mais exigentes (falando de vitaminas) que as bactérias gram-negativas, que, assim como os bolores, são capazes de sintetizar seus próprios fatores de crescimento. Embora necessários em pequenas quantidades, os sais minerais estão envolvidos em inúmeras reações enzimáticas. Destaque para sódio, potássio, cálcio e magnésio, assim como ferro, cobre, manganês, zinco, cobalto, fósforo e enxofre. Fatores antimicrobianos naturais São mecanismos de defesa de certos produtos naturais, que visam retardar ou eliminar a proliferação microbiana. Os condimentos, por exemplo, contêm vários óleos essenciais em atividade antimicrobiana, como o eugenol do cravo e da canela, alicina do alho, timol e isotimol do orégano. O ovo, especialmente a clara, tem vários antibióticos naturais, além de ter pH desfavorável às bactérias (entre 9 e 10). A clara é rica em lisozima, uma enzima que destrói a parede bacteriana, especialmente do grupo das Gram-positivas. O leite bovino possui imunoglobulinas, macrófagos, proteínas do complemento e linfócitos. Os derivados do ácido hidroxicinâmico, encontrados em frutas e vegetais, são importantes agentes antimicrobianos, com ação sobre bactérias e alguns fungos, assim como os taninos, presentes em frutas e sementes. As frutas ainda contêm ácidos orgânicos e óleos essenciais. Os vegetais ainda possuem estruturas biológicas que se constituem como barreiras mecânicas, sendo elas as cascas, peles, películas das sementes etc. Interações entre microrganismos Determinado microrganismos, ao se multiplicar e exercer suas funções vitais, produz metabólitos que podem afetar a chance de sobrevivência de outros microrganismos presentes neste alimento. Como já citamos, as bactérias lácticas atuam inibindo a microbiota do alimento ao produzir ácido lático, que reduzirá o pH, ou seja, acidificará. Esse ambiente rico em ácido lático (baixo pH) é propício para leveduras se desenvolverem ao degradar esse composto, produzindo aminas e alcalinizando o pH do alimento, facilitando a multiplicação de outros microrganismos que agem na neutralidade, mais a produção de toxinas por Clostridium botulinum. Há casos também de bactérias se aproveitarem de produtos metabólicos de outras espécies, que é o caso do S. aureus, que utiliza tiamina e triptofano, que pode ser resultante de contaminação por Pseudomonas aeruginosa. Muitos microrganismos podem produzir substâncias com atividade antibacteriana, denominadas bacteriocinas. Algumas bacteriocinas são proteínas simples, outras possuem componentes lipídicos e açúcares. A produção de bacteriocinas é mediada por plasmídeos. Algumas bacteriocinas úteis para a área de alimentos são as pediocinas, nisina (A, E), sacacina, helveticina J. Alguns gêneros bacterianos produtores de bacteriocinas: Staphylococcus, Listeria, Lactobacillus, Bacillus, Clostridium, Erwinia, Yersinia. FATORES EXTRÍNSECOS Temperatura ambiental A temperatura é o fator mais importante que afeta a multiplicação de microrganismos. De forma geral, os micróbios são divididos e classificados nos seguintes grupos: 1. microrganismos psicrófilos - capacidade de multiplicação entre 0°C e 20°C. 2. microrganismos psicrotróficos - capacidade de desenvolvimento entre 0°C e 7°C. Ex: Pseudomonas fragi e Yersinia enterocolitica. 3. microrganismos mesófilos - temperatura ótima de multiplicação entre 25°C e 40°C. 4. microrganismos termófilos - que se multiplicam bem entre 45°C e 65°C. Ex.: clostrídios. Os psicrófilos e psicrotróficos são os principais contaminantes de carnes, pescados, ovos e frangos, alimentos refrigerados. Umidade relativa do ambiente Tem relação direta com a atividade da água do alimento. Alimentos conservados em ambiente com umidade relativa superior à atividade da água, tendem a absorver umidade, causando aumento da sua Aa. O inverso é verdadeiro: perderão água se a umidade ambiental for inferior à atividade da água. Composição gasosa do ambiente Os gases que compõem o ambiente vão determinar qual microrganismo predominará. A presença de oxigênio favorece a multiplicação de microrganismos aeróbios, enquanto a ausência aumentará a chance de desenvolvimento de germes anaeróbios. Modificações na composição gasosa podem causar alterações na microbiota do alimento. Atmosfera modificada: substituição do O2 por outros gases, aumentando a vidade prateleira do alimento. Ex.: embalagens à vácuo, contendo óxido nitroso, monóxido de carbono. O efeito antimicrobiano do CO2 depende da Aa, do pH e de sua concentração. Microrganismos indicadores vêm sendo utilizados na avaliação da qualidade microbiológica da água há longo tempo, e mais recentemente nos alimentos. Isto se deve ao fato da dificuldade encontrada na detecção de microrganismos patogênicos. Microrganismos indicadores são grupos ou espécies de microrganismos que, quando presentes em um alimento, podem fornecer informações sobre a ocorrência de contaminação fecal, sobre a presença de patógenos ou sobre a deterioração do alimento. Os microrganismos indicadores ainda podem indicar as condições sanitárias inadequadas durante o processamento, produção ou armazenamento dos alimentos. Os critérios a seguir definem o microrganismo ou o grupo de microrganismos como indicadores: a) Deve ser de rápida e fácil detecção. b) Deve ser facilmente distinguível de outros microrganismos da microbiota do alimento. c) Não deve estar presente como contaminante natural do alimento. d) Deve estar sempre presente quando o patógeno associado estiver. e) Seu número deve correlacionar-se com o do patógeno. f) Deve apresentar necessidades de crescimento e velocidade de crescimento semelhante às do patógeno. g) Deve ter velocidade de morte que seja semelhante à do patógeno e, se possível, sobrevivência levemente superior à do patógeno. h) Deve estar ausente nos alimentos que estão livres do patógeno, ou estar presente em quantidades mínimas. A bactéria Escherichia coli é utilizada como um indicador de contaminação de origem fecal presente em água desde 1892. E hoje também é utilizada como indicador de contaminação fecal da qualidade higiênico-sanitária do alimento. Esta bactéria, além de preencher todos os requisitos anteriormente citados também apresenta outras características que as classifica como um bom microrganismo indicador, como: a) Habitat exclusivo do trato intestinal do homem e de animais de sangue quente. b) Número elevado, nas fezes. c) Alta resistência ao ambiente extra enteral. d) Técnicas laboratoriais rápidas, simples e precisas para detecção e contagem. Os coliformes totais são compostos por bactérias da família das Enterobacteriaceae (bactérias bacilares gram negativas, não formadoras de esporos e capazes de fermentar a lactose, com produção de gás quando incubados a 35-37oC – por 48 h). Deste grupo de microrganismos indicadores apenas as bactérias do gênero Escherichia têm como habitat primário o trato intestinal do homem e dos animais. Já as bactérias pertencentes aos outros gêneros Citrobacter, Enterobacter e Klebsiella além de serem encontradas nas fezes também são encontradas em outros ambientes como, vegetais e solo. Estas bactérias persistem por um tempo superior, fora do trato intestinal, do que bactérias patogênicas como, Salmonella e Shigella. Os microrganismos indicadores pertencentes ao grupo das bactérias coliformes fecais são capazes de continuar fermentando a lactose com produção de gás quando incubadas à temperatura de 44-45,5oC. Nestas condições predominam nas culturas as Escherichia coli, as Enterobacterias e as Klebisiellas. A pesquisa de coliformes fecais nos alimentos fornece com maior precisão e segurança, as informações sobre as condições higiênicas dos produtos alimentícios. Alguns laboratórios, hoje em dia estão utilizando, ao invés de enumerar os coliformes fecais, as Enterobacterias como um todo. E as justificativas para esta utilização são: a) As bactérias do grupo coliformes fecais não têm uma taxonomia bem definida. Dependendo no meio de cultura, temperatura de incubação, tipo de amostra e critérios para leitura dos resultados poder-se-ia estar incluindo neste grupo outros microrganismos. b) Os números falsos podem aparecer ao se verificar a presença de bactérias fermentadoras tardias de lactose. c) Algumas cepas de Salmonellas são mais resistentes que algumas bactérias do gênero coliformes fecais, levando a alguns resultados falsos. As bactérias Enterococcus também são utilizadas como microrganismos indicadores, mas sofrem algumas restrições, pois além de habitarem o trato intestinal também são encontradas em outros ambientes. Além disso, apresentam uma sobrevida maior do que enteropatógenos no solo, nos vegetais e nos alimentos em geral (principalmente aqueles que foram submetidos: à desidratação, à ação de desinfetantes e a flutuações de temperatura). Em alimentos vegetais frescos o microrganismo indicador mais utilizado é a Escherichia coli, uma vez que os demais indicadores de contaminação fecal podem ser encontrados naturalmente nestes tipos de alimentos. Em alimentos cárneos frescos a presença de Enterobacterias é um indicativo de manipulação sem cuidados de higiene e/ou armazenamento inadequado. Os microrganismos indicadores de contaminação dos alimentos são encontrados em números elevados e poderão causar desde a deterioração e redução da vida útil do alimento, até causa mortis do consumidor. Outros microrganismos também utilizados como indicadores são Staphylococcus aureus, Clostridium perfringens e Clostridium botulinum que são importantes em toxinfecções de origem alimentar, por produzirem toxinas. O Geotrichum candidum um tipo de bolor é indicador de sanificação de operações de processamento de alimentos. Estes bolores crescem rapidamente em alimentos que aderiram às superfícies dos equipamentos contaminados.
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