Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
35 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 01 /1 9 FÍSICA MODERNA Unidade II Nesta unidade serão apresentados os conceitos de: • radiação de corpo negro; • quantização de energia; • efeito fotoelétrico; • efeito Compton; • tubos de Crookes; • descobertas do elétron e próton. Após o estudo dessa unidade, o aluno será capaz de discorrer sobre o início da mecânica quântica e compreender os conceitos de quantização. Quando pensamos na Mecânica Quântica, o que vem à mente são equações complicadas que explicam fenômenos os quais não entendemos facilmente. No entanto, como grande parte do conhecimento em Física, os avanços foram surgindo à medida que o conhecimento experimental foi sendo confrontado com as ideias teóricas. A Física, por essência, tem uma natureza experimental. Assim, os experimentos sempre foram como um “cão‑guia” para o desenvolvimento de novos conceitos. Estudaremos como alguns desses conceitos novos surgiram baseados em resultados experimentais inicialmente impossíveis de serem explicados por modelos conhecidos. 3 ORIGENS DA FÍSICA MODERNA E BASES EXPERIMENTAIS DA MECÂNICA QUÂNTICA 3.1 A radiação de corpo negro O estudo da radiação térmica emitida por um corpo aquecido levou às primeiras indicações da natureza quântica da matéria. A explicação da emissão e absorção da radiação por um corpo é termodinamicamente simples. Corpos claros refletem a maior parte da radiação que neles incide, enquanto corpos escuros absorvem a maior parte da radiação que neles incide. Por esse motivo, por exemplo, quando vamos à praia e queremos ter a sensação de frescor, devemos usar roupas claras. 36 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 01 /1 9 Unidade II Para o corpo negro, a radiação absorvida por ele implica um aumento da energia cinética das partículas que o constituem. A temperatura do corpo aumenta. Essas partículas possuem cargas elétricas (que já eram conhecidas no início do século XX), ao aumentar a temperatura do corpo, eleva‑se a vibração dessas partículas. Isso leva à emissão de radiação eletromagnética. Quando a quantidade de energia absorvida é igual à quantidade de energia emitida, o corpo encontra‑se em equilíbrio térmico com o meio. Essa explicação justifica o motivo pelo qual um bom absorvedor de radiação também é um bom emissor. Dentro desses conceitos, toda vez que a temperatura de um corpo aumenta a radiação emitida aumenta, bem como a frequência dessa radiação. De forma simplificada, quando um corpo possui baixa temperatura (por exemplo, 300 K) a radiação emitida é de baixa frequência e se ele possui alta temperatura (por exemplo, 6000 K) a radiação emitida é de alta frequência. Isso significa que se um corpo for aquecido, por exemplo, a partir de 500 K para temperaturas maiores, a radiação emitida parte de baixa frequência (infravermelho), passando pelo visível e caminhando para alta frequência (ultravioleta). Um corpo que absorve toda a radiação incidente é chamado de corpo negro ideal. O nome é extremamente adequado, pois ele não reflete luz (radiação eletromagnética que nele incide), portanto seria negro. Observação As ondas eletromagnéticas possuem diversas frequências, destacaremos aqui algumas delas, por ordem crescente de frequência: infravermelho, visível, ultravioleta, raios X e raios gama. Um exemplo de um corpo quase negro seria um bloco de ferro coberto por uma camada difusa de tinta preta. Outro ponto importante é que todos os corpos negros com a temperatura idêntica emitem radiação com o mesmo espectro. No final do século XIX (1879), Stefan (TIPLER; LLEWELLYN, 2006) obteve uma relação experimental entre a intensidade de energia irradiada (I) por um corpo negro e sua temperatura absoluta (T): I = σ . T4 (eq. 1) A constante σ = 5,67 . 10‑8 W/m2K4 é conhecida como constante de Stefan‑Boltzmann. A intensidade de energia emitida I pode ser entendida como a “velocidade” com que o corpo emite energia. Assim, se a temperatura absoluta de um corpo negro triplica, ele emite 27 vezes mais intensidade de radiação. Quando os corpos não são negros (chamados de corpos cinzentos), a intensidade de radiação emitida é menor do que aquela do corpo negro com a mesma temperatura. O fator de correção é um índice chamado de emissividade, que é sempre menor que um. 37 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 01 /1 9 FÍSICA MODERNA A figura a seguir mostra um arranjo experimental para obter a distribuição espectral da radiação de um corpo negro. Essa distribuição é a função que relaciona a intensidade de radiação com o comprimento de onda (frequência) da radiação emitida para uma dada temperatura absoluta do corpo negro. Radiação Fenda Prisma Detector Radiação dispersada Figura 6 – Esquema experimental para medida da distribuição espectral de um objeto A ideia do experimento é ter uma dada temperatura absoluta (T) para o corpo negro. Esse emite radiação eletromagnética que é colimada pela fenda. Essa radiação, de vários comprimentos de onda (frequências), incide em um prisma que por efeito de refração a separa. Para cada comprimento de onda, existe um ângulo de saída do prisma. Ao variar a posição angular do detector, diferentes comprimentos de onda da radiação emitida são detectados e sua intensidade é medida. Na sequência mostraremos os valores experimentais da distribuição espectral da intensidade de radiação em função do comprimento de onda (λ). Visível 6.000 K R( λ) R( λ) λm λm λ(nm) 0,001 0 5.000 K 4.000 K 3.000 K 1.500 K 2.000 K 2.000 2.0001.5001.000 Comprimento de onda λ(nm) 5000 0,1 0,2 0,3 4.000 1.000 K Figura 7 – Distribuição espectral para várias temperaturas. O eixo vertical está em unidades arbitrárias. A região marcada pelo tracejado corresponde à emissão em visível 38 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 01 /1 9 Unidade II Existem dois fatos importantes na figura anterior: • Primeiro: na região de comprimentos de onda visível, à medida que a temperatura aumenta, a intensidade emitida aumenta. • Segundo: há um deslocamento do comprimento de onda (λm) referente à intensidade máxima com relação à temperatura. Esse fato é chamado de Lei do deslocamento de Wien. λm . T = 2.89 . 10 ‑3 m . K (eq. 2.2) O problema crucial em curvas como aquelas mostradas na figura é descrever por um modelo físico o comportamento apresentado. Para resolver essa questão, foi proposto que o corpo negro fosse estudado como uma cavidade no qual ondas eletromagnéticas oscilantes poderiam interferir entre si, gerando os comprimentos de onda (frequências) emitidas. Essa ideia deve‑se a John Strutt (Lord Rayleigh) e James Jeans (TIPLER; LLEWELLYN, 2006) e por isso a expressão que descreve o comportamento da intensidade de radiação com relação ao comprimento de onda é conhecida como Lei de Rayleigh‑Jeans. Essa lei é descrita na equação a seguir: ( ) 4 8 kT u π λ = λ (eq. 2.3) O termo u(λ) corresponde à energia por volume da cavidade, densidade de energia e está diretamente relacionado à intensidade de radiação emitida para cada comprimento de onda (λ). A equação da Lei de Rayleigh foi obtida a partir de considerações sobre o modelo de cavidade e leis da termodinâmica. Mas um detalhe é importantíssimo no seu desenvolvimento: as ondas eletromagnéticas no interior da cavidade são produzidas pelas oscilações harmônicas das cargas elétricas da parede da cavidade. A energia média desses osciladores pode ser obtida pela integração da função de distribuiçãode energia proveniente do fator de Boltzmann. Essa particularidade matemática de integração está vinculada ao fato físico de que as energias dos osciladores poderiam assumir valores contínuos. A lei de Rayleigh‑Jeans está de acordo com os dados experimentais para comprimentos de onda grandes (baixas frequências). No entanto, para comprimentos de onda pequenos (altas frequências, em direção ao violeta), a lei indica que a densidade de energia deveria aumentar. Observe na equação 2.3 que a densidade de energia é inversamente proporcional à quarta potência do comprimento de onda. O fato de existir uma grande discrepância, para baixos comprimentos de onda, entre o modelo de cavidade derivado a partir da física clássica e os dados obtidos em laboratório ficou conhecido como catástrofe do ultravioleta e pode ser visto na sequência. 39 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 01 /1 9 FÍSICA MODERNA Quente Frio f Frequência Lei de Rayleigh‑Jeans Modelo clássico λ ‑ comprimento de onda (nm) In te ns id ad e (u .a .) Figura 8 – Confronto entre a lei de Rayleigh‑Jeans e o comportamento obtido experimentalmente O termo catástrofe não era exagerado. Lembre‑se de que o modelo de cavidade usava vários conceitos estabelecidos pela Termodinâmica, Eletromagnetismo e Física Estatística de Boltzmann. Como a radiação de corpo negro poderia ser explicada por um modelo teórico? Parecia que a nuvem carregada tinha alcançado o barco. Os físicos não estavam mais em um mar de calmaria. 3.2 A hipótese de Planck Em 14 de dezembro de 1900, Max Planck (NUSSENSVEIG, 1998) propôs, em uma reunião da Sociedade Alemã de Física, uma ideia que permitia obter a distribuição espectral do corpo negro em perfeita concordância com os dados experimentais. No entanto, essa ideia abandonou um dos pontos principais do desenvolvimento proposto por Rayleigh. A ideia de Planck era simples, mas revolucionária: A troca de energia entre a radiação e os “osciladores” da parede da cavidade não se daria de modo contínuo como classicamente esperado, mas de forma discreta. Assim a radiação do corpo negro deveria ser emitida na forma de “minúsculos pacotes de energia”, ou quanta de energia. Além dos mais, foi necessário supor que a energia era proporcional à frequência dos osciladores e logo à frequência da radiação. A ideia revolucionária de Planck se traduzia matematicamente a assumir então que: En = n . h . ν (eq. 4: Hipótese de Planck). O fator h é conhecido como constante de Planck e seu valor é: h = 6,626 . 10‑34 J . s; n é um número inteiro e ν é a frequência da radiação. 40 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 01 /1 9 Unidade II Observação Nós usaremos o símbolo ν (letra grega ni) para a frequência. Geralmente, na física clássica ondulatória, o símbolo para a frequência é a letra f (latina). Essa mudança em considerar a energia dos osciladores da forma quantizada (apenas em valores discretos) implicava ter um somatório e não uma integral (como na forma de Rayleigh) para se obter a densidade de energia espectral. Planck conseguiu a partir de sua hipótese deduzir a expressão da distribuição espectral em concordância com todos os dados experimentais da época. Apesar da simplicidade da ideia, ela foi totalmente revolucionária. O próprio Planck admitiu mais tarde que só foi forçado a criar esse postulado por um “ato de desespero”, que se tratou de uma hipótese puramente formal, à qual não deu muita atenção, adotando‑a porque era preciso, a qualquer custo, encontrar uma explicação teórica (NUSSENSVEIG, 1998). Para ele, o fenômeno de radiação do corpo negro poderia ser explicado de outra forma, tendo ele inclusive trabalhado para reconciliar sua hipótese com os conceitos da física clássica. Mas ele não obteve resultados nessa abordagem. A partir de sua hipótese, Planck abria a porta de uma nova forma de compreender o mundo microscópico: a quantização. Em 1905, Einstein usou a mesma hipótese para explicar o efeito fotoelétrico e, consequentemente, indicou que a quantização não era apenas uma propriedade misteriosa dos osciladores nas paredes do corpo negro, como Planck suponha, mas uma propriedade fundamental da radiação eletromagnética. Exemplo 1 Temperatura do Sol (adaptado) Supondo que o Sol tenha um comportamento térmico de um corpo negro para comprimentos de ondas altas e que medidas da distribuição espectral mostram um máximo para o comprimento de onda de 500 nm, qual é, aproximadamente, a temperatura da superfície do Sol? Resolução: para resolver esse problema, precisamos usar a lei de deslocamento Wien. λm . T = 2.89 . 10 ‑3 m . K, lembrando que 1 nm= 1.10‑9 m. Assim: 3 9 3 9 2,89.10 500.10 T 2,89.10 T T 5.780 K 500.10 − − − −= → = → = 41 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 01 /1 9 FÍSICA MODERNA Exemplo 2 Temperatura do Universo Em 1965, Penzias e Wilson mediram uma radiação de micro‑ondas, com comprimento de onda máximo de 0,107 cm, proveniente de todas as direções do universo. Essa radiação, denominada radiação cósmica de fundo, é interpretada como um resquício da grande explosão que poderia ter originado nosso universo (Big Bang). Penzias e Wilson (TIPLER; LLEWELLYN, 2006) descobriram que a densidade de energia em função dos comprimentos de onda poderia ser descrita pela distribuição de Planck. Considerando‑se esse comprimento de onda máximo, qual seria a temperatura de corpo negro do universo? Resolução: através da lei de Wien: λm . T = 2.89 . 10 ‑3 m . K 3 2 3 2 2,89.10 0,107.10 T 2,89.10 T T 2,7K 0,107.10 − − − −= → = → ≅ Exemplo 3 Lei de Wien Contando com um prisma e um contador de número de fótons por segundo, deseja‑se medir a temperatura de uma estrela com base no seu espectro eletromagnético obtido por meio de um telescópio. • Projete esquematicamente esse experimento representando o prisma como um triângulo e o contador de fótons por segundo como um quadrado. • Explique os conceitos usados em (a) para obter a temperatura da estrela. Resolução: a) Veja a montagem experimental na figura a seguir Estrela Prisma Controlador de fótons Figura 9 – Montagem experimental 42 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 01 /1 9 Unidade II O prisma promove a dispersão da luz da estrela e o contador de fótons permite a construção do perfil da densidade de energia T (λ) em função do comprimento de onda λ. O ponto máximo do gráfico associa o valor de λmáx à temperatura T da estrela por meio da Lei de Wien. Saiba mais Planck escreveu seus artigos em uma revista de língua alemã. No entanto, é possível encontrarmos uma versão traduzida dele no link a seguir: PLANCK, M. Sobre um aperfeiçoamento da equação de Wien para o espectro. Revista Brasileira de Ensino de Física, São Paulo, v. 22, n. 4, dez. 2000. Disponível em: <http://www.sbfisica.org.br/rbef/pdf/v22_536.pdf>. Acesso em: 3 dez. 2018. 3.3 O efeito fotoelétrico A descoberta do efeito fotoelétrico foi feita por Hertz, em 1887, quando este criou e transmitiu as ondas eletromagnéticas com o intuito de comprovar a previsão feita por Maxwell (TIPLER; LLEWELLYN, 2006). Hertz usava um circuito elétrico primário para gerar as ondas de Maxwell. Este circuito produzia uma centelha que indicava que uma onda eletromagnética tinha sido gerada e emitida. Outro circuito secundário, semelhante ao primeiro, ao receber a onda eletromagnética, produziria uma centelha. Observe que o funcionamento do segundo circuito é parecido com o do primeiro,mas em ordem inversa. Hertz observou que a luz (da centelha) emitida pelo primeiro circuito facilitava a detecção das ondas pelo segundo circuito. Veja a figura a seguir. Nas palavras do próprio físico: Ocasionalmente, coloquei o centelhador do circuito B (receptor) dentro de uma caixa escura para poder observar melhor as centelhas produzidas; ao fazer isso, observei que o tamanho das centelhas era visivelmente menor quando o centelhador estava dentro da caixa (HALLIDAY; RESNICK; WALKER, 2009, p. 188). Esse fenômeno observado por ele levou‑o a pesquisar o efeito em profundidade. Hertz concluiu que partículas negativas eram emitidas quando uma superfície metálica era exposta à luz. 43 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 01 /1 9 FÍSICA MODERNA Chave Bateria Bobina Capacitor Centelhador Ondas eletromagnéticas Centelhador (espaçamento ajustável) Espira receptora Figura 10 – Esquema do experimento de Hertz A ideia do efeito elétrico observada por Hertz pode ser exemplificada a seguir: Metal Radiação eletromagnética Elétron Figura 11 – Efeito fotoelétrico. A radiação eletromagnética incide em uma placa metálica e libera elétrons da placa Em 1900, Philipp Lenard também investigou o efeito e concluiu que as partículas negativas observadas no efeito fotoelétrico descrito nas pesquisas de Hertz eram na verdade elétrons (TIPLER; LLEWELLYN, 2006). O experimento de Lenard consistia em incidir luz em uma placa metálica (cátodo). Esse emitiria elétrons, os quais poderiam ser acelerados em direção ao ânodo por uma diferença de potencial V. Para que houvesse essa aceleração, o potencial do ânodo deveria ser maior que o do cátodo. Esses elétrons chegariam ao ânodo e seriam detectados como por um microamperímetro. Lenard mostrou que quanto mais intensa a luz incidente, maior a corrente elétrica detectada. Esse fato era esperado, pois classicamente o número de elétrons emitidos (a corrente detectada) deveria ser proporcional à potência (energia por unidade de tempo) que incide no cátodo. Logo, classicamente também deveria ter sido observada uma intensidade mínima abaixo da qual nenhuma corrente seria detectada, pois não haveria potência suficiente para arrancar esses elétrons da superfície do metal. 44 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 01 /1 9 Unidade II Entretanto, isso não foi observado nos experimentos de Lenard. Por outro lado, quando V é negativo (o ânodo está a um potencial menor que o cátodo) os elétrons devem ser freados após a emissão. O potencial que faz com que a corrente detectada seja nula, ou seja, que consegue frear todos os elétrons emitidos, é chamado de potencial de corte V0. Por conservação de energia: 2 0 máx m.v e.V 2 = (eq. 2.5) Os resultados experimentais mostraram que V0 não depende da intensidade da radiação incidente. Isso significava que o aumento da potência incidente no cátodo não levaria a um aumento da energia cinética máxima dos elétrons emitidos. Esse fato não era compatível com os conceitos da física clássica. Em 1905 (o ano miraculoso), Einstein propôs que a ideia de Planck de quantização da radiação de corpo negro era uma característica universal das ondas eletromagnéticas. Assim, a luz seria constituída de quanta isolados de energia, chamados de fótons. A energia de cada fóton é dada por: E = h . ν (eq. 2.6) Para explicar o efeito fotoelétrico, Einstein considerou que esses fótons que chegam à superfície do metal têm toda a sua energia transferida para o elétron. Considerando que a energia necessária para arrancar um elétron seja φ (função trabalho e depende do metal considerado), a energia cinética máxima do elétron emitido pelo cátodo é determinada por conservação de energia. Assim: ECmáx = h . ν ‑ φ 2 0 máx m.v h. e.V 2 = ν − φ = (eq. 2.7) Se isolarmos o potencial de corte e colocarmos em função da frequência ν, teremos uma reta cuja inclinação é dada pela razão: h e . A ousadia de Einstein consistia em supor que a constante de Planck estava vinculada ao processo de emissão fotoelétrica. Devemos lembrar que não havia anteriormente nenhum indício de que as ideias de Planck pudessem ser aplicadas a outros fenômenos além da radiação de corpo negro. Millikan conseguiu mostrar em 1916 que a equação de Einstein estava certa e que o potencial de corte era uma função da frequência da radiação incidente na superfície do metal (TIPLER; LLEWELLYN, 2006). 45 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 01 /1 9 FÍSICA MODERNA A equação de Einstein também permite determinar a frequência mínima da radiação incidente para que o efeito fotoelétrico seja observado. Considere na equação: V0 = 0J mín mính. h φ ν = φ → ν = (eq. 2.8) De acordo com as ideias de Einstein, caso uma radiação incida com uma frequência menor que a mínima, não ocorrerá o efeito fotoelétrico, independentemente da intensidade da radiação. Constam na sequência alguns exemplos: Exemplo 1 (adaptado) Uma placa é feita de um metal cuja função trabalho W é menor que hν, sendo ν uma frequência no intervalo do espectro eletromagnético visível e h a constante de Planck. Deixada exposta, a placa interage com a radiação eletromagnética proveniente do Sol, absorvendo uma potência P. Sobre a ejeção de elétrons da placa metálica nessa situação, é correto afirmar que os elétrons: A) Podem ser ejetados instantaneamente, com energia que depende da frequência da radiação absorvida e da energia do elétron no metal. B) Podem ser ejetados instantaneamente com uma mesma energia cinética para qualquer elétron. C) Não podem ser ejetados, pois a placa metálica apenas reflete toda a radiação. D) Não são ejetados instantaneamente, já que precisam de um tempo mínimo para acúmulo de energia. E) Não podem ser ejetados instantaneamente e a energia cinética após a ejeção depende da frequência da radiação absorvida e da energia do elétron no metal. Resolução: a afirmativa correta é a letra A. Lembre‑se de que a energia cinética dos fotoelétrons emitidos no efeito fotoelétrico é dada por: EC = h . ν ‑ φ onde φ é a função trabalho do material e a absorção instantânea do fóton pelo elétron não apresenta uma correspondência na Física Clássica. Exemplo 2 (adaptado) Efeito fotoelétrico: a emissão de elétrons de uma superfície, devido à incidência de luz sobre essa superfície, é chamada de efeito fotoelétrico. Em um experimento um físico faz incidir uma radiação 46 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 01 /1 9 Unidade II luminosa de frequência ν e intensidade I sobre uma superfície de sódio, fazendo com que N elétrons sejam emitidos desta superfície. Em relação aos valores iniciais ν e I, assinale a alternativa que apresenta como devem variar a frequência e a intensidade da luz incidente para duplicar o número de elétrons emitidos, mantendo a energia cinética de cada elétron. A) Duplicar a frequência e manter a intensidade. B) A Emissão de elétrons independe da frequência e da intensidade da luz incidente. C) Reduzir a frequência pela metade e manter a intensidade. D) Manter a frequência e quadruplicar a intensidade. E) Manter a frequência e duplicar a intensidade. Resolução: a afirmativa correta é a letra E. Comentário: de acordo com a explicação de Einstein do efeito fotoelétrico, a quantidade de elétrons emitidos é proporcional à intensidade da luz incidente. Para duplicar o número de elétrons emitidos, basta duplicar a intensidade da luz incidente. No entanto,a energia cinética do elétron emitido depende da frequência da luz incidente e da função trabalho do material. Para manter a energia cinética, devemos manter a frequência da luz incidente. Exemplo 3 (adaptado) Em um laboratório de física, estudantes fazem um experimento em que radiação eletromagnética de comprimento de onda λ = 300 nm incide em uma placa de sódio, provocando a emissão de elétrons. Os elétrons escapam da placa de sódio com energia cinética máxima Ec = E ‑ W, sendo E a energia de um fóton da radiação e W a energia mínima necessária para extrair um elétron da placa. A energia de cada fóton é E = h.ν, sendo h a constante de Planck e ν a frequência da radiação. Use as seguintes informações: Módulo da velocidade da radiação eletromagnética: c = 3,0 x 108 m/s. 1 nm = 10–9 m h = 4 x 10–15 eV.s. W (sódio) = 2,3 eV. 1 eV = 1,6 x 10–19 J. 47 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 01 /1 9 FÍSICA MODERNA Calcule: • a energia cinética máxima Ec de um elétron que escapa da placa de sódio; • a frequência ν0 da radiação eletromagnética, abaixo da qual é impossível haver emissão de elétrons da placa de sódio. Resolução: precisamos determinar a energia do fóton incidente correspondente ao comprimento de onda λ= 300 nm. Assim: 8 15 9 c 3.10 E h. h. 4,0.10 . 4,0eV 300.10 − −= ν = = =λ A energia cinética máxima dos fotoelétrons emitidos será: EC = 4 ‑ 2,3 = 1,7eV ≅ 2,72 . 10 ‑19 J A frequência de corte ν0 será dada por: 14 0 0 0 15 W 2,3 W h. 5,75.10 Hz h 4.10− = ν → ν = → ν = = Exemplo 4 Uma lâmpada comum, de 30 W irradia energia no comprimento de onda (considere este como sendo o único) λ= 660 nm. Assim, quantos fótons por segundo são emitidos pela lâmpada? Resolução: E P t = ∆ – como a potência é de 30 W temos que em um segundo são emitidos 30 J. Essa energia é transportada pelos fótons, então: 8 9 34 9 34 8 3.10 30 . 660.10 E N.h. 30 N.6,6.10 . N 660.10 6,6.10 . 3.10 − − − −= ν → = → = → N = 1,0 . 1020 fótons por segundo. 48 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 01 /1 9 Unidade II Saiba mais Experimentos virtuais podem ser usados para o ensino‑aprendizagem de conceitos de mecânica quântica. Veja os seguintes artigos: OSTERMANN, F.; RICCI, T. F. Conceitos de física quântica na formação de professores: relato de uma experiência didática centrada no uso de experimentos virtuais. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, Florianópolis, v. 22, n. 1, p. 9‑35, 2005. Disponível em: <https://periodicos.ufsc.br/index. php/fisica/article/view/6392/5917>. Acesso em: 4 dez. 2018. SILVA, I. Uma nova luz sobre o conceito de fóton: para além de imagens esquizofrênicas. Revista Brasileira de Ensino de Física, Feira de Santana, v. 37, n. 4, p. 4.204, 2015. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbef/ v37n4/0102‑4744‑rbef‑37‑4‑4204.pdf>. Acesso em: 4 dez. 2018. 3.4 Raio X Os denominados raios X foram descobertos por W. Roentgen, em 1895. Ele estava estudando a radiação (a qual chamou de raios) emitida quando “raios catódicos” (elétrons) colidiam com alvos. Essa radiação tinha a propriedade de atravessar objetos opacos e excitar um filme fluorescente. Ele descobriu também que o fato de esses “raios” (radiação eletromagnética) atravessarem objetos opacos estava vinculado à espessura do objeto, de tal forma que, quanto mais fino o objeto, mais fácil era para esses raios atravessá‑lo. Como Roentgen descobriu que esses raios não eram afetados por campos eletromagnéticos, ele também não conseguiu observar fenômenos ondulatórios clássicos, como aqueles observáveis na luz visível. Portanto, esses “raios” tinham um comportamento totalmente inusitado para a época. Foi por causa desses fatos que ele deu a esses raios (radiação) o nome de raios X. Para explicar o efeito da emissão desses raios, precisamos lembrar que de acordo com as leis do eletromagnetismo clássico os elétrons, ao serem desacelerados, deviam emitir radiação. Como esse era ao caso que estava acontecendo nos experimentos, pois os raios X eram emitidos quando elétrons colidiam (logo, desaceleravam) com alvos, era razoável supor que esses “raios” na verdade fossem radiação eletromagnética. As medidas experimentais indicavam que essa radiação devia possuir comprimentos de onda da ordem de 1 Angstrom (1Ǻ= 10‑10 m). 49 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 01 /1 9 FÍSICA MODERNA Esta característica levou Von Laue a sugerir que essa radiação poderia ser usada para investigar a estrutura da matéria, pois o espaçamento dos átomos de um cristal possui a mesma dimensão do comprimento de onda dos raios X. Usando essa ideia, W. Bragg propôs uma lei que permitia analisar a difração dos raios X por cristais. Essa lei ficou conhecida como Lei de Bragg (TIPLER; LLEWELLYN, 2006). Ele analisou estruturas cristalinas simples e conseguiu verificar que as ondas difratadas por átomos situados no mesmo plano cristalino interferem‑se construtivamente se a diferença entre os dois percursos for um múltiplo inteiro do comprimento de onda. Assim, a lei de Bragg pode ser escrita como: 2 . dsenθ = m . λ (eq. 2.9) onde m são números inteiros, d é a distância entre os planos desses átomos e λ é o comprimento de onda. Experimentalmente podemos medir a intensidade dos raios X que são difratados por um cristal em função do comprimento de onda desses raios, usando um equipamento simples, como o mostrado a seguir. Colimador de chumbo Feixe de elétrons Tubo de raio x Câmara de ionização Cristal Raio XÂnodo Figura 12 – Esquema do experimento de Bragg para medir a intensidade de raios X difratados em um cristal em função do comprimento de onda A intensidade da radiação difratada possui uma característica marcante: um comprimento de onda de corte (λm) que não depende do tipo do cristal, mas da energia dos elétrons. 50 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 01 /1 9 Unidade II Experimentalmente podemos escrever: ( ) 3 m 1,24.10 nm V λ = (eq. 2.10) onde V é a tensão do tubo de raios X. Essa equação é conhecida como Lei de Duane‑Hunt. Exemplo 1 (adaptado) Raios X, descobertos por Röntgen em 1895 (TIPLER; LLEWELLYN, 2006), são largamente utilizados como ferramenta de diagnóstico médico por radiografia e tomografia. Além disso, o uso de raios X foi essencial em importantes descobertas científicas, como, por exemplo, na determinação da estrutura do DNA. Em um dos métodos usados para gerar raios X, elétrons colidem com um alvo metálico perdendo energia cinética e gerando fótons de energia E = h . ν, sendo h = 6,6 . 10–34 J.s e f a frequência da radiação. A figura adiante mostra a intensidade da radiação emitida em função do comprimento de onda. Se toda a energia cinética de um elétron for convertida na energia de um fóton, obtemos o fóton de maior energia. Nesse caso, a frequência do fóton torna‑se a maior possível, ou seja, acima dela a intensidade emitida é nula. Calcule a energia cinética dos elétrons incidentes para a maior frequência possível. 25 In te ns id ad e 35 45 55 65 75 85 λ (10‑12 m) Figura 13 Resolução: para a maior frequência temos o menor comprimento de onda, pois: c c .= λ ν → ν = λ por inspeção no gráfico, o menor comprimento de onda é igual a: λ = 30 . 10‑12 m. Para esse comprimento de onda, a energia é dada por: 8 34 15 12 c 3.10 E h. h. 6,6.10 . 6,6.10 J 30.10 − − −= ν = = =λ 51 Re vi sã o: K le be r - D ia gram aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 01 /1 9 FÍSICA MODERNA 3.5 Explicação de Einstein para a Lei de Duane‑Hunt A fim de explicar teoricamente a Lei de Duane‑Hunt, Einstein considerou que a produção de raios X por bombardeio de elétrons na verdade era um efeito fotoelétrico inverso (TIPLER; LLEWELLYN, 2006). Assim, o comprimento de onda de corte corresponderia à energia de um fóton com a energia cinética máxima dos elétrons. Para essa hipótese, ele desconsiderou a função trabalho, pois esse valor seria pequeno em comparação com a energia cinética dos elétrons no tubo de raio X. De acordo com a hipótese de Einstein, teremos: 34 8 6 c h.c h.c 6,6.10 .3,0.10 1,24.10 m E e.V h. e.V V V − − = ≅ ν = → λ = → λ = → λ = λ 31,24.10 nm V → λ = (eq. 2.11) A descoberta dos raios X foi uma daquelas que revolucionaram rapidamente a medicina. Poucas semanas após a publicação de seus estudos, foram feitas em todo o mundo diversas radiografias de pacientes através dos raios X. Vários equipamentos foram fabricados para uso médico e recreativo. Era comum em circos haver o equipamento para que pessoas pudessem tirar a “fotografia” da silhueta óssea. Algumas lojas de calçados possuíam o equipamento para mostrar aos clientes como os pés ficavam acondicionados confortavelmente dentro de sapatos. O grande inventor norte‑americano Thomas Alva Edison era um dos fabricantes de equipamentos de raios X para uso comercial. Foi ele também que observou alguns efeitos nocivos dos raios X em funcionários de sua empresa. Esses efeitos foram mais tarde estudados e permitiram a criação e o uso de proteção para essa radiação. 4 O EFEITO COMPTON Em 1923, Arthur Compton (HALLIDAY; RESNICK; WALKER, 2009) fez diversos experimentos para analisar o espalhamento de raios X por um cristal. A ideia do experimento era bem simples: fazia‑se incidir raio X sobre um cristal e observava‑se com um detector o comportamento dos raios espalhados. O autor notou que o espalhamento dos raios X apresentava dois picos de intensidade em comprimentos de onda diferentes para cada valor do ângulo θ de espalhamento. Existia experimentalmente um deslocamento de intensidade conhecido como deslocamento Compton. 52 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 01 /1 9 Unidade II No entanto, esse efeito não poderia ser explicado classicamente. De acordo com as leis do Eletromagnetismo, se os raios X possuíssem apenas um comportamento ondulatório, o comprimento de onda do raio difratado deveria ser o mesmo do raio incidente e duas intensidades não seriam observadas. A grande contribuição de Compton foi entender que o processo de difração dos raios X poderia ser considerada uma colisão entre um fóton incidente (raio X incidente) com energia h . ν1 com um elétron. O elétron absorveria parte da energia desse fóton incidente e logo o fóton difratado teria energia menor h . ν2. Assim a frequência desse fóton difratado e também seu momento linear ( 2h. c ν ) seriam menores do que a frequência e o momento do fóton incidente. Compton usou as leis de conservação de momento e de energia (na forma relativística) para analisar esse processo de colisão fóton‑elétron. Essa análise permitiu que ele calculasse a diferença de comprimento de onda entre o fóton difratado e incidente (deslocamento Compton). A equação obtida por esse estudo é chamada de equação de Compton: ( )2 1 h 1 cos m.c λ − λ = − θ (eq. 2.12). Interessante notar que a diferença entre os comprimentos de onda não depende da frequência do fóton incidente e da grandeza: h 0,00243 nm m.c = possui dimensão de comprimento (comprimento de onda Compton do elétron). 4.1 Dedução da equação de Compton Considere λ1 e λ2 os comprimentos de onda dos raios X que incidem e são difratados nessa ordem. Os momentos lineares correspondentes são: 1 1 1 E h p c = = λ e 2 2 2 E h p c = = λ De acordo com a conservação de momento, escrevemos: 2 ep p p= + que possui a relação entre os módulos: 2 2 2 2 2 2 e 1 2 1 2 e 1 2 1 2p p p 2.p .p p p p 2.p .p .cos= + − → = + − θ onde ep é o momento do elétron depois da colisão e θ é o ângulo de difração do fóton. A energia do elétron antes da colisão é sua energia de repouso: 53 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 01 /1 9 FÍSICA MODERNA E0 = m . c 2 e depois da colisão: ( ) ( ) ( ) ( )2 2 2 22 2 2 2 2 2 2e eE m.c p c E m.c p c= + → = + . Através da lei de conservação de energia, a energia total antes da colisão é igual à energia total depois da colisão: ( ) ( )22 2 21 0 2 0 ep c E p c E p c+ = + + Subtraindo toda a expressão de p2c, temos: ( ) ( ) ( ) ( ) ( )2 22 22 2 2 21 2 0 0 e 1 2 0 0 ep c p c E E p c c p p E E p c− + = + → − + = + elevando ambos os lados dessa equação ao quadrado: ( ) ( ) ( ) ( )2222 2 2 20 1 2 0 1 2 0 eE c p p 2.E .c. p p E p c+ − + − = + simplificando o termo E20 escrevemos: ( ) ( ) ( ) ( )2222 2 2 20 1 2 0 1 2 0 eE c p p 2.E .c. p p E p c+ − + − = + dividindo todos os termos por c2 e isolando o quadrado do momento do elétron p2e : ( ) ( )22 0e 1 2 1 2 2.E p p p . p p c = − + − → ( )2 2 2 0e 1 2 1 2 1 2 2.E p p p 2.p .p . p p c → = + − + − igualando o quadrado do momento do elétron dessa equação com o valor correspondente da equação obtida a partir da conservação do momento, teremos: ( )2 2 01 2 1 2 1 2 2.E p p 2.p .p . p p c + − + − = p21 + p 2 2 ‑ 2 . p1 . p2 . cosθ eliminando os termos equivalentes: ( )2 2 01 2 1 2 1 2 2.E p p 2.p .p . p p c + − + − = p21 + p 2 2 ‑ 2 . p1 . p2 . cosθ Dividindo todos os termos restantes por 2 e trocando o lado da igualdade do termo 2 . p1 . p2, teremos: ( )0 1 2 1 2 1 2 E . p p p .p p .p .cos c − = − θ colocando o termo p1 . p2 em evidência do lado direito da igualdade: ( ) ( )0 1 2 1 2 E . p p p .p 1 cos c − = − θ multiplicando essa equação restante por 1 2 0 h.c p .p .E 54 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 01 /1 9 Unidade II Obtemos: ( ) ( )1 2 1 2 0 h h.c . p p 1 cos p .p E − = − θ resolvendo o lado esquerdo da igualdade: ( ) 2 1 0 h h h.c 1 cos p p E − = − θ mas lembrando que h p = λ e que E0 = m . c 2, escreveremos que: ( )2 1 2 h.c 1 cos m.c λ − λ = − θ → λ2 ‑ λ1 = h m c. (1 ‑ cosθ) Saiba mais O efeito Compton é discutido nos seguintes artigos: SILVA, I.; FREIRE JÚNIOR, O. A descoberta do efeito Compton: de uma abordagem semiclássica a uma abordagem quântica. Revista Brasileira de Ensino de Física, Feira de Santana, v. 36, n. 1, p. 1.601, 2014. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbef/v36n1/26.pdf>. Acesso em: 6 dez. 2018. SILVA, I.; FREIRE JÚNIOR, O.; SILVA, A. P. B. O modelo do grande elétron: o background clássico do efeito Compton. Revista Brasileira de Ensino de Física, Feira de Santana, v. 33, n. 4, p. 4.601, 2011. Disponível em: <http:// www.scielo.br/pdf/rbef/v33n4/19.pdf>. Acesso em: 6 dez. 2018. Exemplo 1 Em um experimento para estudar o efeito Compton, observou‑se que o comprimento de onda da radiação incidente (λ1) sofreu um deslocamento de 2,0 % quando o ângulo de difração é igual a 1.500. Qual o valor de λ1? Resolução: partindo da equação do deslocamento Compton: ( ) ( )02 1 h 1 cos 0,00243. 1 cos150 0,00453nmm.cλ − λ = − θ → ∆λ = − → ∆λ = e tendo em vista que: 1 1 1 0,00453 nm 0,02 0,2265 nm 0,02 0,02 ∆λ ∆λ = → λ = → λ = = λ 55 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 18/ 01 /1 9 FÍSICA MODERNA 4.2 Tubos de Geissler e Crookes A Física Moderna deve grande parte de seu avanço a descobertas experimentais que não podiam ser explicadas de acordo com os conceitos da Física Clássica. Um dos principais dispositivos experimentais usados para este avanço é o conhecido tubo de Geissler‑Crookes. Esse tubo é feito de vidro e dele é retirado todo o ar que seja possível, abaixando a pressão interna. Em suas extremidades são colocados dois eletrodos constituídos por duas placas de metal, cada uma delas ligada a um polo de uma fonte de tensão. A placa ligada ao polo negativo recebe o nome de cátodo e a ligada ao polo positivo é denominada ânodo. Geissler, que era um artesão de vidros, na verdade foi quem aprimorou a fabricação desses tubos, conseguindo resolver diversos problemas com relação à vedação (a pressão interna é muito menor que a externa), bem como a dilatação dos materiais, pois nesses tubos o vidro é soldado em metais, fazendo com que a pressão interna seja baixa e estável. Consequentemente, o que Geissler fabricava eram tubos de vidro que podiam conter gases rarefeitos. Quanto a esses tubos, era aplicada uma tensão relativamente alta. Alguns gases emitiam luz visível. Plücker, em 1858, usando os tubos de Geissler e diferentes gases, observou raios de cores diversas nas quais as trajetórias se desviavam nas paredes do objeto quando um campo magnético (ímã) era colocado nas proximidades. Hittorf, aluno de Plücker, alguns anos depois, conseguiu observar que, ao pormos um objeto na frente do cátodo surgia uma imagem projetada (sombra) na parede oposta do vidro. Esse efeito indicava que esses raios descreviam trajetórias retilíneas. De acordo com ele, esses raios tinham origem no cátodo. O físico Goldstein deu‑lhes o nome de “raios catódicos”. Em 1879, o físico William Crookes conseguiu aprimorar os tubos de Geissler, melhorando a bomba de vácuo usada neles. Ele conseguiu obter pressões baixíssimas, da ordem de 105 vezes menor que a pressão atmosférica. Desde esse aprimoramento, os tubos de Geissler também ficaram conhecidos como tubos de Crookes (CHESMAN; ANDRÉ; MACEDO, 2004). Bomba de vácuo Fonte de alta‑tensão ‑ + Figura 14 – Tubo de Crookes 56 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 01 /1 9 Unidade II 4.3 A descoberta do elétron Faraday (CHESMAN; ANDRÉ; MACEDO, 2004) foi o primeiro a fazer estimativas da ordem de grandeza da carga elétrica. Ele estudava a condução de eletricidade em meios líquidos. Seus estudos permitiram obter uma lei para a eletrólise e entender a natureza elétrica das forças entre átomos. O fenômeno estudado por Faraday era simples. Ele colocava dois eletrodos em uma solução, fazendo com que uma corrente elétrica circulasse por ela. Após um período, ele observava a deposição dos elementos da substância nos eletrodos. Suas experiências permitiram deduzir que a carga elétrica fosse quantizada, ou seja, formada por partículas com um certo valor mínimo de carga elétrica. Em 1874, Stoney sugeriu que a menor unidade de carga elétrica fosse chamada de elétron e estimou o seu valor em aproximadamente 10‑20 C (CHESMAN; ANDRÉ; MACEDO, 2004). Em 1896, Zeeman estimou através de medidas espectrais que a razão q/m era de aproximadamente 1,6.1011 Kg/C. No final do século XIX, muitos estudos relacionados com descargas elétricas em gases, através dos tubos de Crookes, estavam sendo realizados. Eles permitiram concluir que o tipo de carga elétrica responsável pela condução elétrica em gases também efetuava a condução elétrica em soluções, como aquelas das experiências de Faraday. Em 1897, Thomson realiza experimentos medindo o movimento dos raios catódicos na presença de campos elétricos. Um diagrama deste experimento pode ser visto na figura a seguir (CHESMAN; ANDRÉ; MACEDO, 2004). Fonte de tensão 1 Tubo de Crooke Fonte de tensão 2 P1 P2 D BAC E+ + ‑ ‑ + +‑ ‑ Figura 15 – Experimento de Thomson 57 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 01 /1 9 FÍSICA MODERNA No experimento, Thomson conectou dois eletrodos (o cátodo C e o ânodo B) a uma primeira fonte de tensão (1). Entre eles existia uma fenda A usada para colimar (focalizar e controlar) os raios catódicos. Esses raios colimados seguiam em direção às placas paralelas de um capacitor (D e E) que estavam ligadas a outra fonte de tensão (2). No final do tubo, existia uma tela fluorescente que emitia luz quando os raios catódicos a atingiam. A posição do ponto de emissão de luz, no final do tubo, podia ser controlada pelo ajuste da tensão da fonte. Essa tensão determinava o campo elétrico fornecido aos raios catódicos. A intensidade desse campo elétrico determinava o desvio (P1 para P2). Esse equipamento usado por Thomson foi o precursor dos tubos de raios catódicos usados em televisões, osciloscópios e telas de computadores. Thomson precisava medir a velocidade com que os raios catódicos estavam sendo emitidos. Para isso, ele inseriu um campo magnético externo, perpendicular ao elétrico, de tal forma que o feixe não sofresse deflexão. Assim, teríamos: e mag E F F q.E q. v .B v B = → = → = (eq. 2.13) Ao retirar o campo magnético, os raios catódicos sofrem um desvio. Enquanto os raios estão entre as placas, o desvio y1 é dado por: 2 2 1 1 q.Eat d y 2 2.m v = = (eq. 2.14) Onde d é o comprimento das placas. Observe que o desvio y é proporcional à razão q/m. Para as várias experiências de Thomson, o valor encontrado para a razão q/m foi: 11q C1,76.10 m Kg = Na verdade, uma segunda contribuição deveria ser levada em consideração, a que se dá depois de as partículas saírem da região entre as placas. Na dedução proposta, essa contribuição foi desprezada, bem como a contribuição do campo magnético terrestre e as correções relativísticas na velocidade dos raios catódicos. Thomson refez seu experimento por diversas vezes usando cátodos de metais diferentes, tais como: cobre, ferro e alumínio. Contudo, obteve sempre o mesmo valor da razão q/m. 58 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 01 /1 9 Unidade II Esse fato fez com que ele considerasse que essas partículas constituintes dos raios catódicos, que tinham uma carga elétrica negativa, estavam presentes em todos os metais usados. Anos mais tarde, Lorentz denominou tais partículas de elétrons. 4.4 O espectrômetro de massa O espectrômetro de massa é um dos principais aparelhos usados em laboratórios de físico‑química. Este equipamento permite obter a relação q/m (carga elétrica por massa) de uma partícula. Para isso, ele mede o raio de curvatura quando uma partícula acelerada por uma diferença de potencial (proveniente de uma fonte de tensão) adquire a energia cinética, sendo inserida em uma região onde existe um campo magnético uniforme. Pela lei de Lorentz, como o vetor velocidade da partícula é perpendicular à direção do campo magnético, a partícula sofrerá a ação da força magnética, que nesse caso atua como uma resultante centrípeta. Essa força faz com que a partícula tenha um movimento circular. O equipamento mede o raio da trajetória, o que permite determinar a relação q/m. Emissor de cargasFonte de tensão ‑ q R Figura 16 – Esquema de um espectrômetro de massa Atualmente, os espectrômetros de massa permitem resoluções da ordem de 10‑9. Para isso o método usado consiste em comparar o raio da trajetória da partícula com um padrão. 4.5 A experiência de Millikan: quantização da carga elétrica Robert Andrews Millikanrealizou em 1909 a famosa experiência de óleo, o que lhe permitiu medir e mostrar a quantização da carga elétrica. O experimento consistia na verdade em um aprimoramento da câmara de bolhas de Wilson. Na câmara de bolhas, a trajetória de partículas poderia ser visualizada através do rastro deixado por elas devido à colisão dessas partículas com bolhas de vapor saturado dentro de uma câmara. 59 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 01 /1 9 FÍSICA MODERNA J. Townsend estava usando as câmaras de Wilson para observar uma pequena nuvem, com gotas de água supostamente idênticas e com a mesma carga elétrica, que caíam por efeito gravitacional. Townsend determinava experimentalmente a carga total da nuvem (que, por ser carregada, sofre efeitos eletromagnéticos), a sua massa e o raio de uma gota individual. Assim, ele poderia determinar quantas gotas carregadas a nuvem continha. O estudo de Townsend possuía duas limitações: • a velocidade de evaporação da nuvem precisava ser levada em consideração, mas era uma medida difícil de ser feita; • a hipótese de que cada gota de água continha apenas uma unidade de carga elétrica. O experimento de Millikan tentava sobrepor essas dificuldades. Ele usou óleo (de azeite) em vez de água, o que eliminava o problema da evaporação. Para controlar o movimento das gotas de óleo carregadas, usou um campo elétrico intenso, gerado por duas placas alimentadas por uma fonte de tensão elétrica. Millikan então descobriu que era possível observar gotas isoladas. Elas ficavam em equilíbrio por causa do campo elétrico entre as placas que produzia uma força elétrica capaz de equilibrar a força peso. No entanto, algumas vezes, essas gotas, por terem adquirido carga elétrica, se deslocavam para cima ou para baixo. Portanto, poderia ser observada a carga de um íon de forma isolada. Os experimentos de Millikan permitiram concluir que a carga elétrica sempre ocorre em múltiplos inteiros de um valor fundamental chamado de carga elétrica elementar. Fonte de tensão Atomizador Luneta KV ‑+ Figura 17 – Esquema do experimento da gota de Millikan 60 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 01 /1 9 Unidade II Resumo Nessa unidade vimos que as medidas de intensidade de radiação do corpo negro levaram ao início do desenvolvimento das ideias da mecânica quântica. O problema inicial estava relacionado ao espectro de radiação emitida por um corpo negro aquecido a uma dada temperatura. A descrição baseada nas leis da Física Clássica não permitia obter uma forma matemática que descrevesse corretamente as medidas experimentais. Planck propôs um modelo que permitiu resolver esse problema. Para isso, ele usou o argumento de que a energia dos modos de vibração da cavidade de corpo negro era quantizada e múltipla de uma constante, h. Dessa forma, ele introduziu a ideia de quantização de energia. Logo após a descoberta de Planck, Lorentz descobriu o efeito fotoelétrico estudando as ondas de Maxwell. Nesse efeito, elétrons são emitidos por placas de metais que recebem radiação eletromagnética. O problema era que a emissão desses elétrons estava vinculada à frequência da radiação incidente, fato este que, novamente, como a radiação de corpo negro, não era possível de ser explicado pelas leis da Física Clássica. Albert Einstein explicou o efeito fotoelétrico usando as ideias de quantização de Planck. Para isso, ele considerou que a luz era constituída de quanta de energia, chamadas de fótons. Compton descobriu que a radiação eletromagnética possui momento linear (quantidade de movimento) observando o espalhamento angular da radiação eletromagnética. Para explicar esse efeito, ele também aplicou as ideias de quantização de Planck somadas aos efeitos relativísticos da energia eletromagnética. Os tubos de Geissler‑Crookes são um tipo de arranjo em que gases são percorridos por correntes elétricas e esses efeitos podem ser controlados por campos elétricos e magnéticos externos. Esses arranjos experimentais permitiram que Millikan obtivesse a relação carga‑massa para uma partícula fundamental da natureza: o elétron. 61 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 01 /1 9 FÍSICA MODERNA Exercícios Questão 1. Em um laboratório foi executado um experimento em que radiação eletromagnética de comprimento de onda λ incide em uma placa de sódio, provocando a emissão de elétrons. Os elétrons escapam da placa de sódio com energia cinética máxima Ec = E ‑ W, sendo E a energia de um fóton da radiação e W a energia mínima necessária para extrair um elétron da placa. A energia de cada fóton é E = h . ν, sendo h a constante de Planck e ν a frequência da radiação. Módulo da velocidade da radiação eletromagnética: 8 mc 3,0 10 s = ⋅ . 1nm = 10‑9 m h = 4 . 10‑15 eV . s W(sódio) = 2,3 eV 1eV = 1,6 . 10‑19 J Considerando que a energia cinética máxima Ec de um elétron que escapa da placa de sódio é 1,12 . 10‑19 J; o comprimento de onda λ que incide na placa é: A) 400 nm. B) 300 nm. C) 0. D) 1.500 nm. E) 100 nm. Resposta correta: alternativa A. Análise das alternativas A) Alternativa correta. Justificativa: veja a resolução: 62 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 01 /1 9 Unidade II A energia cinética máxima dos fotoelétrons emitidos é: 19 19 C –19 1,12 10 J E 1,12 10 J eV 0,7eV 1,6 10 J − − ⋅= ⋅ = = ⋅ Com essa energia, a energia do fóton incidente fica: EC = E ‑ 2,3 = 0,7eV → E = 3,0eV Assim, o comprimento de onda λ para essa energia é: 8 15c 3 10E h. h. 4,0 10 3,0eV− ⋅ = ν = = ⋅ ⋅ = λ λ 8 15 3 104,0 10 3,0eV − ⋅⋅ ⋅ = λ λ = 4 . 10‑7 m λ = 400 . 10‑9 m = 400 nm B) Alternativa incorreta. Justificativa: para que essa resposta seja verdadeira, EC = 2,7eV. C) Alternativa incorreta. Justificativa: se não há comprimento de onda, então não há incidência. D) Alternativa incorreta. Justificativa: não há como essa resposta ser verdadeira. E) Alternativa incorreta. Justificativa: para que essa resposta seja verdadeira, EC = 9,7eV. Questão 2. Em um experimento para estudar o efeito Compton, observou‑se que o comprimento de onda da radiação incidente (λ1 = 0,1215 nm) sofreu um deslocamento de 3,0%. Qual é o ângulo de difração nessa situação? 63 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 8/ 01 /1 9 FÍSICA MODERNA ( ) ( )2 1 h 1 cos 0,00243. 1 cos m.c λ − λ = − θ → ∆λ = − θ A) 30º. B) 60º. C) 90º. D)120º. E) 150º. Resolução desta questão na plataforma.
Compartilhar