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Monografia_Ricardo Rodolfo Rios Bezerra

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INSTITUTO BRASILIENSE DE DIREITO PÚBLICO - IDP 
ESCOLA DE DIREITO DE BRASÍLIA - EDB 
CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO 
 
 
 
 
 
 
RICARDO RODOLFO RIOS BEZERRA 
 
 
 
 
PSICOPATA HOMICIDA: UM ENFOQUE PSICO-JURÍDICO EM FACE DO 
DIREITO PENAL BRASILEIRO POR MEIO DE ESTUDOS DE CASOS. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BRASÍLIA 
NOVEMBRO, 2015 
 
	
  
	
  
	
  
2	
  
RICARDO RODOLFO RIOS BEZERRA 
 
 
 
 
 
 
 
PSICOPATA HOMICIDA: UM ENFOQUE PSICO-JURÍDICO EM FACE DO 
DIREITO PENAL BRASILEIRO POR MEIO DE ESTUDOS DE CASOS. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Trabalho de monografia apresentado ao Curso de 
Graduação em Direito como requisito parcial para 
obtenção de Bacharel em Direito. 
Orientador: Kênia Bauer Manngubert 
 
 
 
 
 
 
 
BRASÍLIA 
	
  
	
  
	
  
3	
  
NOVEMBRO, 2015 
RESUMO 
 
 
O presente trabalho visa analisar a situação jurídica, especificamente a jurídico-
criminal, do psicopata. Busca-se conceituar a psicopatia, seus subtipos e a 
delimitação de serial killer segundo a psicologia jurídica, elencando suas 
características gerais. Foram delimitados alguns institutos vigentes no direito penal 
pátrio que relacionam-se com a situação legal do psicopata, tais quais a 
imputabilidade penal, a pena, suas finalidades e limitações constitucionais e a 
medida de segurança. Foram elegidos dois casos aplicados no âmbito do direito 
penal brasileiro e baseado em outro sistema normativo legal, e por fim, foi delineado 
um comparativo entre os dois casos, tangenciando tanto os conceitos trazidos pela 
psicologia jurídica quanto os tópicos delimitados das ciências jurídico-criminais. 
Palavras-chave: Psicopata homicida. Psicologia jurídica. Culpabilidade. Pena. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
	
  
	
  
	
  
4	
  
ABSTRACT 
This paper attempt to examine the psycopath legal situation, specifically in the 
criminal sphere. The aim is to conceptualize psychopathy, subtypes and the serial 
killer delimitation concept according to forensic psychology, listing its general 
characteristics. Were delimited few institutes in foreign criminal law which are related 
to the legal situation of the psychopath, such as the criminal responsibility, the 
punishment, its purposes and constitutional limitations. There were two cases applied 
under the Brazilian criminal law and based on other legal normative system chosen. 
After that, built a comparison between the two designed cases, connecting to both 
the concepts brought by forensic psychology as delimited topics of legal and criminal 
science. 
Key words: Serial Killer. Forensic psychology. Culpability. Purpose of punishiment. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
	
  
	
  
	
  
5	
  
SUMÁRIO 
 
	
  
CAPÍTULO I – A PSICOPATIA	
  .................................................................................................	
  10	
  
1.1	
  O psicopata	
  .......................................................................................................................................	
  10	
  
1.2 O Serial Killer	
  ...................................................................................................................................	
  15	
  
CAPÍTULO II –CONSEQUÊNCIAS JURÍDICO-CRIMINAIS	
  ...........................................	
  20	
  
2.1 Correlação entre ciência jurídico-criminal e a psicopatia	
  .............................................	
  20	
  
2.2 Psicopatia e seus efeitos na culpabilidade	
  .........................................................................	
  21	
  
2.2.1 Imputabilidade do psicopata	
  ................................................................................................................	
  24	
  
2.2.2 Critérios de aferição da inimputabilidade	
  ......................................................................................	
  29	
  
2.3 Pena	
  .....................................................................................................................................................	
  31	
  
2.3.1 Teorias acerca da finalidade da pena	
  .............................................................................................	
  33	
  
2.3.2 Limites da pena	
  ..........................................................................................................................................	
  38	
  
2.4 Medida de segurança e sua aplicabilidade nos casos de psicopatia	
  .......................	
  39	
  
CAPÍTULO III ANÁLISE DE ESTUDO DE CASOS	
  ...........................................................	
  43	
  
3.1 Estudo de caso - Pedro Rodrigues Filho	
  ..............................................................................	
  43	
  
3.2 Estudo de caso – Jefrey Dahmer	
  .............................................................................................	
  49	
  
CAPITULO IV ANÁLISE PSICOJURÍDICA DOS CASOS	
  ..............................................	
  56	
  
Quadro 01 - Ambiente familiar – pais	
  ..........................................................................................................	
  56	
  
Quadro 02 - Episódios na infância	
  ................................................................................................................	
  57	
  
Quadro 03 - Primeiro crime	
  ..............................................................................................................................	
  58	
  
Quadro 04 - Modus operandi	
  ...........................................................................................................................	
  59	
  
Quadro 05 - Características Gerais do Serial Killer	
  .............................................................................	
  61	
  
Quadro 06 - Imputabilidade e Medida de Segurança	
  .........................................................................	
  62	
  
Quadro 07 - Pena e cumprimento de pena	
  ..............................................................................................	
  62	
  
CONCLUSÃO	
  .................................................................................................................................	
  65	
  
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS	
  .......................................................................................	
  68	
  
	
  
 
	
  
	
  
	
  
6	
  
INTRODUÇÃO 
 
As razões que levam um indivíduo a cometer um crime são motivo de 
constante discussão, tanto no âmbito acadêmico, quanto no social. Explicações 
médicas, psicológicas, sociológicas e jurídicas são abundantes e buscam um 
mesmo objetivo: entender a mente criminosa, ou seja, o que leva uma pessoa ao 
cometimento de um crime de maneira mais ousada, com detalhes e métodos mais 
incisivos. 
Há, no entanto, alguns crimes que causam maior impacto na opinião pública. 
Dentre esses pode-se citar o homicídio como o de maior comoção. Ao se deparar 
com um assassinato, o círculo social busca uma justificativa racional baseada nas 
teses levantadas pela ciência e pelos meandros do comportamento humano em si. 
Contudo, quando os delitos não se amoldam às explicações, de certa maneira, 
compreendidas no imaginário popular, passam a causar fascínio e tomam 
proporções que mobilizam a sociedade. 
Cabe então, frente aos casos descritos, à psicologia forense, a análise da 
psique do criminoso, buscando a fonte psicológica ou emocional motivadora do 
delito em questão. 
A discussão da psicopatia no âmbito legislação penal ainda é rasa no Brasil. 
Os casos documentados demonstramuma fragilidade jurídica, justificada pela falta 
de uma legislação específica que aborde o distúrbio como fator determinante para o 
cometimento do crime de homicídio. Existem diversas situações nas quais o 
indivíduo psicopata encontra-se nas lacunas da lei, apresentando, portanto, uma 
desproporcionalidade quanto a aplicação e efetividade da legislação vigente. 
Para tanto pergunta-se, existe na atual legislação penal trato adequado a 
situação do psicopata, e em especial do assassino em série? Existe, em outros 
ordenamentos jurídicos, uma aplicação legal mais efetiva no trato do psicopata 
homicida? 
	
  
	
  
	
  
7	
  
Os objetivos específicos a serem executados durante o trabalho estabelecem: 
-­‐ Analisar o conceito de psicopata homicida, suas nuances e implicações 
no mundo psicológico e jurídico. -­‐ Examinar dois estudos de casos, sendo o primeiro brasileiro e o 
segundo não brasileiro, abordando as peculiaridades, modus operandi e 
aspectos psicológicos dos homicidas em série. -­‐ Analisar a legislação brasileira no tocante culpabilidade do agente em 
face da teoria do crime, incluindo aí a imputabilidade penal e seus critérios de 
aferição, a pena, suas finalidades e teorias fundamentadoras bem como a 
teoria adotada pelo artigo 59 do Código Penal Brasileiro e seus limites 
constitucionais e por fim o instituto da medida de segurança e suas espécies. -­‐ Destacar outros tipos de atuação frente aos serial killers para uma 
análise dos parâmetros supracitados do sistema penal brasileiro. 
 
Sendo assim, objetivo geral desse trabalho permeia uma reflexão sobre a 
psicopatia em destaque os serial killers e como a legislação brasileira aborda esses 
indivíduos, buscando o entendimento de um caso compatível porém de um outro 
país para suscitar possíveis ponderações a respeito dos nosso institutos penais. 
A relevância de tal análise é demonstrada a partir da necessidade da 
implementação de políticas públicas criminais voltadas ao trato de indivíduos 
portadores do distúrbio de personalidade antissocial. Somente com a real 
compreensão das estruturas psicológicas motivadoras do homicídio e sua 
adequação ao arcabouço jurídico é possível determinar medidas sancionatórias e 
punitivas. Diminuindo, consequentemente, a insegurança social. 
A análise dos casos realizada neste estudo, tenta apresentar ao operador do 
Direito, parâmetros frente ao estudo relacionado ao psicopata homicida e traz a 
possibilidade de suscitar o pensamento do surgimento de readequação jurídica 
quanto ao tratamento empregado ao mesmo. 
	
  
	
  
	
  
8	
  
Cumpre analisar as peculiaridades psicológicas desses indivíduos, 
entendendo-os como seres cujas motivações são distintas das quais normalmente 
depara-se, e buscar em novos paradigmas normativos, meios mais efetivos, e que 
mais se adequam aos estudos de casos trazidos. 
Dentre os questionamentos levantados neste trabalho, surge uma dúvida 
quanto a eficácia da aplicação do sistema penal brasileiro nos casos referentes aos 
psicopatas homicidas. De tal forma, se propõe uma descrição de um caso ocorrido 
sob a égide da legislação pátria e outro, buscando uma reflexão referente à 
existência de uma forma ideal de tratamento aos homicidas portadores do distúrbio. 
Uma das hipóteses levantadas é de que a análise comparativa, utilizando 
como instrumento o estudo de caso, poderá servir para demonstrar que os 
parâmetros da legislação brasileira ainda se apresentam imaturos frente à 
complexidade de um indivíduo que não possui funções mentais e emocionais 
adequadas dentro de um padrão de normalidade e afigura-se com potencial lesivo 
frente à sociedade. Ademais a pena não mostra-se realmente efetiva dentro de suas 
finalidades, tendo em vista que o serial killer possui capacidade reduzida de 
reinserção na sociedade. 
Como última hipótese, surge a medida de segurança, que no campo 
hipotético e teórico deveria ser aplicada a todos os psicopatas, encontrando-se na 
condição de semi-imputáveis, abarcando, por lógico, os serial killers, contudo, pela 
dificuldade de diagnóstico no andamento de uma persecução criminal, isso não 
ocorre na prática, sendo por vezes sujeitos as penas como se imputáveis fossem. 
 Apresentando-se todos os parâmetros a serem retratados no decorrer do 
trabalho, a metodologia utilizada foi uma pesquisa psico-jurídica, que 
interrelacionará temas e institutos presentes do direito penal, como temáticas 
pertinentes às cadeiras de psicologia jurídica. 
Analisou-se a questão de maneira interdisciplinar, ou seja, traçou-se um 
paralelo entre a legislação e a posição da doutrina majoritária com as celeumas 
mentais e morais de um psicopata. 
	
  
	
  
	
  
9	
  
Para isso foi utilizada a técnica de estudo de caso, na qual serão 
selecionados dois casos, um ocorrido no Brasil e o outro em um país distinto (EUA) 
com características semelhantes, incluindo-se perfil psicológico e moral, modus 
operandi, consequências resultantes da ação criminosa homicida e impacto sócio 
jurídico dentro do âmbito de inserção. 
Diante das particularidades dos casos expostos foi traçada uma conexão 
tanto jurídica quanto psicológica com os institutos pátrios e uma reflexão de como 
esses parâmetros são tratados em instituição penal estrangeira. 
O primeiro capítulo aborda as conceituações, dadas pela psicologia jurídica, 
ao psicopata, atribuindo alguns subtipos e propriedades, em seguida traz-se as 
delimitações teóricas de psicopata. No segundo capítulo será feito a atrelamento do 
psicopata homicida com alguns institutos no âmbito das ciências criminais, tais quais 
a culpabilidade dentro da teoria do crime, a imputabilidade penal, a pena em seu 
caráter amplo, finalidades e limitações e por fim será abordada a medida de 
segurança, lato e stricto sensu. 
O terceiro capítulo será utilizado para realizar uma breve descrição dos fatos 
mais relevantes dos dois casos a serem analisados. Essa descrição abarca tanto 
aspectos cotidianos de destaque como descrições de infância, modus operandi e 
perfil psicológico de ambos os assassinos em série. 
O último capítulo tem como objetivo a análise dos dados extraídos a partir do 
estudo de casos, utilizando os conceitos elencados nos capítulos predecessores. 
Essa análise se realiza a partir da confecção de tabelas comparativas visando a 
melhor contemplação dos dados inferidos. 
 
 
 
 
 
	
  
	
  
	
  
10	
  
CAPÍTULO I – A PSICOPATIA 
 
Uma das grandes incógnitas, seja no âmbito da psiquê seja no âmbito 
jurídico, é como a psicopatia pode ser caracterizada e identificada. Não são tão 
explícitas as designações no âmbito biopsiconeurológico específico, muito menos, 
nas relações judiciais referentes àqueles que cometem algum tipo de delito e o como 
proceder com os mesmos. 
No Brasil, a psicopatia ainda é tema nebuloso no que tange à sua implicação 
jurídica, tanto em aspectos relativos à classificação do transtorno de personalidade 
antissocial como uma doença mental semi-incapacitante, quanto a um 
enquadramento diverso do agente homicida. 
Um estudo mais aprofundado se mostra necessário à manutenção do Estado 
Democrático de Direito, em que pese a função da figura do Estado na manutenção 
da segurança pública e da propositura de medida de contenção frente à violência 
nos dias atuais. 
Este capítulo especifica em uma visão generalista, o que a psicologia e a 
psiquiatria trazem a respeito do psicopata e dos serial killers com a finalidade de 
clarear seu conceito, sintomas e características gerais e peculiaridades, para em 
seguida fazer a análise com base na legislação. 
 
1.1 O psicopata 
Para a conceituação de psicopatia faz-senecessário, a priori, a compreensão do 
terreno sinuoso pelo qual essa conceituação se desenvolveu com o passar das 
décadas, inclusive com definições distintas a depender do doutrinador e do 
momento histórico. 
Há de se fazer uma diferenciação quanto às posições adotadas frente ao 
psicopata, conforme entendimento do professor Marcus Vinicius Ribeiro Cunha, que 
em seu artigo1, destaca que existem três correntes, sendo a primeira filiada ao 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
1	
  CUNHA, Marcus Vinicius Ribeiro e PALHARES, Diego de Oliveira. PSICOPATA E O DIREITO 
	
  
	
  
	
  
11	
  
conceito clássico, e até mesmo etimológico de psicopatia. Este conceito também é 
preconizado por Ana Beatriz B. Silva2. Estes autores explicitam que “A palavra 
psicopata literalmente significa doença da mente (do grego, psyche = mente; e 
pathos = doença)”, ou seja, entende a psicopatia como uma disfunção de ordem 
mental, contudo esse posicionamento encontra barreira na maioria dos estudiosos, 
em não havendo quaisquer comprovações de deficiências cognitiva ou racional. 
Já a segunda corrente é filiada à concepção de psicopatia como uma “doença 
moral” ou “loucura moral”, verbete este bastante utilizado por Ana Beatriz Silva3. Ou 
seja, por esta definição ter-se-ia como consequência um individuo incapaz de 
respeitar preceitos socialmente postos, incluindo-se aí regramentos jurídicos. O 
indivíduo saberia sobre sua conduta e sobre possíveis erros comportamentais frente 
às regras socialmente estipuladas para determinado contexto. 
Na visão do professor Jorge Trindade4: 
(...) o psicopata é um sujeito que não internalizou a noção de lei, 
transgressão ou culpa. Por isso, vive regido por regras próprias. Em seu 
imaginário fantasioso, e ao mesmo tempo empobrecido de metas e valores, 
a norma não é para ser obedecida, pelo menos por ele, que não consegue 
elaborar o alcance social da regra estabelecida 
 
Por fim, a terceira corrente, agarra-se à ideia médico-cientifica de que a 
psicopatia encontra-se dentro do universo patológico do Transtorno de 
Personalidade Antissocial, como descrito adiante. Neste sentido, seria uma 
psicopatologia, uma doença da mente com bases fisiológicas que também 
implicariam em desvios de condutas e comportamentos cotidianos. 
Segundo o professor Jorge Trindade5 o conceito de psicopatia por muitas 
vezes se confunde e até mesmo se funde com o Transtorno de Personalidade 
Antissocial. Contudo, ainda existem pensadores tanto no ramo jurídico, quanto no da 
psicologia vêm entendendo que as nomenclaturas representam patologias diversas. 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
2 SILVA, Ana Beatriz B. Mentes perigosas: o psicopata mora ao lado, Rio de Janeiro: Objetiva, 
2008 p.32 
3 IDEM. 
4 TRINDADE, Jorge, Psicopatia – a máscara da Justiça. Jorge Trindade, Andréa Beheregaray, 
Mônica Rodrigues Cuneo. Porto alegre: Livraria do advogado Editora, 2009 p. 41 
5	
  TRINDADE, Jorge, Psicopatia – a máscara da Justiça / Jorge Trindade, Andréa Beheregaray, 
Mônica Rodrigues Cuneo. Porto alegre: Livraria do advogado Editora, 2009 p. 41 
	
  
	
  
	
  
12	
  
O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, o chamado DSM 
– IV, desde o ano 1980, não mais adota o termo psicopatia, somente sendo utilizado 
o vocábulo Transtorno de Personalidade Antissocial, relativo às condutas 
delinquentes e socialmente indesejáveis. 
 Trindade6 ainda define a personalidade psicopática como uma série de 
características singulares do indivíduo, referente a diversos aspectos, tais quais 
relacionados aos pensamentos, sentimentos e comportamentos, e que se 
manifestam de maneira multifacetada no portador. 
Nesse sentido, supracitado autor esclarece7: 
Esse transtorno, historicamente, foi conhecido por diferentes nomes: a) 
insanidade sem delírio (Pinel, 1806); b) insanidade moral (Prichard, 1837); 
c) delinqüência nata (Lombroso, 1911); d) psicopatia (Koch, 1891); e) 
sociopatia (Lykken, 1957). Atualmente, é conhecido por Transtorno de 
Personalidade Antissocial. Negrito nosso. 
 
Contudo, a doutrina atual vem se posicionando pela distinção, ainda que 
tênue, do conceito de psicopatia e Transtorno de Personalidade Antissocial, 
atribuindo pontos discrepantes no tocante aos critérios de diagnósticos. 
 De acordo com o professor Jorge Trindade8, os indivíduos caracterizados 
como psicopatas também preenchem os critérios postos no tocante ao diagnóstico 
do Transtorno de Personalidade Antissocial, contudo o inverso não se mostra 
verdadeiro. É possível então inferir que o diagnóstico de psicopatia estará sempre 
abarcado pelo gênero TPAS9, entretanto, somente a incidência de alguns fatores 
específicos podem elevar o nível do reconhecimento de um psicopata, tais quais os 
citados no PCL-R10 desenvolvido pelo Psicólogo Canadense Robert Hare. 
Segundo o professor de psicologia Matthew T. Huss11, a maior parte dos 20 
(vinte) itens contidos na tabela PCR-L pode ser agrupada em dois fatores ou 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
6 TRINDADE, Jorge. Manual de Psicologia Jurídica..., 2012, p. 166. 
7 IDEM, p.161 
8 TRINDADE, Jorge, Psicopatia – a máscara da Justiça / Jorge Trindade, Andréa Beheregaray, 
Mônica Rodrigues Cuneo. Porto alegre: Livraria do advogado Editora, 2009 p. 97 
9 Transtorno de Personalidade Anti-social 
10	
  Instrumento desenvolvido para traçar tendências comportamentais anti-sociais e relacianadas a 
psicopatia. 
11 HUSS, Matthew T. Psicologia Forense: pesquisa, prática clínica e aplicações. Porto Alegre: 
Artmed, 2011 p. 96 
	
  
	
  
	
  
13	
  
categorias distintas, sendo o primeiro fator relativo a aspectos interpessoais, 
inerente à expressão emocional, já o segundo fator refere-se ao comportamento 
social e/ou estilo de vida adotado. 
Sendo assim, o PCR-L12 destaca os seguintes itens. 
Itens que se sobrepõem: 
1. Lábia/charme superficial – fator 1 
2. Senso grandioso de autoestima - fator 1 
3. Mentira patológica - fator 1 
4. Ausência de remorso ou culpa - fator 1 
5. Afeto superficial - fator 1 
6. Crueldade/falta de empatia - fator 1 
7. Comportamento sexual promíscuo 
8. Falta de objetivos realistas de longo prazo - fator 2 
9. Impulsividade - fator 2 
10. Irresponsabilidade - fator 2 
11. Falhas em aceitar responsabilidade pelas próprias ações - fator 1 
12. Versatilidade criminal 
Itens que não se sobrepõem : 
13. Necessidade de estimulação - fator 2 
14. Ludibriador/Manipulador - fator 1 
15. Estilo de vida parasita - fator 2 
16. Controle deficiente do comportamento - fator 2 
17. Problemas comportamentais precoces - fator 2 
18. Muitas relações conjugais de curta duração 
19. Delinquência juvenil - fator 2 
20. Revogação de liberdade condicional - fator 212 Idem. P.94 
	
  
	
  
	
  
14	
  
No tocante aos percentuais de incidência, também existe uma diferenciação 
entre o TPAS e a Psicopatia, segundo estudos do psicólogo forense Matthew T. 
Huss13 no âmbito geral da população, cerca de 3% a 5% pode ser diagnosticado 
com TPAS, contudo dentro do ambiente carcerários esses números crescem em 
proporções notáveis atingindo uma faixa entre 50% e 80%. 
Contudo os números relativos à psicopatia mostram-se mais discretos, 
atingindo uma faixa de 1% da população e uma variação de 15% a 30% no que 
tange os criminosos encarcerados. Cabe, entretanto, salientar que nem todo o 
psicopata pode ser automaticamente considerado um assassino em série, pois 
diversos são os níveis de psicopatia. 
Outro ponto importante no sentido de definir o termo psicopata é saber de 
onde e em qual momento eclode essa condição psíquica-moral que conflui num 
indivíduo psicopata. Para tanto, faz-se necessária a diferenciação das espécies de 
psicopatas, classificação essa que não se mostra uníssona no campo doutrinário. 
 No que tange os subtipos de psicopatia, é possível distinguir essa 
psicopatologia em dois ramos distintos. O primário enquadra-se no protótipo 
conhecido genericamente, atribuindo a psicopatia de forma inerente ou intrínseca. Já 
no caso da psicopatia secundária, existe uma causa concreta para a incidência 
psicopática, seja um déficit cognitivo, condição social ou alguma outra 
psicopatologia, agindo por vezes, segundo Trindade14 “tipicamente como revanche, 
como reação a circunstâncias que exacerbam seu conflito, de natureza neurótica, 
razão pela qual ele é acessível a uma abordagem de natureza psicoterápica ” 
Nessa mesma toada, o supracitado autor ainda elucida15: 
como antes anunciado, o protótipo do psicopata é o denominado psicopata 
primário: cruel e sem emoção. Já o psicopata secundário parece 
emocionalmente lábil, possui sentimento de raiva e apresenta alguma forma 
de ansiedade. Assim, a psicopatia primária seria produto de uma condição 
hereditária, enquanto a psicopatia do tipo secundário, o resultado das 
influências ambientais, particularmente experiências traumáticas da infância 
 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
13	
  HUSS, Matthew T. Psicologia Forense: pesquisa, prática clínica e aplicações. Porto Alegre: 
Artmed, 2011 
14 TRINDADE, Jorge, Psicopatia – a máscara da Justiça. Jorge Trindade, Andréa Beheregaray, 
Mônica Rodrigues Cuneo. Porto alegre: Livraria do advogado Editora, 2009 p. 69 
15 IDEM. 
	
  
	
  
	
  
15	
  
 Essa diferenciação relativa aos subtipos de psicopatia demonstra além das 
causas dessa psicopatologia como também explicita a disparidade quanto aos meios 
de abordagens medicas e jurídicas aplicadas a cada subtipo, devendo, portanto, ser 
objeto de intenso estudo e mapeamento em ambas as frentes de tratamento. 
Preconiza o professor Jorge Trindade: “Diversos estudos confirmam a 
consistente relação entre psicopatia e criminalidade, principalmente entre psicopatia 
e crimes violentos. Psicopatas também tendem a cometer mais crimes violentos, 
movidos por metas imediatas e prementes. ”16 
Em torno da análise psicológica e subjetiva da mente de um criminoso 
envolvido em tais situações surge a hipótese do diagnóstico de psicopatia, definida 
por Garcia17 como um distúrbio de personalidade antissocial na qual o indivíduo 
apresenta desvios de conduta que ocasionalmente infligem determinados preceitos 
morais, éticos e por muitas vezes tipificações jurídicas. 
 
 
1.2 O Serial Killer 
 
É possível afirmar que existe uma relação muito tênue entre a psicopatia e a 
condição de um assassino em série (serial killer), podendo inferir que nem todos os 
psicopatas estarão enquadrados na conceituação de assassino em série, contudo o 
inverso mostra-se verdadeiro. Segundo Ilana Casoy18, a definição de serial killer é o 
indivíduo que comete uma série de homicídios, durante um período de tempo, e que 
tenha uma pausa periódica entre os crimes cometidos. 
A terminologia serial killer, ou assassino em série, notadamente remonta a 
uma noção contemporânea de classificação criminosa, contudo é possível inferir que 
somente a nomenclatura mostra-se recente, já que a prática de assassinatos em 
série remete a tempos pretéritos. 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
16 TRINDADE, Jorge, Psicopatia – a máscara da Justiça. Jorge Trindade, Andréa Beheregaray, 
Mônica Rodrigues Cuneo. Porto alegre: Livraria do advogado Editora, 2009 p. 111 
17 GARCIA, J. Alves. Psicopatologia Forense. 2 ed. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti Editores, 1958. 
18 CASOY, Ilana, Serial Killers: Louco ou cruel, Rio de Janeiro: Darkside books, 2014 p.20 
	
  
	
  
	
  
16	
  
Segundo o escritor criminal Harold schechter19: 
O exemplo mais antigo já publicado da expressão “serial killer” que os 
editores do dicionário de inglês Oxford conseguiram encontrar data de 
apenas algumas décadas atrás. Trata-se do artigo Leanding the Hunt in 
Atlanta`s Murders (“Liderando a Caçada aos Assassinos de Atlanta”), 
escrito por M.A Faber e publicado em 3 de maio de 1981 pela revista do 
New York Times 
 
 Dentre as definições de serial killer, o FBI (Federal Bureau of Investigation), 
em seu manual de classificação de crimes de 1992, vem enfatizando três elementos 
relativos à quantidade de homicídios, aos locais de consumação dos delitos e ao 
quesito temporal relativo cometimento desses homicídios em série. Em suma, o 
FBI20 preconiza que devem haver três ou mais eventos distintos em pelo menos três 
locais diversos com um período de intervalo (calmaria) entre os atos comissivos. 
A definição específica relativa ao assassino em série, vem para lastrear 
minimamente o modus operandi desses criminosos para apresentar um contraste 
entre esses indivíduos e outras categorias de assassinos, tais quais homicidas em 
massa e homicidas relâmpago. 
Os homicidas em massa em quase nada se assemelham aos assassinos em 
série. Normalmente o assassinato em massa acontece como consequência de 
extrema pressão emocional ou psicológica, podendo ser considerada como um 
surto, e tem como viés o caráter suicida causando, por conseguinte, o maior dano 
possível. Schechter21 explicita que “enquanto o assassino em série é 
frequentemente descrito como um predador, o assassino em massa é 
esteriotipicamente definido como uma bomba-relógio humana”. 
A conceituação de assassinato relâmpago pode ser por muitas vezes 
confundida com o assassino em massa, contudo temos uma diferenciação de 
extrema importância, o itinerário percorrido pelo assassino. 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
19 SCHECHTER, Harold. Serial killers, anatomia do mal; tradução de Lucas Magdiel – Rio Janeiro: 
Dark de side Books, 2013 p.15 
20 SCHECHTER, Harold. Serial killers, anatomia do mal; tradução de Lucas Magdiel – Rio Janeiro: 
Dark de side Books, 2013 p.15 
21 IDEM p.19	
  
	
  
	
  
	
  
17	
  
Harold Schechter22explicita: 
A diferença determinante entre o assassino relâmpago e o assassino em 
massa tem a ver com o movimento. Enquanto este mata em um só lugar, o 
assassino relâmpago se desloca de um lugar a outro matando no percurso. 
Nesse sentido, o assassinato relâmpago poderia ser mais bem descrito 
como um assassinato em massa itinerante. 
 
Contudo, resta claro que essa definição não se mostra acertada, uma vez 
que, se por um lado mostra-se ampla demais, não levando em consideração 
aspectos subjetivos ou psicológicos em torno do cometimento do ato. Por outro lado, 
essa mesma definição mostra-se restritiva no momento em que é confrontada com 
aspectos factuais, como o caso do famoso serial killer brasileiro Francisco Costa 
Rocha, o “Chico Picadinho”, que cometeu dois assassinatos, sendo ambos 
cometidos em seu apartamento, o que segundo a definição do FBI, não considerar-
se-ia um crime advindo de um psicopata homicida, tanto pela inalcançável 
quantidade de vítimas, quanto pelo aspecto espacial. 
O trecho transcrito abaixo revela discussão à cerca da temática ora abordada, 
entrevista feita pela escritora criminal Ilana Casoy, com Chico Picadinho23: 
Ilana: ... agora, eu acho que o que você pode questionar é o seguinte: por 
que sou um serial killer se eu matei duas [vítimas]? Aí eu que vou te 
perguntar: se você não tivesse sido preso naquela época, no nível de 
degradação que você estava, quantas teria matado? 
Francisco: Olha, sinceramente... eu não sei... não sei... não sei. 
 
Nesse sentido, surge o questionamento visceral, quanto à real necessidade 
de o indivíduo cometer ao menos três homicídios em locais diversos para a 
caracterização do assassino em série. 
No ano de 1984 a unidade de ciência comportamental do FBI apresentou 
trabalho24 baseado no estudo de 36 criminosos seriais encarcerados, listando, por 
fim, algumas “características gerais”: 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
22 SCHECHTER, Harold. Serial killers, anatomia do mal; tradução de Lucas Magdiel – Rio Janeiro: 
Dark side Books, 2013 p.22 
23CASOY, Ilana. Arquivos Serial Killers Made In Brazil. Rio de Janeiro: Dark Side Books, 2014 p. 
145 
	
  
	
  
	
  
18	
  
01. A maioria é composta por homens brancos e solteiros 
02. Tendem a ser inteligentes, com QI médio de “superdotados” 
03. Apesar da inteligência, eles têm fraco desempenho escolar, histórico de 
empregos irregulares e acabam se tornando trabalhadores não 
qualificados. 
04. Vêm de um ambiente familiar conturbado ao extremo. Normalmente 
foram abandonados quando pequenos por seus pais e cresceram em 
lares desfeitos e disfuncionais dominados por suas mães. 
05. Há um longo histórico de problemas psiquiátricos, comportamento 
criminoso e alcoolismo em suas famílias. 
06. Enquanto crianças, sofrem consideráveis abusos – às vezes 
psicológicos, às vezes físicos, muitas vezes sexuais. Os brutais maus 
tratos incutem profundos sentimentos de humilhação e impotência neles. 
07. Devido a ressentimentos em relação a pais distantes, ausentes ou 
abusivos, possuem dificuldade de lidar com figuras de autoridade 
masculinas. Dominados por suas mães, nutrem por elas uma forte 
hostilidade. 
08. Manifestam problemas mentais em uma idade precoce e muitas vezes 
são internados em instituições psiquiátricas quando crianças. 
09. Extremo isolamento social e ódio generalizado pelo mundo e por todos 
(inclusive eles mesmos), costumam ter tendência suicida na juventude. 
10. Demonstram interesse precoce e duradouro pela sexualidade 
degenerada e são obcecados pelo fetichismo, voyeurismo e pornografia 
violenta. 
 
Essa lista de características não tem o condão de delimitar em numerus 
clausus, a condição necessária para a conceituação do assassino em série, e tão 
somente uma pauta norteadora que foi encontrada durante os estudos realizados 
em face dos 36 criminosos já determinados como assassinos em série. 
 
 
 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
24 SCHECHTER, Harold. Serial killers, anatomia do mal; tradução de Lucas Magdiel – Rio Janeiro: 
Dark Side books, 2013 p. 35 
	
  
	
  
	
  
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20	
  
CAPÍTULO II –CONSEQUÊNCIAS JURÍDICO-CRIMINAIS 
 A partir da conceituação de psicopatia, bem como sua delimitação, traçado, 
de igual modo o conceito de serial killer, urge a necessidade de examinar as 
implicações desses indivíduos no âmbito jurídico, delimitando alguns institutos 
relacionados. 
 O capítulo busca apresentar algumas conceituações e teorias adotadas pelo 
direito penal e como elas relacionam-se com a temática da psicopatia, que ainda 
mostra-se vaga e obscura em nosso arcabouço jurídico. 
2.1 Correlação entre ciência jurídico-criminal e a psicopatia 
Ao debruçar sobre a temática de psicopatia, resta patente seu reflexo no 
campo jurídico. Contudo esse retrato não se limita a um ramo específico do direito, é 
possível traçar inter-relações nas mais diversas frentes jurídico-dogmáticas, tais 
quais o direito civil, trabalhista, tributário e penal. 
Não há que se negar que o ramo de associação mais latente são as ciências 
jurídico-criminais, e esse aspecto é o que será aqui abordado de forma mais incisiva. 
O Direito Penal ocupa-se, em nosso arcabouço jurídico, de desempenhar papel 
crucial, pois tutela os bens jurídicos25 de maior relevância para a manutenção da 
intrínseca relação entre Estado e Indivíduo. Segundo assevera ainda o professor 
Damásio26 “o Direito Penal visa a proteger os bens jurídicos mais importantes, 
intervindo somente nos casos de lesão de bens jurídicos fundamentais para vida em 
sociedade” 
A partir desse pensamento acima exposto, o doutrinador Rogério Greco27 
assevera: “A pena, portanto é simplesmente o instrumento de coerção de que se 
vale o direito penal para a proteção dos bens, valores e interesses mais 
significativos da sociedade” 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
25 Segundo o professor Damásio de Jesus bem é tudo aquilo que pode satisfazer as necessidades 
humanas. Todo valor conhecido pelo Direito torna-se um bem Jurídico. 
26 JESUS, Damásio Evangelista de. Direito penal. 35. ed. rev. São Paulo: Saraiva, 2014. v. 1, p. 46. 
27 GRECCO, Rogério. Curso de direito penal: partegeral. 16. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2014. p. 
02 
	
  
	
  
	
  
21	
  
Ainda na visão do professor Cezar Roberto Bitencourt28: 
O direito penal apresenta-se por um lado, como um conjunto de 
normas jurídicas que tem por objeto a determinação de infrações de 
natureza penal e suas sanções correspondentes - penas e medidas 
de segurança. Por outro lado, apresenta-se como um conjunto de 
valorações e princípios que orientam a própria aplicação e 
interpretação das normas penais. 
 
Contudo esse pensamento acerca da finalidade do direito penal vem tomando 
outras direções em face da mera proteção de um bem jurídico, Greco29 sustenta que 
parte da doutrina, encabeçada principalmente pelo Prof. Gunther Jakobs, vem 
entendendo que a finalidade do direito penal não está na proteção dos bens 
jurídicos, tendo em vista que o bem jurídico tutelado, no momento da aplicação do 
direito penal, já se encontra violado ou atacado. Ou seja, a finalidade do Direito 
Penal seria a proteção das próprias normas penais. Cabendo salientar, contudo, que 
esse entendimento não se mostra majoritário. 
É possível apontar de maneira exemplificativa alguns dos bens jurídicos 
tutelados penalmente, notadamente o direito à vida, propriedade privada, 
incolumidade física e psíquica. Contudo, cabe ao ramo penal objetivar essa tutela 
jurídica criando legislação, editando normas, impondo ou proibindo determinadas 
condutas aceitas ou não no bojo do anseio social coletivo. 
Diversos são os temas do direito penal que se concatenam com a situação 
psicológica e moral do portador da psicopatia e que foram as delimitações deste 
trabalho. Dentre eles pode-se citar a culpabilidade do agente em face da teoria do 
crime, incluindo aí a imputabilidade penal e seus critérios de aferição, a pena, suas 
finalidades e teorias fundamentadoras bem como a teoria adotada pelo artigo 59 do 
Código Penal Brasileiro e seus limites constitucionais e por fim o instituto da medida 
de segurança e suas espécies. 
2.2 Psicopatia e seus efeitos na culpabilidade 
	
  
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
28 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal. 20.ed. São Paulo: Saraiva, 2014. v. 1. 
p.36. 
29 GRECCO, Rogério. Curso de direito penal: parte geral. 16. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2014. 
	
  
	
  
	
  
22	
  
Para compreender de maneira escorreita o conceito de culpabilidade, faz-se 
imprescindível uma análise da teoria do crime e dos elementos fundamentais 
caracterizadores do crime. Sendo, pois, a culpabilidade um dos elementos 
constitutivos do crime ou delito. 
Zaffaroni30 conceitua teoria do delito como: 
a parte da ciência do direito penal que se ocupa de explicar o que é o 
delito em geral, que dizer, quais são as características que devem ter 
qualquer delito. Essa explicação não é um mero discorrer sobre o 
delito com interesse puramente especulativo, senão que atende à 
função essencialmente prática, consistente na facilitação da 
averiguação da presença ou ausência de delito em cada caso 
concreto. 
 
Não há que se falar aqui em fragmentação do crime, conforme preceitua o 
professor Rogério Greco31, contudo para efeitos doutrinários cabe aqui um 
desmembramento das características fundamentais, quais sejam, o fato típico, a 
antijuridicidade e a culpabilidade, como antecedentes lógicos e necessários para a 
apreciação do delito. 
Segundo o conceito analítico de crime, conceito esse que busca analisar os 
elementos que integram a conceituação de infração penal, o Direito Penal Brasileiro 
adotou como elementos do crime o fato típico, ilícito e culpável, e na medida em que 
um desses elementos não esteja presente na situação fática aplicada, não há que se 
falar em crime, considerando-se portanto um indiferente penal32. 
Há que suscitar celeuma doutrinária entre o conceito bipartido e tripartido de 
crime. Expoentes doutrinários tais quais Damásio33, Dotti34, Mirabete35 e Delmanto36, 
são partidários da teoria bipartida, excluindo, portanto, a culpabilidade, contudo 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
30 ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Manual de Derecho Penal – Parte General Manual de derecho 
penal: parte general. Buenos Aires: Editar, 2006, p.317 
31 GRECCO, Rogério. Curso de direito penal: parte geral. 16. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2014. 
32 IDEM p.150 
33 JESUS, Damásio Evangelista de. Direito penal. 28. ed. rev. São Paulo: Saraiva, 2005. v. 1, p. 156. 
34 DOTTI, René Ariel. Curso de direito penal: parte geral. Rio de Janeiro: Forense, 2001. p. 339- 
339. 
35 MIRABETE, 2006, p. 94. 
36 DELMANTO, Celso CÓDIGO penal comentado: acompanhado de comentários, jurisprudência, 
súmulas em matéria penal e legislação complementar. 6. ed. atual. e ampl. Rio de Janeiro: 
Renovar, 2002. p. 18-19. 
	
  
	
  
	
  
23	
  
como esse não é o posicionamento predominante nem na doutrina pátria, o terceiro 
elemento constitutivo será coadunado com o conceito em si 
Como o enfoque será dado ao terceiro elemento, a culpabilidade, imperioso 
se faz conceituação sintética dos dois primeiros elementos, salientando que ao 
debruçar sobre o terceiro elemento aludido, subentende-se que os primeiros 
fundamentos já estejam preenchidos e sem vícios. 
Fernando Capez37 conceitua fato típico como “o fato material que se amolda 
perfeitamente aos elementos constantes do modelo previsto na lei penal.” Ou seja, o 
fato material deve conter uma conduta dolosa ou culposa, um resultado, um nexo de 
causalidade entre conduta e resultado e a tipicidade. 
Victor Eduardo Rios Gonçalves38 assevera: 
Tipicidade é o nome que se dá ao enquadramento da conduta 
concretizada pelo agente na norma penal descrita em abstrato. Em 
suma, para que haja crime é necessário que o sujeito realize, no 
caso concreto, todos os elementos componentes da descrição típica. 
 
Já a antijuridicidade, ou ilicitude, pode ser definida, conforme Greco39 como 
uma relação de contrariedade entre a conduta do agente e o ordenamento jurídico 
em geral. Pressupõe, então, uma norma penal anterior que ao ser infligida pela 
conduta, comissiva ou omissiva, gera a conduta tida como ilícita. 
Zaffaroni40 entrega o conceito de antijuridicidade como: 
o choque da conduta com a ordem jurídica, entendida não só uma 
ordem jurídica (antinormatividade), mas como uma ordem normativa 
e de preceitos permissivos. Consiste na constatação de que uma 
conduta típica (antinormativa) não está permitida por qualquer causa 
de justificação (preceito permissivo), em parte alguma da ordem 
jurídica (não somente no direito penal, mas tampouco no civil, 
comercial, administrativo, trabalhista etc.) 
 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
37 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Parte Geral. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2013, vol. 1. 
38 GONÇALVES, Victor Eduardo Rios, Direito Penal Parte Geral 16. ed. São Paulo: Saraiva 
2010.p.53 
39 GRECCO, Rogério. Curso de direito penal: parte geral. 16. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2014. 
40 ZAFFARONI, EugenioRaúl. Manual de direito penal brasileiro: parte geral. 10. ed. rev. e atual. 
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. p. 510. 
	
  
	
  
	
  
24	
  
O terceiro elemento, qual seja, a culpabilidade é tema essencial para o estudo 
da psicopatia, pois pode ser considerado como o ponto de afluência no qual se 
encontram o elemento volitivo da consciência da ilicitude em face do resultado final 
obtido por meio da conduta. 
Partindo do pressuposto da adoção da teoria normativa pura da culpabilidade, 
na qual os fatores psicológicos são afastados, atendo apenas aos aspectos 
valorados pela legislação imposta. Desse modo, a culpabilidade tem por fundamento 
a capacidade de querer e de entender, a capacidade de entender a ilicitude da 
conduta e a normalidade das circunstâncias justapostas. 
Segundo Damásio41 a culpabilidade “é composta pela inimputabilidade, 
exigibilidade de conduta diversa e potencial consciência da ilicitude”. 
A respeito da temática, suscita uma rápida explanação acerca da teoria 
finalista da ação, cujo criador foi Hans Welzel, na qual o professor Rogério Greco42 
aduz: 
Da culpabilidade foram extraídos o dolo e a culpa, sendo transferidos 
para a conduta do agente, característica integrante do fato típico. O 
dolo, após a sua transferência, deixou de ser normativo, passando a 
ser um dolo tão somente natural. 
 
Importante citar, previamente, a culpabilidade na sua concepção finalista pois 
esta foi a teoria adotada pelo Código Penal Brasileiro, da qual fazem parte a 
imputabilidade, a potencial consciência sobre a ilicitude do fato e a exigibilidade de 
conduta diversa. 
2.2.1 Imputabilidade do psicopata 
A respeito da imputabilidade, primeiro requisito a ser levantado, faz-se mister 
tecer algumas considerações a respeito da matéria, analisando a imputabilidade 
como regra genérica, bem como suas hipóteses de exclusão e as teorias relativas à 
inimputabilidade penal. 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
41 JESUS, Damásio Evangelista de. Direito penal. 35. ed. rev. São Paulo: Saraiva, 2014. v. 1, p. 507 
42 GRECCO, Rogério. Curso de direito penal: parte geral. 16. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2014, p. 
389 
	
  
	
  
	
  
25	
  
Segundo Capez43, a imputalidade é a capacidade de compreender a ilicitude 
de determinado fato e de se comportar dentro de tal entendimento. Se faz 
necessário que o agente apresente condições psicológicas, mentais, morais e físicas 
para reconhecer que está cometendo um ato ilícito penal. 
 
Porém, para o autor, acima mencionado, além de tais condições é necessário 
que o agente se encontre em “totais condições de controle sobre sua vontade”. A 
partir de tal afirmação, depreende-se que o imputável é aquele que tem ciência 
sobre a significação de sua conduta e também o comando pleno de sua própria 
vontade. 
 
Dessa maneira, esclarece Capez44, a imputabilidade assume dois aspectos. O 
volitivo, que consiste na capacidade de comandar e controlar a própria vontade e o 
intelectivo, baseado na possibilidade de entendimento do agente quanto ao ato 
cometido. A união dos dois ângulos estabelece a imputabilidade. 
 
Greco45 determina a imputabilidade como “[...] a possibilidade de se atribuir, 
imputar o fato típico e ilícito ao agente. A imputabilidade é a regra; [...]”. 
 
Ainda sobre a dualidade da constituição da imputabilidade, Sanzo Brodt46 
afirma que o elemento intelectual consiste na compreensão das proibições ou 
determinações jurídicas. Já o volitivo, se apoia na condição do agente de dirigir os 
próprios atos conforme a percepção ético-jurídica. 
 
Trabalhando o conceito de forma mais densa e indo um pouco mais além do 
que os autores citados anteriormente, explicita-se a definição de Zaffaroni e 
Pierangeli. Há, no texto, uma ponderação quanto ao amplo aspecto do conceito de 
imputalidade, os autores trazem os dois maiores extremos já atribuídos à concepção 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
43 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Parte Geral. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2013, vol. 1. 
p. 332 
44 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Parte Geral. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2013, vol. 1. 
p. 332 
45 GRECCO, Rogério. Curso de direito penal: parte geral. 16. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2014, p. 
392 
46 SANZO BRODT, 1996 apud Greco, 2014, p.393 
	
  
	
  
	
  
26	
  
da imputabilidade. Em primeiro, vem a ideia de que a mesma se resume “a total 
incapacidade psíquica para o delito pelo que devia situar-se com anterioridade à 
própria conduta[...]”47. Em seguida, trazem o outro extremo, no qual se encontram os 
autores que não a enxergam como parte do delito, mas sim da teoria da sanção. 
Nesse caso, a inexistência da imputabilidade dá lugar à medida de segurança em 
lugar da pena. 
 
Eximindo-se um pouco da amplitude do conceito, os autores afirmam que no 
Direito a imputabilidade é o meio pelo qual se busca determinar a capacidade 
psíquica da culpabilidade. Delimitando ainda mais a definição da imputabilidade 
dentro do universo processual alegam que para ser possível reprovar a conduta do 
autor, é preciso que este tenha procedido com determinado grau de capacidade ou 
consciência, o que o permitiria ter o mínimo de autodeterminação. 
 
A regra geral é a imputabilidade, devendo esta ser aplicada, segundo o 
professor Cezar Roberto Bitencourt48 a todo agente que demonstra condições 
mínimas de normalidade e madureza psíquica, ou nas palavras de Jorge Trindade49 
“para haver imputabilidade, há necessidade de haver integridade de cognição e de 
volição”. Contudo essa definição não se revela categórica, e as duas outras 
possibilidades estão elencadas no Código Penal Brasileiro, em seu artigo 2650, que 
segundo entendimento doutrinário, trata-se da inimputabilidade trazida pelo caput do 
dispositivo legal ao passo que o parágrafo único revela o conceito de semi-
imputabilidade. 
Art. 26: É isento de pena o agente que, por doença mental ou 
desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da 
ação ou omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito 
do fato ou de determinar-se de com esse entendimento. Parágrafo 
único: A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, 
em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento 
mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
47 ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Manual de direito penal brasileiro: parte geral. 10. ed. rev. e atual. 
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. p. 558	
  
48 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito penal: parte geral. 20. ed. Rev., ampl. e atual – 
São Paulo : Saraiva 2014. 
49 TRINDADE, Jorge, Psicopatia – a máscara da Justiça. Jorge Trindade, Andréa Beheregaray, 
Mônica Rodrigues Cuneo – Porto alegre: Livraria do advogado Editora, 2009 p. 124 
50 BRASIL. Decreto-lei nº 2.848 de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Diário Oficial da União, 31 
de dez. 1940. Disponívelem <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm> 
	
  
	
  
	
  
27	
  
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com 
esse entendimento 
 
 
 A condição particular do Psicopata dentro desse conjuntura não se mostra de 
todo pacífica do ponto de vista doutrinário, ou seja, a definição do indivíduo 
psicopata entre imputável, semi-imputável e inimputável não se encontra uníssona 
na doutrina. 
 
 Pode-se encontrar na literatura doutrinária argumentos de diversos autores e 
pensadores que validam o enquadramento do indivíduo psicopata em quaisquer das 
modalidades de imputabilidade acima citadas. Sob o argumento de inexistência de 
doença mental propriamente dita, expoentes como Nelson Hungria51 e Manzini52, 
entendem que mesmo portadores de loucura moral, sua condição particular não os 
torna incapazes de compreender a ilegalidade da conduta e nem mesmo alterar a 
vontade do indivíduo. 
Segundo Manzini53: “A doença moral, não acompanhada de lesão na esfera 
intelectual ou volitiva, não tolhe e não diminui a imputabilidade”. 
 
Encabeçando a corrente diametralmente oposta temos a figura do professor 
Fernando Capez54 que sustenta que a psicopatia é capaz de alterar a capacidade 
cognitiva e volitiva do agente, incluindo a psicopatia no mesmo rol das doenças 
mentais tais quais neurose, psicose e esquizofrenia. Cabe ressaltar que esse 
entendimento mostra-se minoritário e não encontra consonância com a 
jurisprudência pátria. 
 
Existe ainda terceira corrente que defende que os psicopatas, ou como a 
jurisprudência trata, indivíduos com personalidade psicopata devem ser 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
51 HUNGRIA, N. Comentários ao Código Penal. Rio de Janeiro: Forense, 2003, apud TRINDADE, 
Jorge; BEHEREGARAY, Andréa; CUNEO, Monica Rodrigues. Psicopatia – a máscara da justiça. 
Porto Alegre:Livraria do Advogado,. 2009. 
52 MANZINI V. Trattato di Diritto Penale Italiano. Torino: Unione Tipografico-Editrice Torinese – UTET, 
1983, apud TRINDADE, Jorge; BEHEREGARAY, Andréa; CUNEO, Monica Rodrigues. Psicopatia – 
a máscara da justiça. Porto Alegre:Livraria do Advogado. 2009. 
53 IDEM 
54 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Parte Geral. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2013, vol. 1. 
	
  
	
  
	
  
28	
  
enquadrados como semi-inimputáveis, ou seja, devem ser abarcados pelo texto 
normativo contido no parágrafo único do artigo 26 do Código Penal Brasileiro, pois 
teriam sua capacidade intelectiva e volitiva alteradas em face da sua perturbação 
mental, que não se confunde com doença mental. 
Esse entendimento mostra-se dominante na doutrina e na jurisprudência, 
dentre seus principais expoentes é possível citar Cezar Roberto Bitencourt55 que 
ensina: 
situam-se nessa faixa intermediária os chamados fronteiriços, que 
apresentam situações atenuadas ou residuais de psicose, de 
oligofrenias e, particularmente, grande parte das chamadas 
personalidades psicopáticas ou mesmo transtornos mentais 
transitórios.” 
 
 
De igual modo Júlio Fabrini e Renato Mirabete56 asseveram: 
Os psicopatas, por exemplo, são enfermos mentais, com capacidade 
parcial de entender o caráter ilícito do fato. A personalidade 
psicopática não se inclui na categoria das moléstias mentais, mas no 
elenco das perturbações da saúde mental pelas perturbações da 
conduta, anomalia psíquica que se manifesta em procedimento 
violento, acarretando a sua submissão ao art. 26, parágrafo único. 
 
 
Cabe ressaltar entretanto que a semi-imputabilidade não tem como finalidade 
a exclusão da culpabilidade, incidindo tão somente causa de diminuição de pena, 
instituto que iremos esmiuçar posteriormente, pelo fato de, segundo Trindade57, 
mesmo “possuindo entendimento sobre a natureza criminosa de seus atos, não 
possuem, no entanto, capacidade de comportar-se de acordo com esse 
entendimento devido à falta de controle dos impulsos e de determinação.” 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
55 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito penal: parte geral. 20. ed. Rev., ampl. e atual – 
São Paulo : Saraiva 2014. P. 481 
56 MIRABETE, Julio Fabrini. MIRABETE, Renato N. Fabrini. Manual de direito penal volume 1: 
parte geral. São Paulo. Editora Atlas, 2011. p. 199 
57 TRINDADE, Jorge, Psicopatia – a máscara da Justiça. Jorge Trindade, Andréa Beheregaray, 
Mônica Rodrigues Cuneo. Porto alegre: Livraria do advogado Editora, 2009 p. 132 
	
  
	
  
	
  
29	
  
Como consequência jurídica desse entendimento o parágrafo único, artigo 26 
do supracitado Código, remete inexoravelmente à aplicação do artigo 9858 da 
mesma carta: 
Art. 98, in verbis : Na hipótese do parágrafo único do artigo 26 deste 
código e necessitando o condenado de especial tratamento curativo, 
a pena privativa de liberdade pode ser substituída pela internação, ou 
tratamento ambulatorial, pelo prazo de no mínimo de um a três anos, 
nos termos do artigo anterior e respectivos §§ 1° a 4°. 
 
 Desse modo, o tratamento dado ao psicopata, passa por uma sensível 
redução na aplicação da pena, e faculta ainda ao magistrado a substituição da pena 
privativa de liberdade pela internação ou tratamento ambulatorial. Medida essa que 
mostra-se no mínimo temerária frente à forte condição de reincidência e o elevado 
grau de periculosidade dos indivíduos psicopatas. 
 
2.2.2 Critérios de aferição da inimputabilidade 
 
Dentre os critérios para a definição da culpabilidade diminuída, três sistemas 
são utilizados como balizadores desse conceito. O primeiro é o Sistema Biológico ou 
Etiológico, que tem como cerne principal a aferição do normal funcionamento do 
sistema mental, bem como se existe desenvolvimento mental incompleto ou 
retardado do ponto de vista clínico, não havendo necessidade de indagação 
psicológica. 
Nas palavras de Capez59: 
há uma presunção legal de que a deficiência ou doença mental 
impede o sujeito de compreender o crime ou comandar sua vontade, 
sendo irrelevante indagar acerca de suas reais e efetivas 
consequências no momento da ação ou omissão. 
 
 
 Cabe salientar que essa teoria tem aplicação excepcional na legislação 
criminal no bojo do artigo 27 do Código Penal Brasileiro 60: “Os menores de 18 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
58 BRASIL. Decreto-lei nº 2.848 de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Diário Oficial da União, 31 
de dez. 1940. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm> 
59 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Parte Geral. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2013, vol. 1. 
P. 338 
	
  
	
  
	
  
30	
  
(dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas 
estabelecidas na legislação especial”, ou seja, nos casos de menores de dezoito 
anos de idade, indivíduos com desenvolvimento mental incompleto. 
 
O segundo Sistema a ser analisado é o psicológico, que em essência não tem 
como pressuposto o desenvolvimento mentaldo agente e sim a possibilidade de 
discernimento e avaliação do caráter delituoso do fato e de orientar-se de acordo 
com esse prévio entendimento. 
 
Nesse sentido assevera Bitencourt61: 
 
declara a irresponsabilidade se, ao tempo do crime, estava abolida 
no agente, seja qual for a causa, a faculdade de apreciar a 
criminalidade do fato (momento intelectual) e de determinar-se de 
acordo com essa apreciação (momento volitivo). 
 
 
 O próprio legislador foi claro em descartar esse sistema, pois nosso Código 
Criminal, em seu Artigo 28, inciso I, aduz que a emoção e a paixão não excluem a 
imputabilidade penal. 
 
 Por fim, temos a Teoria Biopsicológica, que é adotada pelo Código Penal 
Brasileiro para a aferição da inimputabilidade do agente. Esse sistema pode ser 
considerado uma mescla conceitual entre as duas primeiras, exigindo três requisitos 
da inimputabilidade, a causa biológica, considerada como doença mental, 
desenvolvimento mental incompleto ou retardado (elemento causal), e a perda total 
do elemento intelectivo e volitivo ( elemento consequencial) ao tempo da ação ou 
omissão delituosa (elemento cronológico). 
 
Ainda nas palavras de Capez62: 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
60 BRASIL. Decreto-lei nº 2.848 de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Diário Oficial da União, 31 
de dez. 1940. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm> 
61 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito penal: parte geral. 20. ed. Rev., ampl. e atual – 
São Paulo : Saraiva 2014. P. 474 
62 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Parte Geral. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2013, vol. 1. 
P. 339 
	
  
	
  
	
  
31	
  
será inimputável aquele que, em razão de uma causa prevista em lei 
(doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou 
retardado), atue no momento da prática da infração penal sem 
capacidade de entender o caráter criminoso do fato ou de 
determinar-se de acordo com esse entendimento. Foi adotado como 
regra, conforme se verifica pela leitura do art. 26, caput, do Código 
Penal. 
 
 
2.3 Pena 
 
Ponto crucial na discussão acerca da análise psico-jurídica do indivíduo 
portador de psicopatia é a penalidade a ele imposta, ou seja a sanção aplicada pelo 
Estado frente ao delito, cabendo aqui elencar seu conceito, características e 
finalidades, explicitando ainda as escolas penais e as teorias levantadas por cada 
corrente, com a finalidade de indagar se a pena cumpre seu papel frente à especial 
condição do psicopata. 
 
Cabe ressaltar que apesar do conceito moderno de pena, as sanções 
aplicadas a um indivíduo transgressor de costumes ou práticas comumente aceitas, 
remete aos tempos mais antigos, sendo até hoje objeto de estudo da antropologia, e 
segundo Bitencourt63, as teorias da pena vem sofrendo forte influência ao longo das 
décadas pelo contexto cultural, social, ideológico político nas quais estão inseridos. 
Contudo, devemos nos ater à pena surgida com advento dos códigos criminais. 
 
Esse controle exercido pelo Direito Penal em face das punições atribuídas ao 
ente descumpridor de preceitos normativos pode ser considerado como formal, com 
a elaboração de Leis e regras no campo instrumental, sem por vezes fornecer 
afetividade ou lastro fundamentador. Nas palavras do Professor Felipe Machado 
Caldeira64 : 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
63 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito penal: parte geral. 20. ed. Rev., ampl.	
  e	
  atual	
  –	
  
São	
  Paulo	
  :	
  Saraiva	
  2014.	
  P.	
  130	
  
64	
  CALDEIRA, Felipe Machado. A evolução histórica, filosófica e Teórica da Pena. Revista 
EMERJ. Revista 45. Disponível em 
http://www.emerj.tjrj.jus.br/revistaemerj_online/edicoes/revista45/Revista45_255.pdf. Acesso em: 06 
de setembro de 2015 
	
  
	
  
	
  
32	
  
 [...] o Direito Penal é um meio de controle social formal –, que 
necessita de limites substanciais ao controle do crime: a vinculação 
da atuação jurídico-penal aos princípios valorativos 
(proporcionalidade, dignidade da pessoa humana etc.). 
 
 
O conceito de Pena vem tomando novas roupagens conforme o avanço da 
percepção de sanção dentro do ordenamento jurídico. Aspectos antes não 
abarcados na conceituação da pena, vem mostrando-se de extrema relevância, tais 
quais a readaptação do criminoso ao convívio social e a prevenção de novos atos 
criminosos. 
 
Sebastian Soler65 conceitua: 
 
Pena é a sanção aflitiva imposta pelo Estado, mediante ação 
penal, ao autor de uma infração (penal), como retribuição de 
seu ato ilícito, consistente na diminuição de um bem jurídico, e 
cujo fim é evitar novos delitos 
 
 
Zaffaroni66 nos apresenta um conceito mais constrito: “Por coerção penal se 
entende a ação de conter ou de reprimir, que o direito penal exerce sobre os 
indivíduos que cometeram delitos”. 
 
Ante a análise da conceituação da pena, que não se mostra conflitante 
perante a doutrina, cabe aqui a indagação a respeito das finalidades da pena, este 
sim campo de amplo embate doutrinário encabeçado por três correntes que 
entendem a pena com finalidades diversas, sendo a primeira a das teorias absolutas 
ou retributivas da pena, a segunda, das teorias relativas ou preventivas da pena e, 
por fim, a terceira teoria mista ou unificadora da pena. 
 
Na dissecação das três posições protagonistas, surgem diversas teorias e 
conceitos que são de extrema relevância no campo doutrinário, conceitos esses que 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
65 SOLER, Sebastian. Derecho penal argentino. Buenos aires: Tipografia Ed Argentina, 1970. V.2 p 
342 apud MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal – Parte Gera. 22° ed. São Paulo: 
Editora Atlas, 2014. P. 232 
66 ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Manual de direito penal brasileiro: parte geral. 10. ed. rev. e atual. 
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. p. 661 
	
  
	
  
	
  
33	
  
serão, a posteriori, pinçados para a situação jurídica do portador de Transtorno de 
Personalidade Antissocial. 
 
 
 
2.3.1 Teorias acerca da finalidade da pena 
 
 As Teorias retributivas se fundam na vindita estatal, ou seja, retribuição de um 
mal causado (crime) por meio de uma violação de preceito legal. A reprimenda 
estatal configura-se como sanção, que deve ser plenamentecapaz de realizar a 
justiça, dentro de sua concepção mais primitiva. 
 
Segundo Bitencourt67: 
 
a característica essencial das teorias absolutas consiste em 
conceber a pena como um mal, um castigo, como retribuição ao mal 
causado através do delito, de modo que sua imposição estaria 
justificada, não como meio para o alcance de fins futuros, mas pelo 
valor axiológico intrínseco de punir o fato passado[...] 
 
 
 Do mesmo modo assevera Fernando Vernice do Anjos68 que a pena, segundo 
essa corrente, seria apenas uma correspondência do mal do crime com o mal da 
sanção estatal, fundada portanto no princípio da proporcionalidade, não havendo, 
desta feita, finalidade futura. A teoria também denominada absolutista, se funda pela 
falta de finalidade na pena, alcançando somente o fim nela mesma, tornando-se 
então absoluta. 
 
As teorias preventivas da pena apresentam-se diametralmente opostas às 
teorias, e remontam aos tempos do estado moderno, sem o viés meramente punitivo 
e centrado em políticas de intervenção estatal frente às políticas criminais. Deste 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
67 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito penal: parte geral. 20. ed. Rev., ampl. e atual – 
São Paulo : Saraiva 2014. P. 133 
68 SANTOS, Fernando Venice dos. Análise critica da finalidade da pena na execucao penal: 
ressocializacao e o direito brasileiro. 2009. 175. Dissertação de Mestrado – Universidade de São 
Paulo – USP p. 13. Disponível em: 
www.teses.usp.br/.../Versao_integral_dissertacao_de_mestrado_Fernando_ Vernice_dos.pdf Acesso 
em: 06 de setembro de 2015 
	
  
	
  
	
  
34	
  
modo surgem as políticas de prevenção dos delitos, ou teorias utilitaristas, que 
conferem à pena fins úteis diversos da mera vingança estatal. 
 
Segundo Luigi Ferrajoli69: 
 
a concepção de pena enquanto meio, em vez de como fim ou valor, 
representa um traço comum de todas as doutrinas relativas ou 
utilitaristas, desde aquelas da emenda e da defesa social àquelas da 
intimidação geral, daquelas da neutralização do delinquente àquelas 
da integração de outros cidadãos. 
 
Com essa citação, é possível inferir que a pena tornou-se meio, modo, 
instrumento ou processo, no qual a finalidade toma diversas dimensões e ângulos 
segundo autores, épocas e momentos sociais distintos. 
 
Dentro das correntes intrínsecas à visão preventiva da pena, essa desdobra-
se em preventiva geral, na qual a finalidade da pena é destinada à sociedade como 
um todo, e preventiva especial, em que o fim debruça-se sob a égide do indivíduo 
que praticou o crime. 
 
 No bojo da prevenção geral, na qual o fim da pena volta-se ao âmago público, 
essa subdivide-se em duas correntes que a analisam sob óticas distintas, sendo a 
primeira a prevenção geral negativa, também conhecida por intimidatória, e a 
segunda, a teoria da prevenção geral positiva. Bitencourt70 apresenta essas 
vertentes das teorias relativas da pena como detentoras do encargo de 
desadmoestar o indivíduo inclinado ao cometimento do crime pela aplicação da 
sanção estatal, caso negativo, e o reforço ou robustecimento à fidelidade dos 
cidadãos à ordem social e preceitos normativos vigentes, prevenção geral positiva. 
 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
69 Direito e Razão 2ª ed. Trad. Ana Paula Zomer sica et. Al São Paulo RT, 2006, P. 240 APUD 
SANTOS, Fernando Venice dos. Análise critica da finalidade da pena na execucao penal: 
ressocializacao e o direito brasileiro. 2009. 175. Dissertação de Mestrado – Universidade de São 
Paulo – USP p. 13. Disponível em: 
<www.teses.usp.br/.../Versao_integral_dissertacao_de_mestrado_Fernando_ Vernice_dos.pdf> 
Acesso em: 06 de setembro de 2015 
70 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito penal: parte geral. 20. ed. Rev., ampl. e atual – 
São Paulo : Saraiva 2014. P. 143 
	
  
	
  
	
  
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 A prevenção geral negativa, então, confunde-se com a própria função do 
direito penal, por seu caráter intimidador, pois o valor da intimidação direcionada em 
concreto ao criminoso aproveita-se ao restante da sociedade, coagindo todos a 
evitarem uma futura conduta delituosa.71 Como viés ilustrativo é possível citar a 
ampla publicidade dada às penas com forte impacto social, tais quais penas 
executórias, como forca, guilhotina, fuzilamento ou cadeira elétrica, devido à sua 
função intimidatória geral. 
 
 A prevenção geral positiva, como já dito, analisa a finalidade da pena também 
sob o enfoque da sociedade, contudo deixa seu lado negativo, intimidação social de 
lado, buscando o fortalecimento da relação Estado e cidadão, adquirindo um reforço 
no sistema normativo, muito ligado à ideia de pacto social. 
 
 Claus Roxin72 empresta três efeitos da prevenção geral positiva, são eles: 
[...]o efeito da aprendizagem através da motivação sociopedagógica 
dos membros da sociedade; efeito de reafirmação de confiança no 
Direito Penal; e o efeito da pacificação social quando a pena aplicada 
é vista como solução ao conflito gerado pelo delito. 
 
 Deste modo, a pena atinge fins não só pedagógicos, como também confirma 
o direito vigente como ordem a ser preservada e respeitada, relacionando-se com o 
finalismo penal e a proteção de valores fundamentais de uma sociedade. 
Em contrapartida às teorias gerais, a prevenção especial volta-se contra a 
figura do indivíduo delinquente, e sua periculosidade frente à sociedade. Esta 
subdividindo-se, do mesmo modo, em geral e especial. 
Nas palavras de Fernando Vernice do Anjos73: 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
71 SANTOS, Fernando Venice dos. Análise crítica da finalidade da pena na execução penal: 
ressocialização e o direito brasileiro. 2009. 175. Dissertação de Mestrado – Universidade de São 
Paulo – USP p. 13. Disponível em: 
<www.teses.usp.br/.../Versao_integral_dissertacao_de_mestrado_Fernando_ Vernice_dos.pdf> 
Acesso em: 06 de setembro de 2015 
 
 
72 Roxin, Derecho Penal, cit., p. 91-92 APUD BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito 
penal: parte geral. 20. ed. Rev., ampl. e atual – São Paulo : Saraiva 2014. P. 147 
73 SANTOS, Fernando Venice dos. Análise critica da finalidade da pena na execução penal: 
ressocialização e o direito brasileiro. 2009. 175. Dissertação de Mestrado – Universidade de São 
Paulo – USP p. 13. Disponível em: 
	
  
	
  
	
  
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[...] a sanção penal, segundo a visão preventivo-especial, serviria 
para atingir a pessoa que, ao praticar um crime, demonstrou sua 
“personalidade deformada”, “atentatória contra à ordem social” e 
“potencialmente perigosa”, evitando a reincidência. 
 
 Sem tecer comentários a respeito das diferentes contribuições dadas por 
autores que debruçaram-se sobre essa corrente, cabe aqui tecer a distinção entre 
prevenção especial negativa e a positiva, que, vale ressaltar, não são apresentadas 
de maneira contraposta, e sim concebidas como fins múltiplos e mutuamente 
aplicados, visando a prevenção criminal. 
Desde logo, é possível

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