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INSTITUTO BRASILIENSE DE DIREITO PÚBLICO - IDP 
ESCOLA DE DIREITO DE BRASÍLIA - EDB 
CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO 
 
 
 
 
 
 
RICARDO RODOLFO RIOS BEZERRA 
 
 
 
 
PSICOPATA HOMICIDA: UM ENFOQUE PSICO-JURÍDICO EM FACE DO 
DIREITO PENAL BRASILEIRO POR MEIO DE ESTUDOS DE CASOS. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BRASÍLIA 
NOVEMBRO, 2015 
 
	
  
	
  
	
  
2	
  
RICARDO RODOLFO RIOS BEZERRA 
 
 
 
 
 
 
 
PSICOPATA HOMICIDA: UM ENFOQUE PSICO-JURÍDICO EM FACE DO 
DIREITO PENAL BRASILEIRO POR MEIO DE ESTUDOS DE CASOS. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Trabalho de monografia apresentado ao Curso de 
Graduação em Direito como requisito parcial para 
obtenção de Bacharel em Direito. 
Orientador: Kênia Bauer Manngubert 
 
 
 
 
 
 
 
BRASÍLIA 
	
  
	
  
	
  
3	
  
NOVEMBRO, 2015 
RESUMO 
 
 
O presente trabalho visa analisar a situação jurídica, especificamente a jurídico-
criminal, do psicopata. Busca-se conceituar a psicopatia, seus subtipos e a 
delimitação de serial killer segundo a psicologia jurídica, elencando suas 
características gerais. Foram delimitados alguns institutos vigentes no direito penal 
pátrio que relacionam-se com a situação legal do psicopata, tais quais a 
imputabilidade penal, a pena, suas finalidades e limitações constitucionais e a 
medida de segurança. Foram elegidos dois casos aplicados no âmbito do direito 
penal brasileiro e baseado em outro sistema normativo legal, e por fim, foi delineado 
um comparativo entre os dois casos, tangenciando tanto os conceitos trazidos pela 
psicologia jurídica quanto os tópicos delimitados das ciências jurídico-criminais. 
Palavras-chave: Psicopata homicida. Psicologia jurídica. Culpabilidade. Pena. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
	
  
	
  
	
  
4	
  
ABSTRACT 
This paper attempt to examine the psycopath legal situation, specifically in the 
criminal sphere. The aim is to conceptualize psychopathy, subtypes and the serial 
killer delimitation concept according to forensic psychology, listing its general 
characteristics. Were delimited few institutes in foreign criminal law which are related 
to the legal situation of the psychopath, such as the criminal responsibility, the 
punishment, its purposes and constitutional limitations. There were two cases applied 
under the Brazilian criminal law and based on other legal normative system chosen. 
After that, built a comparison between the two designed cases, connecting to both 
the concepts brought by forensic psychology as delimited topics of legal and criminal 
science. 
Key words: Serial Killer. Forensic psychology. Culpability. Purpose of punishiment. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
	
  
	
  
	
  
5	
  
SUMÁRIO 
 
	
  
CAPÍTULO I – A PSICOPATIA	
  .................................................................................................	
  10	
  
1.1	
  O psicopata	
  .......................................................................................................................................	
  10	
  
1.2 O Serial Killer	
  ...................................................................................................................................	
  15	
  
CAPÍTULO II –CONSEQUÊNCIAS JURÍDICO-CRIMINAIS	
  ...........................................	
  20	
  
2.1 Correlação entre ciência jurídico-criminal e a psicopatia	
  .............................................	
  20	
  
2.2 Psicopatia e seus efeitos na culpabilidade	
  .........................................................................	
  21	
  
2.2.1 Imputabilidade do psicopata	
  ................................................................................................................	
  24	
  
2.2.2 Critérios de aferição da inimputabilidade	
  ......................................................................................	
  29	
  
2.3 Pena	
  .....................................................................................................................................................	
  31	
  
2.3.1 Teorias acerca da finalidade da pena	
  .............................................................................................	
  33	
  
2.3.2 Limites da pena	
  ..........................................................................................................................................	
  38	
  
2.4 Medida de segurança e sua aplicabilidade nos casos de psicopatia	
  .......................	
  39	
  
CAPÍTULO III ANÁLISE DE ESTUDO DE CASOS	
  ...........................................................	
  43	
  
3.1 Estudo de caso - Pedro Rodrigues Filho	
  ..............................................................................	
  43	
  
3.2 Estudo de caso – Jefrey Dahmer	
  .............................................................................................	
  49	
  
CAPITULO IV ANÁLISE PSICOJURÍDICA DOS CASOS	
  ..............................................	
  56	
  
Quadro 01 - Ambiente familiar – pais	
  ..........................................................................................................	
  56	
  
Quadro 02 - Episódios na infância	
  ................................................................................................................	
  57	
  
Quadro 03 - Primeiro crime	
  ..............................................................................................................................	
  58	
  
Quadro 04 - Modus operandi	
  ...........................................................................................................................	
  59	
  
Quadro 05 - Características Gerais do Serial Killer	
  .............................................................................	
  61	
  
Quadro 06 - Imputabilidade e Medida de Segurança	
  .........................................................................	
  62	
  
Quadro 07 - Pena e cumprimento de pena	
  ..............................................................................................	
  62	
  
CONCLUSÃO	
  .................................................................................................................................	
  65	
  
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS	
  .......................................................................................	
  68	
  
	
  
 
	
  
	
  
	
  
6	
  
INTRODUÇÃO 
 
As razões que levam um indivíduo a cometer um crime são motivo de 
constante discussão, tanto no âmbito acadêmico, quanto no social. Explicações 
médicas, psicológicas, sociológicas e jurídicas são abundantes e buscam um 
mesmo objetivo: entender a mente criminosa, ou seja, o que leva uma pessoa ao 
cometimento de um crime de maneira mais ousada, com detalhes e métodos mais 
incisivos. 
Há, no entanto, alguns crimes que causam maior impacto na opinião pública. 
Dentre esses pode-se citar o homicídio como o de maior comoção. Ao se deparar 
com um assassinato, o círculo social busca uma justificativa racional baseada nas 
teses levantadas pela ciência e pelos meandros do comportamento humano em si. 
Contudo, quando os delitos não se amoldam às explicações, de certa maneira, 
compreendidas no imaginário popular, passam a causar fascínio e tomam 
proporções que mobilizam a sociedade. 
Cabe então, frente aos casos descritos, à psicologia forense, a análise da 
psique do criminoso, buscando a fonte psicológica ou emocional motivadora do 
delito em questão. 
A discussão da psicopatia no âmbito legislação penal ainda é rasa no Brasil. 
Os casos documentados demonstramuma fragilidade jurídica, justificada pela falta 
de uma legislação específica que aborde o distúrbio como fator determinante para o 
cometimento do crime de homicídio. Existem diversas situações nas quais o 
indivíduo psicopata encontra-se nas lacunas da lei, apresentando, portanto, uma 
desproporcionalidade quanto a aplicação e efetividade da legislação vigente. 
Para tanto pergunta-se, existe na atual legislação penal trato adequado a 
situação do psicopata, e em especial do assassino em série? Existe, em outros 
ordenamentos jurídicos, uma aplicação legal mais efetiva no trato do psicopata 
homicida? 
	
  
	
  
	
  
7	
  
Os objetivos específicos a serem executados durante o trabalho estabelecem: 
-­‐ Analisar o conceito de psicopata homicida, suas nuances e implicações 
no mundo psicológico e jurídico. -­‐ Examinar dois estudos de casos, sendo o primeiro brasileiro e o 
segundo não brasileiro, abordando as peculiaridades, modus operandi e 
aspectos psicológicos dos homicidas em série. -­‐ Analisar a legislação brasileira no tocante culpabilidade do agente em 
face da teoria do crime, incluindo aí a imputabilidade penal e seus critérios de 
aferição, a pena, suas finalidades e teorias fundamentadoras bem como a 
teoria adotada pelo artigo 59 do Código Penal Brasileiro e seus limites 
constitucionais e por fim o instituto da medida de segurança e suas espécies. -­‐ Destacar outros tipos de atuação frente aos serial killers para uma 
análise dos parâmetros supracitados do sistema penal brasileiro. 
 
Sendo assim, objetivo geral desse trabalho permeia uma reflexão sobre a 
psicopatia em destaque os serial killers e como a legislação brasileira aborda esses 
indivíduos, buscando o entendimento de um caso compatível porém de um outro 
país para suscitar possíveis ponderações a respeito dos nosso institutos penais. 
A relevância de tal análise é demonstrada a partir da necessidade da 
implementação de políticas públicas criminais voltadas ao trato de indivíduos 
portadores do distúrbio de personalidade antissocial. Somente com a real 
compreensão das estruturas psicológicas motivadoras do homicídio e sua 
adequação ao arcabouço jurídico é possível determinar medidas sancionatórias e 
punitivas. Diminuindo, consequentemente, a insegurança social. 
A análise dos casos realizada neste estudo, tenta apresentar ao operador do 
Direito, parâmetros frente ao estudo relacionado ao psicopata homicida e traz a 
possibilidade de suscitar o pensamento do surgimento de readequação jurídica 
quanto ao tratamento empregado ao mesmo. 
	
  
	
  
	
  
8	
  
Cumpre analisar as peculiaridades psicológicas desses indivíduos, 
entendendo-os como seres cujas motivações são distintas das quais normalmente 
depara-se, e buscar em novos paradigmas normativos, meios mais efetivos, e que 
mais se adequam aos estudos de casos trazidos. 
Dentre os questionamentos levantados neste trabalho, surge uma dúvida 
quanto a eficácia da aplicação do sistema penal brasileiro nos casos referentes aos 
psicopatas homicidas. De tal forma, se propõe uma descrição de um caso ocorrido 
sob a égide da legislação pátria e outro, buscando uma reflexão referente à 
existência de uma forma ideal de tratamento aos homicidas portadores do distúrbio. 
Uma das hipóteses levantadas é de que a análise comparativa, utilizando 
como instrumento o estudo de caso, poderá servir para demonstrar que os 
parâmetros da legislação brasileira ainda se apresentam imaturos frente à 
complexidade de um indivíduo que não possui funções mentais e emocionais 
adequadas dentro de um padrão de normalidade e afigura-se com potencial lesivo 
frente à sociedade. Ademais a pena não mostra-se realmente efetiva dentro de suas 
finalidades, tendo em vista que o serial killer possui capacidade reduzida de 
reinserção na sociedade. 
Como última hipótese, surge a medida de segurança, que no campo 
hipotético e teórico deveria ser aplicada a todos os psicopatas, encontrando-se na 
condição de semi-imputáveis, abarcando, por lógico, os serial killers, contudo, pela 
dificuldade de diagnóstico no andamento de uma persecução criminal, isso não 
ocorre na prática, sendo por vezes sujeitos as penas como se imputáveis fossem. 
 Apresentando-se todos os parâmetros a serem retratados no decorrer do 
trabalho, a metodologia utilizada foi uma pesquisa psico-jurídica, que 
interrelacionará temas e institutos presentes do direito penal, como temáticas 
pertinentes às cadeiras de psicologia jurídica. 
Analisou-se a questão de maneira interdisciplinar, ou seja, traçou-se um 
paralelo entre a legislação e a posição da doutrina majoritária com as celeumas 
mentais e morais de um psicopata. 
	
  
	
  
	
  
9	
  
Para isso foi utilizada a técnica de estudo de caso, na qual serão 
selecionados dois casos, um ocorrido no Brasil e o outro em um país distinto (EUA) 
com características semelhantes, incluindo-se perfil psicológico e moral, modus 
operandi, consequências resultantes da ação criminosa homicida e impacto sócio 
jurídico dentro do âmbito de inserção. 
Diante das particularidades dos casos expostos foi traçada uma conexão 
tanto jurídica quanto psicológica com os institutos pátrios e uma reflexão de como 
esses parâmetros são tratados em instituição penal estrangeira. 
O primeiro capítulo aborda as conceituações, dadas pela psicologia jurídica, 
ao psicopata, atribuindo alguns subtipos e propriedades, em seguida traz-se as 
delimitações teóricas de psicopata. No segundo capítulo será feito a atrelamento do 
psicopata homicida com alguns institutos no âmbito das ciências criminais, tais quais 
a culpabilidade dentro da teoria do crime, a imputabilidade penal, a pena em seu 
caráter amplo, finalidades e limitações e por fim será abordada a medida de 
segurança, lato e stricto sensu. 
O terceiro capítulo será utilizado para realizar uma breve descrição dos fatos 
mais relevantes dos dois casos a serem analisados. Essa descrição abarca tanto 
aspectos cotidianos de destaque como descrições de infância, modus operandi e 
perfil psicológico de ambos os assassinos em série. 
O último capítulo tem como objetivo a análise dos dados extraídos a partir do 
estudo de casos, utilizando os conceitos elencados nos capítulos predecessores. 
Essa análise se realiza a partir da confecção de tabelas comparativas visando a 
melhor contemplação dos dados inferidos. 
 
 
 
 
 
	
  
	
  
	
  
10	
  
CAPÍTULO I – A PSICOPATIA 
 
Uma das grandes incógnitas, seja no âmbito da psiquê seja no âmbito 
jurídico, é como a psicopatia pode ser caracterizada e identificada. Não são tão 
explícitas as designações no âmbito biopsiconeurológico específico, muito menos, 
nas relações judiciais referentes àqueles que cometem algum tipo de delito e o como 
proceder com os mesmos. 
No Brasil, a psicopatia ainda é tema nebuloso no que tange à sua implicação 
jurídica, tanto em aspectos relativos à classificação do transtorno de personalidade 
antissocial como uma doença mental semi-incapacitante, quanto a um 
enquadramento diverso do agente homicida. 
Um estudo mais aprofundado se mostra necessário à manutenção do Estado 
Democrático de Direito, em que pese a função da figura do Estado na manutenção 
da segurança pública e da propositura de medida de contenção frente à violência 
nos dias atuais. 
Este capítulo especifica em uma visão generalista, o que a psicologia e a 
psiquiatria trazem a respeito do psicopata e dos serial killers com a finalidade de 
clarear seu conceito, sintomas e características gerais e peculiaridades, para em 
seguida fazer a análise com base na legislação. 
 
1.1 O psicopata 
Para a conceituação de psicopatia faz-senecessário, a priori, a compreensão do 
terreno sinuoso pelo qual essa conceituação se desenvolveu com o passar das 
décadas, inclusive com definições distintas a depender do doutrinador e do 
momento histórico. 
Há de se fazer uma diferenciação quanto às posições adotadas frente ao 
psicopata, conforme entendimento do professor Marcus Vinicius Ribeiro Cunha, que 
em seu artigo1, destaca que existem três correntes, sendo a primeira filiada ao 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
1	
  CUNHA, Marcus Vinicius Ribeiro e PALHARES, Diego de Oliveira. PSICOPATA E O DIREITO 
	
  
	
  
	
  
11	
  
conceito clássico, e até mesmo etimológico de psicopatia. Este conceito também é 
preconizado por Ana Beatriz B. Silva2. Estes autores explicitam que “A palavra 
psicopata literalmente significa doença da mente (do grego, psyche = mente; e 
pathos = doença)”, ou seja, entende a psicopatia como uma disfunção de ordem 
mental, contudo esse posicionamento encontra barreira na maioria dos estudiosos, 
em não havendo quaisquer comprovações de deficiências cognitiva ou racional. 
Já a segunda corrente é filiada à concepção de psicopatia como uma “doença 
moral” ou “loucura moral”, verbete este bastante utilizado por Ana Beatriz Silva3. Ou 
seja, por esta definição ter-se-ia como consequência um individuo incapaz de 
respeitar preceitos socialmente postos, incluindo-se aí regramentos jurídicos. O 
indivíduo saberia sobre sua conduta e sobre possíveis erros comportamentais frente 
às regras socialmente estipuladas para determinado contexto. 
Na visão do professor Jorge Trindade4: 
(...) o psicopata é um sujeito que não internalizou a noção de lei, 
transgressão ou culpa. Por isso, vive regido por regras próprias. Em seu 
imaginário fantasioso, e ao mesmo tempo empobrecido de metas e valores, 
a norma não é para ser obedecida, pelo menos por ele, que não consegue 
elaborar o alcance social da regra estabelecida 
 
Por fim, a terceira corrente, agarra-se à ideia médico-cientifica de que a 
psicopatia encontra-se dentro do universo patológico do Transtorno de 
Personalidade Antissocial, como descrito adiante. Neste sentido, seria uma 
psicopatologia, uma doença da mente com bases fisiológicas que também 
implicariam em desvios de condutas e comportamentos cotidianos. 
Segundo o professor Jorge Trindade5 o conceito de psicopatia por muitas 
vezes se confunde e até mesmo se funde com o Transtorno de Personalidade 
Antissocial. Contudo, ainda existem pensadores tanto no ramo jurídico, quanto no da 
psicologia vêm entendendo que as nomenclaturas representam patologias diversas. 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
2 SILVA, Ana Beatriz B. Mentes perigosas: o psicopata mora ao lado, Rio de Janeiro: Objetiva, 
2008 p.32 
3 IDEM. 
4 TRINDADE, Jorge, Psicopatia – a máscara da Justiça. Jorge Trindade, Andréa Beheregaray, 
Mônica Rodrigues Cuneo. Porto alegre: Livraria do advogado Editora, 2009 p. 41 
5	
  TRINDADE, Jorge, Psicopatia – a máscara da Justiça / Jorge Trindade, Andréa Beheregaray, 
Mônica Rodrigues Cuneo. Porto alegre: Livraria do advogado Editora, 2009 p. 41 
	
  
	
  
	
  
12	
  
O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, o chamado DSM 
– IV, desde o ano 1980, não mais adota o termo psicopatia, somente sendo utilizado 
o vocábulo Transtorno de Personalidade Antissocial, relativo às condutas 
delinquentes e socialmente indesejáveis. 
 Trindade6 ainda define a personalidade psicopática como uma série de 
características singulares do indivíduo, referente a diversos aspectos, tais quais 
relacionados aos pensamentos, sentimentos e comportamentos, e que se 
manifestam de maneira multifacetada no portador. 
Nesse sentido, supracitado autor esclarece7: 
Esse transtorno, historicamente, foi conhecido por diferentes nomes: a) 
insanidade sem delírio (Pinel, 1806); b) insanidade moral (Prichard, 1837); 
c) delinqüência nata (Lombroso, 1911); d) psicopatia (Koch, 1891); e) 
sociopatia (Lykken, 1957). Atualmente, é conhecido por Transtorno de 
Personalidade Antissocial. Negrito nosso. 
 
Contudo, a doutrina atual vem se posicionando pela distinção, ainda que 
tênue, do conceito de psicopatia e Transtorno de Personalidade Antissocial, 
atribuindo pontos discrepantes no tocante aos critérios de diagnósticos. 
 De acordo com o professor Jorge Trindade8, os indivíduos caracterizados 
como psicopatas também preenchem os critérios postos no tocante ao diagnóstico 
do Transtorno de Personalidade Antissocial, contudo o inverso não se mostra 
verdadeiro. É possível então inferir que o diagnóstico de psicopatia estará sempre 
abarcado pelo gênero TPAS9, entretanto, somente a incidência de alguns fatores 
específicos podem elevar o nível do reconhecimento de um psicopata, tais quais os 
citados no PCL-R10 desenvolvido pelo Psicólogo Canadense Robert Hare. 
Segundo o professor de psicologia Matthew T. Huss11, a maior parte dos 20 
(vinte) itens contidos na tabela PCR-L pode ser agrupada em dois fatores ou 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
6 TRINDADE, Jorge. Manual de Psicologia Jurídica..., 2012, p. 166. 
7 IDEM, p.161 
8 TRINDADE, Jorge, Psicopatia – a máscara da Justiça / Jorge Trindade, Andréa Beheregaray, 
Mônica Rodrigues Cuneo. Porto alegre: Livraria do advogado Editora, 2009 p. 97 
9 Transtorno de Personalidade Anti-social 
10	
  Instrumento desenvolvido para traçar tendências comportamentais anti-sociais e relacianadas a 
psicopatia. 
11 HUSS, Matthew T. Psicologia Forense: pesquisa, prática clínica e aplicações. Porto Alegre: 
Artmed, 2011 p. 96 
	
  
	
  
	
  
13	
  
categorias distintas, sendo o primeiro fator relativo a aspectos interpessoais, 
inerente à expressão emocional, já o segundo fator refere-se ao comportamento 
social e/ou estilo de vida adotado. 
Sendo assim, o PCR-L12 destaca os seguintes itens. 
Itens que se sobrepõem: 
1. Lábia/charme superficial – fator 1 
2. Senso grandioso de autoestima - fator 1 
3. Mentira patológica - fator 1 
4. Ausência de remorso ou culpa - fator 1 
5. Afeto superficial - fator 1 
6. Crueldade/falta de empatia - fator 1 
7. Comportamento sexual promíscuo 
8. Falta de objetivos realistas de longo prazo - fator 2 
9. Impulsividade - fator 2 
10. Irresponsabilidade - fator 2 
11. Falhas em aceitar responsabilidade pelas próprias ações - fator 1 
12. Versatilidade criminal 
Itens que não se sobrepõem : 
13. Necessidade de estimulação - fator 2 
14. Ludibriador/Manipulador - fator 1 
15. Estilo de vida parasita - fator 2 
16. Controle deficiente do comportamento - fator 2 
17. Problemas comportamentais precoces - fator 2 
18. Muitas relações conjugais de curta duração 
19. Delinquência juvenil - fator 2 
20. Revogação de liberdade condicional - fator 212 Idem. P.94 
	
  
	
  
	
  
14	
  
No tocante aos percentuais de incidência, também existe uma diferenciação 
entre o TPAS e a Psicopatia, segundo estudos do psicólogo forense Matthew T. 
Huss13 no âmbito geral da população, cerca de 3% a 5% pode ser diagnosticado 
com TPAS, contudo dentro do ambiente carcerários esses números crescem em 
proporções notáveis atingindo uma faixa entre 50% e 80%. 
Contudo os números relativos à psicopatia mostram-se mais discretos, 
atingindo uma faixa de 1% da população e uma variação de 15% a 30% no que 
tange os criminosos encarcerados. Cabe, entretanto, salientar que nem todo o 
psicopata pode ser automaticamente considerado um assassino em série, pois 
diversos são os níveis de psicopatia. 
Outro ponto importante no sentido de definir o termo psicopata é saber de 
onde e em qual momento eclode essa condição psíquica-moral que conflui num 
indivíduo psicopata. Para tanto, faz-se necessária a diferenciação das espécies de 
psicopatas, classificação essa que não se mostra uníssona no campo doutrinário. 
 No que tange os subtipos de psicopatia, é possível distinguir essa 
psicopatologia em dois ramos distintos. O primário enquadra-se no protótipo 
conhecido genericamente, atribuindo a psicopatia de forma inerente ou intrínseca. Já 
no caso da psicopatia secundária, existe uma causa concreta para a incidência 
psicopática, seja um déficit cognitivo, condição social ou alguma outra 
psicopatologia, agindo por vezes, segundo Trindade14 “tipicamente como revanche, 
como reação a circunstâncias que exacerbam seu conflito, de natureza neurótica, 
razão pela qual ele é acessível a uma abordagem de natureza psicoterápica ” 
Nessa mesma toada, o supracitado autor ainda elucida15: 
como antes anunciado, o protótipo do psicopata é o denominado psicopata 
primário: cruel e sem emoção. Já o psicopata secundário parece 
emocionalmente lábil, possui sentimento de raiva e apresenta alguma forma 
de ansiedade. Assim, a psicopatia primária seria produto de uma condição 
hereditária, enquanto a psicopatia do tipo secundário, o resultado das 
influências ambientais, particularmente experiências traumáticas da infância 
 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
13	
  HUSS, Matthew T. Psicologia Forense: pesquisa, prática clínica e aplicações. Porto Alegre: 
Artmed, 2011 
14 TRINDADE, Jorge, Psicopatia – a máscara da Justiça. Jorge Trindade, Andréa Beheregaray, 
Mônica Rodrigues Cuneo. Porto alegre: Livraria do advogado Editora, 2009 p. 69 
15 IDEM. 
	
  
	
  
	
  
15	
  
 Essa diferenciação relativa aos subtipos de psicopatia demonstra além das 
causas dessa psicopatologia como também explicita a disparidade quanto aos meios 
de abordagens medicas e jurídicas aplicadas a cada subtipo, devendo, portanto, ser 
objeto de intenso estudo e mapeamento em ambas as frentes de tratamento. 
Preconiza o professor Jorge Trindade: “Diversos estudos confirmam a 
consistente relação entre psicopatia e criminalidade, principalmente entre psicopatia 
e crimes violentos. Psicopatas também tendem a cometer mais crimes violentos, 
movidos por metas imediatas e prementes. ”16 
Em torno da análise psicológica e subjetiva da mente de um criminoso 
envolvido em tais situações surge a hipótese do diagnóstico de psicopatia, definida 
por Garcia17 como um distúrbio de personalidade antissocial na qual o indivíduo 
apresenta desvios de conduta que ocasionalmente infligem determinados preceitos 
morais, éticos e por muitas vezes tipificações jurídicas. 
 
 
1.2 O Serial Killer 
 
É possível afirmar que existe uma relação muito tênue entre a psicopatia e a 
condição de um assassino em série (serial killer), podendo inferir que nem todos os 
psicopatas estarão enquadrados na conceituação de assassino em série, contudo o 
inverso mostra-se verdadeiro. Segundo Ilana Casoy18, a definição de serial killer é o 
indivíduo que comete uma série de homicídios, durante um período de tempo, e que 
tenha uma pausa periódica entre os crimes cometidos. 
A terminologia serial killer, ou assassino em série, notadamente remonta a 
uma noção contemporânea de classificação criminosa, contudo é possível inferir que 
somente a nomenclatura mostra-se recente, já que a prática de assassinatos em 
série remete a tempos pretéritos. 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
16 TRINDADE, Jorge, Psicopatia – a máscara da Justiça. Jorge Trindade, Andréa Beheregaray, 
Mônica Rodrigues Cuneo. Porto alegre: Livraria do advogado Editora, 2009 p. 111 
17 GARCIA, J. Alves. Psicopatologia Forense. 2 ed. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti Editores, 1958. 
18 CASOY, Ilana, Serial Killers: Louco ou cruel, Rio de Janeiro: Darkside books, 2014 p.20 
	
  
	
  
	
  
16	
  
Segundo o escritor criminal Harold schechter19: 
O exemplo mais antigo já publicado da expressão “serial killer” que os 
editores do dicionário de inglês Oxford conseguiram encontrar data de 
apenas algumas décadas atrás. Trata-se do artigo Leanding the Hunt in 
Atlanta`s Murders (“Liderando a Caçada aos Assassinos de Atlanta”), 
escrito por M.A Faber e publicado em 3 de maio de 1981 pela revista do 
New York Times 
 
 Dentre as definições de serial killer, o FBI (Federal Bureau of Investigation), 
em seu manual de classificação de crimes de 1992, vem enfatizando três elementos 
relativos à quantidade de homicídios, aos locais de consumação dos delitos e ao 
quesito temporal relativo cometimento desses homicídios em série. Em suma, o 
FBI20 preconiza que devem haver três ou mais eventos distintos em pelo menos três 
locais diversos com um período de intervalo (calmaria) entre os atos comissivos. 
A definição específica relativa ao assassino em série, vem para lastrear 
minimamente o modus operandi desses criminosos para apresentar um contraste 
entre esses indivíduos e outras categorias de assassinos, tais quais homicidas em 
massa e homicidas relâmpago. 
Os homicidas em massa em quase nada se assemelham aos assassinos em 
série. Normalmente o assassinato em massa acontece como consequência de 
extrema pressão emocional ou psicológica, podendo ser considerada como um 
surto, e tem como viés o caráter suicida causando, por conseguinte, o maior dano 
possível. Schechter21 explicita que “enquanto o assassino em série é 
frequentemente descrito como um predador, o assassino em massa é 
esteriotipicamente definido como uma bomba-relógio humana”. 
A conceituação de assassinato relâmpago pode ser por muitas vezes 
confundida com o assassino em massa, contudo temos uma diferenciação de 
extrema importância, o itinerário percorrido pelo assassino. 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
19 SCHECHTER, Harold. Serial killers, anatomia do mal; tradução de Lucas Magdiel – Rio Janeiro: 
Dark de side Books, 2013 p.15 
20 SCHECHTER, Harold. Serial killers, anatomia do mal; tradução de Lucas Magdiel – Rio Janeiro: 
Dark de side Books, 2013 p.15 
21 IDEM p.19	
  
	
  
	
  
	
  
17	
  
Harold Schechter22explicita: 
A diferença determinante entre o assassino relâmpago e o assassino em 
massa tem a ver com o movimento. Enquanto este mata em um só lugar, o 
assassino relâmpago se desloca de um lugar a outro matando no percurso. 
Nesse sentido, o assassinato relâmpago poderia ser mais bem descrito 
como um assassinato em massa itinerante. 
 
Contudo, resta claro que essa definição não se mostra acertada, uma vez 
que, se por um lado mostra-se ampla demais, não levando em consideração 
aspectos subjetivos ou psicológicos em torno do cometimento do ato. Por outro lado, 
essa mesma definição mostra-se restritiva no momento em que é confrontada com 
aspectos factuais, como o caso do famoso serial killer brasileiro Francisco Costa 
Rocha, o “Chico Picadinho”, que cometeu dois assassinatos, sendo ambos 
cometidos em seu apartamento, o que segundo a definição do FBI, não considerar-
se-ia um crime advindo de um psicopata homicida, tanto pela inalcançável 
quantidade de vítimas, quanto pelo aspecto espacial. 
O trecho transcrito abaixo revela discussão à cerca da temática ora abordada, 
entrevista feita pela escritora criminal Ilana Casoy, com Chico Picadinho23: 
Ilana: ... agora, eu acho que o que você pode questionar é o seguinte: por 
que sou um serial killer se eu matei duas [vítimas]? Aí eu que vou te 
perguntar: se você não tivesse sido preso naquela época, no nível de 
degradação que você estava, quantas teria matado? 
Francisco: Olha, sinceramente... eu não sei... não sei... não sei. 
 
Nesse sentido, surge o questionamento visceral, quanto à real necessidade 
de o indivíduo cometer ao menos três homicídios em locais diversos para a 
caracterização do assassino em série. 
No ano de 1984 a unidade de ciência comportamental do FBI apresentou 
trabalho24 baseado no estudo de 36 criminosos seriais encarcerados, listando, por 
fim, algumas “características gerais”: 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
22 SCHECHTER, Harold. Serial killers, anatomia do mal; tradução de Lucas Magdiel – Rio Janeiro: 
Dark side Books, 2013 p.22 
23CASOY, Ilana. Arquivos Serial Killers Made In Brazil. Rio de Janeiro: Dark Side Books, 2014 p. 
145 
	
  
	
  
	
  
18	
  
01. A maioria é composta por homens brancos e solteiros 
02. Tendem a ser inteligentes, com QI médio de “superdotados” 
03. Apesar da inteligência, eles têm fraco desempenho escolar, histórico de 
empregos irregulares e acabam se tornando trabalhadores não 
qualificados. 
04. Vêm de um ambiente familiar conturbado ao extremo. Normalmente 
foram abandonados quando pequenos por seus pais e cresceram em 
lares desfeitos e disfuncionais dominados por suas mães. 
05. Há um longo histórico de problemas psiquiátricos, comportamento 
criminoso e alcoolismo em suas famílias. 
06. Enquanto crianças, sofrem consideráveis abusos – às vezes 
psicológicos, às vezes físicos, muitas vezes sexuais. Os brutais maus 
tratos incutem profundos sentimentos de humilhação e impotência neles. 
07. Devido a ressentimentos em relação a pais distantes, ausentes ou 
abusivos, possuem dificuldade de lidar com figuras de autoridade 
masculinas. Dominados por suas mães, nutrem por elas uma forte 
hostilidade. 
08. Manifestam problemas mentais em uma idade precoce e muitas vezes 
são internados em instituições psiquiátricas quando crianças. 
09. Extremo isolamento social e ódio generalizado pelo mundo e por todos 
(inclusive eles mesmos), costumam ter tendência suicida na juventude. 
10. Demonstram interesse precoce e duradouro pela sexualidade 
degenerada e são obcecados pelo fetichismo, voyeurismo e pornografia 
violenta. 
 
Essa lista de características não tem o condão de delimitar em numerus 
clausus, a condição necessária para a conceituação do assassino em série, e tão 
somente uma pauta norteadora que foi encontrada durante os estudos realizados 
em face dos 36 criminosos já determinados como assassinos em série. 
 
 
 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
24 SCHECHTER, Harold. Serial killers, anatomia do mal; tradução de Lucas Magdiel – Rio Janeiro: 
Dark Side books, 2013 p. 35 
	
  
	
  
	
  
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20	
  
CAPÍTULO II –CONSEQUÊNCIAS JURÍDICO-CRIMINAIS 
 A partir da conceituação de psicopatia, bem como sua delimitação, traçado, 
de igual modo o conceito de serial killer, urge a necessidade de examinar as 
implicações desses indivíduos no âmbito jurídico, delimitando alguns institutos 
relacionados. 
 O capítulo busca apresentar algumas conceituações e teorias adotadas pelo 
direito penal e como elas relacionam-se com a temática da psicopatia, que ainda 
mostra-se vaga e obscura em nosso arcabouço jurídico. 
2.1 Correlação entre ciência jurídico-criminal e a psicopatia 
Ao debruçar sobre a temática de psicopatia, resta patente seu reflexo no 
campo jurídico. Contudo esse retrato não se limita a um ramo específico do direito, é 
possível traçar inter-relações nas mais diversas frentes jurídico-dogmáticas, tais 
quais o direito civil, trabalhista, tributário e penal. 
Não há que se negar que o ramo de associação mais latente são as ciências 
jurídico-criminais, e esse aspecto é o que será aqui abordado de forma mais incisiva. 
O Direito Penal ocupa-se, em nosso arcabouço jurídico, de desempenhar papel 
crucial, pois tutela os bens jurídicos25 de maior relevância para a manutenção da 
intrínseca relação entre Estado e Indivíduo. Segundo assevera ainda o professor 
Damásio26 “o Direito Penal visa a proteger os bens jurídicos mais importantes, 
intervindo somente nos casos de lesão de bens jurídicos fundamentais para vida em 
sociedade” 
A partir desse pensamento acima exposto, o doutrinador Rogério Greco27 
assevera: “A pena, portanto é simplesmente o instrumento de coerção de que se 
vale o direito penal para a proteção dos bens, valores e interesses mais 
significativos da sociedade” 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
25 Segundo o professor Damásio de Jesus bem é tudo aquilo que pode satisfazer as necessidades 
humanas. Todo valor conhecido pelo Direito torna-se um bem Jurídico. 
26 JESUS, Damásio Evangelista de. Direito penal. 35. ed. rev. São Paulo: Saraiva, 2014. v. 1, p. 46. 
27 GRECCO, Rogério. Curso de direito penal: partegeral. 16. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2014. p. 
02 
	
  
	
  
	
  
21	
  
Ainda na visão do professor Cezar Roberto Bitencourt28: 
O direito penal apresenta-se por um lado, como um conjunto de 
normas jurídicas que tem por objeto a determinação de infrações de 
natureza penal e suas sanções correspondentes - penas e medidas 
de segurança. Por outro lado, apresenta-se como um conjunto de 
valorações e princípios que orientam a própria aplicação e 
interpretação das normas penais. 
 
Contudo esse pensamento acerca da finalidade do direito penal vem tomando 
outras direções em face da mera proteção de um bem jurídico, Greco29 sustenta que 
parte da doutrina, encabeçada principalmente pelo Prof. Gunther Jakobs, vem 
entendendo que a finalidade do direito penal não está na proteção dos bens 
jurídicos, tendo em vista que o bem jurídico tutelado, no momento da aplicação do 
direito penal, já se encontra violado ou atacado. Ou seja, a finalidade do Direito 
Penal seria a proteção das próprias normas penais. Cabendo salientar, contudo, que 
esse entendimento não se mostra majoritário. 
É possível apontar de maneira exemplificativa alguns dos bens jurídicos 
tutelados penalmente, notadamente o direito à vida, propriedade privada, 
incolumidade física e psíquica. Contudo, cabe ao ramo penal objetivar essa tutela 
jurídica criando legislação, editando normas, impondo ou proibindo determinadas 
condutas aceitas ou não no bojo do anseio social coletivo. 
Diversos são os temas do direito penal que se concatenam com a situação 
psicológica e moral do portador da psicopatia e que foram as delimitações deste 
trabalho. Dentre eles pode-se citar a culpabilidade do agente em face da teoria do 
crime, incluindo aí a imputabilidade penal e seus critérios de aferição, a pena, suas 
finalidades e teorias fundamentadoras bem como a teoria adotada pelo artigo 59 do 
Código Penal Brasileiro e seus limites constitucionais e por fim o instituto da medida 
de segurança e suas espécies. 
2.2 Psicopatia e seus efeitos na culpabilidade 
	
  
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
28 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal. 20.ed. São Paulo: Saraiva, 2014. v. 1. 
p.36. 
29 GRECCO, Rogério. Curso de direito penal: parte geral. 16. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2014. 
	
  
	
  
	
  
22	
  
Para compreender de maneira escorreita o conceito de culpabilidade, faz-se 
imprescindível uma análise da teoria do crime e dos elementos fundamentais 
caracterizadores do crime. Sendo, pois, a culpabilidade um dos elementos 
constitutivos do crime ou delito. 
Zaffaroni30 conceitua teoria do delito como: 
a parte da ciência do direito penal que se ocupa de explicar o que é o 
delito em geral, que dizer, quais são as características que devem ter 
qualquer delito. Essa explicação não é um mero discorrer sobre o 
delito com interesse puramente especulativo, senão que atende à 
função essencialmente prática, consistente na facilitação da 
averiguação da presença ou ausência de delito em cada caso 
concreto. 
 
Não há que se falar aqui em fragmentação do crime, conforme preceitua o 
professor Rogério Greco31, contudo para efeitos doutrinários cabe aqui um 
desmembramento das características fundamentais, quais sejam, o fato típico, a 
antijuridicidade e a culpabilidade, como antecedentes lógicos e necessários para a 
apreciação do delito. 
Segundo o conceito analítico de crime, conceito esse que busca analisar os 
elementos que integram a conceituação de infração penal, o Direito Penal Brasileiro 
adotou como elementos do crime o fato típico, ilícito e culpável, e na medida em que 
um desses elementos não esteja presente na situação fática aplicada, não há que se 
falar em crime, considerando-se portanto um indiferente penal32. 
Há que suscitar celeuma doutrinária entre o conceito bipartido e tripartido de 
crime. Expoentes doutrinários tais quais Damásio33, Dotti34, Mirabete35 e Delmanto36, 
são partidários da teoria bipartida, excluindo, portanto, a culpabilidade, contudo 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
30 ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Manual de Derecho Penal – Parte General Manual de derecho 
penal: parte general. Buenos Aires: Editar, 2006, p.317 
31 GRECCO, Rogério. Curso de direito penal: parte geral. 16. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2014. 
32 IDEM p.150 
33 JESUS, Damásio Evangelista de. Direito penal. 28. ed. rev. São Paulo: Saraiva, 2005. v. 1, p. 156. 
34 DOTTI, René Ariel. Curso de direito penal: parte geral. Rio de Janeiro: Forense, 2001. p. 339- 
339. 
35 MIRABETE, 2006, p. 94. 
36 DELMANTO, Celso CÓDIGO penal comentado: acompanhado de comentários, jurisprudência, 
súmulas em matéria penal e legislação complementar. 6. ed. atual. e ampl. Rio de Janeiro: 
Renovar, 2002. p. 18-19. 
	
  
	
  
	
  
23	
  
como esse não é o posicionamento predominante nem na doutrina pátria, o terceiro 
elemento constitutivo será coadunado com o conceito em si 
Como o enfoque será dado ao terceiro elemento, a culpabilidade, imperioso 
se faz conceituação sintética dos dois primeiros elementos, salientando que ao 
debruçar sobre o terceiro elemento aludido, subentende-se que os primeiros 
fundamentos já estejam preenchidos e sem vícios. 
Fernando Capez37 conceitua fato típico como “o fato material que se amolda 
perfeitamente aos elementos constantes do modelo previsto na lei penal.” Ou seja, o 
fato material deve conter uma conduta dolosa ou culposa, um resultado, um nexo de 
causalidade entre conduta e resultado e a tipicidade. 
Victor Eduardo Rios Gonçalves38 assevera: 
Tipicidade é o nome que se dá ao enquadramento da conduta 
concretizada pelo agente na norma penal descrita em abstrato. Em 
suma, para que haja crime é necessário que o sujeito realize, no 
caso concreto, todos os elementos componentes da descrição típica. 
 
Já a antijuridicidade, ou ilicitude, pode ser definida, conforme Greco39 como 
uma relação de contrariedade entre a conduta do agente e o ordenamento jurídico 
em geral. Pressupõe, então, uma norma penal anterior que ao ser infligida pela 
conduta, comissiva ou omissiva, gera a conduta tida como ilícita. 
Zaffaroni40 entrega o conceito de antijuridicidade como: 
o choque da conduta com a ordem jurídica, entendida não só uma 
ordem jurídica (antinormatividade), mas como uma ordem normativa 
e de preceitos permissivos. Consiste na constatação de que uma 
conduta típica (antinormativa) não está permitida por qualquer causa 
de justificação (preceito permissivo), em parte alguma da ordem 
jurídica (não somente no direito penal, mas tampouco no civil, 
comercial, administrativo, trabalhista etc.) 
 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
37 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Parte Geral. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2013, vol. 1. 
38 GONÇALVES, Victor Eduardo Rios, Direito Penal Parte Geral 16. ed. São Paulo: Saraiva 
2010.p.53 
39 GRECCO, Rogério. Curso de direito penal: parte geral. 16. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2014. 
40 ZAFFARONI, EugenioRaúl. Manual de direito penal brasileiro: parte geral. 10. ed. rev. e atual. 
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. p. 510. 
	
  
	
  
	
  
24	
  
O terceiro elemento, qual seja, a culpabilidade é tema essencial para o estudo 
da psicopatia, pois pode ser considerado como o ponto de afluência no qual se 
encontram o elemento volitivo da consciência da ilicitude em face do resultado final 
obtido por meio da conduta. 
Partindo do pressuposto da adoção da teoria normativa pura da culpabilidade, 
na qual os fatores psicológicos são afastados, atendo apenas aos aspectos 
valorados pela legislação imposta. Desse modo, a culpabilidade tem por fundamento 
a capacidade de querer e de entender, a capacidade de entender a ilicitude da 
conduta e a normalidade das circunstâncias justapostas. 
Segundo Damásio41 a culpabilidade “é composta pela inimputabilidade, 
exigibilidade de conduta diversa e potencial consciência da ilicitude”. 
A respeito da temática, suscita uma rápida explanação acerca da teoria 
finalista da ação, cujo criador foi Hans Welzel, na qual o professor Rogério Greco42 
aduz: 
Da culpabilidade foram extraídos o dolo e a culpa, sendo transferidos 
para a conduta do agente, característica integrante do fato típico. O 
dolo, após a sua transferência, deixou de ser normativo, passando a 
ser um dolo tão somente natural. 
 
Importante citar, previamente, a culpabilidade na sua concepção finalista pois 
esta foi a teoria adotada pelo Código Penal Brasileiro, da qual fazem parte a 
imputabilidade, a potencial consciência sobre a ilicitude do fato e a exigibilidade de 
conduta diversa. 
2.2.1 Imputabilidade do psicopata 
A respeito da imputabilidade, primeiro requisito a ser levantado, faz-se mister 
tecer algumas considerações a respeito da matéria, analisando a imputabilidade 
como regra genérica, bem como suas hipóteses de exclusão e as teorias relativas à 
inimputabilidade penal. 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
41 JESUS, Damásio Evangelista de. Direito penal. 35. ed. rev. São Paulo: Saraiva, 2014. v. 1, p. 507 
42 GRECCO, Rogério. Curso de direito penal: parte geral. 16. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2014, p. 
389 
	
  
	
  
	
  
25	
  
Segundo Capez43, a imputalidade é a capacidade de compreender a ilicitude 
de determinado fato e de se comportar dentro de tal entendimento. Se faz 
necessário que o agente apresente condições psicológicas, mentais, morais e físicas 
para reconhecer que está cometendo um ato ilícito penal. 
 
Porém, para o autor, acima mencionado, além de tais condições é necessário 
que o agente se encontre em “totais condições de controle sobre sua vontade”. A 
partir de tal afirmação, depreende-se que o imputável é aquele que tem ciência 
sobre a significação de sua conduta e também o comando pleno de sua própria 
vontade. 
 
Dessa maneira, esclarece Capez44, a imputabilidade assume dois aspectos. O 
volitivo, que consiste na capacidade de comandar e controlar a própria vontade e o 
intelectivo, baseado na possibilidade de entendimento do agente quanto ao ato 
cometido. A união dos dois ângulos estabelece a imputabilidade. 
 
Greco45 determina a imputabilidade como “[...] a possibilidade de se atribuir, 
imputar o fato típico e ilícito ao agente. A imputabilidade é a regra; [...]”. 
 
Ainda sobre a dualidade da constituição da imputabilidade, Sanzo Brodt46 
afirma que o elemento intelectual consiste na compreensão das proibições ou 
determinações jurídicas. Já o volitivo, se apoia na condição do agente de dirigir os 
próprios atos conforme a percepção ético-jurídica. 
 
Trabalhando o conceito de forma mais densa e indo um pouco mais além do 
que os autores citados anteriormente, explicita-se a definição de Zaffaroni e 
Pierangeli. Há, no texto, uma ponderação quanto ao amplo aspecto do conceito de 
imputalidade, os autores trazem os dois maiores extremos já atribuídos à concepção 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
43 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Parte Geral. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2013, vol. 1. 
p. 332 
44 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Parte Geral. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2013, vol. 1. 
p. 332 
45 GRECCO, Rogério. Curso de direito penal: parte geral. 16. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2014, p. 
392 
46 SANZO BRODT, 1996 apud Greco, 2014, p.393 
	
  
	
  
	
  
26	
  
da imputabilidade. Em primeiro, vem a ideia de que a mesma se resume “a total 
incapacidade psíquica para o delito pelo que devia situar-se com anterioridade à 
própria conduta[...]”47. Em seguida, trazem o outro extremo, no qual se encontram os 
autores que não a enxergam como parte do delito, mas sim da teoria da sanção. 
Nesse caso, a inexistência da imputabilidade dá lugar à medida de segurança em 
lugar da pena. 
 
Eximindo-se um pouco da amplitude do conceito, os autores afirmam que no 
Direito a imputabilidade é o meio pelo qual se busca determinar a capacidade 
psíquica da culpabilidade. Delimitando ainda mais a definição da imputabilidade 
dentro do universo processual alegam que para ser possível reprovar a conduta do 
autor, é preciso que este tenha procedido com determinado grau de capacidade ou 
consciência, o que o permitiria ter o mínimo de autodeterminação. 
 
A regra geral é a imputabilidade, devendo esta ser aplicada, segundo o 
professor Cezar Roberto Bitencourt48 a todo agente que demonstra condições 
mínimas de normalidade e madureza psíquica, ou nas palavras de Jorge Trindade49 
“para haver imputabilidade, há necessidade de haver integridade de cognição e de 
volição”. Contudo essa definição não se revela categórica, e as duas outras 
possibilidades estão elencadas no Código Penal Brasileiro, em seu artigo 2650, que 
segundo entendimento doutrinário, trata-se da inimputabilidade trazida pelo caput do 
dispositivo legal ao passo que o parágrafo único revela o conceito de semi-
imputabilidade. 
Art. 26: É isento de pena o agente que, por doença mental ou 
desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da 
ação ou omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito 
do fato ou de determinar-se de com esse entendimento. Parágrafo 
único: A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, 
em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento 
mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
47 ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Manual de direito penal brasileiro: parte geral. 10. ed. rev. e atual. 
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. p. 558	
  
48 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito penal: parte geral. 20. ed. Rev., ampl. e atual – 
São Paulo : Saraiva 2014. 
49 TRINDADE, Jorge, Psicopatia – a máscara da Justiça. Jorge Trindade, Andréa Beheregaray, 
Mônica Rodrigues Cuneo – Porto alegre: Livraria do advogado Editora, 2009 p. 124 
50 BRASIL. Decreto-lei nº 2.848 de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Diário Oficial da União, 31 
de dez. 1940. Disponívelem <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm> 
	
  
	
  
	
  
27	
  
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com 
esse entendimento 
 
 
 A condição particular do Psicopata dentro desse conjuntura não se mostra de 
todo pacífica do ponto de vista doutrinário, ou seja, a definição do indivíduo 
psicopata entre imputável, semi-imputável e inimputável não se encontra uníssona 
na doutrina. 
 
 Pode-se encontrar na literatura doutrinária argumentos de diversos autores e 
pensadores que validam o enquadramento do indivíduo psicopata em quaisquer das 
modalidades de imputabilidade acima citadas. Sob o argumento de inexistência de 
doença mental propriamente dita, expoentes como Nelson Hungria51 e Manzini52, 
entendem que mesmo portadores de loucura moral, sua condição particular não os 
torna incapazes de compreender a ilegalidade da conduta e nem mesmo alterar a 
vontade do indivíduo. 
Segundo Manzini53: “A doença moral, não acompanhada de lesão na esfera 
intelectual ou volitiva, não tolhe e não diminui a imputabilidade”. 
 
Encabeçando a corrente diametralmente oposta temos a figura do professor 
Fernando Capez54 que sustenta que a psicopatia é capaz de alterar a capacidade 
cognitiva e volitiva do agente, incluindo a psicopatia no mesmo rol das doenças 
mentais tais quais neurose, psicose e esquizofrenia. Cabe ressaltar que esse 
entendimento mostra-se minoritário e não encontra consonância com a 
jurisprudência pátria. 
 
Existe ainda terceira corrente que defende que os psicopatas, ou como a 
jurisprudência trata, indivíduos com personalidade psicopata devem ser 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
51 HUNGRIA, N. Comentários ao Código Penal. Rio de Janeiro: Forense, 2003, apud TRINDADE, 
Jorge; BEHEREGARAY, Andréa; CUNEO, Monica Rodrigues. Psicopatia – a máscara da justiça. 
Porto Alegre:Livraria do Advogado,. 2009. 
52 MANZINI V. Trattato di Diritto Penale Italiano. Torino: Unione Tipografico-Editrice Torinese – UTET, 
1983, apud TRINDADE, Jorge; BEHEREGARAY, Andréa; CUNEO, Monica Rodrigues. Psicopatia – 
a máscara da justiça. Porto Alegre:Livraria do Advogado. 2009. 
53 IDEM 
54 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Parte Geral. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2013, vol. 1. 
	
  
	
  
	
  
28	
  
enquadrados como semi-inimputáveis, ou seja, devem ser abarcados pelo texto 
normativo contido no parágrafo único do artigo 26 do Código Penal Brasileiro, pois 
teriam sua capacidade intelectiva e volitiva alteradas em face da sua perturbação 
mental, que não se confunde com doença mental. 
Esse entendimento mostra-se dominante na doutrina e na jurisprudência, 
dentre seus principais expoentes é possível citar Cezar Roberto Bitencourt55 que 
ensina: 
situam-se nessa faixa intermediária os chamados fronteiriços, que 
apresentam situações atenuadas ou residuais de psicose, de 
oligofrenias e, particularmente, grande parte das chamadas 
personalidades psicopáticas ou mesmo transtornos mentais 
transitórios.” 
 
 
De igual modo Júlio Fabrini e Renato Mirabete56 asseveram: 
Os psicopatas, por exemplo, são enfermos mentais, com capacidade 
parcial de entender o caráter ilícito do fato. A personalidade 
psicopática não se inclui na categoria das moléstias mentais, mas no 
elenco das perturbações da saúde mental pelas perturbações da 
conduta, anomalia psíquica que se manifesta em procedimento 
violento, acarretando a sua submissão ao art. 26, parágrafo único. 
 
 
Cabe ressaltar entretanto que a semi-imputabilidade não tem como finalidade 
a exclusão da culpabilidade, incidindo tão somente causa de diminuição de pena, 
instituto que iremos esmiuçar posteriormente, pelo fato de, segundo Trindade57, 
mesmo “possuindo entendimento sobre a natureza criminosa de seus atos, não 
possuem, no entanto, capacidade de comportar-se de acordo com esse 
entendimento devido à falta de controle dos impulsos e de determinação.” 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
55 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito penal: parte geral. 20. ed. Rev., ampl. e atual – 
São Paulo : Saraiva 2014. P. 481 
56 MIRABETE, Julio Fabrini. MIRABETE, Renato N. Fabrini. Manual de direito penal volume 1: 
parte geral. São Paulo. Editora Atlas, 2011. p. 199 
57 TRINDADE, Jorge, Psicopatia – a máscara da Justiça. Jorge Trindade, Andréa Beheregaray, 
Mônica Rodrigues Cuneo. Porto alegre: Livraria do advogado Editora, 2009 p. 132 
	
  
	
  
	
  
29	
  
Como consequência jurídica desse entendimento o parágrafo único, artigo 26 
do supracitado Código, remete inexoravelmente à aplicação do artigo 9858 da 
mesma carta: 
Art. 98, in verbis : Na hipótese do parágrafo único do artigo 26 deste 
código e necessitando o condenado de especial tratamento curativo, 
a pena privativa de liberdade pode ser substituída pela internação, ou 
tratamento ambulatorial, pelo prazo de no mínimo de um a três anos, 
nos termos do artigo anterior e respectivos §§ 1° a 4°. 
 
 Desse modo, o tratamento dado ao psicopata, passa por uma sensível 
redução na aplicação da pena, e faculta ainda ao magistrado a substituição da pena 
privativa de liberdade pela internação ou tratamento ambulatorial. Medida essa que 
mostra-se no mínimo temerária frente à forte condição de reincidência e o elevado 
grau de periculosidade dos indivíduos psicopatas. 
 
2.2.2 Critérios de aferição da inimputabilidade 
 
Dentre os critérios para a definição da culpabilidade diminuída, três sistemas 
são utilizados como balizadores desse conceito. O primeiro é o Sistema Biológico ou 
Etiológico, que tem como cerne principal a aferição do normal funcionamento do 
sistema mental, bem como se existe desenvolvimento mental incompleto ou 
retardado do ponto de vista clínico, não havendo necessidade de indagação 
psicológica. 
Nas palavras de Capez59: 
há uma presunção legal de que a deficiência ou doença mental 
impede o sujeito de compreender o crime ou comandar sua vontade, 
sendo irrelevante indagar acerca de suas reais e efetivas 
consequências no momento da ação ou omissão. 
 
 
 Cabe salientar que essa teoria tem aplicação excepcional na legislação 
criminal no bojo do artigo 27 do Código Penal Brasileiro 60: “Os menores de 18 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
58 BRASIL. Decreto-lei nº 2.848 de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Diário Oficial da União, 31 
de dez. 1940. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm> 
59 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Parte Geral. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2013, vol. 1. 
P. 338 
	
  
	
  
	
  
30	
  
(dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas 
estabelecidas na legislação especial”, ou seja, nos casos de menores de dezoito 
anos de idade, indivíduos com desenvolvimento mental incompleto. 
 
O segundo Sistema a ser analisado é o psicológico, que em essência não tem 
como pressuposto o desenvolvimento mentaldo agente e sim a possibilidade de 
discernimento e avaliação do caráter delituoso do fato e de orientar-se de acordo 
com esse prévio entendimento. 
 
Nesse sentido assevera Bitencourt61: 
 
declara a irresponsabilidade se, ao tempo do crime, estava abolida 
no agente, seja qual for a causa, a faculdade de apreciar a 
criminalidade do fato (momento intelectual) e de determinar-se de 
acordo com essa apreciação (momento volitivo). 
 
 
 O próprio legislador foi claro em descartar esse sistema, pois nosso Código 
Criminal, em seu Artigo 28, inciso I, aduz que a emoção e a paixão não excluem a 
imputabilidade penal. 
 
 Por fim, temos a Teoria Biopsicológica, que é adotada pelo Código Penal 
Brasileiro para a aferição da inimputabilidade do agente. Esse sistema pode ser 
considerado uma mescla conceitual entre as duas primeiras, exigindo três requisitos 
da inimputabilidade, a causa biológica, considerada como doença mental, 
desenvolvimento mental incompleto ou retardado (elemento causal), e a perda total 
do elemento intelectivo e volitivo ( elemento consequencial) ao tempo da ação ou 
omissão delituosa (elemento cronológico). 
 
Ainda nas palavras de Capez62: 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
60 BRASIL. Decreto-lei nº 2.848 de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Diário Oficial da União, 31 
de dez. 1940. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm> 
61 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito penal: parte geral. 20. ed. Rev., ampl. e atual – 
São Paulo : Saraiva 2014. P. 474 
62 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Parte Geral. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2013, vol. 1. 
P. 339 
	
  
	
  
	
  
31	
  
será inimputável aquele que, em razão de uma causa prevista em lei 
(doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou 
retardado), atue no momento da prática da infração penal sem 
capacidade de entender o caráter criminoso do fato ou de 
determinar-se de acordo com esse entendimento. Foi adotado como 
regra, conforme se verifica pela leitura do art. 26, caput, do Código 
Penal. 
 
 
2.3 Pena 
 
Ponto crucial na discussão acerca da análise psico-jurídica do indivíduo 
portador de psicopatia é a penalidade a ele imposta, ou seja a sanção aplicada pelo 
Estado frente ao delito, cabendo aqui elencar seu conceito, características e 
finalidades, explicitando ainda as escolas penais e as teorias levantadas por cada 
corrente, com a finalidade de indagar se a pena cumpre seu papel frente à especial 
condição do psicopata. 
 
Cabe ressaltar que apesar do conceito moderno de pena, as sanções 
aplicadas a um indivíduo transgressor de costumes ou práticas comumente aceitas, 
remete aos tempos mais antigos, sendo até hoje objeto de estudo da antropologia, e 
segundo Bitencourt63, as teorias da pena vem sofrendo forte influência ao longo das 
décadas pelo contexto cultural, social, ideológico político nas quais estão inseridos. 
Contudo, devemos nos ater à pena surgida com advento dos códigos criminais. 
 
Esse controle exercido pelo Direito Penal em face das punições atribuídas ao 
ente descumpridor de preceitos normativos pode ser considerado como formal, com 
a elaboração de Leis e regras no campo instrumental, sem por vezes fornecer 
afetividade ou lastro fundamentador. Nas palavras do Professor Felipe Machado 
Caldeira64 : 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
63 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito penal: parte geral. 20. ed. Rev., ampl.	
  e	
  atual	
  –	
  
São	
  Paulo	
  :	
  Saraiva	
  2014.	
  P.	
  130	
  
64	
  CALDEIRA, Felipe Machado. A evolução histórica, filosófica e Teórica da Pena. Revista 
EMERJ. Revista 45. Disponível em 
http://www.emerj.tjrj.jus.br/revistaemerj_online/edicoes/revista45/Revista45_255.pdf. Acesso em: 06 
de setembro de 2015 
	
  
	
  
	
  
32	
  
 [...] o Direito Penal é um meio de controle social formal –, que 
necessita de limites substanciais ao controle do crime: a vinculação 
da atuação jurídico-penal aos princípios valorativos 
(proporcionalidade, dignidade da pessoa humana etc.). 
 
 
O conceito de Pena vem tomando novas roupagens conforme o avanço da 
percepção de sanção dentro do ordenamento jurídico. Aspectos antes não 
abarcados na conceituação da pena, vem mostrando-se de extrema relevância, tais 
quais a readaptação do criminoso ao convívio social e a prevenção de novos atos 
criminosos. 
 
Sebastian Soler65 conceitua: 
 
Pena é a sanção aflitiva imposta pelo Estado, mediante ação 
penal, ao autor de uma infração (penal), como retribuição de 
seu ato ilícito, consistente na diminuição de um bem jurídico, e 
cujo fim é evitar novos delitos 
 
 
Zaffaroni66 nos apresenta um conceito mais constrito: “Por coerção penal se 
entende a ação de conter ou de reprimir, que o direito penal exerce sobre os 
indivíduos que cometeram delitos”. 
 
Ante a análise da conceituação da pena, que não se mostra conflitante 
perante a doutrina, cabe aqui a indagação a respeito das finalidades da pena, este 
sim campo de amplo embate doutrinário encabeçado por três correntes que 
entendem a pena com finalidades diversas, sendo a primeira a das teorias absolutas 
ou retributivas da pena, a segunda, das teorias relativas ou preventivas da pena e, 
por fim, a terceira teoria mista ou unificadora da pena. 
 
Na dissecação das três posições protagonistas, surgem diversas teorias e 
conceitos que são de extrema relevância no campo doutrinário, conceitos esses que 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
65 SOLER, Sebastian. Derecho penal argentino. Buenos aires: Tipografia Ed Argentina, 1970. V.2 p 
342 apud MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal – Parte Gera. 22° ed. São Paulo: 
Editora Atlas, 2014. P. 232 
66 ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Manual de direito penal brasileiro: parte geral. 10. ed. rev. e atual. 
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. p. 661 
	
  
	
  
	
  
33	
  
serão, a posteriori, pinçados para a situação jurídica do portador de Transtorno de 
Personalidade Antissocial. 
 
 
 
2.3.1 Teorias acerca da finalidade da pena 
 
 As Teorias retributivas se fundam na vindita estatal, ou seja, retribuição de um 
mal causado (crime) por meio de uma violação de preceito legal. A reprimenda 
estatal configura-se como sanção, que deve ser plenamentecapaz de realizar a 
justiça, dentro de sua concepção mais primitiva. 
 
Segundo Bitencourt67: 
 
a característica essencial das teorias absolutas consiste em 
conceber a pena como um mal, um castigo, como retribuição ao mal 
causado através do delito, de modo que sua imposição estaria 
justificada, não como meio para o alcance de fins futuros, mas pelo 
valor axiológico intrínseco de punir o fato passado[...] 
 
 
 Do mesmo modo assevera Fernando Vernice do Anjos68 que a pena, segundo 
essa corrente, seria apenas uma correspondência do mal do crime com o mal da 
sanção estatal, fundada portanto no princípio da proporcionalidade, não havendo, 
desta feita, finalidade futura. A teoria também denominada absolutista, se funda pela 
falta de finalidade na pena, alcançando somente o fim nela mesma, tornando-se 
então absoluta. 
 
As teorias preventivas da pena apresentam-se diametralmente opostas às 
teorias, e remontam aos tempos do estado moderno, sem o viés meramente punitivo 
e centrado em políticas de intervenção estatal frente às políticas criminais. Deste 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
67 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito penal: parte geral. 20. ed. Rev., ampl. e atual – 
São Paulo : Saraiva 2014. P. 133 
68 SANTOS, Fernando Venice dos. Análise critica da finalidade da pena na execucao penal: 
ressocializacao e o direito brasileiro. 2009. 175. Dissertação de Mestrado – Universidade de São 
Paulo – USP p. 13. Disponível em: 
www.teses.usp.br/.../Versao_integral_dissertacao_de_mestrado_Fernando_ Vernice_dos.pdf Acesso 
em: 06 de setembro de 2015 
	
  
	
  
	
  
34	
  
modo surgem as políticas de prevenção dos delitos, ou teorias utilitaristas, que 
conferem à pena fins úteis diversos da mera vingança estatal. 
 
Segundo Luigi Ferrajoli69: 
 
a concepção de pena enquanto meio, em vez de como fim ou valor, 
representa um traço comum de todas as doutrinas relativas ou 
utilitaristas, desde aquelas da emenda e da defesa social àquelas da 
intimidação geral, daquelas da neutralização do delinquente àquelas 
da integração de outros cidadãos. 
 
Com essa citação, é possível inferir que a pena tornou-se meio, modo, 
instrumento ou processo, no qual a finalidade toma diversas dimensões e ângulos 
segundo autores, épocas e momentos sociais distintos. 
 
Dentro das correntes intrínsecas à visão preventiva da pena, essa desdobra-
se em preventiva geral, na qual a finalidade da pena é destinada à sociedade como 
um todo, e preventiva especial, em que o fim debruça-se sob a égide do indivíduo 
que praticou o crime. 
 
 No bojo da prevenção geral, na qual o fim da pena volta-se ao âmago público, 
essa subdivide-se em duas correntes que a analisam sob óticas distintas, sendo a 
primeira a prevenção geral negativa, também conhecida por intimidatória, e a 
segunda, a teoria da prevenção geral positiva. Bitencourt70 apresenta essas 
vertentes das teorias relativas da pena como detentoras do encargo de 
desadmoestar o indivíduo inclinado ao cometimento do crime pela aplicação da 
sanção estatal, caso negativo, e o reforço ou robustecimento à fidelidade dos 
cidadãos à ordem social e preceitos normativos vigentes, prevenção geral positiva. 
 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
69 Direito e Razão 2ª ed. Trad. Ana Paula Zomer sica et. Al São Paulo RT, 2006, P. 240 APUD 
SANTOS, Fernando Venice dos. Análise critica da finalidade da pena na execucao penal: 
ressocializacao e o direito brasileiro. 2009. 175. Dissertação de Mestrado – Universidade de São 
Paulo – USP p. 13. Disponível em: 
<www.teses.usp.br/.../Versao_integral_dissertacao_de_mestrado_Fernando_ Vernice_dos.pdf> 
Acesso em: 06 de setembro de 2015 
70 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito penal: parte geral. 20. ed. Rev., ampl. e atual – 
São Paulo : Saraiva 2014. P. 143 
	
  
	
  
	
  
35	
  
 A prevenção geral negativa, então, confunde-se com a própria função do 
direito penal, por seu caráter intimidador, pois o valor da intimidação direcionada em 
concreto ao criminoso aproveita-se ao restante da sociedade, coagindo todos a 
evitarem uma futura conduta delituosa.71 Como viés ilustrativo é possível citar a 
ampla publicidade dada às penas com forte impacto social, tais quais penas 
executórias, como forca, guilhotina, fuzilamento ou cadeira elétrica, devido à sua 
função intimidatória geral. 
 
 A prevenção geral positiva, como já dito, analisa a finalidade da pena também 
sob o enfoque da sociedade, contudo deixa seu lado negativo, intimidação social de 
lado, buscando o fortalecimento da relação Estado e cidadão, adquirindo um reforço 
no sistema normativo, muito ligado à ideia de pacto social. 
 
 Claus Roxin72 empresta três efeitos da prevenção geral positiva, são eles: 
[...]o efeito da aprendizagem através da motivação sociopedagógica 
dos membros da sociedade; efeito de reafirmação de confiança no 
Direito Penal; e o efeito da pacificação social quando a pena aplicada 
é vista como solução ao conflito gerado pelo delito. 
 
 Deste modo, a pena atinge fins não só pedagógicos, como também confirma 
o direito vigente como ordem a ser preservada e respeitada, relacionando-se com o 
finalismo penal e a proteção de valores fundamentais de uma sociedade. 
Em contrapartida às teorias gerais, a prevenção especial volta-se contra a 
figura do indivíduo delinquente, e sua periculosidade frente à sociedade. Esta 
subdividindo-se, do mesmo modo, em geral e especial. 
Nas palavras de Fernando Vernice do Anjos73: 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
71 SANTOS, Fernando Venice dos. Análise crítica da finalidade da pena na execução penal: 
ressocialização e o direito brasileiro. 2009. 175. Dissertação de Mestrado – Universidade de São 
Paulo – USP p. 13. Disponível em: 
<www.teses.usp.br/.../Versao_integral_dissertacao_de_mestrado_Fernando_ Vernice_dos.pdf> 
Acesso em: 06 de setembro de 2015 
 
 
72 Roxin, Derecho Penal, cit., p. 91-92 APUD BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito 
penal: parte geral. 20. ed. Rev., ampl. e atual – São Paulo : Saraiva 2014. P. 147 
73 SANTOS, Fernando Venice dos. Análise critica da finalidade da pena na execução penal: 
ressocialização e o direito brasileiro. 2009. 175. Dissertação de Mestrado – Universidade de São 
Paulo – USP p. 13. Disponível em: 
	
  
	
  
	
  
36	
  
 
[...] a sanção penal, segundo a visão preventivo-especial, serviria 
para atingir a pessoa que, ao praticar um crime, demonstrou sua 
“personalidade deformada”, “atentatória contra à ordem social” e 
“potencialmente perigosa”, evitando a reincidência. 
 
 Sem tecer comentários a respeito das diferentes contribuições dadas por 
autores que debruçaram-se sobre essa corrente, cabe aqui tecer a distinção entre 
prevenção especial negativa e a positiva, que, vale ressaltar, não são apresentadas 
de maneira contraposta, e sim concebidas como fins múltiplos e mutuamente 
aplicados, visando a prevenção criminal. 
Desde logo, é possíveladuzir que a faceta negativa desta teoria está 
intrinsicamente ligada ao fator intimidatório, assim como na sua versão geral 
negativa, contudo esse não é seu maior traço característico sendo portanto a 
inocuização, ou segregação social do indivíduo delinquente do seio social. 
 Dentro desse contexto tem-se a retirada do indivíduo delinquente do seio 
social, e por vezes até mesmo do convívio carcerário, a depender da situação e 
periculosidade do apenado. No contexto da legislação brasileira cita-se o instituto do 
Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), tratado no bojo da Lei de Execuções Penais, 
em seu artigo 5274, na qual o mesmo cumprirá, por tempo determinado em lei, sua 
pena em cela individual. 
 Cabe ressaltar que na visão do Estado Democrático de Direito, essa teoria 
não pode ser aplicada de maneira absoluta e de maneira isolada. Entretanto, países 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
www.teses.usp.br/.../Versao_integral_dissertacao_de_mestrado_Fernando_ Vernice_dos.pdf acesso 
em: 06 de julho de 2015. 
	
  
74 Art. 52. A prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave e, quando ocasione 
subversão da ordem ou disciplina internas, sujeita o preso provisório, ou condenado, sem prejuízo da 
sanção penal, ao regime disciplinar diferenciado, com as seguintes características: 
I - duração máxima de trezentos e sessenta dias, sem prejuízo de repetição da sanção por nova falta 
grave de mesma espécie, até o limite de um sexto da pena aplicada; 
II - recolhimento em cela individual; 
III - visitas semanais de duas pessoas, sem contar as crianças, com duração de duas horas; 
IV - o preso terá direito à saída da cela por 2 horas diárias para banho de sol. 
§ 1o O regime disciplinar diferenciado também poderá abrigar presos provisórios ou condenados, 
nacionais ou estrangeiros, que apresentem alto risco para a ordem e a segurança do estabelecimento 
penal ou da sociedade. 
§ 2o Estará igualmente sujeito ao regime disciplinar diferenciado o preso provisório ou o condenado 
sob o qual recaiam fundadas suspeitas de envolvimento ou participação, a qualquer título, em 
organizações criminosas, quadrilha ou bando. 
	
  
	
  
	
  
37	
  
como os Estados Unidos da América utilizam a construção teórica dessa corrente na 
aplicação de penas de caráter perpétuo e penas capitais, como no estudo de caso a 
ser estudado a posteriori. 
 Por fim, a prevenção especial especial positiva, tendência mais moderna no 
tocante aos fins da pena, seu conceito está relacionado à ressocialização, retorno ao 
convívio social do agente transgressor das leis penais. O conceito mais humanista 
de pena na verdade surge como fator principal na construção da penal tanto na 
legislação estrangeira como em nossa legislação pátria, voltado na busca por refrear 
a reincidência. 
 Paulo Queiroz75, a respeito desse posicionamento, explicita: 
para o defensores da prevenção integradora ou positiva, a pena 
presta-se não à prevenção negativa dos delitos, demovendo aqueles 
que já tenham incorrido na prática do delito; seu propósito vai além 
disso: infundir, na consciência geral, a necessidade de respeito a 
determinados valores, exercitando a fidelidade ao direito; 
promovendo, em última análise, a integração social. 
 
 Dentro dessas teorias e conceituações surge a teoria mista, também 
conhecida como unificadora da pena. Teoria essa que intenta unir diversos aspectos 
das teorias absolutas e relativas.76 Santiago Mir Puig77 sintetiza a teoria mista 
afirmando que “a retribuição, a prevenção geral e especial são distintos aspectos de 
um fenômeno complexo da pena”. 
 A doutrina penal brasileira adota a teoria mista78, conforme redação do artigo 
59 caput do Código Penal Brasileiro79: 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
75 QUEIROZ, Paulo de Souza. Funções do direito penal. P 40. APUD GRECCO, Rogério. Curso de 
direito penal: parte geral. 16. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2014, p. 482 
76 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito penal: parte geral. 20. ed. Rev., ampl. e atual – 
São Paulo : Saraiva 2014. 
77 MIR PUIG, Santiago. Derecho penal – Parte general, p.56 APUD GRECCO, Rogério. Curso de 
direito penal: parte geral. 16. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2014, p. 483 
78 GRECCO, Rogério. Curso de direito penal: parte geral. 16. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2014, p. 
483 
79 BRASIL. Decreto-lei nº 2.848 de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Diário Oficial da União, 31 
de dez. 1940. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm. 
Acesso em: 12 de outubro de 2015. 
 
	
  
	
  
	
  
38	
  
Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à 
conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às 
circunstâncias e consequências do crime, bem como ao 
comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e 
suficiente para reprovação e prevenção do crime. 
 
 
Resta claro da parte final do dispositivo, que o legislador contemplou tanto o 
caráter reprovador, consubstanciado pela teoria retributiva, como o preventivo, 
entendendo-se aqui tanto a prevenção geral, quanto a especial, em seus aspectos 
positivos e negativos. 
Ademais, a o caráter ressocializador da pena mostra-se especialmente 
tratado na Lei de Execuções Penais, a título exemplificativo cita-se o artigo 1º: "Art. 
1º A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão 
criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado 
e do internado.”, que traz como objetivo da execução a integração social do 
apenado. 
 
2.3.2 Limites da pena 
 
 Os limites das penas dentro do Estado brasileiro empregam especial respeito 
às funções da prevenção social positiva, ressocialização, motivo esse à vedação 
expressa das penas de caráter perpétuo. 
 A Constituição Federal assevera, em seu artigo 5º, XLVII80: “não haverá 
penas: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX; 
b) de caráter perpétuo; c) de trabalhos forçados; d) de banimento; e) cruéis;”. 
Portanto, a vedação tem status de preceito constitucional, e nesse mesmo sentido o 
artigo 75 caput do Código Penal81 aduz: 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
80BRASIL. Constituição Federal de 1988. Promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituição.htm>.Acesso em: 12 de outubro de 
2015. 
81BRASIL. Decreto-lei nº 2.848 de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Diário Oficial da União, 31 
de dez. 1940. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm> 
Acesso em: 12 de outubro de 2015. 
	
  
	
  
	
  
39	
  
O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode 
ser superior a 30 (trinta) anos. 
§ 1º - Quando o agente for condenado a penas privativas de 
liberdade cuja soma seja superior a 30 (trinta) anos, devem elas ser 
unificadas para atender ao limite máximo deste artigo. 
 § 2º - Sobrevindo condenação por fato posterior ao início do 
cumprimento da pena, far-se-á nova unificação, desprezando-se, 
para esse fim, o período de pena já cumprida. 
 
 
 Nessa toada, é possível inferir que, diferentemente do conceito adotado por 
outros países, a função da pena no Brasil não está adstrita à função retributiva, a 
mera penalização do indivíduo, levando em conta o aspecto de reintegração social 
da pena. 
 Zaffaroni82 tece um comparativo entre a pena de caráter perpétuo e a pena 
privativa de liberdade por período prolongado, como a pena de 30 (trinta) anos em 
regime fechado, alegando que ambas atentam contra a integridade física, psíquica e 
moral do apenado, sendo consideradas como sanções arruinadoras. Segundo o 
autor83 : “Não se trata de execução penal que tenha objetivos ressocializadores, 
nem de melhoria, mas de deterioração irreversível e neutralizadora.” 
 
2.4 Medida de segurança e sua aplicabilidade nos casos de psicopatia 
 
 Atrelado ao instituto da pena, surge ainda, no âmbito da legislação penal 
vigente a medida de segurança, que mesmo sendo considerada sanção penal, tem 
por enfoque principal a periculosidade do agente.84 
 Basileu Garcia85 assevera ainda que a finalidade das medidas de segurança 
diferem-se das penas por sua destinação curativa e ambulatorial, que perdura 
enquanto persistir a periculosidade do agente. 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
82 ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Manual de direito penal brasileiro: parte geral. 10. ed. rev. e atual. 
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. p. 708 
83 Idem, p. 708 
84 MIRABETE, Julio Fabrini. MIRABETE, Renato N. Fabrini. Manual de direito penal volume 1: 
parte geral. São Paulo. Editora Atlas, 2011. p. 355 
	
  
	
  
	
  
40	
  
 Em relação aos pressupostos de aplicação da supracitada medida, o Código 
Penal Brasileiro alude o determinado tema na redação de seus artigos 97 e 9886. 
 Artigo 97 Código Penal: 
“Se o agente for inimputável, o juiz determinará sua internação (art. 
26). Se, todavia, o fato previsto como crime for punível com 
detenção, poderá o juiz submetê-lo a tratamento ambulatorial. 
 Prazo 
 § 1º - A internação, ou tratamento ambulatorial, será por tempo 
indeterminado, perdurando enquanto não for averiguada, mediante 
perícia médica, a cessação de periculosidade. O prazo mínimo 
deverá ser de 1 (um) a 3 (três) anos. 
 Perícia médica 
 § 2º - A perícia médica realizar-se-á ao termo do prazo mínimo 
fixado e deverá ser repetida de ano em ano, ou a qualquer tempo, se 
o determinar o juiz da execução. 
 Desinternação ou liberação condicional 
 § 3º - A desinternação, ou a liberação, será sempre condicional 
devendo ser restabelecida a situação anterior se o agente, antes do 
decurso de 1 (um) ano, pratica fato indicativo de persistência de sua 
periculosidade. 
 § 4º - Em qualquer fase do tratamento ambulatorial, poderá o 
juiz determinar a internação do agente, se essa providência for 
necessária para fins curativos. 
 
 No mesmo sentido, artigo 98 do Código Penal Brasileiro: 
Substituição da pena por medida de segurança para o semi-
imputável 
Art. 98 - Na hipótese do parágrafo único do art. 26 deste Código e 
necessitando o condenado de especial tratamento curativo, a pena 
privativa de liberdade pode ser substituída pela internação, ou 
tratamento ambulatorial, pelo prazo mínimo de 1 (um) a 3 (três) anos, 
nos termos do artigo anterior e respectivos §§ 1º a 4º. 
 
 Resta pacífico na doutrina que após a reforma penal de 1984, a medida de 
segurança substituiu o sistema duplo binário, ou sistema de dois trilhos, que tinha o 
condão de aplicar a medida de segurança de maneira isolada, para o casos de 
inimputabilidade, e a pena e a medida de segurança conjuntamente, para os casos 
de semi-imputabilidade e aos imputáveis considerados com alto grau de 
periculosidade. 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
85 GARCIA, Basileu. Instituições de direito penal, v. l,t. II, p. 593-594 APUD GRECCO, Rogério. 
Curso de direito penal: parte geral. 16. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2014, p. 483 
86 BRASIL. Decreto-lei nº 2.848 de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Diário Oficial da União, 31 
de dez. 1940. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm> 
Acesso em: 12 de outubro de 2015. 
	
  
	
  
	
  
41	
  
O novo modelo aplicado é o sistema vicariante, conhecido também por 
unitário, no qual a medida de segurança é aplicada ao inimputável e a pena ao 
imputável e semi-imputável, podendo, neste último caso, se substituída por medida 
de segurança. 
Nas palavras de Júlio Mirabete87: 
Em decorrência da reforma penal ficaram extintas as medidas de 
segurança impostas aos semi-imputáveis que estão cumprindo ou já 
cumpriram pena, e aos imputáveis considerados real ou 
presumidamente perigosos. A adoção do sistema vicariante impede a 
execução de medida de segurança em casos que tais, já que a nova 
lei eliminou a possibilidade de sua aplicação para os imputáveis e a 
imposição da pena exclui a medida para os semi-imputáveis 
 
 
 A temática ganha especial importância principalmente no contexto dos semi-
imputáveis, pois, conforme assentado anteriormente, assim são considerados os 
psicopatas para a parte dominante da doutrina. Contudo é possível notar, a partir 
dos estudos de caso posteriormente estudados, que, pela dificuldade no diagnóstico 
desses indivíduos o instituto quase sempre não os abarca. 
 Existem duas espécies de medidas de segurança, ambas elencadas pela 
legislação no artigo 96 do Código Penal Brasileiro88: 
“Art. 96. As medidas de segurança são: 
 I - Internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico 
ou, à falta, em outro estabelecimento adequado; 
 II - sujeição a tratamento ambulatorial” 
 
A internação, tem caráter detentivo, e é realizada em hospitais de custódia e 
tratamento psiquiátrico. Esta diretamente relacionada com a realização de exames 
psiquiátricos, criminológicoe de personalidade, com a finalidade de verificar a 
cessação da periculosidade.89 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
87 MIRABETE, Julio Fabrini. MIRABETE, Renato N. Fabrini. Manual de direito penal volume 1: 
parte geral. São Paulo. Editora Atlas, 2011. p. 358 
88 BRASIL. Decreto-lei nº 2.848 de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Diário Oficial da União, 31 
de dez. 1940. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm> 
Acesso em: 12 de outubro de 2015. 
89 MIRABETE, Julio Fabrini. MIRABETE, Renato N. Fabrini. Manual de direito penal volume 1: 
parte geral. São Paulo. Editora Atlas, 2011. p. 361 
	
  
	
  
	
  
42	
  
Zaffaroni90 explicita: “É sabido que, na moderna terapêutica psiquiátrica, a 
internação ocupa lugar cada vez mais reduzido. Existe uma série de análises que 
tendem para sua abolição, enquanto se fomenta o tratamento ambulatorial.” 
O tratamento ambulatorial por sua vez não tem caráter detentivo e sim 
restritivo, ou seja, o paciente ficará obrigado a comparecer à instituição de custódia 
e tratamento psiquiátrico com regularidade para realizar tratamento. Nessa espécie, 
diferentemente da internação, a segregação social não é valorada, pois o agente 
não é privado do convívio social. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
90 ZAFFARONI, Eugênio Raúl. Reflexões acerca do anteprojeto de lei referente à parte geral do 
código penal do Brasil. Ciência penal 1/13. APUD MIRABETE, Julio Fabrini. MIRABETE, Renato N. 
Fabrini. Manual de direito penal volume 1: parte geral. São Paulo. Editora Atlas, 2011. p. 361 
	
  
	
  
	
  
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CAPÍTULO III ANÁLISE DE ESTUDO DE CASOS 
 
 Nesta etapa do trabalho, será iniciada a discussão referente ao estudo de 
casos proposto no início do trabalho. Serão apresentado e analisados dois casos 
diversos, um deles se passa sob a égide do ordenamento brasileiro, já o segunda 
acontece em âmbito estrangeiro (EUA). 
 O relato da história dos psicopatas Pedro Rodrigues filho e Jeffrey Dahmer 
permite análise e comparação quanto a diferentes tipos de psicopatas. Utilizando as 
duas histórias é possível trazer óticas diversas quanto ao tratamento legal destinado 
aos indivíduos considerados psicopatas homicidas. 
 
3.1 Estudo de caso - Pedro Rodrigues Filho 
 
A história de Pedro Rodrigues Filho, o psicopata conhecido como “Pedrinho 
Matador” é esmiuçada na narrativa de Ilana Casoy91 (2014). No entanto, antes de se 
aprofundar no caso a autora promove uma importante contextualização que ajuda o 
leitor a compreender como se formou o conceito que Pedro criou de si mesmo e 
porque, em sua concepção de mundo, seus atos encontravam fundamentos 
baseados na justiça. Segue abaixo as informações mais relevantes. 
Casoy ilustra a realidade do criminoso, a favela, como um local onde o Estado 
não está presente, abrindo espaço para que outras figuras assumam seu papel, 
como as facções criminosas, por exemplo. Na sociedade atual, o jovem almeja o 
título de “soldado do tráfico”, descrito pela autora como uma espécie de herói que 
trabalha em prol de seu próprio povo e assume um status social elevado. 
A sensação de pertencimento e de ação dentro da comunidade é um 
poderoso atrativo para os jovens que não enxergam outra perspectiva. Nos anos 
1980, a alcunha de herói nas comunidades menos favorecidas existia sob outra 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
91 CASOY, Ilana. Serial Killers: made in Brasil. Rio de Janeiro: DarkSide Books, 2014, p. 303-309 
	
  
	
  
	
  
	
  
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ótica, a do justiceiro. Comerciantes locais pagavam até mesmo advogados para 
defender os que faziam a segurança de seus estabelecimentos. 
A autora estabelece ainda a relação entre o tipo de criminoso ou vilão 
retratado na mídia e a reação da sociedade aos mesmos. Há alguns anos, o bandido 
era sempre retratado como um delinquente, alguém mal e sem nenhum tipo de 
sentimento bom, não existia dualidade ou a preocupação em mostrar o “outro lado” 
ou mesmo a trajetória que havia levado o indivíduo até o ponto de cometer crimes. 
Com o passar dos anos, a televisão e as mídias adotaram um posicionamento 
diferente, os personagens começaram a ser retratados com aspectos bons e ruins, 
uma mistura de características e o estereótipo tanto do herói quanto do antagonista 
mudou. Surge a figura do anti-herói e este passa a ser amado por suas imperfeições 
e por ser mais próximo da realidade. As pessoas conseguem se relacionar e até 
mesmo se enxergar nos anti-heróis. 
Inserido nessa sociedade, o modelo de sucesso para Pedrinho e para outros 
criminosos, que apresentam o transtorno de psicopatia ou não, é o do criminoso que 
atende a comunidade em algum serviço de responsabilidade do Estado. Pedrinho se 
enxergava como um justiceiro, como alguém que estava promovendo um serviço e a 
autora reafirma a importância da análise desses fatores que influíram diretamente na 
construção da identidade do assassino. 
Após a iniciativa de Pedro, a pesquisadora analisou o prontuário do criminoso 
na Penitenciária II - Nilton Silva e verificou que ele excedia o tempo de pena em 
regime fechado permitido por lei, estava recolhido há 33 anos. Nos arquivos 
constavam “oficialmente” 71 assassinatos, 40 deles dentro do sistema penitenciário. 
Para contar a vida de Pedro, Casoy dividiu sua vida em quatro etapas, na 
primeira, é retratada a infância do serial killer. Ele foi criado em Santa Rita do 
Sapucaí, Minas Gerais, pelos pais e avós, é o filho mais velho de oito irmãos. O pai 
e a mãe viviam em meio a brigas e agressões físicas constantes, em uma das 
entrevistas, Pedro relata que o pai agrediu a mãe logo antes de seu nascimento, 
causando uma fratura na cabeça do feto. Ele afirmava que a cicatriz ainda era visível 
no diálogo travado em 2005. 
	
  
	
  
	
  
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Os irmãos viviam em uma atmosfera rígida, a mãe, extremamente religiosa 
não permitia sequer que os filhos assistissem televisão, excessivamente carente, 
nunca frequentou a escola. O contato de Pedro com as influências exteriores era 
restrito durante a infância, uma vez que a referência de violência começou dentro do 
ambiente familiar. Os laços de amizade também não se fortaleceram e ele não 
convivia com outras crianças além dos irmãos. Na fase de transição da infância para 
a juventude, chegou a ter uma turma de amigos, mas de acordo com ele, não eram 
boas influências ou boas pessoas. Conforme alguns morreram no crime ou mesmo 
mortos pela polícia segundo Pedro, ele se isolava mais. A alienação social era tão 
grande que a primeira vez que o criminoso recebeu algum tipo de cuidado médico foi 
depois de adulto, no sistema penitenciário. 
A genitora era também quem mais batia nos filhos, o pai era mais adepto aos 
castigos. 
 A avó foi quem ensinou Pedro a beber sangue, segundo os costumes 
religiosos de parte da família,o hábito fazia bem para a saúde e deixava o indivíduo 
mais forte. “É bom para a saúde! [...] Meu avô morreu com 98 anos, fortão ainda”, 
afirma o assassino em entrevista concedida à pesquisadora. O primeiro contato com 
armas brancas e de fogo também aconteceu na infância, o avô o ensinou a manejar 
armas desde cedo. 
Quanto mais velho Pedro ficava, mais influência exercia no ambiente familiar. 
Ele passou a se impor perante o pai, que não agredia a esposa na presença do filho. 
Em seus relatos menciona o sentimento constante de revolta, desde a infância, mas 
o primeiro incidente ocorreu após uma crise familiar, quando Pedro estava com 14 
anos. 
O pai era vigia em uma escola, foi acusado de furtar o lanche escolar e 
demitido. Sem o sustento, a família passou por humilhação e necessidades básicas, 
como fome. Pedro fugiu para um terreno baldio nas proximidades de onde morava e 
passou cerca de 30 dias desaparecido. Ele conta que durante esse período caçava 
macacos e vendia as peles, o dinheiro era destinado ao auxílio dentro de casa. 
	
  
	
  
	
  
46	
  
Quando voltou, propôs que a família fosse para a casa dos avós. No rancho 
da família sabia onde o avô guardava as armas. Roubou duas armas, uma delas, 
uma espingarda, além de munição em abundância e um coturno do avô. 
Pedro culpava o subprefeito, responsável pela demissão de seu pai, e o outro 
vigia da escola, que acreditava ser o verdadeiro ladrão, por todo o sofrimento que 
sua família estava passando. Ficou escondido esperando pelo subprefeito e o 
matou, em seguida se deslocou para a escola e matou o vigia. No segundo 
assassinato, iniciou uma prática que passaria a repetir em seus crimes sempre que 
possível. Ele gostava de explicar para a vítima porque ela estava morrendo, no caso 
do vigia, ele afirma ter dito: “Você viu o que você fez? Acabou com minha família, 
cara! Meus irmãos tão passando fome por sua causa. Isso aí é justo que você 
fez?”92. 
Os dois assassinatos marcam a entrada na segunda etapa da vida de Pedro, 
marcada pelo primeiro homicídio e pelo início de sua relação com o tráfico de 
drogas. 
Depois de cometer os crimes, o sentimento era de justiça feita, ele acreditava 
ter cumprido seu dever. Como foragido, se escondeu na casa da madrinha, onde 
conheceu a mulher que seria a sua porta de entrada no tráfico de drogas, Maria 
Aparecida Rolim, conhecida como Botinha na comunidade local. 
Ela havia assumido o controle do tráfico após a morte de seu marido, antigo 
chefe dos negócios. Era bonita e usava a beleza e a influência na região para atrair 
adolescentes e crianças para a organização criminosa. Pedro se envolveu 
amorosamente com Botinha, que tirou sua virgindade, e passou a trabalhar para ela. 
O relacionamento com a chefe do crime permitiu que Pedro, ainda menor de 
idade, assumisse cargos altos na hierarquia do tráfico, o que passou a incomodar 
traficantes mais antigos e mais velhos, que logo tomaram providências. Os 
criminosos combinaram uma emboscada, mas o plano chegou aos ouvidos de Pedro 
que se adiantou aos rivais. Ao sair com quatro rapazes para buscar um 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
92	
  CASOY, Ilana. Serial Killers: made in Brasil. Rio de Janeiro: DarkSide Books, 2014, p. 305	
  
	
  
	
  
	
  
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carregamento grande de drogas, aproveitou a primeira oportunidade e atirou em 
todos eles, dois morreram na hora e os outros a caminho do hospital. 
Mais uma vez, a polícia procurava Pedro, que ainda não era conhecido na 
região. Ele fugiu quando Botinha morreu, baleada por policiais em uma operação e 
se tornou chefe de seu próprio grupo. Mantendo a visão que tinha de si mesmo 
acreditava agir como alguém justo e seguia um código moral baseado em suas 
convicções. Vendia drogas apenas para traficantes e em altos volumes, se 
esforçava para só cometer homicídios em casos de vingança e nunca levava 
produtos roubados ou drogas para casa. 
Além do ritual de esclarecer para a vítima o motivo do crime de homicídio, 
usava roupas vermelhas no momento do crime e roupas pretas no velório. O serial 
killer não revela as circunstâncias de sua primeira prisão, mas narra com detalhes os 
sentimentos que o invadiram. 
A entrada de Pedro no sistema prisional marca o início da terceira etapa de 
sua história. Mesmo afirmando ter matado mais de 30 pessoas antes da primeira 
prisão, não acreditava estar preparado para o que o esperava. “Inferno” é a palavra 
usada repetidamente pelo criminoso para descrever o ambiente no mínimo, 
insalubre, da casa de detenção. O psicopata passou determinado período de tempo 
no que chama de “chiqueirinho”, uma espécie de isolamento ou solitária. 
Ao ser liberado e passar a conviver com os outros presos novamente ouviu 
uma frase que repete como se estivesse ouvindo novamente. Um dos criminosos 
que dominava a cadeia tinha a fama de abusar sexualmente de todos os novos 
internos e disse: “Carne nova para mim hoje”93, se referindo a Pedro, que estava 
estabelecido como seu novo colega de cela. 
Antes que o estuprador tivesse a oportunidade de abusar de Pedro, ele 
decidiu tomar providências. Na primeira noite, esperou que o infrator dormisse e em 
seguida o atingiu na cabeça com um objeto semelhante a um paralelepípedo que 
estava no banheiro. A força foi tamanha e o objetivo de matar claro, uma vez que ele 
esmagou o crânio do colega de cela e em seguida avisou o agente penitenciário do 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
93	
  CASOY, Ilana. Serial Killers: made in Brasil. Rio de Janeiro: DarkSide Books, 2014, p. 307	
  
	
  
	
  
	
  
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crime, alertando que mataria todos que “mexessem” com ele. Sua fama se espalhou 
e os outros presos passaram a temê-lo e respeitá-lo. 
Os próximos crimes de Pedro seriam motivados por um travesti que 
trabalhava na cantina da casa de detenção. Mulheres que apresentam algum tipo de 
fragilidade ou pessoas que inspiram “cuidados” costumam ser pivôs nos crimes de 
Pedro, ele sente a necessidade de proteger essas figuras femininas de alguma 
maneira. Ele protegia a mãe da violência do pai, mas assim que foi preso, perdeu 
sua influência e seu pai aproveitou a oportunidade para matá-la. 
Ele afirma que não se relacionava com o travesti, mas uma briga envolvendo 
a “moça”, como ele se refere, e dois internos chegou ao seu conhecimento. Pedro 
conta que o foi tirar satisfação com os dois homens e por causa do desrespeito 
deles à sua condição de chefe do crime, foram mortos. 
Foi após esses dois homicídios que Pedro recebeu seu primeiro apelido, um 
promotor de justiça o denominou como “Vampiro do Carandiru”. A mídia escolheu 
outro nome e a propagação da fama de Pedrinho Matador marca a quarta etapa de 
sua vida. 
A justiça adotou a mesma alcunha e o apelido passou a caracterizar o homem 
que estava entre os maiores assassinos do Carandiru. Segundo as contas de 
Pedrinho Matador, ele é o responsável por mais de 100 mortes e com o tempo e as 
condições limitadas da prisão ele desenvolveu diferentes formas de matar. Canetas, 
óleo quente e arsênico estão entre os objetos usados pelo serial killer, mas em 
muitos casos, ele usava as próprias mãos, como nos casos de estrangulamento,por 
exemplo. 
Pedro foi transferido para a Casa de Custódia de Taubaté, onde um de seus 
passatempos era dar socos repetidos na parede da cela até que recebeu permissão 
para ter um saco de areia, onde ainda pratica socos. A fama o seguiu e é conhecida 
por presos e empregados da prisão, o temor e respeito que inspira aos presos já foi 
até mesmo usado pelos agentes para dominar os detentos. 
	
  
	
  
	
  
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Após a transferência se envolveu com uma funcionária e afirma que ela fez 
com que ele passasse a ter novas perspectivas de vida. Afirma que não comete 
mais homicídios ou cede às provocações de rivais na prisão. Para ele o crime não é 
o mais mesmo e as organizações criminosas interferem nas rixas determinando 
quem está certo ou errado e punindo. 
Pedro Rodrigues Filho foi condenado a quase 400 (quatrocentos) anos de 
prisão94 e tem perspectiva de ser liberado até o final do ano vigente, 2015 
 
3.2 Estudo de caso – Jefrey Dahmer 
 
 Segundo o autor Harold Schechter95, Jeffrey nasceu no ano de 1960, em 
Milwaukee, cidade mais populosa do estado de Wisconsin, nos Estados Unidos da 
América e foi criado em Bath, Ohio. Segundo Schechter (2013), Dahmer cresceu em 
um ambiente confortável de classe média, mas não encontrava harmonia dentro de 
casa. Os pais nutriam verdadeiro sentimento de ódio um pelo outro e o lar abastado 
não tinha paz, uma vez que as brigas aconteciam constante e diariamente. Assim 
como Pedro, Dahmer era o primogênito e em meio ao âmbito familiar de caos, pouca 
atenção era destinada ao jovem. Esquecido pelos pais e sem amigos, o processo de 
isolamento foi se tornando cada vez mais intenso. 
Em pouco tempo, começou a encontrar artifícios para chamar atenção, o 
sentimento de carência produzia comportamentos anormais em Dahmer. Já na 
época do Ensino Médio, apesar de ser um excelente aluno, causava tumultos em 
sala de aula. Schechter (2013) escreve que durante as aulas o jovem gritava, 
produzindo sons semelhante a balidos de ovelha e simulava ataques epiléticos nos 
corredores da escola. 
Em casa, a situação não se mostrava diferente, com liberdade quase que 
total, uma vez que os pais pouco lhe prestavam atenção, possuía um verdadeiro 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
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  SCHECHTER, Harold. Serial killers, anatomia do mal; tradução de Lucas Magdiel – Rio Janeiro: 
Dark Side books. Pg. 142	
  
95	
  SCHECHTER, Harold. Serial killers, anatomia do mal; tradução de Lucas Magdiel – Rio Janeiro: 
Dark Side books. Pg. 391 - 393	
  
	
  
	
  
	
  
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matadouro em um galpão no quintal. Dahmer caçava pequenos animais nas 
imediações de casa e os matava. Porém, o prazer de apenas tirar a vida daquelas 
criaturas indefesas não era o suficiente para a mente e os desejos doentios do futuro 
serial killer. Os corpos sem vida eram esfolados, e a carne raspada dos ossos com 
ácidos, em seguida os esqueletos, em sua maioria de esquilos, ficavam expostos no 
galpão, como medalhas ou prêmios. Quando não ia até o fim do processo, ele 
enterrava os animais em um terreno ao lado de casa. Em outras oportunidades, 
optava por fixar as pequenas espécies nas árvores da mata próxima usando estacas 
de madeira. 
Em 1975, crianças da vizinhança passaram por uma experiência quase 
traumática. Ao passear pela pequena floresta situada atrás da residência dos 
Dahmer, os garotos estancaram ao ver a cabeça decapitada e empalada de um 
cachorro, metros depois, encontraram o corpo do cão, esfolado e estripado, fixado 
em uma árvore. 
Outro episódio significativo na vida escolar de Dahmer foi usado pelo autor 
como uma premonição do futuro sombrio que aguardava Dahmer. Os alunos que se 
destacavam no colégio se reuniram para fazer uma fotografia do que era chamado 
de “quadro de honra”. Sem ser notado, Jeffrey se infiltrou entre os outros jovens no 
momento da captura da imagem. A traquinagem não foi descoberta até o momento 
em que a foto foi revelada. O editor, irritado com a situação, riscou e cobriu o rosto 
de Dahmer com uma caneta esferográfica e no retrato publicado no anuário, o jovem 
aparece em meio aos outros estudantes com o rosto envolvido em manchas 
escuras. Para Schechter, “Era uma imagem apropriada. Naquela época, uma 
escuridão morta já tinha começado a envolver a vida de Dahmer.” (p. 391). A bebida 
seria ainda um catalisador que daria vazão aos desejos mais ignóbeis de matança e 
tortura do assassino em série. 
A infância e adolescência marcadas por atitudes bizarras e uma inteligência 
acima da média chegavam ao fim em concomitância com o casamento dos pais. Ao 
fim da trajetória escolar de Dahmer, em 1978, os pais se divorciaram, se mudando. 
Jeffrey, perturbado, carente, com apenas 18 anos e se envolvendo cada vez mais 
	
  
	
  
	
  
51	
  
em fantasias malignas, foi deixado sozinho na casa em que cresceu. A solidão, que 
durante anos se limitou ao âmbito emocional, se consolidou fisicamente. 
Foi neste mesmo ano, semanas após o abandono dos genitores, que Dahmer 
cometeu o primeiro assassinato de uma longa carreira de crimes perversos. O jovem 
adulto deu carona a Steve Hicks, um moço de 19 anos e resolveu convidá-lo para 
conhecer a casa onde ele agora vivia só. Os dois rapazes conversaram, beberam 
cervejas e transaram. No momento em que Steve verbalizou a necessidade de ir 
embora, algo despertou em Dahmer. Os instintos cruéis afloraram, talvez diante do 
iminente “abandono” do jovem com quem acabara de se envolver sexualmente, ou 
até mesmo da oportunidade de externar suas tendências violentas. 
Dahmer acertou Steve na cabeça com um haltere e o estrangulou. Em 
seguida, arrastou o cadáver para o porão, o desmembrou e guardou os pedaços em 
sacos plásticos. Os ossos foram enterrados e horas depois desenterrados. O 
assassino tivera uma ideia melhor: pulverizá-los e espalhá-los na mata atrás de 
casa. 
Começava assim uma trajetória sombria. Dahmer tentou cursar a faculdade 
na Universidade Estadual de Ohio, mas passou apenas alguns meses na instituição. 
Em seguida, se alistou no Exército. A imagem que Jeffrey passava aos amigos e 
conhecidos era de uma pessoa normal, até o momento em que começava a beber, 
quando assumia uma personalidade agressiva, impulsiva e encrenqueira. O plano 
do assassino era servir às Forças Armadas por seis anos, mas após dois, foi 
dispensado. 
A estratégia seguinte foi se mudar para West Allis, pequena cidade próxima a 
Milwaukee, para a casa da avó. Jeffrey começou a trabalhar em um banco de 
sangue, o que pode ser interpretado ironicamente, dado aos desdobramentos 
futuros de sua história de assassinatos e canibalismo. Aos 25 anos, conseguiu outra 
ocupação, em uma fábrica de chocolates, a Ambrosia Chocolate Company. Cerca 
de seis anos após o seu primeiro assassinato, algo despertou novamente no 
aparente “curado” Dahmer. 
	
  
	
  
	
  
52	
  
Frequentando o bar gay da região, logo começou a se relacionar novamente. 
Conheceu um homem com quem alugou um quarto, no Hotel Ambassador. Após 
ficar embriagado e fazer sexo, o casal apagou. Ao acordar, no dia seguinte, Jeffrey 
se deparou com um quadro que seria assustador para qualquer outra pessoa: o 
homem estava morto e sua boca estava pingando sangue. Diante da situação, o 
psicopata se dirigiu a um shopping na região, comprou uma mala e voltou ao hotel. 
Colocou o corpo do homem dentro da mala e foi para a casa da avó de táxi. 
Chegando lá,se livrou do cadáver após desmembrá-lo. 
Mais um ano de abstinência homicida se passou até que Dahmer atacasse 
novamente. Ele conheceu um rapaz em uma boate e o levou para casa. Os detalhes 
do assassinato em si não foram revelados, mas aqui Dahmer retornou aos seus 
rituais da juventude, esfolou e descarnou o crânio da vítima, guardando como uma 
relíquia. A partir desse momento os assassinatos deixaram de se tornar episódios 
isolados e assumiram a característica serial. 
Nessa fase se iniciaram também os incidentes com a polícia. No ano de 1986, 
chegou a ser preso por atentado violento ao pudor quando urinou na frente de 
crianças. Após dois anos passou pela segunda vez pelo sistema prisional, foi detido 
por agressão sexual e aliciamento de menor para fins imorais. Foram dez meses 
preso por dopar um menino de 13 anos e atraí-lo ao seu apartamento onde lhe 
acariciou com intuito sexual. Dahmer foi liberado em março de 1990. 
Em 1991, três homicídios se somaram em sua extensa lista. Em um 
determinado momento, o apartamento começou a exalar um cheiro pútrido e logo 
incomodou os vizinhos. Eles se reuniram para bater na porta do assassino, reclamar 
e questioná-lo. O poder de persuasão e a frieza do psicopata passavam por uma 
das suas grandes provas e a venciam. Dahmer conseguiu convencer os moradores 
de que seu freezer havia quebrado e que a carne havia apodrecido. Em uma 
entrevista concedida a um canal de televisão americano, depois de sua prisão, 
Dahmer conta o final da história, os vizinhos se compadeceram de sua situação e 
lhe compraram um novo freezer. 
Em 1991, suas “habilidades” seriam testadas novamente. No dia 27 de maio, 
duas mulheres flagraram o serial killer perseguindo um jovem pelado e sangrando 
	
  
	
  
	
  
53	
  
pela rua e entrando em um beco. Logicamente, a polícia foi acionada. Quando as 
autoridades chegaram ao local, Dahmer se revestiu de uma calma petrificante e 
convenceu os agentes de que ele e o adolescente eram um casal passando por um 
desentendimento insignificante. O desesperado jovem foi abandonado a própria 
sorte e ao bel prazer de seu agressor e posteriormente assassino. Seus restos 
mortais foram identificados junto a tantos outros no covil de Dahmer. 
Em dois meses, mais cinco vítimas caíram nas garras do psicopata. Em julho 
de 1991, o reinado de terror de Dahmer chegava ao fim. Um rapaz vagando, 
desorientado, cambaleando e com algemas penduradas em um dos pulsos foi 
avistado por patrulheiros de Milwaukee, Dahmer viveu a maior parte de sua fantasia 
assassina na cidade em que nasceu. 
A vítima, em visível estado de pânico gesticulou para os agentes de 
segurança e balbuciando apontou desesperadamente para o apartamento de seu 
pior pesadelo, afirmando quase ter sido assassinado. O relato do rapaz, no entanto, 
não preparou os policiais para o verdadeiro show de terror que os esperava na casa 
de Jeffrey. 
Fotos polaroide de pedaços humanos e corpos mutilados se multiplicavam 
nas gavetas da cômoda do quarto do assassino, entre elas, uma especialmente 
macabra, um torso corroído até a altura dos mamilos. As imagens porém, eram 
apenas a ponta de um iceberg sangrento. No congelador do apartamento as 
autoridades se depararam com três cabeças humanas, e um verdadeiro açougue de 
órgãos humanos. Pulmões, intestinos, fígados, rins e um coração faziam parte do 
estoque de Dahmer. Ele chegou a confessar que estava armazenando o coração 
para “comer mais tarde”. 
Na geladeira, mais uma cabeça. Ela estava em uma caixa aberta de 
bicarbonato de sódio. Os ossos correspondentes dos corpos que tiveram seus 
órgãos arrancados também foram encontrados pelo apartamento. Sete crânios e 
cinco esqueletos completos foram descobertos. Outros fragmentos humanos vistos 
como souveniers pelo assassino também foram desvendados, pequenos pedaços 
de osso, mãos em processo de decomposição e até mesmo órgãos sexuais 
dispostos em uma panela completavam o quadro sinistro. O material usado nas 
	
  
	
  
	
  
54	
  
loucas receitas e experiências de Dahmer também foi encontrado, três serras 
elétricas e garrafas de substâncias como ácido, formaldeído e clorofórmio, altamente 
corrosivas. 
Na camâra mortuária do psicopata foram identificadas partes de 11 vítimas, 
mas o homicida confessou ter cometido 17 assassinatos no total. O julgamento 
ocorreu no ano seguinte, em 1992. A defesa descreveu o cenário mental como 
loucura, usando a seguinte expressão para constatá-la: “caveiras em um armário, 
canibalismo, criar zumbis, necrofilia, lobotomias, escarnação” (p. 393). O apelo ao 
choque não foi suficiente, no entanto, e Jeffrey foi declarado culpado e sentenciado. 
Jeffrey fora sentenciado, após um júri de cinco horas de duração, considerado 
são e penalmente responsável, sua sentença atribuída com 15 prisões perpétuas 
consecutivas, totalizando 957 anos de reclusão. Em seu depoimento final, externou 
a vontade de morrer e não imaginava que seria obedecido pouco tempo depois. 
Em seu julgamento, Dahmer declarou96: 
Meritíssimo, agora está terminado. Este nunca foi um caso do qual 
tentei me libertar. Nunca quis a liberdade. Francamente, eu queria a 
morte pra mim mesmo. Este caso é pra dizer ao mundo que eu fiz o 
que fiz, mas não por razões de ódio. Não odiei ninguém. Eu sabia 
que era doente, ou perverso, ou ambos. Agora acredito que era 
doente. Os médicos me explicaram sobre minha doença e agora 
tenho alguma paz... sei quanto mal eu causei... Graças a Deus não 
haverá mais nenhum mal que eu possa fazer. Acredito que somente 
o senhor Jesus Cristo pode me salvar dos meus pecados... Não 
estou pedindo nenhuma consideração. 
 
Em 1994 um colega de cela o espancou até a morte. Seu cérebro foi 
removido e o corpo cremado. A vida de Dahmer e sua existência na terra se 
encerrou da mesma maneira desarmoniosa que grande parte de sua infância e 
adolescência. O cérebro de serial killer se tornou objeto de disputa entre seus pais. 
A mãe de Jeffrey desejava doar o órgão à ciência, com o intuito de auxiliar os 
estudos referentes às origens misteriosas de seu comportamento considerado 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
96	
  CASOY,	
  Ilana,	
  Serial	
  Killers:	
  Louco	
  ou	
  cruel,	
  Rio	
  de	
  Janeiro:	
  Darkside	
  books,	
  2014	
  p.167	
  
	
  
	
  
	
  
55	
  
inexplicável. O pai, no entanto, manifestou o desejo de “esquecer tudo aquilo e 
seguir em frente”97, exigindo que o cérebro do filho fosse destruído. 
O conflito foi decidido juridicamente em dezembro de 1995, um juiz 
determinou que o órgão fosse cremado. O agente da Lei tomou a decisão baseado 
no testamento de Dahmer, no qual ele expressou esse desejo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
97	
  SCHECHTER, Harold. Serial killers, anatomia do mal; tradução de Lucas Magdiel – Rio Janeiro: 
Dark Side books. Pg. 393	
  
	
  
	
  
	
  
56	
  
CAPITULO IV ANÁLISE PSICOJURÍDICA DOS CASOS 
 
Em face dos casos acimas aludidos, surge a necessidade de realizar uma 
apreciação, tanto dos fatos ocorridos, quanto dos perfis psicológicos, realizando um 
paralelocom as teorias jurídicas penais aplicadas. Deve-se medir a aplicabilidade e 
efetividade da legislação criminal pátria, analisando os institutos levantados e 
correlacionando-os aos casos supracitados. 
Como método de análise, compete o cotejo das informações centrais, 
traçando um paralelo, por meio de tabelas informacionais entre ambos os seriais 
para, por fim levantar novos parâmetros e referências, no âmbito multidisciplinar 
para o trato de temática tão delicada e particular. 
 
 
Quadro 01 - Ambiente familiar – pais 
 
Pedrinho Matador 
 
- Família de classe baixa. 
- Filho primogênito. 
- Brigas constantes entre os pais. 
- Ambiente familiar hostil e violento, o pai 
agredia a mãe frequentemente. 
- Esquecido na conjuntura familiar devido 
às constantes brigas. 
- Apanhava muito da mãe. 
- Influenciado pelos avós pela falta de 
atenção dos pais. 
- Não tinha amigos. 
Jeffrey Dahmer 
 
- Família de classe média. 
- Filho primogênito. 
- Brigas constantes entre os pais. 
- Ambiente familiar hostil. 
- Esquecido na conjuntura familiar 
devido às constantes brigas. 
- Abandonado pelos pais após o 
divórcio aos 18 anos. 
- Não tinha amigos. 
 
 
A situação familiar de ambos os assassinos em série mostra-se similar, dentro 
de um ambiente familiar excessivamente hostil e conturbado. A negligência parental 
e a solidão fomentam o desvio de conduta que será presente na mais tenra infância. 
A violência era tida como valor constantemente reforçado dentro dos lares, e 
a figura de poder também era quase sempre a figura que impunha castigos, tanto de 
natureza física quanto psicológica, minando a já frágil estrutura psicológica desses 
	
  
	
  
	
  
57	
  
indivíduos. Isso corrobora com o que os autores determinam como fatores de pré-
disposição, aspectos sintomáticos que sugerem uma possível conduta porvindoura. 
 
 
Quadro 02 - Episódios na infância 
 
Pedrinho Matador 
 
- Ainda na fase gestacional sua mãe foi 
agredida pelo marido, sofreu um chute na 
região do ventre ocasionando uma lesão 
craniana em Pedro, cicatriz que carrega até 
os dias atuais. 
- Após a demissão do pai por um suposto 
caso de roubo, ficou desaparecido por 30 
dias. Estava em uma mata próxima caçando 
e matando macacos para ajudar no sustento 
da família vendendo as peles. 
 
Jeffrey Dahmer 
 
- Causava tumultos em sala de 
aula, gritava imitando balidos de 
ovelha e simulava ataques 
epiléticos nos corredores. 
- Caçava e matava pequenos 
animais nos arredores de casa. 
Guardava os corpos no galpão, os 
esfolava e removia a carne dos 
ossos com ácidos. 
- Prendia os corpos dos animais 
mortos em árvores de mata 
próxima. 
 
A infância também trás algumas semelhanças e traços bastante 
característicos de indivíduos tendentes a apresentar psicopatia em um futuro 
próximo. O episódio gestacional de Pedro Rodrigues Filho oferece uma ampla gama 
de causas para seu comportamento. A agressão sofrida pela mãe, ainda no período 
de gestação, gerando por conseguinte uma lesão craniana no feto empresta tanto o 
motivo genético, quanto hereditário e fisiológico. 
Um aspecto de bastante relevância, ainda relacionado à infância é a 
predileção por matar animais, de diversos portes. Segundo Harold Schechter98, a 
tortura de animais revela o sadismo precoce que os psicopatas desenvolvem na 
infância. Segundo o referido autor: “Para eles, torturar animais não é uma fase. É um 
ensaio”99. 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
98	
  SCHECHTER,	
  Harold.	
  Serial	
  killers,	
  anatomia	
  do	
  mal;	
  tradução	
  de	
  Lucas	
  Magdiel.	
  Rio	
  Janeiro:	
  Dark	
  de	
  side	
  
Books,	
  2013	
  	
  
99	
  Idem,	
  p.41	
  
	
  
	
  
	
  
58	
  
Não há que se negar que nos dois casos essa conduta fora extremamente 
presente, Pedrinho retirava a pele de macacos para vender e sustentar sua família, 
contudo tal ato estava intimamente ligado ao prazer relacionado ao fato de tirar uma 
vida, já Jeffrey vinha cultivando sua curiosidade pela vida e morte, e suas 
experiências com animais demonstraram-se um estágio, vindo, na sequência a 
promover experimentos com humanos. 
 
 
Quadro 03 - Primeiro crime 
 
Pedrinho Matador 
 
- Com 14 anos, matou o subprefeito e 
um vigia, ex-colega de trabalho de 
seu pai. Ele acreditava que os dois 
eram os responsáveis pelas 
dificuldades da família. Explicou a 
segunda vítima, o vigia, o porquê do 
assassinato e depois fugiu. 
- Não foi responsabilizado 
penalmente pelo crime. 
Jeffrey Dahmer 
 
- Com 18 anos, deu carona a um rapaz, o 
convidou para sua casa e os dois 
transaram. No momento em que o jovem 
decidiu ir para casa, o acertou na cabeça 
com um haltere e o estrangulou. 
Desmembrou o corpo e pulverizou os 
pedaços, jogando as cinzas no quintal de 
casa. 
- Não foi responsabilizado penalmente 
pelo crime . 
 
 
 À primeira vista, defrontra-se com a primeira diferença perceptível entre os 
dois personagens, a idade com a qual ambos cometeram seu primeiro homicídio. 
Pedrinho teve contato com sua primeira vítima aos quatorze anos, por motivos, 
dentro de sua concepção, de relevante valor moral, já Dahmer cometeu seu primeiro 
crime somente aos dezoito anos, por motivos incertos, caprichos, ou motivação 
pueril. 
 Entretanto, não é possível desconsiderar a condição socioeconômica de 
Pedro, fato esse que fez com que o menino tivesse que encarar de maneira precoce 
as atribuições e responsabilidades da vida adulta, levando portanto a uma transição 
para a fase adulta de maneira prematura, fato esse que não aconteceu com Jeffrey. 
	
  
	
  
	
  
59	
  
 É possível então influir que ambos os crimes foram praticados logo nas 
primeiras passadas da vida adulta, ou do desenvolvimento mental completo. Quando 
sentiram-se maduros e responsáveis experimentaram a execução completa do ato 
que por incontáveis vezes idealizaram em seu imaginário. 
 O fato de não terem sofrido qualquer tipo de sanção penal em face do crime 
praticado também pode ter servido como estímulo para o cometimento de novos 
crimes. No caso específico de Jeffrey, a polícia somente soube a respeito do seu 
primeiro assassinato após sua confissão, momento de sua última prisão. 
 
 
Quadro 04 - Modus operandi 
 
Pedrinho Matador 
 
- Usava, predominantemente facas e armas 
brancas. 
- Costumava matar apenas quando achava 
que a vítima “merecia” morrer. No momento 
do crime, explicava ao indivíduo o motivo do 
assassinato. 
- O perfil vitimológico costumava ser de 
homens que cometiam algum tipo de 
transgressão dentro do seu código de 
conduta particular. 
- Os crimes eram planejados e executados 
dentro de um padrão. 
- 71 vítimas oficiais, mas afirma ter 
assassinado mais de 100 pessoas. 
Jeffrey Dahmer 
 
- Geralmente, sufocava as vítimas, 
após ministrar drogas, deixando-as 
inconscientes. 
- Desmembrava as vítimas, 
consumia seus órgãos e guardava 
ossos como recordação. 
- O perfil das vítimas era de jovens 
rapazes homossexuais que 
chamavam atenção pela beleza, 
ideal buscado por Dahmer. 
- Os crimes eram planejados e 
executados dentro de um padrão. 
- 11 vítimas identificadas pelos 
restos mortais, mas afirma ter 
matado 17 pessoas. 
 
 
No que tange ao método utilizado para a consumação dos assassinatos em 
série, nota-se uma dessemelhança entre as condutas, tanto pelo emprego de 
instrumentos diversos, quanto nas escolhas dogrupo de indivíduos alvos desses 
seriais. 
Enquanto Pedrinho tinha uma predileção por utilizar armas brancas, Dahmer 
utilizava um método mais engenhoso, dopava suas vítimas com substâncias e em 
seguida utilizava de estrangulamento e sufocamento para tirar-lhes a vida. Há que 
	
  
	
  
	
  
60	
  
se pontuar, contudo, que muitas das execuções de Pedrinho foram no ambiente 
prisional, não cabendo a adoção de métodos mais complexos e engenhosos, não 
restando dúvidas, entretanto, que suas ações eram calculadas e quase sempre 
exitosas, o que explica sua capacidade de sobreviver tantos anos no hostil ambiente 
penitenciário. 
Para adentrar mais profundamente no fenômeno complexo dos assassinatos 
em série é necessário entender que os dois personagens encontram-se em tipos 
diversos de serial killers, segunda Ilana Casoy100, os assassinos seriais são divididos 
em quatro grupamentos distintos, os visionários, missionários, emotivos e sádicos. 
Pedro encontra-se no grupo dos missionários, que, nas palavras de Ilana101: 
“Socialmente não demonstra ser um psicótico, mas em seu interior tem a 
necessidade de livrar o mundo do que julga imoral ou indigno. Escolhe um certo 
grupo para matar, como prostitutas, homossexuais, mulheres ou crianças.” Pedro, 
tinha como grupo alvo os indivíduos que dentro do seu código de ética e conduta 
eram considerados desviantes. Matava quase sempre criminosos, e defendia 
principalmente mulheres. 
Dahmer, de outro modo, encontra-se classificado no grupo dos sádicos que 
segundo a autora: “é o assassino sexual. Mata por desejo, seu prazer será 
diretamente proporcional ao sofrimento da vítima sob tortura. A ação de torturar, 
mutilar e matar lhe traz prazer sexual. Canibais e necrófilos fazem parte desse 
grupo”. 
Infere-se, portanto, que trata-se de dois grupos distintos de assassinos em 
série, e que mesmo distintas, suas condutas são correspondentes a sua 
especificação dentro de um quadro psicopático. 
 
 
 
 
 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
100	
  CASOY,	
  Ilana,	
  Serial	
  Killers:	
  Louco	
  ou	
  cruel,	
  Rio	
  de	
  Janeiro:	
  Darkside	
  books,	
  2014	
  p.21	
  
101	
  IDEM	
  p.21	
  
	
  
	
  
	
  
61	
  
Quadro 05 - Características Gerais do Serial Killer 
 
Pedrinho Matador 
 
- Não apresentava remorso ou 
arrependimento. 
- Homem pardo, solteiro, não constituiu 
família 
- Inteligente 
- Abusos na infância 
- Dificuldade em lidar com figuras de 
poder 
- Extremo isolamento social 
- Lábia/charme superficial 
- Crueldade/falta de empatia 
-Impulsividade 
- Problemas comportamentais precoces 
Jeffrey Dahmer 
 
- Não apresentava remorso ou 
arrependimento. 
-Homem branco, solteiro, não constituiu 
família 
- Inteligente 
- Abusos na infância 
- Dificuldade em lidar com figuras de 
poder 
- Extremo isolamento social 
- Lábia/charme superficial 
- Mentira patológica 
- Crueldade/falta de empatia 
-Impulsividade 
- Problemas comportamentais precoces 
-Comportamento sexual promíscuo 
 
 
 
 
Ao analisar algumas das características trazidas, tanto pela PCL-R, quanto 
por definições criadas pelo FBI, é possível ver que uma grande maioria se encaixa 
ao perfil trazido por ambos os assassinos em série. 
É evidente que existem certas divergências em relação aos dois casos, como 
o apelo sexual de Jeffrey Dahmer, sua especial predileção pelo canibalismo e 
necrofilia. Pedro, por sua vez, apresenta um grupo específico de vítimas, em sua 
maioria criminosos e degenerados sociais. Contudo, dentro dessas divergências 
citadas a seguir, resta claro que ambos enquadram-se de maneira totalmente 
compatível com o perfil já traçado de um psicopata serial. 
 
 
 
 
 
 
 
 
	
  
	
  
	
  
62	
  
Quadro 06 - Imputabilidade e Medida de Segurança 
 
Pedrinho Matador 
 
- Não cumpriu medida de segurança 
- Considerado imputável 
Jeffrey Dahmer 
 
- Não cumpriu medida de segurança 
- Considerado imputável 
 
 
 Em relação à aplicação da medida de segurança, esta é adotada somente 
nos casos de semi-imputabilidade e inimputabilidade. Ocorre que no caso de Pedro 
Rodrigues Filho, o mesmo fora considerado penalmente responsável pelas práticas 
dos delitos, não havendo um enquadramento de seu perfil criminológico à condição 
de semi-imputável, conforme entendido pela maioria da doutrina. 
 Jeffrey Dahmer, teve em seu julgamento o embate probatório a respeito de 
sua sanidade mental, restando patente, por fim, que o mesmo tinha condições de 
entender o caráter ilícito de seus atos e ao momento do crime determinar-se, não 
cabendo sua internação em hospital psiquiátrico de custódia. Importante salientar 
que no bojo da legislação adotada no caso Dahmer incide a corrente bipartida, 
imputável e inimputável, não existindo conforme a legislação pátria a figura dos 
semi-imputáveis. 
 
 
Quadro 07 - Pena e cumprimento de pena 
 
Pedrinho Matador 
 
- Quase 400 anos de prisão. 
- Cumpriu 35 anos em regime 
fechado 
- Previsão de saída definitiva no 
ano de 2015 
Jeffrey Dahmer 
 
- 15 prisões perpétuas consecutivas 
 totalizando 957 anos de prisão. 
- Ficou preso durante 3 anos 
- Foi morto por um detento dentro do sistema 
penitenciário 
 
Em se tratando de pena, resta patente a importância da análise além de seu 
quantitativo, adentrando em suas finalidades e limites. Como aludido anteriormente, 
	
  
	
  
	
  
63	
  
quanto à finalidade da pena, o Brasil adota a teoria mista ou unificadora, que tem por 
fim tanto o caráter retributivo quanto o preventivo, passando ao fim desejado, a 
ressocialização. 
Ao estudar a peculiar situação do psicopata, vemos que na adoção desses 
métodos punitivos não há que se esperar ressocialização, pois somente com 
acompanhamento psicológico e psiquiátrico constante e rotineiro é possível obter 
algum tipo de reinserção social. 
Alguns países descartam o caráter preventivo especial positivo e suas 
ramificações teóricas do âmbito da aplicação da pena. É possível inferir isso a partir 
da pena imposta à Dahmer, que teve cominada quinze penas perpétuas 
consecutivas, a base fundamentadora dessa pena não se encontra fundada na 
ressocialização, tendo em vista que tal indivíduo jamais voltará ao convívio social. 
Essa pena funda-se tão somente na inocuização, segregação social e intimidação 
social. 
Ao passo que Pedrinho, mesmo com a pena cominada em cento e vinte e oito 
anos de prisão, deverá cumprir sua pena respeitados os limites constitucionais, ou 
seja, passará trinta anos em regime fechado e será devolvido para o seio social. 
Contudo, percebe-se que a conjuntura dos psicopatas assassinos em série, 
em regra não permite a ressocialização, ou seja, a finalidade da pena, segundo a 
teoria adotada em nossa legislação, não cumpre seu papel, pela total incapacidade 
psíquica do indivíduo em alterar sua percepção quanto suas práticas delituosas. 
No tocante ao cumprimento de pena, Pedro teve diversos problemas de 
adaptação às casas penitenciárias nas quais cumpriu pena, era tido como figura de 
autoridade, e pela falta de segurança prisional teve seu maior quantitativo de vítimas 
dentro do sistema carcerário. Passou aproximadamente dezesseis anos em Regime 
Disciplinar Diferenciado, popularmente conhecido como solitária, longe do convívio 
com outros detentos., mostrando falta de condições mínimas de ressocialização.Contudo será posto de volta ao convívio social ainda no ano vigente, 2015, sem 
nenhum tipo de acompanhamento ou monitoramento da justiça. 
	
  
	
  
	
  
64	
  
Dahmer, de outra feita, recebeu pena perpétua, conforme exposto, e posto 
em cela individual teve seu cumprimento de pena abreviado por ter sido morto 
dentro do sistema penitenciário por outro detento dentro dos breves períodos de 
convívio carcerário. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
	
  
	
  
	
  
65	
  
 
CONCLUSÃO 
 
Após uma análise a respeito das conceituações de psicopata, seus subtipos, 
definição de serial killer e características gerais, resta patente sua peculiar situação 
psicológica, que, por vezes, mostra-se nociva à sociedade. 
Frente a esse caráter específico, mostra-se manifesto que a legislação 
brasileira não se revela eficaz, tanto na dificuldade em apresentar um diagnóstico 
concreto no bojo de uma persecução criminal, falhando portanto em seu 
enquadramento quanto à culpabilidade , como na reinserção de tais indivíduos no 
seio social no final do cumprimento de suas penas, demonstrando ainda um perigo à 
coletividade. 
Foram apresentandos, dentro das delimitações do trabalho, alguns pontos 
relacionados ao psicopata homicida, no qual mostrou-se a dificuldade de 
enquadramento quanto sua culpabilidade, requerendo a colaboração multidisciplinar 
entre a psicologia jurídica e o direito penal. 
Realizou-se duas analises de estudos de casos nos quais foram 
apresentados os pontos mais relevantes da trajetória de dois assassinos em série. 
Foi selecionado um caso sob a égide da legislação brasileira, e outro sob a ótica de 
outro ordenamento, com a finalidade de tangenciar informações e analisar a tanto a 
construção factual quanto ao desdobramento do caso em face de nova perspectiva e 
novos parâmetros. 
Ao tecer o paralelo entre os dois casos trazidos, resta claro que em ambos os 
casos os indivíduos foram considerados imputáveis penalmente, mesmo com o fato 
de a doutrina majoritária entender o psicopata como semi-imputável, fazendo jus, a 
depender da discricionariedade do magistrado, à diminuição do montante da pena 
ou substituição da pena por medida de segurança. 
	
  
	
  
	
  
66	
  
Essa dificuldade no enquadramento sucede invariavelmente pela dificuldade 
de diagnóstico do indivíduo serial, seus atos criminosos são confundidos por vezes 
com perversão e crueldade. 
Outro ponto a ser citado é o tratamento emprestado pelo instituto da medida 
de segurança ao semi-imputável, especialmente a situação do assassino em série, 
que representa extremo perigo social e deve ser acompanhado de maneira contígua 
pela justiça. A legislação brasileira tende a reduzir seu quantitativo de pena, ou 
substituir a pena, postura essa que tende a ser no mínimo controversa, frente a toda 
potencialidade danosa que esse indivíduo carrega. 
Quanto à pena atribuída a esses indivíduos, em consonância com nossa 
teoria adotada, teoria mista ou unificadora da pena, a pena deve ser capaz tanto de 
retribuir o mal causado pelo agente com uma sanção penal aplicada pelo estado, 
quanto incidir sob seu aspecto preventivo. Ocorre que, por total inabilidade e 
incapacidade pessoal do serial, esse indivíduo tem possibilidades reduzidíssimas de 
adentrar novamente ao convívio social. Sendo assim, a pena não atinge suas 
finalidades, ou seja, não tem eficácia, quando aplicadas em face de um indivíduo 
psicopata homicida. 
Na explanação do caso de Dahmer, resta claro que, pela cominação de 
quinze prisões perpétuas consecutivas, a intenção da pena imposta não era a 
ressocialização e sim a segregação de indivíduo abundantemente perigoso, 
buscando seu isolamento e expurgo do convívio social. 
Alguns pontos ocorreram como limitações do trabalho, a própria utilização do 
direito comparado e análise pormenorizada da legislação estrangeira, apresentando 
um cotejo entre leis. Outro ponto presente foi a abordagem sob o aspecto da 
legislação da execução penal e adequação do sistema penitenciário. 
Limitou-se o trabalho, da mesma forma, quanto aos aspectos criminológicos, 
tais quais antropologia criminal, motivação e análise da vitimologia, aspecto da 
criminologia crítica que busca análise criminal sob a ótica da vítima. 
	
  
	
  
	
  
67	
  
Como futuras pesquisas decorrentes desse trabalho surge a possibilidade de 
adentrar na legislação estrangeira (estadunidense) e abalizar alguns dos institutos 
aplicados no direito estrangeiro e apresentar a possibilidade de agregar institutos ao 
nosso ordenamento jurídico. Outra possibilidade consiste em apresentar a temática 
sob a perspectiva da lei de execuções penais, apresentando modelos prisionais e 
dando especial enfoque à ressocialização do indivíduo psicopata. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
	
  
	
  
	
  
68	
  
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
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