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SENESCÊNCIA DE SENILIDADE De acordo com o IBGE, a porcentagem de brasileiros com mais de 60 anos na década de 40 era de aproximadamente 4% e a estimativa para 2020 é alcançar 12% da população. Além do envelhecimento da população total, a proporção de pessoas com idade acima de 80 anos está aumentando substancialmente. No ano de 2007 a porcentagem deste grupo etário atingiu 1,4% da população brasileira, algo em torno de 1,6 milhões de pessoas. A existência humana é marcada, nos seus extremos, por dois fenômenos opostos, a vida e a morte. O ser humano então, passa pela infância, atravessa a mocidade, atinge a maturidade e, finalmente, chega à velhice. Aparecem, então, os primeiros sinais evidentes da usura de todo o organismo (Rosa, 1983). A velhice é um período de declínio caracterizado por dois aspectos: a senescência e a senilidade. A senescência é o período em que o declínio físico e mental são lentos e graduais, ocorrendo em alguns indivíduos na casa dos 50 e em outros, depois dos 60 anos. A senilidade se refere à fase do envelhecer em que o declínio físico é mais acentuado e é acompanhado da desorganização mental. Aqui, também, encontramos as diferenças entre as pessoas; algumas se tornam senis relativamente jovens, outras antes dos 70 anos, outras, porém, nunca ficam senis, pois são capazes de se dedicarem a atividades criativas que lhes conservam a lucidez até a morte (Rosa, 1983). Senescência é uma fase normal da vida de um indivíduo sadio; geralmente inicia-se depois dos 65 anos e não é manifestação doentia; na senescência não ocorrem distúrbios de condutas, amnésias, perda do controle de si mesmo; em outras palavras, é o velho sadio. Senilidade é doença, também conhecida como demência, onde o idoso (às vezes acomete adultos jovens) perde a capacidade de memorizar, prestar atenção, não consegue mais se orientar, fala sem nexo, vai limitando sua vida ao leito, e chega a perder o controle de urinar e defecar. Só 5% dos velhos padecem de senilidade. Pode-se dizer que o envelhecimento humano ocorre em três níveis diferentes: biológico, psicológico e social. O envelhecimento biológico envolve mudanças fisiológicas, anatômicas, bioquímicas e hormonais, acompanhadas de gradual declínio das capacidades do organismo. O envelhecimento psicológico é traduzido pelos comportamentos (abertos e encobertos) das pessoas em relação a si próprias ou aos outros, ligados a mudanças de atitude e limitações das capacidades em geral. Esses comportamentos trazem como conseqüência a ocorrência de inadaptações, readaptações e reajustamentos dos repertórios comportamentais, face às exigências da vida. O envelhecimento social está relacionado às normas ou eventos sociais que controlam, por um critério de idade, o desempenho de determinadas atividades ou tarefas do grupo etário, e que dão sentido à vida de cada um. Como exemplo, podemos citar: o casamento é um evento que ocorre geralmente nos anos da juventude ou no início da vida adulta. (3) FISIOLOGIA DO ENVELHECIMENTO CELULAR (TEORIAS). Shakespeare, provavelmente, foi quem melhor caracterizou o envelhecimento em sua elegante descrição das sete idades do homem. Começa no momento da concepção, envolve a diferenciação e maturação do organismo e suas células, em algum momento variável do tempo leva à perda progressiva da capacidade funcional característica da senescência e termina em morte. Com a idade, há alterações fisiológicas e estruturais em quase todos os sistemas orgânicos. O envelhecimento individual é afetado em grande extensão por fatores genéticos, dieta, condição social e ocorrência de doenças relacionadas à idade, como aterosclerose, diabetes e osteoartrite. Além disso, há boas evidências de que as alterações induzidas pelo envelhecimento nas células são um componente importante do envelhecimento do organismo. Aqui, discutiremos o envelhecimento celular porque ele pode representar o acúmulo progressivo ao longo dos anos, de lesões subletais que podem levar à morte celular ou a uma capacidade diminuída da célula de responder a lesões. O envelhecimento celular é resultado do declínio progressivo da função e viabilidade celulares causado por anomalias genéticas e acúmulo de danos moleculares e celulares devido aos efeitos da exposição a influências exógenas. Estudos em sistemas experimentais têm estabelecido claramente que o envelhecimento é um processo regulado que é influenciado por um número limitado de genes, e que anomalias genéticas são a base de síndromes que lembram o envelhecimento prematuro também em humanos. Tais achados sugerem que o envelhecimento está associado com alterações mecanísticas definíveis. As alterações conhecidas que contribuem para o envelhecimento incluem as seguintes: Diminuição da replicação celular: O conceito de que a maioria das células normais possui uma capacidade limitada de replicação foi desenvolvido a partir de um modelo experimental simples de envelhecimento. Fibroblastos humanos normais, quando colocados em cultura tecidual, têm um potencial de divisão limitado. Após um número fixo de divisões, todas as células somáticas se tornam estagnadas em um estado terminal de não divisão, conhecido como senescência. As células de crianças sofrem mais ciclos de replicação que as células de pessoas mais velhas. Em contraste, as células de pacientes com a síndrome de Werner, uma doença rara caracterizada por sintomas de envelhecimento precoce, são deficientes na replicação do DNA e possuem uma capacidade acentuadamente reduzida de divisão. Não se sabe, ainda, porque o envelhecimento está associado com a senescência progressiva das células. Nas células humanas, um mecanismo provável é que a cada divisão celular há uma replicação incompleta das extremidades dos cromossomos (encurtamento do telômero), que finalmente resulta em interrupção do ciclo celular. Telômeros são sequências repetidas curtas deDNA (TT AGGG) presentes nas extremidades lineares dos cromossomos importantes para garantir a replicação completa das extremidades cromossômicas e para proteger as pontas dos cromossomos de fusão e degradação. Quando as células somáticas se replicam, uma pequena secção do telômero não é duplicado e os telômeros tornam-se progressivamente encurtados. Como os telômeros tornam-se mais curtos, as extremidades dos cromossomos não podem ser protegidas e são vistas como DNA quebrado, que ativa a resposta de lesão ao DNA e sinaliza para as células a interrupção do ciclo celular. O comprimento do telômero é mantido normalmente por adição de nucleotídeo mediada por uma enzima chamada telomerase. A telomerase é um complexo RNA-proteína especializada, que usa seu próprio RNA como modelo para a adição de nucleotídeos às extremidades dos cromossomos. A atividade da telomerase é inibida por proteínas reguladoras que fornecem um mecanismo sensor do comprimento do telômero e restringem um alongamento desnecessário. A atividade da telomerase é mais alta em células germinativas e está presente em baixos níveis nas células tronco, mas geralmente não é observada na maioria dos tecidos somáticos. Assim, quando as células somáticas se dividem, seus telômeros tornam-se mais curtos e elas saem do ciclo celular, resultando em inabilidade de gerar novas células para substituir as células lesadas. Portanto, o acúmulo de células senescentes e a depleção de grupos de células-tronco via senescência contribuem para o envelhecimento. Por outro lado, em células cancerosas imortais, a telomerase é reativada e os telômeros são estáveis, sugerindo que a manutenção do comprimento do telômero pode ser uma etapa importante – possivelmente essencial – na formaçãodo tumor. A despeito dessas observações atraentes, contudo, a relação da atividade de telomerase e o comprimento do telômero com o envelhecimento e câncer ainda precisa ser completamente estabelecida. A senescência replicativa também pode ser induzida pelo aumento de expressão do inibidor de ciclo celular p16INK4a e por lesão de DNA (discutida adiante). Como esses fatores contribuem para o envelhecimento normal, não está claro. Acúmulo de lesões genéticas e metabólicas. A duração da vida celular é determinada pelo equilíbrio entre lesão resultante de eventos metabólicos que ocorrem dentro da célula e as respostas moleculares neutralizantes que podem reparar a lesão. Um grupo de produtos potencialmente tóxicos do metabolismo normal são as espécies reativas de oxigênio. Como vimos anteriormente, esses subprodutos da fosforilação oxidativa causam modificações covalentes das proteínas, lipídios e ácidos nucleicos. O aumento de lesão oxidativa resulta de repetidas exposições ambientais a influências como radiação ionizante, disfunção mitocondrial ou redução dos mecanismos antioxidantes de defesa com o envelhecimento (p. ex., vitamina E, glutationa peroxidase). A quantidade de lesão oxidativa, que aumenta à medida que o organismo envelhece, pode ser uma causa importante de senescência. As seguintes observações são consistentes com essa proposta: (1) a variação na longevidade entre diferentes espécies é inversamente correlacionada com as taxas de geração mitocondrial do radical ânion superóxido; e (2) a hiperexpressão das enzimas antioxidantes SOD (superóxido-dismutase) e catalase aumenta a duração de vida de formas transgênicas de Drosophila. Os radicais livres têm efeitos deletérios no DNA, levando a quebras e instabilidade do genoma, afetando, assim, todas as funções celulares. Diversas respostas protetoras equilibram as lesões progressivas nas células, e uma resposta importante é o reconhecimento e reparo do DNA lesado. Embora a maioria das lesões de DNA seja reparada por enzimas endógenas de reparo de DNA, algumas persistem e se acumulam à medida que a célula envelhece. Várias linhas de evidência apontam para a importância do reparo de DNA no processo de envelhecimento. Pacientes com a síndrome de Werner exibem envelhecimento precoce e o produto do gene defeituoso é uma DNA helicase – uma proteína envolvida na replicação e reparo do DNA e em outras funções que requerem a liberação do DNA. Um defeito nessa enzima causa o rápido acúmulo de lesões cromossômicas que mimetizam a lesão que normalmente se acumula durante o envelhecimento celular. A instabilidade genética em células somáticas também é característica de outros distúrbios nos quais os pacientes exibem algumas das manifestações do envelhecimento em taxas exacerbadas, como ataxia-telangectasia, na qual o gene mutado codifica uma proteína envolvida no reparo da quebra do filamento duplo de DNA. Assim, o equilíbrio entre lesão metabólica cumulativa e a resposta à lesão determina a taxa na qual envelhecemos. Neste cenário, o envelhecimento pode ser retardado pelo decréscimo de acúmulo de lesões ou pelo aumento da resposta às lesões. Não apenas DNA lesado, mas também organelas celulares lesadas se acumulam à medida que a célula envelhece. Isto é o resultado, em parte, do declínio da função do proteossoma, a máquina proteolítica que atua eliminando proteínas intracelulares anormais e indesejáveis. Os estudos em modelos experimentais, desde leveduras a mamíferos, têm mostrado que o modo mais efetivo de prolongar o tempo de vida é a restrição calórica. Como isto funciona, ainda não está estabelecido, mas o efeito da restrição calórica na longevidade parece ser mediado por uma família de proteínas denominadas sirtuínas. As sirtuínas possuem uma atividade diacetilase de histona e acredita-se que promovam a expressão de vários genes cujos produtos aumentam a longevidade. Esses produtos incluem proteínas que aumentam a atividade metabólica, reduz em a apoptose, estimulam o dobramento das proteínas e inibem os efeitos nocivos dos radicais livres do oxigênio. As sirtuínas também aumentam a sensibilidade da insulina e o metabolismo da glicose e são alvo para o tratamento do diabetes. Não surpreendentemente, os otimistas amantes do vinho têm se deleitado em ouvir que um constituinte do vinho tinto pode ativar as sirtuínas e, portanto, aumenta o tempo de vida! Outros estudos mostraram que os fatores de crescimento, como o fator de crescimento semelhante à insulina, e as vias de sinalização intracelular desencadeada por esses hormônios também influenciam a duração da vida. O fator de transcrição ativado pela sinalização do receptor de insulina induz em genes que reduz em a longevidade, e as mutações no receptor de insulina estão associadas ao aumento da duração devida. A relevância desses achados no envelhecimento em humanos é uma área de ativa investigação. (1) - O envelhecimento celular pode ser dividido em basicamente duas teorias: Teorias sistêmicas: Apesar de muito utilizados em biologia molecular, termos como programa genético ou programa de desenvolvimento não podem ser levados ao pé da letra. O caráter determinista de uma série de instruções utilizadas na programação de computadores não se aplica a processos biológicos, uma vez que a maioria dos processos do desenvolvimento normal de plantas e animais não é diretamente codificada por sequências de nucleotídios no genoma. Este é o caso, por exemplo, do contato e da comunicação entre células, que são vitais para a formação de órgãos. De acordo com o que se conhece, nenhum gene dirige a migração de uma célula ectodérmica até uma posição específica em que ela interage com células mesodérmicas com instruções complementares. Já que essas propriedades não são codificadas com precisão em qualquer fragmento de DNA, não é de surpreender que dois organismos diferentes de uma mesma espécie mostrem, com o tempo, variações significativas moduladas pelo ambiente na maneira como essas interações de organização complexa são expressas. Tomemos o caso da velocidade de desenvolvimento embrionário em humanos. O programa de desenvolvimento em humanos origina uma criança em tomo de 266 dias. Entretanto, sabe-se que aproximadamente 75% das crianças nascem entre 252 e 278 dias, e poucas nascem nos prazos mais curtos e mais longos, sendo a diferença na taxa de desenvolvimento superior a 10%. Assim, se o envelhecimento ocorre devido a um tipo de cascata sistêmica de interações entre os genes e o ambiente, seria bastante plausível admitir variações comparáveis quanto ao tempo necessário para a manifestação dos diferentes biomarcadores do envelhecimento. Apesar de existirem grandes diferenças entre os mecanismos propostos por cada teoria sistêmica, todas são fundamentalmente enraizadas em uma abordagem genética para a análise do envelhecimento. Elas não são puramente deterministas, uma vez que todas admitem, em diferentes graus, a modulação ambiental do envelhecimento e da longevidade. Teorias Estocásticas: O processo de envelhecimento, apesar da grande variabilidade de padrões e ritmos observados entre indivíduos e espécies, possui certa regularidade, no sentido de que as mudanças observadas ao longo do tempo se apresentam mais ou menos gradualmente e, de modo progressivo, ocorre uma redução da capacidade funcional dos organismos. O mesmo pode ser mais ou menos dito a respeito do tempo de vida máximo esperado para cada espécie. Sendo assim, parece pouco provável atribuir o envelhecimento unicamente a fatores aleatórios ou estocásticos.Contudo, essa ideia é a base das teorias que postulam ser a deterioração associada à idade avançada devida à acumulação de danos moleculares ao acaso. Neste cenário, macromoléculas defeituosas poderiam se acumular por meio de diferentes mecanismos: falha em reparar danos ou erros causados aleatoriamente na síntese de macromoléculas. Em ambos os casos, haveria perda de função e de informação vitais para as células. A quantidade dessas macromoléculas incorretas alcançaria um nível em que algumas ou todas as células de um ser vivo estariam tão deficientes, metabolicamente, a ponto de causarem a morte do próprio organismo. Embora tais teorias forneçam mecanismos para explicar os declínios fisiológicos observados com a idade, duas premissas adicionais devem ser levadas em conta ao se tentar compreender como danos aleatórios originam mudanças sistêmicas: a primeira é a necessidade de estabelecer quais células, tecidos ou organismos possuiriam tipos específicos de moléculas que são particularmente sensíveis a certos tipos de dano; a segunda, a necessidade de assumir que espécies de vida longa são mais capazes de tolerar tais danos que espécies de vida curta. Em outras palavras, ou espécies de vida longa têm sistemas de reparo melhores, ou têm maior redundância funcional do que espécies de vida curta. Como será demonstrado nos exemplos a seguir, o número de exceções a essas premissas (particularmente à primeira) sugere que as histórias evolutivas de cada espécie ou grupo de espécies mostram adaptações muito particulares a estilos de vida diversos, com efeitos ainda não de todo esclarecidos sobre o envelhecimento e a longevidade. (2) FISIOLOGIA DO ENVELHECIMENTO DOS SISTEMAS CARDIOVASCULARES: Teorias do envelhecimento cardiovascular: De acordo com estudos realizados por Hayflick, as teorias do envelhecimento podem ser agrupadas em teoria do genoma, fisiológica e orgânica, sendo que os estudos têm mostrado que, em relação ao sistema cardiovascular, as duas últimas seriam as mais aceitas. ■ Teorias fisiológicas: Parecem ser as mais esclarecedoras e claramente mais atrativas para explicar as alterações cardiovasculares ligadas à teoria do cruzamento, mostrando a importância das alterações da matriz proteica extracelular relacionada com o tempo, principalmente do colágeno e substância; essas alterações são a base de explicação do aumento da rigidez pericárdica, valvular e talvez miocárdica e dos tecidos vasculares associadas à idade. ■ Teorias orgânicas: As teorias orgânicas são simples e de fácil com preensão e demonstração, sendo, deste grupo, duas as mais importantes: Imunológica e neuroendócrina. A teoria imunológica oferece pouca explicação para as alterações de seleção específica no sistema cardiovascular, explicando as características de duração da sobrevivência da espécie em termos de disfunção imunológica programada. A teoria neuroendócrina, em combinação com a teoria ligada ao cruzamento, forneceria explicações para muitas alterações cardíacas próprias do envelhecimento. O sistema cardiovascular sofre significativa redução de sua capacidade funcional com o envelhecimento. Em repouso, contudo, o idoso não apresenta redução importante do débito cardíaco, mas em situações de maior demanda, tanto fisiológicas (esforço físico) como patológicas (doença arterial coronariana), os mecanismos para a sua manutenção podem falhar, resultando em processos isquêmicos. As mudanças cardiovasculares eram consideradas tão características ao processo do envelhecimento que algum as pessoas as consideravam a causa deste processo. Com base em seu trabalho de dissecação em seres humanos, Leonardo da Vinci disse que a causa do envelhecimento são “veias que, devido ao espessamento das túnicas, que o corre nos idosos, limitam a passagem do sangue e, com o resultado dessa falta de nutrição, destroem a v ida dos idosos sem provocar febre e os idosos enfraquecem pouco a pouco em um a morte lenta”. Com o avanço da idade, o coração e os vasos sanguíneos apresentam alterações morfológicas e teciduais, mesmo na ausência de qualquer doença, sendo que, ao conjunto dessas alterações, convencionou chamar- se coração senil ou presbicárdia. Ocorre um a evolução diferente de indivíduo para indivíduo, ocasionando alterações hemodinâmicas que se caracterizam por redução da reserva funcional, que é demonstrada pela diminuição da resposta cardiovascular ao esforço observada nos idosos. Alterações Morfológicas: Ao contrário do que ocorre em outros órgãos, o peso do coração aumenta com a idade. O coração humano aumenta em massa aproximadamente 1g/ano nos homens e 1,5g/ano nas mulheres , o que é corroborado por Miguel Jr, quando diz: “(...) O coração é o único órgão que com o envelhecimento não só se atrofia mas, pelo contrário, se hipertrofia. Esta hipertrofia decorre do aumento da pós-carga associada ao envelhecimento, decorrente primordialmente do enrijecimento arterial” . Além do aumento da massa do músculo cardíaco, também se verifica aumento maior da espessura do septo interventricular que da parede do ventrículo esquerdo (VE). No miocárdio, observa-se acúmulo de gordura nos átrios e no septo interventricular, além de degeneração muscular com substituição de células miocárdicas por tecido fibroso, aumento do colágeno, hipertrofia do ventrículo esquerdo, depósitos intracelulares de lipofuscina e de substância amilóide (amiloidose senil). O aumento da resistência vascular periférica pode ser responsável por moderada hipertrofia miocárdica concêntrica principalmente em VE. No Pericárdio as modificações são mais discretas, decorrentes do desgaste progressivo, ocorrendo um espessamento difuso, mais acentuado nas cavidades esquerdas e aumento da taxa de gordura epicárdica. No endocárdio ocorre um espessamento e opacidade, mais evidentes em câmaras esquerdas, com proliferação das fibras colágenas e elásticas, fragmentação e desorganização destas com perda da disposição uniforme habitual, devido ao resultado de hiperplasia irritativa resultante da longa turbulência sanguínea. A partir dos 60 anos, há infiltração lipídica, particularmente no átrio esquerdo. Aos 80 anos as alterações escleróticas são observadas de modo difuso em todas as câmaras. 2.1. Alterações Valvares O tecido valvar é composto predominantemente por colágeno, e por isso, está sujeito a grandes pressões. Com o envelhecimento, ocorre degeneração, espessamento e calcificações destas estruturas. Estas alterações são mais frequentes na aorta e na mitral. Inicialmente ocorre uma redução do conteúdo de mucopolissacárides e aumento de lipídeos; com o aumento da idade, pode haver processos moderados de espessamento, de esclerose discreta, fragmentação colágena e formação de nódulos no bordo de fechamento das cúspides. Na valva aórtica a calcificação pode se estender até o feixe de His, com áreas fibróticas nas bordas das cúspides constituindo as excrescências de lambia. As calcificações na valva aórtica são mais frequentes em homens. Alterações semelhantes ocorrem em artérias coronárias. 2.2. Alterações Vasculares As alterações vasculares podem ser divididas em estruturais e fisiológicas. * Alterações Estruturais: O espessamento endotelial; Calcificação da musculatura lisa; Teor reduzido de fibras elásticas; Aumento do teor de colágeno; Perda da integridade das válvulas venosas. * Alterações Fisiológicas: Menor retração elástica; Tendência para comprometimento da difusão; Complacência reduzida; Tendência para acúmulo venoso; Resistência periférica total aumentada. RESPIRATÓRIAS: Alterações Estruturais: Alterações associadasà idade podem ser encontradas nas estruturas anatômicas do sistema respiratório, tanto da porção responsável pela troca gasosa, tecido pulmonar, como no conjunto musculoesquelético, a caixa torácica e suas inserções musculares. 2.1. Tórax As alterações anatômicas do esqueleto torácico resultam em uma estrutura mais rígida da parede torácica. Foi sugerido que a redução da motilidade no arcabouço costal torácico resultaria de duas alterações primárias. A primeira consistiria em um aumento da ligação cruzada das fibras colágenas dos músculos e das cartilagens costais. A segunda seria principalmente uma alteração da coluna vertebral, aumentando a cifose dorsal devido à desidratação dos discos interbertebrais, tornando a coluna mais rígida e provocando uma redução subseqüente da distância de acolchoamento entre os discos intervertebrais. O resultado composto é um tórax mais rígido e mais curto, que é resistente à deformação e, por conseguinte, requer maior força da musculatura ventilatória para provocar uma alteração na pressão intratorácica. Isto trás como conseqüência o aumento do diâmetro ântero-posterior e diminuição do movimento das gradil costal. 2.2. Pulmão As principais formas de lesões no pulmão senescente consistem em alterações da membrana alveolar, incluindo perda da interface alvéolo-capilar e aumento do tamanho dos alvéolos devido à desnutrição das paredes individuais dos alvéolos . Ocorre também mudanças morfológicas no pulmão do idoso, como o declínio no volume do leito capilar pulmonar, que resulta em aumento da pressão da artéria pulmonar em média 30% e um aumento da resistência vascular pulmonar em até 80%; perda progressiva na área de superfície alveolar de menos de 30% devido a fenestração intra-alveolar. Um achado microscópico típico no pulmão do idoso é a bronquiectasia, que representa a dilatação do bronquíolo respiratório e dos ductos alveolares. Essa bronquiectasia altera a função pulmonar e aumenta o espaço morto anatômico. No interstício pulmonar, as fibras elásticas, o colágeno e a musculatura lisa desempenham importante papel na tensão elástica pulmonar, podendo também sofrer influências do volume sanguíneo pulmonar e do muco brônquico , que, por consequência do aumento das glândulas produtoras de muco, aparece com camadas mais espessas. Mudanças moleculares importantes nas estruturas das proteínas, juntamente com a proteólise da elastina e mudanças na composição e no volume de surfactante pulmonar, são responsáveis pela significativa diminuição no recuo elástico intrínseco no pulmão do idoso, que traz como consequência o aumento da complacência pulmonar. A diminuição da pressão de recuo elástico pulmonar, com a idade, pode estar relacionada com a mudança na quantidade e na composição dos componentes de tecido conjuntivo do pulmão (elastina, colágeno, proteogicanos), embora dados mais recentes questionem tal fato. Vias Aéreas Mudanças estruturais nas vias aéreas superiores e inferiores ocorrem com o avançar da idade. A perda de suporte muscular faríngeo, que juntamente com alterações nas concentrações de elastina e colágeno, predispõe obstrução das vias aéreas superiores, aumenta a rigidez da traquéia e dos brônquios e diminui a elasticidade das paredes bronquiolares. Associadas a outras alterações, como a redução do clearance mucociliar, decorrente da diminuição do número e da atividade das células mucociliares do epitélio de revestimento brônquico, predispondo a um maior risco de infecções, e a perda dos reflexos protetores das vias aéreas, resultam em alta incidência de aspiração brônquica entre os idosos. 2.4. Musculatura Respiratória Os músculos ventilatórios são constituídos de fibras musculares tipo I (contração lenta) e fibras musculares tipo II (contração rápida), semelhantes a outros músculos esqueléticos. Esta constituição permite que a composição do músculo seja responsiva ao padrão de atividade e ao papel funcional que os músculos têm no organismo . No envelhecimento fisiológico, ocorre substituição de tecido muscular por tecido gorduroso, que, somado à redução da mobilidade da caixa torácica, à posição de repouso menos eficiente (diafragma retificado) e à diminuição do número de capilares em relação às fibras musculares, contribui para a redução de massa e potência da musculatura esquelética, acarretando menor capacidade de sustentar o trabalho muscular (endurece). Tais alterações, consequentemente, modificam o desempenho pulmonar e contribuem ainda mais para a redução da função do pulmão com o avançar da idade. DIGESTÓRIAS: 1.Esôfago O esôfago é um órgão composto por musculatura estriada em seu terço proximal e musculatura lisa em seus dois terços distais. Uma complexa inervação intrínseca e extrínseca, além das vias neurais e núcleos no sistema nervoso central, controlam sua motilidade, que se compõe de contrações peristálticas que promovem seu esvaziamento. A musculatura lisa do esôfago pouco se altera com o envelhecimento, mas a sua inervação intrínseca é reduzida significativamente. O conjunto de alterações observadas no esôfago do idoso é denominado como presbiesôfago, caracterizado por diminuição da pressão de repouso e alterações de sincronia e magnitude do relaxamento do esfíncter superior do esôfago (podendo causar disfagia alta), aumento da incidência de contrações não- peristálticas e manutenção da pressão de repouso do esfíncter inferior do esôfago. O presbiesôfago é a principal causa da disfagia esofágica. As alterações da motilidade esofágica em idosos são muito frequentes e raramente associadas a sintomas, por esse motivo, recomenda-se que idosos com disfagia ou demais sintomas esofágicos sejam investigados para doenças envolvendo o esôfago. Para estes pacientes deve-se orientar a administração de medicamentos, por via oral, na posição ortostática e acompanhada de uma boa quantidade de líquidos. Com o envelhecimento, o epitélio escamoso da parte distal do esôfago é gradualmente substituído por epitélio colunar, provavelmente como consequência da agressão repetida do suco gástrico refluído. O refluxo gastroesofágico pode ser um problema secundário resultante de fraqueza do esfíncter esofágico inferior, de deficiência na peristalse, lesão ou doença no estômago. 2. Estômago Estudos indicam de discreta a moderada elevação do tempo de esvaziamento gástrico, especialmente para líquidos, podendo haver prejuízo a efeitos de drogas, que permanecem mais tempo no meio ácido, como cetoconazol, fluconazol, tetraciclinas e indometacina. Ocorre redução da secreção de ácido clorídrico, provavelmente secundária a redução de células parietais, embora estudos mais recente consideram essa redução como uma manifestação inicial de gastrite atrófica (condição em que anticorpos atacam o revestimento gástrico, fazendo com que ele se torne muito delgado e perca muitas ou todas as células produtoras de ácido e enzimas). A secreção de pepsina também se mostra reduzida com o envelhecimento, assim como a produção de fator intrínseco, necessário para a absorção de vitamina B12, mas não a níveis capazes de induzir anemia. A absorção de ferro pode estar parcialmente reduzida devido à hipocloridria, podendo contribuir para o aparecimento da anemia ferropriva. A colonização da mucosa gástrica pela Helicobacter pylori aumenta com o avançar da idade, havendo evidências de relação com a ocorrência de metaplasia intestinal, atrofia gástrica e neoplasia idade-relacionadas. Estudos recentes têm mostrado alterações da composição do muco protetor da mucosa gástrica, com significante declínio do bicarbonato, sódio, secreção não-parietal, prostaglandinas,levando a comprometimento da capacidade regenerativa da mucosa e aumentando a suscetibilidade a fatores lesivos, como antiinflamatórios não-esteroides. 3.Pâncreas O pâncreas, macroscopicamente, sofre redução global do tamanho e peso, com substituição de parte do seu parênquima por tecido colágeno. Entre as alterações histológicas estão a dilatação do ducto principal, proliferação de epitélio ductal, formação de cistos, fibrose e lipoatrofia focal manifestada em exames radiológicos como aumento da densidade do parênquima. A secreção exócrina basal não se altera no idoso, entretanto há redução na produção pancreática máxima. Ocorre redução da capacidade de secreção de lípase e de bicarbonato, provavelmente sem significado clínico. Os níveis séricos de insulina aumentam com a idade, porém a sensibilidade a esta diminui, fazendo com que haja redução da sua degradação, redução do número de receptores na membrana celular de tecidos alvo e, conseqüentemente, redução da velocidade de liberação da insulina pelo pâncreas endócrino. 4. Fígado O fígado, sofre alterações estruturais e funcionais, podendo ter efeitos importantes nas funções hepáticas de síntese, excreção e metabolização 2. Morfologicamente, observa-se diminuição do volume e do peso do fígado, correspondente à redução da massa celular hepática funcionante, porém a arquitetura hepática se mostra pouco alterada. Ocorre deposição importante de lipofuscina (fazendo com que o fígado tenha um aspecto acastanhado), aumento de colágeno, redução da síntese de ácidos biliares, hipertrofia de hepatócitos remanescentes e ampliação dos espaços biliares (podendo alterar a metabolização das drogas). No envelhecimento, há também redução do fluxo sanguíneo hepático em torno de 35% e consequente diminuição do metabolismo de substâncias que são extraídas da circulação pelo mecanismo de primeira passagem. A função excretora também apresenta modificações, com redução da secreção de albumina em até 20%, redução da secreção de colesterol e aumento da secreção de alfa-ácido-glicoproteínas. As alterações na secreção de albumina, podem interferir na farmacocinética de medicações que têm importante ligação à albumina. 5. Vesícula Biliar A sensibilidade da vesícula a colecistocinina (CCK) diminui, a incidência de doença biliar e litíase aumentam com o avançar da idade e a vesícula tende à discinesia. 6. Intestino Delgado O envelhecimento do intestino delgado é marcado por relativa redução da sua superfície mucosa, redução das vilosidades intestinais e redução correspondente do fluxo esplâncnico (40 a 50%) 2. Apesar de estudos demonstrarem que o tempo de trânsito intestinal não apresenta alterações significativas com o envelhecimento, a ocorrência de alterações da motilidade e seus padrões não pode ser excluída. A absorção intestinal parece pouco alterada para a maioria dos nutrientes, porém, alguns estudos mostram que a absorção de nutrientes específicos pode estar reduzida, incluindo vitamina D, ácido fólico, vitamina B12, cálcio, cobre, zinco, ácidos graxos e colesterol, enquanto a absorção de vitamina A e glicose pode estar aumentada. A diminuição na absorção de algumas substâncias pelo intestino delgado, pode esta relacionada ao crescimento bacteriano excessivo neste local, que é influenciado pela redução da produção de ácido gástrico pelo estômago e possivelmente, também pela diminuição da motilidade intestinal 2. Estas alterações podem alterar a farmacocinética de alguns medicamentos e predispor o idoso aos seus efeitos adversos. 7. Intestino Grosso Ocorrem alterações de mucosa, como, atrofia, anormalidades morfológicas das suas glândulas, aumento do tecido conjuntivo e redução da sua distensibilidade (redução de colágeno e elastina). O enfraquecimento da parede do cólon facilita a formação de divertículo. O aumento da prevalência de constipação, o aumento da incidência de neoplasias e o aumento da prevalência de doença diverticular, são alterações evidentemente idade- relacionadas no que se refere ao cólon. Aumento da prevalência de doença diverticular está relacionado a alterações morfológicas e biomecânicas do cólon, como o comprometimento da resistência da parede colônica a pressões intraluminares elevadas. A doença diverticular pode ser assintomática até que ocorra infecção e o individuo torne-se sintomático.A maior incidência de neoplasias, por sua vez, é explicada por algumas teorias: exposição da mucosa colônica a agentes carcinogênicos por períodos prolongados, hiperproliferação das células crípticas e aumento da suscetibilidade da mucosa colônica à transformação maligna com o envelhecimento. A maior freqüência de constipação se deve a fatores como sedentarismo, efeito medicamentoso, redução da ingestão de fibras e líquidos e alterações hormonais, bem como a provável redução dos neurônios do plexo mioentérico associada ao envelhecimento. 8. Reto e Ânus Observa-se um aumento da prevalência de incontinência fecal com a idade devido a fatores como déficit cognitivo, impactação fecal, acidentes vasculares cerebrais, neuropatia diabética. Algumas alterações intrínsecas ao envelhecimento também contribuem para a incontinência, sendo elas: alterações da musculatura do esfíncter externo, com espessamento e alterações estruturais do tecido colágeno e redução da força muscular, associado a alterações na automaticidade muscular esquelética, atribuída, parcialmente, à lesão mecânica crônica dos nervos pudendos ENDÓCRINA: De acordo com uma das teorias biológicas do envelhecimento, a teoria neuroendócrina, a presença de um marcapasso central levaria à falência do sistema endócrino, e as alterações neste sistema (e no sistema imune) associadas à idade levariam à deterioração do organismo e ao processo do envelhecimento. A secreção hormonal obedece a um “ritmo de 24 horas” e são influenciadas por fatores endógenos e exógenos. Estudos demonstraram relação entre o ritmo de sono e o ritmo de secreção hormonal. Dessa forma, deve-se elucidar totalmente se a insônia do idoso contribui para a diminuição da secreção do hormônio do crescimento (GH), por exemplo. As alterações na secreção hormonal podem contribuir para doenças encontradas nesta faixa etária. 1. Hipófise A glândula pituitária, ou hipófise, do idoso sofre alteração especialmente no seu volume, o qual é reduzido em não mais que 20%. Pode ocorrer aumento do tecido fibroso, das células cromófobas e eosinófilas, bem como grande incidência de microadenomas. O hormônio do crescimento (GH), principal hormônio anabolizante, secretado pela hipófise anterior, desempenha importante papel no metabolismo de carboidratos, lípides e proteínas e é fundamental na manutenção da composição corpórea. A sua secreção é máxima nas primeiras horas de sono profundo. A secreção de GH é reduzida em aproximadamente 14% por década a partir da terceira década de vida. A secreção noturna de idosos (60-75 anos) está reduzida, assim como os níveis plasmáticos na média das 12 horas noturnas. A prolactina, também produzida pela hipófise anterior, é alvo de controvérsias. Alguns estudos admitem que seus níveis aumentam, permanecem inalterados ou, o que é mais provável, diminuam principalmente em mulheres durante a menopausa, devido à queda nos níveis de estrógeno circulante. O hormônio antidiurético, secretado pelo hipotálamo e armazenado na hipófise posterior, tem a sua secreção aumentada no idoso ou, pelo menos, potencialização de sua ação. A secreção aumentada deste hormônio poderia ser um dos fatores responsáveis pela hiponatremia, observada com freqüência em idosos. 2. Eixo hipófise – córtex-supra-renalA hipófise e os níveis plasmáticos do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), sob condições de equilíbrio, permanecem essencialmente os mesmos em idades mais avançadas. Há, porém, um retardo do feedback negativo, observando-se níveis mais elevados de ACTH e cortisol no idoso, comparado aos adultos jovens. Já os hormônios andrógenos adrenais, também regulados pelo ACTH, declinam com a idade. A deidroepiandrosterona (DHEA) e seu ester sulfato (DHEA-S) sofrem redução após os 20 anos (após seu ápice), chegando aos 60 anos a um terço ou menos do valor máximo. A aldosterona, mais importante mineralcorticóide, apresenta secreção e níveis plasmáticos reduzidos no idoso, em razão da diminuição da secreção da renina. 3. Pâncreas endócrino Mais de 50% dos idosos (mais de 60 anos) apresentam alteração do teste de tolerância à glicose, com os níveis de glicemia apresentando maior retardo para atingir níveis normais após a administração oral ou parenteral de glicose. Associa-se esse aumento da tolerância à glicose a fatores como: aumento da resistência à insulina devido ao aumento do tecido adiposo em idosos; redução da sensibilidade dos tecidos à insulina e ao glucagon; maior liberação de ácidos graxos e dos níveis plasmáticos de proinsulina. Apesar da liberação da insulina pelo pâncreas do idoso estar reduzida em condições de hiperglicemia, os níveis plasmáticos encontram-se elevados, provavelmente em decorrência da diminuição de seu clearance. 4. Eixo hipófise-tireóide A tireóide torna-se mais fibrótica e nodular, além de ter seu volume reduzido. Não ocorre alteração significativa dos níveis de hormônios circulantes, porém ocorre redução no ritmo de produção de tiroxina (T4) e triiodotironina (T3) em 25% e 33%, respectivamente. Há também declínio da conversão periférica de T4 em T3. Não ocorre modificação significativa do nível basal do hormônio estimulante da tireóide (TSH), mas observa-se ausência ou diminuição de resposta da hipófise ao estímulo pelo hormônio liberador da tireotrofina (TRH), conseqüente à diminuição da função tireotrofopituitária. 6. Hormônios masculino e feminino Com o avançar da idade, o homem apresenta declínio progressivo da capacidade reprodutora, embora não a perca totalmente como acontece com as mulheres. A testosterona total reduz, bem como a forma livre e a biodisponibilidade. Em homens acima de 50 anos, estudos mostram elevação dos níveis séricos e urinários dos hormônios luteinizante (LH) e folículo-estimulante (FSH). Nas mulheres, o ovário torna-se involuído, fibrótico e com redução do peso de 20g para aproximadamente 2,5g. Os níveis de FSH elevam-se acentuadamente, porém declinam a partir de no máximo cinco anos pós-menopausa. O LH apresenta elevação mais atenuada. Em razão das modificações anatômicas, a resposta do ovário ao FSH e LH declina, sendo a redução do estradiol e de estrona de cerca de 90% e 70%, respectivamente, em mulheres idosas. IMUNIDADE: Assim como a maioria das funções do corpo, a função imune declina com a idade havendo uma maior suscetibilidade a infecções, tumores e fenômenos auto-imunes. O perfil imunológico do indivíduo idoso representa uma variável controversa, porém sua modificação, tornando-se menos eficiente, é consenso. As células T apresentam grande vulnerabilidade aos potenciais efeitos deletérios do envelhecimento, comparado às demais células do sistema imune. Elas são associadas às significativas modificações na resposta imune durante o envelhecimento, em decorrência do comprometimento da sua função proliferativa e aumento na proporção de células que funcionam pobremente. O comprometimento da capacidade replicativa é atribuído tanto à menor secreção da interleucina-2 (fator de crescimento da célula T) pela célula T – auxiliar, como também à menor resposta celular a esse fator de crescimento. A perda da capacidade replicativa, irreversível, tem como consequência o aumento da proporção de células com a função alterada, as quais falham ao responder ao estímulo ativador. Este fenômeno é denominado senescência replicativa e é consequência da divisão celular e não de um tempo cronológico. O aumento da proporção das células T de memória em relação às células T ingênuas (sem contato com antígenos), também compreende uma consequência do envelhecimento do sistema imune. Dessa forma, ocorre redução do potencial de reatividade a novos antígenos, fato que contribui para a imunodeficiência na idade avançada. Sabe-se que além da perda da função celular, ocorre uma modificação da habilidade em responder aos eventos de ativação e modificações básicas da resposta aos eventos desta ativação no envelhecimento. Enquanto algumas células podem não liberar interleucina-2 após a ativação, elas passam a liberar fatores como o interferon-γ, fator de necrose tumoral, interleucina-1, interleucina-6 e fator de crescimento tumoral em maior quantidade que as células mais jovens. Os leucócitos (linfócitos, monócitos, células NK (Natural Killer) e polimorfonucleares) não apresentam alterações na sua quantidade, mas sim na qualidade (mecanismos de ativação). Além de descreverem a ausência de alterações, autores sugerem um aumento da subpopulação T-auxiliar e diminuição da subpopulação T-citotóxica. Os linfócitos B sofrem pouca ou nenhuma alteração, bem como nos níveis de anticorpos. Contudo os títulos de anticorpos para partículas estranhas caem e os auto-anticorpos aumentam com a idade, em decorrência da diminuição do potencial de regulação imune. Com o envelhecimento, a função do sistema imunológico vai perdendo a capacidade de controlar e erradicar as células anormais à medida que elas surgem no organismo, o que explica, em parte, o aumento da incidência de processos malignos nessa fase da vida. O aumento da atividade do sistema imunológico ou a perda do controle de alguns dos seus aspectos, também está ligado ao envelhecimento, observando-se na população idosa aumento da incidência de mieloma múltiplos, anticorpos antidiotípicos (anticorpos direcionados contra outros anticorpos) e auto-imunes. O timo sofre atrofia progressiva e no final da vida torna-se praticamente um órgão vestigial. MUSCULAR: A musculatura esquelética do idoso produz menos força e desenvolve suas funções mecânicas com “lentidão”, uma vez que diminui a excitabilidade do músculo e da junção mioneural. Há uma contração duradoura, um relaxamento lento e aumento da fatigabilidade. A diminuição da força muscular na cintura pélvica e nos extensores do quadril resulta em maior dificuldade para a impulsão e o levantar-se; e a diminuição da força de mão e do tríceps torna mais difícil o eventual uso de bengalas. A massa muscular diminui em média cerca de 30 a 40% em pessoas com 80 anos de vida. Ocorre uma diminuição no número das fibras musculares e diminuição do seu tamanho, além de ocorrer também redução na inervação, permanecendo algumas vezes denervadas e atrofiadas. No músculo dos idosos ocorre degeneração tanto das fibras brancas como das fibras vermelhas, algumas fibras musculares desaparecem sendo substituídas por tecido conjuntivo, levando assim ao aumento do colágeno intersticial no músculo do idoso. 1. Fibras Musculares Ocorre redução das fibras musculares, ficando aproximadamente 20% menor que no adulto jovem, sendo que há um declínio mais acentuado das fibras tipo II e este declínio está diretamente relacionado com a diminuição da força muscular. 2. Número de fibras musculares O número total de fibras musculares é significativamente reduzido com a idade, começando aos 25 anos de idade e progredindo a uma taxa acelerada a partir de então. O declínio da área de secção muscular é maisprovável devido à diminuição do número total de fibras musculares, especialmente as fibras glicolíticas do tipo II, de contração rápida . 3. Tamanho das fibras musculares O tamanho da fibra muscular do tipo II, de contração rápida, diminui com a idade, enquanto as fibras do tipo I, de contração lenta, não se alteram. Na terceira ou quarta década de vida, a área de secção individual de fibras do tipo II, ultrapassa as do tipo I em cerca de 20%. Aos 85 anos de idade, a área individual de fibras do tipo II apresenta menos de 50% daquelas do tipo I. 4. Alterações Articulares À medida que o organismo envelhece, ocorrem alterações nas articulações. As articulações sinoviais sofrem alterações nas cartilagens articulares. O envelhecimento promove diminuição no número de condrócitos, na quantidade de água e proteogicanas, que está aliado a uma menor resistência mecânica da cartilagem e aumento no número e na espessura das fibras colágenas, as quais adquirem menor hidratação, maior resistência à colagenase e maior afinidade pelo cálcio, tomando a cartilagem mais fina e com rachaduras e fendas na superfície. O envelhecimento cartilaginoso traz consigo um menor poder de agregação dos proteoglicanos aliado a uma menor resistência mecânica da cartilagem. No envelhecimento da cartilagem articular reconhece-se muitas alterações na estrutura do agrecano, que é o principal tipo de proteoglicanos presente na cartilagem articular, e dos agreganos multimoleculares que ele forma com o hialuronato, fruto de processo anabólicos e catabólicos geridos por eventos celulares e extracelulares, numa extensão que varia segundo o tipo, a articulação, o local e a profundidade considerada. (4) TEGUMENTAR: Convém ressalvar que, independentemente da idade da pessoa, a espessura total da pele, espessura relativa da epiderme e derme, distribuição e fenótipo da população celular na derme, presença de anexos cutâneos e densidade da microvasculatura e de nervos variam conforme a localização do corpo. Contudo, na maior parte das pessoas, a radiação UV é a responsável pela maioria das alterações cutâneas que caracterizam o envelhecimento, assim como pela distribuição destas alterações, que se observam em áreas habitualmente expostas ao sol e não em áreas não expostas. Com o aumento da idade, a pele tende a tornar-se flácida e fina, sendo caracterizada por decréscimo do tamanho dos queratinócitos e diminuição da proliferação celular no estrato basal. De acordo com Makrantonaki e Zouboulis (2007), a taxa de proliferação dos queratinócitos declina de 30% a 50% entre os 30 e os 80 anos. Para os mesmos autores, a epiderme diminui de espessura cerca de 5% a 30% a partir dos 60 anos de idade. No envelhecimento intrínseco não se verificam acentuadas alterações na população celular dos melanócitos, contudo, perante o foto-envelhecimento há alterações da densidade melanocítica, favorecendo o desenvolvimento de efelides, lentigos, leucodermia, entre outras alterações, que serão posteriormente explanados. As células de Langerhans diminuem cerca de 70% durante o início da fase adulta até à velhice. Alguns trabalhos têm demonstrado uma menor adesão entre a derme e a epiderme, garantindo uma menor resistência à pele da pessoa idosa (ACCURSIO et al, 2001). A junção dermo-epidérmica (JDE) é menos espessa e frágil na pessoa idosa, pois vai perdendo a arquitetura axial-vertical das fibras elásticas nas papilas dérmicas que prendem a epiderme, com acentuada e evidente fragmentação dessas fibras. Assim, verifica-se um aplanamento da junção dermo-epidérmica, sendo esta uma das características principais da pele envelhecida, constituindo o fenómeno mais típico e consistente do envelhecimento cutâneo. Deste modo, este aplanamento da junção entre os dois tecidos está relacionado com a diminuição da altura, ou mesmo desaparecimento das papilas dérmicas e das cristas epidérmicas interpapilares, precisamente por fragmentação das fibras elásticas. De acordo com Zimbler et al (2001), o achatamento da junção dermo-epidérmica ocorre tanto no fotoenvelhecimento como no envelhecimento cronológico. A consequência fisiológica deste achatamento é a suscetibilidade aumentada para a ocorrência de quebras cutâneas. Um estudo da pele na região abdominal mostrou que a área de superfície da JDE diminuiu de 2,64 mm2 em pessoas com idades de 21 a 40 anos para 1,90 mm2 em pessoas de 61 a 80 anos. Esta perda de área de superfície da JDE pode conduzir à fragilidade aumentada da pele e também resultar em menor transferência de nutrientes entre derme e epiderme. As pessoas com 65 anos de idade ou mais demonstram perda de aproximadamente 20% da espessura da derme, que pode favorecer a penetração de agentes infeciosos, assim como a formação de quebras cutâneas. Verificam-se alterações no tecido conjuntivo, este que atua como alicerce estrutural para epiderme, implicam, por corolário, mudanças na aparência externa, refletidas no estrato córneo. As modificações das fibras de colagénio e elastina ao longo da vida estabelecem uma base morfológica substancial para compreender as adaptações bioquímicas e biomecânicas da pele com a idade. A espessura da pele e as suas propriedades elásticas não dependem apenas da quantidade de fibras presentes na derme, mas também de sua organização estrutural. (5) Referências Bibliográficas: (1) Robins e Cotran. Respostas Celulares ao Estresse e aos Estímulos Tóxicos: Adaptação, Lesão e Morte. Robins e Cotran 2010; 8: 126-131 (2) De Freitas, Elizabete Viana, Py, Ligia. Mecanismos Biológicos do Envelhecimento. Tratado de Geriatria e Gerontologia, 2011; 3: 76-94 (3) Fernando, Andréa (Bacharel em Educação Física EEFEUSP e Mestre em Ciências Médicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – USP, São Paulo (SP), Brasil). O envelhecer, diferença entre senescência e senilidade. Visualizado: 29/10/2015 em http://artigosedownloads.blogspot.com.br/2010/08/o-envelhecer-diferenca- entre.html (4) De Freitas, Elizabete Viana, Py, Ligia. Envelhecimento Cardiovascular; Envelhecimento Pulmonar; Envelhecimento do Sistema Digestório; Envelhecimento do Sistema Endócrino; Imunidade e Envelhecimento; Envelhecimento do Sistema Osteoarticular. Tratado de Geriatria e Gerontologia, 2011; 3: 557-564; 889-892; 952-957; 1132- 1141; 1274- 1285; 1190- 1197. (5) Menoita, Elsa, Santos, Vitor, Santos, Ana Sofia. A pele na pessoa idosa. Journal of Aging and Innovation 2013; 1 (2): 1 (6) Núcleo de Estudos de Geriatria da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (GERMI). Avaliação Geriátrica. Visualizado: 29/10/2015 em http://www.spmi.pt/docs_nucleos/GERMI_36.pdf (7) Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG). GERIATRIA- Guia de Vacinação, 2013. Disponível em: http://sbgg.org.br/wp- content/uploads/2014/10/guia-de-vacinas.pdf